06-o percurso metodologico

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O O p p e e r r c c u u r rs s o o m m e e t t o o d d o o l l ó óg g i i c c o o

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  • O percurso metodolgico 90

    Trata-se de um estudo em que discorreremos sobre o

    desenvolvimento de material didtico- instrucional para ser utilizado

    como instrumento em atividades de Educao em Sade dirigidas s

    mes em berrio de prematur os com vistas alta hospitalar. O

    modelo pedaggico utilizado foi o da educao conscientizadora,

    fundamentada no referencial terico de Paulo Freire, tendo por base a

    metodologia participativa.

    A pesquisa participante surge, conceitual e metodologicamente ,

    no incio da dcada de oitenta, quando a realidade de um nmero

    importante de sociedades latino - americanas se caracterizava pela

    presena de regimes autoritrios e modelos de desenvolvimento

    manifestamente excludentes, no aspecto poltico, e concentradores, no

    aspecto econmico. As tendncias democratizantes e participativas

    prprias dos estilos modernizantes e integradores dos anos sessenta,

    que defendiam a incorporao de amplos setores da populao vida

    social e poltica, cederam lugar s exigncias impostas por uma

    reestruturao autoritria que, reduzindo as margens da

    heterogeneidade, substituram as fronteiras difusas do populismo em

    classes de perfi l mais definido (GAJARDO, 1999).

    Nesse mbito, continuam se desenvolvendo alternativas de

    trabalho com os setores populares e continua tambm, o delineamento

    de estratgias visando incorporar os setores populares aos processos

    de produo e comunicao de conhecimentos. assim que surge uma

    proposta hoje como tendncia emergente: a investigao participativa

    ou pesquisa participante. Deve -se reconhecer que, como nas dcadas

    passadas, a maioria das experincias tenta partir da realidade concreta

    dos grupos com que trabalham e defende o estabelecimento das

    relaes horizontais e antiautoritrias. Como as anteriores, estas

    propostas reconhecem as implicaes polt icas e ideolgicas

    subjacentes a qualquer prtica social, seja ela de pesquisa ou de

  • O percurso metodolgico 91

    finalidades educativas, e propugnam pela mobilizao de grupos e

    organizaes para a transformao da realidade social ou para o

    desenvolvimento de aes que redundem em benefcio coletivo

    (GAJARDO, 1999).

    O cientista, no campo das cincias sociais e humanas,

    participante do que estuda e deve se envolver no pro cesso de mudana

    que o grupo est vi vendo, estimulando o grupo a aprofundar a viso de

    sua ao conjunta. Com seu trabalho deve recriar, de dentro para fora,

    formas concretas possibili tando s pessoas, aos grupos e s classes

    participarem do direito de pensarem, produzirem e dirigirem os usos

    de seu saber a respeito de si prprios (BRANDO, 1981; 1999).

    Decorre da os grupos serem responsveis por si mesmos, assumindo

    seus problemas e buscando a soluo dos mesmos.

    Portanto, muda o papel do sujeito da pesquisa: ele no s o

    objeto es tudado. Muda, tambm, o papel do pesquisador: ele no

    mais o nico do no da verdade, manipulando os sujei tos e ditando os

    objetivos. Muda, alm disso, o papel da cincia: no s o pro gresso do

    conhecimento conta, mas tambm a elaborao de possibilidade de

    ao que o riente a ao comum (VALLE, 1988).

    Por estas consideraes, pode -se entender porque a pesquisa

    participante est revelando sua adequao s pes quisas de cunho

    eminentemente poltico-social- humano. Os elementos pes quisados no

    se sentem violados por um agente invasor que se apropria de seus

    fatos significativos e passa a tomar conscincia dos problemas

    particulares para depois se afastar e usar os dados encontrados como

    bem lhe aprouver (VALLE, 1988) .

    A pesquisa participante parece ser uma direo par a abrir novos

    caminhos de pesquisa em enfermagem, contribuindo para o

    aparecimento de uma conscincia social em pro fissionais desta rea de

    conhecimento (VALLE, 1988).

  • O percurso metodolgico 92

    A pesquisa participante vem sendo utilizada em vrios campos

    da atuao humana, como nas reas socio poltico-educacional,

    adminis trativo -organizacional, na sade (VALLE, 1982).

    Nesta ltima rea h preocupao em se identificar metodologias

    alternativas para a ao educativa e de pesquisa. No Brasil, existiam

    esforos da extinta Divis o Nacional de Educao em Sade e agora,

    do Programa Educao em Sade, institudo pelo Ministrio da Sade,

    que po dem ser constatados numa proposta de busca de novos mtodos,

    a partir de uma viso globalizadora das situaes que rodeiam o

    homem e que tem a ver com suas possibilidades de vida (BRASIL,

    1981). Dentro dessa concepo, a sade das pessoas passa a depender

    no somente das aes de sade que lhes so ofe recidas, mas tambm

    da sua participao desde que haja conhecimento, compreenso e

    motivao de sua par te para refletir sobre seus problemas, propor e

    realizar mudanas (BRASIL, 1981b).

    A participao da comunidade em busca de melhor condio de

    sade envolve uma metodologia de trabalho denominada ao

    participativa que nada mais que um a forma de pesquisa participante.

    O trabalho desenvolvido deve permitir uma aprendizagem par tilhada

    pela populao e equipe de sade, na qual haja troca de informao,

    capacitando o grupo a analisar criticamente uma situao, identificar e

    prio rizar problemas, indicando solues e se organizando para

    promover as solues (VALLE, 1988).

    Dessa maneira, a Educao em Sade deixa de ser um processo

    de persuaso organizado por equipes de sade, passando a ser um meio

    de se desenvolver uma viso crtica dos problemas pertinentes rea,

    refletindo sobre eles e discutindo -os (VALLE, 1988). A abordagem,

    portanto, deixa de ser autoritria para se tor nar mais cooperativa.

    Esse mtodo de ao participativa apresenta algumas etapas,

    conforme os relatrios j citados do Encontro de Experincia de

  • O percurso metodolgico 93

    Educao e Sade, a saber: identificao da situao de sade, com a

    participao da populao; dis cusso da situao de sade

    identificada; anlise das causas dos problemas; planejamento da ao;

    realizao da ao e avaliao da ao (BRASIL, 1981 b).

    Em todos esses passos mantido um dilogo entre a equipe de

    sade e a po pulao que considerada a adminis tradora do seu prprio

    projeto, definindo os mecanismos de controle que ela prpria exercer.

    Desta forma, o envol vimento da populao nos problemas que enfrenta

    pode se manifestar atravs da busca de conhecimentos de seus pontos

    fracos. Como se nota, na rea da sade, a pesquisa participante

    ressaltada em termos de ajudar e educar as populaes, mormente as

    carentes. No se de ve deixar de frisar que h um pano de fundo

    formado pelos aspectos socio poltico-culturais em que so inseridos os

    aspectos desta rea (VALLE, 1988).

    Ainda, em sade, como se poderia transpor tal metodo logia de

    trabalho para um ambiente mais restrito, como por exemplo, o hos-

    pital? No mbito do hospital a investigao cientfica obriga a

    incursionar previamente por diferentes nveis de pensamento e ao.

    Isso implica optar por uma metodologia de trabalho que sirva melhor

    invest igao de proble mas prprios do hospital .

    NOWINSKI & RIPA (1980) sugerem que no suficiente a

    tomada de conscincia dos problemas que surgem no hos pital;

    necessrio aprender abord- los convenientemente. Para isso,

    necessi ta-se de que se desenvolva uma metodo logia de pesquisa que

    possibilite indi vduos e grupos analisarem uma deter minada situao,

    identificar e priorizar problemas.

    Pensa-se que a pesquisa participante seja uma metodologia capaz

    de satisfazer alguns pontos at agora levan tados , em se tratando de

    ambiente hos pitalar, pois permite a motivao das pessoas envolvidas

    para compreende rem e participarem das aes destinadas s

  • O percurso metodolgico 94

    transformaes para melhorar a qualidade de atendimento dos

    pacientes (VALLE, 1988).

    A pesquisa participante uma al ternativa sociolgica. IDAC

    (1978) afirma que uma possvel linha de pesqui sa eficaz est em o

    estudioso se colocar no interior do grupo a ser estudado e, junto com

    os elementos, tentar buscar uma alternativa para superar a situao.

    No existe um nico modelo de pesquisa participante, pois trata-

    se de adaptar, em cada caso, o processo s condies particulares de

    cada situao concreta (os recursos, as limitaes, o contexto

    sociopoltico, os objetivos perseguidos, etc). O mtodo deve ser

    adaptado a cada projeto especfico, como a elaborao de tecnologias

    apropriadas em resposta a problemas especficos (LE BOTERF, 1999).

    O modelo de pesquisa participante que optamos para o presente

    estudo o de LE BOTERF (1999), que enfatiza a produo e

    comunicao de conhecimentos, propondo -se a: promover a produo

    coletiva de conhecimento, rompendo o monoplio do saber e da

    informao e permitindo que ambos se transformem em patrimnio dos

    grupos; promover a anlise coletiva do ordenamento da informao e

    da utilizao que dela se pode fazer; promover a anlise crtica,

    utilizando a informao ordenada e classificada a fim de determinar as

    razes e as causas dos problemas e as possibilidades de soluo;

    estabelecer relaes entre os problemas individuais e coletivos,

    funcionais e estruturais, como parte da busca de solues coletivas aos

    problemas enfrentados (LE BOTERF, 1999).

    Na seqncia metodolgica proposta por LE BOTERF (1999) h

    quatro fases: 1) montagem institucional e metodolgica da pesquisa

    participante; 2) estudo preliminar e provisrio da zona e da populao

    em estudo; 3) anlise crtica dos problemas considerados prioritrios e

    que os pesquisadores desejam estudar e 4) a programao e execuo

    de um plano de ao (incluindo aes educativas) para contribuir no

  • O percurso metodolgico 95

    enfrentamento dos problemas colocados.

    Com base na abordagem terico- metodolgica escolhida para o

    desenvolvimento do presente estudo, descrevemos a seguir as fases

    operacionais percorridas para construo do material didtico-

    instrucional a ser utilizado na orientao de mes para a alta do filho

    prematuro.

    4.1 Montagem institucional e metodolgica

    Na primeira fase da pesquisa participante, LE BOTERF (1999)

    recomenda que se realizem discusses do projeto, definio do

    objetivo, hipteses, mtodos e delimitao da regio a ser estudada.

    Devem ser selecionados pesquisadores e elaborar o cronograma de

    atividades a serem realizadas.

    Segundo o autor, essas diferentes tarefas supem o

    estabelecimento de uma estrutura de orientao do proje to que

    assegure o objetivo proposto e que seja representativa das suas

    diferentes partes.

    4.2 Estudo preliminar e provisrio da zona e da

    populao em estudo

    Esta segunda fase da pesquisa participante consiste de um

    diagnstico preliminar e provisrio da populao investigada. Num

    primeiro momento, importante compreender, numa perspectiva

    interna, qual o ponto de vista dos indivduos ou grupos sociais

    acerca das situaes que vivem. Qual a percepo destes sobre tais

    situaes? Como eles as interpretam? Quais os seus problemas?

    necessrio apreender qual a lgica dos pesquisados, mesmo que,

    primeira vista, as suas inferncias e raciocnios possam parecer

  • O percurso metodolgico 96

    irracionais. Uma das principais caractersticas da pesquisa participante

    que ela parte dos problemas colocados pelos pesquisados, problemas

    que eles esto dispostos a estudar. Ela parte do mundo cotidiano do

    pesquisado e escuta sua voz ( LE BOTERF, 1999).

    Assim, procuramos, num primeiro momento, verificar se havia

    interesse e disponibilidade dos sujeitos envolvidos no processo

    ensino - aprendizagem visando ao treinamento materno para a alta do

    filho prematuro, atravs da aderncia de educadores e educandos ao

    projeto.

    Participaram do estudo duas enfermeiras (e1 e e2), sendo que

    uma delas exerce a funo de enfermeira-chefe (53 anos de idade e 26

    anos de enfermagem, 9 deles no campo do estudo) e a outra tem 30

    anos e com vnculo empregatcio h 3 anos no campo do estudo; duas

    auxiliares de enfermagem (a1 e a2), uma tem 53 anos de idade e 16

    anos na enfermagem e a outra, 38 anos de idade e 6 anos de

    experincia na rea; e quatro mes de bebs prematuros (m1, m2, m3 e

    m4) internados no berrio de prematuros situado no 8 andar do

    prdio da Unidade do Campus do Hospital das Clnicas da Faculdade

    de Medicina de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo

    (HCFMRP -USP), hospital - escola pblico, de grande porte e de

    referncia terciria para atendimento perinatal da regional de sade de

    Ribeiro Preto SP. A m1 tem 35 anos de idade e o ensino

    fundamental incompleto, multigesta com 3 abortos anteriores; sua

    filha nasceu de 34 semanas e 3 dias (Ballard) e apresentou desconforto

    respiratrio precoce. A m2 tem 26 anos de idade e o ensino

    fundamental completo, primigesta; seu filho nasceu com 32 semanas

    e 3 dias e apresentou desconforto respiratrio. A m3 tem 23 anos e

    ensino fundamental incompleto; tem dois filhos, sendo o primeiro

    tambm prematuro, agora com 12 anos, e a filha atual nasceu com 35

    semanas e 1 dia e apresentou aspirao meconial. A m4 tem 25 anos,

  • O percurso metodolgico 97

    primigesta e pedagoga; seus gemelares nasceram de 31 semanas e 5

    dias, um deles apresentou desconforto respiratrio precoce.

    Cabe assinalar ainda que estas enfermeiras e auxiliares de

    enfermagem foram escolhidas por atuarem na unidade neonatal de

    cuidados intermedirios h mais de trs anos e apresentarem ampla

    experincia na orientao e preparo de mes de bebs pr-termo para a

    alta hospitalar de seus filhos. Em nosso estudo, h somente a

    participao das mes, pois estas fazem visitas dirias e esto mais

    freqentemente envolvidas no cuidado do filho.

    O berrio dividido em duas reas fsicas: uma enfermaria

    com 6 leitos e outra maior subdividida em trs reas com 6 leitos cada,

    totalizando 24 leitos neonatais.

    O HCFMRP - USP campo de estgio de alunos de graduao em

    enfermagem e constitui local onde os docentes da Escola de

    Enfermagem de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo (EERP -

    USP) desenvolvem atividades de pesquisa e extenso de servios

    comunidade.

    A segunda fase da pesquisa participante exige do pesquisador

    uma postura muita aberta em relao pesquisa, uma grande

    capacidade de se descentrar para se colocar no lugar do outro.

    Isso implica viver junto com a coletividade estudada, partilhar o seu

    cotidiano, a sua utiliza o do tempo e do espao: ouvir, em vez de

    tomar notas ou fazer registros; ver e observar, em vez de filmar;

    sentir, tocar em vez de estudar; viver junto em vez de visitar. em

    geral prefervel deixar de lado os cadernos de notas, os gravadores e

    os questionrios. A pesquisa nesse ponto no estruturada; o

    pesquisador se colocar como um diapaso dos pesquisados. O

    percurso nesse ponto pode ser em ritmo muito lento. Freqentemente,

    necessrio longo tempo para que se adquira confiana (LE BOTERF,

    1999).

  • O percurso metodolgico 98

    No estudo esta fase foi iniciada h pouco mais de um ano,

    atravs da nossa participao no Grupo de Estudos e Pesquisa em

    Enfermagem Neonatal (GEPEN), que parte de um ncleo envolvendo

    docentes, alunos de graduao e ps- graduao da EERP - USP e

    enfer meiros assistenciais, em especial das unidades neonatais do

    HCFMRP - USP.

    A nossa insero na rea de Enfermagem Neonatal se deu atravs

    da participao nas atividades terico- prticas dos alunos do 7

    semestre do curso de graduao em enfermagem da EERP - USP, no

    perodo de maro a junho de 2000, e do desenvolvimento de estgio

    voluntrio de dezembro de 1999 a agosto de 2000. Ambas, as

    atividades, realizadas no campo do presente estudo.

    Uma das atividades de extenso de servios comunidade,

    desenvolvidas pelo GEPEN, refere -se ao programa de atividades

    ldico- pedaggicas dirigidas s mes de bebs internados nas unidades

    de cuidados intensivos e intermedirios neonatal deste hospital.

    Atravs da insero neste programa, nos aproximamos melhor das

    necessidade s e expectativas das mes dos bebs prematuros. As

    intervenes so semanais, por um perodo de uma a duas horas, em

    que um grupo de graduandas de enfermagem, bolsistas e voluntrias,

    realizam atividades de lazer e bordado, croch e tric, bem como

    discusso de temas bsicos como higiene pessoal e do ambiente

    domiciliar.

    O fato de termos estabelecido com as participantes do estudo

    uma relao cordial e de troca facilitou nossa aceitao como

    elemento inserido no grupo, fator este necessrio para a reali zao da

    pesquisa participante.

    Nesta fase, o pesquisador se aproxima do grupo para tentar

    detectar como o mes mo se comporta, quais so os proble mas

    emergentes e sondar a maneira mais favorvel para nele se inserir .

  • O percurso metodolgico 99

    Esta tarefa no to simples como parece, pois uma presena estranha

    pode ge rar desconfiana nos elementos. O pes quisador deve assumir

    seu papel com honestidade, discutindo com o grupo, uma vez que seu

    objetivo questionar e esclarecer a prtica do grupo e deve guardar

    certa distncia cr tica da reali dade das aes do grupo. Tal posio

    corresponde atitude independente, descrita por DUMAZEDIER

    (1980), a qual possibilita ao investigador uma atuao cientfica. Por-

    tanto, deve -se manter uma sntese entre os papis de militante e de

    cient is ta.

    Muitas vezes no possvel, nem mesmo desejvel, efetuar um

    diagnstico muito elaborado e completo durante esta fase. Os recursos

    disponveis (tempo, pessoal, meios financeiros, etc) no o permitem.

    Alm disso, as populaes pesquisadas esto, muitas vezes, cansadas

    de diagnsticos sem conseqncias, de estudos diversos aps os quais

    no surgem resultados e nem aes conseqentes. Por essas diferentes

    razes, prefervel realizar um diagnstico provisrio, limitado, nesta

    fase. Por conseguinte, ao longo de todo o processo da pesquisa

    participante que ser possvel completar o diagnstico (LE BOTERF,

    1999).

    Ao final desta segunda fase, os resultados obtidos so difundidos

    junto populao envolvida, que ter assim ocasio de discut-los ,

    aprov-los, question- los ou complet- los (LE BOTERF, 1999).

    O objetivo principal dessa atividade de feedback promover

    entre os participantes da pesquisa um conhecimento mais objetivo de

    sua si tuao (LE BOTERF, 1999).

  • O percurso metodolgico 100

    4.3 Anlise crtica dos problemas considerados prioritrios

    Esta terceira fase consagrada a um primeiro trabalho de anlise

    crtica dos problemas considerados prioritrios na fase precedente,

    para isso so formados grupos de estudo (LE BOTERF, 1999). Os crculos de discusso, como descreve SANTOS (1996),

    representam a discusso de grupo, tcnica de abordagem qualitativa

    valorizada por conseguir trazer tona as opinies, relevncias e

    valores dos sujeitos da pesquisa em relao a um determinado tema.

    Primeiro foram instalados dois pequenos crculos de discusso,

    sendo um constitudo por quatro participantes: duas enfermeiras (e1 e

    e2) e dois auxiliares de enfermagem (a1 e a2), e outro pelas quatro

    mes de prematuros (m1, m2, m3 e m4), conforme citado

    anteriormente.

    Nesses dois grupos apresentamos a proposta de desenvolver

    material didtico-instrucional que auxilie o preparo das mes para a

    alta hospitalar do filho prematuro e solicitamos que expressassem as

    suas expectativas frente a proposta.

    Estimulamos o levantamento e anlise dos problemas

    vivenciados na orientao para a alta hospitalar; para as enfermeiras e

    auxiliares, os temas relevantes ao preparar a me para a alta hospitalar

    do beb prematuro e para as mes, que temas gostariam e precisariam

    saber para levar o seu f i lho para casa.

    A dinmica que se estabeleceu no desenrolar das discusses, nos

    crculos pequenos foi a crtica que se fez acerca dos seguintes

    aspectos:

    1 . Quanto proposta enunciada os participantes foram

    incentivados a analisar a importncia de um mat er ia l

    educativo nas atividades de educao em sade com vistas

    alta hospitalar;

  • O percurso metodolgico 101

    2. Quanto aos temas geradores e ao contedo abordado os

    participantes discutiram e analisaram os tpicos (unidades

    de trabalho) que o material educativo deveria abordar;

    3. Quanto tecnologia utilizada aps discusso, o grupo

    decidiu sobre o t ipo de material a ser confeccionado.

    As informaes recolhidas foram devidamente organizadas e

    sistematizadas. Entretanto, enfatiza-se o aspecto de a pesquisa no se

    deter no recolhiment o do que existe: o grupo deve participar dos dados

    encontrados, para, atravs de uma conscientizao, tentar a superao

    de problemas (VALLE, 1988).

    importante relatar que, nesse pro cesso da pesquisa

    participante, a organizao dos dados no significa a composio de

    um retrato definitivo do grupo. A compreenso da situao no vista

    como um produto final do trabalho realizado. Os dados organizados

    devem se constituir num material de trabalho, atravs do qual se

    consiga preencher o espao entre a realidade e a sua percepo

    (VALLE, 1988).

    As atividades nos pequenos crculos de discusso foram

    organizadas tendo como foco os seguintes questionamentos:

    1. Qual a relevncia do material educativo nas atividades

    de educao em sade para a alta hospitalar?

    2. Quais temas e seus contedos deveriam ser trabalhados

    no material educativo?

    3. Que tipo de material de ensino deveria ser uti l izado?

    Para a anlise dos problemas considerados prioritrios,

    utilizamos nestes grupos, o desenho metodolgico de MARTINIC &

    SAINZ (1987) nas seguintes etapas: o intercmbio de experincias que

    tem o objetivo de determinar um conjunto de perguntas bsicas e

  • O percurso metodolgico 102

    significativas para os participantes em torno do problema em questo;

    a objetivao e problematizao, que o processo no qual o gr upo

    procura estabelecer uma srie de problemas chaves e simultaneamente

    a objetivao do problema se desenvolve uma problematizao deste; e

    a anlise da informao obtida e definio de linhas de ao, em que o

    grupo, neste momento analisa a informao obtida e comprova se a

    realidade respondeu as perguntas, se coincide com as colocao que

    fizeram num primeiro momento.

    A ao, no caso do nosso estudo, se expressa na produo de

    material educativo especfico.

    O produto concreto do processo que vai des de o intercmbio de

    experincias ao de objetivao, se deve expressar no que MARTINIC

    & SAINZ (1987) chamam de temas geradores, os quais referem-se a

    contedos especficos e que tm a capacidade de sintetizar o

    analisado.

    Os temas geradores so o conjunt o de opinies que surgem com

    mais relevncia e significado, em torno do problema apresentado. O

    contedo de cada tema gerador especificado, determinando as

    unidades de trabalho (MARTINIC & SAINZ, 1987).

    A figura que se segue a do desenho metodolgico proposto por

    estes autores.

    Fonte: Figura 2 MARTINIC, S . ; SAINZ, H. I . Invest igacin part ic ipat iva y cu l tura popular : una exper i enc ia en cu r so . 1987 . p .15 - 31 . (Cadernos do CEDES,

    n .12) .

    Intercmbio de experincias Objetivao

    Explicao Anlise da situao

    Temas geradores Unidades de

    trabalho Ao

  • O percurso metodolgico 103

    Aps a realizao dos dois crculos de discusso, houve um

    crculo de discusso maior, incluindo todas as participantes (e1, e2,

    a1,a2, m1, m2, m3 e m4). Os aspectos enfocados e identificados foram

    levantados para que elas se reapropriassem de suas expresses e

    sugestes, para, em discusso conjunta, interpretarem se a anlise

    realizada correspondeu aos anseios da crtica que realizaram. Nesta

    reunio conjunta, discutiu- se acerca dos seguintes aspectos:

    1. Como seria a apresentao, a forma do material

    educativo?

    Essa construo coletiva embasou-se na crt ica e nas sugestes

    surgidas nos crculos de discusso.

    A finalidade desta comunicao a de pr em evidncia as

    relaes existentes entre os problemas estudados e a de aprimorar o

    conhecimento que o conjunto da populao dispe da situao (LE

    BOTERF, 1999) .

    O carter participativo na construo conjunta do saber traz

    tona a relao entre pesquisador/pesquisado como uma relao entre

    sujeitos, e no uma relao entre sujeitos e objeto (EGRY et al. ,

    1991).

    Do ponto de vista operacional, a discusso do grupo se faz em

    reunio com pequeno nmero de informantes (seis a doze) e,

    geralmente, tem a presena de um animador que intervm, tentando

    focalizar e aprofundar a discusso, sem no entanto, induzir

    conscientemente o grupo atravs de suas prprias relevncias. O

    desenrolar das discusses, implica tambm nas seguintes funes do

    animador: introduzir a discusso e mant -la acesa; enfatizar para o

    grupo que no h respostas certas ou erradas; observar os

    participantes, encorajando a palavra de cada um ; buscar as deixas de

  • O percurso metodolgico 104

    continuidade da prpria discusso e fala das participantes;

    construir relaes com os informantes para aprofundar,

    individualmente, respostas e comentrios considerados relevantes pelo

    grupo ou pelo pesquisador; observar as comunica es no - verbais e o

    ritmo prprio dos participantes, dentro do tempo para o debate, que

    no deve ultrapassar de 1:00 a 1:30 hora (MINAYO, 1994).

    O animador, chamado por LE BOTERF (1999), de orientador

    do grupo de estudo, que intervm para auxiliar na realizao do

    trabalho de anlise dos problemas. No presente estudo este papel foi

    realizado pela pesquisadora.

    O ponto fundamental da pesquisa participante consiste em se

    detec tarem as possibilidades naturais de mudana no seio do prprio

    grupo e ativar esse potencial na direo do que deve ser. Dessa forma,

    os elementos tm oportunidade de se conscientizarem de como vivem e

    podem se abrir para uma ao criativa (VALLE, 1988) .

    O grupo, ento, passa a ser sujeito e objeto do processo.

    sujeito, enquanto di scute e analisa a discusso. obje to, porque a

    prpria realidade exposta para a discusso (VALLE, 1988).

    A tarefa do pesquisador, nesse ponto, a de orientar o

    exame que o grupo faz dos dados e ativ-los a ir adiante em sua

    anlise. H todo um pr oces so de ao -reflexo. A cada nova ao

    surge uma reflexo, num movimento permanente, que procura ser

    testada e redefinida pela prtica e experincia (VALLE, 1988).

    O processo ativado pelo pesquisador que, num determinado

    momento, se afasta. O controle da situao pas sa ento a ser exercido

    pelo prprio grupo que se utiliza das tcnicas e meios empregados

    durante a pesquisa e com os quais se familiarizou. Isso significa que

    houve xito na experincia, pois o grupo se apropriou do

    conhecimento que o pesquisador trouxe (VALLE, 1988).

  • O percurso metodolgico 105

    Utilizando as unidades de trabalho trazidas pelas participantes, a

    pesquisadora elaborou os contedos, tendo por base a l i teratura.

    A reviso destes contedos foi feita por quatro enfermeiras, uma

    professora da EERP - USP, duas enfermeiras assistenciais e outra do

    Banco de Leite.

    A atividade de feedback no final desta fase a devoluo do

    material confeccionado ao grupo. Para VALLE (1988) , precisamente,

    nesta fase que reside a caracterstica deste tipo de pesquisa voltado

    para a ao, no sentido de se tentar fazer alguma coisa alm da mera

    constatao de problemas (VALLE, 1988).

    Para a atividade de feedback , uma cpia do material piloto, de

    manufatura simples e artesanal (reunia os textos dos temas

    desenvolvidos e suas respectivas i lustraes), editado no Word for

    Windows (editor de texto, no especfico para este trabalho), impresso

    em papel sulfite 180g, na configurao econmica e colocado espiral;

    foi entregue, em casa, para cada participante a fim de que pudessem

    manuse -lo e ler t ranqilamente.

    Enquanto os participantes validavam o material piloto, os textos

    e as ilustraes foram entreguem assessoria tcnica de funcionrios

    da seo de audiovisual da EERP - USP para ir sendo feita a

    diagramao e arte final em programa especfico.

    Enfermeiras, auxiliares de enfermagem e mes de bebs

    prematuros foram instrudas sobre os tpicos para avaliar, validando o

    contedo e aparncia do material didtico-instrucional .

    DOAK et al. (1996) apresenta um instrumento para avaliao da

    dificuldade e da convenincia de materiais educativos, denominado

    Suitabili ty Assessment of Materials (SAM).

  • O percurso metodolgico 106

    No instrumento SAM h uma lista para checar 17 atributos

    relacionados organizao, estilo de escrita, aparncia e motivao do

    material educ ativo:

    Organizao

    1. a capa atraente? Indica o contedo do material?

    2. so usados cabealhos e resumos que mostram organizao

    e provem repetio de mensagem?

    3. includo um resumo do que fazer?

    4. os tpicos tm seqncia?

    5. o tamanho do contedo nos tpicos adequado?

    Esti lo da escrita

    6. a escri ta est em est i lo socivel?

    7. o texto vvido e interessante? Tom amigvel?

    8. inexiste jargo tcnico?

    9. o vocabulrio acessvel?

    10. h associao da pergunta resposta?

    11. o texto c laro?

    Aparncia

    12. pginas ou sees parecem o rganizadas?

    13. i lustraes so simples preferencialmente desenhos?

    14. i lustraes servem para ampliar os textos?

    Motivao

    15. o material apropriado para a idade, gnero e cultura?

    16. o material apresenta lgica?

    17. a interao convidada por perguntas, respostas, sugerem

    aes, e tc?

    Fizemos uma adequao desse instrumento e foi entregue para as

    enfermeiras e auxiliares de enfermagem, juntamente com a cartilha,

    para auxili- los a checar os tpicos do material (Anexo 1).

  • O percurso metodolgico 107

    Cada um dos atributos deve ser observado. Os atributos que no

    forem encontrados no material indicaro deficincias em potencial

    (DOAK et al . , 1996).

    Foi solicitado, s mes, que destacassem, em casa, os termos

    tcnicos que porventura no tenham sido entendidos.

    Aps uma semana de prazo, as mes foram procuradas em casa

    para se expressarem a respeito da cartilha; e as enfermeiras e

    auxiliares de enfermagem foram procuradas no prprio local de

    trabalho.

    A avaliao um processo contnuo que nunca est completa.

    Aps o trmino do desenvolvimento de um material educativo e sua

    disponibilizao para o uso, o feedback dos usurios pode fornecer

    idias para melhorias que poderiam ser incorporadas em edies

    subseqentes.

    Foram realizados, ao todo, quatro encontros, no perodo de 03/05

    a 05/10 de 2001, havendo a instalao dos grupos de estudo ou

    crculos de discusso, com durao mdia de uma hora, nos quais o

    papel de animador foi desempenhado pela autora do presente estudo.

    As discusses foram gravadas na ntegra e, posteriormente, transcritas

    para a anlise. Alm disso, utilizamos o Dirio de Campo para

    registros de manifestaes no verbais.

    A seguir sintetizamos as etapas percorridas para construo do

    material educativo.

    Quadro 1 Fases metodolgicas da construo do material didtico-

    instrucional dirigido a orientao materna para a alta hospitalar do

    filho prematuro, atravs da metodologia participativa.

  • O percurso metodolgico 108

    Fases Da t a Durao At iv idades desenvolv idas

    Def in io do ob je t ivo e da metodolog ia .

    Nov. e

    Dez . /00

    Discusso do p ro je to com as en fe rmei ras e banca examinadora .

    Montagem ins t i tuc iona l e

    metodo lg ica da pesqu i sa

    Mar . /01 E laborao do c ronograma de a t iv idades .

    Dez . /99 2 anos In se ro e exp lo rao no campo .

    Abr . /01 Conta to com os par t i c ipan tes para ve r i f i ca r ade rnc ia ao p ro je to .

    Es tudo pre l iminar e p rov i s r io da

    z o n a e d a populao em

    es tudo Abr . /01 Escolha dos par t ic ipantes (2 enfermeiras , 2 auxi l iares de enfermagem e 4 mes de prematuros) .

    Abr . /01 Fo rmao de do i s pequenos c rcu los de d iscusso: um com as 4 mes de prematuros e out ro com as 2 enfe rmei ras e 2 aux i l i a res de enfermagem.

    Mes :

    03 /05 /01

    45 minutos

    Enfermagem:

    09 /05 /01

    40 minutos

    Discusso nos c rculos sobre a re levncia do mater ia l educat ivo nas a t iv idades de educao em sade para a a l ta hosp i ta la r ; dos temas dever iam ser t raba lhados no mater ia l educa t ivo e que t ipo de mater ia l de ens ino dever ia se r u t i l i zada .

    Mai . /01 Formao do c r cu lo de d i scusso grande ( todos os par t ic ipan tes jun tos ) .

    14 / /5 /01 50 minutos Comunicao dos resu l tados dos c rculos pequenos e d iscusso no c r cu lo g rande de como se r i a a apresentao , a forma do mater ia l educa t ivo .

    Jun . e

    ju l . /01

    E laborao , pe la pesqu i sadora do con tedo de cada t ema propos to nos pequenos c rcu los , t endo por base a l i t e ra tura .

    Ago. e

    se t . /01

    Rev i so dos con tedos por qua t ro prof i ss iona is .

    Se t . /01 Confeco do mate r i a l p i lo to .

    Se t . /01 Entrega a domici l io do mater ia l , para va l idao pe l a s pa r t i c ipan te s .

    An l i se c r t i ca dos problemas

    cons iderados pr ior i t r ios

    Out . e

    nov . /01

    Lei tura das va l idaes das par t ic ipantes e das suges tes dos prof i ss iona is e adequao/cor reo do mater ia l .

  • O percurso metodolgico 109

    Out . e

    nov . /01

    Diagramao e ar te f inal do mater ia l pe lo SEDOC

    Nov . /01 Reproduo de 5 cpias para a aprec iao da Pr - Banca

    Nov . /01 Cor rees das suges tes da Pr - Banca

    Jan . /02 Reproduo de 12 cpias para a Defesa Pblica

    2002 Confeco do fo to l i to pe la g r f ica .

    2002 Procura de pa t roc n io para p roduo de cp ias a se rem en t regues no campo de es tudo e poss ib i l i t a r a d i s t r ibu io em outras inst i t u i es que p res t em ass i s t nc ia aos bebs p rema tu ros .

    A p rog ramao e execuo de um

    p lano de ao ( inc lu indo aes educa t ivas ) pa ra

    con t r ibu i r no enf ren tamento dos

    problemas co locados

    Es tudos

    poster iores

    Passamos a descrever, no prximo captulo, o vivenciar a

    construo de material didtico-instrucional que norteou este estudo,

    apresentando, tambm, os resultados que emergiram nesse caminhar.

    4.4 Aspectos ticos: instruo geral e obteno

    de anuncia dos participantes

    Quanto aos aspectos ticos do estudo, inicialmente, o projeto foi

    submetido apreciao pelo Comit de tica do HCFMRP - USP, sendo

    aprovado (Anexo 2).

    As participantes foram informadas sobre o objetivo do estudo e

    manifestaram- se acerca do interesse em participar da pesquisa. Aps a

    anuncia foi l ido o termo de consentimento e solicitado a assinatura

    (Anexo 3).