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Plano de Pormenor da ADT 3 da Herdade da Comporta
Pedro Ventura, Arqueólogo
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1. CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA 2
1.1 INTRODUÇÃO 2 1.2 METODOLOGIA 2 1.3 ENTIDADES CONTACTADAS 3 1.4 EQUIPA TÉCNICA E PRAZO DE EXECUÇÃO 4 1.5 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO 4 1.6 CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA 7 1.7 ELEMENTOS PATRIMONIAIS IDENTIFICADOS 11
2. ANÁLISE DE IMPACTES 12
3. MEDIDAS DE MINIMIZAÇÃO 12
4. LACUNAS AO CONHECIMENTO/ PROSPECÇÃO DO TERRENO 12
5. EVOLUÇÃO PREVISIVEL DA ÁREA NA AUSÊNCIA DE PROJECTO 14
6. CONCLUSÕES 15
7. RESUMO NÃO TÉCNICO 15
8. BIBLIOGRAFIA 16
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Pedro Ventura, Arqueólogo
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1. CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
1.1 INTRODUÇÃO
A vertente patrimonial do Relatório Final do Plano de Pormenor da Área de
Desenvolvimento Turístico n.º 3 da Herdade da Comporta tem como objectivo identificar os
elementos patrimoniais, arqueológicos e edificados, que possam sofrer um impacte directo ou
indirecto decorrente da construção do empreendimento.
1.2 METODOLOGIA
O Relatório Final do Estudo de Impacte Ambiental do Plano de Pormenor da Área de
Desenvolvimento Turístico n.º3 da Herdade da Comporta para o qual foi solicitada a
realização do descritor património cultural propôs-se analisar a área de incidência directa do
projecto, ou seja, o local de construção do empreendimento e uma envolvente de 200 metros.
O relatório em causa sobre o património cultural da região foi realizado em duas fases
distintas que se complementaram: a investigação bibliográfica e a consulta das bases de dados
Endovélico e Thesaurus.
Após a análise e definição da área de incidência directa e indirecta do projecto, realizou-se
uma investigação bibliográfica e documental exaustiva. Esta pesquisa deu especial
importância aos resultados da investigação realizada no âmbito do Plano Director Municipal
de Alcácer do Sal e Grândola, às bases de dados do Instituto de Gestão do Património
Arqueológico e Arquitectónico (Endovélico e Thesaurus). Não negligenciou, naturalmente, os
artigos da especialidade, a análise toponímica, a análise fisiográfica, assim como o contacto
com as instituições que possam fornecer informações sobre o património local e a consulta
dos processos existentes no IGESPAR referentes à área de projecto.
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A partir desta investigação bibliográfica, o trabalho foi complementado com a identificação
dos principais elementos patrimoniais na área. Para além disso, esta pesquisa permitiu
compreender a dinâmica ocupacional da região, na sua total complexidade, de molde a avaliar
as zonas arqueologicamente sensíveis com conhecimento das particularidades da zona em
questão.
Teve-se ainda em conta o Relatório Ambiental dos Trabalhos Arqueológicos do Plano de
Pormenor da Área de Desenvolvimento Turístico n.º 3 da Herdade da Comporta produzido
em Novembro de 2007 pela empresa Terralevis, Lda.
Não se identificaram elementos patrimoniais na área de projecto. Foram preconizadas
medidas minimizadoras adequadas à fase do projecto em que nos encontramos e uma medida
geral que deverá ser aplicada em fase de obra, uma vez que decorre da aplicação da legislação
ambiental.
As medidas de minimização visam salvaguardar o valor científico e cultural dos elementos
patrimoniais directo ou indirectamente afectados pela construção do novo empreendimento.
As acções minimizadoras, sabendo que nem sempre anulam o impacte negativo de uma obra
desta envergadura, poderão contudo reduzi-lo e em alguns casos beneficiar a investigação
científica e a conservação das estações e dos monumentos. O estudo detalhado das estações
afectadas ou a sua reinstalação muitas vezes salvaguardam elementos patrimoniais em risco
de destruição.
1.3 ENTIDADES CONTACTADAS
Direcção Geral de Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano
Consulta dos Plano Director Municipal do Concelho de Grândola e Alcácer do Sal.
Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR, IP)
Consulta das bases de dados Endovélico e Thesaurus.
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1.4 EQUIPA TÉCNICA E PRAZO DE EXECUÇÃO
O relatório preliminar do Plano de Pormenor da ADT 3 da Herdade da Comporta foi realizado
por Pedro Ventura, durante os meses de Agosto e Setembro de 2009.
1.5 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO
A cidade de Alcácer do Sal é uma das mais antigas cidades da Europa e segundo os dados
arqueológicos existentes foi fundada antes do ano 1.000 a.C, pelos Fenícios, que assim
aproveitavam os bons terrenos agrícolas existentes, associados a um forte comercio facilitado
por uma via de comunicação facilmente navegável.
Tal como Alcácer, Lisboa e Setúbal também alimentavam o comércio deste povo, fornecendo
sal, peixe salgado, cavalos para exportação e alimentos para as tripulações dos navios. Esse
comércio está testemunhado também pela existência de numerosas pedras de lastro ao largo
de Tróia e mesmo nas praias. Um estudo geológico da composição dessas pedras de lastro
permitiu determinar que, pela sua composição, não são originárias de Portugal mas de locais
muito distantes como o Líbano, Grécia e mesmo a Líbia. Este comércio continuou durante
todo o período romano.
O período Romano caracteriza-se por uma maior fixação de comunidades romanizadas. Os
vestígios romanos existem tanto em terra (villae’s) como no rio (fragmentos de ânforas).
Durante o domínio árabe foi capital da província de Al-Kassr. Com o início da reconquista
cristã, Alcácer do Sal afirmou-se como uma importante cidade para os árabes. O seu castelo
foi reforçado mas tal não evitou que fosse conquistada por D. Afonso Henriques em 1158.
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Reconquistada pelos mouros, só no reinado de D. Afonso II, e com o auxílio de uma frota de
Cruzados, a cidade foi definitivamente conquistada, tornando-se cabeça da Ordem de
Santiago. Foi elevada a cidade a 12 de Julho de 1997.
A presença humana no território de Grândola data de tempos remotos – ao todo, são cerca de
40 as estações arqueológicas identificadas no concelho de Grândola, abarcando quase todos
os períodos da História, desde o Neolítico ao período romano. Destacam-se as ruínas romanas
da Península de Tróia e as da herdade do Pinheiro.
As primeiras escavações em Tróia realizaram-se no séc. XVIII, por iniciativa da futura rainha
D. Maria I. Foi contudo no séc. XIX que o arqueólogo Inácio Marques da Costa realizou
grandes trabalhos no terreno, descobrindo as estruturas fabris e religiosas. O complexo
industrial em Tróia começou a funcionar na época da dinastia dos Júlios-Cláudios e foi
abandonado aquando do fim do império e do declínio das rotas comerciais e dos mercados
consumidores. São ainda hoje visíveis núcleos de fábricas que eram formadas por tanques
(cetarias) de diferentes dimensões. Vêem-se também os poços para o fornecimento de água
doce e as caldeiras distribuídas ao longo do complexo. Dos edifícios públicos, está
identificado o conjunto termal.
Integrada na Ordem Militar de Santiago, Grândola foi uma comenda normalmente
organizada, com uma população distribuída por vários núcleos, ocupando quase toda a
extensão territorial. Embora ainda não haja muitos dados sobre a população no que se refere à
época medieval, sabe-se que, em 1492, a aldeia teria cerca de 135 pessoas e a comenda, no
seu conjunto, 810 habitantes, distribuídos por cerca de 180 fogos.
O mais antigo selo de Grândola conhecido apresenta como elemento principal uma cruz de
Cristo, o que prova a importância que os cavaleiros professos naquela ordem detinham no
senado municipal.
A sua dependência em relação a Alcácer do Sal levou a que os moradores pedissem a D. João
III a carta de foral de vila, que lhes foi concedida a 22 de Outubro de 1544. Com esta
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alteração de estatuto, e em virtude de uma delimitação geográfica aquando da criação da
comenda, o novo concelho passou a representar uma área territorial que abrangia, além da
freguesia de Grândola, as freguesias de Azinheira dos Bairros, São Mamede do Sádão e Santa
Margarida da Serra.
O que se refere à sua organização político-administrativa, Grândola dependia da comarca de
Setúbal. Economicamente, a população dedicava-se à agricultura e à pecuária, sendo
actividades importantes a moagem, a produção do vinho, a olaria, a tecelagem e a caça.
Em 1679 fundou-se em Grândola um celeiro comum para fazer empréstimos de trigo a
lavradores pobres, passando a celeiro municipal aquando da implantação da República.
O séc. XIX, em Grândola, foi um século de progresso. Em 1890 beneficiou da elevação a
comarca. Em finais do séc. XX, em virtude de uma nova reorganização administrativa
territorial, passou a integrar a freguesia de Melides, que abrangia os territórios de Melides,
Carvalhal e Tróia.
Entre 1864 e 1950, a evolução económica e demográfica concelhia pautou-se por um
crescimento, ainda que diferenciado. Até ao início do séc. XX o crescimento foi residual,
baseando-se essencialmente na proliferação de pequenas indústrias de transformação da
cortiça, situadas na sua maioria na vila de Grândola. Paralelamente, outras zonas do concelho
registaram um desenvolvimento económico significativo; tal foi o caso do surgimento da
exploração mineira em Canal Caveira (l863) e Lousal (1900).
O início do séc. XX ficou ainda marcado pelo desenvolvimento das vias de comunicação,
destacando-se o aparecimento do comboio em 1926. Na década de 30, Grândola apresentou
um novo impulso de crescimento demográfico e económico, correspondente à campanha do
trigo integrada na política ruralista e agrícola do Estado Novo.
Foi neste contexto que surgiu a expressão "Celeiro de Portugal" para classificar o Alentejo,
enquanto terreno apto para a produção de cereais. Em conjunto, surgiu uma nova cultura, a do
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arroz, que se desenvolveu sobretudo na zona do Carvalhal. Esta nova fase originou, na região
alentejana, uma fixação populacional de pessoas oriundas de várias partes do País. Até ao
final da década de 40, a população de Grândola aumentou, atingindo nessa altura o valor mais
alto até hoje registado (21.375 habitantes, em 1950).
A partir de 1950 iniciou-se um processo de êxodo rural, sobretudo em direcção à Península de
Setúbal e a Lisboa, devido à profunda estagnação económica resultante da depressão na
agricultura e da ausência de industrialização. Apenas nos anos 70 registou-se um
restabelecimento do nível de vida e, com ele, o desenvolvimento do sector terciário.
1.6 CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA
A Herdade da Comporta integra uma das unidades morfo-estruturais do território português
designada por Bacia Terciária do Tejo e Sado, e dentro desta, a Bacia Terciária do Sado.
Consiste numa bacia de subsidência que entrou em funcionamento durante o ciclo orogénico
alpino, por rejogo de estruturas hercínicas de orientação NE-SW que bascularam a base desta
bacia para Oeste, na qual ocorreu uma sedimentação intensa, compensatória dos grandes
movimentos de subsidência.
Como consequência dos movimentos subsidentes e de alterações do nível do mar decorrentes
nas últimas quatro glaciações do quaternário, desde o oligocénico foi sendo afectada por
alternância de ambientes continentais e marinhos. Deste modo, a área em estudo localizada na
zona do baixo Sado na sua planície litoral, apresenta uma sequência cronológica recente,
desde formações da era Cenozóica (depositadas desde a transição do miocénico ao pliocénico
(terciário)) até à actualidade. A série inicia-se por afloramentos da formação da Marateca
datada do Miocénico Superior, constituída por areias, pelitos e alguns conglomerados, de
fácies continental, sucede-lhe por ordem cronológica, e já no Quaternário, a identificação de
um terraço do Pliocénico (a NE da área de estudo), e por fim as formações do Holocénico
constituídas essencialmente por uma grande extensão de depósitos designados por solos
arenosos, que confinam igualmente com materiais holocénicos, a Oeste com as formações de
dunas e a Norte com as acumulações aluvionares do Estuário do Sado e afluentes, compostas
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essencialmente por areias e alguns lodos. As areias de praia e as turfas completam o conjunto
de materiais Holocénicos identificados.
A deriva litoral, que na costa ocidental portuguesa é normalmente de Norte para Sul, devido à
orientação das ortogonais das ondas se processar predominantemente de NW/SE, inverte o
seu sentido para S/N, neste litoral, por refracção a Sul do cabo Espichel, sendo um dos
factores mais importantes para a forte sedimentação de areias por ela transportada, dando
origem a um litoral arenoso e ao cordão dunar, paralelo à linha de costa, cuja consequente
evolução, formou a restinga de Tróia, a Norte da área de estudo, “protegida” pela localização
saliente da cadeia da Arrábida e do Cabo Espichel.
Como resultado da influência das condições morfogenéticas, a região apresenta um relevo
pouco expressivo, sendo a sua maior área ocupada pela planície litoral do baixo Sado,
formada na sua maioria por areias Holocénicas, onde principalmente em alguns vales e
altitudes mais elevadas, aflora por erosão dos materiais mais recentes, a Formação Marateca
(Miocénico superior). As altitudes, que se intensificam para Sudeste e Leste, não ultrapassam
os 90 m.
A rede hidrográfica, pouco densa, constituída na sua maioria por valas e ribeiras pouco
encaixadas com drenagem para o Estuário do Sado, é muitas vezes de carácter temporário,
assentando sobre materiais arenosos, muito permeáveis. A única linha de água é a ribeira do
Carvalhal. Esta linha de água, cujo traçado tem sido modificado por obras ligadas ao regadio
apresenta um traçado sinuoso provavelmente condicionado por acidentes tectónicos.
A faixa costeira é constituída por areias de praia e um extenso cordão dunar, que a NW da
área de estudo forma uma restinga que separa do mar o estuário do Sado, diminuindo de
largura para Sul desta, e constituindo nesta direcção, a transição entre as areias de praia e as
areias mais interiores, ou envolvendo a zona vestibular do vale resultante da inflexão para
Norte da linha de água que desagua próximo da Comporta, notando-se ainda algumas
manchas, testemunhos de ocupações avançadas do mar, a N e NE.
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O sistema dunar apresenta de Oeste para Leste, uma faixa antedunal constituída por areias de
praia, e de um modo geral, manifesta variações de altitude que atingem numa primeira faixa
dunas, sensivelmente 10 m, seguida de uma depressão e posteriormente, numa nova elevação,
alcança em média 20 m de altitude, por vezes com alguns corredores provocados pela acção
do vento em superfícies sujeitas a deflação.
A colmatagem produzida por estes relevos de acumulação, ao impedir que os cursos de água
atinjam a linha de costa é, responsável pelo significativo número de turfeiras existentes no
espaço estudado. Nalguns casos, encontram-se em zonas aluvionares, noutros submersos por
albufeiras e açudes, como é o do Paul de Murta e açude da Carrasqueira (a Norte), ou ainda
por extensas áreas de arrozais (Vala Real, paralela à linha de costa), e noutros, com
demarcação na carta geológica, a Sul de Carvalhal e no açude do Vale de Coelheiros.
À escala local, na ADT3 da Herdade da Comporta, na zona de implantação do campo de golfe
ocorrem as seguintes unidades geológicas:
a) Holocénico
Do Holocénico ocorrem dunas (d), no local de implantação do campo de golfe
Dunas
Na folha de Alcácer do Sal há uma das coberturas de dunas mais importantes do País. Está
particularmente desenvolvida na margem esquerda do Sado. A cobertura de dunas está
particularmente desenvolvida na margem esquerda do Sado. Esta cobertura terá sido mais
extensa, a julgar pelos vestígios de dunas degradadas, às vezes reduzidos a uma película, nem
sempre de fácil distinção. Com efeito, é frequente a mistura com outros sedimentos arenosos,
consequente, nomeadamente, da lavra.
Podem admitir-se, portanto, como restos de dunas, ainda que não sejam reconhecíveis os
edifícios de que fizeram parte. As dunas atingem na Herdade da Comporta cotas da ordem de
30 m. Nos depósitos dunares têm sido implantados importantes povoamentos de sobro,
pinheiro manso e eucaliptos. A cobertura dunar nem sempre é facilmente distinguível da
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Formação da Marateca que lhe está subjacente. Esta advertência é particularmente relevante
no caso da análise de cuttings das sondagens, mas é válida também para o caso das zonas
aflorantes.
b) Miocénico
Do Miocénico ocorrem afloramentos da Formação de Marateca (M4-5), no local de
implantação do projecto
A Formação da Marateca é atribuída ao Miocénico Superior, porém alguns autores
atribuem-lhe idade Pliocénica. Esta unidade está largamente representada na folha da carta
geológica, à escala 1/50 000 de Alcácer do Sal. Na ADT3 aflora em retalhos reduzidos
cobertos sobretudo pela cobertura dunar.
Do ponto de vista litológico, caracteriza-se por englobar conglomerados (com seixos mais ou
menos boleados, de calibre não excedendo, no geral, pouco centímetros); areias grosseiras,
sobretudo em níveis inferiores, com frequências feldspáticas, a que sucedem areias médias e
finas, geralmente argilosas, e argilas acinzentadas ou esverdeadas com predomínio de
montmorilonite sobre ilites e caulinite. Não há praticamente fracção carbonatada. De fácies
fluvial, estes depósitos preenchem canais orientados aparentemente a partir do soco, cuja
erosão fundamentalmente resultaram. O carácter mais ou menos argiloso, bastante constante,
contrasta com a pobreza de argilas da Formação infrajacente e das areias de dunas. Na
Herdade da cComporta assenta sobre depósitos marinhos da Formação de Alcácer do Sal, mas
noutras áreas pode ocorrer em discordância sobre as formações continentais da Formação de
Vale de Guizo, ou sobre o soco.
Em termos de capacidade de uso do solo, verifica-se que área de implantação do campo de
golfe apresenta solos incluídos na classe E, não susceptíveis de utilização agrícola,
apresentando limitações para a exploração florestal, nomeadamente, severas limitações do
solo radicular e limitações resultantes da erosão e escorrimento superficial que são mais
importantes nas áreas de declives mais acentuados. Os destinos mais adequados para a
utilização destes solos são a ocupação com vegetação natural, floresta de protecção ou
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recuperação. Os solos da ADT3 e simultaneamente do projecto de campo de golfe não estão
incluídos na Reserva Agrícola Nacional (RAN).
Na várzea da Vala Real, a Norte da ADT3 estão presentes solos aptos para utilização agrícola
pouco intensiva, que apresentam limitações devido a excesso de água. As valas de drenagem
existentes nesta área permite melhorar estes solos, potenciando um uso mais intensivo. É
ainda de referir que os solos de capacidade de uso da classe E identificados na área de
implantação do projecto prevalecem na Herdade da Comporta.
Os solos da zona de implantação do campo de golfe inserem-se nas Áreas de
Desenvolvimento Turístico (ADTs), que constituem áreas a desenvolver em conformidade
com programa próprio, mas que incluem a preservação de núcleos importantes de habitats
naturais e, localmente de espécies classificadas.
À escala da análise do local, verifica-se que a ADT3 “é atravessada por dois destes sistemas
estruturantes – cordão dunar e pinhal – e confina com zonas húmidas onde actualmente se
desenvolvem actividades humanas – horticultura e arrozal – nomeadamente da Lagoa
Formosa e Lagoa de Fuzis e Várzea. O cordão dunar constitui o limite poente da propriedade;
que dista cerca de mil metros da linha de costa, e o pinhal ocupa a maior parte de área,
confinando na ADT3 a nordeste com a Várzea e a noroeste com as Lagoas de Fuzis e
Formosa” (Estudos de Paisagismo, Relatório do PP da ADT3).
1.7 ELEMENTOS PATRIMONIAIS IDENTIFICADOS
Através da pesquisa documental, bibliográfica e das bases de dados não foram identificados
elementos patrimoniais na área de projecto. Poderá contribuir para esta situação o facto de se
tratarem de terrenos muito arenosos (dunas), em mutação constante e de difícil implantação
humana.
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2. ANÁLISE DE IMPACTES
Não se identificaram impactes ao nível do descritor do património arqueológico, uma vez que
não se localizou nenhum elemento patrimonial. Contudo, deverão acautelar-se medidas
mínimas de minimização de impactes.
3. MEDIDAS DE MINIMIZAÇÃO
Preconiza-se como medidas gerais de minimização do impacte da construção do projecto
sobre o património:
O acompanhamento das obras por um arqueólogo (por frente de obra) durante a
fase de construção do empreendimento.
4. LACUNAS AO CONHECIMENTO/ PROSPECÇÃO DO TERRENO
Como é perceptível pela caracterização geológica da área, predominam as zonas de duna.
Assim, a prospecção foi dificultada uma vez que a progressão era difícil. Acresce a esta
situação o facto dos terrenos terem sido alvo de surribas profundas em resultado de
actividades silvículas.
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Relativamente à prospecção do terreno, a totalidade da área onde o campo de golfe vai ser
instalado foi percorrida. Observou-se ainda no terreno, que a zona é frequentemente lavrada,
verificando-se ainda revolvimentos de solos profundos recentemente. Não foi possível
prospectar algumas áreas, que seguem indicadas na figura em anexo. Assinalam-se a verde as
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áreas onde a cobertura vegetal do solo permitia uma visibilidade acima a 60%, a amarelo uma
visibilidade entre 40% e 60% e a vermelho uma visibilidade abaixo de 40%.
5. EVOLUÇÃO PREVISIVEL DA ÁREA NA AUSÊNCIA DE PROJECTO
Do ponto de vista do património edificado podemos afirmar que a não implementação do
projecto não contribuiria para o melhoramento da sitiução actual, uma vez que não existem
impactes associados.
No que concerne ao património arqueológico, não obstante os impactes que eventualmente a
implementação do projecto em estudo determinará em elementos desconhecidos,
recomendara-se acompanhamento arqueológico dos trabalhos que permitirá, possivelmente,
detectar vestígios arqueológicos que, desde que devidamente estudados, beneficiarão o
conhecimento da dinâmica ocupacional da região.
Em suma, a não implementação do projecto não contribuiria para a identificação e estudo de
novos sítios arqueológicos.
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6. CONCLUSÕES
Não foram identificados elementos arqueológicos, arquitectónicos ou etnográficos na área em
estudo. Trata-se de uma zona em que predominam as dunas e vastos areais onde se cultivou
pinhal intensivo. A área foi sempre e continua a ser alvo de surribas. Recomendou-se a
medida mínima de minimização: o acompanhamento arqueológico dos trabalhos.
7. RESUMO NÃO TÉCNICO
O Relatório Final do Estudo de Impacte Ambiental do Plano de Pormenor da Área de
Desenvolvimento Turístico n.º3 da Herdade da Comporta, na vertente do património cultural,
procurou analisar a área de incidência directa do projecto, ou seja, o local de construção do
empreendimento e uma envolvente de 250 metros.
O EIA em causa sobre o património cultural da região foi realizado em duas fases distintas
que se complementaram: a investigação bibliográfica e o reconhecimento do terreno, segundo
as indicações do IGESPAR (Circular – Termos de Referência para o Descritor Património
Arqueológico em Estudos de Impacte Ambiental).
Após a análise e definição da área de incidência directa e indirecta do projecto, realizou-se
uma investigação bibliográfica e documental exaustiva. Esta pesquisa deu especial
importância aos resultados da investigação realizada no âmbito dos Planos Directores
Municipais de Alcácer do Sal e Grândola, às bases de dados do Instituto de Gestão do
Património Arqueológico e Arquitectónico (Endovélico). Não negligenciou, naturalmente, os
artigos da especialidade, a análise toponímica, a análise fisiográfica, assim como o contacto
com as instituições que possam fornecer informações sobre o património local e a consulta
dos processos existentes no IGESPAR referentes à área de projecto.
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Deu-se ainda uma particular atenção ao Relatório Ambiental dos Trabalhos Arqueológicos do
Plano de Pormenor da Área de Desenvolvimento Turístico n.º 3 da Herdade da Comporta
produzido em Novembro de 2007 pela empresa Terralevis, Lda.
A partir desta investigação bibliográfica, o trabalho foi complementado com o
reconhecimento do terreno. Para além disso, esta pesquisa permitiu compreender a dinâmica
ocupacional da região, na sua total complexidade, de molde a avaliar as zonas
arqueologicamente sensíveis com conhecimento das particularidades da zona em questão.
Foi realizada a prospecção sistemática das áreas a afectar pela implementação das infra-
estruturas projectadas. Os trabalhos de prospecção arqueológica foram articulados com os
trabalhos topográficos e de implantação cartográfica do projecto de forma a identificar
elementos arqueológicos antes da definição do projecto final, garantindo desta forma a
preservação dos elementos arqueológicos no terreno. Não se identificaram vestígios
arqueológicos, arquitectónicos ou etnográficos.
Preconizou-se o acompanhamento arqueológico efectivo, continuado e directo de todas as
mobilizações de solo, tendo em consideração a necessidade dum arqueólogo ou assistente de
arqueólogo (no caso de frentes muito próximas) por frente de obra.
8. BIBLIOGRAFIA
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