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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PSICOLOGIA EM ESTUDANTES DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA Angela Link Saccol 1 Mônica Flügel Hill 1 Helder Jaime Kus 1 Edival Sebastião Teixeira 2 RESUMO: O artigo relata estudo que teve por objetivo identificar e analisar representações de psicologia presentes em um grupo de estudantes de graduação em psicologia de uma instituição de ensino privada localizada na região sudoeste do Paraná, bem como suas áreas preferenciais de atuação após a conclusão do curso. Os dados foram coletados mediante a utilização de um questionário composto por cinco questões abertas. Para a análise dos dados foram utilizados os procedimentos da análise de conteúdo. Os resultados sugerem que a maior parte dos entrevistados concebe a psicologia como sendo o estudo do comportamento e das emoções do ser humano. Como áreas prioritárias de atuação, os participantes da pesquisa apontaram a psicologia hospitalar, a psicologia clínica e a psicologia jurídica. As áreas de psicologia escolar e psicologia organizacional foram apontadas como as de menor interesse. Palavras-Chave: representações sociais, formação em psicologia, graduação. ABSTRACT: This paper reports a study that aimed to identify and analyze representations of psychology in a group of graduate students in Psychology located at the southwest region of Paraná as well as its preferred fields of work after finishing its studies. Data were collected using a question form with five questions. To analyze the data it was used the procedures of content analysis. The results suggest that the majority of the students interviewed conceives the psychology as the study of 1 Alunos do Mestrado em Desenvolvimento Regional da UTFPR, Campus Pato Branco. 2 Professor do Mestrado em Desenvolvimento Regional da UTFPR, Campus Pato Branco.

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REPRESENTAES SOCIAIS DE PSICOLOGIA DE ESTUDANTES DE GRADUAO EM PSICOLOGIA DE UMA INSTITUIO DE ENSINO PRIVADA

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REPRESENTAES SOCIAIS DE PSICOLOGIA EM ESTUDANTES DE GRADUAO EM PSICOLOGIAAngela Link Saccol

Mnica Flgel Hill1Helder Jaime Kus 1Edival Sebastio Teixeira

RESUMO: O artigo relata estudo que teve por objetivo identificar e analisar representaes de psicologia presentes em um grupo de estudantes de graduao em psicologia de uma instituio de ensino privada localizada na regio sudoeste do Paran, bem como suas reas preferenciais de atuao aps a concluso do curso. Os dados foram coletados mediante a utilizao de um questionrio composto por cinco questes abertas. Para a anlise dos dados foram utilizados os procedimentos da anlise de contedo. Os resultados sugerem que a maior parte dos entrevistados concebe a psicologia como sendo o estudo do comportamento e das emoes do ser humano. Como reas prioritrias de atuao, os participantes da pesquisa apontaram a psicologia hospitalar, a psicologia clnica e a psicologia jurdica. As reas de psicologia escolar e psicologia organizacional foram apontadas como as de menor interesse.

Palavras-Chave: representaes sociais, formao em psicologia, graduao.ABSTRACT: This paper reports a study that aimed to identify and analyze representations of psychology in a group of graduate students in Psychology located at the southwest region of Paran as well as its preferred fields of work after finishing its studies. Data were collected using a question form with five questions. To analyze the data it was used the procedures of content analysis. The results suggest that the majority of the students interviewed conceives the psychology as the study of the behavior and emotions of the human being. As the main fields of work, the interviewed mentioned the hospital psychology, clinical psychology and juridical psychology. The fields of school psychology and organizational psychology had the minor interest. Key words: social representations, psychology education, undergraduation.A teoria das representaes sociais surgiu na Frana nos anos de 1960 a partir das pesquisas de Serge Moscovici sobre as formas pelas quais a psicanlise penetrou no pensamento popular francs (MOSCOVICI, 2003). Ao contrrio do conceito de representaes coletivas de Durkheim, Moscovici props que as representaes sociais so dinmicas e sujeitas variao e diversidade que caracterizam a sociedade moderna. A teoria se concentra na idia de que os sujeitos buscam explicaes e teorizam sobre sobre uma srie infinita de assuntos e procura explicar como esse fenmeno humano se manifesta a partir de uma perspectiva coletiva, sem contudo, subtrair ao sujeito sua singularidade.

De acordo com Mazzotti, (2002, p. 17), Moscovici entende que sujeito e objeto no so funcionalmente distintos, pois ambos formam um conjunto indissocivel. Isso equivale a dizer que determinado objeto no existe por si mesmo, mas apenas em relao a um sujeito (indivduo ou grupo); a relao sujeito-objeto que determina o prprio objeto. Desta forma, quando um sujeito cria uma representao de determiando objeto ele, com efeito, o est reconstruindo em seu sistema cognitivo, visando, com isso, adequ-lo ao seus sistemas de valores. (MAZZOTTI, 2002).

Denise Jodelet, uma das principais estudiosas e divulgadora da teoria, definiu sinteticamente as representaes sociais como uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, tendo uma viso prtica e concorrendo para a construo de uma realidade comum a um conjunto social (JODELET, 1998, p. 36).J Reigota (2007, p. 70) trabalha com a definio de representaes sociais como sendo um conjunto de princpios construdos interativamente e compartilhados por diferentes grupos que, atravs delas, compreendem e transformam sua realidade. Franco (2004), por sua vez, refere-se s representaes sociais como elaboraes mentais construdas por um grupo social, a partir da dinmica que se estabelece entre a atividade psquica do sujeito e o objeto do conhecimento. Essas representaes, para a autora, so mediadas pela linguagem e esto ancoradas no contexto da situao real e concreta dos indivduos que as emitem. Assim, considerando os autores mencionados, entendemos que parece no haver dicotomia entre objeto e sujeito do conhecimento, o que nos leva a concluir que o objeto pensado e falado , portanto, fruto da atividade humana. E isso nos d a possibilidade de, segundo Franco (2004), inferir concepes de mundo e deduzir orientaes para a ao a partir de manifestaes da linguagem.

Moscovici (2003), entende as representaes como saberes do senso comum construdos nas relaes entre as pessoas. No dia-a-dia, as pessoas analisam, conversam e pensam sobre os mais diferentes temas e elaboram representaes, que passam a influenciar suas relaes e comportamentos sociaisAo serem compartilhadas, as representaes sociais se constituem em uma espcie de teoria leiga sobre idias e objetos, tornando o que sentido como incomum em algo comum e familiar, procedimento este que determinado sujeito faz na tentativa de manter o seu mundo estvel e seguro. Para Guareschi (2003), a questo da no-familiaridade torna-se mais compreensvel quando Moscovici mostra que a sociedade um sistema de pensamento, onde existem dois universos: o universo reificado e o universo consensual. No universo reificado circulam as cincias e o pensamento erudito, que procuram trabalhar com o mximo possvel de objetividade. J nos universos consensuais est o senso comum, a comunicao, as prticas de interao cotidianas, que colaboram para a existncia de representaes sociais e que tiveram origem no universo reificado, mas foram reapropriadas pelos demais integrantes da sociedade de uma forma particular, atravs de uma lgica diversa daquela em que se produzem os conhecimentos cientficos. Portanto, representar algo no simplesmente repeti-lo, mas, sim, reconstitu-lo, modificando-lhe em certo sentido.

Sendo assim, nem todo conhecimento pode ser considerado representao social, mas somente aquele que faz parte da vida cotidiana das pessoas, que elaborado socialmente e que trabalha no sentido de interpretar, pensar e agir sobre a realidade. Trata-se, portanto, de um conhecimento prtico que se ope ao pensamento cientfico, embora dele seja derivado. Voltando a Moscovici, as representaes sociais se estabelecem frente a dois processos: a objetivao e a ancoragem. Eles servem para ajudar a nos familiarizar com o novo, primeiro inserindo-o no nosso quadro de referncia, onde pode ser comparado e interpretado, e depois reproduzindo-o e colocando-o sob controle (MOSCOVICI, 2003).Na objetivao, as idias abstratas transformam-se em imagens concretas, atravs do reagrupamento de idias e imagens sobre o mesmo assunto. J a ancoragem se refere assimilao das imagens criadas pela objetivao, sendo que estas novas imagens se juntam s anteriores, nascendo assim novos conceitos e novas representaes sociais. (MOSCOVICI, 2003).Aps os estudos iniciais de Moscovici, vrios pesquisadores desenvolveram importantes contribuies teoria e, atualmente, a mesma vem sendo muito utilizada nas reas de psicologia, educao, sade coletiva e meio ambiente, dentre outras, para explicar comportamentos humanos em diversos contextos.

O estudo das representaes sociais investiga, ento, como se formam e como funcionam os sistemas de referncia que utilizamos para classificar assuntos, pessoas e grupos e para interpretar os acontecimentos da realidade cotidiana. Por isso, tais investigaes aportam elementos essenciais para a compreenso de comportamentos e prticas sociais.

Justamente visando compreender o sistema de referncias que estudantes do ltimo perodo da graduao em psicologia de uma isntituio privada localizada na regio sudoeste do Paran construram em seus imaginrios com relao ao prrpio significado de psicologia, que foi desenvolvido o estudo do qual ora se aprensentam os resultados.

A formao do psiclogo

A formao do psiclogo um tema impregnado de complexidades e diversidades de saberes, produtora, de um lado, de uma formao rica e variada e, de outro, apresentando certa tendncia a uma segmentao e fragmentao nos cursos de formao. Um exemplo desta compartimentalizao a separao entre a psicologia clnica, a qual objetiva a interveno individual, e a psicologia social, que atende os grupos. A psicologia relativamente nova no Brasil, tanto como profisso como rea de ensino e pesquisa. Na dcada de 1930 surgem os primeiros cursos e, apartir de 1940, aparecem movimentos de organizao de profissionais, instituies e associaes de pesquisas e ncleos de estudos. Porm, enquanto cincia ela existe h sculos. Boarini (2007), complementando esta ideia, relata que foram os principalmente os mdicos, que popularizaram e estimularam a cincia psicolgica no Brasil e que, das diversas correntes introduzidas aqui, no incio do sculo XX, a mais privilegiada foi a vertente psicomtrica.

Isso ocorreu porque, devido as necessidades da poca e o nacionalismo exacerbado, a avaliao psicolgica era reconhecida como uma aliada no trabalho de classificar a populao, de acordo com suas aptides e habilidades cognitivas, e desta forma contribuir na transformao do Brasil em uma grande Nao (BOARINI, 2007, p. 443).

Mesmo com sua histria recente, a psicologia marcada por mudanas de paradigmas que mostram a tentativa de romper com os padres tradicionais da teoria e da prtica psicolgica. Em nosso pas, desde seu incio, a psicologia esteve ligada educao, cujo foco de atuao era o atendimento as dificuldades de aprendizagem dos alunos, como salienta Carvalho e Marinho-Arajo (2009, p. 66)

O paradigma positivista, sobre o qual a Psicologia cientfica nasceu h pouco mais de um sculo, definiu um padro de cincia psicolgica que fora adotado pelo Brasil e transposto para a prtica educativa em forma de um modelo clnico e acrtico de interveno na escola.Segundo Calais e Pacheco (2001, p. 11/2), com a promulgao da Lei 4119, em 1962, inicia-se o perodo profissional da Psicologia pois, por esse instrumento legal, foi regulamentada a profisso de Psiclogo ao mesmo tempo em que se definiram as disposies legais sobre a formao em Psicologia.

A partir das dcadas de 1970 e 1980, houve inmeras crticas e um certo rompimento a essa psicologia, surgindo, ento, uma psicologia para atender exigncia de compromisso social.

Segundo Netto (apud NORONHA, 2003, p. 169), a formao do psiclogo atende alguns objetivos, como a) atender s necessidades da preparao do profissional para a atuao; b) proporcionar ao aluno um conjunto amplo e diversificado de conhecimentos, habilidades, atitudes e procedimentos, de modo que caracterize a Psicologia como cincia e profisso; c) contribuir para o progresso cientfico; e d) estimular o florescimento de um saber e de um fazer originais brasileiros.

Assim, cabe a universidade a tarefa de avaliar e reestruturar os cursos com o intuito de formar profissionais qualificados e comprometidos com as transformaes que ocorrem na sociedade, j que a instituio a responsvel por esta formao. Em 1984, por exemplo, foi elaborado o Programa de Estudos e Debates sobre a Formao e Atuao do psiclogo, que visava uma parceria entre os conselhos regionais e as universidades, objetivando a busca por uma proposta mais adequada para os cursos de Psicologia do Brasil (NORONHA, 2003). A formao do psiclogo e o ensino de psicologia tm despertado interesse de pesquisadores nacionais e internacionais, pois h preocupao com questes relativas formao e atuao destes profissionais. Para Witter (apud CALAIS e PACHECO, 2001), estes estudos vm refletir temas referentes melhoria da qualidade do ensino nos cursos, resultando em prticas profissionais crticas, atualizadas e que atenda demanda da sociedade, o papel e a atuao que estes profissionais desempenham na sociedade.

Desse modo, Duran (apud CALAIS e PACHECO, 2001, p.12) refora quehoje necessrio que a formao do psiclogo seja geradora de um perfil que lhe possibilite ver o fenmeno psicolgico na sua interdependncia com o contexto scio-cultural, atuar em equipes multidisciplinares, estar engajado nos movimentos de transformao social, gerando conhecimento e tecnologias apropriadas realidade em que atua. Nos dias de hoje, a formao do psiclogo necessita de uma ampla reviso em suas caractersticas bsicas, de modo a faz-la responder melhor s demandas mais atuais da sociedade brasileira. Este exerccio parece ser necessrio para qualquer cincia, pois a qualidade da formao profissional deve ser sempre questionada, no sentido de buscar a qualidade e responsabilidade pelas aes realizadas.

Ressalta-se, ainda, que o investimento destinado formao acadmica de grande importncia para uma formao de qualidade, j que a problematizao e construo do conhecimento de maneira interdisciplinar essencial. Este olhar crtico sobre a formao do psiclogo produz novos saberes e novas prxis.

Mtodo Participaram da pesquisa 21 sujeitos com faixa etria variando entre 20 e 52 anos, sendo que apenas 2 sujeitos tm idade igual ou superior a 35 anos. A mdia de idade foi de 24 anos. Quanto ao sexo, apenas 3 sujeitos eram do sexo masculino. Para a coleta de dados foi utilizado um questionrio composto por 5 questes abertas: 1) O que lhe vem mente quando pensa em psicologia?2) Como voc percebe a insero do psiclogo no mercado de trabalho? 3) Na sua opinio, quais os campos da sociedade em que o psiclogo deveria se inserir e ainda no o fez? 4) Em que rea da psicologia voc pretende atuar aps a sua formao? 5) Qual a rea da psicologia de menor interesse para voc? Os dados foram organizados e analisados atravs dos procedimentos da anlise de contedo, a qual pode ser definida como uma tcnica de investigao que, atravs de uma descrio objetiva, sistemtica e quantitativa do contedo manifesto das comunicaes, tem por finalidade a interpretao destas mesmas comunicaes (BARDIN, 1977, p. 360).Desta forma, para a identificao do contedo das representaes sociais de psicologia, as opinies e comentrios foram submetidos anlise temtica baseada em um sistema de categorias. Com o propsito de anlise, foram computadas as freqncias com que os vrios contedos temticos apareceram e, posteriormente, calculadas as percentagens de suas incidncias.Mediante o agrupamento e classificao das respostas obtidas, foram identificadas 4 categorias de anlise: 1) definio de psicologia; 2) viso do mercado de trabalho; 3) reas da psicologia de maior interesse de atuao; e 4) reas de menor interesse.

Resultados e DiscussoAlguns autores sugerem diversas tipologias de carreiras. Dentre eles, Ferretti (1976) prope a existncia de profisses masculinas, profisses femininas e profisses neutras. Em seu estudo, o autor cita a Psicologia como a quarta carreira com maior presena feminina (87,1%). Desta forma, por serem definidas culturalmente como mais apropriadas mulher, determinadas carreiras tm tido uma predominncia de mulheres entre os seus alunos (BARROSO & MELLO, 1975), sendo esse o caso da psicologia, o qual pode ser verificado tambm na proporo de homens e mulheres sujeitos do nosso estudo.

No que diz respeito s categorias definidas nesta pesquisa, a primeira definio de psicologia mostrou que grande parte dos alunos (62%) tem idias semelhantes, considerando a psicologia como sendo o estudo do comportamento e das emoes do ser humano em diferentes contextos sociais e culturais, na busca de entend-lo na sua totalidade.

Vrios sujeitos relataram tambm que o psiclogo aquele que orienta e auxilia na busca de novos modos de vida, que ajuda a fortalecer o indivduo para enfrentar sozinho seus maiores e mais ntimos problemas consigo mesmo e com o outro, melhorando sua qualidade de vida e bem-estar. A expresso diminuio do sofrimento psquico foi bastante citada pelos alunos como uma das tarefas do psiclogo.Um estudo intitulado: A Representao Social do Trabalho do Psiclogo, de Praa & Novaes (2004), apresenta resultados semelhantes aos que obtivemos na temtica dos objetivos profissionais dos psiclogos, dentre os quais se destacam itens como: ajudar pessoas, melhorar a qualidade de vida e promover a sade e o bem-estar. Na opinio de Praa & Novaes (2004), as manifestaes dos estudantes deixam transparecer uma idia assistencialista, oriunda de uma viso individualizante do outro, em detrimento de uma perspectiva de conscientizao, de cidadania, voltada para a coletividade, para trocas intersubjetivas.

Essa idia de interveno profissional voltada para o ajustamento do homem ao meio chama a ateno. Moura (1999) comenta sobre isso, alertando para a ausncia da dimenso social na concepo de psicologia presente em muitos psiclogos.

Bock (1997) vai mais alm e acredita que o discurso de ajudar o outro a adaptar-se, a buscar a felicidade e o equilbrio evidenciam uma noo onipotente da profisso. Segundo a autora, o psiclogo sai da universidade com a idia de que tem nas mos a possibilidade de fazer do outro uma pessoa feliz, coloc-la em movimento, se reestruturar, pois portador de um conhecimento e dotado de certa intuio.No entanto, ao mesmo tempo h uma contraposio com relao a esta percepo. O discurso do psiclogo que ele no muda o outro, mas, sim, contribui para que esse outro se modifique. E a a onipotncia se veste de certa humildade, segundo a mesma autora.Esmiuando a questo da vontade de ajudar o outro, Holland (1997) relata que a escolha de uma determinada profisso pode expressar a personalidade dos indivduos e que os membros de uma categoria profissional possuem histrias de vida e personalidades semelhantes. Para ele, as pessoas podem ser classificadas de acordo com seis orientaes de personalidade: realista, investigativo, artstico, social, empreendedor e convencional. Os psiclogos e demais profisses de apoio esto enquadrados no tipo social, que se interessam pelos vnculos humanos e possuem sensibilidade e responsabilidade na busca de auxiliar, orientar, tratar e resolver as dificuldades dos outros.Quanto segunda categoria viso do mercado de trabalho - dos 21 alunos pesquisados, 14 (66%) deram basicamente a mesma resposta, ou seja, que a psicologia vem sendo reconhecida e vista pela populao como importante em diversos nveis e aspectos e que est inserida com sucesso em determinados campos de trabalho. Porm, alegam que essa carreira ainda enfrenta alguns preconceitos da sociedade e resistncias de outros profissionais.Na rea clnica, por exemplo, acreditam que a populao tem procurado mais o psiclogo para ajuda e acompanhamento, mas relatam que a profisso ainda vista por muitos com sendo tipicamente para tratamento de loucos.Com efeito, a imagem do psiclogo junto ao pblico leigo ainda parece restrita ao modelo clnico, conforme cita Weber (1991). O psiclogo visto como "algum que sabe, e a partir deste saber ensina ou orienta os outros a como resolver seus problemas" (GOMES et al. 1996, p. 126).

Na rea hospitalar, foi mencionado que o psiclogo parece estar inserido neste campo de trabalho, mas que h falta de integrao com os demais profissionais. Nesse sentido, foi abordada a importncia do psiclogo tambm nos centros cirrgicos, principalmente na hora da preparao do paciente para a cirurgia e ps-cirurgia.Outro campo de trabalho citado pelos sujeitos foi o curso de medicina, no sentido de apoiar os futuros mdicos num melhor atendimento aos pacientes e no fornecimento de diagnsticos, ou seja, prepar-los melhor para lidar com o emocional das pessoas.Destacou-se, ainda, a importncia do psiclogo em instituies como Instituto Mdico Legal, no sentido de dar suporte em situaes de violncia, exames de corpo de delito, apoio aos familiares das vtimas que vo a bito, identificao do corpo, e apoio tambm aos funcionrios.No campo da publicidade e propaganda, um sujeito mencionou que a contribuio do psiclogo serviria para o estabelecimento de perfis de comportamento, na criao de produtos e realizao de comerciais.Foi mencionada, ainda, a falta de psiclogos para ajudar em casos de desastres naturais; isto , uma psicologia das emergncias. Apenas um sujeito comentou sobre a importncia de se trabalhar mais com a preveno, pois, para ele, se d muita nfase e prioridade ao tratamento.A falta de formao continuada foi citada por um aluno como sendo um empecilho na insero do psiclogo no mercado de trabalho. Mencionou-se, tambm, que o psiclogo poderia se inserir ainda mais na rea social, junto s comunidades. Foi apontada como importante tambm a incluso da psicologia no currculo do ensino fundamental e mdio, assim como a cadeira de filosofia.A viso geral dos sujeitos quanto insero profissional a de que o psiclogo precisa usar da sua criatividade para abrir novos caminhos e se inserir no mercado de trabalho, atendendo demandas atuais e descobrindo novas reas de atuao.Os dados relativos terceira categoria - reas da psicologia de maior interesse de atuao - mostraram que a psicologia hospitalar e a psicologia clnica, respectivamente, foram as reas de maior preferncia entre os estudantes. A hospitalar obteve sete citaes (33,3%), sendo cinco delas como primeira escolha.A escolha da rea hospitalar em primeiro lugar parece indicar que o atendimento clnico em consultrio, esteretipo de atuao psiclogo e idealizado tanto pelos alunos que entram nos cursos de psicologia quanto os que saem em busca de insero no mercado de trabalho, j esteja cedendo espao em favor de outros campos de atuao.

Nesse sentido, observamos que a psicologia jurdica tambm obteve destaque com quatro citaes como rea de interesse, sendo trs delas marcadas como primeira opo, para as quais alguns sujeitos ressaltaram a crescente demanda por servios de psiclogos na rea.O trabalho de psiclogos em organizaes do Poder Judicirio relativamente recente. Razo esta que indica o mesmo necessitar de estudos para o aprimoramento dos servios prestados populao. Segundo Leal (2008), o psiclogo jurdico deve estar apto para atuar no mbito da Justia considerando a perspectiva psicolgica dos fatos jurdicos; colaborar no planejamento e execuo de polticas de cidadania, direitos humanos e preveno da violncia; fornecer subsdios ao processo judicial; alm de contribuir para a formulao, reviso e interpretao das leis.Caires (2003) relata que grandes tericos do direito reconhecem a importncia do psiclogo nesse campo, envolvendo o indivduo, a sociedade e a justia. Contudo, a autora destaca a necessidade de uma maior qualificao desses profissionais para atuarem nessa rea profissional, o que vem ao encontro do pensamento dos alunos pesquisados. Outras reas destacadas pelos estudantes como de pretenso de atuao foram a sade pblica e a psicologia social/comunitria, porm com menor intensidade.No que diz respeito quarta categoria - reas de menor interesse - a mais citada foi a psicologia escolar e educacional, com 7 citaes, sendo as justificativas baseadas principalmente na falta de habilidade/afinidade com crianas e adolescentes. A segunda rea de menor interesse dos alunos foi a organizacional, sendo que a nica justificativa apresentada mencionou a falta de habilidade pessoal. As psicologias social, ambiental e jurdica foram mencionadas com o sendo as de menor interesse por apenas um sujeito. Sobre esta ltima, um sujeito relatou a falta de conhecimento suficiente para atuar nesta rea.A rea hospitalar tambm apareceu como preterida por 23% dos estudantes. As justificativas demonstraram dificuldades em lidar com o sofrimento alheio, com a morte e a relao com os familiares dos pacientes que vm a bito, principalmente quanto oncologia. Tambm houve um relato sobre o ambiente hospitalar ser bastante doloroso.

Consideraes FinaisA anlise dos resultados sugere que os participantes possuem uma representao de psicologia como uma rea de atuao relacionada ao bem-estar interior e orientao das emoes e comportamentos, o que, por sua vez, promove a sade e, conseqentemente, a melhoria da qualidade de vida. Quanto atuao profissional do psiclogo no mercado de trabalho, esta destacada como importante e reconhecida pela populao. Contudo, na viso dos sujeitos, persistem na populao alguns preconceitos sobre a profisso e os profissionais de Psicologia.

Dentre as reas pretendidas, destacaram-se a hospitalar, clnica e jurdica e, para as preteridas, a rea escolar, organizacional e tambm a hospitalar. A rea hospitalar apresentou uma diviso importante na preferncia dos alunos.

Nossos dados tambm sugerem que estes acadmicos necessitam de maiores esclarecimentos acerca das possibilidades de atuao, pois muitos sabem o que no querem fazer, mas no sabem explicar o motivo ou, ainda, tm uma percepo incorreta, como o caso da rea escolar, cujas justificativas giram em torno da falta de habilidade/afinidade com crianas e adolescentes.Referncias

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Alunos do Mestrado em Desenvolvimento Regional da UTFPR, Campus Pato Branco.

Professor do Mestrado em Desenvolvimento Regional da UTFPR, Campus Pato Branco.