2.5 - fragmenta-me - estilhaça-me - tahereh mafi

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Um

–Addie? Addie, acorde. Addie.

Eu rolo com um gemido e um alongamento,esfregando os dois olhos com a

palma da minha mão. É muito cedo pra essamerda.

– Addie.

Continuo meio dormindo, eu pego Jamespelo colarinho e o empurro para baixo

do cobertor. Ele grita e eu rio, envolvendo-onos lençóis até ele não poder sair.

– Pareeeeee, ele chora, batendo com seuspequenos punhos nos lençóis. – Addie,

me deixe sair.

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– Ei – quantas vezes eu já te disse para pararde me chamar disso?

James tenta me socar através do cobertor.Eu pego ele e o lanço sobre meus

braços e ele grita, suas pernas chutandodescontroladamente.

– Você é tão mau, – ele chora, se contor-cendo no meu aperto. – se Kenji

estivesse aqui, ele nunca deixaria v –

Nisso, eu congelo, e James pode sentir. Elefica quieto em meus braços, e eu o

deixo sair. Ele se desenrola de meus lençóis,e nós nos encaramos.

James pisca. Seu lábio inferior treme e ele omorde.

– Você sabe se ele está bem?

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Eu balanço minha cabeça.

Kenji continua na ala médica. Ninguém sabeainda, com certeza, o que

aconteceu, mas as pessoas andam falando.Sussurrando.

Eu olho para a parede. James continuafalando, mas eu estou muito distraído

para prestar atenção.

É difícil para eu acreditar que Juliette poder-ia machucar alguém assim.

– Todo mundo disse que ele se foi, – Jamesestá dizendo agora.

Isso, eu ouço.

– O quê? – eu viro, alarmado. – Como?

James encolhe os ombros.

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– Eu não sei. Eles disseram que ele saiu deseu quarto.

– Do que você está falando?Como ele poder-ia sair de seu quarto–?

James encolhe os ombros de novo.

– Eu acho que ele não queria mais ficar aqui.

– Mas, o quê? – Eu faço uma careta, confuso.– Isso significa que ele está

melhor?Alguém te disse que ele está melhor?

Ele faz uma carranca.

– Você quer que ele se sinta melhor? Eu pen-sei que você não gostasse dele.

Eu suspiro. Corro uma mão através da partede trás do meu cabelo.

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– É claro que eu gosto dele. Eu sei que nósnão nos damos muito bem, mas é

muito perto aqui, e ele sempre tem tantasmalditas opiniões –

James me atira um olhar estranho.

– Então... Você não quer matar ele?Você estásempre dizendo que quer matar

ele.

– Eu não estou falando sério quando digoisso. – Tento não rolar meus olhos. –

Eu e ele somos amigos por um bom tempo.Eu estou preocupado com ele.

– Okay, – James diz cuidadosamente. –Vocêé estranho, Addie.

Eu não consigo não rir um pouco.

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– Porque eu sou estranho? E, ei, pare de mechamar de Addie, você sabe o

quanto eu odeio isso –

– É, e eu ainda não sei por quê. – Ele mecorta. – Mamãe sempre te chamava de

Addie.

– Bem, mamãe está morta, não está? –Minha voz saiu rude. Minhas mãos estão

cerradas. E quando eu vejo a expressão norosto de James, eu instantaneamente me

sinto culpado por ter sido tão áspero. Eusolto meus punhos. Dou uma longarespiração.

James engole com dificuldade.

– Desculpa, – ele diz silenciosamente.

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Eu aceno, e olho para longe.

– É. Eu também. – Eu puxo uma camisetasobre a minha cabeça. – Então Kenji

se foi, hein? Eu não acredito que ele se foiassim.

– Porque Kenji iria embora? – James per-gunta. – Eu pensei que você tinha dito

que nem sabia se ele e –

– Mas eu pensei que você tinha dito –

Nós paramos, encarando um ao outro.

James é o primeiro a falar.

– Eu disse que o Warner se foi. Todo mundoestá dizendo que ele escapou ontem

à noite.

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Só o som do nome dele e eu já estou irritado.

– Fique aqui, – eu digo, apontando paraJames e pegando minhas botas.

– Mas –

– Não se mexa até eu voltar! – Eu grito antesde sair pela porta.

Aquele bastardo. Eu não consigo acreditarnisso.

Eu estou batendo na porta de Castle quandoIan me vê no seu caminho para o

hall.

– Ele não está aí, – diz Ian, ainda andando.

Eu pego seu braço.

– É verdade? Warner realmente saiu?

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Ian suspira. Empurra suas mãos para seusbolsos. Finalmente, ele concorda.

Eu quero atravessar meu punho na parede.

– Eu tenho que ir me vestir, – Ian diz indoembora. – E você também devia. Nós

estamos saindo depois do café da manhã.

– Você está falando sério? – eu digo – Nósainda estamos saindo pra lutar,

mesmo com toda essa merda acontecendo? –

– Claro que estamos – Ian estala para mim –Você sabe que não podemos esperar

muito mais. O supremo não vai reagendarseus planos para atacar os civis. É muito

tarde para desistir. –

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– Mas e o Warner? – eu exijo – Nós não va-mos tentar encontrá-lo? –

– Talvez – Ian encolhe os ombros – Veja sevocê consegue encontrá-lo no campo

de batalha. –

– Jesus. – Eu estou tão cheio de raiva quequase não consigo enxergar direito –

Eu poderia matar Castle por deixar issoacontecer – por ser tão suave com ele –

– Controle-se, cara – Ian me corta – Nóstemos outros problemas. E olhe – ele

pega meu ombro e me olha nos olhos – vocênão é único que está irritado com Castle.

Mas agora não é a hora.

James tem todos os tipos de perguntasquando eu volto, mas eu continuo com

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tanta raiva que eu não consigo lidar com ele.Isso parece não importar, James é teimosocomo o inferno. Eu estou amarrando meuscoldres e travando as minhas armas nos

lugares e ele não desiste.

– Mas o que ele disse? – James está pergunt-ando – Depois que você disse que

nós deveríamos encontrar o Warner? –

Eu ajusto minhas calças, aperto os laços nasminhas botas.

James bate no meu braço.

– Adam, – ele bate no meu braço de novo –Ele sabe onde Castle está? – Outra

vez – Ele disse que horas vocês tem que sairhoje? – Ele me bate mais vezes – Adam

quando v–

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Eu o pego e ele guincha; Eu coloco ele numcanto bem longe no quarto.

– Addie, –

Eu jogo um cobertor em sua cabeça.

James grita e se debate com o cobertor atéele conseguir tirar e jogá-lo fora. Ele

está vermelho e seus punhos estão cerrados eele está furioso.

Eu começo a rir. Não consigo segurar.

James está tão frustrado que ele tem quecuspir as palavras quando ele fala.

– Kenji disse que eu tenho o mesmo direitode saber o que acontece aqui em

baixo tanto quanto qualquer outro. Kenjinunca fica bravo quando eu faço perguntas.

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Ele nunca me ignora. Ele nunca é maucomigo, e você está sendo m-mau comigo, eeu

não gosto quando você r-ri de mim –

A voz dele quebra, e é só assim que eu olhopara cima. Eu noto as lágrimas

riscando suas bochechas .

– Ei, – eu digo, encontrando-o ao atravessaro quarto – Ei, ei. – Eu seguro seus

ombros e desço em um joelho. – O que estáacontecendo? Porque as lágrimas? O que

aconteceu? –

– Você está indo. – James soluça.

– Ah, vamos lá – eu suspiro – Você sabia queeu estava indo, lembra? Lembra

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quando nós falamos sobre isso?

–Você vai morrer. – Outro soluço.

Eu levanto uma sobrancelha.

– Eu não sabia que você podia ver o futuro.

– Addie.

–Ei, –

– Eu não te chamo de Addie na frente deninguém! – James diz, protestando

antes de eu ter a chance de falar. – Eu nãosei por que você fica tão bravo. Você disseque amava quando a Mamãe te chamava deAddie. Porque eu não posso? –

Eu suspiro de novo ao levantar, e bagunçoseu cabelo enquanto isso. James faz

um som estrangulado e se afasta.

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– Qual é o problema? – Eu pergunto. Puxo aperna da minha calça para colocar

uma semi-automática no coldre que está em-baixo dela. – Eu tenho sido um soldado por

um longo tempo. Você sempre soube dosriscos. O que está diferente agora? –

James está quieto tempo suficiente para eunotar. Eu olho para cima.

– Eu quero ir com você, – ele diz, limpandoseu nariz com a mão trêmula. – Eu

quero lutar também.

Meu corpo se enrijece.

– Nós não estamos tendo essa conversa denovo.

– Mas Kenji disse–

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– Eu não dou a mínima para o que Kenjidisse! Você é uma criança de dez anos,

– eu digo – Você não vai lutar em nenhumaguerra. Não vai andar em nenhum campo de

batalha. Você me entendeu?

James me encara.

– Eu disse, Você me entendeu? – Eu andoaté ele e pego seus braços.

James vacila um pouco.

– Sim, – ele sussurra.

– Sim, o quê? –

–Sim, senhor. – ele diz, agora encarando ochão.

Eu estou respirando tão pesado que meupeito dói.

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– Nunca mais, – eu digo quietamente agora.– Nós nunca mais vamos ter essa

conversa novamente. Nunca mais.

– Okay, Addie.

Eu engulo com dificuldade.

– Me desculpe, Addie.

– Coloque seus sapatos. – Eu olho para aparede – É hora do café da manhã.

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Dois

– Oi.

Juliette está do lado da minha mesa, me en-carando como se estivesse nervosa.

Como se nós nunca tivéssemos feito issoantes.

– Ei, – eu digo.

Ver seu rosto ainda faz meu peito doer, masa verdade é, eu não tenho mais ideia

do que está havendo entre nós. Eu prometi aela que iria achar um jeito de passar por

isso – e eu tenho treinado como o inferno, eurealmente tenho – mas depois de ontem à

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noite, eu não vou mentir: eu estou um poucoapavorado. Tocar ela é mais sério do que

eu jamais tinha pensado.

Ela poderia ter matado Kenji. Eu ainda nãotenho certeza se não.

Mas até depois disso, eu ainda quero um fu-turo com ela. Eu quero saber se um

dia nós seremos capazes de nos acomodarem algum lugar a salvo e ficar juntos em paz.

Eu ainda não estou pronto para desistirdesse sonho, eu não estou pronto para desi-stir de nós.

Eu aceno para o lugar vazio.

– Você quer sentar?

Ela senta.

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Nós ficamos um tempo em silêncio, ela cutu-cando sua comida, e eu a minha.

Nós normalmente comemos a mesma coisatoda manhã: uma colherada de arroz, uma

tigela de caldo de legumes, um pedaço depão duro feito pedra e, nos dias bons, um

pequeno copo de pudim. Não é incrível, masfaz o seu trabalho, e nós normalmente

somos gratos por isso. Mas hoje nenhum denós parece ter apetite.

Ou voz.

Eu suspiro e olho para longe. Eu não sei porque é tão difícil falar com ela esta

manhã – talvez seja a falta de Kenji – mas ascoisas parecem diferentes ultimamente. Euquero muito estar com ela, mas estar com elanunca foi tão perigoso quanto parece

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agora. Todo dia nós nos sentimos mais dis-tantes. E às vezes eu acho que quanto maiseu tento segurar, mais ela tenta fugir.

Eu desejo que James se apresse e pegue seucafé da manhã. Ter ele aqui talvez

faça disso mais fácil. Eu me levanto e olhoem volta, só para achá-lo falando com um

grupo de seus amigos. Eu tento acenar paraele, mas ele está rindo de algo e nem me

nota. Ele é do tipo incrível. Ele é cara tão so-cial – e tão popular aqui – que ás vezes eume pergunto de onde vem. Em tantas coisas,ele é exatamente meu oposto. Ele gosta de

deixar bastante gente perto; eu gosto dedeixar bastante gente longe.

Juliette é a única exceção a esta regra.

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Eu olho de volta para ela e noto os círculosvermelhos ao redor de seus olhos e

como eles andam através do salão de jantar.Ela parece bem acordada e loucamente

cansada e ela parece não conseguir ficarparada; seu pé está batendo rápido embaixoda mesa e suas mãos estão tremendo umpouco.

– Ei, você está bem? – eu pergunto.

– Sim, absolutamente, – ela diz muito rapi-damente. Mas ela está sacudindo sua

cabeça.

– Você, hm, dormiu o suficiente ontem ànoite?

– Sim, – ela diz, repetindo a palavra algumasvezes. Ela faz isso ocasionalmente,

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repete a palavra de novo e de novo. Eu nãotenho certeza se ela está ciente disso.

– Você dormiu bem? – ela pergunta. Seusdedos batem na mesa, e depois nos

seus braços. Ela continua olhando ao redorda sala. Ela nem sequer me espera responderantes de dizer. – Você ouviu alguma coisasobre Kenji?

Então eu entendo.

É claro que ela não está bem. É claro que elanão dormiu ontem à noite. Ontem à

noite ela quase matou um de seus amigosmais próximos. Ela tinha acabado decomeçar

a confiar e não ter medo de si mesma; eagora ela está de volta onde começou.Merda.

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Eu já estou arrependido antes mesmo defalar.

– Não, ainda não – eu tremo – Mas, – Eudigo, tentando mudar de assunto – Eu

ouvi que as pessoas estão realmente irritadascom Castle pelo que aconteceu com

Warner. – Eu limpo minha garganta – Vocêsoube que ele saiu daqui?

Juliette derruba sua colher.

Cai no chão e ela parece não notar.

– Sim, – ela diz quietamente. Ela está pis-cando para seu copo de água, com seu

guardanapo nas mãos, dobrando e desdo-brando. – As pessoas estavam falando nos

corredores. Eles sabem como ele escapou?

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–Eu acho que não.

– Oh. – Ela diz isso algumas vezes também.

Ela soa estranha. Com medo, até. Juliettesempre foi diferente de todo mundo –

ela era como um louco e arisco gatinhoquando eu a vi pela primeira vez naquelacela –

mas ela vem ficando muito melhor ao passardos últimos meses. Uma vez que ela

começou a confiar em mim, as coisasmudaram. Ela evoluiu. Ela começou a falar(e

comer) mais e até ficou um pouco pretensio-sa. Eu amava a ver voltar à vida. Eu amava

ficar com ela, a ver ela achar a si mesma.

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Eu acho que essa experiência com Kenji real-mente a acuou.

Eu consigo dizer que ela está metade aqui,porque seus olhos estão desfocados e

suas mãos estão se movendo mecanica-mente. Ela faz muito disso. Ás vezes pareceque

ela desaparece, se retrai em um canto de seucérebro e fica lá um tempo, pensando sobrealguma coisa que ela nunca vai falar sobre.Ela está agindo como seu antigo eu, e agoraela está comendo o arroz frio em seu prato,grão por grão, contando baixinho cada

mordida.

Eu estou prestes a tentar falar com ela denovo quando James finalmente volta

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para a mesa. Eu me levanto imediatamente,agradecido pela oportunidade de acabar

com o momento estranho.

– Ei, amigão, porque não vamos nos des-pedir apropriadamente?

–Oh, – James diz, deslizando a bandeja namesa. – Okay, claro. – ele olha pra

mim antes de olhar para Juliette, que agoraestá mastigando cuidadosamente um grão de

arroz.

– Oi, – ele diz para ela.

Juliette pisca algumas vezes, seu rosto se in-vade em um grande sorriso no

momento em que ela nota ele. Isso muda ela,os sorrisos. E esses são os momentos que

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me matam um pouquinho.

– Oi, – diz ela, de repente tão feliz que vocêpensaria que James pendurou a lua

para ela. – Como você está? Você dormiubem? Você gostaria de sentar? Eu estava

comendo arroz, você quer arroz?

James já está corando. Ele provavelmentecomeria seu próprio cabelo se ela

pedisse. Eu rolo meus olhos e o arrasto paralonge, dizendo à Juliette que já estaremos devolta.

Ela concorda. Eu olho sob meu ombro en-quanto nós andamos e noto que ela não

parece se importar de se sentar sozinha porpouco tempo. Ela apunhala alguma coisa em

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seu prato e perde, e isso é a ultimo coisa queeu vejo dela antes de virarmos a esquina.

Três

– O que está acontecendo? Porque nós pre-cisamos conversar? – Mais perguntas

de James. Ele é uma maldita máquina deperguntas. – Está tudo bem? Você pode dizerà

Juliette para não comer meu café da manhã?– Ele estica seu pescoço para pegar um

relance dela, ainda sentada na mesa. – Ásvezes ela come meu pudim.

– Ei, – eu digo, segurando seus ombros. –Olhe para mim.

James se vira para me olhar.

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– O que está errado, Addie? – Ele procurameus olhos – Você não morrer, vai?

– Eu não sei, – eu digo à ele – Talvez, talveznão.

– Não diga isso, – ele diz quietamente, deix-ando seu olhar cair – Não diga isso,

não é bom falar assim.

– James.

Ele olha para cima novamente, dessa vezmais devagar.

Eu me ajoelho e o puxo para mais perto, des-cansando minha testa na dele. Eu

estou encarando o chão, e eu sei, que eletambém. Eu consigo ouvir nossos corações

batendo no silêncio.

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– Eu te amo, – eu finalmente digo para ele. –Você sabe disse, certo? Você

sempre vem primeiro. Tudo o que faço é to-mar conta de você. Proteger você. Te

sustentar.

James assente.

– É você primeiro. – Eu digo a ele. – Semprevocê primeiro e todos os outros

depois. E isso nunca vai mudar. Tudo bem?

James assente de novo. Uma lágrima cai nochão entre nós.

– Okay, Addie.

– Venha cá. – eu sussurro, puxando-o parameus braços. – Nós vamos ficar bem.

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James se agarra em mim, agindo mais comouma criança do que ele tem feito

em um longo tempo, e eu estou feliz de verisso. Às vezes eu me preocupo que ele está

crescendo muito rápido nesse mundo demerda, e penso que eu sei que não posso

protegê-lo de tudo. Eu continuo tentando.Ele tem sido a única coisa constante naminha vida desde que me lembro; Eu pensoque eu poderia me rasgar em pedaços sealguma

coisa acontecesse a ele.

Eu nunca vou amar alguém como eu amoesse garoto.

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Quatro

Depois do café da manhã, o refeitório estápraticamente vazio. James teve que ir

para a Safe Room com as outras crianças – eos idosos– que vão ficar, e todos estão sepreparando para sair. Algumas famíliasainda estão dizendo adeus. Juliette e eu es-tamos evitando contato visual por algunsminutos agora. Ela está encarando suasmãos,

estudando seus dedos como se estivessechecando que eles ainda estão lá.

– Que porra. Quem morreu?

Santo inferno. Essa voz. Essa cara.

Impossível.

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– Caramba. Puta merda. – Eu estou de pé.

– Bom ver você também, Kent – Kenji sorriamplamente e acena para mim. Ele

parece como o inferno. Olhos cansados,rosto pálido, mãos tremendo um pouco

enquanto ele se segura na mesa. E o que é pi-or, é que ele está vestindo seu traje, como seele na verdade achasse que está indo para ocampo de batalha. – Vocês estão prontospara chutarem alguns traseiros? –

Eu continuo encarando ele com assombro,tentando achar um jeito de responder,

quando Juliette pula e praticamente o der-ruba. Só um abraço, realmente, mascaramba.

É pouco cedo para isso, eu penso.

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– Wow – ei – obrigada, é – isso é – uh –Kenji limpa sua garganta. Ele tenta ser

legal com isso, mas está claro que ele estátentando se afastar de Juliette, e sim, elanota.

Sua expressão cai e ela fica pálida, seus olhosse arregalam. Ela esconde suas mãos nascostas, mesmo que ela esteja usando suasluvas. Não há nenhuma ameaça óbvia para

Kenji agora, mas eu entendo sua hesitação.

O cara quase morreu. Ele tentou separaruma briga ao mesmo tempo que

Juliette, e bam, ele caiu num instante. Foiassustador como o inferno – mesmo que eusaiba que Juliette não teve a intenção defazer isso, não há outra explicação. Tinhaque ser ela.

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– É, hm, talvez você devia deixar de tocar emmim por um tempo, sim? – Kenji

está sorrindo, de novo, cara legal, mas nin-guém está acreditando. – Eu ainda não estoumuito firme em meus próprios pés ainda. –

Juliette parece tão mortificada que quebrameu coração. Ela está tentando tanto

ficar bem, para fazer toda essa merda ficarbem, mas às vezes parece que o mundo não

deixa. Os golpes continuam chegando, e elacontinua se machucando. Eu odeio isso.

Eu tenho que dizer alguma coisa.

– Não foi ela, – eu digo à Kenji. Eu lhe atiroum olhar afiado. Deixe ela em paz, eu façocom a minha boca. – Você sabe que ela nemte tocou. –

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– Eu não sei disso, na verdade, – Kenji diz,ignorando minhas dicas subjetivas paramudar de assunto. – E não é como se eu est-ivesse culpando ela, eu só estou dizendo quetalvez ela esteja projetando e não sabe, okay?Porque da ultima vez que eu chequei, eu nãoacho que nós temos alguma explicação parao que aconteceu ontem à

noite. Eu tenho certeza como o inferno quenão foi você, – ele diz para mim – e merda,pelo que nós sabemos, Warner ser capaz detocar na Juliette poderia ser só uma casual-idade. Nós não sabemos nada sobre eleainda. – uma pausa – Certo? A menos que

o Warner tirou um tipo de coelho mágico doseu traseiro enquanto eu estava ocupado

estando morto ontem à noite?

Eu faço uma carranca. Olho para longe.

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– Certo, – Kenji diz – Foi isso o que eu pen-sei. Então. Eu acho que é melhor se,

a não ser que seja absolutamente necessário,eu ficar longe. – Ele se vira para Juliette –

Certo? Sem ofensas, okay? Quer dizer, euquase morri. Eu acho que você poderia me

dar uma folga.

– Sim, claro. – Juliette diz quietamente. Elatenta rir mas sai errado. Eu queria

que eu pudesse alcançar ela; eu queria queeu pudesse enrolá-la em meus braços. Eu

quero proteger ela, eu quero poder tomarconta dela, mas isso parece impossível agora.

– Então de qualquer maneira, – Kenji diz, –quando nós estamos saindo?

Isso chama a minha atenção.

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– Você é louco, eu digo a ele, você não vai alugar nenhum.

– Claro que vou.

– Você mal consegue ficar de pé sozinho.

– Eu preferiria morrer lá fora a ficar aquisentado como uma espécie de idiota.

– Kenji, – Juliette tenta dizer.

– Eeeei, então ouvi que Warner tirou suabunda daqui ontem à noite, – Kenji

olha para nós – O que foi aquilo?

– É, – Eu digo, com meu humor escurecendo– Quem sabe. Eu nunca pensei que

manter ele aqui como refém era uma boaideia. Mais estúpido ainda foi confiar nele.

Kenji levanta uma sobrancelha.

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– Então primeiro você insulta minha ideia, edepois Castle, hm?

– Foram ideias ruins, – Eu digo a ele, me re-cusando a voltar atrás. – Ideias ruins.

Agora nós temos que pagar por isso. – Foiideia de Kenji manter Warner refém, e de

Castle deixar ele sair de seu quarto. E agoraestamos todos sofrendo por isso. Às vezes euacho que todo esse movimento é liderado porum bando de idiotas.

– Bem, como eu poderia saber que Andersonseria tão disposto a deixar seu

próprio filho apodrecer no inferno?

Eu estremeço involuntariamente.

A lembrança que meu pai e sua disposição defazer isso à seu próprio filho é

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muito para mim esta manhã. Eu engulo abile que avança em minha garganta.

Kenji percebe.

– Oh, ei, desculpe cara, eu não quis dizerassim...

– Esqueça, – Eu digo a ele. Eu estou con-tente que Kenji não está morto, mas às

vezes eu realmente quero chutar sua bunda.– Talvez você deva voltar para a ala

médica. Nós estamos saindo logo.

– Eu não estou indo a lugar algum a não serfora daqui.

– Kenji, por favor – Juliette de novo.

– Não.

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– Você está sendo irracional. Isso não é umapiada. – Ela diz a ele. – Pessoas vão

morrer hoje.

Kenji ri dela.

– Me desculpe, você está tentando ensinar amim sobre as realidades da guerra?

– Ele balança a cabeça – Você esqueceu queeu fui um soldado no exército de Warner?

Você tem ideia do quão louco essa merdatem sido? – Ele gesticula para mim. – Eu sei

exatamente o que esperar hoje. Warner erainsano. Se Anderson é pelo menos duasvezes pior do que seu filho, então nós es-tamos rumando para um banho de sangue.Eu

não consigo deixar vocês se enforcaremdesse jeito.

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Juliette está congelada, seus lábios separa-dos, seus olhos arregalados e horrorizados.Suas reações parecem um pouco exageradas.

Há realmente algo errado com ela hoje.

Eu sei que parte do que ela está sentindo temhaver com Kenji, mas de repente

eu não tenho certeza se não há algo mais. Al-guma coisa que ela não está me dizendo.

Eu não consigo lê-la claramente.

E de novo, eu sinto que não sou capaz de lê-la a um bom tempo.

– Ele era realmente tão ruim? – Juliettepergunta.

– Quem? – Kenji e eu perguntamos aomesmo tempo.

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– Warner, – ela diz – Ele era assim tãocruel?

Deus, ela é tão obcecada por ele. Ela temuma estranha fascinação com sua vida

retorcida que eu não entendo, e me deixalouco. Eu já consigo me sentir ficando bravo,aborrecido – ciumento, até – o que éridículo. Warner não é nem humano; eu não

deveria ficar comparando ele a mim. Afinal,ela não é o tipo dele. Ele provavelmente

comeria ela viva.

Kenji, contudo, não parece ter o mesmoproblema. Ele está rindo tanto que

chega a arquejar.

– Cruel? Juliette, o cara é doente. Ele é umanimal. Eu não acho que ele saiba o

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que é ser humano. Se há um inferno, eu achoque é especialmente para ele.

Eu pego um vislumbre do rosto de Julietteantes de ouvir passos descendo o

corredor. Todos nós olhamos um para ooutro, mas eu olho para Juliette um segundoa

mais, desejando poder ler sua mente. Eu nãotenho ideia do que ela está pensando ou

porque ela continua tão horrorizada. Euquero falar com ela em particular – descobriro que está havendo– mas então Kenji acenapara mim, e eu sei que tenho que limpar

minha mente.

É hora de ir.

Todos nós começamos a andar.

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– Ei, então, Castle sabe o que você estáfazendo? – Eu pergunto a Kenji. – Eu

não acho que ele aceitaria você sair hoje.

– Castle quer que eu seja feliz. – Kenji diz. –E eu não ficarei feliz se ficar aqui.

Eu tenho trabalho a fazer. Pessoas para sal-var. Damas para impressionar. Ele respeita

isso.

– E todos os outros? – Juliette pergunta a ele– Todos estavam tão preocupados

com você, você já os viu? Para pelo menosdizer a eles que está bem?

– Nah, – Kenji diz. – Eles provavelmentecagariam um tijolo se soubessem que

eu estou indo. Eu penso que é mais seguromanter em segredo. Eu não quero

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enlouquecer ninguém. E Sonya e Sara –pobres crianças – elas passaram o inferno. É

minha culpa que elas estão exaustas, e elascontinuam falando sobre ir hoje. Elas

querem lutar mesmo sabendo que terãomuito trabalho, uma vez que acabarmos como

exército do Anderson. Eu tentei convencê-lasa ficar, mas elas podem ser tão

malditamente teimosas. Elas precisam eco-nomizar sua força, – ele diz. – e elas já

gastaram muito em mim.

– Não é um gasto, – ela diz.

– De qualquer maneira, – Kenji diz. – Nóspodemos ir? Eu sei que todos vocês

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estão caçando Anderson, – ele diz para mim– mas pessoalmente? Eu amaria pegar o

Warner. Colocar uma bala através daquelepedaço de merda e acabar com isso.

Eu estou prestes a rir, finalmente alguémconcorda comigo, quando eu vejo

Juliette se dobrar. Ela volta ao normalrápido o suficiente, mas ela pisca rápido erespira pesado, seus olhos fixos no teto.

– Ei, você está bem? – Eu a puxo para o ladoe estudo seu rosto. Às vezes ela me

assusta como o inferno. Eu me preocupocom ela quase tanto quanto eu me preocupo

com James.

– Eu estou bem, – ela diz muitas vezes.Acenando e balançando a cabeça de

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novo e de novo. – Eu só não dormi o sufi-ciente ontem à noite, mas eu vou ficar bem.

Eu hesito.

– Você tem certeza?

– Eu estou bem, – ela diz. E depois agarraminha camisa, com os olhos

selvagens. – Ei, só seja cuidadoso lá fora,okay?

Eu concordo, mais confuso a cada segundo.

– É, você também.

– Vamos lá, vamos lá, vamos lá – Kenji nosinterrompe. – Hoje é nosso dia de

morrer, senhoritas.

Eu relaxo e lhe dou um empurrão de leve. Ébom tê-lo em volta, para quebrar a

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monotonia nesse lugar.

Kenji me dá um soco no braço. – Entãoagora você está abusando da criança

aleijada, hein?

Eu rio, e o sacudo.

– Deixe sua angústia para o campo debatalha, bro. – ele sorri. – Você vai

precisar.

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Cinco

Está chovendo como o inferno.

Está frio e molhado e lamacento e de merdae eu odeio isso. Eu faço uma

carranca para Kenji e Juliette, com inveja deseus trajes chiques. Aquelas coisas foramfeitas para dar proteção a eles desse clima deinverno louco. Eu deveria ter pedido um.

Eu já estou congelando minha bunda.

Nós estamos na clareira, o trecho estéril naentrada do Ponto Ômega, e quase

todo mundo se dispersou. Nossa única de-fesa é de guerrilha, então nós fomosdivididos

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em grupos. Eu, um Kenji doente, quase-capaz-de-andar-reto e Juliette – que

oficialmente se trancou em sua própriacabeça hoje, – esse é o nosso time.

É, estou definitivamente preocupado.

De qualquer maneira, Kenji está fazendo seutrabalho, nós já estamos invisíveis.

Mas agora é hora de achar a ação e nos jun-tar a ela. Os sons de tiros soam altos e claros,então nós seguimos isso. Ninguém fala, masnós já sabemos as regras: nós lutamos para

proteger os inocentes, e nós lutamos parasobreviver. É isso.

A chuva está realmente estragando as coisas.Está chovendo mais forte, batendo no meu

rosto e embaçando minha visão, eu mal con-sigo ver direito. Eu tento secar a água dos

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meus olhos, mas é inútil. Tem muita.

Eu sei que estamos chegando perto dos com-plexos, pelo menos ainda está lá. Os

esboços das construções entram em foco e eume sinto ficando animado. Eu estou

armado até os dentes e pronto para lutar,pronto para fazer qualquer coisa para der-rubar O Restabelecimento, mas eu não voumentir: Eu continuo preocupado que nósestamos

em desvantagem.

Juliette nunca fez isso antes.

Se fosse por mim, ela voltaria para a basecom James, onde eu poderia saber que

ela está a salvo, mas ela não me ouviria nemse eu a pedisse. Kenji e Castle estão

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sempre dando trela quando não deveriam, ehonestamente? É perigoso. Não é bom fazê-

la pensar que pode fazer esse tipo de coisa,quando pode acabar a matando. Ela não é

um soldado, ela não sabe como lutar, e elanão faz ideia de como usar seus poderes, nãorealmente, o que faz as coisas piores. É comodar a uma criança uma banana de

dinamite e dizer a ela para andar no fogo.

Então sim, eu estou preocupado. Eu estourealmente preocupado que alguma

coisa vai acontecer a ela. E talvez a nós, porextensão.

Mas ninguém nunca me escuta, então aquiestamos.

Eu suspiro e avanço, irritado, até eu ouvirum grito agudo distante. Alerta

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máximo. Kenji aperta minha mão e eu apertoa sua para ele saber que entendi.

Os complexos estão logo a frente, e Kenji nosempurra para frente até nós

estarmos contra a parede de trás de umaunidade. Há o suficiente de um beiral para

barrar a chuva. É só azar meu que nós es-tamos fazendo isso num dia chuvoso. Minhas

roupas estão tão molhadas que parece que eumijei nas calças.

Kenji me acotovela, só um pouco, e eu estouprestando atenção novamente. Eu

ouço uma porta bater e eu me enrijeço, eu al-canço minha arma automaticamente. Parece

que eu já fiz isso milhões de vezes, mas eununca me acostumo.

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– Essa é a ultima, – uma voz grita. – Ela es-tava se escondendo ali.

Um soldado está carregando uma mulherpara fora de sua casa e ela não vai

parar de gritar. Meu coração se acelera, e euaperto minha arma mais firmemente. É

doente, o jeito como alguns soldados tratamos civis. Eu acredito que ele esteja sob

ordens – eu realmente faço – mas a pobremulher está implorando por misericórdia eele está a carregando pelos cabelos e grit-ando para que cale a boca.

Kenji está quase não respirando do meulado. Eu vislumbro Juliette antes de

lembrar que ela está invisível, e quando euviro minha cabeça, eu vejo outro soldado.

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Ele corre pelo campo e dá ao primeiro cara,um sinal. Não o tipo de sinal que eu estavaesperando.

Merda.

– Coloque-a com os outros, – o outrosoldado está dizendo. – E depois nós

damos esta área como limpa. – De repenteele sumiu na esquina, e ninguém sobra além

de nós, um soldado, e a senhora que ele estásegurando como refém. Outros soldados

devem ter rondado os outros civis antes denós chegarmos.

Então a mulher perde a cabeça. Ela estácompletamente histérica e não parece

mais conseguir controlar seu próprio corpo.Ela ficou totalmente animalesca,

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guinchando e arranhando e batendo,tropeçando em seus próprios pés. Ela estágritando

por seu marido e sua filha e eu quase tenhoque fechar meus olhos. É difícil assistir

essas coisas acontecendo. Às vezes eu medeixo ficar animado por ir para a batalha –eu tenho que convencer a mim mesmo queeu estou fazendo alguma coisa útil – maslutar

com um soldado é mais fácil do que lidarcom uma senhora que está prestes a assistir

sua filha levar um tiro na cabeça.

Juliette provavelmente vai vomitar.

A ação é tão perto de nós que eu instintiva-mente pressiono minhas costas na

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parede, esquecendo de novo que nós estamosinvisíveis. O soldado pega a senhora e

joga seu corpo contra a parede da unidade, eeu sinto nós três surtarmos coletivamentepor um segundo, nos acalmando bem nahora de assistir o soldado pressionar a pontade

sua arma no pescoço da senhora e dizer:

– Se você não calar a boca, eu atiro agora.

Que babaca.

A senhora desmaia.

O soldado parece não se importar. Ele a em-purra para fora de sua vista, na

mesma direção que seu camarada estava, eesta é nossa deixa para seguir. Eu consigo

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ouvir Kenji xingar em sua respiração. Eletem um estômago sensível, esse cara. Ele

sempre foi sensível quando essas coisasacontecem. Eu encontrei ele pela primeiravez

em uma de nossas rondas; quando nósvoltamos, Kenji perdeu a cabeça. Perdeu-a

completamente. Eles o colocaram em confin-amento por um tempo, e depois disso ele

manteve seus colapsos emocionais menores.A maioria dos soldados sabem melhor do

que reclamar em voz alta. Eu deveria saberque Kenji não era realmente um de nós.

Eu estremeço com o frio.

Nós continuamos seguindo o soldado, mas édifícil nos manter muito perto dele

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com esse clima. A visibilidade é ruim, e ovento está soprando a chuva e é quase como

nós estivéssemos no meio de um furacão.Isso vai ficar feio muito rápido.

– O que você acha que está acontecendo? –diz uma voz baixa.

Juliette.

É claro que ela não sabe o que está aconte-cendo, por que ela saberia?

A coisa mais esperta a se fazer seria escondê-la em algum lugar. Mantê-la a

salvo. Fora do perigo. Um elo mais fraco po-deria trazer tudo a baixo, e eu não acho queessa é a hora de se arriscar. Mas Kenji, comosempre, não parece concordar.

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Aparentemente ele não parece se importarem dar à Juliette um tutorial de estar emuma guerra no Setor 45.

– Eles estão juntando todos, – Kenji explica.– Eles estão criando grupos de

pessoas para matá-los de uma vez.

– A mulher, – Juliette diz.

– É. – Kenji a corta. – É, – Kenji diz de novo.– Ela e qualquer outro que eles

pensem que está conectado aos protestos, –ele diz. – Eles não matam só os que

começaram. Eles matam os amigos e osmembros da família também. É o melhorjeito

de manter as pessoas na linha. Nunca falhaassustar os que sobraram vivos.

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Eu tenho que interromper antes que Juliettefaça mais perguntas. Aqueles

soldados não vão esperar pacientemente nóschegarmos lá, nós temos que nos mover

agora, e nós precisamos de um plano.

– Tem que haver um jeito de tirá-los de lá, –eu digo. – Talvez nós poderíamos

pegar os soldados encarregados...

– Sim, mas escutem, vocês sabem que eu vouter que deixá-los, okay? – Kenji

pergunta. – Eu meio que já estou perdendoforça; minha energia está sumindo mais

rápido do que o normal. Então vocês estarãovisíveis. Vocês serão um alvo visível.

– Mas que escolha nós temos? – Juliettepergunta.

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Ela é como um segundo James. Eu sinto aminha arma, flexionando meus dedos

em volta dela. Nós precisamos ir.

Nós precisamos nos mover, agora.

– Nós poderíamos tentar derrubá-los com oestilo franco-atirador, – Kenji diz. –

Nós não precisamos entrar em combatedireto. Nós temos essa opção, – ele pausa. –

Juliette, você nunca esteve nesse tipo de situ-ação antes. Eu quero que você saiba que eurespeito sua decisão de ficar fora da linha defogo. Nem todo mundo tem estômago para

o que estamos prestes a ver se seguirmosesses soldados. Não há vergonha ou culpa

sobre isso.

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Sim. Bom. Deixe ela ficar para trás onde nãopoderá se machucar.

– Eu ficarei bem. – ela diz.

Eu xingo em minha respiração.

– Então, tudo bem, mas não fique com medode usar suas habilidades para se

defender, – Kenji diz. Ele parece um pouconervoso sobre ela também. – Eu sei que

você é toda estranha, com essa coisa de nãoquerer machucar as pessoas ou seja o que

for, mas esses caras não estão de brin-cadeira. Eles vão tentar te matar.

– Certo, – Juliette diz. – Sim, vamos lá.

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Seis

Juliette não deveria ter que ver isso.

Seis soldados rodearam quase trinta civis,uma mistura de homens, mulheres e

crianças, e eles vão matá-los, é quase umpelotão de fuzilamento. Eles vão

simplesmente atirar, pop pop pop, e depoiscarregar os corpos para longe. Colocá-los

em um incinerador. Limpar tudo, bom esimples.

É nojento.

Eu não tenho certeza do que os soldados es-tão esperando. Talvez eles precisem

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de uma ordem de alguém, mas há um ligeiroatraso quando eles andam entre eles

mesmos. Está chovendo malditamente forte,talvez tenha a ver com isso. Honestamente,

eles talvez nem sejam capazes de ver ondeestão atirando. Nós deveríamos tirar

vantagem dessa oportunidade. Esse climatalvez nos ajude no final as contas.

Eu semicerro os olhos contra a chuva e olhomais de perto as pessoas, tentando

muito não perder minha cabeça. Eles não es-tão lidando muito bem, nem eu, para ser

honesto. Alguns estão realmente histéricos, eme faz pensar como eu reagiria a uma

situação como esta. Talvez eu ficaria igual aocara do meio, ficando lá sem nenhuma

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expressão no rosto. Ele quase parece queaceitou o que vai acontecer, e de alguma

forma, ele certamente me acerta mais fortedo que as lágrimas.

Um tiro soa.

Merda.

Um cara na esquerda cai no chão e eu estoutremendo de raiva. Essas pessoas

precisam da nossa ajuda. Nós não podemosnos segurar e assistir trinta pessoas

inocentes e desarmadas serem mortas,quando nós poderíamos achar um jeito desalvá-

los. Nós deveríamos estar fazendo algumacoisa, mas nós estamos aqui parados poruma

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razão de bosta que eu não consigo entenderporque Juliette está assustada ou Kenji estádoente e eu acho que a verdade é que nóssomos um bando de adolescentes de merda,e

dois quais não conseguem ficar em pé direitoou dispara uma arma, e é inaceitável. Eu

estou prestes a dizer algo, – eu estou prestesa gritar alguma coisa, na verdade– quandoKenji solta a minha mão.

No maldito tempo certo.

Nós vamos reto e minha arma já está paracima e apontada. Eu atiro no soldado

que disparou o primeiro tiro e eu sei que eupreciso atirar; não há tempo para hesitação.

Eu tenho sorte, ele cai instantaneamente.Mais cinco soldados para derrubar, –

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soldados que eu estou torcendo para não re-conhecer – e eu estou fazendo o meu melhor,mas não

é fácil. Foi pura sorte que acertei o primeirotiro, é quase impossível atirar bem nesseclima. Eu quase não consigo ver onde eu es-tou indo, muito menos onde eu onde estou

atirando, mas eu me jogo no chão a tempo dedesviar de uma bala. Ao menos a chuva

está dificultando para eles também.

Kenji está fazendo milagres aconteceremhoje.

Ele está invisível agora, e trabalhandorápido. Ele está afiado apesar de estar

ferido, e ele é somente parte do vento, der-rubando três soldados em uma vez. Dois

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soldados sobram e eles estão distraídos coma dança de Kenji tempo suficiente para eu

derrubar um. Um sobra e eu estou prestes aderrubá-lo, quando eu vejo Juliette atirar

nele pelas costas.

Não foi ruim.

Kenji reaparece só depois e ele começa a ber-rar para os civis para nos seguir

para um abrigo, e Juliette e eu nos juntamos,fazendo o que podemos para deixá-los a

salvo o mais rápido possível. Ainda há algunscomplexos de pé, e eles deveriam ser

suficiente. Os civis conseguem entrar e ficarfora da batalha. E até pensei que a gratidãodeles é tocante, mas não podemos parar portempo suficiente para falar com eles. Nós

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temos que mandá-los para suas casas, e en-tão continuar nos movendo.

É tudo o que eu sempre fiz.

Sempre me movendo.

Eu olho para Juliette enquanto corremos,imaginando como ela está aguentando,

e por um segundo eu estou confuso; eu nãoconsigo dizer se ela está chorando ou se é sóa chuva escorrendo em suas bochechas. Euespero que ela fique bem. Me mata ver ela

lidar com isso. Eu desejei que ela não tivesse.

Nós estamos correndo de novo, passandopelos complexos agora que nós

colocamos os civis em suas casas. Isso foi sóuma pausa no caminho para o nosso

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destino final; nós nem chegamos ainda nocampo de batalha, onde os homens e

mulheres do Ponto já estão tentando deter ossoldados do Restabelecimento de abater

civis inocentes. As coias estão pra ficarmuito, muito piores.

Kenji está nos empurrando por uma pais-agem meio demolida. Eu sei que nós

estamos chegando mais perto da ação agora,porque há muito mais devastação aqui:

unidades caídas e metade pegando fogo, seusconteúdos espalhados por todos os lados.

Sofás rasgados, lâmpadas quebradas, roupase sapatos e corpos caídos para desviar. Os

complexos parecem se estender para sempre,e quanto mais longe nós vamos pior fica.

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– Nós estamos perto! – Eu grito para Kenji.

Ele acena, e eu estou surpreso que ele meescutou.

Eu ouço um som familiar.

– Tanques! – eu grito para ele. – Você ouviuaquilo?

Kenji me atira um breve olhar e acena.

– Vamos nos mexer! – ele diz, fazendo ummovimento com a mão. – Nós não

estamos longe agora.

É uma luta para chegar no campo de batalha,o vento está assoviando em nossos

ouvidos e batendo afiado nos nossos rostos,gotas raivosas de chuva batem na nossa

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pele, encharcando nossos cabelos. Eu estoucongelado até os ossos mas não há tempo

para se preocupar com isso. Eu tenho a ad-renalina, e isso tem que ser suficiente.

A terra treme sob nossos pés, um trovão ex-plode no céu. Em um instante o

horizonte está aceso com fogo, chamas ru-gindo na distância. Alguém está jogando

bombas, e isso quer dizer que estamos ferra-dos. Meu coração está batendo mais rápido

e com mais dificuldade, e eu nunca vou ad-mitir isso em voz alta, mas eu estou

começando a ficar nervoso.

Eu olho para Juliette de novo. Eu sei que elaprovavelmente está assustada, e eu

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quero tranquilizá-la, e dizer que tudo vaificar bem, mas ela não olha na minhadireção.

Ela está em outro mundo, seus olhos frios eafiados, focados no fogo no horizonte. Elaparece diferente, um pouco assustadora até.De algum jeito, isso me preocupa muito

mais.

Eu estou prestando tanta atenção nela, queeu quase tropeço; o chão está

escorregadio e eu estou com lama até ostornozelos. Eu livro minhas pernas enquanto

avançamos, a arma estável na minha mão, efocada. É isso. Isso é quando está para ficarmuito sério, e eu sei o suficiente sobre guerrapara ser honesto comigo mesmo: Eu

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posso entrar no campo de batalha com umcoração batendo e ser carregado com umsem

bater.

Eu respiro fundo quando nos aproximamos,três crianças invisíveis andando

pelos complexos. Nós fazemos nosso cam-inho pelas unidades, vidros quebrados de

janelas estilhaçadas; nós desviamos do lixoespalhado e tentamos não ouvir o som de

pessoas gritando. E eu não sei sobre os out-ros, mas eu estou fazendo o meu melhor paranão correr de volta para onde começamos.

De repente, James é a única pessoa na minhamente.

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Sete

Merda.

Isso é pior do que eu esperava. Há corposcaídos em todos os lugares, caídos e

empilhados juntos e sangrando uns nos out-ros. É quase impossível distinguir pernas de

braços, inimigos de aliados. Sangue e chuvaestão se misturando e inundando o chão, e

de repente minhas botas estão escorregadiascom lama e sangue de alguém, morto ou

vivo, eu não sei.

Leva um segundo para os combatentes in-imigos perceberem que somos novos

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no campo de batalha; quando fazem, nãohesitam. Nós já estamos dentro do campo, e

eu olho para trás em tempo de vislumbrarJuliette e Kenji que estão fazendo seus

caminhos para frente antes de eu sentir umabatida afiada nas minhas costas. Eu me

viro, e um segundo depois meu soldado temuma mandíbula quebrada. Ele se dobra e

tenta alcançar sua arma, mas eu bato nele.Agora ele está no chão e desmaiado, e eu jáestou me movendo para o outro.

Nós estamos tão perto que o combate mão-a-mão parece ser inevitável; Eu

abaixo para evitar um golpe e acerto osoldado na garganta quando levanto, e pegouma

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faca no meu cinto. Dentro, para cima, viro eele cai. Eu puxo minha faca de seu peito

enquanto ele cai. Alguém me pega por trás eviro para encontrá-lo quando de repente

ele está tossindo sangue e caindo de joelhos.

Kenji salvou meu traseiro.

Ele está se movendo, e se movendo, aindanão deixando seu ferimento o atrasar.

Nós estamos lutando juntos, ele e eu, e euconsigo sentir seus movimentos atrás de

mim. Nós gritamos avisos um para o outro,ajudando um ao outro quando dá, e nós

estamos indo bem, indo contra a loucura,quando eu ouço Kenji gritando meu nome,

sua voz assustada e urgente.

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De repente eu estou invisível e Kenji estágritando para mim sobre Juliette e eu

não sei o que está acontecendo mas eu estousurtando e eu sei que não é hora para

perguntas. Nós lutamos para voltar para afrente e ir para a estrada, A voz em pânico deKenji está me dizendo que viu Juliette serderrubada e ser carregada, e é isto é tudo quepreciso ouvir. Eu estou uma parte furiosa euma parte aterrorizada, e as duas estãotendo uma batalha na minha cabeça.

Eu sabia que isso ia acontecer.

Eu sabia que ela nunca deveria ter vindoconosco. Eu sabia que ela deveria ter

ficado para trás. Ela não foi construída paraisso, ela não é forte o suficiente para estar nocampo de batalha. Ela ficaria muito mais

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segura se ficasse para trás. Porque nuncaninguém me escuta?

Merda.

Eu quero gritar.

Quando nós alcançamos a estrada, Kenji mepuxa para trás, e nós mal estamos

respirando e mal conseguindo falar, nóspegamos um vislumbre de Juliette e ela estána parte de trás de um tanque, seu corpomole e pesado enquanto eles a colocam ládentro.

E em questão de segundos. Eles já estãosaindo.

Juliette se foi.

Meu peito se quebra.

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Kenji tem uma mão firme no meu ombro eeu descubro que estou dizendo “Oh

Deus, oh Deus” de novo e de novo quandoKenji tem a decência de por algum senso em

mim.

– Se recomponha, – ele diz. – Nós precisam-os ir atrás dela.

Minhas pernas estão instáveis, mas eu seique ele está certo.

– Onde você acha que eles foram?

– Eles provavelmente a estão levando para abase...

– Merda. É claro! Warner...

– Quer ela de volta. – Kenji acena. – Eleprovavelmente mandou sua equipe para

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pegar ela. – Ele xinga em sua respiração. – Aúnica coisa boa sobre isso, é que ele não querela morta.

Eu aperto meus dentes para evitar de perdera cabeça.

– Então tá, vamos lá.

Deus, eu mal posso esperar para por minhasmãos naquele psicopata. Eu vou

desfrutar de matá-lo. Devagar. Com cuidado.Cortando-o em pedaços, um dedo de cada

vez.

Mas Kenji hesita, e eu o encaro.

– O que foi? – Eu pergunto.

– Eu não consigo projetar, bro. Minha ener-gia está baixa. – ele suspira. – Me

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desculpe. Meu corpo está seriamente debilit-ado agora.

Merda.

– Plano de contingencia?

– Nós podemos evitar as estradas principais,– ele diz. – Pegamos a estrada de

volta e vamos para a base sozinhos. Seriamais fácil localizar o tanque, mas se nós

fizermos, você estará a vista. É sua chamada.

Eu faço uma careta.

– Sim, eu voto pelo plano que não me matainstantâneamente.

Kenji sorri.

– Okay então. Vamos lá buscar nossa garota.

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– Minha garota, – eu corrijo ele. – Ela éminha garota.

Kenji bufa enquanto nós vamos em direçãoaos complexos.

– Certo. Menos a parte que na verdade elanão é sua garota. Não mais.

– Cale a boca.

– Um-hum.

– Tanto faz.

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Oito

Isso nos leva enquanto voltamos à base,porque nós temos que estar conscientes

da minha visibilidade. Nós vamos devagar,mais cautelosamente, e com cuidado nos

escondendo dentro e em torno dos com-plexos abandonados de centenas de metrosmais

ou menos, só para ter certeza de que o cam-inho está livre em cada esquina. Mas quando

estamos finalmente nos aproximando dabase, a merda vem em alta velocidade.

Não éramos os únicos pegando essecaminho.

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Castle, Ian, Alia, e Lily surtaram quando elesnos viram; eles estavam se

escondendo dentro de um complexo que nóspensamos que estava vazio. Eles saltaram

para nós por detrás da cama, o que quase mefez mijar nas calças. Nós tínhamos apenas

um momento para explicar o que aconteceuantes que Castle contasse sua própria

história.

Eles pegaram Brendan e Winston de volta –tirando-os para fora do Setor 45

como eles originalmente planejaram – masos dois estavam em mau estado quando

Castle os achou.

– Nós achamos que eles irão ficar bem –Castle diz – mas nós temos que levá-

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los para as gêmeas o mais rápido possível.Espero que elas possam ajudar.

– As gêmeas estão no campo de batalha –Kenji diz, com olhos arregalados –

não temos ideia onde. Elas insistiram em lut-ar hoje.

A expressão de Castle cai, e ele não diz issoem voz alta, mas é visível que ele

imediatamente está muito preocupado.

– Onde eles estão agora? – pergunto –Brendan e Winston?

– Escondendo-se.

– O quê? – Kenji olha em volta – Por quê?Por que vocês não estão levando-os

de volta ao Ponto?

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Castle fica pálido.

– Nós ouvimos sussurros enquanto nós es-távamos na base, tirando-os de lá. – A

Lily responde. – Sussurros do que os solda-dos vão fazer a seguir.

– Eles estão se mobilizando para um ataqueaéreo. – Ian corta – Nós apenas

ouvimos que eles estão indo bombear oPonto Ômega. Nós ainda tentamos imaginaro

que faríamos quando ouvimos alguém vindo,e então pulamos ali – ele acena com a

cabeça, mostrando o complexo – para nosesconder.

– O quê? – Kenji entra em pânico. – Mascomo vocês...

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– É definitivo – Castle diz. Seu olhar é pro-fundo e torturado. Aterrorizado. – Eu

mesmo ouvi as ordens. Eles esperavam quese eles acertassem com suficiente poder de

fogo, tudo abaixo iria colapsar sobre simesmo.

– Mas senhor, ninguém sabe a exata localiza-ção do Ponto Ômega, não é

possível...

– É possível – Alia diz. Eu nunca a ouvi falarantes, e estou surpreso pela

suavidade em sua voz. – Eles torturaram al-guns dos nossos para a informação vazar.

– No campo de batalha – Ian diz. – Apenasantes de matarem eles.

Parece que Kenji vai vomitar. Ele diz:

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– Nós temos que ir agora mesmo – sua vozestá alta e severa. – Nós temos que

tirar todos de lá, todos que deixamos paratrás...

Apenas agora cai minha ficha.

James.

Não reconheço minha própria voz. O horror,o pânico, o medo inundam meu

corpo. É algo que nunca senti, algo quenunca conheci. Não assim.

– Nós temos que pegar o James! – estougritando, e Kenji está tentando me

acalmar, mas dessa vez eu não consigo escut-ar. Eu não me importo de ir sozinho. Eu

estou indo tirar meu irmão daquele lugar. –Vamos logo! – eu vocifero para Kenji. –

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Nós vamos pegar um tanque e voltar para abase o mais rápido possível.

– E a Juliette? – Kenji pergunta – Talvez nóspossamos nos dividir: eu posso

voltar ao Ponto Ômega com o Castle e a Alia.Você pode ficar aqui com o Ian e a Lily...

– Não. Eu tenho que buscar James. Eu tenhoque estar lá. Eu tenho que ser o

único a buscá-lo.

– Mas a Juliette...

– Você disse que o Warner não vai matá-la,que ela estará bem lá por enquanto.

Mas agora mesmo eles estão indo explodir oPonto Ômega e James, e todos os outros,

vão morrer. Nós temos que ir agora.

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– Talvez eu possa ficar aqui e procurar pelaJuliette, e vocês possam ir...

– A Juliette estará bem. Ela não está emperigo imediato aqui, o Warner não vai

machucá-la.

– Mas...

– Kenji, por favor! – Estou desesperadoagora e não me importo. – Nós

precisamos do máximo possível de pessoasdo Ponto Ômega. Há uma grande

quantidade de pessoas deixadas para trás, eelas não terão chance se não as buscarmos

agora.

Kenji olha fixamente para mim por um longomomento. Acena.

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– Vocês irão pegar Brendan e Winston – elediz para o Castle e os outros três. –

Kent e eu vamos comandar um tanque eencontrá-lo aqui. Nós faremos tudo o que

pudermos para recuperarmos o Ponto o maisrápido possível.

No segundo em que todos foram embora, euagarro Kenji pelo braço.

– Se algo acontecer ao James...

– Nós faremos tudo o que pudermos, euprometo.

– Isso não é suficiente para mim. Eu precisoir buscá-lo. Eu preciso ir agora.

– Você não pode ir agora. – Kenji estala. –Deixe sua estupidez para depois,

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Kent. Agora, mais do que nunca, você precisaestar no controle. Se você enlouquecer e

voltar para o Ponto andando sem se impor-tar com sua própria segurança, você estará

morto antes mesmo de chegar lá, e a mínimachance de salvar James estará perdida.

Você quer manter seu irmãozinho vivo?Tenha certeza de não matar você mesmo

enquanto estiver tentando salvá-lo.

Eu sinto como se minha garganta estivessefechando.

– Ele não pode morrer. – eu digo, minha vozquebrando – Eu não posso ser a

razão de sua morte, Kenji. Eu não posso...

Kenji pisca rapidamente, tentando acalmarsuas emoções.

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– Eu sei, cara. Mas eu não posso pensarnisso agora. Nós temos que nos manter

em movimento...

Kenji continua falando, mas eu mal possoouvi-lo.

James.

Ai Deus.

O que eu fiz?

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Nove

Eu não tenho ideia de como nós todos coube-mos nesse tanque. Nós somos oito

pessoas emperradas em bancos apertados,sentadas no regaço, e ninguém ao menos se

importa. A tensão é tão carregada que é prat-icamente sua própria pessoa, ocupando um

lugar que não temos de ceder. Eu mal con-sigo pensar direito.

Estou tentando respirar, estou tentando memanter calmo, e eu não consigo.

Os aviões já estão em cima de nossascabeças, e eu me sinto doente de um jeito

que não sei como explicar. É mais profundoque meu estômago. Maior que meu

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coração. Mais esmagador que a minhamente. É como se o medo fosse eu. Ele vestiu

meu corpo como um terno velho.

O medo é tudo que me resta agora.

Eu acho que todos sentem isso. Kenji está di-rigindo esse tanque, de alguma

maneira ainda é capaz de funcionar em facede tudo isto, mas ninguém está se

movendo. Nem conversando. Nem respir-ando audivelmente.

Eu me sinto tão doente.

Ah Deus, Ah Deus.

Dirija mais rápido, eu quero dizer, mas emseguida, na verdade, não digo. Eu

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não sei se quero ir rápido ou devagar. Eu nãosei qual vai doer mais. Eu vi minha

própria mãe morrer e, de algum jeito, nãodoeu tanto quanto agora.

Eu vomito em seguida.

Em todo o tapete.

O corpo morto do meu irmão de dez anos.

Eu levanto esgotado, limpando minha bocana minha camisa.

Vai doer quando ele morrer? Ele vai sentir?Ele vai morrer instantaneamente, ou

vai estar empalado, ferido, de qualquermaneira, e vai morrer lentamente? Ele vai

sangrar até a morte completamente sozinho?Meu irmão de dez anos?

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Seguro-me no painel, tentando estabilizarmeu coração, minha respiração. É

impossível. As lágrimas estão caindo rápidoagora, meus ombros estão sacudindo, meu

corpo quebrando. O barulho dos aviõesficam mais altos conforme se aproximam. Eu

posso ouvi-los agora. Todos podemos.

Nós nem mesmo estamos lá ainda.

Nós ouvimos as bombas explodindo longe, efoi aí que eu senti: os ossos dentro

de mim fraturando, pequenos terremotos mequebrando.

O tanque para.

Não há porque ir para frente mais. Não háninguém nem nada para buscar, e

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todos nós sabemos disso. As bombas con-tinuam caindo e escuto as explosões ecoandoo

som dos meus próprios soluços altos eofegantes no silêncio. Nada me resta agora.

Nada resta.

Nada é tão precioso como minha própriacarne e meu sangue.

Eu apoio minha cabeça em minhas mãosquando um grito perfura o silêncio.

– Kenji! Olha!

É a Alia, gritando do banco traseiro en-quanto ela atravessa pela porta aberta e

pula. Sigo-a com meus olhos e apenas agoravejo o que ela viu, e leva apenas alguns

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segundos até eu sair pela porta e passar porela, caindo de joelhos na frente da pessoaque nunca pensei que veria, nunca mais.

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Dez

Estou quase dominando minha fala.

James está em pé de frente para mim,soluçando, e eu não sei se estou sonhando.

– James? – escuto Kenji dizer. Eu olho paratrás e vejo quase todo mundo fora

do tanque agora. – É você, amigo?

– Addie, me d-desculpe – ele soluça – Eu seique você d-disse, você d-disse que

eu não podia lutar, mas eu não poderia ficarpara trás e ter que d-deixar...

Pego-o em meus braços, apertando-o, malsendo capaz de respirar.

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– Eu queria l-lutar com você – ele gagueja –eu não queria ser um bebê. Eu

queria a-ajudar.

– Shhhh – eu digo pra ele – está tudo bem,James. Está tudo bem. Nós estamos

bem. Tudo vai ficar bem.

– Mas Addie – ele diz – você não sabe o quea-aconteceu, eu só tinha andado um

pouco e então eu vi os a-aviões...

Eu o silenciei novamente e disse-lhe que es-tava tudo bem. Que nós sabíamos o

que aconteceu. Que ele está a salvo agora.

– Me perdoe por não poder a-ajudar você –ele diz, indo para trás para olhar-me

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nos olhos, suas bochechas manchadas devermelho e de lágrimas. – Eu sei que você

disse que eu não deveria, mas eu realmenteq-queria a-ajudar.

Eu o peguei, embalando seu corpo em meusbraços enquanto eu o carregava

para o tanque, e percebi que a mancha mol-hada na frente de suas calças não era por

causa da chuva.

James deve ter ficado aterrorizado. Ele deveter ficado com medo e, ainda assim,

ele se esgueirou para fora do Ponto Ômega,porque ele queria ajudar. Porque ele querialutar ao nosso lado.

Eu poderia matar ele por isso.

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Mas droga, ele é a pessoa mais corajosa queeu já conheci.

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Onze

Quando estávamos de volta ao tanque, nóspercebemos que não tínhamos ideia

do que fazer.

Não há para onde ir.

A profundidade do que aconteceu começou anos atingir. E apenas porque eu era

capaz de salvar um pouco de boas notícias apartir dos destroços não significa que não hápelo que lamentar.

Castle está praticamente em coma.

Kenji é o único que ainda está tentando nosmanter vivos. Ele é o único com

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algum senso de auto-preservação, e acho queé por causa de Castle. Porque ninguém estános liderando mais, e alguém tem quesubstituí-lo.

Mas mesmo com Kenji dando seu melhorpara nos manter focados, poucos de

nós estão respondendo. O dia chegou ao fimmuito mais rapidamente do que

esperávamos, e o sol está se pondo rápido,mergulhando-nos na escuridão.

Nós estamos cansados, nós estamos quebra-dos, e nós não temos mais função.

Dormir. Dormir parece, dormir é a únicacoisa que acontecerá.

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Doze

James se mexe em meus braços.

Estou acordado em um instante, piscandorápido e olhando em volta para

encontrar todos os outros que ainda estãosem dormir. O sol nasce no horizonte e deixaa luz sair, e a manhã é tão calma, e tãoquieta, que parece impossível que algo já es-teve errado.

A verdade, entretanto, volta muitorapidamente.

Há tijolos no meu peito, pressão em meuspulmões, dores nas articulações, e

metal na minha boca. E tudo relembra-medo longo dia, da longa noite, e o garoto

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enrolado em meus braços.

Morte e destruição. Lascas de esperança.

Kenji dirigiu-nos para uma localização re-mota e usou suas últimas forças para

fazer o tanque ficar invisível pelo resto danoite. Esse era o único jeito que poderíamosesperar pela batalha e dormir por poucashoras. Eu ainda não tenho certeza de comoele está funcionando. Ele é definitivamentemais forte do que eu lhe dei crédito.

O mundo a nossa volta está assustadora-mente calmo. Eu me mexi um pouco e o

James está em alerta, levantando e fazendoperguntas no momento em que as

dobradiças de sua boca abrem. Sua voz per-turba a todos, alarmando-os ao acordá-los.

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Eu usei as costas da minha mão para es-fregar meus olhos e arrumei James em meucolo,

segurando-o perto. Dei um beijo no topo desua cabeça e disse-lhe para ficar quieto.

– Por quê? – ele pergunta

Eu cobri sua boca com minha mão.

Ele afasta-a com um tapa.

– Bom dia, raio de sol – Kenji pisca em nossadireção.

– Bom dia – respondo.

– Eu não estava falando com você – ele diz,tentando sorrir – Eu estava falando

com o raio de sol.

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Eu sorrio ironicamente como resposta, semrealmente saber onde vamos com

isso. Há muito para ser conversado, e muitoque não queremos falar, que não sei se

vamos conversar realmente. Eu olho de rel-ance para Castle e percebo que ele está

acordado e olhando pela janela. Eu aceno umolá.

– Você dormiu direito? – eu pergunto a ele.

Castle olha para mim.

Dou uma olhadela para Kenji.

Kenji está olhando para fora da janela,também.

Eu solto devagar minha respiração.

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Todos arranjam seus caminhos de volta parao presente, lenta e seguramente.

Uma vez que todos estavam com um poucode condições para o trabalho – Brendan e

Winston também – Kenji não perdeu tempo.

– Nós temos que resolver para onde vamos –ele diz – nós não podemos nos

arriscar ficando na estrada por muito tempo,e não estou certo quão longo ou quão bem

eu vou estar para projetar. Minha energia es-tá voltando, mas lentamente, e isso é interiore exteriormente. Não é algo em que possoconfiar agora.

– Nós também precisamos pensar na com-ida. – Ian diz grogue.

– Sim, estou com muita fome – Jamesadiciona.

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Eu aperto seus ombros. Nós todos estamosmorrendo de fome.

– Certo – Kenji diz – Alguém tem algumaideia?

Silêncio de todos nós.

– Vamos lá, pessoal – ele diz – Pensem. Al-gum esconderijo, algum ponto seguro,

qualquer lugar que você caiu uma vez queera um lugar seguro.

– O que acham da nossa antiga casa? –James pergunta, olhando em volta.

Sento-me ereto, surpreso por não pensarnisso eu mesmo.

– Certo, é claro – eu digo – Boa ideia, James.– eu bagunço seu cabelo – Isso

pode funcionar.

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Kenji bate o punho no volante.

– Sim! – ele diz alto – Bom. Excelente. Per-feito. Obrigado, Deus.

– Mas e se eles vierem procurar por nós? –Lily pergunta – O Warner não

conhece sua antiga casa?

– Sim – eu digo a ela – Mas se eles pensamque todos do Ponto Ômega estão

mortos, eles não virão procurar por mim.Nem um de nós.

Depois disso o carro ficou mortalmentequieto.

O elefante na sala fez uma aparição, e agoraninguém sabe o que dizer. Todos

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procuram por Castle por uma orientaçãosobre a melhor forma de proceder, mas elenão

diz uma palavra. Ele está olhando para afrente e para o nada em tudo, como se tivessesido paralisado por dentro.

– Vamos. – Alia diz em voz baixa. Ela é a ún-ica que me responde, e ela oferece-

me um sorriso gentil. Eu decido gostar delapor isso. – Devemos garantir abrigo o maisrápido possível. E talvez achar algo paraJames comer.

Eu sorrio para ela. É tocante ela estarfalando por James.

– Talvez nós encontremos algo que todos nóspossamos comer. – Ian corta,

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amuado. Franzo a testa, mas não possoculpá-lo por isso. Meu próprio estômago fezuns

protestos.

– Nós devemos ter bastante comida em casa– eu digo – ela foi paga até o final

do ano, por isso vamos ter quase tudo queprecisamos: água, eletricidade, um teto sobrenossas cabeças – mas vai ser apertado, e vaiser temporário. Nós vamos ter que arrumaruma solução de mais longo prazo em breve.

– Parece bom – Kenji diz para mim. Ele voltaa olhar para todos. – Todos estão

de acordo aqui?

Há um murmúrio de consentimento e isso étudo que precisamos, realmente,

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antes de nós estarmos fora e voltar para omeu antigo lar. Voltar ao início.

Alívio flui sobre mim.

Estou tão grato de ser capaz de levar Jamespara casa. De colocá-lo para dormir

em sua própria cama. E embora eu saiba queé melhor não dizer isso alto, uma pequena

parte de mim está feliz que nosso tempo noPonto Ômega tenha oficialmente acabado.

Há uma fresta de esperança em tudo isso, e éporque Warner acha que estamos todos

mortos. E mesmo considerando que ele estácom a Juliette agora, ele não a terá para

sempre. Ela estará a salvo antes de encon-trarmos um jeito de resgatá-la e, até então,ele não virá atrás de nós. Nós podemos en-contrar um jeito de viver longe de toda a

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violência e destruição.

Além disso, estou cansado de lutar. Estoucansado de estar sempre em fuga

arriscando minha vida e constantemente mepreocupar com James. Eu só quero ir para

casa. Eu quero cuidar do meu irmão. E eununca, nunca, nunca quero sentir o que sentina noite passada.

Eu não posso arriscar perder James, não denovo.

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Treze

As estradas estão quase completamenteabandonadas. O sol está no alto e o

vento está tão frio que está cortante e achoque a chuva parou, o ar cheira a neve, e eutenho a sensação de que a tempestade vai sersevera. Eu envolvo James mais apertado

em meus braços, tremendo contra um friovindo de dentro do meu corpo. Ele está

caindo no sono de novo, sua pequena faceenterrada na curva do meu pescoço. Eu

abraço-o mais perto do meu peito.

Com a oposição destruída, não há necessid-ade de ter muitas – se alguma –

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tropas no terreno. Eles provavelmente estãotirando os corpos agora, limpando a

bagunça e colocando as coisas em ordem omais rápido possível. É o que nós sempre

fizemos.

A batalha foi necessária, mas arrumar a ba-gunça é crucial.

Warner costumava nos ensinar assim: nósnunca permitimos dar tempo aos civis

para lamentar. Nós nunca poderíamos dar aeles a oportunidade de construir mártires deseus entes queridos. Não, era melhor as mor-tes parecerem tão insignificantes quanto o

possível.

Todos tinham que voltar ao trabalhoimediatamente.

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Muitas vezes eu fiz parte dessas missões. Eusempre odiei o Warner, odiei o

Restabelecimento e tudo o que ele repres-entava, mas agora mesmo eu me sinto mais

forte sobre tudo isso. Pensar que eu perdiJames foi realmente algo para mim noite

passada, e o dano é irreparável. Eu penseique sabia o que era perder alguém próximo amim, mas eu não sabia, não realmente. Per-der um dos pais é excruciante, mas

sobretudo, a dor é muito diferente ao se per-der um filho. E James, para mim, de váriasmaneiras, parece como meu próprio filho. Euo criei. Cuidei dele. Protegi ele. Alimentei elee o vesti. Ensinei a maior parte de tudo o queele sabe. Ele é minha única esperança emtoda essa devastação – a única coisa pelaqual eu sempre vivi, sempre lutei. Eu

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estarei perdido sem ele.

James deu à minha vida um propósito.

E eu não tinha notado até esta última noite.

O que O Restabelecimento fez – separou paisde seus filhos, separou esposos de

esposas, basicamente rasgando as famílias –eles fazem isso de propósito. E a crueldadedesses atos não tinham me atingido real-mente até agora.

Eu acho que eu nunca poderia fazer parte dealgo assim novamente.

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Catorze

Nós entramos no estacionamento subter-râneo sem nenhum problema, e uma vez

lá dentro, eu posso soltar minha respiração.Eu sei que estaremos a salvo aqui.

Todos nós – um total de nove – escalamospara fora do tanque e ficamos em

torno dele por um momento. Brendan eWinston se apegaram um ao outro, ainda se

recuperando de suas feridas. Não tenho cer-teza do que aconteceu com eles exatamente,

porque nenhum está falando sobre isso, maseu não acho que eu queira saber. Alia e

Lily ajudam Castle a sair do tanque, e Ian es-tá logo atrás. Kenji está perto de mim. Eu

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continuo segurando James em meus braços,e eu apenas o coloquei no chão quando ele

pediu.

– Estão prontos para ir? – pergunto – Tomarbanho? Tomar um café da manhã?

– Isso parece ótimo, cara – diz Ian.

Todo mundo concorda.

Eu lidero o caminho, e James está segurandoa minha mão.

É loucura – a última vez em que estive aqui,nós estávamos fugindo do Warner.

Eu e a Juliette. Foi a primeira vez em que elaviu o James, a primeira vez que senti quepoderíamos ter uma vida juntos. E entãoKenji apareceu e redirecionou o curso detudo.

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Eu balanço minha cabeça, relembrando.Parece que se passaram milhões de anos, de

certo modo. Muito foi mudado. Eu era prat-icamente outro homem naquela época. Eu

me sinto muito mais velho, mais forte e maiszangado agora. É difícil de acreditar que issofoi a alguns meses atrás.

A porta da frente ainda está amassada dequando Warner e seus soldados a

golpearam para abri-la, mas temos que noscontentar com isso. Abri a porta.

De repente, todos nós estamos passando pelasoleira.

Estou olhando em volta, assombrado em vertudo quase exatamente no lugar

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onde deixamos. Poucas coisas estão der-rubadas e o lugar precisa de uma belalimpeza,

mas isso vai funcionar. Vai ser ótimo ter umlugar seguro para viver por enquanto. Eu

começo ligando os interruptores e ospequenos cômodos tremeluzem com vida, asluzes

fluorescentes cantarolando constantementeno silêncio. James corre em direção a seu

quarto, e eu checo o armário onde estão osenlatados e os alimentos não perecíveis. Nósainda temos toneladas de alimentos enrola-dos em plástico filme para um lanche rápido.

Eu solto um suspiro de alívio.

– Quem quer tomar café da manhã? – eupergunto, segurando alguns pacotes.

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Kenji cai de joelhos, gritando “Aleluia!” noprocesso. Ian praticamente me

ataca. James vem correndo de seu quarto egrita “Eu! Eu! Eu! Eu quero! Eu quero!” .

Lily ri. Alia sorri e encosta na parede en-quanto Brendan e Winston se jogam no sofá,

gemendo de alívio. Castle é o único que per-manece em silêncio.

– Certo, pessoal – Kenji diz – Adam e eu va-mos pegar a comida, e o resto de

vocês podem se revezar indo tomar banho.Eu odeio ser super óbvio, mas temos apenas

um banheiro, e todos nós teremos que dividi-lo, então por favor, vamos ser conscientes emrelação a isso. O Adam tem algum abasteci-mento, mas não muito, então vamos

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economizar, certo? Lembrem-se que estamosvivendo de rações agora. Ter consideração

é crucial.

Há um consenso geral e muitos acenos, e to-dos ocuparam a si mesmos com

diferentes tipos de ocupações. Todos, excetoCastle, que sentou em uma poltrona e não semoveu. Ele parece pior que Brendan e Win-ston, que estão sentindo a verdadeira dor

física.

Eu ainda estou olhando para os dois quandoIan escapa do grupo para me

perguntar se tenho alguma coisa para ajudarna recuperação de Brendan e Winston. Eu

asseguro que vou usar todo material quetenho para curá-los. Eu sempre mantenhomeu

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kit de primeiros socorros em casa, mas elenão é grande, e eu não sou um médico. Mas

sei o suficiente. Acho que serei capaz deajudar. Isso anima Ian significativamente.

Apenas quando Kenji e eu estamos ocupadospreparando a comida na cozinha

ele traz à tona uma questão pendente. A ún-ica que ainda não estou certo de como

resolver.

– Então, o que vamos fazer sobre a Juliette?– Kenji pergunta, jogando os

alimentos em uma bacia. – Eu estou preocu-pado, nós estamos esperando demais para ir

atrás dela.

Eu me senti empalidecer. Não sei como voudizer a ele que não tenho planos de

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voltar para lá. Certamente não vou lutar, nãodepois do que aconteceu com James.

– Eu não sei. – eu digo – Não tenho certezado que podemos fazer.

Kenji olha para mim, confuso.

– O que você quer dizer? Nós temos que tirarela de lá. Temos que buscá-la de

lá, o que significa que temos que planejaroutra missão de resgate. – Ele me olha –

Pensei que isso fosse óbvio.

Pigarreio e digo:

– Mas e o James? E o Brendan e o Winston?E o Castle? Nós não estamos indo

muito bem por aqui. Está certo apenas levá-los daqui e...

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– Cara, o que diabos você está dizendo? Vocênão está apaixonado por essa

garota? Onde está aquele fogo no seu tra-seiro? Eu pensei que você estaria morrendo

para tirá-la de lá agora mesmo.

– Eu estou – digo urgentemente – Claro queestou. Eu estou apenas preocupado,

faz pouquíssimo tempo que eles bom-bardearam o Ponto e eu apenas...

– Quanto mais esperarmos, pior vai ser. –Kenji balança a cabeça – Nós temos

que ir o mais rápido possível. Se não, elaficará presa lá para sempre, e Warner vaiusá-

la como seu monstro torturador. Ele vaiprovavelmente matá-la no processo semquerer.

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Eu aperto a borda do balcão e olho fixamentepara a pia.

Merda.

Merda merda merda.

Eu giro ao ouvir o som da voz de James, ou-vindo por um momento ele rir por

algo que Alia disse. Meu coração aperta só depensar em ficar longe dele de novo. Mas eusei que sou responsável pela Juliette. O queela fará se eu não for ajudá-la? Ela

precisa de mim.

– Ok – suspiro – É claro. O que temos quefazer?

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Quinze

Depois do café da manhã, que na verdade foimais próximo de um almoço, eu

cuidei um pouco de Brendan e de Winston ecoloquei-os no chão para assim terem

algum descanso. Eu e James juntamos umestoque razoável de cobertores e travesseiros

ao longo dos anos, então há o suficiente paratodos, e agradeço a Deus por isso, porque es-tá frio como o inferno. Nós ainda colocamosum cobertor em volta dos ombros de

Castle. Ele ainda mal está se movendo, masnós o forçamos a comer, então pelo menos

ele tem uma cor em suas bochechas agora.

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Com Brendan e Winston seguros, Ian, Alia eLily alimentados e confortáveis,

James são e salvo, e Castle descansando,Kenji e eu estamos finalmente prontos para

iniciar alguns planos novos.

– Estou pronto para sair – Kenji diz – Vouficar na base. Ouvir os rumores e os

sussurros do que está acontecendo. Talvez euencontre a Juliette, e a avise que nós logoiremos pegá-la.

Aceno com a cabeça.

– Isso é um bom começo.

– Uma vez que eu saiba mais sobre o que es-tá acontecendo, nós poderemos

firmar um plano, pegá-la de lá e trazê-la paracasa.

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– Então, assim que ela estiver de volta – eudigo – nós teremos que nos mudar

de novo.

– Provavelmente sim.

Eu aceno com a cabeça algumas vezes.

– Tudo bem, certo. – eu engulo dificilmente– Eu vou esperar aqui até você

voltar.

– Parece bom. – Kenji sorri, e então ele vai.Desaparece. A porta da frente abre e

fecha, e estou olhando para a parede, tent-ando não pirar muito com o que irá aconte-cer a seguir.

Outra missão. O que significa outra chancede foder com tudo e matar a todos

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nós. E então, se obtivermos sucesso, nósseremos recompensados com mais correria,

mas instabilidade, mais caos.

Fecho meus olhos.

Eu amo a Juliette. Realmente amo. Queroajudá-la e apoiá-la e estar lá para ela.

Eu quero que nós tenhamos um futuro jun-tos. Mas às vezes me pergunto se isso vai

realmente acontecer.

Isso não é fácil de admitir, mas parte de mimnão quer colocar James em risco

de novo – em fuga de novo – pela garota queterminou comigo. A garota que se afastou

de nós.

Eu não sei mais qual é a coisa certa.

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Eu não sei se minha fidelidade é para comJames ou Juliette.

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Dezesseis

Kenji volta depois de apenas duas horas. Seurosto está pálido, suas mãos

tremendo. Ele não está respirando direito eseus olhos estão desfocados e ele senta nosofá sem dizer uma palavra e eu estou empânico.

– O que aconteceu? – Pergunto.

– O que houve? – Lily pergunta.

– Você está bem, bro? – Ian questiona.

Nós atiramos várias perguntas e ele não re-sponde. Ele olha, sem movimentar

uma pálpebra, uma réplica de Castle que estásentado de frente a ele.

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Finalmente, depois de um longo momentoem silêncio, ele fala.

Três palavras.

– Juliette está morta.

Caos.

Perguntas estão voando e os gritos estão aba-fados e todos estão chocados,

horrorizados, enlouquecendo.

Estou atordoado.

Meu cérebro está paralisado, relutante emprocessar ou digerir essa informação.

Por quê? Quero perguntar. Como? Como?Como isso é possível?

Mas eu não consigo falar. Estou congeladopelo horror. Triste.

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– Não foi o Warner quem foi atrás dela. –Kenji está dizendo, as lágrimas

caindo, escorrendo pelo seu rosto – Foi oAnderson. Aqueles eram homens do

Anderson. Ele fizeram um anúncio a apenasduas horas. – ele diz, engasgando com as

palavras – Eles disseram que eles bom-bardearam o Ponto Ômega, capturaram aJuliette,

e a mataram nessa manhã. O supremo jávoltou para a capital.

– Não – arquejo.

– Nós deveríamos ter ido atrás dela – Kenjiestá dizendo – Eu deveria ter ficado

para trás, eu deveria ter tentado encontrá-la.É minha culpa. – ele diz, com as mãos nos

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cabelos, lutando com as lágrimas – É minhaculpa ela estar morta. Eu deveria ter ido

atrás dela...

– Não é sua culpa – Ian diz para ele, cor-rendo e agarrando seus braços – Não se

atreva a se culpar por isso.

– Nós perdemos muitas pessoas – Lily diz –Pessoas queridas para nós e que não

pudemos salvar. Não é sua culpa. Eu juro.Você fez o seu melhor.

Todos estão consolando o Kenji agora,tentando tranquilizá-lo que não é

necessário ter culpa. Ninguém tem culpa portudo isso.

Mas eu não concordo.

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Eu tropeço para trás até que bato na parede,inclinando-me nela para ter um

apoio. Eu sei quem culpar. Eu sei onde está aculpa.

Juliette está morta por minha causa.

Ignite Me

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Um

Eu sou uma ampulheta.

Meus dezessete anos entraram em colapso eme sepultaram de dentro para fora.

Minhas pernas se sentem cheias de areia egrampeadas juntas, minha mente

transbordando com grãos de indecisão,escolhas desfeitas e impacientes como otempo

corre fora do meu corpo. A pequena mão deum relógio me bate ao um e dois, três e

quatro, sussurrando olá,

levante-se, fique de pé, é hora de

Acordar

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Acordar

– Acorde – ele sussurra.

Uma ingestão aguda de respiração e eu estouacordada mas não de pé, surpresa

mas não assustada, de algum jeito encarandodentro dos desesperados olhos verdes que

parecem saber muito, muito bem. AaronWarner Anderson está dobrado sobre mim,

seus olhos preocupados me inspecionando,sua mão para no ar como se estivesse

prestes a me tocar.

Ele volta atrás.

Ele encara, sem piscar, o peito subindo edescendo.

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– Bom dia – eu digo. Tenho certeza daminha voz, da hora e do dia, dessas

palavras que saem dos meus lábios e dessecorpo que me contêm.

Eu percebo que ele está vestindo uma camisabranca de botão, metade para fora

de sua curiosa e lisa calça preta. As mangasde sua camisa estão dobradas, empurradas

acima de seus cotovelos.

Seu sorriso parece doer.

Eu ponho a mim mesma em uma posiçãosentada e Warner se mexe para me

acomodar. Eu tenho que fechar meus olhospara melhorar a tontura repentina, mas eu

forço a mim mesma a permanecer imóvel atéa tontura passar.

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Estou cansada e fraca de fome, mas além dealgumas dores gerais, eu pareço

estar bem. Estou viva. Estou respirando episcando e sentindo-me humana e sei

exatamente por quê.

Encontro seus olhos.

– Você salvou minha vida.

Eu tomei um tiro no peito.

O pai de Warner colocou a cápsula no meucorpo e eu ainda posso sentir os ecos

disso. Se eu me focar, posso reviver o mo-mento em que isso aconteceu. A dor: tão

intensa, tão excruciante. Eu nunca sereicapaz de esquecer isso.

Eu inspiro em uma respiração assustada.

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Estou finalmente consciente da familiar es-tranheza dessa sala e eu sou

rapidamente tomada por um pânico quegrita. Meu coração está correndo e eu estou

avançando para longe dele, batendo minhascostas na cabeceira, agarrando estes

lençóis, tentando não olhar para o lustre queeu me lembro muito bem...

– Está tudo bem – Warner está dizendo –Tudo está bem.

– O que estou fazendo aqui? – Pânico.Pânico. O terror assombra minha

consciência. – Por que você me trouxe aquide novo?

– Juliette, por favor, eu não vou machucarvocê...

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– Então por você me trouxe aqui? – Minhavoz está começando a quebrar e

estou esforçando-me para mantê-la estável.– Por que me trouxe de volta para esse

buraco do inferno...

– Eu tive que esconder você – Ele exala, ol-hando para a parede.

– O quê? Por quê?

– Ninguém sabe que você está viva – ele olhapara mim – Eu tive que voltar

para a base. Eu precisei fingir que tudo es-tava de volta ao normal e eu estava correndocontra o tempo.

Forço-me a trancar o medo.

Eu estudo seu rosto e analiso seu tom pa-ciente, sério. Eu lembro dele na noite

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passada – deve ter sido noite passada – Eulembro do seu rosto, lembro dele deitando

próximo a mim no escuro. Ele foi gentil eamável e bondoso e ele me salvou, salvou

minha vida. Provavelmente me carregou atéa cama. Colocou-me a seu lado. Deve ter

sido ele.

Mas quando olho para meu corpo eu perceboque estou vestindo roupas limpas,

sem sangue ou furos ou qualquer coisa emqualquer lugar e me pergunto quem me deu

banho, pergunto-me quem me vestiu, e mepreocupo pois deve ter sido o Warner,

também.

– Você... – hesito, tocando a bainha da cam-isa que estou vestindo – Você, quer

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dizer, minhas roupas...

Ele sorri. Ele me olha enquanto estou cor-ando e eu decido que o odeio um pouco

quando ele balança sua cabeça. Olha para aspalmas de suas mãos.

– Não. – ele diz – As gêmeas cuidaram disso.Eu só te levei para a cama.

– As gêmeas. – eu sussurro, aturdida.

As gêmeas.

Sonya e Sara. Elas estavam aqui também, asgêmeas curandeiras, e elas

ajudaram o Warner. Elas ajudaram a me sal-var porque ele é o único que pode me tocar

agora, a única pessoa no mundo que teria acapacidade de transferir seus poderes de

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cura seguramente para meu corpo.

Meus pensamentos estão em chamas.

Onde estão as gêmeas o que aconteceu comas gêmeas e onde está o Anderson e

a guerra e ah Deus o que aconteceu com oAdam e o Kenji e o Castle e eu tenho que le-vantar eu tenho que levantar eu tenho quelevantar e sair da cama e ir

mas

Eu tento me mover e o Warner me pega. Euestou desequilibrada, instável. Ainda

sinto como se minhas pernas estivessemancoradas nessa cama e de repente não sou

capaz de respirar, estou vendo manchas eacho que vou desmaiar. Preciso levantar.

Preciso sair.

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Não consigo.

– Warner. – Meu olhar está inquieto em seurosto – O que aconteceu? O que

aconteceu na batalha?

– Por favor, – ele diz, segurando meus om-bros – você precisa começar

lentamente; você deveria comer algumacoisa...

– Diga-me.

– Você não quer comer primeiro? Ou tomarbanho?

– Não. – Me escuto dizer. – Eu tenho quesaber agora.

Um segundo. Dois e três.

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Warner inspira um pequeno fôlego. Mais ummilhão. Coloca a mão direita sobre

a esquerda, girando o anel de jade em seudedinho mais e mais e mais e mais.

–Acabou – ele diz.

– O quê?

Eu digo as palavras mas meu lábios nãofazem nenhum som. Estou entorpecida,

de certo modo. Piscando e não vendo nada.

– Acabou. – ele diz de novo.

– Não.

Exalo a palavra, exalo a impossibilidade.

Ele acena. Ele está discordando de mim.

– Não.

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– Juliette.

– Não. – eu digo – Não. Não. Não seja es-túpido – eu digo a ele – Não seja

ridículo – eu digo a ele – Não minta paramim, maldito seja – mas agora minha vozestá alta e quebrada e tremendo e – Não. –Eu engasgo. – Não, não, não...

Eu me levanto dessa vez. Meus olhos enchemrápido com as lágrimas e eu pisco

e pisco mas o mundo é uma bagunça e euquero rir porque tudo o que posso pensar éem

como horrível e bonito isto é, que nossos ol-hos obscureçam a verdade quando nós não

podemos suportá-la.

O chão é duro.

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Eu sei que esse fato é verdadeiro porque derepente ele está pressionando meu

rosto e Warner está tentando me tocar maseu gritei e dei um tapa em suas mãos porque

eu já sei a resposta. Eu já devo conhecer a re-sposta porque eu posso sentir a repulsa

borbulhando e inquietando minhas entran-has mas eu pergunto de qualquer jeito. Estou

na horizontal e de algum jeito ainda estoutombando e os buracos em minha menteestão

rasgando e estou olhando para um local dotapete a menos de dez metros de distância e

não estou certa se estou mesmo viva mas eutenho que ouvi-lo dizer isso.

– Por quê? – pergunto.

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São apenas duas palavras, estúpidas esimples.

– Por que a batalha acabou? – Pergunto. Nãoestou mais respirando, não estou

realmente falando, absolutamente; estouapenas expelindo as letras pelos meus lábios.

Warner não está olhando para mim.

Ele está olhando para a parede e para o chãoe para os lençóis e para as formas

dos nós de seus dedos quando ele cerra ospunhos mas não, não para mim, ele não quer

olhar para mim e suas próximas palavras sãotão, tão suaves.

– Porque eles estão mortos, amor. Todos elesestão mortos.

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Dois

Meu corpo trava.

Meus ossos, meu sangue, meu cérebro con-gela no lugar, capturado em uma

repentina, incontrolável paralisia que se es-palha através de mim tão rapidamente que

não consigo respirar. Respiro profunda-mente, com inalações tensas, e as paredesnão

param de balançar na minha frente.

Warner me pega em seus braços.

– Fique longe de mim – eu grito, mas, ah,grito apenas na minha imaginação

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porque meus lábios pararam de trabalhar emeu coração expirou e minha mente foi para

o inferno por este dia e meus olhos meus ol-hos eu acho que eles estão sangrando.

Warner está sussurrando palavras de con-forto que não consigo ouvir e seus braços es-tão completamente em volta de mim, tent-ando me manter inteira através da pura força

física mas não adianta.

Eu não sinto nada.

Warner está me silenciando, me balançandopara frente e para trás, e é apenas

agora que percebo que estou fazendo o maisexcruciante e ensurdecedor som, a agonia

me rasgando. Eu quero falar, protestar, acus-ar Warner, culpá-lo, chamá-lo de mentiroso,mas não consigo dizer nada, não consigo

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formar nada além de sons tão lamentáveisque

estou quase envergonhada de mim mesma.Eu me livro de seus braços, ofegando, e me

dobro, agarrando meu estômago.

– Adam – engasgo com esse nome.

– Juliette, por favor...

– Kenji. – estou hiperventilando no tapeteagora.

– Por favor, amor, deixe-me ajudá-la...

– E o James? – eu me escuto dizer – Ele foideixado no Ponto Ômega, ele não

foi a-autorizado a s-sair...

– Tudo foi destruído. – Warner diz suave ecalmamente – Tudo. Eles torturaram

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alguns de seus membros para conseguir a ex-ata localização do Ponto Ômega. Então eles

bombardearam tudo.

– Ah, Deus. – Eu cubro minha boca comuma mão e olho, sem piscar, para o

teto.

– Eu sinto muito – ele diz – Você não temideia do quanto eu sinto muito.

– Mentiroso. – Sussurro, com veneno emminha voz. Estou zangada e irritada e

não me dou ao trabalho de me importar –Você não sente muito.

Eu olho para Warner o suficiente para ver amágoa dentro e fora de seus olhos.

Ele limpa sua garganta.

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– Eu sinto muito. – ele diz de novo, calmo,mas firme. Ele pega sua jaqueta de

onde estava pendurada nas proximidades;encolhe os ombros sem dizer uma palavra.

– Onde você está indo? – pergunto, culpadapor um instante.

– Você precisa de tempo para processar issoe você claramente não vê utilidade

na minha companhia. Vou tratar de algunsafazeres até que você esteja pronta para

conversar.

– Por favor, me diga que você está errado –Minha voz quebra. Minha respiração

fragmenta. – Diga-me que há uma chance devocê estar errado...

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Warner olha para mim pelo que me pareceumuito tempo.

– Se houvesse a menor chance eu iria poupá-la dessa dor. – ele finalmente diz –

Eu não iria falar se não fosse. Você devesaber que eu nunca teria falado se isso não

fosse absolutamente verdade.

E é isso – sua sinceridade – isso finalmenteme quebra ao meio.

Porque a verdade é tão insuportável quedesejo que ele me poupasse com uma

mentira.

Eu não me lembro de quando o Warner saiu.

Não me lembro como ele saiu ou o que eledisse. Tudo que sei é que estive

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deitada aqui enrolada no chão por tempo su-ficiente. Tempo suficiente para as lágrimasvirarem sal, tempo suficiente para minhagarganta secar e meus lábios racharem e

minha cabeça latejar tanto quanto meucoração.

Eu sento lentamente, sinto meu cérebro girarem algum lugar em meu crânio.

Consigo subir na cama e sento lá, aindaentorpecida, mas menos do que estava antes,e

ponho meus joelhos em meu peito.

A vida sem o Adam.

A vida sem o Kenji, sem James e Castle eSonya e Sara e Brendan e Winston e

todos do Ponto Ômega. Meus amigos, todosdestruídos com o apertar de um botão.

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A vida sem o Adam

Eu seguro firme, oro para que a dor passe.

Mas ela não passa.

Adam se foi.

Meu primeiro amor. Meu primeiro amigo.Meu único amigo quando eu não

tinha ninguém e agora ele se foi e eu não seicomo me sentir. Estranha, principalmente.

Delirante, também. Sinto-me vazia equebrada e enganada e culpada e nervosa e

desesperadamente, desesperadamente triste.

Nós estávamos separados até sairmos doPonto Ômega, mas isso é minha culpa.

Ele queria mais de mim, mas eu queria queele tivesse uma longa vida. Queria protegê-

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lo da dor que causaria a ele. Tentei esquecê-lo, seguir em frente sem ele, tentei preparara mim mesma para um futuro afastado e de-sassociado a ele.

Pensei que ficando longe o manteria vivo.

Garota idiota.

As lágrimas estão fluindo e caindo rápidoagora, viajando calmamente por

minhas bochechas e minha boca aberta eofegante. Meus ombros não param debalançar

e meus punhos estão cerrados e meu corpoestá paralisado e meus joelhos estão

tremendo e velhos hábitos estão rastejandopor minha pele e estou contando rachaduras

e cores e sons e arrepios e estou balançandopara trás e para frente e para trás e para

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frente para trás e para frente e eu tenho quedeixá-lo ir tenho que deixá-lo ir eu tenho queeu tenho que

Fecho meus olhos

e respiro

Severas, duras, ásperas respirações.

Respira.

Inspira.

Conte as respirações.

Eu já estive aqui antes, digo a mim mesma.Já estive mais sozinha do que agora,

mais desesperada do que agora. Eu já estiveaqui antes e sobrevivi. Eu posso passar porisso.

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Mas nunca fui tão completamente roubada.Amor e possibilidade, amizades e

futuros: acabaram. Tenho que recomeçaragora. Encarar o mundo sozinha de novo.

Tenho que tomar uma decisão oficial: desi-stir ou continuar.

Então fico em pé.

Minha cabeça está girando, pensamentosbatendo uns nos outros, mas eu engulo

as lágrimas. Cerro meus punhos e tento nãogritar e enfio meus amigos no meu coração

e

vingança

Eu penso

nunca pareceu tão doce.

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Tradução por Shatter Meme.

Esse ebook é uma tradução feita por fãs.

Por favor, se forem compartilhar em algumsite ou blog, por favor, dê os créditos.

Nós não temos nenhum vínculo com a Edit-ora Novo Conceito, que é a editora

responsável pela tradução da série, ou a es-critora Tahereh Mafi.

Se for falar com a escritora por seu facebookou twitter, sobre o livro, por favor, nãocomente que traduzimos. Fica desagradávelpara nós e para ela.

Tradução: Amanda e Layla

Revisão: Layla

Edição: Amanda

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“Se ser uma fangirl é errado, eu não queroestar certa.”

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Tahereh Mafi

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