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APRENDENDO PELA PESQUISA E PELO ENSINO | Danyelle Nilin Gonçalves, Irapuan Peixoto Lima Filho Licenciatura em Ciências Sociais e pesquisa: lacunas, temas e dilemas O objetivo primordial da Licenciatura é formar professores. Contudo, a experiência de anos trabalhando nas Licenciaturas em Ciências Sociais e o contato constante com alunos egres- sos nos confirma que há pontos críticos no processo formativo. Durante anos, a percepção geral era de que o “tempo da Licen- ciatura” – em seus moldes tradicionais – não demonstrava ser o suficiente para fazer o discente imergir no universo particular e próprio da Educação Básica. Havia uma ideia, por vezes generalizada, de que os currícu- los tradicionais das Licenciaturas em Ciências Sociais, mesmo com as disciplinas denominadas “práticas”, não conseguiam estimular os discentes a se aprofundarem no universo escolar e entendê-lo como um espaço social, seja porque o tempo des- tinado a esse momento era reduzido ou se dava em um estágio muito avançado do curso, quando o imaginário sobre a escola e sobre a profissão docente já estavam construídos, pouco res- tando a fazer para reverter a imagem pejorativa consolidada ao longo dos anos sobre a educação brasileira. O resultado disso APRENDENDO PELA PESQUISA E PELO ENSINO: O PIBID NO PROCESSO FORMATIVO DAS LICENCIATURAS EM CIÊNCIAS SOCIAIS Danyelle Nilin Gonçalves Irapuan Peixoto Lima Filho

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  • APRENDENDO PELA PESQUISA E PELO ENSINO | Danyelle Nilin Gonalves, Irapuan Peixoto Lima Filho

    REVISTA BRASILEIRA DE SOCIOLOGIA | Vol 02, No. 03 | Jan/Jun/2014

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    Licenciatura em Cincias Sociais e pesquisa: lacunas, temas e dilemas

    O objetivo primordial da Licenciatura formar professores. Contudo, a experincia de anos trabalhando nas Licenciaturas em Cincias Sociais e o contato constante com alunos egres-sos nos confirma que h pontos crticos no processo formativo. Durante anos, a percepo geral era de que o tempo da Licen-ciatura em seus moldes tradicionais no demonstrava ser o suficiente para fazer o discente imergir no universo particular e prprio da Educao Bsica.

    Havia uma ideia, por vezes generalizada, de que os currcu-los tradicionais das Licenciaturas em Cincias Sociais, mesmo com as disciplinas denominadas prticas, no conseguiam estimular os discentes a se aprofundarem no universo escolar e entend-lo como um espao social, seja porque o tempo des-tinado a esse momento era reduzido ou se dava em um estgio muito avanado do curso, quando o imaginrio sobre a escola e sobre a profisso docente j estavam construdos, pouco res-tando a fazer para reverter a imagem pejorativa consolidada ao longo dos anos sobre a educao brasileira. O resultado disso

    APRENDENDO PELA PESQUISA E PELO ENSINO:

    O PIBID NO PROCESSO FORMATIVO DAS

    LICENCIATURAS EM CINCIAS SOCIAIS

    Danyelle Nilin Gonalves

    Irapuan Peixoto Lima Filho

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    era que os egressos das Licenciaturas, por vezes, relatavam sentirem--se inseguros, despreparados e desestimulados para assumirem a pro-fisso de professores no Ensino Mdio, em muitos casos, desistindo no meio do caminho ou no momento da regncia de sala.

    Muitos motivos ajudam a explicar esse fenmeno, que no espe-cfico de uma regio do Brasil ou mesmo da disciplina de Sociologia. Dentre esses, as distncias construdas ao longo do tempo entre a Universidade e a Escola, acentuadas no caso da disciplina pela au-sncia no currculo obrigatrio da Educao Bsica, reforaram a re-lao longnqua com esse universo social particular.

    Isso contribuiu para que a escola como espao social no se conso-lidasse como um tema tradicional de reflexo da Sociologia no Brasil. Quando dizemos isso, estamos afirmando que no comum, mesmo atualmente, que a Sociologia pense a escola a partir das relaes so-ciais travadas em seu interior, entre os vrios atores que dividem seu espao, notadamente, professores, alunos, gestores, funcionrios, co-laboradores, comunidade do entorno, pais ou responsveis.

    Uma leitura ampla das discusses da Sociologia da Educao no Bra-sil tomando, por exemplo, o guia de Martins e Weber (2010) permite perceber que h um enfoque muito maior na reflexo da escola como instituio social, particularmente relacionada s polticas pblicas edu-cacionais. As relaes e conflitos internos, o cotidiano da escola, a hora do intervalo, as relaes estabelecidas entre professores e alunos, a so-ciabilidade estudantil, dentre outras questes, ocupam um papel secun-drio, perifrico ou mesmo ignorado por parte significativa da literatura sociolgica no pas, no raro sendo objeto de estudo da Pedagogia.

    Embora a Sociologia da Educao seja um dos campos tradicio-nais da Sociologia no Brasil (FERNANDES, 1954, 2005; CNDIDO, 1987), algumas instituies e temas dominaram a rea durante mui-tas dcadas. A ausncia da obrigatoriedade da disciplina na Educao Bsica diminuiu o interesse por essa temtica de pesquisa, refletido na pouca criao de linhas e laboratrios de pesquisa e de programas de Ps-Graduao temticos na Sociologia. O resultado disso que, durante anos, mesmo cursos de graduao que surgiram como Licen-

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    ciaturas e que consolidaram uma tradio de pesquisa, no o fizeram em se tratando da temtica. Esse dado se demonstra nas poucas mo-nografias de concluso de curso, dissertaes e teses em comparao com outros temas, como desigualdade, trabalho, violncia etc.

    Refora tal impresso o levantamento de Moraes (2003) que conta apenas 18 teses defendidas na Ps-Graduao em Cincias Sociais da USP na temtica da educao entre 1945 e 1996.

    O catlogo da Ps-Graduao da Universidade Federal do Cear, realizado por Vieira (2002), no distinto, registrando apenas quatro dissertaes e nenhuma tese defendidas sobre a temtica entre 1978 e 20021. Vale salientar, ainda, que, dentre os quatro trabalhos apresen-tados, nenhum deles era propriamente sobre a escola2.

    Mesmo posteriormente obrigatoriedade da Sociologia no Ensino Mdio, a Educao Bsica e especificamente, a escola e seus atores, continuaram a no figurar entre os objetos privilegiados de pesquisa da Ps Graduao em Sociologia da UFC. Desde 2009 outras cinco disser-taes sobre educao foram defendidas3 e o Doutorado em Sociologia continua sem a apresentao de qualquer pesquisa na temtica4.

    1 O Mestrado em Sociologia da UFC teve sua primeira dissertao defendida em 1978. J o Doutorado mais recente, com a primeira tese datada de 1997. O Programa de Ps Graduao em Sociologia tem, portanto, mais de 30 anos e embora tenha capacitado pesquisadores para todas as regies do pas, chama a ateno o pouco espao destinado historicamente temtica da educao, mesmo com a Licenciatura em Cincias Sociais j existindo na instituio desde 1968.

    2 Os trabalhos envolvem o ensino de Histria, o livro didtico de Geografia, a poltica educacional do municpio de Assar-CE e a educao no estado de Veracruz no Mxico. O ltimo desses trabalhos foi defendido em 1992, exibindo que no h nenhum trabalho na rea da educao nos ltimos dez anos cobertos pelo catlogo.

    3 Destes, dois versavam sobre a Educao Bsica: o ensino de sociologia na escola (CUNHA, 2009); os processos de formao da identidade docente dos professores de Sociologia (ALMEIDA, 2013). H ainda trabalhos que abordam o Ensino Superior (BEZERRA, 2013; PINHEIRO, 2013) e um sobre a formao nacional nos livros didticos de Moambique (MINDOSO, 2012).

    4 importante salientar que a UFC dispe de um Programa de Ps-Graduao em Educao, nas modalidades de Mestrado e Doutorado, ofertados pelo Departamento de Educao. No h, como prtica comum nas instituies de ensino brasileiras, vnculo especial entre os dois programas. Esse dado aponta para a maneira como a Sociologia, de um modo geral, relegou rea de Educao as discusses da temtica; o que evidencia mais ainda a distncia j comentada das Cincias Sociais com a escola.

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    Em um levantamento realizado em 2014, em 18 programas de Ps--Graduao em Sociologia, situados em todas as regies do pas, en-volvendo inclusive as instituies mais renomadas, percebemos que apenas cinco tm linhas de pesquisa sobre Educao (em geral, linhas denominadas Sociedade do Conhecimento; Estado e Sociedade; Edu-cao, Cincia e Tecnologia)5. Somente a Universidade Estadual de Londrina (UEL) tem uma linha especfica sobre o Ensino de Sociolo-gia, abordando a escola e o currculo; trabalho, desigualdades, etnici-dades, gnero, juventude, Estado e poltica educacional, metodologia e anlise de dados para o ensino; a insero das Cincias Sociais na formao universitria e o ensino religioso.

    O fato de grandes centros de pesquisa e universidades tradicionais no terem a educao como tema explcito em suas linhas de pesqui-sa guarda chuvas muito sintomtico do pouco espao destinado a essa reflexo no pas.

    No estar presente no currculo obrigatrio terminou concentran-do as discusses e pesquisas nessa ausncia.

    Se, no incio dos anos 2000, as reflexes giravam em torno da in-termitncia da disciplina na educao bsica e da luta por sua rein-troduo no currculo (MORAES, 2003; SARANDY, 2004; SANTOS, 2004; CARVALHO, 2004), nos anos seguintes, os autores se dedica-ram a refletir sobre os instrumentos terico-metodolgicos do ensino da disciplina (SILVA, 2007, 2009).

    A partir de 2008, quando a Sociologia se tornou obrigatria no cur-rculo do Ensino Mdio, aumentou a produo cientfica da temtica, tratando, sobretudo, dos desafios e perspectivas da Sociologia como disciplina neste campo de atuao. o caso de obras como Gomes e Elias (2007), Handfas e Oliveira (2009) e Handfas e Maara (2012). Os textos dessas trs obras, publicadas num intervalo de cinco anos, discutem aspectos didticos relacionados Sociologia na Educao

    5 Foram analisadas as linhas de pesquisa dos Programas de Sociologia da UFAL, UFMG, UFPR, UFSC, USP, UNICAMP, UFC, UFAM, UFRJ, UFBA, UFMA, UFPA, UFPB, UFCG, UnB, UFPE, UFPEL, UFRN, UFRGS, UFPI e UEL. Somente UEL, UFRGS, UFPI, UFPE e UnB explicitam a educao em suas linhas de pesquisa.

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    Bsica, como o qu ensinar, de que modo, abordagens metodolgicas, debates sobre currculos etc. J se comea a observar tambm mais reflexes sobre os materiais didticos (OLIVEIRA; COSTA, 2009). Nos livros publicados mais recentemente, as experincias docentes na disciplina ganham mais destaque.

    H tambm um aumento da produo cientfica sobre o tema em espaos tradicionais, como o Congresso da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS)6. Analisando os anais eletrnicos disponibilizados no site da instituio, percebemos incremento da produo sociol-gica sobre formao de professores no Grupo de Trabalho Ensino de Sociologia, que existe desde a edio de 2007.

    Naquele ano, pelo menos quatro trabalhos discutiram a formao de professores. No congresso seguinte, em 2009, dois trabalhos trou-xeram essa discusso. Em 2011, h um aumento exponencial, pas-sando para 11, o mesmo nmero se repetindo em 20137. Enquanto os primeiros trabalhos focavam na expresso formao de professores, nas duas ltimas edies crescem consideravelmente as reflexes es-pecficas sobre o impacto do Programa Institucional de Bolsas de Ini-ciao Docncia (Pibid)8.

    Sem deixar de reconhecer a grande importncia das reflexes pro-duzidas ao longo das ltimas dcadas, preciso insistir na pouca presena ainda das reflexes sobre a escola e a vivncia escolar, com foco na sociabilidade. A escola se mostra como um espao social ex-tremamente pertinente ao estudo da Sociologia e, sobretudo, para as Licenciaturas.

    Se no, vejamos: uma das instituies primordiais na biografia de seus participantes; os jovens alunos dedicam grande parte de seus dias escola (em geral, passam 14 anos para completar o ciclo da

    6 O site da SBS pode ser acessado em .

    7 O XIII Congresso Brasileiro de Sociologia ocorreu em Recife em 2007; sendo as edies seguintes no Rio de Janeiro, em 2009; Curitiba, em 2011; e a XVI edio em Salvador, em 2013.

    8 Essa ser a discusso travada adiante.

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    Educao Bsica); a instituio , ainda, o campo de atuao profis-sional de trabalhadores como professores e tcnicos. Nesse espao, relaes sociais complexas so construdas, noes de hierarquia so aprendidas, valores sociais so transmitidos, incorporados e legiti-mados.

    Interesses colidem; capitais culturais disputam (como nos atenta Bourdieu [2012; BOURDIEU; PASSERON, 2012]); sociabilidades se constroem; profissionais esto em ao; e tudo isso constitui apenas o bsico em um dia qualquer de funcionamento da escola. Ainda que o papel das polticas pblicas e da relao Estado-escola seja impor-tante para entender a instituio e seus dilemas, a vivncia escolar demonstra um importante captulo da vida cotidiana em seu aspecto mais elementar.

    Pensemos, por exemplo, em temas como as culturas juvenis: so expresso latente da experincia escolar intramuros, da vida pulsante na escola e da maneira como seus atores fundamentais os alunos se relacionam naquele espao social.

    Por mais bvia que possa parecer a conexo culturas juvenis e es-cola afinal, que melhor lugar para pesquisar a juventude do que em um ambiente no qual se socializam durante 200 dias por ano? , a Sociologia no pareceu privilegiar tal campo de pesquisa ao longo do tempo. Embora haja excees, como Carrano (2009), Dayrell (2007), Mendona (2009), somente nos ltimos anos percebe-se um maior interesse sobre as culturas juvenis na escola, como j discutido em Freitas e Lima Filho (2013). Ainda assim, existem mais estudos sobre a juventude em outros espaos da vida social, como a poltica, a reli-gio ou em temticas como as relacionadas violncia e s polticas pblicas do que propriamente no ambiente escolar.

    A dinmica interna dessa instituio envolve a ao de diversos atores. H um grupo protagonista formado por alunos, professores, gestores e funcionrios, alm de outro perifrico, como pais e respon-sveis, comunidade e colaboradores casuais. A reflexo sobre as re-laes sociais construdas entre estes entes ajuda a desvendar vrias dessas questes.

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    Cada um desses atores traz especificidades e complexidade para as anlises. No caso dos alunos, por exemplo, necessrio entend-los no como um grupo homogneo, mas a partir de uma diversidade de afiliaes expressas no dia a dia. Esses grupos se organizam orientados por valores e comportamentos muito especficos que passam a identific-los. Na es-cola, em geral, existem aqueles que se organizam por meio de vrios cata-lisadores, como bens culturais (roqueiros, punks, metaleiros, hip-hoppers, capoeiristas, nerds), polticos (grmios, partidos e/ou tendncias polticas, grupos organizados), religiosos (evanglicos, carismticos, umbandistas), de gnero (homossexuais e militantes LGBT), dentre outros.

    A observao sobre as culturas juvenis ajuda a captar o que so essas divises e como elas se relacionam entre si e com os outros ato-res que compem a escola. Como bastante mencionado nas pesquisas que tratam da juventude, essa categoria no homognea, necessi-tando, contudo, de um olhar apurado para perceber no somente essa diversidade, mas como se do as diferentes formas de se relacionar no ambiente escolar.

    Isto revela a importncia que a observao atenta da vida escolar representa anlise sociolgica. Todavia, alm de ser treinado para manejar os mtodos e tcnicas que possibilitaro a reflexo, o soci-logo precisa estar em contato com tal realidade. Parafraseando uma famosa frase sobre o Brasil, a escola no para principiantes. Isto quer dizer que, para entender o universo escolar em suas diferentes dimenses, compreender suas teias de relaes, seus atores e dile-mas, faz-se necessrio ir alm da mera observao flutuante, que por vezes a prtica de muitos licenciandos.

    Vivenciar a escola em seu cotidiano, isto , estar presente em suas atividades corriqueiras, assistir s aulas, observar a entrada, sada de alunos, o intervalo; participar das reunies, dos planejamentos de rea e de sua vida social permite ao licenciando compreender a dinmica social prpria da escola e torn-la objeto de investigao, ampliando os estudos na rea.

    O Pibid, por suas especificidades, pode representar um diferencial nesse processo. Afinal, por meio do Programa h uma insero cada

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    vez maior do licenciando no ambiente escolar, de modo mais profun-do, constante, orientado e sistemtico do que nas demais disciplinas prticas.

    O Pibid e a escola: insero e pesquisa

    Em 2007, a CAPES, instituio de referncia para o desenvolvi-mento da ps-graduao no pas, ampliou o seu espao de atuao, passando a atuar na Educao Bsica, desenvolvendo o Pibid, com base legal na Lei 9.394/1996, posteriormente alterada por meio da Lei 12.796/2013. O programa busca contribuir com a melhoria da Educa-o Bsica brasileira, fomentando a formao docente para atuar nes-te campo; promovendo a integrao entre as diferentes modalidades de ensino e mobilizando os professores da escola como coformadores dos futuros docentes, tornando-os protagonistas nos processos de for-mao inicial para o magistrio.

    Do ponto de vista das polticas pblicas, o programa busca mi-nimizar problemas histricos da educao brasileira. Desafios como a diviso entre teoria e prtica; o pouco tempo despendido com as disciplinas prticas; e mesmo o preconceito com a escola pblica so algumas das bases que o Pibid procura combater.

    Por intermdio da concesso de bolsas, busca inserir os alunos da Licenciatura, desde o incio da sua formao, no cotidiano das escolas pblicas, proporcionando-lhes o contato, a vivncia com a realidade do ensino e a oportunidade de criao e participao em experincias metodolgicas, tecnolgicas e prticas docentes de ca-rter inovador. Por meio de uma perspectiva interdisciplinar busca a superao de problemas identificados no processo de ensino-apren-dizagem. Os bolsistas de iniciao docncia (licenciandos) contam com a orientao dupla de professores da universidade e da escola. A ideia que esse contato constante contribua para a articulao entre teoria e prtica, to necessrias formao docente. Essas vivncias tambm acabariam por impactar no cotidiano das licenciaturas, que teriam uma relao mais prxima das escolas, possibilitando refle-

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    xes baseadas no dia a dia de professores e nas metodologias prprias do ensino na Educao Bsica.

    Os nmeros que envolvem o programa so impactantes: somente nos ltimos dois anos, o programa cresceu 82%, passando de 49.321 (2012) para mais de 90 mil bolsas (2014), incluindo aquelas destinadas iniciao docncia, para professores supervisores (docentes da Edu-cao Bsica), coordenadores de rea, coordenadores de gesto e coor-denadores institucionais (todos esses docentes do Ensino Superior).

    A execuo do programa passou de 195 para 284 instituies de Ensino Superior em todas as regies do pas e mais de 5.000 escolas da Educao Bsica, que recebem 313 projetos de iniciao docn-cia. Isso significa que, atualmente, 3% do total das escolas bsicas da rede pblica esto envolvidas com o Pibid. Em se tratando das Licenciaturas em Cincias Sociais, esto em vigor 73 projetos da rea, divididos em 22 estados nas cinco regies do pas9.

    Grfico 1 - PIBID de Cincias Sociais

    Fonte: CAPES (2014).

    9 Os Pibids de Cincias Sociais se espalham por grande parte do pas. Estando em 21 estados e no Distrito Federal, somente o Norte no contemplado em todos os estados. Nos demais, h pelo menos um Pibid da rea por cada unidade da federao, sendo que em 14 deles h mais de um Pibid. O Sudeste e o Nordeste contam com 22 projetos cada. O Sul com 17, o Centro Oeste com 10 e o Norte com 2. A diviso a seguinte: AL (1), BA (3), CE (4), DF (1), ES (1), GO (4), MA (5), MG (8), MS (4), MT (1), PA (1), PB (3), PE (2), PI (1), PR (6), RJ (6), RN (2), RS (8), SC (3), SE (1), SP (7), TO (1). Fonte: CAPES (2014).

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    Os dados acima demonstram o peso de um programa dessa nature-za para as Licenciaturas em Cincias Sociais, visto que, embora mui-tos desses cursos tenham dcadas de existncia, a obrigatoriedade da disciplina no Ensino Mdio recente. O surgimento do Pibid causou um impacto positivo nas Licenciaturas, j que anteriormente as bolsas se destinavam principalmente iniciao cientfica, contemplando majoritariamente o Bacharelado. Atualmente, h certa paridade entre as bolsas e em alguns casos, o nmero de bolsas do Pibid suplanta os do Programa Institucional de Bolsas de Iniciao Cientfica (PIBIC).

    A volta da Sociologia Educao Bsica e a implantao do Pibid impulsionaram nos ltimos anos as Licenciaturas em Cincias So-ciais. As primeiras edies do programa coincidiram com a implanta-o da disciplina no Ensino Mdio em alguns estados, acompanhan-do o caminhar da Sociologia na escola.

    Os primeiros momentos ficaram marcados por questes recorren-tes de que a Sociologia carecia de um processo de identificao e de reconhecimento por parte de professores, estudantes e gestores e, como era de se esperar, dos participantes do programa. As indaga-es, muito repetidas, diziam respeito natureza da disciplina, seus objetivos no Ensino Mdio e como deveria (ou poderia) ser trabalha-da, quais metodologias eram mais apropriadas e quais os contedos a serem selecionados10. Anos aps a primeira edio, algumas dessas questes ainda se expressam no imaginrio dos participantes, mas outras reflexes passam a ser postas.

    Alm dos desafios inerentes disciplina nessa modalidade de en-sino, tambm so questionados os prprios sentidos atribudos ao En-sino Mdio e seus objetivos, j que a Sociologia tem por tradio uma postura crtica e problematizadora da vida social. Pensando a escola como espao social, questionam-se no somente as polticas educa-cionais e sua execuo, mas qual embasamento ou finalidade se quer dar ao jovem oriundo da Educao Bsica. Formar quem e para qu? so as perguntas mobilizadoras.

    10 Essas questes j foram apontadas em um artigo de Almeida e Gonalves (2012).

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    O Pibid se divide em algumas aes realizadas na universidade, como planejamento, grupos de estudo e cineclubes; sendo a maior parte das atividades realizada na escola, foco de atuao dos pibidia-nos, como os bolsistas de iniciao docncia so denominados.

    Em grande parte dessas atividades os pibidianos produzem ban-ners, slides, cartazes e vdeos a serem veiculados na internet e foto-grafias que, em conjunto com os livros didticos, dinamizam a apren-dizagem.

    Influenciados pela discusso de que a Sociologia precisa se firmar na escola e ter um lugar julgado adequado h uma tentativa de tor-nar a disciplina agradvel e interessante para os alunos do Ensino Mdio. Para isso, so utilizadas redes sociais, blogs e pginas virtu-ais da escola que fomentam a aproximao dos alunos de iniciao docncia com os discentes do Ensino Mdio, ao utilizar linguagens e ferramentas que os jovens manejam com certa facilidade.

    Fazer a propaganda da disciplina tambm uma estratgia do Pibid de Sociologia da UFC. Isso se d nas atividades ocorridas na escola e em aulas de campo, como visitas s dependncias da univer-sidade, quando se apresentam as reas de atuao, perfil da profisso e mercado de trabalho. Nesses momentos, o Curso recebe em mdia quarenta alunos do Ensino Mdio que em geral se impressionam por estar na universidade pela primeira vez e vivenciar um pouco de sua dinmica.

    Ao longo dos anos, ter um Pibid tornou-se um trofu para algu-mas escolas11. Poder contar cotidianamente com a presena da uni-versidade, representada principalmente por um contingente de cinco ou sete alunos por rea (em algumas escolas, isso significa mais de quarenta alunos divididos entre os turnos), algo que estimulou a procura e a adeso de muitas instituies.

    11 Segundo as bases do Programa, prioritariamente so escolhidas escolas com baixos resultados no ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica (IDEB) e que tenham mdia e alta vulnerabilidade social. A modalidade de ensino, presena da disciplina no currculo da escola e a aceitao por parte do grupo gestor so fatores imprescindveis para a escolha.

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    Do ponto de vista dos licenciandos, o fato de se inserirem nas es-colas e passarem a experimentar a instituio em sua complexidade permite ter uma viso mais realista do cotidiano educacional, algo que os ajudar na deciso de optar ou no pela docncia. Da mesma forma, o contato com professores, coordenadores pedaggicos e dire-tores possibilita o surgimento da network necessria vida profissional.

    A proposta aproximar o aluno bolsista da atividade prtica do professor, permitindo-o apreender estratgias, metodologias e o co-tidiano da sala de aula, acompanhando as atividades corriqueiras da prtica docente, como a organizao dos dirios escolares, elaborao de aulas, de provas.

    Estando doze horas semanais na escola, os licenciandos comeam a compreender os mecanismos da instituio, os projetos educacio-nais existentes, seu espao fsico, seus atores e, principalmente, as suas relaes sociais. Tratados muitas vezes como estagirios que se vinculam diretamente a um professor supervisor, alm de assisti-rem s aulas especficas da disciplina, ocupam, no intervalo, a sala dos professores, vo s reunies de planejamento, aos Conselhos de Classe e esto nas datas comemorativas da escola, na organizao das feiras culturais e nas atividades extraclasse.

    Essa presena cotidiana marca um lugar para o pibidiano na es-cola. H, principalmente, da parte dos gestores, demandas pela atua-o em momentos e atividades especficas. Nem sempre, no entanto, isso se d sem conflitos. Tambm no significa que h, por parte dos sujeitos escolares, um entendimento sobre qual o lugar da Socio-logia na escola.

    Alm de temas como gnero, trabalho, poltica, identidade, racis-mo, indstria cultural, juventude, redes sociais, a Sociologia tambm chamada para discutir problemas sociais e que tm impacto direto na escola, como o bullying, a gravidez na adolescncia, a violncia, dentre outros.

    Em geral, essas questes so tratadas em oficinas, rodas de conver-sa, debates, palestras ou por meio de filmes, conduzidos por bolsistas de iniciao docncia e orientados pelo professor coordenador de

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    rea e pelo professor supervisor. Sendo os alunos da escola o pblico alvo desses eventos, a escola espera, em muitos desses casos, um po-sicionamento normatizador e pouco problematizador. Temticas con-sideradas polmicas, como a reduo da maioridade penal, religio, aborto e drogas ilcitas, convidam a Sociologia ao debate, esperando que legitime vises de mundo baseadas na ordem.

    Nem todas as atividades ganham a adeso de professores e ges-tores. Esses contatos, as proibies, tenses e conflitos no passam despercebidos pelos pibidianos, tornando-se alvo de reflexo dos limites e prticas impostas na escola12. Geralmente as atividades produzem relatos de experincia que atentam tambm s estratgias metodolgicas utilizadas, recepo por parte dos alunos e aos re-sultados alcanados. Nesses momentos, as experincias exitosas so ressaltadas, observando os impactos conseguidos. Quanto s expe-rincias no exitosas, tenta-se explicar os motivos pelos quais no se obteve sucesso.

    O acompanhamento dos pibidianos em suas atividades nas escolas nos permite perceber um crescimento constante no apenas no inte-resse do ambiente escolar, mas na ampliao das pesquisas e no olhar sociolgico voltado quele ambiente.

    Entendendo que docncia e pesquisa so atividades que se retro-alimentam, a ao do Pibid vem efetivamente reforando a formao dos discentes para a pesquisa, fato que traz consequncias diretas ao tipo de profissional que ingressa no mercado.

    12 Representativo disso o teor de alguns trabalhos de bolsistas de iniciao docncia que consideramos emblemticos dessas reflexes: Tiago Arajo apresentou no VII Encontro de Prtica Docentes (2013) um pster intitulado A escola quer a Sociologia? Reflexes sobre as demandas da escola ao professor de Sociologia no qual relata o posicionamento normativo que gestores esperam da Sociologia, em temas considerados sensveis. No mesmo encontro, Suianny Andrade de Freitas apresentou o trabalho Uma anlise sociolgica das relaes sociais no conselho de classe: o caso do colgio Liceu de Messejana no qual observa as vises sobre os alunos formuladas pelos professores nas reunies do Conselho de Classe. Alm de temticas sobre essas relaes, a prpria condio de bolsista tambm alvo de reflexes, como no caso de Daliene Brito que apresentou o trabalho Uma aprendiz nos bastidores no qual atenta para a sua condio de licencianda na escola.

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    Mesmo com a juventude do programa, j so ntidos alguns re-sultados. Nos ltimos eventos cientficos, cada vez mais se percebe a presena de pibidianos expondo seus relatos de experincias e en-caminhando reflexes para a pesquisa, apresentadas nos encontros cientficos realizados. um caminho muito semelhante ao j trilhado pela iniciao cientfica no pas. Alm dos Encontros de Prtica Do-cente (que atraem o interesse principalmente das Licenciaturas e que so obrigatrios para os bolsistas do Pibid) e dos Encontros Univer-sitrios (quando bolsistas de iniciao cientfica, sobretudo bachare-landos apresentam seus resultados), encontros temticos e de asso-ciaes de classe tambm passam a fazer parte dos interesses na vida de muitos licenciandos.

    Nos ltimos dois anos foram apresentados mais de trinta trabalhos da rea de Sociologia sobre diferentes temas relacionados educao. O III ENESEB (Encontro Nacional sobre o Ensino de Sociologia na Educao Bsica), em 201313, atraiu a ateno massiva de licencian-dos, sobretudo, de pibidianos. Nesse evento, dois Grupos de Trabalho discutiram a atuao do programa, tendo sido ainda citados em apre-sentaes de outros GTs. O resultado de um deles foi publicado em um captulo no livro do evento14. Os painis e as oficinas pedaggicas tambm se concentraram em experincias realizadas nas escolas par-ticipantes do programa.

    13 O III ENESEB ocorreu em Fortaleza, em maio de 2013. Ver Gonalves (2013). 14 Os dois Grupos de Trabalho que mais receberam pesquisas e relatos de

    experincia sobre o PIBID foram os GTs Formao de Professores de Cincias Sociais, coordenados pelos professores Amurabi Oliveira e Vilma Soares Lima e o GT11 - O Pibid e a formao docente em Cincias Sociais: limites e possibilidades, coordenado pelos professores Rosngela Pimenta e Rozenval de Almeida e Souza. No entanto, o tema apareceu nas discusses de praticamente todos os grupos de trabalho e na apresentao de painis. Pelo menos 1/3 dos participantes do evento eram bolsistas do PIBID, incluindo os de iniciao docncia, supervisores e coordenadores de rea. Embora o ENESEB seja um evento nacional voltado para a temtica do ensino em Sociologia na Educao Bsica, assim como o Encontro Nacional das Licenciaturas (ENALIC) outros eventos locais e regionais, alm dos encontros produzidos pelas universidades (os Encontros Universitrios), os da Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia (SBPC), da Associao Brasileira de Antropologia (ABA), cada vez mais contam com trabalhos produzidos sobre a temtica por estudantes de graduao e Ps-Graduao. O resultado de um dos GTs pode ser visto em Oliveira e Lima (2013).

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    Reflexes sobre a prtica docente e sobre os limites e possibili-dades da interdisciplinaridade do o tom desses trabalhos. Alm das pesquisas sobre os recursos didticos utilizados em sala, os bolsistas atentam para a sua condio de aprendizes na escola, para as rela-es que se travam entre professores e alunos na sala de aula, para os discursos produzidos por professores e gestores a respeito de seus alunos, para as relaes hierrquicas e para a prpria condio da Sociologia na escola. Nos ltimos anos, o programa tambm passa a ser objeto de investigao. As culturas juvenis, no entanto, ainda no tm o merecido destaque, embora pouco a pouco venham aparecendo de forma pontual ou indireta.

    Essas reflexes sistematizadas em pesquisas apontam algumas mudanas no quadro da Ps-Graduao da UFC. Nas duas ltimas se-lees para o Mestrado em Sociologia (em 2012 e 2013), nada menos do que seis ex-bolsistas do Pibid foram aprovados, trs dos quais com projetos relacionados educao, sendo um deles especificamente sobre o programa15. Desse modo, podemos pensar que esse programa contribui no apenas para o fortalecimento da Licenciatura em Cin-cias Sociais, mas amplia o interesse da Ps-Graduao de Sociologia sobre temticas relacionadas educao. Esse processo vem fomen-tando a discusso da criao de uma linha de pesquisa temtica.

    O interesse pela escola, seus processos e seus atores apontam algu-mas mudanas que vm ocorrendo na formao do docente de Socio-logia para a Educao Bsica e, sobretudo, nas relaes entre Univer-sidade e escola, o que certamente contribui para o aprofundamento das reflexes, causando impactos na Graduao e na Ps-graduao.

    O caso dos licenciandos da UFC ilustrativo desse fenmeno. A existncia de um corpo expressivo de estudantes (20 bolsistas) execu-

    15 A pesquisa de Rgis Wendel Gomes Miranda atenta para os sentidos que os jovens atribuem escola e ao Ensino Mdio. Patrcia Silva aborda a discusso da Formao de Professores no perodo anterior obrigatoriedade da Sociologia no Ensino Mdio e a pesquisa de Vanessa Gomes Arajo se debrua sobre as relaes sociais que se travam na escola em torno da implantao do PIBID. Esses trabalhos ainda no foram defendidos.

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    tando atividades nas escolas, realizando pesquisas e trocas de experi-ncias, promove um duplo impacto: alm de associar tal experincia s disciplinas cursadas na universidade, aumenta o contato do cur-so com a realidade escolar.

    Algumas consideraes

    Como professores na rea de Licenciatura e em disciplinas como Prtica do Trabalho Docente, percebemos cotidianamente o diferencial representado pela experincia dos pibidianos. notvel, pelo menos no caso da UFC, o modo como os bolsistas so muito mais familiari-zados com o cotidiano escolar, possibilitando-os refletir de modo mais seguro sobre as questes que envolvem a Sociologia e o Ensino Mdio.

    O acompanhamento desses discentes (inclusive daqueles que j so egressos da Licenciatura e esto no mercado de trabalho) atesta que a experincia como participante do programa marca um corte em suas trajetrias estudantis. Ao inserir os licenciandos em atividades dirigidas nas escolas, travando contato tanto com os professores de Sociologia no Ensino Mdio quanto com os alunos, percebe-se a am-pliao do conhecimento prtico que os estgios nem sempre conse-guem suprir. Nas salas de aula da universidade, a vivncia cotidiana da escola termina por dotar o pibidiano de um diferencial formativo em relao queles licenciandos que no tm tal oportunidade.

    Ao mesmo tempo, os pibidianos ampliam a experincia de vivn-cia na escola que tem claros reflexos no processo de tornar o ambiente escolar mais ntimo e, com isso, conhec-lo em maior profundidade, tornando-o objeto de pesquisa.

    O conceito por trs do diferencial relativamente simples: experi-mentar uma realidade (a escola) por mais tempo possibilita conhec--la e refletir sobre ela a partir do referencial sociolgico.

    Muitos discentes da Licenciatura que no tm esse tipo de envol-vimento (sendo bolsista ou j atuando efetivamente como professor temporrio) apresentam dificuldades em desenvolver a mesma pro-ximidade com escola e entend-la em sua ampla complexidade.

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    Ainda que pretensamente a escola seja o campo de atuao futura, se estabelece, por vezes, uma relao apenas casual com ela, fato que dificulta a formao de professores comprometidos com os jovens e com o ensino.

    Por isso, abre-se um parntese necessrio: a universidade necessita continuar refletindo sobre a formao de professores, independente do Pibid. Embora com o nmero de bolsas considerveis, o programa no abrange a totalidade de alunos e nem todos pretendem participar. Afinal, por mais impactos positivos que ele pretende trazer, por sua natureza, continua sendo uma atividade complementar da formao. Garantir que os licenciandos se envolvam com a escola (mesmo sem programas desse tipo) e que desenvolvam pesquisas neste campo so grandes desafios postos s Licenciaturas no pas.

    A existncia de professores da Educao Bsica conhecedores desse universo e capazes de lidar com as questes contemporneas (que tm a juventude como centro do debate) depende da articulao entre a pes-quisa e o ensino. Para alm dos ganhos cientficos para a rea de Socio-logia , sobretudo, uma questo tica que se coloca para ns educadores.

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