7 - capitulo 5 · 2011. 10. 4. · no andar, falar e ler, por exemplo, sejam frequentemente...
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Introdução
Considerando o desenvolvimento humano um processo
essencialmente interno, e socialmente mediado, assistido e guiado, tal
como, por exemplo, Bruner (1988) ou Vygotsky (1978) o entendem, a
intervenção educativa é um factor determinante do que vai ser o
percurso evolutivo.
A Educação para a 1ª Infância é reconhecida como de grande
influência, na medida em que abrange uma das etapas do
desenvolvimento mais significativa e determinante na formação do ser
humano, em que as estruturas biofisiológicas e psicológicas estão em
pleno processo de formação e maturação. Os múltiplos resultados
científicos já referidos nos capítulos anteriores alertam-nos para a
necessidade de promover/estimular o desenvolvimento desde as etapas
iniciais da vida, quando estas estruturas ainda apresentam grande
plasticidade. A estimulação revela-se, assim, um determinante
particularmente significativo do desenvolvimento.
Trabalhar com a Educação da 1ª Infância implica não esquecer a
estimulação, facilitando o estabelecimento de relações, a conquista e a
auto-construção de competências mediante a própria actividade, e não
pensar na criança como um agente relativamente passivo e
incompetente, receptor de informação. Assim, falar de Educação de
Infância implica falar em dar oportunidades à criança para desenvolver,
usar e manifestar, globalmente, todas as suas potencialidades físicas e
motoras, cognitivas e sensoriais, inter-relacionais, emocionais,
sociomorais e estéticas. Falamos, assim, de um processo
multidimensional, que se deseja harmónico e contextualizado.
O nosso principal desafio no presente trabalho é abordar a
questão da influência da estimulação sensorial múltipla no
desenvolvimento das crianças estudadas, respeitando as suas
diferenças, e considerando os seus ritmos e características. Um dos
aspectos a serem investigados, por trabalhar especificamente com a
faixa etária em que sinais de precocidade podem ser observados, seria
verificar o grau de diferenciação captada no desenvolvimento geral das
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crianças que apresentam comportamentos mais rápidos ou, ao
contrário, lentos em função dos efeitos de uma proposta de estimulação
sensorial múltipla, dentro de uma faixa etária comparável.
Tal como vimos, várias investigações apresentam algumas
determinantes para qualidade do contexto educativo da creche,
nomeadamente: i) a qualidade estrutural ressaltando a importância da
qualidade dos espaços, equipamentos e materiais; ii) a qualidade das
relações entre adultos e crianças e; iii) as experiências de aprendizagem
das crianças, salientando-se a necessidade da estimulação sensorial
para que a criança faça, veja, ouça, saboreie, cheire, toque e sinta
(Portugal, 1998). Todo este processo será profundamente influenciado
pela presença de um adulto-educador pois, para além de organizar o
ambiente estrutural, pode potencializar oportunidades para a criança
experimentar, observar, explorar, tocar, sentir, comparar, classificar,
conhecer e reconhecer através de fontes de estímulos materiais,
objectos, sons, gostos e cheiros diferentes.
Propusemo-nos, então, elaborar uma experiência educacional
que atenda à promoção da utilização dos cinco sentidos externos, que
nem sempre usamos ou exploramos nas situações pedagógicas. A esse
conjunto de actividades, materiais e procedimentos chamamos Portas
de Estimulação Sensorial Múltipla – P.E.S.m. – mas ao qual, pela sua
especificidade, também lhe poderíamos atribuir o nome de Aventura
dos Cinco Sentidos na Creche.
5.1. Delimitação do campo de estudo A globalidade e amplitude desta pesquisa abarcam o trabalho
directo desenvolvido com as crianças e a equipa técnica ao longo de
dois anos lectivos. Muito embora fossem determinados objectivos
globais de estudo, a abrangência e a complexidade que o caracterizam,
quer pelo número de crianças envolvidas, quer pela própria
especificidade desta proposta, exige a delimitação de procedimentos
específicos em cada etapa – 1ª Etapa (ou estudo exploratório -
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2001/2002); 2ª Etapa (2002/2003) – pelo que optamos, quando
necessário, pela descrição de cada uma dessas etapas.
5.1.1. Situação a ser investigada: Objectivos
A presente investigação pretende analisar a influência do P.E.S.m.
(descrito no capítulo anterior) no desenvolvimento geral das crianças
atendidas na creche estudada, com idades compreendidas entre os
doze e os trinta e seis meses, e a sua relação com o fenómeno da
precocidade, operacionalizado como ritmo de desenvolvimento.
O ritmo de desenvolvimento das crianças tem chamado especial
atenção no que se refere à precocidade. Do reconhecimento da
influência da primeira infância para o desenvolvimento ulterior emerge
a lógica do senso comum de que as crianças que apresentam um ritmo
mais acelerado nas aprendizagens básicas (como por exemplo, andar e
falar), sinalizam probabilidade de maior capacidade mental do que as
outras. Por sua vez, as crianças que necessitam de mais tempo para
demonstrar essas mesmas competências estariam revelando “lentidão”
no desenvolvimento. Todavia, este tem sido um ponto controverso na
área de educação especial para sobredotados, pois, embora precocidade
no andar, falar e ler, por exemplo, sejam frequentemente apontados
como indicadores de capacidade elevada e talento, as pesquisas
realizadas não comprovam essa afirmação (Freeman e Guenther, 2000).
No nosso país, a Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei nº 46/86
de 14 de Outubro revista na Lei n.º 115/97, de 19 de Setembro) aborda
a questão das diferenças do ritmo de desenvolvimento das crianças
entre os três e os seis anos de idade a frequentar a educação pré-
escolar. O Capítulo II, Secção I, Artº 5, 1-h) deste documento refere
“Proceder à despistagem de inadaptações, deficiências ou precocidades e
promover a melhor orientação e encaminhamento da criança”.
O Despacho Normativo nº 99/89, referente às crianças até aos
três anos, prevê o “despiste precoce de qualquer inadaptação ou
deficiência...” (Norma II – c)) não fazendo, contudo, qualquer alusão às
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necessidades de sinalizar precocidade como possível sinal de altas
habilidades ou talentos. Apesar da hipótese de precocidade estar
contemplada na Lei de Bases do Sistema Educativo, esta mesma Lei
nada refere quanto ao atendimento a estas criança. No Artº 17, & 1,
claramente determina que “A educação especial visa a recuperação e
integração sócio-educativas dos indivíduos com necessidades educativas
específicas devidas a deficiências físicas e mentais”.
A pesquisa científica manifesta algum cuidado face à
precocidade, pois muitas crianças precoces não alcançaram altos níveis
de desempenho e produção na vida adulta e, por sua vez, muitas das
pessoas produtivas e “mais capazes” ou mesmo os génios (como por
exemplo Einstein) não apresentaram na infância qualquer sinal de
precocidade. Por isso, o fenómeno da precocidade não pode ser lido, de
forma linear, como sinal elevado potencial (Guenther, 2000).
Na infância toda a plasticidade do sistema nervoso permite
absorver e integrar os diversos estímulos que o meio proporciona, mas
a falta de atenção e de preocupações educativas nesta faixa etária
poderá acarretar consequências prejudiciais ao pleno desenvolvimento
das crianças. Quando a criança mostra algum interesse e o ambiente
educacional favorece esse gosto, é possível que se desenvolva “a
motivação intrínseca, curiosidade e vontade de aprender, o que Renzulli
(1995) chama de ‘compromisso com a tarefa’” (Freeman & Guenther,
2000). Assim, o meio, oferecendo estimulação compatível com os seus
interesses e nível de desempenho pode facilitar o desenvolvimento de
certas competências da criança elevando o seu desempenho.
Considerando que o crescimento e a estimulação de
competências e capacidades são influenciados pela exposição,
conhecimento, experimentação e vivências em diversidade, quantidade
e complexidade apropriadas ao nível e ritmo de desenvolvimento, o
P.E.S.m. propõe sistematizar um conjunto de estímulos que envolvam,
simultânea e preferencialmente, os cinco sentidos, na interacção da
criança com o material. A implementação desta proposta tem como
balizas o Projecto Educativo da instituição, as idades das crianças do
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grupo de pesquisa e, ainda, o projecto de trabalho (semanal)
desenvolvido em cada sala/grupo ao longo de cada ano lectivo. Isto
significa que não se diligencia no sentido de ser um programa pré-
determinado e sequencial, mas antes, uma proposta de trabalho
adequada ao desenvolvimento de cada criança, sendo organizada,
planificada, incrementada e avaliada semanalmente em função dos
seus pressupostos de base. Por outro lado, cada tipo de estímulo
apresentado possui diferentes domínios de intencionalidade, sendo, por
conseguinte, o seu grau de formalidade variável e flexível.
A primeira etapa da presente investigação (ano lectivo
2001/2002) teve como principal objectivo observar e compreender as
interacções com o material e com os outros, vivenciadas no decorrer
das diferentes actividades, pelas crianças com idades entre os doze e os
trinta e seis meses, com vista a determinar o grupo de pesquisa. Nesta
etapa procedeu-se, essencialmente, à apresentação de um conjunto de
actividades e materiais diferentes dos considerados “comuns” nos
contextos escolares (tais como pintura, desenho, modelagem, etc.), pois
são estímulos multi-sensoriais que permitem a total, livre e
independente exploração e manipulação de cada criança. Foram
recolhidas imagens em vídeo das actividades suscitadas pelos
estímulos que constituem o P.E.S.m., bem como de algumas actividades
mais “comuns” nos contextos de creche.
Na segunda etapa (ano lectivo 2002/2003) pretendeu-se,
essencialmente, observar os indicadores de sinais de trabalho mental
das crianças que constituem o grupo de pesquisa, bem como averiguar
quais os trajectos percorridos pelas crianças sinalizadas, na Etapa 1,
com ritmos de desenvolvimento diferenciados. Para tal, esta fase inclui
a experimentação com estímulos em tudo semelhantes às situações
experienciadas Etapa 1 e a sua filmagem em imagens vídeo.
Em suma, podemos sistematizar este estudo em três objectivos
gerais:
1. Averiguar até que ponto O Programa de Estimulação Sensorial
Múltipla pode ter facilitado ou favorecido oportunidades e
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experiências favoráveis o desenvolvimento de algumas
competências das crianças estudadas.
2. Detectar alguns indicadores de sinais de trabalho mental das
crianças face aos estímulos apresentados no P.E.S.m..
3. Perceber e comparar o modo como crianças com indicadores
diferenciados de ritmos de desenvolvimento maior ou menor
reagem de modo diferenciado às tarefas propostas.
5.1.2. Constituição do grupo de pesquisa ao longo do estudo
A constituição do grupo de pesquisa foi organizada em função dos
objectivos do estudo, mas directamente afectada por diversos
condicionalismos inerentes a um estudo longitudinal, como por
exemplo, a mortalidade da amostra ou condicionalismos institucionais.
Por conseguinte, optamos por apresentar separadamente cada etapa do
estudo abordando, em cada uma, as alterações ou ajustes necessários à
sua viabilização.
5.1.2.1. Etapa 1 – Estudo exploratório
A constituição da amostra sofreu várias contingências inerentes à
própria organização da creche enquanto contexto educativo. As
dificuldades centraram-se, essencialmente:
a) Na selecção da(s) creche(s) dentro do vasto leque de oferta na
cidade de Braga, considerando as Creches Particulares e as
Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) que, por
sua vez, podem ser com ou sem fins lucrativos;
b) A natureza do estudo exigia a opção por grupos que permitissem
englobar o maior número possível de crianças dentro de uma
faixa etária. Dado que a maioria das creches contempla apenas
uma sala por grupo etário, tal facto limitava o número de
instituições a envolver na pesquisa;
c) Por outro lado, e complementar à alínea anterior, tornava-se
desejável seleccionar o menor número possível de instituições
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com vista a garantir maior consistência na caracterização do
grupo de estudo;
d) Uma outra limitação para a constituição do grupo de estudo e
associada também às anteriores, deveu-se à inexistência de
educadores de infância a tempo inteiro em muitas salas de
creche. A própria legislação portuguesa em vigor para as creches
com fins lucrativos (Despacho Normativo nº 99/89, de 27 de
Outubro)1 admite a ausência destas profissionais em alguns
grupos de crianças (Norma XVIII, 3)). Para a presente
investigação este tornava-se, contudo, um dos principais critérios
de selecção de sala(s) e grupo(s) essencialmente por duas razões.
Por um lado, várias pesquisas referem a formação dos
educadores como um bom indicador de qualidade das creches e
também correlacionada com efeitos positivos no desenvolvimento
das crianças. Por outro lado, consideramos que o P.E.S.m.
pressupunha uma formação teórica e metodológica no âmbito da
educação de infância.
Assim sendo, a amostra para implementação do P.E.S.m. teve
origem apenas numa só creche IPSS (Instituição Particular de
Solidariedade Social) da cidade de Braga, seleccionada segundo os dois
critérios básicos: i) a existência na instituição de mais do que um grupo
de crianças em cada faixa etária (12 a 24 meses e 24 a 36 meses)
permitindo abranger um elevado número de crianças, e ii) a presença
de Educadores de Infância diplomados, em cada sala/grupo, a tempo
integral.
Após a selecção da instituição tornava-se necessário determinar
um grupo de sujeitos a participar no projecto. Esta creche, integrada
num centro social pertencente a uma paróquia de Braga, possui um
1 O Despacho Normativo nº 99/89, relativo às creches particulares com fins lucrativos, é a única legislação em vigor sobre o funcionamento das creches. As creches particulares de solidariedade social não têm qualquer legislação orientando, sempre que possível, as instituições segundo este documento legislativo.
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conjunto de valências2 e equipamentos3 localizados na área paroquial.
Para a valência creche conta com quatro equipamentos, sendo que em
dois apenas acolhem bebés de quatro a doze meses e os restantes
acolhem crianças dos 4 aos 36 meses de idade.
Muito embora a valência creche da instituição abarque quatro
grupos de crianças dentro do critério de idade cronológica que
seleccionamos para esta pesquisa -doze a trinta e seis meses – dois não
cumpriam o critério a presença de educadores de infância a tempo
inteiro na sala. Assim sendo, numa primeira etapa (2001/2002) o
grupo de pesquisa foi constituído por um total de oitenta crianças com
idades cronológicas compreendidas entre os 12 e os 36 meses (Quadro
8), ou seja, dois Grupos de crianças com idades entre 12/24 meses
(quarenta crianças) e dois grupos de crianças com idades entre os
24/36 meses (quarenta crianças), sob a responsabilidade de quatro
Educadores de Infância (um educador responsável por cada sala). Para
além dos Educadores de Infância, os grupos de crianças com idades
compreendidas entre os 12 e os 24 meses contavam com a presença de
dois Ajudantes da Acção Educativa, enquanto que os grupos de
crianças entre os 24 e os 36 meses contavam apenas com um
Ajudante.
Quadro 8
Distribuição dos grupos etários e adultos responsáveis por sala
12/24 Meses 24/36 Meses Crianças Adultos Crianças Adultos
Sala 1 20 1 Educador Infância 1 Ajud. Acção Educ.
Sala 2 20 1 Educador Infância 2 Ajud. Acção Educ.
Sala 3 20 1 Educador Infância 2 Ajud. Acção Educ.
Sala 4 20 1 Educador Infância 1 Ajud. Acção Educ.
TOTAL 40 40
2 A instituição possui, destinadas à infância, as valências: creche, jardim-de-infância e A.T.L. 3 Entende-se por equipamento a creche que, muito embora esteja sob a direcção e orientação da instituição-mãe, se localiza noutro edifício na área da paróquia.
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O estudo dos vídeos das actividades que constituíram a Etapa 1
orientou o estabelecimento de critérios para identificação do grupo de
pesquisa que constituiu a Etapa 2. A diferenciação objectiva nos
comportamentos das crianças no desenrolar das actividades propostas
com os diversos estímulos, a transição do grupo dos dois anos (24/36
meses) para a valência de jardim-de-infância, e consequentemente para
outro equipamento, bem como as metodologias adoptadas por cada
educador no desenvolvimento do P.E.S.m. na Etapa 1 foram factores
determinantes para a reorganização/constituição do grupo de pesquisa
do Etapa 2. Neste sentido foram abandonadas as observações relativas
aos grupos dos dois anos (salas 1 e 4).
A observação e análise parcelar dos vídeos permitiram a
sinalização daquelas crianças cujas interacções com os estímulos
apresentados foram mais e menos duradouras e persistentes nos
grupos de um ano (12/24 meses) e nos grupos de dois anos (24/36
meses). Neste sentido, a análise dos comportamentos observados nos
grupos de sujeitos foi efectuada à luz dos seguintes parâmetros:
• Rapidez – relativa à prontidão inicial no envolvimento com o
estímulo;
• Originalidade – relativa ao conteúdo, à significação dos
comportamentos emitidos, nomeadamente, na variedade e
diversidade de acções;
• Extensão – relativa à fluência de comportamentos, acções e
repetições que indicam actividade, ou seja, a quantidade e
espontaneidade de acções.
Após a análise do material recolhido na Etapa 1, as crianças
observadas foram agrupadas em dois grupos, assim caracterizados:
• Grupo P (precoce) – grupo de crianças que apresentavam alto
nível de envolvimento nas tarefas, isto é, crianças que se
envolviam nas actividades propostas de forma pronta, rápida e
com maior número de reacções e comportamentos exploratórios,
e
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• Grupo L (lento) – grupo de crianças que, face às propostas e
materiais, se envolviam de forma lenta, pouco intensa e/ou
durante pouco tempo, manifestando pouco envolvimento na
tarefa.
A cada um destes critérios correspondem os indicadores
organizados no Quadro 9:
Quadro 9
Critérios de diferenciação dos Grupos
Grupo P Grupo L Rapidez Envolvimento imediato
com o estímulo Tarda a aproximar-se e a envolver-se com o estímulo
Originalidade Postura activa, envolvimento de “actor”, “sujeito” de acção
Postura passiva, parado, distanciado, comportamentos de “espectador”
Extensão Movimenta-se, inicia, produz muitas acções
Improdutivo, sem acção, produz poucas acções
Com base nos dados parcelares, no final do mês de Julho do ano
lectivo 2001/2002, o grupo de pesquisa referenciado para desenvolver o
P.E.S.m. no ano lectivo posterior seria constituída por 10 crianças
(Quadro 10). Neste grupo de 10 crianças tínhamos, por sua vez, 5
crianças identificadas para o Grupo P4, com idades compreendidas
entre os 13 e 22 meses5 (média = 18,0) e 5 crianças para Grupo L, com
idades compreendidas entre os 13 e 22 meses (média = 17,4).
4 Optamos por identificar o grupo de pesquisa – Grupo P e Grupo L – sempre em letra maiúscula diferenciando-se de qualquer outro tipo de grupo que será apresentado em letra minúscula. 5 Os Grupos P e L foram identificados em salas com crianças com idades compreendidas entre os 12 e 24 meses, embora nestes Grupos as idades das crianças oscilassem entre 13 e 22 meses
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Quadro 10
Grupo de pesquisa no final de 2001/2002
Cátia 3 15Frederico 2 22Marcos 2 13Dinora 2 19
Anabela 3 21Média 18,0
Pauleta 2 22Márcia 3 13Alfredo 3 17
Rosa 2 21Brigite 2 14
Média 17,4
ETAPA 1 (2001/02)
Gru
po P
Gru
po L
Criança Idade (meses)
Set.º 2001
Sala/Grupo
5.1.2.2. Etapa 2
As actividades e materiais sensoriais que constituíam o P.E.S. em
2002/2003 foram em tudo semelhantes às desenvolvidas no ano lectivo
2001/2002, mas certamente apresentadas com novas propostas
complexificando ou diversificando as propostas manipulativas
relativamente ao ano anterior e em função do nível de desenvolvimento
das crianças.
Os estímulos foram apresentados às crianças seguindo a sua
lógica natural/comum, ou seja, ao grupo das cinco crianças da mesma
sala, qualquer que fosse o grupo: P ou L. Pareceu-nos que estas
propostas deveriam ser apresentadas e desenvolvidas no âmbito da
organização da própria instituição e das salas a fim de que a segurança,
o bem-estar e as interacções com o adulto e com as outras crianças em
tudo fossem semelhantes e naturais às desenvolvidas ao longo dos
tempos com as crianças. Todas e cada uma das crianças que
constituíam os grupos P e L foram observadas e registadas as suas
reacções, acções e comportamentos com os diversos estímulos.
Como já referimos no ponto anterior, o grupo de pesquisa para a
Etapa 2 era constituído por dez crianças com idades compreendidas
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entre os 12 e os 24 meses que apresentaram comportamentos
diferenciados: cinco do grupo L, isto é, crianças que dentro do grupo de
colegas visivelmente tardavam em iniciar a actividade, manifestavam
poucas iniciativas ou mostravam poucas reacções; e cinco do grupo P,
composto pelas cinco crianças que visivelmente se envolviam de
imediato na actividade, manifestavam elevado número de reacções e
tomavam iniciativas na manipulação dos materiais.
No início do ano lectivo 2002/2003 tivemos de proceder a
alterações nos Grupos P e L, já que se verificou o fenómeno de
mortalidade da amostra, ou seja, duas crianças identificadas para o
grupo P e duas crianças do grupo não frequentaram a creche no ano
lectivo 2002/2003. Face a esta situação, foram substituídas por
crianças que, na análise efectuada na Etapa 1 se encontravam
imediatamente a seguir no Rank Order. O Quadro 11 sintetiza as
alterações sofridas na amostra, do final da Etapa 1 para o início da
Etapa 2.
Quadro 11
Alterações sofridas pela amostra no início da Etapa 2
Idade (meses)
Idade (meses)
Idade (meses)
Set.º 2001 Set.º 2001 Set.º 2002Cátia 3 15 Cátia 3 15 27
Frederico 2 22 Frederico 2 22 34Marcos 2 13 Marcos 2 13 25Dinora 2 19
Anabela 3 21Leandro 3 14 26Hilário 2 18 30
Média 18,0 16,4 28,4
Pauleta 2 22 Pauleta 2 22 34Márcia 3 13 Márcia 3 13 25Alfredo 3 17 Alfredo 3 17 29
Rosa 2 21Brigite 2 14
Ronaldo 3 22 34Mariazinha 2 14 26
Média 17,4 17,6 29,617,7 17,0 29,0
Gru
po P
Gru
po L
Média global
ETAPA 1 (2001/02)Criança CriançaSala/Grupo Sala/Grupo
ETAPA 2 (2002/03)
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Em suma, na Etapa 2, o Grupo P era constituído por três
crianças da sala 2 e duas da sala 3 e o Grupo L era constituído
por duas crianças da sala 2 e três da sala 3 perfazendo um total
de dez crianças (três do sexo feminino e sete do masculino). É
de referir que o reagrupamento provocou alterações substanciais
relativamente ao género. Inicialmente foram referenciadas três crianças
do sexo feminino em cada um dos grupos P e L mas com a
ausência de algumas crianças na frequência da creche verificou-se
que, na Etapa 2, apenas podem ser observadas três crianças do
sexo feminino, sendo apenas uma do grupo P.
Tomando-se como ponto de partida a idade das crianças
(em meses) em Setembro de 2001, e considerando as dez
crianças das duas salas, na Etapa 2, a média global de idades é
17 meses (mediana = 17.6 meses), com intervalo entre 12 e 23
meses, valores muito próximos do grupo seleccionado no final da
Etapa 1 (média = 17.7; mediana = 18 e moda = 22). Na Etapa 2,
considerando as idades das crianças em Setembro de 2002, a
média global de idades do Grupo L é de 28,4 meses e do Grupo
P de 29,6 meses, oscilando agora entre 25 e 34 meses (mediana
= 28.4 e moda = 34).
Relativamente ao contexto familiar, o Quadro 12 mostra
que, qualquer que seja o Grupo P ou L considerado, existe um
leque diversificado de habilitações literárias dos pais, e todas as
crianças frequentaram a creche desde o grupo de bebés. Optamos
por inserir neste Quadro todas as crianças que pertenceram ao
grupo de pesquisa ao longo dos dois anos de implementação do
P.E.S.m., evitando-se, assim, a repetição de informações. A
reorganização do grupo de pesquisa não alterou substancialmente
as características do grupo em função das “histórias” familiares.
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Quadro 12
“História” familiar e “escolar” das crianças ao longo do P.E.S.m.
P: 12º Ano P: Func. PúblicoM: 10º Ano M: Func. Público
P: 12º Ano P: BancárioM: 12º Ano M: Administrativa
P: 12º Ano P: Técnico TelecomM: 12º Ano M: Estudante
P: 12º Ano P: Emp. EscritórioM: 12º Ano M: Emp. Escritório
P: 9º ano P: ElectricistaM: 9º ano M: Aux. Educativa
P: Licenciatura P: Técnico Telecomunic.M: Licenciatura M: Professora
P: Esc. Obrigatória P: ComercianteM: Esc. Obrigatória M: Comerciante
P: Licenciatura P: Prof. universitárioM: Licenciatura M: Professora
P: Esc. Obrigatória P: Construtor civilM: Esc. Obrigatória M: Doméstica
P: Esc. Obrigatória P: CarpinteiroM: Esc. Obrigatória M: Emp. Doméstica
P: Esc. Obrigatória P: MarceneiroM: Esc. Obrigatória M: Emp. Têxtil
P: 11º ano P: Téc. ElectrónicaM: 11º ano M: Escriturária
P: Licenciatura P: AdvogadoM: Licenciatura M: Professora
P: 2º Ano P: MetalúrgicoM: 8º Ano M: Emp. Têxtil
1 1
Ronaldo L
Mariazinha L 26 F
34 M
1 1
0 1
1 1
Brigite L 14 F
Rosa L 21 F
0 1
Pauleta L
Márcia L 25 F
34 M
1 1
1 1
2 1
Alfredo L 29 M
Hilário P 30 M
3 1
Dinora P
Leandro P 26 M
19 F
1 1
0 1
0 1
Anabela P 21 F
Frederico P 34 M
Cátia P
Marcos P 25 M
Nome da criança
1 127 F
Família
Gru
po P
/ L
Idad
e/m
eses
(S
et. 2
002)
Sexo
Trab
alho
Pai
/Mãe
Nº I
rmão
s
Freq
uênc
ia n
a cr
eche
(a
nos)
Hab
ilita
ções
Lite
rária
s do
s Pai
s
Legenda: O sombreado amarelo corresponde às crianças que saíram da amostra. O sombreado azul corresponde às crianças repescadas para a amostra
5.1.3. Procedimentos Gerais6
A implementação e desenvolvimento do P.E.S.m., tal como já
referimos, ocorreram ao longo dos anos lectivos 2001/2002 e
6 A fim de evitar uma descrição exaustiva, neste ponto apresentamos apenas os procedimentos usados após a selecção da instituição
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2002/2003. Naturalmente, a implementação do P.E.S.m. foi precedida
de um conjunto de medidas administrativas, nomeadamente, o pedido
de autorização à Direcção da instituição, bem como à sua Directora
Pedagógica explicitando objectivos e implicações do desenvolvimento do
Programa.
Após o deferimento do pedido pelas entidades responsáveis da
instituição, foram também realizadas reuniões com o grupo de todos os
educadores que trabalhavam nos diferentes equipamentos com valência
creche e com os encarregados de educação/pais. Estes encontros
tiveram o propósito de explicar os aspectos essenciais que compõem
este projecto de trabalho, bem como solicitar autorização dos pais e
encarregados de educação e educadores para a recolha de imagens das
crianças em actividade. Das oitenta crianças que estavam envolvidas
no P.E.S.m., somente os pais de uma criança não permitiram,
inicialmente, a recolha de imagens do seu filho, alegando “medo da
divulgação das imagens na internet”. Durante o ano, contudo,
concederam a sua autorização.
O estabelecimento dos contactos com os grupos implicados no
projecto, com a situação específica de cada equipamento, sala, grupo,
educador de infância e pessoal auxiliar constituíram os primeiros
passos para a implementação do P.E.S.m..
O primeiro contacto com a equipa dos educadores surgiu com a
proposta de implementação do P.E.S.m.. Ao longo dos dois anos de
trabalho os contactos com os educadores tornaram-se desde logo
importantes no processo de adaptação e integração no contexto da
creche, junto das crianças, do pessoal auxiliar e das rotinas. As
conversas informais sobre observações de comportamentos, de
situações problemáticas surgidas no dia-a-dia da creche, ou a tentativa
de resolução de algumas situações ou reacções das crianças
constituíram também momentos de articulação entre a teoria e a
prática, momentos de observação e avaliação, momentos de
aprendizagens na área da psicologia do desenvolvimento da criança e
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Método
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principalmente no domínio das metodologias de trabalho em contextos
educativos para a 1ª infância. Para além destas circunstâncias
informais e pouco aprofundadas (mas simultaneamente muito práticas,
muito objectivas, e em tempo oportuno) o trabalho com a equipa de
educadores é assegurada em dois momentos sistematizados: as
reuniões semanais e as reuniões mensais.
Ao longo de 2002 as reuniões semanais de planificação com os
educadores responsáveis pelos diferentes grupos de idades foram,
essencialmente, destinadas à planificação conjunta das actividades
semanais, suas estratégias e recursos, bem como à programação e
alocação das actividades da proposta P.E.S.m. nessa programação
semanal. O Projecto Pedagógico, base de todo o trabalho da instituição,
balizava as actividades e materiais que constituíam o P.E.S.m.
tornando-se um elemento contextualizado do próprio Projecto
Pedagógico e que poderia acompanhar e adequar-se em qualquer
temática. Na Etapa 2 as reuniões semanais foram substituídas por
reuniões individuais com os educadores devido a dificuldades que
surgiram na instituição. Diversas situações expostas como dificuldades
ou constatações dos próprios educadores foram sendo também
analisadas e teoricamente contextualizadas nas reuniões que, em
princípio, eram destinadas a partilhar os aspectos pragmáticos e não
tanto a construção de um processo educativo coerente e condutor do
desenvolvimento. Esta reflexão teórico-prática conjunta permitiu,
contudo, no seu todo, o desenvolvimento de uma estratégia de
planificação mais adequado e mais coerente.
As reuniões mensais, efectuadas ao longo dos dois anos de
implementação do P.E.S.m., com a equipa de educadores que
trabalhavam em todos os equipamentos da valência creche foram
destinadas à formação da equipa, e de acordo com as necessidades
manifestadas, mas também, i) treino de observação e registo, ii)
desenvolvimento na creche e, iii) análise, organização, reorganização e
avaliação do P.E.S.m..
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Método
186
Para atingir os objectivos desta investigação tornou-se necessário
um plano de recolha de dados com, pelo menos, três vias de
informação: 1) Cheklist de avaliação da qualidade estrutural e
processual das salas envolvidas com vista a ser determinado o ponto de
partida (Etapa 1); 2) Filmagem de situações variadas (actividades que
integram o P.E.S.m. e outras actividades “comuns”) onde o desenrolar
do processo pudesse ser observado no seu todo e em profundidade
(Etapa 1 e 2); e 3) Recolha de elementos para avaliações do impacto do
P.E.S.m. junto das crianças e dos educadores através de um
questionário e de uma entrevista (Etapa 1 e Etapa 2, respectivamente).
1) Vários estudos realizados sobre a qualidade das creches
(Howes et al., 1992; Aguiar et al., 2002) utilizaram como instrumento de
avaliação a Infant Toddler Environment Rate Scale – ITERS (Harms et al.,
1986) considerando-o um instrumento de qualidade para a avaliação
destes contextos (e.g. Ferrari, 1991; Moore, 1994; Scarr et al., 1994;
Cassidy et al., 1996).
Todavia, uma análise exaustiva deste instrumento já nos tinha
alertado para as dificuldades da sua utilização na análise do processo
educativo no contexto português (Carvalho, 1997). Em primeiro lugar, a
hierarquização das unidades de observação não permite a cotação dos
itens de níveis mais elevados, quando não se regista a presença de
todas as anteriores. Esta hierarquização origina a que o referencial de
análise do processo educativo quase nunca chegue a ser pontuado pois
as variáveis estruturais correspondem aos primeiros itens a avaliar. A
mudança de foco do ambiente, ou seja, a transição da disponibilidade e
presença de materiais, para a acção do educador com a criança, vem
colocada numa mesma escala progressiva numérica, embora sejam de
natureza totalmente diversa. Ou seja, quando as condições físicas e/ou
ambientais são mínimas ou inadequadas não serão tidos em
consideração os itens relativos às variáveis processuais. Todavia,
sabemos que, podemos encontrar educadores capazes de ajudar as
crianças a desenvolver competências, mesmo na ausência de materiais
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Método
187
apropriados, usando criativamente o próprio corpo, o vestuário ou
outros recursos presentes.
Em segundo lugar, existem itens definidos pela ausência do
atributo, ou seja, anota-se o que existe ou o que não existe, na situação
observada (e.g. “ Plano de refeições não tem em conta as necessidades
individuais”, “Plano de refeições tem em conta as necessidades das
crianças”, “bebés/crianças são colocados na cama com biberões”,
“Bebés/crianças não vão para a cama com biberões”). A análise do
processo teria, neste caso de trabalhar com valores positivos e
negativos, correndo-se o risco de, provavelmente, chegar ao final com
totais convergentes para a média.
Por fim, os itens apresentam uma diversidade de unidades de
observação não adequadas à análise do processo educativo. Por
exemplo, o item relativo a “Refeições e lanches” apresenta a unidade
“Educadora conversa com as crianças e proporciona um agradável
momento de trocas sociais”, juntamente com outras observações sobre
higiene, preparação e valor nutritivo dos alimentos, exposição das
ementas aos pais, sem qualquer grau de diferenciação. Parece, pois, que
no âmbito de um mesmo item se avaliam aspectos qualitativamente
muito distintos.
Considerando as fragilidades atrás referidas desenvolvemos já um
novo instrumento – que chamamos ProAmb7 – e que, entre outras
características, distingue os aspectos ligados à Organização do
Ambiente dos aspectos mais directamente relacionados com o Processo
Educativo (Carvalho, 1997). O ProAmb, embora inspirado na ITERS
transforma as suas unidades de observação em itens, agrupa-os em
novas categorias e estabelece duas dimensões: (1) Medidas
Educacionais Directas (Organização do Ambiente e Processo Educativo)
e (2) Medidas Organizacionais Paralelas (Organização do Espaço Físico,
Organização Pedagógica, Relativas ao Pessoal e outros Adultos, Inter-
relações Creche-Família, Formação Profissional da Equipe).
7 Anexo 1
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Método
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As Medidas Educacionais Directas são compostas por dois Canais
de Estimulação: i) Organização e Ambiente e ii) Processo Educativo. O
principal critério de distinção destes dois Canais de Estimulação
baseia-se na possibilidade do item ser observável na ausência das
crianças – considerado parte da Organização e Ambiente – ou ser
necessário a sua presença – considerado parte do Processo Educativo.
Por sua vez, cada um destes canais de estimulação engloba quatro
Focos de Acção Educativa relacionados com os aspectos do
desenvolvimento físico-motor, cognitivo/sensorial, social/inter-relações
e emocional.
Este instrumento seria preenchido, na Etapa 1, por todos os
educadores de infância envolvidos no P.E.S.m. após uma reunião de
preparação para o efeito e acompanhada pelo investigador.
2) Relativamente às filmagens foram considerados alguns
aspectos que nos pareciam relevantes. Em primeiro lugar,
consideramos que o início de cada ano lectivo é, na creche, uma etapa
de especial importância, dadas as características e necessidades
específicas desta faixa etária (12/36 meses). Mas, a formação inicial e
contínua, no âmbito da educação de infância, alerta-nos para a
importância dos primeiros contactos e brincadeiras na boa e efectiva
integração e interacção com o grupo de crianças. A recolha de dados
foi, por isso, efectuada a partir dos meses de Janeiro (de 2002 e de
2003). As principais razões desta opção decorreram da necessidade de
uma melhor (re)adaptação das crianças à creche e à sua rotina, a
integração dos novos membros do grupo, bem como ao estabelecimento
de interacções próximas adultos/crianças.
Em segundo lugar, ao longo de toda a investigação, quer nas
filmagens das actividades do P.E.S.m., quer na participação da “vida” do
grupo, como observador participante tentámos assumir a posição de
um elemento do grupo, colaborando e estabelecendo interacções
abertas, mas não querendo em etapa alguma, constranger ou impor a
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Método
189
nossa presença às crianças, nos seus jogos ou brincadeiras, nem tão
pouco, sobrepormo-nos aos adultos responsáveis pelo grupo.
Por fim, um outro aspecto relevante refere-se à necessidade de
dessensibilização à máquina de filmar. Este processo foi iniciado por
uma exploração sensorial e motora da máquina de filmar permitindo a
todas as crianças que observassem e tocassem na máquina, que
admirassem a imagem captada pela câmara, discutindo os cuidados a
ter com a máquina e com os possíveis fios eléctricos a que, por vezes, se
tem de recorrer.
3) Para recolha de elementos para a avaliação do P.E.S.m. optou-
se, como referimos, por organizar um pequeno questionário8 (escala
tipo Lickert, de 5 entradas) destinado aos educadores, cuja análise
permitiria algum reajustamento e/ou reorganização a contemplar na
Etapa 2. Este questionário centrava as suas questões em quatro
aspectos básicos: i) Desenvolvimento das crianças; ii) Trabalho
pedagógico/educativo (com o grupo e na instituição); iii) Formação
Profissional e; iv) Presença do investigador (relativamente às crianças e
aos adultos mas também em situação de reuniões). Neste questionário
os educadores deveriam assinalar o seu grau de concordância para
cada afirmação (desde 1 - totalmente em desacordo até 5 -totalmente de
acordo).
No final da Etapa 2 optou-se pela realização de uma entrevista
guiada9 aos educadores com vista a uma avaliação mais aprofundada
de todo o trabalho (vantagens, desvantagens, limitações e
possibilidades) realizado ao longo dos dois anos de P.E.S.m.. Com esta
entrevista pretendia-se sistematizar aspectos essenciais,
designadamente: i) Desenvolvimento e Actividades – que consequências
tiveram ao nível da acção educativa do educador com o grupo e ao nível
do desenvolvimento das competências das crianças a implementação
das actividades do P.E.S.m.; ii) Observação e Registos – quais as
8 Anexo 2 9 Anexo 3
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Método
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alterações introduzidas na prática educativa, nas etapas de observação
ou na forma de registo, após a reunião de formação sobre esta
temática; iii) Formação – quais as etapas de maior relevo na formação e
reflexão profissional nos dois anos de participação no P.E.S.m.; iv)
Investigadora – qual a influência da presença da investigadora junto da
equipe de profissionais e das crianças; e (v) Avaliação global – quais as
etapas ou situações mais relevantes ao longo dos dois anos de
participação no P.E.S.m., bem como as possibilidades da dar
continuidade nos anos lectivos subsequentes.
5.1.4. Recolha de dados
O início de cada ano lectivo é, na creche, um momento de
especial importância dadas as características e necessidades
específicas desta faixa etária (12/36 meses), pelo que a recolha de
dados se efectuou apenas a partir dos meses de Janeiro de 2002 e
2003. As principais razões desta opção decorrem, em primeiro lugar, da
necessidade de uma melhor (re)adaptação das crianças à creche e à sua
rotina, a integração dos novos membros do grupo, bem como ao
estabelecimento de interacções próximas adulto- crianças.
De acordo com a planificação semanal de cada educador, as
actividades P.E.S.m. seriam contextualizados no tempo de actividades
educativas intencionais de pequeno grupo, e sempre num mesmo
horário, uma vez por semana. O horário seria após o pequeno lanche
da manhã, por volta das 10.15 horas, terminando quando o interesse
das crianças desaparecesse mas tendo sempre como limite de tempo a
hora do almoço estabelecida pela instituição (11 horas).
Nas actividades P.E.S.m. os estímulos seriam apresentados às
crianças pelos Educadores de Infância responsáveis pelos grupos, e as
crianças poderiam/deveriam explorar de forma livre, independente e
autónoma os estímulos apresentados enquanto o seu interesse
permanecesse. Para tal, foram tomadas diversas iniciativas de
protecção das roupas ou mesmo de as retirar, tal como já referimos no
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Método
191
Capítulo 4, foi organizado o espaço onde se iria desenrolar a actividade.
É de salientar que na Etapa 2, a alteração introduzida com o retirar das
cadeiras levou à colocação de uma manta no chão por baixo da mesa
por questões de segurança. Um outro aspecto a considerar é o papel do
educador no desenvolvimento destas actividades, pois a sua função é
essencial na manutenção das interacções criança-material e criança-
criança, observando e monitorizando os comportamentos das crianças.
A escolha do grupo de crianças que desenvolveu as actividades
no ano lectivo 2001/2002 foi decidida pelo educador de infância
responsável no intuito de não excluir nenhuma criança e garantir que
todas as crianças participassem, pelo menos, em duas actividades
P.E.S.m., mas outro lado sem perder de vista o estudo a que nos
tínhamos proposto realizar. Na Etapa 2, só o grupo de crianças que
constituiu o grupo de pesquisa experienciou as actividades P.E.S.m.
pelo que só os seus comportamentos e reacções foram filmados.
Os estímulos apresentados em cada uma das actividades
P.E.S.m. em 2002/03 deveriam distanciar-se em doze meses das
realizadas em 2001/2002, na tentativa de controlo da relação
desenvolvimento/idade. Todavia, nem sempre este critério foi
possível dependendo, sobretudo, dos factores climatéricos e sua
interferência na criação das melhores condições de
desenvolvimento das actividades, nomeadamente em relação a
espaços (interior ou exterior) e temperatura ambiente.
A colecta de dados ao longo dos dois anos de
implementação do P.E.S.m. ficou também determinada pela
presença das crianças na creche no dia em que se realizava a
actividade. Ao longo dos anos lectivos verificou-se que as crianças
desta creche não eram muito assíduas por motivos de saúde, de
questões familiares ou mesmo por algum desacreditar das famílias
no que concerne ao papel educativo e pedagógico da creche. A
assiduidade das crianças dos dois grupos de pesquisa era,
contudo, necessária para a análise intra e inter-grupal.
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Método
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5.2. Modelo de Análise dos dados Para análise qualitativa das observações registadas será usada a
Análise Temática de Conteúdo referenciada por Helena Antipoff, (1971;
1975) onde as porções de sentido são as unidades de comportamento
compreensível e os temas são a integração dessas unidades ao redor de
uma ideia mais abrangente.
Nesta perspectiva, a análise contempla quatro variáveis
observáveis e quantificáveis, nomeadamente:
• TIM – tempo de interacção com o estímulo;
• Temas – porções de actividade com conteúdo, significação ou
mensagem observável, sem qualquer interpretação adicional;
• Comportamentos Originais – porções de actividade relacionadas
com o tema, que, por serem originais/diferenciados, não se
consideram repetições de comportamentos ou acções;
• Extensão – total de comportamentos e acções emitidas. São
considerados todos os comportamentos, incluindo repetições, que
indicam conteúdo activo com sentido identificável.
À luz deste processo de análise, mexer, cheirar, provar ou falar
com o outro são comportamentos activos, observáveis e quantificáveis
quanto à sua frequência e originalidade. Por sua vez, o permanecer
“parado” a olhar para o outro (criança ou adulto), seguir seus
movimentos ou verbalizações, repetir mecanicamente movimentos,
muito embora possam ser formas de reconhecimento e de comunicação
com o mundo envolvente, não constituem comportamentos com
significado identificável. Associado ao olhar estará provavelmente o
processamento de alguma informação recebida, mas passar o olhar por
variadas direcções sem mostrar intencionalidade, não sinaliza
actividade, pelo que não seria equitativo compará-lo com outros
comportamentos activos e originais. Tais comportamentos de
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Método
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“passividade” e de posição de “espectador” foram, por isso,
considerados no seu todo como um único Tema.
Cada uma destas variáveis fornece indicadores de actividade
mental que pode ser relacionada ao desenvolvimento das crianças,
diferenciando-as entre si e como grupo. O entendimento de que
inventar, experimentar e fazer “coisas diferentes” são sinais de
desenvolvimento activo, claramente opostos ao olhar ou repetir, mesmo
que seja emitindo muitas unidades de comportamento, leva-nos a
considerar que estes não sinalizam Temas indicadores de trabalho
mental. Assim, dentro da variável Extensão consideramos a distinção
entre a quantidade de Temas e de Comportamentos Originais, na
medida em que estas variáveis nos permitem uma análise mais
defensável das acções produzidas pelas crianças em estudo.
Para refinar ainda mais a análise, os Temas e os Comportamentos
Originais são, por sua vez, analisados segundo o referencial da Teoria
Humanista, exposto no Capítulo 1, segundo o qual a personalidade do
ser humano se estrutura em três dimensões: auto-conceito, relação com
o outro e visão de mundo (Guenther, 1980, 1997).
O auto-conceito, nesta faixa etária, é constituído pelas percepções
que a criança tem sobre si mesmo, dependentes das experiências
vividas com o meio físico e com o meio social. A presença de
equipamentos e materiais adequados e diversificados que promovam o
desenvolvimento de competências e a exploração contínua através do
cheirar, tocar, provar, ouvir e ver suscitam motivações internas capazes
de fomentar diferentes percepções sensoriais e, simultaneamente, de
criar situações de jogo e de experimentação adequadas à capacidade de
manter relações efectivas e eficientes com esses mesmos materiais
(Guenther, 1997). Por conseguinte, a exploração livre e independente
permite à criança seleccionar e mesmo repetir experiências agradáveis e
motivadoras com os materiais apresentados. Neste sentido, os
comportamentos observáveis das crianças face aos materiais,
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Método
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considerados como – Eu e Material –, são reacções que, de certa
forma, manifestam o desenvolvimento do seu auto-conceito.
Por sua vez, a psicologia humanista realça a importância da
relação com o outro como uma dimensão da personalidade. No início da
vida a relação com o outro apresenta limites ténues porque simbiótico,
mas ao longo do desenvolvimento a criança vive gradualmente um
processo interactivo com os outros significantes. Na creche os outros
significantes – educadores e crianças – vão ganhando espaço e
amplitude tornando-se tantas vezes também elementos activos do jogo
ou brincadeira. Nesta perspectiva, estes são incluídos no processo
interactivo criança/material/outra criança ou adulto, ou seja, Eu, o
Material e o Outro, enquanto outros no grupo.
A visão de mundo é, nesta faixa etária, limitada e dependente
dos outros que a rodeiam. A partir das interacções com o meio social e
físico circundante a criança inicia a construção de um mundo mais
alargado, tornando-se sensível e atenta a aspectos exteriores que não
se limitam ao cenário próximo, mas com relação directa ao seu próprio
corpo e eu. Neste sentido, podemos já encontrar comportamentos de
atenção e enquadramento no mundo – Eu, o Material, o Outro e o
Mundo – considerados como ambiente.
Estas dimensões de análise permitem, em nosso entender, uma
análise da produção obtida pelos grupos P e L, ou seja, verificar que
existe alguma proximidade entre os grupos nas diferentes dimensões ou
se surgem alguns indicadores que os diferenciem.