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Editado pelo Instituto Agronômico Av. Barão de Itapura, 1.481 13020-902 – Campinas, SP Fone: (19) 231-5422 / Fax: (19) 231-4943 http://www.iac.br Fotolitos e impressão realizados pela EDMETEC - Edições Médicas, Técnicas e Científicas Ltda Rua Ipanema, 392 (Mooca) 03164-200 São Paulo, SP Fone: (11) 6692-7408 - Fax: (11) 6096-4114 Criação da capa: Juarez A. Betti A eventual citação de produtos e marcas comerciais não expressa, necessariamente, recomendação de seu uso pela Instituição. É permitida a reprodução parcial, desde que citada a fonte. A reprodução total depende de anuência ex- pressa do Instituto Agronômico. O AGRONÔMICO (Instituto Agronômico) Campinas, SP 1941-1; 1949-2000 1-52 (Série Técnica Apta) Quadrimestral a partir de 1985. A partir do v.52, n.1, 2000, faz parte da Série Técnica Apta da SAA/APTA. Assinaturas (anual = R$10,00; números avulsos = R$5,00). Enviar cheque nominal ao Instituto Agronômico ou depositar na conta bancária (Nossa Caixa-Nosso Banco; agência: 00558-4; conta corrente: 13.000004- 6), enviando comprovante de depósito (via fax ou carta) para: IAC - Núcleo de Documentação, 13020- 902, fone/fax (19) 231-5422 ramal 215; endereço eletrônico [email protected] EDITORIAL O AGRONÔMICO ISSN - 0365-2726 Boletim técnico-informativo do Instituto Agronômico maio a dezembro de 2000 Editores: Juarez Antonio Betti Maria Angélica Pizzinatto Sonia Carmela Falci Dechen Sueli dos Santos Freitas Designer Gráfico: Raniere N. da Silva ma das novidades deste número de “O Agronômico” é a contratação de uma jornalista, que doravante presta- rá assessoria aos editores do boletim. A incumbên- cia está sob responsabilidade da jornalista Maria do Carmo Pagani, cujo trabalho você já pode conferir. A intenção é agilizar a divulgação de informações e de novidades e me- lhorar a comunicação com nossos leitores. Destacamos, nas Páginas Azuis, o Centro de Citricultura Sylvio Moreira, que representa uma verdadeira revolução na pesquisa citrícola. Poucas instituições de pes- quisa agropecuária chegam aos setenta anos com resulta- dos tão expressivos para a sociedade. No cumprimento de sua Missão de gerar e transferir ciência e tecnologia para o negócio agrícola, visando à otimização dos sistemas de produção vegetal e ao desen- volvimento sócio-econômico, com qualidade ambiental, o IAC apresenta novidades como o desinfestador solar, equipamento desenvolvido para o tratamento da água de irrigação, o uso de defensivos naturais no controle da leprose dos citros e um artigo sobre a utilização agrícola do lodo de esgoto. Veja como as recomendações de adubação e calagem já podem ser feitas de modo rápido e eficiente, com o lança- mento da versão eletrônica do Boletim 100 do IAC e como a videografia pode tornar acessível a agricultura de precisão também por pequenos e médios produtores. É apresenta- do, ainda, o girassol como opção para o preparo de silagem e que oferece vantagens em relação às tradicionais de milho e sorgo. A técnica IAC-Centro de Fitossanidade de produ- ção de batata-semente livre de vírus pelo aproveitamento dos brotos destacados de batata-semente de alta sanidade (im- portada ou básica nacional) já foi introduzida e vem sendo também aplicada por produtores, tanto do Estado de São Paulo como do Paraná e Minas Gerais. É o IAC transferindo tecnologia para fora dos limites do nosso Estado. Afinal, também nas ciências agrárias São Paulo tem esse papel na Nação: gerar, desenvolver e divulgar novas tecnologias para outros estados do Brasil e para o mundo.

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Editado pelo Instituto Agronômico

Av. Barão de Itapura, 1.481

13020-902 – Campinas, SP

Fone: (19) 231-5422 / Fax: (19) 231-4943

http://www.iac.br

Fotolitos e impressão realizadospela EDMETEC - Edições Médicas,

Técnicas e Científicas LtdaRua Ipanema, 392 (Mooca)03164-200 São Paulo, SP

Fone: (11) 6692-7408 - Fax: (11) 6096-4114

Criação da capa: Juarez A. Betti

A eventual citação de produtos e marcas comerciaisnão expressa, necessariamente, recomendação de seuuso pela Instituição.

É permitida a reprodução parcial, desde que citada afonte. A reprodução total depende de anuência ex-pressa do Instituto Agronômico.

O AGRONÔMICO (Instituto Agronômico)

Campinas, SP

1941-1; 1949-2000 1-52

(Série Técnica Apta)

Quadrimestral a partir de 1985.

A partir do v.52, n.1, 2000, faz parte daSérie Técnica Apta da SAA/APTA.

Assinaturas (anual = R$10,00; números avulsos =R$5,00).

Enviar cheque nominal ao Instituto Agronômicoou depositar na conta bancária (Nossa Caixa-NossoBanco; agência: 00558-4; conta corrente: 13.000004-6), enviando comprovante de depósito (via fax oucarta) para: IAC - Núcleo de Documentação, 13020-902, fone/fax (19) 231-5422 ramal 215; endereçoeletrônico [email protected]

EDITORIAL

O AGRONÔMICO ISSN - 0365-2726

Boletim técnico-informativo do Instituto Agronômicomaio a dezembro de 2000

Editores: Juarez Antonio BettiMaria Angélica PizzinattoSonia Carmela Falci DechenSueli dos Santos Freitas

Designer Gráfico: Raniere N. da Silva

ma das novidades deste número de “O Agronômico” éa contratação de uma jornalista, que doravante presta-rá assessoria aos editores do boletim. A incumbên-

cia está sob responsabilidade da jornalista Maria do CarmoPagani, cujo trabalho você já pode conferir. A intenção éagilizar a divulgação de informações e de novidades e me-lhorar a comunicação com nossos leitores.

Destacamos, nas Páginas Azuis, o Centro deCitricultura Sylvio Moreira, que representa uma verdadeirarevolução na pesquisa citrícola. Poucas instituições de pes-quisa agropecuária chegam aos setenta anos com resulta-dos tão expressivos para a sociedade.

No cumprimento de sua Missão de gerar e transferirciência e tecnologia para o negócio agrícola, visando àotimização dos sistemas de produção vegetal e ao desen-volvimento sócio-econômico, com qualidade ambiental, o IACapresenta novidades como o desinfestador solar, equipamentodesenvolvido para o tratamento da água de irrigação, o uso dedefensivos naturais no controle da leprose dos citros e um artigosobre a utilização agrícola do lodo de esgoto.

Veja como as recomendações de adubação e calagemjá podem ser feitas de modo rápido e eficiente, com o lança-mento da versão eletrônica do Boletim 100 do IAC e como avideografia pode tornar acessível a agricultura de precisãotambém por pequenos e médios produtores. É apresenta-do, ainda, o girassol como opção para o preparo de silageme que oferece vantagens em relação às tradicionais de milhoe sorgo. A técnica IAC-Centro de Fitossanidade de produ-ção de batata-semente livre de vírus pelo aproveitamento dosbrotos destacados de batata-semente de alta sanidade (im-portada ou básica nacional) já foi introduzida e vem sendotambém aplicada por produtores, tanto do Estado de SãoPaulo como do Paraná e Minas Gerais. É o IAC transferindotecnologia para fora dos limites do nosso Estado. Afinal,também nas ciências agrárias São Paulo tem esse papel naNação: gerar, desenvolver e divulgar novas tecnologias paraoutros estados do Brasil e para o mundo.

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Defensivos naturais controlam a leprosedos citros

e de Hedera helix nas diluições 1:10 e1:20 ou Datura metel 1:10 que atuaramcomo repelentes ao ácaro e tambémcom o extrato de bulbo de Alliumsativum (alho) nas diluições 1:10 ou 1:20que atuou como repelente alimentar.

Atualmente, um dos principais obs-táculos enfrentados pelos agricultorese pesquisadores têm sido fitovirosesque chegam a ser limitantes para vá-rias culturas de importância eco-nômica. A maioria dos vírus é disse-minada por vetores, principalmenteinsetos e ácaros, tornando o controlemuitas vezes uma tarefa difícil. Ocontrole de vetores também é basea-do no uso de defensivos agrícolas, quenem sempre conseguem evitar que ovetor se alimente em plantas doado-ras ou receptoras de vírus. Em mui-tos casos, os vetores, principalmenteos insetos, ficam agitados como efei-to da aplicação de produtos químicos,promovendo efeito contrário ao dese-jado, isto é, adquirem ou inoculam o

2000 anos os agricultores utilizavam fo-lhas e sementes de Azadirachta indi-ca no controle de pragas e doenças(Schmutterer, 1995). Atualmente,muitos agricultores fazem uso dos de-fensivos alternativos das mais varia-das origens, em suas lavouras obten-do sucesso na produção (AbreuJúnior, 1998; Burg & Mayer, 1999).Esses produtos pertencem a cincograndes classes químicas: oscarboidratos, os lipídios, os compos-tos nitrogenados (amino-ácidos,peptídeos, proteínas e glicosídeoscianogênicos e alcalóides), osterpenóides e os fenilpropanóides. Onúmero de compostos envolvidos émuito grande, sendo que, em 1993, oDicionário Fitoquímico relacionou2793 compostos com atividade bioló-gica caracterizada (Pletsch, 1998).

Ao utilizar defensivos alternativos,o agricultor estará protegendo a na-tureza, a si próprio, os consumidoresde sua produção e suas próprias fi-nanças, devido ao baixo custo destassubstâncias, contribuindo para umamenor evasão de divisas do País, de-vido a diminuição de importação dosprodutos químicos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, JÚNIOR, H.J. Práticas al-ternativas de controle de pragas edoenças na agricultura: coletânea dereceitas. Campinas, SP, EMOPI,1998. 115 p.

BURG, C.I. & MAYER, H.P. Al-ternativas ecológicas paraprevenção e controle de pragase doenças. Francisco Beltrão,GRAFIT, 1999. 153 p.

GUIRADO, N. Avaliação de substân-cias como interferentes na aquisiçãoe inoculação do vírus da leprose doscitros pelo ácaro Brevipalpusphoenicis. Piraci-caba, 1999. 87 p.Tese (Doutorado) - Centro de Ener-gia Nuclear na Agricultura, USP.

A leprose dos citros, doençacausada por um vírustransmitido pelo ácaro

Brevipalpus phoenicis, que em umpassado não muito distante, era con-siderada virose de pomares abando-nados, atualmente ocorre em todas asregiões citrícolas do estado, mesmoem propriedades consideradas de pa-drão elevado, causando gastos anuaisde mais de 40 milhões de dólares ame-ricanos com acaricidas para seu con-trole (Oliveira, 1995). Em sua tesede doutorado no CENA/USP emPiracicaba, SP, Guirado (1999) ava-liou a eficiência de diversas substân-cias como interferentes na aquisiçãoe inoculação do vírus da leprose doscitros pelo ácaro Brevipalpusphoenicis que causa danos em fru-tos, folhas e ramos em plantas cítri-cas. Dessa avaliação, foi constatadoque é possível controlar a leprose doscitros com os seguintes produtos natu-rais: extratos de folhas de Luffa cylindrica

A leprose dos citros causa: manchas nos frutos (A), nas folhas (B) e lesões salientese corticosas nos ramos (C).

INFORMAÇÕES TÉCNICAS

vírus mais rapidamen-te que o normal. Osdefensivos agrícolas,além de ofereceremrisco de vida aoaplicador e ao consu-midor dos produtosque podem conter re-síduos de pesticidas,poluem o ambiente ecausam evasão de di-visas do País, pois emgeral, pelo menos amatéria prima usadana fabricação dessesprodutos são importa-dos de outros países.

O controle de pra-gas e doenças comprodutos alternativos ébastante antigo, sendoque na Índia, há mais de

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OLIVEIRA, C.A.L. Aspectos ecoló-gicos do Brevipalpus phoenicis.In: OLIVEIRA, C.A.L. &DONADIO, L.C. (eds.). Leprosedos citros. Jaboticabal, FUNEP,1995. p. 37-48.

INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Desinfestador solar para aágua de irrigação

PLETSCH, M. Compostos naturais bi-ologicamente ativos. Brasília,Biotecnologia, Ciência & Desen-volvimento, n.º 4, p. 12-15, 1998.

SCHMUTTERER, H. The neem tree,source of unique products for inte-grated pest management, medicine,

industry and other purposes. Cam-bridge, VCH, 1995. 696 p.

Nivaldo Guirado

IAC - Centro de Fitossanidade

fone: (19) 3241-5188 ramal 363

endereço eletrônico: [email protected]

Protótipo de desinfestador solar desenvolvido pelo IAC com apoio daFAPESP.

Na busca de alternativa para so-lucionar o problema de veiculação demicroorganismos fitopatogênicos naágua utilizada em irrigação, foi desen-volvido um desinfestador solar para tra-tamento térmico da água, num projetofinanciado pela FAPESP, envolvendoo Centro de Mecanização e AutomaçãoAgrícola (CMAA) e o Centro deFitossanidade do Instituto Agronômico.

A água utilizada para irrigaçãopode veicular microrganismosfitopatogênicos e sempre representaum perigo potencial de se constituirem fonte de inóculo de patógenos.Deve-se atentar para este fato, prin-cipalmente quando se trata de evitara ocorrência de novas doenças ou deestirpes mais patogênicas de determi-nado microrganismo, ainda não pre-sentes na área. Isto constitui motivode preocupação constante deviveiristas e agricultores que utilizam

culturas irrigadas, principalmentequando a água é captada após pas-sar por outras propriedades onde foiconstatada a ocorrência de doenças.Uma vez introduzidos pela água, al-guns patógenos podem ser dissemi-nados pelas mudas, se estabelecer nolocal e sobreviver no solo por longotempo. E, como agravante, ressalte-se que, para muitos deles, não exis-tem medidas eficazes de controle.

Convém lembrar que os laborató-rios das clínicas fitopatológicas,das quais o agricultor pode lan-çar mão na atualidade, não exe-cutam análises rotineiras para de-tectar a presença de fitopatógenosna água e que, não raramente, aágua sob suspeita de contamina-ção é a única disponível na pro-priedade.

A desinfestação da água pode serrealizada de diversas maneiras, comoo tratamento químico (uso do cloro,por exemplo), luz ultravioleta, micro-filtragem e calor. Todas elas, porém,apresentam algum inconveniente parauso, como toxicidade à própria plan-ta, ao homem e animais, baixa efici-ência, inviabilidade prática oueconômica.

Embora seu princípio de funcio-namento se pareça com o de aque-cedores solares comuns, algumasadaptações foram realizadas com aintenção de automatizar o sistemapara que opere na faixa de tempera-tura mínima necessária para a elimi-nação da maioria dos patógenos, o quepode garantir o aumento do rendimen-to em volume de água tratada por dia.

A exemplo da solarização e docoletor solar plano, que vêm sendo usa-dos para o controle de patógenos dosolo, a desinfestação da água peloaquecimento fundamenta-se no efei-to de temperaturas elevadas sobre aatividade celular dos patógenos. Tem-peraturas em torno de 60 0C pratica-mente eliminam a maioria dofitopatógenos de importânciaeconômica, devido à desnaturação deproteínas e enzimas que desempenhampapel vital no metabolismo celular.

O princípio operacional do equi-pamento baseia-se num processo deaquecimento solar da água comcoletores planos, empregando-se téc-nicas de convecção e termo-estatização. A convecção envolveprocessos físicos de transmissão decalor, através de convecção naturale forçada, como mecanismo de trans-ferência de calor dos coletores sola-res à massa de água, até que seja atin-gida a temperatura em teste e o tem-po de exposição, letais para ainativação de fitopatógenos. A téc-nica de termoestatização é operada

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O Instituto Agronômico está colo-cando à disposição da agroindústriacitrícola a laranja Pêra IAC-2000,cujas excelentes qualidades estão des-tacadas na Sessão Cultivares IAC.Isso não ocorreu por acaso! As vari-edades dos citros cultivados com fina-lidade comercial em São Paulo e noBrasil, em grande parte, são deriva-das, de forma direta ou indireta, deinúmeras pesquisas realizadas no Cen-tro de Citricultura Sylvio Moreira(CCSM/IAC), exemplo de um traba-lho que tem contribuído, não apenaspara o aprimoramento da cultura,como também para a arrecadação dedivisas para o País, para o Estado epara o citricultor. Dedica mais de 80%de suas pesquisas ao melhoramentodos citros com a finalidade de ofere-cer aos produtores novas opções parao plantio e também de ampliar a dispo-nibilidade de frutos para a indústria epara os mercados interno e externo.

Reconhecido internacional-mente como uma dasprincipais instituições depesquisa relacio-nadas às plantascítricas, o Centrode CitriculturaSylvio Moreiratem sua históriainiciada há 72anos, com ainiciativa do entãosecretário de Agricul-tura do Estado, FernandoFebeliano da Costa, em atenção aum pedido de Navarro de Andrade,influente técnico e político da regiãode Limeira. Na época, a citriculturajá era a responsável pelo crescimentoacelerado da cidade, havendointeresse das autoridades e daPrefeitura do município, de queLimeira fosse sede de uma estaçãoexperimental capaz alavancar oavanço da cultura.

Surgiu, assim, em uma gleba doa-da pela Prefeitura ao Estado, a Esta-

ção Experimental de Limeira que, em27 de fevereiro de 1993, passou a serdenominada Centro de CitriculturaSylvio Moreira, resultado de sua fu-são com a Seção de Citricultura domesmo IAC. O objetivo da união foio de centralizar e promover o desen-volvimento das pesquisas citrícolas doInstituto. A partir dessa iniciativa aequipe de pesquisadores foi renova-da e ampliada. Ampliaram-se tam-bém a experimentação de campo ede laboratório. Foram criadas a Clí-nica Fitopatológica de Citros, o Labo-ratório de Qualidade de Fruta Cítricae, logo depois, a Clínica Entomológicade Citros. O Centro de CitriculturaSylvio Moreira, homenageia em seunome, o engenheiro agrônomo SylvioMoreira – reconhecida autoridadebrasileira em citricultura -, que dedi-cou boa parte de sua vida às pesqui-sas realizadas no IAC.

par-se de Limeira, em 1948, passou ase chamar Cordeirópolis. Por umcurto espaço de tempo, de 1931 a1935, a Estação de Limeira deixou aadministração IAC, com a criação doServiço de Citricultura, que reunia di-versas Estações do IAC.

Os trabalhos para instalar a novaestação experimental, que nascia coma missão de fazer pesquisas e experi-mentação com citros, foram iniciadosem 1928. Uma das primeiras medi-das para isso foi a construção de umpoço semi-artesiano que até hoje for-nece água de boa qualidade para ainstituição. Depois dele foram ergui-dos a casa da chefia, o galpão parasecagem de fumo (hoje sala SylvioMoreira), as casas da colônia etc.Campanhas realizadas por funcioná-rios e suas famílias permitiram a cons-trução, no início da década de 60, dacapela. Em 1988 foi inaugurado o pré-dio que abriga o Centro de Con-

venções da Citricultura. Essa obrapôde ser erguida graças a um

convênio entre a Secre-taria de Agricultura eAbastecimento e aPrefeitura de Cor-deirópolis, com co-laboração da Su-cocítrico Cutrale eda Citrosuco Pau-

lista, como destaca odiretor do CCSM/IAC,

Joaquim Teófilo Sobrinho.

Outro convênio entre a Secretariae a Prefeitura garantiu a construçãodo prédio do Laboratório deBiotecnologia em Citros, cuja opera-ção teve início em 1993. No ano se-guinte foram instaladas as primeirasestufas teladas, uma delas destinadaàs borbulheiras e a outra ao protótipode mudas certificadas. A nova sededo Centro foi inaugurada em 1995 e,em 1998, o prédio da ClínicaFitopatológica de Citros passou porreformas e foi ampliada, para 8 milmetros quadrados, a área de estufasà prova de insetos.

Sede da Estação Experimental de Limei-ra, construída na década de 40.

CCSM/IAC, centro de referência empesquisa e difusão de tecnologia citrícola

Sua instalação na gleba ocorreuapós vários estudos acompanhadospor Theodureto de Almeida Camargo,então diretor do Instituto Agronômico.A área escolhida ocupava 62 hecta-res das terras pertencentes à Fazen-da do Bosque, de propriedade de Jo-aquim Meira Botelho, situada no dis-trito de Cordeiro que, após emanci-

PÁGINAS AZUIS

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PESQUISAS

Os primeiros experimentos cientí-ficos foram instalados em 1930, com amontagem da coleção cítrica e a for-mação de alguns talhões de viveirosde plantas e matrizes. Os primeirosensaios de adubação para laranjeiras,de porta-enxerto para Baianinha, Pêra,pomeleiro Marsh Seedless e de seleçãode borbulhas foram iniciados a partirde 1932. Nessa época foi ampliada acoleção de citros e ativadas a produ-ção e venda de citros para os produto-res. Em parceria com a Escola Supe-rior de Agricultura Luiz de Queiroz(Esalq/USP) foram feitos os primeirosestudos de genética de citros.

A importância da pesquisa aplica-da e da instalação da Estação Experi-mental de Limeira foi confirmada nofinal da década de 30, com a chegadada tristeza. Pôde-se constatar na épo-ca que, enquanto morriam, entre os ex-perimentos, todas as plantas que utili-zavam como cavalo laranjeiras Azedae Agrodoce, limeira da Pérsia e toran-jeira doce, as enxertadas sobre limoei-ro Cravo, laranjeira Doce, tangerineirae trifoliata se mantinham sadias e pro-dutivas. Dessa forma, antes mesmode se determinar quais eram as cau-sas da tristeza, já era possível certifi-

car-se que a renovação dos laranjaispaulistas seria o novo caminho a seguir.

Os primeiros experimentos de irri-gação e de espaçamento de citros noBrasil, além da instalação do BancoAtivo de Germoplasma de Citros – con-siderado hoje um dos maiores acervoscitrícolas do mundo - ocorreram em1949. Já na década de 50, a Estaçãopassou a abrigar 77 diferentes porta-enxertos resistentes à tristeza. Dessavez, tanto como na época dosurgimento da doença, o limoeiro Cra-

vo mostrou sua superioridade, garan-tindo sua preferência entre os produ-tores. Mas até chegar a sua adoçãocomo porta-enxerto, muitas pesquisastiveram de ser realizadas. Mas o de-senvolvimento do centro de pesquisasestá ligado a uma série de outras con-quistas oriundas de experimentoscomo os de adubação e calagem, ex-periências de adensamento de plan-tio, melhoramento de copas e porta-enxertos em diferentes regiões. Aprimeira borbulheira de citros, seguin-do modelo adotado na Epanha, foi ins-talada em 1989.

Entre as centenas de pesquisasdesenvolvidas no CCSM e que revo-lucionaram a citricultura paulista, asque buscavam o melhoramento das la-ranjas doces – que representam 80 %dos plantios cítricos do Estado de SãoPaulo -, se destacam. Foi em decor-rência dessas pesquisas, por exemplo,que se obteve a laranja Pêra premu-nizada, variedade desenvolvida pormeio de técnica de proteção contra ovírus da tristeza. A variedade, hojepresente em mais da metade dos po-mares de Pêra do Brasil, passou a sermais plantada entre os clones existen-tes no mercado. Preferidas pelos con-sumidores, as Natal e Valência, damesma forma, tiveram clones melho-rados nos laboratórios do Centro deCitricultura, gerando a Natal IAC-22e Valências IAC-36 e 38. Resultadodecorrente desse processo, as duas va-riedades passaram a apresentar alta

Sede atual do CCSM/IAC, inaugurada em 1995.

Produção de mudas em estufa protegida contra insetos vetores da CVC.

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produtividade. Também no CCSM, fo-ram selecionadas para a produção nomeio do ano, a Rubi, Westin e Barão, asduas primeiras, para venda in natura epara indústria.

Os pesquisadores do CCSM têmconseguido resultados importantes noaumento do número de variedades e,por conta disso, na facilidade e opçõesde plantio. Quanto às tangerinas, os tra-balhos visam ampliar o período de sa-fra da fruta estendendo-o aos mesesmais quentes do ano, quando existe es-cassez do produto. Prova disso é a va-riedade Ponkan que, por meio deseleção feita pelos pesquisadores doCCSM/IAC teve a safra estendida aolongo do ano. As variedades Satsuma,Span, Americana e Loose, entre outrastiveram, da mesma forma, o período desafra ampliado. As tangerinas com pou-ca, ou nenhuma semente, introduzidasno mercado nacional via importação,comprovam pesquisas que já vinham sen-do realizadas no Centro de Citricultura,com a finalidade de obter a fruta livre desementes. A meta é disponibilizar paraos produtores nos próximos anos pelomenos uma dezena de variedades de tan-gerinas com maior período de safra. Sedo ponto de vista da pesquisa isto seráum avanço considerável, do ponto de vis-ta do produtor o ganho econômico serásignificativo, já que o mercado para a fru-ta, apreciada no mundo inteiro pelo aro-ma, sabor e pela facilidade de serdescascada, é promissor. O “Dia da Tan-gerina” é comemorado anualmente noinício do mês de maio no CCSM/IAC,desde o ano de 1998.

Os produtores de limão têm no CCSMum ponto de apoio: em seus laboratóriosforam selecionados limões que apresen-tam alta produtividade, como o Vilafrancae Ferminello Santa Tereza. Os clones doTahiti “Quebra Galho” e IAC-5 (perua-no) foram também selecionados no IAC.O “Dia do Limão” foi comemorado pelaprimeira vez no CCSM/IAC no mês demarço de 2000.

As décadas de desenvolvimentode pesquisas realizadas no Centro deCitricultura Sylvio Moreira para a pro-dução e seleção de clones nucelareslivres de viroses tiveram semprecomo meta a qualidade. Essa buscapermitiu o estabelecimento, em 1969,

do Programa deMatr i -zes de Citros do Estadode São Paulo. Esse pro-grama ganhou o statusde “uma das mais rele-vantes contribuições da Ci-ência para a agricultura bra-sileira” por menção da SociedadeBrasileira pelo Progresso da Ciência(SBPC). A homenagem da comuni-dade científica brasileira teve funda-mento, já que maior parte das plantasque compõem o estande da citriculturabrasileira teve origem nas matrizesselecionadas no Centro.

Exemplos do resultado de alta efici-ência do programa é o fato de virosescomo exocorte, sorose e xiloporose, queno passado foram responsáveis por pre-juízos significativos aos produtores, nãomais serem detectadas nas planta-ções cítricas. Outro exemplode eficiência das pesqui-sas desenvolvidas noIAC é a proteçãocruzada contraestirpes for-tes do vírusda tris-teza, aoqual avarieda-de cítricaPêra ébastantesensível.O uso dematerialpré-imu-n i z a d o ,especial-mente nocaso daL a r a n j a

Pêra, proporcionou importantes aumentosde produtividade da citricultura paulista.

O melhoramento da variedadeHamlin é outro exemplo da importânciadas pesquisas do CCSM para acitricultura, cultivo entre os mais impor-tantes da agricultura brasileira. Origi-nalmente importada dos Estados Unidos,apresentava o viróide da exocorte. Pormeio da obtenção e seleção de clonesnucelares, que são livres de vírus eviróides, chegou-se ao clone IAC-4, dealtas qualidade de fruto e produtividade.

A pesquisa sobre a nutrição doscitros, com expe-

r imentospioneiros,já na dé-cada de40, cons-titui outra

Laranjeira Hamlin - clone nucelar, com mais de 30 anos, do Banco deMatrizes do CCSM/IAC.

Laranja Bahialivre de vírus.

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área de grande importância no CCSM/IAC. O primeiro ensaio de adubaçãoNPK realizado no País, conduzido pormais de vinte anos, com laranjabaianinha em porta-enxerto laranjacaipira, forneceu as primeiras respos-tas de citros à adubação mineral nascondições brasileiras. Dele surgiramas primeiras recomendações de adu-bação, avanços na interpretação deanálise foliar e informações sobreefeitos de adubações sistemáticas so-bre as características químicas dosolo. Um marco histórico na pesquisaem fertilidade do solo e nutrição deplantas cítricas teve início em 1986com a condução, durante sete anos,de uma rede de ensaios fatoriais NPKem que diferentes doses de nitrogênio,fósforo e potássio, em 32 combina-ções foram pesquisadas nos diversossolos das principais regiões produto-ras. Pela primeira vez na história dacitricultura mundial foram definidascurvas de calibração de resultados deanálise de solo, específicas para oscitros, que permitem o diagnósticomais preciso das desordens nutricio-nais, para cada situação de solo.Atualmente as pesquisas em nutriçãodos citros procuram um ajuste fino dasrecomendações de adubação para má-xima produtividade com a melhor qua-lidade possível dos frutos, adubaçãoespecífica para tangerinas e recomen-dações diferenciadas para os novosporta-enxertos que, por razões sani-tárias epara aprimorar a produtivida-de e a qualidade dos frutos, irão com-por a nova citricultura paulista do pró-ximo milênio.n

Banco de Germoplasma

Um dos mais completos acervoscitrícolas do mundo, o Banco Ativo deGermoplasma (BAG) de Citros doCCSM/IAC conta atual-mente commais de 1.800 introduções, sendo 42%de laranjas, 15% de tangerinas, 11%de limões, 4% de limas ácidas, 4% depomelos, 3% de toranjas, 2% de cidras,9% de outros citros e 10% de híbridos.A diversidade genética nele contidatem servido como sustentáculo para odesenvolvimento da citriculturapaulista. A introdução de novos mate-riais nesse banco tem ocorrido por meiode contato com produtores, técnicos oupesquisadores de outras instituições.Esses materiais podem ser variedadeslocais ou de determinadas regiões, ori-ginários de mutações somáticas e dehibridações espontâneas ou controla-das entre variedades. Parte do mate-rial desse BAG é resultante de inter-câmbio entre o CCSM e outros insti-tutos de pesquisas citrícolas de outrospaíses. Mas, por questão de seguran-ça, a introdução de novos materiais aoBAG só ocorre após a realização deindexação contra vírus, viróides e paraa bactéria Xyllela fastidiosa, causa-dora da CVC. Testes que buscamselecionar plantas resistentes à CVCtêm utilizado, com freqüência, clonesdo Banco Ativo de Germoplasma. Si-tuação semelhante também é encon-trada em testes de resistência e tole-rância à gomose e leprose.

Desde que foi criado, o BAG deCitros tem contribuído como fonte derecursos genéticos para a solução de

problemas relacionados à sanidadedas plantas cítricas, na oferta de vari-edades comerciais, de copa e porta-enxerto e como fonte de estudos parapesquisadores da área. Diversas va-riedades comerciais e de importânciana citricultura paulista são decorren-tes do trabalho realizado no BancoAtivo. Clones de sua coleção deramorigem de forma direta ou indireta àquase totalidade das plantas cítricasexistentes no Brasil.

O CCSM, com base em seu Ban-co Ativo de Germoplasma de Citrostem, atualmente vários trabalhos emexecução, especialmente os que bus-cam desenvolver variedades resisten-tes ao cancro cítrico e à cloroseVariegada dos Citros (CVC).

Clínica Fitopatológica

A ocorrência de diferentes sinto-mas é bastante freqüente na citriculturae pode ser observada desde a fase deviveiro até a de plantas adultas. Al-guns sintomas muitas vezes nem sãonotados. Porém, quando começam aprejudicar a produção e as plantas, ouse tratando de algo raro, o citricultorresolve buscar ajuda especializada. Namaioria das vezes, o agricultor recorrea outros companheiros de profissão oua engenheiros agrônomos que conhe-ce e que estão envolvidos no dia-a-diada citricultura. Em alguns casos, po-rém, essa ajuda não é suficiente, ha-vendo necessidade de testes mais ela-borados e de observações mais pro-fundas para se chegar ao diagnósticocorreto do problema. A demanda re-gional por serviços especializados de

Plantas Matrizes de Citros do CCSM/IAC.

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diagnose de doenças em plantas cítri-cas determinou a instalação, em 1995,da Clínica Fitopatológica do CCSM/IAC. Sua meta é responder, o maisrapidamente possível, à maioria dasdúvidas do citricultor. Mensalmente vêmsendo realizados cerca de 30 atendimen-tos, referentes à gomose (Phytophtora),à clorose variegada dos citros (Xyllelafastidiosa), mancha preta (Guignardiacitricarpa) e ao nematóide dos citros(Tylenchulus semipenetrans). As duasprimeiras doenças representam 80 %das consultas.

Além dos serviços de diagnose, osdois pesquisadores da Clínica dedi-cam-se ao estudo de doençascitrícolas. É parte da rotina da Clíni-ca também o contato permanente compesquisadores de outras instituições ea integração com agentes de exten-são. Entre as finalidades para as quaisfoi criada, a Clínica se destaca na pres-tação de serviços de diagnóstico deanomalias, na identificação de pragas,na avaliação da tolerância ou resistên-cia de plantas cítricas a fatores bióticosou abióticos, em apoio a programas demelhoramento de citros e ao estabele-cimento de lotes de matrizes eborbulheiras. Promove, ainda, pesqui-sas sobre manejo e controle de doen-ças. Outras atribuições são a realiza-ção de pesquisas básicas e aplicadascom microorganismos benéficos, pro-mover a capacitação e pesquisar doen-ças e pragas exóticas e potencialmentenocivas à citricultura nacional. Partede seus trabalhos estão voltados à rea-lização de pesquisas básicas sobre eco-logia, citologia, histologia e fisiologia de

patógenos. Cabe, ainda, à Clínica, pro-mover a criação ou a adaptação demétodos fitopatológicos e a realizaçãode estudos básicos sobre interaçõesentre patógenos e hospedeiros.

Laboratório de biotecnologiaem citros

Criado em 1990, a partir de umavisão de futuro da pesquisa citrícolado Estado, o Laboratório de Bio-tecnologia em Citros do CCSM/IACé reconhecido hoje como um dos maismodernos e importantes do País.Cabe aos pesquisadores que neleatuam a responsabilidade de concen-trar esforços nas áreas prioritárias dacitricultura como a recuperação declones de variedades comerciais, me-lhoramento genético e, entre outros,pesquisas da biologia molecular decitros e de importantes patógenos.

Este laboratório teve participaçãodestacada no projeto FAPESPGenoma da Xyllela fastidiosa, cau-sadora da CVC. Este projeto, con-cluído no início deste ano, represen-tou a primeira elucidação completa docódigo genético de um patógeno ve-getal no mundo.

Com o objetivo de estabelecer umsistema de fácil acesso ao usuário eadequada resolução, o laboratório de-senvolveu, em parceria com a Univer-sidade Estadual de Campinas(UNICAMP), anticorpos monoclonaiscontra isolados severos (estirpe CapãoBonito, principalmente) do vírus datristeza dos citros. Anticorpospoliclonais para o diagnóstico serológico

da X. fastidiosa vêm sendo obtidos nolaboratório. Nesse projeto, a participa-ção do PADCT e da Citrovita Agrícolaforam fundamentais.

Com apoio da FAPESP, vêm sen-do caracterizados, por meio de testesmoleculares, isolados fracos do vírusda tristeza, visando selecionar aque-les que possam oferecer melhor ca-pacidade protetiva a clones regionaisda laranja Pêra.

O mapeamento genético de cultiva-res assistido por marcadores, constituioutra atividade de grande importânciado laboratório. Os marcadoresmoleculares são ferramentas poderosasno estudo da herança de importantesdoenças dos citros. Mapas genéticostêm sido construídos com marcadoresAFLP (Amplified Fragment LengthPolymorphis) e RAPD (RamdonAmplified Polymorphic DNA) e são abase para a localização de genes de in-teresse. Dessa forma foi mapeado ogene de resistência à tristeza dePoncirus trifoliata, mediante cruza-mento com progenitor tolerante, a tan-gerina Sunki. A mesma progênie estásendo utilizada no mapeamento da re-sistência à gomose, com apoio doPADCT e das empresas SucocítricoCutrale e Citrosuco Paulista.

Por conta do trabalho desenvolvi-do ao longo de sua existência, oCCSM contribuiu, e muito, para o Bra-sil se transformar no maior produtormundial de citros e também o líder nomundo da exportação de suco cítricoconcentrado. O Centro colaborou, ain-

Pesquisadores, funcionários de apoio e estudantes de pós-graduação do CCSM/IAC.

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da, para que o setor pudesse gerar pelomenos 400 mil empregos, número sig-nificativamente maior do que, porexemplo, as montadoras de automó-veis do país. “O centro possui passa-do, preocupa-se com o presente e estáse preparando com muito cuidadopara o futuro, uma vez que a qualida-de, a competitividade e a competên-cia serão armas obrigatórias para asinstituições de pesquisas no próximomilênio”, ressalta Joaquim Teófilo So-brinho, diretor do CCSM.

Laboratório de qualidade defrutos cítricos

Dentro de um programa deplanejamento de atividades do CCSM/IAC foi estabelecido, há cerca de seisanos, um plano de trabalho para aten-der demanda na área de avaliação daqualidade de frutos cítricos. As análi-ses de qualidade estão relacionadascom a caracterização de frutos e desuco de variedades comerciais e da-quelas com potencial para indústria econsumo in natura. Característicasimportantes como teor de sólidos solú-veis (grau Brix) e acidez, relação en-tre sólidos solúveis/acidez (‘ratio’), teorde vitamina C e de óleos essenciais,avaliadas rotineiramente, são funda-mentais para o melhor conhecimentodas variedades. Anualmente milharesde análises vêm sendo realizadas, emapoio aos trabalhos de pesquisa do pró-prio centro e atendimento às deman-das do setor público e privado.

Eventos

As marcas dosucesso conquistadodesde sua fundaçãotêm sido subsidiadasno decorrer dos anospelo sucesso dasparcerias feitas comassociações, produ-tores, empresas einstituições. Decor-rência destas parce-rias puderam serviabilizados projetosimportantes para odesenvolvimento dacitricultura nacional.Contribuíram tam-bém para tornar o

Centro um verdadeiro pólo deintegração entre diversos segmentos dacadeia produtiva dos citros. A realiza-ção freqüente de eventos, outra mar-ca do CCSM/IAC tem, de modo se-melhante, colaborado para difundir seustrabalhos e tem também servido de re-ferência para outros Centros e Nú-cleos do IAC.

Um de seus eventos mais impor-tantes é a Semana da Citricultura, queocorre há mais de 20 anos no mês dejunho e que reúne agricultores, técni-cos, pesquisadores, empresários, líde-res citrícolas e outros, do País e do ex-terior. Por meio desses eventos, o Cen-tro tem ajudado no fortalecimento dabase social da pesquisa e contribuídopara a formação de diversas associa-ções de citricultores. Assim como aSemana da Citricultura, a Expocitros,exposição de produtos relacionados àcitricultura, que reúne produtores e co-merciantes de máquinas e imple-mentos, além de outros insumos tor-nou-se, ao longo dos anos, a mais im-portante feira citrícola brasileira. A lon-ga experiência administrativa e a im-portância científica do Centro deCitricultura Sylvio Moreira fez comque servisse de base para a reformaestrutural promovida nas instituiçõesde pesquisas (entre elas o próprioIAC) ligados à Secretaria de Agricul-tura do Estado de São Paulo. Umaoutra vertente de difusão de tecnologiaencontrada pelo CCSM/IAC é a re-vista técnico-científica Laranja, que jáfaz parte da bibliográfica frutícola do

Vista aérea do CCSM/IAC, por ocasião da Expocitros, considerada a maior feira citrícola do País.

País. A diversidade de trabalhos ede autores torna-a acessível a um pú-blico cativo de extensionistas, profes-sores, estudantes, pesquisadores, empre-sários e produtores. Já se tornou leitu-ra obrigatória para aqueles que traba-lham na citricultura. Edita o informati-vo Centro de Citricultura, de periodici-dade mensal, e mantém um “site” nainternet. Desde 1994 vem ministrandocursos de citricultura para agro-nomandos e engenheiros agrônomosque trabalham na área.

Anualmente, o CCSM/IAC e a co-munidade citrícola paulista outorgamimportantes prêmios de reconheci-mento. O “Prêmio Destaque daCitricultura” é conferido a profissio-nais de agronomia da área citrícolaque se destacam e contribuem para odesenvolvimento da citricultura. O“Prêmio Sylvio Moreira é outorgadoaos autores brasileiros dos melhoresartigos científicos sobre citros, publi-cados em revistas nacionais ou es-trangeiras. Outro prêmio do CCSM/IAC - a maior láurea da pesquisacitrícola – é o “Troféu Centro deCitricultura-IAC”, conferido aos seusmaiores colaboradores na área depesquisa.

O Centro de Citricultura SylvioMoreira, localizado em Cordei-rópolis, SP, é exemplo de sucessona interiorização da pesquisa e daparceria com o agronegóciocitrícola.

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Defensivos naturais controlam a leprosedos citros

e de Hedera helix nas diluições 1:10 e1:20 ou Datura metel 1:10 que atuaramcomo repelentes ao ácaro e tambémcom o extrato de bulbo de Alliumsativum (alho) nas diluições 1:10 ou 1:20que atuou como repelente alimentar.

Atualmente, um dos principais obs-táculos enfrentados pelos agricultorese pesquisadores têm sido fitovirosesque chegam a ser limitantes para vá-rias culturas de importância eco-nômica. A maioria dos vírus é disse-minada por vetores, principalmenteinsetos e ácaros, tornando o controlemuitas vezes uma tarefa difícil. Ocontrole de vetores também é basea-do no uso de defensivos agrícolas, quenem sempre conseguem evitar que ovetor se alimente em plantas doado-ras ou receptoras de vírus. Em mui-tos casos, os vetores, principalmenteos insetos, ficam agitados como efei-to da aplicação de produtos químicos,promovendo efeito contrário ao dese-jado, isto é, adquirem ou inoculam o

2000 anos os agricultores utilizavam fo-lhas e sementes de Azadirachta indi-ca no controle de pragas e doenças(Schmutterer, 1995). Atualmente,muitos agricultores fazem uso dos de-fensivos alternativos das mais varia-das origens, em suas lavouras obten-do sucesso na produção (AbreuJúnior, 1998; Burg & Mayer, 1999).Esses produtos pertencem a cincograndes classes químicas: oscarboidratos, os lipídios, os compos-tos nitrogenados (amino-ácidos,peptídeos, proteínas e glicosídeoscianogênicos e alcalóides), osterpenóides e os fenilpropanóides. Onúmero de compostos envolvidos émuito grande, sendo que, em 1993, oDicionário Fitoquímico relacionou2793 compostos com atividade bioló-gica caracterizada (Pletsch, 1998).

Ao utilizar defensivos alternativos,o agricultor estará protegendo a na-tureza, a si próprio, os consumidoresde sua produção e suas próprias fi-nanças, devido ao baixo custo destassubstâncias, contribuindo para umamenor evasão de divisas do País, de-vido a diminuição de importação dosprodutos químicos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, JÚNIOR, H.J. Práticas al-ternativas de controle de pragas edoenças na agricultura: coletânea dereceitas. Campinas, SP, EMOPI,1998. 115 p.

BURG, C.I. & MAYER, H.P. Al-ternativas ecológicas paraprevenção e controle de pragase doenças. Francisco Beltrão,GRAFIT, 1999. 153 p.

GUIRADO, N. Avaliação de substân-cias como interferentes na aquisiçãoe inoculação do vírus da leprose doscitros pelo ácaro Brevipalpusphoenicis. Piraci-caba, 1999. 87 p.Tese (Doutorado) - Centro de Ener-gia Nuclear na Agricultura, USP.

A leprose dos citros, doençacausada por um vírustransmitido pelo ácaro

Brevipalpus phoenicis, que em umpassado não muito distante, era con-siderada virose de pomares abando-nados, atualmente ocorre em todas asregiões citrícolas do estado, mesmoem propriedades consideradas de pa-drão elevado, causando gastos anuaisde mais de 40 milhões de dólares ame-ricanos com acaricidas para seu con-trole (Oliveira, 1995). Em sua tesede doutorado no CENA/USP emPiracicaba, SP, Guirado (1999) ava-liou a eficiência de diversas substân-cias como interferentes na aquisiçãoe inoculação do vírus da leprose doscitros pelo ácaro Brevipalpusphoenicis que causa danos em fru-tos, folhas e ramos em plantas cítri-cas. Dessa avaliação, foi constatadoque é possível controlar a leprose doscitros com os seguintes produtos natu-rais: extratos de folhas de Luffa cylindrica

A leprose dos citros causa: manchas nos frutos (A), nas folhas (B) e lesões salientese corticosas nos ramos (C).

INFORMAÇÕES TÉCNICAS

vírus mais rapidamen-te que o normal. Osdefensivos agrícolas,além de ofereceremrisco de vida aoaplicador e ao consu-midor dos produtosque podem conter re-síduos de pesticidas,poluem o ambiente ecausam evasão de di-visas do País, pois emgeral, pelo menos amatéria prima usadana fabricação dessesprodutos são importa-dos de outros países.

O controle de pra-gas e doenças comprodutos alternativos ébastante antigo, sendoque na Índia, há mais de

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12 O Agronômico, Campinas, 52(2/3), 2000

OLIVEIRA, C.A.L. Aspectos ecoló-gicos do Brevipalpus phoenicis.In: OLIVEIRA, C.A.L. &DONADIO, L.C. (eds.). Leprosedos citros. Jaboticabal, FUNEP,1995. p. 37-48.

INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Desinfestador solar para aágua de irrigação

PLETSCH, M. Compostos naturais bi-ologicamente ativos. Brasília,Biotecnologia, Ciência & Desen-volvimento, n.º 4, p. 12-15, 1998.

SCHMUTTERER, H. The neem tree,source of unique products for inte-grated pest management, medicine,

industry and other purposes. Cam-bridge, VCH, 1995. 696 p.

Nivaldo Guirado

IAC - Centro de Fitossanidade

fone: (19) 3241-5188 ramal 363

endereço eletrônico: [email protected]

Protótipo de desinfestador solar desenvolvido pelo IAC com apoio daFAPESP.

Na busca de alternativa para so-lucionar o problema de veiculação demicroorganismos fitopatogênicos naágua utilizada em irrigação, foi desen-volvido um desinfestador solar para tra-tamento térmico da água, num projetofinanciado pela FAPESP, envolvendoo Centro de Mecanização e AutomaçãoAgrícola (CMAA) e o Centro deFitossanidade do Instituto Agronômico.

A água utilizada para irrigaçãopode veicular microrganismosfitopatogênicos e sempre representaum perigo potencial de se constituirem fonte de inóculo de patógenos.Deve-se atentar para este fato, prin-cipalmente quando se trata de evitara ocorrência de novas doenças ou deestirpes mais patogênicas de determi-nado microrganismo, ainda não pre-sentes na área. Isto constitui motivode preocupação constante deviveiristas e agricultores que utilizam

culturas irrigadas, principalmentequando a água é captada após pas-sar por outras propriedades onde foiconstatada a ocorrência de doenças.Uma vez introduzidos pela água, al-guns patógenos podem ser dissemi-nados pelas mudas, se estabelecer nolocal e sobreviver no solo por longotempo. E, como agravante, ressalte-se que, para muitos deles, não exis-tem medidas eficazes de controle.

Convém lembrar que os laborató-rios das clínicas fitopatológicas,das quais o agricultor pode lan-çar mão na atualidade, não exe-cutam análises rotineiras para de-tectar a presença de fitopatógenosna água e que, não raramente, aágua sob suspeita de contamina-ção é a única disponível na pro-priedade.

A desinfestação da água pode serrealizada de diversas maneiras, comoo tratamento químico (uso do cloro,por exemplo), luz ultravioleta, micro-filtragem e calor. Todas elas, porém,apresentam algum inconveniente parauso, como toxicidade à própria plan-ta, ao homem e animais, baixa efici-ência, inviabilidade prática oueconômica.

Embora seu princípio de funcio-namento se pareça com o de aque-cedores solares comuns, algumasadaptações foram realizadas com aintenção de automatizar o sistemapara que opere na faixa de tempera-tura mínima necessária para a elimi-nação da maioria dos patógenos, o quepode garantir o aumento do rendimen-to em volume de água tratada por dia.

A exemplo da solarização e docoletor solar plano, que vêm sendo usa-dos para o controle de patógenos dosolo, a desinfestação da água peloaquecimento fundamenta-se no efei-to de temperaturas elevadas sobre aatividade celular dos patógenos. Tem-peraturas em torno de 60 0C pratica-mente eliminam a maioria dofitopatógenos de importânciaeconômica, devido à desnaturação deproteínas e enzimas que desempenhampapel vital no metabolismo celular.

O princípio operacional do equi-pamento baseia-se num processo deaquecimento solar da água comcoletores planos, empregando-se téc-nicas de convecção e termo-estatização. A convecção envolveprocessos físicos de transmissão decalor, através de convecção naturale forçada, como mecanismo de trans-ferência de calor dos coletores sola-res à massa de água, até que seja atin-gida a temperatura em teste e o tem-po de exposição, letais para ainativação de fitopatógenos. A téc-nica de termoestatização é operada

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12 O Agronômico, Campinas, 52(2/3), 2000

OLIVEIRA, C.A.L. Aspectos ecoló-gicos do Brevipalpus phoenicis.In: OLIVEIRA, C.A.L. &DONADIO, L.C. (eds.). Leprosedos citros. Jaboticabal, FUNEP,1995. p. 37-48.

INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Desinfestador solar para aágua de irrigação

PLETSCH, M. Compostos naturais bi-ologicamente ativos. Brasília,Biotecnologia, Ciência & Desen-volvimento, n.º 4, p. 12-15, 1998.

SCHMUTTERER, H. The neem tree,source of unique products for inte-grated pest management, medicine,

industry and other purposes. Cam-bridge, VCH, 1995. 696 p.

Nivaldo Guirado

IAC - Centro de Fitossanidade

fone: (19) 3241-5188 ramal 363

endereço eletrônico: [email protected]

Protótipo de desinfestador solar desenvolvido pelo IAC com apoio daFAPESP.

Na busca de alternativa para so-lucionar o problema de veiculação demicroorganismos fitopatogênicos naágua utilizada em irrigação, foi desen-volvido um desinfestador solar para tra-tamento térmico da água, num projetofinanciado pela FAPESP, envolvendoo Centro de Mecanização e AutomaçãoAgrícola (CMAA) e o Centro deFitossanidade do Instituto Agronômico.

A água utilizada para irrigaçãopode veicular microrganismosfitopatogênicos e sempre representaum perigo potencial de se constituirem fonte de inóculo de patógenos.Deve-se atentar para este fato, prin-cipalmente quando se trata de evitara ocorrência de novas doenças ou deestirpes mais patogênicas de determi-nado microrganismo, ainda não pre-sentes na área. Isto constitui motivode preocupação constante deviveiristas e agricultores que utilizam

culturas irrigadas, principalmentequando a água é captada após pas-sar por outras propriedades onde foiconstatada a ocorrência de doenças.Uma vez introduzidos pela água, al-guns patógenos podem ser dissemi-nados pelas mudas, se estabelecer nolocal e sobreviver no solo por longotempo. E, como agravante, ressalte-se que, para muitos deles, não exis-tem medidas eficazes de controle.

Convém lembrar que os laborató-rios das clínicas fitopatológicas,das quais o agricultor pode lan-çar mão na atualidade, não exe-cutam análises rotineiras para de-tectar a presença de fitopatógenosna água e que, não raramente, aágua sob suspeita de contamina-ção é a única disponível na pro-priedade.

A desinfestação da água pode serrealizada de diversas maneiras, comoo tratamento químico (uso do cloro,por exemplo), luz ultravioleta, micro-filtragem e calor. Todas elas, porém,apresentam algum inconveniente parauso, como toxicidade à própria plan-ta, ao homem e animais, baixa efici-ência, inviabilidade prática oueconômica.

Embora seu princípio de funcio-namento se pareça com o de aque-cedores solares comuns, algumasadaptações foram realizadas com aintenção de automatizar o sistemapara que opere na faixa de tempera-tura mínima necessária para a elimi-nação da maioria dos patógenos, o quepode garantir o aumento do rendimen-to em volume de água tratada por dia.

A exemplo da solarização e docoletor solar plano, que vêm sendo usa-dos para o controle de patógenos dosolo, a desinfestação da água peloaquecimento fundamenta-se no efei-to de temperaturas elevadas sobre aatividade celular dos patógenos. Tem-peraturas em torno de 60 0C pratica-mente eliminam a maioria dofitopatógenos de importânciaeconômica, devido à desnaturação deproteínas e enzimas que desempenhampapel vital no metabolismo celular.

O princípio operacional do equi-pamento baseia-se num processo deaquecimento solar da água comcoletores planos, empregando-se téc-nicas de convecção e termo-estatização. A convecção envolveprocessos físicos de transmissão decalor, através de convecção naturale forçada, como mecanismo de trans-ferência de calor dos coletores sola-res à massa de água, até que seja atin-gida a temperatura em teste e o tem-po de exposição, letais para ainativação de fitopatógenos. A téc-nica de termoestatização é operada

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55-600C, os demais patógenos não so-breviveram além de 45-50 0C.

Os resultados obtidos com o equi-pamento desenvolvido comprovaramseu desempenho e o potencial de via-bilidade técnica. Na temperatura de600C a produção média de água pro-cessada por metro quadrado de placasolar, por dia, foi de 720 litros, superi-or à média de 57 L/m2dia, dos siste-mas de aquecimento convencionais si-milares, atualmente em uso no Brasil,para uso doméstico.

função da hora do dia, sendo otimizadonos meses de verão, em sol a pino.

Esse sistema mostra-se promissorpara ser utilizado na desinfestação daágua de irrigação em pequenas e mé-dias propriedades agrícolas. Algumasadaptações podem ser feitas, paraadequar o equipamento às necessi-dades e peculiaridades do local, comodemanda de água tratada, localizaçãoe distância da fonte de água, decliveetc. Em comparação a outros pro-cessos disponíveis para a mesma fi-nalidade, apresenta como vantagens,além da eficiência e custo relativa-mente baixo, a utilização de uma fontede energia limpa, abundante, gratui-ta, sem risco de aplicação e semagressão ao ambiente.

A possibilidade de utilização doequipamento em hidropônica, onde aágua contaminada representa umaimportante forma de disseminação eintrodução de patógenos, vislumbrauma opção de controle preventivo deinúmeras doenças. Nesse sistema decultivo as doenças são extremamen-te favorecidas pela proximidade dasplantas, uniformidade genética,microclima propício e contacto dasraízes com a mesma solução nutriti-va. O tratamento térmico da águaque compõe a solução pode eliminaros principais microrganismos poten-cialmente patogênicos que possamestar presentes.

Carlos Augusto Silva Braga (1), GeraldoArmond (1), Maria Aparecida S. Tanaka (2),Margarida F. Ito (2), José A. Bernardi (1),Afonso Peche Filho (1)

IAC – 1Centro de Mecanização e AutomaçãoAgrícola, 2Centro de Fitossanidadefone: (11) 7392-8155endereço eletrônico: [email protected]

por termostatos integrados aos com-ponentes do sistema, que controlam oprocesso de aquecimento da água.

O protótipo montado para a com-provação experimental de eficiênciado uso da energia solar no controle defitopatógenos constitui-se dos seguin-tes componentes: a) reservatório deágua infestada com os patógenos; b)seis coletores solares planos para lí-quidos, responsáveis pela conversãoda energia solar em calor; c) reserva-tório para descarga e armazenamentoda água tratada, onde, apósresfriamento, estará disponível parauso. A circulação da água noscoletores, a temperatura e o tempo detratamento são controlados por moto-bomba, termostatos diferenciais e vál-vulas solenóides controladoras de ní-vel. Um sistema de coleta de dados(“data logger”) faz o monitoramento,registrando a temperatura da água emtodas as fases do seu percurso. Esseequipamento de monitoramento, o úni-co de alto custo empregado na monta-gem do protótipo, foi de utilidade ape-nas para fins experimentais, sendo dis-pensável para o funcionamento dosolarizador.

Baseando-se em dados de litera-tura e testes preliminares de labora-tório, foram testadas as temperaturasde 35, 40, 45, 50, 55 e 60 0C, com tem-po médio de exposição de 10 minutos,no controle de patógenos do moran-gueiro: Botrytis cinerea, Colle-totrichum fragariae, Fusarium sp.,Rhizoctonia solani e Pythium sp.; doquiabeiro: Verticillium dahliae e dofeijoeiro: Fusarium oxysporum f. sp.vasinfectum. À exceção de Fusariumsp. e F. oxysporum f. sp. vasinfectum,os quais foram inativados na faixa de

Monitor eletrônico (“data logger”)utilizado para registrar a tempe-ratura da água em todas as fasesdo sistema.

Pode-se trabalhar com tempera-turas superiores a 60 0C, uma vez queo equipamento permite que se atinjaaté 1000C. No entanto, em tempera-turas mais altas, o rendimento, em li-tros de água tratada por dia, é me-nor. O rendimento também varia,conforme a radiação incidente, em

INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Agricultura: opção animadora para autilização de lodo de esgoto

A crescente demanda da sociedade pela manutenção e melhoria

das condições ambientais tem exi-gido das autoridades e das empre-sas públicas e privadas atividadescapazes de compatibilizar o desen-

volvimento às limitações da explora-ção dos recursos naturais. Dentre osrecursos, os hídricos, que até a gera-ção passada eram considerados far-tos, tornaram-se limitantes e compro-metidos, em virtude da alta poluição

em algumas regiões, necessitandoportanto de rápida recuperação. Nes-sas condições, há que se tratar os es-gotos urbanos que são os principaispoluidores dos mananciais hídricos.

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55-600C, os demais patógenos não so-breviveram além de 45-50 0C.

Os resultados obtidos com o equi-pamento desenvolvido comprovaramseu desempenho e o potencial de via-bilidade técnica. Na temperatura de600C a produção média de água pro-cessada por metro quadrado de placasolar, por dia, foi de 720 litros, superi-or à média de 57 L/m2dia, dos siste-mas de aquecimento convencionais si-milares, atualmente em uso no Brasil,para uso doméstico.

função da hora do dia, sendo otimizadonos meses de verão, em sol a pino.

Esse sistema mostra-se promissorpara ser utilizado na desinfestação daágua de irrigação em pequenas e mé-dias propriedades agrícolas. Algumasadaptações podem ser feitas, paraadequar o equipamento às necessi-dades e peculiaridades do local, comodemanda de água tratada, localizaçãoe distância da fonte de água, decliveetc. Em comparação a outros pro-cessos disponíveis para a mesma fi-nalidade, apresenta como vantagens,além da eficiência e custo relativa-mente baixo, a utilização de uma fontede energia limpa, abundante, gratui-ta, sem risco de aplicação e semagressão ao ambiente.

A possibilidade de utilização doequipamento em hidropônica, onde aágua contaminada representa umaimportante forma de disseminação eintrodução de patógenos, vislumbrauma opção de controle preventivo deinúmeras doenças. Nesse sistema decultivo as doenças são extremamen-te favorecidas pela proximidade dasplantas, uniformidade genética,microclima propício e contacto dasraízes com a mesma solução nutriti-va. O tratamento térmico da águaque compõe a solução pode eliminaros principais microrganismos poten-cialmente patogênicos que possamestar presentes.

Carlos Augusto Silva Braga (1), GeraldoArmond (1), Maria Aparecida S. Tanaka (2),Margarida F. Ito (2), José A. Bernardi (1),Afonso Peche Filho (1)

IAC – 1Centro de Mecanização e AutomaçãoAgrícola, 2Centro de Fitossanidadefone: (11) 7392-8155endereço eletrônico: [email protected]

por termostatos integrados aos com-ponentes do sistema, que controlam oprocesso de aquecimento da água.

O protótipo montado para a com-provação experimental de eficiênciado uso da energia solar no controle defitopatógenos constitui-se dos seguin-tes componentes: a) reservatório deágua infestada com os patógenos; b)seis coletores solares planos para lí-quidos, responsáveis pela conversãoda energia solar em calor; c) reserva-tório para descarga e armazenamentoda água tratada, onde, apósresfriamento, estará disponível parauso. A circulação da água noscoletores, a temperatura e o tempo detratamento são controlados por moto-bomba, termostatos diferenciais e vál-vulas solenóides controladoras de ní-vel. Um sistema de coleta de dados(“data logger”) faz o monitoramento,registrando a temperatura da água emtodas as fases do seu percurso. Esseequipamento de monitoramento, o úni-co de alto custo empregado na monta-gem do protótipo, foi de utilidade ape-nas para fins experimentais, sendo dis-pensável para o funcionamento dosolarizador.

Baseando-se em dados de litera-tura e testes preliminares de labora-tório, foram testadas as temperaturasde 35, 40, 45, 50, 55 e 60 0C, com tem-po médio de exposição de 10 minutos,no controle de patógenos do moran-gueiro: Botrytis cinerea, Colle-totrichum fragariae, Fusarium sp.,Rhizoctonia solani e Pythium sp.; doquiabeiro: Verticillium dahliae e dofeijoeiro: Fusarium oxysporum f. sp.vasinfectum. À exceção de Fusariumsp. e F. oxysporum f. sp. vasinfectum,os quais foram inativados na faixa de

Monitor eletrônico (“data logger”)utilizado para registrar a tempe-ratura da água em todas as fasesdo sistema.

Pode-se trabalhar com tempera-turas superiores a 60 0C, uma vez queo equipamento permite que se atinjaaté 1000C. No entanto, em tempera-turas mais altas, o rendimento, em li-tros de água tratada por dia, é me-nor. O rendimento também varia,conforme a radiação incidente, em

INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Agricultura: opção animadora para autilização de lodo de esgoto

A crescente demanda da sociedade pela manutenção e melhoria

das condições ambientais tem exi-gido das autoridades e das empre-sas públicas e privadas atividadescapazes de compatibilizar o desen-

volvimento às limitações da explora-ção dos recursos naturais. Dentre osrecursos, os hídricos, que até a gera-ção passada eram considerados far-tos, tornaram-se limitantes e compro-metidos, em virtude da alta poluição

em algumas regiões, necessitandoportanto de rápida recuperação. Nes-sas condições, há que se tratar os es-gotos urbanos que são os principaispoluidores dos mananciais hídricos.

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Área experimental com lodo de esgoto aplicado na superfície (à esquerda) e sua incorporação ao solo com auxílio de enxada rotativa

O tratamento dos esgotos, que comcerteza irá despoluir os rios, resultana produção de um lodo rico em ma-téria orgânica e nutrientes, denomina-do lodo de esgoto ou biossólido, ha-vendo necessidade de uma adequadadisposição final desse “resíduo”. En-tretanto, diversos projetos de trata-mento de esgotos não contemplam odestino final do lodo produzido e comisso anulam-se parcialmente os be-nefícios da coleta e do tratamento dosefluentes. Assim, a comunidade pre-cisa encarar com muita seriedadeeste problema e, com auxílio das pes-quisas científicas e tecnológicas, de-senvolver alternativas seguras efactíveis para que esse produto nãose transforme num novo problemaambiental, mas sim tirar vantagensambientais de sua disposição.

bricação de tijolos e cerâmica e pro-dução de cimento); incineração (inci-neração exclusiva e co-incineraçãocom resíduos sólidos urbanos); con-versão em óleo combustível; disposi-ção oceânica; recuperação de solos(recuperação de áreas degradadas ede mineração) e uso agrícola e flo-restal (aplicação direta no solo,compostagem, fertilizante e solo sin-tético). Entre as diversas opções exis-tentes para a disposição final do lodode esgoto ou biossólido, aquela parafins agrícola e florestal apresenta-secomo uma das mais convenientespois, como o lodo é rico em matériaorgânica e em macro e micronu-trientes para as plantas, é amplamen-te recomendada sua aplicação comocondicionador de solo e ou fertilizan-te. Entretanto, o lodo de esgoto apre-

volta da 1800, foram desenvolvidosmuitos projetos para a utilização agrí-cola dos efluentes de esgoto, especi-almente em razão do combate à epi-demia de cólera. A adoção da práti-ca de uso do solo como meio de dis-posição do esgoto ou do lodo tem sidofreqüente em muitos países.

No Brasil, não é difundida a práti-ca de incorporar resíduos de esgoto -lodo e efluente - aos solos, porque ain-da são poucas as cidades dotadas deestações de tratamento de esgotos(ETE). O Ministério do Meio Ambi-ente estima que menos de 10 % doesgoto urbano produzido são tratadosantes de serem lançados nos rios.

A disposição final adequada dolodo, que pode atingir até 50 % doscustos, é uma etapa problemática noprocesso operacional de uma estaçãode tratamento de esgoto, e tem sido,por isso mesmo, negligenciada.

As possibilidades mais usuais parao aproveitamento ou disposição finaldo lodo de esgoto ou biossólidos são:disposição em aterro sanitário (aterroexclusivo ou em co-disposição comresíduos sólidos urbanos); reuso indus-trial (produção de agregado leve, fa-

senta em sua composição diversospoluentes como, metais pesados e or-ganismos patogênicos ao homem, doisatributos que devem ser olhados commuito cuidado.

A disposição de esgotos na agri-cultura é uma prática antiga. As in-formações mais conhecidas são asoriginárias da China. No ocidentesabe-se que na Prússia, a irrigaçãocom efluentes de esgotos era pratica-da desde 1560. Na Inglaterra, por

Características do lodo de esgotoou biossólido

• O lodo de esgoto apresenta umacomposição muito variável, pois de-pende da origem e do processo detratamento do esgoto. Um lodo de es-goto típico apresenta em torno de 40% de matéria orgânica, 4% denitrogênio, 2 % de fósforo e os de-mais macro e micronutrientes. Nastabelas 1 e 2 pode-se observar a va-riação da composição do lodo de es-

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goto gerado em diversas estações detratamento de esgoto no Brasil.

Tabela 2. Micronutrientes dos lodos de esgoto obtidos pela SABESPe pela SANEPAR, em diferentes estações de tratamento de esgoto.

otnemelE

PSEBAS RAPENAS

ireuraB anidlopoeL.V acnarF ETE FLAR

-gkg 1 acesesab

onobraC 093 123 102

lhadlejK-N 5,22 5,81 1,97 1,94 1,22

orofsóF 2,3 4,9 6,01 7,3 1,2

oissátoP 40,0 6,1 36,0 5,1 4,1

oicláC 9,27 6,5 1,22 9,51 3,8

oiséngaM 6,9 4,2 1,2 0,6 0,3

erfoxnE 1,5 1,01

.)0002(seuqraM&oleM

Tabela 1. Macronutrientes dos lodos de esgoto obtidos pela SABESPe pela SANEPAR, em diferentes estações de tratamento de esgoto.

otnemelE

PSEBAS RAPENAS

ireuraB anidlopoeL.V acnarF ETE FLAR

-gkg 1 acesesab

erboC 307 8151 0,89 934 98

orreF 81993 42224

sênagnaM 898 242

ocniZ 5431 4623 8681 428 654

oroB 811

oinêdbiloM 4,32 2,9

.)0002(seuqraM&oleM

Benefícios do uso agrícola dolodo de esgoto

A utilização do lodo de esgoto emsolos agrícolas tem como principais be-nefícios, a incorporação dos macro-nu-trientes nitrogênio e fósforo, e dosmicronutrientes zinco, cobre, ferro,manganês e molibdênio. Como os lo-dos são pobres em potássio, cerca de0,1 %, há necessidade de se adicionaresse elemento ao solo. Pode-se dizerque, normalmente, o lodo de esgoto for-nece ao solo os nutrientes para as cul-turas. Entretanto, é necessário o co-nhecimento de sua composição, a fimde se calcular as quantidades adequa-das a serem incorporadas, sem riscosde toxicidade às plantas, aos animais e aohomem, e de poluição ambiental.

Quanto à melhoria das condiçõesfísicas do solo, o lodo de esgoto, demaneira semelhante à matéria orgâ-nica, aumenta a retenção de umidadepelos solos arenosos e melhora apermeabilidade e infiltração nos so-los argilosos e por determinado tem-po mantém uma boa estrutura e esta-bilidade dos agregados na superfície.Por outro lado, a capacidade de trocade cátions do solo, o teor em sais so-lúveis e de matéria orgânica podemser aumentados, o que é extremamen-

te benéfico para a maioria de nossossolos agrícolas, geralmente pobres e debaixa capacidade de troca de cátions.

Pesquisas conduzidas no País jámostraram que o lodo é um produtoque tem uma perspectiva muito ani-madora no que diz respeito ao seu usono solo para produção de plantas.Para a cultura do milho no cerradobrasileiro, Silva et al. (2000) demons-traram que o lodo de esgoto, geradopela CAESB em Brasília, DF, apre-senta potencial para substituição dosfertilizantes minerais. Melo & Mar-

ques (2000) apresentam informaçõessobre o fornecimento de nutrientespelo lodo de esgoto para as seguintesculturas: cana-de-açúcar, milho, sorgoe azevém. Entretanto, existem infor-mações do aproveitamento do lodo deesgoto para arroz, aveia, trigo, pasta-gens, feijão, soja, girassol, café e pês-sego entre outras culturas (Bettiol &Camargo, 2000). Também em espé-cies florestais o lodo vem sendo utili-zado com sucesso. Gonçalves et al.(2000) apresentam informações so-bre o potencial do uso do lodo de es-goto, gerado na ETE de Barueri, SP,para o cultivo de eucalipto.

Componentes potencialmentepoluentes do lodo de esgoto

Apesar de todas as vantagens, olodo de esgoto pode apresentar emsua composição elementos tóxicos epatógenos ao homem. Dessa forma,há necessidade de se conhecerem osefeitos desses poluentes no soloquando utilizado na agricultura.Muitas questões ainda não foram res-pondidas pela pesquisa e esse é umfator ponderável a ser levado em con-sideração para seu uso na agricultura.

Uma questão fundamental é a quediz respeito à presença e concentra-ção de elementos potencialmente tó-xicos. Normalmente, no lodo, mesmoo de origem doméstica, o nível desseselementos é maior que no solo. As-sim, sua incorporação nos solos agrí-colas deve ser adequadamente con-trolada e monitorada. Além do zinco,

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cobre, manganês, ferro e molibdênioque são nutrientes essenciais para asplantas, mas que em altas concentra-ções podem causar sérios problemas,o níquel, o cádmio e o chumbo geral-mente aparecem em quantidadesapreciáveis, especialmente se os lo-dos provêm de regiões industrializa-das. Neste caso, há que se controlare monitorar a aplicação porque, emespecial, zinco, cobre, níquel e cádmio,se presentes em teores elevados, po-dem ser fitotóxicos, podendo até, nocaso do cádmio, ser altamente preju-dicial para os animais que se alimen-tam de plantas produzidas em solosque receberam esse lodo de esgoto.

A mobilidade dos metais pesadosno solo depende, em grande parte, dasua reação, ou seja se ele é mais oumenos ácido e, de maneira geral,aconselha-se que o pH dos solos nosquais se faz incorporação de lodo, devaser mantido acima de 5,5, para evitarque os metais pesados, potencialmentetóxicos, possam ser absorvidos pelasplantas em quantidades que apresen-tem perigo. À medida que aumenta otempo de contato do lodo com o solo,diminui o perigo das plantas absorve-rem os metais pesados em excessoporque estes são fortemente retidospelos colóides do solo, embora essaafirmativa nem sempre possa ser ge-neralizada. Berton (2000) discute comdetalhes os riscos de contaminação doagroecossistema com metais pesados.

O nitrogênio é um elemento essen-cial para o crescimento vegetal e paraos seres vivos do solo. O uso ade-quado do lodo deve visar a eficienteutilização do nitrogênio, com um míni-mo de perdas por percolação,volatilização, desnitrificação e arras-te superficial. Com a decomposiçãodo lodo adicionado ao solo, onitrogênio orgânico é convertido emamônio ou nitrato. Os colóides do solopodem reter o amônio mas, o nitrato,normalmente será lixiviado para forada zona radicular porque a capacida-de dos solos em retê-lo é baixa. Poroutro lado, em condições redutoras,pode ocorrer a desnitrificação, proces-so pelo qual o nitrogênio do nitrato étransformado em nitrogênio gasoso.Outra questão básica é o balançodesse nitrogênio. A matéria orgânicado lodo aplicado ao solo sofre umamineralização, liberando nitrogênio nasformas amoniacal e nítrica, que são

Literatura citada

Berton, R.S. Riscos de contamina-ção do agroecossistema com me-tais pesados. In: Bettiol, W. &Camargo, O.A. (Eds.). Impac-to ambiental do uso agrícola dolodo de esgoto. Jaguariúna:Embrapa Meio Ambiente, 2000,p. 259-268.

Bettiol, W. & Camargo, O.A. (Eds.).Impacto ambiental do uso agríco-la do lodo de esgoto. Jaguariúna:Embrapa Meio Ambiente, 2000,312 p.

Gonçalves, J.L.M., Vaz, L.M.S.,Amaral, T.M., Poggiani, F.Aplicabilidade de biossólido emplantações florestais: II. Efeito nafertilidade do solo, nutrição ecrescimento das árvores. In:Bettiol, W. & Camargo, O.A.(Eds.). Impacto ambiental do usoagrícola do lodo de esgoto.Jaguariúna: Embrapa Meio Am-biente, 2000, p. 179-196.

Melo, W.J. & Marques, M.O. Po-tencial do lodo de esgoto comofonte de nutrientes para as plan-tas. In: Bettiol, W. & Camargo,O.A. (Eds.). Impacto ambientaldo uso agrícola do lodo de esgo-to. Jaguariúna: Embrapa MeioAmbiente, 2000, p. 109-141.

Silva, J. E., Resck, D.V.S., Sharma,R.D. Alternativa agronômicapara o biossólido: a experiênciade Brasília. In: Bettiol, W. &Camargo, O.A. (Eds.). Impac-to ambiental do uso agrícola dolodo de esgoto. Jaguariúna:Embrapa Meio Ambiente, 2000,p. 143-152.

Soccol, V.T. & Paulino, R.C. Riscosde contaminação do agroecossis-tema com parasitos pelo uso dolodo de esgoto. In: Bettiol, W. &Camargo, O. A. (Eds.). Impac-to ambiental do uso agrícola dolodo de esgoto. Jaguariúna:Embrapa Meio Ambiente, 2000,p. 245-259.

Otávio Antonio de Camargo (1) & WagnerBettiol (2)

(1) IAC - Centro de Solos e Recursos Agro-ambientaisfone: (19) 3231-5422 ramal 188endereço eletrônico:[email protected](2) Embrapa Meio Ambiente, Jaguariúna, SP

somados aos existentes antes daaplicação. Assim, a quantidade de lodoaplicada deve ser tal que a quantidade denitrato ou amônio presentes não excedaàquela que a planta vai usar, pois o excessoficaria em forma facilmente lixiviável quepoderia alcançar e contaminar corpos deágua subterrâneos. Talvez seja esseelemento um dos mais importantes para omonitoramento nas áreas onde o lodo deesgoto é utilizado.

É praticamente nulo o risco que oexcesso de fósforo possa apresentarpara as plantas porque dificilmente éconstatada toxicidade por causa des-te elemento e, por outro lado, nossossolos, além de deficientes em fósforo,o retém com grande energia. Assim,a contaminação das águas subterrâ-neas por esse elemento é muito difí-cil. Entretanto, há que se ter precau-ção pois o arraste do material sólidosuperficial por erosão levará consigofósforo retido que, em certas situa-ções, poderá ser liberado nos corposde água superficiais para onde o ma-terial escorreu.

A decomposição do lodo de esgo-to pode provocar a elevação dacondutividade elétrica da solução dosolo acima dos níveis aceitáveis paraas plantas, em especial em regiões debaixa pluviosidade. Nas regiões dealta pluviosidade, os perigos são mo-mentâneos, apenas enquanto aschuvas não arrastarem os sais parafora da zona radicular. Dentre os saisprovenientes da decomposição dolodo, os de sódio podem causar pro-blemas, pois este elemento pode subs-tituir o cálcio e o magnésio do com-plexo de troca, dispersando a argila,destruindo os agregados e a estruturados solos e reduzindo a permeabilidadee a infiltração da água.

Os lodos de esgotos contêmpatógenos humanos como coliformesfecais, salmonela e helmintos, que sãopassíveis de serem eliminados duranteo processamento. Entretanto, é muitoimportante o seu monitoramento, tantono lodo a ser utilizado na agricultura,como no solo onde ele foi aplicado.Soccol & Paulino (2000) discutemamplamente os riscos de contamina-ção do agroecossistema com parasi-tos pelo uso do lodo de esgoto.

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17O Agronômico, Campinas, 52(2/3), 2000

Apesar da intensa atividade nosetor, a maior contribuição do IACpara a viticultura brasileira acabousendo os chamados porta–enxertostropicais, IAC 313 ‘Tropical’ IAC517-6, IAC 572 ‘Jales’ e IAC 766‘Campinas’, presentes em todas asregiões produtoras de uvas de mesa,por suas excepcionais qualidades devigor e adaptabilidade, resumidamen-te como segue:

IAC 571-6 ‘Jundiaí’

Este cultivar, originado do cruza-mento de Vitis caribaea x Pirovano57, feito por Santos Neto, permane-ceu quase desconhecido por muitotempo. Recentemente, por evidênci-as de seu bom comportamento, vol-tou a ser propagado, recebendo onome fantasia em homenagem ao mu-nicípio de Jundiaí, tradicional pólo pro-dutor de uvas.

É vigoroso, vegetando bem tantoem solos argilosos como em areno-sos. Suas folhas são resistentes àsprincipais moléstias fúngicas e as es-tacas apresentam ótimo pegamento.

O desenvolvimento das copas neleenxertadas é muito bom. Em experi-mentação recente, foi tão bom quantoos melhores porta-enxertos paraNiagara Rosada e tem mostrado certatolerância à pérola-da-terra.

IAC 572 ‘Jales’

Cultivar obtido do cruzamento en-tre V. caribaea e 101-14 Mgt por San-tos Neto, é vigoroso, desen-volvendo-se bem tanto em solos argilosos comoem arenosos. Suas folhas resistem àsprincipais moléstias. Seus ramoslignificam tardiamente e dificilmenteperdem as folhas. As estacas apre-sentam ótimo enraizamento epegamento.

INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Cultivares de uva produzidos ouintroduzidos pelo IAC

Em experimentação recente, foitão bom quanto os melhores porta-enxertos para Niagara Rosada; des-tacou-se como o melhor porta-en-xerto para IAC 138-22 Máximo, uvapara vinho tinto, superando IAC 313,Ripária do Traviú, RR 101-14 eGolia. Vem sendo usado em todasas regiões do Estado de São Paulo eno Vale do Rio São Francisco, sendonessa região, usado concomi-tantemente ao IAC 313, tendo sidopraticamente os dois únicos porta-enxertos nessa viticultura de mesaaté recentemente, quando o IAC 766foi introduzido como porta-enxertopara uvas sem sementes.

Material distribuído por um certoperíodo, como sendo “Tropical semvírus” tratava-se, na verdade, do IAC572. Na região Oeste e Noroestepaulistas, grande parte do porta-enxer-to chamado de ‘Tropical’ é o IAC 572.

Resultante do cruzamento do por-ta-enxerto Ripária do Traviú com a es-pécie de videira tropical Vitiscaribaea, realizado por Santos Neto,em 1958, é um porta-enxerto medi-namente vigoroso. Apresenta perfeitaadaptação às condições ambientaispaulistas. Suas folhas são bastante re-sistentes às doenças fúngicas e seusramos hibernam melhor que os do por-ta-enxerto Tropical. Suas estacas apre-sentam bom índice de pegamento.

É bom porta-enxerto para as va-riedades Itália, Rubi, Benitaka, Bra-sil, Redglobe, Centennial Seedless,Patrícia, Maria, Vênus, Paulistinha,Niagara, IAC 138-22 Máximo. Vemsendo largamente usado em diversasregiões do Estado de São Paulo. Re-centemente, graças à plasticidade deseu vigor, tem sido o porta-enxertoescolhido para todos os novos planti-os de variedades apirenas no Vale doSubmédio São Francisco. A fertilida-de das gemas de variedades copacomo Superior Seedless, enxertadassobre ele, consegue ser bem melhordo que sobre IAC 313 ou IAC 572.

O consumidor brasileiro podeespantar–se ao saber queexistem mais de cinco mil

variedades de uva no mundo, pois estáacostumando a encontrar, nas bancasde feiras e supermercados, apenasduas ou três delas. Mas a verdade éque, apesar dessa grande dispo-nibilidade, os viticultores de um paísou de uma região, acabam espe-cializando–se na produção de apenasum ou dois cultivares.

As razões para isso podem ser depodem agronômica como, porexemplo, a suscetibilidade a doenças,a baixa fertilidade das gemas ou anecessidade de tratos especiais.Podem ser de ordem econômica comobaixa produtividade, exigência decuidados onerosos (raleio manual debagas). Mas pode ser simplesmentedevido a desconhecimento daexistência das opções ou aquilo quechamamos de falta de adaptação doprodutor à variedade, pois logo atrásde seu grande desejo pela novidade,vem o desânimo diante da primeiradificuldade que acontece no seucultivo. E aqui fica o registro: nãoexistem variedades de uva semdefeitos. Antes, é preciso saber se,mesmo com aquele ou aquelesdefeitos, vale a pena cultivar essa ouaquela variedade.

Por isso tudo é que existem deze-nas de programas de melho-ramentoda videira no mundo todo, procurandoobter uma variedade de uva, se nãoperfeita, com menos defeitos. Assimtem sido também no InstitutoAgronômico de Campinas, a começarpelo seu primeiro Diretor, FranzDafert, que fez as primeiras introdu-ções ainda no século XIX, de impor-tantes variedades, embora quase to-das destinadas à produção de vinho,mas que vieram a constituir oarcabouço de importante coleção,mais tarde transferida para São Ro-que por João Herrmann.

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18 O Agronômico, Campinas, 52(2/3), 2000

Este cultivar, resultante do cruza-mento do porta-enxerto Golia com aespécie de videira tropical Vitiscinerea realizado por Santos Neto,foi, até pouco tempo, o porta-enxer-to IAC mais conhecido e cultivadopor suas características de grandevigor. Apresenta perfeita adaptaçãoàs condições climáticas paulistas,vege-tando bem em diferentes tiposde solo, inclusive os que apresentamacidez elevada. Suas folhas apre-sen-tam boa resistência às moléstias. Asestacas apresentam bom índice depegamento, devendo ser evitadas, noentanto, aquelas com diâmetro supe-rior a um centímetro.

É bom porta-enxerto para os cvs.Itália, Rubi, Patrícia, Benitaka, Bra-sil, Redglobe, Paulistinha, IAC 138-22 Máximo, vem sendo usado em di-versas regiões do Estado de São Pau-

neutro, teor de sólidos solúveis em tor-no de 18o Brix e acidez baixa, com ca-

chos médios a grandes (400a 600g), soltos, dispensandoo desbaste dos frutos.

Nas regiões tradicionais decultivo, Jundiaí e São MiguelArcanjo, as bagas dePiratininga racham devido à in-tensa precipitação pluvio-métrica na colheita.Entretanto, no Vale do SãoFrancisco, chegou a ser a se-gunda variedade maisimportante, não apresentan-do esse problema. Pela se-melhança entre as regiões,

pode–se recomendá–la para o noro-este paulista. Mesmo em regiõesquentes, não apresenta problema dedesenvolvimento de cor.

IAC 871-41 Patrícia

A nosso ver, a melhor criação doIAC, Patrícia é um híbrido IAC deterceira geração. Apresenta cachosgrandes (400 a 700g), com ramifica-ções abundantes; os pedicelos, bemformados, favorecem outra excelen-te característica deste cultivar, que ésua resistência ao desba-goamento. Amaturação, que se mostra inicialmen-te irregular, completa–se perfeitamen-te; os cachos apresentam boa conser-vação frigorífica. Apresenta bagasmédias, (5 a 7g) de textura trincante,

arredondadas, de cor preta e exce-lente sabor, com casca espessa, o queassegura grande resistência aorachamento e ao transporte. Patríciaé videira de ciclo longo, com plantasvigorosas.

As excelentes características dasbagas e cachos permitem indicar estecultivar para condições de colheita emverões chuvosos, visto suportar mui-to bem a situação.

Vem sendo cultivada em pequenaescala em São Paulo, na região deJundiaí e em escala maior no nordes-te brasileiro, onde vem tendo consi-derável aumento de área plantada.Introduzida recentemente no MatoGrosso, seu cultivo vem sendo am-pliado nessa região, certamente pe-las qualidades descritas.

IAC 514-6 Maria

Este é o principal cultivar de uvassem sementes obtido no IAC, apre-sentando ciclo longo e alta produtivi-dade. Os cachos são médios a gran-des (300 a 500g) de forma cilindro–cônica e alados; necessitam de des-baste até de 50% das bagas e resis-tem ao transporte. Possui bagas bran-cas, naturalmente pequenas a médi-as (2,5 a 3,5g), mas altamenteresponsivas a práticas que aumentamseu tamanho, como o anelamento e a

lo e no Vale do Rio São Francisco,tendo sido nessa região, praticamen-te o único porta-enxerto, ao lado doIAC 572, com o qual é confundidona prática.

As principais variedades de uva demesa obtidas pelo IAC não são asmais cultivadas, mas representam al-ternativas importantes para a viticul-tura brasileira e dentre elas, vale apena discorrer sobre as seguintes:

IAC 842–4v Piratininga

Belíssima variedade, de bagasróseo–escuras, ovais e grandes (6 a 8g),carnosas, aderentes ao pedicelo, sabor

Porta-enxerto IAC 572 ‘Jales’

IAC Piratininga

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19O Agronômico, Campinas, 52(2/3), 2000

1980. Foi introduzida pelo InstitutoAgronômico de Campinas e distribuí-da aos viticultores em julho de 1988.

Redglobe apresenta cachos médiosa grandes (400 a 600g), soltos, muitoatraentes, dispensando desbaste;bagas muito grandes (8 a 12g),arredondadas, com sementes, rosa-das, textura firme; com depressãocaracterística no ápice; polpa bemdescolorida (esbranquiçada), de saborneutro, não muito expressivo. A

aderência ao pedicelo éextraordinária. Asplantas são media-namente vigorosas erazoavelmente pro-dutivas. A maturação étardia, com boa quali-dade de armazena-mento. Embora tenhasido uma variedadepatenteada, portanto,com cultivo sob restri-ções, a patente acabar de

expirar.

A poda pode ser média (quatro aseis gemas). Na região noroeste deSão Paulo, Redglobe vem apresentan-do resultados satisfatórios sobre o IAC313 Tropical e o IAC 572 Jales. Nãodeve ser enxertado sobre 420-A eKober 5BB, devido à suspeita de in-compatibilidade.

Centennial Seedless

Cultivar sem sementes introduzi-do pelo Instituto Agronômico de Cam-pinas e dis-tribuída emjulho de 1988aos produto-res da regiãonoroeste pau-lista, onde es-tá sendo culti-vada comer-cialmente.

P r o d u z ,em média, umcacho por ra-mo, de médiosa grandes(400 a 600g)e levementesoltos, sendosensível ao oídio. Suas bagas são

alongadas e afiladas na ponta; coresverdeada, naturalmente médias (3a 6g), mas a aplicação de ácidogiberélico leva a grande aumento detamanho (5 a 10g). Apresentam bai-xa aderência ao pedicelo. O sabor éneutro, levemente aromático e deacidez muito baixa, o que permite suacolheita mais cedo.

Suffolk Red

Outro cultivar sem sementes in-troduzido pelo IAC, foi denominada‘Tieta’, pelos primeiros produtores.Representa boa opção para merca-do local ou regional e graças a suasqualidades, temos percebido incre-mento no seu cultivo, tanto em SãoPaulo como em outros estados. Asplantas têm bom vigor, mas a produ-ção não é grande, podendo ser me-lhorada. Os cachos são médios agrandes (200 a 400g), cilíndrico-alon-gados, ligeiramente soltos; bagas pe-quenas a médias (2,5 a 4,5g), arre-dondadas e de cor vermelho vivo; pol-pa carnosa, semicrocante, de boaqualidade e de maturação precoce.

Lakemont

Cultivar sem sementes, com plan-tas de vigor mediano, mas produtivas.Maturação média. Os cachos são mé-dios (120 a 300g), compactos; bagasmédias, ovais, verde–amareladas; apolpa tem textura medianamentecarnosa, de bom sabor e qualidadeexcelente.

aplicação de ácido giberélico 14 diasapós o florescimento (quadro).

A aplicação conjunta dessas prá-ticas permitiu a obtenção de diversasbagas pesando até 10g. Caixas comMaria, enviadas à Alemanha paraavaliação da qualidade, superaram asexpectativas, mas como nunca houveprodução em quantidade suficiente, aexportação fica apenas como possi-bilidade. A planta pode ser conduzidaem espaldeira ou latada, com podamédia (4 a 6 gemas). A afinidade paraenxertia sobre o IAC 766 é muito boa.

É preciso relatar, também, outroaspecto do trabalho do InstitutoAgronômico na Viticultura, que é o deintroduzir, avaliar e distribuir materialde cultivares de outras regiões ou pa-íses, que possam atender a demandados viticultores paulistas e brasileiros.Recentemente, foram introduzidos osseguintes cultivares de uva de mesa:

Redglobe

Essa variedade foi obtida pelo Dr.Harold P. Olmo, na Universidade daCalifórnia, em Davis, e lançada em

IAC Patrícia

IAC Maria

AG(ocilérebigodicáodotiefE 3 san)airaM6-415CAIariedivadsacitsíretcarac

mppAG 3

edoremúNohcac/sagab

edosePgsagab03

odosePgohcac

0 a48 a75 a061

002 cb851 fed501 fe093

004 dc581 g421 f644

008 ed402 g621 f974

)8891(seriP:etnoF

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20 O Agronômico, Campinas, 52(2/3), 2000

nhedos da Califórnia. Também requerpoda extra-longa (12-15 gemas).

Os cachos são grandes (450 a 650 g)e soltos; bagas rosadas (avermelhadas)e grandes (3 a 8g) mesmo sem o empre-go de giberelina, alongadas, muitocrocantes, sabor neutro.

Introduzida pelo Instituto Agronô-mico de Campinas em 1993, a varie-dade foi enxertada e conduzida à se-melhança da ‘Itália’ e outras viníferasconhecidas pelos viticultores. Entre-tanto, como a fertilidade de suas ge-mas é baixa, isto é, as gemas que pro-duzirão cachos estão naqueles nósmais distantes do ponto de poda. De-veria ser podada com 12 a 15 gemase passar por outros tratos diferencia-dos daqueles aplicados às uvas conhe-cidas, como, por exemplo, enxertia emporta-enxertos menos vigorosos, adu-bação nitrogenada bem parcimoniosae outras.

A1105

Clone obtido no programa doArkansas, onde não pode ser cultiva-do pela suscetibilidade à podridão ne-gra (“black–rot”).

Demonstrou excelente potencial,observado em experimento sobre doisporta-enxertos, realizado em Campi-nas, razão pela qual está prestes a serlançado como novo cultivar para o Es-tado de São Paulo.

A planta é vigorosa e produtiva.Nas condições de Jundiaí, os cachossão médios a grandes (300 a 600 g),

bem compactos, cônicos; bagasesverdeadas, médias a grandes mes-mo sem ácido giberélico, texturacrocante, agradável sabor neutro.

Introduzido em São Paulo peloIAC, tendo recebido o nome de“Catarina”, é menos interessante queTieta por ser de uvas brancas. Ape-sar disso, apresenta boa opção para omercado interno.

Niabell

Variedade tetraplóide obtida porOlmo & Koyama, na Califórnia, docruzamento entre Campbell EarlyTetraplóide x Niagara tetraplóide.

Introduzida pela Estação Expe-rimental de Jundiaí, do IAC, naColeção de Cultivares em 1988, tem–se destacado, mostrando precocida-de, com ciclo mais curto em média dezdias, que Niagara Rosada.

A planta é de grande vigor e tole-rância às doenças semelhantes àNiagara. Os cachos são de tamanhomédio (16,7 cm), com peso médio de300 a 600g, compactos, cônicos e ala-dos; bagas rosado–escuras, com muitapruína, ovais, grandes (25 mm), pe-sando em média 8g, com duas a trêssementes grandes; textura fundente,por sabor foxado muito agradável. Seugrande defeito é a facilidade dedesbagoar, pela baixa aderência dasbagas ao pedicelo.

Ruiva

Também obtida no USDA, emFresno, Califórnia e lançada em 1990.

A planta é bem vigorosa e muitoprodutiva, chegando a exigir descartede bom número de cachos em vi-

Redglobe

Centennial Seedless

Musca

Variedade introduzida da Europapelo Instituto Agronômico em 1998,sem dados de protocolo. Aparente-mente de origem romena, apresentaexcelente fertilidade de gemas, po-dendo ser cultivada tanto em latadacomo em espaldeira. Cachos cônicos,de tamanho médio (300 a 500g). Asbagas são pretas, pesando de 6 a 8 gem média, arredondadas, com boni-ta cobertura pruinosa.

Celso Valdevino PommerIAC - Centro de Fruticulturafone: (19) 3241-9910endereço eletrônico: [email protected]

Ruiva

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O Agronômico, Campinas, 52(2/3), 2000 21

CULTIVARES IAC

IAC-Tatu-ST, amendoim com maiorprodutividade

tenção da pureza genética. A siglaST, adotada para diferenciá-lo do Tatucomum, indica “seleção por tamanho”e refere-se ao trabalho desenvolvido paraobtenção das sementes genéticas, utili-zadas para a produção de vagens maisgranadas e de tamanho médio de grãosmaior, sem alteração das demais carac-terísticas do cultivar.

O amendoim IAC-Tatu-ST, quan-do comparado ao cultivar Tatu, apre-sentam algumas diferenças significa-tivas para o agricultor. Uma delas éque o uso contínuo e por longo prazode sementes de tamanho reduzido e afalta de controle adequado da purezagenética podem ter causado uma de-generação varietal no Tatu comum.Testes comparativos com dois lotes desementes comuns de origens diferen-tes e o IAC-TATU-ST revelaram que,enquanto no cultivar da semente me-lhorada no IAC a produtividade porhectare chegou a 2.685 quilos, um ín-dice de 100 %, na do primeiro lote deTatu comum, ela chegou a 2.583, quesignificaram 96 %. A queda foi aindamais acentuada no segundo lote doTatu comum, quando a produtividadepor hectare atingiu 2.448 quilos,

correspondendo a 91 %. Os índicesforam confirmados por produtores queexperimentaram as sementes melho-radas no IAC.

Embora com produtividade sig-nificativamente superior, o IAC-Tatu-ST possui características semelhantesàs do cultivar comum, em relação àestrutura das plantas, precocidade (90a 100 dias do ciclo), aparência e cor dapele das sementes. O tamanho dasvagens, porém, tende a apresentar diâ-metro ligeiramente superior. A princi-pal vantagem, contudo, está na melhorgranação, capaz de produzir quase 50% dos grãos de tamanho superior (pe-neira igual ou maior que 22). O Tatucomum apresentou, nos testes com-parativos, proporções mais reduzidasdos grãos (23,1 e 32,9 %). Isso signi-fica que, para cada tonelada de grãosproduzidos pela variedade desenvol-vida no IAC, há uma elevação de 150a 250 quilos de grãos de melhor quali-dade para HPS, em relação ao culti-var comum. Como vantagem adicio-nal pode-se esperar um acréscimo deprodutividade, que varia entre 4 e 9 %com as sementes melhoradas no Ins-tituto Agronômico. O crescimento

Embora tenha consumo significativo e demanda em torno de150 mil toneladas de grãos no

mercado nacional, testes recentesconstataram que, em grande parte, assementes de amendoim usadas pelosprodutores tradicionais do tipo Valência(cultivar Tatu) – cuja principal carac-terística são as vagens alongadas, com3 a 4 grãos de pele vermelha e saborligeiramente adocicado - não apresen-tam boa qualidade. Um dos principaisproblemas apurados é a geração de plan-tas com granação deficiente e grãos detamanho reduzido. Essas característi-cas prejudicam o comércio de HPS (degrãos manualmente selecionados), co-mum no mercado brasileiro de amen-doins. Outra deficiência constatada naspesquisas é o menor vigor das plantas,o que obriga o produtor a aumentar adensidade de semeadura na linha paraconseguir produtividade satisfatória.

Para contribuir com o mercado doproduto, o Instituto Agronômico (IAC)está disponibilizando para os produto-res, sementes melhoradas do cultivarTatu, identificada como IAC-Tatu-ST.As sementes foram melhoradas noIAC por meio de trabalho de manu-

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mais vigoroso e uniforme dasplantas, que contribui para omelhor estabelecimento da cul-tura, principalmente nos primei-ros 60 dias após o plantio, é tam-bém outro diferencial do IAC-Tatu-ST.

O cultivo da variedade, en-tretanto, deve seguir algumasrecomendações. Uma delas éadquirir sementes melhoradasde origem conhecida, certifica-das ou fiscalizadas, produzidascom a necessária purezavarietal e com controle de ge-rações. Além disso, como o usosistemático de sementes demenor tamanho para plantio ten-de a reduzir a proporção degrãos maiores produzidos, é im-portante que essa prática sejaevitada. Para que o produtornão seja onerado pelo uso de se-mentes graúdas, deve utilizarpreferen-cialmente para o plan-tio sementes de peneira 20, ou,even-tualmente, 18 e 19, desde que,

entretanto, recorra às sementesmelhoradas na safra posterior.

O cultivar IAC-Tatu-ST é pre-coce e, por conta disso, sujeito aser colhido em época de umidadealta, quando plantado logo no inícioda estação das águas. Este é o tipode plantio mais comum nas regiõesprodutoras de amendoim do Esta-do de São Paulo. O retardamentoda época de plantio, embora pos-sa significar ligeiro decréscimo daprodutividade, pode significar agarantia da obtenção de sementesde melhor qualidade. A semeaduraefetuada entre a segunda quinzenado mês de novembro e os primeirosquinze dias de dezembro possibilitaa colheita entre o final de fevereiroe o início de março, reduzindo os ris-cos de perda.

Informações:Ignácio José de Godoy

IAC – Centro de Plantas Graníferas

fone: (19) 3241-5188 ramal 332

endereço eletrônico: [email protected]

Novas variedades IAC de cana-de-açúcarImplantado há cerca de dez anos,

o Programa Cana do InstitutoAgronômico, no processo de obten-ção de novas cultivares, leva em con-sideração a associação de fatoresedofoclimáticos das regiões de culti-vo do Estado de São Paulo. Além deestações experimentais do Centro deAção Regional do IAC, o programaconta com o apoio de dezenas de usi-nas e patrocínio de diversas empre-sas produtoras de insumos para a agri-cultura canavieira.

A avaliação de plantas obtidas desementes (“seedlings”) resultantes decruzamentos é realizada em diferen-tes regiões, contemplando as classesde solo e tipos de climas mais represen-tativos para a indústria canavieirapaulista, levando à seleção de genótiposadaptados a ambientes específicos. As

variedades selecionadas em uma de-terminada região são, posteriormente,avaliadas nas demais regiões para per-mitir uma recomendação mais precisado uso de novas variedades. Além deganhos diretos na produtividadeagroindustrial de novas variedades, oPrograma Cana do IAC visa a aumen-tar a diversidade genética da nossacultura canavieira.

Em 1997, conforme detalhado noBoletim Técnico 169 do IAC, foramapresentadas as quatro primeiras cul-tivares resultantes do Programa Cana,sendo que as IAC 86-2210 e IAC 87-3396 já vêm sendo utilizadas com des-taque pela indústria canavieira. Em1999, outras cultivares tiveram sua ava-liação concluída e as três principais sãodescritas de forma resumida a seguir.

IAC 91-2218

Foi selecionada na região de Ri-beirão Preto, destaca-se por apresen-tar alta produtividade agrícola emambientes favoráveis e intermediári-os. Outras características favorá-veisque compõem o perfil da IAC 91-2218são: teor de sacarose muito alto; PUIlongo; com curva de maturação parao final de safra; com excelente ca-pacidade de brotação em área sob pa-lha de colheita de cana crua e canaqueimada. Ótimo fechamento das en-trelinhas; porte ereto; bom nível deresistência às principais doenças, pro-porcionando uma expectativa favo-rável em relação à longe-vidade deseus canaviais.

A IAC 91-2218 apresentoutouceira com excelente perfilha-mento, muitos colmos de porte ereto,

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22 O Agronômico, Campinas, 52(2/3), 2000

mais vigoroso e uniforme dasplantas, que contribui para omelhor estabelecimento da cul-tura, principalmente nos primei-ros 60 dias após o plantio, é tam-bém outro diferencial do IAC-Tatu-ST.

O cultivo da variedade, en-tretanto, deve seguir algumasrecomendações. Uma delas éadquirir sementes melhoradasde origem conhecida, certifica-das ou fiscalizadas, produzidascom a necessária purezavarietal e com controle de ge-rações. Além disso, como o usosistemático de sementes demenor tamanho para plantio ten-de a reduzir a proporção degrãos maiores produzidos, é im-portante que essa prática sejaevitada. Para que o produtornão seja onerado pelo uso de se-mentes graúdas, deve utilizarpreferen-cialmente para o plan-tio sementes de peneira 20, ou,even-tualmente, 18 e 19, desde que,

entretanto, recorra às sementesmelhoradas na safra posterior.

O cultivar IAC-Tatu-ST é pre-coce e, por conta disso, sujeito aser colhido em época de umidadealta, quando plantado logo no inícioda estação das águas. Este é o tipode plantio mais comum nas regiõesprodutoras de amendoim do Esta-do de São Paulo. O retardamentoda época de plantio, embora pos-sa significar ligeiro decréscimo daprodutividade, pode significar agarantia da obtenção de sementesde melhor qualidade. A semeaduraefetuada entre a segunda quinzenado mês de novembro e os primeirosquinze dias de dezembro possibilitaa colheita entre o final de fevereiroe o início de março, reduzindo os ris-cos de perda.

Informações:Ignácio José de Godoy

IAC – Centro de Plantas Graníferas

fone: (19) 3241-5188 ramal 332

endereço eletrônico: [email protected]

Novas variedades IAC de cana-de-açúcarImplantado há cerca de dez anos,

o Programa Cana do InstitutoAgronômico, no processo de obten-ção de novas cultivares, leva em con-sideração a associação de fatoresedofoclimáticos das regiões de culti-vo do Estado de São Paulo. Além deestações experimentais do Centro deAção Regional do IAC, o programaconta com o apoio de dezenas de usi-nas e patrocínio de diversas empre-sas produtoras de insumos para a agri-cultura canavieira.

A avaliação de plantas obtidas desementes (“seedlings”) resultantes decruzamentos é realizada em diferen-tes regiões, contemplando as classesde solo e tipos de climas mais represen-tativos para a indústria canavieirapaulista, levando à seleção de genótiposadaptados a ambientes específicos. As

variedades selecionadas em uma de-terminada região são, posteriormente,avaliadas nas demais regiões para per-mitir uma recomendação mais precisado uso de novas variedades. Além deganhos diretos na produtividadeagroindustrial de novas variedades, oPrograma Cana do IAC visa a aumen-tar a diversidade genética da nossacultura canavieira.

Em 1997, conforme detalhado noBoletim Técnico 169 do IAC, foramapresentadas as quatro primeiras cul-tivares resultantes do Programa Cana,sendo que as IAC 86-2210 e IAC 87-3396 já vêm sendo utilizadas com des-taque pela indústria canavieira. Em1999, outras cultivares tiveram sua ava-liação concluída e as três principais sãodescritas de forma resumida a seguir.

IAC 91-2218

Foi selecionada na região de Ri-beirão Preto, destaca-se por apresen-tar alta produtividade agrícola emambientes favoráveis e intermediári-os. Outras características favorá-veisque compõem o perfil da IAC 91-2218são: teor de sacarose muito alto; PUIlongo; com curva de maturação parao final de safra; com excelente ca-pacidade de brotação em área sob pa-lha de colheita de cana crua e canaqueimada. Ótimo fechamento das en-trelinhas; porte ereto; bom nível deresistência às principais doenças, pro-porcionando uma expectativa favo-rável em relação à longe-vidade deseus canaviais.

A IAC 91-2218 apresentoutouceira com excelente perfilha-mento, muitos colmos de porte ereto,

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O Agronômico, Campinas, 52(2/3), 2000 23

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O Agronômico, Campinas, 52(2/3), 2000 27

com diâmetro e altura uniformes, ca-racterísticas exigidas para variedadesmodernas e próprias para colheitamecânica.

IAC 91-5155

Foi selecionada na região dePindorama, SP, caracteriza por apre-

sentar alta produtividade agrícolaem ambiente favorável e média emambiente desfavorável. Com altoteor de sacarose; PUI longo ematuraçãopreco-ce-mé-dia (ap a r t i rda se-gundaquinze-na deabril aprimei-ra quin-zena desetem-b r o ) .M a n -t é ma i n d aó t i m abrotação de soqueiras em áreas decana crua e queimada, com bom fe-chamento das entre-linhas e bom nível deresistência às prin-

cipais doen-ças. Por pos-suir porteereto, alturauniforme edesfolha es-pontânea, fa-vorece signifi-cativamente acolheita mecâ-nica e manualsem o uso defogo.

IAC/SP 93-6006

Foi selecionada na regiãode Assis, SP, apresenta altaprodutividade agrícola emambiente favorável e médiaem ambiente desfavorável.Alto teor de sacarose ematuração a partir de julho afinal de setembro. Apresentaainda, ótima capacidade debrotação de soqueiras, com

IAC 91-228

IAC 91-228

touceiras de hábito semidecumbente,com fechamento rápido das entreli-nhas, colmos com diâmetro e alturauniformes e desfolha espontânea.

Informações:

Raffaella Rossetto

IAC – Centro de Cana-de-açúcar

fone: (19) 421-1478

endereço eletrônico:[email protected]

IAC 91-5155

IAC/SP 93-6006

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28 O Agronômico, Campinas, 52(2/3), 2000

CULTIVARES IAC

Pêra IAC-2000, laranja com 50 % a mais de sucosólidos solúveis/acidez total - varia de 5,8em junho a 15,5 em dezembro.

Por se tratar de um novo clone, a re-comendação é que o plantio seja efetuadoem pequenos pomares que permitam a ob-servação de seu comportamento nas con-dições edafoclimáticas locais. A disponi-bilidade do germoplasma da PêraIAC-2000 é limitada, o querepresenta o fornecimen-to de borbulhas em nú-mero reduzido aosinteressados. O for-necimento estáatrelado ao com-promisso, porparte do produ-tor, de dispo-nibilizar informa-ções sobre ocomportamentodo novo cultivar.

Com esselançamento, oCCSM cumpre,mais uma vez, seucompromisso deoferecer soluçõescriativas para os pro-dutores e desenvolverpesquisas que visem ao me-lhoramento da citricultura noPaís, o que tem sido uma realidade ao lon-go dos 72 anos de sua existência.

O Centro de Citricultura SylvioMoreira (CCSM) do Instituto

Agronômico está disponibilizandogermoplasma da laranja Pêra IAC-2000, clone novo, de origem nu-clear e promissor da variedade. Ini-cialmente denominado GS-2000, oclone chamou a atenção, desde oinício, devido ao vigor das árvo-res, a produtividade e a capacida-de de produzir frutas de tamanhogrande. A IAC-2000 é resultado deestudos desenvolvidos a partir de1980, com financiamento daFapesp, CNPq, Fundecitrus,Fundag e apoio de empresas ru-rais distribuídas por várias regiõesdo planalto paulista, que possibi-litaram a realização dos experimen-tos. Matrizes sadias do clone ori-ginal são mantidas em ambientetelado, livres da bactéria da CloroseVariegada dos Citros (CVC) e inde-xadas para vírus e viróides, de acordo comas normas do Programa de Regis-tro dePlantas Matrizes de Citros do Estado deSão Paulo.

A laranja Pêra-2000 apresenta carac-terísticas distintas em relação a outrosclones de Pêra. O fruto possui coloraçãolaranja muito mais acentuada; tem em mé-dia três sementes e maturação mais tar-dia. A arquitetura da planta é aberta, oque favorece a cobertura nas pulve-rizações. Apresenta, além disso, ausên-cia de espi-nhos, boa produtividade, ní-vel de caneluras ou ‘stem pitting’ muitobaixo. Outro aspecto favorável é a ca-pacidade de retenção da fruta madura naplanta. Além disso, os frutos apresentamexcelente conservação pós-colheita, tama-nho grande e peso entre 190 a 210 gra-mas. A porcentagem de suco, 50 % supe-rior à dos outros clones, é um das carac-terísticas mais importantes da varie-dade.Essa capacidade de produção de suco atorna significativamente atrativa ao mer-cado consumidor, tanto da fruta in naturaquanto à indústria processadora de su-cos concentra-dos congelados, agregan-do à variedade, não apenas teornutricional, mas também alto valoreconômico. A relação ou “ratio” - teor de

das variedades Valência, Natal, Hamline Baianinha. No segmento de tange-

rineiras, as variedades disponíveis sãoPonkan e Cravo. Produtores interessa-

dos poderão encontrar também semen-tes dos principais porta-enxer-

tos de interesse comercialcomo o Limão Cravo, Li-

mão Volkamericano,Trifoliata, Tangerina

Sunki, TangerinaCleópatra e Laran-ja Caipira. As se-mentes são en-tregues na épocade colheita dos fru-tos, desde que en-comendadas comantecedência.

Informações:

Joaquim TeófiloSobrinho

IAC - Centro deCitricultura Sylvio

Moreira

fone: (19) 546-2589

endereço eletrônico:[email protected]

Além da Pêra IAC-2000, o Centro deCitricultura dispõe também de borbulhas

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O Agronômico, Campinas, 52(2/3), 2000 29

O Instituto Agronômico (IAC) estádisponibilizando aos técnicos e produ-tores interessados a versão eletrôni-ca do Boletim Técnico “Recomenda-ção de adubação e calagem para oEstado de São Paulo”, popularmenteconhecido como Boletim Técnico 100.O sistema representa uma maneiramoderna de elaborar recomendaçõespara mais de 200 culturas – e aproxi-madamente 500 opções disponíveis -preconizadas na tecnologia oficial doEstado de São Paulo. Possui, alémdisso, informações diferenciadas eparâmetros personalizados para cadacultura. Apresenta também o balan-ço nutricional, que indica a quantidadede nutrientes aplicada no solo, comofertilizante, e a que sai com a colheita.Com isso, é possível evitar aplicaçõesexcessivas de fertilizantes que, alémde onerosas, podem causar problemasambientais. E, doses menores do queas desejáveis, podem levar ao empo-brecimento do solo e ao comprometi-mento do seu potencial produtivo.

A proposta com o lançamento, ex-plica Heitor Cantarella, do Centro deSolos e Recursos Agroambientais doIAC, é a transferência de modo práti-co e aplicado, de tecnologia para osagricultores.. A recomendação elabo-rada inclui as doses de nutrientes e asépocas mais adequadas para a aplica-ção. O sistema, em CD e aplicávelem versão Windows permite, ainda, ocadastramento de qualquer laborató-rio, suas respectivas metodologias eunidades utilizadas. Os resultadosanalíticos de solo, folha, espaçamentode plantio e produção desejada são uti-lizados no sistema que permite tam-bém ao usuário incluir opiniões, pare-ceres técnicos ou mensagens para oagricultor no texto da recomendação.

Outras de suas vantagens, esclare-ce Cantarella, estão ligadas a aspectoscomo a elaboração de recomendaçõesde fácil entendimento e de alto nível, queeconomiza tempo porque seu uso dis-pensa calcular, corrigir e datilografaras recomendações. “São, além disso,redigidas por extenso, com frasesdidáticas e elaboradas na linguagem doagricultor”, diz. O novo Boletim 100na versão eletrônica garante o

armazenamento de dados como o deproprietários, propriedades e glebas.

As pesquisas com fertilidade desolo e nutrição que subsidiam o siste-ma, explica Cantarella, foram, em gran-de parte, as realizadas pelo InstitutoAgronômico. “Mas o desenvolvimen-to do trabalho contou também com acolaboração das universidadespaulistas (Unesp e USP), da Cati(Coordenadoria de Assistência Técni-ca Integral) e de empresas do setorprivado”, destaca. A versão eletrôni-ca do Boletim 100, segundo o pesqui-sador, se utiliza da base técnica da ver-são impressa, de 1996. Essa últimafoi significativamente ampliada em re-lação à primeira edição, de 1985 e trazconceitos importantes como a aduba-ção de acordo com a produtividade dasculturas e o uso de classes de respos-ta para a recomendação de nitrogê-nio, cujos dados não são fornecidospela análise de solo. Essa versatilida-

de permite a recomendação, com baseem resultados depesquisa, de aduba-ção e calagem es-pecíficas para so-los com diferentespotenciais de pro-dutividade ou paraagricultores queempreguem dife-rentes níveis detecnologia. As-sim, o Boletim 100,tanto impressoquanto em formade CD, se tornouuma ferramentaimportante paratécnicos e produ-tores, lembraCantarella

A versão ele-trônica foi realiza-da em parceriacom o setor priva-do. A base técni-ca é do InstitutoAgronômico e odesenvolvimentofoi feito por umaempresa especi-

alizada em programas de computadorpara a agricultura, responsável pela as-sistência técnica.

O novo boletim permite o recebi-mento do resultado analítico no pró-prio laboratório via Internet, a partirde laboratórios que empregam progra-mas compatíveis, possibilitando a in-clusão automática no sistema de da-dos analíticos, bem como cadastraisdo usuário, tornando desnecessária adigitação. “Ele possui conversor deunidades para a representação de re-sultados analíticos em diferentes uni-dades utilizadas. E possibilita que se-jam elaboradas recomendações paravárias culturas a partir de uma mes-ma análise de solo”, assinalaCantarella. O preço da versão eletrô-nica do Boletim 100 foi fixado em R$270,00 e pode ser adquirido no setor devenda de publicações do Agronômico.

Endereço eletrônico:[email protected].

IAC lança versão eletrônica do Boletim 100TECNOLOGIAS

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O Agronômico, Campinas, 52(2/3), 200030

Um trabalho de transferência detecnologia para benefício do agrone-gócio dos citros e da batata vem sen-do disponibilizado pelo InstitutoAgronômico. Aproveitando condiçõesepidemiológicas favoráveis, já que oscitros não hospedam os vírus da bata-ta, a produção de minitubérculos debatata-semente sadios está sendo im-plantada em estufas em áreas de citrosna região de Limeira. A técnica se ba-seia no plantio de brotos de batata-se-mente importada, da mais alta sanidadee principalmente livre de viroses, e queeram descartados. O sistema, desen-volvido no Centro de Fitossanidade doIAC, está sendo acompanhado comextremo interesse por veículos de co-municação, autoridades municipais ebataticultores da cidade.

Essa técnica não é nova. Foi de-senvolvida e vem sendo divulgadadesde 1985 por Souza Dias e pelosaudoso Dr. Álvaro Santos Costa,virologistas do Centro de Fitossa-nidade do IAC. Sua aplicação teveinício a partir de meados de 1990 emdiversas regiões produtoras de bata-ta dos estados de São Paulo e Paraná.

A prática de desbrota da batata-semente (tubérculo) de origem impor-tada é efetuada para eliminar a domi-nância apical dos brotos resultando,no campo, em um maior número dehastes por cova e portanto em ummaior número de tubérculos, isto é:com a desbrota, aumenta-se a taxade multiplicação da batata-semente.

Objetivando ao aumento da taxa demultiplicação do lote de batata-sementeimportada, torna-se incoerente o descartedos brotos. É nesse aspecto que entra atécnica de aproveitamento desses bro-tos como material de propagação. Osbrotos, quando plantados em compostoou em areia, e irrigados com soluçãonutritiva, produzem minitubérculos deforma rápida, prática e de baixo custo.Como esses brotos são oriundos de ba-tata-semente livre de vírus e outrospatógenos, os minitubérculos manterão

Telado instalado no meio de laranjal: condições epidemiológicas favoráveis àprodução de batata sadia.

a alta sanidade, desde que tomadas me-didas adequadas de proteção contratransmissores de viroses. Por isso, o plan-tio em telados é necessário para prote-ger contra uma eventual revoada das es-pécies de afídeos (pulgões) que atuamcomo vetores de viroses da batata, taiscomo PLRV (vírus do enrolamento dafolha) e PVY (vírus do mosaico).

bataticultura no meio de laranjais e,além disso, discutir a possibilidade deformalizar parceria com essescitricultores-bataticultores.

Quanto à questão de parceria, o idealseria aquela em que os própriosbataticultores fornecessem aos vivei-ristas de citros os brotos destacados deseus lotes de batata-semente com altasanidade comprovada mediante testesadequados. Os citricultores fariam en-tão o plantio dos brotos dentro de teladose entregariam os minitubérculos de ba-tata-semente, após confirmação da sa-nidade da produção via testes de ELISAe pré-cultura. A palavra-chave de su-cesso nesse novo agronegócio é “altasanidade” e “ausência de vírus e outrospatógenos”. Poder-se-ia pensar tambémna venda de um possível excedente deminitubérculos a outros bataticultores de

Minitubérculos de batata-semente:alternativa econômica para viveiristas de citro s

Além da barreira física promovidapela tela anti-afídeos, quando um teladoé instalado em região citrícola, ganha-se uma proteção adicional e de formamuito efetiva, decorrente do isolamen-to sanitário promovido naturalmentepelas plantações de citros. Isso ocorrepois não há relatos de viroses comunsentre plantas de citros e plantas de ba-tata transmitidas por insetos vetores. Osvírus que infectam a primeira não in-fectam a segunda e vice-versa.

Diante disso, vislumbrou-se que aprodução de minitubérculos via plantiode brotos destacados de batata-semen-te importada ou nacional, poderia seruma alternativa sócio-econômica paraa região de Limeira, durante os mesesmais frescos do ano. A região de Li-meira oferece dupla vantagem: regiãocitrícola e portanto com condições

epidemiológicas favoráveis e agricul-tores com tecnologia de cultivo emcondições protegidas de telado.

Os bataticultores que visitam essetrabalho pioneiro dos citricultores deLimeira estão tendo a oportunidadede conferir de perto as condiçõesagroecológicas de isolamento da

TECNOLOGIAS

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menor poder aquisitivo e que ainda hojenão têm acesso a lotes de batata-se-mente de alta sanidade devido aos cus-tos desse insumo.

Os citricultores, que sempre trou-xeram divisas ao Brasil, têm agorauma outra oportunidade para ajudarainda mais a balança econômica doPaís. Tudo vai depender da sanidadedos minitubérculos produzidos peloscitricultores. Em função do êxito des-sa nova alternativa econômica àcitricultura, os bataticultores poderãoeliminar ou pelo menos reduzir a im-portação de batata-semente, podendochegar em breve à auto suficiência nademanda desse precioso insumo.

Vale lembrar que a técnica IAC-Centro de Fitossanidade de produçãode batata-semente livre de vírus, ba-seada no aproveitamento dos brotosdestacados de batata-semente de altasanidade (importada ou básica nacional),já vem sendo também utilizada, além deno Estado de São Paulo, no Paraná eem Minas Gerais. É o IAC transferindotecnologia para fora dos limites do nossoEstado. Afinal, também nas ciênciasagrárias São Paulo tem esse papel naNação: gerar, desenvolver e divulgarnovas tecnologias para outros estados doBrasil e para o mundo.

Aproveitamento dos brotospode oferecer redução de gastosde divisas do País

Plantio de brotos de batata em estufa.

Desbrota de batata-semente.

O Brasil importou, no ano pas-sado, 300 mil caixas (de 30 kg cada)de batata-semente, representandoum gasto de US$ 12 milhões. Con-siderando que cada caixa contém, emmédia, 400 tubérculos o Brasil im-portou 120 milhões de tubérculos.Fica fácil portanto, compreender quea prática de descarte de brotos re-presenta um enorme desperdício dedólares ao País.

Sob condições de telado anti-afídeos cada broto destacado de ba-tata-semente (livre de vírus) origina,em média, três minitubérculos, depen-dendo da variedade de batata. Cadabatata-semente fornece, numa primei-ra desbrota,cerca de 4brotos cada,podendo-seobter 12minitubér-culos porb a t a t a -s e m e n t edesbrotada.

Os mini-tubérculos(de 10 a 40mm de diâ-metro), apósconfirmadasua alta sani-dade (ausência) quanto às principais vi-roses da batata (vírus do enrolamentodas folhas - PLRV, e mosaicos - PVY,

PVX e PVS), poderão ser comer-cializado por um preço unitário máximode R$ 0,20. Esse custo mais baixo per-mitirá que bataticultores ainda plantam

tubérculos que não sãobatata-semente e nemtão pouco oriundas deprogramas oficiais decertificação, passem a teracesso a esse preciosomaterial de propagação.Com isso, ganha abataticultura em geral porhaver redução nos níveis deviroses e conseqüentemen-te menor pressão de inóculo(reservatório de vírus) nas re-giões produtoras de batata.

Quando não se faz oaproveitamento dos brotos, na propaga-ção da batata-semente importada, obtém-se taxa de multiplicação entre 1:10 e1:15. Essa taxa pode ser mais queduplicada se se considerar os 12minitubérculos originados dos quatrobrotos por tubérculo propagados emtelado. Pode chegar a 1:60 se soma-dos os 5 tubérculos originados de cadaminitubérculo plantado em campo deaumento de batata-semente. Assim, aquantidade de batata-se-mente importada que oprodutor demanda paraobter seu próprio lote debatata-semente neces-sário ao plantio de consu-mo, poderá ser reduzidopara 1/6 da quantidadeatualmente importada, re-presentando uma eco-nomia anual de 10 milhõesde dólares.

Plantas em estufa telada, resultantesdo plantio de brotos.

Minitubérculos de alta sanidade produzidos em Limeira.

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O Agronômico, Campinas, 52(2/3), 200032

O plantio de girassol para silagemé recomendado por ser extremamen-te vantajoso, sobretudo em anos comperíodo de estiagem prolongado e naépoca da safrinha (de outubro a mar-ço). “Essa tecnologia dá lucro, é sus-tentável e protege o ambiente”, ressaltaa pesquisadora Maria Regina G. Ungaro,do Centro de Plantas Graníferas do IAC,que elaborou um manual do plantio esilagem de girassol em conjunto comDílson Rodrigues Cáceres, daCoordenadoria de Assistência TécnicaIntegral (CATI/SAA).

A silagem de girassol como me-canismo para a redução de custos egarantia de maiores benefícios na ali-mentação de rebanhos vem adqui-rin-do condição de destaque como novaopção adotada por pecuaristas. Oganho de peso e a produção de leitepor animais mostra, de maneira ge-ral, resultados similares em relação àssilagens de milho. O gado aceita mui-to bem esse novo alimento, bastando quese observe um período de dois a três diaspara adaptação. A silagem de girassolapresenta, ainda, alto valor energético eum teor de proteína digestível 60 % maiselevado que a de milho, conforme se podever no quadro.

A obtenção de um máximo rendi-mento para a lavoura de girassol – econseqüentemente da redução deseus custos -, depende, no entanto, douso da tecnologia disponível para este

tipo de cultura. De acordo com asexigências hídricas e melhorenquadramento climático visando pro-porcionar as condições para o nãosurgimento de doenças recomenda-se, em São Paulo, o plantio nos me-ses de fevereiro e março. Na regiãoCentro-oeste, por exemplo, ele deveser feito entre janeiro e o final de fe-vereiro. No Paraná a melhor épocapara o plantio vai desde o início deagosto até meados de outubro. NoRio Grande do Sul é aconselhável demeados de julho até o final de agostoe, em São Paulo, os meses ideais parao plantio são fevereiro e março.

snegalisedacigólotamorboãçisopmoC

setnenopmoC lossariG ogroS ohliM

acesairétaM 01,03 86,03 67,23

aturbaníetorP 37,11 79,7 56,8

levítsegidaníetorP 53,7 76,4 85,4

odicáetnegretedarbiF 59,43 12,63 14,13

ortuenetnegretedarbiF 88,56 56,17 43,86

gk/lacK,aturbaigrenE 399.4 373.4 635.4

,levítsegidaigrenEgk/lacK

801.3 517.2 519.2

,acilóbatemaigrenEgk/lacK

845.2 622.2 093.2

5991,123-513:)3(91,acitárPeaicnêiC.R.sortuoe.F.M,adiemlA:etnoF

Silagem de girassol: opção que garante ganhosPara garantir o bom desempe-

nho da cultura o solo deve estar semimpedimentos para a raiz pivotantedo girassol, conhecida por penetraraté a uma profundidade de doismetros no solo, desde que não en-contre camada de impedimentocomo pé-de-grade, ou subsolo áci-do. A raiz do girassol não tem ca-pacidade de romper camadascompactadas ou ácidas, o que evi-dencia a necessidade de um solobem estruturado e devidamente cor-rigido antes do plantio.

Da mesma forma que para o cul-tivo de girassol para produção de óleo,

TECNOLOGIAS

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O Agronômico, Campinas, 52(2/3), 2000 33

aquele para fins de silagem deve ob-servar alguns tópicos imprescindíveis,como a correção da acidez do solo eadubação com base na análise de solo,uso de sementes de alta qualidade e umasemeadura controlada para se chegarem um estande de 50 mil a 60 mil plan-tas/hectare. “Apenas a deficiência deboro, alerta Maria Regina, pode causarchochamento de grãos, redução do ta-manho dos capítulos até sua queda, di-minuindo, portanto, a produtividade.

Entre os cultivares de girassol, di-versos são indicados para a silagem.Entre eles os destaques ficam com asvariedades IAC-Uruguai, criada peloIAC, que possui semente rajada e altarusticidade e é comercializado pelaSementes Piraí; a Catisol 01, criada ecomercializada pela Cati e que apre-senta semente escura e a Embrapa-122, que produz menos massa secaporém a silagem é de boa qualidade,criada e comercializada pela Embrapa-Soja. Também merecem destaque oshíbridos Rumbosol 90, distribuído pelaSinuelo; o M 742, distribuído pelaDinamilho/Carol e o Cargill 11, distri-buído pela Cargill/Monsanto.

O controle de plantas invasoras,por meio de capina mecânica ou quí-mica, normalmente só é necessárioaté o 30º dia, a partir do qual as plan-tas de girassol já produziram uma co-bertura eficiente para o solo. Noplantio de safrinha, uma capina me-cânica, feita duas semanas após a

emergência do girassol, geralmente ésuficiente para impedir que o matoatrapalhe a cultura”, destaca a pes-quisadora.

Monitoramento

O monitoramento constante da la-voura de girassol é muito importantepara a economia de inseticidas e con-seqüentemente para manter o ambi-ente em equilíbrio. “Em São Paulo apraga de maior importância é a lagar-ta-preta-das-folhas (Chlosynelacínia saundersii). Ela ataca inici-almente em reboleira, das laterais parao centro, e seu controle, quando ne-cessário, é feito com inseticidas pre-ferencialmente biológicos, como inse-ticidas à base de Bacillusturigiensis”, assinala Maria Regina.Outras pragas como as vaquinhas(Diabrótica speciosa ) e os perce-vejos ( Nezara viridula, Piezodorusguildini e Euschistus heros ) aindanão têm ocasionado problemas emnosso meio, porém requerem atenção.No caso de haver necessidade do usode inseticidas, é bom lembrar que du-rante o florescimento há uma grandeatividade de abelhas responsáveis pelapolinização. O ideal é aplicar os pro-dutos nas primeiras horas da manhãou nas últimas horas da tarde. Asabelhas ajudam a garantir uma altaprodutividade em grãos.

Um dos motivos do fracasso natentativa de introdução da cultura do

girassol no Estado de São Paulo nadécada de 60, foi a incidência de doen-ças, principalmente a ferrugem(Puccinia helianthi). No entanto, exis-tem atualmente cultivares tolerantes aessa doença. Várias são as doençasincidentes na cultura do girassol e en-tre elas destacam-se a podridão bran-ca, causada pelo fungo Sclerotiniasclerotiorum e a mancha dealternária, causada pelo fungoAlternária helianthi. As condiçõesideais para a ocorrência deSclerotinia sclerotiorum são dias nu-blados com baixa temperatura e altaumidade. Como no Estado de SãoPaulo a melhor época para o plantiode girassol é o outono, apenas o suldo Estado oferece estas condições.No restante, somente em situaçõesatípicas. A mancha de alternária ca-racteriza-se por lesões necróticas quetêm início nas folhas baixeiras, poden-do “subir” e alcançar as folhas supe-riores, as hastes e capítulos. Encon-tra condições favoráveis ao seu de-senvolvimento em todas as épocas deplantio, principalmente em condiçõesde umidade e alta temperatura, mas,normalmente na safrinha, sua incidên-cia não causa grandes transtornos.“Não existem produtos químicosregistrados para o controle de doen-ças do girassol. As medidas de con-trole são culturais. Entre elas, a utili-zação de sementes sadias, rotação deculturas, utilização, quando possível,de cultivares com resistência a doen-ças e escolha da época mais adequa-da ao plantio”, orienta Maria Regina.

Silagem

A identificação do ponto ideal paraensilar o girassol é o fator mais im-portante na determinação da qualida-de da silagem. “O ponto ideal de co-lheita corresponde àquele onde a parteposterior do capítulo adquire colora-ção amarelada, brácteas de cor cas-tanha clara e as folhas baixeiras jámurchas ou secas e os grãos, quandopressionados, apresentam certa resis-tência”, explica. Este ponto ideal éaquele em que as plantas atingiram amaturação fisiológica, ou seja, nestemomento estão com 30% de matériaseca. A operação de corte é feita comas ensiladeiras usadas para o milho,sem necessidade de adaptação. O ma-

IAC URUGUAI

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O Agronômico, Campinas, 52(2/3), 200034

terial deve estar picado uniformemen-te, com tamanhos de partículas entre0,5 e 1,5 centímetros, o que facilita acompactação e a eliminação do ar,promovendo uma fermentação unifor-me e de boa qualidade.

Depois dessa operação, o ideal éque o silo seja carregado em, no má-ximo, 72 horas dispondo o material em

Novo sistema de sensoriamento garantemaior definição de áreas analisadas

Pesquisadores do IAC (InstitutoAgronômico) desenvolveram um novosistema de sensoriamento multi-espectral de baixo custo e ideal paraáreas de cultura com manejo localiza-do. Com disponibilização prevista parao início do próximo ano, esse sistemabaseado em tecnologia de ponta, per-mite a aplicação de insumos (defensi-vos ou adubos) com dosagens varia-das, ao contrário da sistemática atual,de aplicação contínua nas lavouras. Opesquisador Antônio Carlos Cavalli,responsável pela condução do projeto,explica que o sistema é composto deuma aeronave ultraleve avançada, naqual é acoplada uma câmera de vídeodigital capaz de permitir grande defini-ção de imagem das áreas analisadas.

A videografia, comenta o Dr.Cavalli, pode ser definida como “osolhos da agricultura de precisão” por-que trabalha com alta resolução deimagem, utiliza raios infravermelhos,que permitem a observação e oregistro do vigor e da biomassa dasplantas e garante também o total do-mínio das possibilidades escolhidaspara a aná-lise das áreas que sepretende monitorar. “O controle podeser feito na faixa e no ângulo de vôoque melhor se adequar ao projeto.Além disso, o momento em que o vôodeve ser feito para a análise dependetambém da escolha ou necessidade dointeressado”, salienta. Assim, osensoriamento pode ocorrer antes eou no momento do plantio, durante ocrescimento, a florada e o nascimen-to dos frutos da planta, permitindo adetecção de problemas no exato mo-mento em que eles acontecem.

Nesse aspecto traz vantagens sig-nificativas em relação aos sensorestradicionais, como as fotografias aé-reas, em geral de custo elevado, e osistema de monitoramento por satéli-te, cuja resolução não é adequada paraagricultura de precisão. Outra van-tagem em relação ao satélite é o fatode este ter datas previstas para so-brevoar as regiões, eliminando a pos-sibilidade de análise no momento emque o interessado desejar. Conforme

apontado pelo pesquisador, uma dasvantagens do sistema é poder ser usa-do em áreas de tamanho médio, emmicrobacias ou fazendas. Desse modoa detecção de problemas no momen-to em que eles ocorrem é facilitada,com a vantagem da tecnologia deposicionamento global (GPS), comalta definição de imagens. Sendo as-sim, diferencia pontos da cultura comprodutividades diferentes. E, por con-ta disto, a aplicação de insumos podeser feita com dosagens diferenciadas,de acordo com as necessidades de

cada área. Desenvolvido com recur-sos do Prodetab (Programa deTecnologia Agrícola da Embrapa),que financiou a aquisição dos equipa-mentos e o gerenciamento do traba-lho, o projeto tem também o objetivode facilitar o acesso do agricultor aosensoriamento remoto. “Sua utiliza-ção será possível, inclusive, para o pe-queno agricultor, que poderá se asso-ciar em cooperativas para dispor datecnologia”, afirma Cavalli.

Atualmente osistema fazseus primei-ros vôos sobreáreas de cul-tura de preci-são localiza-das em Anga-tuba e em Ita-petininga. Parao próximo anoestá sendo mon-tado um grandeprojeto para cul-tura de cana-de-açúcar.

Se do ponto de vista do produtor onovo método de monitoramento geraeconomia, do ponto de vista ambientalele passa a ser indispensável, já queevita, por exemplo, a contaminação dosolo e do meio ambiente pelo uso ex-cessivo de defensivos agrícolas. Combase nessa certeza, o pesquisador jápensa em desenvolver um projeto fu-turo, voltado para o meio ambiente,de aplicação da tecnologia nomonitoramento e manejo de áreas sil-vestres.

camadas de 30 centímetros ecompactadas com tratores preferen-cialmente traçados, para a completaeliminação do ar, condição essencialpara o desenvolvimento das bactéri-as produtoras de ácido lático, confe-rindo qualidade à silagem. O silo, de-pois de cheio, deve ser vedado comlençol plástico e sobre ele deve serdepositada uma camada de terra. É

importante atentar para que não hajaentrada de água de chuva. Por tratar-se de um alimento muitas vezes poucohabitual para os animais é aconselhávelque seu fornecimento seja de formagradual para que não estranhem o novoalimento. Como todo tipo de silagem,ela deve ser levada ao gado imediata-mente após ser retirada do silo.

TECNOLOGIAS

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O Agronômico, Campinas, 52(2/3), 200034

terial deve estar picado uniformemen-te, com tamanhos de partículas entre0,5 e 1,5 centímetros, o que facilita acompactação e a eliminação do ar,promovendo uma fermentação unifor-me e de boa qualidade.

Depois dessa operação, o ideal éque o silo seja carregado em, no má-ximo, 72 horas dispondo o material em

Novo sistema de sensoriamento garantemaior definição de áreas analisadas

Pesquisadores do IAC (InstitutoAgronômico) desenvolveram um novosistema de sensoriamento multi-espectral de baixo custo e ideal paraáreas de cultura com manejo localiza-do. Com disponibilização prevista parao início do próximo ano, esse sistemabaseado em tecnologia de ponta, per-mite a aplicação de insumos (defensi-vos ou adubos) com dosagens varia-das, ao contrário da sistemática atual,de aplicação contínua nas lavouras. Opesquisador Antônio Carlos Cavalli,responsável pela condução do projeto,explica que o sistema é composto deuma aeronave ultraleve avançada, naqual é acoplada uma câmera de vídeodigital capaz de permitir grande defini-ção de imagem das áreas analisadas.

A videografia, comenta o Dr.Cavalli, pode ser definida como “osolhos da agricultura de precisão” por-que trabalha com alta resolução deimagem, utiliza raios infravermelhos,que permitem a observação e oregistro do vigor e da biomassa dasplantas e garante também o total do-mínio das possibilidades escolhidaspara a aná-lise das áreas que sepretende monitorar. “O controle podeser feito na faixa e no ângulo de vôoque melhor se adequar ao projeto.Além disso, o momento em que o vôodeve ser feito para a análise dependetambém da escolha ou necessidade dointeressado”, salienta. Assim, osensoriamento pode ocorrer antes eou no momento do plantio, durante ocrescimento, a florada e o nascimen-to dos frutos da planta, permitindo adetecção de problemas no exato mo-mento em que eles acontecem.

Nesse aspecto traz vantagens sig-nificativas em relação aos sensorestradicionais, como as fotografias aé-reas, em geral de custo elevado, e osistema de monitoramento por satéli-te, cuja resolução não é adequada paraagricultura de precisão. Outra van-tagem em relação ao satélite é o fatode este ter datas previstas para so-brevoar as regiões, eliminando a pos-sibilidade de análise no momento emque o interessado desejar. Conforme

apontado pelo pesquisador, uma dasvantagens do sistema é poder ser usa-do em áreas de tamanho médio, emmicrobacias ou fazendas. Desse modoa detecção de problemas no momen-to em que eles ocorrem é facilitada,com a vantagem da tecnologia deposicionamento global (GPS), comalta definição de imagens. Sendo as-sim, diferencia pontos da cultura comprodutividades diferentes. E, por con-ta disto, a aplicação de insumos podeser feita com dosagens diferenciadas,de acordo com as necessidades de

cada área. Desenvolvido com recur-sos do Prodetab (Programa deTecnologia Agrícola da Embrapa),que financiou a aquisição dos equipa-mentos e o gerenciamento do traba-lho, o projeto tem também o objetivode facilitar o acesso do agricultor aosensoriamento remoto. “Sua utiliza-ção será possível, inclusive, para o pe-queno agricultor, que poderá se asso-ciar em cooperativas para dispor datecnologia”, afirma Cavalli.

Atualmente osistema fazseus primei-ros vôos sobreáreas de cul-tura de preci-são localiza-das em Anga-tuba e em Ita-petininga. Parao próximo anoestá sendo mon-tado um grandeprojeto para cul-tura de cana-de-açúcar.

Se do ponto de vista do produtor onovo método de monitoramento geraeconomia, do ponto de vista ambientalele passa a ser indispensável, já queevita, por exemplo, a contaminação dosolo e do meio ambiente pelo uso ex-cessivo de defensivos agrícolas. Combase nessa certeza, o pesquisador jápensa em desenvolver um projeto fu-turo, voltado para o meio ambiente,de aplicação da tecnologia nomonitoramento e manejo de áreas sil-vestres.

camadas de 30 centímetros ecompactadas com tratores preferen-cialmente traçados, para a completaeliminação do ar, condição essencialpara o desenvolvimento das bactéri-as produtoras de ácido lático, confe-rindo qualidade à silagem. O silo, de-pois de cheio, deve ser vedado comlençol plástico e sobre ele deve serdepositada uma camada de terra. É

importante atentar para que não hajaentrada de água de chuva. Por tratar-se de um alimento muitas vezes poucohabitual para os animais é aconselhávelque seu fornecimento seja de formagradual para que não estranhem o novoalimento. Como todo tipo de silagem,ela deve ser levada ao gado imediata-mente após ser retirada do silo.

TECNOLOGIAS

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HISTÓRIA

Soja e Agronômico, históriade sucesso!

Williams. As pesquisas efetuadas pelosdois envolveram cruzamentos de cultiva-res que já haviam sido introduzidos noBrasil com outros procedentes dos Esta-dos Unidos. Das populações segre-gantes desenvolvidas pelos métodosgenealógicos e de população (bulk),surgiram os cultivares IAC-1, IAC-2,Santa Rosa e Industrial. Na década de 70essas duas últimas variedades ocuparamexpressiva participação na área de cultivoda soja em todo o país. O Santa Rosa che-gou até mesmo a liderar, no mesmo perío-do, a produção brasileira de sementes desoja. Na evolução das pesquisas científi-cas com a soja, ainda nos anos 50, maisprecisamente em 1957, Miyasaka identifi-cou o material Santa Maria (Karutoby) eAliança Preta como menos sensíveis aofotoperiodismo e à baixa temperatura.Essas variedades podem ser classificadascomo precursoras de cultivares adaptáveisàs regiões de baixa latitude ou para semea-dura durante as estações de outono e in-verno.

A ligação do IAC com a produção bra-sileira de soja deu-se não apenas por meiode pesquisas que visavam ao melhoramen-to genético da planta como também pelaavaliação de cultivares originários dosEstados Unidos. Uma delas foi a varieda-de Hardee, difundida pelo Agronômicoem 1965, após avaliação preliminar. Deuma seqüência de hibridações criadas porKirk Athow, da Universidade Federal deViçosa, em Minas Gerais, da variedadeHardee e do cultivar IAC-2, surgiu o IAC-4. De outra população segregante, envia-da pelos pesquisadores norte-americanosEdgard Hartwig e Kuell Hinson, foramdesenvolvidas as variedades IAC-3 eIAC-5, a partir de seleções efetuadas pelopes-quisador Romeu A S. Khihl e detestes regionais realizados pelo tambémpesquisador Manoel A C. de Miranda, noinício da década de 70.

No final dos anos 70, o Agronômicodava importante contribuição para ocultivo da soja além das fronteirasnacionais: a variedade IAC-8, que cola-borou de forma decisiva para a introdu-ção do plantio da leguminosa no conti-nente africano e, além disso, se tornouum dos cultivares brasileiros de maior ex-

pressão fora do País. Com carac-terísticas de adaptabilidade às latitudesda região central do Brasil, os cultivaresIAC-6. IAC-7 e IAC-8, lançados em 1978,tornaram viável a ampliação da épocamais favorável de semeadura, devido aomaior período juvenil desses cultivares.A partir daí a produção da soja passou aganhar novo impulso e, nos anos 80, oprograma de melhoramento genético de-senvolvido pelo pesquisador Miranda foiampliado.

A ampliação do programa foi altamen-te satisfatória e resultou logo após nolançamento de vários novos cultivares(IAC-9, IAC-10, IAC-11, IAC-12, IAC-13,IAC-14, IAC-15 e IAC-16) e seleções quelevaram às variedades IAC Santa Maria-702, IAC-Foscarin 31 e IAC-São Carlos.Mediante o cruzamento dos cultivaresIAC-12 e IAC 78-2318, no final da décadade 80, o pesquisador Carlos JorgeRossetto desenvolveu o cultivar IAC-100. A variedade constitui-se em um dosprimeiros cultivares comerciais de soja,em escala mundial, com resistência múl-tipla a insetos mastigadores e sugado-res. Na última década, vários outros cul-tivares foram lançados a partir de pes-quisas e melhoramento genético obtidopor cientistas do Agronômico: IAC PL-1, IAC-17, IAC-18, IAC-19, IAC-20, IAC15-1,IAC 15-2, IAC Holambra Stwart-1 eIAC-22.

Entre as principais características doIAC PL-1, indicado para a produção de´leite de soja´, pode-se destacar seu altonível de tolerância ao cancro da haste. Aresistência às várias doenças que atin-gem a soja - embora cada variedade sejamais sensível do que a outra a determi-nadas doenças - é aspecto comum entretodas as variedades lançadas nos últi-mos anos pelos pesquisadores do IAC.Dessas variedades, o cultivar IAC-20 éindicado para os solos de média e altafertilidade dos estados centrais do Bra-sil, principalmente em áreas de renova-ção canavieira. Como ele, o IACFoscarin-31 também é indicado para áre-as de renovação canavieira, com a dife-rença que esta última variedade preferesolos de baixa a média fertilidade. Já oIAC-22, também com resistência expres-siva principalmente contra a pústula bac-teriana, cancro de haste, mosaico comume oídio, é um cultivar que vai bem em so-los de alta fertilidade.

Um dos produtos de crescente deman-da no mercado nacional, cuja área de cul-tivo cresce nos estados centrais do país– São Paulo, Minas Gerais, Goiás, MatoGrosso e Mato Grosso do Sul -, a soja temsido objeto, principalmente nos últimasseis décadas, de intensas pesquisas nosentido de torná-la mais produtiva e re-sistente às doenças e pragas. Durantetodo esse período, o InstitutoAgronômico (IAC) teve papel de desta-que no melhoramento genético da soja,que resultou no lançamento de pelo me-nos nove cultivares da planta somente naúltima década. As ligações do Agro-nômico com a soja, entretanto, datam demais de cem anos quando, em 1892, o pri-meiro cultivo do produto foi instituído noEstado de São Paulo, por iniciativa deFranz Daffert, primeiro diretor do IAC. Omelhoramento genético da leguminosaocorreu pela primeira vez em 1935, pormeio de introduções de germoplasmas tra-zidos dos Estados Unidos e do Japão.Naquela fase de estudos, conduzidos porNeme Abdo Neme e que visavam ao me-lhoramento genético da planta, os primei-ros cultivares recomendados foram oAbura (para uso da indústria) e Otootan(para forragem).

Indicado para solos de baixa fertilida-de e com alta resistência a diversos tiposde doenças, surgia na década de 40 o cul-tivar Mogiana, por intermédio de GuaracyMonteiro e Sebastião Sampaio, depois dacoleta de materiais estudados por Neme.A introdução de materiais provenientesdo sul dos Estados Unidos, com opropósito de adaptar ainda mais o produtoàs condições climáticas e de solosbrasileiros, e na busca de melhor quali-dade, deu-se em 1951 por José Gomes daSilva, com destaque para os cultivaresAcadian, Pilica, Improved Pelican,Yelnando, CNS, N4626-52 e D49-772.Gomes da Silva foi o responsável, por meiode sua atuação neste segmento de cultura,pela expansão do cultivo da soja no Brasil,com a introdução das variedadesAraçatuba, Aliança e Aliança Preta.

Pouco tempo depois, em 1952, umaseqüência de hibridações foi realizada emconjunto entre Shiro Miyasaka e omelhorista norte-americano Leonard F.

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IAC E A COMUNIDADE

IAC 113 anosUma série de atividades, no dia 27

de junho, marcaram as comemora-ções dos 113 anos do Instituto Agro-nômico (IAC). O evento, realizadona sede do IAC, na Avenida Barãode Itapura, 1481, contou com a parti-cipação da Orquestra Sinfônica deCampinas e reuniu centenas de pes-soas. A programação incluiu home-nagens a funcionários aposentados, aentrega do Prêmio IAC e a palestra“O desafio da convivência”, proferi-da pelo Dr. Willian Valentini. Uma ex-posição de fotos históricas do Institu-to, de seus prédios antigos, de visitasilustres e da trajetória do Agronômicopôde ser visitada até o dia 4 de julho.

Autoridades presentes à Sessão Solene

O Auditório Otávio Tisselli Filho, do IAC, lotado durante a Sessão Solene.

Ari de Camargo, Ana Maria da SilvaOliveira e Pedro Roberto Furlani, ga-nhadores do Prêmio IAC versão 2000.

Pioneiro na pesquisa científica etecnológica em agricultura tropical e

subtropical, o IAC estabeleceuparâmetros para atividades agrícolas dealto nível, por meio da qualificação deseus quadros técnicos de reconhe-ci-mento nacional e internacional. Decor-rência de suas ações de pes-quisa edesenvolvimento - em especial no me-lhoramento genético de plantas -, fo-ram criados e lançados mais de 400cultivares. O Agronômico é responsá-vel também pela produção de materialde propagação genética e básica dasprincipais espécies de plantas em culti-vo no Estado de São Paulo.

O Instituto teve papel marcanteem todas as fases de sua existência,determinando a introdução de inú-meras culturas e estabelecendo basespara a modernização da agriculturano Brasil. Fundado em 27 de junhode 1887 pelo imperador Pedro II, oAgronômico é uma das mais antigas,tradicionais e importantes instituiçõesde pesquisa agrícola da América doSul. Sua história se confunde com aprópria evolução da agricultura, emespecial na do Estado de São Paulo.

Agronômicodá show naAgrishow

O Instituto Agronômico (IAC)participou, de 1o a 6 de maio, dasétima edição da Feira Internacionalde Tecnologia Agrícola (Agrishow-2000) realizada no Núcleo deAgronomia da Alta Mogiana. A fei-ra reuniu desta vez 400 expositores econtou com 880 demonstrações decampo. Os visitantes, em número quesuperou as expectativas, puderamconhecer novas tecnologias nas áreasde máquinas, de insumos e de técni-cas de produção. No evento, a equipedo IAC apresentou novos cultivaresdesenvolvidos e alguns materiais jálançados e melhorados. Um dos des-taques levados para a Agrishow foi aversão eletrônica do Boletim 100 -Recomendações de adubação ecalagem para o Estado de São Pau-lo. O programa, em versão para

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Windows, tem por objetivo elaborarcom segurança e eficiência recomen-dações agronômicas sobre manejoquímico e de fertilidade de solos enutrição de plantas a partir de resul-tados analíticos de amostras de terra,tecidos vegetais e informações decampo. O sistema é capaz de elabo-rar recomendações para mais de 500culturas disponíveis, preconizadas natecnologia oficial do Estado de SãoPaulo. Possui, além disso, informa-ções diferenciadas e parâmetros per-sonalizados para cada cultura. De fá-cil operação, elabora recomendaçõesseguras, de alto nível e de fácil enten-dimento. Sua utilização dispensa cál-culos e correção das recomenda-çõesque são emitidas por meio de frasesdidáticas, elaboradas na lingua-gem doagricultor.

Entre as novidades, também umanova linhagem de algodão foi apre-sentada: a linhagem IAC-20 RR-

740, que apresenta resistência àramulose, tolerância a nematóides, re-sistência à murcha de Fusarium, aviroses e, especialmente, ao mosaicodas nervuras (doença azul), aomurchamento avermelhado e tole-rância à Ramularia e Alternaria. Alinhagem apresenta, entre outras van-tagens, qualidade de fibra satis-fatória,principalmente quanto à resis-tênciae bom beneficiamento.

O cultivar IAC-Tatu-ST, de amen-doim, com sementes melhoradas, queapresenta grãos maiores e maisgranados, mais valorizados portantopara a comercialização, além de pro-dutividade maior que a do Tatu-co-mum, também foi lançado durante aFeira pelo Instituto.

O IAC levou ainda para aAgrishow cinco novas variedades decana-de-açúcar, numa seleção dire-cionada para maior produtividade ecolheita mecanizada. As variedades

(IAC91-2218, IAC91-3186,IAC91-5035, IAC91-5155 e IAC/SP93-6006) têm como principalcarac-terística a agregação das virtu-des modernas e adequadas ao modelode colheita mecanizada. De acordocom os pesquisadores, isso pode fazercom que o ren-dimento de corte cresçaem torno de 10 %. Além disso, a qua-lidade da matéria-prima também poderáser beneficiada, com a redução das im-purezas vegetais e minerais.

Responsáveis por um trabalhomarcante com o melhoramento docafé, técnicos do IAC levaram paraa Agrishow novos cultivares como oObatã e Tupi, de porte baixo, resis-tentes à ferrugem e indicados paraplantios adensados ou em renques eo porta-enxerto Apoatã, que viabilizao cultivo de qualquer um dos cultiva-res de café arábica em solos infesta-dos por nematóides.

Foram apresentados, ainda, novosmateriais de arroz de sequeiro e irri-gado com previsão de lançamentoainda este ano e novidades rela-cionadas ao feijão e à aveia.

Agrishow-FFHDe 2 a 5 de agosto, com coorde-

nação do Centro de Mecanização eAutomação Agrícola do InstitutoAgronômico, em parceria com a Es-cola Superior de Agricultura “Luiz deQueiroz” aconteceu, no CMAA emJundiaí, a primeira Feira Agrishow deFlores, Frutas e Hortaliças, cujo su-cesso faz prever uma vida longa paraesse evento.

VisitasReconhecido internacionalmente

pela importância de suas pesquisas etrabalho de melhoramento genético deplantas, o IAC recebeu nos últimosmeses uma série de visitas de impor-tância. Os destaques entre elas são:uma delegação chinesa de 16 pesso-as liderada por Xiao Ruo Hai, vice-governador da província de Hai Nan.Campos de demonstração de algodão e arroz .

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A delegação, da qual participavamtambém pessoas do setor de agriculturada província, teve por objetivo conhecermelhor a produção de frutas tropicais,em especial, a banana.

Também da China, um grupo deagrônomos, professores e políticos vi-sitaram o IAC interessados em am-pliar conhecimentos do plantio de fru-tas tropicais e grama.

Um terceiro grupo proveniente daÁsia, composto por empresários, pes-quisadores e políticos vietnamitas,

interessados em conhecer diversosaspectos da cultura do café, tambémvisitou o Instituto em junho.

Um grupo de 25 pessoas, entreprofessores e estudantes da Univer-sidade de Ohio, no Estados Unidos,também visitou alguns Centros da ins-tituição no final de julho, acom-panhado por professores da EscolaSuperior de Agricultura “Luiz deQueiroz” de Piracicaba. Esses estu-dantes foram selecionados em um pro-grama de prêmio aos melhores da uni-versidade.

Pecuaristas e técnicos do CentroTecnológico Agropecuário da Bolívia(CETABOL) integraram a missão li-derada por Tomohiko Onaga ao IAC,com a finalidade de saber mais deta-lhes sobre a pesquisa da leguminosaNim (Azedarach indica).

Visitaram o Agronômico tambémbacharelandos em Microbiologia eImunobiologia da Universidade Fede-ral do Rio de Janeiro e professores, pós-graduandos e estagiários da área deGenética e Melhoramento de Plantas,da Universidade Federal de Goiânia.

Aspectos gerais da primeira Agrishow-FFH

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Reflexões sobre a pesquisa em qualidadedo solo no plantio direto

verou: produz, ganha e volta para lá,deixando para nós o vazio dos buracos(referindo-se indiretamente à erosão).

A cultura do milionário, de certaforma, tinha os mesmos predicadosque a da nossa época, e esta culturapermeou as terras agrícolas nacionaise sabemos que ainda representacomponente significativo do pen-samento agrícola nacional.

Entendendo cultura como conhe-cimento, as idéias e crenças, assimcomo as maneiras como eles coexis-tem na vida social, arrisco-me a dizerque se tem uma cultura de plantioconvencional e uma de plantio direto.Assim, se a cultura é a lente atravésda qual o indivíduo, clã ou comunidadevê o mundo, para mim, sair do que sechama convencional para o plantiodireto, exige mudanças culturais, nãosó de agricultores, mas de técnicos eprincipalmente, no nosso caso, depesquisadores. Se se muda o objeto,tem-se com maior ou menor grau deradicalidade, que mudar a lente, poiscaso contrário, vamos vê-lo de formamíope, astigmática e estereotipada.

A resistência às mudanças éprópria do ser humano e conse-quentemente das culturas. Emprestoaqui, palavras do Prof. Rubem Alves,em seu livro Filosofia da Ciência, ondeescreve: “Como é difícil convencer ocaipira, que sempre plantou seu milhoem fileiras quadriculadas, a mudartudo e plantar em curvas de nível.Atrás de si estão colheitas e maiscolheitas... Provas, evidências.Mudar, para quê? E não pensem quecom os cientistas ocorre de formadiferente. Nem todos são aqueles quetêm visões. A grande maioria estáimersa nas suas rotinas. Por quehaveriam de mudar a tradição se tudofuncionou tão bem, até agora? O solno centro do universo? Loucura... Eos séculos de Ptolomeu? E Galileu?”

A igreja era a vilã? Não nos enga-nemos, a ciência da época era quemreplicava.

Temos que nos cuidar quanto à ro-tina e à tradição e quanto a isto assimse pronuncia Bachelard: “O peso datradição traz a uma experiênciasubstancial um valor suplementar quenão cabe na formação do espíritodeveras científico”.

Partindo agora, especificamentepara as coisas de interesse do tema,e tentando trazer material para nossareflexão eu faria uma perguntafundamental: já discutimos suficien-temente, na comunidade científica, oque analisar?

É válida a simples análise de solo,separada de um contexto mais global,de uma análise mais global do sistemaque inclui necessariamente o homemcom seu nível educacional, suascondições econômico-financeiras,seu meio social, suas vontades, o meiopolítico que o envolve etc? Nós, ospesquisadores, mudamos nossacultura ou simplesmente estamostransferindo pacotes da cultura obtidacom o plantio convencional para assituações do plantio direto? Claro quenão há como cortar os laços e jogar forao aprendido, mas temos sido suficien-temente audaciosos, para ousar?

No meu entender, existem diver-sospontos fundamentais a serem aindaexaustivamente discutidos para podermoselaborar um cenário claro, mesmo queelementar, no que diz respeito à validaçãoda qualidade do solo em PD. Assimgostaria de tecer algumas consideraçõescomo as seguintes.

O primeiro ponto é: qualidade dosolo para quê? A avaliação daqualidade do solo passa neces-sariamente pelas suas funções atuaise potenciais. Deveremos seguir orumo de uma função simples oudeveremos adotar o conceito de fun-ções múltiplas, definidas pelos holan-deses como: o solo deve preservar opotencial para realizar todas as suasfunções. Com essa finalidade ascaracterísticas funcionais do solo que

Qualidade do solo diz respeito àsua capacidade de agir de tal formaa, dentro dos limites de umecossistema natural ou manejado,oferecer boas condições à produ-tividade vegetal ou animal, manter oumelhorar a qualidade da água ou doar e fornecer suporte à saúde e habi-tação humanas. Nesse sentido é quese tecem aqui algumas consideraçõescríticas sobre a pesquisa sobrequalidade do solo em plantio direto.

No início dos anos 60, um influentemilionário americano fez uma visita aoBrasil e, dentre outras coisas, foiinaugurar uma granja de sua pro-priedade numa cidade do interiorpaulista. Eu ainda era estudante deagronomia e por interferência de umamigo daquela cidade, fui participar dainauguração.

Em conversa com os agricultores,na ocasião, o milionário teria dito quesua produção média de milho era X, oque representava algo meia dúzia devezes maior que a produção média daregião na época. Um dos agricultorespresentes teria contestado que os solosdo país dele seriam melhores que osnossos, ao que aquele senhor retrucou:“troco dez acres dos meus, por um dosseus”. Para encurtar a história o queele queria dizer é que os nossos solostinham o defeito da baixa fertilidade,o que se poderia colocar adubo, e porter textura normalmente leve eapresentar relevo plano, ou suave-mente ondulado, ele poderia colocara máquina e o implemento que quisessee conseguiria produzir como no seu país.

Máquina, adubo...produção, gera-ção de lucro rápido era função do soloe para isso os nossos eram, naquelaperspectiva, de boa ou alta qualidade.Lembro-me perfeitamente que estavapresente um agrônomo de amplo co-nhecimento de campo, e ainda forma-do pela escola da antiga brigadaconservacionista da década dos 40 emSão Paulo, que imediatamente asse-

PONTO DE VISTA

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são essenciais para as diferentes fun-ções, devem ser protegidas”. Embo-ra a multifuncionalidade seja um con-ceito simpático, pouca reflexão se temfeito sobre a complexidade do seu sig-nificado e praticamente nada se temconstruído com respeito a como ana-lisar o solo para avaliar sua capacida-de de suportar diferentes funções.

Outro ponto básico é o que se re-fere às estatísticas. A aplicação deestatísticas e delineamentos experi-mentais clássicos em PD é coisamuito complicada e que deve seramplamente discutida. Sabemos queum solo em PD apresenta-se bemheterogêneo com relação a atributose processos. Nessas condições, amédia é sempre enganosa e oscoeficientes de variação muito altostrazendo pouquíssima informaçãoadicional. Delineamentos experimen-tais clássicos em PD que, lógico, sópodem ser realizados no campo,trazem viéses tão grandes que não seiqual a validade dos números obtidos,mesmo que à luz da estatística clássicarepresentem algo. Temos que ousarmais em caminhos não clássicos comoautocovariância, variância cruzada,análise espectral e coisas que tais.

Quando agricultores manejamseus solos, eles intuitivamente prestamatenção em variações locais nos seuscampos, informação que tem sidofreqüentemente omitida na experi-mentação agronômica, e de maneiramuito particular, em PD. Essastécnicas mais modernas da estatísticaapresentam as ferramentas analíticaspara contemplar a intuição do agricultor,e parafraseando Wittgenstein que dis-se: “permita Deus ao filósofo ver o queestá diante dos olhos de todo mundo”,eu diria: permita Deus que os pesquisa-dores vejam o que está diante dos olhosdos agricultores que usam o PD.

A padronização é outro aspectofundamental a ser discutido comrelação à análise física, química ebiológica para fins de qualidade desolo. Se não houver uma mínimapadronização de procedimentos vaiser muito difícil juntar os resultadosda pesquisa para elaboração doconhecimento generalizado e neces-sário sobre o assunto. Pelo menos aamostragem, o acondicionamento deamostras, o quê e quanto tempoguardá-las, e algumas análises e de-

terminações, deveriam ter algum tipode padronização coordenado por al-guma instituição ou sociedade cientí-fica.

Uma quarta observação que deveser intensamente debatida é o uso deapenas atributos como indicador. Esteprocedimento apresenta uma visãomuito restrita do que está acontecendono sistema. Há que se considerar queas interações no solo são muitocomplexas e o efeito sinergético podeinterferir de maneira significativa numatributo representado por um númeromágico. Atualmente, por exemplo,vem sendo debatido intensamente nosEstados Unidos os valores tóxicospara metais pesados. Existem diversostrabalhos que mostram evidênciasclaras que esses valores, quando ometal é considerado isolado, são bemdiferentes daqueles quando ele éconsiderado em conjunto com outrosmetais. Por outro lado, o estudoexclusivo de atributo, ainda mais senão levado em consideração o tempo,tem validade muito precária. Osprocessos e suas variações e suaevolução cronológica é que devem serdestacados, pois é assim que se poderáentender quais os rumos que o sistemaestá tomando e prever seu sucesso alongo prazo. É importante consideraraqui também o tempo de duração dosexperimentos. Experimentos de curtaduração como dois, três anos levasempre a conclusões muito duvidosas.

O desespero pelo simplificado nasprimeiras etapas da pesquisa é outroaspecto relevante a ser levado emconsideração nas nossas discussões.É minha opinião que deveria haver umcompromisso com a simplificaçãoapenas depois de estabelecidos osdiversos índices que se procuram.Estamos indo não só no vácuo dacultura científica do plantio conven-cional como de suas simplificações.A pesquisa não tem que correr atrásdo fácil e do simples, mas sim dodesafio, se for esse o caminho paraas explicações dos processos. Nãoimporta quanto sejam sofisticados osmétodos para atingirmos o conhe-cimento adequado e necessário paraa explicação daquilo que acontece nosistema. Só depois de bem estabe-lecidos os fluxos, as fontes e ossumidouros, e os valores dos atributos,processos e funções é que se deveprocurar a simplificação para ser

usada no cotidiano da avaliação daqualidade do solo. Ao padeiro nãointeressa quanto tempo, intelecto oudinheiro foram despendidos paraobter o trigo que irá dar a farinha deboa qualidade para fazer o pão. Ocientista deve usar todo o arcabouçode conhecimento disponível, eatingida sua meta, lançar mão, aí simde atributos ou artifícios de fácilentendimento, obtenção, operação,para serem utilizados na prática.

Finalmente, a obsessão da compa-ração. São muito comuns trabalhoscomparando atributos físicos, quími-cos, mineralógicos e biológicos no PDe no PC. Esta atitude, no meu enten-der, enriquece muito pouco nossasnecessidades. Acredito que devemosestudar o PD como ele é, e fim. Ométodo do perfil cultural, nessascondições, é muito útil. Não tem muitosentido ficar estudando coisas de 0-10, 10-20 cm etc no PD. E quandoisto é feito comparando PD e PC,então, aí é que a coisa pega.

O SPD veio para ficar, só que eleestá lá no campo correndo a mil e apesquisa não pode de maneiranenhuma deslanchar em velocidademenor, pois corre-se o risco de veracontecer desastres como os jáacontecidos no PC. Devemos discutira análise de solo para fim dequalidade do solo, mas temos quepassar necessariamente por todosesses aspectos aqui levantados.

Confesso minha incompetênciapara tratar o assunto de maneira maisconcisa e precisa, mas tentei exporaqui alguns anseios com relação àqualidade do solo em PD. Acreditoque devemos encarar todas essas si-tuações em conjunto e que a Socie-dade Brasileira de Ciência do Solo ououtra entidade se preocupe em reu-nir os pesquisadores para discutir oassunto intensa e profundamente eespero que nesses eventos comece-mos confusos e que terminemos con-fusos num nível mais elevado. E cons-cientes da nossa confusão.

Otávio Antonio de Camargo

Centro de solos e RecursosAgroambientaisFone: (19) 2315422 ramal 180Endereço eletrônico:

[email protected]

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RESENHA CLIMATOLÓGICA

Balanço hídrico de setembro de 1999 aagosto de 2000

Por sugestão de leitores, a partirdeste número de “O Agronômico”,passamos a apresentar os dados men-sais de temperatura média (Tmed),total de chuva (Prec) e resultados dobalanço hídrico (BH) para 18 locali-dades do Estado de São Paulo, en-volvendo sempre o período de umano. O quadro, com nova estrutura,visa a possibilitar uma consulta maisrápida pelos usuários.

O período em análise carac-terizou-se por anomalias climáticasmarcantes, com reflexos negativos naagricultura paulista. A primeira foi operíodo de estiagem pronunciadoocorrido durante o ano de 1999, pro-vocando o retardamento do plantio dasafra das águas. Para a maioria daslocalidades, após uma pequena recu-peração nos níveis de água no solonos meses de janeiro e fevereiro de2000, o fenômeno se repetiu do finaldo mês de março ao final do mês dejulho, como mostram os elevados da-dos negativos do BH. Para as loca-lidades de Mococa, Pindorama, Ri-

beirão Preto e Votuporanga, a estiagemse prolongou até o mês de agosto.

Essa estiagem, aliada à seca daprimavera de 1999, trouxe prejuízosgeneralizados para as culturas daseca, semeadas tardiamente como omilho safrinha, nas regiões de Assis,Jaú e Ribeirão Preto; o feijão da secaem Tatuí, Pindamonhangaba eMococa; amendoim da seca emPindorama e o trigo na região deAssis, com acentuada quebra de pro-dutividade. Nesse período, as lavou-ras irrigadas como batata, tomate efeijão, também tiveram sua produti-vidade afetada em razão do baixo ní-vel dos mananciais, que obrigou re-duzir as aplicações de água.

Dentre as culturas perenes e semi-perenes afetadas pela estiagem es-tão o café e os citros, com má for-mação das gemas florais, a cana deaçúcar de ano, com colheita em se-tembro, com prejuízo no crescimentodo colmo e as pastagens de maneirageral, com prejuízo na produção de

leite. Essa situação trouxe benefíci-os somente para as culturas em fasede colheita nesse período, como omilho, soja, algodão, arroz e a canade açúcar de ano e meio.

A segunda anomalia foi a ocor-rência de geadas, consideradas demoderadas a severas no Estado deSão Paulo. As regiões mais afeta-das, com grandes prejuízos para aagricultura, foram as de Assis,Ourinhos, Piraju, Avaré, Bauru,Capão Bonito, Piedade, Mococa eFranca. As culturas mais atingidasforam café, cana-de-açúcar, milhosafrinha, pastagens, banana, abacate,batata, tomate, feijão, trigo e hortali-ças em geral.

Rogério Remo Alfonsi e MarceloBento Paes de Camargo

IAC-Centro de Ecofisiologia e Biofísica

fone: (19) 3241-5188 ramal 338

endereço eletrônico: [email protected];[email protected]

oluaPoãSedodatsEodsedadilacolotiozedme*lasnemocirdíhoçnalaBonA 9991 0002sêM teS tuO voN zeD naJ veF raM rbA iaM nuJ luJ ogA

anitnamadAdemT 0,42 2.52 7,42 8,62 2,72 4,62 8,52 1,42 1,12 4,22 6,71 3,22

cerP 63 21 05 442 09 691 772 43 42 41 14 17HB 85- 901- 07- 0 72- 6 641 81- 72- 84- 0 8-

sanipmaCdemT 3,12 5,12 7,12 0,42 5,42 1,42 9,32 4,22 6,91 0,02 3,71 0,02

cerP 46 73 78 771 921 252 351 1 3 5 38 76HB 11- 14- 3- 0 0 801 12 82- 04- 64- 0 0

otinoBoãpaCdemT 9,81 4,81 7,91 6,22 3,32 6,22 3,22 4,02 3,71 4,71 4,41 1,71

cerP 921 55 53 99 081 872 651 3 72 8 53 58HB 0 1- 41- 7- 71 481 06 02- 61- 03- 0 0

éraratIdemT 4,61 1,51 4,61 6,91 1,02 1,91 5,81 7,71 0,51 5,51 6,21 0,51

cerP 631 78 28 47 912 823 302 4 42 301 45 781HB 54 23 81 2- 601 252 721 51- 31- 0 91 041

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42 O Agronômico, Campinas, 52(2/3), 2000

oãçaunitnoC-oluaPoãSedodatsEodsedadilacolotiozedmelasnemocirdíhoçnalaB

onA 9991 0002sêM teS tuO voN zeD naJ veF raM rbA iaM nuJ luJ ogA

úaJdemT 3,02 4,22 1,32 0,52 9,42 5,42 3,42 9,22 9,91 3,02 2,71 2,02

cerP 38 54 72 091 412 341 931 2 8 2 54 56HB 1- 04- 76- 0 74 33 62 92- 83- 94- 0 0

íaidnuJdemT 3,02 4,02 8,02 3,32 4,32 6,32 1,32 2,12 5,81 5,81 1,61 5,81

cerP 29 13 26 861 412 581 411 01 11 92 29 77HB 0 72- 51- 0 67 28 21 81- 72- 71- 0 0

ariemiLdemT 1,12 7,12 7,12 9,32 5,32 7,32 2,32 3,12 9,81 4,91 7,61 7,91

cerP 46 46 53 751 322 591 562 3 61 5 15 35HB 01- 02- 84- 0 55 29 261 22- 71- 14- 0 8-

irudnaMdemT 4,02 2,12 9,12 1,52 4,42 1,42 1,32 5,12 9,71 2,81 1,51 0,81

cerP 421 84 02 26 981 881 941 3 62 02 15 89HB 21 7- 93- 95- 0 75 64 32- 61- 22- 0 0

acocoMdemT 2,32 9,32 4,32 5,42 7,42 5,42 2,42 7,22 6,02 9,02 5,81 3,12

cerP 83 33 28 732 034 723 321 6 41 1 83 94HB 15- 47- 42- 31 103 712 11 62- 63- 35- 01- 22-

luSodergelAetnoMdemT 3,02 7,02 7,02 8,22 8,22 8,22 6,22 7,02 0,81 2,81 2,61 4,81

cerP 17 24 79 771 583 532 142 3 51 8 67 66HB 1- 92- 0 3 572 041 341 02- 32- 13- 0 0

uçA-areuqiraPdemT 2,02 2,02 3,12 3,42 8,52 9,42 8,32 6,12 5,91 5,91 5,51 8,61

cerP 251 78 18 251 002 771 631 31 61 48 03 521HB 36 41 0 12 45 26 82 71- 52- 0 0 74

abagnahnomadniPdemT 0,12 1,22 4,22 7,42 8,52 3,52 3,42 1,22 2,91 3,81 4,71 0,91

cerP 83 04 76 301 163 022 341 12 7 0 84 57HB 82- 44- 62- 52- 321 101 03 51- 92- 53- 0 0

amarodniPdemT 2,32 8,32 6,32 1,52 9,42 6,42 3,42 1,32 4,02 8,02 7,71 6,12

cerP 03 93 75 832 932 883 202 0 9 0 73 04HB 06- 86- 05- 5 901 872 09 13- 93- 35- 5- 23-

oterPoãriebiRdemT 6,32 0,42 6,32 9,42 6,42 8,42 4,42 1,32 8,02 9,02 5,81 7,12

cerP 09 54 67 132 453 623 081 0 1 0 93 94HB 8- 36- 13- 3 722 312 66 13- 94- 65- 9- 52-

íutaTdemT 2,02 4,02 9,12 0,52 7,42 4,42 6,32 5,12 5,81 3,81 9,41 8,71

cerP 57 04 83 931 921 851 55 2 2 5 46 66HB 0 82- 64- 0 2- 0 62- 75- 34- 04- 0 0

êteiTdemT 1,22 4,22 3,32 2,52 5,42 5,42 8,32 7,12 9,81 1,91 5,61 9,81

cerP 55 95 24 441 181 881 621 0 02 91 56 06HB 12- 92- 75- 0 0 64 71 42- 32- 62- 0 0

abutabUdemT 8,02 6,02 3,12 3,42 5,52 3,52 5,42 8,22 1,12 1,02 6,71 3,91

cerP 812 213 421 843 763 523 182 36 22 73 87 87HB 521 432 83 222 622 502 561 3- 12- 41- 0 0

agnaroputoVdemT 0,52 9,52 9,42 6,32 2,62 8,52 3,52 1,42 1,12 9,12 9,81 0,32

cerP 24 73 68 612 843 573 522 03 32 0 52 54HB 86- 79- 73- 5 002 152 101 02- 92- 65- 12- 83-