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Desde a introdução dos contraceptivos orais combinados (COCs), vários estudos

epidemiológicos têm relacionado o uso dos COCs a um risco elevado para tromboembolismo

venoso (TV). Apesar do risco relativo ser superior em usuárias de COCs do que em não

usuárias, o risco absoluto ainda é pequeno. Em mulheres com menos de 30 anos de idade, a

incidência de TV é menor que cinco casos / 100.000 mulheres ao ano e, nas usuárias de

COCs, a incidência sobe para 15 a 30 casos / 100.000 mulheres ao ano, inferior aos impactos

do ciclo gravídico-puerperal que tem incidência estimada de TV de 50 a 75 casos / 100.000

mulheres (LOWE, 2004).

Esse risco aumentado para TV foi primariamente associado ao componente

estrogênico dos COCs de forma dose-dependente, por isso, as doses de etinilestradiol

reduziram-se com o passar dos anos de 150 mcg para 15 mcg. Paralelamente, foram

associados diferentes progestagênios com menor atividade androgênica, objetivando diminuir

os impactos metabólicos dos mesmos. Dessa forma, surgiram novos COCs com os

progestagênios de terceira geração (desogestrel e gestodeno), no intuito de reduzir efeitos

sistêmicos adversos.

Porém, em 1995, estudos mostraram que COCs contendo progestagênios de terceira

geração associavam-se a duas vezes mais risco de trombose que os COCs que continham

progestagênios de segunda geração (levonorgestrel, noretisterona) (WHO, 1995a; WHO,

1995b). Esse resultado estimulou pesquisas e debates que tentavam explicar se o risco elevado

para TV era devido à ação dos progestagênios envolvidos, às características das usuárias ou

aos vieses apontados nesses estudos. Uma metanálise realizada pelos autores Kemmeren,

Algra e Grobbee (2001) avaliou os COCs contendo progestagênios de terceira geração e risco

para TV, confirmando que esses progestagênios associavam-se a um risco para TV 1,7 vez

maior que o risco dos progestagênios de segunda geração. Ainda, verificaram que os vieses

sugeridos não eram suficientes para serem responsabilizados pelo resultado adverso

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encontrado, apesar de fatores de confusão não poderem ser totalmente excluídos de estudos

observacionais. Portanto, no mecanismo de ação biológica dos progestagênios de terceira

geração pode estar a resposta para a maior chance de fenômenos tromboembólicos.

Dessa forma, o tipo de progestagênio associado ao estrogênio, e não só a dose deste

último, tornou-se motivo de estudos sobre o papel dos progestagênios na hemostasia e na

determinação da trombose.

1.1 Hemostasia e trombose

O adequado funcionamento do sistema circulatório depende de uma série de

mecanismos que regulam a manutenção do sangue no estado fluido dentro do compartimento

vascular, permitindo a perfusão adequada a todos territórios do organismo. Na vigência de

qualquer lesão vascular, os mecanismos hemostáticos são ativados, visando à manutenção da

integridade do endotélio e evitando a perda excessiva de sangue. Os componentes do sistema

hemostático incluem as plaquetas, o fator de von Willebrand, os vasos sangüíneos, os fatores

de coagulação, os anticoagulantes naturais e o sistema fibrinolítico.

Para uma compreensão mais adequada dos resultados deste estudo, torna-se necessária

uma descrição resumida dos princípios básicos envolvidos na fisiologia do sistema

hemostático.

1.1.1 Vasos sangüíneos, fator de von Willebrand e plaquetas

Os vasos sangüíneos desempenham um papel crítico no controle da hemostasia e

inflamação, principalmente devido ao íntimo contato com o fluxo sangüíneo. As células

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endoteliais são capazes de elaborar e expressar moléculas tromborreguladoras que facilitam

ou inibem a formação do trombo, a depender do estímulo recebido por essas células. Essas

substâncias tromborreguladoras agem desde os estágios iniciais da formação do trombo,

interferindo na adesão plaquetária e no tônus vascular, como também, em estágios tardios,

regulando a geração de trombina e neutralizando-a ou participando da lise do trombo, quando

esse foi formado (HAJJAR et al., 2001). Em condições fisiológicas, o endotélio secreta essas

moléculas no intuito de prevenir ou reverter o acúmulo de plaquetas, a ativação do colágeno e

a formação de fibrina, mantendo, dessa forma, o sangue em seu estado fluido (CINES et al.,

1998).

No entanto, esse estado fisiológico de defesa antitrombótica da superfície endotelial

pode ser alterado por lesões, aumento da turbulência do fluxo sangüíneo e inflamação (ROSS,

1999). Dessa forma, as células endoteliais passam a apresentar características pró-trombóticas

e antifibrinolíticas, aumentando a expressão de fator tecidual, de moléculas de adesão ao

endotélio e acúmulo de monócitos / macrófagos na parede vascular (GARLANDA; DEJANA,

1999; ROSS, 1999).

Além da perda da continuidade da superfície endotelial causar modificações nas

propriedades das células endoteliais, ocorrem também os fenômenos de adesão, ativação e

agregação plaquetárias, ilustrados na figura 1.

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Adesão

Endotélio

Subendotélio

Plaquetas

Ativação

Fibrinogênio Serotonina ADP

Agregação

Figura 1 – Mecanismos de adesão, ativação e agregação plaquetárias

A adesão plaquetária inicia-se com a exposição de glicoproteínas do subendotélio

como o colágeno e o fator de von Willebrand. Além disso, outras glicoproteínas e o próprio

fator de von Willebrand presentes no plasma depositam-se na área lesada. Assim, as plaquetas

aderem-se ao subendotélio, através de receptores de glicoproteínas (GP) que são derivados de

diferentes famílias de receptores (como as integrinas, glicoproteínas ricas em leucina,

selectinas e tetraspaninas). Nessa fase, ressalta-se o papel do receptor GPIb que se liga ao

fator de von Willebrand e do receptor GPIa/IIa que se liga ao colágeno. Após a adesão, as

plaquetas sofrem um processo de ativação que envolve uma série de receptores para

agonistas, como o ADP, adrenalina, trombina, colágeno, tromboxano A2 e fator ativador

plaquetário (PAF), além de vias de transdução de sinais que incluem o metabolismo do

fosfatidilinositol, a fosforilação de proteínas, a liberação de ácido araquidônico e sua

conversão a tromboxano A2. Esses mecanismos causam aumento do cálcio intracelular que

também contribui para efetivação de alterações plaquetárias vistas nessa fase de ativação. O

primeiro reflexo do aumento de cálcio é a alteração da forma plaquetária (de discóide para

esferóide com capacidade para emitir pseudópodes), através de mudanças complexas na

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membrana e citoesqueleto plaquetários (Figura 2). Além disso, nota-se a mudança

conformacional dos receptores GP IIb/IIIa, tornando-os aptos a ligarem-se a proteínas

multivalentes como o fibrinogênio e o fator de von Willebrand. Ocorre, também, a secreção

plaquetária do conteúdo dos grânulos α (fibrinogênio, fator de von Willebrand, fator V da

coagulação, fibronectina, PAF e outras substâncias), dos grânulos densos (serotonina, ADP,

catecolaminas, ATP, cálcio e enzimas lisossômicas) e do conteúdo dos lisossomos. Essas

substâncias ativam outras plaquetas e aumentam a interação entre elas, levando à agregação

plaquetária, que culminará na formação do trombo.

Cálcio

Inativa

Ativa

Fosfoinositol

Figura 2 – Esquema ilustrativo da mudança de forma plaquetária (Adaptada de Hartwig et al., 1999)

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Após adesão e agregação plaquetárias, essas ligam-se a vesículas circulantes no

plasma contendo fator tecidual, liberam o fator V (armazenado nos grânulos α) e

micropartículas pró-coagulantes, contribuindo não só para a formação do trombo como

também para amplificação do processo de coagulação.

1.1.2 Fatores de coagulação, anticoagulantes naturais e sistema fibrinolítico

O sistema de coagulação envolve a participação de diversas proteínas plasmáticas

denominadas de fatores de coagulação, cuja ativação se faz de acordo com um modelo

didaticamente apresentado como “cascata”, que culmina com a formação de uma “rolha”

hemostática, constituída de plaquetas e fibrina, no local da lesão vascular (Figura 3). Em

condições fisiológicas, não há formação e deposição de fibrina no intravascular em

decorrência das propriedades anticoagulantes do endotélio, do estado inativo das proteínas

plasmáticas envolvidas na circulação que circulam como pró-enzimas ou co-fatores e da

presença dos inibidores fisiológicos da coagulação.

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Ativação plaquetária

Fibrina

Fator tissular

Fator tissular/ VII a

Protrombina Trombina

Fibrinogênio

XI

IX

Fator VII

IX

Lesão vascular

X X Xa; Va

XIII XIIIa

XIa

IXa ; VIIIa

Figura 3 – Modelo esquemático da “cascata da coagulação”

Uma vez ativados, os mecanismos de coagulação devem se manter restritos ao sítio da

lesão endotelial, de forma a prevenir a coagulação disseminada e a doença tromboembólica. A

fim de regularem esses mecanismos, existem os anticoagulantes naturais, cujos principais

representantes são a antitrombina, proteínas C e S (Figura 4). Esses agem inibindo a ação de

proteínas da coagulação, de forma que, em condições normais, os mecanismos

anticoagulantes prevalecem sobre os fatores pró-coagulantes. Participando também como

mecanismo regulador, o sistema fibrinolítico irá atuar sobre a fibrina formada no local da

lesão vascular, degradando-a e estabilizando o coágulo. O sistema fibrinolítico também possui

ativadores e inibidores que participam do equilíbrio da hemostasia.

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Proteína C +

Proteína S

Fibrinogênio Fibrina

Pré-calicreína Cininogênio de alto

peso molecular

XIIa

XIa

IXa + VIIIa

Antitrombina

Fator tissular +

VIIa

Xa + Va

Protrombina Trombina

Figura 4 – Esquema dos efeitos inibitórios dos anticoagulantes naturais (antitrombina, proteínas C e S) sobre os fatores de coagulação

Desse modo, distúrbios no balanço normal entre forças pró-coagulantes e anti-

coagulantes, determinados por fatores genéticos ou adquiridos, podem resultar em estados

patológicos com tendência ao sangramento ou a trombose. A figura 5 ilustra o mecanismo de

trombose devido às alterações da hemostasia.

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Figura 5 – (A) Hemostasia normal; (B) Hemostasia alterada: mecanismo de trombose

A Plaquetas, fatores de coagulação

Coagulação Fibrinólise

Inibidores: AT, PC, PS

Plasminogênio, t-PA

Inibidores: PAI-1, α2 antiplasmina

B ↑ Plaquetas ↑fatores de coagulação

HiperCoagulação

HipoFibrinólise

↓ Plasminogênio, t-PA

↓ Inibidores: AT, PC, PS

↑Inibidores: PAI-1, α2 antiplasmina

AT = antitrombina; PC = proteína C; PS = proteína S; t-PA = ativador do plasminogênio tissular; PAI = Inibidor do ativador do plasminogênio. (Adaptada de Conard, 1999).

1.2 Mecanismos biológicos da associação estroprogestagênica sobre a hemostasia

A trombose venosa tem como principais mecanismos etiopatogênicos as alterações no

fluxo venoso (estase), na hemostasia (estado pró-coagulante) e, mais raramente associa-se à

lesão endotelial (ROSENDAAL et al., 2003). Não há evidências, à luz dos conhecimentos

atuais, que os COCs tenham efeitos adversos sobre a função e a estrutura endotelial, apesar da

limitação de dados disponíveis no momento (MAMMEN, 2000). Porém, sabe-se que os

COCs têm capacidade de influenciar a hemostasia provocando efeitos pró-coagulantes, pró-

fibrinolíticos e aumento na capacidade de ativar a cascata de coagulação (Tabela 1). A

magnitude dessas mudanças é geralmente modesta, com exceção da diminuição da proteína S,

a maioria dos parâmetros continua dentro da variação de normalidade dos controles.

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Conseqüentemente, na maioria das mulheres, a hiperfibrinólise observada com o uso dos

COCs poderia contrabalançar os efeitos pró-coagulantes, explicando o baixo risco absoluto

para desenvolver TV em usuárias de COCs.

Tabela 1 – Efeitos dos contraceptivos orais combinados na hemostasia

Pró-coagulante Pró-fibrinolítico Aumento da ativação da

cascata de coagulação

↑ fibrinogênio ↑ plasminogênio ↑ fibrinopeptídeo A

↑ fatores VII, VIII, X

↓ PAI ↑ fragmento 1+2 da

protrombina

↓ proteína S e AT

↑ complexo plasmina-

antiplasmina

Resistência adquirida à

proteína C ativada

↑ D-Dímeros

AT = antitrombina; PAI = Inibidor do ativador do plasminogênio. (adaptada de MAMMEN,

2000).

A fim de diminuir a hipercoagulabilidade provocada pela contracepção oral

combinada, alguns autores advogam a via parenteral para contracepção. Nesse sentido, um

estudo recente comparou duas associações estroprogestagênicas injetáveis (Cipionato de

estradiol / acetato de medroxiprogesterona e enantato de noretisterona / valerato de estradiol)

com um COC (noretisterona / etinilestradiol) em relação a alterações na hemostasia. Em

relação ao período pré-tratamento, as formulações parenterais reduziram ou não aumentaram

a síntese de fibrinogênio, fatores VII e X, enquanto o COC provocou aumento da síntese

desses. Porém, tanto o COC como os contraceptivos parenterais causaram uma redução da

antitrombina e proteína C (WHO et al., 2003). O impacto sobre a modificação do risco para

trombose venosa e arterial devido a essa diminuição na produção de fatores de coagulação,

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apesar do efeito negativo sobre os anticoagulantes naturais, com o uso das associações

estroprogestagênicas injetáveis, ainda necessita de estudos epidemiológicos.

1.2.1 Papel do componente estrogênico na hemostasia

Normalmente, os COCs contêm o etinilestradiol, um estrogênio sintético, que induz

alterações significativas no sistema de coagulação, culminando com aumento da geração de

trombina. Conforme mostrado na tabela 1, ocorre também aumento dos fatores de coagulação

(fibrinogênio, VII, VIII, X), redução dos inibidores naturais da coagulação (proteína S e

antitrombina) e uma resistência adquirida à proteína C, sendo essas alterações mais

importantes em contraceptivos de alta dosagem estrogênica (≥ 50 mcg). Por outro lado, os

COCs contendo doses menores de etinilestradiol, como 20 mcg, também apresentaram

alterações na coagulação, mas sem atingir significância estatística na maioria dos parâmetros

analisados (WINKLER et al., 1996).

Outros tipos de estrogênios usados para tratamento hormonal no climatério, chamados

de naturais, com potência inferior à finalidade contraceptiva, também têm sido associados à

ocorrência de eventos tromboembólicos. Esse risco é duas a três vezes maior em usuárias de

terapia hormonal (TH) que as não usuárias (WHI, 2002; ROSENDAAL et al., 2003), sendo

mais pronunciado durante o primeiro ano de tratamento (HULLEY et al., 1998).

Recentemente, um estudo mostrou aumento no risco de 33% para eventos tromboembólicos

com estrogenioterapia isolada, comparado a não usuárias, porém inferior ao risco obtido por

esse mesmo grupo com a associação estroprogestagênica em pós-menopausadas (WHI, 2004),

o que pode sugerir a participação dos progestagênios no risco para trombose quando em

associação aos estrogênios.

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Porém, o papel dos estrogênios usados para TH na hemostasia é motivo de

controvérsia na literatura, ora mostrando efeitos pró-coagulantes (CAINE et al., 1992;

VEHKAVAARA et al., 2001) ora não mostrando alterações dos parâmetros analisados

(GILABERT et al., 1995). Em relação à fibrinólise, há maior consenso sobre a redução do

PAI-1 (GILABERT et al., 1995; KOH et al., 1997), conferindo efeito pró-fibrinolítico que

poderia balancear um possível efeito pró-coagulante dos estrogênios utilizados em TH, assim

como observado nos COCs.

1.2.2 Papel do componente progestagênico na hemostasia

Os progestagênios formam um grupo de esteróides que apesar de possuírem a

característica comum de se ligarem aos receptores de progesterona, têm efeitos sistêmicos

diferentes, que são mediados não só pela afinidade aos próprios receptores de progesterona,

mas principalmente pela capacidade de ligação com os receptores de outros esteróides, como

os estrogênios, androgênios, glicocorticóides e mineralocorticóides (SCHINDLER et al.,

2003). Essa capacidade de ligar-se a outros receptores de esteróides, bem como o perfil de

afinidade por cada um desses receptores, pode contribuir em riscos diferentes para a

trombose, a depender do progestagênio associado ao estrogênio. Um exemplo dessa afirmação

é um estudo experimental que comparou o efeito pró-coagulante nos vasos sangüíneos

tratados com diversos progestagênios isolados, mostrando maior expressão de receptores para

trombina, quando foram usados progestagênios com maior atividade glicocorticóide

(HERKERT et al., 2001). A tabela 2 mostra a classificação dos diferentes progestagênios.

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Tabela 2 – Classificações dos progestagênios

Progestagênio Exemplo

Progesterona Progesterona natural

Retroprogesterona Diidrogesterona

Derivados da 17α-hidroxiprogesterona Acetato de ciproterona, AMP

Derivados da 19-norprogesterona Trimegestone

Derivados da 19-nortestosterona (estranos) Noretisterona, noretinodrel

Derivados da 19-nortestosterona (gonanos) Levonorgestrel, desogestrel, gestodeno

Derivado da espironolactona Drospirenona

(Adaptada de Schindler et al., 2003). AMP = Acetato de medroxiprogesterona

Com a polêmica gerada pelos relatos quanto ao maior risco para TV em usuárias de

COCs que continham progestagênios de terceira geração (gestodeno, desogestrel) do que

aqueles com segunda geração (noretisterona, levonorgestrel), houve um estímulo para a

descoberta de um mecanismo biológico plausível que explicasse o motivo dessa associação, já

que muitas mulheres se beneficiariam de progestagênios com menor efeito androgênico e

minelarocorticóide.

Não foi observada diferença clara entre COCs com progestagênios de segunda e

terceira geração em relação aos níveis de fibrinogênio, de antitrombina, da atividade

fibrinolítica e dos fatores de coagulação II, VIII e X. Porém, existe uma tendência de produzir

níveis mais baixos de antitrombina e mais altos de fatores de coagulação com os COCs com

progestagênios de terceira geração (CONARD, 1999). Foi observada uma resistência

adquirida à proteína C ativada em usuárias de COCs, independente do tipo de progestagênio

usado, no entanto, em usuárias de COCs com progestagênios de terceira geração essa

alteração era mais pronunciada que em usuárias de COCs com progestagênios de segunda

geração (ROSING et al., 1997; KEMMEREN et al., 2004). Esses achados poderiam explicar

as observações epidemiológicas de risco aumentado para TV em usuárias de COCs,

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especialmente naqueles que contêm progestagênios de terceira geração, já que a resistência à

ação da proteína C (adquirida ou herdada) é um marcador importante para risco aumentado de

TV (TANS et al., 2003).

A hiperfibrinólise é menos acentuada em usuárias de COCs que contêm

progestagênios de terceira geração do que aqueles com progestagênios de segunda geração

(CONARD, 1999), provavelmente devido à modulação do progestagênio sobre o efeito pró-

fibrinolítico do estrogênio nos COCs. Dessa forma, os progestagênios de terceira geração

inibiriam com maior intensidade a fibrinólise induzida pelo estrogênio do que os

progestagênios de segunda geração, podendo também ser outra evidência a corroborar com os

dados epidemiológicos encontrados sobre o tipo de progestagênio nos COCs e o risco para

TV (Figura 6).

↑↑ Coagulação ↑↑ Fibrinólise

COC com progestagênio de segunda geração

↑↑Coagulação ↑ Fibrinólise

COC com progestagênio de terceira geração

Figura 6 – Possível mecanismo do aumento da trombose venosa em usuárias de contraceptivos orais combinados (COCs) contendo progestagênios de terceira geração comparados aos com progestagênios de segunda geração

Apesar dessas evidências, ainda não há explicação biológica definitiva, pelo menos do

ponto de vista de alterações dos parâmetros hemostáticos, que justifique a diferença de risco

para TV entre as usuárias de COCs com progestagênios de segunda e de terceira geração

(WINKLER, 1998).

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Apesar de alguns estudos mostrarem que COCs que continham acetato de ciproterona

estavam associados a um risco para TV ainda maior do que aqueles com progestagênios de

terceira geração, a avaliação dos parâmetros hemostáticos da associação entre etinilestradiol e

acetato de ciproterona ainda necessita de mais pesquisas entre mulheres no menacme. Em

2001, Vasilakis e Jick mostraram um aumento de quatro vezes no risco para TV com uso de

acetato de ciproterona comparado ao das usuárias de COCs com progestagênios de segunda

geração. Está sendo conduzido um grande estudo, caso-controle, com objetivo de acessar os

fatores de risco para TV (estudo MEGA), mostrando, em resultados preliminares, aumento de

18 vezes no risco para TV em usuárias de COC contendo acetato de ciproterona comparado a

não usuárias de COCs (ROSENDAAL et al., 2003).

A tabela a seguir mostra o risco para TV associado a cada contraceptivo.

Tabela 3 – Risco para tromboembolismo venoso associado a cada tipo de contraceptivo

Grupo Risco absoluto

para TV

(casos/expostas)

Risco relativo

comparado a

não usuárias

Risco relativo

comparado a usuárias

de COCs com LNG

Risco Basal

(não usuárias)

1 a 5/100.000 1 Não se aplica.

Progestagênios

isolados**

Igual ao das não

usuárias

1 Não se aplica.

COCs com

levonorgestrel

3 a 15/100.000 3 1

COCs com desogestrel

ou gestodeno

6 a 30/100.000 6 2

COCs com acetato de

ciproterona

12 a 60/100.000 12-18 4

Gestação

50 a 75/100.000 15 Não se aplica.

** = Meirik et al., 2001a; Meirik et al., 2001b. LNG = levonorgestrel.

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Avaliando os dados disponíveis na literatura, nota-se que quanto mais efeito

androgênico (ou menor poder estrogênico) tem o progestagênio associado ao etinilestradiol,

menor o risco de trombose a que esse COC está associado. Assim, os COCs com

levonorgestrel têm menor risco para TV do que aqueles com desogestrel ou gestodeno, uma

vez que esses últimos são menos androgênicos. Da mesma forma, a associação com acetato de

ciproterona seria a mais trombogênica, uma vez que é a que contém o progestagênio com

maior poder estrogênico. Porém, está por ser determinado se o maior poder estrogênico de um

COC relaciona-se com alguma alteração desfavorável na hemostasia.

Se o papel dos progestagênios nos COCs sobre as variáveis hemostáticas ainda

necessita de mais estudos, os contraceptivos de progestagênios isolados também dispõem de

um número reduzido de publicações com relação aos impactos provocados sobre o sistema

hemostático.

Os progestagênios administrados isoladamente afetam de forma mínima o sistema de

coagulação (LEVI; MIDDELDORP; BULLER, 1999). Um aumento modesto e não

significativo no odds ratio para tromboembolismo tem sido relatado em usuárias de pílulas

contraceptivas de progestagênios (WHO, 1998). Com exceção do linestrenol, que foi

associado à redução da antitrombina (BOUNAMEAUX et al., 1978), os anticoncepcionais

com progestagênios isolados não são associados a alterações marcantes nos parâmetros de

coagulação e fibrinólise, por isso, podem ser indicados para pacientes com risco para TV

(LOWE, 2004).

Um estudo randomizado duplo-cego entre contraceptivos orais de progestagênios

isolados (desogestrel versus levonorgestrel) avaliou os efeitos desses nos fatores de

coagulação, anticoagulantes naturais e sistema fibrinolíticos em 78 mulheres saudáveis,

mostrando que ambos apresentaram um efeito favorável sobre a hemostasia, reduzindo de

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forma significativa a atividade do fator VII. Além disso, o desogestrel também provocou um

aumento significativo na concentração da proteína S (WINKLER et al., 1998). Outro estudo

recente (KEMMEREN et al., 2004) também mostrou resultados favoráveis com as pílulas de

progestagênios isolados (desogestrel versus levonorgestrel), com redução da resistência à

proteína C ativada e aumento da proteína S. Dessa forma, os efeitos negativos dependentes do

tipo de progestagênio provocados pelos COCs, sobre os parâmetros de coagulação e

anticoagulação, não foram observados com o uso de pílulas de progestagênio isolado, seja de

levonorgestrel ou de desogestrel.

Nos últimos 20 anos, têm sido desenvolvidos implantes subdérmicos que mantêm

liberação de baixas doses de progestagênios, com vantagens para pacientes que não toleram a

via oral ou esquecem da ingestão diária de pílulas. Os implantes de levonorgestrel

(Norplant®, Norplant2®) foram os primeiros desenvolvidos e, em relação à hemostasia, os

dados científicos publicados são escassos, porém são consistentes com os dados de outros

contraceptivos com progestagênios isolados que demonstraram pequeno ou nenhum efeito

sobre a hemostasia (DORFLINGER, 2002). Os estudos de Singh et al. (1992a, 1992b)

mostraram decréscimo significativo dos fatores II, V e VII durante os cinco anos de uso de

implante com levonorgestrel. O fator V sofreu acréscimo no primeiro ano de uso comparado

ao seu nível pré-inserção, posteriormente declinou significativamente entre quatro e cinco

anos de uso. A atividade fibrinolítica diminuiu após dois a quatro anos de uso. O número de

plaquetas mostrou uma tendência significativa de aumento dentro dos limites de normalidade,

acompanhado do aumento da agregação plaquetária. Já, Shaaban et al. (1984) mostraram

decréscimo significativo dos níveis de antitrombina e fator VII de coagulação com seis meses

de uso do implante. É pouco provável que essas alterações relatadas sobre o sistema de

coagulação e fibrinólise tenham algum significado clínico, pois não foi encontrado risco

aumentado com esse contraceptivo para TV, para infarto agudo do miocárdio e para acidente

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_______________________________________________________________________________________ 19

vascular cerebral comparado a usuárias de métodos não hormonais e ao número desses

eventos esperados na população geral (MEIRIK et al., 2001a; MEIRIK et al., 2001b).

Outro implante disponível que contém etonogestrel (Implanon®), o metabólito ativo

do desogestrel, apresenta apenas dois estudos sobre seus efeitos na hemostasia. No primeiro

deles, EGBERG et al. (1998) compararam pacientes com implantes de etonogestrel e

levonorgestrel por seis meses, avaliando alterações nos parâmetros hemostáticos. Os

resultados mostraram efeitos similares e mínimos dos dois implantes no sistema hemostático,

sem tendência pró-coagulante como os COCs, já que houve aumento significativo da

antitrombina e um decréscimo também significante da atividade do fator VII da coagulação.

O outro estudo avaliou as alterações hemostáticas um mês após a inserção do implante de

etonogestrel comparado ao período pré-inserção, mostrando aumento dos níveis plasmáticos

dos anticoagulantes naturais (proteína C, S e antitrombina) e ausência de resistência à proteína

C ativada, corroborando um efeito benéfico nos parâmetros hemostáticos com o uso do

etonogestrel (LINDQVIST et al., 2003). Não há estudos disponíveis envolvendo a função

plaquetária, através da medida de sua agregação, com esse progestagênio.

Se pensarmos que o etonogestrel, por ser o metabólito biológico ativo do desogestrel,

poderia ter a mesma ação desse último, como explicar os efeitos mais trombogênicos dos

COCs que contêm progestagênios de terceira geração em relação aos de segunda geração, se o

etonogestrel e desogestrel tiveram desempenho similar ao levonorgestrel quando usados

isoladamente? Alguns progestagênios teriam realmente propriedades pró-coagulantes ou

simplesmente modulariam as ações estrogênicas na hemostasia? Perguntas como essas ainda

necessitam de mais estudos para serem respondidas.

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_______________________________________________________________________________________ 20

2 Justificativas _________________________________________________________________________

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_______________________________________________________________________________________ 21

Em vista da limitação de dados científicos sobre o papel dos progestagênios na

hemostasia, justificam-se novos estudos que avaliem o impacto de cada progestagênio sobre

múltiplos parâmetros hemostáticos, buscando explicações biológicas para diferentes riscos

para TV dependente do tipo de progestagênio utilizado.

Quanto ao etonogestrel, em particular, a literatura dispõe de apenas dois estudos que

avaliam seu impacto sobre a hemostasia, com resultados mostrando um efeito similar ao

levonorgestrel, predominando uma tendência anticoagulante. Esse achado é, de certa forma,

surpreendente, pois seu precursor (desogestrel) está associado a um maior risco para TV do

que progestagênios de segunda geração quando em associação aos estrogênios. Entretanto,

nenhum estudo foi descrito na literatura sobre seus efeitos na agregação plaquetária, sendo

este o motivo deste estudo. Os resultados obtidos poderão ajudar a esclarecer melhor o efeito

do etonogestrel na hemostasia, contribuindo no estabelecimento de alternativas contraceptivas

em pacientes de risco para eventos tromboembólicos.

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3 Objetivo ___________________________________________________________________________

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_______________________________________________________________________________________ 23

Avaliar os efeitos do implante subdérmico de etonogestrel (Implanon®) sobre a

agregação plaquetária de mulheres hígidas, durante seis meses após a inserção do implante.

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4 Casuística e Métodos ___________________________________________________________________________

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_______________________________________________________________________________________ 25

4.1. Casuística

4.1.1 Aspectos éticos do estudo

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HC-FMRP-USP

(processo 1758/2003).

4.1.2 Cálculo amostral

O cálculo amostral foi feito através de um projeto-piloto com 10 pacientes, já que não

havia dados semelhantes na literatura. Calculou-se, pelo programa GraphPad StatMate®, a

necessidade de 18 pacientes para se obter uma redução de 30% na mediana da agregação

plaquetária de mulheres hígidas, com α = 0,05 e β = 20% (poder de teste de 80%).

4.1.3 Amostra

Foram selecionadas 24 mulheres hígidas voluntárias para a utilização de contracepção

hormonal, de longa duração e reversível, para participar do estudo de acordo com o

preenchimento de critérios de inclusão preestabelecidos, após assinatura do consentimento

informado. Foram feitos esclarecimentos detalhados às mulheres sobre o contraceptivo

(eficácia, efeitos adversos, benefícios) e o acompanhamento delas durante o estudo.

Dessas 24 mulheres, 23 completaram o estudo, sendo que uma foi excluída por ter tido

necessidade de uso de contraceptivo oral combinado e antiinflamatório não esteróide para

controle do sangramento prolongado após a inserção do implante, o que influenciaria nos

resultados da agregação plaquetária.

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_______________________________________________________________________________________ 26

O implante foi inserido na fase folicular (1o ao 8o dia do ciclo) para que não houvesse

alterações das concentrações de determinados fatores da coagulação (von Willebrand, por

exemplo) por influência da fase do ciclo menstrual. Em caso de amenorréia pós-parto, o

implante foi colocado no mínimo três meses após o parto para afastar a influência

trombogênica do puerpério que desaparece em até seis semanas pós-parto.

Uma vez que nenhuma das mulheres possuía fatores de risco pessoal e familiar para

eventos tromboembólicos, não se considerou necessária a realização de testes de rastreamento

para diagnóstico prévio de alterações da hemostasia, no sentido de avaliar se as mesmas

poderiam usar método contraceptivo hormonal pelo risco de trombose (VANDENBROUCKE

et al., 1996).

4.1.4 Critérios de inclusão

• Idade entre 20 e 35 anos;

• Desejo de contracepção hormonal de longa duração (pelo menos dois anos sem desejo

de gravidez);

• Tempo mínimo de 90 dias entre o parto e a inserção e, se em uso de contraceptivo

hormonal, suspendê-lo no mínimo 21 dias antes da inserção;

• Concordância em participar do estudo, após leitura e assinatura do termo de

consentimento informado.

4.1.5. Critérios de exclusão

• Tabagismo, alcoolismo ou drogadição;

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_______________________________________________________________________________________ 27

• Obesidade, definida como índice de massa corporal (IMC) igual ou superior a

30 kg/m2;

• Presença de doenças sistêmicas tais como: diabete melito, hipertensão arterial

sistêmica, nefropatias, hepatopatias, depressão grave, distúrbios da coagulação,

cardiopatias;

• Uso de medicações que sabidamente podem interferir na coagulação sangüínea ou na

avaliação dos parâmetros hemostáticos, por exemplo, anticoagulantes ou anti-

inflamatórios não-hormonais;

• Não ter antecedente pessoal e/ou familiar de eventos tromboembólicos;

• Desejo de manter padrão de sangramento menstrual cíclico;

• Alergia conhecida a anestésico local (xilocaína), uma vez que o implante é inserido

após aplicação subdérmica de anestésico local.

4.1.6 Controles

As dosagens das amostras de sangue das mulheres, após a inserção do contraceptivo

hormonal, foram comparadas às dosagens pré-inserção do implante, como controle.

4.1.7 Medicação utilizada

A medicação utilizada foi um implante único, com 4 cm de comprimento e 2 mm de

diâmetro, que contém 68 mg de etonogestrel (3-ketodesogestrel), o metabólito ativo do

desogestrel, envolvido em uma membrana de etileno vinil acetato (HUBER, 1998). Esse

contraceptivo hormonal é disponível no mercado com o nome de Implanon®.

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O implante é inserido por meio de um aplicador de acrilonitrila-butadieno-estireno,

com agulha de aço, de preferência na face interna do braço não dominante da mulher, após

bloqueio com anestésico local (xilocaína a 2%).

A taxa de liberação hormonal in vitro e in vivo é cerca de 60 a 70 mcg/dia até a 6a

semana pós-inserção, seguida de um declínio gradual para 40 mcg/dia no final do primeiro

ano, 34 mcg/dia no final do segundo ano e 25 a 30 mcg/dia no final do terceiro ano,

garantindo uma média de liberação em três anos in vitro de 40 mcg/dia (HUBER, 1998).

Estudos anteriores mostraram que uma taxa de liberação de 30 mcg/dia de etonogestrel é

suficiente para inibir a ovulação (DIAZ et al., 1991; OLSSON et al., 1990).

A biodisponibilidade da droga é mantida constante e próxima de 100%, com clearance

de cerca de 7,5 l/h, não existindo evidências de acúmulo do etonogestrel, sendo a diminuição

da sua concentração sérica apenas atribuída à diminuição de sua liberação com o tempo. A

meia-vida de eliminação da droga é cerca de 25 horas, inferior à encontrada para o implante

de levonorgestrel que é de 41,7 horas. O etonogestrel liga-se preferencialmente à albumina do

que à globulina carreadora de esteróides sexuais, com isso, sua concentração não é afetada

pelas variações nas concentrações séricas de estrogênios (HUBER, 1998).

A duração contraceptiva é de três anos com alta eficácia, não sendo relatado até o

momento nenhuma gestação com o Implanon® (GLASIER, 2002), o que corrobora os

estudos iniciais desse implante que não observou gestação em 70.000 ciclos avaliados

(BENNINK, 1998). O efeito contraceptivo é garantido pela inibição da ovulação, mas a

atividade ovariana ainda mantém-se presente, avaliada pelo crescimento folicular ao exame

ultra-sonográfico e síntese de estradiol. As concentrações do hormônio folículo-estimulante

diminuem pouco em relação aos níveis pré-inserção, ao passo que o pico pré-ovulatório do

hormônio luteinizante é abolido. Colaboram também, para o efeito contraceptivo, o aumento

da viscosidade de muco cervical e o endométrio fino (CROXATTO; MÄKÄRÄINEN, 1998).

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Após os três anos, o implante deve ser retirado já que não é biodegradável. Com uma

semana após a remoção, as concentrações sangüíneas do etonogestrel declinam a níveis não

detectáveis (HUBER, 1998). Na maioria das mulheres, o ciclo menstrual volta ao normal em

três meses após a remoção (CROXATTO, 2000) e, a taxa de gravidez pós-remoção não é

diferente daquelas apresentadas após descontinuação de outros métodos contraceptivos

(GLASIER, 2002).

4.2 Métodos

4.2.1 Modelo de estudo

Trata-se de um estudo aberto, longitudinal e prospectivo, em que foi avaliada a

agregação plaquetária, previamente à inserção do Implanon® e após um, três e seis meses da

inserção do implante. O Implanon® foi inserido na fase folicular do ciclo menstrual (do 1o ao

8o dia do ciclo) ou em caso de amenorréia pós-parto, no mínimo três meses após o parto.

4.2.2 Variáveis analisadas

4.2.2.1 Variável dependente

• Agregação plaquetária induzida pelos seguintes agonistas plaquetários:

- Adrenalina (50 µM);

- ADP (35 µM e 17,5 µM);

- Colágeno (5 µg/ml e 10 µg/ml).

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_______________________________________________________________________________________ 30

4.2.2.2 Variáveis de caracterização da amostra

• Índice de massa corporal (IMC);

• Peso;

• Altura;

• Paridade;

• Idade.

4.2.2.3 Fator de variação

• Tempo (pré-inserção, 1, 3 e 6 meses)

4.2.3 Coleta das amostras sangüíneas

As amostras sangüíneas foram coletas no Laboratório de Hemostasia do Hospital das

Clínicas de Ribeirão Preto, entre 8 e 9 horas, após jejum mínimo de 8 horas, por profissional

treinado na técnica de flebotomia atraumática, por meio de punção da veia anticubital

realizada com cateter tipo “butterfly” no 21, sob estase sangüínea mínima. As mulheres não

fizeram uso de qualquer medicação que pudesse alterar os resultados de agregação

plaquetária, nos 15 dias antecedentes à coleta de sangue.

Em cada avaliação, foram colhidos 20 ml de sangue total que foram armazenados em

tubos cônicos de material plástico sem vácuo, contendo solução anticoagulante de citrato de

sódio a 3,2% (na proporção fixa de 9 partes do volume de sangue total para 1 parte do volume

de anticoagulante). O teste de agregação plaquetária foi feito, no máximo, durante a primeira

hora após a coleta do sangue.

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_______________________________________________________________________________________ 31

4.2.4 Processamento

O processamento das amostras sangüíneas era iniciado o mais breve possível, após a

coleta. Para obtenção do plasma rico em plaquetas (PRP), necessário à realização das provas

de agregação plaquetária, o sangue total foi centrifugado a 180 g (700 rpm em centrífuga

Sorvall RC 3B), em temperatura ambiente por 15 minutos, sendo o PRP transferido para tubo

plástico fechado, para manter o pH. O plasma pobre em plaqueta (PPP), necessário para

realização de outras provas de hemostasia, foi obtido por centrifugação do restante da amostra

(após a retirada do PRP) a 1.500 g (3.500 rpm), durante 20 minutos. O PPP foi estocado em

tubos de polipropileno a – 80 oC, para realização posterior de demais ensaios de coagulação

em outro estudo.

4.2.5 Agregação plaquetária

As provas de agregação plaquetária foram realizadas utilizando PRP, na concentração

de plaquetas de 200.000/µl, obtido por meio da diluição do PRP com o respectivo PPP. Na

eventualidade da concentração de plaquetas no PRP ser inferior a 200.000/µl, foi realizado

ajuste de modo que o PRP controle e o PRP testado tivessem a mesma concentração.

As provas foram realizadas em agregômetro de dois canais da marca Chrono-Log

modelo 560, através do método de espectrofotometria. Para cada exame, foram utilizados

450 µl do tubo teste e 50 µl do agente agregante. Os agonistas plaquetários utilizados e suas

respectivas doses foram: Adrenalina (50 µM), ADP (35 e 17,5 µM) e colágeno

(5 e 10 µg/ml). A solução de adrenalina empregada foi fornecida pelo Serviço de Farmácia do

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_______________________________________________________________________________________ 32

HCRP, sendo utilizada uma nova ampola em cada experimento. O ADP foi da marca Sigma

diagnostics e o colágeno da marca Helena.

A calibração do equipamento foi realizada considerando-se a transmitância da luz

através do PRP como representante de 0% de agregação plaquetária, enquanto a transmitância

da luz através do PPP representaria 100% de agregação. A velocidade de corrida do papel

para registro da agregação era 2 cm por minuto. Após o ajuste do equipamento, adicionavam-

se 50 µl da solução agregante e mantinha-se o registro por 5 a 8 minutos, até se obter a

agregação plaquetária completa. Em cada registro, foi avaliada a amplitude do aumento da

agregação plaquetária em relação ao ponto zero, sendo expressa em porcentagem.

4.2.6 Análise estatística

Como a agregação é expressa em forma de porcentagem, ou seja, um índice, optou-se

por usar estatística não paramétrica. Também pelo mesmo motivo, os valores de agregação

foram expressos em mediana dos percentuais máximos de agregação plaquetária.

Foi usado o teste de Wilcoxon para comparação pareada entre dois períodos

específicos de estudo. Foram comparados todos os tempos de estudo entre si.

O nível de significância adotado foi de 5%, ou seja, valores de “p” superiores a 0,05

indicam que não há diferença entre as medianas encontradas em períodos distintos de

observação, ao passo que valores de “p” inferiores ou iguais a 0,05 são indicativos de que as

medianas são diferentes, em períodos distintos de observação.

Todos os cálculos estatísticos foram realizados utilizando o software GraphPad Prism

version 3.0 for Windows (Graphpad Software, San Diego California USA,

www.graphpad.com (MOTULSKY, 1999).

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5 Resultados ___________________________________________________________________________

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5.1 Características da amostra

A idade das voluntárias variou de 20 a 35 anos, com mediana de 25 anos, 35% das

mulheres eram nulíparas. Em relação às características antropométricas, o peso médio foi de

61,1 kg e a altura média foi de 1,62 cm. O IMC médio das mulheres foi 23,32 kg/m2. As

características da amostra estão apresentadas na tabela 4.

Tabela 4 – Distribuição da casuística quanto às características antropométricas e clínicas.

Característica Média ± desvio-padrão Mediana (1o e 3o quartis)

Idade (anos) 26,3 ± 4 25 (23,5 – 29)

Paridade Não se aplica. 1 (0-2)

Peso (kg) 61,1 ± 7,5 60,2 (56 – 66,7)

Altura (m) 1,62 ± 0,07 1,63 (1,55 – 1,68)

IMC (kg/m2) 23,32 ±2,3 23 (21,6 – 25,6)

5.2 Efeitos sobre a agregação plaquetária

Na tabela 5 e nas figuras 7, 8, 9 e 10, são apresentados os resultados referentes às

provas de agregação plaquetária realizadas antes e após 1, 3 e 6 meses da inserção do

implante de etonogestrel. Nota-se uma queda transitória, estatisticamente significativa, na

mediana do percentual máximo de agregação plaquetária de 27%, 14% e 11%,

respectivamente, com colágeno 5 µg/ml, adrenalina 50 µM e colágeno 10 µg/ml, observada

em 1 mês da inserção do implante comparado ao valor pré-inserção. A agregação plaquetária

com esses agonistas retorna ao seu valor pré-inserção em 6 meses do uso do contraceptivo

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hormonal. Com outros agonistas, como o ADP 35 µM e ADP 17,5 µM, não se observou o

mesmo fenômeno, apesar de com o ADP 35 µM nota-se uma tendência de queda transitória

da agregação plaquetária em 1 mês da inserção do implante (figura 10).

Tabela 5 – Resultados de agregação plaquetária induzida por colágeno, adrenalina e ADP em mulheres hígidas com implante subdérmico de etonogestrel, durante um período de 6 meses

Agonista

plaquetário

Basal (%) 1 mês (%) 3 meses (%) 6 meses (%)

Colágeno 5 µg/ml 75 (67 – 79) 55 (14 – 75) * 69 (52 – 74) 70 (55 – 76)

Colágeno 10 µg/ml 78 (74 – 83) 70 (54 – 80) ** 73 (68 – 78) 75 (73 – 83)

Adrenalina 50µM 73 (46 – 84) 63 (28 – 73) * 67 (34 – 77) * 72 (49 – 76)

ADP 35µM 77 (60 - 86) 72 (66 – 82) 75 (73 – 86) 78 (72 – 81)

ADP 17,5µM 66 (30 – 77) 68 (40 – 75) 63 (44 – 71) 63 (48 – 75)

Nota: os resultados são expressos como mediana (1o e 3o quartis) do percentual de agregação máxima. * p < 0,05 (entre o valor basal e o tempo avaliado após a inserção do implante) ** p < 0,05 (entre o valor basal e após 1 mês de inserção do implante; entre 1 e 6 meses de uso do medicamento)

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0

20

40

60

80

Basal 1 3 6

Tempo de inserção do implante (meses)

Porc

enta

gem

de

agre

gaçã

o pl

aque

tária

*

Figura 7 – Variação da mediana da porcentagem máxima de agregação plaquetária induzida por colágeno a 5 µg/ml em mulheres hígidas com implante subdérmico de etonogestrel, durante um período de 6 meses * p < 0,05 (entre o valor basal e 1 mês após a inserção do implante)

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0

20

40

60

80

Basal 1 3 6

Tempo de inserção do implante (meses)

Porc

enta

gem

de

agre

gaçã

o pl

aque

tária *

*

Figura 8 – Variação da mediana da porcentagem máxima de agregação plaquetária induzida por adrenalina a 50 µM em mulheres hígidas com implante subdérmico de etonogestrel, durante um período de 6 meses * p < 0,05 (entre o valor basal e o 1 mês após a inserção do implante; entre o valor basal e 3 meses após a inserção do implante)

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0

20

40

60

80

Basal 1 3 6

Tempo de inserção do implante (meses)

Porc

enta

gem

de

agre

gaçã

o pl

aque

tária

**

Figura 9 – Variação da mediana da porcentagem máxima de agregação plaquetária induzida por colágeno a 10 µg/ml em mulheres hígidas com implante subdérmico de etonogestrel, durante um período de 6 meses ** p < 0,05 (entre o valor basal e após 1 mês de inserção do implante; entre 1 e 6 meses de uso do medicamento)

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0

20

40

60

80

Basal 1 3 6

Tempo de tratamento (meses)

Porc

enta

gem

de

agre

gaçã

o pl

aque

tária

Colágeno 5 µg/mlColágeno 10 µg/mlAdrenalina 50 µMADP 35 µM ADP 17,5 µM

Figura 10 – Distribuição das medianas de porcentagens máximas de agregação plaquetária induzida por colágeno, adrenalina e ADP em mulheres hígidas com implante subdérmico de etonogestrel, durante um período de 6 meses

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6 Discussão ___________________________________________________________________________

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_______________________________________________________________________________________ 41

O processo de formação do trombo plaquetário contribui para a resposta hemostática

adequada, evitando a perda sangüínea excessiva após uma injúria no endotélio. Porém, o

mesmo mecanismo fisiológico transforma-se em deletério uma vez que pode, também, causar

oclusão trombótica aguda de um vaso com a parede lesada (por aterosclerose, por exemplo)

que é acompanhada de conseqüências graves, às vezes letais ao indivíduo. A participação das

plaquetas na formação do trombo é mediada por suas propriedades de adesão e rápida

ativação frente a diversos estímulos. Pelo processo de ativação, ocorre interação entre as

plaquetas, culminando na agregação e formação do trombo. Tanto a adesão como a ativação

são moduladas por diferentes condições ambientais, sugerindo que é possível obter estímulo

ou bloqueio farmacológico seletivo de vias que levam à trombose (RUGGERI, 2004). Assim,

medicações que interferem na função plaquetária devem ser estudadas.

Existem evidências suficientes que demonstram aumento de risco para trombose com

a utilização de associações estroprogestagênicas (WHO, 1995a; WHO, 1995b; ROSENDAAL

et al., 2003; WHI, 2002; WHI, 2004). De uma forma geral, o uso de COCs ou TH combinada

aumenta em três vezes o risco para desenvolvimento de TV comparado a não usuárias

(ROSENDAAL; HELMERHORST; VANDENBROUCKE, 2002). Porém, poucas

informações estão disponíveis na literatura sobre um possível estímulo pró-trombótico das

associações estroprogestagênicas sobre as plaquetas, importantes na formação do trombo.

Alguns estudos já mostraram evidências de que os esteróides sexuais podem exercer

efeitos sobre as propriedades fisiológicas plaquetárias. Em 1997, Faraday, Goldschmidt-

Clermont e Bray mostraram que as plaquetas de mulheres ligam-se mais ao fibrinogênio

durante a fase lútea do que na fase folicular do ciclo menstrual, sugerindo modulação

hormonal na ativação do receptor GP IIbIIIa. Outro estudo reportou um pico do número de

receptores α2-adrenérgicos (receptor presente nas plaquetas para ligação da adrenalina), no

início da menstruação, com queda de 25% no meio do ciclo menstrual em relação ao valor

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inicial. Não foi vista essa variação cíclica dos mesmos receptores no homem (JONES et al.,

1983). Em pesquisa realizada por Tarantino, Kunicki e Nugent (1994) observou-se que a

adesão plaquetária ao colágeno tipo I tem uma periodicidade bifásica durante o ciclo

menstrual. Por último, a agregação plaquetária é maior em mulheres do que em homens de

mesma idade (HAQUE et al., 2001). Todos esses estudos sugerem que o estrogênio e a

progesterona, em concentrações fisiológicas, podem modular a ativação e função plaquetária.

Com relação à influência da ação dos esteróides sexuais administrados em doses

suprafisiológicas, como ocorre com a contracepção hormonal e terapia hormonal no

climatério, também dispomos de poucos estudos e os resultados obtidos são controversos com

aqueles observados em concentrações fisiológicas dos hormônios sexuais. Em 1995, Saleh et

al. relataram que não havia diferença na agregação plaquetária de pacientes usuárias de COCs

de baixa dosagem (etinilestradiol + levonorgestrel ou etinilestradiol + noretisterona) em

relação às não usuárias, porém trata-se de um estudo transversal em que não há avaliação

inicial da agregação plaquetária das usuárias de COCs e foi apenas padronizado um tempo

mínimo de três meses de contracepção, podendo existir mulheres com grandes variações do

tempo de uso do hormônio. Em pacientes após a menopausa, observou-se que a terapia

combinada com estradiol e norestiterona não alterou em seis meses a agregação plaquetária

comparada com não usuárias (TEEDE et al., 2001). Outros autores (BAR et al., 2000)

demonstraram que plaquetas in vitro de mulheres, após a menopausa, exibem agregação

diminuída tanto à adição de 17β-estradiol quanto de acetato de medroxiprogesterona, usados

separadamente. Um estudo relatou diminuição da agregação plaquetária com adição de

estrogênio em plaquetas isoladas de homens e mulheres, além do aumento do cálcio

intracelular e da liberação de óxido nítrico, esse último já sabidamente inibidor da agregação

plaquetária (NAKANO et al., 1998). Em 2002, Nakano et al. demonstraram decréscimo do

influxo de cálcio e aumento da produção de AMP-c (inibidor da agregação plaquetária) com o

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tratamento utilizando estrogênios eqüinos conjugados em plaquetas in vitro de mulheres, após

menopausa estabelecida. Deve-se ressaltar que alguns desses estudos foram realizados com a

administração hormonal a plaquetas in vitro, o que pode diferir da ação observada in vivo, na

qual há outros fatores interagindo com a administração de hormônio, que podem interferir na

resposta apresentada à medicação.

Em 2000, Khetawat et al. demonstraram a presença de receptores para androgênios

(AR) e tipo β para estrogênio (ER β) em plaquetas, detectados pela técnica de PCR

(polimerase chain reaction), porém não identificaram receptores para progesterona e nem tipo

α para estrogênios. Ambos os receptores (ERβ e AR) estão distribuídos no citosol das

plaquetas de homens e mulheres. Esses autores também relataram que, in vitro, baixas

concentrações de testosterona promovem regulação positiva da expressão dos ARs, enquanto

altas concentrações promovem a regulação negativa da expressão dos mesmos. Tais achados

sugerem a regulação hormonal da expressão dos receptores de androgênios nas plaquetas

através da dose de testosterona empregada. Já a exposição a doses diferentes de estradiol não

causou variação da expressão dos receptores tipo β para estradiol. Recentemente,

Jayachandran e Miller (2003) identificaram a presença de receptores do tipo α para

estrogênios nas plaquetas de homens e mulheres, diferindo dos resultados de Khetawat et al.

(2000). Com esses estudos, pode-se inferir que as ações estrogênicas e androgênicas nas

plaquetas, e, por conseqüência, na hemostasia, podem ser mediadas por receptores para esses

esteróides nas plaquetas, através de mecanismos não-genômicos, já que as plaquetas são

anucleadas. O efeito genômico dos esteróides sexuais só seria possível nos megacariócitos,

precursores nucleados das plaquetas.

No presente estudo, foi descrita uma queda transitória, estatisticamente significativa,

na mediana do percentual máximo de agregação plaquetária de 27%, 14% e 11%,

respectivamente, com colágeno 5 µg/ml, adrenalina 50 µM e colágeno 10 µg/ml, observada

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um mês após a inserção do implante de etonogestrel comparado ao valor pré-inserção. Esse

resultado é inédito na literatura.

O fato do etonogestrel não ter promovido aumento da agregação plaquetária está de

acordo com as observações de que esse progestagênio não exerce efeitos deletérios sobre os

parâmetros hemostáticos, quando usado isoladamente (LINDQVIST et al., 2003; EGBERG et

at., 1998), mesmo não tendo sido avaliadas as variáveis de coagulação e fibrinólise nesse

estudo.

Sobre os efeitos dos progestagênios isolados nas plaquetas, dispõe-se de um número

reduzido de estudos. Alguns mostraram aumento da agregação plaquetária com implante de

levonorgestrel, após um ano de uso do hormônio, comparado ao valor pré-tratamento (SINGH

et al., 1992a; SINGH et al., 1992b). Outros demonstraram ausência de alteração na agregação

plaquetária de usuárias de implante de levonorgestrel comparadas às usuárias de COCs e a

não usuárias (SALEH et al., 1995). No entanto, nenhuma pesquisa avaliou as alterações

agudas ou o tipo de progestagênio utilizado neste estudo (etonogestrel). Em relação ao

número de plaquetas, não há relatos de modificações da contagem plaquetária com

progestagênios isolados, inclusive com o etonogestrel (SINGH et al., 1992a; SINGH et al.,

1992b; EGBERG et al., 1998). No presente estudo, o número de plaquetas foi utilizado para

realização da técnica de agregação plaquetária. Foi padronizada, no momento do ensaio de

agregação plaquetária, a concentração de 200.000 plaquetas/µl para cada amostra sangüínea,

assim alterações no número de plaquetas não poderiam ser responsáveis pelo resultado

encontrado.

Como explicar a ação dos progestagênios sobre as plaquetas, se ainda não foram

descritos receptores para progesterona nas mesmas? Uma explicação possível seria através

dos receptores de androgênios, pois os progestagênios têm afinidades variadas por esse

receptor, podendo causar estímulo ou bloqueio da atividade androgênica (SCHINDLER et al.,

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2003). Apesar de existirem controvérsias, tem sido descrito que os androgênios administrados

in vitro e in vivo podem aumentar a agregação plaquetária em ratos (JOHNSON; RAMEY;

RAMWELL, 1977). Esses efeitos androgênicos podem variar de acordo com a dose

empregada, já que ocorre alteração da expressão dos ARs, conforme observação experimental

de Khetawat et al. (2000). Outro fator que alteraria a efetividade do aumento da agregação

plaquetária induzida pelo androgênio seria o tipo de androgênio utilizado, uma vez que foi

demonstrado que quanto maior a androgenicidade do esteróide utilizado, maior seu efeito na

agregação das plaquetas (JOHNSON; RAMEY; RAMWELL, 1977). O etonogestrel tem

afinidade ao receptor de androgênio, produzindo um efeito androgênico fraco através de sua

ligação com esse receptor (SCHINDLER et al., 2003), podendo, dessa maneira, modular a

agregação plaquetária através de efeitos não-genômicos nesses receptores.

O desenho do estudo em questão não permite explicar porque houve redução

transitória da agregação plaquetária com adrenalina e colágeno e ausência desse efeito com o

ADP. Uma hipótese seria que o etonogestrel exerceria suas ações apenas nas vias do colágeno

e adrenalina, não conseguindo o mesmo fenômeno com o ADP. Outros agonistas, como a

trombina, não foram testados, por isso não há como especular sobre uma possível atuação do

etonogestrel sobre a deflagração da agregação plaquetária independente da formação do

TXA2, possível de ser obtida com o colágeno e trombina.

Não se pode também elucidar a causa da redução transitória da agregação plaquetária

em um mês de uso do implante de etonogestrel. Poderia ser através de mecanismos

relacionados às plaquetas ou ao progestagênio empregado, como alteração da expressão dos

receptores de androgênio pelo etonogestrel (pelo aumento da concentração sérica de

etonogestrel até a sexta semana pós-inserção, seguido de declínio gradual ao longo do ano),

redução transitória de organelas plaquetárias (como os lisossomos ou grânulos plaquetários),

maior produção de inibidores da agregação ou alterações nas concentrações de cálcio

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intracelular. Em 2003, Polasek aventou que o potencial pró-trombótico estrogênico poderia

ser explicado em parte pela capacidade desse hormônio em aumentar a contagem de

lisossomos nas plaquetas, resultando em plaquetas “hiperativas” com maior potencial pró-

coagulante. Por analogia, o etonogestrel poderia, através dos receptores de androgênio,

reduzir de forma reversível o número de lisossomos plaquetários.

Conforme o exposto, existem diversas hipóteses que poderiam explicar os resultados

encontrados neste estudo, porém, o desenho desta pesquisa não possibilita resposta frente aos

dados obtidos. Mas corrobora para apontar a evidência da modulação do etonogestrel na

função plaquetária. Dessa forma, mais pesquisas envolvendo a função plaquetária e os

esteróides devem ser realizadas, a fim de que possamos contribuir para o entendimento do

papel dos progestagênios na hemostasia, utilizados isoladamente ou em associação com o

estrogênio.

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7 Conclusão ___________________________________________________________________________

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Os resultados deste estudo mostram, pela primeira vez, que o uso do implante de

etonogestrel está associado à redução transitória, mas significativa, da agregação plaquetária

observada após um mês de inserção do implante, a qual retorna a seus valores normais em seis

meses do uso desse contraceptivo hormonal.

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8 Referências bibliográficas ________________________________________________________________

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Este trabalho foi elaborado de acordo com: Universidade de São Paulo. Sistema Integrado de Bibliotecas. Grupo Diteses. Diretrizes para apresentação de dissertações e teses da USP: documento eletrônico e impresso / Vânia M. B. de Oliveira Funaro, coord. [et al.]. São Paulo: SIBi-USP, 2004. As referências bibliográficas foram normatizadas de acordo com: International Committee of Medical Journals Editors (Vancouver Style). Updated Oct 2001: http://www.icmje.org/index.html.

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9 Anexos ________________________________________________________________