1. a frei antÔnio corniatti, ofmconv
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Carta escrita por Frei H. Harada em Petrópolis, 01/06/1977, sobre:- Como trabalhar o tema da libertação inspirando-se em São Francisco - A possibilidade intrínseca de cada coisa- Querer ter a vez não é vigor da VerdadeTRANSCRIPT
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1. A FREI ANTÔNIO CORNIATTI2, OFMConv
- Como trabalhar o tema da libertação inspirando-se em São Francisco3
- A possibilidade intrínseca de cada coisa
- Querer ter a vez não é vigor da Verdade
Petrópolis, 1. 6. 77
Frei José (Guaíra)!
Muito obrigado por sua carta de 10. 5. Desculpe a demora.
Não sei se lhe consigo dar a orientação pedida acerca do tema ‘Francisco e a
Libertação’.
A ideia de explicitar o fenômeno Libertação através do Capítulo VIII de I
Fioretti é boa. Só que na sua situação deve ser bem feito, do contrário você é capaz
de levantar, não uma questão, mas sim discussão vã.
Portanto, na exposição, tentar não criticar tematicamente a mania da
Libertação hoje4. Nem dar a impressão de que está defendendo uma posição mais
profunda ou radical. Colocar a questão Francisco e Libertação como a
perplexidade que você realmente sente diante de um texto franciscano medieval e
a sua situação hoje de ser solicitado pela ideia e pelo ideal dominante de
Libertação.
Para isso, sem falar muito de si, do que é o meu problema etc., procurar
colocar bem patente essa perplexidade num quadro ‘objetivo’ diante de si.
Para isso, ler um ou dois livros que tratam da Libertação, só para pegar a
definição que eles dão da Libertação. Não é necessário ler muito. Talvez só o
prefácio. Tenho a impressão que Boff5 tem alguma idéia nos seus livros.
Apresentar então esse quadro Libertação em algumas características, tentando
2 Frei Antônio (José) Corniatti (OFMConv) Conheci Frei Hermógenes, pela primeira vez, no carnaval de 1973 em Petrópolis (RJ), ano em que fiz o Curso CEFEPAL. Ele me chama aqui GUAÍRA. Este cognome é devido à cidade paranaense de Guaíra, de onde eu viera para o CEFEPAL. Dado que no curso havia três Antônios, Frei Antônio Zancanaro OFM de São Paulo (Zanca), Frei Antônio Francisco Blankendaal OFM de Minas (Antônio Holandês) e eu (Antônio Guaíra), cada um recebeu um cognome. 3 No início de cada carta, o organizador, Frei Antônio Corniatti OFMConv, colocou um índice dos assuntos tratados por Frei Hermógenes Harada em cada carta. 4 Na época, o tema Libertação era tema quente na Igreja Católica do Brasil e da América Latina. 5 Frei Leonardo Boff OFM., propagador da teologia da libertação no Brasil.
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trazer à fala, isso que hoje o consumo clerical pensa usualmente. E fazer tudo isso
sem criticar, até com simpatia, como quem apenas expõe um status quo de uma
questão.
Depois, coloca ao lado desse quadro o Capítulo VIII de I Fioretti6.
Dá o contraste, sem você expor a sua individual perplexidade. A própria
posição uma ao lado da outra gera a perplexidade.
a) Colocar então a questão: Como conciliar as duas posições?
b) NB: a colocação ‘a’ é um truque. É para trazer bem clara à fala
a perplexidade em que estamos todos nós. É também um truque da
capoeira espiritual. Você dá a impressão que vai dar um golpe num lado
em que todo o mundo espera. Você, porém, dá um outro golpe na direção
contrária, dizendo:
c) Antes de tentar conciliar essas aparentes posições opostas,
vamos antes tentar entender bem a posição de VIII Capítulo, para ver se ela
não nos ajuda a compreender melhor as nossas profundas aspirações,
quando hoje falamos de Libertação?
d) Então você expõe o Capítulo VIII, analisando-o como acha
melhor. Nessa análise, cuidar de mostrar o vigor da Perfeita Alegria não
como crítica da Libertação, mas como uma reflexão de profundidade, da
qual o pensamento de Libertação pode receber uma firmeza, um âmbito e
uma riqueza muito maior do que o usual.
6 I Fioretti VIII: Como a caminhar expôs S. Francisco a Frei Leão as coisas que constituem a perfeita alegria. Corresponde ao Capítulo VII de Atos do Bem-aventurado Francisco e dos seus Companheiros: Da doutrina de São Francisco a Frei Leão que só na cruz seja a perfeita alegria
Portanto: Libertação
1) ____________ 2) ____________ 3) ____________ 4) ____________
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e) - Jamais tomar um tom polêmico. O que deve convencer é a
coisa ela mesma, e não eu.
- Não discutir, opondo uma posição à objeção, mas tentar ver
no fundo da objeção um anseio para aquilo que pensa ser a essência
do VIII Capítulo,
- Evitar no máximo usar o pronome eu. Expor como se fosse
uma exposição de mecânica. Impessoal.
Creio que o tema proposto é bom. Só que acho que não devia tomar os
meus textos7. É muito importante você dar o seu texto. Fica mais concreto.
O que acho de importância, porém, é o modo de abordar. Começo a achar
cada vez mais que o conteúdo, na realidade é bastante indiferente. Também não
tem importância se é ou não profundo, vivencial, atuante ou não. O importante é
ser real, e não um falar bonito sobre uma situação que é fictícia.
Com outras palavras, ser uma teoria que pratica, isto é, que agarra a
realidade com as duas mãos, sem se incomodar se é bonito, profundo, prático ou
não. Portanto, em vez de questionar muito, etc., pegar o fenômeno nas mãos e
tentar dizer ao outro: está sentindo como é a coisa? E só então questionar.
Quanto à sua iluminação, ao seu satori, a respeito da ‘possibilidade
intrínseca de cada coisa, a materialidade’, acho que é isso mesmo!
Aqui8, tudo bem. Com a convicção cada vez mais firme de que a Teologia
hoje está bobeando, em querendo ter a vez na sociedade de hoje. Pois esse querer
ter a vez não é vigor da Verdade, mas sim um aparecer, o que por sua vez o
Pensamento usa como lugar de sua intuição.
A você todo o Bem e a Paz.
fr. H. Harada
7 Frei Hermógenes Harada tem vários artigos onde comenta I Fioretti VIII (Cf. Atos VII). 8 Nesta época, Frei Hermógenes Harada era professor de Filosofia em Petrópolis no Instituto Filosófico-Teológico da Província Imaculada Conceição e professor de Espiritualidade Franciscana a partir da leitura espiritual das Fontes no curso CEFEPAL, sendo também conselheiro do mesmo.