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Universidade Estadual de Londrina
CENTRO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE CURSO DE BACHARELADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
QUEM É O PROFISSIONAL DE LAZER? UM ESTUDO DE CASO SOBRE O AGUATIVA GOLF RESORT
Daiane de Souza
LONDRINA – PARANÁ 2008
1
DAIANE DE SOUZA
QUEM É O PROFISSIONAL DE LAZER? UM ESTUDO DE CASO SOBRE O AGUATIVA GOLF RESORT
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Bacharelado em Educação Física do Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial para sua conclusão
COMISSÃO EXAMINADORA
______________________________________
Prof. Dr. Tony Honorato Universidade Estadual de Londrina
______________________________________
Profª. Ms. Catiana Leila Possamai Universidade Estadual de Londrina
______________________________________
Prof. Dr. Antônio Geraldo M. G. Pires Universidade Estadual de Londrina
Londrina, 10 de Novembro de 2008
2
A Deus e a todos aqueles que me acompanharam nessa trajetória.
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao Professor Tony Honorato que compartilhou seu conhecimento para a
realização de todas as etapas desse trabalho.
A minha família e às pessoas que eu amo, que me deram o apoio necessário.
Ao Aguativa Golf Resot que me abriu as portas para a realização das entrevistas.
4
SOUZA, Daiane de. Quem é o Profissional de Lazer? Um estudo de Caso sobre o Aguativa Golf Resort. . Trabalho de Conclusão de Curso. Curso de Bacharelado em Educação Física. Centro de Educação Física e Esporte. Universidade Estadual de Londrina, 2008.
RESUMO
Segundo a literatura, ao longo dos anos houve um aumento significativo pela
procura por atividades de lazer. O mercado de trabalho no campo do lazer cresceu,
oferecendo oportunidades aos profissionais de Educação Física atuarem em hotéis,
resorts, clubes, parques temáticos, entre outros espaços. Esse trabalho, muitas
vezes é realizados por pessoas que não possuem nenhuma formação acadêmica
para o lazer. O interesse desse estudo está pautado em identificar o perfil para ser
um recreador no Aguativa Golf Resort. Essa investigação é de natureza qualitativa e
um estudo de caso. Para essa coleta, foi utilizada a técnica da entrevista semi-
estruturada, realizada com a Supervisora e com o Coordenador de Lazer do
Aguativa Golf Resort. Em um primeiro momento são abordadas as questões
referentes à concepção de Lazer e o que compreende um Resort. A segunda parte
do trabalho está pautada nos dados das entrevistas abordando os temas sobre os
papéis dos profissionais que compõem a equipe de lazer, como ocorre o processo
de seleção e como ocorre o desenvolvimento das atividades. Com o conteúdo das
entrevistas foi verificado que a maioria dos recreadores são graduandos de cursos
de Educação Física e Turismo e também que os recreadores contratados pelo
Resort, exercem o papel principal na atuação da equipe de lazer e por isso sua
atuação precisa de futuras investigações. Palavras-chave: Lazer, Resort, Recreadores, Profissionais
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ABSTRACT
According to the literature over the years there was a significant increase in the demand for leisure activities. The labor market grew in the field of leisure, offering opportunities for professionals to act Fitness in hotels, resorts, clubs, theme parks, among other areas. This work is often done by people who do not have any academic training for leisure. The interest of this study is based on identifying the profile to be a staff in Aguativa Golf Resort. This research is a qualitative and a case study. For this collection, was the technique of semi-structured interview, conducted with the Supervisory and with the Coordinator of Leisure Aguativa Golf Resort. At first deals with the issues concerning the design of Leisure and covers a Resort. The second part of the work is based on data from interviews addressing the issues on the roles of professionals who make up the team of leisure, like the selection process occurs and how the development of activities. With the content of the interviews was found that most staff are graduating from courses of Physical Education and Tourism and also that the staff employed by the resort, performing the lead role in the performance of the team of leisure and therefore its role needs further investigations. Key Words: Leisure, Resort, Staff, Professionals .
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LISTA DE SIGLAS
EMBRATUR – Instituto Brasileiro de Turismo, anteriormente denominada Empresa Brasileira de Turismo
ONG – Organização não Governamental
7
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 08
2 CONCEPÇÕES DE LAZER ............................................................................ 13
2.1 Lazer e Seus Significados ............................................................................... 15
2.2 Lazer e Recreação ......................................................................................... 22
2.3 Hotéis de Lazer e Resorts ............................................................................... 24
3 O AGUATIVA GOLF RESORT ....................................................................... 30
3.1 Histórico .......................................................................................................... 30
3.2 Estrutura Física ............................................................................................... 31
3.3 Estrutura de Lazer ........................................................................................... 33
3.4 Outras Atividades ............................................................................................ 38
4 CONTEÚDO DAS ENTREVISTAS ................................................................. 40
4.1 Papel do Supervisor e do Coordenador de Lazer ........................................... 40
4.2 O Profissional Idealizado ................................................................................ 43
4.3 O Processo de Seleção .................................................................................. 48
4.4 Áreas de Formação Profissional .................................................................... 52
4.5 Identidade Profissional e Identidade Pessoal ................................................. 54
4.6 “Tios Fixos e “Tios Free-Lancer” .................................................................... 58
4.7 Programação .................................................................................................. 62
5 CONCLUSÃO .................................................................................................. 65
6 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 67
7 APÊNDICE ....................................................................................................... 70
8
1 INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos, houve um aumento significativo pela procura por
atividades de Lazer que proporcionem um melhor “aproveitamento” das horas de
tempo livre. Essas vivências de lazer geralmente acontecem, no final do dia, final de
semana, períodos de férias, na aposentadoria ou, até mesmo, durante o dia para
aqueles que têm possibilidades.
O mercado de trabalho no campo do lazer cresceu, oferecendo
oportunidades aos profissionais de Educação Física ampliarem suas práticas
pedagógicas (entre outras competências) em hotéis, resorts, acampamentos,
agências públicas, empresas, parques temáticos, clubes, agências de turismo,
eventos, grupos de interesse, associações e ONG's (Pimentel, 2002).
Historicamente, conforme apontam Melo e Fonseca (1997), a Educação
Física vem sedimentando-se no campo do tempo livre, muito em função da
recreação. A sociedade já referenda a área como a mais associada à atividades
como colônias de férias, gincanas, ruas de lazer, acampamentos, animação de
festas, entre outras estratégias recreativas. (Pimentel, 2002)
Segundo Wanderley (2004) a vida agitada dos grandes centros urbanos,
tem provocado nas pessoas um interesse cada vez maior pelo turismo e, em
especial, por hotéis que proporcionem experiências diferentes de seu cotidiano.
O campo do lazer possui inúmeras vertentes mas todas eles necessitam
de algum profissional realizando uma intervenção. Esse trabalho, muitas vezes, é
realizado por pessoas que não tem nenhuma formação acadêmica específica para o
lazer. Pude observar esse fato em algumas experiências profissionais, no campo da
recreação, que tive ao longo de minha formação. Esse trabalho também foi
motivado pelo interesse em dar continuidade aos estudos do lazer e também ao
trabalho que realizei em 2006, conclusão do Curso de Graduação em Turismo em
que, através de um levantamento bibliográfico, estudei a relação entre formação
9
acadêmica e atuação recreacionista.
O interesse desse trabalho está pautado em realizar uma pesquisa mais
aprofundada a respeito da necessidade do mercado de trabalho, com o objetivo de
identificar quais as e competências para ser um recreacionista no Aguativa Golf
Resort.
Considerando o objeivo de estudo proposto, assumimos esta
investigação como sendo de natureza qualitativa e de estudo de caso. Para Turato
(2003), um estudo qualitativo refere-se a estudos de significados, significações,
ressignificações, representações psíquicas, representações sociais, simbolizações,
simbolismos, percepções, pontos de vista, perspectivas, vivências, experiências de
vida, analogias.
Diferentemente da pesquisa quantitativa, a qualitativa busca uma
compreensão particular daquilo que estuda, não se preocupa com generalizações
populacionais, princípios e leis. O foco de sua atenção é centralizado no específico,
no peculiar, buscando mais a compreensão do que a explicação dos fenômenos
estudados (Martins e Bogus, 2004).
No estudo de natureza qualitativa, podemos utilizar um tipo de estudo
específico segundo o objetivo proposto. Nesse trabalho, foi realizado um estudo de
caso que à partir da concepção de Ludke e André (1986), é caracterizado por
procurar revelar a multiplicidade de dimensões presentes numa determinada
situação ou problema, focalizando-o como um todo; permitem a aplicação a outras
situações similares e associação dos resultados com outras experiências; Procuram
representar os diferentes e às vezes conflitantes pontos de vista presentes numa
situação social; utilizam uma linguagem e uma forma mais acessível do que os
outros relatório de pesquisa (relatos informais, narrativos, ilustrativos; uso de
desenhos, fotografias, colagens, dramatizações).
À partir do entendimento da natureza do estudo qualitativo e também
dos objetivos desse trabalho, optei por desenvolver um Estudo de Caso sobre o
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Aguativa Golf Resort, em especial, sobre sua Equipe de Lazer e Recreação. Para
isso, entrei em contato por telefone com a Gerente Operacional do Resort, Débora
Carvalho, explicando sobre o interesse em desenvolver o trabalho em questão.
Depois de alguns contatos telefônicos, foi marcado um dia para que eu pudesse ir
até o Resort e coletar os dados da pesquisa.
Os métodos de investigação de uma pesquisa qualitativa incluem
entrevistas (estruturadas, semi-estruturadas e abertas), observação (externa ou
participante) e análise de material escrito. Exemplos clássicos da abordagem
qualitativa de pesquisa são os estudos antropológicos sobre culturas, os estudos
sociológicos de instituições e os estudos psicológicos de comportamentos.
Para essa coleta, depois de conversar com meu orientador, optamos
por fazê-la através da técnica da entrevista semi-estruturada. Essa técnica consiste
na “entrevista em que o pesquisador de tempos em tempos efetua uma intervenção
para trazer o informante aos assuntos que pretende investigar. O informante fala
mais que o pesquisador, dispõe de certa dose de iniciativa, mas na verdade que
orienta todo o diálogo é o pesquisador” (Queiroz, 1983, p. 47).
Martins e Bogus (2004) definem a entrevista semi-estruturada como
aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e
hipóteses, que interessam à pesquisa e que, em seguida, oferece amplo campo de
interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem
as respostas do entrevistado. Marconi e Lakatos (1982) dizem ainda que esse tipo
de entrevista tem características da entrevista estruturada, mas admite certa
flexibilidade, em função das respostas obtidas, visando assegurar o alcance dos
objetivos da pesquisa. Segue um formulário que contém questões fechadas e
abertas
O início da entrevista está geralmente marcado por incertezas. O
pesquisador não sabe se alcançará os propósitos levantados em seu estudo, com as
respostas do entrevistado. O entrevistado, por sua vez, não tem ainda clareza sobre
o tópico a ser desenvolvido e nem uma relação de confiança com o pesquisador
11
(Triviños, 1987). Mas a grande vantagem da entrevista sobre outras técnicas é que
ela permite a captação imediata e corrente da informação desejada, praticamente
com qualquer tipo de entrevistado e sobre os mais variados tópicos. (Lüdke e André,
1986).
Para a realização da entrevista semi-estruturada, tomei como base
algumas questões norteadoras que também estão de acordo com os objetivos da
pesquisa: como é composta a equipe de lazer e recreação do Aguativa Golf Resort;
qual a função ou funções do Coordenador/Supervisor de lazer; como ocorre o
processo de seleção para a contratação dos “tios”; quais são as características
procuradas em um “tio” no processo de seleção; quais as características e formação
profissional dos tios que trabalham hoje no Aguativa Golf Resort; como é realizada a
programação de lazer do Resort. Durante a entrevista também surgiram outros
questionamentos à partir dos discursos dos entrevistados.
Seguindo as técnicas da entrevista semi-estruturada, agendei a
entrevista com a Supervisora de Recreação “Tia Potira”1, no Aguativa Golf Resort.
Chegando lá, nos dirigimos para uma sala de reuniões, para que a entrevista
pudesse transcorrer sem interferência de outras pessoas. Em uma mesa, eu de
frente para atora social “Tia Potira”, realizamos a gravação da entrevista com auxílio
de um gravador preto, da marca Panasonic, que durante toda a entrevista ficou
sobre a mesa.
Utilizar a gravação para a entrevista tem a vantagem de registrar
todas as expressões orais, deixando o entrevistador livre para prestar toda a sua
atenção ao entrevistado. Por outro lado, ela só registra as expressões orais,
deixando de lado as expressões faciais, os gestos, as mudanças de postura e pode
representar, para alguns entrevistados, um fator constrangedor. Nem todos se
mantêm inteiramente à vontade e naturais ao ter sua fala gravada. Outra dificuldade
em relação à entrevista gravada é a sua transcrição para o papel. Essa operação é
bastante trabalhosa, consumindo muitas horas (Lüdke e André, 1986).
1 “Tia Potira” é o apelido da Supervisora e foi assim que ela sugeriu que seu nome fosse publicizado neste
trabalho. Esta sugestão também foi adotada ao segundo entrevistado, “Tio Milico”.
12
Após a transcrição dessa entrevista e de sua análise, percebemos
que algumas questões precisavam ser melhor abordadas. Para isso precisava ser
realizada uma nova entrevista.
Em um novo contato telefônico, fui informada de que o ultimo
coordenador da equipe de Lazer do Aguativa Golf Resort, tinha voltado ao seu
cargo. Optamos então por fazer uma entrevista com o ele, o “Tio Milico”, e além das
questões norteadoras do estudo, encontramos então uma possbilidade de
complementar as informações da primeira entrevista. Essa entrevista foi
previamente marcada e realizada na sala da gerencia, na Loja do Aguativa Golf
Resort, localizada no Catuaí Shopping em Londrina.
Uma das limitações encontradas para a realização das entrevistas foi
o meu conhecimento prévio sobre a estrutura e funcionamento do Aguativa Golf
Resort, devido minha experiência profissional na Equipe de Lazer e Recreação entre
os anos de 2005 e 2007, e também por já ter trabalhado com os entrevistados. Mas
todos os procedimentos e técnicas descritos acima para o registro dos discursos
através do gravador, foram seguidos. Vale destacar que foi apresentado um termo
de consentimento (Apêndice 1), e após a transcrição das entrevistas (Apêndice 2)
encaminhamos os discursos registrados via e-mail para a gerência do Aguativa Golf
Resort tomar conhecimento e autorizar sua publicação neste TCC.
O trabalho está dividido em dois momentos: no primeiro capítulo é
abordado as questões referentes à concepção e significados do lazer, bem como
sua relação com a recreação e os espaços utilizados para a prática do lazer. No
segundo capítulo são abordadas as questões referentes ao conteúdo das entrevistas
abordando os papéis dos profissionais que compõem a equipe de Lazer do Aguativa
Golf Resort, como ocorre o processo de seleção e como é o funcionamento das
atividades desenvolvidas no Resort, à partir da intervenção profissional lá existente.
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2 CONCEPÇÕES DE LAZER
Utilizado constantemente no cotidiano o termo lazer pode ser
encontrado em revistas, conversas informais, textos científicos, jornais, em situações
muito diversas como forma de expressar alguns valores atribuídos e ele como
divertimento, descanso também associado ao jogo, recreação e tempo livre.
A palavra lazer vem do francês “loisir” que tem origem na forma
infinitiva do latim “licere”, que significa o permitido (Camargo, 1998). Derivado dele
surge mais tarde à expressão inglesa “leisure” utilizada tecnicamente como tempo
livre. (Vaz, 2003).
Embora sua incorporação ao vocabulário tenha ocorrido a partir do
século XIX, com a Revolução Industrial, o lazer como fato social não é tão recente,
pois desde que as pessoas começaram a organizar-se em grupos, e posteriormente
em sociedade, existe a relação entre trabalho e não trabalho.
Foi a partir da Grécia Antiga que o tempo livre das pessoas passou a
ser uma preocupação, mas somente para a elite. O lazer era crucial para o homem,
mas para uma pequena porcentagem desta sociedade, pois o trabalho tido como
desgastante era deixado para os escravos. As tarefas cotidianas eram feitas pelos
escravos, por isso, somente o homem livre tinha tempo livre para cultivar valores
como a bondade e a beleza – essenciais naquela época. Para os gregos, a atividade
intelectual era mais importante, e as pessoas somente podiam se desenvolver
espiritual, cultural e intelectualmente através do tempo livre. O trabalho, que vem do
latim, tripalium, um tipo de instrumento de tortura, (Requixa, 1977), significa que
trabalhar também era uma tortura e era encarado de forma negativa pelos gregos.
Já os romanos, povo que dominou o mundo nos primeiros séculos,
não encarava o trabalho como um mal necessário, principalmente porque eram
ativos guerreiros. Porém, o tempo livre que os romanos tinham, o utilizavam não
para a contemplação, e sim para "a recuperação e preparação do corpo e do espírito
14
para a volta ao trabalho" (ib, 1977). Mas, ainda havia uma separação entre elite e
povo, sendo que as diversões populares, vulgares e alienadas, eram desprezadas
pela elite, intelectualizada.
Na Idade Média essa visão de diversão se modificou, por causa da
maior influência da religião com sua concepção de pecado: as pessoas deviam
trabalhar muito e descansar pouco, porque o ócio era pecado. Lutero, responsável
pela Reforma Protestante, supervalorizava o trabalho em detrimento do lazer, pois
considerava o trabalho como a maneira de servir a Deus, só o trabalho dignificava o
homem, e o tornava um escolhido de Deus. O tempo livre disponível devia ser usado
na prática religiosa. Então, o trabalho que era tão desprezado pelos gregos, hebreus
e romanos, foi se valorizando, e o lazer foi sendo desprezado (ibidem, 1977)
Era quase dogmática e radical a interpretação da mentalidade
bíblica segundo a qual os homens nasceram para trabalhar e seu trabalho era
considerado um meio e forma de purgação de pecados ou culpas (Andrade, 2001).
A partir da Revolução Industrial, onde o modelo de sociedade
capitalista emergente passou a ser caracterizado pela intensa jornada de trabalho
em ritmo acelerado, devido às exigências do mercado, que visavam à alta
produtividade e lucratividade, os indivíduos foram condicionados a reciclar sua força
de trabalho, tornando o tempo livre e o lazer uma necessidade e direito social.
Desde a primeira sociedade industrial o trabalho é tido como
obrigação ao homem, ficando o lazer em segundo plano, para o tempo que restaria
fora de seu horário de descanso. Porém os trabalhadores destas sociedades pré-
revolução industrial trabalhavam em media dezoito horas por dia, restando apenas
seis horas para seu descanso e obrigações familiares, sem possuir qualquer opção
para seu lazer.
Desde esse período, o tema lazer vem carregado de diferentes
significados e é utilizado deliberadamente no senso comum como sinônimo de
outros termos relacionados (recreação, tempo livre, ócio, entre outros), divergindo de
15
seu real significado.
2.1 Lazer e Seus Significados
Diferenças acentuadas quanto ao entendimento do que significa
lazer, podem ser observadas até mesmo em conversas informais, em que grande
parte da população, assim como dentre profissionais que atuam na área,
normalmente associam o lazer às atividades de recreação comunitária ou a eventos
de massa. Conceitos como estes, surgem com outros significados, como ocupação
do tempo livre ou ainda compensação das horas de trabalho, o que na verdade, em
algumas vezes é interpretado de forma errônea, pois o lazer é muito mais do que
isso, ele interfere nas relações políticas, sociais, culturais, familiares, religiosas,
educacionais dentre outras (Nery, 2005)
O lazer passou a ser valorizado como objeto de estudo a partir da
década de setenta por vários escritores e pesquisadores na busca de uma melhor
compreensão do tema, uma vez que, o lazer é tido como um assunto capaz de gerar
discussões no meio acadêmico, organizando-se assim como tema de pesquisa.
Com a forte relação que a necessidade de tempo para a
recuperação da força de trabalho passou a ter com a sociedade, os estudiosos do
período da Revolução Industrial caracterizaram e determinaram a relação homem-
atividade, ou seja, cada atividade realizada pelo homem ou mesmo a sua ausência
foi determinada em função do tempo.
O tempo restante de trabalho e de necessidades básicas vitais
(sono, alimentação, necessidades fisiológicas e higiene) é o chamado tempo livre. É
uma pausa na preocupação ou dedicação produtiva de tarefas sistemáticas ou
tempo que o homem dispõe legalmente (Bacal,1988 apod Cavallari & Zacharias,
2004).
16
Já a palavra ócio aparece em espanhol com o significado de lazer,
(Dumazedier, 1979), o que pode ser uma das causas de tanto confundirem as duas
palavras e assim seus significados. A palavra ócio também deriva “negócio”, que
significa a oposição ao lazer, nada de ócio, no latim nec-otium. (Camargo, 1998).
Em seu sentido mais comum ócio que dizer a arte do não fazer nada, ou seja, é
predominantemente associada à omissões (inutilidade, desaproveitamento,
indiferença) ou ações reprováveis (dissipação, alheamento, apatia) (De Masi, 2000).
O lazer enquanto tempo considera o tempo liberado das obrigações,
não só das profissionais, mas também das escolares, familiares, sociais, políticas e
religiosas. Neste caso teríamos vários “tempos” de lazer. O tempo de lazer diário
seria considerar as 24 horas do dia e subtrair as horas gastas com o trabalho, as
outras obrigações, as necessidades fisiológicas, o que sobraria seria o tempo livre, o
tempo de lazer. Há ainda o fim de semana, os feriados, as férias, e aposentadoria.
Porém, não é considerado tempo de lazer o tempo gasto no transporte, nas
necessidades fisiológicas, e, ainda, do grevista e do desempregado. Neste último
porque tempo de lazer supõe a existência do trabalho e, também porque a pessoa
não escolheu estar nesta situação e, sim porque o sistema econômico não tem
condições de gerar trabalho. Seria então considerado tempo desocupado.
O outro aspecto, a atitude/estado de espírito, ou o lazer como um
estilo de vida, depende exclusivamente da relação da pessoa com aquilo que ela
gosta de fazer. É uma maneira de exercer as atividades da vida com prazer: uma
maneira de trabalhar, de exercer as obrigações familiares, os engajamentos
políticos, religiosos. Uma maneira que valoriza o prazer em todas as atividades, de
tal forma que o indivíduo tem sempre a impressão de exercer “livremente” e com
prazer as atividades da vida. Neste caso, qualquer atividade poderia ser lazer desde
que atendesse a estas características: a escolha pessoal e um nível de prazer
elevado. Neste caso independe do tempo, ou seja, qualquer “coisa” pode ser
considerada lazer.
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O ideal seria combinar estes dois aspectos, pois considerar só o
tempo ou só a atitude acaba provocando uma série de equívocos. Só considerar a
atitude e afirmar que trabalho é lazer, por exemplo: sabemos que isto seria possível
somente para uma parcela mínima da população, que podem escolher “ganhar a
vida” com algo prazeroso. Para a maioria da população o componente “obrigação”,
o “ter que fazer” está presente não só no trabalho, mas nas outras atividades
familiares, os compromissos sociais, religiosos, etc.
Por outro lado, considerar somente o aspecto tempo traz uma
série de interrogações: por exemplo, como poderiam ser consideradas as atividades
desenvolvidas no tempo em que o trabalhador se desloca do trabalho para a casa,
por exemplo, a leitura? Como considerar as atividades prazerosas realizadas
durante o tempo do trabalho (o cobrador de ônibus que enquanto trabalha ouve
música, o porteiro de um prédio que enquanto trabalha assiste televisão) e mesmo
durante as obrigações familiares?
Para participar de uma atividade de lazer, é necessário que ela
preencha algumas características resumidas citadas por Marcelino (2003):
1) que elas sejam realizadas após as obrigações (no tempo liberado);
2) que elas sejam livremente escolhidas pelo participante (a escolha é pessoal),
é necessário estar disposto a participar, ter motivação para;
3) que possuam gratuidade (diferente de gratuito – pode-se até pagar pela
atividade), ou seja, ao participar das atividades a pessoa não pode visar a
nenhum fim lucrativo ou utilitário, conseqüentemente,
4) deve-se buscar somente o prazer nas atividades, é buscar o componente
“lúdico” nas atividades.
Não podemos ainda nos esquecer de que ao vivenciar uma atividade
de lazer nós utilizamos um espaço/equipamento de lazer. Estes também podem ser
de diferentes tipos:
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• Espaços/equipamentos naturais de lazer:
Aqueles que fazem parte da própria natureza como: campo gramado (grama
natural), lago, cachoeira, praia (areia e mar), etc.
• Espaços/equipamentos técnicos de lazer:
São espaços/equipamentos totalmente construídos pelo Homem como: piscinas,
quadras de esportes, parques temáticos, etc.
• Espaços/equipamentos técnico naturais:
Estes espaços/equipamentos têm uma composição formada, parte por um elemento
natural e parte por um elemento técnico, como: campo de futebol (com grama
natural), lago represado (com solarium, trampolim, etc), etc.
Para o melhor entendimento a respeito do tema abordado, podemos
utilizar definições de lazer sob a perspectiva de alguns autores. Para Marcelino
(2002) o termo lazer refere-se ao estado de espírito, à capacidade psíquica e à
integração total dos indivíduos, visando melhor aproveitamento de todas as
realidades do corpo e da mente, do tempo e do espaço.
E ainda, Cavallari & Zacharias (2004, p.9) que caracteriza o lazer
como “estado de espírito em que o ser humano coloca-se instintivamente (e não
deliberadamente), dentro de seu tempo livre, em busca do lúdico (diversão, alegria,
entretenimento)”.
Para fins deste trabalho, será utilizada a definição mais aceita no
meio acadêmico, a de Dumazedier (1979), que caracteriza lazer como: Conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda, para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacitação criadora, após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais.
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Dumazedier também definiu o papel ou funções do Lazer, algo que é
conhecido entre os estudiosos como “os três D´s do Lazer”: o Descanso, o
Divertimento e o Desenvolvimento (pessoal e social).
O Descanso é quando a pessoa busca o relaxamento, recuperar as energias,
o repouso, a recuperação psicossomática.
O Divertimento quando se busca a diversão, o entretenimento.
O Desenvolvimento quando a pessoa aprende algo numa atividade de lazer
e/ou desenvolve um potencial numa atividade realizada no tempo livre. Neste caso,
o desenvolvimento é denominado pessoal, trouxe um enriquecimento da
personalidade da pessoa. Se a partir deste conhecimento a pessoa resolver
aproveitá-lo para trazer benefícios para outras pessoas da comunidade e da
sociedade em geral, então ele é denominado desenvolvimento social.
Dumazedier (1975) também estabelece os conteúdos culturais do lazer: 1)
manuais: onde a predominância é na capacidade de manipulação; 2) intelectuais:
onde a predominância é na busca de informações objetivas; 3) sociais: é quando se
busca o relacionamento, o contato; 4) físico-esportivos: onde o que prevalece é o
movimento e 5) artístico: abrange as diferentes manifestações artísticas. Camargo
(1989) acrescenta um sexto conteúdo, que seria o turístico onde o indivíduo busca a
quebra da rotina temporal ou espacial.
A maioria das pessoas só consegue perceber as possibilidades de
descanso e divertimento das atividades de lazer. É evidente que ir ao teatro,
participar de uma festa, ir ao cinema pode proporcionar o repouso, a higiene mental,
a quebra da rotina, a liberação da imaginação. Mas através das atividades de lazer é
possível, também, desenvolver potencialidades como a sensibilidade, a criatividade,
o lado artístico (num curso de desenho, de pintura e de dança, por exemplo). É
possível, também, tomar contato com a realidade social em que vivemos e fazer
algo para melhorá-la. Alguns autores descrevem o desenvolvimento social como
uma ação em que exercitamos nosso papel de cidadão.
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Segundo Camargo (1998), o lazer sofre muitos preconceitos, dentre
eles, quatro são muito importantes para estudarmos:
• Diversão é preocupação dos ricos
Muitas vezes as pessoas culpam a dificuldade de se divertir devido
a falta de recursos financeiros. Quando se têm pessoas com fome em casa, a
preocupação com o lazer se torna supérflua e mais adequada aos ricos.
De certo que, para consumirmos determinadas formas de lazer,
implica-se em um gasto financeiro, mas nem sempre temos que gastar para nos
divertir. Quantas vezes observamos em filmes e na literatura, a diversão que ocorre
em uma favela e o tédio que impera em iates maravilhosos?
• O Trabalho é mais importante que o lúdico
Sem dúvida nenhuma o trabalho continua em primeiro plano de importância
para a humanidade. O trabalho é símbolo de dignidade e de identidade. Quando nos
apresentamos a alguém, sempre dizemos o que fazemos enquanto profissionais ou
estudantes, mas não o que gostamos de fazer ou o que somos enquanto pessoas.
A velha filosofia de “viver para trabalhar”, hoje é trocada por
“trabalhar para viver” e quem sabe radicalmente no futuro teremos “viver apenas”.
Hoje admira-se um pai que sabe brincar com seus filhos, ou mesmo aquele
executivo que consegue conciliar sua agenda de trabalho com uma vida saudável
de prática de atividades esportivas e de lazer.
Isso mostra o quanto este preconceito ainda existe, mas que no passado era mais
fácil de se identificar.
• Diversão atrapalha o Trabalho
O Lúdico atrapalha o lado sério da vida. Este preconceito existe em
todos os setores ditos sérios da sociedade. Na família, quando cobramos menos
21
diversão e mais dever aos filhos; No trabalho, quando o patrão condena os
momentos de piadas e cafezinhos para relaxar. Na religião, quando o padre ou
pastor boicota gracejos e sussurros durante o culto.
No passado a diversão era sinônimo de perda de tempo e produtividade. Hoje
se acredita que o lazer faz parte de uma boa produtividade. Que as pessoas que
aproveitam melhor seu tempo livre se divertindo, produzem mais.
• Trabalhar é Difícil, Divertir-se é Fácil:
O que sempre ouvimos falar é que trabalhar é difícil porque
precisamos de organização, seriedade e profissionalismo. Já o lazer é fácil, pois
acontece nos momentos que estamos despreocupados ou mesmo sem
obrigatoriedade de produzirmos algo.
De certo que existe lá sua verdade, mas o que verificamos é que
muitas pessoas usam como álibi esta justificativa para esconder a incapacidade de
se divertir ou mesmo o medo de não saber o que fazer em seus momentos livres.
Podemos identificar a dificuldade que as crianças têm de se divertir
sozinhas, mesmo diante de uma série de brinquedos. Também aqueles executivos
que trabalham mais do que deviam e ainda levam trabalho para casa, muitas vezes
para não correr o risco de serem solicitados pelos filhos para que brinquem com
eles.
Se o lazer é tão fácil, porque as pessoas, mesmo com mais tempo
livre, se encontram tão entediadas ou não sabem o que fazer em tal momento tão
desejado.
Na realidade, todos os preconceitos citados estão começando a ser
derrubados a partir do momento em que o lazer passou a ser mais bem estudado e
as pessoas começaram a se encorajar no que diz respeito à busca pela felicidade e
por momentos de lazer em suas vidas. Entenderam que o lazer é importante para a
22
sua realização pessoal e deixarem de achar que a vida é um eterno trabalhar.
Assim podemos notar que “lazer” vem sempre atrelado ou
relacionado a outros termos de difícil conceituação e diferenciação como: ócio,
tempo livre e recreação. Desta forma, assim como acontece com o lazer, a
conceituação desses outros termos também é divergente de autor para autor,
corroborando para uma maior dificuldade em diferenciá-los.
A respeito dessas divergências Melo e Alves Jr. (2003, p.1) dizem
que: [...] a contínua busca de formas de diversão não significa ter sempre existido o que hoje chamamos de lazer, na medida em que tais formas de diversão guardam especificidades condizentes com cada época [...] Por certo existem similaridades com o que foi vivido em momentos anteriores, mas o que hoje entendemos como lazer guarda peculiaridades que somente podem se compreendido em sua existência concreta atual.
Podemos perceber que as práticas de lazer se modificam de acordo
o tempo e espaço. Por isso a dificuldade em se formalizar a definição desse
fenômeno social e cultural.
2.2 Lazer e Recreação No século XIX houve uma mudança de enfoque determinante para a
compreensão do lazer, no qual este passa a ser visto como tempo/espaço propício
para a vivência de uma multiplicidade de experiências classificadas como não
pertencentes ao mundo do trabalho, visão disseminada principalmente nas
modernas sociedades urbano-industriais (Werneck e Isayama, 2003). Ações estas
que muitas vezes estão diretamente ligadas no desenvolvimento do tempo de lazer,
como a recreação, por exemplo.
As palavras “recreação” e “lazer” foram difundidas no Brasil com
significados contraditórios. Na língua portuguesa o termo lazer foi introduzido pelo
23
vocabulário latino “licere” – lícito, permitido (Camargo, 1998). E a recreação também
foi proveniente dos termos latinos recreare - recriar, renovar, construir, vida nova;
recreatio - recreio, divertimento; e recreatonem - entretenimento, divertimento,
distração, descanso (Pinto, 2001).
A partir deste processo inicia-se um entendimento de que ambos os
termos constituem a mesma coisa. Assim pode-se fazer uma representação
matemática para melhor entender tal questão: recreação é o meio ou a forma, e
lazer é o produto final.
Recrear é educar, pois a recreação permite criar o que satisfaz o
espírito estético do ser humano, oferece suas possibilidades culturais, permite
escapar do desagradável, utilizando o excesso de energia ou diminuindo a tensão
emocional. É uma experiência complementar, atividades compensadoras, descargas
de impulsos agressivos, fuga de expressão social que prova frustração, monotonia
ou ansiedade (Gaelzer,1979). Na recreação o objetivo é recrear, sem querer buscar
qualquer tipo de retorno, sem esperar benefícios ou resultados específicos. A
recreação deve ser escolhida livremente e praticada espontaneamente. Deve trazer
prazer e proporcionar o exercício da criatividade, não havendo cobranças.
A circunstância em que o indivíduo escolhe espontâneamente a
forma de satisfazer seu lazer é chamada de recreação, assim, ela traduz uma ação
lúdica e é um meio para que a realidade do lazer se concretize (Cavallari; Zacharias,
2004 ;Marcelino, 1995).
Para Gaelzer (1979, p.59) recreação é :
[...] experiência na qual o indivíduo participa por escolha, devido ao prazer e
à satisfação pessoal que obtém diretamente dela. A atividade recreativa é a
atividade que não seja conscientemente executada com o propósito de
obter recompensa além da mesma, proporcionando ao homem um escape
para as suas forças físicas, criadoras, e na qual ele participa por desejo
24
íntimo e não por compulsão externa.
A recreação junto do turismo é uma das formas mais aceitas pela
sociedade para o uso do tempo de lazer. Essa realidade esta intimamente ligada às
condições de vida dos grandes centros urbanos que podem levar as pessoas a
níveis altos de estresse e ao sedentarismo, pelo pouco emprego de seu tempo livre
para atividades que possam minimizar os efeitos da vida cotidiana, interferindo
diretamente em sua qualidade de vida (Tahara e Schwartz, 2003).
Podemos dizer então que recreação compreende todas as
atividades espontâneas, prazerosas e criadoras, que o indivíduo busca para melhor
ocupar seu tempo livre. Deve principalmente atender aos interesses das diversas
faixas etárias e dar liberdade de escolha para que o prazer seja gerado. Podendo
ser vivenciadas na forma de: jogo, brincadeira, gincanas, jogos cooperativos, rodas
cantadas, entre outros.
2.3 Hotéis de Lazer e Resorts
A opção pelas viagens para ocupação do tempo de lazer é um fator
marcante em nossa sociedade. Conhecer novos lugares, novas pessoas, novas
culturas e, principalmente, sair por um determinado tempo da rotina é o início dessa
busca por satisfação, relaxamento, divertimento, ou mesmo fuga da realidade.
Desperta o imaginário e o interesse do ser humano. Sair da rotina em busca do novo
parece ser objetivo de muitos, atualmente.
“Nos nossos dias, a necessidade de viajar é sobretudo criada pela
sociedade e marcada pelo cotidiano. As pessoas viajam porque já não se sentem à
vontade onde se encontram, seja nos locais de trabalho, seja onde moram”
(Krippendorf, 2000, p. 14).
25
As viagens são atraentes pela oportunidade de se fazer algo que
não seja o usual, e assim descansar, conhecer novos locais, divertir-se de maneira
diferente. São oportunidades para recarregar as energias perdidas no dia-a-dia. É
por isso que a possibilidade de viajar está no imaginário de cada um. Há que se
apontar, também, que muitos viajam para esquecer a sua realidade, viajam para
fugir dos problemas cotidianos. A criação cultural do tempo de lazer aponta o
turismo como parte dessa realidade. Os grandes avanços tecnológicos, os meios de
transporte, a qualidade dos hotéis, dos equipamentos de lazer, e todo o produto
turístico demonstram que há um tempo que pode ser destinado ao divertimento, ao
prazer e à satisfação.
O lazer turístico é uma opção que o indivíduo faz para utilização de
seu tempo livre, deslocando-se para um determinado local, com o objetivo de
recuperar ou encontrar um bem estar que lhe falta. É importante alertar para o fato
de que existem pessoas que viajam por puro prazer, já que não têm grandes
preocupações, por terem, provavelmente, boas condições financeiras.
Para compensação das energias perdidas no dia-a-dia e para
promover uma melhor qualidade de vida, o turismo se afirma como um importante
mecanismo de soluções para a vida das pessoas. No entanto, é preciso observar
que somente uma nova orientação para o lazer poderá fazer das viagens uma opção
que proporcione mais prazer, trocas culturais mais significativas e maior visualização
do entendimento do ser humano em relação a si próprio e ao próximo.
Os hotéis de lazer já constituem hoje um importante segmento da
procura de mão de obra para recreação com os hospedes. “A fim de atender
positivamente a tais necessidades desses hospedes torna-se imprescindível à
atuação de bons profissionais na área do lazer, monitores dotados de
comprometimento, alegria e prazer, para que haja sucesso na execução do
programa recreativo Schwartz et al (p.57 2004)”.
“Baseando-se nessa intensa busca pelo descanso, entretenimento e diversão, as famílias têm buscado os hotéis de lazer, onde passam finais de semana, feriados, e férias, tendo a possibilidade de integra-se com outras pessoas, conhecer coisas novas e experimentar sensações de prazer e
26
serenidade, por meio de vivências lúdicas Schwartz et al (p.59 2004)”.
É crescente hoje no Brasil o alto investimento realizado por grandes
empresas do ramo hoteleiro, tanto nacional como as internacionais, aonde chegam
investir milhões em sua infra-estrutura, tentando assim vencer a concorrência do
mercado em expansão, cerca de 6 bilhões por ano na construção de hotéis, resorts
e pousadas, gerando mais de 140 mil empregos diretos e 420 mil indiretos (Ribeiro,
2003). Neste processo de investimento o Brasil é privilegiado por ser muito
procurado devido ao seu clima, e por possuir local de ótima atração, como praias,
pantanal, Amazônia, recifes dentre outros locais.
No contexto de inúmeras opções de lazer, o hotel surge como um
espaço promotor de algumas experiências, tendo em vista as crescentes inovações
evidenciadas neste setor. Tem-se uma clientela cada vez mais interessada no
envolvimento com inúmeras práticas oferecidas nestes locais, onde a presença da
recreação parece favorecer boas opções lúdicas para melhor aproveitar o tempo
disponível (Tahara; Schwartz, 2003).
Ninguém sabe precisar exatamente quando e como surgiu a
atividade hoteleira no mundo. Mas, os indícios levam a crer que esta atividade tenha
se iniciado em função da necessidade natural que os viajantes têm em procurar
abrigo, apoio e alimentação durante suas viagens. A primeira notícia sobre a criação
de um espaço destinado especificamente à hospedagem vem de alguns séculos
antes da era cristã, quando na Grécia Antiga, no santuário de Olímpia, eram
realizados os jogos olímpicos.
Atualizando este conceito, Delgado (1999) afirma que a função da
hotelaria não é apenas a de alojar pessoas em trânsito. Os estabelecimentos
hoteleiros, em especial os hotéis, além de alojar as pessoas em trânsito, possuem
toda uma infra-estrutura para que esses indivíduos se dirijam para eles com o intuito
de ali permanecer para gozar do seu tempo disponível para o lazer.
27
No Brasil, historiadores registram, no início do século XVII, o
aparecimento do primeiro hoteleiro de São Paulo, Marcos Lopes, seguido anos mais
tarde pela cigana Francisca Rodrigues, que montava a sua estalagem e, talvez, o
primeiro restaurante da gastronômica cidade de São Paulo (Mamede, 2001).
Há de observar que na década de 1870, já existiam muitos hotéis
importantes na capital paulista, mas as pessoas somente podiam se hospedar nos
hotéis tradicionais mediante carta de apresentação. Impulsionado pelo turismo de
negócios, o setor começa a experimentar grande destaque e notória expansão,
ganhando, inclusive, fama internacional. As belezas naturais e a música popular
conferem prestígio ao país, e começam a despontar destinos importantes como o
Rio de Janeiro, onde o marco da hotelaria foi a inauguração do Copacabana Palace,
decisivo na consolidação da capital fluminense como pólo de turismo e lazer. Em
1922, o potencial e vocação da cidade do Rio de Janeiro para o turismo se
intensificam com a inauguração do "Hotel Glória", até hoje um dos maiores hotéis do
Brasil, com 700 apartamentos. (Ib, 2001)
No início da década de 1970, o Brasil experimenta um rápido
crescimento no setor. A criação da EMBRATUR viabilizou a aprovação de inúmeros
projetos ligados ao segmento de turismo e hotelaria. Essa fase de expansão
coincidiu com a disponibilidade de financiamento de longo prazo e incentivos fiscais
para a construção de hotéis. As linhas de crédito oferecidas tornaram-se bastante
atrativas, tanto em moeda nacional como em dólar. Como resultado, as empresas
hoteleiras nacionais praticamente dobraram a sua capacidade, enquanto outras de
origem internacional aqui também se instalaram.
Ainda nesta década, a Abril Cultural lançou Resorts padrão luxo, sob
a marca Quatro Rodas em Recife, São Luís e Salvador, enquanto o Banco Real
iniciou a construção do luxuoso Transamérica, em São Paulo e, em seguida na
região de Comandatuba, próximo a Ilhéus, o primeiro Resort de luxo do Brasil.
Para Andrade (2000), os Hotéis de Lazer e Resorts são aqueles que
28
possuem sua localização em região com meio ambiente de grande apelo turístico e
paisagístico e terrenos com grandes dimensões e áreas de lazer, além de serem
auto-suficientes. Suas possibilidades já justificam uma viagem já que possuem uma
grande variedade de instalações para atender os diversos tipos de hóspedes.
Na concepção de Pimentel (2003, p. 97) as principais características
dos Resorts são:
• Realização de relatório de impacto ambiental (RIMA) antes da contrução;
• Construções horizontais com amplos espaços aquáticos, áreas de recreação,
health clubs e spas;
• Oferta completa de serviços e estruturas para o hóspede não precisar sair do
hotel para nada;
• Intensa oferta de lazer, relacionando-o à saúde, esporte, cultura e ecologia;
• Proximidade à locais de contato com a natureza e cultura local;
• Geralmente são hotéis com categoria 5 estrelas.
Campos e Gonçalves (1998 p. 89) classificam os hotéis de lazer
como aqueles que estão direcionados ‘a recepção de turistas, sejam individuais ou
em grupo. Podem estar “localizados em área urbana ou rural, em grandes centros
turísticos, em montanhas, florestas, planaltos, praias ou outras zonas de interesse
turístico ou ecológico”. Completam os autores que estes hotéis possuem amplas
áreas de lazer esportivo e social, apartamentos para até quatro pessoas e área de
alimentos e bebidas com grandes restaurantes.
Em relação à classificação do Hotel de Lazer (HL) a EMBRATUR
(Instituto Brasileiro de Turismo), o compreende como um meio de hospedagem que
se destaca por seus aspectos arquitetônicos, sua engenharia, suas instalações, e
seus equipamentos e serviços, todos direcionados não apenas para uma estada,
29
mas para a recreação e para o entretenimento dos hóspedes. Considera, portanto,
um meio de hospedagem que se destina, prioritariamente, ao turista que viaja a
recreio, para diverti-se e descansar.
De acordo com Mamede (2002), o novo sistema de classificação
instituído pela EMBRATUR e ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis),
modificado através da Deliberação Normativa 429/2002, orienta a sociedade em
geral, os consumidores e os hoteleiros de maneira a obter uma referência dos
padrões,qualidade dos serviços prestados e preços.
Foi em 23 de abril de 2002, por meio de um termo de compromisso
assinado entre o Ministério do Turismo, EMBRATUR e ABIH, que surgiu a
Deliberação Normativa 429/02, vigente até os dias de hoje, que altera o
Regulamento Geral de meios de Hospedagem e cria um novo Sistema Oficial de
Classificação dos Meios de Hospedagem. No entanto, existe um tipo de
classificação, instituída na Deliberação Normativa 387/98, que vigora até hoje.
Quanto a tipologia, hotel e hotel de lazer são classificados como:
• H: Hotel: meio de hospedagem do tipo convencional e mais comum localizado em
perímetro urbano. Tem como clientela especial a mista, com executivos e turistas,
predominando ora uns, ora outros. É edificado em vários pavimentos, com partido
arquitetônico vertical. A infra-estrutura volta-se para serviços de hospedagem e,
dependendo da categoria, revela alguma infra-estrutura para lazer e negócios.
• HL: Hotel de Lazer: meio de hospedagem normalmente localizado em áreas rurais
ou locais turísticos fora do centro urbano, com áreas não edificadas amplas, em
pavimento único com partido arquitetônico horizontal. Tem como clientela
preferencial os turistas em viagens de recreação e lazer. Seu aspecto
arquitetônico e construtivo, áreas, instalações, equipamentos e serviços são
destinados a recreação e ao entretenimento.
E ainda quanto a localização, pode ser classificado como:
30
• Resorts: tem seu maior atrativo na recreação e nos esportes, principalmente em
espaços abertos de grande beleza natural e excelentes condições climáticas. Este
é uma forma mais recente e predominante de hotéis de lazer, e está sendo
instalado em áreas enormes, com auto-suficiência, onde o hóspede, de qualquer
faixa etária, pode desfrutar de várias atividades de seu interesse, como por
exemplo: esporte, lazer, vida social e negócios. Buscam constituir-se em destinos
turísticas que por si só justifiquem uma viagem. Devido aos elevados
investimentos para construir este tipo de empreendimento, estes investem na
diversificação de suas atividades no intuito de captar o maior número de
hóspedes.
É importante salientar que os hotéis destinados ao turismo de lazer,
possuem valores regionais que trazem um caráter único ao estabelecimento.
Embora a Matriz da Classificação traga referenciais para o enquadramento desses
empreendimentos em um determinado tipo de meio de hospedagem, cada um traz
sua singularidade, que determina o tipo de público que irá atrair.
Mas em geral, o Resort traz consigo uma grande infra-estrutura onde
os hóspedes podem ter contato com a natureza, desfrutar de várias opções de
esporte, descanso e entretenimento para diversas faixas etárias. Por oferecer
diversas opções em um mesmo espaço, tem alto valor agregado, e nesse sentido, é
voltado à classes sociais de alto poder aquisitivo.
3 O AGUATIVA GOLF RESORT
As informações que seguem sobre a estrutura física do Aguativa Golf
Resort, por uma sugestão da sua gerência, tiveram como fonte do site do Resort.
31
3.1 Histórico
Em 1950 as fontes de “Água Mineral Ativa” foram descobertas por
caçadores mas foi na década de 1960, que construíram a primeira piscina que tinha
como objetivo proporcionar lazer e entretenimento dos moradores de Cornélio
Procópio. Como esta piscina aproveitava a água mineral naturalmente aquecida, o
local foi denominado “Termas”.
A primeira estrutura hoteleira foi construída em 1968, numa área
denominada Panorama, que se encontra a 1000 metros da atual construção. No ano
de 1980, foram construídos 36 chalés, uma nova recepção, sala de jogos e o
Restaurante Panorâmico, aumentando assim a capacidade de hospedagem.
Em 1995 o Aguativa recebeu o investimento do Grupo Neszlinger,
passou por diversas mudanças estruturais visando proporcionar maior conforto e
comodidade aos hóspedes. Com esse investimento o Resort se destacou e nos
anos de 2005 e 2006 foi eleito pelos leitores da Revista Viagem & Turismo o
segundo melhor resort de campo do Brasil consecutivamente.
Nesse mesmo ritmo, o Aguativa Golf Resort vem investindo em
constantes melhorias para continuar oferecendo serviços inovadores e de qualidade,
objetivando garantir a satisfação dos clientes.
3.2 Estrutura Física
O Aguativa Golf Resort oferece 170 unidades habitacionais,
distribuídas em sete categorias distintas: apartamento standard, chalé standard,
apartamento luxo, apartamento master, chalé master, suíte luxo e suíte master.
32
Todas as acomodações possuem TV a cabo, frigobar, Internet Wi-Fi,
ar condicionado, telefone, rádio-relógio, cama Box Spring, banheiros privativos, além
de duchas e torneiras abastecidas com água mineral e sistema de aquecimento a
gás. Existem também chalés adaptados para atender pessoas portadoras de
necessidades especiais.
No setor de gastronomia o Resort oferece as seguintes opções:
• Atua em regime de pensão completa, ou seja, café da manhã, almoço e jantar
inclusos no valor da diária.
• O Café da manhã (das 7h às 10h) é uma das principais refeições do dia. Por
isso, o Aguativa Resort prepara diariamente 80 itens com ingredientes
selecionados. Uma equipe especializada produz pães, baguetes, roscas,
bolos, tortas, bolachas, sucos naturais, omeletes e o delicioso waffle com
calda de chocolate.
• O almoço e jantar (das 12h30 às 14h30 e 19h30 às 21h30) acontecem em
sistema de buffet self service, com diversos tipos de saladas, pratos quentes
e sobremesas. Dentre as sobremesas mais concorridas estão os doces
caseiros e compotas.
• Em dias especiais são oferecidos jantares à beira da piscina e jantares
temáticos como: Italiano, Alemão, Árabe, Mediterrâneo, Mexicano, Português,
Havaiano, Nações, Brasileiro, Francês e Baiano.
• O buffet infantil oferece opções variadas, entre eles: batata frita, hambúrguer
e macarrão.
O Complexo Aquático do Aguativa Golf Resort é composto por 8
piscinas abastecidas com água mineral e aquecidas a 38º C. O projeto de ampliação
do Complexo Aquático prevê a duplicação das áreas de piscina, toboágua e
convivência para a temporada 2008/2009.
• Três piscinas oficiais de biribol com 1,20 metros de profundidade.
• Piscina Infantil com cobertura, duchas em forma de pirulito e escorregador de
33
sapinho.
• Piscinas para adultos com escorregador, cascata, Splash Bar e iluminação
decorativa para uso noturno.
• Toboágua de três pistas, com mais de 17 metros de altura e 72 metros de
extensão. Pista amarela e azul são recomendadas para crianças a partir dos
7 anos e pista branca, que oferece queda mais acentuada, é indicada a partir
dos 12 anos. O ''desembarque'' acontece em uma piscina exclusiva, com
segurança e acompanhamento de monitores treinados.
• Três banheiras de hidromassagem (jacuzzi) com capacidade para seis
pessoas cada.
• Área de convivência com cadeiras, mesas com guarda-sol, esteiras e
cobertura (tenda branca).
• Todas as piscinas possuem placas indicativas de profundidade.
• As piscinas cobertas funcionam 24h.
• Quatro banheiras de hidromassagem (jacuzzi) com capacidade para seis
pessoas cada.
• Banheiro feminino com fraldário.
3.3 Estrutura de Lazer
O Aguativa possui uma equipe de recreação que é composta pelos
chamados “tios”. Esta equipe desenvolve uma programação recreativa separada por
faixa etária:
Recanto: Crianças de 04 a 06 anos. As atividades do recanto são monitoradas por
tias, que realizam atividades ecológicas e lúdicas. A programação tem início às 9h30
e encerra-se às 23h30, com intervalos para as refeições com os pais.
Adolescentes: De 07 a 10 anos. São aplicadas atividades de campo, piscina e
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esportivas. A programação inicia às 9h30 e encerra às 23h30, com intervalos para
as refeições com os pais.
Infanto: De 11 a 13 anos. Nesta faixa etária são realizadas muitas atividades de
aventura. A programação também tem início às 9h30 e finaliza às 23h30 com
intervalos para as refeições com os pais.
Juvenil: Acima de 14 anos. A programação desse grupo inclui uma jornada de
atividades noturnas.
Adultos: Oferecemos atividades direcionadas para homens e mulheres. Enquanto
os homens se divertem no Torneio de Biribol, no futebol e no desafio de truco, as
mulheres fazem hidroginástica, caminhada, observação de pássaros, entre outros.
Terceira Idade: São oferecidas caminhadas, gincanas, hidroginástica, bailes, bingo,
cursos de artesanato e música ao vivo.
A programação fica exposta em editais localizados na recepção e
restaurante. Para menos de 3 anos, é oferecido o serviço de babá e carrinhos de
bebê. Estes serviços são cobrados a parte e devem ser solicitados no ato da
reserva.
A programação noturna oferece: música ao vivo no Lobby Quatro
Estações, jantares dançantes com banda show e Boate Night Club.
O Aguativa Rosort também oferece opções para a prática de
esportes:
• Quadra poliesportiva iluminada;
35
• Duas quadras de tênis de saibro iluminadas;
• Pista de Cooper;
• Campo de futebol;
• Stand para arco-e-flecha;
• Trilhas ecológicas;
• Parede de Escalada;
• Arborismo;
• Tirolesa;
• Arena de Paintball;
• Aquário de Mergulho Contemplativo;
• Observação de pássaros;
• Lago para pesca esportiva.
Além disso, existem também os esporte de aventura:
• Arco-e-flecha – Atividade de lazer em que o participante pratica tiros com
arco nas modalidades adulto, feminino ou infantil. Atividade cobrada a parte.
É necessário fazer agendamento na recepção.
• Parede de Escalada – O participante deverá escalar uma parede de 12
metros de altura, com objetivo de tocar o sino que fica no topo. Esta atividade
é monitorada por um profissional especializado, sendo oferecida
gratuitamente nos horários estabelecidos pela programação.
• Arborismo – O circuito de arborismo é comporto por escada de cordas, ponte
de troncos, falsa baiana, ponte nepalesa e tirolesa. O objetivo é subir até a
copa das árvores e completar o circuito. Atividade cobrada a parte. É
necessário fazer agendamento na recepção.
• Tirolesa - Uma descida de 400 metros, em que o participante escorrega por
um cabo de aço preso a uma polia. Atividade cobrada a parte. É necessário
fazer agendamento na recepção.
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• Aquário para Mergulho Contemplativo - O Aguativa Golf Resort criou o
aquário de mergulho contemplativo com centenas de peixes. Esta atividade
consiste em contemplar os peixes utilizando equipamentos como máscara,
snorkel e pé-de-pato. É possível observar de perto Pirararas, Pintados,
Pacus, Carpas Coloridas, Lambaris, Dourados, Tilápias do Nilo e Curimbas.
Atividade cobrada a parte. É necessário fazer agendamento na recepção.
• Arena de Paintball - O Paintball é um jogo em que duas equipes competem
para capturar a bandeira do grupo adversário usando carregadores com
bolinhas de tinta para eliminá-los. Quanto mais adversários forem eliminados,
mais fácil fica para completar o jogo. A arena de Paintball contempla vários
obstáculos naturais. O número máximo de participantes por jogo é oito
pessoas (duas equipes de quatro pessoas). Com cem bolinhas por pessoa o
jogo dura em torno de 30 minutos. É necessário usar roupa especial, colete,
capacete e carregador. Atividade cobrada a parte. É necessário fazer
agendamento na recepção.
• Pista de Cooper - A pista tem 800m de extensão. O percurso de ida e volta
tem 1,6 km e fica ao lado do campo de golfe do driving range. Atividade livre.
Existem também diversos espaços para a prática de atividades ou para a fruição do tempo livre:
• Caminho dos Sentidos: O filósofo e médico alemão Dr. Hugo Kükelhaus
(1890-1984), inspirado em pensadores gregos, desenvolveu em suas
pesquisas diversas experiências sensoriais. Através delas, descobriu que os
pés e as mãos são as extremidades do corpo ligadas aos órgãos vitais.
Pressionando ou massageando certos pontos dos pés e das mãos podemos
influenciar o funcionamento destes órgãos, glândulas e nervos. Massagear
esses pontos traz uma sensação de relaxamento em função dos estímulos à
circulação sanguínea, que promovem vitalidade e harmonia interna. No
Caminho dos Sentidos, você encontrará plantas aromáticas e medicinais,
37
bem como diversos materiais naturais distribuídos de forma a promover o
resgate da sensibilidade dos pés e estimular os sentidos (olfato, audição,
visão e paladar).
• O Orquidário - Possui, em média, 600 espécies diferentes de orquídeas. O
Orquidário foi recentemente transferido para um novo espaço com 50 metros
quadrados e capacidade para receber até 1,6 mil vasos. O Aguativa é um dos
pouquíssimos lugares no Brasil onde é possível conhecer orquídeas que
foram multiplicadas in vitro. A ação, praticada pela UEL - Universidade
Estadual de Londrina permite a germinação de quase 100% das sementes e
contribui, intensamente, para a preservação das espécies, muitas delas em
extinção. As novas mudas de espécies nativas são plantadas na área verde
do resort, que engloba mais de 1,5 milhões de metros quadrados. O
orquidário também abriga uma pesquisa para a preservação do xaxim, que
devido à extração desenfreada está ameaçado de extinção.
• O Jardim Japonês – Foi construído em homenagem aos imigrantes
japoneses no Brasil. Nesse jardim são encontradas pequenas árvores típicas,
com formas influenciadas pela cultura oriental e uma pequena ponte de
madeira. Todos os dias, às 10h, o hóspede poderá conhecer e alimentar a
“Biju”, uma carpa colorida que adora mamadeira.
• A pesca esportiva - Acontece no Lago do Piano, onde os hóspedes poderão
encontrar Pacu, Piauçu e Lambaris. Varas e massas podem ser retiradas
gratuitamente na Fazendinha
• Fazendinha - É possível encontrar lá diversos animais como: galinhas
d´angola, ovelhas, cabritos, coelhos, cavalos, vacas, porquinhos e pintinhos.
É possível fazer passeios a cavalo e de charrete (cobrados a parte).
• Observação de Pássaros - O Aguativa Golf Resort desenvolveu um passeio
especial no qual os participantes podem contemplar os pássaros nativos da
38
região. Este passeio tem duração de uma hora e é oferecido gratuitamente
aos hóspedes.
• Toca da Natureza - Um espaço totalmente voltado para questões ambientais,
com exposição de curiosidades e projetos de preservação, produtos para
jardinagem e agradável local para leitura temática. Na Toca da Natureza, é
possível ver de perto pássaros empalhados, ninhos de várias espécies,
sementes de árvores e madeiras nativas, além de conhecer a história das
abelhas e sua função na natureza. Um monitor dá explicações e tira as
dúvidas dos visitantes, tudo de forma didática e descontraída.
• Espaço do Corpo/ Fitness Center - Uma área que oferece academia de
ginástica, salas de massagens e estética, turbilhão, além de saunas úmida e
seca. Possui também Centro de Estética com serviços de escova, depilação,
manicure e pedicure. Serviços cobrados a parte. É necessário fazer
agendamento na recepção. Dispõe de massoterapeutas especializados em:
shiatsu, drenagem linfática, quiropraxia, vinho terapia e outros. Serviços
cobrados a parte. É necessário fazer agendamento na recepção.
3.4 Outras Atividades
Sendo um resort de muita área verde, o Aguativa possui diversas
ações de incentivo à preservação do meio ambiente. Estas ações são coordenadas
e acompanhadas por um profissional de engenharia agrônoma e sua equipe técnica.
• Recomposição da Mata Ciliar: A mata ciliar é uma das formações vegetais
mais importantes para a preservação da vida e da natureza. Assim como os
cílios protegem nossos olhos, a mata ciliar serve de proteção aos rios e
39
córregos. Em 2008 o Aguativa comemora uma grande conquista,
recomposição de 100% da mata ciliar do rio que margeia o Resort, o Rio
Congonhas.
• Coleta Seletiva de Lixo: A coleta seletiva e a reciclagem do lixo são práticas
sistemáticas. Todos os funcionários e hóspedes são orientados a reduzir a
geração de lixos e praticar economia de água.
• Compostagem da Natureza: Gramas, folhas e gravetos retirados do resort
são armazenados em caixas (em modelo trazido da Alemanha). Essas caixas
permanecem expostas aos hóspedes para apontar que é possível fazer
adubo natural sem necessidade de um grande espaço. A produção supre
toda a necessidade de adubação do empreendimento.
• Preservação das Abelhas Jataí: As Abelhas Jataí, também conhecidas
como abelhas sem ferrão, vivem afastadas do risco de extinção. Produtoras
de mel de ótima qualidade e propriedades medicinais contam com um
programa especial de preservação desenvolvido pelos colaboradores do
Aguativa.
• Lagartódromo: Com o mesmo objetivo, o resort instalou o lagartódromo,
oferecendo tratamento e cuidados especiais para as espécies de lagarto
nativas da região.
• Piscicultura e engorda de peixes: Manter o ecossistema da região
equilibrado é o objetivo desse projeto em parceria com a Faculdade de
Ciências Biológicas da Universidade Estadual Norte do Paraná, de
Bandeirantes, que envolve a engorda dos peixes em um criadouro e a soltura
de espécies nativas do rio Tibagi. Além do repovoamento do estoque
pesqueiro, o projeto de piscicultura promove aprendizado e ajuda o meio
40
ambiente, gera um excedente de peixes, que é aproveitado para consumo
dos hóspedes e para o incremento das atrações do resort, como a pesca
esportiva e o aquário para mergulho livre, onde os turistas podem observar e
alimentar os peixes. Nos lagos do Resort é possível encontrar as seguintes
espécies: Pacu (Piaractus mesopotamicus), Piavuçu (Leporinus
macrocephalus), Pintado (Pseoduplatystoma corruscans) e Lambari
(Astyanax altiparanae).
• Produtos de lavanderia: A lavanderia também se preocupa com a
substituição de máquinas antigas por máquinas novas, objetivando reduzir a
emissão de energia e gás no meio ambiente. Existe também o uso consciente
da água e de produtos biodegradáveis que causem o menor impacto possível
à natureza.
Para a organização de toda essa infra-estrutura existem
departamentos responsáveis pelos setores do Resort: gastronomia, eventos,
jardinagem, governança, recepção, reservas e lazer. Cada departamento tem
interação com o funcionamento do outro.
O setor de lazer tem uma interação maior com os outros
departamentos pois sua programação depende por exemplo: organização da equipe
em relação à escala de tios segundo a demanda de determinado pacote (quantidade
de hóspedes fornecida pelo setor de recepção e reservas); horários e temáticas de
almoços e jantares (setor de alimentos e bebidas); poda e limpeza dos espaços de
área verde (setor de jardinagem); dentre outras situações.
Podemos dizer que o setor de Lazer é o “carro chefe” do Resort, pois
os outros setores trabalham em função de sua organização.
4 CONTEÚDO DAS ENTREVISTAS
41
4.1 Papel do Supervisor e do Coordenador
Os Resorts que possuem serviços relacionados ao lazer têm um
departamento responsável pela coordenação, programação e desenvolvimento de
atividades para os hóspedes de diversas faixas etárias. Para oferecer esse tipo de
programação, o Resort deve possuir instalações ou áreas recreativas capazes de
suprir a necessidade do hóspede e a diversidade de atividades.
As áreas recreativas do Resort podem ser constituídas de quadras
de esportes, campo de golf, piscinas, parque aquático, marinas, salas de ginástica
e/ou musculação, área verde (Andrade, 2000).
Castelli, (1999, p.199) afirma que: “cabe ao setor de lazer organizar
e supervisionar todas as áreas de lazer quanto à: horários, qualidade de material,
estado de funcionamento de equipamentos, etc”.
Podemos verificar que as áreas de lazer podem funcionar com
acesso livre dos hóspedes, mas para uma qualidade de serviço e a própria
conservação de equipamentos e materiais e também a criação de valor sobre o
produto turístico, é necessária a intervenção de uma equipe de Lazer. “Não é
suficiente que o Resort tenha uma vasta área de lazer e equipamentos diversos,
sem que tenha uma ação de animação sócio-cultural” (Delgado, 2003, p.23).
E para organizar todo esse setor existem profissionais que são
responsáveis por isso. No caso do Aguativa o “Tio Milico”, Coordenador de Lazer,
que está se formando em Turismo, e que divide essa responsabilidade com a “Tia
Potira”, que é a Supervisora de Lazer, é da área de Educação Física.
Esses dois profissionais têm uma experiência de alguns anos no
campo do Lazer. A “Tia Potira”, principalmente, trabalha a bastante tempo no
Aguativa: “De fixo, vai fazer três anos, mas ao todo vai fazer uns 10 anos”.
42
Sobre suas responsabilidades, a “Tia Potira” comenta o seguinte:
“Nossa...(aham) tem toda a parte buracrática que tem que ser feita (aham), desde pagamento de banda, pagamento de tio, pagamento de...é.....escalar equipe pro fim de semana, separar os tios, já programar, já fazer a programação dos pacotes que tão vindo, é....resumindo...quase tudo (aham). Então assim, é...reunião, sou eu que faço. Mas a seleção de tios também, eu fiz uma parte, o treinamento que é feito com eles aqui dentro, no fim de semana. Toda essa parte”. (Potira)
Podemos verificar em sua fala, que a função de um supervisor vai
além das questões próprias das atividades de recreação e lazer. Quando ela
comenta sobre a parte burocrática, podemos constatar que ela também exerce um
papel que seria do setor de recursos humanos ou até mesmo do setor financeiro, ou
seja, ela é responsável por efetuar o pagamentos de bandas e também dos tios.
Mas as questões referentes à própria organização da equipe também
são pertinentes. Essa supervisão também é responsável pela formação da equipe
que irá atuar no Resort. Desde a seleção, que ocorre fora desse local, passando
pelo treinamento desse pessoal, até a organização de equipe e programação.
“Tio Milico” completa algumas informações sobre essas
responsabilidades:
“Eu coordeno toda a estrutura de lazer, desde contratação de funcionários, treinamento e também acompanhar os tios nas atividades, em todo esse processo. Compra de material, desenvolver atividades para pacotes...tipo...vamos montar um teatro, um show, vamos montar alguma coisa diferenciada, tudo é responsabilidade minha. Tem que levantar custos, levantar valor e apresentar em planilha isso”. (Milico)
Para o Coordenador algumas funções são mais relevantes. Em sua
fala, as funções “burocráticas” citadas pela “Tia Potira” aparecem com mais ênfase.
Vemos que a coordenação aparece como algo mais focado na organização dos
espaços e materiais para as atividades, como uma preparação anterior à
programação e a intervenção. Já o papel da supervisão parece estar focado no
processo operacional, ou seja, no que diz respeito à organização de uma
programação com espaços já previamente organizados e na fruição das atividades
43
em si, mas também na pós-atividade, como o pagamento de serviços, já citados
anteriormente.
Embora cada cargo, seja de Supervisão ou de Coordenação, tenha
suas responsabilidades próprias, para um funcionamento melhor de um setor de
trabalho, observamos que esse dois profissionais são os responsáveis pela seleção
dos “tios” para trabalhar na equipe de lazer.
Essa informação é muito pertinente por talvez ser algo próprio do
lazer. O que acontece com a contratação de funcionários é a seleção ser realizada
por alguma do setor de recursos humanos. Mas o campo do lazer tem uma
abordagem específica, ou seja, são os próprios responsáveis por essa equipe, que
realizam a seleção. Uma das explicações pode ser que o lazer é um capo ainda
novo de intervenção e que precisaria de alguém que entenda suas atividades e seu
funcionamento para selecionar pessoas com um perfil próprio para aquelas
atividades.
Mas o que é necessário entender que o setor de Lazer do um Resort
não é apenas responsável pela simples organização de atividades, mas sim de toda
a estrutura que o rodeia: “Eu cuido do setor de recreação, babá, esporte de
aventura, toda a área de lazer, todo o complexo de lazer” (Tio Milico).
Vemos também uma outra questão, a recreação no Aguativa Resort,
é para crianças à partir do 04 anos de idade, contudo, o Coordenador de Lazer
também é responsável pela contratação de babás para aquelas mães que solicitam
esse serviço para crianças menores que essa idade limite.
O Resort também oferece atividades de esportes de aventura, e sua
prática pelos hóspedes envolvem uma interação com o setor de recepção, pois o
agendamento é realizado lá, mas o funcionamento dessas atividades e também a
seleção de profissionais para trabalhar nesse setor, é de responsabilidade do
Coordenador de Lazer.
Analisando os discursos vemos que o funcionamento das atividades
44
de lazer não está inerente ao funcionamento do Resort como um todo. A
coordenação e supervisão do setor de lazer devem ter uma interação com os outros
setores do Resort, mas o que é mais importante em suas responsabilidade é a
seleção de pessoal capacitado para atender à expectativa dos hóspedes e também
da própria empresa.
4.2 O Profissional Idealizado
As empresas, em geral, exigem do candidato à vaga de emprego,
que ele apresente um determinado perfil. As características que esse profissional
deve possuir estão de acordo com as funções que ele irá exercer na empresa.
Nos hotéis resort (de campo, de praia ou estâncias) o recreador deve
possuir um conhecimento global sobre o hotel e suas infinitas opções de lazer, uma
segunda língua é imprescindível, assim como uma gama de conhecimentos sobre
recreação, pois é aqui que o hóspede irá buscar o maior número de atividades de
lazer; as atividades serão mais intensas do que nos outros hotéis (Pimentel, 2002).
No Aguativa, também existe uma concepção de ideal, de estar
procurando sempre o que é melhor para o Resort o quais características atendem a
necessidade daquele público. O tio Milico, coordenador do setor de Lazer do
Aguativa Golf Resort, comenta sobre sua concepção do “tio” ideal:
“A nossa intenção, e falo como coordenador de Lazer é trabalhar exclusivamente com profissionais da área de Educação Física, Ciências do Esporte, esses segmentos. (...) É um curso que primeiro preza pela atividade, pela atividade física, e também porque o conceito de Educação Física preza muito os cuidados com a Atividades Física, eles já vem com alguns cuidados como saber realizar uma atividade com certo público”.
Existe aqui uma divergência do discurso quando comparado com ao
perfil desejado para um recreador, descrito por alguns autores. O “tio Milico” dá uma
ênfase na formação acadêmica, quase que exclusiva.
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Existem muitos trabalhos publicados à respeito do perfil do
recreacionista. Entre eles podemos citar Camargo (1998, p.141), que elenca
algumas características que o recreacionista deve possuir:
• uma polivalência cultural, ou seja, um conhecimento pelo menos elementar
dos diferentes campos da ação cultural a das diferentes técnicas de trabalho;
• conhecimento sobre peculiaridades de participação dos diferentes públicos,
do ponto de vista do sexo, da faixa etária, da classe sócio-econômica ou
social;
• capacidade de montar e coordenar equipes com profissionais de variada
formação e origem;
• conhecimento sobre formatação financeira de projetos, sobre estudos de
viabilidade econômico-financeiro, sobre determinação de pontos de equilíbrio
financeiro de projetos;
• consciência da sutileza do espaço físico e das diferentes respostas que
podem provocar em diferentes públicos;
• Informação sobre tipos e formas de abordagem de outras instituições
públicos ou privadas que possam associar-se à programação.
Algumas qualidades pertencentes ao recreacionista também são
descritas por Negrime (2001, p.53-54):
• Facilidade de estabelecer relações interpessoais. Classificar o recreacionista
com o perfil extrovertido ou introvertido é reducionista, pois existem diferentes
níveis de introversão e extroversão. Esse profissional, principalmente na
hotelaria, tem que ter a iniciativa do diálogo, persuadir e incentivar as pessoas
a participar das atividades, com equilíbrio e descrição.
• Ter respeito a opinião dos outros. Deve expressar sua opinião, mas respeitar
a dos outros e, para isso, deve ter a capacidade de escutar e usar o diálogo
como forma de persuadir.
• Ter capacidade de tomar a iniciativa. Pode ser simplesmente tomando a
iniciativa de cumprimentar as pessoas, dar bom dia, convida-las à participar
das atividades, ou seja, deve ser um elemento que saiba estreitar suas
46
relações.
• Ter espírito criativo. A criatividade sustenta na intuição, na flexibilidade
cognitiva, na persistência e dedicação ao trabalho. O profissional deve ser
prático, tolerante, espontâneo e ser abeto a experiências novas.
É claro que quando pensamos em algo ideal, imaginamos isso
perfeito. Quanto mais capacidades ou características esse profissional possuir, e
que estiverem de acordo com as características procuradas em um recreacionista,
mais chances ele terá de ser um profissional de sucesso.
Mas não podemos pensar que o profissional nasce pronto. Por
muitas vezes podemos ter excelentes profissionais que não necessariamente
possuem as características descritas pelos autores. O ideal é sempre mutável. O
que é bom hoje, pode não ser tão bom amanhã.
Uma coisa é certa, embora a formação acadêmica ainda não seja,
preferencialmente, uma característica necessária à atuação recracionista, ela é uma
característica relevante e as vezes fundamental para a qualificação do profissional.
Para a “tia Potira”, supervisora do Setor de Lazer do Aguativa Golf
Resort, existe também algumas características pessoais a serem observadas.
Quando perguntei para ele quais são as características, ele me respondeu que:
“Primeiro gostar do que faz, né? Porque aqui tem que lidar com vários tipos de pessoas, pessoas que tão com mau humor, bom humor, então a primeira coisa é você gostar do que faz. O que eu acho que é mais importante aqui. Aí depois é uma pessoa que saiba conversar bem (...) ele tem que saber também ta trabalhando com a criança, ele tem que tem a responsabilidade pra cuidar dessa essa criança. Porque nós também somos educadores. É o que nós passamos pras criança. Nós estamos aqui pra educá-los. Nós somos os tios que brincam, que fazem festa, mas além de tudo, transmitir educação”.
No relato da supervisora outro aspecto é mais relevante do que a
formação acadêmica, são aspectos relacionados à própria atuação com atividades
de Lazer e Recreação. Isso sugere que ocorre uma divergência entre a concepção
de “Tio Ideal” na visão do Coordenador e da Supervisora. Enquanto um valoriza
47
aspectos de formação acadêmica, outro enfatiza a personalidade como principal
qualidade.
Podemos relacionar esse dado com a própria entrevista de seleção,
onde são dois aspectos são abordados, a qualificação profissional e a
personalidade.
Corroborando com essa dicotomia, Pina (2000, p.127-128), comenta
algumas características atribuídas aos recreacionistas:
• Formação: o profissional de lazer não deve necessariamente ser formado em
algum curso superior. A formação superior é desejável, mas não
imprescindível. E também não deve ser formado por algum curso específico.
Porém, a formação universitária pode contribuir para sua capacitação
profissional e para um melhor desempenho. Alguns cursos são interessantes,
nesse caso, Turismo, Educação Física, Sociologia e Pedagogia.
• Informação: o profissional de lazer deve ser uma pessoa muito bem
informada. Saber o que acontece em seu tempo, seu lugar, em seu estado,
em seu país, no mundo e em seu campo profissional. Deve ler jornais,
revistas, semanais, revistas especializadas, nas diferentes áreas
relacionadas. E assistir aos noticiários, se possível deve acompanhar as
diferentes programações culturais (incluindo as esportivas) que acontecem
em sua comunidade e em sua cidade, e procurar obter informações sobre
aquelas que não pode acompanhar diariamente.
• Comportamento e atitudes: o profissional do lazer trabalha com pessoas,
individualmente, em pequenos grupos, em grandes grupos e em massa. Deve
relacionar-se bem com todas as pessoas indistintamente, e com simpatia e
naturalidade. Porém, separando, na medida do possível, o lado profissional
do pessoal. Deve haver sempre limites para o envolvimento pessoal com o
público que participa das atividades.
• Atualização: o profissional do lazer deve ser também uma pessoa atualizada,
social e culturalmente. Deve estar em dia com os acontecimentos e com os
fatos de sua comunidade, se sua sociedade e de seu meio profissional.
48
• Imaginação e intuição: deve ser capaz de utilizar no seu trabalho essas duas
características humanas inerentes a todos os seres. Esse profissional deve
saber usar, em proveito das outras pessoas (aquelas que participam das
atividades que ele propõe), suas diferentes capacidades de raciocinar, de
imaginar e de intuir.
• Criatividade: como a criatividade é um virtude rara, entende-se nessa caso,
essa característica, como capacidade de transformação e utilização do que
existe na comunidade ou na organização em que se atua, em temos de
idéias, de alternativas, de possibilidades e de recursos.
• Cooperativismo: o profissional de lazer deve ser sempre capaz de trabalhar
ou de atuar em grupo, em equipe, em conjunto. Isolado e solitário, poderá
fazer muito pouco. Deve aprender a incentivar e a estimular as pessoas e
expressar sua capacidade e seu potencial.
• Dedicação: assumir o que faz ou o que se pode fazer. Estar sempre pronto à
atender as pessoas cujo interesse na atividade vem como resposta a atuação
profissional. Concluir sempre o que começou. Muitas vezes o encerramento
de uma programação pode significar o início de outras (desdobramentos).
• Comunicação: é necessário saber comunicar-se bem (expressar, escutar,
entender). As informações e idéias do público, dos colegas de profissão ou de
curso são interessantes para alimentar o seu processo de trabalho.
• Auto-formação permanente: o profissional de lazer deve desenvolver um
processo de auto-formação permanente. Estar sempre procurando aprender
em cursos, com demais profissionais, participando de eventos, e também de
modo autodidata, lendo e absorvendo informações transmitidas pela mídia,
deve buscar permanentemente novas instruções profissionais.
Como as opções de lazer, mesmo dentro desse espaço, denominado
Resort, são as mais variadas possíveis, a atuação do profissional do lazer também
deve ser a mais diferenciada, atendendo devidamente todos os anseios dos
hóspedes. Obviamente fica o questionamento sobre o compromisso profissional em
oferecer possibilidades educativas e críticas nesse consumo cultural do lazer, que é
a recreação hoteleira.
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Há hotéis implicitamente voltados para o esquecimento das
contradições sociais concomitantes à promoção do “tarefismo”, isto é, ocupar o
hóspede com atividades divertidas. Nesse sentido, se poderia pensar no quarto D do
lazer, segundo as propostas de Dumazedier. Além de descanso, diversão e
distração estaríamos promovendo o D da domesticação. (Pimentel, 2002)
Esse autor ainda completa que a formação dos profissionais que
buscam em hotéis a sua profissão, deve possuir e permitir integralmente a
manifestação de diferentes saberes em sua prática. Ter uma formação superior é
um fator discutido e tido como importante para a atuação, não sendo específico um
curso, mas vários são destacados.
Assim, verificamos que a concepção de profissional ideal está ligada
à inúmeros fatores, tanto de qualificação como também de personalidade, mas
ambas complementa-se. Ser um recreacionista envolve muito mais do que dominar
jogos e brincadeiras. Requer um conhecimento amplo sobre atividade, cultura e
sociedade
4.3 O processo de Seleção
O mercado de trabalho exige que os profissionais tenham um certo
nível de conhecimento ou experiência para determinada função. Eles podem ser
avaliados através de vários tipos de instrumentos. Os mais comuns são: análise de
currículo, entrevistas e indicações.
O processo de seleção serve à empresa como uma espécie de
“peneira” onde aqueles com capacidades pertinentes são contratados. Aqueles que
apresentam as características que melhor se adaptam ao esperado pela empresa
ficam, e os outros são dispensados.
No Aguativa Golf Resort, como já foi citado anteriormente, quem
50
realiza as entrevistas e o processo de seleção, são os responsáveis pela equipe de
Lazer, nesse caso, a Supervisora e o Coordenador. Nas entrevistas foi relatado que
a seleção ocorre exclusivamente nas Faculdades e Universidades próximas a
Cornélio Procópio. Em Londrina, ocorre na Uel e na Unopar, na Unopar de
Arapongas, em Ourinhos, na faculdade de Turismo e também em Maringá.
A escolha desses locais como pontos de partida para a seleção dos
recreacionistas, reflete a postura do Resort na preferência em se contratar (fixos ou
free-lancer) pessoal que já esteja introduzido em alguma área acadêmica
relacionada à recreação e ao lazer.
Existem alguns procedimentos que são tomados para a realização
dessas entrevistas, nos locais determinados. Sobre o processo de seleção, o tio
Milico detalha como ela ocorre:
“Nós separamos algumas datas do ano pra fazer essas seleções. A gente trabalha com seleções em Ourinhos, Londrina, Maringá, Cornélio Procópio...mas como funciona? É... a gente entra em contato com a Universidade ou Faculdade, pede uma sala emprestada, aí a gente divulga para os alunos, marca uma data específica e nesse dia nós reunimos todos e fazemos todo um explicativo do que é o Resort, do que é trabalhar no Aguativa. Então agente faz todo o explicativo do conceito após isso nós fazemos uma entrevista individual para analisar perfil, para analisar como é a pessoa, para que faixa etária ela leva jeito.”
No discurso não ficou claro sobre as datas específicas que ocorrem
essa seleção. Pela minha experiência e contato com esse profissional, sei que elas
precedem os principais pacotes do Resort. Por isso é realizada uma seleção no
primeiro semestre, entre os meses de abril e maio, já como preparação para o
pacote de férias de julho e outra seleção é realizada no segundo semestre, em
agosto, para os pacotes de colégios (formaturas) e pacotes de final de anos
(feriados, Natal e Reveillon).
A “Tia Potira” relata com um pouco mais de detalhes sobre o dia das
entrevistas:
“(...) passamos um filme do hotel, levamos apostila, contamos tudo que tem aqui dentro, tudo que pode ser oferecido a ele, e que ele tem a oferecer
51
aos hóspedes. Nessa apostila tem todos os itens do processo de seleção. (...)Eles preenchem uma ficha, preenchem a ficha, aí nessa ficha ta constando, é...a faixa etária que ele gostaria de tá trabalhando. Intão, daí tem a faixa etária, ele fala das habilidades dele, que ele tem, tipo malabares, fazer pintura de rosto, toda essa parte artística. Tem ali aquela ficha, nós pegamos a ficha e vamos ter um bate papo com ele, uma conversa com ele”.
Quando ela relata sobre o filme, na verdade é um vídeo institucional
onde tem o chamado “hino do aguativa”, como música de fundo e também passa
imagens de pessoas realizando atividades do Resort (cavalgada, tirolesa, pessoas
na piscina e no toboágua, nos jantares dançantes, etc). há também alguns vídeos
que os próprios hóspedes gravam, e depois mandar para o Coordenador, que são
vídeos gravados durante as atividades realizadas na própria programação (tios
dançando na borda da piscina, fazendo teatro, entre outros).
O “Tio Milico” complta algumas informações:
“Atualmente a gente está usando data show, a gente faz um apresentação, a gente apresenta alguns vídeos, a gente tem alguns vídeos caseiros também...que os tios fazem também, que é dançar na borda da piscina, e também é...a gente tem umas apostilas que tem manual de rotina. Então a gente apresenta. E essa seleção, a gente tem duas fichas, uma ficha técnica, que vê as habilidades da pessoa, se ela toca violão, se tem habilidades esportivas, se ela tem alguma habilidade manual, se ela sabe mexer com reciclagem, se ela sabe fazer alguma coisa diferente, pra, enfim, acrescentar na programação. E também tem uma ficha de personalidade psicológica, então a pessoa preenche e a gente sabe identificar o perfil da pessoa, se ela é introvertida, extrovertida, se ela fala bastante, então basicamente a gente consegue entender qual é o perfil dessa pessoa e entender se ela vai interagir com a recreação”.
É possível perceber que existem dois aspectos principais no
momento em que eles realizam a entrevista. Um está relacionada à capacidades
físicas e qualificações profissionais e em um segundo momento ele verifica aspectos
da personalidade desse candidato. Em relação à qualificação profissional, o
interesse do Aguativa é em recreacionistas das áreas de Educação Física e Esporte,
mas como eles não encontram mão-de-obra suficiente, é possível completar o
quadro recreadores com profissionais e estudantes de Turismo, Artes Cênicas, e até
mesmo pessoas que não tem formação específica.
Mas na fala do Coordenador, ele aborda como relevante, outras
52
habilidades que poderiam estar relacionadas à algum pacote ou mesmo, auxiliar na
programação. Ou seja, ele pode escalar a equipe para um determinado pacote, de
acordo com a habilidades daquelas pessoas e não mais pensando em formação
acadêmica.
Também é possível perceber que não só a qualificação profissional é
pertinente, mas também alguns aspectos da personalidade dessa pessoa são
avaliados e são critérios de decisão para sua escolha e também que determinam em
qual faixa etária ela irá atuar.
Apenas uma conversa de alguns minutos não é capaz de identificar o
verdadeiro perfil desse candidato. É claro que no momento em que essa pessoa
chega ao Resort, ela pode atuar em uma faixa etária diferente ou mesmo, se
identificar com outras atividades. Por isso também que mostrar esse vídeo é muito
importante para que esses candidatos entendam e vejam com mais clareza como é
o funcionamento do resort. Tia Potira comenta sobre um desses casos: “o ultimo
contratado nosso, o tio Preston, ele preencheu de adolescente, de sete a dez anos.
Acabou ficando mais voltado pro adulto”.
O que chamou bastante a atenção é que são realizadas duas
seleções por ano por isso imaginamos que ou a expectativa do Resort em relação à
muitos “tios” não é atendida, ou ainda, muitos “tios” não se identificam com a
atividade, gerando sempre uma processo de captação de novos profissionais.
A entrevista para a seleção desses recracionistas, sem dúvida, é o
meio mais comum dessas pessoas chegarem até o resort, mas o Aguativa também
recebe currículos por e-mail e também chama algumas pessoas para trabalhar, por
intermédio de indicações.
4.4 Áreas de Formação Profissional
53
As possibilidades diversificadas de funções, de atividades, de ações,
trazem uma realidade profissional mal definida e às vezes, não compreendida.
Junto das inúmeras possibilidades de oportunidades de trabalho e da grande
quantidade de denominações para o profissional do lazer, existe ainda um outro
importante fator para falta de identidade profissional: ele também é proveniente de
várias formações acadêmicas.
O recreacionista pode ser oriundo das mais diversas formações
acadêmicas, porém os que atuam na área, em geral, são os egressos nos cursos de
Educação Física, Turismo, Hotelaria, Pedagogia e Artes Cênicas (Muller, 2001).
Também podemos observar essa inserção profissional de diversas
áreas de formação, no Aguativa:
“A maioria são estudantes de Educação Física e Turismo. É, eles vêm de free- lancer pra gente. Formado que vem de free-lancer, nós temos uns 10, que são formados que tão vindo agora. Mas que já trabalhavam antes, então continuaram. (...)O Sardinha se formou agora em Educação Física, a Globeleza também trancou, o Frank é formado em Administração. O ET ta fazendo Engenharia no CEFET, é, da Computação. E...a Fulô que ta terminando Educação Física”
Aqui, percebemos primeiro que, a maioria das pessoas que
trabalham no setor de lazer e recreação, não possui formação acadêmica concluída.
Isso pode ser reflexo de vários aspectos: do local onde é realizado o processo de
seleção, pois pelos relatos, só é feito com estudantes, ou ainda pode estar
relacionado à desistência dessas pessoas em trabalhar na área de recreação assim
que se formam.
É importante salientar que dentre os “fixos” ou contratados pelo
Resort, também verificamos alguns que possuem formação em áreas que não
abordam a temática lazer em sua grade curricular, é o caso do “Tio Frank” e do “Tio
ET”, que são das áreas de administração e de Engenharia, respectivamente.
O campo do lazer não pode ser entendido sob uma óptica disciplinar,
mas sim multidisciplinar. Porém, o que pode ocorrer é que nenhum desses
profissionais obteve formação e informação suficiente para uma atuação que
54
corresponda às expectativas do mercado. Ou ainda, podemos também ter
profissionais sem nenhuma formação acadêmica específica para trabalhar com
Lazer.
Também verificamos que alguns profissionais do Aguativa Resort
possuem outras formações, mas um dado muito interessante é que a inserção
desses profissionais parece que se dá por uma falta de interesse de profissionais de
Educação Física. Esse fato é observado no discurso da Supervisora:
“É...nós temos um tio que fez administração, que se formou em administração. Eu acho que vai mais pelo jeito da pessoa, porque tem pessoas que fazem educação física, ela tem pavor de recreação, o negócio dele é academia. Ela é mais pro lado da academia” (Tia Potira)
Embora alguns países já possuam, regulamentada e valorizada, a
profissão de recreacionista, no Brasil, as profissões ligadas à Educação Física, aos
esportes e à recreação e lazer, foram a pouco tempo regulamentadas pela Lei
9696/98. Essa lei regulamenta que só poderá exercer a função, o profissional
habilitado (Vaz, 2003).
Mas o interesse profissional dos profissionais de Educação Física
parece não estar relacionado à atuação com o Lazer. O Coordenador do Aguativa
relata sobre a dificuldade de conseguir uma equipe formada por profissionais da
área de Educação Física:
“A nossa intenção, e falo como coordenador de Lazer, é trabalhar exclusivamente com profissionais da área de Educação Física... Ciências do Esporte, esses segmentos. Mas a mão de obra ela ta um pouco escassa (...)Então como a gente não consegue gerar uma expectativa de ter 40 monitores na área de Educação Física e a própria Londrina não ta....a mão-de-obra não é suficiente, a gente acaba abrangendo, a gente acaba atraindo alunos de Turismo, alunos de Artes Cênicas, mas também pessoas de Cornélio que nós mesmos capacitamos como profissionais” (Tio Milico)
Está aí uma lacuna que poderia ser preenchida por profissionais
capacitados, mas o que acontece é que a equipe é formada por estagiários e por
pessoas sem formação específica.
55
4.5 Identidade Pessoal e Identidade Profissional
Ao verificar que o lazer é um fenômeno tão complexo em sua
delimitação, aprofundamento teórico e conceituação, pode-se observar o leque de
peculiaridades e distorções, quanto á sua caracterização, que essa manifestação
possui. Essa dicotomia, presente no plano teórico e no senso comum, reflete na
própria identidade do profissional que trabalha nesse setor.
Cavalari & Zacharias (2004) determina a seguinte divisão:
• Animador: é aquele que auxilia o planejamento das atividades, operacionaliza-as,
proporciona a integração entre os grupos, zela pelo material utilizado nas
atividades e tem responsabilidade sobre a integridade física do grupo.
• Supervisor: é o responsável por orientar e supervisionar os animadores, substitui
qualquer animador, adquiri, repara e substitui materiais e equipamentos e é o elo
entre a gerência e a equipe.
• Técnico em recreação: deve entender um pouco sobre comportamento humano,
saber o que as pessoas esperam para sua atuação, tendo a visão organizacional
de planejamento e projetos, na intenção de ter uma visão a médio e longo prazos.
Já para Waichman (2004) existem algumas características que
diferenciam as diversas denominações. Para ele o recreacionismo está ligado ao
planejamento de atividades em função do tempo e a animação cultural é aquela
preocupada com a participação social e educação popular.
Para Garcia (apud Marcellino, 2003, p.33) o profissional que trabalha
com lazer, ou na denominação animador cultural é:
[...]todo aquele que realiza ações no plano da cultura, no tempo livre dos
indivíduos, seja para estimulá-los à produção de bens culturais, seja para
56
ampliar a sua participação na apropriação desses bens, tendo como
motivação básica, tanto o prazer de dedicar-se a algo com que se identifica
fortemente, quanto valores pessoais que conferem à cultura papel
importante para o desenvolvimento das pessoas, dos grupos, das
comunidades e da sociedade em geral.
A dificuldade na delimitação de quem é o profissional do lazer
esbarra também em sua denominação. Várias são as designações: monitor,
militante, animador, agitador, gentil organizador, lazerólogos, programador,
recreador, recreólogo, orientador social, supervisor, curador, animador sócio cultural.
No Aguativa Golf Resort esse profissional recebe o nome de “tio” e
cada um desses monitores também pode receber um apelido:
Na realidade, não é uma regra ter apelido, mas como a recreação do Aguativa já tem mais de 20 anos, na realidade se for ver, historicamente falando, ela teve seu início no hotel da Barra Bonita, que é do mesmo dono do Aguativa. Então essa característica de apelidar tios, vem dessa época. Não sei porque nem como criaram o ícone tio. Né? Que o monitor é conhecido como tio “o tio”. Então acaba criando uma magia de criar um apelido pro tio, pra ser uma coisa diferente, pra virar uma característica diferente, que é simplesmente...virou uma regra, todo tio tem, acaba recebendo esse apelido, que são criandos normalmente por alguma característica. Nada pejorativo, porque o tio é narigudo, porque o tio é gordo, é sempre por alguma característica que faz lembrar algum personagem de desenho, ou alguma coisa que o tio faz. Então não é uma obrigação, mas é uma tradição. (Tio Milico)
Essa caracterização de chamar esse recreador de “Tio”, pode
primeiro criar uma atmosfera de ludicidade, envolvendo os hóspedes e fazendo com
que eles sintam-se mais próximos aos “tios”. Mas com isso, pode ser que esse
profissional não tenha preparação suficiente para saber lidar com isso. Apesar de ter
essa proximidade com os hóspedes, ele não deixa de ser um contratado da empresa
e assim deve cumprir regras e determinação. O que esse tio precisa entender é
sobre o que é trabalhar com o lazer de outras pessoas, e não confundir com seu
próprio tempo de lazer.
Mesmo que aqui esse profissional que atua com o Lazer e
57
Recreação no Aguativa receba o nome de “tio”, ele ainda não possui uma identidade
profissional definida. Ele pode ser chamado de ”tio”, nesse espaço, mas caso ele
atue em um outro segmento, ele pode receber uma outra denominação, dependendo
do espaço de atuação.
Existe diversas opções e oportunidades de trabalho na promoção do
lazer, no tempo livre das pessoas, já que as atividades associadas ao lazer,
recreação ou mesmo tempo livre, podem ser realizadas em diferentes lugares, como
opções para entretenimento ou descanso.
Esses lugares, (alguns deles já citados nesse trabalho), geralmente
contam com algum apoio profissional ou amador que auxiliam ou promovem algum
tipo de atividade recreativa e lúdica durante o tempo que as pessoas permanecem
no local. A intervenção pode ocorrer com profissionais das mais variadas formações
acadêmicas e também com voluntários, que são pessoas sem nenhuma habilitação
específica que atuam na área.
Esse recreacionista, segundo Fernandes (1975), é quem precede
espontaneamente, movido pela vontade própria em que não há coação, que trabalha
porque gosta e sente-se bem, e com isso presta uma colaboração, muitas vezes
filantrópica, aos seus semelhantes.
Alguns estudos como o de Vila (apud Tahara & Schwartz, 2003)
apontam que o engajamento de muitos profissionais ou pseudoprofissionais no
campo lazer se da pelo fato da oportunidade de ganhar dinheiro de maneira rápida,
onde alguns encaram o trabalho apenas como temporário, e como uma atividade
sem muita importância pessoal e profissional para o futuro. Mas é de fundamental
importância que se perceba a abrangência e a natureza peculiar deste campo de
atuação, pois se deve ter claro em mente que lazer não se resume a uma gama de
atividades práticas.
O que observamos muito no mercado de trabalho é que o
profissional de lazer é um “craque” em executar atividades de lazer (um dos
58
componentes do lazer), quando ele deveria ser capacitado e determinado a
influenciar os demais componentes do lazer como: entender o que as pessoas
buscam em seu momento de lazer, deve interferir na construção, adaptação e
otimização dos espaços/equipamentos, o profissional de lazer não tem como
aumentar o tempo livre das pessoas, mas pode mostrar para as mesmas o quanto é
importante buscar mais tempo livre para que o seu lazer seja concretizado.
A gama tão grande de distorções possibilita uma lacuna no que diz
respeito à qualidade profissional dos que atuam no lazer. Toda essa distorção abre
possibilidade para que pessoas que não tenham uma qualificação desejada
trabalhem e intervenham nesse setor.
Porém, o mercado capitalista, embora esteja preocupado em ações
imediatistas, não está mais aceitando intervenções amadoras, esse mercado exige
qualidade na prestação de serviços. É crescente a preocupação com a qualidade
dos serviços prestados pelos profissionais do lazer, o que faz com que o mercado
fique cada vez mais restrito e competitivo forçando aos interessados em atuar no
ramo, a busca de uma formação adequada em cursos profissionalizantes ou de nível
superior.
Quando ações imediatistas ocorrem, quando o mercado exige que
esse profissional crie estratégias de envolver pessoas nas atividades, é comum
vermos recreadores travestindo-se, colocando fantasias como um meio de chamar
atenção. O Aguativa Resort parece ter uma opinião contrária à isso:
O tio ideal não tem que vestir máscara, o tio ideal não tem que ser outra pessoa, tem que ser o que ele é, o que ele é na casa dele, o que ele é normalmente. Entendeu? Lá nós temos diversos tios, então lá tem tio que ama música caipira e é tio que gosta de música sertaneja, brincar com os hóspedes, e tem tio que gosta mais de bater um papo cabeça, então eles não precisam criar uma idéia de que eles são perfeitos, tipo: o tio ideal é aquele que fala bonito, o tio ideal é aquele que cria situações pra agradar os hóspedes, puxa papo, não. O tio ideal é aquele que é o mesmo na sua casa. (Tio Milico)
59
A identidade profissional do recreacionista não deve ser
personificada, ou seja, esse profissional de lazer não deve confundir sua
qualificação e atuação profissional com personagens, com uma personalidade
inventada e/ou criada por máscaras e fantasias. Embora esse profissional trabalhe
com ações lúdicas, sua atuação é real.
Não desmerecendo a figura e a profissão de “palhaço”, mas o
profissional de lazer é muito mais do que uma pessoa que diverte outras que estão
em seu momento de lazer. O profissional de lazer tem que ter a sensibilidade para
entender o que as pessoas desejam em seu momento de lazer.
4.6 “Tios Fixos e “Tios Free-Lance”
O setor hoteleiro é um dos grandes ramos de empregabilidade no
campo do lazer onde grande parte destes profissionais atua como animadores,
organizadores, supervisores dentre outras funções de acordo com a necessidade da
empresa contratante. Estes ficam restritos ao interior do hotel uma vez que as
programações seguem até o período noturno, e na maioria das vezes se localizam
distante das regiões urbanas, o que dificulta o retorno destes para suas casas. Este,
na maioria das vezes trabalha aos finais de semana, não possui nenhum vínculo
com a entidade contratante, e sim com a empresa prestadora de serviço, atuando
como contratado da mesma ou na forma de free-lancer.
A equipe de Lazer e Recreação do Aguativa Golf Resot está dividida
em “Tios Fixos” e “Tios Free-Lancer”. Essa nomenclatura será utilizada nesse
trabalho, por ser utilizada pelos entrevistados.
Conforme os dados da pesquisa, o Aguativa conta hoje com cerca de
50 profissionais trabalhando na equipe de Lezer, sendo eles: o Tio Milico como
coordenador de Lazer, a Tia Potira como Supervisora de Lazer, os tios fixos
(contratados do Resort), o tio Frank, o Sardinha, a Globeleza, a Fulo e o ET que é
60
mais voltado pro Esporte de Aventura. Ainda conta com os chamados tios free-
lancer, que são em torno de 50 pessoas.
Esses tios são escalados para determinadas faixas etárias e
conforma a programação, realizam atividades para esse público:
Nós somos divididos em faixa etária. De 04 a 06 anos o Recanto, de 07 a 10 que é o Adolescente, que a gente chama de adolescente por que as crianças não gostam que chamem elas de crianças, então a gente chama de adolescente pra chamar um pouco de atenção, de 11 a 13 o infanto, de 14 acima os jovens que a gente chama de juvenil e os adultos que é dividido em Feminina e Esportivo. Essa divisão um exemplo que de realizar as atividades conforme nosso cronograma de programação. Não é só uma coisa técnica, mas não é uma coisa séria. Tem vários tipos de atividades, desde atividades esportivas até atividades de teatro na borda da piscina, de fazer uma chamada interferência, que a gente fala, que é cativar aquele público passivo que não participa das atividades mas a gente realiza um pequeno show que faz com que eles sintam um pouco a cara da recreação”. (Tio Milico)
Como já citado anteriormente, a equipe de lazer e recreação do
Aguativa Golf Resort conta com profissionais contratados e também os free-lance.
Esses profissionais, embora pareçam exercer o mesmo papel na atuação, têm
responsabilidades diferentes:
“Bom, primeiro a gente entende que o tio fixo é o contratado pela empresa e o free-lance são os que vão periodicamente. Conforme a ocupação do hotel, a gente vai chamando os free-lance. Nós temos uma equipe de mais os menos 30 free-lance e mais uma equipe de 07 monitores fixos. As funções são mais de responsabilidade. Cada um tem suas funções, ele tem que cumprir rotina as quais a gente já tem um manual elaborado. Então ele tem que desenvolver atividades, tem que cumprir certas regras, ajudar a treinar os free-lances, responsabilidades com os chefes, as coisas mais requintadas do hotel, são responsabilidade dos fixos de elaborarem e ta acompanhando” (Tio Milico)
Os contratados pelo Resort, além de terem um papel relevante na
organização das atividades, também são responsáveis por receber e preparar os
“tios” que chegam ao resort pela primeira vez, o que o “tio Milico” coloca como
treinamento.
Em relação à escala, durante a semana ou em dias em que a
61
ocupação do Resort é baixa, onde existe uma certa sazonalidade, os tios fixos
suprem a necessidade de mão-de-obra. Mas para os pacotes ou finais de semana,
onde a ocupação do Resort é maior ou chega até a ser completa, é exigido que se
tenha mais profissionais:
“Nós sempre montamos a escala da semana na quarta-feira anterior. A semana que vai começar no domingo, já fica pronta na quarta-feira. Os monitores fixos, que são os contratados da empresa, tem as suas folgas semanais, e os free-lance, nós trabalhamos com eles semanalmente, ou seja, eles também tem a folga deles, eles só trabalham semanalmente. (...) Então nós programamos a semana, na quarta-feira anterior, conforme o número de hóspedes nós preparamos a equipe. Normalmente, com a casa cheia, cerca de 500 hóspedes na casa, nós trabalhamos sempre com 4 tios no adulto, 2 monitores no juvenil, que é galera que dorme mais tarde, 2 no infanto, trabalhamos com 4 tios no adola e mais 4 no recanto. Então são vários monitores que conforme a ocupação, nós montamos a equipe.” (Tio Milico)
Esses profissionais geralmente trabalham em uma determinada faixa
etária em que tem afinidade. Um aspecto detectado na própria entrevista da seleção.
Por trabalhar sempre com o mesmo público ele pode desenvolver mais habilidades
em determinada atividades, mas também pode deixar de aprender outras.
Para cada pacote ou final de semana é montada uma equipe de
acordo com a ocupação de hóspedes e disponibilidade dos tios free-lancer:
“A gente já chama pro fim de semana ou pro pacote ou a temporada, já sabendo a faixa etária que eles vão vir. Mas tem os tios que ficam em varias todas as faixas etárias, se for pra colocar eles fica. Só que....a gente procura mais deixar eles voltados pra aquela faixa etária mesmo” (Potira)
Para o Resort pode ser vantajoso ter pessoal especializado e uma
determinada faixa etária, pois sua qualidade de atuação é maior, mas quando tiver a
falta desse profissional, ele pode não ter outro para substituir.
Existe o pensamento comum de que o animador cultural nasce com
as habilidades para animação pela versatilidade e comunicabilidade que apresenta
em seu desempenho profissional ou amador, muitas vezes reconhecida por quem
dele precisa e, também, pelos próprios colegas que trabalham na área do lazer.
Porém, com a grande dimensão que o lazer adquiriu na sociedade atual, onde os
62
serviços para o setor terão que dar conta de exigências sempre maiores, essas
qualidades natas ou desenvolvidas por si mesmas, não darão conta sozinhas do
atendimento a toda a gama de interesse tão diversificada e com a qualidade hoje
necessária e exigida.
Segundo Garcia (apud Marcellino, 2003, p.27) o profissional do lazer
no mercado deve ser:
Comunicativo, versátil e de muita imaginação; ele trabalha enquanto todos descansam e tem a pretensão de vender a cada um de nós uma pequena parte do paraíso. Ou ao menos uma certa ilusão de felicidade, como se sabe, nunca está onde a pomos, porque nunca a pomos onde estamos. Esse profissional veio para colocá-la no devido lugar.
Podemos dizer que algumas das características deste profissional
são natas, mas nada que não possa ser desenvolvido em sua formação com alguma
dose de esforço e dedicação. São características do profissional de lazer: ser
alegres, simpáticos, acessíveis e adequadamente comunicativos, com habilidade
para mediar questões de acordo com sua área de atuação.
Mas não somente características pessoais são necessárias para
uma boa atuação no campo do lazer, pois com a grande dimensão que o lazer
tomou na sociedade atual, onde os serviços para este setor são cada vez mais
exigidos não será possível atender a este interesse embasados no conhecimento
pessoal com qualidade para isso, o profissional deve possuir ampla formação
cultural, e profunda ligação com os saberes citados por Garcia (apud Marcellino,
2003). Por tanto é falsa a idéia de que o profissional nasce pronto, e sim, é
necessária muita dedicação, estudo e postura comprometida com animação para
atuar na animação sócio cultural das pessoas.
Segundo Camargo (1998), a literatura confunde muito a habilidade e o
perfil do profissional de lazer. Além de habilidades adquiridas em cursos e estágios
de formação existe um perfil que vem da história de cada pessoa que pode
influenciar numa possível carreira de sucesso.
63
O que acontece, porém, é que se exige desse profissional uma
sensibilidade cultural e capacidade de liderança, ou seja, um perfil pré-determinado.
Na realidade, pouco importa se ele é extrovertido ou introvertido, porque, se
extrovertido, não pode ser invasivo; se introvertido, não pode ser inseguro.
O que interessa na realidade é que o recreacionista respeite o
universo pessoal de cada cliente e seu eventual desinteresse em participar da
atividade que ele propõe. Essa deficiência é muito comum nos hotéis de lazer onde,
os recreacionistas podem constranger mais do que estimular os hóspedes a
participarem de suas atividades, ou chegando ao outro extremo, não conseguem
transmitir com clareza as suas propostas (Camargo, 1998).
Recreacionistas devem manter uma relação de simpatia, confiança e
amizade, estimulando os hóspedes a vivenciar as atividades recreativas oferecidas,
seja na prática propriamente dita, ou mesmo convidando-os apenas para assistir a
realização de tais atividades, garantindo a participação, inclusive, de maneira
passiva e contemplativa.
Desta forma, torna-se difícil julgar ou escolher qual seria a melhor
característica do profissional para a atuação no lazer, assim pensamos que, cabe a
cada profissional adotar a melhor forma de conduta de acordo com a sua realidade
de trabalho, como local, empresa, região e cargo de ocupação, não esquecendo das
reais propostas e compromissos com a sua atuação no lazer.
4.7 Programação
Uma das funções de um Resort é proporcionar entretenimento e
diversão para seus hóspedes. Para isso, existe uma sistematização dessas
atividades na forma de programações diárias.
Para uma melhor fruição das atividades, elas são divididas por faixas
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etárias:
“É que na realidade o único Resort do Paraná, da Região Sul e Sul e Sudeste, nós éramos os únicos a trabalhar com crianças de 03 anos e como há uma diferença muito grande da criança de 03 e 06 anos, nós adequamos para crianças de 04 a 06 anos pro Recanto que é a primeira faixa etária., então as crianças vão ter uma faixa etária mais equilibrada e as atividades conseguem desenvolver mais facilmente. As crianças de 03 anos precisam de mais atenção. Pra isso nós temos o serviço de babá que é um serviço para a parte, não é oferecido pelo Resort, você contrata no ato da reserva”. (Milico)
(...)vai ser de quatro a seis anos, o Recanto. De sete à dez anos, adolescentes. De onze à treze, infanto. Acima de quatorze, juvenil. E os adultos. (Potira)
Essa programação pode variar de acordo com a época do ano, e
também de acordo com os feriados. Para datas comemorativas existem os pacotes:
Um pacote é um produto especial que a empresa vende. Pode ser um final de semana, um feriado, são as férias. É um diferencial, né? Esses pacotes são tematizados, é uma forma de atrair mais as clientes. Os feriados que são encarados como pacotes nós tematizamos como pacote do circo, pacote ecológico, pacote da melhor idade. A gente tematiza e monta uma programação nesse conceito, segundo o tema. fora do pacote não tem temática. Nos finais de semana nós temos uma programação com jantar dançante, tem o seu requinte, mas não tão sofisticado como o pacote”. (milico)
Esses pacotes agregam valor ao produto e também visam oferecer
mais opções de entretenimento ao hóspede em sua viagem de férias ou feriados. A
programação nessa datas é mais diversificada.
Nós temos os teatros, que é Show do riso, que são teatros de comédia. Pra ser um show diferente pro hóspede. Então nós temos o teatro, nós temos um show que pode ser chamado de jantar dançante, com banda show, então os fixos treinam dança, aprendem a dançar, eles fazem aula de dança. Temos outros shows de comédia, teatros mais específicos, nós contratamos equipes de fora pra apresentar teatros, show de mágicas. Tem as gincanas. Então cada noite a gente apresenta algum tipo diferente de programação. Que aí são os fixos que fazem. (milico)
A programação anual com a delimitação de pacotes temáticos é
montada previamente pelo Coordenador e pela Supervisora:
“Tem um cronograma anual que nós projetamos os pacotes pro ano
65
seguinte. Tem uma reunião pra isso. Nós temos um cronograma também para cada pacote, vamos supor: feriado de páscoa, feriado de Tiradentes, o que vai ser tematizado em relação a isso. Definido isso, a gente passa pros tios fixos e eles desenvolvem atividades em relação ao tema. Então por exemplo, o ano que vem o mês de abril todo, o mês da páscoa, vai ser o mês do chocolate, então vão ter programações todas em relação ao chocolate. Então os tios vêm com idéias pra acrescentar na recreação. E eu como coordenador desenvolvo as atividades mais requintadas, propor um teatro, propor alguma programação que vai chamar mais atenção. Um chefe de cozinha, propor uma exposição com a Cacau Show por exemplo. Então são todas idéias que eu vou elaborando e vou apresentando em forma de programação pra empresa, na qual a empresa passa pro marketing, o marketing da a cara pro negócio e a gente vende pros hóspedes” (Milico)
Mas a relação de brincadeiras contidas nesses pacotes são
montadas pelos próprios tios, conforme citado abaixo:
São todos os tios. Faz a reunião...é...tal dia, tal horário e ali nós vamos colocar as nossas idéias. Então são as idéias de todos que nós colocamos alí no papel. O pessoal mesmo é que faz. Eu só que digito, mas as idéias são de todos. (...) Porque cada pacote é um tema. Então a gente procura bolar brincadeiras relacionadas ao tema que nós temos. Mas, nós temos também brincadeiras também que já são pré-estabelecidas. Aí a gente passa e inclui também na programação. (Potira)
Quando questionada sobre os conteúdos dessas brincadeiras, a Tia Potira me responde que:
“A brincadeira que mais nós temos aqui, que é mais voltada mesmo, é quando a gente faz a parte da reciclagem com as crianças, que a gente ensina pra elas todo o metal, ensina sobre o lixo orgânico, toda essa parte de reciclagem, de meio ambiente, ou qualidade de vida, a gente passa pra criança”.
Essa programação precisa ser desenvolvida pelos “tios” segundo o
objetivo de cada faixa etária. É interessante ressaltar que o conteúdo educativo está
presente da programação das crianças.
5 CONCLUSÃO
66
Conforme já descrito no início desse trabalho, minha principal
motivação para a realização do mesmo é a de sanar algumas dúvidas que tinha à
partir de minha experiência profissional como recreacionista.
A partir das entrevistas e do material coletado algumas dessas
questões foram sanadas, mas outras ainda precisam de debates mais
aprofundados, pois o lazer ainda é um fenômeno cultural que precisa de maiores
pesquisas. Ainda mais quando falamos em Resorts, nos remetemos a um espaço
recente como opção de hospedagem e lazer para a população, principalmente no
Brasil.
Como já citado neste trabalho, existem concepções à respeito do
lazer que influenciam na delimitação de quem é esse profissional mas a atuação
dentro do Resort traz consigo ainda novos questionamentos sobre as relações
profissionais existentes. O profissional de lazer pode assumir papéis diversos como
o de “Tio”, “Tio fixo”, “Tio Free-Lancer”, Coordenador de Lazer e Supervisor de
Lazer. Cada um tem sua responsabilidade e seu papel na estrutura funcional do
Resort, mas todos eles são parte de uma concepção maior que é ser Profissional no
Campo do Lazer.
Foi encontrado através dos discursos que o “tio fixo” exerce diversos
papeis no Resort, que na verdade seriam de responsabilidade do Coordenador e da
Supervisora, como por exemplo, o treinamento dos “tios free-lancer”. Os “tios fixos”
estão em contato maior com outros setores e também com funcionamento geral do
Resort, participam tanto da preparação das atividades como também da intervenção,
treinamento de novos “tios”, liderança de equipe, contato com direto com os
hóspedes, o que torna a investigação de seu trabalho, um conteúdo muito rico para
o aprofundamento de desse espaço de lazer e também da atuação nesse campo de
trabalho. Esses recreadores contratados pelo resort, deveriam exercer uma função
de programação e mediação das atividades, mas o que acaba ocorrendo é uma
inversão de pepéis, deixando uma lacuna para uma futura investigação, com a
realização de entrevistas específicas com esses profissionais.
67
Nota-se também que apesar de relatado o interesse do Aguativa Golf
Resort na contratação de profissionais de Educação Física para trabalhar no campo
do Lazer, o processo de seleção é realizado exclusivamente em Faculdades e
Universidades, fazendo com que grande parte dos recreadores seja estudantes e
não profissionais graduados nas áreas de Educação de Física, Esporte e Turismo,
áreas que contemplam o Lazer como objeto de estudo e atuação profissional.
Além do fato de que o processo de seleção é realizado apenas com
graduandos, a falta de profissionais formados atuando nesse campo pode ser
influenciada por diversos fatores como: retorno financeiro, o Resort pode não
oferecer um bom salário; período de trabalho, esses profissionais trabalham em
finais de semana, feriados, datas festivas, o que pode desmotivar o profissional;
preconceito, o lazer é uma área que carrega muitos mitos e o principal deles é de
que o profissional precisa ser engraçado.
O mercado hoje precisa desses profissionais, isso é fato. Basta agora
que os profissionais da área de Educação Física “abram os olhos” para essa
possibilidade que existe próximo à Londrina e em tantos outros Resorts no Brasil,
principalmente na região nordeste, onde são instalados Resorts de redes
internacionais.
O Profissional de Lazer precisa ter a capacidade de enxergar as
possibilidades do mercado de trabalho. O profissional de Educação Física sai na
frente por já ter o conhecimento específico, mas enquanto não soubermos ocupar
esse espaço que é nosso por direito, outras pessoas o farão.
68
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71
APÊNDICE
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APÊNDICE 2 ENTREVISTA COM “TIA POTIRA” REALIZADA DIA 07/09/08 Daiane: Há quanto tempo você está trabalhando aqui no Aguativa? “Tia Potira” : De fixo, vai fazer três anos (aham) mas ao todo vai fazer uns 10 anos. Daiane E agora você ta como supervisora? “Tia Potira”: Supervisora. Daiane: Qual é a função da supervisora aqui dentro? “Tia Potira”: Nossa...(aham) tem toda a parte buracrática que tem que ser feita (aham), desde pagamento de banda, pagamento de tio, pagamento de...é.....escalar equipe pro fim de semana, separar os tios, já programar, já fazer a programação dos pacotes que tão vindo, é....resumindo...quase tudo (aham). Então assim, é...reunião, sou eu que faço. O Marcelo ta acompanhando, mas é que ele ainda não sabe. Mas a seleção de tios também, eu fiz uma parte, o treinamento que é feito com eles aqui dentro, no fim de semana. Toda essa parte. Daiane: Há quanto tempo você está na supervisão? “Tia Potira”: Um ano, um ano (um ano). Um ano. Daiane: Como é composta a equipe hoje? “Tia Potira”: Hoje ta o Marcelo com Gestor, não é coordenador. Eu supervisora. Aí tem o Frank. Que são os tios, o Frank, o Sardinha, a Globeleza, a Fulô e o ET que é mais voltado pro Esporte de Aventura. Daiane: Eles são os fixos, e free-lance tem quantas pessoas, mais ou menos? “Tia Potira”: Nós estamos em cinqüenta free-lance. Daiane: Nossa, bastante. E o pessoal, como é que é? É estudante, é formado? “Tia Potira”: A maioria são estudantes de Educação Física e Turismo (uhum). É, eles vêm de free- lance pra gente. Formado que vem de free-lance, nós temos uns 10, que são formados que tão vindo agora. Mas que já trabalhavam antes, então continuaram. Daiane: Ta...você, terminou a faculdade? “Tia Potira”: Não, tranquei a faculdade. Daiane: Era Educação Física, né? Dos fixos, ninguém é formado? “Tia Potira”: O Sardinha se formou agora, a Globeleza também trancou, o Frank é formado em Administração. Daiane: Que não tem muito a ver a com a área. “Tia Potira”: Que não tem nada a ver. Administração. O ET ta fazendo Engenharia no CEFET (uhum)...é, da Computação. E...a Fulô que ta terminando Educação Física. Daiane: Aham. E do pessoal que entrou, tanto como fixo ou free-lance, o pessoal entrou mais por...por afinidade com a área assim...?tem alguém que faz malabares? Essas coisas... “Tia Potira”: tem, não, nós aprendemos a mexer mais com malabares aqui. Tem o pessoal da trupe tangará de Londrina, eles vieram dar esse treinamento pra gente. Eles participaram também de alguns pacotes que teve. Eles vieram fizeram treinamento com a gente. Eu, na faculdade aprendi a andar de perna de pau, o Sardinha também, mas os outros aprenderam com esse treinamento aqui. Daiane: O treinamento foi com os free também ou só com os fixos? “Tia Potira”: Só com os fixos. E tem os free-lance que sabiam mexer com isso...que
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é a, a Haus....o pessoal que faz Artes Cênicas também, que eu não falei, da Uel que vem pra cá e... Daiane: Mas já sabe da faculdade, né? “Tia Potira”: Sabe. Daiane: E fala um pouquinho da programação, como é dividida a programação...do Aguativa. “Tia Potira”: Bom, é dividida por faixas etárias. Três a seis anos só até em outubro, porque depois vai passar de quatro a seis anos. Daiane: Ahh...não vai ser mais de três. “Tia Potira”: Não, vai ser de quatro a seis anos. De sete à dez anos, adolescentes. De onze à treze, infanto. Acima de quatorze, juvenil. E os adultos. Daiane: O pessoal que ta trabalhando já tem pré estabelecido quem que vai trabalhar em determinada faixa etária? “Tia Potira”: tem, tem sim. A gente já chama pro fim de semana ou pro pacote ou a temporada, já sabendo a faixa etária que eles vão vir. Mas tem os tios que ficam em varias todas as faixas etárias, se for pra colocar eles fica. Só que....a gente procura mais deixar eles voltados pra aquela faixa etária mesmo (aham). Daiane: E eu vou falar um pouquinho agora sobre o processo de seleção. Ta, que é mais o foco. Quem que participa do processo de seleção da equipe? Quem que aqui de dentro do Resort vai e participa? “Tia Potira”: Ó, eu fui. O Marcelo foi fazer em londrina. Mas, eu fui em Ourinhos, eu fui em Londrina, nós fizemos na Uel, o ano passado, no começo do ano passado, não me recordo. Ainda era o outro coordenador, o Milico. Aí nós fomos lá, levamos...passamos um filme do hotel, levamos apostila, contamos tudo que tem aqui dentro, tudo que pode ser oferecido a ele, e que ele tem a oferecer aos hóspedes. Nessa apostila tem todos os itens do processo de seleção. Daiane: Ta...e tem alguns instrumento pra fazer essa entrevista ou é só conversa...? “Tia Potira”: Eles preenchem uma ficha, preenchem a ficha, aí nessa ficha ta constando, é...a faixa etária que ele gostaria de tá trabalhando. Apesar de o ultimo contratado nosso, o tio Preston, ele preencheu de adolescente, de sete a dez anos. Acabou ficando mais voltado pro adulto. Intão, daí tem a faixa etária, ele fala das habilidades dele, que ele tem, tipo malabares, fazer pintura de rosto, toda essa parte artística. Tem ali aquela ficha, nós pegamos a ficha e vamos ter um bate papo com ele, uma conversa com ele. Daiane: E a seleção são só nas Faculdades? “Tia Potira”: Só nas faculdades. Daiane: E tem pré-estabelecida as faculdades que vocês vão? E: Tem, tem a de Ourinhos, que eu não me recordo o nome agora... Daiane: É de Turimo ou Educação Física? “Tia Potira”: É de Turismo (turismo), a de Ourinhos é de Turismo. E tem a Unopar em Londrina, a UEL em Londrina... e tem a Unopar de Arapongas. Daiane: Mas vocês recebem também, por exemplo, currículos? “Tia Potira”: Também, também...também. Daiane: Daí como é que funciana.Vocês recebem e chamam esse pessoal? “Tia Potira”: Isso....porque daí como eles geralmente eles não mandam a foto. A gente chama eles, liga pra eles, tem esse primeiro contato via telefone, conversa. Pergunta se ele tem disponibilidade pra vir no fim de semana, e aqui dentro, é feito, quando eles vêm, mesmo quando a gente não conhece, é feito esse contato pra ele ver como é o Aguativa.
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Daiane: A questão da foto, a aparência conta na hora da seleção? “Tia Potira”: Conta. Daiane: Como conta? “Tia Potira”: Olha, é....porque aqui nós trabalhamos com...com hóspedes com sua...com seu valor aquisitivo alto. Então quando ele vem aqui ele quer um lugar bom, pessoas bonitas, então, as vezes infelizmente, mas conta. Nós temos tios aí muito feios também, só que trabalham muito bem, entendeu? Então vai da pessoa mesmo se ela gosta, mas a aparência conta. A primeira impressão é conta. Daiane: O que você acha assim, na tua opinião, na tua experiência, você acha que o que conta mais, a aparência ou a atuação? “Tia Potira”: A atuação, sem dúvida. Daiane: E você acha que hoje assim, qual o perfil que o Aguativa ta buscando de um tio? O que ele tem que ter? Quais as características que esse tio tem que ter pra trabalhar hoje no Aguativa? “Tia Potira”: Primeiro gostar do que faz, né? Porque aqui tem que lidar com vários tipos de pessoas, pessoas que tão com mau humor, bom humor, então a primeira coisa é você gostar do que faz. O que eu acho que é mais importante aqui. Aí depois é uma pessoa que saiba conversar bem, nós não vamos chegar também com qualquer um pra tratar um... que aqui vem governador, vem Deputado, político, qualquer pessoa com muito dinheiro. Então tem que sabe conversar, ele tem que saber também ta trabalhando com a criança, ele tem que tem a responsabilidade pra cuidar dessa essa criança. E assim vai. Porque nós também somos educadores. É o que nós passamos pras criança. Além da criança, a gelara do juvenil. Nós tamo aqui pra educa-los. Nós somos os tios que brinca que fazem festa, mas além de tudo, transmitir educação. Daiane: A programação quem monta? É você? “Tia Potira”: São todos os tios. Faz a reunião...é...tal dia, tal horário e ali nós vamos colocar as nossas idéias. Então são as idéias de todos que nós colocamos alí no papel. O pessoal mesmo é que faz. Eu só que digito, mas as idéias são de todos (tá). Daiane: Mas, mesmo...já existem bricaderias prontas, prévias, que o pessoal acaba reutilizando? Ou cada final de semana é uma brincadeira diferente? “Tia Potira”: Porque cada pacote é um tema. Então a gente procura bolar brincadeiras relacionadas ao tema que nós temos. Mas, nós temos também brincadeiras também que já são pré-estabelecidas. Aí a gente passa e inclui também na programação. Daiane: E como é que funciona essa parte que você tava falando de educar? Como é que essas brincadeiras...como é utilizada a brincadeira para a educação. “Tia Potira”: A brincadeira que mais nós temos aqui, que é mais voltada mesmo, é quando a gente faz a parte da reciclagem com as crianças, que a gente ensina pra elas todo o metal, ensina sobre o lixo orgânico, toda essa parte de reciclagem, de meio ambiente, ou qualidade de vida, a gente passa pra criança. Daiane: Bom, a maioria do pessoal mesmo é estagiário mas você acha, na tua opinião, que a formação acadêmica, que ter uma faculdade ajuda na atuação aqui dentro, ou é uma coisa mais pessoal, de uma pessoa mais descontraída, o que você acha que é mais relevante? “Tia Potira”: É...nós temos um tio que fez administração, que se formou em administração. Eu acho que vai mais pelo jeito da pessoa, porque tem pessoas que fazem educação física, ela tem pavor de recreação, o negócio dele é academia. Ela
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é mais pro lado da academia. Então eu acho que vai mais da pessoa mesmo.
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ENTREVISTA COM “TIO MILICO REALIZADA 06/10/08 Daiane: Milico, qual sua função e seu cargo no Aguativa? Tio Milico: Minha função é coordenador de Esportes e Lazer. Eu cuido do setor de recreação, babá, esporte de aventura, toda a área de lazer, todo o complexo de lazer. Daiane: Mas qual é sua função, o que você tem que fqze Tio Milico: Eu coordeno toda a estrutura de lazer, desde contratação de funcionários, treinamento e também acompanhar os tios nas atividades, em todo esse processo. Compra de material, desenvolver atividades para pacotes...tipo...vamos montar um teatro, um show, vamos montar alguma coisa diferenciada, tudo é responsabilidade minha. Tem que levantar custos, levantar valor e apresentar em planilha isso. Daiane: Você comentou dos pacotes. O que é um pacote? Tio Milico: Um pacote é um produto especial que a empresa vende. Pode ser um final de semana, um feriado, são as férias. É um diferencial, né? Esses pacotes são tematizados, é uma forma de atrair mais as clientes. Os feriados que são encarados como pacotes nós tematizamos como pacote do circo, pacote ecológico, pacote da melhor idade. A gente tematiza e monta uma programação nesse conceito, segundo o tema. Daiane: Fora do pacote tem alguma programação ou tema específico? Tio Milico: Não, fora do pacote não tem temática. Nos finais de semana nós temos uma programação com jantar dançante, tem o seu requinte, mas não tão sofisticado como o pacote. Daiane: A programação é dividida por faixa etária. Mas agora o Aguativa irá mudar uma dessas faixas etárias. No recanto, de 03 anos, vai mudar para 4 anos a idade mínima? Tio Milico: É que na realidade o único Resort do Paraná, da Região Sul e Sul e Sudeste, nós éramos os únicos a trabalhar com crianças de 03 anos e como há uma diferença muito grande da criança de 03 e 06 anos, nós adequamos para crianças de 04 a 06 anos pro Recanto que é a primeira faixa etária., então as crianças vão ter uma faixa etária mais equilibrada e as atividades conseguem desenvolver mais facilmente. As crianças de 03 anos precisam de mais atenção. Pra isso nós temos o serviço de babá que é um serviço para a parte, não é oferecido pelo Resort, você contrata no ato da reserva. Daiane: Fala um pouquinho dos tios. Tem os fixos e os free-lance. Qual a função do tio fixo? Tio Milico: Bom, primeiro a gente entende que o tio fixo é o contratado pela empresa e o free-lance são os que vão periodicamente. Conforme a ocupação do hotel, a gente vai chamando os free-lance. Nós temos uma equipe de mais os menos 30 free-lance e mais uma equipe de 07 monitores fixos. As funções são mais de responsabilidade. Cada um tem suas funções, ele tem que cumprir rotina as quais a gente já tem um manual elaborado. Então ele tem que desenvolver atividades, tem que cumprir certas regras, ajudar a treinar os free-lances, responsabilidades com os chefes, as coisas mais requintadas do hotel, são responsabilidade dos fixos de elaborarem e ta acompanhando. Daiane: O que são os shows que você comentou?
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Tio Milico: são vários shows Daiane. Nós temos os teatros, que é Show do riso, que são teatros de comédia. Pra ser um show diferente pro hóspede. Então nós temos o teatro, nós temos um show que pode ser chamado de jantar dançante, com banda show, então os fixos treinam dança, aprendem a dançar, eles fazem aula de dança. Temos outros shows de comédia, teatros mais específicos, nós contratamos equipes de fora pra apresentar teatros, show de mágicas. Tem as gincanas. Então cada noite a gente apresenta algum tipo diferente de programação. Que aí são os fixos que fazem. Daiane: E os free-lance. Qual a função deles? Tio Milico: A principal função é entender que é dividido em faixa etária. Nós somos divididos em faixa etária. De 04 a 06 anos o Recanto, de 07 a 10 que é o Adolescente, que a gente chama de adolescente por que as crianças não gostam que chamem elas de crianças, então a gente chama de adolescente pra chamar um pouco de atenção, de 11 a 13 o infanto, de 14 acima os jovens que a gente chama de juvenil e os adultos que é dividido em Feminina e Esportivo. Essa divisão um exemplo que de realizar as atividades conforme nosso cronograma de programação. Não é só uma coisa técnica, mas não é uma coisa séria. Tem vários tipos de atividades, desde atividades esportivas até atividades de teatro na borda da piscina, de fazer uma chamada interferência, que a gente fala, que é cativar aquele público passivo que não participa das atividades mas a gente realiza um pequeno show que faz com que eles sintam um pouco a cara da recreação. Daiane: Essas atividades são programadas quando. Tem algum tipo de cronograma? Tio Milico: Tem um cronograma anual que nós projetamos os pacotes pro ano seguinte. Tem uma reunião pra isso. Nós temos um cronograma também para cada pacote, vamos supor: feriado de páscoa, feriado de Tiradentes, o que vai ser tematizado em relação a isso. Definido isso, a gente passa pros tios fixos e eles desenvolvem atividades em relação ao tema. Então por exemplo, o ano que vem o mês de abril todo, o mês da páscoa, vai ser o mês do chocolate, então vão ter programações todas em relação ao chocolate. Então os tios vêm com idéias pra acrescentar na recreação. E eu como coordenador desenvolvo as atividades mais requintadas, propor um teatro, propror alguma programação que vai chamar mais atenção. Um chefe de cozinha, propor uma exoposição com a Cacau Show por exemplo. Então são todas idéias que eu vou elaborando e vou apresentando em forma de programação pra empresa, na qual a empresa passa pro marketing, o marketing da a cara pro negócio e a gente vende pros hóspedes. Daiane: Em relação a escala dos tios, nesses pacotes, durante a semana ou finais de semana, como é montada? Tio Milico: Nós sempre montamos a escala da semana na quarta-feira anterior. A semana que vai começar no domingo, já fica pronta na quarta-feira. Os monitores fixos, que são os contratados da empresa, tem as suas folgas semanais, e os free-lance, nós trabalhamos com eles semanalmente, ou seja, eles também tem a folga deles, eles só trabalham semanalmente. Eles não trabalham períodos de 10, 15 dias porque a carga horária do free-lance é um pouco mais puxada, porque a diferença do free-lance é que ele ta o tempo todo com os hóspedes. Ele vai tomar café da manhã com os hóspedes, almoça no restaurante com os hóspedes, janta com os hóspedes, então o que dá o charme da recreação do Aguativa é o contato direto com os hóspedes. Então acaba criando amizade. Então, a maioria dos hóspedes vão jogar futebol porque tal tio ta lá, vai realizar a atividade porque o tio cativou ele.
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Então é essa a diferença. Então nós programamos a semana, na quarta-feira anterior, conforme o número de hóspedes nós preparamos a equipe. Normalmente, com a casa cheia, cerca de 500 hóspedes na casa, nós trabalhamos sempre com 4 tios no adulto, 2 monitores no juvenil, que é galera que dorme mais tarde, 2 no infanto, trabalhamos com 4 tios no adola e mais 4 no recanto. Então são vários monitores que conforme a ocupação, nós montamos a equipe. Daiane: Cada tio tem um apelido dentro do Resort, porque dos apelidos? Tio Milico: Na realidade, não é uma regra ter apelido, mas como a recreação do Aguativa já tem mais de 20 anos, na realidade se for ver, historicamente falando, ela teve seu início no hotel da Barra Bonita, que é do mesmo dono do Aguativa. Então essa característica de apelidar tios, vem dessa época. Não sei porque nem como criaram o ícone tio. Né? Que o monitor é conhecido como tio “o tio”. Então acaba criando uma magia de criar um apelido pro tio, pra ser uma coisa diferente, pra virar uma característica diferente, que é simplesmente...virou uma regra, todo tio tem, acaba recebendo esse apelido, que são criandos normalmente por alguma característica. Nada pejorativo, porque o tio é narigudo, porque o tio é gordo, é sempre por alguma característica que faz lembrar algum personagem de desenho, ou alguma coisa que o tio faz. Então não é uma obrigação mas é uma tradição. Daiane: Os tios de que trabalham lá acabam vindo de algumas áreas específicas, Educação física, Turismo, Artes Cênicas e até mesmo de outras áreas... Tio Milico: A nossa intenção, e falo como coordenador de Lazer, é trabalhar exclusivamente com profissionais da área de Educação Física... Ciências do Esporte, esses segmentos. Mas a mão de obra ela ta um pouco escassa porque nós acabamos concorrendo com restaurantes, com bares, que os caras vão trabalhar como free-lance também, então as vezes o cara prefere trabalhar duas horas por dia do que ir trabalhar um período no hotel e pra ganhar um dinheiro a mais, eles não contam mais a experiência, eles não contam mais o lado de ta enriquecendo a sua área profissional. Porque trabalhar no Aguativa não é simplesmente dinheiro, não é simplesmente uma experiência maior. Então como a gente não consegue gerar uma expectativa de ter 40 monitores na área de Educação Física e a própria Londrina não ta....a mão-de-obra não é suficiente, a gente acaba abrangendo, a gente acaba atraindo alunos de Turismo, alunos de Artes Cênicas, mas também pessoas de Cornélio que nós mesmos capacitamos como profissionais. Daiane: E porque dar preferência à Educação Física? Tio Milico: É um curso que primeiro preza pela atividade, pela atividade física, e também porque o conceito de Educação Física aprimora muito os cuidados com a Atividades Física, eles já vem com alguns cuidados como saber realizar uma atividade com certo público. O curso de Educação física, preparando para a Recreação ele tem um pouco mais de técnica. Por que eu digo isso? Porque os alunos de Educação física sabem realizar as atividades, saber estar atentos também aos detalhes. A caminhada por exemplo, se eu coloco o aluno de Turismo pra realizar uma caminhada, ele vai fazer uma caminhada visando a paisagem, “nossa, que paisagem bonita, a ecologia”. Já o aluno de Educação Física, ele vai focar a segurança, a questão da saúde das pessoas, de aferir a pressão, enfim, de estar preservando a saúde das pessoas. Porque no Resort nós não trabalhamos somente com pessoas saudáveis, então eu tenho que me preocupar com as pessoas, então o aluno de Educação Física ele consegue abranger muito mais isso. Só que eu não consigo ter um número de tios suficiente da área de Educação Física pra trabalhar. Daiane: E como esse pessoal chega até Resort?
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Tio Milico: Na verdade, chega de diversas maneiras. Mas a maneira mais tradicional é a famosa seleção de trabalho. Nós separamos algumas datas do ano pra fazer essas seleções. A gente trabalha com seleções em Ourinhos, Londrina, Maringá, Cornélio Procópio...mas como funciona? É... a gente entre em contato com a Universidade ou Faculdade, pede uma sala emprestada, aí a gente divulga para os alunos, marca uma data específica e nesse dia nós reunimos todos e fazemos todo um explicativo do que é o Resort, do que é trabalhar no Aguativa. Então agente faz todo o explicativo do conceito após isso nós fazemos uma entrevista individual para analisar perfil, para analisar como é a pessoa, para que faixa etária ela leva jeito. Então a gente faz a entrevista, após fazer a entrevista a gente separa os melhores e convoca para trabalhar conosco em um final de semana, como experiência. Daiane: Tem algun instrumento pra..que vocês utilizam pra coletar esses dados? Tio Milico: Atualmente a gente está usando data show, a gente faz um apresentação, a gente apresenta alguns vídeos, a gente tem alguns vídeos caseiros também...que os tios fazem também, que é dançar na borda da piscina, e também é...a gente tem umas apostilas que tem manual de rotina. Então a gente apresenta. E essa seleção, a gente tem duas fichas, uma ficha técnica, que vê as habilidades da pessoa, se ela toca violão, se tem habilidades esportivas, se ela tem alguma habilidade manual, se ela sabe mexer com reciclagem, se ela sabe fazer alguma coisa diferente, pra, enfim, acrescentar na programação. E também tem uma ficha de personalidade psicológica, então a pessoa preenche e a gente sabe identificar o perfil da pessoa, se ela é introvertida, extrovertida, se ela fala bastante, então basicamente a gente consegue entender qual é o perfil dessa pessoa e entender se ela vai interagir com a recreação. Daiane: Então, pra você, quais são as características que um tio deve possuir? Qual seria o tio ideal? Tio Milico: Bom, primeiro entender o que é o Aguativa. Porque a nossa recreação é muito diferente dos outros Resorts. O tio ideal não tem que vestir máscara, o tio ideal não tem que ser outra pessoa, tem que ser o que ele é, o que ele é na casa dele, o que ele é normalmente. Entendeu? Lá nós temos diversos tios, então lá tem tio que ama música caipira e é tio que gosta de música sertaneja, brincar com os hóspedes, e tem tio que gosta mais de bater um papo cabeça, então eles não precisam criar uma idéia de que eles são perfeitos, tipo: o tio ideal é aquele que fala bonito, o tio ideal é aquele que cria situações pra agradar os hóspedes, puxa papo, não. O tio ideal é aquele que é o mesmo na sua casa. Entendeu? Mas ele tem que saber entender as regras do Resort, saber preservar a segurança do hóspede, saber ser educado, saber ser gentil, saber ser atencioso, porque essa educação vem de casa. Daiane: A aparência conta na hora da seleção? Tio Milico: Olha...tem Resort que conta, no Aguativa, não. Bom, é... a gente tem uma característica de não criar uma equipe de tios bonitos, malhados, sarados, como a gente consegue ver em alguns lugares. Eu contrato qualquer tipo, branco, negro, gordo, magro, cabeludo, barrigudo, enfim, qualquer tipo, as únicas exceções são não gosto de tatuagem e pircing. É a única restrição. Agora...característica física, ela some, porque não faz a diferença. Eu não quero criar monitores com ar de Deuses, eu quero criar monitores com as de pessoas normais que vão chamar a atenção do hóspede pelo que ele é. Daiane: Porque você acha que a tatuagem e o pircing influenciam? Tio Milico: Por que que eu não gosto de tatuagem? A maioria dos... nós
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trabalhamos num Resort de alto nível, certo? Nós trabalhamos com pessoas de um poder aquisitivo muito grande, né? Se ele coloco um tio com tatuagem ali, pra trabalhar com as crianças, e eles ficam muito com as crianças, criança ama muito os tios, elas gostam muito deles porque os tios fazem brincadeiras, e hoje os monitores são também educadores e são referência para as crianças, então se o tio tem tatuagem, se tem pircing, e a criança resolve um dia fazer um tatuagem porque o tio tal tem tatuagem, resolve colocar um pircing, porque o tio tal tem pircing, e o tio vai virar uma influencia negativa. O que nós queremos transmitir é uma influencia positiva, o tio educador. Saber jogar o lixo no lixo, saber realizar brincadeiras com conteúdo. Ah...então se a gente falar assim, vamos bagunçar, vamos quebrar tudo, vamos zuar, porque ele foi exemplo. Então a gente cria uma situação meio chata pros hóspedes, porque é simplesmente esse questão, o monitor de recreação influencia muito o meio em que ele tá. Daiane: E qual é o papel da equipe de Lazer dentro do Resort? A importância dentro do Aguativa? Tio Milico: É... dentro do Aguativa a única função que nós temos é recepcionar e entretenimento para o hóspede. Mas a nossa função é que o hóspede saia motivado, feliz, quando ele for embora do hotel. Então a nossa função é trazer uma sensação de contentamento pro hóspede. Então é criar situações, igual, esportes, não é só oferecer um futebol pro hóspede, mas é oferecer um futebol onde tem um tio ali brincando, fazer uma situação mais agradável, não criar uma situação de palhaço, mas uma situação agradável pro hospede ir lá e se divertir. Então são todas essas situações, de fazer os tios agradarem os hóspedes, mas de uma forma alegre, diferente. Daiane: Você acha que a presença da equipe de lazer no Resort influencia a compra de alguém pelo pacote? Tio Milico: Com certeza. Daiane: Porque? E: Porque...é...recentemente eles publicaram uma pesquisa que a porcentagem é muito alta, cerca de sessenta por cento. Sessenta por cento dos hóspedes que retornam para o hotel, retornam por causa da recreação e apenas 12 por cento voltam por causa da alimentação. Na realidade não é ter uma equipe boa ou ruim, eu tenho que ter um padrão, de acomodação, de alimentação, de estrutura, mas a recreação ela difere porque é tio que ta o tempo todo com o hóspede, é o tio que ta ali cativando o hóspede, é o tio que ta resolvendo o problema do hóspede, é o tio que ta cuidando do filho do hóspede enquanto o hóspede quer descansar, então p tio que acaba criando uma situação agradável pro hóspede. O hóspede geralmente vai pro hotel pra que? Pro filho dele se divertir, ele sabe que ele vai descansar, ele sabe que ele vai dar muita risada, e ele sabe que qualquer esporte que ele for praticar tem lá, então isso que faz a diferença. Daiane: Você ta fazendo que curso hoje? Tio Milico: Eu estou concluindo o curso de turismo, aqui na Unopar e vou começar o ano que vem a pós em Recreação e Lazer. Daiane: E você disse que o ideal é ser da área de Educação Física pra trabalhar com recreação. Você sendo do turismo, você acha que te falta alguma coisa? Tio Milico: A Educação Física me ajudaria muito na parte técnica, na parte de realizar as atividades com mais técnica. Essa função eu não tenho. Esse conteúdo técnico das atividades eu não tenho. Por isso que existe outra coordenadora que entende dessa área, mas o que iria acrescentar pra mim é muito mais o
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conhecimento, né? E também poder acrescentar...realizar atividades com muito mais propriedade, com mais qualidade. Daiane: Bom...obrigada pela entrevista. Tio Milico: Obrigada