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Introdução; 2. Apresentação; 3. O futuro do capitalismo americano. Eduardo Matarazzo Suplicy* * Professor do departamento de Econo- mia da Escola de Administração de Em- presas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas. R. Adm. Emp., Rio de Janeiro, 1. Introdução Os que forem estudar economia, hoje, nas princi- pais uníversldcdes americanas vão deparar-se com um fato relativamente novo: diversos professores e um número crescente de estudantes pós-gradua- dos não aceitam mais a cnólise econômica conven- cionaI, neoclássica, sem fazer radicais transforma- ções. Estão à procura de um novo paradigma que explique melhor os fenômenos econômicos, políti- cos e sociais do mundo contemporâneo. A palavra paradigma denota o conjunto de teorias, valores, etc. no quol se baseia o trabalho de uma comuni- dcde científica específica, no caso, os economis- tas. A origem desse movimento pode ser ilustrada pelo testemunho de três professores da Harvard University, os quais expressam, no prefácio do livro The capitalist system, a radical analysis of Ameri- can society, a forma pela qual suas vidas foram afe- tadas pela participação em movimentos políticos: "No início e no' meio da década de 60, nós éra- mos estudantes universitários preocupados com a necessidade de reformas sociais. Naquela época, culpávamos os resultados das eleições, a incompe- tência ou a estupidez burocrática como responsá- veis pelos males sociais. Na segunda metade da década de 60, estávamos estudando economia orto- doxa (Weisskopf no MIT, Edwards and Reich na Horvord), e, ao mesmo tempo, participávamos nas lutas da época contra o racismo, a pobreza e a guer- ra do Vietnã. Este talvez tenha sido o período mais fragmentado de nossas vidas: estávamos estudando uma disciplina bem estabelecida e sofisticada, mas ficávamos cada vez mais conscientes de quão ina- dequada ela era. Não somente negava ou ignorava a maior parte de nossas preocupações políticas, mas, pior ainda; constituía um sistema de crenças que justificava o status quo ao defender o sistema capitalista."! Os novos economistas radicais estão publicando inúmeros livros e artigos. Suas principais contribui- ções saem regularmente na Review of Radical Polit- ical Economics, publicada pela Union of Radical Political Economics. Essa organização, fundada quatro anos, possui hoje 1.600 membros entre pro- fessores e estudantes, os quais vêm organizando diversos seminários e simpósios nas universidades, onde procuram alertar a consciência dos estudantes para os pontos de vista que acham importantes. Os economistas radicais acreditam que o paradigma ortodoxo não é apropriado para tratar de questões de distribuição de renda, pobreza, racismo, "sexis- mo", imperialismo, desenvolvimento econômico e social no terceiro mundo, alienação dos trabalhado- res, etc. Criticam o paradigma neoclássico por assumir como constante aquilo que está mudando 49 12(4) : 49·59, out./dez. 1972 Os novos economistas radicais nos Estados Unidos da América

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Page 1: 1. Introdução · capitalismo e seus efeitos, o qual durou quatro dias e foi assistido por aproximadamente mil univer-sitários e professores. Também fora das universi-

Introdução;

2. Apresentação;

3. O futuro do capitalismo americano.

Eduardo Matarazzo Suplicy*

* Professor do departamento de Econo-mia da Escola de Administração de Em-presas de São Paulo, da Fundação Getulio

Vargas.

R. Adm. Emp., Rio de Janeiro,

1. Introdução

Os que forem estudar economia, hoje, nas princi-pais uníversldcdes americanas vão deparar-se comum fato relativamente novo: diversos professorese um número crescente de estudantes pós-gradua-dos não aceitam mais a cnólise econômica conven-cionaI, neoclássica, sem fazer radicais transforma-ções. Estão à procura de um novo paradigma queexplique melhor os fenômenos econômicos, políti-cos e sociais do mundo contemporâneo. A palavraparadigma denota o conjunto de teorias, valores,etc. no quol se baseia o trabalho de uma comuni-dcde científica específica, no caso, os economis-tas.

A origem desse movimento pode ser ilustradapelo testemunho de três professores da HarvardUniversity, os quais expressam, no prefácio do livroThe capitalist system, a radical analysis of Ameri-can society, a forma pela qual suas vidas foram afe-tadas pela participação em movimentos políticos:

"No início e no' meio da década de 60, nós éra-mos estudantes universitários preocupados com anecessidade de reformas sociais. Naquela época,culpávamos os resultados das eleições, a incompe-tência ou a estupidez burocrática como responsá-veis pelos males sociais. Na segunda metade dadécada de 60, estávamos estudando economia orto-doxa (Weisskopf no MIT, Edwards and Reich naHorvord), e, ao mesmo tempo, participávamos naslutas da época contra o racismo, a pobreza e a guer-ra do Vietnã. Este talvez tenha sido o período maisfragmentado de nossas vidas: estávamos estudandouma disciplina bem estabelecida e sofisticada, masficávamos cada vez mais conscientes de quão ina-dequada ela era. Não somente negava ou ignoravaa maior parte de nossas preocupações políticas,mas, pior ainda; constituía um sistema de crençasque justificava o status quo ao defender o sistemacapitalista."!

Os novos economistas radicais estão publicandoinúmeros livros e artigos. Suas principais contribui-ções saem regularmente na Review of Radical Polit-ical Economics, publicada pela Union of RadicalPolitical Economics. Essa organização, fundada háquatro anos, possui hoje 1.600 membros entre pro-fessores e estudantes, os quais vêm organizandodiversos seminários e simpósios nas universidades,onde procuram alertar a consciência dos estudantespara os pontos de vista que acham importantes. Oseconomistas radicais acreditam que o paradigmaortodoxo não é apropriado para tratar de questõesde distribuição de renda, pobreza, racismo, "sexis-mo", imperialismo, desenvolvimento econômico esocial no terceiro mundo, alienação dos trabalhado-res, etc. Criticam o paradigma neoclássico porassumir como constante aquilo que está mudando

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12(4) : 49·59, out./dez. 1972

Os novos economistas radicais nos Estados Unidos da América

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e por tomar como dado justamente o que deve serdiscutido e avaliado. Acham que o paradigma or-todoxo não descreve corretamente m~itos aspec-tos da sociedade e que nada ou pouco nos diza respeito de como construir uma sociedade me-lhor. Eles sugerem que outras categorias _ taiscomo o bem-estar material, a eqüidade na distribui-ção de recursos, as respostas das instituições às ne-cessidades humanas, as características históricas dasociedade, o desenvolvimento humano, o desenvol-vimento comunitário e a harmonia do homem comseu meio - formam uma estrutura dentro da qualé possível conduzir-se uma análise das questões so-ciais que são obscurecidas pela economia ortodoxa.Eles dão grande importância ao estudo de uma eco-nomia política que não esteja preocupada em con-servar a ordem existente. Acham que o cientistasocial deve considerar imutável um número mí-nimo de instituições sociais e de características hu-monos."

Além disso, os economistas radicais acreditamque precisam viver de acordo com os valores hu-manistas que estão por trás dessa visão da economiapolítica. Na qualidade de professores, procurameliminar o autoritarismo, praticando ideais dernocró-ticos. Procuram eliminar o que chamam de elitismoem suas pesquisas, ao tentar desmistificar a análiseeconômica. Procuram envolver-se na luta política,em busca de mudança social. Preferem ter um es-tilo de vida menos individuqlistn, mais comunitórlo,o que consideram mais natural.

Um recente artigo de primeira pagina no WallStreet Iourrol, principal publicação dos meios fi-nanceiros nos EUA traz o título liAs Idéias NãoOrtodoxas dos Economistas Radicais Ganham MaiorAudiência - Críticos do Capitalismo Ensinam eConferenciam com seus Colegas. a Respeito dosMales da Sociedade Americonc"." O artigo relatacomo o movimento espalhou-se pelas universidades.Hoje, a Harvard University tem cinco professoresde economia radicais, a Columbia University temsete, a Michigan State Universitv tem quatro, aAmerican University tem oito num departamentode 16 professores, e assim por diante. Em universi-dades onde há poucos professores radicais _ comoem Stnnford, onde há apenas dois - muitas vezeshá um grande grupo de estudantes pós-graduadosque se consideram não convencionais ou radicais.Na Stanford University, uns 20 alunos pós-gradua-dos participam semanalmente de um seminário emeconomia política. Em fevereiro de 1972 organiza-ram um simpósio sobre a natureza internacional docapitalismo e seus efeitos, o qual durou quatrodias e foi assistido por aproximadamente mil univer-sitários e professores. Também fora das universi-dades os novos economistas estão sendo ouvidos.

Revista de Administração de Empresas

Pela primeira vez, em 29 de fevereiro de 1972[o Comitê Econômico do Congresso dos EUA con-vocou três representantes desse movimento, Dou-glas F. Dowd, da Cornell University e do San JoséState College na Colifómío, B. Bluestone, do BostonCollege e H. Shermon, da University of California,Riverside. Foram convidados a exporem seus pontosde vista durante a preparação da discussão do rela-tório anual do Presidente Nixon."

Depois de menosprezar os radicais por algumasdécadas, os economistas tradicionalmente conserva-dores estão passando a escutá-los com maior res-peito. Oito membros da Union for Radical PoliticalEconomics foram convidados a apresentar trabalhosna última convenção da American Economic As-sociation. A Prof.? Joon Robinson, considerada comoa mais destacada economista não convencional daInglaterra, foi convidada especial do atual presiden-te da American Economic Association, John K. Gal-braith, para proferir a conferência de honra da con-venção. Joan Robinson falou da segunda crise dateoria econômica e referiu-se ao estado da economiaamericana no início dos anos 70.

Mesmo os economistas convencionais das maisvariadas faixas acham que os novos economistasestão contribuindo de forma importante para ummelhor entendimento da sociedade americana. Se-gundo o economista conservador Milton Friedman,da Universidade de Chicago, "os radicais estãorealizando a função importante de acabar com omito de que a solução para todos os problemas estáem se aumentar os gastos governamentais".5 Oeconomista liberal, Prêmio Nobel, Paul A. Samuel-son, do Massachusetts Institute of Technology, dizque 1I0S economistas radicais constituem hoje umaimportante tendência dentro da universidade ame-riconc", "um movimento sério de pesquisa do qualmuito se ouvirá falar no futuro". Samuelson aindaafirma o seguinte:

"Poro minha tese, não é necessono que maisdo que 10 ou 20 % da população estudantil passempor uma mudança em suas consciências. A maiorparte do mundo nunca muda, mas continua noscaminhos traçados por seus pais. Assim o foi atra-vés do período em que o Japão se abriu para omundo exterior. Assim o foi na Rússia czarista,através da revolução de 1905 e até a transformaçãode 1917: lendo as novelas sobre a vida ~ussa e ascartas dos asilados políticos tem-se uma visão dis-torcida do que a grande parte da população estápensando e fazendo; mas se consegue obter umquadro útil daquilo que os que traçam os caminhosdas ideologias e opiniões estão pensando sobre ofuturo.1I6

Os novos economistas radicais americanos sãoextremamente críticos da URSS e da Europa Orien-

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tal - onde há um sistema de socialismo de Estadoem que as burocracias operam indústrias estatais deforma centralizada. Acham que o socialismo de Es-tado não serve para promover os valores de coopera-ção igualitária, participação no controle e a liberda-de individual que consideram como parte importantede seus ideais. Acreditam que a tendência à hierar-quia e à centralização reduz a base tanto para aliberdade como para a prática e a ética da coope-ração voluntária. Alguns economistas pensam naconstrução de uma "comunidade pluralista" comobase para uma alternativa socialista nos EUA.1 Ou-tros são entusiastas do sistema luqoslcvo," mas mui-tos acham que os problemas que ocorrem no siste-ma de propriedade privada começaram a desenvol-ver-se também na Iugoslávia. Ainda outros econo-mistas radicais americanos acreditam que a Chinaestá no caminho mais correto de desenvolvimento.

As inúmeras e recentes reportagens sobre a Chinanos jornais e na televisão americana aumentaramo ânimo dos jovens rcdicois, apesar de conscientesdos trágicos acontecimentos que acompanharam osanos de contínua revolução. Essas reportagens têmmostrado a virtual eliminação da miséria e fomede todos os chineses, quase 800 milhões, em con-traste com filmes dos anos 40[ quando o povo chi-nês era um dos mais subnutridos e miseráveis domundo. Têm mostrado que, embora ainda vivendoem simplicidade, os chineses têm obtido substan-ciais aumentos nos padrões de consumo, educoçõo,saúde, serviços sociais e segurança econômico, e[ao mesmo tempo, distribuído tais benefícios portoda a população. Importante para os novos econo-mistas é que a China demonstrou que a prosperi-dade nacional não precisa ser fundamentada namaximização do interesse indivlduol, como propu-nha a doutrina convencional que vem seguindoAdam Smith há dois séculos." Esses novos econo-mistas também não admitem que nos EUA, comuma renda per capita aproximadamente 50 vezesmaior do que a da Chino, ainda possa haver cercade 5 % dos 210 milhões de americanos em estadode subnutrição e fome. lO A grande limitação, porém,do sistema chinês está no regime político dltotoriol,o que o torna inaceitável para os cmeríccnos, quevalorizam sobremaneira todos os elementos da de-mocracia.

Não há dúvida de que o Brasil vem surpreenden-do tanto os meios financeiros como os meios acadê-micos, inclusive os economistas rcdícols, com astaxas extraordinárias de crescimento obtidas nosúltimos cinco anos. O Brasil tem sido mesmo assun-to intensamente debatido nos seminários de econo-mia, convencional ou não. Alguns acadêmicosacham que o milagre econômico brasileiro começaa rivalizar-se com o precedente clernõo, ou com o

japonês. Como no caso olernõo, alguns professoresnotam o maior papel dado às forças de mercado ea maior liberdade e apoio dado ao setor privado.

No entonto, a forma pela qual os benefícios dodesenvolvimento brasileiro são distribuídos entre osque estão colaborando em tal esforço, vem sendomotivo de severas críticas por parte de muitos eco-nomistas, mesmo não radicais. O Prof. Albert Fish-low, da Universidade da Califórnia, Berkeley, o qualprestou assessoria ao Governo Brasileiro diversasvezes, apresentou um trabalho a respeito na últimaconvenção da American Economic Association.Observa que os resultados preliminares do censode 1970 mostram que, lamentavelmente, a desi-gualdade de renda no Brasil aumentou ao longodos anos 1960-70. "O estrato superior de 3,2%da força de trabalho comandava 33,1 % da rendaem 1970, em comparação com aproximadamente27 % em 1960." Os dados também indicam queem 1960, os 76% mais pobres da população ativano Brasil recebiam aproximadamente 34 % da ren-da enquanto que, em 1970, os 76% mais pobresrecebiam menos do que 29 % da renda brasileira.Fishlow analisa os atuais instrumentos de políticaeconômica utilizados pelo governo brasileiro, che-gando à conclusão de que eles não irão favorecermaior eqüidade. Pelo contrário, segundo sua aná-lise, tendem a resultar em concentração de rendasainda molor.?

Para que o modelo brasileiro de desenvolvimentose torne clara refutação ao desafio dos novos econo-mista,s radicais é necessário que essas tendênciasna distribuição dos b~efícios do progresso sejamrevertidas. Segundo os rodíccis, é possível que con-tinue o dinamismo da economia brasileira por muitotempo. Devido às suas características, porém, será,preciso continuar o concomitante processo políti-co fechado e não democrático.

Finalmente, o outro fato que impressiona o es-tudante brasileiro nos EUA é a incrível vitalidadeda democracia americana. O debate das idéias éinteiramente aberto, em todos os canais de comu-nicação. No campo da economia, por exemplo, ve-rifica-se o intenso debate entre as idéias das esco-las representadas por Milton Friedman, defensordo lassez-faire e da menor intervenção estatal pos-sível; por Paul A. Samuelson, que admite a inter-venção estatal e defende um sistema capitalistamisto; e por John K. Galbraith, que vê a necessi-dade de extensos controles sobre preços, salários,etc., como partes integrantes do "Novo Estado In-dustrial". Essas três escolas estão agora aceitandoo debate com os novos economistas rcdlccis, osquais analisam severa e abertamente os problemasda sociedade americana e propõem-se a construirum novo mundo.

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2. Apresentação

o Prof. John G. Gurley, da Universidade de Ston-ford, na Califórnia, é hoje um dos mais des-tacados membros da Union for Radical PoliticalEconomics, nos EUA. Foi editor da American Eco-nomic Review, a mais importante revista americanade economia, de 1962 a 1968. Por muitos anos foiconsiderado um economista ortodoxo e de grandeexpressão, graças a uma obra que se tornou ummarco pioneiro em teoria monetária: Money in atheory of finance/2 em co-autoria com o Prof.Edward Shaw. Esse livro analisa o papel dos inter-mediários financeiros na economia de um país.

Nos últimos anos, o Prof. Gurley tornou-se umeconomista não convencional e deixou de lado aspremissas ortodoxas. Desde o desenvolvimento daguerra do Vietnã, o Prof. Gurley começou a anali-sar os objetivos da política econômica do GovernoAmericano, não mais em termos simplesmente dese alcançar as metas de pleno emprego, crescimen-to econômico, estabilidade de preços e equilíbriona balança de pagamentos. Achou que precisavainserir outros fenômenos na análise convencional,como, por exemplo, o desejo de maximizar a áreado mundo aberta para o comércio e os investimen-tos internacionais. O futuro do capitalismo ameri-cano é uma análise das forças internas e internacio-nais que estão afetando os lucros das grandes em-presas omeríconos e a forma pela qual a políticado Governo Americano vem reagindo a essas forças.

Muitos poderão discordar das opiniões e previsõesdo Prof. Gurley, o qual lida com temas de grandescontrovérsias. Certamente, porém, se sentirão esti-mulados a discutir suas idéias, assim como O fazemas centenas de alunos que assistem suas aulas. Oscursos Economia I e A tradição marxista e radical,lecionados pelo Prof. Gurley, estão entre os demaior número de matriculados na Universidadede Stanford.

Outros trabalhos publicados pelo Prof. Gurleyincluem: The new man in the new China. The Cen-

52 ter Magazine, v. 3, n. 3, May 1970; Maoist eco-nomic development. Review of Radical Political Eco-nomics, outumn 1970; Hacia una teoria de lasestructuras financieras y el desarrollo económico. In.Estructura financiera y desarrol/o econômico, edita-da por 0.5. Brothers et alii Buenos Aires, InstitutoTorcuato Di Tella, 1968.

3. O futuro do capitalismo americano

John G. Gurley

As tendências e os acontecimentos econômicos dosúltimos 25 anos e, especialmente, os dramáticos

Revista de Administração de Empresas

eventos do ano que passou, deveriam dar-nos algu-mas indicações a respeito do que está acontecendocom o capitalismo americano e qual poderá ser seufuturo. Oferecerei, portanto, minha interpretaçãodo que tem ocorrido no período de pós-guerra e daítentarei fazer algumas predições.

O objetivo primordial de todos os governos capita-listas é a preservação e a fortificação do capitalis-mo - isto é, do sistema de empresa privada. Emnossa economia isso significa que as sucessivasadministrações de pós-guerra, acima de tudo, têm-se preocupado com o bem-estar das empresas priva-das e, principalmente, embora não exclusivamente,têm-se engajado na promoção do bem-estar depoucas centenas de gigantes industriais, comerciaise financeiros, que definem e formam a economiados EUA. Como o melhor indicador do bem-estardessas grandes corporações são seus lucros, umapreocupação básica dos governos americanos temsido o estabelecimento do ambiente mais favorávelpossível para a realização desses lucros, tanto nosEUA quanto no exterior.

Na área doméstica, os governos de pós-guerratem promovido o lucro das corporações por meiode políticas de crescimento e de pleno emprego.Essas têm consistido principalmente de políticas fis-cais e monetárias, designadas a obter uma crescen-te procura agregada por bens e serviços, a qual,no entanto, tem sido mantida dentro de limites, deforma a não gerar demandas por salários I/exces-sivos" ou "não razoáveis". Em média, essa políticatem exigido uma taxa de desemprego ao redor de5% - 'provavelmente 7 ou 8%, se se considerarcomo desempregados aqueles que já desistiram defazer parte da força de trabalho. Assim, uma re-serva considerável de desempregados tem sido dei-xada à margem durante grande parte do pós-quer-ra, de forma a moderar os pedidos de salários e afortalecer a disciplina de trabalho.

Na frente internacional, o comércio e, princi-palmente, os investimentos americanos no exterioraumentaram enormemente no mundo capitalistadurante o pós-guerra e tornaram-se cada vez maisimportantes como uma fonte de lucros para as cor-porações americanas. Os sucessivos governos ameri-canos protegeram e promoveram essas lucrativasatividades internacionais pela política geral de man-ter o máximo possível do mundo aberto para ocomércio, o investimento e a aquisição de maté-rias-primas por parte das corporações gigantes.

Esse objetivo foi perseguido por meio da ajudaeconômica a governos "amigos" {isto é, aqueles quesão receptivos 00 investimento e comércio ameri-

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cano, ou aqueles que estão em posições estratégicaspara atender os objetivos globais dos EUA), em par-te para fortalecê-los economicamente, em partepara apoiar uma infra-estrutura para a empre-sa privada americana, e em parte para aumentar osmercados de exportações para corporações america-nas. As administrações de pós-guerra também es-tenderam a ajuda militar aos governos "amigos",com o objetivo de estimular a produção de armas ede aviões das empresas americanas e de protegeresses governos clientes de uma oposição militante,por parte de alguns, em seus próprios países. Alémdisso, os EUA têm conduzido operações de con-tra-insurreição através do mundo capitalista sub-desenvolvido, e, quando tudo o mais tem falhado,têm usado a força militar na. persecução de seuobjetivo básico - a maximização da área do mundoque deve ficar aberta para as atividades lucrativasdas corporações.

O fato é que os lucros das corporações, duranteo período de pós-guerra, têm sido crescentementeameaçados por forças nacionais e internacionais etêm sofrido bastante nos últimos cinco anos (1967-1971), diminuindo em termos reais, uma vez des-contados os impostos, de aproximadamente 25%.Esse é o fato crucial para a compreensão da neces-sldode premente das novas políticas econômicas.

A enorme superioridade do capitalismo america-no no período que logo sucedeu à II Grande Guerratem sofrido uma grande erosão nos últimos 20 anos,por parte de duas forças internacionais. A primeiraé a expansão do mundo comunista e o fortaleci-mento de sua capacidade econômica e militar. Essacombinação tem reduzido a área de atividade capi-talista lucrativa e, ao mesmo tempo, tem aumen-tado o custo para os EUA de evitar que gruposnacionalistas militantes e movimentos socialistas ga-nhem outras peças vitais do capitalismo global.A outra principal força contra os EUA tem sidoo crescimento espetacular de seus principais com-petidores capitalistas - em particular o Japão,a Alemanha Ocidental e o Mercado Comum. Essasduas forças em conjunto têm tornado a realizaçãode lucros internacionais por parte das empresasamericanas cada vez mais cara, difícil e sujeita ariscos e elas têm enfraquecido a posição interna-cional dos EUA.

Na esfera doméstica, a principal ameaça contraos lucros das corporações americanas tem sido acrescente habilidade dos trabalhadores em obteraumentos de salários maiores do que os ganhosem produtividade. Esses aumentos de salários têmfeito com que as corporações aumentem repetida-mente os preços das mercadorias na tentativa derestaurar seus lucros. Isto tem-se tornodo cada vezmais difícil, virtualmente impossível nos últimos

anos, em face da deterioração da situação inter-nacional e de políticas domésticas deflacionárias,as quais têm tentado, mas não têm conseguido res-tringir o crescente poder dos trabalhadores.

O fato é que os grandes gastos da guerra doVietnã pressionaram a economia a níveis de em-prego que aumentaram muito o poder de barganhados trabalhadores e criaram expectativas bastantefortes de uma inflação contínua no país. QuandoNixon tomou posse, primeiro tentou amainar essatendência adversa por meio de políticas fiscais e mo-netárias deflacionárias, que, com o tempo, quasedobraram a taxa de desemprego. Essas políticasprovaram ser um fracasso: elas falharam não so-mente em reduzir os pedidos de aumentos salariais,com também estiveram próximas de minar umagrande parte da estrutura financeira de Wall Street;os preços das ações caíram bruscamente por causada habilidade decrescente das empresas em aumen-tar seus preços, à medida que diminuía a procuraagregada, a fim de contrabalançar os grandes au-mentos salariais.

Nixon foi então forçado a mudar para uma po-lítica fiscal e monetária moderadamente expansio-nista. Mas essa política, enquanto dava forças àestrutura financeira, reforçou o poder dos trabalha-dores e as expectativas já fortemente arraigadas deinflação futura, o que ameaçou atingir severamenteos lucros das corporações tanto do lado dos tra-balhadores americanos, quanto do lado da con-corrência capitalista estrangeira. Nixon, nesse pon-to, estava em meio a duas políticas que não po-diam dar certo e poucas eram suas alternativas.

Assim, essas tendências internas e internacionaiscontra. o capitalismo ornerlccno compeliram a admi-nistração Nixon a novos movimentos diplomáticose políticas econômicas. As novas ações são desti-nadas a transferir renda do trabalho para o capi-tal nos EUA, e a transferir renda de capitalistasjaponeses e alemães (e, sem dúvida, das classestrabalhadoras nesses países) para os capitalistasamericanos. A primeira transferência de renda estásendo tentada por meio de controles de salários epreços nos EUA, os quais, segundo se espera, per-mitirão os aumentos dos lucros com o crescimentoda economia, enquanto que aumentos "não razoá-veis" de salários serão restritos e, também, porsubsídios adicionais à classe capitalista. A segundatransferência está sendo implementada por umanova política internacional, a qual é destinada amudar os preços relativos, as barreiras ao comér-cio e ao investimento internacionais e o relativo en-cargo de defesa em favor da classe capitalista nosEUA, e pela abertura de novas portas diplomáticasna China, as quais significam o estabelecimento deuma área menos dispendiosa e mais lucrativa para

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o comércio, para os investimentos e para a explora-ção de recursos naturais na Ásia por parte de cor-porações americanas.

Assim, a necessidade realmente premente de no-vos e drásticos programas internos por parte daadministração Nixon mal pode ser apreciada seaquela necessidade for medida pelos hiatos entrea produção potencial e a efetiva, pelo excesso donível real de inflação em relação ao aceitável,ou pelas quedas de crescimento real ou deníveis de emprego. Nenhuma dessas medidas as-sinala perigo agudo. Mas se se concentrar sobre oque os homens de negócio estão mais preocupados,os lucros das empresas, e considerando-se a amea-ça crescente da demanda dos trabalhadores sobreesses lucros, tendo em vista uma deterioração dasituação internacional, então a razão para se pres-sionar o botão de pânico pode ser melhor apreciada.

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Será que as forças que atuam contra o capitalismoamericano, conforme delineadas acima, continuarãoa fazê-lo nos próximos 10 ou 20 anos? Se assimfor, quais são as implicações disso para o futurodo capitalismo americano?

Considere-se, primeiro, a expansão do mun-do comunista. No começo da I Grande Guerra nãohavia países comunistas; a maioria das áreas domundo eram associadas, num grau ou noutro, aosistema capitalista internacional. Agora, 60 anosdepois, 35 % da população mundial e grande par-te da terra e dos recursos mundiais são comunistas.De maior importância para o futuro é que milhõesentre os povos empobrecidos estão atualmente lu-tando para se libertarem de suas condições opressi-vas, muitos dos quais com a assistência de um oumais países comunistas.

Em minha opinião, essa tendência provavelmentecontinuará e mesmo irá acelerar-se por duas razões.A primeira é que, enquanto uma grande parte domundo empobrecido aspira obter mudanças dra-máticas em seu padrão de vida, essas mudançasserão difíceis de ocorrer se os pobres permaneceremdentro do sistema capitalista internacional. Essesistema, com suas estruturas hierárquicas, é com-posto de países favoráveis a empresas privadas. OsEUA, sentados no topo dessa estrutura, dominam amaioria dos países logo abaixo de si, o que incluios países capitalistas avançados da Europa Ociden-tal, o Canadá, o Japão, a Austrália, a Nova Ze-lândia, Israel e a África do Sul. Os EUA e muitosdesses países, por sua vez, controlam os destinospolíticos e econômicos de diversos países de baixarenda per capita - na América Latina, na Áfricae na Ásia - os quais são hospitaleiros à empresa

Revista de Administraçl20 de EmpreBas

privada e especialmente ao investimento privadoamericano, e que estão na base da estrutura capi-talista. Muitos desses países-satélites são' governa-dos pelos ricos e poderosos - por ditadores, sultões,monarcas, senhores de terras feudols, oligarquias deuma ou outra espécie. Esse sistema capitalista in-ternacional é uma aliança entre as classes que go-vernam os países subdesenvolvidos e as classes pro-prietárias de capital e dos que as apoiam nas na-ções industrializadas. Na maioria desses países sub-desenvolvidos, o povo não é livre. t: óbvio que o"mundo livre" não é receptivo à liberdade, mas ésempre hospitaleiro ao capitalismo.

A política das nações capitalistas líderes e, espe-cialmente, a dos EUA, é a de promover relaçõescapitalistas - ou ao menos não socialistas - atra-vés do "mundo livre" de forma a obter a maximi-zação de lucros a longo prazo por meio do co-mércio e de investimentos nesse sistema internacio-nal. Essa política freqüentemente demandou quenão se acelerasse a industrialização dos países sub-desenvolvidos de forma a manter-se a presente es-trutura de classes, bem como a especialização in-ternacional de trabalho - na qual, como certa vezdisse Paul Baran, um lado especializa-se em inani-ção enquanto o outro assume o encargo de coletaros lucros. Desenvolvimento econômico bem suce-dido requer muito mais do que as modestas políti-cas de crescimento que são permitidas nesses paí-ses e que são designados a não afundar o barco.Como Heilbroner bem expressou: "Desenvolvimentoeconômico não é uma mera questão de táticas aserem decididas entre homens de boa vontade eentão efetivadas da forma mais rápida possível. t:,antes disso, uma disputa entre classes sociais. t: umprocesso de morte e de nascimento institucional.t: uma época na qual o poder se transfere freqüen-temente de forma abrupta e violenta, uma épocana qual regimes antigos são sobrepujados por novosregimes. E esses não são os únicos efeitos não agra-dáveis do desenvolvimento. Eles são parte e parcelado processo; a própria força que resulta em mu-dança."13 Como a missão de sucessivos governos dosEUA muitas vezes tem sido a de precisamente evitartais mudanças fundamentais, os pobres em muitasáreas do mundo têm sido sacrificados em benefíciodos interesses das classes que auferem lucros nospaíses mais ricos.

Em décadas recentes, a procura americana porlucros tem sido promovida de forma crescente porinvestimentos industriais nos países mais pobres,especialmente em países como o Brasil, a África doSul e o Irã, os quais estão assumindo o papel desubimperialistas e servindo os interesses dos princi-pais poderes imperialistas. Nesses e em alguns ou-tros países-satélites, taxas muito altas de crescimen-

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to do produto nacional bruto têm sido registradasrecentemente. Mas em todos os casos, os ganhos docrescimento têm beneficiado principalmente a clas-se capitalista, deixando praticamente de lado agrande maioria da população. No Brasil, por exem-plo, apesar de um crescimento anual de 5 a 6%durante os anos 60, e de 10% nos anos mais re-centes, a participação na renda dos 40% mais po-bres entre a população caiu de 11% em 1960 para9% em 1970, enquanto que os 10% mais ricostiveram sua participação aumentada de 39 % para48%.14

Na Coréia do Sul, a maior parte dos ganhos tembeneficiado a crescente classe capitalista, a qualtem sido fortemente subsidiada pelos governos dosEUA e da Coréia, enquanto que. ao lado da grandeafluência mostrada por essa classe, há milhões depessoas que permanecem na pobreza. Os pobrestalvez tenham ganho um pouco, mas não muito docrescimento recorde conseguido pelo país. O que ospobres têm auferido mais é o conhecimento de quedesenvolvimento capitalista através do mundo, semexceção, é um processo (de trickle down) que, porgerações, deixa muitos estagnados e marginalizadosna pobreza e na ignorância, enquanto enriquece al-guns poucos favorecidos, quase além da imagina-çõo."

Assim, se os pobres quiserem ter um progressosubstancial, provavelmente eles terão que se livrardessa rede imperialista, e isso sem dúvida será feitopor meios revolucionários que tomarão formas na-cionalistas ou socialistas.

Dentro de um capitalismo global não apenasum desenvolvimento econômico em bases profun-das é geralmente negado aos pobres, fazendo-seimperativo que eles encontrem uma saída fora dosistema, mas, além disso, através do mundo subde-senvolvido, existe uma força e um apelo contínuodos ideais socialistas de planejamento, igualdade,cooperação e de liberação do homem. Os movimen-tos revolucionários, quase sem exceção, carregam abandeira do socialismo. Virtualmente não existeentusiasmo por valores e processos capitalistas en-tre os pobres do mundo. De novo, citando Heilbro-ner: "Eu acho que é justo dizer-se que o capitalis-mo como uma idéia nunca gerou muito entusiasmo.O comportamento aquisitivo, no qual por força sebaseia, sempre sofreu, através da história, de umaambivalência moral na qual se tem sustentado;todos os esforços para se elevar o ganhar dinheiro(money-making) ao nível de uma virtude positivatêm falhado. Os interesses pessoais do açougueiro edo padeiro, e não a benevolência desses, aos quaisAdam Smith apelou, podem servir como poderosasfontes de energia social, mas não como poderosasexaltações da imaginação sccícl.">

R. H. Tawney expressou reservas semelhantes arespeito do apelo dos mores capitalistas: "Tão im-piedosa é a tirania dos apetites econômicos, tão pro-penso ao engrandecimento pessoal é o império dosinteresses econômicos, que uma doutrina que osconfina à sua própria esfera, como o serviço e nãocomo o mestre da civilização, pode razoavelmenteser encarada como entre os truísmos férteis quesão um permanente elemento em qualquer filosofiasã. "H

O presente apelo que o maoísmo exerce em boaparte ao mundo subdesenvolvido é baseado em taispontos de vista. O maoísmo é defensor de um com-portamento não egoísta e de um modo de vida queantes serve ao povo que ao indivíduo. Promove res-postas aos incentivos coletivos e não aos individuais.Urge a ajuda aos pobres e aos que estão em des-vantagem em vez de liquidá-los. Batalha contra aforte ênfase na atitude de querer-se ganhar dinhei-ro e contra o princípio de lucro como um guia paraa distribuição de recursos. Advoga programas equa-litários de muitos tipos e tem uma fé inquebrantávelna possibilidade do homem aperfeiçoar-se. Em quasetodos os casos, o maoísmo contém as virtudes exa-tamente opostas às do capitalismo, e não se negaque seu apelo está aumentando e se espalhando.

Em resumo, o socialismo não somente parece ne-cessário como também exerce um apelo a muitosnos países pobres.

Não posso deixar esse tópico sem notar as for-mas pelas quais o capitalismo internacional pode serfortalecido pelas tendências atuais dentro do mundocomunista. Primeiro, há indicações de que, com otempo, partes do mundo comunista podem ser atraí-das para dentro do mundo capitalista global, isto é,essas áreas podem ser penetradas de forma crescen-te por investimentos capitalistas e seus recursos po-dem tornar-se disponíveis para os países capitalistas.Segundo, a maior expansão do comunismo, ou suaameaça, pode fortalecer o capitalismo ao reduzir osantagonismos entre as nações capitalistas líderes emface dessa ameaça. Finalmente a rivalidade cres-cente entre a URSS e a China pode enfraquecer osmovimentos revolucionários através do mundo.

Mas mesmo considerando-se essas contratendên-cias, pouco se duvida que este século continuarásendo o século das revoluções anticapitalistas atra-vés do mundo subdesenvolvido. Concordo com aapreciação de um autor que "pelo ano 2.000 e, pos-sivelmente, bem mais cedo, nós encontraremos go··vemos revolucionários instalados, ou exércitos re-volucionários formidáveis lutando, em quase todaAsia, ao menos em meia dúzia de países latino-americanos, e provavelmente num número razoá-vel de países da Africa Central e Ocidental, e noOriente Próximo"."

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Podemos agora voltar nossa atenção para a se-gunda tendência adversa contra o capitalismo ame-ricano: o forte desafio dos seus principais competi-dores capitalistas. Esse desafio está fadado a au-mentar, na medida em que o Mercado Comum con-tinue desenvolvendo firmas "européias" rivais àsgrandes corporações dos EUA e que o Japão con-tinue sua rápida expansão industrial e sua pene-tração nos mercados europeus e americanos. A po-sição relativa dos EUA, apesar do seu tremendopoder absoluto, quase que certamente declinará umpouco mais.

No entanto, ainda há fortes fatores contrabalan-çando tal tendência. Primeiro, as recentes desvalo-rizações das taxas cambiais e outros ajustamentosbeneficiaram os EUA e colocaram seus competido-res em desvantagem em tal extensão que os EUApodem recuperar parte do terreno perdido. Segun-do, é provável que o supercrescimento da EuropaOcidental tenha-se acabado, um supercrescimentoque foi baseado em superofertas de mão-de-obra,as quais mantiveram os salários em níveis baixos, oslucros em níveis altos, e por isso muito estimularamos gastos de capital. Essas superofertas de mão-de-obra vieram de diversas fontes: de uma maior taxade crescimento natural (Holanda), de transferênciasda agricultura para os serviços e a indústria (Alema-nha, França, Itália), da imigração de refugiados(Alemanha), da imigração de trabalhadores e· espe-cialmente desempregados e subempregados dos paí-ses mediterrâneos (França, Alemanha, Suíça>. Ospaíses que não tiveram aumentos substanciais emsuas ofertas de trabalho (Inglaterra, Bélgica, paísesescandinavos) cresceram como um todo de formamais lenta. Como as superofertas de trabalho paraa Europa Ocidental chegaram a um fim, há algunsanos atrás, assim também se acabaram as altas ta-xas de crescimento. Assim, o período de supercres-cimento terminou, o que auxiliará a posição rela-tiva da classe capitalista americana. 10

O Japão provavelmente continuará a crescer deforma razoavelmente rápida, embora agora tam-bém esteja encontrando problemas de oferta demão-de-obra. O fato-chave a respeito do Japão, noentanto, é que seu crescimento provavelmenteserá cada vez mais dirigido para fora. Os chineses,por exemplo, argumentam que a rápida industria-lização do Japão requer uma oferta muito grandee sempre crescente de matérias-primas e minériosdo resto da Ásia, especialmente do Sudeste da Ásia;que os salários relativamente baixos geram mer-cadorias não vendidas e enormes lucros que com-pelem os capitalistas japoneses a procurar merca-dos e possibilidades para investimentos lucrativosno estrangeiro. Assim, a própria natureza da eco-nomia japonesa a impulsiona para fora à procurade recursos naturais, mercados e oportunidades de

Revista de Admini8traç!1o de Empre8as

investimento. Os chineses temem que o Japão logofique em vital dependência do Sudeste da Ásia eassim venha proteger seus interesses econômicoscom poder militar e que, com o tempo, torne-se no-vamente numa séria ameaça para a China - epara os EUA.

Os principais países capitalistas estão agora me-lhor equipados economicamente do que há 20 anosatrás. Isso criará pressões, nas próximas décadas,para um maior equilíbrio militar entre eles. Essamaior igualdade de poder militar e econômico pro-vavelmente intensificará a rivalidade entre os paísescapitalistas líderes, a qual será bem notada na corri-da pelos minérios e matérias-primas do mundo, cujasdemandas estão fadadas a aumentar substancial-mente com a contínua industrialização do mundo.Os EUA estão tornando-se cada vez mais uma na-ção have-not com respeito a muitos desses recursosnaturais, muitos dos quais são absolutamente es-senciais (se os EUA forem manter suas vantagensindustriais e tecnológicas sobre seus principais com-petidores). Por exemplo, os EUA são atualmenteum importante importador de chumbo, zinco, bau-xita, estanho, níquel, cobalto, colômbio, crômio,manganês, mica e muitos outros. Esses mineraissão encontrados principalmente nos países subde-senvolvidos, os quais, por exemplo, produzem 95%do estanho concentrado, 94 % do minério de cromo,52% do petróleo cru, 44% do minério de cobree assim por diante. Os países pobres são fabulosa-mente ricos nesses recursos, os quais poderão tor-nar-se cada vez mais escassos nas próximas déca-das. Um resultado disso será uma intensa competi-ção entre os poderes capitalistas, talvez levando aum conflito.

Enquanto que as rivalidades entre os capitalistasgigantes se i.ntensificarão nos próximos anos, essespaíses atuarão mais ou menos em concerto, de for-ma a controlar a industrialização do "TerceiroMundo". I: razoavelmente claro que não há sufi-cientes recursos naturais para suportar a industria-lização contínua dos gigantes capitalistas, bem co-mo os programas ambiciosos de industrialização dospaíses do Terceiro Mundo. A implicação é clara edura: os pobres estão condenados à pobreza, anão ser que os ricos mudem seus caminhos. ComoHeilbroner colocou recentemente: " ... se nós to-marmos os recursos naturais daqueles passageirosque viajam no hemisfério norte da espaçonave co-mo preço de uma passagem de primeira classe, nósteremos agora atingido um ponto em que os queviajam na classe inferior estão condenados a viverpara sempre - ou ao menos dentro do horizonteda tecnoloqio presentemente visível - num nívelde segunda classe; ou em que uma mudança con-siderável nos hábitos de vida precisa ser imposta

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na primeira classe, se a nave jamais tiver que serconvertida a um cruzeiro de uma só classe."2o Como,em minha opinião, há uma pequena chance dasclasses capitalistas das nações industriais diminuí-rem sua competição por oportunidades adicionaisde investimento, comércio e aquisição de matérias-primas, quase certamente haverá uma crescentefrustração entre os pobres do mundo, o que reforçaminha conclusão prévia de que haverá uma acele-ração dos movimentos revolucionários anticapitalis-tas através de boa parte do mundo.

Voltemos agora, brevemente, ao último fator ad-verso à classe capitalista americana: o crescentepoder dos trabalhadores americanos. Nos últimos50 anos, os trabalhadores conseguiram fazer notá-veis progressos em organização, bem-estar e segu-rança, de forma que hoje a classe trabalhadoratem um montante substancial de poder em relaçãoà classe capitalista. Esse ganho em poder relativoaparece em parte na crescente capacidade dos tra-balhadores em obter aumentos de salários nominaismaiores do que os ganhos em produtividade. Paracontrabalançar tal fato, o capital, com a ajuda doEstado, tem aumentado os preços das mercadorias,a fim de recuperar os lucros. Essa situação tornou-se muito difícil para as empresas devido, em parte,à deterioração da posição internacional dos EUA.

Há algumas razões para se acreditar que essaspressões dos trabalhadores continuarão nas próxi-mas décadas e que até poderão intensificar-se. Porum lado, depois das experiências dos anos 30, acre-dita-se generalizadamente que a saúde do capita-lismo requer altas taxas de emprego e de cresci-mento. Essas políticas no entanto, trabalham emfavor dos trabalhadores ao garantir trabalho paramais ou menos quase toda a força de trabalho,afastando dessa forma a ameaça de longo desem-prego em massa. Isso faz com que os trabalhadoressintam que a atividade grevista e as duras nego-ciações com os empregadores podem ser persegui-das dentro de um quadro de crescentes oportunida-des de trabalho a longo prazo. Ao mesmo tempo,as políticas de pleno emprego e de alto crescimen-to encorajam os empregadores a cederem maisprontamente aos pedidos de aumentos salariais por-que acreditam que tais aumentos podem ser cober-tos por preços mais altos, que serão validados porpolíticas monetárias e fiscais. Segundo, a afluênciacrescente das classes trabalhadoras e de suas or-ganizações sindicais, em adição aos programas desegurança social do governo, fortalecerão, com otempo, a posição do trabalho em relação ao capital.Essa crescente afluência não somente possibilitaráaos trabalhadores fazerem greves e negociar maisefetivamente contra os empregadores, mas tam-bém aumentará a vontade dos trabalhadores em

lutar por menos horas e melhores condições detrabalho.

Do outro lado do quadro, no entanto, está a cres-cente internacionalização do capital, a qual estácolocando os trabalhadores, organizados no máxi-mo apenas nacionalmente, numa posição desvanta-josa. Ernest Mandei tem discutido isso em relaçãoaos trabalhadores da Europa Ocidental: "Uma vezque a interpenetração do capital entre os seis mem-bros leve à sua integração econômica efetiva, oua uma Comunidade Européia com mais Estados-membros, uma vez que as instituições supranacio-nais envolvam uma adequada e poderosa forma depoder de Estado, então as chances do proletariadotomar o poder a um nível nacional serão provavel-mente bloqueadas de forma insuportável. .. A in-tegração européia tem sido marcada por uma de-cisiva transferência no balanço das forças, contrao assalariado e a favor do empregador." Mandeicontinua: "Certos setores do capital internacionalsão capazés de explorar os diferentes níveis de sa-lários em diferentes países e de usá-los para man-ter os salários em geral em níveis baixos. . . não hánada que restrinja as corporações gigantes, comramificações por toda parte, de transferir pedidosde um país para outro se lhes convier, fazendochantagem com os sindicatos ou assalariados cujossalários forem muito "altos", ou mesmo fechandoalgumas empresas de forma a pressionar os salá-rios para baixo e sistematicamente boicotar os paí-ses onde os salários forem muito oltos.">' Da mes-ma forma, o capital nos EUA parece estar ganhan-do crescentes vantagens sobre os trabalhadoresamericanos.

Assim, parece que há importantes forças traba-lhando em ambas as direções, um conjunto cumen-tendo a vantagem do trabalho sobre o capital, ooutro fazendo o reverso. Uma resposta apropriadado trabalho ao último conjunto de forças, nas pró-ximas décadas, seria a~: organizar-se de formamais efetiva, numa ba internacional, a fim decombater as crescentes va agens do capital, à me-dida que esse se torna unificado internacional-mente.

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Quais são as implicações dessas tendências para ocapitalismo americano? Minha conclusão principalé a de que existem algumas forças poderosas ope-rando contra ele, as quais criarão um ambientecrescentemente desfavorável para a aferição de lu-cros, tanto no país quanto no exterior, nas próxi-mas décadas. Esse ambiente em deterioração resul-ta primordialmente da continuação dos movimentosrevoluCionários contra o capitalismo internacional,

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da intensificação das rivalidades entre os Estadoscapitalistas líderes na luta por oportunidades de in-vestimento, por vantagens no comércio internacio-nal e pelo ocesso às matérias-primas, e, da crescen-te habilidade dos trabalhadores em exercer pressãosobre a participação da renda do capital na rendanacional.

Entretanto, como fiz notar, essas forças adver-sas ao capitalismo estão longe de não sofrerem opo-sição. O capitalismo internacional, liderado pelosEUA, é uma força poderosa no mundo e ainda écapaz de muitas vitórias contra movimentos pro-letários mundiais. Ainda assim, meu julgamento éde que, pesando-se bem na balança, a maré, em-bora não forte, está caminhando contra o capita-lismo se se tiver como base o mundo todo.

Se assim for, a resposta da classe capitalistaprovavelmente será chamada para que o Estado in-tervenha de forma crescente na vida econômicada nação. Maurice Dobb escreveu: "A intervençãodo Estado tem normalmente ocorrido por duas ra-zões: a) a sanção de um monopólio em favor deum grupo de capitalistas, ou b) o aperto dos laçosna disciplina do trabalho. .. No passado, a inter-venção do Estado te~ sido tão mais intensa quantomais escassa era a oferta de mão-de-obra e quan-to mais os aumentos salariais estavam ameaçando oslucros. "22 Se aplicarmos isso aos problemas aquianalisados, poderemos esperar uma intensificaçãoda intervenção do Estado com a finalidade de aper-tar os laços da disciplina do trabalho nos EUA, demobilizar os recursos nacionais contra a atividaderevolucionária no exterior e de defender os interes-ses dos capitalistas americanos num ambiente cadavez mais competitivo e hostil ao capitalismo global.23

As novas políticas econômicas de Nixon nada maissão do que respostas a essas ameaças.

Assim, o controle sobre o sistema econômico seráainda mais centralizado, os conflitos entre os dife-rentes ramos do capital serão bastante suprimidosno interesse do capital como um todo, os grandesriscos serão segurados em conjunto através da ins-trumentabilidade do Estado, as organizações dostrabalhadores serão severamente refreadas. UmEstado cada vez mais poderoso que elimine qual-quer dissensão potencial, um Estado cada vez maisopressivo - esse é o preço a ser pago pelo capi-talismo.

No entanto, apesar da intervenção do Estadoem defesa do capitalismo, os lucros dessa classeprovavelmente continuarão a sofrer grande pressão,a não ser que os trabalhadores americanos sejamforçados a arcar com parte das perdas resultantesda crescente competição dentro de um sistema ca-pitalista internacional contraditório. Se os traba-lhadores americanos tiverem que arcar com isso,

Revista de Administração de Empre8a8

juntamente com a diminuição de seus direitos debarganha e de outras liberdades ganhas com muitoesforço, há uma grande possibilidade de que umgrande número entre eles torne-se cada vez maisinsatisfeito com a situação e assim se juntem àque-las vítimas especiais do capitalismo - os pretos,os chicanas, os trabalhadores das fazendas, e ou-tras minorias oprimidas - em uma revolta emgrande escala contra o próprio sistema.

Embora essa seja uma possibilidade distinta, emminha opinião, ela está muito distante no futuro.No meio tempo, o sistema sobreviverá como umcapitalismo monopolista cada vez mais dirigido peloEstado. Mas muitos elementos da democracia nãosobreviverão. 5.\b

1 Edwards, R. C., Reich, M. & Weisskopf, T. E. ed The capital-ist system, a radical analysis of American society. New Jersey,Prentice-Hall, Inc., 1972. p. IX.

2 On radical paradigms in economics. The Review af RadicalPolitical Economics. URPE, The University of Michigan, AnnArbor, Michigan, v. 3, n. 2, July 1971, especialmente ointrodução por G. E. Peabody, p. 1- 16.

3 Wall Street Journal, Feb., 11, 1972.

4 Three radical economists give views to Congresso New YorkTimes, p. 51, Feb., 29, 1972. Howard Sherman, de RiversideUniversity of California, acabou de publicar o livro-texto, Ra-dicaI political economy. Basic Books, 1972.

5 WalJ Street Journal, op. cito

6 Essa passagem está na introdução do interessante livro doeconomista sueco Lindbeck, Assar. The political economy ofthe new left, an outsider's view. New York, Harper and Row,p. XX.

7 Alperovitz, Gor. Socialism as o plurolist commonwealth, inA long revolution, o ser reproduzido em The capitalist system,de Edwards e outros, obro citado na nota 1 (p. 524-39).Alperovitz é um dos fundadores do Instituto Cambridge, umgrupo que exploro os prospectos de um socialismo descen-trolizador.

8 Ver, por exemplo, Vanek, Jaroslav. The participatory econo-my. Cornell University Press, 1971. -. The general theory oflabor-managed economics. Cornell University Press, 1970.Dahl, Robert A. After the revo/ution? New Haven & London,Yale University Press, 1970.

9 Ver o trabalho de dois economistas australianos, Wheel-wright, E. L. & McFarlane, Bruce. The chinese road to social-ism, economics of the cultural revolution. Monthly ReviewPress, 1970. With a Foreward by Joan Robinson. E tambémGurley, John G. The new man in new China. The CenterMagaZine, V. 3, n. 3, May 1970.

10 Poucos americanos tinham consciência desse foto até quenos anos 60 foram feitos diversos reportagens sobre aq.uilo q.uenão é muito visível nos EUA. "Hunger in America", produzidohá quatro anos pelo cadeia de televisão CBS, foi a mais fa-moso dessas reportagens.

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11 Fishlow, Albert. Brazilian size distribution of income.American Economic Review, May 1972.

12 Gurley, John G. & Shaw, Edward. Money in a theory offinance. Brookings Institutions, 1960.

13 Heilbroner, Robert. Between capitalism and socialism. Vin-tage Books, 1970. p. 53-4.

14 Simonsen, Mario Henrique. Desenvolvimento e distribuiçãoda renda no Brasil. O Globo, Rio de Janeiro, mar. 1972. Vertambém Fishlow, Albert. Brazilian size distribution of income.May 1972. AEA Papers and Proceedings.

15 Gurley, John. $outh Korea financiai and industrial de-ve/opment. 1972. mimeogr.

16 Heilbroner, Robert. The limits of capitalism. Harper andRow, 1966.17 Tawney, R. H. Religion and the rise of capitalism. MentonBooks, 1953. p. 59.18 Heilbroner, Robert. Between capitalism and socialism. cito

19 Kindleberger, Charles. Europe's postwar growth; the roleof labor supply, Harvard University Press, 1967.

20 Heilbroner, Robert. Between capitalism and socialism. citop. 271.21 Mandei, Ernest. Europe versus America. London, N. B.,1970. p. 111-2, 114.22 Dobb, Maurice. $tudies in the deve/opment of capitalism.International Publishers, 1947. p. 23-4.

23 Essa conclusão é reforçada por outras considerações. Umadas tendências mais notáveis do capitalismo nos EUA é ocrescimento fenomenal da atividade econômica do Estado.Nós já notamos diversas razões para isso: o crescimento docomunismo mundial, o qual fez com que os Estados capita-listas se envolvessem cada vez mais na defesa do "MundoLivre"; o crescente aumento a longo prazo no poder dos tra-balhadores; a dependência crescente das nações capitalistasem fontes de matérias-primas e de recursos naturais no ex-terior; e os desastres da Grande Depressão, os quais conven-ceram a classe capitalista de que a expansão do poder doEstado era necessária para se prevenir uma catástrofe final.Além disso, Heilbroner tem argumentado que o crescimentodos poderes e controles do Estado advêm da acelerada revo-lução na ciência e na tecnologia. Essa revolução criou o cres-cimento das grandes .unidades industriais (e, assim, financei-ras), o que requer "meios públicos de assegurar-se contra odano econômico que poderia resultar se um número substan-cial dessas unidades fosse operar de forma maléfica". Ocrescimento do Estado também é necessário "à medida queas próprias unidades governamentais se utilizem de novastécnicas: e à medida que a emergência de poderosas orga-nizações privadas crie a necessidade de uma força paracontrabalançar, ou um órgão público regulador". Além domais, a revolução científica e cultural resultou em proble-mas sociais, como a urbanização, que requerem soluçõesfora do sistema de mercado. Também criou produtos ouprocessos socialmente perigosos que requerem ação so-cial _ por exemplo, as armas militares. Eliminou empregosna agricultura e na indústria, e até mesmo nos serviços,transferindo o emprego para áreas que requerem a ação pú-blica ou fundos públicos, por exemplo, educação, saúde,segurança pública, serviços governamentais. Finalmente, crioua afluência material em grande extensão, a qual aumentou ademanda por bens públicos como educação, proteção do am-biente e assim por diante (ver Heilbroner, Robert. Betweellcapitalism and socialism. cito p. 23-6).

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