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A Campanha de Educação de Adultos (CEA): a expansão da alfabetização de
adolescentes e adultos na Bahia na administração de Anísio Teixeira (1946 a 1949).
Eliene Rodrigues Ramos1
Gilmário Moreira Brito2
1. Introdução
O presente texto tem como finalidade analisar a expansão da alfabetização de
adultos na Bahia a partir da administração do secretário da educação e saúde Anísio
Teixeira no período de 1946 a 1949, a partir da Campanha de Educação de Adultos. A
escolarização para adultos se constitui em um campo de investigação repleto de
complexidade e com a probabilidade para descoberta de numerosos fatos
desconhecidos, no entanto, há poucos trabalhos examinando historicamente a escola
para adultos na Bahia. Em virtude disso, buscaremos entender o processo histórico no
campo da alfabetização para adultos recompondo fragmentos dispersos na
documentação. Dessa forma, o trabalho é de caráter documental e para a elaboração do
estudo utilizaremos prioritariamente fontes primárias, especificamente leis, decretos,
portarias e os relatórios do secretário da educação e saúde Anísio Spínola Teixeira,
localizadas no Arquivo Público do Estado da Bahia.
Recorrer às leis e regulamentos que regem a escola elementar, referente à
escolarização de adultos é pertinente porque é necessário entender a institucionalização
para depois analisar suas implicações. Para Faria Filho (2008: 78) “o termo
escolarização deve ser entendido em um duplo sentido, os quais estão intimamente
relacionados”:
Num primeiro, escolarização pretende designar o
estabelecimento de processos e políticas concernentes à
“organização” de uma rede, ou redes, de instituições, mais ou
menos formais, responsáveis seja pelo ensino elementar da
leitura, da escrita e do cálculo, e no mais das vezes da moral e
da religião... Em outra acepção, estamos entendendo por
1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade da Universidade
Estado da Bahia. 2 Professor Titular DEDC / PPGHRL / PPGEduC / UNEB Campus I.
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escolarização o processo é a paulatina produção de referências
sociais, tendo a escola, ou a forma escolar de socialização e
transmissão de conhecimentos, como eixo articulador de seus
sentidos e significados. (FARIA FILHO, 2008: 78)
Tomando como referência as proposições acima, pretendemos entender os
muitos significados e os elementos responsáveis pelas modificações ocorridas nas
escolas para adultos a partir da legislação, mas também, entender como as mudanças na
legislação sofreram interferência dos acontecimentos para além dos muros da escola, no
que se refere às dimensões políticas.
2 – A Campanha de Educação de Adultos
O maior responsável pelo crescimento da escolarização elementar para adultos
na Bahia, final de 1940, foi o termo celebrado entre o Ministério da Educação e Saúde e
o estado da Bahia para a execução do plano de ensino supletivo para adolescentes e
adultos analfabetos, alicerçado na campanha estadual intitulada Campanha de Educação
de Adultos. O termo é concluído em 06 de maio de 1947 e publicado no diário oficial
do estado da Bahia em 24 de maio do mesmo ano. Ao Ministério da Educação coube
fiscalizar e financiar o plano, bem como, prestar assistência técnica e fornecer material
didático. O estado da Bahia ficou encarregado de providenciar as instalações recrutar
pessoal e fiscalizar as turmas.
A meta seria distribuir 1.600 (um mil e seiscentas) classes vespertinas e noturnas
em todo o estado baiano, com duração de sete meses, de 15 de abril a 15 de dezembro
de 1947. Assinaram o acordo o Ministro da Educação, Clemente Mariani e o Secretário
da Educação e Saúde do estado da Bahia, Anísio Spínola Teixeira. Clemente Mariani e
Anísio Teixeira eram apoiadores do Manifesto dos Pioneiros da Educação, e tinham
como proposta uma reestruturação da educação formal assegurando um ensino
universal, laico, gratuito e obrigatório, para ambos os sexos, descentralizada e autônoma
(em consonância com as demandas da economia e da política). A proposta tanto do
governo federal quanto estadual era garantir às camadas populares acesso à educação.
A partir das estatísticas compreenderemos a urgência na criação de novas
classes de alfabetização. Segundo Beisiegel (1974: 80), “o recenseamento geral de 1940
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havia revelado a taxa de 55% de analfabetos nos grupos de população nas idades acima
de 18 anos”, no Brasil. Para a Bahia, o Censo Demográfico de 1940 contabilizou
1.613.337 pessoas analfabetas com 15 anos ou mais, em porcentagem, isso significa
71% dos indivíduos desse grupo. Considerando Salvador, a capital do Estado, a situação
era inversa, no entanto, 71% do grupo de pessoas de 15 anos ou mais eram alfabetizadas
(BAHIA, 1949a: 91). Daí a importância das classes para alfabetização de adultos
proliferarem no interior do estado.
O referido plano de alfabetização de adultos foi financiado com recursos da
Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos – CEAA, primeira campanha
nacional preocupada em elevar o nível social da população humilde utilizando a
educação de base como suporte, em convênio com os estados. O aumento na oferta de
vagas nas classes para adultos nos permite também interrogar as transformações
sofridas pelo objeto de análise, bem como os resultados dessa expansão.
O Departamento de Educação do Estado possuía uma Delegacia Estadual de
Educação de Adultos – DEEA, subordinada à Secretaria de Educação e Saúde,
responsável pela fiscalização e propaganda, relações com o público, administração e
cadastro, contabilidade e estatística (ver organograma abaixo).
Organograma da Delegacia Estadual de Educação de Adultos
Delegacia Estadual de Educação de Adultos
Fiscalização,
Propaganda e
Relações com o
Público.
Administração e
Cadastro.
Contabilidade e
Estatística.
Organização e Controle de
Fiscalização na Capital e
no Interior. Serviço de propaganda e
Voluntariado, Relações
com o Público.
Protocolo, Expediente,
Arquivo,
Correspondência,
Almoxarifado, Cadastro
do Pessoal, Cadastro das
Classes Supletivas.
Verificação e controle das
folhas de pagamento.
Pagamento e prestações de
contas. Boletins. Controle
de matrícula, frequência, e
do aproveitamento,
Recenseamento e
estatísticas.
SES
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Organograma reproduzido do diário Oficial de 24 de dezembro de 1947, pág. 825. Fonte: Diário Oficial
do Estado da Bahia.
A DEEA era a repartição responsável pela designação, substituição, dispensa
transferência, permuta e remoção dos professores. A existência de uma delegacia nos
permite perceber que havia uma tentativa de controlar o funcionamento permitindo
acompanhar e avaliar as classes, indicando o público-alvo, frequência mínima, dias de
aula, duração do curso e a condição de pagamento dos professores mediante a recepção
dos boletins. A DEEA possuía o poder de fiscalizar e penalizar. O primeiro se justifica
com o controle das matrículas, frequência e aproveitamento, recenseamento e
estatística, o segundo pelo poder de substituir os infratores, a exemplo dos professores
faltosos.
A instituição de uma Delegacia para supervisionar um projeto de alfabetização
com duração de nove meses implicou em assegurar um mínimo necessário para o
andamento dos trabalhos, visto que, os professores das classes para alfabetização de
adolescentes e adultos não tinham um treinamento para ministrar as aulas. Não existia
treinamento, e sim regulamento. Além disso, a Campanha de Educação de Adultos
tendia a um prosseguimento, pois, fazia parte de um programa de educação proposto
pelo governo do Estado e demonstrado em publicações do período. Reiterando,
“o programa de educação vem colocar a Bahia entre os grandes
centros educacionais civilizados, cujo programa está dentro das
intenções do governo Dr. Octávio Mangabeira, que é o de ajustar o
estado baiano no ritmo do progresso do mundo atual” (BAHIA,
1949a: 95).
Havia para a Bahia necessidade no número de oferta de vagas em razão de um
maior número de adultos analfabetos em relação a outros estados brasileiros. O estado
da Bahia procurou educar os adultos, pois, precisava compará-los aos grandes centros
civilizados. Existia também uma necessidade em participar ativamente das mudanças
ocorridas no mundo acompanhando as exigências do acelerado crescimento industrial.
Brasil apresentava uma perspectiva desenvolvimentista e a educação era vista como um
fator catalisador da economia porque qualificaria a mão de obra. As taxas de migração
do campo para a cidade cresceram demasiadamente e a preocupação era qualificar a
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mão de obra urbana, e também, tentar conter o êxodo rural. A seguir, veremos os
números de expansão dessas classes.
2 – A Expansão na oferta de vagas para as classes de adultos na Bahia.
A tabela abaixo é indispensável, para mostrar com clareza alguns dados que nos
ajudam a expor a ampliação da oferta de vagas nas classes para adultos e adolescentes
na Bahia. O plano para expansão para educação de adultos na Bahia foi celebrado em
maio, mas conforme a tabela as classes começam a ser instaladas em abril de 1947.
Fonte: Diário Oficial do Estado da Bahia. Tabela confeccionada pelos autores com dados coletados do Diário Oficial do Estado da Bahia de abril a
dez de 1947.
Assim, de abril a agosto de 1947 são estabelecidas portarias designando
professores para a regência de classes supletivas na capital, subúrbio e no interior do
estado, totalizando 1620 classes para adolescentes e adultos. Assim, no mês de setembro
o termo acordado pelo ministério da educação e secretária do estado da Bahia havia
ultrapassado a meta de 1600 classes.
De setembro a dezembro do ano de 1947 não houve designação de professores e
sim uma movimentação docente, as portarias emitiam ordens, substituindo, dispensando
e transferindo professores. No período de abril a dezembro de 1947 foram realizadas
MESES
CLASSES CAPITAL
CLASSES SUBÚRBIO
CLASSES INTERIOR
TOTAL
ABR/1947 54 17 387 458 MAI/1947 13 02 620 635 JUN/1947 15 05 303 323 JUL/1947 01 09 24 34 AGO/1947 15 07 148 170 SET/1947 - - - - OUT/1947 - - - - NOV/1947 - - - - DEZ/1947 - - - - TOTAL 98 40 1482 1620
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pela Delegacia Estadual de Educação de Adultos 109 substituições, 74 dispensas e 23
transferências. Percebe-se uma superior quantidade no que se refere à substituição de
professores. A partir da documentação encontrada verificamos apenas 15 das 74
dispensas dos professores por falta de frequência dos alunos, no entanto, a pesquisa está
em andamento. O convênio firmado com a CEAA possibilitou aumentar as classes para
adultos e adolescentes de 204 em 1946 para 1620 em 1947, em toda a Bahia, de acordo
com o relatório do secretário Anísio Teixeira, apresentado em 07 de abril de 1948.
Com base no regulamento para o funcionamento das classes para adultos na
Bahia, para lecionar eram preferidos professores diplomados e sem experiência, pessoas
com o curso secundário, pessoas com o curso ginasial, comercial ou técnico e leigo
habilitados em prova de suficiência. Em 02 de maio de 1947, a portaria de nº27
estabelece instruções para aos professores das classes de adultos e adolescentes
analfabetos. Instituindo 15 comandos para a organização das classes. Foram os
seguintes:
1. Admitir apenas analfabetos; 2. A frequência média seria de 25 alunos, sob a penalidade de fechamento da turma; 3. As aulas seriam de segunda a quinta; 4. Três horas-aula diárias; 5. Os professores faltosos seriam substituídos; 6. Para as classes reunidas, separar sempre que possível adolescente e os sexos; 7. Deveriam ser registrados os alunos egressos após a 1ª remessa, bem como os eliminados
e evadidos; 8. 15 de junho do mesmo ano seria a data de encerramento da matrícula; 9. Os delegados, instituídos pelo estado, deveriam verificar os boletins; 10. Os professores deveriam avisar qualquer irregularidade ao superior a que o professor
estivesse subordinado; 11. Ao professor cabia também preencher os boletins no SEA ou na diretoria da escola; 12. O professor teria que ser assíduo e pontual, fazendo jus à percepção de seus honorários. 13. Quinzenalmente aos sábados os professores recebiam sua gratificação pela autoridade
receptora dos boletins (para a capital e subúrbio); 14. No interior o pagamento era feito por agências bancárias, ou no SEA. Na falta dos dois
pela autoridade receptora dos boletins; 15. Qualquer modificação seria publicada posteriormente.
Portaria nº27, de 02 de maio de 1947. Fonte Diário Oficial do Estado da Bahia.
Os comandos acima possibilita observar algumas características na condução das
aulas, assim, podemos presumir que a motivação para separar adolescentes por idade e
sexo pode proporcionar um maior rendimento escolar, visto que, as aulas podem ser
direcionadas para uma classe mais homogênea. Dessa forma, acreditamos que muitas
dessas classes eram multisseriadas, até mesmo porque, essas classes são chamadas de
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reunidas, cuja peculiaridade é reunir duas ou mais classes sob o auxílio de uma única
professora. No décimo primeiro comando acima, “cabia aos professores preencher os
boletins no SEA ou na diretoria da escola”, nos mostra indícios dessa escolarização fora
dos muros da escola. A documentação analisada reforça essa afirmativa quando designa
professores das classes de alfabetização para adolescentes e adultos para as igrejas
(paróquia de São Bento/capital), e sindicatos de operários espalhadas pelo interior do
estado. Não havia prédios escolares, para abrigar a expansão da escola elementar
proposta pelo governo do estado.
Então, em 1947, secretário da educação e saúde Anísio Teixeira montou um
plano de arquitetura para a construção de três tipos de prédios para a escola com o
intuito de organizar o ensino elementar, na Bahia, de forma racional, visto que, não
havia recursos financeiros para construir com brevidade todas as escolas necessárias. O
prédio mais simples era para a escola provisória para pequenos povoados, em casos
excepcionais seria “um simples galpão, admitindo-se qualquer cobertura” ou o prédio
mínimo definitivo com, pelo menos, três salas de aula, uma de trabalhos manuais, uma
biblioteca e salas de administração. O segundo tipo denominava-se escola semi-
provisórias, com prédios nucleares de material mais duradouro, prevendo possibilidade
de extensão, com um mínimo de seis salas, biblioteca, auditório, e as dependências
administrativas. Por último, a escola permanente, chamada de compreensiva construída
em localidades com no mínimo cinco mil habitantes. Para esses prédios seriam
construídas mais de doze salas, auditório, biblioteca, capacidade para atender cursos
para adultos, agências de informação, professores, administradores, e recursos para
educação física e jogos.
Para executar esse plano de uma escola mínima para cada povoado e zona rural,
uma escola nuclear para cada distrito e uma escola compreensiva para cada sede dos
municípios, o estado da Bahia possuía recursos financeiros advindos do governo federal
através da CEAA. Assim, o então secretário da educação e saúde, Anísio Teixeira,
declara em seu relatório de 1949, que durante os anos de 1946 e 1947 e 1948, foram
construídas um total de 528 escolas. Ver tabela abaixo:
Construções Números
8
Construções novas em estabelecimentos já existentes 07
Conclusões de obras de exercícios anteriores 18
Obras em curso de exercícios anteriores 22
Novas construções 33
Escolas rurais em cooperação com o Governo Federal 1946/1947 258
Escolas rurais em cooperação com o Governo Federal 1948 180
Grupos escolares 10
Total 528
Fonte: Diário Oficial do Estado da Bahia. Tabela confeccionada pelos autores com dados coletados do Relatório do secretário de educação e saúde
da Bahia, Anísio Teixeira do ano de 1949.
Podemos perceber que a administração do secretário da educação e saúde deu
continuidade às construções de prédios escolares das administrações anteriores. Anísio
Teixeira declarou dar início à instalação de um ensino popular. E mostra os números de
escolas da gestão anterior.
Ao iniciar-se o atual período de governo, havia na capital 4
prédios escolares dignos dêste nome nestes prédios 35 salas.
Portanto, havia instalações para 70 classes, ou sejam, 2.800
alunos, na base da classe de quarenta. Em todo o interior, havia
64 prédios escolares, com 240 salas. Portanto, instaladas,
tínhamos escolas para 22.000 crianças. A população escolar da
capital é, no mínimo, de 32.000 alunos e, no interior, de
430.000. Faltavam, assim, escolas que pudessem ser chamadas
escolas para 440.000 alunos (BAHIA: 1949b; 18).
Anísio Teixeira não alcançou o número de construções escolares para atender
toda a demanda da escola elementar, mas conseguiu construir 33 novas escolas, no
interior do estado, dentre elas 10 escolas mínimas, 17 escolas nucleares, e 2 grupos
escolares, aliadas a 438 escolas rurais de apenas um teto, com terreno de até um
hectare, contemplando algum trabalho agrícola. As escolas rurais foram construídas
com auxílio do Governo Federal a partir da CEAA. No que compete a escola de adultos
com o auxílio do Governo Federal, “elevou-se o número dessas classes a 2.085 com a
matrícula de 85.543 adultos e adolescentes” (BAHIA: 1949b; 29), em 1948, com
promessa de manter o ritmo da campanha ampliando o número de classes supletivas.
Segundo o relatório do secretário da educação e saúde, Anísio Teixeira, de 1946
a 1947, duzentas e cinquenta e oito era o saldo positivo de escolas elementares no
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estado, construídas e em construção para todo o território baiano. Essas novas escolas
acolheram as classes para adultos e adolescentes em todo o estado. Sobre a Campanha
de Educação de Adultos, Anísio declara no relatório:
Os resultados dessa campanha são conhecidos e, a
despeito das naturais dificuldades e da corajosa
improvisação da sua organização, foram de modo geral
positivos. A necessidade preliminar do serviço de
educação de adultos está em vias de ser atendida.
Ensinar é o princípio de toda a campanha educativa.
(BAHIA: 1948; 17)
A partir da “corajosa improvisação” proferida na fala do Secretário da Educação
para caracterizar a Campanha de Educação de Adultos conseguimos perceber que havia
um cuidado em alfabetizar o adulto com as possíveis condições do momento. A CEAA
na Bahia foi intitulada, Campanha de Educação de Adultos, mas a partir dos comandos
para o seu funcionamento podemos visualizar que foram admitidos alunos adolescentes
de ambos os sexos. A preocupação maior, na Bahia era com o público adulto. No
projeto nacional da CEAA havia uma atenção com a iniciação profissional dos jovens.
Apesar do direcionamento nacional da campanha, no caso da Bahia, na documentação
analisada não encontramos indícios de uma escolarização específica para o adolescente.
Por isso a importância de analisar as especificidades da CEAA na Bahia.
Inicialmente, durante uma leitura transversal da documentação, antes de analisar
consideravelmente as fontes presumiu-se que as classes de alfabetização de adultos do
final de 1947 seriam constituídas nas áreas do recôncavo e sul da Bahia. Essa hipótese
foi pensada a partir da afirmação da produção agrícola do fumo, cacau e açúcar e
consequentemente o interesse político em alfabetizar seus trabalhadores. Porém, a
Campanha de Educação de Adultos foi além, os ares de mudanças na infraestrutura e
nas finanças na Bahia, estimulou no final de 1947 a expansão das classes de
alfabetização de jovens e adultos para ser estabelecida em grande parte do território
baiano. Assim, conforme as portarias expedidas pela DEEA analisadas, podemos citar
as cidades de Ipirá, Paramirim, Correntina, Barreiras, Gandu, Mucugê, Alcobaça,
Xique-Xique, Alagoinhas, Jequié, Campo Formoso, Camaçari, Feira de Santana,
Brumado, Barra, Vitória da Conquista.
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Então, qual a relação dessas classes para alfabetizar adolescentes e adultos com
o trabalho? Podemos afirmar que existe uma relação direta entre escola e indústria? É
possível que a educação de adultos na Bahia estivesse também ligada ao labor, na
indústria e fora dela. Para ilustrar essa afirmação, encontramos designação de
professores para uma classe de alfabetização de adultos no hospital Santa Isabel, na
capital do estado, através da portaria Nº04 em 18 de abril de 1947 e diversas
designações para professores assumir cadeiras nas classes de alfabetização de adultos
nas vilas de operários em alguns municípios no interior do estado, a exemplo da classe
da Sociedade Mútua União dos Operários do Nazaré – Nazaré das Farinhas, através da
portaria de nº49 de 30 de maio de 1947. Tecendo conexões sobre questões relativas à
modernização da industrialização e ampliação da escolarização para adultos na Bahia, o
aumento da oferta de vagas para a educação elementar de adultos coincide com o
desenvolvimento das indústrias na Bahia a partir do final da década de 1940.
No dia 13 de novembro de 1947, a DEEA baixa uma instrução no diário oficial
do estado, com divulgação também no rádio, para prosseguimento, em 1948, da
Campanha de Adultos, com classes para adolescentes e adultos analfabetos de
continuação ou correspondentes a um segundo ano. Os alunos das referidas classes
seriam submetidos a uma avaliação sobre conhecimentos preliminares de leitura, da
escrita e da aritmética, segundo a orientação comum do ensino elementar, ou seja, seria
promovido para o segundo ano do ensino supletivo, os alunos que dominassem o Guia
de leitura, escrevessem um pequeno ditado, ou formassem algumas sentenças por
escrito, e que resolvessem problemas rudimentares sobre as quatro operações. Fazendo
um inventário das classes para a alfabetização de adultos a Revista Quatro Séculos de
História na Bahia, publicada em 1949, declarou em 1947 a instalação de 1.635 classes
(na documentação analisada encontramos 1620 classes para o respectivo ano), no ano
1948, 2.085 unidades escolares e para o ano seguinte 2.135 classes para a alfabetização
de adultos em todo o território baiano.
4 – Considerações Finais
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A Campanha de Educação de Adultos – CEA foi responsável por uma
significativa expansão na oferta de vagas nas classes de alfabetização de adultos na
Bahia, na administração do secretário de educação e saúde Anísio Teixeira. Proveniente
de um acordo entre o ministério da educação e o estado, com recurso federal da
Campanha de Educação de Adultos superou as expectativas.
É apropriado também afirmar que apenas a aprovação de um ato, uma lei ou
decreto não garante o seu cumprimento e sua respectiva criação de escolas ou classes de
alfabetização. No caso do objeto em estudo, verificamos, no que diz respeito ao
quantitativo, não só o cumprimento da lei, mas também um excedente no número de
classes para educação de adultos na Bahia. Foram previstas 1600 classes para o ano de
1947, e na documentação analisada contabilizamos 1620 classes de alfabetização de
adultos. A construção de novos prédios escolares, principalmente na zona rural
representou outro modo de agregar relevância à campanha, mesmo não atendendo às
necessidades do estado da Bahia no deficit de vagas para a escola elementar.
Nossa intenção foi demonstrar que a legislação pode ser problematizada
procurando entender os processos que as constituiu, em que contexto e quais as
necessidades de ampliação de uma escola para adultos. A legislação é uma proposta
que, quase sempre, surge exterior à escola, mas representa aspirações dos legisladores,
no entanto, nem sempre é aplicada como descrito, muitas vezes são ignoradas,
ressignificadas e até mesmo não possuem recursos materiais e humanos para execução,
mas a ausência da legislação impossibilita a compreensão da dimensão de análise do
processo histórico. Dessa forma, esperamos contribuir com a História da Educação
enriquecendo a discussão sobre a Educação de Adultos na Bahia trazendo elementos
significativos e preenchendo possíveis lacunas.
Referências
BAHIA: Portaria nº27, de 02 de maio de 1947. Baixando instruções para as professoras
de classe de adultos e adolescentes analfabetos. Biblioteca Pública do Estado da Bahia.
Diário Oficial, maio de 1947. Salvador-BA, 1947.
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BAHIA: Quatro Séculos de História da Bahia. Álbum de Comemoração do 4º
Centenário/publicado pela Revista fiscal da Bahia. Centro de Estudos Baianos da
Universidade Federal da Bahia. Localização 94(813.8)Q2. Salvador – Bahia, 1949b.
BAHIA: Relatório do secretário, Sr. Anísio Teixeira, anexo à mensagem apresentada
pelo Dr. Otávio Mangabeira, governador do estado da Bahia, à Assembleia Legislativa,
por ocasião da abertura dos trabalhos de sua reunião extraordinária, em 07 de abril de
1949a. Arquivo Público do Estado da Bahia – Biblioteca. 1949.
BAHIA: Relatório do secretário, Sr. Anísio Teixeira, anexo à mensagem apresentada
pelo Dr. Otávio Mangabeira, governador do estado da Bahia, à Assembleia Legislativa,
por ocasião da abertura dos trabalhos de sua reunião extraordinária, em 07 de abril de
1948. Biblioteca Pública do Estado da Bahia. 1949.
BAHIA: Termo de acordo celebrado entre o Ministério da Educação e Saúde e o Estado
da Bahia para execução do plano de ensino supletivo para adolescentes e adultos
analfabetos. Biblioteca Pública do Estado da Bahia. Diário Oficial, 24 maio de 1947.
Salvador-BA, 1947.
BEISIEGEL, Celso de Rui. Estado e Educação Popular: um estudo sobre a educação
de adultos. São Paulo: Pioneira, 1974.
FARIA FILHO, Luciano Mendes de. O processo de escolarização em Minas Gerais:
questões teórico-metodológicas e perspectivas de pesquisa. IN : FONSECA, Thais
Nivia de Lima e ; VEIGA, Cynthia Greive. História e Historiografia da Educação no
Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.