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www.innovatio.org.br INTRODUÇÃO E DIDÁTICA DE FILOSOFIA Sabrina Fernanda Demozzi “Cada um de nós é como um homem que vê as coisas em um sonho e acredita conhecê-las perfeitamente, e então desperta para descobrir que não sabe nada” (Platão 428/427- 348/347 a.C.). Esta frase extraída da obra Político do filósofo grego Platão, é um convite à provocação. A partir de que momento o homem sai deste estado de plena confiança do que pensa conhecer e desperta para uma realidade em que não sabe de nada? Já que a filosofia é a ciência que nos provoca a pensar, sugerimos que iniciemos este nosso

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www.innovatio.org.br

INTRODUÇÃO E DIDÁTICA DE FILOSOFIA

Sabrina Fernanda Demozzi

“Cada um de nós é como um homem que vê as coisas em um sonho e

acredita conhecê-las perfeitamente, e então desperta para descobrir que não

sabe nada” (Platão 428/427- 348/347 a.C.). Esta frase extraída da obra Político

do filósofo grego Platão, é um convite à provocação. A partir de que momento o

homem sai deste estado de plena confiança do que pensa conhecer e desperta

para uma realidade em que não sabe de nada? Já que a filosofia é a ciência

que nos provoca a pensar, sugerimos que iniciemos este nosso encontro com

essa questão para já começarmos as nossas reflexões.

Geralmente costuma-se associar à filosofia ou os filósofos uma atividade

de gente “doida” que apenas fica pensando e não faz nada com isso. Ora, além

de absurdo imaginar que pensar é fazer nada, é no mínimo injusto com a

história da filosofia não considerarmos séculos e séculos de produção de

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conhecimento que nos ajudaram a esclarecer e discutir muitos dos dilemas da

humanidade, não é mesmo? A professora Marilena Chaui discute esta questão:

Qual seria, então, a utilidade da filosofia? Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão às ideias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil, se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade de todos for útil, então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes. (CHAUI, p.24, 2010)

Diante disso, pretendemos com este curso fornecer algumas pistas

para o aprendizado e a didática da filosofia. Para que possamos nortear nossos

estudos dividimos este curso em três partes: a origem da filosofia, alguns temas básicos da filosofia aplicados à nossa realidade e finalmente o

ensino da filosofia no Brasil e a didática em filosofia. Paralelamente a esta

divisão, acrescentaremos alguns recursos como: sugestão de filmes e leituras,

pequenas biografias de personagens importantes, glossário, imagens entre

outros. Bom curso!

1. A origem da filosofia

A palavra filosofia tem origem grega e é a junção de duas palavras: philo

e sophia. Philo quer dizer “aquele ou aquela que tem sentimento amável” e

Sophia quer dizer “sabedoria”. Filosofia então quer dizer “amor e respeito pelo

saber”. Costuma-se atribuir ao filósofo grego Pitágoras de Samos (V a.C) a

invenção da palavra filosofia. Mas, em que contexto histórico surge a filosofia?

É preciso que façamos um breve retrospecto antes de responder a esta

questão. Você já deve ter ouvido falar nos mitos gregos. Os mitos eram

narrativas que contavam com elementos fantásticos carregados de

religiosidade e tradição. A transmissão dos mitos dava-se principalmente

através da linguagem oral, e era uma forma de fazer com que todos levassem

a vida de modo a agradar aos deuses para obter resultados positivos em

diversos aspectos de sua vida e quem não observasse as lições de moral

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contidas nos mitos poderiam ser “punidos”. Logo, o mito não era apenas uma

história, mas sim um exemplo a ser seguido.

Entre os objetivos dos mitos estava o de transmitir mensagens para o

povo, como por exemplo, as explicações sobre os fenômenos da natureza, a

origem do mundo, os acontecimentos sociais e históricos da época. Além

disso, os mitos tinham claramente a intenção de manter a tradição e preservar

a memória do povo grego.

Os mitos cumpriam uma função social moralizante de tal forma que essas narrativas ocupavam o imaginário dos cidadãos da pólis grega direcionando suas condutas. Na Atenas do século V a.C. existia também o espaço para as comédias que satirizavam os poderosos e personagens célebres, e as tragédias que narravam as aventuras e prodígios dos heróis, bem como suas desventuras e fracassos. (SANTOS, CARDOSO, SEED-PR, 2006)

Para isso, eles lançavam mão de personagens e figuras mitológicas

como os heróis, ninfas, deuses, centauros, entre outros, que se dividiam entre

o plano da fábula e o da realidade cotidiana dos gregos. São alguns exemplos

destes seres: os heróis que eram seres mortais, filhos de deuses e seres

humanos como Hércules, seres como a Medusa, figura mitológica que tinha

serpentes na cabeça e transformava em pedra quem a olhasse diretamente

nos olhos e principalmente os deuses gregos como Zeus, o mais poderoso de

todos os deuses, Hera mulher de Zeus e a deusa do matrimônio e Afrodite,

deusa do amor e da beleza.

O legado destas narrativas até hoje nos fascina e alguns nomes como

Sofócles, Aristófanes e o poeta Homero são sempre lembrados quando

falamos da Grécia antiga e da maneira que eles concebiam o mundo. É

importante lembrar que tanto o mito como a poesia, fazem parte da origem da

filosofia.

Veja abaixo o exemplo do Mito de Sísifo que versa sobre o homem que

desafia os deuses e é condenado a um castigo pior do que a morte. Após a

leitura, responda às questões que seguem:

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O Mito de Sísifo

Sisifo, de Tiziano Vecellio, 1548-1549

Link da imagem: Acervo: Museo del Prado-

https://www.museodelprado.es/en/the-collection/online-gallery/on-line-gallery/

obra/sisyphus/

“Sísifo, rei da Tessália e de Enarete, era o filho de Éolo. Fundador da cidade de

Éfira, que mais tarde veio a chamar-se Corinto, e também dos jogos de Ístmia

(ou Ístmicos). Sísifo tinha a reputação de ser o mais habilidoso e esperto dos

homens e por esta razão dizia-se que era pai de Ulisses. Sísifo despertou a ira

de Zeus quando contou ao deus dos rios, Asopo, que Zeus tinha sequestrado a

sua filha Egina. Zeus mandou o deus da morte, Tanatos, perseguir Sísifo, mas

este conseguiu enganá-lo e prender Tanatos. A prisão de Tanatos impedia que

os mortos pudessem alcançar o Reino das Trevas, tendo sido necessário que

fosse libertado por Ares. Foi então que Sísifo, não podendo escapar ao seu

destino de morte, instruiu a sua mulher a não lhe prestar exéquias fúnebres.

Quando chegou ao mundo dos mortos, queixou-se a Hades, soberano do reino

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das sombras, da negligência da sua mulher e pediu-lhe para voltar ao mundo

dos vivos apenas por um curto período, para a castigar.

Hades deu-lhe permissão para regressar, mas quando Sísifo voltou ao mundo

dos vivos, não quis mais voltar ao mundo dos mortos. Hermes, o deus

mensageiro e condutor das almas para o Além, decidiu então castigá-lo

pessoalmente, infligindo-lhe um duro castigo, pior do que a morte. Sísifo foi

condenado para todo o sempre a empurrar uma pedra até ao cimo de um

monte, caindo a pedra invariavelmente da montanha sempre que o topo era

atingido. Este processo seria sempre repetido até à eternidade.”

(in Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2015. [consult. 2015-01-26 16:11:11].

Disponível na Internet: http://www.infopedia.pt/$mito-de-sisifo)

1. O que você compreende por mito?

2. O que lhe chama a atenção no Mito de Sísifo?

3. É possível relacionarmos o mito de Sísifo com a vida do homem no

mundo em que vivemos? Justifique:

ILUSTRAÇÃO

Crédito da imagem: http://pt.wikipedia.org/wiki/Homero - Acervo Helenístico no

Museu Britânico

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Homero nasceu em 928 a.C na região da Jônia, no Egeu oriental. Foi um dos poetas mais importantes da Grécia antiga. A ele é atribuída a autoria dos poemas

épicos Ilíada e Odisséia.

Crédito da imagem: http://www.biografiasyvidas.com/bio

Aristófanes nasceu em Atenas em 457 a.C. Foi um dramaturgo grego e escreveu mais de 40 peças. É considerado o maior representante da comédia antiga.

VEJA TAMBÉM:

LEITURA COMPLEMENTAR: O poema épico, Ilíada, cuja autoria é

atribuída a Homero, é considerado um marco na literatura narrativa ocidental.

Confira abaixo um trecho desta obra que descreve a Guerra de Tróia, o grande

confronto entre os aqueus e os troianos, que durou 10 anos e vitimou inúmeros

soldados, além dos heróis gregos Heitor e Aquiles. Procure ler! É um trabalho

de complexidade incrível, repleto de informações históricas, filosóficas,

geográficas e sociais.

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A queda de Tróia, por Johann Georg Trautmann (1713–1769)- Crédito da

Imagem:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:J_G_Trautmann_Das_brennende_Troja.jpg –

Da coleção dos grãos duques de Baden, Karlsruhe.

Ilíada

Canto I Canta, ó deusa, a cólera de Aquiles, o Pelida

(mortífera! que tantas dores trouxe aos Aqueus

e tantas almas valentes de heróis lançou no Hades,

ficando seus corpos como presa para cães e aves

de rapina, enquanto se cumpria a vontade de Zeus),

desde o momento em que primeiro se desentenderam

o Atrida, soberano dos homens, e o divino Aquiles.

Entre eles qual dos deuses provocou o conflito?

Apolo, filho de Leto e de Zeus. Enfurecera-se o deus

contra o rei e por isso espalhara entre o exército

uma doença terrível de que morriam as hostes,

porque o Atrida desconsiderara Crises, seu sacerdote.

Ora este tinha vindo até as naus velozes dos Aqueus

para resgatar a filha, trazendo incontáveis riquezas.

Segurando nas mãos as fitas de Apolo que acerta ao longe

e um cetro dourado, suplicou a todos os Aqueus,

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mas em especial aos dois Atridas, condutores de homens:

“Ó Atridas e vós, demais Aqueus de belas cnêmides!

Que vos concedam os deuses, que o Olimpo detêm,

saquear a cidade de Príamo e regressar bem a vossas casas!

Mas libertai a minha filha amada e recebei o resgate,

por respeito para com o filho de Zeus, Apolo que acerta

ao longe.”

Saiba mais: Platão (428/427 – Atenas, 348/347 a.C.)

Link da imagem:

http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Plato_Silanion_Musei_Capitolini_MC1377.jpg

Platão- Reprodução em mármore do retrato do filósofo feito por Silanion em 370 a.C.

para a Academia de Atenas. Disponível atualmente no Museu Capitolino, em Roma.

Para aprofundar os seus conhecimentos, sugerimos a leitura do texto A

Alegoria da Caverna, escrito por Platão no livro A República, tomo VII. Este é

um dos textos filosóficos mais conhecidos e podemos afirmar que ele não

perde a sua atualidade. Em A Alegoria da Caverna, Platão utiliza a linguagem

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mítica, repleta de elementos fantasiosos, para explicar como os homens tinham

dificuldade de libertar-se das crendices, mantendo-os em constante estado de

passividade. Em resumo, o texto narra uma história em que alguns homens

vivem toda a sua vida dentro de uma caverna e ficam todos voltados de costas

para a entrada. Como estão acorrentados, eles não podem se mover e apenas

visualizam na parede do fundo da caverna as sombras refletidas dos homens

que vivem além do muro, por uma fresta de luz. Um dia, um destes habitantes

da caverna sai e se depara com algo que nunca viu antes, pois o seu mundo

era apenas o do fundo da caverna. Para saber o que acontece com ele, leia o

texto todo. Vale a pena. Aproveite para perceber como podemos pensar o Mito

da Caverna nos dias de hoje, quando pensamos o porque algumas pessoas

optam por permanecerem no “fundo da caverna” apenas vendo as sombras

dos outros homens. Analise!

A pólis grega e o desenvolvimento da filosofia

Pode-se dizer a filosofia surge a partir da combinação de alguns fatores.

No período entre o século V e IV, importantes mudanças favorecem o

desenvolvimento de uma nova forma de compreensão do mundo mais objetiva

e fundamentada nas observações mais racionais sobre os conflitos, as guerras,

as conquistas, os problemas do homem, dentre outros. O estabelecimento da

vida urbana na pólis grega (Cidades-Estados independentes), a invenção da

escrita, o comércio e a produção de alimentos são essenciais para o

fortalecimento das cidades, bem como, o surgimento do espaço público por

excelência, como por exemplo, as Ágoras que são importantes pontos em que

as pessoas encontravam-se para comercializar nas feiras livres, discutir ideias

e ter contato com a cultura e a política.

A pólis passa então a representar a voz e os interesses da população e

gradativamente as interpretações sobre a realidade são consolidadas a partir

da experimentação, da observação dos fenômenos e elementos da Natureza e

da discussão dos fatos. Vale salientar que mesmo que a pólis representasse

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então a “voz do povo”, não eram todos que tinham as mesmas condições de

participação pública na cidade grega, como por exemplo, os estrangeiros, as

mulheres e os escravos. A visão mítica dos gregos antigos não é mais a

“única” e possível explicação para o mundo. Não podemos afirmar, porém, que

esta ruptura aconteceu de uma hora para outra. Tanto o mito quando a

religiosidade são elementos muito presentes na vida grega, e é certo que

alguns setores da sociedade ateniense hesitavam em considerar outros pontos

de vista sob o risco de perderem o seu poder. Os filósofos então têm papel

essencial nesta sociedade.

Destaca-se como um dos personagens mais emblemáticos nesta fase

de transição do pensamento, o ateniense Sócrates (-469/- 399) que forneceu

as bases para a prática da filosofia. Seu método era baseado principalmente no

uso da ironia que, diferente do que entendemos hoje, não tinha como objetivo

expor o interlocutor ao ridículo ou fazer graça, mas sim fazer uma pergunta

sobre algo em discussão e incitar o debate, refutando conceitos e ideias, e a

maiêutica, palavra que significa dar a luz (parto), e que neste caso, era a busca

intelectual pela verdade, pela discussão das ideias. Os temas contemplados

por Sócrates eram os mais distintos, por exemplo, questionamentos sobre que

é belo, o que é justo, o que é ética, o que é a morte, o que seria um governo

ideal, dentre outros.

Sobre Sócrates:

Despreocupado com os bens materiais — cujo acúmulo era o objetivo da maioria —, usufruindo os prazeres sem se atormentar em viver à sua cata, mas também sem deles fugir em exageros ascetas, Sócrates dedicava-se ao que considerava, desde certo momento de sua vida, sua missão — a missão que lhe teria sido confiada pelo deus de Delfos e que o tornara um "vagabundo loquaz": dialogar com as pessoas. Mas dialogar de modo a fazê-las tentar justificar os conhecimentos, as virtudes ou as habilidades que lhes eram atribuídos. Com esse objetivo inicial, levava o interlocutor a emitir opiniões referentes à sua própria especialidade, para em seguida interrogar a respeito do sentido das palavras empregadas. (PESSANHA, 1987, p.9)

Sócrates não deixou nada escrito e o que conhecemos de sua obra e

vida foi registrado por seus alunos e também por seus adversários. Uma obra

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importante para se ter uma ideia de quem foi Sócrates é o livro que traz a visão

de Platão, Xenofonte e Aristófanes sobre o filósofo. O texto de Platão (427-347

a.C), A Defesa de Sócrates é um dos mais conhecidos e versa sobre o

julgamento de Sócrates que fora acusado de má influência sobre a juventude

ateniense e uma ameaça à tradição da pólis grega. Este texto mostra um

pouco do método de Sócrates quando ele rebate inclusive aos seus

acusadores questionando-os sobre os seus princípios.

Confira um trecho desta obra.

Outra coisa não faço senão andar por aí persuadindo-vos, moços e velhos, a

não cuidar tão aferradamente do corpo e das riquezas, como de melhorar o

mais possível a alma, dizendo-vos que dos haveres não vem a virtude para os

homens, mas da virtude vêm os haveres e todos os outros bens particulares e

públicos. Se com esses discursos corrompo a mocidade, seriam nocivos esses

preceitos; se alguém afirmar que digo outras coisas e não essas, mente. Por

tudo isso, Atenienses, diria eu, quer atendais a Ânito, quer não, quer me

dispenseis, quer não, não hei de fazer outra coisa, ainda que tenha de morrer

muitas vezes.

A importância de Sócrates para a filosofia ultrapassa os limites do seu

tempo. Além de instaurar um método dialético que priorizava a argumentação e

o debate como maneiras do homem buscar a verdade e a virtude, seu legado é

considerado um marco, tanto que é comumente utilizada na filosofia a

classificação dos períodos filosóficos em:

Período pré-socrático (-600/-400)- Os filósofos deste período buscavam

refletir sobre a natureza, sobre a sua estrutura e fundamento. São

representantes deste período Tales de Mileto, Heráclito, Zenão de Élea e

Demócrito.

Período Socrático ou Clássico (-400/-100)- A preocupação dos filósofos

deste período volta-se para o homem, sobre os seus comportamentos e ideias,

crenças, valores. Neste período surgem os sofistas, principais opositores

intelectuais de Sócrates. Também conhecido como o período clássico da

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filosofia, tem entre os seus filósofos mais importantes Platão, Aristóteles e

claro, Sócrates.

Período pós-socrático ou Helenístico (36 a.C até 30 a.C)- O último período

da filosofia grega antiga é considerado um marco entre o domínio da civilização

grega e a ascensão da civilização romana, graças à expansão territorial

conseguida pelo poderio bélico de Alexandre Magno, rei da Macedônia.

Destacam-se três escolas filosóficas neste período: o estoicismo que

privilegiava uma visão sistemática do mundo e das coisas representada por

filósofos como Sêneca, Epicteto e Zenão de Cítio. O epicurismo, representado

principalmente pelo filósofo Epicuro, que buscava no prazer, a paz de espírito e

a felicidade. E, o ceticismo que basicamente propõe à dúvida frente às

questões do mundo. Principais filósofos: Pirro de Élis e Carnéades de Cirene.

Alguns pesquisadores declaram que o fim do pensamento grego acabou

oficialmente no início do século VI, mas esta não é uma afirmação correta.

Historicamente a filosofia grega influenciou e até hoje a influencia a produção

de conhecimento no ocidente, as reflexões sobre a natureza, o campo das

ideias, as discussões sobre leis, a moral, a ética, a política.

A Filosofia, entendida como aspiração ao conhecimento racional, lógico e

sistemático da realidade natural e humana, da origem e causas do mundo e de

suas transformações, da origem e causas das ações humanas e do próprio

pensamento, é um fato tipicamente grego. Por razões históricas e políticas,

tornou-se, o modo de pensar e de se exprimir predominante da chamada

cultura européia ocidental, da qual, em decorrência da colonização portuguesa

do Brasil, nós também participamos.

Por meio da Filosofia, os gregos instituíram para o Ocidente europeu as

bases e os princípios fundamentais do que chamamos de razão, racionalidade,

ciência, ética, política, técnica, arte. Basta observarmos que palavras como

lógica, técnica, ética, política, monarquia, anarquia, democracia, física,

zoológico, farmácia, entre muitas outras, são palavras gregas, para

percebemos a influência decisiva e predominante da Filosofia grega sobre a

formação do pensamento e das instituições das sociedades européias

ocidentais. (Fonte: http://www.brasilescola.com/filosofia/a-filosofia-grega.htm)

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Se o desenvolvimento de uma nova forma de conceber as explicações

sobre o homem e o mundo surgiu com a filosofia, é certo de que muitos destes

temas ainda são comuns entre nós. Ainda hoje ouvimos a palavra mito quando

ouvimos, por exemplo, alguém se referir a alguma celebridade ou esportista.

Alguns termos já fazem parte do nosso cotidiano e nós não nos damos conta

de onde eles vêm e qual o seu significado. Acreditamos que este entendimento

é essencial para quem busca o conhecimento. A partir disto, convém neste

momento explorarmos alguns conceitos básicos para a compreensão da

filosofia aplicada à realidade em que estamos inseridos.

Optamos por trazer alguns temas como a liberdade, a ética e a

felicidade, antes de nos debruçarmos sobre o ensino da filosofia propriamente

dito. Esta foi uma opção para que você já vá incorporando alguns dos temas e

quando finalmente falarmos da didática já possa estar munido (a) de

informações e referências para melhor visualizar a aplicação de alguns

conceitos.

Pensar a política, a ética e a liberdade hoje

"Nós vos pedimos com insistência: nunca digam 'isso é natural' diante dos

acontecimentos de cada dia. Numa época em que reina a confusão, em que

corre o sangue, em que se ordena a desordem, em que o arbítrio tem força de

lei, em que a humanidade desumaniza (...) não digam nunca: isso é natural. A

fim de que nada passe por imutável.

Sob o familiar, descubram o insólito. Sob o cotidiano, desvelem o inexplicável.

Que tudo que seja dito ser habitual, cause inquietação. Na regra é preciso

descobrir o abuso, e sempre que o abuso for encontrado, é preciso encontrar o

remédio."

Bertolt Brecht

A palavra política tem origem grega e deriva de Pólis e, como vimos

anteriormente está relacionada à vida na cidade e a participação pública. Logo,

politikós seria um campo de estudos sobre a ciência do governo, as leis, a

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relação com o povo e a discussão sobre a natureza da política. Aristóteles

discute a fundo na obra Política, considerada por ele uma continuação da Ética,

de que forma os governos podem ser pensados como “instrumentos” na busca

da felicidade e assim considerando que o homem é um “animal político” ou

seja, é político porque convive com seus pares na pólis. A política neste

sentido, seria a ciência da felicidade dos homens como um todo, e não um

sistema rígido de leis e regras a serem seguidas. A saber:

Vemos que toda cidade é uma espécie de comunidade, e toda comunidade se forma com vistas a algum bem, pois todas as ações de todos os homens são praticadas com vistas ao que lhes parece um bem; se todas as comunidades visam a algum bem, é evidente que a mais importante de todas elas e que inclui todas as outras tem mais que todas este objetivo e visa ao mais importante de todos os bens; ela se chama cidade e é a comunidade política (ARISTOTÉLES, 1985, p.20)

A interpretação do termo política vai mudando na história à medida que

grandes revoluções e mudanças acontecem no mundo, tais como a Revolução

Francesa, a Revolução Industrial, o advento do capitalismo, a globalização

mundial, dentre outros igualmente importantes. Mudam os protagonistas, os

debates e o papel do povo na política também é reinterpretado. Por exemplo,

quando mencionamos o pensamento de Karl Marx (1818-1883) sobre a luta de

classes, a interpretação sobre política adquire um significado de confronto

entre duas classes: a burguesia e o proletariado. Posto assim, parece que o

pensamento do filósofo alemão é simples, mas ao contrário. Ao propor que o

trabalhador lutasse por sua dignidade e se organizasse politicamente, Marx

desafiou um sistema em que este tipo de ação era combatido e suprimido por

meio da força política e econômica.

Outro importante pensador que eleva à política a uma discussão sobre

os usos dos aparatos de poder como forma de controle, como as escolas, a

prisão e o manicômio é o filósofo francês, Michel Foucault (1926-1984) cujo

trabalho é essencial quando pensamos nos sistemas de “produção de

verdades” sobre as condutas humanas, um dos textos mais emblemáticos do

autor é A Ordem do Discurso que visa a propor uma análise do aparato das

práticas discursivas na sociedade: quem fala? Todos podem falar? São todos

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autorizados a falar? De acordo com Foucault (1971) a produção de discursos

em todas as sociedades passa por filtros que delimitam, selecionam e

controlam quem pode falar. O discurso como entendido pelo autor não é o ato

retórico de discursar, mas o de compreender que na sociedade em que

vivemos não se pode falar tudo e nem todos tem voz. A estes mecanismos do

discurso, Foucault refere-se respectivamente como interdição e exclusão, que

representam respectivamente a ideia de proibição para que nem todos

participem e eliminação daqueles que não se enquadrem, por motivos diversos,

de terem sua voz ouvida e considerada.

Podemos nos questionar a partir de algumas ideias propostas por

Foucault se somos realmente livres, se decidimos por nós mesmos e se temos

a capacidade crítica de pensar e de ensinar a pensar.

Mas, e o que isto tem a ver com filosofia e política? Praticamente tudo. A

política está diretamente relacionada aos conceitos de ética e de liberdade,

especialmente quando nos referimos à vida em sociedade e as relações entre

os homens. Vamos exemplificar com uma questão que é muito debatida na

sociedade em que vivemos: as drogas.

No famoso seriado norte-americano Breaking Bad (2008) vemos o

personagem principal, o professor Walter White (Bryan Cranston) diante de um

dilema pessoal. Ele leva uma vida extremamente séria: tem uma família, não

ganha muito, a esposa está grávida do segundo filho, o filho mais velho tem

uma deficiência e o seu trabalho como professor de química não é exatamente

o que ele desejava fazer de sua vida. Em um dado momento, ele é

diagnosticado com um câncer e a possibilidade de morrer logo, faz com que ele

comece a quebrar algumas regras sociais e junto com um ex-aluno, começa a

produzir meta-anfetamina. No começo as coisas são meio difíceis, mas com o

tempo, o talento de químico de Walter começa a fazer com que ele se torne

reconhecido nesta atividade e passe a melhorar sua vida e também da sua

família, buscando inclusive um tratamento adequado para sua doença.

Outro exemplo, bem próximo da nossa realidade, é o tratamento

dispensado aos viciados em craque. Em 2014 no Rio de Janeiro, o governo

resolveu internar “por conta” os dependentes da droga. Na época, aconteceu

uma grande discussão sobre até que ponto esta era uma questão ética e se o

governo poderia fazer isso. Deste modo, considerando tudo o que ouvimos

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diariamente sobre as drogas e utilizando os exemplos que mencionamos,

fazemos algumas provocações.

1) A ética está relacionada com a palavra grega ethos que significa

modo de ser, caráter. Logo, é uma teoria que trata com os homens devem se

comportar em sociedade, visando ao bem estar social. Ela não deve ser

entendida como um comportamento individual, mas também deve nortear a

ação de grupos, instituições, da mídia, dentre outros. É comum também a ética

estar atrelada ao desenvolvimento das profissões, comissões, associações,

dentre outros. A ética que rege a prática profissional dos jornalistas, por

exemplo, enuncia que a apuração dos fatos e a imparcialidade diante das

notícias devem ser os nortes destes profissionais. A moral, por sua vez, é uma

palavra latina que vem de mores e significa costumes. A moral então normatiza

os comportamentos e é fruto da educação, tradições e pela vida no cotidiano. A

moral vigente na década de 50 no Brasil, por exemplo, dizia que as mulheres

deveriam estar preparadas para uma vida doméstica voltada ao lar e à família.

Logo esta era a noção de que a mulher que vivesse nestas condições era boa,

virtuosa. Aquela que fugisse a esta regra, era o seu oposto. Hoje esta é uma

ideia que não é regra, apesar de alguns setores da sociedade acreditarem que

o papel da mulher deve ser secundário. Portanto, a moral não é imutável e é

passível de questionamento.

- Tendo como base os exemplos que citamos, pergunta-se: se você

tivesse a oportunidade de “quebrar” algumas regras sociais para promover o

seu bem-estar e de sua família, você faria? Até que ponto a moral em que você

fundamenta a sua vida influenciaria na sua decisão?

- Considerando o exemplo da internação compulsória dos dependentes

de drogas, pergunta-se: você aceitaria fazer algo à sua revelia e ter que aceitar

fazê-lo por meio da imposição da força? É ético fazer isso com qualquer

pessoa?

São questões complexas, não é mesmo? E, acredite, elas não tem uma

resposta única. E é neste sentido que reside o trabalho de ensinar a pensar,

problema fundamental da filosofia. Quando falamos de uma didática de

filosofia, podemos imaginar que a empreitada é tarefa das mais difíceis nos

Page 17:  · Web viewNa época, aconteceu uma grande discussão sobre até que ponto esta era uma questão ética e se o governo poderia fazer isso. Deste modo, considerando tudo o que ouvimos

dias de hoje. Fácil, não é. Mas, é essencial. Para isso, porém é preciso

estimular diferentes formas de conceber a realidade, promover a leitura e

diversificar as fontes de informação. Além disso, é preciso gostar de pensar.

Conforme Tescarolo (2012) em sua análise sobre o método de Sócrates na

formação do mestre, o papel do professor não é, portanto, o de “encher” a

cabeça do seu discípulo com informações, como se a cabeça do aluno

estivesse vazia, mas sim auxiliar o aluno a buscar o conhecimento por meio do

diálogo e do questionamento.

O filósofo Paulo Ghiraldelli Jr. menciona que ensinar filosofia é para

quem gosta de filosofia e não há como separar a filosofia de seu ensino.

Ghiraldeli (2002) “as perguntas dos filósofos, diferentemente das perguntas de

outras pessoas, nem sempre são para ser respondidas. Elas ficam no ar,

nunca respondidas, para nos alertar, para tirar o que é banal da liberdade. A

liberdade é banal até a perdermos.”.

Isto nos leva a uma discussão muito interessante sobre ética e educação

no mundo contemporâneo. Se compreendermos a ética como um conjunto de

comportamentos e hábitos aceitos e normalizados em uma determinada época,

entendemos que os valores que norteavam as condutas de nossos pais e avós,

não são mais os mesmos nos dias de hoje, não é mesmo? De acordo com o

Vocabulário técnico e crítico da filosofia, do autor André Lalande (1999), uma

das características subjetivas da palavra é: “característica das coisas que

consiste em serem elas mais ou menos estimadas ou desejadas por um sujeito

ou, mais comumente, por um grupo de sujeitos determinados”. Mas, valor

também pode ser entendido como aquilo a que damos importância, estimamos.

Quando ouvimos as pessoas mencionando que os valores hoje estão

passando por uma crise é que a maioria delas percebe que estamos

vivenciando um momento em que não se sabe muito bem para onde vamos e

como devemos agir em um mundo cada vez mais globalizado. Para alguns

estudiosos, este “mal-estar” contemporâneo está diretamente relacionado à

sociedade capitalista em que nos encontramos, em que o dinheiro norteia as

ações das pessoas e quem não se enquadra nos padrões determinados pelo

mercado automaticamente está fora, marginalizado.

Podemos pegar como exemplo diversas esferas da vida das pessoas

como as relações no trabalho, nas quais as pessoas trabalham exaustivamente

Page 18:  · Web viewNa época, aconteceu uma grande discussão sobre até que ponto esta era uma questão ética e se o governo poderia fazer isso. Deste modo, considerando tudo o que ouvimos

para cada vez mais ter mais bens e incessantemente pagar por eles. A pessoa

vai deixando de lado os relacionamentos com amigos, familiares e quando o

fazem é de forma superficial, calcada em relações de dinheiro e consumo.

Outro exemplo é o que está se chamando de “camarotização” da sociedade

brasileira, ou seja, a segregação das pessoas por aquilo que elas consomem e

assim possam ser separadas das outras pessoas que não tem o mesmo poder

de compra. Assim, são as separações de espaço físico nos shoppings,

eventos, casas noturnas e até nos grupos, principalmente entre os mais jovens

que selecionam aqueles colegas que se enquadram nos quesitos para serem

aceitos.

Estes comportamentos são amplamente aceitos em nossa sociedade. É

claro que não há nada de mal no sujeito gastar o seu dinheiro, fruto do seu

trabalho, da maneira que desejar. Nossa intenção não é fazer um julgamento

sobre isso, mas sim, propor um debate em se analisa até que ponto estas

situações contribuem para uma sociedade cada vez mais desigual, competitiva

e com os interesses individuais acima do bem-comum.

Você já deve ter se deparado com alguma situação em que viu alguém

colocar o seu interesse acima do bem estar das outras pessoas. Por exemplo,

quando alguém estaciona em uma vaga destinada a pessoas deficientes sem

ser deficiente. Ou ainda quando as pessoas estão em uma fila, aguardando a

sua vez para atendimento e alguém passa na frente. Muitos são os exemplos

que podem ser retirados do nosso cotidiano e da vida em sociedade. A ética

pressupõe que o ser humano tenha maturidade intelectual, boa formação

educacional, conhecimento político, estrutura social, dentre outros, portanto

não é uma tarefa fácil para ser banalizada. Mas, como é possível almejar uma

vida pautada pela ética e reciprocidade com a liberdade do outro?

Acreditamos que é por meio da educação. O tema da ética e da

educação está longe de ser um assunto fácil, mas ainda assim precisa ser

retomado por aqueles que se interessam pelo conhecimento. Hoje vivenciamos

um mundo em que são diversos os valores, as noções de liberdade e as

crenças, as culturas e os intercâmbios sociais em âmbito mundial, regional e

local. Assim, não é possível pensar o papel do educador fora deste cenário

multifacetado. Uma ideia de educação moral é a proposta de Pedro Gorgen

(2005) que fundamenta a sua análise tendo como base a noção de valor, ética

Page 19:  · Web viewNa época, aconteceu uma grande discussão sobre até que ponto esta era uma questão ética e se o governo poderia fazer isso. Deste modo, considerando tudo o que ouvimos

e formação moral, que em sua percepção não objetiva normatizar o

conhecimento, doutrinando os alunos, mas sim, trata-se de um processo

complexo em que há o desenvolvimento de uma consciência moral autônoma,

adquirida através da educação formal ou informal, e também através das trocas

culturais. De acordo com o autor:

A educação moral pode ser entendida como um dos aspectos da educação integral, que abrange a educação corporal, a educação intelectual, a educação afetiva, a educação artística, para ficarmos apenas nos aspectos mais tradicionais. A educação ocupa um lugar de destaque porque pretende dar uma orientação e um sentido ao ser humano como um todo; ela, de certo modo, perpassa transversalmente todas as dimensões da formação humana (GOERGEN, p.23, 2005).

Deste modo, entendemos que a preocupação com a ética e a educação

pode contribuir para repensarmos os valores na sociedade em que vivemos e

assim, colocar o indivíduo, considerando toda a sua complexidade, no centro

das discussões. O estudo da filosofia se faz essencial para que este caminho

seja trilhado, pois é emergente a necessidade de propormos uma interpretação

humanista sobre os diversos problemas que assolam a nossa sociedade.

VEJA TAMBÉM: Livro: Introdução à ética contemporânea do autor Olinto Pegoraro. É um livro

interessante para compreendermos a noção de ética nos dias de hoje e nortear

as nossas ações com autonomia e conhecimento. Editora UAPE.

ATIVIDADES

1. Faça uma entrevista informal com seus colegas e familiares sobre o que

eles compreendem pela palavra valor. Debata com seus colegas as diferentes

noções que você conseguiu.

2. A ética pode ser analisada em diversos aspectos, tais como a ciência, a

tecnologia, nas relações sociais, dentre outros. Pesquise qual é a relação

Page 20:  · Web viewNa época, aconteceu uma grande discussão sobre até que ponto esta era uma questão ética e se o governo poderia fazer isso. Deste modo, considerando tudo o que ouvimos

existente entre a ciência e a ética na produção de alimentos e traga algumas

ideias para discussão.

Pensar a felicidade. É possível? E para quê?

Sem querer você já foi exposto (a) a algumas questões filosóficas a

partir da leitura do título acima. Você deve estar se perguntando: ora, e o que a

felicidade tem a ver com filosofia, política e didática? Bem, tudo. A busca da

felicidade, na filosofia, é um direito do homem. Tales de Mileto que viveu entre

7.a.C e 6. aC. acreditava que a felicidade dependia da saúde, do espírito e da

sabedoria. Outros filósofos como Platão e Sócrates abordaram a felicidade do

ponto da vista da justiça e da virtude. E, pensadores contemporâneos como

Zygmunt Bauman e Gilles Lipovetsky investigam este sentimento e o momento

em que vivemos. Nós retomaremos alguns temas propostos pelos autores no

decorrer deste tópico, mas antes vamos analisar algumas questões.

Em Carta sobre a Felicidade, Epicuro (341 a.C- 270 a.C) pondera que a

todos os homens (jovens e velhos) o exercício da filosofia deve ser entendido

como a busca da felicidade e que esta prática serviria para que todos

pudessem alcançar a saúde do espírito. Diz ele: “Quem afirma que a hora de

dedicar-se à filosofia ainda não chegou, ou que ela já passou, é como se

dissesse que ainda não chegou ou já passou a hora de ser feliz”. Para o

filósofo, os mais velhos sentir-se-iam rejuvenescidos por meio da lembrança

dos tempos que já foram e os mais jovens poderiam envelhecer sem medo das

coisas que estão por acontecer. É preciso então cultivar as coisas que trazem

felicidade e deste modo fazer de tudo para alcançá-la. Neste caso, é preciso

agir para alcançar a felicidade e exercitar este sentimento por meio do

conhecimento de si e da sabedoria. Aristóteles contempla o tema em seu livro

Ética a Nicômaco. Para o filósofo, a felicidade consistiria em viver uma vida

plena, em que a virtude e ação acompanhassem a vida do homem até o fim de

seus dias.

Apesar de parecer simples, a ideia de felicidade não é fácil de ser

conceituada. Para o objetivo que nos propomos com este curso, buscamos

trazer alguns conceitos e ideias relacionadas ao momento em que vivemos

para que estes possam nortear o trabalho em sala de aula. Certamente que o

Page 21:  · Web viewNa época, aconteceu uma grande discussão sobre até que ponto esta era uma questão ética e se o governo poderia fazer isso. Deste modo, considerando tudo o que ouvimos

professor e o aluno tem suas interpretações a respeito do que significa ser feliz

hoje e esta é uma preocupação que nos interessa. Para nós, a noção de

felicidade pode ser analisada na sociedade contemporânea a partir das

relações de consumo, nas interações sociais e nas diversas representações

midiáticas, artísticas, publicitárias...

Falando nisso... Citamos o jingle de uma famosa campanha publicitária

de um supermercado cujo público alvo é composto majoritariamente pelas

classes A e B. Você já deve ter ouvido: insistentemente, a musiquinha pergunta

ao ouvinte “o que faz você feliz? você feliz o que que faz”... e toda a campanha

de televisão é permeada por pessoas de diferentes faixas etárias em

momentos de felicidade com seus familiares e em situações que lembram o

consumo de alguns produtos no referido supermercado, em piqueniques e

outros momentos. Fazendo uma breve pesquisa em sua rede social, veja as

fotos dos seus colegas e amigos: a maioria está sorrindo, não é? Ou em

situações que denotam felicidade. A prática de publicar reclamações e

desabafos é mal vista nestes espaços, e algumas pessoas até optam por

bloquear os amigos por causa disso. Veja as propagandas de carros, bebidas,

bancos, comida congelada, viagens... tudo é ilustrado por pessoas felizes e de

bem com a vida. Já pensou se de repente alguém decidisse colocar em uma

propaganda de pizza, por exemplo, alguém entristecido e infeliz por comer a

pizza? E, nas propagandas de carro, quem não gostaria de realmente dirigir um

carro como é retratado nas propagandas com as ruas livres e sem

congestionamento?

Citamos estes exemplos informais para promover a discussão de que a

felicidade pode ser pensada a partir da ideia de consumo e também como um

produto. Neste sentido, o trabalho do filósofo também é enxergar o porquê a

felicidade é tão explorada nos dias de hoje. Há quem diga que só pensamos

tanto na felicidade porque o homem de hoje é infeliz e precisa encontrar

maneiras de lidar com isso. Outros, como o escritor Aldous Huxley, tem uma

visão ainda mais “sombria”, por assim dizer, de que ser infeliz é um medo que

muitas pessoas tem e por isso, não se questionam o que é ser feliz, e o que

significa a felicidade. Bem, se as respostas fossem fáceis, não haveria tantos

livros, artigos, filmes sobre o tema. Este tema foi amplamente analisado pelo

autor e mestre em Psicologia, Luciano Espósito Sewaybricker no trabalho

Page 22:  · Web viewNa época, aconteceu uma grande discussão sobre até que ponto esta era uma questão ética e se o governo poderia fazer isso. Deste modo, considerando tudo o que ouvimos

intitulado “A felicidade na sociedade contemporânea: contrastes entre

diferentes perspectivas filosóficas e a modernidade líquida” (2012). Nesta

dissertação, o autor faz um trabalho intenso de pesquisa sobre o conceito de

felicidade na história do pensamento e busca analisar este conceito

considerando a globalização e o que ele chama de “virtualização” das relações,

ou seja, as interações humanas mediadas pelos ambientes virtuais, tais como

as redes sociais diversas. Não é nossa intenção detalhar a fundo este trabalho,

mas sim chamar a atenção para a ideia de que ideia da felicidade é muito mais

complexa do que imaginamos, e da mesma maneira que as noções de

liberdade e política, ela inspira interpretações distintas na história da

humanidade e está diretamente relacionada à vida em sociedade.

Na análise proposta por este autor, é investigada a noção de bem-estar

social e a relação do trabalho com a felicidade. Ele investiga tendo como base

autores como Pedro Bendassoli e Zygmunt Bauman, como o trabalho adquire

valor cultural (como forma de necessidade moral), valor social (ao definir os

valores de cada um na sociedade) e valor psicológico (ao constituir o caráter e

a identidade de cada sujeito). Sobre esta questão, a da relação da felicidade e

do trabalho na cultura brasileira, Bendassoli (2007) sugere que para algumas

pessoas não há relação entre felicidade e trabalho, tanto que há o pensamento

de que é feliz quem não precisa trabalhar. Porém, o autor analisa que existe

um paradoxo nesta percepção, pois ao mesmo tempo em que as pessoas

desejam ter um trabalho quando não têm, elas também minimizam o seu valor

quando estão empregadas. De acordo com este autor:

É provável que esse paradoxo se explique no contexto da tradição ocidental sobre a felicidade anteriormente apresentado: de um lado, o ideal da felicidade como vida boa – uma vida simples, tranqüila e estável, com poucos desejos, mas desejos certos; de outro, o ideal moderno do sucesso – uma vida agitada, acossada pelo fantasma do fracasso, pelo medo de não ter status ou de ficar “empacado”. Ambos os ideais estão costurados no sentido do trabalho no Brasil. A conseqüência disso é a relação de amor e ódio típica do brasileiro com o trabalho: o desejo de que logo chegue o final de semana e o tédio quando as férias se prolongam. (BENDASSOLI, 2007, p.59).

Page 23:  · Web viewNa época, aconteceu uma grande discussão sobre até que ponto esta era uma questão ética e se o governo poderia fazer isso. Deste modo, considerando tudo o que ouvimos

Foi o filósofo Karl Marx (1818-1883) um dos primeiros a analisar a

relação do homem e do trabalho considerando- o como uma atividade

alienante. A alienação poderia se expressar de diversas formas, mas a ideia

que queremos mencionar é a noção de que o homem transformava a natureza

por meio de seu trabalho e ação, porém, o trabalho em seu caráter

mecanicista, sem criatividade alienava o homem, tornando-o refém deste

trabalho. Claro que este é um pequeno trecho do pensamento de Marx sobre

este assunto, gradativamente o filósofo aborda outros temas de igual

complexidade. É interessante mencionarmos que os estudos de Marx sobre os

trabalhadores são desenvolvidos em um contexto em que o trabalhador, fosse

homem, mulher ou criança, trabalhava durante horas a fio e não tinha direitos.

Desta maneira, o homem vivia para o trabalho e a sua vida resumia-se a isso.

Mas, atualmente, será que as pessoas são realmente felizes com seu

trabalho? Muitas empresas oferecem benefícios e oportunidades para que as

pessoas permaneçam em seus trabalhos e deem o melhor de si, e

naturalmente, estes podem ser fatores que motivem (este é um termo muito

comum nas empresas) aos seus funcionários e familiares. Porém, há também

situações como a exploração sistemática da mão de obra de milhares de

pessoas, que vivem em situações análogas à escravidão que trabalham dia e

noite na indústria têxtil, tecnológica e de bens de consumo. A estas pessoas é

relegado o pior lugar no mercado de trabalho: o da exploração em nome do

lucro de grandes empresas. Podemos concluir que este é um exemplo

contemporâneo de alienação do trabalho. As pessoas estão fadadas a

obedecerem a ordens, executar um trabalho automático e repetitivo que não

exige nenhuma criatividade e ainda por cima vivem as piores condições de

vida, tornam-se “coisas”.

Para os autores que mencionamos anteriormente, Zygmunt Bauman e

Giles Lipovetsky, é possível pensar a noção de felicidade contemporânea a

partir de uma crítica ao modelo de consumo desenfreado que vivenciamos em

nossa sociedade. Bauman (2008) analisa no seu livro Vidas para consumo, o

funcionamento da Sociedade de Consumidores, e que em sua percepção é

aquela que encoraja e incentiva comportamentos consumistas a todo custo.

Logo, para o sujeito pertencer a esta sociedade, ele deve consumir e atender

aos ditames do mercado, como estar atento à moda, as últimas novidades e

Page 24:  · Web viewNa época, aconteceu uma grande discussão sobre até que ponto esta era uma questão ética e se o governo poderia fazer isso. Deste modo, considerando tudo o que ouvimos

não criar “vínculos” com os objetos, substituindo-os assim que possível.

Lipovetsky no livro A Felicidade paradoxal (2006) analisa o conflito que existe

no que ele chama de hiperconsumo, ou seja, um momento na economia

contemporânea que todas as relações e experiências são marcadas pelo

consumo, em que o consumidor por um lado, espera ávido por novidades em

produtos e sensações, e o mercado por outro, não cessa em oferecer estes

serviços para atender aos mais diferentes desejos. O paradoxo do

hiperconsumo seria a análise de que ao consumir estes bens e melhorar

satisfatoriamente a sua vida, o homem sempre vai estar à mercê do mercado e

das ofertas de produtos que não param de surgir. O autor menciona um ponto

importante, já que a maioria das pessoas se diz feliz, porque há tanta tristeza,

ansiedade e depressões entre as pessoas. Conforme Lipovetsky:

Nossas sociedades são cada vez mais ricas: apesar disso, um número crescente de pessoas vive na precariedade e precisa fazer economias em todos os itens de seu ornamento, tornando-se a falta de dinheiro uma preocuparão cada vez mais obsessiva. Somos cada vez mais bem cuidados, o que não impede que os indivíduos se tornem uma espécie de hipocondríacos crônicos. Os corpos são livres, a miséria sexual e persistente. As solicitações hedonísticas são onipresentes: as inquietudes, as decepções, as inseguranças sociais e pessoais aumentam. Aspectos que fazem da sociedade de hiperconsumo a civilização da felicidade paradoxal. (LIPOVETSKY, p.11, 2006)

A filosofia não tem como objetivo fornecer regras de como devemos

conduzir a nossa vida, mas pode nos fornecer as bases para pensarmos sobre

a nossa vida e também da vida em sociedade. Naturalmente que as referências

que mencionamos não tem como objetivo encerrar o tema da felicidade, mas

provocar a reflexão sobre assuntos importantes como o trabalho e o consumo.

VEJA TAMBÉM:

Livro: Felicidade de Eduardo Gianetti- Editora Companhia das Letras- A

abordagem encontrada pela economista Eduardo Gianetti para a abordagem

de um dos temas fundamentais da filosofia é um diálogo filosófico, em que a

Page 25:  · Web viewNa época, aconteceu uma grande discussão sobre até que ponto esta era uma questão ética e se o governo poderia fazer isso. Deste modo, considerando tudo o que ouvimos

noção de felicidade é analisada sob o ponto de vista da biologia, ética,

sociologia, filosofia, religião, política e economia.

ATIVIDADES: 1. Analise, tendo como base propagandas de TV, nas redes sociais e

nor jornais como a imagem da felicidade é explorada. Faça um exercício crítico

e verifique como é retratada a felicidade nestes meios.

2. Leia o poema de Paulo Leminski Bem no Fundo e analise a

abordagem utilizada pelo poeta para falar sobre algo que nos incomoda ou

entristece.

Bem no fundo

No fundo, no fundo,

bem lá no fundo,

a gente gostaria

de ver nossos problemas

resolvidos por decreto

a partir desta data,

aquela mágoa sem remédio

é considerada nula

e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,

maldito seja quem olhar pra trás,

lá pra trás não há nada,

e nada mais

mas problemas não se resolvem,

problemas têm família grande,

e aos domingos

saem todos a passear

o problema, sua senhora

e outros pequenos probleminhas.

Page 26:  · Web viewNa época, aconteceu uma grande discussão sobre até que ponto esta era uma questão ética e se o governo poderia fazer isso. Deste modo, considerando tudo o que ouvimos

Sobre a liberdade

Muitos são os estudiosos que se debruçam ao estudo sobre o que é

liberdade. A interpretação do conceito de liberdade tem diferentes significados

na história da filosofia e da política. Na pólis grega, liberdade significava poder

participar da vida pública- lembremos que não eram todos os homens livres

para poder participar das decisões na cidade-, na Idade Média desenvolve-se

com Santo Agostinho (354-430) a noção de livre arbítrio, ou seja, é a

capacidade consciente de escolher entre o bem e o mal, dando à pessoa o

poder de decidir qual o caminho certo a ser seguido. Immanuel Kant (1724-

1804), o fundador da filosofia crítica, desenvolve as suas teorias sobre a

liberdade e o direito no contexto do século XVIII e que teve início pelo

movimento do Iluminismo. Com as diversas mudanças sociais e políticas que

aconteceram na Europa durante este período, também a noção de liberdade

passa por uma reavaliação. Para Kant, a ideia de liberdade está fundamentada

na razão, ou seja, o homem deve conhecer as regras e leis que regem a vida

em sociedade e a partir disso compreender a sua atuação da liberdade. Na sua

obra Crítica da Razão Prática, Kant analisa que a liberdade teria dois aspectos:

o negativo e o positivo. Como afirmam Trevisan e Neta (2006):

“Sob o aspecto negativo ser livre e não se submeter a nada externo ao individuo, que significaria independência, vale dizer a desnecessidade de ser orientado a agir. Este é o chamado conceito negativo ou prática de liberdade, apresentado pelo autor em sua obra Crítica da Razão Prática. De outro lado, sob o aspecto positivo, a liberdade seria agir conforme o direito e a lei que se exprimem no dever ser.” (TREVISAN, NETA, p. 2, 2006).

Além deste ponto, para Kant o homem não seria nada sem educação e

seria através dela que o ser humano conquistaria a sua autonomia e liberdade.

Neste momento, queremos chamar a atenção do aluno para as noções

de liberdade e sociedade. O filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel

(1770-1831) analisou o conceito da liberdade em sua famosa obra

Fenomenologia do Espírito em que exemplifica o paradoxo da liberdade

exemplificando a relação do senhor e do escravo. Para Hegel, a liberdade não

se dá sozinha e para existir é preciso que haja a condição de não-liberdade. Ao

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mencionar o exemplo do senhor e do escravo, Hegel esclarece que o senhor

precisa do escravo para viver e ser quem é, pois do contrário, não é mais

senhor. Já o escravo, quando o senhor não existe mais, torna-se livre. Desta

forma a compreensão de liberdade que escutamos comumente de que a minha

liberdade termina onde começa a do outro, pode ser analisada a partir da ideia

de que a liberdade de um sujeito depende da liberdade do outro, logo, uma

completa a outra. Para Hegel, ser livre é ser sujeito de sua própria ação.

Quando nos deparamos, porém, com situações de crise, medo e falta de

esperança, a noção de liberdade parece ser ainda mais complexa. Um dos

filósofos que mais se dedicou a analisar a noção da liberdade em contextos de

crise foi Jean Paul Sartre (1905-1980). Seus estudos situam-se na corrente

filosófica chamada de existencialismo, que se consolida na Europa depois da

Primeira Guerra Mundial e se desenvolve no período entre guerras, até tornar-

se reconhecida nos anos 50 até os anos 70 tendo influenciado muitos artistas,

músicos, cineastas e escritores. O desenvolvimento desta forma de

pensamento se dá, sobretudo graças à inquietação de pensadores diante da

degradação da Europa por meio da ascensão de regimes totalitários e

consequente perda da liberdade, de direitos e de uma vida digna.

O existencialismo se opõe à noção de determinismo, ou seja, apregoa

que a vida do homem já está desenhada e que não há nada a fazer para se

livrar disso. Para os gregos antigos era a crença de que a vida dos mortais já

havia sido preparada pelas divindades. Para os calvinistas, a ideia de

predestinação sugere que a vida de cada pessoa já está traçada por Deus. O

determinismo também está ligado a outros fatores como forças econômicas,

biológicas e sociais que condicionam o homem a aceitar a sua condição e a

não buscar sua liberdade. Se fizéssemos uma relação com os dias de hoje,

poderíamos mencionar a questão do determinismo social, ou seja, uma pessoa

que nasce em um meio violento fatalmente vai se tornar violenta ou uma

pessoa que nasce em um ambiente de pobreza dificilmente sairá desta

condição. As duas ideias mostraram-se falhas, ainda que existam forças e

sistemas que insistem em utilizar os determinismos das mais diferentes

naturezas para justificar a exclusão social e a miséria, por exemplo.

Para Sartre, portanto, “o homem está condenado a ser livre” e é

responsável por tudo o que fizer. Ao negar a noção de um determinismo

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religioso, Sartre sugere que o homem é a liberdade em essência, e cabe a

cada ser humano descobrir e viver conforme as suas regras e valores, por meio

dos meios e imposições que ele escolher e não outrem. De acordo com o

autor: O que significa, aqui, dizer, que a existência precede a essência? Significa, que, em primeira instância, o homem existe, encontra a si mesmo, surge no mundo e só posteriormente se define. O homem, tal como o existencialista o concebe, só não é passível de uma definição porque, de início não é nada: só posteriormente será alguma coisa e será aquilo que fizer de si mesmo. (SARTRE, p.4, 1987)

Todas estas ideias sobre o conceito de liberdade são importantes para

pensarmos o que entendemos sobre isto nos dias de hoje. Podemos afirmar

que vivemos em um momento em que as pessoas conseguem, até certo ponto,

exercer o seu direito à liberdade política, escolhendo democraticamente seus

candidatos por meio do voto, à liberdade sexual, em que as mulheres podem

optar por casarem e terem filhos ou não, e à liberdade de expressão em que a

maioria das pessoas tem acesso à informação e podem expressar seus

sentimentos em relação aos acontecimentos no mundo. Mas, o que queremos

dizer com até certo ponto? Basta fazermos um exercício bem rápido e

relembrar, por exemplo, a verdadeira polarização ocorrida principalmente nas

redes sociais em relação às eleições de 2014. De maneira positiva e negativa,

o que se viu foi um verdadeiro fenômeno no que diz respeito à defesa

“apaixonada” e às vezes até raivosa por parte dos internautas na defesa deste

ou outro candidato. Amizades foram desfeitas e os debates nas mídias sociais

chegaram a um nível sem precedentes no Brasil. Muito se discutiu neste

cenário sobre o papel da liberdade de expressão: pode-se tudo em nome

daquilo que acreditamos? O historiador Pierre Ansart tem um texto muito

interessante sobre a paixão nas ciências políticas e acreditamos ser importante

mencioná-lo nesta discussão a que nos propomos. Segundo Ansart:

As emoções, os sentimentos, as paixões encontram-se presentes nas instituições, nas decisões, nos fatos políticos e fazem parte da experiência cotidiana: esperanças e inquietudes durante as campanhas eleitorais, alegrias e decepções face aos resultados, iras, ciúmes e rancores no seio de um partido, angústia diante das ameaças imaginadas, entusiasmo quando se

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proclama uma vitória nacional ou humilhação quando se proclama uma derrota. Todos estes fatos são bastante conhecidos. Eles abundam ao longo da história e manifestam-se incessantemente. (ANSART, 2001, p.146).

Seguindo esta linha de pensamento de Ansart, em que as paixões

manifestam-se das mais diferentes formas e nas mais diversas intensidades,

citamos algumas noções contemporâneas a respeito da liberdade que são

importantes para o nosso curso. Ao final deste tópico confira algumas

indicações de leitura e propostas de atividade, bem como, o trecho de uma

matéria e uma dica de filme para aprofundar os conhecimentos sobre os temas

da liberdade, educação, ética e política. Vamos aos exemplos:

- Liberdade religiosa- De acordo com o artigo 5º da Constituição da

República Federativa do Brasil:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer

natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a

inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à

propriedade, nos termos seguintes:

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo

assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a

proteção aos locais de culto e as suas liturgias;

Costuma-se afirmar com base na Constituição Brasileira que o Brasil é

um país laico, ou seja, neutro em relação às questões religiosas. E, em tese

protege às diferentes formas de liberdade e expressões religiosas. Mas, o que

vemos na prática, é diferente. É comum nos depararmos com interpretações

por vezes até preconceituosas em relação aos cultos religiosos no Brasil. Em

2012, uma matéria do jornal O Globo escrita pela jornalista Márcia Abos, trouxe

um exemplo claro de intolerância religiosa. Um estudante de 15 anos sofria

agressões em uma escola de São Paulo por causa da sua opção religiosa, o

candomblé. De acordo com o texto, as agressões teriam sido motivadas pela

postura da professora, que antes das aulas fazia todos os alunos lerem a Bíblia

e rezar, enquanto permaneciam de cabeça baixa. O bullying teria começado

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quando o aluno questionou esta postura da professora e foi chamado de

macumbeiro pelos colegas. As agressões se intensificaram e o pai do menino

fez um Boletim de Ocorrência registrando a situação.

Alguns estudiosos como Oro e De Bem (2008) comentam que há um

processo histórico no Brasil na construção da discriminação das religiões afro-

brasileiras. De acordo com os autores:

[...] as formas dessa religiosidade também foram vistas com suspeita e preconceito e, por isso mesmo, discriminadas e seus agentes perseguidos. Tais procedimentos em relação às religiões afro-brasileiras resultam, em grande medida, de representações depreciativas e desqualificadoras que, ao longo do tempo, foram construídas, no ocidente e no Brasil, sobre as etnias e as culturas africanas, tidas como “primitivas” e “arcaicas”, destinadas, portanto, a desaparecerem porque representam o passado da humanidade. No Brasil, os intelectuais, a Igreja Católica e o Estado contribuíram, cada um a seu modo, para moldar o imaginário social desqualificador do negro e das religiões afro-brasileiras (ORO, DE BEM, p.305)

Esta é uma questão que é muito pertinente quando nos referimos à

educação. Cabe ao professor não apenas desenvolver de maneira consistente

a sua área de atuação, mas também, ter conhecimento para a interpretação

crítica do mundo em que vive. Naturalmente que quando nos deparamos com

um tema tão delicado quando o da religião, as “paixões” costumam falar mais

alto, mas é preciso ter uma visão humanista, voltada para a construção do

conhecimento.

A mídia tem papel essencial na disseminação de lugares-comuns e

análises pouco fundamentadas em alguns casos. Cabe a nós, analisar

criticamente os fatos e separar aquilo que realmente tem consistência. Um

exemplo mais recente foram alguns comentários sobre o atentado terrorista

contra a redação do jornal Charlie Hebdo que resultou em 12 mortos, inclusive

os jornalistas e cartunistas do jornal, em janeiro deste ano. Charlie Hebdo

costumeiramente estampava as capas com matérias de cunho satírico ao

profeta Maomé e a outros líderes religiosos e políticos. Milhares de pessoas se

manifestaram na Europa e também no Brasil. Cartunistas e jornalistas, de

modo geral, mostraram solidariedade aos familiares dos mortos e expressaram

preocupação em relação à violação aos direitos de liberdade de expressão. Por

Page 31:  · Web viewNa época, aconteceu uma grande discussão sobre até que ponto esta era uma questão ética e se o governo poderia fazer isso. Deste modo, considerando tudo o que ouvimos

outro lado, as opiniões foram divergentes se também o humor utilizado pelo

jornal não “feria” a liberdade religiosa dos muçulmanos. Independente das

opiniões, o fato que não pode ficar de fora desta discussão é que esta situação

reacendeu um debate importante sobre o humor, a política e a religião, e

principalmente, sobre a questão do preconceito aos estrangeiros e a

intolerância religiosa.

A partir destes pontos sugerimos a leitura do texto que segue abaixo e

em seguida algumas propostas de atividades.

Link da imagem:

http://en.wikipedia.org/wiki/Je_suis_Charlie#mediaviewer/File:Charlie_Hebdo_Tout_est_pardon

n%C3%A9.jpg

- A imagem é a reprodução da capa da edição de 14 de janeiro de 2015

do jornal Charlie Hebdo. A frase Je Suis Charlie (Eu sou Charlie) foi

amplamente compartilhada pelo mundo como forma de solidariedade aos

mortos no ataque. Na capa podemos ler: “Todos estão perdoados” e na

imagem o profeta Maomé segura o cartaz com a frase Je suis Charlie.

Page 32:  · Web viewNa época, aconteceu uma grande discussão sobre até que ponto esta era uma questão ética e se o governo poderia fazer isso. Deste modo, considerando tudo o que ouvimos

VEJA TAMBÉM:

Livro: Sartre, uma biografia de Annie Cohen-Solal: Apresenta a vida e o

trabalho de Jean-Paul Sartre (1905-1980) para quem gostaria de conhecer um

pouco mais sobre este importante filósofo. O leitor vai encontrar como se deu a

trajetória deste intelectual e o seu pensamento filosófico, e também,

acompanhar a sua vida, seus relacionamentos, sucessos e fracassos.

ATIVIDADES

1. Pesquise em sites de notícia diversos (procure ir além dos convencionais)

como o tema da liberdade é abordado atualmente. Analise as diferentes

maneiras de representação da ideia da liberdade.

2. Analise a letra de Apesar de Você (1978) do compositor Chico Buarque e

pesquise sobre o que fala esta música. Uma dica: apesar de parecer uma

canção de amor, na verdade é mais uma das canções de protesto feitas pelo

compositor à ditadura militar instaurada no Brasil nos anos 60.

Hoje você é quem mandaFalou, tá faladoNão tem discussãoA minha gente hoje andaFalando de ladoE olhando pro chão, viu

Você que inventou esse estadoE inventou de inventarToda a escuridãoVocê que inventou o pecadoEsqueceu-se de inventarO perdão

Apesar de vocêAmanhã há de serOutro diaEu pergunto a vocêOnde vai se esconderDa enorme euforiaComo vai proibir

Page 33:  · Web viewNa época, aconteceu uma grande discussão sobre até que ponto esta era uma questão ética e se o governo poderia fazer isso. Deste modo, considerando tudo o que ouvimos

Quando o galo insistirEm cantarÁgua nova brotandoE a gente se amandoSem parar

Quando chegar o momentoEsse meu sofrimentoVou cobrar com juros, juroTodo esse amor reprimidoEsse grito contidoEste samba no escuro

Você que inventou a tristezaOra, tenha a finezaDe desinventarVocê vai pagar e é dobradoCada lágrima roladaNesse meu penar

Apesar de vocêAmanhã há de serOutro diaInda pago pra verO jardim florescerQual você não queriaVocê vai se amargarVendo o dia raiarSem lhe pedir licençaE eu vou morrer de rirQue esse dia há de virAntes do que você pensa...

Page 34:  · Web viewNa época, aconteceu uma grande discussão sobre até que ponto esta era uma questão ética e se o governo poderia fazer isso. Deste modo, considerando tudo o que ouvimos

- Educação para a vida em liberdade- Partimos das ideias propostas

pelo educador Paulo Freire (1921-1997) de que a educação tem como missão

primeira promover o conhecimento e possibilitar o desenvolvimento de uma

vida em criação, em constante diálogo para a conquista da autonomia do

pensamento. Para Freire, o processo de aprendizado é uma atividade conjunta,

em que educador e educando agem juntos no desenvolvimento de uma

consciência crítica, segundo o autor, é preciso ter em mente que o aluno

quando chega para as aulas não é alguém sem conhecimento e o professor

não deve ter a visão de que é “melhor” do que o aluno, a estes processos

educacionais em que o educador é quem educa e os alunos são educados e

onde este aluno é considerado mero objeto, e o educador sujeito da situação,

Freire (1970) os classifica como “práticas bancárias de educação” que devem

ser repensadas quando se compreende a educação como atividade

conscientizadora. “A educação que se impõe aos que verdadeiramente se comprometem com a libertação não pode fundar-se numa compreensão dos homens como seres “vazios” a quem o mundo encha de conteúdos; não pode basear-se numa consciência especializada, mecanisticamente compartimentada, mas nos homens como “corpos conscientes” e na consciência como consciência intencionada ao mundo. Não pode ser a do depósito de conteúdos, mas a da problematização dos homens em suas relações com o mundo. (FREIRE, 1970, p. 41)

Esta reflexão proposta por Freire idealiza a educação como um trabalho

de liberdade e de libertação dos sujeitos. Interessa-nos particularmente a

noção de que é preciso levar em conta a história e a visão de mundo do aluno

e a discussão em sala de aula das problemáticas que dizem respeito a esta

realidade. Atualmente, este pensamento se faz muito adequado especialmente

porque vivenciamos um momento em que o aluno já chega à sala de aula com

muita informação advinda das mais diferentes fontes. É um cenário muito

distinto ao analisado por Freire, entretanto, refletir sobre a educação é tarefa

que não se esgota, ao contrário, faz parte do exercício de educar e de pensar.

Neste sentido, quando pensamos na proposta de uma vida livre a partir

da educação nos dias de hoje, remetemo-nos imediatamente às ideias

propostas pelo sociólogo francês, Edgar Morin. Considerando o momento em

que vivemos, de globalização, tecnologia e disseminação de informações a um

Page 35:  · Web viewNa época, aconteceu uma grande discussão sobre até que ponto esta era uma questão ética e se o governo poderia fazer isso. Deste modo, considerando tudo o que ouvimos

nível sem precedentes, Morin propõe no livro Os Sete Saberes Necessários à

Educação do Futuro temas que são fundamentais para a educação dos

cidadãos no século 21. Conforme menciona, esta obra não tem o objetivo de

versar “sobre o conjunto das disciplinas que são ou deveriam ser ensinadas:

pretende, única e essencialmente, expor problemas centrais ou fundamentais

que permanecem totalmente ignorados ou esquecidos e que são necessários

para se ensinar no próximo século. Há sete saberes “fundamentais” que a

educação do futuro deveria tratar em toda sociedade e em toda cultura, sem

exclusividade nem rejeição, segundo modelos e regras próprias a cada

sociedade e a cada cultura” (MORIN, p.13, 2000). Os sete saberes propostos

por Morin são:

- As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão- Visa propor uma

análise sobre o que é o conhecimento humano, a importância de saber mais

sobre o conhecimento “É necessário introduzir e desenvolver na educação o

estudo das características cerebrais, mentais, culturais dos conhecimentos

humanos, de seus processos e modalidades, das disposições tanto psíquicas

quanto culturais que o conduzem ao erro ou à ilusão.” (MORIN, p.13).

- Os princípios do conhecimento pertinente- Promoção do

conhecimento global para compreensão dos conhecimentos parciais e locais,

ou seja, conforme Morin é preciso repensar o modelo em que o conhecimento

é fragmentado em disciplinas e apresentar propostas que tratam o aprendizado

em sua totalidade, possibilitando que o cidadão consiga compreender os temas

em sua complexidade e contexto.

- Ensinar a condição humana- Para Morin, é preciso compreender a

natureza complexa do ser humano e conceber as disciplinas de tal modo que

levem em conta esta complexidade. Para ele “a condição humana deveria ser o

objeto essencial de todo o ensino”.

- Ensinar a identidade terrena- O autor propõe que o aprendizado

contemple o “destino planetário” do gênero humano, ou seja, a realidade

“globalizada” em que nos encontramos. Conforme menciona o autor: “Convém

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ensinar a história da era planetária, que se inicia com o estabelecimento da

comunicação entre todos os continentes no século XVI, e mostrar como todas

as partes do mundo se tornaram solidárias, sem, contudo, ocultar as opressões

e a dominação que devastaram a humanidade e que ainda não

desapareceram.” (MORIN, p.16)

- Enfrentar as incertezas- O autor parte da ideia de que as ciências

ofereceram muitas certezas para a humanidade e que neste momento se faz

necessário promover um aprendizado para lidar com os imprevistos e o

inesperado. “É preciso aprender a navegar em um oceano de incertezas em

meio a arquipélagos de certeza”.

- Ensinar a compreensão- Morin acredita a educação é o meio que

dispomos que para se promover o desenvolvimento da compreensão, da noção

de alteridade no ambiente educacional. Mas, para isso é preciso uma “reforma

das mentalidades” e buscar compreender na história as raízes da

incompreensão nas manifestações racistas, na xenofobia, no desprezo.

- A ética do gênero humano- Na compreensão do sociólogo a

educação deve direcionar a compreensão de uma “antropo-ética”, ou seja, a

compreensão do ser humano como indivíduo parte da sociedade e parte da

espécie. A ética em sua visão, não deve ser ensinada por meio de lições de

moral, mas promover a noção de cidadania e compreensão do ser humano.

Demoramos-nos nestas ideias apresentadas por Morin por acreditar que

elas dialogam com o que acreditamos ser um caminho para pensarmos a

educação como ferramenta para uma vida em liberdade. E quando nos

referimos à educação, não necessariamente falamos da instituição escola, mas

das diferentes maneiras de compartilhar e promover o conhecimento.

Acreditamos que os temas propostos por Freire e Morin e brevemente

explorados aqui por nós analisam a educação em um aspecto muito mais

amplo, voltado para a formação humanista e alinhada a realidade em que

estamos inseridos.

Page 37:  · Web viewNa época, aconteceu uma grande discussão sobre até que ponto esta era uma questão ética e se o governo poderia fazer isso. Deste modo, considerando tudo o que ouvimos

Como forma de aprofundar os seus conhecimentos, sugerimos abaixo

um filme e um trecho de uma entrevista com o educador e filósofo Mario Sergio

Cortella.

Dica Cultural- Filme “A onda” (Die Welle,2008)

Dir.: Dennis Gansel

Link da imagem: http://en.wikipedia.org/wiki/The_Wave_%282008_film%29#mediaviewer/

File:Diewelle_poster.jpg – Cartaz do filme A Onda

Page 38:  · Web viewNa época, aconteceu uma grande discussão sobre até que ponto esta era uma questão ética e se o governo poderia fazer isso. Deste modo, considerando tudo o que ouvimos

Assim, de nada serve ignorar as forças destrutivas de nosso século. O problema é que a nossa época interligou de modo tão estranho o bom e o mau que, sem a expansão dos imperialistas levada adiante por mero amor à expansão, o mundo poderia jamais ter-se tornado um só; sem o mecanismo político da burguesia que implantou o poder pelo amor ao poder, as dimensões da força humana poderiam nunca ter sido descobertas; sem a realidade fictícia dos movimentos totalitários, nos quais — pelo louvor da força por amor à força — as incertezas essenciais do nosso tempo acabaram sendo desnudadas com clareza sem par, poderíamos ter sido levados à ruína sem jamais saber o que estava acontecendo. E, se é verdade que, nos estágios finais do totalitarismo, surge um mal absoluto (absoluto, porque já não pode ser atribuído a motivos humanamente compreensíveis), também é verdade que, sem ele, poderíamos nunca ter conhecido a natureza realmente radical do Mal. (ARENDT, 1979, p.12)

Sinopse: O filme trata da experiência feita por um professor em uma

turma de ensino médio para abordar o tema da autocracia de forma instigante e

interativa com os alunos. Ao invés de apenas aplicar os conceitos em sala de

aula, o professor Rainer Wenger (Jürgen Vogel) decide incentivar os alunos a

colocar em prática os procedimentos de regimes fascistas e ditatoriais, numa

clara menção ao nazismo alemão. Entretanto, esta experiência começa a fugir

do controle e de repente todos os envolvidos (e aqueles que não querem se

envolver) começam a vivenciar situações de violência e tensão.

Por que é interessante- O filme que é uma adaptação de uma história

real, é inspirado no livro de mesmo nome do autor americano Todd Strasser e

relata uma situação semelhante, que aconteceu nos Estados Unidos sobre

uma experiência intitulada a Terceira Onda. Por meio de um experimento

proposto em sala de aula em que o professor questiona aos alunos se na

Alemanha dos dias de hoje uma ditadura seria instalada são revelados os

mecanismos que levam à doutrinação das massas e a conseqüente exclusão

daqueles que se negam em fazer parte de um movimento. Tudo é pensado

para que o movimento A Onda tenha uma identidade e desta forma consiga

conquistar adeptos: desde uma saudação própria até a adoção de roupas

brancas como identificadoras dos membros deste grupo. Com o tempo, alguns

alunos passam a interiorizar este sentimento de pertença e começam a

requerer a autoridade de fazer qualquer coisa em nome da Onda.

Page 39:  · Web viewNa época, aconteceu uma grande discussão sobre até que ponto esta era uma questão ética e se o governo poderia fazer isso. Deste modo, considerando tudo o que ouvimos

É um filme interessante, pois aborda diversos aspectos dos mecanismos

dos regimes fascistas e a cooptação de mentes para as suas causas. Também

são discutidos aspectos do anarquismo e as diferentes ideologias que podem

existir em um sistema político. Perceba ao assistir o filme que quando o

professor resolve trabalhar com a ideia de um governo ditatorial e toma para si

a responsabilidade de ser este “ditador” ele entra em uma via de mão dupla:

por um lado consegue reunir quase toda a turma na atividade e desperta a

atenção do tema até por quem não se interessa por isso, por outro lado, ao não

testar esta experiência e desta forma conseguir prever ou minimizar as

conseqüências, ele adentra em um terreno perigoso em que as conseqüências

podem ser irreversíveis.

Procure assistir a este filme considerando a questão da liberdade

conforme mencionamos acima e busque relacionar alguns elementos com os

pontos também abordados como a condição humana, a política e as paixões e

os regimes totalitários, como o nazismo na Alemanha. Para somar a este filme

sugerimos a leitura do livro As origens do Totalitarismo (1979) da escritora

política alemã Hannah Arendt (1906-1975).

Confira um trecho da entrevista de Mario Sergio Cortella concedida ao

jornal Gazeta do Povo em 04 de outubro de 2011. A entrevista faz parte da

matéria intitulada: Escola também é lugar para falar sobre política. Para ver a

matéria completa, acesse o link que segue nas referências bibliográficas do

curso.

Gazeta do Povo- Tratar de política dentro da escola ainda é algo pouco

comum no Brasil. É possível determinar os principais motivos disso?

Mario Sergio Cortella- Em primeiro lugar, temos uma democracia ainda

muito jovem. O país tem 511 anos e sua democracia plena não tem nem 25

anos, sendo seu marco a Constituição de 1988. Durante esse tempo, tivemos

momentos rarefeitos de inclusão da sociedade nas decisões. E um modelo com

participação restrita acaba tendo reflexos dentro da escola, onde o debate

sobre esses temas acabava não acontecendo. Se formos lembrar, a geração

anterior teve aulas de Educação Cívica, que eram impostas e se tornaram

Page 40:  · Web viewNa época, aconteceu uma grande discussão sobre até que ponto esta era uma questão ética e se o governo poderia fazer isso. Deste modo, considerando tudo o que ouvimos

indesejadas. Com isso, os pais dos alunos de hoje também valorizam pouco a

discussão da política no cotidiano.

Gazeta do Povo- Em alguns textos, o senhor comenta sobre a confusão

que é feita com os termos “política” e “cidadania” no ensino. Qual a sua visão

sobre eles e o que essa definição errada acaba acarretando?

Mario Sergio Cortella- A confusão é usar esses termos como coisas

separadas. Essas palavras têm origens em locais diferentes, mas seus

significados são os mesmos e têm a ver com a noção de comunidade,

convivência. Ao entender e promover sentidos diversos, muitas vezes a ideia

que fica é a de que política se limitaria apenas à prática partidária, o que não é

correto. Sem levar isso em conta, por vezes apostam no ensino do

funcionamento dos três poderes, por exemplo, acreditando que se está

ensinando política, o que é errado e totalmente insuficiente.

Gazeta do Povo- E o que deveria ser ensinado, então? E de que forma?

Mario Sergio Cortella- Justamente a convivência: seu significado, seu

respeito à democracia, o que demanda e em que resulta. E isso não deve ser

encarado como um componente curricular, que são as disciplinas, mas como

conteúdo curricular, estando presente e orientando o ensino desses valores

nas matérias. Assim, isso deve acontecer desde a educação infantil, com

noções de partilha e respeito recíproco. E no ensino médio já se pode pensar

em aliar essa prática ao conteúdo, dentro da teoria das matérias.

Page 41:  · Web viewNa época, aconteceu uma grande discussão sobre até que ponto esta era uma questão ética e se o governo poderia fazer isso. Deste modo, considerando tudo o que ouvimos

Link da imagem: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mario_Sergio_Cortella#mediaviewer/File:Mario_Sergio_Cortella_

2012.jpg

Mario Sergio Cortella no programa Café Filosófico de 2012.

Mario Sergio Cortella nasceu em Londrina- PR. Graduou-se em Filosofia em 1975 e em 1989, tornou-se mestre em Educação pela PUC-SP e em 1997 concluiu o doutorado em educação pela PUC-SP. É professor titular do Departamento de Teologia e Ciências da Religião e de pós-graduação em Educação da PUC-SP. É autor de diversas obras de filosofia e educação, entre elas, Não Nascemos Prontos (2009) e Educação e Esperança - Sete Breves Reflexões Para Recusar o Biocídio (2009).

Conheça um pouco mais sobre alguns autores citados neste capítulo.

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Paulo Freire- Divulgação - Link da imagem: http://acervo.paulofreire.org/

Paulo Freire (1920-1997) é um dos educadores brasileiros mais importantes e

reconhecidos internacionalmente. Em 2012 foi nomeado Patrono da Educação

Brasileira. O autor de A Pedagogia do Oprimido influenciou muitos educadores

e professores a pensarem a educação como parte da realidade dos

educandos, buscando a autonomia por meio da promoção do conhecimento.

Para Freire a educação deve ser vista como prática libertadora. É autor de

diversas obras e inspirou centenas de outras. Como sugestão de leitura,

indicamos: Paulo Freire, Pedagogia da autonomia: saberes necessários à

prática educativa, 1996.

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Edgar Morin- Link da Imagem: http://www.edgarmorin.org.br- Crédito da imagem: Lila

Rodrigues.

Edgar Morin é um sociólogo e filósofo e nasceu em Paris em 1921.

Pesquisador do CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique), Morin é

também formado em Direito, História e Geografia. Autor de mais de trinta livros,

é um dos mais renomados pensadores sobre a complexidade e aborda esta

temática no livro Introdução do Pensamento Complexo (2001). Morin colabora

com o pensamento sobre a educação nos dias de hoje na obra Os sete

saberes necessários para a educação do futuro (2004).

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DIDÁTICA EM FILOSOFIA

Conforme mencionamos no decorrer deste curso, optamos por

apresentar inicialmente alguns conceitos introdutórios de filosofia, bem como,

alguns temas relacionados para que o leitor já se familiarize com a temática e

possa assim apreender melhor as noções de didática e metodologia em

filosofia. Como este é um curso introdutório nos debruçaremos principalmente

nas noções básicas de didática e passaremos a uma análise sobre a leitura do

texto filosófico. Além disso, falaremos brevemente sobre a legislação que rege

o ensino da filosofia no Brasil.

De todos os livros e textos que consultamos para produzir este material,

na maioria deles encontramos um questionamento que nos parece interessante

de ser reproduzido: é possível ensinar filosofia? Qual a utilidade da filosofia?

Acreditamos que neste ponto desta nossa jornada, tentamos lançar alguma luz

a estas questões, mas elas não desaparecem assim facilmente. Podemos

afirmar que o trabalho do professor de filosofia é um trabalho árduo e não muito

reconhecido e para completar, não são muitos os materiais que forneçam as

bases para a didática e metodologia da Filosofia. Mas, acreditamos que

podemos contribuir com alguns pontos para que o aluno e futuro professor

possam trilhar o seu caminho para a descoberta de como aprender e como

ensinar a filosofia.

1. 1- Breve histórico do ensino da filosofia no Brasil

O ensino da filosofia no Brasil remonta ao ensino jesuítico do período

colonial (século XVI), em que o colonizador europeu impunha sua visão de

mundo fortemente marcada pela moral católica e atendendo principalmente os

interesses da elite, a filosofia neste contexto, tinha papel doutrinador. Os

jesuítas tiveram grande influência na primeira fase da História da Educação no

Brasil. De acordo com Costa (1967), havia pouco espaço para a reflexão e a

filosofia já vinha “pronta da Europa” e para a elite colonial reproduzir estas

ideias já era sinal de grande cultura. Neste contexto, não eram levados em

consideração a realidade local, tampouco, os interesses do índio, do negro e

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do colono. Com a proclamação da República, a Filosofia passa a fazer parte

dos currículos oficiais, mas a sua representatividade é meramente institucional.

Durante a Era Vargas (1930-1945) o ensino da filosofia foi altamente

prejudicado por causa da política educacional do governo que priorizava o

desenvolvimento da educação técnica profissional, em nível técnico e superior,

relegando o ensino das disciplinas da área de humanidades para um plano

secundário. Em 1961, a Lei nº 4.024/61 extinguiu a obrigatoriedade do ensino

de Filosofia e a partir de 1968, com o recrudescimento do governo militar, a

disciplina é finalmente extinta dos currículos escolares do Segundo Grau em

1971. Para Cartolano (1985) essa ação já vinha sendo articulada e culminou

com Lei nº 5.692/71.

O ensino de filosofia não atendendo a essas solicitações tecno burocráticas e político-ideológicas, já não servia aos objetivos das reformas que se pretendiam instituir na estrutura do ensino brasileiro. A sua extinção como disciplina, já optativa no currículo, em 1968, foi pensadamente preparada através de uma série de leis e decretos, pareceres e resoluções do Conselho Federal de Educação e do Conselho Estadual de São Paulo, que, neste caso, centralizavam as decisões da área educacional. (CARTOLANO, 1985, p.72).

Com o fim da ditadura e iniciado o processo de redemocratização do

Brasil no começo dos anos 80 é que são retomadas as discussões sobre a

volta da disciplina da Filosofia ao Ensino Médio. Depois de muitos anos, em

1996 com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de acordo com o

artigo IV da LDB nº 9394/96 “serão incluídas a Filosofia e a Sociologia como

disciplinas obrigatórias em todas as séries do ensino médio. (Incluído pela Lei

nº 11.684, de 2008)”. O artigo 2º da resolução CNE/CEB nº 4/2006 prevê que

“no caso de escolas que adotarem, no todo ou em parte, organização curricular

estruturada por disciplinas, deverão ser incluídas as de Filosofia e Sociologia”

No ensino superior, o parecer CNE/CP nº 28/2001 apresenta as

Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de Filosofia, História, Geografia,

Serviço Social, Comunicação Social, Ciências Sociais, Letras, Biblioteconomia,

Arquivologia e Museologia. De acordo com este documento, a construção do

perfil do formando em filosofia pede:

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1. Perfil dos Formandos- Sólida formação de história da filosofia, que capacite

para a compreensão e a transmissão dos principais temas, problemas,

sistemas filosóficos, assim como para a análise e reflexão crítica da realidade

social em que se insere. O licenciado deverá estar habilitado para enfrentar

com sucesso os desafios e as dificuldades inerentes à tarefa de despertar os

jovens para a reflexão filosófica, bem como transmitir aos alunos do Ensino

Médio o legado da tradição e o gosto pelo pensamento inovador, crítico e

independente. O bacharel deverá estar credenciado para a pesquisa

acadêmica e eventualmente para a reflexão trans-disciplinar Os egressos

podem contribuir profissionalmente também em outras áreas, no debate

interdisciplinar, nas assessorias culturais etc.

Entre as competências e habilidades esperadas por este profissional,

espera-se:

[...] - Capacitação para um modo especificamente filosófico de formular e

propor soluções a problemas, nos diversos campos do conhecimento;

- Capacidade de desenvolver uma consciência crítica sobre conhecimento,

razão e realidade sócio-histórico-política;

- Capacidade para análise, interpretação e comentário de textos teóricos,

segundo os mais

rigorosos procedimentos de técnica hermenêutica;

- Compreensão da importância das questões acerca do sentido e da

significação da própria existência e das produções culturais;

- Capacidade de relacionar o exercício da crítica filosófica com a promoção

integral da cidadania e com o respeito à pessoa, dentro da tradição de defesa

dos direitos humanos. [...]

Diante deste breve cenário sobre o desenvolvimento do ensino da

filosofia no Brasil e o perfil do formando em filosofia, partimos agora para uma

proposta de didática em filosofia.

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A importância da didática em filosofia

Marilena Chauí (1995) utiliza uma expressão muito apropriada ao referir-

se à “prática” da filosofia, para a autora é preciso “ensinar-aprender-fazer

Filosofia”, isto é, desenvolver a capacidade de reflexão a partir da análise

questionadora da realidade e dialogar com o educando. De nada adianta o

professor ser dotado de muito conhecimento teórico se não é capaz de

transmitir este saber. Para esta autora, a atitude filosófica consiste em

“indagar” e a Filosofia se torna reflexão sobre o vivido. Dentre as

características desta atitude, figuram, na visão da autora:

- perguntar o que a coisa, ou o valor, ou a idéia, é. A Filosofia pergunta qual é

a realidade ou natureza e qual é a significação de alguma coisa, não importa

qual;

- perguntar como a coisa, a idéia ou o valor, é. A Filosofia indaga qual é a

estrutura e quais são as relações que constituem uma coisa, uma idéia ou um

valor;

- perguntar por que a coisa, a idéia ou o valor, existe e é como é. A Filosofia

pergunta pela origem ou pela causa de uma coisa, de uma idéia, de um valor.

(CHAUÍ, 1995, p.12)

A atitude filosófica é então posicionar-se criticamente frente aos

problemas e situações no mundo em que vivemos em nível global, local e

regional. Não se refere apenas ao questionamento, mas como atitude prática

de mudança da forma que pensamos e agimos no mundo. Neste sentido, ao

invés de aceitarmos as situações perguntamo-nos, nos questionamos sobre

nós mesmos. Neste aspecto, a Filosofia torna-se reflexão e incita perguntas e

questões sobre a maneira que pensamos, como nos posicionamos e para que

pensamos.

Este é um passo “básico” para “ensinar-aprender-fazer Filosofia”, porém

não menos desafiador. Como já mencionou Kant, não se pode ensinar filosofia,

mas, apenas ensinar a filosofar. Como vimos anteriormente, o ensino da

filosofia foi bastante prejudicado no Brasil e até bem pouco tempo atrás, ela

não era nem considerada como uma disciplina autônoma. Mas, no momento

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histórico em que vivemos com as crises, a globalização da informação, os

embates e confrontos, a participação popular, as redes sociais e novas lutas,

revelam que há muito terreno a ser explorado pelo futuro filósofo. O olhar do

filósofo é emergencial neste cenário.

A didática em filosofia, portanto, tem como objetivo sistematizar o

pensamento filosófico de modo a oferecer possibilidades de que o aluno

consiga desenvolver o seu trabalho intelectual.

Sobre a Didática, convém apresentarmos algumas definições. De acordo

com Silva e Borba (2011), até o final do século XIX, a Didática encontrou seus

fundamentos na Filosofia, principalmente nos trabalhos de Comenius (Jan

Amos Komenksy- 1592-1670) considerado o fundador da didática moderna, e

também, de Jean Jacques Roussseau (1712-1778), Johann Heinrich Pestalozzi

(1746-1827), Johann Friedrich Herbart (1777-1841). Posteriormente, também

buscou referenciais na outras ciências como a Biologia e a Psicologia.

Para Pimenta e Anastasiou (2010) o papel da didática é o de

compreensão do funcionamento em seu momento, suas funções sociais e

implicações estruturais. Sobretudo deve realizar uma ação auto-reflexiva e

dialogar com aquilo que estuda, pois isto faz parte da ação de ensinar. Os

autores mencionam que se faz necessário o intercâmbio de conhecimentos e

culturas e constante avaliação crítica sobre os métodos de ensino, e

atualização intelectual. Neste sentido, o que se espera do professor é que ele

direcione o processo de aprendizado do aluno e promova uma relação de troca

de conhecimentos com o aluno. Este caminho de inter-relação é possível

quando o professor tem noção de que não é um “especialista” em apenas uma

disciplina, mas tem a capacidade de desenvolver-se também de maneira plural.

Sobre isto mencionam Silva e Borba (2011):

Exige-se ainda um professor transformador, que mude o foco do ensinar e passe a se preocupar com o aprender, principalmente com o “aprender a aprender”. Que abra caminhos coletivos de busca que subsidiem a produção do conhecimento de seus estudantes, auxiliando-os a ultrapassarem o papel passivo de repetir ensinamentos e a se tornarem críticos e criativos., indo-se além, a necessidade de um professor capaz de trabalhar em equipe, que seja capaz de integrar grupos de pesquisa com profissionais de diferentes áreas, participar de projetos multidisciplinares e que aceite o desafio da interdisciplinaridade. (SILVA, BORBA, 2011, p.26)

Page 49:  · Web viewNa época, aconteceu uma grande discussão sobre até que ponto esta era uma questão ética e se o governo poderia fazer isso. Deste modo, considerando tudo o que ouvimos

Como podemos ver tendo como base estas definições, a Filosofia e a

Didática se complementam no sentido em que são ciências que estimulam o

aprendizado e o desenvolvimento para um ensino autônomo e crítico. Ensinar a

filosofar, como já mencionamos algumas vezes, é uma tarefa que exige boa

formação intelectual e capacidade de organizar os conhecimentos de maneira

organizada, pois os textos filosóficos, conforme mencionado por Ariel e Porta

(2002), não é são textos que contam histórias (de caráter narrativo) ou

apresentam notícias (informativos), e por isso, exigem que saibamos como ler

este texto para poder analisá-los. A didática, portanto, neste sentido pode ser

entendida para além dos limites metodológicos e desempenhar um papel

analítico, de investigação sobre a natureza da educação, de construção e

troca.

É importante mencionar que didática e metodologia não significam a

mesma coisa, mas dependem uma da outra no processo de construção da

aprendizagem e do ensino. Se pudéssemos fazer uma analogia, diríamos que

a didática é o “sistema nervoso” do nosso corpo que opera em diferentes níveis

para o perfeito funcionamento das nossas funções, que compreenderemos aqui

como a educação como um todo. Este “sistema” contempla o atual panorama

da educação que exige que o educador atenda às demandas intelectuais

pertinentes ao conhecimento e também ao seu trabalho “burocrático”, por

assim dizer, como a organização pedagógica dos diferentes modelos de

ensino, o comprometimento na organização dos conteúdos para a formação do

educando, a construção dos diversos saberes, dentre outros. A metodologia

seria as nossas funções propriamente ditas, a maneira como pensamos e

agimos para nos fazer entender. Isso posto convém agora apresentarmos a

nossa proposta de didática em filosofia.

Gallo (2004) propõe uma análise interessante sobre como é possível

despertar o interesse do aluno em filosofar. Com base em um encontro

realizado com professores pela Unimep, verificou-se uma queixa recorrente

dos professores em relação aos materiais didáticos para o ensino da filosofia

que nos chama a atenção. O nível da linguagem utilizada é geralmente

“hermético”, fechado e que ao invés de atrair o aluno, acaba o afastando. A

proposta então é “transformar” a filosofia para uma linguagem que o aluno

Page 50:  · Web viewNa época, aconteceu uma grande discussão sobre até que ponto esta era uma questão ética e se o governo poderia fazer isso. Deste modo, considerando tudo o que ouvimos

entenda, não vulgarizando a disciplina, mas esforçando-se ao máximo para

que se consiga estabelecer uma comunicação proveitosa com o púbico a que

se destina. Achamos muito interessante a abordagem feita pelo autor porque

ela desmistifica a filosofia e oferece propostas contemporâneas e conectadas

com a realidade dos educandos. No material desenvolvido em conjunto com

diversos professores, a filosofia é analisada à luz dos problemas

contemporâneos e ao invés de fornecer as respostas “fechadas” para o aluno,

sugere questionamentos sobre os grandes temas da filosofia como a liberdade,

a política, ideologia, o corpo, dentre outros.

Acreditamos que este é um caminho possível para os futuros

educadores, isto é, procurar apresentar os problemas da filosofia de modo que

eles possam estar acessíveis e compreensíveis aos alunos. A proposta não é

banalizar a disciplina, mas compreendê-la em toda a sua complexidade para

que então, o professor consiga “traduzi-la” para a diversidade discente.

Somado a isso, se faz necessário lançar mão de recursos diversos que

possam ser reinterpretados no contexto da sala de aula, tais como, filmes,

notícias, debates, matérias jornalísticas, crônicas, poemas, simulação de júris,

pesquisas orientadas em grupos, visitas à patrimônios públicos, instituições...

Atualmente o professor dispõe de uma infinidade de soluções para apresentar

os mais diferentes conteúdos, basta querer! Logicamente que não somos

inocentes a ponto de desconhecer a realidade de grande parte das escolas e

algumas universidades brasileiras, e também conhecemos que em muitos

casos certas “ousadias” não são vistas com bons olhos nos planejamentos

pedagógicos, mas reforçar estas dificuldades é incorrer no senso comum, e

não é este o nosso objetivo. Modestamente esperamos que possamos propor

alguns pontos para nortear o ensino em filosofia e fornecer pistas para que

cada um siga o caminho que achar melhor e mais adequado à sua realidade e

a de seus educandos. Em seguida, apresentaremos algumas propostas de

atividades para serem desenvolvidas no ambiente educacional.

1. Para compreender a Filosofia- Conceitos Introdutórios

Temas sugeridos:

Page 51:  · Web viewNa época, aconteceu uma grande discussão sobre até que ponto esta era uma questão ética e se o governo poderia fazer isso. Deste modo, considerando tudo o que ouvimos

a) As raízes da filosofia- Neste momento convêm apresentar as origens da

Filosofia considerando como surge a filosofia e o que ela significa para o

desenvolvimento do pensamento ocidental. Desmistificar as noções do senso

comum sobre o que é filosofia. Além disso, a proposta é não se prender aos

conceitos e teorias, mas procurar instigar o aluno tendo como pressuposto a

sua realidade, a sua vivência.

b) O problema em filosofia- De acordo com Ariel e Porta (2002), o primeiro

passo para a compreensão da filosofia é sempre estabelecer qual é o problema

proposto por aquele ou este filósofo. O leitor deve se perguntar: qual é o

problema proposto por este filósofo? Por que ele o formula dessa maneira? Ao

compreender estes pontos, o leitor tem noção de como determinado filósofo se

posiciona em relação aos problemas ele coloca.

c) A filosofia e o conhecimento- Importante instigar o educando a reconhecer

o papel da filosofia como instrumento de reflexão e as suas relações com as

demais formas de conhecimento como a arte, a religião, as ciências. Convém

apresentar ao aluno a noção de senso comum e o pensamento reflexivo,

instigar o olhar reflexivo sobre esta forma de conhecimento e não

preconceituoso;

d) Os grandes temas da Filosofia- Situar os grandes temas da filosofia no

contexto histórico em que se desenvolvem. Relacionar os grandes temas com

os problemas que vivenciamos. Propor reflexões críticas a respeito de temas

do cotidiano. Sugestões de abordagens possíveis: o indivíduo e a sociedade,

ideologia, política, a questão do trabalho, a liberdade, a moral e a ética, a

morte, o consumo, a estética, discussões sobre o corpo, justiça, os

preconceitos, as redes sociais, a comunicação de modo geral, felicidade,

diversidade.

É claro que com estes exemplos não pretendemos limitar o trabalho do

professor e educador. Em nossa concepção, estes são alguns pontos para se

começar a inventar seu próprio caminho de “ensinar-aprender-fazer Filosofia”.

Assim, finalizamos, este tópico com uma citação que nos parece adequada.

Page 52:  · Web viewNa época, aconteceu uma grande discussão sobre até que ponto esta era uma questão ética e se o governo poderia fazer isso. Deste modo, considerando tudo o que ouvimos

É essencial, portanto dispor, em filosofia, como na aprendizagem das ciências teóricas ou aplicadas, de métodos que não se confundam com simples técnicas pragmáticas, aplicá-las a todos os problemas, mas que permitam pensar melhor, raciocinar melhor, refletir melhor por si mesmo sobre as questões colocadas pela própria vida. Aprender filosofia não é aprender a servir-se de um instrumento para aumentar nosso poder sobre as coisas ou sobre os homens, mas é adquirir progressivamente a arte de desenvolver as aptidões de nosso próprio espírito a julgar a raciocinar em geral. (FOLSCHEID, WUNEMBURGUER, 1999, p. 10).

PROPOSTA DE ATIVIDADES

O grande júri

Descrição da atividade: Simular o espaço de um tribunal em que a sala se

divide em dois ou três grupos para debater sobre um dos grandes temas da

filosofia e relacioná-lo com os dias de hoje. Podem ser utilizados textos

jornalísticos, artigos opinativos e outros textos para fundamentar as

discussões;

Objetivos: Incentivar os alunos a fundamentarem as suas argumentações com

ideias. Promover a troca de conhecimento e o respeito à opinião dos outros

grupos.

Realização das atividades: O professor fará a leitura prévia dos conceitos que

pretende trabalhar. Ao escolher, por exemplo, analisar a temática da liberdade

deve levar textos para apresentar aos alunos a noção de liberdade e qual o

tema que será explorado, como a liberdade religiosa, de gênero, corpo, etc. Em

seguida, apresentará os pontos conflitantes dividirá a turma em dois grupos

que debaterão entre si, ou em três, e o último será o responsável por ponderar

as opiniões dos outros grupos.

Page 53:  · Web viewNa época, aconteceu uma grande discussão sobre até que ponto esta era uma questão ética e se o governo poderia fazer isso. Deste modo, considerando tudo o que ouvimos

Em seguida o professor lança as questões pertinentes ao debate e dá 10

minutos para os grupos responderem as questões e começarem a preparar a

sua defesa.

Cada grupo terá 10 minutos para fazer a sua arguição e em seguida, haverá a

réplica. O terceiro grupo, se houver, vai analisar se os pontos citados

correspondem às noções apresentadas pelo professor e vai ponderar os

argumentos.

Finalmente, o professor desenha uma linha divisória no quadro negro enumera

as respostas dadas pelos grupos. Faz um resumo dos pontos apresentados e

associa à temática escolhida, explicando aos alunos que as opiniões

divergentes fazem parte do processo filosófico.

SEMINÁRIO- Filme e discussão teórica

Filme: Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos- Dir. Marcelo Masagão

(1999)

Crédito da Imagem: Pôster de divulgação do filme-

http://www.imdb.com/title/tt0206805/

Page 54:  · Web viewNa época, aconteceu uma grande discussão sobre até que ponto esta era uma questão ética e se o governo poderia fazer isso. Deste modo, considerando tudo o que ouvimos

Síntese do filme: É um filme documentário que apresenta diversos fatos

marcantes do século XX como as guerras e as suas consequências, a

banalização da violência, a evolução tecnológica, a representação da loucura,

da morte e também da esperança.

Objetivo: Fazer o aluno refletir sobre as mudanças que aconteceram no

mundo e como elas transformaram a sociedade.

Atividade: Antes da exposição do filme, abordar a questão dos valores, da

banalização da morte e a questão da liberdade. Falar brevemente sobre o

filme, o contexto em que ele foi produzido, como era o Brasil nos anos 90, entre

outros. Elaborar 2 a 3 questões, colocá-las no quadro e após a exposição do

filme, dar um tempo para que os alunos respondam e finalmente debatam

sobre o que viram.

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