a arqueologia da região de rio claro

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do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 11: 125-140, 2001. ARQUEOLOGIA DA REGIÃO DE RIO CLARO: UMA SÍNTESE ARAUJO. A.G.M. Arqueologia da região de Rio Claro: uma síntese. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 11: 125-140, 2001. Astolfo Gomes de Mello Araujo* mais tempo pesquisando a região, entre 1964 e 1973, e em menor escala nas pesquisas realiza- das por Maria C. Beltrão (Becker 1966, Beltrão 2000), Femando Altenfelder Silva (1967, 1968), Caio R. Garcia e Dorath P. Uchôa (Uchôa 1988) e Luciana Pallestrini e José Luiz de Morais (Morais 1982, 1983). 125 Localização geográfica e aspectos ambientais A região em pauta situa-se em sua maior parte dentro da Depressão Periférica, uma Província Geomorfológica existente entre dois planaltos (planalto Atlântico e Planalto Ociden- tal), caracterizada por um compartimento topo- gráfico rebaixado, apresentando um relevo de colinas suaves, formando um corredor de aproximadamente 80 a 100 km de largura (lPT 1981). A área situa-se, grosso modo, entre 22°15' e 23°45' Se 47°00' e 47"45' W, e é recoberta por UNITERMOS: Arqueologia - Rio Claro - Estado de São Paulo - Paleoam- biente - Paleoíndio. RESUMO: A área arqueológica de Rio Claro, uma região compreendendo vários municípios localizados na porção central do Estado de São Paulo, pode ser considerada como uma das mais importantes em termos de arqueologia brasileira, tanto por sua importância dentro do debate sobre o povoamento das Américas como pela riqueza de seu registro arqueológico. Apresentamos aqui um breve histórico da pesquisa arqueológica na área, uma visão geral das características de seu registro arqueológico e os principais resultados obtidos pelos diferentes grupos de pesquisa. (*) Museu de Arqueologia e EtnologialUSP - DHP - Prefeitura Municipal de São Paulo. A porção centro-leste do Estado de São Paulo, cujo epicentro em termos de estudos arqueológicos pode ser considerado o Municí- pio de Rio Claro, é a região onde supostamen- te se localizam os sítios arqueológicos mais antigos do Estado. A importância da região e a grande quanti- dade de informações sobre ela referentes justificam uma síntese, ainda que modesta, das informações arqueológicas coligidas por diferentes pesquisadores oriundos de institui- ções diversas. Como seria de se esperar, as abordagens utilizadas foram um tanto distintas, bem como os objetivos de cada pesquisa. Este lrabalho irá tratar principalmente dos estudos realizados por Tom O. Miller Jr, que despendeu

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Page 1: A Arqueologia da Região de Rio Claro

do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 11: 125-140, 2001.

ARQUEOLOGIA DA REGIÃO DE RIO CLARO: UMA SÍNTESE

ARAUJO. A.G.M. Arqueologia da região de Rio Claro: uma síntese. Rev. do Museu deArqueologia e Etnologia, São Paulo, 11: 125-140, 2001.

Astolfo Gomes de Mello Araujo*

mais tempo pesquisando a região, entre 1964 e1973, e em menor escala nas pesquisas realiza­das por Maria C. Beltrão (Becker 1966, Beltrão2000), Femando Altenfelder Silva (1967, 1968),Caio R. Garcia e Dorath P. Uchôa (Uchôa 1988) eLuciana Pallestrini e José Luiz de Morais(Morais 1982, 1983).

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Localização geográfica easpectos ambientais

A região em pauta situa-se em sua maiorparte dentro da Depressão Periférica, umaProvíncia Geomorfológica existente entre doisplanaltos (planalto Atlântico e Planalto Ociden­tal), caracterizada por um compartimento topo­gráfico rebaixado, apresentando um relevo decolinas suaves, formando um corredor deaproximadamente 80 a 100 km de largura (lPT1981). A área situa-se, grosso modo, entre 22°15'e 23°45' Se 47°00' e 47"45' W, e é recoberta por

UNITERMOS: Arqueologia - Rio Claro - Estado de São Paulo - Paleoam­biente - Paleoíndio.

RESUMO: A área arqueológica de Rio Claro, uma região compreendendovários municípios localizados na porção central do Estado de São Paulo, podeser considerada como uma das mais importantes em termos de arqueologiabrasileira, tanto por sua importância dentro do debate sobre o povoamentodas Américas como pela riqueza de seu registro arqueológico. Apresentamosaqui um breve histórico da pesquisa arqueológica na área, uma visão geral dascaracterísticas de seu registro arqueológico e os principais resultados obtidospelos diferentes grupos de pesquisa.

(*) Museu de Arqueologia e EtnologialUSP - DHP ­Prefeitura Municipal de São Paulo.

A porção centro-leste do Estado de SãoPaulo, cujo epicentro em termos de estudosarqueológicos pode ser considerado o Municí­pio de Rio Claro, é a região onde supostamen­te se localizam os sítios arqueológicos maisantigos do Estado.

A importância da região e a grande quanti­dade de informações sobre ela referentesjustificam uma síntese, ainda que modesta, dasinformações arqueológicas coligidas pordiferentes pesquisadores oriundos de institui­ções diversas. Como seria de se esperar, asabordagens utilizadas foram um tanto distintas,bem como os objetivos de cada pesquisa. Estelrabalho irá tratar principalmente dos estudosrealizados por Tom O. Miller Jr, que despendeu

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ARAUJO. A.G.M. Arqueologia da região de Rio Claro: uma síntese. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia.SãoPaulo. 11: 125-140. 2001.

uma densa rede de drenagem. tendo como riosprincipais o Corumbataí e o Piracicaba, afluentesdo Tietê pela margem direita. (Mapa) .

O clima atual na região poderia ser classifi­cado como Cwa (Kõppen). ou subtropical comtemperaturas médias anuais entre 20 e 21°C eacentuada amplitude térmica anual devido àcirculação atmosférica. No entanto. a incidên­cia de massas de ar promove um regime dechuvas cujo máximo da precipitação coincidecom os meses de verão. e o mínimo com osmeses de invemo, o que coloca a região nascaracterísticas de clima tropical. (Feltran Filho1981, Scheel et ai. 1995).

A vegetação original, atualmente quasecompletamente destruída, seria caracterizadapor uma área de fronteira ecológica entre ocerrado/cerradão (savana) e mata (florestaestacional semidecidual). Segundo o ProjetoRadambrasil (1983), a Região da Savana(cerrado) na área apresenta-se como umadisjunção da ocorrência principal no PlanaltoCentral. Dentre as formações remanescentesda savana, a Arbórea Densa (cerradão)apresenta características xeroinorfas, com doisestratos bem definidos. A formação ArbóreaAberta (campo-cerrado) apresenta composiçãoflorística semelhante à anterior, mas suaestrutura é mais simples. A Região da FlorestaEstaCional Semidecidual ocorre em regiões comdupla estacionalidade climática, com mais de60 dias secos, ou com seca fisiológica provo­cada pelo frio. Na área em questão, ocorrem asformações Submontana e Montana, definidasde acordo com a altitude e a latitude (mGE,1992).

Dados paleoambientaisrecentes para a região

Desde meados da década de 70, qumdoos últimos estudos de Arqueologia comcaráter regional foram realizados na área, atéos dias de hoje, não se pode dizer que osconhecimentos a respeito dos paleoambientesda região de Rio Claro tenham sofrido umavanço muito significativo. Algumas dataçõesde C 14. feitas a partir de fragmentos de carvãoencontrados imersos em solos coluviais,começaram a ser realizadas a partir da décadade 80. Tais datações estão sendo encaradas

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como representativas de possíveis episódiosde queimada natural. Deste modo, os autorescorrelacionam o carvão encontrado nos solos

às fases climáticas mais secas. Isto pode ser.verdadeiro, salvo os casos onde a existênciade carvões seja relacionada à ocupaçãohumana. Um maior intercâmbio entre arqueólo- ..gos e quatemaristas seria bastante proveitoso·para ambas as áreas de conhecimento.

De qualquer modo, os resultados obtidospor Meio (1995) para datações de fragmentosde carvão em solos coluviais da região de RioClaro são bastante interessantes. Segundo oautor, "( ...) nota-se que as idades aparente­mente distribuem-se aleatoriamente com

relação à profundidade da coleta, às coordena­das geográficas e níveis planálticos, masparece haver tendência de concentração deidades compreendidas no intervalo entre 6.500e 8.500 anos AP." (MeIo 1995:76). Correlacio­nando esta possível idade para um clima maisseco com datações realizadas em outraslocalidades do país, o autor sugere que asmesmas estejam indicando uma variaçãopaleoclimática significativa.

Outro dado de possível correlação paleo­climática para a região foi obtido por Scheel et .ai. (1995), que dataram carvões do solo noMunicípio de São Pedro (SP), não muitodistante de Rio Claro, e obtiveram datas de2.250±40 AP e 5.540 ±40 AP. Estas duas

datações foram provenientes de fragmentoscarvão soltos. Uma terceira datação, de 1.220±40 AP, foi realizada em uma estrutura decombustão que os autores consideraram deprovável origem antrópica. Apesar de umapossível correlação entre a idade dos carvõese episódios de clima mais seco, somente ummaior número de datações, preferencialmenterealizadas fora de sítios arqueológicos,lançar mais luz sobre esta questão.

Os levantamentos arqueológicos naregião de Rio Claro

Segundo Altenfelder Silva (1967, 1968). áregião que compreende Rio Claro ehá muito interessou pesquisadores enadores devido à abundância de materialarqueológico, princ.ipalmente material lítico

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lascado. Peças provenientes da região engros­saram coleções de particulares e atraíramarqueólogos amadores, sendo, inclusive, afalsificação de peças urna "atividade lateralcompensatória". A prospecção mais sistemáti­ca teria sido iniciada por Altenfelder em 1959,pela Cadeira de Antropologia, Etnologia eArqueologia da Faculdade de Filosofia,Ciências e Letras de Rio Claro. Em 1965, MariaC. Beltrão iniciou um projeto de levantamentoarqueológico paralelo na região. No ano de1966, Altenfelder Silva insere-se formalmentedentro do Programa Nacional de PesquisasArqueológicas (PRONAPA), sob a coordena­ção dos arqueólogos norte-americanos BettyMeggers e Clifford Evans. Posterioffilente, O

projeto de levantamento desvinculou-se doPRONAPA. O responsável pelos trabalhosseria Tom O. Miller Jr., então professor assis­tente da Faculdade de Filosofia, Ciências eLetras de Rio Claro. As etapas de prospecçãorealizadas por Miller Jr. entre os anos de 1965 e1967 abrangeram os municípios de Rio Claro.Ipeúna, Charqueada, ltirapina, Cordeirópolis ePiracicaba, resultando na detecção de 97 sítiosarqueológicos.

Seguindo uma linha de pesquisa que podeser considerada bastante atual, e que infeliz­mente não foi muito aplicada na Arqueologiabrasileira de um modo geral, Altenfelderjustifica a inexistência de escavações sistemá­ticas por parte da equipe da FFCL de Rio Claropelo fato de ser necessário primeiramente oentendimento do panorama arqueológico daregião, o que só seria feito por meio de umamplo trabalho de prospecção, uma vez que o"( ...) trabalho de escavação implica nadestruição (...) e somente deve ser realizado(...) para salvá-lo [o sítio] de uma destruiçãojá iniciada 011 inevitável. ou para responderum problema específico que não poderá serresolvido de outra forma." (Altenfelder Silva1968: 158).

O panorama arqueológico inicial

Os primeiros trabalhos de síntese e detentativa de correlação foram publicados porAltenfelder (1967, 1968), que entendia a regiãocomo área de passagem e confluência decaminhos naturais. Com efeito, o relevo da

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região, inserido dentro da Depressão Periféri­ca, apresenta colinas suaves com desníveisque não ultrapassam 40 a 60 m, formando umverdadeiro corredor no sentido N-S. Nosentido E-W, o "caminho natural" seria o eixofluvial representado pela bacia do Rio Tietê,localmente reforçado pela presença do RioPiracicaba.

O panorama inicial traçado por Altenfelderdá conta de basicamente duas classes de

vestígios arqueológicos na região: sítioslíticos, caracteIizados por serem amplos enumerosos, e sítios cerâmicos, em número maisreduzido. Dada a maior facilidade com quegeralmente são identificados sítios cerâmicas,é de se supor que a estimativa do autor sejaválida no que conceme ao tipo e à intensidadeda ocupação pré-colonial na área.

Apesar do reconhecimento da existênciade sítios líricos bastante amplos, Altenfeldersugere que os mesmos seriam representativosde ocupações rápidas, "( ...) sugerindo emalguns casos tratar-se mais de campo dePOI/SOpara sortidas de caça que habitaçõespermanentes." (Altenfelder Silva 1968:160).Um dos fatores que levou o autor a estaconclusão foi a pequena espessura dascamadas arqueológicas, que não ultrapassari­am trinta centímetros. Trabalhos subseqüentesrealizados por Miller Jr, publicados Oliginal­mente na Tese de Doutoramento do autor

(Miller Jr. 1967) e posteriormente em outraspublicações (Miller Jr. 1969a, 1969b, 1969c,1972), não favorecem a hipótese de os sítioslíticos da região de Rio Claro representaremocupações tão rápidas, ou que fossem produtode populações que estavam "de passagem":

"O 11Iímerode sítios nos horizontes

líticos não tem que significar migrações;pode, antes, significar ocupação intensiva daregião por U111povo, durante 111uitOtempo."(Miller Jr. 1968:40).

Alguns sítios apresentaram materiaislíticos em abundância; além disso, sabe-sehoje que a espessura de uma camada arqueoló­gica é mais relacionada a processos de forma­ção de sítio do que à duração da ocupaçãopropIiamente dita (não tomando exemplosextremos como Tróia ou Jericó, bem entendi­do). Pode-se aventar, quando muito, a hipóte-

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se de que a região de Rio Claro e adjacênciastenha sido uma área de confluência de popula­ções pré~cerâmicas oriundas de outras regiões.

No que se refere aos sítios cerâmicos, estespoderiam ser atribuídos a dois grupos distintos:um grupo de sítios apresentando cerâmicaespessa com decoração plástica e pintada,atribuível à Tradição Tupiguarani (AltenfelderSilva 1967:81) e outros sítios, em menor quanti­dade, apresentando cerâmica pouco espessa eescura, provavelmente relacionados à Tradiçãoltararé (Miller Jr. 1972).

Altenfelder coloca tentativamente uma

cronologia baseada nos dados disponíveis àépoca: um nível pré-cerâmico antigo, que seriadatado entre 5.000 e 3.000 anos AP, contendo

apenas materiallítico; um nível pré-cerâmicomais recente, entre 3.000 e 1.000 anos AP,apresentando artefatos polidos; finalmente, onível cerâmico, entre 1.000 AP e a época dacolonização européia. Esta cronologia basea­va-se no conhecimentos existente na época; osítio arqueológico com datação mais recuadado Brasil era José Vieira, com 6.683 anos APpara o nível lítico mais profundo (Andreatta1968, apudMiller Jr. 1968).

Relações espaciais e temporais

A ocupação do espaço pelas populaçõesindígenas da região de Rio Claro parece terobedecido a uma padronização distinta,dependendo da faixa cronológica. Altenfelder(1968:160) nota que há uma dicotomia comrelação à localização dos sítios líticos ecerâmicos. Os primeiros encontrar-se-iam nasproximidades dos cursos d'água, quer seja emterraços fluviais ou em elevações próximas.Os últimos, em sua maioria, estariam a cerca

de um quilometro dos cursos d'água e empontos elevados, onde a visibilidade dosterrenos adjacentes seria favorecida. Alémdisso, o autor sugere uma maior coincidênciaentre as ocupações ceramistas e as ocupa­ções atuais:

"Os sítios do horizonte cerâmico acham-se

localizados quase sempre em áreas maispr6ximas dos atuais centros de população,vilas ou cidades, coincidindo mesmo com elas,em alguns casos." (Altenfelder Silva 1967:82).

Dado o extenso trabalho de prospecçãorealizado na região, supomos que estasobservações sejam confiáveis, e não fruto deviés amostra!, comum em prospecções realiza­das estritamente ao longo de drenagens.

No tocante à cronologia, apesar de ter sidoaventado "um marcado hiato temporal" entreas ocupações pré-ceramistas e as ceramistas(Altenfelder Silva 1967:82, 1968:163), a ausên­cia de datações absolutas e a existência desítios líticos superficiais podem não corroboraresta hipótese. Na verdade, toda a cronologiada região foi realizada com base em métodosde datação relativa, quer seja pelo posicio­namento estratigráfico dos níveis arqueológi­cos (no caso dos sítios líticos), quer seja porseriação de atributos estilísticos e tecnoló­gicos. Somente após a elaboração de uma

-cronologia relativa é que foram datados algunsestratos, conforme será visto adiante.

Estudo e interpretação doshorizontes líticos segundo Tom O. Mil/er Jr.

Antes de proceder ao apanhado geral dasinterpretações realizadas por Miller Jr., seriainteressante colocar em contexto o autor e sua

linha de pesquisa.Os trabalhos de Miller Jr. podem ser

considerados pioneiros e mesmo exemplares,principalmente se levarmos em conta o entãoestágio da Arqueologia em termos epistemo­lógicos, e o nível do conhecimento em termosde Arqueologia brasileira. A ênfase na tecno­logia lítica (e não simplesmente nos aspectosfonnais das peças), a preocupação com ainteração homem-ambiente, o raciocínio

interdisciplinar e a fundamentação teórico­metodológica explícita colocam os trabalhosdeste autor em pé de igualdade com osrealizados pelos colegas de países mais ricos,apesar do atraso que seria esperado nadivulgação e acesso à bibliografia. Assim,antecipando oS colegas brasileiros em pelomenos duas décadas, Miller Jr. já citavacorrentemente Butzer e Binford. O primeirocapítulo de sua Tese de Doutoramento apre­senta o posicionamento teórico que justificariaas tomadas de decisão efetuadas ao longo dotrabalho, incluindo discussões a respeito do

tipo de analogia que seria usada nas interpre-

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tações (analogia comparativa geral) e qual oconceito de cultura que mais seria adequado, aseu ver, para o alcance dos objetivos propos­tos. I Apesar de seus trabalhos apresentaremuma ênfase em determinantes ecológicos queatualmente poderia ser considerada um tantoexcessiva, o mérito de explicitar teoricamente .suas posições coloca o autor em uma categoriaà parte da de seus colegas.

Saindo do domínio estrito da Arqueologia,pode ser percebido nos textos de MiIler Jr. umdiálogo bastante profícuo com profissionaisdas Ciências da Terra. Este diálogo, umintercâmbio de informações na verdadeiraacepção da palavra, resultou não só emaplicações da Geomorfologia à Arqueologia,como é comum acontecer atualmente, mas emcontribuições da Arqueologia à Geomor­fologia, o que é muito mais raro, para não dizerquase inexistente; a contraparte pode serexemplificada no artigo de M.M. P~nteado, arespeito das linhas de seixos ("stone lines") daregião de Rio Claro:

"Contudo, consideramos esta observaçãoe as conclusões a que chegamos válidas porestarem corroboradas por conclusões e dadosda pré-história." (Penteado 1969:20).

Para entender a potencialidade e aslimitações das correlações efetuadas por MillerJr., teríamos que nos aprofundar em uma sériede definições geomorfológicas que talvez nãocaibam neste artigo. Outrossim, deve ficarclaro que a cronologia e as reconstruçõesambientais tentadas pelo autor estavambalizadas, em termos de conhecimentospaleoambientais e de processos morfoge­néticos, no "estado da arte" da época. Basica­mente, o autor iniciou uma datação relativalevando em conta a posição estratigráfica dossítios arqueológicos e de seus "componentes"na paisagem.

O reconhecimento da gênese dos estratosonde o material arqueológico estava inseridojustificava em muitos casos uma abordagem

1) No caso, o conceito de cultura como um meioextra-somático de adaptação, preconizado por LeslieWhite e utilizado por Lewis Binford como uma dasbases da "New Archaeology".

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"vertical", com execução de poços-teste ecoletas .em barrancos em detrimento de

escavações mais amplas, uma vez que seriainútil tentar observar padrões espaciais emmaterial arqueológico retrabalhado .. Tal visãopode ter, inclusive; chocado alguns colegasarqueólogos menos versados em processosgeológicos e geomorfológicos. O autor estavaconsciente de que somente os sítios arqueoló­gicos situados acima da linha de seixos superior(mais recente) poderiam ser considerados"depósitos primários" (Miller Jr. 1972:22).

Definição das tradiçõeslíticas arqueológicas

Com o aprofundamento das pesquisasrelacionadas aos horizontes líticos, Miller Jr.(1968) definiu duas tradições pré~cerâmicaspara a região; a Tradição Rio Claro e a Tradi­ção IpeÚDa. A diferença básica entre as duastradições estaria no tipo de tecnologia empre­gada na manufatura de artefatos líticos; naTradição' Rio Claro haveria uma ênfase nolascamento e espatifamento, ou· seja, namodificação da massa primordial de matéria­prima. A Tradição lpeúna, por sua vez, seriacalcada no aproveitamento de material comformas preexistentes, como seixos, chapas,

. cristais a fragmentos naturais. Não serão aquidiscutidas as defmiçães de termos como"tradição", "sub-tradição", "fase" etc., quecarregam consigo uma série de problemasconceituais, mas será apresentada simplesmen-"te uma síntese dos conhecimentos adquiridossobre a região.

A Tradição Rio Claro foi subdividida emquatro fases arqueológicas: a mais antiga seriaa Fase Serra D'Água, caracterizada por umaindústria com forte predominância de espatifa­mento e lascamento bipolar (Millet Ir. 1972:72),onde técnicas como a percussão direta estariampraticamente ausentes. O tamanho dos imple­mentos <:eriade médio a grande. Dentre os tiposde artefatos descritos estão incluídos plainas,facas, raspadores, chopping tools e botas, alémdebifaces foliáceas.2 Não foram observadas

.2) A tipologia definida pelo autor está em Miller Ir,1972:41-44.

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pontas de projétil. Posterionnente, o autoradmitiu que existem problemas de interpretaçãono tocante à chamada téCIÚcabipolar; as "lascascôncavas" e os respectivos "núcleos globu­lares" ou "bolás" resultantes poderiam não serprodutos de lascamento bipolar, e sim dealteração térmica. Outrossim, experiências delascamento com o núcleo parcialmente enterradono solo e aplicação tangencial do golpe depercussão podem resultar em lascas côncavassemelhantes às encontradas na região (Miller Jr.,comunicação verbal).3

A fase arqueológica seguinte, denominadaFase Santo Antônio, seria tecnologicamenteembasada no espatifamento, mas apresentariaênfase considerável na percussão direta compercutor duro. Implementos de tamanho médioa grande, com grande freqüência de facas eraspadores, apresentando também choppingtools, plainas etc .. Pontas de projétil possivel­mente fariam parte desta fase, embora nãotivessem sido encontradas in situo

Postcrionnente, teríamos a Fase Marchiori,

caracterizada por predominância da percussãodireta com percutor duro, com baixa freqüênciade espatifamento. Presença de pontas deprojétil e machados de pedra polida.4 Maiorfreqüência de facas do que a fase anterior, emenor freqüência de raspadores.

Finalmente, a última fase da TradiçãO RioClaro seria a Fase Pitanga, apresentandovariedade de técnicas de lascamento, compredomínio de percussão direta com percutorduro e macio, incluindo percussão indireta. Osartefatos desta fase apresentariam característi­cas mais fonnais, com retoques ao longo dosbordos, peças trabalhadas bifacialmente,incluindo formas foliáceas, ovóides e pontasde projétil, estas últimas em freqüência superi­or à fase anterior. Continua a presença deartefatos de pedra polida.

Para a Tradição lpeúna, foi definida peloautor apenas uma fase, denominada Fase

3) Porém, as "lascas côncavas" mostradas na figo 24de Miller Ir. (1972:94) são provavelmente lascastérmicas.4) O que corrobora observações posteriores de queartefatos de pedra polida não são indicadores diretosda existência de agricultura. e nem necessariamentecontemporâneos à cerâmica.

Monjolo Velho (Miller Jr. 1972:73), caracteriza­da pela predominância quase exclusiva de umatecnologia de aproveitamento de seixos,plaquetas e cristais em estado natUral, fendi­dos ou com retoques marginais. Espatifamentoe lascamento seriam raros. Os artefatos

apresentariam tamanhos reduzidos.Um outro grupo de sítios apresentaria uma

indústria ainda menos elaborada, com a utiliza­ção de seixos, plaquetas e blocos naturais devários tamanhos, com um inventário tecno­lógico ainda mais restrito do que o da FaseMcinjolo Velho.

O autor realizou também vistorias em sítios

arqueológicos nos muniCípios de Conchas,Anhembi e Laranjal Paulista, encontrandomaterial lítico que "mostra essencialmente amesma situação que observamos liO norte doRio Tietê" (Miller Jr. 1972:60), o que represen­taria uma extensão de pelo menos 100 quilôme­tros, na direção sul, das tradições e fasesreconhecidas para a região de Rio Claro.j

Posterionnente, segundo Prous (1992), achamada Tradição Rio Claro foi englobada noque se define atualmente como "TradiçãoUmbu",6 sendo mantidos, porém, os nomesdas fases. Já a Tradição lpeúna foi incluída nadenominação genérica das "indústrias delascas sem pontas de projétil", sendo mantidaa Fase Monjolo Velho.

Cronologia

Confonne dito anterionnente, a cronologiadas ocupações pré-coloIÚais para a região deRio Claro foi feita principalmente levando emconta o posicionamento estratigráfico dosníveis arqueológicos. Esta abordagem foipossível devido ao avançado estágio dosestudos de geologia e geomorfologia da regiãoe, sobretudo ao caráter de multidisciplinari­dade adolado pelos pesquisadores envolvi­dos, que transparece nos artigos escritos naépoca.

5) Especificamente a Fase Santo Antonio da TradiçãoRio Claro.

6) Atribuição um tanto controversa, uma vez quenem todas as fases da Tradição Rio Claro apresentampontas bifaciais e, portanto, não poderiam serenglobadas na Tradição Umbu.

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A correlação entre níveis arqueológicosou "componentes" e formações geológicasnão é isenta de problemas. Se em alguns casospode-se ter um controle razoável sobre o querepresenta a existência de artefatos em umaformação geológica, este nem sempre é o caso.Um depósito natural pode conter artefatosmuito mais antigos do que a idade de suaformação (como é o caso de uma cascalheirade rio, por exemplo, que pode ter em seuinterior artefatos erodidos de níveis mais

antigos). O contrário também pode ocorrer;artefatos mais recentes podem se introduzir emdepósitos subjacentes mais antigos, por meiode movimentação vertical. A primeira hipótesefoi amplamente reconhecida pelos pesquisado~res envolvidos (Miller Jr. 1972:25, Penteado1969:25-28). Já no caso contrário, a inserção depeças mais recentes em níveis mais antigos éassunto pouco desenvolvido e pouco reco­nhecido de um modo geral, quer seja entrearqueólogos ou entre profissionais dasCiências da Terra (Araujo 1995). Este últimofator pode, inclusive, invalidar algumasinterpretações relativas à existência de peçasa~queológicas em extratos geológicos conside­rados muito antigos. De qualquer modo, existeuma superposiçãq de níveis arqueológicos naregião de 1?0 Claro que sugere um períodolongo de ocupação pré-colonial. Um exemplode "sítio-tipo" que representaria esta sucessãoe a cronologia relativa envolvida serilj. o SítioTira Chapéu (SP.IN.8), que apresentou trêsníveis arqueológicos distintos, ao longo de 4metros de profundidade. Deve ficar claro que,no caso de Tira Chapéu, estamos lidando comum depósito sedimentar, um depósito de baixavertente em processo de erosão. Segundo oautor e também Penteado (1969), os artefatosteriam sido acumulados por processos morfo­genéticos, depositados juntamente commaterial rochoso não trabalhado, durante umperíodo mais seco. Assim, o valor informativode Tira Chapéu está, sobretudo, no que serefere à ordenação diacrônica das indústriaslíticas, não podendo ser encarado como umlocal onde atividades humanas tivessem sidodesenvolvidas.

Os artefatos dos níveis (componentes) I, ne m encontravam-se invariavelmente imersos

em formações naturais. O nível I, mais antigo,

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apresentou peças pouco trabalhadas (possi­velmente Tradição Ipeúna) misturadas a umnível de cascalheira depositado imediatamenteacima de uma formação geológica bem maisantiga (siltitos do Grupo Passa Dois, doPermiano Superior). Acima deste nível, interca­~ado por pouco mais de um metro de solocoluvial, estaria o nível n (Tradição Ipeúna,Fase Monjolo Velho) coincidindo com uma"stone tine", ou linha de seixos, que nainterpretação de geomorfólogos seriamfragmentos de rocha transportados, remanes­centes de um período semi-árido. Após novaintercalação de solo, com espessura de 1,20 a1,40 m, haveria a deposição de mais um nívelde linha de seixos com artefatos arqueológicosmisturados, que representariam o nível m(Tradição Rio Claro, Fase Serra D'Água).

A partir da posição estratigráfica dasindústrias líticas, o autor utilizou-se da seria­ção de atributos tecnológiços e formais paraentender quais atributos variavam com otempo. Assim, observou~se que, por exemplo,lascamento direto, tamanho da plataforma(talão), gumes de 15° a 35° e "canivetes" tinhamsua porcentagem aumentando com o tempo, aopasso que raspadores laterais, gumes de 80° a100° etc. diminuíam com o tempo. Calculando asporcentagens dos atributos sensíveis à passa­gem do tempo e utilizando alguns cálculosbastante simples, o autor construiu a chamada"linha de regressão", onde cada "componente"ou nível arqueológico é plotado em um planocartesiano, formando uma reta que representaum modelo de tempo (ver Miller Jr. 1972:68-71 efig.58).

Interpretações

A conjugação do posicionamento dosníveis arqueológicos em estratigrafia e aanálise do material inserido em cada nível

levaram Miller Jr. a concluir que "( ...) ao menosna Tradição Rio Claro, houve uma evoluçãocontínua da tecnologia lítica; a começar coma simples utilização de formas naturais compouca ou nenhuma modificação ( ...) seguidopelo espatifamento de blocos e seixos de sl1expara produzir margens cortantes (...); final­mente observamos uma tradição de (...)percussão direta, que empregou, primeiro.

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AAAU10. A.G.M. Arqueologia da região de Rio Claro: uma síntese. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, SãoPaulo, ll: 125-140, 2001. -

percutores duros (pedra), e, posteriormente,percutores moles (...)." (Miller Jr. 1972:75).

No caso da Tradição lpeúna, o cOIitextoseria menos claro, dada a própria característicapouco sofisticada dos artefatos. Em verdade,foi observada uma certa interrupção naevolução proposta para a indústria lítica. A­Fase Santa Rosa, anterior a Monjolo Velho,apresentaria grande semelhança à Fase SantoAntonio, posterior a esta última, colocada emoutro nível estratigráfico. Ao quadro deevolução técnica, o autor acrescentou umquadro paleoarnbiental e propôs um modelohipotético para ser testado e orientar ostrabalhos de campo. Assim teríamos, resumida­mente, a seguinte seqüência de eventos(Miller Jr.,1969b):

1) Ambiente de estepe ou savana, tempera­tura alta, favorável à caça. Tradição "ecologica­mente livre" (segundo Haury 1956, apud Millerlr. 1969b), representáda no nível (componente)Santa Rosa I.

2) Mudança climática, aumento daumidade, expansão da floresta, diminuição dabiomassa, especialmente caça de grande porte.Tradição de caçadores torna-se incompatívelcom as condições ambientais, torna-se "ecolo­gicamente presa", resultando em uma adaptaçãoà vida florestal e empobrecimento do inventá-

_rio .lítico, resultando em uma "tradição emredução" (Haury op. cit.), representada pelaTradição Ipeúna. Parte da população teria saídoda região.

3) Volta às condições climáticas mais secas,condições' de erosão formadoras da linha deseixos inferior, onde foram depositados osartefatos da Tradição Ipeúna (Fase MonjoloVelho). Nestas condições, Monjolo Velho seriauma tradição "ecologicamente presa", queencontrou situação ambiental incompatível edesapareceu da região. Descendentes da popula­ção que abandonou a área no estágio anterior,representada em Santa Rosa I, voltam à regiãoformando a Tradição Rio Claro.

4) Continuidade da Tradição Rio Claro,passando por mudanças representadas pelas fasesdescritas anteriormente, até aproximadameitte2.500 anos AP, qu;mdo o clima volta a se tornarúmido, resultando na redução da tradição. Depoisdisso, os agricultores teriam adentrado a região,portando uma tecnologia mais compatível comos recursos disponíveis.

A validade do esquema cronológico eevolutivo proposto pelo autor poderia sertestada por meio de datações absolutas (C-14,tennoluminescência) e continuidade das pesqui-

sas, o que não foi inteiramente possível. Porém,ainda a tempo de serem publicadas no últimoartigo-síntese (Miller Jr. 1972), o autor apresen­tou algumas dataçôes de C-14 feitas para ocomponente Santa Rosa m (portanto, TradiçãoRio Claro, Fase Santo Antomo). Das datasobtidas, apenas a mais antiga foi aceita peloautor, que considerou as outras inconsistentes eprovavelmente sujeitas a contanünação. Esteargumento foi baseado em uma correlação que,se com os conhecimentos da época poderia serviável, hoje parece um tanto frágil: o componenteSanta Rosa m estaria dentro da Fase Santo

.Antomo, que, por sua vez, seria correlacionávelao paleopavimento (linha de seixos) superior,que, por sua vez, teria a mesma faixa de idade doterraço de várzea ..Dado o fato de que um terraçode várzea teria sido datado no Paraná em 2.500

a.C., a úmca data plausível para Santa Rosa mseria a data mais antiga, de 4.53~290 AP (3.330/3140 a.C.).7 Na verdade, as datações para SantaRosa m parecem coerentes, uma vez que asidades radiocarbônicas vão aumentando com a

profundidade (vide Tabela). Outro fator a serlevado em consideração é que não existe Umacorrespondência direta entre as linhas de seixos("paleopavimentos") e fases climáticas maissecas. Sabe-se hoje que processos distintospodem levar à formação de tais linhas.

No tocante à organização da tecnologia,

hoje sabem?s que é muito problemático dividirsítios arqueológicos em classes cronológicascom base em atributos tecnológicos, como otipo de lascamento (se por percussão direta,por espatifamento etc.), ângulos de gume outamanhos de artefatos. Sítios de atividades

específicas podem apresentar um inventáriobastante distinto de sítios habitação, mesmo emse tratando de uma mesma população. Outros­sim, pode ser que em longo prazo tais tendênci­as de variação na freqüência de atributos sejamrealmente significativas. Independente de tudo,O mérito de Miller Jr. residiu em organizar,publicar e justificar suas observações, além demontar bancos de dados com vista a uma

posterior informatiiação, novamente demons-

7) Todas as datas calibradas dadas em parênteses(a.C.) foram calculadas segundo Stuiver & Reimer1993.

133

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ARAUJO. A.G.M. Arqueologia da região de Rio Claro: uma síntese. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia,SaoPaulo, 11: 125-140, 2001.

.TABELADatas obtidas para sítieis da região de Rio Claro

Sítio IdadeData calibrada*Referência

2.490 ± 325 AP(30 cm prof.)

760 a 550 a.C.Muler Jr. 1972

2.840 ± 210 AP(33 cm prof.)

990 a.C.Miller Jr. 1972Santa Rosa 3.080 :1:455AP(50 cm prof.)(componente_ Ill)

1.380 a 1.320 a.C.MilIer Ir. 1972

3.600 ±480 AP(56 cm prof.)

1.940 a.C.MiJIer Ir. 1972

4.530 ±290 AP(55 cm prof.)

3.330 a 3.140 a.C.Miller Ir. 1972

Faz. Tanquinho

2.510 ±9O AP760 a 600 a.C.Uchôa 1975

FaZ. Água Ronca

6.160 ±180 AP5.070 a.C.Uchôa 1975

Faz. Pau D' Alho

4.140 ±345 AP2.860 a 2.630 a.C.Uchôa 1988

5.505 ±105 AP

4.350 a.C.-Caiuby

5.350±120 AP4.230 a 4.180 a.C.Morais 1982

Alice Boer

2.190 ± 185 AP (TL)~Beltrão et ai. 1983

10.970 ± I.020AP (TL)

-14.200 ± 1.150 AP

14.583 a.C.

Paulista, .o autor percebeu a "presença fre­qüente de alguns recipientes pequenos erasos, muitos deles no estilo policromo, (...) aolado de vasos redondos de 20 a 25 cm de

altura, com superfície lisa, corrugada, engobobranco ou banho vennelbo, e ainda vasos de

tamanho maior, provavelmente umas, com 0,80a 1 m de altura, lisos, corrugados ou policro­mos." (Altenfelder Silva 1967:83).

Com base em seriação, o autor comparouas freqüências de alguns atributos decorativose tecnológicos dos sítios de Rio Claro com ascoleções de São Carlos, Piracicaba, Guaíra eEstirão Comprido (este último localizado noParaná), obtendo uma cronologia relativa.Deste modo, como "hipótese provisória detrabalho" o autor sugeriu uma maior antigüida­de para os sítios localizados mais a sul, acerâmica de Piracicaba· sendo mais antiga doque a d~ Rio Claro e São Carlos. Os sítios de­Piracicaba apresentariam ainda uma maiorvariedade e riqueza de fonnas, "( ...) sugerindoque se busque ali o centro de difusão da área."(Altenfelder Silva, 1968:165). A região de RioClaro apresentaria uma cerâmica mais tardia,constituindo uma área periférica em tennos de .ocupação Tupiguarani.

(*) Conforme Stuiver & Reimer, 1993.

Os principais trabalhos versando sobre osgrupos ceramistas da região de Rio Claro sãode Altenfelder Silva (1967, 1968). O autor dáconta de sítios cerâmicos em Rio Claro,

Piracicaba, ltirapina e São Carlos, todospertencentes à Tradição T:Jpiguarani, apresen­tando urnas funerárias no estilo corrugadO epolicromo. Os fragmentos de cerâmica recupe­rados sugeriram ao autor uma grande varieda­de de fonnas. Especificamente no Sítio Vila

Os sítios cerâmicos

trando um pioneirismo bastante louvável. Aabordagem dos ângulos e fonnas de gumesrealizada pelo autor, em detrimento da tipologiamorfológica realizada amiúde até hoje, é extre­mamente pertinente e necessária para seentender a organização de uma tecnologia lítica"não fonnal" ou expediente.8

134

8) Ou "expedient" em inglês, segundo a definição deBinford (1919), ou seja. uma tecnologia empregadapara um fim específico. Não confundir com o termo"expedito". cujo sentido se restringe a um caráter derapidez.

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A.G.M. Arqueologia da região de Rio Claro: uma síntese. Rev. de Museu de Arqueologia e Etnología, São11: 125-140, 2001.

Com relação à presença de sítios daItararé na região de Rio Claro, Miller

54) dá indicação de dois sítiose Camaquã), o primeiro apresentando"semelhante ao IacrÍ cinzento polido"

pelo autor na região de Tupã, e ocom cerâmica "idêntica ao Icatu

encontrado em Braúna. Estes sítios

entre os mais setentrionais já encon-no Estado de São Paulo, sugerindo uma

espacial entre os sítios tradicio­conhecidos no sul do Brasil e a

central do país (vide Araujo 2001 paradiscussão sobre a possível dispersão

da Tradição Itararé).

pesquisas realizadas na região

Além dos trabalhos desenvolvidos porJr., cabe citar as pesquisas efetuadas

Beltrão (1974, 2000), Uchôa e Garcia (1976)(1982, 1983).

Os trabalhos de Beltrão foram iniciados em

com a detecção de três sítios arqueológi­um deles sendo o Sítio Alice Boêr.

em um terraço fluvial e com umaestratigJrafi:ade 4 m de profundidade, este sítio

datado por termoluminescência e C14,datas entre 2.190 :I: 185 AP e

:I: 1.000 AP (por TL) e 14.200:1: 1.150 APC14; vide Beltrão et aI. 1983). Tais datas

a comunidade arqueológica nacional.não aceitaram tal· antigüidade para ona América do Sul, levando em conta

idades dos sítios arqueológicos maisdescobertos no hemisfério norte. As

de Alice Boer colocariam o sítio comoa Clovis, nos EUA, com uma

lítica nada similar. A data mais antiga,por radiocarbono, pode ser colocada

suspeita devido à relação indireta entre.e material arqueológico, e pela abundân­

de evidências de bioturbação na estratigrafiasítio (vide o perfil estratigráfico apresentadoMeis & Beltrão 1982, Perez 1991:246). As

obtidas por TL, porém, são bastanteconfiáveis por se relacionarem às próprias peçaslíticas com alteração térmica, não dependendode argumentos de ligação e tomando, portanto,irrelevantes as questões de perturbação

estratigráfica. Dado o estado de conhecimentosatuais com relação às idades de alguns sítiospleistocênicos no Brasil, pode-se aceitar semproblemas que Alice Boêr é um sítio cujaprimeira ocupação de deu em tomo de 11.000anos AP, o que o mantém como o mais antigodo Estado de São Paulo.

A indústria lítica de Alice Boêr apresentariatrês componentes tecnológicos que se sucede­riam em ordem cronológica: inicialmente umaindústria com ênfase no lascamento de seixos,sotoposta a uma indústria com lascamentounifacial, por sua vez substituída por umaindústria com lascamento bifacial (Beltrão,2000:45). Estas observações se coadunam comas "Tradições" propostas por Miller (1972) eapresentadas acima; a Tradição Ipeúna poderiarepresentar a indústria sobre seixos, e a Tradi­ção Rio Claro englobaria as indústrias maiselaboradas, com lascamento unifacial e bifacial.

Em 1973, Dorath Uchôa e Caio Garcia, doInstituto de Pré-História da USP, executaramalgumas vistorias e prospecções na região deRio Claro, dentro de um projeto que seriaconveniado entre a FFCL de Rio Claro e o IPHI

USP. A continuidade do projeto foi comprome­tida, mas ainda assim os pesquisadoresrealizaram algumas vistorias e prospecções· emquinze sítios, tendo havido coleta de superfí­cie em onze deles, e escavação sistemática emum, denominado Sítio Pau D' Alho. O sítiositua-se em uma encosta suave, próximo aofundo do vale, e a escavação foi realizada emuma área de 24 mZ• Carvão associado ao

materiallítico (em sua maioria silexito, perfa­zendo 98,97% do inventário) foi datado em4.140:1: 345 AP (2.860 a 2.630 a.C.- Laboratóriode Geocronologia da USP) e 5.505 :1:105AP(4.350 a.C. - Laboratório Isotopes, França). Omaterial lítico encontrava-se sempre próximoou· diretamente sobre o contato entre o

embasamento (arenitos do Grupo Tubarão) e osolo coluvial, o que sugere uma possívelredeposição ou movimentação vertical. Se foreste o caso, a relação entre o carvão datado eo material cultural pode ser um tanto dúbia.Como não houve publicação de perfis estra­tigráficos, a questão permanece em aberto.

Entre 1979 e 1980, a equipe de arqueólogosdo Museu Paulista da USP, chefiada porLucianaPallestrini, realizou três etapas de

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ARAUJO. A.G.M. Arqueologia da região de Rio Claro: uma sÚltese. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, SãoPaulo, 11: 125-140, 2001.

Fig. 1- Abrigo do Alvo - Analândia, SP. Croqui de gravuraIUpestre. Medida aprox. 1,00 x 1,3Om. Modif. de Col/et 1981.

(O

~

I, I(/

da periférica rendeu 36 peças líticas, encontra­das nos primeiros 15 em de profundidade, eoutras seis peças foram eoletadas em superfície.O material lítico, a supor pelas observaçõesrealizadas e pelos desenhos de algumas peças,parece ser pouco trabalhado, composto princi­palmente de lascas com retoque marginal, amaioria em arenito silicificado, Além do material

lítico, o abrigo apresenta gravuras em uma árearestrita, de 3 m2, e sulcos de polimento.

No Município de Analândia, o mesmo grupode espeleólogos localizou o chamado "Abrigodo Alvo", que também apresenta gravurasrupestres (Figs. 1,2, 3 e 4). O autor realizoualgumas experiências de estabilização· da rocha,

(9) Ou "curated", senSll Binford (1979).

136

Cabe aqui tratar também dasprospecções realizadas pelogrupo de espeleólogos lideradopor Guy C. CoIlet, que encontrouuma série de abrigos rochososcom gravuras e pinturas rupestresnos municípios de Analândia,Ipeúna e Corumbataí. Em umdestes abrigos, denominado"Abrigo da Glória" (Collet 1980),o grupo de espeleólogos chegoua realizar uma sondagem. OAbrigo da Glória é uma cavidadearenítica localizada no Municípiode Ipeúna, e suas coordenadasaproximadas são 22° 26'08"S e 47°47' 40"W. De grandes dimensões,o abrigo apresenta 55 m decomprimento total, e altura médiade 6 a 8 m, com abertura voltadapara o norte. A sondagemrealizada em uma área considera-

informações adicionais ­abrigos rochosos e arte rupestre

prospecções no Sítio Caiuby, no Município deSanta Bárbara D'Oeste. O Sítio Caiuby, localiza­do na margem esquerda do Médio Piracicaba,apresentou exclusivamente material liticolascado, e o achado de uma estrutura decom!>ustão com material arqueológico associa­do permitiu sua datação: 5.350± 120 AP (4.230 a4.170 a.c.). As prospecções resultaram nacoleta de 405 peças que foram analisadas porMorais (1982, 1983). O inventário litico mostrou­se bastante requintado, apresentando umatecnologia de redução fonnal ou "curada",9apesar de se tratar de local próximo à área fonte

.de matéria-prima; 26,35% das peças encontra­das eram retocadas. Encontrou-se alta freqüên­cia de raspadores de diversostipos, totalizando 11,6% das

..peças. Além disso, foram encon­tradas pontas projéteis finamentetrabalhadas, bifaces, percutores,peças com reentrâncias etc ..

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A.G.M. Arqueologia da região de Rio Claro: uma síntese. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia. São11: 125-140. 2001. .

•,.­-

.. Figs. 2 e 3 - Abrigo do Alvo - Analândia, SP. Croquis de gravuras rupestres, sem escalaexata. Medida aprOJ.imada 1,00 x 1,30 m. Modificado de ColIet 1981.

se encontrava extremamente friável, com um (Collet 1986), obtendo resultados apa,rentementequímico à base de acetato de vinila satisfatórios, mesmo após um período de doze

137

Page 14: A Arqueologia da Região de Rio Claro

•o

profundidade temporal da ocupaçãoregião parece ser considerável. Sftioscos apresentando pontas de projétil foramdatados na faixa de 4.200 a 5.000 anos aC.,antigüidade maior pode ser pleiteada paranfveis arqueológicos estratigraficamenteantigos. Ocorre, porém, que apesar de umpromissor e metodologicamente bema arqueologia da região passou por umde total abandono desde meados da

70, culminando com a dispersão daarqueológica sob guarda da antigaFilosofia, Ciências e Letras de Rio aaro.saída de Miller Jr. dos quadros da FFCL, omaterial arqueológico, segundo testemunhosmais de um informante, foi acondicionado demaneira insatisfatória, em caixas de papelãosobre o chão, e "pilhado" por alunos deção. Pontas de flecha e machados de pedrateriam servido como elementos decorativos

repúblicas estudantis. A preocupação deJr. com a documentação de suas pesquisas éque nos dá alguma esperança de resgatearqueologia da região. Um dossiêautor (Miller Jr. 1969c), por exemplo, lista

••• •••

"•.•....•..•e

Fig. 4 - Abrigo do Alvo - Analândia, SP. Croqui de gravura rupestre, sem escala exata.Medida aproximada 1,00 x 1,30 m. Modificado de Collet 1981.

ARAUJO. A.G.M. Arqueologia da região de Rio Claro: uma síntese. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, SãoPaulo. 11: 125-140, 2001.

Considerações finais

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A região centro-leste do Estado de SãoPaulo, e principalmente a área que compreende oMunicfpio de Rio aaro e adjacências, apresentaum panorama bastante instigante no contexto daArqueologia brasileira. A área foi objeto deestudos arqueológicos já há bastante tempo, e adespeito da polêmica suscitada por algumasdatações bastante recuadas, é fato que a

anos. Segundo o autor, o abrigo está localizadono sopé de um morro arenítico, voltado paraleste, nas coordenadas geográficas 22° 07'03"Se 4r 39'OS"W. As gravuras recobririam umaárea de 12 metros quadrados, com motivosgeométricos, linhas e pontos.

Além das ocorrências mencionadas acima,há ainda referências a outros quatro abrigos commaterial arqueológico e/ou arte rupestre (CoIlet1981 e 1982): Abrigo Roncador, Abrigo da Santa,Abrigo Bocaina (todos locali7..adosem Ana­1ândia, os dois últimos bastante próximos um aooutro) e Abrigo Santo Urbano (Corumbataf).

Page 15: A Arqueologia da Região de Rio Claro

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Este (des)caso poderia servir como ponto departida para uma reflexão a respeito da efeme­ridade do que julgamos eterno (as coleçõesarqueológicas, os artefatos' inter-relacionadoscompondo um conjunto), da 'necessidade de sepublicar algo além de notas prévias e descriçõessucintas, e de nossa própria impennanênciacomo guardiões de um patrimônio que, se nãofor inculcado no imaginário popular como algoimportante, dificilmente escapará incólume àignorância de administradores despreparados.

139

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tJNITERMS: Archaeology - Rio Claro - São Paulo State - Paleoen­vironment - Paleoindian.

A.G.M. Arqueologia da região de Rio Claro: uma síntese. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, SãoII: 125-140, 2001.

-.:86sÍlÍos encontrados até então, com as"rc~ectivas descrições e croquis de localização.Silasoutras publicações apresentam tabelas de':lassificação do material lítico, indo além datrndIcional listagem de tipos e freqüências. É

. pôs~ível que esta documentação cuidadosa

',~~asido tudo o que restou do patrimônioámheológico recuperado ao longo de quase uma

, ..~à de trabalhos na região de Rio Claro, uma_:;'ezque não se sabe quantos dos sítios identifi­.!~g~spodem ainda existir.

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