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    IMdico antroposfico

    Endereo para correspondncia:

    Dychweg 14, 4144 Arlesheim, Sua.

    Endereo eletrnico: [email protected]

    Palavras-chave: Colmeia; abelha;

    Apis mellifera ou mellifica; mel;

    apiterapia; quartzo.

    Key words: Beehive; honey bee;

    Apis mellifera or mellifica; honey;

    apitherapy; quartz.

    A colmeia e o ser humano

    The beehive and the human being

    Franois HibouI

    RESUMOA abordagem antroposfica baseada na contribuio fundadora de Rudolf Steiner permite atualizar

    e diferenciar aquilo que as tradies religiosas e a mitologia, como a medicina popular, reconhecem

    desde milnios: a manifestao nas abelhas de processos csmico-espirituais que tm ntima re-

    lao com a constituio do ser humano. As foras de estruturao tornadas visveis na conforma-

    o hexagonal dos favos, tanto como na organizao social e comportamental das abelhas, so da

    mesma natureza que as foras de estruturao ativas no sistema neurossensorial humano ligadas

    dinmica de cristalizao da slica responsvel pela forma hexagonal dos cristais de quartzo. Elas

    fornecem colmeia a rede no mbito da qual ela pode desenvolver sua organizao calrica regula-

    da com uma preciso s atingida por seres homeotrmicos. Estas foras de estruturao em relao

    com o calor so mais particularmente relacionadas no organismo humano com a metamorfose do

    sistema neurossensorial no domnio do metabolismo e da locomoo, isto , os tecidos conjuntivos e

    particularmente o mais estruturado entre eles, o esqueleto sseo, responsveis pela forma do corpo

    humano. Examinar estas correspondncias permite compreender melhor o potencial teraputico dos

    produtos da colmeia e a relao no s do veneno de abelha com a fora calrica do eu, mas tambm

    da cera e do mel com a forma humana entendida ao mesmo tempo como diferenciada pela organi-

    zao do eu ativa no sistema neurossensorial e como condio da manifestao da atividade do eu

    no calor. Estas consideraes podem fornecer uma base, alm da simblica superficial ou tradicional,

    para relacionar fisiologia humana e foras morais.

    ABSTRACTThe anthroposophic approach based on Rudolf Steiners seminal contribution makes it possible to

    renew and differentiate what religious traditions and mythology, as well as traditional medicine,

    have known for millennia: that honey bees manifest cosmic spiritual processes intimately related to

    the human constitution. Structuring forces made visible in the hexagonal pattern of the honeycomb

    as well as in the strict social and behavioral organization of honey bees are of the same nature

    as those active in the human nerve-senses system, in relation with the forces of crystallization

    of silica resulting in the hexagonal structure of quartz crystals. These forces provide the beehive

    with the framework within which it can develop its thermal organization in a finely regulated way

    such as can otherwise only be achieved by homoeothermic beings. These structuring forces in

    connection with warmth are particularly related in the human organism to the metamorphosis

    of the nerve-senses system in the area of metabolism and locomotion, i.e., in the connective

    tissues, and especially the most structured of these, the ossified skeleton, responsible for the form

    of the human body. Examining such correspondences can lead to a better understanding of the

    therapeutic potential of bee products and of the relationships, not only of bee venom with the

    caloric force of the I, but also of beeswax and honey with the human form, understood at the same

    time as differentiated by the I-organization in its nerve-senses modality and as condition for the

    manifestation of the I in warmth. These considerations can help to form, beyond traditional or

    superficial symbolism, a basis for linking human physiology and forces of morality.

    Artigo de reviso | Review

    Arte Mdica Ampliada Arte Mdica Ampliada Vol. 36 | N. 2 | Abril / Maio / Junho de 2016

    Arte Md Ampl. 2016;36(2):45-56

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    O mel e o veneno de abelha, tambm como os outros produtos da colmeia, so objeto de numerosos tra-balhos cientficos. No foi, no entanto, a cincia que descobriu as propriedades destes produtos para a sade hu-mana. O mel um produto recolhido desde a pr-histria e valorizado por todas as civilizaes que o conhecem. A abe-lha e o mel fazem parte de quase todas as culturas e so as-sociados aos mitos e s lendas, tambm como ao simbolismo sagrado, e ao desenvolvimento espiritual. Uma orao reci-tada antigamente na regio da Solonha na Frana, no dia da Candelria (2 de fevereiro), dando a volta s colmeias com um crio abenoado no mesmo dia dizia: ... pois precisamos do mel para nossos doentes e dos crios para nossas igrejas.1

    A humanidade sempre soube que a abelha e a colmeia tinham uma relao particular com ela, especialmente no mbito da sua sade. Em vrios textos e conferncias des-tinadas a mdicos e outras destinadas a trabalhadores que tambm criavam colmeias de maneira caseira, Rudolf Stei-ner deu elementos de compreenso geral e prtica sobre a abelha e a colmeia, e suas relaes com o Universo e o ser humano. Estes elementos permitiram o desenvolvimento de conhecimentos tericos e prticos aplicados sade e aos seus produtos, alm de conhecimentos prticos prprios para a apicultura de orientao biodinmica.

    A COLMEIA E AS FORAS DE ESTRUTURAO

    A organizao coletiva uma caracterstica dos insetos so-ciais como as abelhas, vespas e formigas. A colmeia da abe-lha domstica (Apis mellifera ou mellifica) mostra um nvel de estruturao social particularmente desenvolvido, com funes e classes sociais diferenciadas e hierarquicamen-te ordenadas. Cada abelha operria passa pelos estgios e funes de limpadora, alimentadora, cereira, armazenadora, ventiladora e guarda numa primeira fase caseira antes de poder sair ao ar livre e se tornar coletora. Esta segunda fase que dura toda a segunda parte da vida da abelha ca-racterizada no pela estruturao de funes, mas por uma

    estruturao afinada da percepo sensorial e da comunica-o de informaes.2,3 Este sistema de percepo e de comu-nicao, cuja descoberta valeu o prmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1973 ao zologo austraco Karl von Frisch, associa percepes olfativas, tteis, visuais no em termos de formas e conceitos mas de movimentos e de sucesses cronolgicas , a orientao relativamente posio do Sol graas a uma percepo da polarizao dos raios ultravio-letas na luz, e percepo do campo magntico terrestre. De regresso colmeia, as modalidades precisas da dana executada pela abelha lhe permitem informar s colegas quanto natureza, abundncia, distncia e orientao da fonte do material a ser recolhido.4-6

    Alm do nctar, do plen e de outras matrias, aquilo que interiorizado na colmeia so tambm informaes de estruturao espacial. O espao atmosfrico aberto o do-mnio onde as abelhas percebem o mundo e interagem com ele. Para a sua fecundao a rainha voa o mais alto possvel e fecundada pelo zango que consegue voar at ela. As colmeias selvagens se localizam nas rvores, no no cho. Assim, a colmeia desenvolve o espectro de suas atividades com o mnimo contato possvel com a terra e, expressando com uma imagem, interioriza o cu.

    O HEXGONO E A ESTRUTURAO DO ESPAO

    O que se mostra na estrutura hexagonal dos favos so linhas de estruturao do espao. Sabemos, e j sabia o autor lati-no Varro (que deu seu nome muito mais tarde doena da colmeia, a varroose), que a rede hexagonal a maneira de organizar o plano de maneira a colocar o maior nmero de elementos na mnima superfcie do plano, portanto de ma-neira mais econmica.7 Por isso se pode frequentemente observar a ocorrncia espontnea de disposies hexagonais em elementos justapostos, por exemplo, bolas, elementos dos olhos compostos dos insetos, ou prismas baslticos neste ltimo caso produzidos no pela justaposio mas pela separao (Figura 1).

    A colmeia e o ser humano

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    Figura 1. A) Acmulo espontneo de bolas metlicas formando uma rede triangular-hexagonal. Origem: Wikimedia Commons; autor: Thierry Dugnole. B) Formas hexagonais de prismas baslticas, calada dos gigantes (Giants causeway), Irlanda do Norte. Origem: Wikimedia Commons; autor: David Hagwood. C) Olho de abelha ao microscpio eletrnico de varredura. Origem: Wikimedia Commons; autor: SecretDisc.

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    No caso da colmeia, esta estruturao vai alm de uma estruturao passiva: os hexgonos da colmeia no se cons-troem por si prprios, pelo acmulo de favos adjacentes. As abelhas constroem hexgonos deliberadamente, pois elas comeam a construir o favo do fundo para cima, dando a esse fundo uma estrutura de trs losangos, formando um hexgono antes de erguerem os lados que possam formar prismas hexagonais espontaneamente ao encontrar estru-turas adjacentes.

    A maneira como o motivo hexagonal estrutura o plano pode se observar graas a um exerccio de geometria proje-tiva (Figura 2): sobre uma linha qualquer, que podemos cha-mar de horizonte, se posiciona livremente dois pontos, X e Y.

    De cada um destes pontos se faz partir duas linhas retas, que se cruzam formando um quadriltero cuja diagonal prolon-gada at o horizonte determina ali por sua vez um ponto Z. De cada um destes trs pontos X, Y e Z ligados entre eles (os dois primeiros que fizeram aparecer o terceiro) se faz agora partir linhas para cada ponto de interseco de duas outras linhas, de maneira que cada ponto seja determinado pelo cruzamento de trs linhas. As linhas podem ser multiplicadas ao infinito, at o horizonte. A rede que aparece assim uma rede flexvel triangular-hexagonal, a mesma que as abelhas formam na colmeia (Figura 3). As abelhas estruturam a col-meia com as mesmas linhas de fora que estruturam o espa-o a partir da sua periferia, do horizonte.

    Hibou F

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    Figura 2. Como obter uma trama ou rede hexagonal em perspectiva, sem medidas e sem compasso, pela geometria projetiva partindo da perife-ria (horizonte) e no de um ponto central (geometria clssica). 1) Trace uma linha de horizonte qualquer, e a marque com dois pontos quaisquer X e Y. 2) De cada um dos pontos X e Y, trace duas linhas que se cruzam formando um quadriltero ABCD. 3) Da diagonal BC eleve uma linha reta at o horizonte, onde determina o ponto Z. 4) Do ponto Z, trace linhas retas que cruzam os pontos A e D. Estas linhas criam novas intersees que podemos chamar E e F. 5) Dos pontos X e Y, trace linhas retas passando pelos pontos E e F, destacando um primeiro hexgono, e criando mais intersees. 6, 7, 8) A multiplicao das linhas segue um principio muito simples: cada vez que aparece uma interseo de duas linhas provenientes de dois dos pontos (por exemplo, X e Z), trace uma terceira linha at esta interseo proveniente do terceiro ponto (neste exemplo, Y). Pode-se fazer aparecer um novo hexgono ao lado dos precedentes, intuitivamente mas tambm rigorosamente cada vez que um ponto de tripla interseo (por exemplo, C) rodeado por seis outros pontos de tripla interseo (A, B, D, F, H, E). 9) Obtm-se uma rede de hexgonos que se pode estender at cobrir o espao inteiro at ao horizonte.

    Nota: as intersees precisam ser traadas com a maior preciso possvel, caso contrrio a rede perde rapidamente a sua coerncia.

    horizonte

    2

    5

    8

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    Figura 3. Favos de abelha vistos de cima, mostrando a estrutura triangular-hexagonal. Origem: Wikimedia Commons; autor: Waugsberg.

    A COLMEIA E AS FORAS DE CRISTALIZAO DO QUARTZO

    No reino mineral terrestre alguns cristais revelam estas mes-mas foras, formando-se quando a substncia est duran-te certo tempo relativamente liberada das foras da mat-ria slida e da gravidade, isto , em meio lquido. Assim se formam, por exemplo, os cristais de quartzo transparentes e hexagonais, quando guas quentes e pressurizadas satu-radas em cido silcico sobem em direo superfcie nas fraturas de rochas silicosas como o granito (Figura 4). A pa-lavra cristal vem do grego e sigifica tambm congelado. Na antiquidade se acreditava que os cristais de quartzo, o cristal de rocha, que se achava nas montanhas dos Alpes, eram cristais de gelo to fortemente congelados em altitude que no podiam mais derreter. Aquilo que hoje considerado uma lenda pr-cientfica, indica de fato uma sabedoria an-tiga; conhecia-se a relao do quartzo hexagonal com estas foras de estruturao do espao csmico, que tambm se mostram na estrutura hexagonal dos cristais de neve e que se pensavam vir da esfera situada alm do firmamento do zodaco chamada esfera cristalina, ou poderamos dizer, de alm do horizonte. O quartzo de certa maneira o repre-

    sentante destas foras de organizao csmica do espao no reino mineral e na crosta terrestre. Steiner diz a este prop-sito que cada cristal de quartzo como um olho, um rgo de percepo em relao com o cosmo, encaixado na terra.8

    As linhas de fora de cristalizao hexagonal do quartzo so as mesmas que a abelha integra na estrutura hexagonal dos favos da colmeia. Estas foras esto presentes no s na cera dos favos, mas tambm, por exemplo, no mel, cuja parte mineral (0,1 a 0,2%) contm por volta de 8 a 10% de sli-ca.9,10 Podemos assim dizer que o mel contm naturalmente o equivalente a uma dinamizao de quartzo na ordem de uma quarta ou quinta dinamizao decimal (D4, D5).

    A RELAO DA COLMEIA COM A ESTRUTURA DO CORPO HUMANO LIGADA SLICA

    A sequncia de tratamento da informao que a atividade da colmeia segue de percepo exterior para transmisso/comunicao para centralizao/integrao descreve um processo neurossensorial. Da mesma maneira os animais e o ser humano integram percepes no seu sistema neuros-sensorial. A slica um elemento essencial dos tecidos liga-dos estrutura e percepo, que a medicina antroposfica agrupa no conceito de sistema neurossensorial ao sentido amplo (Figura 5). Os rgos sensoriais correspondendo aos cinco sentidos clssicos esto situados na periferia do corpo e so constitudos de tecidos ricos em slica (como a crnea e o cristalino do olho) ou ficam em zonas ricas em slica como a pele. Em todos os tecidos onde est presente, a slica limita a vitalidade meramente proliferativa e permite a delimitao da forma e a estruturao.11

    As foras de organizao dos cristais de quartzo so as mesmas foras de estruturao do sistema neurossensorial. Por isso o quartzo dinamizado (no Brasil, Silicea) um dos medicamentos essenciais da medicina antroposfica nas do-enas que afetam o sistema neurossensorial, por exemplo, em caso de inflamaes ou infees da pele, das vias areas superiores e dos rgos sensoriais (olhos, ouvidos). A ao cicatrizante do mel se pode perceber por parte em relao

    Figura 4. Grupo de cristais de quartzo, dito cristal de rocha. Minas Gerais, Brasil. Origem: Wikimedia Commons; autor: Didier Descouens.

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    com estas foras de estruturao anlogas s foras de cris-talizao do quartzo e de estruturao dos favos na colmeia.

    Porm isso no d conta de outras propriedades do mel e dos outros produtos da colmeia. Para isso necessrio apro-fundar um pouco a noo de sistema neurossensorial.

    Alm dos rgos sensoriais clssicos, todos os tecidos do organismo ricos em slica, conhecidos pelo nome de tecidos conjuntivos, formam a base da nossa estruturao, isto , da forma humana, e a base do sistema de percepo corporal externa e interna. Os tendes, as cartilagens, os ligamentos, os ossos, a derme, o tecido adiposo, mas tambm o esqueleto interno e as membranas que envolvem todos os rgos so constitudos de vrias espcies de tecido conjuntivo. Estes tm em comum sua composio relativamente paucicelular

    e pouco vascularizada, a maior parte do tecido (tipicamente 90% do volume ou mais) sendo constituda por uma matriz extracelular composta de fibras que permitem a resistncia mecnica distenso, colgenas e, segundo o tecido, els-ticas e de proteoglicanos ligados ao cido hialurnico, que mantm a hidratao e a resistncia compresso. Glicopro-tenas inteligentes como a fibronectina, que liga as clulas com componentes especficos da matriz, transmite s clulas informaes sobre o estado do tecido.12-15 As fibras nervosas se localizam preferencialmente nestes tecidos. Por exemplo, a propriocepo (percepo interna do posicionamento dos membros no espao) depende de receptores situados nos tendes, msculos e ligamentos das articulaes. O senti-do do balano, parcialmente concentrado no ouvido interno,

    Figura 5. A tripla organizao funcional ou trimembrao do organismo humano. A medicina antroposfica distingue trs sistemas funcionais no organismo humano: O sistema neurossensorial, que inclu os rgos sensoriais e o sistema nervoso, tambm como os tecidos estruturais com pouca vitalidade prpria e com funes de conscincia, de informao e de comunicao. Sua atividade predomina na periferia e na parte superior do corpo, isto , na cabea e na pele, mas est tambm presente integrado aos outros sistemas, por exemplo, no sistema neurovegetativo, nos tecidos conjuntivos e no esqueleto. A direo geral do seu funcionamento centrpeta (de fora para dentro), pois ele integra informaes do exterior e com isso responsvel pela estruturao do organismo. O sistema do metabolismo e dos membros engloba os funcionamentos energticos e geradores de substncias que resultam na produo endgena de calor, secrees, movimento, e na regenerao do organismo. A sua direo geral, em respos-ta estimulao pelo sistema neurossensorial, centrfuga (de dentro para fora). Estes dois sistemas se adaptam um ao outro graas ao conjunto de todos os ritmos do organismo que constituem o sistema rtmico. Ele permite regular a alternncia do sistema neurossensorial e do sistema me-tablico e assim garante a sade e o sentimento de si prprio no tempo. Assim durante o dia o sistema neurossensorial predomina e impe o seu funcionamento ao metabolismo, lhe dando uma orientao catablica e centrfuga (movimento orientado para o exterior do corpo, com produo de calor e de transpirao). Durante o sono, o metabolismo predomina e impe ao corpo uma dinmica anablica que permite a recuperao e a rege-nerao. O ritmo respiratrio outro ritmo bsico, com a inspirao ligada tenso nervosa e ateno, e a expirao ao relaxamento e ao repouso. A harmonia do ritmo respiratrio e do ritmo sono-viglia em ligao com os ritmos circadianos so fatores de sade e de equilbrio.

    Hibou F

    Sistema neurossensorial

    Pensar - CognioInformao

    Estruturao - fixao

    Sistema rtmico

    Sentir - identidadeEquilbrio - adaptao

    Sade - liberdade

    Sistema do metabolismo e dos membros

    Querer - aoProduo

    Movimento - dissoluo

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    serve-se na realidade tambm da totalidade do esqueleto e das articulaes como rgo sensorial. As prprias clulas dos tecidos conjuntivos produzem os componentes da ma-triz em resposta s informaes de origem externa e inter-na sobre o estado do tecido e desempenham o papel central na coordenao da homeostasia e do reparo do tecido. Por exemplo, os ostecitos so sensveis a vrios sinais fsicos, hormonais e outros, e registam informaes sobre o estado do tecido sseo. Com a produo de citocinas, os ostecitos coordenam os sinais levando remodelao do osso. Clulas do sistema imunitrio esto tambm sempre presentes nos tecidos conjuntivos, participando da percepo e da comuni-cao de informaes.12-17

    Assim a rede de tecidos conjuntivos que estruturam o corpo humano tambm constitui o seu sistema de percepo e de informao, a base do seu sistema neurossensorial ao sentido largo. A slica indispensvel a estes tecidos para formar e regular o tipo de matriz extracelular adaptado s suas funes. Animais criados experimentalmente com uma dieta artificialmente pobre em slica so incapazes de desen-volver uma ossificao normal do esqueleto.18-23 Mais fisio-logicamente, a parede das artrias, que tem que resistir de maneira elstica a constantes variaes de presso, necessi-ta de uma quantidade adequada de slica. A hiptese de uma falta de slica como origem da arteriosclerose e com ela as primeiras tentativas de terapia com silicatos foi formulada j em 1908 pelo mdico francs Schaeffer.24 A esclerose das artrias de fato correlata diminuio do teor de slica na

    tnica elstica das artrias e melhorada por uma suplemen-tao de slica na dieta.25-29

    Os tecidos conjuntivos constituem assim uma metamor-fose do sistema neurossensorial localizada no seio do sis-tema metablico-locomotor, quer como esqueleto ao senso prprio, isto , mineralizado, quer como anexos de deste (tendes, aparelho articular e para-articular), quer como rede conjuntiva estrutural interna dos msculos e dos rgos viscerais, todos tecidos submetidos s foras estruturantes da slica. com este sistema neurossensorial ampliado e in-teriorizado (Figura 6), baseado nos tecidos conjuntivos ao contato dos rgos do movimento e do metabolismo, que os produtos da colmeia so diretamente relacionados.

    O VENENO, MAIS QUE UM MEIO DE DEFESA

    Alm de representar um processo neurossensorial, a colmeia tambm um sistema de produo de substncias e de calor, um calor autnomo e regulado como aquele produzido pelo metabolismo humano. Uma temperatura regulada com fracas oscilaes, geralmente entre 33 e 36 C, e ainda mais regula-da na rea central dos favos de cria, dentro de uma estreita margem de 0,5 C, necessria ao desenvolvimento das abe-lhas individuais e da colmeia. A ao antivarroose do prpolis mais intensa quanto maior a temperatura da colmeia. Abelhas operrias que foram criadas com perodos, mesmo curtos, de baixa temperatura se encontram no estgio adulto com um c-rebro menos completamente desenvolvido, maior mortalidade

    Figura 6. Esquema funcional do sistema neurossensorial no sentido ampliado. O esqueleto (e os tecidos conjuntivos), base da forma humana, e do sistema neurossensorial interno, constituem uma metamorfose ao nvel metablico subconsciente do sistema neurossensorial consciente.

    A colmeia e o ser humano

    Sistema neurossensorial normalEstrutura e percerpes exterioresMetabolismo - sangue interior

    Tecidos conjuntivos - esqueletoSistema neurossensorial integradono sistema do metabolismo e dos membros

    Estrutura e percepes internasMetabolismo muscular - sangue exterior

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    e menos eficcia na orientao e na dana de informao.30-34 Apesar de no serem homeotrmicas, as abelhas, como

    muitos insetos, podem gerar calor no s com a atividade muscular externa do voo, mas tambm com a movimentao dos msculos torcicos sem baterem as asas, para aquece-rem o corpo permitindo uma maior eficcia do metabolismo. As abelhas transferem esta capacidade de termorregulao individual para a coletiva da colmeia. Em caso de temperatu-ra demasiado elevada, as abelhas ventiladoras (cuja ativida-de bsica serve a evaporar a gua do nctar durante o pro-cesso de elaborao do mel) situadas entrada da colmeia aumentam a circulao de ar na colmeia, fazendo baixar a temperatura. Quando a temperatura baixa as abelhas pro-duzem mais calor com os msculos torcicos, principalmen-te na zona de cria, onde podem ficar imveis por cima de clulas individuais para fornecer aquecimento abelha em formao. No inverno (isto , em zonas temperadas), a tem-peratura da colmeia baixa enquanto as abelhas mantm-se juntas e guardam o calor entre elas graas a seus pelos. A pi-losidade uma das diferenas morfolgicas entre as abelhas domsticas e as vespas e particularmente desenvolvida na abelha preta do oeste da Europa (Apis mellifera mellifera). Esta, na sua evoluo, precisou se adaptar s glaciaes e de fato, ainda hoje, graas a sua morfologia resiste aos invernos rigorosos mais do que a abelha crnica (Apis mellifera car-nica) oriunda da Eslovnia, de temperamento mais manso, excelente produtora de mel e por isso preferida na apicultu-ra semi-industrializada especialmente na Alemanha.31,32 As abelhas africanizadas do Brasil, resultado de cruzamentos involuntrios de abelhas europeias com abelhas africanas importadas nos anos 1950, guardam uma pilosidade subs-tancial e a gesto social do calor das abelhas de clima tem-perado, ao contrrio das abelhas selvagens meliponas sem ferro cuja organizao social no depende da gesto do calor e cujas colmeias no so constitudas de favos hexago-nais, especficos de Apis mellifera.2,31,35

    A abelha leva o processo neurossensorial de estruturao at zona do metabolismo. Isto a colmeia tem de maneira coletiva em comum com as aves, os mamferos e o ser hu-mano. Na medida em que o aparecimento da homeotermia na evoluo coincide com o desenvolvimento de um sistema nervoso central complexo,36 diramos do ponto de vista antro-posfico que o desenvolvimento do sistema neurossensorial fornece o quadro, a estrutura que permite o desenvolvimento de uma organizao calrica autnoma.

    Deste mesmo ponto de vista, os intermedirios desta ao so as substncias ligadas ao calor que so os compo-nentes do veneno. Isto bem evidente quando se considera o efeito de uma ferroada de abelha. As propriedades pr--inflamatrias e dissolventes da melitina, da apamina e da fosfolipase A2 componentes mais importantes e os mais estudados do veneno de abelha , indicam claramente a sua relao com o calor, a inflamao e a ativao do metabolis-

    mo.37-39 Os venenos animais tm geralmente uma ao infla-matria e/ou hemoltica, e tambm neurotxica. No entanto so produzidos por animais poiquilotrmicos (abelhas, ves-pas, formigas, aranhas, serpentes). O veneno animal repre-senta foras ligadas ao calor, de mesma natureza espiritual que o eu humano, mas que no foram integradas ao funcio-namento do animal individual, ao contrrio do ser humano e dos animais homeotrmicos que autonomizaram o calor no seu corpo. O ser humano o instrumentalizou a seu servio, tornando-se mestre do fogo em ligao com a organizao do eu ativa principalmente na circulao sangunea.40-42 A abelha realiza coletivamente na colmeia a maestria do ca-lor, pois o regula e o utiliza para a vida da coletividade de maneira controlada. Toda a superfcie do corpo da abelha, tambm como os favos e as paredes da colmeia, e at o mel, contm pequenas quantidades de veneno. Foi sugerido em estudos recentes que o veneno no s um meio de defesa, mas tambm um organizador da imunidade social, isto da identidade da colmeia.43 Steiner j indicava, em 1923, como o veneno responsvel pela coeso da colmeia.41

    O mbito de um quadro espacial e comportamental es-truturado a condio do desenvolvimento da organizao trmica da colmeia. Da mesma maneira, a estrutura do sis-tema neurossensorial humano a condio do desenvolvi-mento da organizao trmica humana, centro da integrida-de do corpo e da conscincia humana de si prprio. Assim se pode perceber o potencial teraputico do veneno de abelha na apiterapia ou da abelha inteira (insumo medicamen-toso homeoptico e antroposfico Apis mellifica) mais ou menos dinamizado e associado com outras substncias no tratamento de afees ligadas a um distrbio profundo da organizao trmica ou da imunidade. Como exemplo des-sas afeces, pode-se citar doenas neurolgicas ou reuma-tolgicas inflamatrias crnicas que implicam a identidade fundamental do indivduo e se manifestam no domnio do sistema neurossensorial no sentido estrito (sistema nervoso) ou ampliado (tecidos conjuntivos) doenas neurolgicas como a esclerose mltipla ou reumatolgicas como a artrite reumatoide sendo as indicaes as mais conhecidas.44,45

    A CERA E A FORMA HUMANA

    Assim tambm se pode perceber a comparao paradoxal que Steiner faz da colmeia com a cabea humana numa con-ferncia a trabalhadores:40 os zanges que morrem fcil e rapidamente, correspondem aos neurnios; a rainha s c-lulas albuminosas (provavelmente clulas gliais), capazes de multiplicao; e as abelhas operrias, incapazes de mul-tiplicao e dedicadas ao trabalho metablico da colmeia, s clulas sanguneas e mais especialmente s hemcias. Stei-ner indica precisamente que se deve entender cabea no sentido ampliado, na medida em que o esqueleto constitui o resultado da metamorfose do sistema neurossensorial na

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    Figura 7. Esttua de cera de Ayrton Senna, Museu Madame Tussauds, Londres, Inglaterra. Origem: Wikimedia Commons; autor: R. Gertjan.

    regio do metabolismo, regio onde produzido o calor. Segundo Steiner, a estrutura hexagonal que se pode observar nas clulas sseas e musculares a testemunha desta ao de estruturao feita pelas clulas sanguneas. E os tecidos estruturais do corpo, os tecido conjuntivos (e lembramos que o sangue tambm considerado como um tecido conjunti-vo) formam a cera que constitui a forma humana. Bone-cos e esttuas de cera de forma humana so uma tradio muito antiga ligada a usos sagrados, que sobrevive at hoje nos museus de esttuas de cera como o famoso Madame Tussauds em Londres (Figura 7). Os crios e velas eram o uso mais corrente da cera de abelha, ao ponto que tributos, im-postos, multas e doaes especialmente s autoridades re-ligiosas podiam ser pagos em cera. A imagem de uma vela de cera de abelha acesa representa um ser humano na sua verticalidade se consumindo em direo ao cu e produzin-do, por via do fogo, luz sem benefcio para si prprio.40 Ainda em 1904, o cardeal Casimiro Gennari confirmava nas suas consultas litrgicas que os crios usados nos ofcios deviam ser de cera pura e que o uso de velas de outra matria era proibido, enquanto o uso de cera misturada s podia ser tole-rado em circunstncias excecionais de pobreza ou de falta.46 Isto indica que at uma data recente se soube, embora sem explicaes e pela via da doutrina tradicional, que a cera de abelha um produto em relao ntima com a forma do ser humano, sua significao espiritual e sua integrao na or-dem sagrada do mundo.

    O mistrio da forma humana era venerado nos cultos das deusas-mes associadas Lua. Esttuas da rtemis de fe-so so sempre representadas com pernas juntas e verticais formando uma coluna rgida (e no na postura dinmica de

    contrapposto das esttuas greco-romanas clssicas da mes-ma poca) cobertas com vrios motivos de animais tradi-cionalmente associados deusa e s foras de reproduo (vaca, veado), mas tambm sempre com abelhas posiciona-das nos lados dos membros inferiores, s vezes tambm na cintura, mas nunca para cima desta nem nos braos, portan-to em relao com o sistema metablico (Figura 8). As sacer-dotisas do templo de rtemis eram chamadas de abelhas e permaneciam virgens, como as abelhas que passam a vida a trabalhar para a comunidade da colmeia e no se reprodu-zem individualmente.47,48

    O MEL, COMPLEMENTO ALIMENTAR POR EXCELNCIA

    O mel realiza uma sntese equilibrada dos dois processos complementares da colmeia, estruturao (quartzo) e calor (fsforo), forma e movimento. Pelas foras de estruturao aparentadas s foras de cristalizao da slica, isto , do quartzo (por essa razo prefervel extrair o mel sem aque-cimento e o manter slido se cristalizar espontaneamente) o mel contm a fora de dar forma, firmeza ao corpo humano. Steiner aconselhou o consumo de mel na poca do envelhe-cimento do corpo fsico, para favorecer a solidez do esque-leto, em polaridade com o leite que adaptado primeira

    Figura 8. A) Esttua dita a grande rtemis de feso, sculo I. Mu-seu de feso, Turquia. Nesta esttua arcaica distinguem-se particu-larmente de modo ntido as duas abelhas nos lados das pernas e ou-tras na cintura, alternadas com flores. Origem: Wikimedia Commons; autor: Lutz Langer. B) Esttua dita a bela rtemis, sculo II. Museu de feso, Turquia. Os objetos aos ps da deusa poderiam representar colmeias. Origem: Wikimedia Commons; autor: Carole Raddato.

    A colmeia e o ser humano

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    idade da vida (de maneira sinttica, segundo a formulao de Steiner: o leite para os bebs, para o sistema nervoso, o mel para os idosos, para o esqueleto) e durante a gravidez para diminuir a tendncia ao raquitismo e at para os noivos desde antes da concepo para favorecer uma forma equi-librada na criana a nascer, e reduzir o impacto da heredi-tariedade. Nas crianas, de acordo com as recomendaes atuais que desaconselham a administrao de mel antes da idade de 12 meses (por causa do risco de botulismo, que no ponto de vista antroposfico se pode interpretar como uma preponderncia do sistema neurossensorial), Steiner acon-selha no dar mel antes do nono ou dcimo ms, e mesmo assim, misturado com leite, em crianas fracas, anmicas ou com risco de raquitismo.41 Em todos os exemplos mencio-nados se v, portanto, claramente que o mel tem a proprie-dade de estimular foras de forma e de solidez nos tecidos estruturais, em relao com as foras estruturantes da slica cristalizada, cujo teor no mel e cujo papel na organizao da colmeia j foram mencionados. A utilizao do mel como cicatrizante nas feridas crnicas tem evidentemente que ser colocada na mesma categoria de efeitos.

    Por outro lado, o mel tambm contm em concentraes comparveis da slica, fsforo,9,10 o elemento da energia e, do ponto de vista antroposfico, da ativao do eu no meta-bolismo. Pelas foras de calor ligadas ao veneno e organi-zao calrica da colmeia, o mel estimula a plasticidade da forma, portanto no domnio dos tecidos estruturais, assim como o calor faz derreter a cera para se modelar e dar a forma desejada. O estmulo do metabolismo tambm faz parte das propriedades do mel.41 Assim o mel exerce sua ao por dois lados, pelo lado neurossensorial e pelo lado metablico, combinando as duas foras de maneira equili-brada para trazer o equilbrio ao organismo humano, apoia-do pelas foras de calor e amor integradas pelas abelhas no mel. Formulado de uma maneira mais sinttica e elevada de um grau por Steiner: quando o ser humano suplementa sua comida com mel, ele prepara precisamente sua alma a trabalhar corretamente no corpo, a respirar.49 O uso do mel em pequenas quantidades como adjuvante ou componente de vrios medicamentos antroposficos relacionado com esta propriedade do mel de estimular as foras da organi-zao do eu de maneira integrativa.

    A composio equilibrada do mel, junto evidentemente com a predominncia quantitativa do acar, ligado ener-gia e conscincia, faz dele o modelo dos complementos alimentares: um alimento natural, que tomado em escassa quantidade, estimula foras de regenerao e de sade da forma do organismo fsico, no como matria pesada, mas como quadro territorial onde o ser humano pode desen-volver o calor do movimento e do metabolismo. Pois isto o que faz dele um humano saudvel, vertical e slido como a esttua de rtemis, e lhe permite de ser ativo e responsvel no mundo.

    O MEL, UM MODELO DE EQUILBRIO INTIMAMENTE LIGADO AO CORPO E AO ESPRITO HUMANO

    Isto nos leva at s funes espirituais e simblicas do mel, que se encontram em muitos textos sagrados. Dois mitos ilustram a relao das abelhas e do mel com as foras de estruturao no metabolismo em relao com a sabedoria. Eles parecem ter sido escritos para se com-pletarem. O primeiro a histria de Aristeu contada pelo poeta latino Virglio nas suas Gergicas:50 as abelhas de Aristeu, o primeiro agricultor e apicultor, morrem inexpli-cavelmente. Ao investigar a razo e aps vencer o mons-tro aqutico Proteu, ele aprende que isto um castigo das ninfas, arreliadas por ele ter causado a morte de uma delas, Eurdice, noiva do poeta Orfeu, mordida por uma serpente ao tentar fugir da perseguio amorosa de Aristeu. Este tem ento que realizar o sacrifcio prescri-to pelas ninfas chamado bugnia, em que deve deixar apodrecer quatro carcaas de jovens touros ao ar livre nos altares durante oito dias. No nono dia, das carcaas esca-pam enxames de novas abelhas, manifestando o perdo das ninfas e abrindo a possibilidade de povoar de novo as colmeias (Figura 9). A propsito do sacrifcio, Virglio se refere tambm a um procedimento sacrificial egpcio numa passagem em que explicitamente descrito que as abelhas nascem dos ossos da vitela sacrificada (Inte-rea teneris tepefactus in ossibus umor aestuat Ento nos ossos tenros o humor aquecido borbulha...), os ossos donde nascem, na verdade, as hemcias incapazes, como as abelhas operrias, de multiplicao. Em paralelo, Or-feu, que conseguiu trazer Eurdice do reino dos mortos, ao aproximar da luz da superfcie, desobedece s instrues dos deuses do inferno e olha para ela se voltando para trs, fazendo-a desaparecer definitivamente. O poeta que quis usar seus olhos neurossensoriais cognitivos com a luz do mundo exterior oposto ao apicultor, homem de ao, prtico e respeitoso dos deuses, que pelo sacrifcio faz ressuscitar abelhas a partir das estruturas metabli-cas de um animal morto. Esta polaridade entre Aristeu e Orfeu notada por autores acadmicos.51,52 tambm possvel que haja no texto aluses a prticas dos mist-rios antigos, em particular rficos, onde ossos de faleci-dos eram depositados em caixas representando colmeias ou em vasos contendo mel, esperando ressurreio.48 De qualquer modo, significante que esta passagem cons-titui a concluso do quarto e ltimo livro das Gergicas, dedicado s abelhas. O poema celebra a fora de vontade e de ao (sistema metablico) disciplinada pela consci-ncia moral do respeito da ordem divina (sistema neu-rossensorial), que era uma das virtudes cardeais para os romanos, comparando-a atividade das abelhas organi-zadas pelas foras de estruturao csmicas integradas na colmeia.

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    O segundo mito, mais antigo que o primeiro citado, faz parte da histria de Sanso na Bblia (Juzes, 14). Periodica-mente apossado pelo esprito de Jav, o que desencadeia nele uma fora destruidora, Sanso um dia mata com as simples mos um jovem leo que o atacara. Passando pelo mesmo local algum tempo depois, ele descobre que um enxame se desenvolveu na carcaa do animal, ento recolhe o mel e o come. Este episdio serve a Sanso para formular o enigma que o caracteriza a ele prprio, do comedor saiu comida e do forte saiu doura. Esta frmula pode ser interpretada as-sim: da fora do metabolismo inconsciente, representada pelo leo e, neste caso, onde o esprito de Jav se manifesta, sai aquilo que, quando tomado pela boca, no polo neurossensorial consciente, se torna sabedoria, juzo, que pode ser exprimida com palavras doces. O juzo verdadeiro estrutura e conheci-mento, que porm no vem do raciocnio da cabea, mas da experincia vivenciada das aes e de suas consequncias. Em polaridade com o mel que traz as foras de estruturao neu-rossensorial no metabolismo, a emergncia do juzo toma o caminho contrrio, e devolve o resultado do trabalho corporal do metabolismo para a conscincia. S desta maneira pde Sanso, em muitas outras circunstncias brutal e destruidor, ter sido segundo a Bblia durante vinte anos um juiz do povo de Israel, inspirado por Jav.

    Para ns que no somos Sanses, em contraponto

    opinio geralmente aceita que v no corpo, no sem razo, a origem das pulses instintivas, juzo tambm nos pode vir do corpo. Para isso precisamos primeiro respeitar as suas necessidades orgnicas. Estudos mostraram que pela manh somos mais morais, e se dormimos pouco somos mais tenta-dos pela imoralidade.53,54 Mas esta moralidade deve ter sido primeiro pacientemente implantada no corpo pela educao e pela prtica habitual de atos justos, isto , estruturados por princpios superiores. Neste sentido, se pode entender a sen-tena de Confcio: (...) aos setenta anos eu pude seguir o desejo do meu corao sem transgredir a regra.55

    Neste caminho de Sanso, poderamos dizer que o mel do metabolismo dinamizado em direo do polo neurossenso-rial. Isso permite perceber uma recomendao primeira vista curiosa de Steiner: ele aconselhou vrias vezes a mdicos que se ocupavam de jovens cleptomanacos, em associao com medidas pedaggicas, a prescrio de mel com extrato de hi-pfise (de origem animal), ambos em dinamizao D10. A hi-pfise , segundo Steiner, um rgo que representa o sistema metablico inconsciente, frente ao sistema nervoso central re-presentado pela epfise, e que responsvel ao mesmo tempo pela integrao no corpo etrico dos contedos de memria e da coordenao das foras de crescimento corporal.56,57 Pode-mos pensar que o mel dinamizado tem aqui o papel de refor-ar e carregar os impulsos morais do corpo.

    A colmeia e o ser humano

    Figura 9. Representao de Aristeu e de suas novas abelhas, nascidas de carcaas de touros. Reparar o curioso edifcio he-xagonal, presumivelmente uma colmeia-palcio, e as ninfas no mar. Edio das Gergicas, Lyon, 1517. Origem: Wikimedia Commons; sem autor.

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    CONCLUSO

    Em 1923, Steiner prognosticava dentro de um prazo de cin-quenta a cem anos um declnio das abelhas, como resultado da apicultura intensiva a carcter comercial e principalmente da criao artificial de ranhas que enfraquece a linhagem e a coeso das colmeias.41 Estamos agora na poca que ele antecipava, com uma sinergia de fatores pejorativos (e no s a varroose ou os pesticidas neonicotnicos) ameaando as abelhas domsticas no mundo inteiro, conduzindo a per-das invernais desproporcionadas ou ao desaparecimento em poucos dias de colnias inteiras, o fenmeno chamado co-lony collapse disorder identificado h dez anos nos pases de clima temperado. Nos EUA e na Europa o nmero de col-nias de abelhas domsticas diminuiu de mais de 50% desde os anos sessenta, e a queda no mostra sinais de diminui-o.5864 Alm de uma abordagem reducionista que procura identificar fatores individuais responsveis, parece claro que o perigo mortal em que as abelhas domsticas se encontram hoje uma consequncia da integrao da apicultura nos circuitos agroindustriais e comerciais da agricultura globa-lizada. As dedicadas e trabalhadoras abelhas sempre foram consideradas como um modelo da virtude e a manifestao de leis superiores de origem moral-espiritual oferecido como presente e exemplo ao ser humano. Ao esquecer as relaes do ser humano com a natureza e o cosmo, perde-se tambm a capacidade de perceber as abelhas. A antroposofia, ao re-abrir os conhecimentos da sabedoria antiga e ao atualiz-la trazendo para a luz da conscincia contempornea, pode for-necer chaves para reestabelecer a compreenso e as possibi-lidades de ao, como o Aristeu consegue fazer ressuscitar as abelhas depois de ter obtido dos espritos da natureza as instrues necessrias para reparar a sua ofensa.

    AgradecimentosEste artigo constitui a ampliao de um texto inicialmente destinado a um projeto de livro sobre a apiterapia na inicia-tiva do Dr. Mikhael Marques, a quem autor deseja agradecer pelo impulso e pelo consentimento a dispor do material j escrito. Agradecimentos vo tambm ao colega Rodolfo Sch-leier da Weleda do Brasil pelo seu apoio e comentrios, assim como ao Dr. Nilo Gardin pelas suas recomendaes.

    Declarao de conflito de interessesO autor colaborador da Weleda AG, Arlesheim, Sua. Este texto no resulta de uma iniciativa da parte da Weleda AG, que tambm no teve qualquer influncia ou controle sobre a redao do texto.

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    Avaliao: Editor e dois membros do conselho editorialRecebido em 24/03/2016Aceito em 23/06/2016

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