a carruagem e o cocheiro - anandamurti

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A CARRUAGEM E O COCHEIRO Shrii Shrii Ánandamúrti - Átamanam rathinam viddhi shariiram rathameva tu Buddhintu sárathim viddhi manah pragrahameva ca. Nessa metáfora o corpo inteiro é comparado a uma carruagem: o passageiro dessa carruagem, metaforicamente comparada a um corpo, é o Átman ou a Alma. Assim como os passageiros de outros veículos esse "passageiro-alma" também não precisa fazer coisa alguma; o Átman é simplesmente a Força Testemunhadora - Ela não está acompanhada de nenhuma outra entidade. Esse "corpo-como- carruagem" está sendo conduzido pelo "cocheiro-como-buddhi". Aqui o termo buddhinão significa Mahatattvaou a sensação do 'eu existencialrr; significa julgamento discriminativo ou consciência. Esse corpo-como-carruagem deve ser conduzido pelo cocheiro-como-consciência. Para falar a verdade, as pessoas levam seus corpos-como-carruagem para as regiões que sejam conducentes às suas mentes. O cocheiro pode conduzir a carruagem tanto até a morada da Consciência Suprema quanto até o botequim, e, de acordo com isso, o passageiro, como a entidade testemunhadora, irá colher a impressão objetiva das coisas onde quer que o cocheiro leve a carruagem. Logo, é desejável que o cocheiro seja perfeitamente eficiente e competente, e para o controle apropriado da carruagem é necessário que o cocheiro tenha rédeas. Se o cocheiro falhar em manter as rédeas sob perfeito controle torna-se difícil conduzir a carruagem apropriadamente, e essas rédeas são a Mente. O corpo-como-carruagem certamente irá ser negativamente afetado caso as rédeas-como-mente não sejam apropriadamente controladas pelo cocheiro. Quando os seres unitários Wivas) entram em contato com qualquer objeto, eles recebem uma impressão da sua forma (dos objetos) e outras ondas tanmátriwsou inferenciais. Essas ondas inferenciais, ao entrarem em contato com os órgãos sensoriais por meio dos diversos elementos físicos, despertam na pessoa a sensação desses objetos. Suponha que você está seguindo o seu caminho e subitamente você se depara com outra pessoa, cara a cara. Em tal situação como que você irá detectar a presença dessa pessoa? Certamente que será através das ondas de luz da forma dessa pessoa se chocando com as suas retinas, através das ondas sonoras vindas da sua fala e o som dos seus passos colidindo com os seus tímpanos. Mas você deve ter tido uma experiência em sua vida na qual você não notou a presença de uma pessoa à sua frente, ou então você não ouviu a sua voz. Por quê será? Qual a razão disso? Isso pode ter acontecido porque naquela ocasião sua mente poderia estar preocupada com alguma outra coisa. Ou seja, você não engajou a sua mente com a forma ou a voz da pessoa naquela ocasião, de modo que o contato da luz da forma daquela pessoa na sua retina, ou o impacto da fala dela no seu tímpano permaneceu desconhecido à sua mente consciente menos sutil (Kamamaya Kos'a). Sempreque quaisquer ondas inferenciais emanando de qualquer objeto capturarem sua atenção, instantaneamente uma idêntica onda também se forma nos seus nervos aferentes (que vão de fora para dentro). Logo em seguida essa onda, ao alcançar seu corpo edoplásmico, faz com que sua mente seja identificada com o pensamento similar. Por trás da aceitação do pensamento pela mente, através dos órgãos e nervos, permanece a presença do princípio estático. É estático ou tamogun'íiporque ele confina o corpo ectoplásmico nas amarras do tempo, espaço e pessoa. A aceitação do pensamento pela mente depende das vibrações de rajogun'íiou mutativas, quer essas vibrações venham do mundo externo ou dos nervos internos do corpo. Esse princípio mutativo é a causa aparente do princípio estático, e é dependente de sattvagunfiou o princípio senciente. Esse princípio senciente é a pura e subjetiva entidade das ondas mutativas de pensamento.

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Page 1: A Carruagem e o Cocheiro - Anandamurti

A CARRUAGEM E O COCH EIRO Shrii Shrii Ánandamúrti

- Átamanam rathinam viddhi shariiram rathameva tu Buddhintu sárathim viddhi manah pragrahameva ca.

Nessa metáfora o corpo inteiro é comparado a uma carruagem: o passageiro dessa carruagem, metaforicamente comparada a um corpo, é o Átman ou a Alma. Assim como os passageiros de outros veículos esse "passageiro-alma" também não precisa fazer coisa alguma; o Átman é simplesmente a Força Testemunhadora - Ela não está acompanhada de nenhuma outra entidade. Esse "corpo-como- carruagem" está sendo conduzido pelo "cocheiro-como-buddhi". Aqui o termo buddhinão significa Mahatattva ou a sensação do 'eu existencialrr; significa julgamento discriminativo ou consciência. Esse corpo-como-carruagem deve ser conduzido pelo cocheiro-como-consciência. Para falar a verdade, as pessoas levam seus corpos-como-carruagem para as regiões que sejam conducentes às suas mentes. O cocheiro pode conduzir a carruagem tanto até a morada da Consciência Suprema quanto até o botequim, e, de acordo com isso, o passageiro, como a entidade testemunhadora, irá colher a impressão objetiva das coisas onde quer que o cocheiro leve a carruagem. Logo, é desejável que o cocheiro seja perfeitamente eficiente e competente, e para o controle apropriado da carruagem é necessário que o cocheiro tenha rédeas. Se o cocheiro falhar em manter as rédeas sob perfeito controle torna-se difícil conduzir a carruagem apropriadamente, e essas rédeas são a Mente. O corpo-como-carruagem certamente irá ser negativamente afetado caso as rédeas-como-mente não sejam apropriadamente controladas pelo cocheiro.

Quando os seres unitários Wivas) entram em contato com qualquer objeto, eles recebem uma impressão da sua forma (dos objetos) e outras ondas tanmátriwsou inferenciais. Essas ondas inferenciais, ao entrarem em contato com os órgãos sensoriais por meio dos diversos elementos físicos, despertam na pessoa a sensação desses objetos. Suponha que você está seguindo o seu caminho e subitamente você se depara com outra pessoa, cara a cara. Em tal situação como que você irá detectar a presença dessa pessoa? Certamente que será através das ondas de luz da forma dessa pessoa se chocando com as suas retinas, através das ondas sonoras vindas da sua fala e o som dos seus passos colidindo com os seus tímpanos. Mas você já deve ter tido uma experiência em sua vida na qual você não notou a presença de uma pessoa à sua frente, ou então você não ouviu a sua voz. Por quê será? Qual a razão disso? Isso pode ter acontecido porque naquela ocasião sua mente poderia estar preocupada com alguma outra coisa. Ou seja, você não engajou a sua mente com a forma ou a voz da pessoa naquela ocasião, de modo que o contato da luz da forma daquela pessoa na sua retina, ou o impacto da fala dela no seu tímpano permaneceu desconhecido à sua mente consciente menos sutil (Kamamaya Kos'a).

Sempreque quaisquer ondas inferenciais emanando de qualquer objeto capturarem sua atenção, instantaneamente uma idêntica onda também se forma nos seus nervos aferentes (que vão de fora para dentro). Logo em seguida essa onda, ao alcançar seu corpo edoplásmico, faz com que sua mente seja identificada com o pensamento similar. Por trás da aceitação do pensamento pela mente, através dos órgãos e nervos, permanece a presença do princípio estático. É estático ou tamogun'íiporque ele confina o corpo ectoplásmico nas amarras do tempo, espaço e pessoa. A aceitação do pensamento pela mente depende das vibrações de rajogun'íiou mutativas, quer essas vibrações venham do mundo externo ou dos nervos internos do corpo. Esse princípio mutativo é a causa aparente do princípio estático, e é dependente de sattvagunfiou o princípio senciente. Esse princípio senciente é a pura e subjetiva entidade das ondas mutativas de pensamento.

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Sempre que imagens de pensamento forem criadas no ectoplasma através do princípio estático, e quaisquer que forem elas, suas sementes subseqüentemente permanecerão embutidas no ectoplasma como os sam'skáras [rações em potencial]. O pensamento de aceitação na mente e o sam'skára reativo causal são ambos famogunTou estáticas, pois a inércia é o principal traço de ambos. Essa parte básica das forças estática e dinâmica, que é inerente na "densificadora" e vibratória mente, é governada pela consciência ou força discriminativa, que tem sido chamada de buddhi(não se trata de buddhitaftva ou

- mahaffattva).

Como eu já disse anteriormente, o passageiro dessa carruagem-como-corpo é o Átman, o buddhi é seu condutor ou cocheiro, e a mente faz o papel de rédeas. Mas a mera existência dessas entidades não pode mover a carruagem. Cavalos são necessários para lhe dar potência e movimento. Agora, quem são esses cavalos? As pessoas sábias respondem que os cinco Órgãos sensoriais e os cinco órgãos motores, dez ao todo, são os cavalos. O cocheiro ou o condutor dessa carruagem-movida-por-dez- cavalos, ou ratha, é dasharath, a consciência, e o Supremo Passageiro dessa carruagem é o Átman. Esses são os cavalos que levam a carruagem até os objetos. Correr atrás da matéria é a característica intrínseca desses órgãos. Quando o buddhinão é utilizado de forma apropriada, esses órgãos correm aleatoriamente como cavalos desgovernados. A parte mais notável disso tudo é que esses órgãos sempre correm atrás de objetos perceptíveis.

Olhe para a sua mente - não é que o desenfreado movimento desses órgãos é sempre impelido pelas suas propensões? Esses órgãos se mantém correndo até que obtenham algo desfrutável para sua gratificação. Quando obtém isso, eles descansam por um tempo. Eu até chamaria isso de um momentâneo o aparente repouso, porque mesmo nessa hora eles não permanecem inativos ou isentos de quaisquer vibrações; eles permanecem engajados no processo de desfrute. Mas como sua capacidade de desfrutar é finita, eles novamente precisam correr, depois de um certo tempo, de um objeto para outro. É essa propulsão dos órgãos que causa a motividade no corpo, pois para manter o grosseiro corpo sutil em movimento com insaciáveis desejos por gratificação é a característica intrínseca desses órgãos. O caminho oposto - o caminho introspectivo de ausência de desejos contraria essa própria característica desses órgãos; eles se ficam absortos no estrato mais sutil, de modo que os órgãos não tomam facilmente o esse caminho ausente de desejos.

Suponha que haja uma discussão filosófica em algum lugar, e pessoas cantando e dançando por perto. A mente humana, propelida pelos órgãos "propensivos" (afetados pelas propensões), estará mais inclinada na direção do canto e dança do que na direção dos discursos filosóficos. Se as pessoas cujas mentes estejam ainda não-despertas ao estado da espiritualidade através de sádhana, ou prática espiritual, participarem de um simpósio filosófico, seja por mero exibicionismo ou com a intenção de forçadamente suprimir suas propensões, suas mentes certamente permanecerão no salãp de danças. A razão disso é a natural tendência em direção ao prazer dos Órgãos.

Existe uma história Hadith (escola filosófica muçulmana) sobre um ilustrativo evento. Certa vez um homem presenteou o grande profeta Hazarat ~ohammád com um belíssimo echarpe de seda. Mas Hazarat Mohammad não guardou esse echarpe consigo, pois ele disse que durante a hora do seu namái (prece) sua mente repetidamente mantinha-se afastando-se de Deus para se voltar à beleza do echarpe. A atraente-aos-olhos forma do echarpe extrovertia sua mente por meio do órgão da visão, e isso se provou prejudicial à sua introvertida sádhana. Vejam vocês então, os Órgãos correm atrás de objetos em busca da felicidade. Eles precisam fazer isso, para a preservação da sua própria existência.

Em Brahma, a Conciência Suprema, jaz a voz da interminável juventude - o pulsar da ilimitada vida. No dinâmico momentum da vida, quando do seu contato com a mente unitária, a alma ou Átman (o passageiro dessa carruagem-como-corpo) considera uma ou outra das finitas e vibratórias manifestações da Mente Cósmica como seu próprio objeto. Aparentemente ela se torna o percebedor daquele objeto vibracional. Mesmo que você não se envolva diretamente em qualquer cena com a qual você cruze no seu caminho, mesmo assim você não consegue escapar de sua influência sobe você - você certamente será influenciado(a) por ela. Embora o Átman seja caracteristicamente inativo, não obstante ele é vulnerável às impressões das ações e dos objetos. A despeito de estar solitário e desacompanhado, o Átinan aparenta ser objetivado devido ao envolvimento da mente com os objetos. É

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como se fosse um espelho; se você colocar uma flor vermelha diante do mesmo, ele também se tornará vermelho; se você colocar uma flor amarela, ele ficará amarelo.

Embora o espelho intrinsecamente não passe por nenhuma mudança, aparentemente ele poderá parecer vermelho ou amarelo. Na proximidade de objetos a condição do Átman, qualificado pela mente, intelecto e corpo, é similar ao espelho incolor com vários objetos diante de si.

A carruagem-como-corpo de uma pessoa que não seja familiarizada com Brahmavgnána (ciência intuitiva), ou cuja caruagem-como-buddhiseja incapaz de manter a mente-como-rédea sob controle, não se movimenta de forma apropriada. A ciência intuitiva é a verdadeira ciência de conduzir a carruagem de forma apropriada. O desastre é inevitável, caso a responsabilidade da condução da carruagem seja dada a alguém que seja ignorante na ciência da condução.

O estado de tal irracional pessoa é similar aquele de um animal. Suponha que uma pessoa passe por uma loja. Uma pessoa parcialmente irracional, que é de alguma forma guiada pelo seu buddhi, poderá pensar em cometer um furto na ausência do lojista. Mas mesmo diante desse contato parcial com o seu buddhiela poderá talvez refrear-se do furto em si devido à sua consciência, ou por receio de ser punida, ou pelo medo de ser envergonhada em público. Todavia, uma pessoa que tenha pouco ou nenhum contato com o buddhiirá, sem a menor cerimônia, cometer o furto em si, impulsionada pelas suas propensões animalescas. Essa mentalidade é como aquela das vacas e cabras tentando fugir com a ração na ausência do dono. Na verdade, uma base animal habita dentro de tais pessoas, embora seus traços pareçam humanos. Muitas elites sociais ou muitos hipócritas, que estão bem estabelecidos nas mais elevadas camadas da vida pública, são pessoas brutas desse jeito. Elas alimentam o seu egoísmo individual, ou do grupo ao qual pertencem, aproveitando-se da fraqueza da mente humana.

Movimentar o corpo-como-carruagem se torna difícil caso os cavalos da carruagem sejam estúpidos e se o controle da mente-como-rédeas sobre os mesmos for inapropriada ou frouxa. Logo, é de primordial importância que se tenha uma perfeita pegada na mente-como-rédeas e que se conduza os cavalos de forma apropriada com o seu auxílio. Esse é o jeito para se ganhar controle sobre os órgãos e para tal os princípios de yama (abstinências) e niyama (observâncias), ásanas (posturas corporais), prán'ayáma ((controle da respiração), etc. São ensinadas; e o demais princípios de sádhana servem para controlar a mente e o intelecto.

Lembre-se, a contenção ou controle sobre os sentidos ou Órgãos não significa sua aniquilação. O significado de sam'yama (contenção) não é exterminação ou assassinato. Significa o criterioso uso ou aplicação dos impulsos. Tornar mais forte e poderoso aquilo que você quer manter sobre controle não é nem um pouco prejudicial, pois seus leais e poderosos seguidores serão de imensa ajuda no seu progresso ao longo do caminho do crescimento e do desenvolvimento. O cocheiro empunha as rédeas dos cavalos; ele não os mata. Matar os cavalos resultará numa carruagem imóvel encostada no lado da estrada. Ao se compreender o verdadeiro significado da coqtenção você fará o uso apropriado da mesma; então você verá que enquanto seus desejos sensuais estão se movendo no caminho da cessação com facilidade, uma poderosa vibração de energia é criada na sua mente, e ela prossegue com irresistivel ímpeto na direção do mundo interno, na direção do Supremo Ser.