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A BELA DAS MAIS BELAS:

ideal feminino divulgado no periódico O Paladino (1920-1930)

Vanessa Nascimento Souza

Formanda em História pelo UniAGES

Mariana Emanuelle Barreto de Gois (orientadora)

Doutoranda pela UFRRJ

INTRODUÇÃO

Em decorrência da busca por um ideal feminino, nas primeiras décadas do século XX

muitos concursos foram surgindo em todos os estados brasileiros, divulgando-se as

características de beleza desejadas, as quais excluíam as moças magras por ser difundida a

ideia de que magreza era sinônimo de feiura e pobreza1, seguindo os moldes trazidos da

Europa. Além disso, não bastava ser bela, precisava ser educada e delicada, traduzia

fortemente os interesses masculinos em realçar ainda mais o seu poder, e o meio mais

promíscuo para isso era a imprensa jornalística, pois utilizavam discursos representativos que

buscavam enfatizar as regras socialmente aceitas para as mulheres.

O referido artigo intitula-se A bela das mais belas: ideal feminino divulgado no

periódico O Paladino (1920-1930), objetiva traçar a representação da beleza feminina

veiculada nesse semanário, o qual buscava seguir modelos de discurso da sociedade

dominante masculina, não correspondendo com a realidade das mulheres da elite Coiteense no

período estudado. Uma das justificativas para a proposição desta pesquisa é o atual cenário da

historiografia regional, mais precisamente na cidade de Paripiranga/BA, que é lacunar,

existindo apenas obras de memorialistas que abordam lembranças dos autores com seus

familiares.

Nesta perspectiva, os autores que fundamentaram a pesquisa foi a historiadora

Michelle Perrot, com sua análise sobre os silêncios, que por muito tempo, impossibilitou a

escrita da história das mulheres a partir de fontes genuinamente femininas. A abordagem de

Denise Bernuzzi de Sant’anna auxilia na análise da beleza feminina tão desejada na década de

1920, a qual enaltece a moça de elite, com suas indumentárias diversas, o que a distingue da

menina do povo. Essas são algumas das principais abordagens que se encontram ao decorrer

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da leitura deste artigo.

Desse modo, o presente artigo levará o leitor a uma bela viagem ao mundo

feminino, desvendando os silêncios que impossibilitaram por muito tempo a escrita da

história das mulheres, o caminho aqui percorrido traz uma análise que possibilita a

compreensão da representatividade de um modelo ideal de beleza, de mãe, de mulher

casada, a profissional e moça de família, propagandeados no discurso jornalístico, em

especial pelo jornal O Paladino, o qual era influenciado por padrões cariocas e também

europeus.

A bela das mais belas

Há muito na história da humanidade que se tem buscado alcançar a beleza corporal, e

muito se tem investido em desfiles e concursos de beleza para escolher as mais belas

mulheres, seja em nível local como nacional e internacional. Diante disso, as mulheres de elite

buscam se apresentar em eventos sociais muito bem representadas, vestem suas melhores

roupas, colocam joias luxuosas, sapatos os mais sofisticados, luvas e os cabelos bem postos,

para realçar ainda mais a sua beleza exterior.

Não é diferente em Patrocínio do Coité2, pois no ano 1921 inicia-se um Concurso de

beleza, para escolher qual a mais bela moça “coiteense”, com o objetivo de a mesma

concorrer em nível nacional, pois foi divulgado no jornal “A Noite” e na “Revista da Semana”

do Rio de Janeiro que estariam abertos concursos em todos os estados brasileiros e, sendo

escolhida a vencedora, esta iria para a capital concorrer a mais bela do país.

Percebe-se o incentivo da propaganda em chamar atenção para os brindes que eram

entregues às vencedoras, e despertar o interesse dos assinantes quanto às beldades eleitas

dignas de toda beleza, além disso, alerta que a letra precisava ser legível para ser apurado o

resultado de forma correta, não prejudicando quanto à escolha da mesma. Contudo, em todas

as edições sobre o concurso o espaço destinado ao cupom era recortado, impossibilitando,

assim, identificar quais as características do mesmo.

Vale citar aqui a dissertação de mestrado de Adriana Oliveira da Silva, a qual também

pesquisou sobre os concursos de beleza que acontecerem no mesmo período em Itabuna:

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Eles começaram a ser realizados em Itabuna desde os anos 1920. Em

comemoração ao centenário da independência do Brasil em 1922, o Jornal

de Itabuna promoveu um “plebiscito” para a escolha da “mais bela brasileira

em Itabuna”. O concurso era nacional e foi criado pela “Revista da Semana”

do Rio de Janeiro. Na capital do estado, o concurso foi incentivado pelo

jornal A Tarde. As “beldades eleitas” seriam fotografadas e teriam seus

retratos enviados aos jornais A Noite e A Tarde de Salvador. [...]3.

Desse modo, pode-se observar que não somente em Patrocínio do Coité esse ideal de

eleger a moça mais bela fez sucesso, como também em outros estados brasileiros. Segundo

Adriana Oliveira da Silva, em Itabuna a chamada para participação no concurso se dava

através do jornal e somente os homens poderiam votar, os quais escolhiam pela beleza e graça

das mulheres. No semanário itabunense era publicado o cupom, o qual fora encontrado e

utilizado pela autora em sua dissertação, constava espaço para o nome da escolhida e nome do

votante. Sobre o voto ela aborda que:

[...] era livre, ou seja, não existiam candidatas previamente escolhidas. Cada

eleitor escolhia a senhorinha de sua preferência e preenchia um cupom com

o nome da predileta. Os concursos de beleza seguiram sendo organizados

nos anos 1930 e 1940 por empresas, associações político-sociais e

benemerentes da cidade4.

Notável pela análise da nota do semanário O Paladino que somente quem assinava o

jornal tinha o poder de decidir quem seria eleita na Vila e também pela questão de ser letrado,

pois a classe popular não era alfabetizada nem tinha condições financeiras de assinar o jornal,

ficando assim sem conhecimento de tais eventos sociais, sem falar que grande maioria da

população vivia no campo ou nas “matas”, como eram chamados os povoados e ainda o é

hoje. Esse ideal feminino divulgado no periódico coiteense era influenciado pelos modelos de

beleza que circulavam nos centros urbanos, embora sendo uma cidade interiorana, estava em

processo de urbanização e o progresso aos poucos se instalava na Vila.

Na nota seguinte temos as moças mais votadas pelos assinantes, são elas: “Zelia 16”

votos, “Esther Deda 14” votos e “Rosaldina 11” votos. Fica uma inquietação: por que não foi

divulgado o nome completo das concorrentes? Em outra nota do mesmo jornal5 há alguns

nomes completos e outros não, qual o motivo? Vejamos na tabela abaixo:

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CANDIDATA VOTOS

Josephina S. Rosa 420

Josepha B. Carvalho 370

Veturia 247

Octavia 140

Zelia 120

Rosaldina 100

Pepina Mattos 61

Maria Carvalho 43

Nazinha Mattos 30

Alice Virgens 30

Tabela 3: Resultado do concurso - 05 de fevereiro de 1922

Fonte: CRUZ, Manoel Coelho. Concurso de belleza. O Paladino. Patrocínio do Coité, anno 3, nº 4, 5 de

fevereiro de 1922.

A tabela traz as moças com nome completo e dá para perceber que são nomes de filhas

de pessoas de poder aquisitivo, de famílias importantes na cidade, cujos alguns sobrenomes

temos ruas e praças, seria então as outras moças não identificadas por nome completo de

classe mais inferior? De acordo com as entrevistas realizadas informalmente, a justificativa

dos nomes que não eram divulgados completos com o sobrenome é que a Vila de Patrocínio

do Coité, em meados da década de 1920 e 1930, era muito pequena e se restringia a poucas

famílias e todas conhecidas por residirem na parte central que dá acesso à praça da matriz,

principal rua neste período por ter se desenvolvido a cidade a partir da instalação da capela,

que posteriormente veio a ser modificada e transformada na igreja matriz.

Entretanto, não se tinha a preocupação que se tem hoje em registrar o nome completo,

quando fazemos pesquisas ou mesmo os jornalistas se analisados atualmente, sempre colocam

o nome e sobrenome das pessoas que estão sendo entrevistados, somente se oculta o nome da

pessoa, caso esta não queira ser identificada. E também nos concursos de miss ou rainhas que

acontecem na atualidade, sempre se divulga o sobrenome, pois este significa muito no mundo

artístico e midiático.

Voltando à análise do jornal O Paladino, havia sido noticiado que terminaria em

fevereiro o concurso de beleza, porém não foi possível por motivos não esclarecidos, sendo o

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dia final estendido para o domingo 19 de março do mesmo ano, sendo que o brinde já estava

na vitrine do Armazém Cotinguiba. A nova lista de apuração é a seguinte6:

CANDIDATA VOTOS

Josepha Baptista 820

Josephina Carvalho 700

Veturia 360

Octavia 230

Rosalia Carvalho 194

Zelia 150

Rosaldina 150

Nazinha Mattos 69

Pepina 61

Maria Carvalho 43

Alice Virgens 40

Liinha Lima 11

Etelvina Deda 10

Tabela 4: Resultado do concurso - 19 de fevereiro de 1922

Fonte: CRUZ, Manoel Coelho. Concurso de belleza. O Paladino. Patrocínio do Coité, anno 3, nº 4, 19 de

fevereiro de 1922.

Observando essa nova apuração do concurso, podemos notar o grande interesse dos

votantes em eleger a mais bela moça coiteense, fica evidente que a cada edição do semanário

eleva-se o número de votos para as concorrentes, sendo que algumas transitam entre o

primeiro e terceiro lugar com uma quantidade significativa de votos. Outra edição do mesmo

jornal7 vem trazer o fervor da mocidade acerca do concurso que animava a os moços da vila,

porém os nomes que estão em primeiro lugar estão ilegíveis por conta da má conservação da

fonte histórica, a qual está muito danificada, com partes rasgadas e outras apagadas ou

recortadas.

Estava na comissão de apuração Srs. Deocleciano Fraga Dias, cel. João Carregosa e

Jeronymo Evangelista de Carvalho8. Em homenagem à senhorita vencedora e digna de toda

beleza houve baile com objetivo de comemorar a beleza feminina e O Paladino fez votos que

todos participassem de tal festa, além de ressaltar que seria fotografada a vencedora e as fotos

enviadas para o Rio de Janeiro e para capital baiana com a seguinte nota:

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Tratando de uma festa popular, “O Paladino” espera o comparecimento de

todos, sem distinção de classe social, muito especialmente o das senhoritas

que foram contempladas no concurso, com as suas respectivas famílias.

Entretanto:

Está [ilegível] mandar photographar as vencedoras, cujos retratos deverão

seguir para a Revista da Semana e A Noite do Rio de Janeiro, bem como para

jornaes da capital bahiana9.

Tendo ocupado o primeiro lugar no concurso, a senhorita Josepha de Carvalho; e o

segundo lugar, a senhorinha Veturia Rosário, podemos então entender o porquê de terem sido

elas as escolhidas mais belas, formosas, pois são moças realmente muito bonitas e

demonstram elegância e educação, o que representa muito bem a sua posição social na Vila de

Patrocínio do Coité.

Analisando a nota do jornal O Paladino10 com a divulgação das vencedoras,

observam-se os artifícios chamativos do discurso jornalístico para falar da moça eleita e

idealizada como sendo muito elegante, toda delicada, muito gentil, plena e sagrada, muito

admirada pelos rapazes da vila. Além disso, pode-se notar as indumentárias diversas para

enaltecer ainda mais a beleza feminina, as joias, o chapéu, o penteado e a postura para foto, o

que as diferenciava das mulheres comuns da vila.

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A meiguice, educação, o olhar, o posicionamento para foto, tudo muito alinhado aos

padrões exigidos para damas intelectualizadas neste período. A moça devia se mostrar mais

elegante e discreta o máximo possível, pois eram características respeitáveis no meio social

em que estavam inseridas. O uso da foto das eleitas vem demonstrar tamanha repercussão,

ganhou o concurso na busca da garota mais bela da Vila e quer provar que foi feita a melhor

escolha, pois são meninas realmente dignas de toda “graça e beleza” por seguirem os ideais

tão almejados socialmente.

De acordo com a historiadora Denise Bernuzzi de Sant’anna: “[...] mesmo no começo

do século XX, a beleza física tendia a ser vista como uma dádiva divina. À mulher cabia

conservá-la, com recato e comedimento. [...]11”. Além desses aspectos já mencionados, vale

ressaltar que as fotos das mulheres que veiculavam neste semanário regulavam o poder sobre

o próprio corpo feminino, estas sofriam regulações sociais12.

Comparando a foto acima das vencedoras da década de 1920, é notável a cor da pele

branca, traços mais arredondados e o que mais chama a atenção são as indumentárias que lhe

embelezam ainda mais, o que demonstra a desigualdade social, pois as mulheres da classe

popular não teriam condições financeiras de se instrumentalizar com tais joias, roupas, chapéu

ou acessórios sofisticados. Notável o poder de persuasão do jornal em sempre elevar as mais

sublimes características femininas, sendo que traz uma imagem de sexo frágil, e dama de

elite. Segundo a historiadora Denise Bernuzzi de Sant’anna:

[...] o milenar de ser bela recaía com força sobre a indumentária. As roupas, os

calçados e os adereços serviam como prova maior de beleza e distinção. Para as

mulheres ricas, buscavam-se o luxo das joias, a elegância trazida pelo porte do

chapéu, o esmero das luvas e do leque. Por baixo das várias sobsaias, os coletes ou

cintas, alguns acoplados a porta-seios, apertavam o ventre. Nas revistas mundanas

da década de 1900, os traseiros das senhoritas da elite carioca apareciam em tufos,

ressaltados por cinturas apertadas. As roupas sobrepostas, as botinas de couro, os

cabelos, enrodilhados no alto da cabeça sobre a qual assentava um volumoso

chapéu, pareciam mais apropriados ao clima europeu do que ao calor e à umidade

dos trópicos13.

Embora existissem moças da classe mais baixa belas facialmente, não chegavam ao

padrão de beleza desejado pelo concurso, não que estas fossem feias, mas a sociedade não lhe

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escolhia para o certame, que buscava seguir o modelo de mulher ideal carioca, o qual se

baseava em modelos europeus. Segundo aborda a historiadora Michelle Perrot:

[...] a conveniência ordena às mulheres da boa sociedade que sejam

discretas, que dissimulem suas formas com códigos, aliás, variáveis segundo

o lugar e o tempo. O peito, as pernas, os tornozelos, a cintura são, cada qual

por sua vez, objeto de censuras que traduzem as obsessões eróticas de uma

época e se inscrevem nas imposições da moda. Os cabelos, signo supremo da

feminilidade, devem ser disciplinados, cobertos, enchapelados, por vezes

cobertos com véu. A mulher “tal como deve ser”, principalmente a jovem

casadoura, deve mostrar comedimento nos gestos, nos olhares, na expressão

das emoções, as quais não deixará transparecer senão com plena consciência.

O riso lhe é proibido. Ela se limitará a esboçar um sorriso. Pode-se em certas

ocasiões deve – deixar rolar as lágrimas, coisa proibida`a virilidade,

demonstrando, assim, que é acessível ao sentimento e à dor, cujo

“ministério”, segundo Michelet (historiador francês do século XIX), lhe

pertence14.

É um padrão feminino desejado e forjado pelos homens, que as levava a seguir um

modelo impessoal, caso ultrapassem essas regras seriam censuradas, até mesmo a vida íntima

tinha regras, ela precisava controlar-se e comportar-se perante os caprichos de uma sociedade

conservadora. Vale ressaltar também que são da alta sociedade coiteense, seus sobrenomes

Carvalho e Rosário nos mostram que estas eram filhas de proprietários de terras ou casas

comercias na vila, moças letradas e muito bem educadas. Dignas de todo orgulho e admiração

entre os patrícios, modelo de mulher desejado como filha, esposa e mãe.

Analisando outra nota do jornal O Paladino15 novamente a imagem da senhorinha

Veturia Rosario é divulgada, vencedora em 2º lugar no concurso de beleza de 1922, traz um

discurso que ressalta o desejo da “mulher brasileira ideal”, formosa, delicada, intelectual,

cheia de graça e beleza, que seduz por seu olhar, seus traços leves e elegantes.

Contudo, fica evidente que o jornal O Paladino buscava atingir o público leitor da alta

sociedade coiteense, com suas edições focando com mais fervor nos concursos de beleza, com

o uso de adjetivos os mais graciosos para enaltecer a formosura, delicadeza, intelectualidade e

o bom comportamento das mulheres e elevar o desejo masculino, seguindo ideais de beleza

divulgados no Rio de Janeiro e também na Europa.

Compreende-se que o discurso jornalístico nas primeiras décadas do século XX

buscava atender a anseios e interesses do público leitor da época, o qual era minoria e detentor

da maior riqueza local, sendo proprietários de terras e casas comerciais almejavam cada vez

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mais enriquecimento e de certa forma assinavam o semanário, para poderem ter seu espaço de

divulgação de seus produtos em propagandas. Além de que, com o advento dos concursos de

beleza promovidos pelo periódico, alcançavam maior prestígio por terem suas belas filhas

fazendo parte da concorrência, isso denotava a posição social na Vila.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na nossa contemporaneidade a mídia traz a imagem da mulher como “Bela, recatada e

do lar”, esse discurso enfatiza valores e concepções históricas que são resquícios do século

XIX, no qual cabia à mulher prezar pela beleza e delicadeza, sendo esta recatada e destinada a

cuidar do lar e dos filhos, desse modo, considerada a guardiã da família. Estereótipos de uma

sociedade patriarcal em que se valorizava a figura masculina como o chefe da casa, o qual

decidia cada passo a ser dado pela filha ou esposa, que vivia sempre à margem de seus

desejos e idealizações. Período em que cabia à mulher uma educação restrita e diferenciada

daquela que era designada para os meninos, deveria se manter recatada e cordial sem ser

vulgar, ao mesmo tempo em que se buscava um padrão de beleza que excluía as meninas

magras, que eram vistas ora como “doentes” ora “pobre e feia”.

Contudo, o presente artigo é uma contribuição para a escrita da história das mulheres

coiteenses com enfoque nas mais belas damas da alta sociedade. Sendo o primeiro estudo

científico sobre a temática, a pretensão desse trabalho é influenciar novos pesquisadores para

a análise de novas perspectivas, novas abordagens acerca da condição feminina, mas não

somente um estudo das mulheres de elite, e sim voltado para aquelas que vivem à margem da

sociedade, sem reconhecimento ou mesmo excluídas das publicações jornalísticas e de outros

meios de comunicação, mulheres do povo, domésticas, agricultoras, parteiras, benzedeiras, e

tantas outras que têm uma história de vida pouco valorizada.

Notas

1 SANT’ANNA, Denise Bernuzzi de. Corpo e beleza: “sempre bela”. In: PINSKY, Carla Bassanezi.; PEDRO,

Joana Maria. (orgs). Nova história das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2013, p. 106.

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2 Paripiranga, até os anos de 1931 era denominada Vila de Patrocínio Coité ou popularmente conhecida como

Coité ou Cuité. 3 SILVA, Adriana Oliveira da. Damas da sociedade: caridade, política e lazer entre as mulheres de elite de

Itabuna (1924-1962). (Dissertação de mestrado). Feira de Santana: PGH/UEFS, 2012, p. 155. 4 SILVA, Op. Cit. p. 155. 5 CRUZ, Manoel Coelho. Concurso de belleza. O Paladino. Patrocínio do Coité, anno 3, nº 4, 5 de fevereiro de

1922. Acervo do Laboratório de Ensino e Pesquisa em História do UniAGES. 6 CRUZ, Manoel Coelho. Concurso de belleza. O Paladino. Patrocínio do Coité, anno 3, nº 4, 19 de fevereiro de

1922. Acervo do Laboratório de Ensino e Pesquisa em História do UniAGES. 7 CRUZ, Manoel Coelho. Concurso de bellza. O Paladino. Patrocínio do Coité, anno 3, nº 18, 5 de março de

1922. Acervo do Laboratório de Ensino e Pesquisa em História do UniAGES. 8 CRUZ, Manoel Coelho. Concurso de belleza. O Paladino. Patrocínio do Coité, anno 3, nº 21, 26 de março de

1922. Acervo do Laboratório de Ensino e Pesquisa em História do UniAGES. 9 Ibidem. 10 CRUZ, Manoel Coelho. No domínio da graça e da bellêsa Coité elege as suas formosuras. O Paladino.

Patrocínio do Coité, anno 3, nº 35, p. 1, 2 de Julho de 1922. Acervo do Laboratório de Ensino e Pesquisa em

História do UniAGES. 11 SANT’ANNA, Denise Bernuzzi de. Corpo e beleza: “sempre bela”. In: PINSKY, Carla Bassanezi. PEDRO,

Joana Maria. (orgs). Nova história das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2013, p. 106. 12 SANT’ANNA, Denise Bernuzzi de. Op. Cit, p. 106. 13 Idem, p. 106. 14 PERROT, Michelle. Os silêncios do corpo da mulher. In: MATOS, Maria Izilda Santos de.; SOIHET, Rachel.

(orgs.). O corpo feminino em debate. São Paulo: Editora UNESP, 2003, p. 15. 15 CRUZ, Manoel Coelho. Echos do nosso concurso. O Paladino. Patrocínio do Coité, anno 4, nº 22, p. 2, 1 de

abril de 1923. Acervo do Laboratório de Ensino e Pesquisa em História da UniAGES.

REFERÊNCIAS

PERROT, Michelle. Os silêncios do corpo da mulher. In: MATOS, Maria Izilda Santos de.;

SOIHET, Rachel. (orgs.). O corpo feminino em debate. São Paulo: Editora UNESP, 2003.

SANT’ANNA, Denise Bernuzzi de. Corpo e beleza: “sempre bela”. In. PINSKY, Carla

Bassanezi. PEDRO, Joana Maria. (orgs). Nova história das mulheres no Brasil. São Paulo:

Contexto, 2013.

SILVA, Adriana Oliveira da. Damas da sociedade: caridade, política e lazer entre as

mulheres de elite de Itabuna (1924-1962). (Dissertação de mestrado). Feira de Santana:

PGH/UEFS, 2012.

Jornal O Paladino 1921-1923.