a avenida como espaço público de usos e actividades...
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O Modelo Barcelona de Espao Pblico e Desenho Urbano
A Avenida como espao pblico de usos e actividades sociais
Os casos da Avenida da Liberdade e do Passeig de Sant Joan
Dbora Alexandra de Freitas Martins
Tutor: Antoni de Padua Remesar Betlloch
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Facultat de Belles Arts
Mster en Disseny Urb: Art, Ciutat, Societat
O MODELO BARCELONA DE ESPAO PBLICO E DESENHO URBANO
A Avenida como espao pblico de usos e actividades Os casos da Avenida da Liberdade e do Passeig de Sant Joan
Autora: Dbora Alexandra de Freitas Martins
Trabalho final para a obteno do grau de Mestrado em Diseo Urbano: Arte, Ciudad,
Sociedad
Tutor: Doutor Antoni de Padua Remesar Betlloch
Tribunal de Avaliao:
Presidente: Dr. Pedro Brando. IST. Lisboa
Vocal Dra. Joana Cunha Leal. IHA-UNL. Lisboa
Secretrio: Dr. Joo Pedro Costa. UTL. Lisboa
JUNHO 2012
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PROJECT TITLE: Urban Atmospheres, The avenue and its role in the city
INNVESTIGATOR: Dbora Alexandra de Freitas Martins
SUMMARY OF THE PROPOSAL
ABSTRACT
This work proposes to carry out a comparative study of two examples of the same type
of public space, with the goal of understanding if those examples are successful or
unsuccessful functioning spaces, in social terms
The urban public space has a fundamental role in the structure of the city and the
development of urban social life. The street, as a structural element in the metropolis, is
not only a channel for transit and accesses, but it should also function as a promenade
that encourages the development of social activities that involve living and enjoying
the space. This type of space should play a multifunctional role, promoting a wider
variety of uses and an active social collective life, where different types of outdoor
activities are in balance.
The aim of this thesis is to analyze the uses given to different instances of the same
type of urban space, being the Avenue the developed typology, studying its
configuration, its variations throughout the day, its furniture and the activities that it
receives. It is intended to study the influence of these different elements in the social
urban experiences as well as their role when it comes to defining the function and use
of that spot.
Key words: Public Space, Barcelona Model, Avenue, Public Way, Social Activities,
Urban Sociology
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TTULO DO PROJECTO: Ambientes urbanos, A avenida e o seu papel na cidade
RESUMO
Prope-se com o presente trabalho realizar um estudo comparativo entre dois
exemplos da mesma tipologia de espao pblico, tendo em vista uma melhor
compreenso sobre o funcionamento, mais ou menos eficaz, em termos sociais, desse
tipo de espaos.
O espao pblico urbano tem um papel fundamental na estrutura da cidade e no
desenvolvimento da vida social urbana, e a rua, um elemento estruturante que, para
alm de desenvolver a funo de distribuio de trnsitos e de acessos, representa
tambm um espao de passeio e de desenvolvimento de actividades sociais de
permanncia. Este tipo de espao deve desempenhar um papel multifuncional,
promovendo, atravs de uma mais vasta multiplicidade de usos, uma vida social
colectiva activa, onde os diferentes tipos de actividades exteriores esto em equilbrio.
Pretende-se analisar os usos conferidos a diferentes exemplos da mesma tipologia de
espao urbano, sendo a avenida a contemplada, atravs do estudo da sua configurao,
das suas variaes ao longo do dia, do seu mobilirio urbano e das actividades que
acolhe. A anlise pretende clarificar a influncia de todos estes elementos nas vivncias
urbanas assim como o seu papel na definio da funo e do uso do local.
Palavras-chave: Espao pblico, Modelo Barcelona, Avenida, Via Pblica,
Actividades sociais, Sociologia Urbana
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INDCE
1. INTRODUO ..................................................................................................................... 1
1.1 Introduo ............................................................................................................................. 1
1.2. Objectivos ............................................................................................................................. 3
1.3. Metodologia e estrutura do trabalho ................................................................................ 4
2. ENQUADRAMENTO NO MODELO BARCELONA .................................................... 9
2.1 O modelo Barcelona e as suas caractersticas gerais ....................................................... 9
2.2 Fases de desenvolvimento do modelo - linha de tempo .............................................. 11
2.3 Modelo Barcelona no desenho do espao pblico: as vias como elementos
estruturantes da vida social urbana ....................................................................................... 12
3. PROBLEMTICA A Tipologia de espao Avenida................................................... 19
3.1 O uso e funo do espao urbano e os seus utilizadores .............................................. 19
3.2. O retorno via pedonal na conquista de novos utilizadores...................................... 23
3.3. As diferentes configuraes da avenida ........................................................................ 26
3.3.1. Avenida .................................................................................................................... 26
3.3.2. Boulevard ................................................................................................................ 27
3.3.3. Rambla ..................................................................................................................... 27
3.4. Actividades sociais nas avenidas e os espaos que requerem .................................... 29
3.4.1. Necessrias .............................................................................................................. 29
3.4.2. Opcionais ................................................................................................................. 30
4. CASOS DE ESTUDO .......................................................................................................... 35
4.1. Avenida da Liberdade ...................................................................................................... 36
4.1.1 Enquadramento histrico ....................................................................................... 36
4.1.2. Configurao do espao fsico .............................................................................. 40
4.1.3. Utilizao do espao .............................................................................................. 42
I. Circulao viria ....................................................................................................... 42
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II. Circulao de bicicleta ............................................................................................ 43
III. Circulao pedonal................................................................................................. 43
IV. Estar de p ............................................................................................................... 44
V. Sentar ......................................................................................................................... 44
VI. Jogar ......................................................................................................................... 45
VII. Actividades efmeras ........................................................................................... 46
4.2. Passeig de Sant Joan .......................................................................................................... 47
4.2.1. Enquadramento histrico ...................................................................................... 47
4.2.2. Configurao do espao fsico .............................................................................. 49
4.2.3. Utilizao do espao ........................................................................................ 57
I. Circulao viria ....................................................................................................... 57
II. Circulao de bicicletas ........................................................................................... 57
III. A circulao pedonal ............................................................................................. 59
IV. Estar de p ............................................................................................................... 60
V. Sentar ......................................................................................................................... 61
VI. Jogar ......................................................................................................................... 64
5. CONSIDERAES FINAIS ............................................................................................. 69
6. BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................. 73
7. NDICE DE FOTOGRAFIAS E ILUSTRAES .......................................................... 77
8. INDICE ANALTICO ......................................................................................................... 81
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1. INTRODUO
1.1 Introduo
O espao pblico tem na cidade uma funo polarizadora da vida quotidiana e
das actividades recreativas, proporcionando assim o contacto e o convvio entre
os seus habitantes. Sendo esse um espao de socializao, possvel verificar,
atravs do processo de interaco com os indivduos, um reflexo da sociedade
que o habita. Para que se proporcione a oportunidade de encontro entre as
pessoas, este tipo de espao deve ser acessvel a todos, independentemente das
condies de cada um.
Tomando um papel fundamental na estrutura da Cidade e no desenvolvimento
da vida social urbana, o espao pblico como elemento estruturante, desenvolve
no s uma funo de distribuio de trnsitos e de acessos, como tambm
assume um papel de espao de passeio e de desenvolvimento de actividades
sociais de permanncia. Consequentemente, estas zonas da cidade devem ser
multifuncionais promovendo, atravs de uma mais vasta multiplicidade de usos,
uma vida social colectiva activa, onde os diferentes tipos de actividades
exteriores decorrem em equilbrio.
Tendo em vista uma compreenso da influncia que todos os elementos que
compem o espao exercem nas vivncias urbanas e na definio de funo e uso
do local, analisar-se-o os usos e actividades conferidos a diferentes exemplos da
mesma tipologia de espao urbano, sendo a tipologia desenvolvida a avenida.
Atravs de um estudo da configurao, do mobilirio urbano, das variaes
dirias e das actividades conferidas aos diferentes casos de estudo poder-se-
tambm compreender a razo pela qual o espao pode no ter, actualmente, os
usos pretendidos aquando da sua idealizao projectual, e o porqu de
determinados elementos que compem o espao terem outro uso para alm
daquele para o qual foram concebidos. Assim, a questo de investigao deste
trabalho : O que determina o sucesso de um determinado tipo de espao
pblico e de que maneira a forma como ele desenhado implicar na maneira
como vivido?
Sabendo que a configurao fsica do espao e os elementos que o compem so
factores determinantes na definio de usos e funo do local, pretende-se
compreender at que ponto podem ambos influenciar o comportamento dos
cidados e concluir que factores tornam um tipo de configurao mais vantajosa
para a tipologia em questo. Para tal recorrer-se- observao em campo e a
uma anlise de vrios exemplos assim como uma comparao entre eles.
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A Avenida da Liberdade, em Lisboa, e o Passeig de Sant Joan, em Barcelona,
sero os objectos de estudo do trabalho proposto. A escolha destes dois exemplos
tem tambm como objectivo uma exposio comparativa do desenvolvimento
que os espaos pblicos tm vindo a sofrer nas respectivas cidades, assim como
as suas origens.
Se o movimento moderno pretendia classificar os espaos segundo a sua funo,
a mentalidade contempornea defendia que o espao pblico fosse
multifuncional, e que tivesse um forte peso como gerador da organizao na
cidade. Assumindo o mesmo tipo de pensamento, desde o plano de Cerd, para a
expanso de Barcelona foram constitudos vrios departamentos especializados
nos diferentes tipos de espao, e investiu-se, ao longo do tempo, no espao
pblico, e no aumento da qualidade dos elementos a implicados. A cidade de
Barcelona tornou-se numa referncia mundial no s pela sua estrutura urbana,
mas tambm pelos momentos histricos que conduziram a sua evoluo at aos
dias de hoje. Os processos, as estratgias e a participao das partes envolvidas
que conduziram o crescimento da cidade tiveram grande importncia no decurso
histrico e na construo da imagem de cidade que hoje conhecemos. Torna-se
ento importante compreender como e quando tiveram incio essas estratgias, e
como se processaram ao longo do tempo. O estudo dessa evoluo e das
diferentes fases que a compem fazem parte do presente trabalho, facilitando
uma melhor compreenso da importncia das avenidas e do desenho urbano em
especfico para a tipologia de espao pblico escolhida para anlise.
Se em Barcelona se procurava privilegiar o pedestre sem deixar de atribuir o
devido espao ao trnsito virio, em Lisboa, o crescimento urbano tem vindo ao
longo do tempo a privilegiar, na cidade, o desenvolvimento dos eixos de
circulao virios, mesmo que para tal fosse necessria uma diminuio do
espao dedicado circulao pedonal. Este tipo de evoluo, favorecendo a
circulao automvel em detrimento da pedonal, e consequentemente dos
espaos pblicos, levou ao decrscimo dos cuidados com o espao pblico tem
como consequncia a diminuio das condies para a apropriao dos espaos e
naturalmente uma diminuio do interesse pelo desenvolvimento de uma vida
social colectiva no exterior.
Com o avanar do tempo os espaos ganharam novas utilizaes e outras
deixaram de se desempenhar, no entanto existem actividades que ainda hoje se
mantm. Cada vez mais os espaos pblicos no se restringem s actividades
para as quais foram projectados. Verifica-se actualmente uma diminuio do
trfego virio nos centros das cidades, como consequncia do aumento do leque
de opes disponveis para o atravessamento das cidades. Este fenmeno permite
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voltar a contemplar a ideia de devolver espao aos pees, retirando o que j no
necessrio aos automveis. Embora seja cada vez mais aparente a necessidade de
mudana para determinados espaos que, embora em teoria, renam as
condies para o bom funcionamento, paream no funcionar, possvel tambm
encontrar na Cidade, espaos que mantiveram ao longo do tempo o
funcionamento activo como espao pblico em todas as suas vertentes e uma
actividade social concreta.
1.2. Objectivos
A escolha do tema prende-se com o interesse por uma melhor compreenso dos
factores que determinam o sucesso de um espao pblico.
Ser analisada uma tipologia de espao urbano, e tendo em vista uma exposio
entre as diferentes vivncias possveis para a mesma tipologia sero estudados
dois exemplos, um em Lisboa e outro em Barcelona, a Avenida da Liberdade, e o
Passeig de Sant Joan, respectivamente. Pretende-se contrapor as suas
configuraes e caractersticas especficas de cada um, procurando esclarecer o
que define e confere o melhor desempenho, do ponto de vista social, para esta
tipologia especfica de espao pblico. Para esse efeito o trabalho desenvolver-se-
em diferentes fases que permitiro compreender a evoluo histrica, cultural e
social deste tipo de espao, e analis-lo de forma mais profunda ao nvel da sua
composio e desenho.
A identificao das funes desempenhadas e usos atribudos ao espao
permitiro identificar potenciais elementos marcantes e definidores de usos
anteriormente identificados e, em ltima estncia, compreender at que ponto os
elementos encontrados so transportveis para outros espaos da mesma
tipologia.
O objectivo geral do trabalho consiste na identificao dos factores que
determinam o sucesso de um espao pblico, aplicando este estudo tipologia
Avenida. J os objectivos especficos passam pela compreenso da influncia
exercida pelo perfil e pelos diversos elementos constituintes do espao em causa,
no comportamento social que a se verifica. Para isso a investigao passar pela
observao e registo do comportamento social dos espaos, e tambm pelo tipo
de uso adquirido ps ocupao. Ser igualmente relevante estudar os
antecedentes histricos, sociais, culturais e econmicos da tipologia observada e,
mais especificamente, dos dois casos de estudo, procurando tambm uma melhor
compreenso da influncia do Modelo Barcelona no desenho da tipologia avenida.
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1.3. Metodologia e estrutura do trabalho
A dissertao tem uma natureza emprica, recorrendo a recolha de informao
bibliogrfica e a trabalho de campo.
A pesquisa de informao bibliogrfica tem como objectivo a contextualizao
histrica, a descrio do processo de construo e evoluo de cada caso e a
compreenso das alteraes no comportamento do pblico utilizador do espao
desde a sua data de construo at aos dias de hoje.
O trabalho de campo tem como finalidade, uma melhor compreenso dos casos
atravs da vivncia do espao, nas diferentes condies em que se pretende que
seja analisado.
O trabalho repartir-se- em trs fases:
Em primeiro lugar realizar-se- o trabalho de pesquisa bibliogrfica, reunindo
informao relativa ao contexto histrico dos espaos escolhidos e a dados mais
actuais referentes aos mesmos. Toda a informao ser necessria para a
elaborao de um enquadramento histrico dos locais em estudo e para a
compreenso do estado de arte do tema em anlise. Ainda nessa primeira fase os
dados sero organizados e tratados permitindo um melhor posicionamento para
a fase que se segue.
A segunda fase ser direccionada para o trabalho em campo, com o objectivo de
estudar e caracterizar os casos de estudo, assim como reunir dados relativos
observao dos comportamentos dos utilizadores. Esse trabalho proceder-se-
com o apoio de plantas e perfis que permitiro uma mais fcil localizao dos
elementos relevantes para o estudo, recorrendo tambm a fotografia para registo.
Por ltimo sero reunidos, tratados e cruzados todos os dados das fases
anteriores, o que possibilitar a reflexo sobre cada espao individualmente e a
concluso final, resultando num ltimo posicionamento em relao ao tema
escolhido.
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Fase 1. Pesquisa bibliogrfica
-contexto histrico
-contexto actual
-intervenientes
-tratamento e organizao dos dados
Fase 2. Trabalho de campo
-produo dos desenhos tcnicos dos casos de estudo
-avaliao das caractersticas fsicas dos espaos
-registos fotogrficos e observao em campo
-avaliao das caractersticas sociais dos espaos e registo de actividades
-actividades, e sua localizao no espao
-Fluxos
-usos
Fase 3. Cruzamento de dados e produo do documento escrito
-analises, reflexes e concluses gerais
-confronto entre os pressupostos iniciais e as concluses finais
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2. ENQUADRAMENTO NO MODELO BARCELONA
2.1 O modelo Barcelona e as suas caractersticas gerais
Barcelona tornou-se numa referncia mundial no s pela sua estrutura urbana,
mas tambm pelos momentos histricos que guiaram a sua evoluo at
actualidade. Os processos, as estratgias e a participao das partes envolvidas
entre departamentos responsveis, especialistas e a populao atravs de
movimentos participativos, que conduziram o crescimento da cidade tiveram
grande importncia no decurso histrico e na construo da imagem de cidade
que hoje conhecemos.
Na primeira metade do sculo XIX, os limites espaciais da cidade de Barcelona
estavam ainda muito delimitados pelas muralhas que anteriormente protegiam a
cidade, adensando o seu crescimento demogrfico.
Com a necessidade de expandir a cidade, procedeu-se ao derrube da muralha em
1854, levando elaborao da proposta de extenso e reforma da cidade para
alm das antigas muralhas, por Cerd o Ensanche. O projecto propunha um
sistema de crescimento homogneo organizado hierarquicamente com uma
malha de ruas e quarteires, gerando uma estrutura contrastante com a da Ciutat
Vella, agregando assim o centro de Barcelona s cidades vizinhas. O plano
delineado que viria a ser aprovado em Maio de 1860 contemplava a reabilitao
da zona antiga da cidade e a insero de espaos para parques, industria,
comrcio e habitao na nova extenso da cidade, distribuindo-os em equilbrio.
Desta forma, foi gerado um sistema organizado, que permitia um crescimento
indefinido da cidade segundo o mesmo modelo, para alm do previsto no plano,
e ambiciosos planos urbansticos e industriais foram postos em marcha para
transformar Barcelona numa cidade moderna.
A construo do plano de Cerd constitui a maior interveno sofrida pela
cidade em toda a sua histria. Conferiu cidade a estrutura pela qual ainda hoje
conhecida e que constitui a sua maior imagem de marca. nesta fase de
evoluo crucial para Barcelona que se torna mais evidente o incio do cuidado
com a circulao quer viria quer pedonal, no s dentro da cidade, como
tambm com o exterior.
Cerd assumia para o seu plano um grande cuidado com o desenho de todos os
eixos que o compunham, procurando repartir o espao de forma equivalente
entre o peo e ao automvel.
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E a cidade foi evoluindo, urbanizando-se e crescendo nos sculos seguintes. no
final do sculo XX que tem incio outra das mais importantes revolues em
diversos campos da cidade mas com particular incidncia no urbanstico o
designado Modelo Barcelona. Este designa o conjunto de intervenes de
reestruturao urbana, que se realizaram desde os anos 80, aps a colocao da
cidade como anfitri dos Jogos Olmpicos de 1992. No entanto, o modelo no
constitudo apenas pelas intervenes realizadas para os J.O.. Estas faziam parte
de um extenso plano que tinha como objectivo no s modernizar, actualizar e
refazer a cidade1, como tambm aproveitar a sua forte potencialidade para o
desenvolvimento da cidade, pela monumentalidade do seu centro histrico. Os
Jogos Olmpicos trouxeram uma nova motivao, assim como mais meios para
dar incio a um processo urbanstico que viria a permitir redigir e programar
intervenes e projectos, de mbitos espaciais e temporais adequados, tendo em
vista uma forte transformao da cidade e da sua imagem.
Oriol Bohigas, delegado da rea de urbanismo do Ayuntamiento de Barcelona entre
1980 e 1984, defendia uma regulao e estandardizao dos elementos dos
espaos pblicos da cidade, procurando uma uniformizao dos mesmos e um
reforo da imagem da cidade. O investimento numa nova esttica urbana e em
novos edifcios, de arquitectos de renome, viria apoiar a modernizao da cidade
e a criao de mais elementos de atraco para a cidade.
1 MONTANER, Josep Maria, El modelo Barcelona, Madrid: Ediciones El Pas, 2007, pg. 21
Figura 1. Plan Cerd
1859
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2.2 Fases de desenvolvimento do modelo - linha de tempo
1854 Derrube da muralha da cidade
1860 Revoluo Industrial
Aprovao do Plano Cerd
1888 Exposio Universal
1907 Plano Jaussely
1929 Exposio Internacional
1932 Plano Maci, projectado pelos GATCPAC, com colaborao de Le Corbusier
1936-39 Incio da Guerra Civil espanhola
1939 Queda do regime
1952 Congresso Eucarstico
1953 Plano Comarcal
1975 Comea o perodo democrtico
1976 Aprova-se o PGM e tem incio uma nova era, ponto de incio da transformao
1979 Primeiras Eleies democrticas
1979-83 Primeiros anos de governo local eleito
1979-82 Actuaes de carcter pblico com financiamento municipal
1980 Incio de operaes mais profundas na cidade
1981 Comea-se a preparar a candidatura para os JJ.OO.
1982 Eleio de um governo socialista
1983-86 Preparao para o grande projecto de transformao
1986 Barcelona eleita como sede dos Jogos Olmpicos 1992
1987
Dissoluo da Corporacin Metropolitana, e criao de novas entidades
supramunicipais
1991 Aprovao do primeiro plano
1995 Aprovao do segundo plano
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2.3 Modelo Barcelona no desenho do espao pblico: as vias como
elementos estruturantes da vida social urbana
A eficincia de espaos pblicos tem sido matria de estudo de muitos autores,
tais como Jan Gehl2, que afirma que as actividades exteriores so muito
influenciadas pela configurao fsica dos espaos da cidade.
Tendo o espao pblico sido uma pea muito importante para a recuperao de
Barcelona, e um papel fundamental na vida pblica dos cidados, para alm de
elemento estruturante na cidade, a sua recuperao e a aposta na sua melhoria e
requalificao determinou tambm a existncia de uma vida pblica e social
saudvel, que conferiram cidade uma nova imagem.
A valorizao dos eixos como elementos estruturantes e catalisadores do
crescimento das cidades torna-se num dos pontos fulcrais no crescimento de
Barcelona com o plano de Cerd. A circulao dentro da cidade e a sua
comunicao com o exterior foi um tema de grande importncia para o plano que
considerou as necessidades de circulao dos habitantes, uma das suas principais
prioridades. Tornava-se para tal, necessrio estabelecer uma rede hierarquizada
de ruas, que diferenciasse os espaos dedicados aos veculos a motor e aos pees,
atribuindo-lhes pesos iguais, quer a rua tivesse uma largura de 20 metros ou de
50 metros3. A rede de vias gerada permite, at aos dias de hoje, uma circulao
dentro da cidade.
A cultura da vida social exterior desde sempre, um dos atributos mais
caractersticos de Barcelona. A socializao no exterior uma caracterstica
prpria da cidade que v a sua essncia reflectida na tpica Rambla, que se
tornou num dos espaos mais especiais da cidade por ter sido durante mais de
cinco sculos o lugar central onde a representao do cenrio urbano, a
actividade comercial e institucional se produziram de forma integrada4.
No crescimento de Barcelona as avenidas so implementadas no s como
elementos de conexo entre diferentes pontos, mas surgem tambm como
motores de urbanizao em locais no construdos, j que oferecem a garantia de
uma nova estrutura para um local que at ento, no era acessvel. Acontece que
2 GEHL, Jan. La Humanizacin Del Espacio Urbano: La Vida Social Entre Los Edificios. Barcelona:
Revert, 2006 3 BUSQUETS, Joan, Barcelona, la construccion de una ciudad compacta, Barcelona: Ediciones del
Serbal, 2004. Pg.131 4Idem. Pg. 71
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com o crescimento que se lhes segue, acabam por se transformar em peas
centrais da mobilidade urbana5 .
Na construo do ensanche de Cerd, o Passeig de Grcia transforma-se no eixo
de maior importncia fora da Ciutat Vella, uma vez que o elemento que
estabelece a conexo entre o bairro da Grcia e o ncleo histrico da cidade,
chegando at ao Portal de lngel. Actualmente o Passeig de Grcia ainda
constitui um dos mais importantes eixos na cidade, como eixo de circulao e
chegada ao centro e como local de referncia de Barcelona.
No princpio do sculo XIX foram executadas transformaes urbanas mais
localizadas, tais como renovaes de edifcios emblemticos e das zonas que lhes
so imediatamente prximas. A estas pequenas intervenes seguem-se a
abertura de novos eixos na Ciutat Vella Carrer de Ferran e Carrer de la
Princesa, e em simultneo, novos espaos de lazer e jardins por toda a cidade6.
No crescimento da cidade as avenidas desempenharam no s o papel de
elementos estruturantes do tecido urbano e do territrio, mas tambm de
conectores dos diferentes ncleos, centrais ou no, da cidade. A implementao
de novos eixos em territrios no urbanizados serviu de incentivo urbanizao
da rea circundante7. A implementao de um novo eixo de grandes dimenses
requeria edifcios de limite, e consequentemente novos equipamentos e infra-
estruturas de servio aos habitantes dos novos edifcios. Gerava-se assim um
sistema catalisador para o crescimento da cidade.
As avenidas caracterizam-se frequentemente pela importncia atribuda ao
espao dos pees, articulando ao longo do seu comprimento diferentes espaos
abertos. A Gran Via e a Diagonal so exemplos de eixos que funcionaram como
catalisadores de urbanizao de Barcelona e, desempenhando um importante
papel na circulao viria da cidade, no deixaram de desenvolver tambm o seu
papel como local de circulao, passeio e paragem de pedestres.
No entanto, com o passar do tempo, Barcelona vinha cada vez mais a necessitar
de uma nova paisagem urbana uniforme e de uma melhoria da qualidade dos
seus espaos pblicos. Era necessrio gerar uma nova imagem da cidade.
Com a colocao da cidade como anfitri dos Jogos Olmpicos de 1992 surge um
novo incentivo para o investimento e transformao da cidade, funcionando
como catalisador de processos de maior escala e de intervenes necessrias para
5BUSQUETS, Joan, Barcelona, la construccion de una ciudad compacta, Barcelona: Ediciones del Serbal,
2004, Pg. 148 6 Idem 7 Idem. Pg. 148
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uma recolocao da cidade como uma das mais importantes referncias a nvel
mundial. Atravs de todas as essas intervenes foi possvel conferir cidade no
s as condies necessrias para os jogos, mas tambm uma melhoria
significativa da qualidade dos seus espaos, e da resposta s demandas cvicas na
cidade, tendo tudo isto como consequncia, uma melhoria da qualidade de vida
dos seus habitantes.
Aps o tempo de transformao intensa da cidade gerada pelos JJ.OO., e com o
abrandamento das actividades, foi tomado tempo para pensar qual seria o futuro
da cidade, realizando um balano de tudo o que se havia executado. Este
processo permitiu projectar de forma mais eficiente e controlada o melhor modo
de manter a cidade em transformao de forma a lev-la aos objectivos
pretendidos, mantendo processos contnuos e adequados.
A mudana na qualidade do espao pblico, sentida pelas intervenes
dedicadas aos J.O. demonstrou a passagem do respeito do lugar colectivo8 para
primeiro plano no que toca s prioridades de planeamento da cidade.
As avenidas e os boulevards, pertencendo rede viria secundria, tm como
funo a distribuio do trfego at s vias locais, elementos importantes para os
transportes pblicos e comercio, funcionam frequentemente como espao
equipado e com actividades prprias9.
As mudanas que as actividades e usos sofreram entre a data de construo das
avenidas e os dias de hoje, fazem com que hoje em dia existam contedos
diferentes dos que existiam data da construo. Aps um tempo de
investimento na circulao automvel em detrimento da circulao pedonal os
usos comerciais voltam a ganhar mais valor, e torna-se pertinente uma reduo
do trfego virio. O investimento em vias alternativas para o trfego em torno da
cidade levou ao aumento da capacidade da rede viria da cidade, e em muitos
casos, diminuio dos fluxos observados nos eixos secundrios do centro das
cidades, ou seja, observa-se actualmente um sobredimensionamento das vias
para os fluxos efectivos de trfego. Torna-se assim possvel uma reduo da
capacidade viria, recuperando o espao para o peo, a bicicleta e a vegetao10 .
As rondas, construdas ao abrigo do Programa 92, so exemplo de grandes
distribuidoras urbanas de trfego virio. No entanto, data do seu planeamento,
o seu desenho e a insero destas na cidade no foram descuidadas, gerando em
8 BUSQUETS, Joan, Barcelona, la construccion de una ciudad compacta, Barcelona: Ediciones del
Serbal, 2004. Pg. 417 9 Idem. Pg. 377 10 Idem. Pg. 417
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muitos pontos a oportunidade de criao novos espaos de grande utilidade para
a populao e novas actividades atravs de um desenho eficaz do espao.
Numa outra tentativa de diminuio dos fluxos virios no centro das cidades,
verifica-se o reforo e o investimento no espao do peo e no transporte pblico,
visando a diminuio do uso do transporte privado. A diminuio do trfego,
apoiada pelas duas solues anteriormente referidas tornam possvel a
requalificao do espao que havia sido projectado quase em exclusivo para a
circulao automvel, diminuindo o espao atribudo a este para o devolver ao
pedestre. Tal como Joan Busquets afirma, foram conseguidos bons resultados
ambientais nas ruas cuja seco se divide de forma equivalente para o peo e o
trfego rodado11.
O peo foi valorizado atravs da criao de condies necessrias e favorveis
sua circulao e permanncia no exterior, no s pela grande variedade de
espaos pblicos gerados, mas tambm pela ateno dada sua qualidade e aos
diferentes elementos que completam o espao este existe e chamativo para a
populao. A transformao incluiu todos os distritos de Barcelona e tornou-os
independentes, gerando, no entanto, uma imagem da cidade nica e
reconhecvel.
Os espaos pblicos dispersos pela cidade organizam, estruturam e articulam-na,
e os eixos urbanos, nas suas diferentes escalas permitem conectar a cidade, e as
suas diferentes funes, respondendo s necessidades de mobilidade e transporte
dos seus habitantes.
Barcelona conseguiu com a organizao dos Jogos Olmpicos, e todas as
transformaes que se lhe seguiram, projectar-se internacionalmente e
actualmente uma cidade europeia, aberta ao mar, com servios e infra-estruturas
adequadas ao seu uso.
11 BUSQUETS, Joan, Barcelona, la construccion de una ciudad compacta, Barcelona: Ediciones del
Serbal, 2004. Pg. 375
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16
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17
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18
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19
3. PROBLEMTICA A Tipologia de espao Avenida
3.1 O uso e funo do espao urbano e os seus utilizadores
Se at ao sculo XX todas as actividades e usos das cidades se desenvolviam em
espaos comuns multifuncionais, da em diante, a introduo do carro teve um
forte efeito na evoluo das metrpoles12. As actividades que sofreram alteraes
mais aparentes foram as relacionadas com o comrcio, uma vez que se este se
desenvolvia sobretudo no exterior, de forma quase livre, com o passar do tempo,
essas actividades passaram a recolher-se para as lojas, e para locais cada vez mais
longe dos centros das cidades, culminando nos actuais centros comerciais, onde
este tipo de actividade se concentra, geralmente em zonas perifricas, acessveis
quase exclusivamente de carro ou transporte pblico.
O aparecimento de eixos direccionados para uma circulao viria eficiente em
tiveram consequncias a nvel do uso social do espao urbano e, naturalmente,
tambm a nvel econmico, o que torna esta uma problemtica crescente. A
dependncia do automvel como meio de transporte entre os locais faz com que
se dispersem as pessoas, e consequentemente, as actividades.
Muito embora continuem a existir importantes locais de encontro e comrcio, o
papel de local de encontro que deve ser desempenhado pelo centro da cidade
comea a desvanecer com o aumento do uso de transporte prprio e o
desenvolvimento dos novos meios de comunicao.
Os espaos pblicos urbanos para alm da funo de organizadores do tecido
urbano e de garantia de condies para a circulao automvel e pedonal13,
12 GEHL, Jan; GEMZE, Larz, Nuevos espacios urbanos. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2002 13 GONALVES, Jorge; Os espaos pblicos na reconfigurao fsica e social da cidade; Lisboa:
Universidade Lusada Editora, 2006. Pg. 64
Figura 2. Avenida Fontes
Pereira de Melo
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20
representam a estrutura que permite o desenvolvimento das actividades sociais
colectivas necessrias comunidade urbana. Praas, ruas, largos e parques
convidam as pessoas a permanecer no espao, a observar e a participar nas
actividades que a se desenvolvem.
Como resposta a esta crescente preocupao com as necessidades de circulao
viria das cidades, na actualidade as atenes parecem voltar-se de novo para o
espao pblico urbano. O desenvolvimento destas estruturas em detrimento dos
espaos de estadia e circulao pedonal, e o abandono de outros da mesma
categoria levou decadncia dos espaos pblicos na cidade. Enquanto
determinados espaos se parecem actualizar por si s e se mantm activos,
outros, por vezes com localizaes centrais nas cidades, mostram sinais evidentes
de desumanizao. Torna-se necessrio um acompanhamento das mudanas de
contexto, comportamento, hbitos naturais do avanar do tempo.
Actualmente, comea a ser mais frequente a preocupao com a qualificao do
espao pblico, tendo em vista uma melhoria das vivncias por ele
proporcionadas, e a sua valorizao como elemento fulcral da cidade reala a
necessidade de um maior cuidado aquando do seu planeamento. Procuram-se
espaos que permitam ao utilizador estabelecer ligaes e identific-los como
lugares, e como lugares seus, sendo isto incentivo ao encontro, ao crescimento e
apropriao, permitindo ao utilizador construir a sua prpria identidade
enquanto ser urbano14.
possvel observar em alguns espaos pblicos mais recentes, um grande
cuidado com a vertente esttica e simblica do projecto, no obstante, e apesar
desde factor ser relevante, so outros que elevam a qualidade de um espao
pblico em vrios parmetros. Enquanto uma primeira empatia com o espao se
prende em grande parte com a sua imagem se , ou no, visualmente atractivo
so os outros elementos que mantm as pessoas no espao levando sua
permanncia. Um espao pode no ser obrigatoriamente bonito, mas oferecer
qualidades que incentivam determinadas actividades e usos15. O gosto por um
ambiente urbano implica mais do que ach-lo bonito, advm em grande parte da
sua funcionalidade em relao aos usos e actividades que acolhe, dos sentidos e
das experiencias vividas em determinadas situaes e aspectos da sua
conservao, durabilidade e da identificao que promove diversidade.
14 COELHO, Antnio Baptista; MANTEIGAS, Anabela; Humanizao e vitalizao do espao pblico, Lisboa; LNEC 2005. Pg. 174 15
GEHL, Jan. La Humanizacin Del Espacio Urbano: La Vida Social Entre Los Edificios. Barcelona: Revert, 2006
-
21
Pode-se dizer que, frequentemente, os espaos dos quais as pessoas mais gostam
so constitudos por elementos naturais, tendo estes predominncia sobre os
construdos, esto mantidos em boas condies, sendo possvel reconhecer a
existncia de manuteno e cuidado, e se caracterizam pela existncia de boas
vistas e eixos visuais agradveis16.
Jan Gehl17 defende que a configurao fsica dos espaos condiciona fortemente
as actividades que a se desenvolvem, e consequentemente a animao das ruas.
Um desenho urbano pensado deve influenciar quantas pessoas e acontecimentos
a se vo desenvolver, que duraes vo ter e que tipo de actividades sero.
Dividindo as actividades exteriores em trs categorias necessrias, opcionais e
sociais, Gehl18 defende que so as opcionais e as sociais que demonstram se um
espao realmente tem qualidade e se atrai utilizadores. Actividades opcionais so
aquelas em que o utilizador participa caso pretenda e se o ambiente o permite,
enquanto as sociais dependem da presena de outras pessoas. Partindo a escolha
de permanecer, de participar e passar tempo no local do utilizador, essa opo
revela o gosto pelo espao e a sensao de conforto que este transmite, ao
contrrio dos espaos que apenas recebem actividades obrigatrias, sendo elas as
que geralmente envolvem a aco de caminhar e que se realizam todo o ano,
independentemente do ambiente fsico do espao.
Os requisitos bsicos para que um espao pblico tenha qualidade passam pela
reunio das condies que permitam o desenvolvimento das actividades
necessrias, opcionais, recreativas e sociais, ou seja, torna-se possvel para o
utilizador circular pelo espao com confiana, ir e vir de outros locais, deambular
e participar nas actividades, ao mesmo tempo que a hiptese de a permanecer
ou encontrar-se com outras pessoas tambm vivel e atractiva. O desenho do
espao tem a capacidade de favorecer ou dificultar a interaco e o
relacionamento entre as pessoas.
Os elementos que atraem o pblico a um espao, no so no entanto apenas
fsicos. A presena de outras pessoas e actividades frequentes tm um efeito
atractivo para o espao. A permanncia num espao populado e movimentado
aumenta a probabilidade de se ter algo para fazer, de se descobrir algo novo ou
de conhecer algum, ao mesmo tempo que confere um maior sentido de
segurana. Exemplo disto so os conjuntos de pessoas que normalmente se
16 Cit. In. CARMONA, Matthew, Public places, urban spaces : the dimensions of urban design, Boston: Architectural Press, 2010 17
GEHL, Jan. La Humanizacin Del Espacio Urbano: La Vida Social Entre Los Edificios. Barcelona: Revert, 2006 18
Idem
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22
juntam em volta de grupos que desenvolvam actuaes ou qualquer tipo de
actividade no exterior, tais como uma grupo de msicos ou de jovens, acabando
esta actividade por atrair mais ateno do que as lojas e respectivas montras
presentes nesse espao. Estando j um grupo de pessoas paradas, em actividades
ou no, a tendncia de outros que passam tambm de parar, tentando perceber
o que se passa. Gera-se assim uma nova actividade que vem apoiar a primeira.
As actividades acabam por surgir, vo-se apoiando mutuamente, e acabam por
ter uma durao superior das actividades necessrias. natural ento, que com
o aumento das condies dos espaos exteriores se aumente a animao, e
consequentemente o tempo passado na rua. No entanto no se deve estimular
apenas as actividades mais animadas. Devem existir condies para desenvolver
actividades mais tranquilas, permitindo assim que ambas se complementem.
Zonas multifuncionais suportam mais facilmente diversos grupos de pessoas,
ocupaes, grupos sociais e diferentes faixas etrias.
Em espaos mais utilizados ao nvel do bairro, geralmente observa-se uma
relao mais prxima entre as pessoas que a permanecem. Isto sucede no s por
ser um ambiente de vizinhana mas tambm porque a existncia de interesses,
problemas em comum, e o sentido de pertena a um espao mais prximo um
incentivo comunicao entre as pessoas. Este tipo de ambiente tem tambm
como vantagem o sentido de responsabilidade colectiva pelo espao que as
pessoas sentem como seu, torna-se mais fcil resolver problemas, manter o
espao sob vigilncia, proteg-lo do vandalismo e organizar actividades
colectivas19.
O espao deve ser desenhado para as pessoas e de encontro s espectativas que
para a se tem. Kevin Lynch20 afirma que para que o espao seja bem-sucedido
deve ter vitalidade, suportando as funes, necessidades e capacidades humanas,
ser perceptivo, atravs de uma clareza que permita a sua fcil compreenso,
adequado, de forma e capacidade adequadas ao seu uso, acessvel, permitindo a
chegada de todas as pessoas, actividades, servios, informao, e controlado.
Uma vez que tudo o que compe o ambiente influencia as pessoas e tem a
capacidade de ser influenciado, deve ser dada a devida ateno a tudo o que
envolve os sentidos.
19
GEHL, Jan. La Humanizacin Del Espacio Urbano: La Vida Social Entre Los Edificios. Barcelona: Revert, 2006 20 LYNCH, Kevin; A imagem da cidade; Lisboa: Edies 70, 1960
-
23
3.2. O retorno via pedonal na conquista de novos utilizadores
Atravs de intervenes urbanas mais recentes foi possvel observar que se
verificam melhorias nas actividades quotidianas quando de alteram vias normais
para vias pedonais. Essa mudana por si s confere ao espao um aumento das
actividades a desenvolvidas e da sua durao. A atribuio da totalidade do
espao disponvel ao peo permite um maior vontade deste, o que,
consequentemente, leva a um aumento das actividades sociais. Pode-se concluir
ento que uma melhoria significativa no dependente de uma interveno
profunda. Existem outros tipos de alteraes mais simples que demonstram ser
bastante eficazes, tais como planos de reduo do trfego e implementao de
praas e parques21.
Nas cidades, em contraste com o que se observa nos bairros, normalmente
perifricos, de moradias, a busca, por um incentivo vida social urbana, e ao
usufruto dos diversos tipos de espaos exteriores que a cidade tem para oferecer.
Ultimamente, com o aumento da rea de bairros desse tipo, a tendncia que se
observa de fuga para os centros comerciais, uma vez que se facilitou o acesso a
estes, e que a se tem acesso a espaos de estadia e zonas de comrcio. Este
fenmeno mais perceptvel nas zonas perifricas - o desaparecimento da vida
social entre os edifcios22.
Essa mudana acentua-se pela presena de novos meios de comunicao e pela
vulgarizao do meio de transporte prprio. Os novos meios de comunicao
facilmente substituem uma deslocao ao centro da cidade para um encontro
entre as pessoas, e os passeios a p so cada vez menos frequente, sendo mais
fcil utilizar o veculo prprio para a deslocao at ao destino desejado.
Aps uma poca de investimento na circulao viria dentro das cidades, a
populao sente falta do espao pblico que possa realmente utilizar, e volta a
manifestar-se, exigindo melhorias dos espaos existentes ou a implantao de
novos. O resultado desta recente ateno a este componente da cidade resulta na
implantao de vias pedonais em cidades at ento dominadas pela circulao
viria. Esta mudana no tem efeitos apenas na vida social dos habitantes, mas
acaba por ser o estmulo suficiente para um impulso no comrcio e para o
aparecimento de novas funes nesses espaos, o que permite que se venham a
descobrir novas potencialidades em espaos que aparentavam no ter hiptese
de sucesso.
21 GEHL, Jan. La Humanizacin Del Espacio Urbano: La Vida Social Entre Los Edificios. Barcelona:
Revert, 2006
22 Idem
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24
Elementos tais como esplanadas, montras, expositores de lojas no exterior,
podem ser um o suficiente para convidar e incentivar as pessoas a irem rua, a
entrar nas lojas ou a ficar nas esplanadas, sendo o aparecimento dessas pequenas
actividades o suficiente para depois se dar origem a novas. (pessoas janela)
Gehl23 afirma que no entanto para dar vida ao espao no basta que este tenha as
condies necessrias para se desenvolverem as actividades bsicas. Torna-se
necessrio ter qualidades que faam com que as actividades tenham uma maior
durao. Poucas actividades duradouras produzem exactamente a mesma vida
entre os edifcios, e as mesmas oportunidades de encontro entre vizinhos, que
muitas actividades curtas24.
Reunindo todas as condies referidas anteriormente, uma cidade dever ter as
qualidades que fazem com que seja possvel no s viver e trabalhar, mas
tambm manter uma vida no exterior, garantindo uma melhor qualidade de vida
para os cidados, uma vez que esta se relaciona com a qualidade dos espaos
pblicos que estes habitam.
A qualidade do espao no depende no entanto, apenas do estado da rea que
este abrange, do pavimento, dos espaos verdes, dos elementos artsticos e do
mobilirio urbano, mas depende tambm das frentes edificadas que o delimitam.
Este elemento deve complementar o espao, que deve ser agradvel, acolhedor e
bonito.
A rua, como elemento conector de todos os espaos de encontro, ou no, da
cidade, deve manter continuidade com os restantes espaos que o rodeiam, e
constituir um espao de aprendizagem, tornando-se num museu vivo e palco
continuamente animado e diverso25.
A avenida como espao linear tem como funo ser suporte da deslocao
pedonal e viria, permitindo o acesso a outras reas e locais, no entanto as suas
funes no se encerram por a, sendo tambm necessrio garantir a resposta a
outras necessidades, tais como a paragem e permanncia de pessoas e o
estacionamento de veculos
Dentro da proposta do Ajuntament de Barcelona para a recuperao do espao
pblico como espao de relao e convivncia, abrangida na Agenda 21 de
Barcelona, inclui-se uma luta pela melhoria dos espaos pblicos permitindo
23 GEHL, Jan. La Humanizacin Del Espacio Urbano: La Vida Social Entre Los Edificios. Barcelona:
Revert, 2006 24 Idem Pg. 198 25 COELHO, Antnio Baptista; MANTEIGAS, Anabela; Humanizao e vitalizao do espao pblico,
Lisboa; LNEC 2005. Pg. 60
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25
uma potencializao da movimentao pedonal dos cidados26. Para esse fim foi
dado lugar a vrias intervenes, nas quais se deu destaque para a pacificao do
trnsito, implantao de zonas 30 e inverso da prioridade.
Os novos padres de mobilidade que surgiram com o aumento do uso do
transporte privado, gerou conflitos e obrigou a mudanas nos espaos urbanos. A
ocupao do espao urbano pelo automvel levou mudana e concentrao do
comrcio nas grandes superfcies, diminuindo o papel de zona comercial ao
espao pblico.
A distncia entre as periferias e os espaos pblicos urbanos acentua a escolha
pelos centros comerciais. Uma vez que frequentemente necessria a utilizao
de transporte privada para ter acesso ao comrcio, a escolha acaba por recair
sobre os centros comerciais que concentram essa funo numa rea mais
reduzida.
26 AA.VV.; Barcelona 30 Anys fent ciutat, Barcelona: Ajuntament de Barcelona, 2009. Pg 25
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26
3.3. As diferentes configuraes da avenida
Genericamente, uma avenida caracteriza-se pela sua largura, geralmente superior
aos outros tipos de espaos lineares e pela sua capacidade viria. Deve garantir a
circulao e acesso fcil e fluido, no entanto o peso que cada funo assume
numa avenida pode variar, resultando isto numa vasta diversidade de tipologias
de avenidas disponveis para estudo. Do leque de possibilidades, destacam-se
trs tipologias diferentes os mais frequentes nas cidades em estudo a avenida,
o boulevard e a rambla.
Este tipo de espao, descrito por Pedro Brando27 como espao traado de
encontro e circulao, geralmente um espao multifuncional, permitindo no s
a deslocao de veculos e pedestres, mas tambm o acesso a edifcios,
estacionamento de viaturas e espao prprio para diferentes actividades de
estadia e encontro. No entanto o aumento do espao da rua cedido s viaturas
teve o seu peso no espao de carcter pedonal.
A avenida torna-se um exemplo de como possvel um equilbrio entre a
circulao automvel e a vida social urbana num mesmo espao. Muito embora
seja frequentemente caracterizada pelo volume de trfego mais intenso, a sua
maior largura caracterstica desta tipologia de espao permite uma distribuio
dos espaos que no prejudica nem os pedestres nem a circulao viria. O
mobilirio urbano e a vegetao aplicada permitem uma diviso das zonas, de
modo a que no constituindo uma delimitao fsica dos espaos, seja possvel
uma mais fcil identificao das diferentes zonas.
3.3.1. Avenida
Tendo em comum a largura superior observada num tipo normal e rua, os trs
tipos de perfis diferem entre si. A avenida, no seu perfil genrico caracteriza-se
acima de tudo pelo nmero de vias para a circulao automvel. Geralmente
quando assume este tipo de perfil constitui um eixo de elevada importncia para
a chegada e sada do centro da cidade, representando um elemento fulcral na
distribuio dos acessos para as reas mais importantes da cidade.
27 BRANDO, Pedro, A identidade dos lugares e a sua representao colectiva: Bases de orientao para a concepo, qualificao e gesto do espao pblico, Lisboa: DGOTDU, 2008
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27
3.3.2. Boulevard
O boulevard difere geralmente da avenida regular pela sua largura inferior e
ambiente mais prximo e sossegado. Muito embora mantenha um papel de
elevada importncia como distribuidor de trfego, a sua capacidade
usualmente mais reduzida do que a de uma avenida. Verifica-se tambm
frequentemente um maior cuidado e investimento na vegetao e no espao de
circulao do peo.
3.3.3. Rambla
A rambla a tipologia que mais difere dos perfis anteriores. O seu passeio central
dedicado exclusivamente circulao pedonal, distingue a rambla da habitual
avenida e do boulevard, uma vez que neste perfil, mais do que em qualquer um
Figura 4. Boulevard des
filles du calvaire
Figura 3. Champs-Elyses
vista da Place de la
Concorde
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28
dos outros, o peo tem claramente mais importncia. Sem descartar os passeios
laterais, estes passam a ter uma largura mais reduzida do que a observada nos
outros perfis. No obstante, o espao cedido viatura tambm mais reduzido,
sendo as quatro vias, duas de cada lado do passeio central, o mais
frequentemente aplicado. Dessa forma torna-se possvel a ocupao do restante
espao central pelo passeio permitindo uma circulao confortvel do transeunte
e o desempenho de uma maior diversidade de actividades.
Figura 5. Rambla de
Canaletes
-
29
3.4. Actividades sociais nas avenidas e os espaos que requerem
Consideramos usos das avenidas, as funes para as quais um espao
efectivamente construdo. No caso das avenidas, os usos que lhes so atribudos
so a circulao automvel e pedonal. Este tipo de espao possibilita e apoia a
deslocao de pessoas e viaturas de um ponto para outro, entre diferentes zonas
da cidade, e para tal, necessitam de espaos diferenciados que permitam uma
diviso eficiente dos dois tipos de usos.
As actividades diferem dos usos por serem facultativas para o espao. Uma
avenida, para o ser, no tem obrigatoriamente de ter bancos ou zonas relvadas.
As actividades surgem no s pela presena de equipamentos, elementos de
composio ou caractersticas do espao que o permitem e incentivam, mas
tambm pelas qualidades, valor e significado de um espao, que levam as
pessoas a ter vontade de as realizarem.
Os usos e actividades da tipologia de espao pblico Avenida so muito
diversos, no entanto para um estudo comparativo entre vrios exemplos da
mesma tipologia, interessa uma melhor compreenso dos mais frequentes e
naturais para esse tipo de espao.
Como havia sido referido anteriormente, Gehl28, divide os tipos de actividades
exteriores em trs categorias as necessrias, que passam pelas actividades
obrigatrias, que se observam independentemente do ambiente fsico e da altura
do ano; as opcionais, nas quais s se participa caso se pretenda, se tenha tempo,
ou se o ambiente fsico o permite e o incentiva, e as sociais, que se desenvolvem
na mesma situao que as opcionais mas que dependem da presena de outras
pessoas.
3.4.1. Necessrias
Circular
Como actividade necessria, este tipo de aco a menos exigente em termos de
equipamento. Verifica-se em todos os espaos, uma vez que passa pelas
necessidades das pessoas ir trabalhar, ir s compras, ir ou vir de casa No
dependem da envolvente e desenvolvem-se ao longo de todo o ano,
independentemente do ambiente fsico.
28 GEHL, Jan. La Humanizacin Del Espacio Urbano: La Vida Social Entre Los Edificios. Barcelona:
Revert, 2006
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30
Podemos dividir a circulao em trs tipos diferentes: a circulao a p, a de
carro e a de bicicleta. Cada uma requer qualidades especficas e so separadas,
permitindo um melhor funcionamento de todas.
3.4.2. Opcionais
Estar de p
Permanecer de p constitui uma actividade bastante frequente no tipo de espao
pblico em estudo. Embora sejam na sua maioria de durao curta, acabam por
se tornar bastante frequentes. Verifica-se geralmente quando se espera por um
transporte pblico, num semforo ou passadeira, para falar com algum que se
encontrou pelo caminho ou para observar algo que despertou a ateno do
pedestre.
Observando os locais escolhidos mais frequentemente para parar, pode-se dizer
que a escolha geralmente recai, quando no se trata da espera numa paragem ou
num semforo, sobre locais mais abrigados e menos expostos. Ser mais prtico
para algum que espere outra pessoa, combinar o encontro junto de uma
referncia tal como um caf ou uma loja, escolhendo um local de certo modo
protegido e mais facilmente identificvel, do que no centro de uma praa,
exposto a tudo o que a se desenvolve.
Arcadas, varandas, toldos, entradas de edifcios, so elementos que conferem
uma maior sensao de segurana ao individuo. O mesmo se verifica com grupos
de pessoas: a paragem junto dos limites do espao permite uma maior sensao
de segurana e de vigia sobre o espao e tudo o que se passa em seu redor.
Outros elementos urbanos tais como mobilirio urbano ou rvores acabam por
ser os escolhidos para este tipo de actividade.
Sentar
Este tipo de actividade constitui uma das de maior importncia para a existncia
de vida social de longa durao num espao. Um espao ter mais hipteses de
ser mais habitado se tiver mais equipamento que permita a permanncia de
pessoas no espao durante um perodo de tempo mais longo do que o de
passagem. Um espao pode ter bastante potencial, uma boa localizao e fluxos
pedonais ao longo de todo o dia, mas se no estiver devidamente equipado no
chega a ser realmente vivido.
O sentar implica no s a actividade de estar sentando, mas tambm uma srie
de outras actividades que podem ser proporcionadas a partir dessa primeira.
Tendo disponvel equipamento favorvel, podem-se observar outras actividades
-
31
tais como comer, conversar, observar outras pessoas, jogar s cartas, ler, observar
o espao e estar em grupo com outras pessoas.
No entanto, esta actividade no depende apenas da presena de bancos no local.
Podemos observar em diversos casos por toda a cidade, como por exemplo em
frente ao museu MACBA em Barcelona, onde um muro junto de uma rampa
serve de banco aos utilizadores, colmatando a falta deste tipo de equipamento na
praa. Locais que por alguma razo atraem as pessoas mas que no estando
equipados com bancos tm outros elementos que acabam por servir essa funo,
tais como fontes ou escadarias.
No que toca localizao dos bancos, as preferncias tendem a cair, tal como os
locais para estar de p, sobre bancos que estejam mais prximos dos limites dos
espaos, com uma vista ampla sobre o local e com encosto, permitindo um maior
conforto durante a permanncia.
Jogar
Em locais onde existe permanncia de pessoas durante perodos mais longos de
tempo, a existncia de outro tipo de equipamentos que no bancos, fomentar
outro tipo de actividades e permitir um aumento do tempo de permanncia no
espao. Este tipo de actividade geralmente exige a presena de equipamento
especfico para o seu funcionamento. So equipamentos tais como parques
infantis ou reas de jogo, que tendo compatibilidade com os outros tipos de
actividades que se desenvolvem em simultneo, no s incentivam uma estadia
mais longa mas tambm atraem novos visitantes ao espao.
Mesmo sendo equipamentos para actividades que se desenvolvem em sintonia
com as actividades e usos necessrios para o espao, este tipo de espaos
encontram-se geralmente providos de proteces que impeam as crianas de
sair, no caso dos parques infantis, e de bancos prximos, ou mesmo dentro do
espao, que permitam aos adultos uma vigia mais fcil e confortvel das crianas.
As zonas de jogos encontram-se mais frequentemente em zonas habitacionais,
mais distantes dos centros das cidades.
Neste tipo de actividade no exclusiva a crianas, existindo equipamento
disponvel para outros tipos de jogos direccionados para adultos tais como jogar
s cartas, jogar malha ou petanca.
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4. CASOS DE ESTUDO
O presente estudo centrar-se- apenas num tipo de espao pblico - a avenida
no sendo esta tipologia a nica nem a mais importante, tem um peso e uma
representao bastante relevantes nos traados e na vida social urbana tanto de
Barcelona como de Lisboa.
A seleco dos casos de estudo permite uma exposio comparativa de dois tipos
de avenida, que acolhendo o mesmo tipo de circulao tm configuraes
assumidamente diferentes. Ambas localizadas em zonas centrais da cidade, onde
se desenvolve uma vida urbana activa, representam eixos virios muito
importantes para a circulao cidade, no deixando de acolher actividades sociais
necessrias, opcionais e sociais.
A categoria de rua, como Jorge Gonalves29 descreve, pode ser dividida em
cinco subcategorias: ruas pedonais, ruas predominantemente motorizadas, ruas
de trfego condicionado e ruas partilhadas. As avenidas, em estudo, podem
incluir-se na terceira subcategoria ruas predominantemente motorizadas, sendo
estas, vias que articulam partes principais da cidade, canalizando os seus
principais fluxos automveis. No deixam de ser, no entanto, vias que assumem
um papel de espao pblico de socializao, uma vez que acolhem infra-
estruturas para o desenvolvimento de actividades sociais colectivas.
Contemplam-se dois casos de estudo para a mesma tipologia, pertencendo estes
a Lisboa e a Barcelona. Os casos de estudo sero desenvolvidos em profundidade
com recurso consulta bibliogrfica e a observaes e estudo em campo, sero
eventualmente referidos outros exemplos secundrios que paream relevantes
para apoiar a anlise como pontos de apoio ou de referncia.
J em Lisboa, o crescimento urbano tem vindo ao longo do tempo a privilegiar na
cidade o desenvolvimento dos eixos de circulao virios. Este tipo de evoluo
privilegiou a circulao automvel em detrimento da circulao pedonal, e
consequentemente dos espaos pblicos. O decrscimo dos cuidados com o
espao pblico tem como um dos seus resultados a diminuio das condies
para a apropriao dos espaos e naturalmente para uma diminuio do interesse
pelo desenvolvimento de uma vida social colectiva no exterior. No entanto,
actualmente comea a ser notrio um novo interesse pelo espao pblico,
nomeadamente com o tema das alteraes na Avenida da Liberdade que haviam
sido esquecidas durante tantos anos.
29 GONALVES, Jorge ; Os espaos pblicos na reconfigurao fsica e social da cidade; Lisboa: Universidade Lusada Editora, 2006
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36
4.1. Avenida da Liberdade
4.1.1 Enquadramento histrico
Em poca de reedificao da baixa pombalina, entre 1764 e 1771, comeava a
sentir-se em Lisboa a necessidade da construo de um parque aberto ao pblico.
Este tipo de espao comeava nessa mesma era a ser cada vez mais integrado nas
malhas urbanas das cidades europeias influenciadas pelo iluminismo.
O espao arborizado deveria funcionar no s como ponto de encontro, passeio e
elemento embelezador da cidade mas tambm como eixo de importante valor
para o ordenamento da cidade e apoio ao seu saneamento.
Entre cinco alinhamentos de rvores nas laterais da avenida, de forma regular e
simtrica, desenvolvia-se o passeio no espao central, sendo cercado por muros e
portes que se fechavam durante a noite. Se at poca os jardins existentes no
pas eram privados e reservados apenas s classes mais altas, este permitia o
encontro de todas as classes incentivando a mtua aceitao.
Desenvolvendo-se entre muros, o Passeio via as suas entrada rematadas a sul
pelo porto principal e a norte por um pavilho e uma cascata cujo topo, em
terrao, era acessvel, possibilitando o usufruto de vistas privilegiadas sobre a
baixa e o Tejo.
Figura 6. e Figura 7.
Aproximao da vista area
da Avenida da Liberdade
Figura 8. Entrada principal
a sul
Figura 9. Entrada norte do
passeio pblico
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37
Em 1859, Jlio Pimentel, ento Presidente da Cmara, comea a demonstrar a
vontade de abrir uma avenida que desse seguimento do Rossio at ao Campo
Pequeno. Mais tarde viria a ser proposto pelo mesmo, o projecto de uma nova
avenida do arquitecto Domingos Parente. Esse plano viria a ser aprovado a 12 de
Outubro de 1877, tendo a construo do primeiro troo incio a 24 de Agosto de
1879, e concluso a 25 de Maio de 1886.
Os muros e portes do Passeio Pblico seriam destrudos em primeiro lugar, e
contra a vontade de muitos o jardim viria a ser destrudo com o avanar das
obras de construo da avenida.
Figura 10. Carta topogrfica
de Lisboa de 1856
Figura 11. Litografia do
incio do sculo XX
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O Eixo de conexo entre a Praa do Marqus de Pombal e a Praa dos
Restauradores seria construdo seguindo o perfil de boulevard, sendo necessrias
expropriaes para o aumento da sua largura para os actuais 90 metros. A
Avenida desenvolvia-se ao longo de 1270 metros.
No entanto a Avenida da Liberdade no surge isolada. A necessidade de
expanso que se observava devido densificao populacional que se verificava
no centro da cidade, incentivava a expanso para norte. Esse crescimento levava
necessidade de melhores conexes entre o centro e as novas reas urbanizadas.
As avenidas novas incluam dois eixos principais a Avenida da Liberdade, que
passa a fazer a conexo com o Campo grande aps a destruio do Passeio
Pblico, e a Avenida Almirante Reis, ento Avenida Rainha D. Amlia.
Traada por Frederico Ressano Garcia em 1888, o plano de expanso da cidade
seguia Praa do Marqus de Pombal at ao Campo Grande e projectava-se com
uma nova urbanizao de malha ortogonal, largas ruas e imagem uniforme.
As Avenidas Novas trazem consigo uma nova forma de pensar na cidade, tendo
em mente a sua modernizao. Em simultneo novo mobilirio urbano
Descentrava-se assim a cidade, e em simultneo estimulava-se uma valorizao
dos terrenos perifricos e a sua urbanizao.
Figura 12. Plano da avenida
aprovado em 1879
Figura 13. Planta de 1888
Figura 14. Levantamento de
1911
http://lh3.ggpht.com/_FkKgTDI7ngU/TBAHVcEpL-I/AAAAAAAADWY/tocbCrQvU4s/s1600-h/al52[6].jpghttp://lh4.ggpht.com/_FkKgTDI7ngU/TBAHcOsbxVI/AAAAAAAADYQ/pzgpgaAmacs/s1600-h/al803[3].jpg
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Tendo em vista uma interveno urbanstica,
arquitectnica e uma requalificao dos espaos
atravs da definio de novos percursos
pedonais e potencializao das zonas verdes, o
arquitecto Fernandes de S prope em 1991, um
novo plano para a avenida, plano este que viria a
ser aprovado a 1 de Maro de 2006. A
regulamentao do trnsito, o estacionamento
subterrneo e a localizao de novas actividades
e equipamentos so elementos que constam no
novo projecto. No entanto o projecto nunca
chegou a ser implementado.
Torna-se actualmente necessria, aps a
verificao de uma diminuio do nmero de
viaturas que passam diariamente na avenida e
de habitantes na avenida assim como o aumento
do nmero de edifcios devolutos, uma
reestruturao do eixo. Tendo-se verificado estas
mudanas, reaparecem os projectos para
alteraes no espao. Pretende-se agora uma
diminuio o nmero de faixas de rodagem
centrais para apenas quatro, duas em cada
sentido em oposio s actuais cinco, e uma
pedonalizao progressiva das vias laterais da
avenida, permitindo no entanto o acesso de
viaturas apenas para trnsito local e
estacionamento. As alteraes devero permitir
que a avenida volte a ser das pessoas e no dos
carros.
Figura 15. As avenidas
novas
http://lh6.ggpht.com/_FkKgTDI7ngU/TBAUo2KKbWI/AAAAAAAADfE/MFeo9zuda3I/s1600-h/AVENIDA11[12].jpghttp://lh6.ggpht.com/_FkKgTDI7ngU/TBAUo2KKbWI/AAAAAAAADfE/MFeo9zuda3I/s1600-h/AVENIDA11[12].jpghttp://lh6.ggpht.com/_FkKgTDI7ngU/TBAUo2KKbWI/AAAAAAAADfE/MFeo9zuda3I/s1600-h/AVENIDA11[12].jpg
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4.1.2. Configurao do espao fsico
Estabelecendo a ligao entre a Praa do Marqus de Pombal e a Praa dos
Restauradores, sendo ambas marcadas por elementos de destaque Monumento
ao Marqus de Pombal e o Monumento aos Restauradores, a avenida
desenvolve-se ao longo de cerca de 1330 metros, dispondo de dois largos
passeios centrais.
Vrias ruas acedem avenida, sendo a distncia entre estes cruzamentos
irregular. Estas interrupes influenciam o espaamento entre os passeios
centrais, e a organizao dos canteiros nesse mesmo espao.
Junto aos edifcios estende-se um passeio que permite o acesso ao comrcio e
habitao, sendo seguido de uma fila de estacionamentos e uma de circulao. De
seguida estendem-se os passeios mais largos que recebem as zonas verdes,
rvores, bancos, esplanadas, e quiosques, e de seguida cinco faixas de rodagem.
Os passeios centrais so os verdadeiros locais de vida da avenida. Enquanto as
actividades e funes de curta durao se desenvolvem na grande maioria nos
passeios mais prximos dos edifcios, as actividades mais longas e de
permanncia desenvolvem-se maioritariamente nos passeios mais largos.
Amplos canteiros so dispostos ao longo dos passeios centrais assim como quatro
alinhamentos de rvores em cada um. No entanto a disposio dos canteiros
relvados altera-se conforme o comprimento do passeio que ocupam.
Figura 16. Avenida da
Liberdade vista Marqus
de Pombal
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O seu perfil no sofre grandes variaes, ao longo da sua extenso,
concentrando-se a maior parte das diferenas na localizao pontual de esttuas,
fontes, ou escadas e acessos subterrneos. No entanto os edifcios que delimitam
o espao e as ruas que se cruzam com este variam bastante e so irregulares.
Os passeios laterais sofrem alteraes na sua largura ao longo de todo o
comprimento da avenida, dependendo do edifcio limite. Existem zonas onde o
passeio se torna mais reduzido, enquanto noutras ganha uma maior largura.
Possuem, no geral, uma largura abaixo dos 3,7 metros, espao suficiente para
uma circulao confortvel e acesso fcil aos edifcios laterais e ao comrcio
existente.
So as variaes nos edifcios limite da avenida e as novidades que se encontram
ao longo dos espaos ajardinados que conferem diversidade ao espao, e um
factor surpresa que permite que o percurso se torne interessante para o pedestre,
Zona de circulao Zona de circulao
Eixos virios Eixos virios
Figura 17. Perfil tipo e usos
da Avenida da Liberdade
Figura 18. Passeio da
Avenida da Liberdade
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convidando-o tambm a permanecer. No entanto
os atravessamentos das ruas perpendiculares
tornam-se uma grande quebra no percurso
pedonal pelos passeios laterais, j que no existem
passadeiras no seguimento dos mesmos. Torna-se
necessrio atravessar a rua pelos passeios junto
dos edifcios e voltar a atravessar para os passeios
centrais.
A avenida no , no entanto, um espao utilizado
apenas pelos habitantes e eventuais transeuntes.
Reunindo muitos dos melhores teatros, hotis,
restaurantes e lojas de luxo da cidade, e como
elemento marcante na estrutura e imagem de
Lisboa, torna-se local de visita e passagem de
pessoas vindas de outras zonas da cidade e de
turistas.
4.1.3. Utilizao do espao
Mantendo o perfil constante ao longo da avenida,
a maioria dos espaos para actividades
secundrias localizam-se nos passeios centrais.
No obstante, podem observar-se actividades que,
sendo temporrias, ocupam apenas troos dos
passeios centrais especficos, libertando outros.
I. Circulao viria
A circulao viria na Avenida da liberdade
divide-se de acordo com a velocidade necessria.
Nos eixos centrais realiza-se a circulao de
distribuio de trfego pela cidade, enquanto os
acessos a edifcios limite da avenida e
estacionamento se praticam nas faixas laterais
entre os passeios centrais e laterais. Torna-se
possvel desso modo uma reduo dos conflitos de
velocidade entre viaturas.
Figura 19. Planta geral da
Avenida da Liberdade
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II. Circulao de bicicletas
Na Avenida da Liberdade no existem condies especiais para a circulao de
bicicletas. Isto deve-se em grande parte s variaes de declives na cidade que
no facilitam a deslocao deste modo em Lisboa. A circulao de um
velocipedista poderia, no entanto, ser facilitada nas vias laterais da avenida.
III. Circulao pedonal
Verifica-se que a circulao pedonal na Avenida da Liberdade se divide
consoante a sua velocidade. Enquanto os pees que realizam percursos tendo
como objectivo a chegada a outro ponto com hora marcada tal como a ida para
o trabalho, realizam esse percurso pelos passeios laterais junto dos edifcios, as
pessoas que tm tempo para passar no local, podendo fazer o percurso com mais
calma acabam por optar pelos passeios centrais. nesse espao que no s o
percurso se torna mais interessante devido ao factor surpresa existente pela
variao de elementos nas zonas de vegetao, como tambm pela disposio de
mais espao livre para circular.
Figura 20. Trfego da Avenida
da Liberdade
Figura 21. Passeio lateral da
Avenida da Liberdade
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IV. Estar de p
Este tipo de actividade desenvolve-se em qualquer local da avenida. No
exigindo nenhum equipamento especfico, desenvolve-se onde h necessidade de
tal. Os locais onde esta actividade se observa mais frequentemente so junto dos
semforos enquanto se espera ou numa paragem de autocarro. Em casos
distintos, de espera por algo, ou simplesmente para apreciar o espao, pode-se
afirmar, de acordo com o que afirma Gehl30 que os espaos escolhidos so
geralmente os mais protegidos, junto aos edifcios, e com maior amplitude visual
sobre o espao.
As paragens de autocarro e junto dos semforos so os pontos onde este tipo de
actividade se observa mais vezes.
V. Sentar
Os espaos de estada acabam por ser os mais exigentes nos espaos pblicos. Os
equipamentos dedicados a esta actividade encontram-se dispostos ao longo da
avenida de duas formas distintas dois alinhamentos de bancos nos passeios
centrais, uns voltados para os edifcios, e outros para os eixos centrais da avenida
e em esplanada, junto dos quiosques presentes nos dois passeios centrais do
troo mais a sul da avenida.
30 GEHL, Jan. La Humanizacin Del Espacio Urbano: La Vida Social Entre Los Edificios. Barcelona: Revert, 2006
Figura 22. Paragem de
autocarro na Avenida da
Liberdade
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VI. Jogar
No existem ao longo da avenida espaos dedicados a este tipo de actividade.
Em Lisboa, equipamentos tais como parques infantis, localizam-se, em nmero
reduzido, junto de zonas onde a ocupao maioritariamente residencial. Uma
vez que na Avenida da Liberdade os edifcios so na sua maioria ocupados por
escritrios, poder-se-ia justificar a ausncia deste tipo de equipamentos. No
entanto, como espao marcante e simblico da cidade, a presena de um espao
desse tipo poderia ser fundamentado como mais um incentivo visita do local.
Figura 21. Bancos na
Avenida da Liberdade
Figura 24. Esplanada na
Avenida da Liberdade
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VII. Actividades efmeras
Os passeio centrais da Avenida da Liberdade recebem ao longo de todo o ano,
mas especialmente aos fins-de-semana diversas actividades efmeras. Depois de
29 anos a acomodar a feira do livro lisboeta entre 1960 e 1989, a avenida recebe
pequenas feiras de antiguidades e artesanato aos fins-de-semana. As feiras
organizam-se dispondo bancadas na lateral da zona relvada central de cada
passeio, estendendo-se geralmente entre a Rua Alexandre Herculano e a Rua das
Pretas.
Figura 25. Feira de
artesanato na Avenida da
Liberdade
Figura 26. Feira de
antiguidades na Avenida da
Liberdade
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4.2. Passeig de Sant Joan
4.2.1. Enquadramento histrico
O Passeig de Sant Juan constitui uma das principais avenidas de Barcelona. A sua
construo, ainda como Passeig Nou, remete a 1795, tendo esta sido finalizada
em 1802. Localizando-se numa das laterais da fortaleza da Ciutadela, viria a ser
expandida com a Exposio Universal de 1888. O plano Cerd visava a
transformao do eixo numa nova avenida, com perfil de 50 metros de largura,
sendo constitudo por largos passeios laterais, e vias especficas para carruagens
ou veculos a vapor no centro. Reunindo um importante valor arquitectnico
atravs da presena de obras modernistas dos princpios do sculo XIX, a
avenida faz desde ento, tambm parte do sistema de saneamento subterrneo
da cidade, sistema este que seria implementado por Cerd aps as epidemias
verificadas na cidade que haviam gerado uma elevada taxa de mortalidade.
A nova avenida divide-se ento em trs troos, cada um de seu perfil. Entre a
Travessera de Grcia e a Avinguda Diagonal, desenvolve-se segundo um perfil
tipo Rambla, de passeios laterais estreitos e um central mais largo, sendo este
ladeado por duas vias de trnsito e uma de estacionamento ou duas vias de
trnsito e uma exclusiva para transportes pblicos. O troo que se segue, entre a
Avinguda Diagonal e a de Tetuan dispe de passeios laterais mais largos, e seis
vias centrais, trs para cada sentido e uma ciclo-via no centro, dividindo os dois
sentidos. O ltimo troo, que designa o caso de estudo, faz a conexo entre a
Plaa de Tetuan e o Arc de Trionf, onde tem inicio o Passeig de Llus Companys.
Esta seco, recente objecto de interveno dispe actualmente de um perfil tipo
boulevard.
As opinies sobre a nova configurao do ltimo troo da avenida dividiam-se
entre o perfil tipo rambla e perfil tipo boulevard. Aps a deciso de avanar com
um projecto de boulevard foi incentivada a comunicao entre o Ajuntament e os
habitantes e comerciantes locais, o que permitiu traar objectivos comuns. No
Figura 27. e Figura 28.
Aproximao da vista area
do Passeig de Sant Joan
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entanto este processo s teve incio aps o primeiro projecto, o que levou a
algumas alteraes do projecto original. A seu tempo a opinio pblica foi tida
em conta atravs de dois tipos de abordagem: em primeiro lugar foi organizada
uma reunio com representantes das diferentes entidades locais, tais como
associaes de vizinhos, instituies e empresas vinculadas com os espaos em
questo. Aps essa primeira abordagem foram distribudos por todos os
habitantes e comerciante folhetos explicativos da proposta de projecto, que lhes
permitiam opinar sobre este.
Os objectivos do projecto passavam pela potenciao de espao de convivncia e
de prioridades para o pedestre, onde havero zonas de estada com bancos e
cadeiras, para alm de reas de jogos infantis e esplanadas, delimitadas por
arbustos e um sistema de pavimento drenado com nova iluminao, permitindo
assim dar predominncia ao espao pedonal, revalorizando tambm o comrcio.
Figura 29. Vista da recente
interveno no Passeig de
Sant Joan
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4.2.2. Configurao do espao fsico
Troo Travessera de Grcia Avinguda Diagonal
O primeiro troo da avenida desenvolve-se segundo um perfil tipo Rambla. De
estrutura regular, delimitada pelos quarteires quadrangulares chanfrados da
cidade, estendendo-se ao longo de seis quarteires, perfaz cerca de 800 metros.
Tem incio partindo da Travessera de Grcia e estabelece ligao com a Avinguda
Diagonal, sendo esse ponto marcado pelo monumento a Jacint Verdaguer.
atravessado pela Carrer de Sant Anton Maria Claret, Carrer de la Indstria,
Carrer de Corsega, Carrer del Rossell e Carrer de Provena. Apenas o
cruzamento com a Carrer de Corsega marcado por uma rotunda, enquanto os
restantes so marcados pela interrupo do passeio central.
A sua configurao distingue-se pelo passeio central nico, e pelo nmero
reduzido de faixas de rodagem apenas duas de cada lado do passeio e uma
extra, ocupada ora por estacionamento ora uso exclusivo de transportes pblico.
Figura 30. Vista no sentido
Travessera de Grcia
Avinguda Diagonal
Figura 31. Perfil tipo e usos
do troo Travessera de
Grcia Avinguda
Diagonal
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Os passeios laterais, de largura reduzida, cerca de
3,2 metros, permitem uma circulao pedonal
confortvel e o acesso ao comrcio e s habitaes.
J o passeio central, medindo cerca de 30 metros de
largura possui espao para a localizao de
equipamentos de usos colectivo. Ao longo de todo
o troo vo-se distribuindo bancos e cadeiras,
espaos relvados, fontes, caixas para jogar petanca,
parques infantis, quiosques de gelados e uma ciclo-
via. As zonas relvadas, de jogo e de parques
infantis desenvolvem-se do lado nordeste do
passeio e vo-se alternando no comprimento da
avenida.
Os elementos de vegetao concentram-se no
passeio central. Para alm da aplicao de arbustos
nos extremos laterais que permitem uma diviso
mais eficiente do passeio com as vias de circulao
viria, estemdem-se duas faixas de zonas relvadas
a todo o comprimento do passeio. A par com as
zonas de jogo e parques infantis vo se alternando
espaos relvados e pontuados com arvores.
Ao longo do passeio possivel encontrar um
elevado numero de bancos. Uma fila de bancos
dispostos ao comprido permite marcar a diviso
entre a zona de peoes e a ciclo-via, e outros grupos
quer de bancos compridos quer de bancos
individuais vo se localizando junto ao lado oposto
da ciclo-via, sendo complementados pela presena
de rvores, gerando zonas de estar com sombra
apropriadas para grupos.
Cada troo do passeio acolhe espaos diferentes,
mantendo uma configurao muito semelhante
entre todos. Do lado esquerdo encontra-se a ciclo-
via e uma fila de bancos, enquanto ma metade do
lado direito se vo alternando os restantes espaos
relvados, de estadia e de jogo, conferindo uma
quebra de monotonia e uma maior diversidade ao
espao.
Figura 32. Planta do troo
Travessera de Grcia
Avinguda Diagonal
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Embora o passeio seja interrompido pelas intersepes com as ruas que lhe so
perpendiculares, existem passadeiras alinhadas com o passeio que permitem que
no exista uma grande quebra no percurso.
Dos trs troos do Passeig de Sant Joan em anlise, este ser o que tem trafego
mais reduzido, e onde se observa uma vida exterior mais activa.
Figura 33. Vista do passeio
central
Figura 34. Vista do passeio
central
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Troo Avinguda Diagonal Plaa Tetuan
O segundo troo da avenida estende-se ao longo de cinco quarteires, cerca de
570 metros, assumindo um tipo de perfil mais comum em avenidas. Com largos
passeios junto aos edifcios, liberta-se o espao central livre para acolher seis vias
de rodagem.
Com incio na Avinguda Diagonal, estende-se at Plaa Tetuan, sendo
atravessada pela Carrer de Valncia, Carrer dArag, Carrer del Consell de Cent
e Carrer de la Diputaci.
Os passeios organizam-se nos primeiros 15 metros mais prximos dos edifcios,
seguindo-os uma faixa que acolhe estacionamento, caixotes do lixo, ou que se
deixa livre para permitir a aproximao dos autocarros s paragens. Com trs
faixas de rodagem em cada sentido.
Figura 36. Perfil tipo e usos
do troo Aving