36-102-1-pb

8
TEMAS & MATIZES - Nº 07 - PRIMEIRO SEMESTRE DE 2005 75 RESUMO: Entre as décadas de 1920 e 1940 ocorreu o processo de afirmação da identidade nacional brasileira, uma construção sociocultural na qual o povo brasileiro se reconhecesse. Essa imagem começou a ser desenvolvida pelo movimento modernista, apesar de seu ar aristocrático, sendo apropriada e consolidada pelo regime varguista e permanecendo até os dias atuais. O corpo foi apropriado, como essa brasilidade, na forma da mestiçagem, do sertanejo e do trabalhador urbano, principalmente em oposição às representações de outras formas de governo, como o liberal, que não dava ênfase ao cidadão e sim ao mercado e os regimes totalitários, que tinham como símbolo máximo o Estado e não o homem. PALAVRAS-CHAVE: Corpo; Brasilidade; Identidade nacional. ABSTRACT: Between the decades of 1920 and 1940 occur the process of Brazilian national identity, a social and cultural construction with the people recognize themselves, a Brazilian model. This image is developed by modernism, although its aristocrat way, was appropriate and consolidated by Getúlio Vargas way of government and is the model until today. The body was appropriated as this Brazilian way, in the form of “mestizo”, countryman and the urban -labor man, specially being the opposite of others representations of governments, like the liberal, that doesn’t care to civil man, but cares with the economic and the totalitarian regimes, that was like maximum symbol the State, not the man. KEYWORDS: Body; “Brasilidade”; National identity. REPRESENTAÇÕES DA BRASILIDADE: O CORPO COMO SÍMBOLO PARA O MODERNISMO E PARA O VARGUISMO (1920-1945) H E N R I Q U E W I T O S L A W S K I Mestiço - Candido Portinari - 1934 CORPO & CULTURA T E M A S & M A T I Z E S

Upload: daniel-abaquar

Post on 16-Aug-2015

217 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

36-102-1-PB

TRANSCRIPT

TEMAS & MATIZES - N 07 - PRIMEIRO SEMESTRE DE 2005 75 RESUMO: Entre as dcadas de 1920 e 1940 ocorreu o processo de afirmao da identidade nacionalbrasileira, uma construo sociocultural na qual o povo brasileiro se reconhecesse. Essa imagemcomeou a ser desenvolvida pelo movimento modernista, apesar de seu ar aristocrtico, sendoapropriada e consolidada pelo regime varguista e permanecendo at os dias atuais. O corpo foiapropriado, como essa brasilidade, na forma da mestiagem, do sertanejo e do trabalhador urbano,principalmente em oposio s representaes de outras formas de governo, como o liberal, queno dava nfase ao cidado e sim ao mercado e os regimes totalitrios, que tinham como smbolomximo o Estado e no o homem.PALAVRAS-CHAVE: Corpo; Brasilidade; Identidade nacional.ABSTRACT: Between the decades of 1920 and 1940 occur the process of Brazilian national identity,a social and cultural construction with the people recognize themselves, a Brazilian model. Thisimage is developed by modernism, although its aristocrat way, was appropriate and consolidatedby Getlio Vargas way of government and is the model until today. The body was appropriated asthisBrazilian way,intheformofmestizo,countrymanandtheurban-laborman,speciallybeing the opposite of others representations of governments, like the liberal, that doesnt care tocivilman,butcareswiththeeconomicandthetotalitarianregimes,thatwaslikemaximumsymbol the State, not the man.KEYWORDS: Body; Brasilidade; National identity.REPRESENTAESDABRASILIDADE:O CORPO COMO SMBOLO PARA O MODERNISMO E PARA O VARGUISMO(1920-1945)H E N R I Q U E W I T O S L A W S K IMestio-CandidoPortinari-1934CORPO & CULTURAT E M A S & M A T I Z E S TEMAS & MATIZES -N 07 - PRIMEIRO SEMESTRE DE 2005 76 movimentomodernistabrasileirodoinciodosculoXXpodeserconsideradocomoumarupturaculturalcomosantigospadreserepresentaesculturaisdopas.Amaiorrefernciaquetemosdessemovimentosuaprincipalmanifestao:aSemanadeArteModerna,realizadanoTeatroMunicipaldeSoPaulo,emfevereirode1922,ecaracterizada como evento promovido por umanova gerao de escritores, msicos, pintoresetc.AprincipalidiadessesartistasmodernoseradeumareformulaoculturaldoBrasil,afastando-sedaeuropeizaonasartesenoscostumesparadarmaiornfasebrasilidade,smanifestaesdoprpriopovobrasileiroemsuaformaoriginal,semanecessidadedeimportaodecostumesdeoutrospases.Noentanto,omodernismoinaugura uma nova fase nacionalista no pasaooptarporumnacionalismoquenoimplicavaemumatotalnegaodoestrangeiro,umaxenofobia,masummovimentoantropofgico,apartirdoqualcadaindividuodeveriaterplenoconhecimentodaculturamundial,e,dentrodesseuniversomaior,sereconhecercomobrasileiro, entendendo e exibindo o que seu,mostrandosuarealidadeatravsdenovaspesquisasartsticaseacadmicas.Comorepresentaomximadessanovaculturanacional,osartistas,emgeral,escolheramoprpriopovobrasileiro,representadoemimagens-sntese,entreoutras,comoasdocampons,dondio,dosertanejo,donordestinoedotrabalhadorurbano.Atosurgimentodessepensamentoedessaarte,qualquerrepresentaodobrasileiroerafeitacombaseempadreseuropeus como, por exemplo, o ndio pintadocomroupasdehomembranco,fazendoposeigualdeumhomemurbanoeuropeu,queesperaseuretratoserpintadoecomumafamlia semelhante das cidades, com vriosfilhosetodosvestidoscomroupasdasociedadecivilizada.Porvoltadadcadade1920,essarepresentaoseriaalterada,passandoaserrelacionadacomalgomaisprximodarealidade:naspinturas,ndiosapareceriamnus,colhendofrutasoucaando,dormindoemredesouconstruindoocas.Osertanejoerarepresentadoemsuashumildescasas,comchapudepalhaefumando um cigarro de palha. O trabalhadorurbanoeraapresentadocomoumhomemsimples,comexpressocansadaeroupassujaspelarotinanasfbricas.Naliteratura,contosehistriassobreointeriorbrasileiroadotavamvocabulriotpicodecadaregio,o modo de falar e de se comportar encontradoemdiferentesregiesdopas.Paraosautoresdessemovimento,atacidade-sededaSemanadeArteModerna,SoPaulo,foiescolhidasegundocritriosnacionalistasdiscutidospelosartistas.CitoaexplicaodeMriodeAndrade:A Negra - Tarsila do Amaral - 1923OHENRIQUE WITOSLAWSKITEMAS & MATIZES - N 07 - PRIMEIRO SEMESTRE DE 2005 77 OfatorverdadeirodaSemanadeArteModerna foi So Paulo (...). Ora, So PauloestavamuitomaisaoparqueoRiodeJaneiro.E,socialmentefalando,omodernismo s podia mesmo ser importadopor So Paulo. Havia uma diferena grande,entre Rio de Janeiro e So Paulo. O Rio eramuitomaisinternacional,comonormadevidaexterior.Estclaro:portodemarecapitaldopas,oRiopossuiuminternacionalismoingnito(...).ORiodessascidadesemquenospermaneceindissolveloexotismonacional,masainterpenetrao do rural com o urbano. Coisaj impossvel de se perceber em So Paulo.SoPauloeraespiritualmentemuitomaismodernaporm,frutonecessriodaeconomiadocafedoindustrialismoconseqente.Caipiradeserraacima,SoPauloestavaaomesmotempo,pelasuaatualidade comercial e sua industrializao,emcontatomaisespiritualemaistcnicocom a atualidade do mundo (Andrade, 1943,p. 236).Apesardetodaessanovaculturapropostapelosartistasmodernistas,humaressalvaimportanteaserfeita:ofatodomodernismotersidoummovimentocomfortestraosaristocrticoseelitistas,jquefoi conduzido por jovens ricos que, em muitoscasos,haviamestudadoasprincipaiscorrentes artsticas na Europa e dirigindo suaatenoparaumpblicodenvelscio-econmicoelevado,noatingindo,portanto,as camadas mais populares, pessoas que notinham condio de pagar para entrar em ummuseuousimplesmentepornodispordetempo para as artes por estarem trabalhando.Parajustificartalafirmao,recorronovamente aos escritos de Mrio de Andrade,quandoafirmaque:Omovimentomodernistaeranitidamentearistocrtico.Peloseucarterdejogoarriscado,peloseuespritoaventureiroaoextremo,peloseuinternacionalismomodernista,peloseunacionalismoembrabecido,pelasuagratuidadeantipopular, pelo seu dogmtico prepotente,eraumaaristocraciadeesprito(Andrade,1943, p. 236).De fato, o povo brasileiro, por mais quefosse representado em telas, msicas e livros,no se sentia representado por no ver essaspinturas, no ouvir essas msicas ou no leresseslivros.Comoumtrabalhadorfabrilouumadonadecasafariaparaassistir,eatapreciaremtermosestticos,amsicadeVilla-Lobos?Comoestaspessoassimplesteriamacessomsicaclssica?ComoteriamtempoouformaoculturalparalerMacunama,obraconsideradaumexemplodomodernismo,masextremamentehermticatendoemvistaasofisticaodesualinguagem?Sendoassim,pornoserummovimentointeiramentepopular,omodernismonoconquistouseguidoresemsetorespobres,ficandorestritoselitesque,com mais nfase a partir do inicio da dcadade1920,sesentiammaisbrasileiras,deixando de lado a vergonha da mistura dasraasnegra,ndiaebrancaemseusangueedaexistnciadeumapopulaosertanejano interior de seu pas. O corpo da populaobrasileirarepresentadaporessesartistasserviupararepresentaropovojuntoaumaelitenacionalouemexposiesnoexterior.Noentanto,nemessaeliteseidentificavacom as outras camadas, nem o povo se sentiaidentificadoourepresentadonestasimagens.AcriaoeapropagandadeumaidentidadepopularseriamaistardeamplamenteusadapelogovernodeGetlioVargas,emespecialaps1937,perodoconhecidocomoEstadoNovo.Getlioesuacpulagovernamentaltiveramumgovernoautoritrioeprocuraramsedistanciardosfocosdepropagandadoregimeanterior,liberal(capitalista),edeoutrosregimesemREPRESENTAES DA BRASILIDADETEMAS & MATIZES -N 07 - PRIMEIRO SEMESTRE DE 2005 78 vigorpelomundo,asaber,osocialismoeosregimestotalitriosnazi-fascistas.Noprimeiro,nohaviarefernciaaparticularidades,ocapitaleadescentralizaoeramaformadegoverno,entoanovaconcepodepolticaseconstri,sobretudoapartirdainvalidaodos princpios liberais, que no encontrariammaiscorrespondncianarealidadehistricado ps-guerra (1914-1919). Assim, se na suaorigemoliberalismotevesuarazodeser,nomomentomostra-seincapazderesolverosproblemasadvindosdoseuprpriodesenvolvimento(cf.Velloso,1983,p.87).Nodiscursogovernista,oliberalismoapenastrouxeaconcorrnciadesenfreadanomercadointernoenomercadointernacional,osrigoreseasdesigualdadesna luta pela vida, os conflitos entre as classesdivididaspelascondiesdefortuna,alutadohomemcontraohomem(cf.Andrade,1941,p.11-12).Poroutrolado,osocialismoe o comunismo apareceriam como viles paraogovernoporpregaremumatotaligualdadedaspessoas,queseuniriamparaconstruirumanaoqueemumfuturonoteria,ouno precisaria de um Estado. O totalitarismoconcentravanoEstadosuapropaganda,colocando-ocomocentrodanao,omotivopelo qual a populao trabalharia, motivo peloqualcadamembrodocorposocialdeveriadarseusangue,emproldesuagrandeza.OnovoEstadobrasileirofocavaoserhumano em suas preocupaes, no querendonemsuatotaldesintegrao,comoocorrerano liberalismo, nem sua completa estatizao,comoocorreranototalitarismo.SeriaumEstadocentralizadoquedelegariaparasiaresponsabilidadededirigirocidado,conduzindo-o a uma vida melhor, valorizandosuasatitudeseatribuindo-lhemritosporsuasconquistas,fornecendoincentivosnaforma de direitos e uma suposta participaonavidapoltica.IstoporqueointervencionismodoEstadonodeveriachegaraosexcessostotalitriosdenegaodomercadoedovaloreconmicodeumaliberdadeprivadadoindividuo.Estaeraessencialaoprpriodesenvolvimentoeconmicodopase,emdecorrncia,umapossibilidade de resoluo do problema social.Da porque no cabia combater a propriedadeprivada,massimtornartodosostrabalhadoresproprietriosemalgumsentido(Gomes,1983,p.135).Nesse contexto, a populao, ou os quenoerammembrosdaselitesdirigentes,recebeu grande ateno por parte do governo,tanto na propaganda de um novo Brasil comonaformulaodeleistrabalhistasenasrelaesentregovernantesegovernados.Otrabalhador transformou-se em exemplo paraa nao, sendo o homem que construiria umanovaptria.SeguindoasorientaesdeseuGetlioVargas(1882-1954)HENRIQUE WITOSLAWSKITEMAS & MATIZES - N 07 - PRIMEIRO SEMESTRE DE 2005 79 tutor, Vargas, o trabalhador brasileiro tornou-se, portanto, fonte de inspirao para a nao.Oregimevarguista,portanto,seopsfrontalmenteTeoriadoBranqueamento,difundidanoinciodosculoXXcomoumasoluoparaoatrasodoBrasiletambmtidacomoaexplicaoparaumfuturoinevitavelmenteruimparaanao.Essateoriadiziaqueomotivodoatrasonacionaleradadopelofatodeexistirumexcessodemisturasraciaisemterritriobrasileiro.Dessaforma,apredominnciadenegros,indgenasemestiosseriaacausadoatrasoindustrialeculturaldoBrasil.Sendoassim,asoluomaislgicaerpidaeraoembranquecimento da populao por meio daimigraoeuropia,que,deacordocomateoria,tinhamaisaptidoparaotrabalho ao contrrio de negros e mestios , seriamaiseficientee,pornatureza,eramaisevoludasocialeculturalmente.Porreunirestescaracteres,osimigranteseuropeuspoderiamconduziroBrasilaoprogresso.Apesardomovimentomodernistaterajudadoadesconstruiressaimagem,anegaoplenadateoriasedeuprincipalmenteapsadcadade1930.Ogovernoremodelouessaaparncianacional,mudouohomembrasileiro,transformandooqueeramotivodevergonhaeatrasoemorgulhonacionalerazoparaodesenvolvimento.Oquehaviasidocaracterizado como aspecto negativo, passariaporprofundasreformulaes:amisturadasraasdavaaopovobrasileiroumaspectototalmenteparticular,totalmenteseu,jquenenhuma nao do mundo possua ou poderiaimitaresteprocesso,oquepossibilitouumadistinoentreaEuropa,representantedavelhacivilizaodecadente,eaAmrica,espaodanovacivilizaoedofuturo(Oliveira,2003,p.327).Apartirdessenovoconceitosobreasorigensbrasileirasqueseverificariaaautenticidadedasrazesnacionais,buscandonopovobrasileiroanacionalidade.Construire,principalmente,implantaranacionalidadedeumpovoquenuncatevegrandesrefernciassobreoqueseriatalconceitoalgocomplicado,jquelevaumcertotempodetrabalho,oque,nocasobrasileiro,levoucercadevinteanos,ouseja,entreasdcadasde1920a1940.Essaidentificaopopularcomaculturanacionalecomabrasilidadefoiconstrudaatravsdamsicaedadana,porexemplo,comapromoodeconcursosdecarnavalpelosjornaisepelaprefeituradoDistritoFederal,osquaisincentivaramoaparecimentodasmarchinhascarnavalescas,almdadivulgaodeseuscantoresecompositores.Foi nesse perodo que o Rio de Janeirotornou-seocentrodaculturanacional,comseu carnaval sendo identificado como smbolodoBrasileosambaproduzidonosmorroscariocassendoelevadocondiodegneromusicaltipicamentebrasileiro.AcidadeOperrios - Tarsila do Amaral - 1933REPRESENTAES DA BRASILIDADETEMAS & MATIZES -N 07 - PRIMEIRO SEMESTRE DE 2005 80 apareceentocomoCoraodoBrasil,talcomoocorrenamsicaCidadeMaravilhosa,marchacarnavalescaquefezmuitosucessoapartirdestapoca.Pode-seacompanharocaminhopeloqualalgunsgnerosmusicaisforameleitoscomopopularesenacionaisemdetrimentodeoutros,quepassamaserclassificadoscomoregionais,sertanejosoufolclricos,confirmandoesseprocessodenacionalizaodacultura(Oliveira,2003,p. 329).Comrelaoaonacionalismoemconstruoevalorizaodamultiplicidadetnicaexistenteemterritriobrasileiro,valido citar Gilberto Freyre, que em sua obradnfaseunidaderacial,apontandoparaaafirmaodeumaexcepcionalidadescio-cultural,emparteherdadadePortugal,masaquidesenvolvidaatseuslimiteslgicosnaidiadeumademocraciaracial(Souza,2003,p.12),transformandoaherananegativadaescravidoemumasubstnciadignadesercelebrada,invertendoqualquerargumento de condenao ao povo brasileiro,oqueaparececommaiordestaquenaobraCasa Grande & Senzala. O governo combinouestanovaidentidadenacionalcomafiguradotrabalhador,construindoumexemplodecivilidadeeoferecendopopulaoumarealidentificao.Esta,inevitavelmente,seidentificariacomafiguradotrabalhador,emsuagrandemaioriamestiosenegros,umaimagem muito mais prxima da realidade dascidadesprincipalmente.Diversasmanifestaesculturaisforamentrelaadasaessanovaimagemdehomemnacional.Osamba,porexemplo,transformou-seemhinonacional.Dessemodo,umapessoasimplesfacilmenteseenxergarianafiguradeumtrabalhadormestio,quegostadecarnaval,sambaequetem no Rio de Janeiro sua cidade ideal, lindae sem problemas, onde a vida seria tranqilaecheiadebelezasnaturais.Torso - Anita Malfatti - 1917 Negro de Chapu e Perfil - Candido Portinari - 1935HENRIQUE WITOSLAWSKITEMAS & MATIZES - N 07 - PRIMEIRO SEMESTRE DE 2005 81 Ocorpoestsujeitosdinmicasdahistria.Esteopontodepartidadaanliseaquiefetuada.Ocorpodobrasileiro,portanto,foidefinidoapartirdaidiadebrasilidadesustentadapelamestiagemenavalorizaodosertanejoedotrabalhadorurbano,principalmenteemoposiosrepresentaesdeoutrasformasdegoverno,comooliberal,quenodavanfaseaocidadoesimaomercado,eosregimestotalitrios,quetinhamcomosmbolomximooEstadoenoohomem.Esseohomembrasileiroconstrudonoperodovarguistaequepermaneceatrecentementecomorepresentaoidealizadadopovobrasileiro,identificadatantonoBrasilcomonoexterior,principalmentenasidiaseimagensdebrasileirosvistoscomoumpovoanimado,quegostadesambaecarnavalequetemnomulatosuaprincipalexpressoeoRiodeJaneirocomoumadascidadesmaisconhecidasemtodoomundo.Oquesepodeconcluirqueaconstruoefetivadeumaidentidadeparaopovobrasileiroqueteveincioporvoltade1920efoiconcludanadcadade1940foiextremamentebemfundamentada,tendoemvistaosucessoinegveldesuapropagandaesuaaceitaosocial.Comincioemummovimentoartsticoaristocrtico,edevidamenteapropriadasporumgovernopopulistaquetinhanasgrandesconcentraespopulacionaissuamaiorbaseseapoio,anovaculturaeanovaidentidadenacionalformamaprincipalestratgiaadotadanaconquistapopular,aliadacriaodeleistrabalhistasepromoodafiguradeGetlioVargascomograndechefedeEstado,comocidadomaiordoBrasileguiadanaorumoaoprogresso.Texto recebido em abril de 2005.Aprovado para publicao em maio de 2005.SOBRE O AUTORHenrique Witoslawski Aluno do Curso de Graduao em Histria na Universidade Federal do Paran.Bolsista PIBIC/CNPq. Endereo eletrnico: [email protected], Almir. A bandeira, a democracia e o Estado nacional. Cultura Poltica -n. 35 - Rio de Janeiro,1941.ANDRADE, Mrio de. Aspectos da literatura brasileira. So Paulo: Livraria Martins Editora, 1943.GOMES, ngela Maria Castro. O redescobrimento do Brasil. In: . Estado Novo, ideologia e poder. Rio deJaneiro: Zahar Editora, 1983.LIPPI, Lcia Oliveira. Sinais de modernidade na Era Vargas: vida literria, cinema e rdio. In: FERREIRA,Jorge; DELGADO, Luclia Neves (Orgs.). O Brasil republicano: o tempo do nacional- estatismo (1930-1945). Riode Janeiro, Civilizao Brasileira, 2003.SOUZA,Jess.Asmetamorfosesdomalandro.In:CAVALCANTE,Berenice;STARLING,HelosaMariaGurgel; EISEMBERG, Jos. A cidade no mora mais em mim. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003.VELLOSO,MnicaPimenta.Culturaepoderpoltico:umaconfiguraodocampointelectual.In:LIPPI,Lcia Oliveira (Org.). Estado Novo, ideologia e poder. Rio de Janeiro, Zahar Editora, 1982.T&M T&M T&M T&M T&MREPRESENTAES DA BRASILIDADETEMAS & MATIZES -N 07 - PRIMEIRO SEMESTRE DE 2005 82 IMAGENSDOCORPOT E M A S & M A T I Z E SGrande Odalisque - Jean-Auguste-Dominique Ingres - 1814Hermaphrodita - Pontormo (Jacopo Carucci) -1537Study for the Human Body - Francis Bacon - 1949 Circus Hand - Hamish MacEwan - 1949