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12º Encontro da ABCP 18 a 21 de agosto de 2020 Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa (PB) Área Temática: SOCIOLOGIA POLÍTICA O CONTINUUM ESQUERDA / DIREITA COMO MÉTODO INSUFICIENTE DE ANÁLISE DO ESPECTRO IDEOLÓGICO EM TEMPOS BOLSONARIANOS Autor Franklin Soldati UENF Observatório das Metrópoles - INCT

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12º Encontro da ABCP

18 a 21 de agosto de 2020

Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa (PB)

Área Temática: SOCIOLOGIA POLÍTICA

O CONTINUUM ESQUERDA / DIREITA COMO MÉTODO INSUFICIENTE DE ANÁLISE

DO ESPECTRO IDEOLÓGICO EM TEMPOS BOLSONARIANOS

Autor

Franklin Soldati

UENF – Observatório das Metrópoles - INCT

Resumo

Discutir proposta metodológica para investigação do espectro ideológico dos partidos políticos

no Estado do Rio de Janeiro em 2018 é o objetivo do paper. O surgimento do bolsonarismo

alterou as bases da ideologia dos partidos políticos no Brasil.

Palavras-chave: IDEOLOGIA, BOLSONARISMO, COMPORTAMENTO ELEITORAL

Abstract

To discuss the methodological proposal for the investigation of the ideological spectrum of

political parties in the State of Rio de Janeiro in 2018 is the aim of the paper. The emergence

of bolsonarism changed the basis of party ideology in Brazil.

Key words: IDEOLOGY, BOLSONARISM, ELECTORAL BEHAVIOR.

Este é um trabalho exploratório123. A dificuldade em visualizar representações

multidimensionais em planos bidimensionais fica patente na apropriação que fazem as

medidas matemáticas de distância. Por isso, o objetivo de tentar realocar o continuum

esquerda / direita em quatro quadrantes se mostra possível enquanto representação da

descrição do movimento multidimensional, movimento já imaginado por Kruskal e Wish

(1978). Argumenta-se que nas democracias burguesas, ou parlamentares, a extrema-

esquerda não seria admitida, pela impossibilidade de defesa de eliminação completa do

adversário, pautando-se o discurso com a ideia de revolução, ou até terrorismo, o que por si

só já seria considerado um extremismo. Atos violentos, táticas radicais não são consideradas

como modos legítimos de ação, ou pelo menos não permitidos ou admitidos. Porém, pode-se

perceber que também não existiria uma extrema direita pura, no jogo democrático. Mesmo o

cruzar a linha do admissível, por mandatários, o regime tem de dar sinais de respeito as regras

democráticas sob pena de deslegitimação. São conhecidas as regras democráticas

requeridas para admissão em organismos multilaterais tais como a OCDE. Importa

reconhecer a recusa do governo Lula em ingressar nesse pacto tais as propostas ordoliberais

(DARDOT, LAVAL, 2016). E concorda-se com as cartilhas mais diplomáticas em que mesmo

quando o atual governo defende ações de uma extrema-direita radical, com discursos e

propostas radicalizadas e extremistas, além do apoio militar que até então tem recebido, a

maioria das ações ainda é submetida a crivos pelas instituições públicas, Câmara de

Deputados, Senado, Judiciário, imprensa, eleitorado, opinião pública, quer dizer, mesmo sob

fogo cerrado, há resistência institucional capaz de deter alguns avanços e até mesmo

provocar recuos. A derrubada de inúmeros vetos pelo Congresso Nacional, a invalidação

jurídica de atos e leis publicados, são provas inequívocas que mesmo cambaleantes as

instituições podem funcionar. Portanto, neste artigo, os extremos ideológicos serão

considerados, embora admita-se que o movimento seja assintótico, não se assume de modo

pleno a pontuação pura, idealmente, mesmo que a mesma seja pensada. Fica de fora, a

extrema-esquerda, em virtude do histórico político-eleitoral brasileiro em que todo partido não-

democrático dessa ala é ou sempre foi banido. A análise da presença da extrema-direita

1 O autor agradece aos Professores Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro, Nelson Rojas de Carvalho, Filipe de Souza Corrêa, pelo acolhimento no Grupo de Estudos – GT Regimes Urbanos do Observatório das Metrópoles, local onde se estabeleceram discussões interessantes sobre as tendências de ideologia partidária do sistema político brasileiro, mas os isenta dos vieses porventura aqui apresentados. 2 O autor também agradece a Leonardo Azevedo Pampanelli Lucas, doutor em Demografia pelo CEDEPLAR pela consultoria estatística. Igualmente o isenta de decisões aqui tomadas. 3 O autor foi bolsista FAPERJ.

comporá apenas mais uma das possibilidades no atual cenário de distribuição ideológica entre

os partidos políticos, pois ela não pode ser completamente incorporada uma vez que se assim

que o for, o regime deixará de ser considerado democrático. Ao se aplicarem valores ao eixo

inferior negativo das coordenadas cartesianas, igualam-se os valores, caracterizando

similitude, muito embora em diferentes quadrantes.

A possibilidade de valorar os quadrantes em inclusivo, (-1); exclusivo, (1); seletivo (-1);

rejeitivo (1), partiu da possibilidade de terem sido estes os eixos os quais partiu Robert Dahl4.

O gráfico de demonstração de comportamento das hegemonias ou das poliarquias, bem como

seus conceitos, revela isso. Também a demonstração do sistema políticos por Sartori (1982).

Contudo, melhor seria investigar a capacidade dos partidos políticos brasileiros em operar

conjuntamente nos dois eixos, programáticos e questionar se o que o partido defende é

incorporado no seu dia-a-dia. De modo que, do lado da participação estariam os extremos

entre a inclusividade na construção na participação das propostas partidárias, tais como as

teses petistas, ou mesmo a militância característica dos partidos de esquerda e, do outro lado,

a seletividade de partidos denominados moderados e a exclusividade da programação tucana

e partidos assemelhados, como a realização dos famosos churrascos de gravata. Já do lado

da competição é a força demonstrada pelos partidos em determinada disputa, nas palavras

de Douglas Rae (1975, apud FIGUEIREDO, 2008) a ideia de partidos efetivos, bem como das

leis de Duverger. Analistas admitem que a fragmentação atual chegou a 17 partidos efetivos,

situação complicada em um sistema democrático. É assim que os partidos se apresentam na

participação da competição pela posse da hegemonia. A luta para obtenção de cadeiras e

lugares nos executivos e parlamentos. A cláusula de barreira talvez seja o mecanismo mais

limitador da participação ampliada da disputa política. Talvez seja baseado no mesmo

argumento da ditadura da maioria de Mill (SANTOS, 1985) quando a história demonstra que

na esmagadora maioria das vezes a ditadura que sempre atuou foi mesmo a da minoria. No

Brasil, a ideia da ditadura da maioria servirá mesmo como desculpa para a manutenção do

status quo ou o impedimento de avanços progressistas.

Antecipou-se diferentes possibilidades de avaliar os continua ideológicos com a descrição de

inúmeros conceitos de identificação: igualdade / desigualdade, pobreza / riqueza, participação

4 Douglas Rae (1975) e Russel Dalton (2008) desenvolveram índices de competição para análises dos

sistemas político-partidários. O quesito participação dos partidos políticos no sistema político-eleitoral tem sido balizado pela Justiça Eleitoral e de tempos em tempos sofre alterações com relação ao total mínimo de representação para alcançar a Cláusula de Barreira. O autor entende tratar-se de uma questão filosófica. Santos (19895) alegou impossibilidade de calcular-se a fragmentação eleitoral devidamente em razão da legislação eleitoral.

/ restrição, porém talvez o conceito que mais emergiu com a eleição de Bolsonaro seja o de

respeito à lei. Toda a tradição da cultura política nacional tem no enobrecimento individual o

objetivo de cidadãos comuns, vide o tucanato. No atual momento o mandatário questiona e

falseia a todo o instante a necessidade ou a obrigação de respeito à lei. Isso remete a teóricos

que admitem, ou explicam, a rebeldia comunitária após a auto instituição do estado, ou

governo. Também remete aos apelos do Olavão. Daí a ideia de participação torna-se

irrelevante perante a possibilidade dos partidários da nova força eleitoral, a assunção que são

eles quem mandam. Através dos estudos sobre a tolerância do brasileiro à corrupção pode-

se explicar a postura de uma elite diante da própria necessidade de desrespeito à Lei, à

Constituição, tolera-se por conveniência. Neste sentido é oportuna a distinção enfatizada por

Avelino Filho (p. 13,1990 apud ESTEVES, 1998) entre cordialidade e civilidade. Estudos de

Carvalho e Corrêa (2012) sobre a existência de um paroquialismo metropolitano na periferia

do Rio de Janeiro, revela que uma das principais associações encontradas é a completa

ausência de infraestrutura e equipamentos urbanos e, de Carvalho (2012), sobre o peso da

indicação religiosa no primeiro turno das eleições de 2010 em Nova Iguaçu, em que o peso

de líderes religiosos foi determinante para que o pleito tivesse um segundo turno. Outros

estudos completam esta visão onde toda uma alteração no quadro parlamentar parece ter

sido efetivada através das “franjas do sistema eleitoral” palavras de Codato e Bolognesi

(2018). Além do surgimento e fortalecimento desde 2004 da Bancada do Boi, da Bíblia e da

Bala, no Congresso Nacional. Além disso, os grandes jornais de circulação do país, o DIAP –

Departamento Intersindical de Apoio Parlamentar e outras organizações da sociedade civil

realizam levantamentos rotineiros sobre a formação das bancadas das Câmaras Municipais,

Assembleias Estaduais, Câmara Federal e Senado. A banca BBB é forte e atuante, o que não

implica em demérito5. Contudo pode ser aterradora a recente descoberta da localidade Rio

das Pedras e a manifestação contra o vereador Brizola por 21 vereadores da Câmara

Municipal do Rio de Janeiro, na legislatura atual 2019-23, condenando as ações do referido

vereador que solicita ações enérgicas contra a milícia.

Se a representação cartesiana é bidimensional e as representações multidimensionais são

projetadas em planos bidimensionais, resta-nos pensar a circularidade de infinitos gráficos

5 A bancada evangélica na Câmara dos Deputados atingiu o número expressivo de 84 deputados, de todas as orientações ideológicas. Na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro treze (13) deputados se apresentam como representantes da “família e bons costumes”, oito (08) deputados enquanto representantes da “segurança” e mais quatro (04) deputados se apresentam como integrantes de ambas as bancadas (cf. https://g1.globo.com /rj /rio-de-janeiro/eleicoes/2018/noticia/2018/10/09/bancadas-da-bala-e-da-familia-tradicional-dobram-de-tama nho-na-alerj-após eleicao.ghtml?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=rjtv&utm_ com tente =post).

cartersianos, constituintes de uma esfera cartesiana polidimensional, em que cada conjunto

de eixos x e y abarcaria valores similares. Outra contrafactualidade é imaginar com Tarouco

e Madeira (2013), quando analisam os manifestos partidários e a manifestação de

coordenadas cartersianas numa perspectiva negativa, onde os valores positivos seriam

negativos e os valores negativos, positivos. Assim, ações consideradas extremas teriam peso

positivo, apropriando a perspectiva objetivada neste artigo. Mesmo a utilização ideal de quatro

quadrantes é possível com a adoção do campo ideológico tradicional, continuum ideológico

composto por esquerda, centro e direita, e na perspectiva em três dimensões, conforme a

proposta de Codato, Roeder e Suhurt (2018). Na verdade, são planos que se interconectam.

Entretanto, aqueles partidos que até então eram considerados partidos de centro, também

serão considerados partidos de direita, conforme tendência assumida por estudos da política

nacional e mesmo de brasilianistas da ciência política, sem mencionar o fenômeno observado

por Inglehart. Os partidos de centro, PMDB e PSDB moveram-se à direita (POWER;

RODRIGUES-SILVEIRA, 2019) (CARVALHO, 2020). Mesmo o PT teria se movido ao centro

na realização de coligações durante seus governos (MIGUEL, MACHADO, 2010). A alegação

é que esse movimento não os reacomodou na direita e que o eleitorado não muda o voto de

modo volátil como muito se defendeu em estudos pretéritos. Segundo Power e Rodrigo-

Rodrigues (idem, 2019) após avaliar a intencionalidade dos votos de 1998-2018. Segundo

eles, os partidos que mais perderam votos foram mesmo os tradicionais, PSDB, PMDB, ou os

que mais perderam cadeiras. No mesmo sentido é consenso que tais votos não se moveram

para a esquerda.

Entretanto, as principais análises trataram de momentos anteriores aos de 2016, e não após

o Golpe Parlamentar. Depois disso ocorreu a manutenção de um novo mandatário apátrida,

bem como o cometimento de faltas graves contra o comportamento moral preconizado pela

nossa Constituição. Na sequência, outro político do baixo clero é, em circunstâncias

excepcionais, conduzido à posição de mandatário principal da nação, com discurso

radicalizado. Na verdade, pouco a pouco, o programa do governo atual se desvela como cópia

do programa tucano de governo, posto em ação no momento da retomada neoliberal da

América Latina no final da década de 1990, muito embora com táticas bem mais sutis

(FONSECA, 2019). Todas as tentativas de ultraliberalização da economia e do estado

nacional tiveram origem naquele programa de governo. A história inacabada do

BANESTADO, da privatização da Vale, da compra de votos para a reeleição noticiada pelos

jornais, da farta distribuição de canais de rádio e TV, nos permite hoje assistir aos canais

religiosos e com o abono público do ex-presidente FHC ao atual desgoverno é possível situar

o PSDB como partido de direita. Pesa ainda sobre esse partido a isenção com que eles foram

tratados na Operação Lava-Jato. Faoro que o diga. O PMDB, agora MDB, por seu turno,

também é deslocado da posição de partido de centro pelo apoio que deu ao golpe de 2016,

pela completa desmobilização dos interesses nacionais nas atuações de Temer e no respaldo

às principais ações de Bolsonaro. O adágio “uma andorinha não faz verão” explica a solidão

dos legítimos Itamares e Requiões, autênticos representantes desenvolvimentistas de um

MDB pós-ditadura. Com apenas esse pequeno relato pode-se admitir que o centro evaporou,

escafedeu-se, e tanto a REDE quanto o PV seriam partidos demasiadamente pequenos para

representar uma posição moderadora no sentido de apaziguamento para o complexo cenário

político brasileiro. O vácuo de centro é considerado para muitos especialistas o mais claro

sinal de desequilíbrio (SANTOS, 1987). Mas o que importa ao presente artigo é a defesa da

inexistência do centro como moderador e reafirmar a sua existência enquanto campo de força

política estabelecida entre a classe trabalhadora e intelectuais e a aristocracia, no caso uma

oligarquia plebeia.

Como mencionado, de acordo com POWER e RODRIGUES-SILVEIRA (2019), bem como

CARVALHO (2020) a política subnacional foi gravitacionada à esquerda nos governos do PT,

principalmente no primeiro e segundo governos Lula, mas foi lentamente trazida de volta a

posições mais à direita já em meados do primeiro governo Dilma. Esse achado é importante,

mas também é consenso que o país tem estado predominantemente mais à direita, na maior

parte de sua história política, o que coaduna com seus dois solitários momentos democráticos.

Entretanto, uma linhagem de intelectuais desenvolvimentistas, que se debruça sobre a história

política-eleitoral brasileira, entende o que Lima Junior (cf. 1990) denominou de “O balanço do

poder”. Em todas as situações nacionais onde a democracia floresceu e a esquerda obteve

espaço político-eleitoral, medidas excepcionais foram adotadas para a interrupção do

movimento de soberania nacional pela democratização das políticas. Portanto, se o centro

evaporou, ou se de fato nunca existiu, podem os partidos oligárquicos, não aristocráticos,

admitir ensaios democráticos, ilusões momentâneas, temporâneas. Porém prontos a recusá-

los quando ameaçam a estabilidade política e econômica dessa mesma elite. Por isto o golpe

de 2016, o papel da imprensa na deslegitimação do PT, as 972 pedaladas do Anastasia, seja

o reconhecimento das Fake News pela empresa WhatsApp, o episódio da “Esquina dos

Aflitos” e do “bisturi”. A ameaça democrata aterroriza a aristocracia que amedronta os

oligarcas. De modo que se nossa esquerda é reduzida em número de partidos políticos ela o

é significativa e representativa. Por outro lado, uma constelação de partidos políticos de direita

e um rumo a uma extrema-direita que não se completou, ou não se pode completar.

Nas décadas de 1950-60 publicaram-se inúmeros trabalhos relativos à participação eleitoral.

Samuel Huntington e Joan Nelson (SANTOS, 1987) defenderam que o exercício compulsório

do voto se vinculava ao progresso material alcançado pelo regime. Entre muitos outros que

avaliaram a participação política e eleitoral em relação ao comportamento de dados

socioeconômicos e demográficos estão Pizzorno, Lane, Neuman (apud FIGUEIREDO, 2008).

Foi nesse ambiente que surgiu o modelo de centralidade, onde a posição socioeconômica do

eleitor o aproxima ou o afasta da participação política: frequência a associações, partidos,

conversas, reuniões cívicas e congêneres. Sua localização também teria efeito sobre os

comportamentos, se urbana ou rural, se morador do centro ou da periferia. Todas essas

variáveis implicariam drasticamente no desempenho cívico do eleitorado. No Brasil, Reis

(1978) Machado (1994) e depois Reis e Machado (2001) foram os principais expoentes de

trabalhos sobre o modelo de centralidade com a teoria da consciência de classe, bem como

o de sofisticação política. Santos (2007) com o cálculo da razoabilidade, Figueiredo (2008)

com a eficiência do voto e Ribeiro (2007) com o efeito metropolitano e o direito à cidade. Mas

foi Leôncio Rodrigues quem acoplou a posição social do representante político na escolha da

vaga por determinado partido. Nessa esteira o trabalho de Codato, Roeder e Suhurt (p.15,

2018) que argumentaram ser a conexão política e a ideologia os vetores mais robustos da

representação, ao avaliarem a disposição para a política a partir das profissões dos

candidatos. A oposição entre a teoria tradicional da proximidade e a teoria direcional do voto

foi proposta por Rabinowitz e Macdonald (1989). Eles ofereceram uma aproximação entre

uma e outra. Todo esse cabedal teórico e metodológico autoriza o exercício aqui proposto.

Outros estudos sobre comportamento eleitoral complementam o que podemos chamar de

triangulação na busca pela ocorrência de covariância. Alkmim dos Reis (1992) avaliou as

eleições de 1988 para presidência da república. Como conclusão a verificação de grande

similaridade ideológica com o eleitorado na distribuição espacial do voto nos dois turnos e

entre os dois principais candidatos Collor e Lula através de associação estatística. Importante

ressaltar que os aspectos geográficos também foram avaliados. Quando avalia o voto e a

segmentação socioespacial do estado do Rio entre 1980-95, Alkmim dos Reis (1997) realiza

Análise Fatorial como forma de obter as dimensões eleitorais mais relevantes através do

método de componentes principais. Como principal ganho desse trabalho a elucidação da

principal clivagem eleitoral de fins dos 80 e início dos 90, brizolismo e opositores.

A partir dessas revisões resolveu-se reclassificar os atuais partidos políticos brasileiros, 2018,

em esquerda e direita. Ao afirmar que já não existem evidencias que PSDB e PMDB têm

atuado enquanto partidos de centro e mesmo que o façam futuramente, não o tem feito

atualmente e em recente passado.

Metodologia:

Como tarefa inicial nos testes estatísticos deve-se responder o que se procura resolver:

diferenças entre condições ou relacionamentos entre variáveis. Diferenças entre condições

satisfaz o caminho da movimentação das médias e variâncias. Se a ideologia é comumente

pontuada através de consenso, pode-se, ao menos, ousar mudanças, mesmo conservadoras.

Para o leque de mudanças imaginadas se fazem necessárias a utilização de um TESTE t,

para duas amostras e ANOVA para um fator. Porém, em razão da não observância de

normalidade das distribuições, a utilização de testes não-paramétricos, testes de

Mann_Shitney e Kruskal-Wallis com correção. Na sequência a intenção de realizar um

exercício de análise de diferenças entre relacionamentos. Correlação Simples como método

exploratório do comportamento das diversas populações em análise e Regressão Linear.

Foram incluídas nas análises de diferenças a Votação para Presidente no primeiro turno, que

compreende todas as treze coligações, bem como as variáveis de votação referentes aos

cargos de Deputado Estadual, Deputado Federal, Senador e Governador, identificadas pela

votação em cada candidato em particular e por coligação, num primeiro momento. Num

segundo momento, foi também testada a votação para Presidente em dois grupos opostos,

Esquerda e Direita em comparação com a votação municipal de todos os níveis eleitorais, de

2018, também em dois grupos opostos, Esquerda e Direita. Em seguida, procedeu-se a

avaliação de relacionamentos, Regressões estatísticas, inicialmente Lineares Múltiplas, para

depois ser verificado o comportamento da eleição através de Regressões Logísticas. As

regressões tiveram o objetivo de avaliar a força da votação de cada parlamentar no montante

da votação de cada coligação ou mesmo da eleição da mesma tendência ideológica num nível

eleitoral superior. Deve-se perceber associação estatística entre a quantidade de votos

obtidos por cada candidato, legenda, partido, coligação com a eleição do mandatário geral da

nação. O que se procurou demonstrar foi o óbvio, ou seja, a variância da votação nos

candidatos e partidos da direita deverá estar associada a variância da votação do candidato

vencedor das eleições. A votação do mandatário será avaliada no primeiro turno, mas

principalmente no segundo turno. O que interessa verificar é a variância da massa de votos,

como contrafactual do sentido da opinião, da questão ideológica. Através dos modelos de

regressão, procurou-se investigar também, se a força de cada coligação que representa a

opinião, incrementa a associação ou a dissipa. Admite-se que o eleitor que votava em partidos

da esquerda tenderá a repetir a mesma direção e que eleitores de partidos até então admitidos

como centro e de partidos de direita tenderão a votar no senhor Bolsonaro. Literatura sobre

Partidos Políticos e Comportamento Eleitoral que corrobora essa assunção pode ser conferida

em Soldati (2011). Mesmo que alguns outros se refiram à volatilidade, estudos contrários

reafirmam que a movimentação se restringe aos limites de um mesmo eixo ideológico. A

percepção aqui é que o eleitor que votaria no Ciro Gomes acabou votando no Sr. Bolsonaro

e eleitores que votaram no Haddad teriam claramente optado por Ciro, desde que tivessem

conseguido uma concertação. O Ciro representava a ideia de centro. E na opinião deste autor,

parece que foi ele mesmo quem não aceitou tal papel de centro, de conciliador, e talvez seja

essa a proposta de que o centro acabou, ou nunca tenha por aqui existido. Além do Ciro

Gomes a posição de centro poderia ser encarada na figura de Itamar e do Requião.

Considera-se que mesmo os eleitores de uma extrema-esquerda concordariam em

determinadas situações votarem em candidatos moderados, como os citados acima, da

mesma forma os eleitores da extrema-direita, movimentando-se ao centro.

Organização das variáveis:

Foram avaliadas algumas medidas de viés ideológico para os partidos políticos nacionais a

fim de seguir o objetivo de testar a inexistência, atual, de um centro político. O trabalho de

Luis Felipe Miguel e Carlos Machado (KRAUSE, DANTAS e MIGUEL, 2010), onde tais

estudiosos realizam pesquisa de avaliação das coligações eleitorais realizadas pelo PT

durante os governos Lula e primeiro governo Dilma. Os autores afirmam que mesmo o PT

caminhou para o centro ao exercer o governo. Para eles, numa perspectiva conservadora, o

continuum ideológico seria assim formado: Avante, 1; DC, 1; DEM, 1; MDB, 0; NOVO, 1;

PATRI, 1; PCdoB, -1; PDT, -1; PHS, -1; PMB, 1; PMN, -1; PODE, 1; PP, 1; PPL, 1; PPS, -1;

PR, 1; PRB, 1; PROS, 1; PRP, 1; PRTB, 1 PSB, -1; PSC, 1; PSD, 1; PSDB, 0; PSL, 1; PSOL,

-1; PT, -1; PTB, 1; PTC, 1; PV, -1; REDE, 0; SOLID, 1. Nessa primeira classificação alguns

partidos ficaram de fora, como foi o caso do PAN, PL, PSDC e PTN, todos reclassificados

como direita, 1. Do mesmo modo três partidos de esquerda, PCB, PCO e PSTU, -1. Para

cumprir o objetivo deste paper, a primeira avaliação seguiu de modo quase idêntico a

classificação inicial, acima, embora os principais partidos tratados até então como centro

político sejam removidos para a direita e serem pontuados com peso (1,0). Tal é o caso não

somente do PMDB, mas principalmente o PSDB. Nessa abordagem outros dois partidos

também considerados de centro, REDE e PV recebem pontuação inversa de peso (-1,0). Uma

segunda rodada, com novas baterias de análise, é referendada na proposta do grupo que

estuda a formação das elites e de comportamento político do Paraná. Codato, Roeder e

Suhurt (2018) analisam a existência de três extremos ideológicos ao investigar a origem social

dos parlamentares. Tal distinção foi caracterizada numa análise multivariada frente à

disposição para a atividade política segundo a profissão do próprio parlamentar. Através de

um scatter-plot fica demonstrada separação e similaridade entre os parlamentares dos três

segmentos, esquerda, centro e direita. Em outro trabalho, Codato e Bolognesi (2018) realizam

o exercício de reclassificar em sete classes os partidos políticos brasileiros, de acordo com a

classificação de Coppedge que avaliou partidos políticos da América Latina: Partidos

Seculares de Centro-Esquerda, Partidos Seculares de Esquerda, Partidos Seculares de

Centro, Partidos Personalistas, Partidos Confessionais de Direita, Partidos de Direita e

Partidos desconhecidos. A grande questão é que mesmo tal classificação não quantificou, ou

valorou com pesos, as diferenças ideológicas, de modo que não se indica o quanto a distância

de Partidos Seculares de Direita, Confessionais de Direita e, mesmo, Personalistas, se afasta

dos Seculares de Centro, ou um dos outros. Tal proposta pode, por esse aspecto, ser

considerada conservadora, pois mesmo com as subdivisões observadas ela, grosso modo,

se aproxima da classificação de Miguel e Machado (2010) e de Tarouco e Madeira (2013).

Contudo, foi possível estabelecer nova avaliação conservadora baseada nesta classificação

de Codato e Bolognesi, uma vez que a partir do conceito adotado por eles, a ideia de partidos

com forte apelo militar, estado autoritário, conservadorismo religioso, moralismo exacerbado,

questões de gênero, aborto e posse de armas, permitem pensar a orientação ideológica numa

espécie de populismo de Klemanski (DULIO, KLEMANSKI, 2018). Consonante a isso, ousou-

se um avanço de um grau na escala comumente utilizada do continuum esquerda-direita,

tradicionalmente adotado, referenciados pelos estudos das reações da nova direita por Pippa

Norris (2005). Partidos Confessionais de Direita, e Seculares de Direita, além dos

Personalistas, poderiam ter a eles atribuídos o peso 2,0, devido a movimentação bem mais à

direita que os tradicionais partidos da direita. Tal ousadia se ancora nos projetos aprovados

pelo governo de características claramente ultraliberais. Além do discurso radicalizado,

moralista, neoconservador, militarista e de alto apelo religioso neopentecostal. De modo que

se referenda a proposta deste artigo, aceita-se a elocubração de Miguel (2020) e aumenta-se

o continuum para uma amplitude entre (-1,0), (0), (1,0) e (2,0) e admite-se a existência virtual

de (-2,0).

Os partidos considerados pelos primeiros como Seculares de Centro, PSDB, PMDB foram

realocados para a direita e receberam peso (1,0). Já os partidos Personalistas, os Seculares

de Direita e os Confessionais de Direita foram todos realocados numa posição mais

extremada da direita e receberam peso (2,0), o que inclui o PSL. Um grande número desses

partidos dá sustentação ao governo Bolsonaro, além de grande número de parlamentares

evangélicos. O que pode ser comprovado já no primeiro ano de mandato em pesquisa

realizada pelo site “Congresso em Foco” (VER QUADRO IDEOLÓGICO). A terceira e última

alternativa avaliada foi manter na esquerda partidos como o Rede e o PV, mas PSDB e MDB

como direita, além de todos os outros já alocados enquanto direita com peso (1,0) e somente

o PSL com peso (2,0), com o intuito de esmiuçar a radicalização apenas desse partido político,

na figura do Sr. Bolsonaro.

Avaliação dos Dados:

Orientação ideológica segundo Miguel e Dantas (LFM):

Ao se avaliar a Ideologia adotando a classificação tradicional de Miguel e Dantas (2010) e,

em virtude da não-normalidade da população verificou-se que a Ideologia interferiu nas

eleições de 2018 no Estado do Rio de Janeiro, ao serem avaliadas as votações nos noventa

QUADRO IDEOLÓGICO DOS PARTIDOS POLÍTICOS NO BRASIL

NOM_PART_POLNUM

PARTVI_LFM VI_CBC

OIP1 sem

45 e 15 =

1, Rede e

PV = -1

OIPO OIPCNUM

PARTNOM_PART_POL

Co

nce

ito

s C

od

ato

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Bo

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nes

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art

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Go

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o

Bo

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ro e

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01

9 e

m F

oco

Principais

características

simbólicas dos

partidos políticos

AVANTE 70 1 1 1 2 1 70 AVANTE PP 1 11,30%

CIDADANIA 23 -1 0 1 1 1 23 CIDADANIA PSC 77,60%

DC 27 1 1 1 2 1 27 DC PCD Eymael

DEM 25 1 1 1 1 1 25 DEM PSD 5 77%

MDB 15 0 0 1 1 1 15 MDB PSC 3 77,50%

NOVO 30 1 1 1 1 1 30 NOVO PSD 2 71,80%

PAN 26 1 1 1 2 1 26 PAN PP

PATRI 51 1 1 1 2 1 51 PATRI PSD 90,80%

PATRIOTA 51 1 1 1 2 1 51 PATRIOTA PCD 1 90,80%

PCB 21 -1 -1 -1 -1 -1 21 PCB PSE

PCdoB 65 -1 -1 -1 -1 -1 65 PCdoB PSCE 20,40%

PCO 29 -1 -1 -1 -1 -1 29 PCO PSE

PDT 12 -1 -1 -1 -1 -1 12 PDT PSCE 2 15,80%

PEN 51 1 1 1 2 1 51 PEN PCD Assembleia de Deus

PHS 31 -1 -1 1 2 1 31 PHS PP 1 atual PODEMOS

PL 22 1 1 1 2 1 22 PL PSD 74,30%

PMB 35 1 1 1 1 1 35 PMB PSC

PMDB 15 0 0 1 1 1 15 PMDB PSC 77,50%

PMN 33 -1 1 1 2 1 33 PMN PP 1

PODE 19 1 1 1 2 1 19 PODE PSD 3 92,90%

PP 11 1 1 1 2 1 11 PP PSD 5 67,40%

PPB 11 1 1 1 2 1 11 PPB PSD

PPL 54 -1 -1 -1 -1 -1 54 PPL PSCE

PPR 11 1 1 1 2 1 11 PPR PSD

PPS 23 -1 0 1 2 1 23 PPS PSC

PR 22 1 1 1 2 1 22 PR PCD 7 > bancada evangélica

PRB 10 1 1 1 2 1 10 PRB PCD 19 Igreja Universal

PROS 90 1 1 1 2 1 90 PROS PP 1 4%

PRP 44 1 1 1 2 1 44 PRP PP 1

PRTB 28 1 1 1 2 1 28 PRTB PSD

PSB 40 -1 -1 -1 -1 -1 40 PSB PSCE 4 19,10%

PSC 20 1 1 1 2 1 20 PSC PSD 4 78,10%

PSD 55 1 1 1 2 1 55 PSD PSD 5 74% FLOR DE LIS

PSDB 45 0 0 1 1 1 45 PSDB PSC 5 81,80%

PSDC 27 1 1 1 2 1 27 PSDC PCD conservador pdc

PSL 17 1 1 1 2 2 17 PSL PSD 8 85,40%

PSOL 50 -1 -1 -1 -1 -1 50 PSOL PSE 11,70%

PST 0 1 1 1 2 1 0 PST PP

PSTU 16 -1 -1 -1 -1 -1 16 PSTU PSE

PT 13 -1 -1 -1 -1 -1 13 PT PSCE 2 13,10%

PTB 14 1 1 1 2 1 14 PTB PSD 1 78,70%

PTC 36 1 1 1 2 1 36 PTC PP 1

PTdoB 70 1 1 1 2 1 70 PTdoB PP

PTN 19 1 1 1 2 1 19 PTN PP

PV 43 -1 0 -1 -1 -1 43 PV PSC 18,70%

REDE 18 0 0 -1 -1 -1 18 REDE PSC

REPUBLICANOS 10 1 1 1 2 1 10 REPUBLICANOS PCDSolidariedade 77 1 1 1 2 1 77 Solidariedade PP 2 11,80%

Unidade Popular 80 -1 -1 -1 -1 -1 80 Unidade Popular PSEFonte: elaboraçao própria a partir dos dados do TSE (2018), CPDOC/FVG (2020), CODATO, ROEDER, SUHURT (2018), MIGUEL e MACHADO (KRAUSE, DANTAS, MIGUEL, 2010), DIAP (2020), site Congresso

em Foco (2019).

e dois municípios do estado. O teste escolhido foi o Mann-Whitney U, por razoes já

mencionadas. A variável de agrupamento foi a Ideologia, 1 para direita e -1 para a esquerda.

As variáveis teste foram: “Votação para Presidente 1º Turno”, “Votação para Presidente 2º

Turno”, “Votação para Governador 1º Turno”, “Votação para Senador”, “Votação para

Deputado Federal” e “Votação para Deputado Estadual”. Importante mencionar que em

relação à eleição para Governador do Segundo turno no estado, ambas as chapas

concorrentes foram classificadas com a mesma ideologia, sendo impossível testá-la com o

mesmo objetivo.

O teste mostrou que a Ideologia tem efeito sobre a orientação ideológica para Presidente 1º

(U = 1688,000; p < 0,000), Presidente 2º (U = 2775,000; p < 0,000), Governador 1º (U =

1664,000; p < 0,000), Senador (U = 3426,000; p < 0,026) Deputado Federal (U = 1260,000; p

< 0,000), e para Deputado Estadual (U = 1350,000; p < 0,000).

Orientação ideológica Proposta Ousada - OIPO:

Ao se avaliar a Ideologia adotando uma classificação ousada, com base numa reclassificação

em três blocos principais: mantendo os partidos de esquerda; sem centro; partidos tradicionais

de direita; e, num mesmo bloco os partidos Seculares de Direita, Confessionais de Direita e

Personalistas. Como na avaliação anterior e em virtude da não-normalidade da população

verificou-se que a Ideologia interferiu nas eleições de 2018 no Estado do Rio de Janeiro, ao

serem avaliadas as votações nos noventa e dois municípios do estado. O teste escolhido foi

o teste adotado foi o Kruskal-Wallys, por razoes já mencionadas. A variável de agrupamento

foi a Ideologia, -1 para a esquerda, 1 para a direita tradicional, e 2 para a direita radicalizada.

As variáveis teste foram: “Votação para Presidente 1º Turno”, “Votação para Presidente 2º

Turno”, “Votação para Governador 1º Turno”, “Votação para Senador”, “Votação para

Deputado Federal” e “Votação para Deputado Estadual”. Importante mencionar que em

relação à eleição para Governador do Segundo turno no estado, ambas as chapas

Teste estatística não-paramétrica (a)

Votação Pres 1o Votação Pres 2o Votação Gov 1oVotação

Senador

Votação

Deputado

Federal

Votação

Deputado

Estadual

Mann-Whitney U 1688 2775,5 1664 3426 1260 1350

Wilcoxon W 5966 7053,5 5942 7704 5538 5628

Z -7,043 -4,032 -7,109 -2,231 -8,227 -7,978

Sig. Assint. (2 caudas) 0 0 0 0,026 0 0

a. Variável de agrupamento: ideologia

concorrentes foram classificadas com a mesma ideologia, sendo impossível testá-la com o

mesmo objetivo.

O teste mostrou que a Ideologia tem efeito sobre a orientação ideológica para Presidente 1º

(χ2 (1) = 49,598; p < 0,000), Presidente 2º (χ2 (1) = 16,258; p < 0,000), Governador 1º (χ2 (2)

= 47,167; p < 0,000), Senador (χ2 (2) = 35,516; p < 0,026) Deputado Federal (χ2 (2) = 64,918;

p < 0,000), e para Deputado Estadual (χ2 (2) = 39,977; p < 0,000).

Orientação ideológica Proposta Conservador - OIPC:

Ao se avaliar a Ideologia adotando uma classificação conservadora, com base numa

reclassificação em quatros blocos principais: mantendo os partidos de esquerda; com centro;

partidos de direita; e, apenas um partido considerado como extrema-direita, o PSL. Como na

avaliação anterior e em virtude da não-normalidade da distribuição verificou-se que a

Ideologia interferiu nas eleições de 2018 no Estado do Rio de Janeiro, ao serem avaliadas as

votações nos noventa e dois municípios do estado. O teste escolhido foi o teste adotado foi o

Kruskal-Wallys, por razões já mencionadas. A variável de agrupamento foi a Ideologia, -1 para

a esquerda, 1 para a direita tradicional, e 2 para a direita radicalizada. As variáveis teste foram:

“Votação para Presidente 1º Turno”, “Votação para Presidente 2º Turno”, “Votação para

Governador 1º Turno”, “Votação para Senador”, “Votação para Deputado Federal” e “Votação

para Deputado Estadual”. Importante mencionar que em relação à eleição para Governador

do Segundo turno no estado, ambas as chapas concorrentes foram classificadas com a

mesma ideologia, sendo impossível testá-la com o mesmo objetivo.

O teste mostrou que a Ideologia tem efeito sobre a orientação ideológica para Presidente 1º

(χ2 (2) = 83,875; p < 0,000), Presidente 2º (χ2 (1) = 16,258; p < 0,000), Governador 1º (χ2 (1)

= 50,539; p < 0,000), Senador (χ2 (3) = 178,222; p < 0,026) Deputado Federal (χ2 (3) = 92,973;

p < 0,000), e para Deputado Estadual (χ2 (3) = 80,079; p < 0,000).

Teste estatística não-paramétrica (b)

Votação Pres 1o Votação Pres 2o Votação Gov 1oVotação

Senador

Votação

Deputado

Federal

Votação

Deputado

Estadual

Qui-quadrado 49,598 16,258 47,167 35,516 64,918 39,977

df 1 1 2 2 2 2

Significância Assintótica 0 0 0 0 0 0

b Variável de agrupamento: OIPO

Contudo foram realizadas comparações entre pares e diferenças foram localizadas na

votação para Senador:

Teste estatística não-paramétrica (b)

Votação Pres 1o Votação Pres 2o Votação Gov 1oVotação

Senador

Votação

Deputado

Federal

Votação

Deputado

Estadual

Qui-quadrado 83,875 16,258 50,539 178,222 92,973 80,079

df 2 1 1 3 3 3

Significância Assintótica 0 0 0 0 0 0

a Kruskal Wallis Test

Variável de agrupamento: OIPC

Diferenças foram localizadas na votação para Deputado Federal:

Diferenças foram localizadas na votação para Deputado Estadual:

Com as últimas observações apontadas pelos gráficos de diferenças entre pares pode-se observar que

ao contrário dos testes iniciais Man-Whitney e Kruskal-Wallis onde a associação estatística indicava

comportamento em que a Ideologia interferia na votação para Presidente, Governador, Senador e

Deputados, Federal e Estadual, os testes entre pares advertem que com relação à votação para

Senador avaliada pela última proposta, denominada de Orientação Ideológica Proposta Conservadora

– OIPC, a ideologia parece não interferir no comportamento da votação Esquerda, Direita e Extrema-

Direita. Mas interfere quando pensada juntamente a Esquerda, Centro, Direita. Com relação à votação

para Deputado Federal e na mesma proposta ideológica, OIPC, a ideologia parece não interferir entre

o par Esquerda e Extrema-direita, mas mantem influência sobre os pares Esquerda-Centro, Direita-

Centro, juntamente com a própria Extrema-direita. Por último a votação para Deputado Estadual na

mesma proposta ideológica, OIPC, não existe interferência da ideologia entre os pares, Esquerda-

centro, Esquerda e Extrema-direita e Extrema-direita e Centro. Pode-se depreender que talvez o

número de fatores interferiu na associação nos outros testes. Quanto menor o número de fatores

maior a possibilidade de verificar associação da ideologia e a distribuição em determinado sentido

ideológico? A realização de outros testes Post-Hoc se faz necessária, bem como a escolha de outra

opção metodológica, diferentes modalidades de Regressão Estatística.

Conclusão:

Quem oferece excelente aproximação com os recentes resultados das eleições norte-

americanas, das investidas da nova extrema-direita europeia e das eleições brasileiras é

Rabinowitz e Macdonald (1989). Através da explicação do esvaziamento do centro e da

polaridade através de imagens mais radicalizadas entre os espectros ideológicos tradicionais

afugenta o comportamento do eleitorado médio. Parte considerável do eleitor de Bolsonaro

está localizado nas regiões metropolitanas. Se existem o efeito e o paroquialismo

metropolitano, o primeiro distingue o eleitorado urbano do eleitorado do interior e o segundo

encravado nas comunidades e periferias verifica onde se ausentam a infraestrutura e

equipamentos urbanos. Segundo análises, outra importante parcela do eleitorado do Sr. Jair

é formada por eleitores brancos, homens, com razoável sucesso socioeconômico, mas

identificados com a nova direita mundial. Portanto, algumas razoes podem indicar confluência

entre esses dois tipos de eleitores principais. A possibilidade de mobilidade social, a

esperança proporcionada pela teologia da prosperidade e o elo prático-simbólico de ligação

desses valores sociais com a proximidade imediata com a liderança religiosa. Isto, por si só,

seria capaz de provocar votações súbitas em candidatos considerados outsiders, tal como o

caso de Witzel e, mesmo, Bolsonaro. Talvez seja a teologia da prosperidade e a figura do

pastor a concretização da mudança, ou seja, o algo capaz de alterar o eixo responsável pelo

de equilíbrio entre a esquerda e a direita tradicionais. A legitimidade do líder carismático, junto

ao eleitorado, quanto ao não reconhecimento da justiça como agente de manutenção da

ordem, reafirma-se na desigualdade secular de um país católico. O especialista político para

o voto do crente tem agora no pastor a encarnação.

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