ufrrjcursos.ufrrj.br/posgraduacao/ppgao/files/2017/07/dissert...geração de emprego, renda,...
TRANSCRIPT
UFRRJ INSTITUTO DE AGRONOMIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
AGRICULTURA ORGÂNICA
DISSERTAÇÃO
A importância da adubação verde na diversificação da
produção agrícola: Uma abordagem participativa em
assentamento rural na Baixada Fluminense
Andréia Cristina Matheus
2016
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE AGRONOMIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURA ORGÂNICA
A IMPORTÂNCIA DA ADUBAÇÃO VERDE NA DIVERSIFICAÇÃO DA
PRODUÇÃO AGRÍCOLA: UMA ABORDAGEM PARTICIPATIVA EM
ASSENTAMENTO RURAL NA BAIXADA FLUMINENSE
ANDRÉIA CRISTINA MATHEUS
Sob a Orientação do Pesquisador
José Antonio Azevedo Espindola
e Co-orientação do Pesquisador
Ednaldo da Silva Araújo
Dissertação Submetida como requisito
parcial para obtenção do grau de
Mestre em Ciências, no Programa de
Pós-Graduação em Agricultura
Orgânica.
Seropédica, RJ
Maio de 2016
631.874
M427i
T
Matheus, Andréia Cristina, 1983 - A
importância da adubação verde na
diversificação da produção agrícola: uma
abordagem participativa em assentamento
rural na Baixada Fluminense / Andréia
Cristina Matheus – 2016.
58 f.: il.
Orientador: José Antonio Azevedo
Espindola.
Dissertação (mestrado) – Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro, Curso
de Pós-Graduação em Agricultura
Orgânica.
Bibliografia: f. 49-54.
1. Adubação verde – Teses. 2. Reforma
agrária – Teses. 3. Tipos de
assentamento agrário - Teses. 4.
Ecologia agrícola – Teses. 5. Baixada
Fluminense (RJ) - Teses I. Espindola,
José Antonio Azevedo, 1968-. II.
Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro. Curso de Pós-Graduação em
Agricultura Orgânica. III. Título.
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE AGRONOMIA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURA ORGÂNICA
ANDRÉIA CRISTINA MATHEUS
Dissertação submetida como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Ciências,
no Programa de Pós-Graduação em Agricultura Orgânica.
DISSERTAÇÃO APROVADA EM __/__/__
____________________________________________________
José Antonio Azevedo Espindola. Dr. Embrapa Agrobiologia
(Orientador)
____________________________________________________
Adriana Maria de Aquino. Dra. Embrapa Agrobiologia
_______________________________________________________________
Mauro Sergio Vianello Pinto. Dr. Embrapa Agroindústria de Alimentos
AGRADECIMENTOS
Aos agricultores/as do Assentamento Terra Prometida e as aos membros da
Cooperativa Coopaterra, em especial o Sr. Homero, Sra. Santana, Sr. Alberto e Sra. Janaina,
que contribuíram na construção desse projeto.
Ao meu orientador, o pesquisador José Antonio Azevedo Espindola, e meu co-
orientador, o pesquisador Ednaldo da Silva Araújo, pelas contribuições teóricas e práticas e
pela confiança.
Ao pesquisador da Embrapa Agrobiologia, José Guilherme Marinho Guerra, pela
contribuição na condução da Unidade Demonstrativa na Fazendinha Agroecológica – Km 47
e todos os funcionários que se dedicaram a esse trabalho.
Agradeço ao Programa de Pós Graduação em Agricultura Orgânica (PPGAO), da
UFRRJ, pelo conhecimento adquirido e pelas vivências, bem como às minhas queridas
amigas de curso Nilce, Jerusa e Paula.
Aos amigos e amigas que compartilharam sonhos comigo e contribuíram de diversas
formas e em diferentes momentos neste trabalho, Ruth Tereza, Raoni Amaral, Luana
Carvalho, Elis, Bia, Carlos, Suelem e Fernanda Vieira.
Aos queridos amigos Josefina e Prof. Rodrigo, pela incansável contribuição e apoio na
condução desse trabalho.
Aos professores e amigos Paulo Alentejano e Luciano Canellas, pela contribuição
teórica e pela disponibilidade para com esse estudo.
À querida Vanessa Lobo, pelo carinho, dedicação e pelas incansáveis conversas de
incentivo.
Às minhas queridas amigas e irmãs de toda a vida, Joana Duboc e Patrícia Tavares,
pelo carinho, dedicação e aprendizados.
Agradeço à minha mãe Maria de Fátima, meu pai Delwek Matheus, minhas irmãs e
irmãos (Fernanda, Amanda, Junior e Rodrigo) e a toda a minha família pelo apoio e amor.
Em especial, agradeço ao MST e a toda a militância do RJ pela oportunidade e pela
vivência.
RESUMO
MATHEUS, Andréia Cristina. Importância da adubação verde na diversificação da
produção agrícola: uma abordagem participativa em assentamento de rural na Baixada
Fluminense. 2016. 58 f. Dissertação (Mestrado em Agricultura Orgânica). Instituto de
Agronomia, Departamento de Fitotecnia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
Seropédica, 2016.
O presente trabalho foi conduzido junto às famílias do Assentamento de Reforma Agrária
Terra Prometida, localizado nos municípios de Nova Iguaçu e Duque de Caxias, na Baixada
Fluminense, no Estado do Rio de Janeiro. Objetivou-se avaliar estratégias de manejo dos
sistemas produtivos, utilizando a adubação verde como prática que contribui com a dinâmica
dos agroecossistemas, através das suas múltiplas funções. Para tanto, foram implantadas
Unidades Demonstrativas no Sistema Integrado de Produção Agroecológica (SIPA -
“Fazendinha Agroecológica Km 47”) e no Assentamento Terra Prometida. Utilizou-se um
conjunto de ferramentas metodológicas participativas com base no princípio da pesquisa-ação
que orientou o desenvolvimento das ações propostas e possibilitou, de forma integrada, a
avaliação da sustentabilidade das práticas, utilizando indicadores relacionados à qualidade de
solo e sanidade dos cultivos. A experiência apresentada está inserida no contexto da estratégia
de atuação da Coopaterra – Cooperativa de Produtores Agroecológicos Terra Fértil, aspecto
que permitiu a condução do processo de forma coletiva junto aos assentados envolvidos,
numa perspectiva multiplicadora e participativa. O trabalho foi realizado reconhecendo a
importância socioeconômica das áreas de assentamento de reforma agrária e das famílias,
como agentes transformadores da própria realidade. Os resultados estão, principalmente, na
sensibilização dos assentados quanto às práticas propostas e no processo de experimentação e
troca de conhecimento. Contudo, compreende-se a necessidade da continuidade das práticas,
com base nas condições concretas do assentamento e a ampliação para um conjunto maior de
famílias assentadas.
Palavras-chave: Adubação Verde, Assentamento de Reforma Agrária, Agroecologia.
ABSTRACT
MATHEUS, Andréia Cristina. Importance of green manure in the diversification of
agricultural production: a participative approach on rural settlement in Rio de Janeiro's
Fluminense Lowland area. 2016. 58f. Dissertation (Masters in Organic Agriculture).
Institute of Agronomy, Department of Plant Production, Federal Rural University of Rio de
Janeiro, Seropédica, 2016.
The present work was performed with families of the Agrarian Reform Settlement Promised
Land (Terra Prometida), located in the cities of Nova Iguaçu and Duque de Caxias, in
Fluminense Lowland (Baixada Fluminense), in the State of Rio de Janeiro. It aimed to
evaluate strategies of management of productive systems, using green manure as a practice
that contributes to the dynamics of agroecosystems, with its multiple functions. For this
purpose, Demonstrative Units were set in the Integrated System of Agroecological Production
(SIPA - “Fazendinha Agroecológica km 47”) and in the Promised Land Settlement. A set of
participatory methodological tools, based on the principles of research-action, was used,
which oriented the development of the proposed actions and made it possible, in an integrated
form, the practical evaluation of the sustainability of the practices, using indicators related to
soil quality and crops health. The presented experience is inserted in the context of the
strategy of performance of Coopaterra - Cooperative of Agroecological Producers Fertile
Land, an aspect that allowed the collective conduction of the process together with the
settlers, in a multiplying and participatory perspective. This was done recognizing the socio-
economic importance of the areas of agrarian reform settlement and their families, as
transforming agents of their own reality. The results are, mainly, in the appropriation of the
practices by the settlers and the process of experimentation and exchange of knowledge
carried out. However, it is required the continuity of the practices, on the basis of the actual
conditions of the settlement and increasing their use for a larger set of settled families.
Keywords: Green Manure, Agrarian Reform Settlement, Agroecology.
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1: Arranjos espaciais, representando as parcelas avaliadas: 1) Mandioca em
Monocultivo; 2) Mandioca + Milho e Guandu + Feijão Caupi; 3) Mandioca + Milho e
Guandu; 4) Mandioca + Milho + Feijão de Porco; 5) Mandioca + Milho. ........................... 255
Figura 2: Unidade Demonstrativa implantada na Fazendinha Agroecológica, parcela
composta por: Mandioca + Milho + Feijão de Porco. ........................................................... 26
Figura 3: Arranjo espacial representando a unidade demonstrativa do assentamento em
Unidade de Produção 1, composta por: Mandioca + Feijão de Porco + Milho e Guandu ....... 29
Figura 4: Unidade demonstrativa do assentamento na Unidade de Produção 1, composta por:
Mandioca + Feijão de Porco + Milho + Feijão Guandu ........................................................ 30
Figura 5: Arranjo espacial representando a unidade demonstrativa do assentamento em
Unidade de Produção 2, composta por: Banana + Mandioca + Feijão de Porco + Milho ....... 31
Figura 6: Unidade demonstrativa do assentamento na Unidade de Produção 2, composta por:
Banana + Mandioca + Feijão de Porco + Milho. ................................................................... 32
Figura 7: Atividade de avaliação da Unidade Demonstrativa, implantada na Fazendinha
Agroecológica, com a participação de Agricultores/as, Técnicos da Coopaterra, Pesquisadores
da Embrapa Agrobiologia e PESAGRO-RIO. ...................................................................... 36
Figura 8: Representação dos Indicadores de Qualidade do Solo – Unidade Demonstrativa no
Assentamento Terra Prometida ............................................................................................ 42
Figura 9: Representação dos Indicadores de Sanidade dos Cultivos – Unidade Demonstrativa
no Assentamento Terra Prometida ........................................................................................ 43
Figura 10: Atividade de avaliação de sustentabilidade através do método denominado de
“Sistema de Avaliação Rápida da Qualidade do Solo e Sanidade dos Cultivos” – Unidade
Demonstrativa. ..................................................................................................................... 44
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1: Assentamentos criados, famílias assentadas e reassentadas no estado do Rio de
Janeiro (2003-2008). .............................................................................................................. 6
Tabela 2: Características de espécies de leguminosas empregadas como adubos verdes ..... 20
Tabela 3: Indicadores e observações utilizados para sistematizar a avaliação da atividade na
Fazendinha Agroecológica. .................................................................................................. 35
Tabela 4: Média dos valores atribuídos aos indicadores de qualidade do solo e da sanidade de
cultivos em Unidade Demonstrativa no Assentamento Terra Prometida. .............................. 45
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 1
2 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................................... 3
2.1. As Transformações da Baixada Fluminense e sua Organização Territorial ................... 3
2.2. Impactos Territoriais dos Assentamentos de Reforma Agrária ..................................... 5
2.2.1. A “Terra Prometida”: potencialidades e desafios ........................................................ 9
2.3. Modernização Conservadora da Agricultura e a Noção de Sustentabilidade .............. 11
2.4. Processo Histórico e a Construção das Bases Agroecológicas ................................... 14
2.5. Agroecossistemas e as Estratégias de Manejo ............................................................ 17
2.6. Adubação Verde e a Dinâmica dos Sistemas Produtivos ............................................ 19
2.7. Ferramentas Metodológicas e a Participação dos Atores Sociais ................................ 21
3 MATERIAL E MÉTODOS ...............................................................................................24
3.1. A Experimentação como Ferramenta Pedagógica ....................................................... 24
3.2. Implantação de Unidade Demonstrativa na Fazendinha Agroecológica ....................... 24
3.3. Avaliação de Unidade Demonstrativa na Fazendinha Agroecológica .......................... 26
3.4. Contexto da Experiência no Assentamento Terra Prometida ....................................... 27
3.5. Implantação de Unidades Demonstrativas no Assentamento ...................................... 28
3.6. Avaliação de Unidade Demonstrativa no Assentamento Através de Indicadores de
Sustentabilidade............................................................................................................32
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................................34
4.1. Unidade Demonstrativa na Fazendinha Agroecológica ....................................................34
4.2. Caracterização Socioeconômica e Produtiva das Unidades Familiares ........................ 37
4.3. Implantação de Unidades Demonstrativas no Assentamento ....................................... 38
4.4. Indicadores e a Sustentabilidade dos Agroecossistemas no Assentamento .................. 39
4.5. A Metodologia Utilizada e a Socialização do Conhecimento ...................................... 44
5 CONCLUSÕES ...................................................................................................................47
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................47
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................49
8 ANEXOS .............................................................................................................................55
1
1 INTRODUÇÃO
A modernização conservadora da agricultura estimulou a concentração fundiária e o
êxodo rural, marginalizando grandes contingentes da população brasileira. Baseada na
simplificação extremada dos agroecossistemas e na homogeneização do conhecimento e das
práticas técnico-produtivas através dos pacotes tecnológicos (com o emprego de insumos
sintéticos, máquinas agrícolas, agrotóxicos) têm ocasionado intensas contradições
socioculturais, econômicas e ambientais.
Tais aspectos apontam para a urgência de construção de outras bases de
desenvolvimento que considerem a necessidade de mudanças estruturais, dentre as quais se
destaca a Reforma Agrária como forma de possibilitar a construção de um novo modelo
agrário e agrícola para o país.
Nessa perspectiva, análises têm sido realizadas sobre a relevância socioeconômica,
cultural e ambiental dos assentamentos de reforma agrária e o seu significado para muitas
famílias, para o território onde estão inseridos e para a sociedade de maneira geral. Tais
assentamentos representam a possibilidade de acesso a terra, diminuição do êxodo rural,
geração de emprego, renda, melhoria das condições de vida de famílias antes marginalizadas,
maior oferta e diversidade de alimentos e outros produtos agrícolas, e possibilidade de
circuitos alternativos de comercialização (LEITE et al., 2007).
Todavia, a discussão sobre as potencialidades e os desafios no contexto dos
assentamentos passa, necessariamente, pela compreensão do atual cenário da questão agrária
brasileira e da realidade sociocultural das famílias, levando em conta as condições estruturais
e ambientais que limitam o processo de instalação e desenvolvimento dessas comunidades.
Em geral, são herdeiros de passivos ambientais, decorrentes da utilização intensa dos
recursos naturais, apresentando degradação de solos, dos recursos hídricos e florestais.
Ademais, muitas dessas comunidades sofrem com a inexistência ou precariedade de serviços
básicos (energia, água, estrada, saúde, educação, dentre outros) e de políticas públicas de
crédito e assistência técnica e extensão rural.
O estado do Rio de Janeiro, apesar de conhecido pelo intenso processo de urbanização,
não difere do cenário nacional quanto à existência de desigualdades na estrutura fundiária.
Todavia, os assentamentos têm desempenhado papel importante no espaço agrário
fluminense, em virtude da construção de outro modelo de ocupação do meio rural e da
possibilidade de inserção de trabalhadores em novas dinâmicas socioeconômicas.
Nesse sentido a agroecologia, através de suas bases técnico-científicas, torna-se
essencial para subsidiar outro modelo de produção que aponte para a necessidade de construir
estratégias sustentáveis, a partir de outras formas de desenvolvimento rural (SEVILLA
GUZMÁN, 2001). Autores como Altieri (2012) e Caporal (2009) enfatizam que a perspectiva
de sustentabilidade deve estar orientada pelos princípios da agroecologia, que proporciona as
bases científicas para desenhar agroecossistemas sustentáveis do ponto de vista produtivo e
ambiental, que valorizem e ressignifiquem o conhecimento popular e garantam o acesso aos
recursos naturais (terra, biodiversidade, água) e a tecnologias apropriadas.
A utilização e valorização de práticas agrícolas que se fundamentam na lógica
contrária dos pacotes da agricultura moderna convencional, que otimizam os recursos
disponíveis na unidade produtiva e garantam a valorização do conhecimento dos agricultores,
têm se mostrado como importante desafio na construção de ações que dialoguem com os
princípios da agroecologia.
Dessa forma, a necessidade de estruturar agroecossistemas produtivos sustentáveis em
longo prazo tem levantado à necessidade de priorizar a utilização de práticas que possibilitem
maior agrobiodiversidade e melhorias nos atributos da fertilidade do solo. Dentre as diversas
2
práticas utilizadas destacam-se o plantio direto, a rotação de culturas e a adubação verde
(CALEGARI, 2008).
A adubação verde é uma prática considerada multifuncional e consiste na utilização de
determinadas espécies através de diferentes interações e formas de manejo, com vistas a
melhorar a dinâmica dos agroecossistemas, por meio de aspectos como reciclagem e
aproveitamento de nutrientes, manutenção e/ou recuperação das características de fertilidade
do solo (física, química e biológica) e aumento da biodiversidade (ESPINDOLA et al., 2004;
CALEGARI, 2008).
No contexto dos assentamentos de reforma agrária, tem se verificado a importância de
potencializar a utilização de práticas mais adequadas à realidade socioeconômica das famílias.
Nesse sentido, ferramentas que possibilitem a experimentação e validação dessas práticas, a
exemplo da instalação e condução de Unidades Demonstrativas, tem se mostrado eficiente,
criando espaços didáticos de estudo e análise de diversas práticas agrícolas.
Desenvolver atividades de experimentação dessa natureza implica, dentro de um novo
paradigma, uma melhor compreensão sobre o desempenho dos recursos produtivos
disponíveis nos agroecossistemas. Para tanto, a utilização de metodologias que contribuam
para o processo de monitoramento e avaliação têm se mostrado válidas, no sentido de
mensurar e criar parâmetros através da percepção dos agricultores, para o desenvolvimento de
práticas agrícolas sustentáveis.
Estas ferramentas metodológicas devem possibilitar a participação dos agricultores no
desenvolvimento de ações, proporcionando as condições para que exercitem uma posição
ativa, facilitando a compreensão das diversas integrações dos agroecossistemas. Assim,
permitirá experimentar e validar tecnologias que lhes sejam apropriadas.
A presente dissertação teve como objetivo avaliar, de forma participativa, a utilização
da prática da adubação verde por agricultores do assentamento de reforma agrária Terra
Prometida, localizado na Baixada Fluminense no estado do Rio de Janeiro. Parte-se do
pressuposto que a implantação de Unidades Demonstrativas utilizando adubos verdes
contribui como instrumento de sensibilização para o estabelecimento de agroecossistemas
produtivos, biodiversos e equilibrados.
3
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1. As Transformações da Baixada Fluminense e sua Organização Territorial
O espaço agrário no estado do Rio de Janeiro é caracterizado no cenário nacional pelas
suas especificidades, sendo conhecido e associado ao intenso processo de urbanização.
Segundo Alentejano (2005), a organização do espaço agrário fluminense até o início
do século XX estava hegemonizado pelo capital agrário e pelo capital mercantil. Destaca-se,
nesse contexto, que as diferentes condições ambientais existentes foram determinantes para a
organização do território:
(1) A região do Vale do Paraíba, dominada pela oligarquia cafeeira e marcada pela
ampla destruição da Mata Atlântica produzida pelo avanço extensivo e degradador
da cultura do café [...]; (2) a região das baixadas situadas a leste da região da
Baixada da Guanabara [...], dominada pela oligarquia canavieira e marcada pela
existência de inúmeros engenhos de açúcar [...]; (3) a região da Baixada da
Guanabara, dominada pelo capital comercial que organizava a agroexportação e a redistribuição interna dos bens e da riqueza, a partir do controle sobre a vasta área
navegável da baía e rios que nela desembocavam; (4) uma vasta região cujo
elemento de unidade é a topografia acidentada, estendendo-se do litoral sul até o
noroeste do estado, passando pela área da Serra dos Órgãos [...] (ALENTEJANO,
2005, p.51).
A partir do século XX, ocorre um intenso processo de metropolização, com enorme
crescimento da cidade do Rio de Janeiro e o esvaziamento econômico do interior do estado,
decorrentes da expansão industrial e da especulação imobiliária que contribuíram
decisivamente para intensa urbanização e para a expulsão de diversos trabalhadores do campo
fluminense. Nesse novo contexto, redefinem-se a organização territorial de algumas regiões
descritas anteriormente, incluindo a Baixada da Guanabara1 (ALENTEJANO, 2005).
Para Ribeiro & Cavalcanti (2011), tal fato fomentou o crescimento populacional das
cidades fluminenses localizadas na região Metropolitana2, enquanto as cidades do interior
fluminense tornaram-se pouco representativas. O fenômeno chamado desruralização,
entendido como o esvaziamento econômico e populacional e a desvalorização política e
sociocultural do campo fluminense, causou enorme diminuição da população do meio rural.
Dados apontam que, entre 1940 e 2000, houve uma diminuição de 1.400.000 pessoas para
570.000 pessoas, redefinindo o ordenamento territorial fluminense (ALENTEJANO, 2005).
Com o avanço da metropolização no século XX, a região da Baixada Fluminense3
ficou marcada por uma imensa transformação no seu território, tornando-se uma área “urbana
periférica” em relação à cidade do Rio de Janeiro. Tais efeitos possibilitaram arranjos sociais
1 A utilização da denominação de Baixada da Guanabara designava na época a região do entorno da cidade do
Rio de Janeiro, hoje conhecida como Baixada Fluminense (ALENTEJANO, 2005). 2 A denominação de Região Metropolitana está relacionada com enorme processo de expansão da urbanização
que fez com que os limites de aglomerados diretamente vinculados à cidade do Rio de Janeiro extrapolasse os
limites da Baixada da Guanabara (ALENTEJANO, 2005) 3 Segundo Simões (2006), atualmente existe uma diversidade de leituras sobre o que é Baixada Fluminense, e os
municípios que a compõe. Todavia, não se pretende nesse estudo, trabalhar conceitos do que seja a Baixada
Fluminense, mas para fins de localizar o contexto do estudo utilizaremos a definição da Secretaria de Estado de
Desenvolvimento da Baixada e Região Metropolitana, que considera como da Baixada Fluminense os seguintes municípios: Belford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaguaí, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Nova
Iguaçu, Paracambi, Queimados, São João de Meriti e Seropédica (CEPERJ, 2016).
4
e espaciais que deram origem a uma estrutura “sócio-espacial”, onde se criou um quadro
político de conflitos e ordenamento territorial (SIMÕES, 2006).
Entre os anos de 1920 e 1930, Grynszpan (1987) e Pessôa (2009) apontam que se
desenvolveu na região o cultivo e beneficiamento da cultura da laranja, voltada para
exportação. Tal cadeia produtiva tinha, naquele momento histórico, um ambiente fértil de
incentivo e apoio à citricultura. Para Simões (2006), a multiplicação de propriedades com
áreas de lavoura de citricultura possibilitou um aumento populacional na área rural,
decorrente do fluxo de mão-de-obra utilizada nas lavouras, incluindo-se assalariados, meeiros
e lavradores, que passaram a morar nas chácaras produtoras de laranjas. Além de unidades
produtoras, esses também se constituíram em locais de moradia de migrantes que chegam à
região.
Na década de 1940, na área que compreende Nova Iguaçu e Queimados, ocorreu à
aplicação do Programa de Drenagem do Governo Federal, com objetivo de criar um cinturão
verde na região que servisse como fonte de abastecimento de alimentos para a capital, que se
expandia com a industrialização (GRYNSZPAN, 1987; GIULIANI & CASTRO, 1996;
ALENTEJANO, 2005; CORRÊA & MACEDO, 2007).
Todavia, segundo Corrêa & Macedo (2007) os investimentos do governo não
incentivaram à produção agrícola, mas geraram a valorização das terras e o fortalecimento do
processo de especulação imobiliária, atraindo indivíduos interessados em fazer reserva de
valor com o processo de loteamento das áreas rurais. Isso marginalizou uma camada
considerável da população e ocasionou intensas disputas por terras na região.
O período marcado pelo processo de intensa urbanização, aliado à perda considerável
do território do então município de Nova Iguaçu, devido ao processo de emancipação dos
municípios de Nilópolis, São João de Meriti e Duque de Caxias, possibilitou o início
paulatino de um processo de loteamento das áreas que antes eram fazendas de citricultura.
Esse processo, somado à crise no setor produtivo, proporcionou uma imensa transformação
social na região da Baixada Fluminense (PESSÔA, 2009).
Segundo Corrêa & Macedo (2007), os proprietários de terras do local e os supostos
proprietários (os chamados grileiros4) optaram por erradicar as plantações de laranja, e
substituir as áreas de agricultura por loteamentos urbanos ou, nas áreas mais distantes,
substituindo-as pelo gado, à espera da expansão urbana, deixando uma série de
lavradores/agricultores desempregados.
A partir da década de 1950, a Baixada Fluminense passou por um expressivo aumento
populacional, inclusive com investimentos do governo federal para melhoria da infraestrutura
da região e investimentos que viabilizaram o surgimento de indústrias. Destacam-se, nesse
sentido, os municípios de Nova Iguaçu, com os setores de material elétrico, metalúrgico e
mecânico, e Duque de Caxias nos ramos químico, mecânico e metalúrgico, inclusive a
refinaria de petróleo REDUC (Refinaria Duque de Caxias). Esses investimentos também
contribuíram para o aumento da especulação imobiliária na região (ALENTEJANO, 2003).
Corrêa & Macedo (2007) descreveram que, no período de 1950 até o início de 1964,
verificou-se o surgimento de expressivas mobilizações de camponeses e lavradores, que
possibilitaram uma reorientação dos rumos da questão agrária no estado do Rio de Janeiro.
Simões (2006) destacou que, no mesmo período, com o crescente avanço da especulação e a
expulsão dos posseiros de suas terras, a região tornou-se palco de violentos conflitos e de
intensa atuação de movimentos sociais de luta pela terra, que foram desarticulados em
decorrência do golpe militar de 1964, quando diversos trabalhadores sofreram intensa
perseguição.
4 Segundo Pessôa (2009) os chamados grileiros são aqueles que se valendo da falsificação do documento de
propriedade, se apresentavam como os proprietários legítimos.
5
Segundo Alentejano (2003), os conflitos por terra na região ocorreram no período de
1950/60 como resultado da resistência dos trabalhadores rurais frente aos interesses dos
especuladores na conversão das terras da região em áreas de expansão urbana. Após o período
de ditadura militar, quando a luta pela terra toma novamente impulso nos anos 1980, o
processo adquire outro caráter, pois se somam aos grupos anteriores os trabalhadores da
periferia em busca de acesso a terra, e a Baixada Fluminense volta a ser palco das principais
ocupações de terra e conflitos fundiários do estado.
O processo de luta pela terra na Baixada Fluminense possibilitou a visibilidade da
questão agrária da região, no mesmo período em que o tema esteve em destaque no cenário
nacional, que ocasionou a emergência de diversos assentamentos na região (ALENTEJANO,
2003).
As modificações socioambientais ocorridas na Baixada Fluminense nas últimas
décadas também não diferem do cenário nacional quanto ao modelo de desenvolvimento
vigente, que fomenta o processo de concentração da terra, ampliando cada vez mais as
desigualdades sociais com o aumento de excluídos nos centros urbanos, da degradação
ambiental e das relações de trabalho (PESSÔA, 2009). Nos dias atuais do século XXI, em
meio a uma complexidade de configurações socioeconômicas, territoriais, ambientais e
políticas, as desigualdades sócio-espaciais são características marcantes da região (SIMÕES,
2006).
Frente à existência de desigualdades na estrutura fundiária do estado, o esvaziamento
do campo e o avanço da metropolização, Alentejano (2003) chama a atenção para os
importantes impactos das lutas das diversas organizações de trabalhadores e trabalhadoras e
da formação dos assentamentos com vistas a construir possibilidades de outro modelo de
ocupação do meio rural fluminense, possibilitando a inserção de trabalhadores marginalizados
nos grandes centros urbanos em novas dinâmicas sociais. Esse autor também enfatiza que os
assentamentos têm produzido transformações sociais, políticas e econômicas nos territórios e
são indicativos do potencial do processo de reforma agrária.
2.2. Impactos Territoriais dos Assentamentos de Reforma Agrária
Os assentamentos de Reforma Agrária5 emergem no cenário da questão agrária nacional
como um marco histórico impulsionado pelos movimentos sociais de luta pela terra no início
da década de 1980 e permanece até a atualidade. A partir desse período, ocorre a visibilidade
dos sujeitos desse processo, as famílias assentadas e os movimentos e organizações sociais
que contribuíram em grande medida para a luta e garantia da terra (GIULIANI & CASTRO,
1996; LEITE, 2012).
Os assentamentos apresentam diversas configurações do ponto de vista organizativo e
territorial e representam um conjunto de processos que, segundo Leite (2012), podem ser:
Coletivos/individuais; agrícolas/pluriativos; habitações em lotes/em agrovilas; frutos
de programas governamentais estaduais/federais; com poucas/muitas famílias;
organizados e/ou politicamente representados por associações de assentados,
cooperativas, movimentos sociais, religiosos, sindicais, etc., (LEITE, 2012, p. 113).
Esse contexto de heterogeneidade na criação dos assentamentos lhes confere arranjos
complexos e diversos, relacionados a vários fatores que irão interferir no seu cotidiano e na
5 O termo assentamentos utilizado no decorrer do estudo refere-se à constituição de projetos de Reforma Agrária,
também conhecidos como assentamentos rurais (LEITE, 2012).
6
sua consolidação. Norder (1997) destaca que, apesar das diversas origens e formas de
implementação, os assentamentos em muitos casos estão diretamente ligados aos movimentos
sociais que reivindicam terras para reforma agrária. Essa característica lhes proporciona uma
multiplicidade de dimensões (social, política, econômica e cultural), e que lhes conferem uma
complexidade e singularidade política e social.
De forma geral, a maioria dos assentamentos é criada na perspectiva de resolver
situações de conflitos sociais nos territórios e não para sanar as situações de pobreza e
exclusão social, ou mesmo para fomentar o potencial produtivo da agricultura familiar, como
forma de contribuir para a segurança alimentar (NORDER, 1997).
Na agricultura fluminense, verifica-se uma crise que se expressa fortemente na queda
de produção de alimentos básicos (arroz, feijão e mandioca) combinado com aumento da
especulação fundiária e a ineficiência das políticas agrárias. Ao mesmo tempo, observa-se
uma imobilização absoluta no processo de criação de assentamentos, como aponta Alentejano
(2012), ao expor a situação das famílias assentadas e reassentadas no estado do Rio de Janeiro
(Tabela 1).
Tabela 1. Assentamentos criados, famílias assentadas e reassentadas no estado do Rio de
Janeiro (2003-2008).
ANO Assentamentos
Criados
Famílias Assentadas em Novos Projetos
de Assentamentos
Famílias Reassentadas em Antigos Projetos
de Assentamentos
Total de Famílias Assentadas
Nº Nº % Nº % Nº
2003 0 0 0 205 100 205
2004 0 0 0 154 100 154
2005 7 443 66,6 222 33,4 665
2006 6 270 85,7 45 14,3 315
2007 3 110 51,6 103 48,4 213
2008 2 60 57,1 45 42,9 105
TOTAL 18 883 53,3 774 46,7 1.657
Fonte: ALENTEJANO (2012)
Tais resultados da pesquisa realizada por Alentejano (2012) junto ao Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), evidenciam, além dos entraves gerais
em esfera federal, a ausência de prioridade para a realização da reforma agrária, e apontam
para as significativas dificuldades nesse campo no estado do Rio de Janeiro.
A ausência de uma política efetiva de reforma agrária, associada à herança de passivos
ambientais deixados pelos latifúndios, traz diversos impactos nos territórios onde foram ou
são criados os assentamentos no estado, e as famílias sofrem diversas consequências desse
processo, tais como, a carência de serviços básicos (energia, água, estradas, serviços de saúde
e de educação), a falta ou precariedade das políticas públicas de crédito, assistência técnica e
extensão rural, terras inapropriadas para a agricultura com intensa degradação ambiental,
dentre outros aspectos que agravam a situação.
7
O assentamento de famílias em agroecossistemas frágeis e a exclusão dos benefícios
das políticas públicas, onde os agricultores se defrontam com condições produtivas adversas e
inviáveis, proporciona, em muitos casos, o esgotamento das estratégias de sobrevivência,
levando à perda da condição de produtor e a busca de outras possibilidades de obtenção de
trabalho e renda (ALMEIDA et al., 2001).
Assim, compreender os assentamentos como territórios, segundo MEDEIROS &
LEITE (2002), implica em perceber as diferentes dimensões das relações sociais, econômicas,
políticas e ambientais que se forjam como um processo e que geram impactos nos territórios
onde os mesmos estarão inseridos. Apesar das condições adversas e a multiplicidade de
configurações do ponto de vista político-social e territorial, a implantação dos assentamentos,
ainda que pontual, causa impactos positivos em virtude de sua importância socioeconômica e
o seu significado para muitas famílias e para o território onde estão inseridos.
Desta forma, essas áreas desempenham um papel fundamental no espaço agrário
brasileiro, em virtude de sua relevância na geração de empregos, diminuição do êxodo rural,
produção e comercialização de alimentos, elevação da renda e, consequentemente, melhoria
das condições de vida de muitas famílias de trabalhadores rurais. Isso proporciona, em
diversas situações, o retorno para as atividades rurais de pessoas que migraram para as
cidades devido ao processo da modernização da agricultura (SOUZA-ESQUERDO et al.,
2013).
Segundo Bergamasco (1997), sob o ponto de vista das famílias, a vida nos
assentamentos representa uma nova forma de produzir e outra lógica no que diz respeito ao
controle do tempo de trabalho, com a redefinição das relações sociais sob o aspecto de que
agora possuem a terra. Assim, novos arranjos e práticas sociais podem surgir nesse contexto. Alentejano (2003), ao analisar os impactos demográficos dos assentamentos no Rio de
Janeiro, considera que a população urbana do estado é de 96%, e conclui que a quantidade de
pessoas assentadas é irrisória quando comparada à população total. No entanto, em relação à
população rural, que corresponde a 6,6%, considera bastante expressiva a população de
assentados. Esses dados apontam para a relevância dos assentamentos em contribuir
significativamente para amenizar o processo de urbanização.
Para Norder (1997), a reforma agrária deve ser considerada como parte de um projeto
estratégico de desenvolvimento social e econômico, com vistas a garantir que as políticas
agrárias, agrícolas e sociais venham a aumentar a oferta de alimentos e também a aperfeiçoar
as condições de vida do conjunto da população. Segundo esse autor, a produção de alimento é
essencial nos assentamentos e enfatiza que, conforme a realidade de cada território, esse
potencial deve ser considerado como elemento de resistência.
Pesquisas vêm sendo desenvolvidas em assentamentos por todo Brasil e reforçam a
importância desses territórios, onde estão instalados os assentamentos, e apontam para a
necessidade de uma política de reforma agrária. Estudos sobre impactos dos assentamentos, a
partir de diagnóstico em seis regiões do Brasil, abrangendo nove estados e 39 municípios,
num total de 92 assentamentos, verificaram que os impactos internos e externos dessas
comunidades são altamente positivos (LEITE et al., 2007), ainda que existam falhas nas
políticas de acesso a crédito, na assistência técnica, na infraestrutura, entre outros fatores. Isso
remete à constatação de que os assentados estão em condições semelhantes às da agricultura
familiar do seu entorno. Ao contextualizar a produção agropecuária nos assentamentos pesquisados e a
diversificação de produtos, de acordo com sua participação no Valor Bruto da Produção
(VBP), aqueles autores constatam que as primeiras posições correspondem a: leite, mandioca,
milho, feijão, ovos, arroz, abacaxi, soja, inhame e farinha de mandioca (LEITE et al., 2007).
Levantamento realizado em alguns assentamentos do Rio de Janeiro por Alentejano
(2005) revela o impacto produtivo no município onde estão inseridos, destacando a presença
8
da diversificação da produção. A pesquisa foi desenvolvida nos assentamentos Campo Alegre,
localizado entre Nova Iguaçu e Queimados, na região Metropolitana do Rio de Janeiro; Novo
Horizonte, em Campos dos Goytacazes, Norte Fluminense; São Domingos, em Conceição de
Macabu, também no Norte Fluminense e no São José da Boa Morte, localizado em
Cachoeiras de Macacu, região das Baixadas Litorâneas. Dentre os principais produtos
levantados estão: mandioca, leite, ovos, inhame, laranja, quiabo, dentre outros.
As informações quanto à produção de alimentos nessas áreas pesquisadas em nível de
Brasil e no Rio de Janeiro, estão em consonância com os dados do Censo Agropecuário de
2006 a respeito da agricultura familiar no Brasil. Segundo os dados, os principais alimentos
produzidos correspondem a: 83 % da produção nacional de mandioca, 69 % da produção de
feijão, 45 % do milho, 38 % do café, 33 % do arroz, 58 % do leite (composta por 58 % do
leite de vaca e 67 % do leite de cabra); além de possuir 59 % do plantel de suínos, 51 % do
plantel de aves e 30 % dos bovinos (IBGE, 2006).
No estado Rio de Janeiro, observa-se que a diversificação dos sistemas produtivos
permite às famílias assentadas uma alimentação mais saudável e diversa, além do que, muitos
dos produtos possuem extrema importância cultural e socioeconômica, pois ao mesmo tempo
em que são comercializáveis nas diversas possibilidades de mercado, são importantes para o
consumo familiar (ALENTEJANO, 2003).
Para Almeida (1999), experiências de produção de alimentos nessas comunidades com
base na diversificação do sistema produtivo têm sido consideradas como estratégia de
resistência em determinadas regiões, através do estabelecimento de outra relação com o
agroecossistema, entre produtores e consumidores, como alternativas de renda e na
diminuição dos riscos de perdas.
Ao se observar as atividades produtivas no âmbito dos assentamentos, verifica-se uma
grande diversidade de produtos em áreas antes ocupadas por monoculturas ou de pecuária
extensiva, significando outra lógica produtiva. Em muitos casos, essa diversificação contribui
para reorganizar o uso dos solos e tem possibilitado impactos ambientais positivos e na
qualidade de vida, uma vez que garante a subsistência e a produção para o mercado (LEITE et
al., 2007).
Para Gonçalves (2008), quando se incorpora o elemento da ação coletiva no cotidiano
das famílias assentadas, a exemplo da criação de cooperativas, implantação de unidades
agroindustriais, organização de redes de comercialização, bem como nas diversas formas de
cooperação e de formação política, verifica-se a ampliação da capacidade de resistência e o
fortalecimento político-organizativo e econômico do assentamento.
Nessa perspectiva, Augusto (2016) chama a atenção para a necessidade de considerar,
no processo de organização dessas áreas, as diversas dimensões da vida das famílias, tais
como, renda, educação, cultura, lazer, saúde, esporte, cooperação e a organização da produção
agrícola por meio de sistemas produtivos diversificados, com base nos princípios da
agroecologia.
Nos últimos anos, tem-se aprofundado uma discussão sobre a necessidade de construir
um modelo de assentamento que leve em conta a questão socioambiental, estimulada em
grande medidas pelos movimentos sociais do campo. Nesse contexto, a reforma agrária só
poderá ser uma política efetiva se, no processo de criação dos assentamentos, adotarem
princípios que dialoguem com os aspectos necessários para as transformações sociais,
políticas, econômicas e ambientais (CANUTO et al., 2013)
9
2.2.1. A “Terra Prometida”: potencialidades e desafios
O assentamento Terra Prometida surgiu de uma ocupação de terra realizada por cento
e cinquenta e três famílias, organizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST), na Fazenda Santana, no município de Miguel Pereira, no ano de 1999.
As famílias possuem origens diversas, tanto da zona rural quanto urbana, incluindo
algumas vindas de outros estados, sendo que, para muitas, o acampamento foi a primeira
vivência no ambiente rural. As famílias que desempenhavam atividades agrícolas antes do
acampamento trabalhavam como empregados de fazendas, meeiros, arrendatários ou
possuíam outras funções semelhantes.
Independente da origem rural ou urbana, todas as famílias apresentavam em comum a
condição econômica precária, que não lhes garantia as devidas condições de sobrevivência e
estavam juntas em busca da conquista da terra para garantir melhores condições de vida.
Essa foi a primeira ocupação de muitas famílias que estavam certas que desse processo
sairia a conquista da tão sonhada terra. Por isso, o nome escolhido para o assentamento foi
“Terra Prometida”. Essa seria a primeira etapa de muitas pelas quais passariam essas famílias,
as quais, sem desanimar, carregavam seus pertences e suas lonas pretas para montagem dos
barracos nos diversos destinos (PESSÔA, 2009).
No município, desde a ocupação, as famílias passaram por diversas áreas, pois se
ficassem dentro da fazenda, a mesma não poderia ser vistoriada para fins de reforma agrária.
Depois do primeiro acampamento na Fazenda Santana, as famílias foram para uma área
pequena, pertencente a um fazendeiro da região, e em seguida sobre os trilhos de uma antiga
linha férrea desativada, até que a moradia se deu às margens da RJ-125, rodovia estadual que
ligava o município de Japeri a Miguel Pereira e este a Paty do Alferes. Depois de anos, a
Fazenda Santana foi declarada produtiva e as famílias foram comunicadas da impossibilidade
de desapropriação.
Sem perspectiva de assentamento na área pleiteada em Miguel Pereira, em novembro
do ano 2000, as famílias ocuparam uma área no Bairro de Santa Cruz, Zona Oeste do
município do Rio de Janeiro, pertencente à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
Depois de anos de mudanças e incertezas, em fevereiro de 2006, com orientação do Instituto
de Terras e Cartografia do Estado do Rio de Janeiro (ITERJ), órgão responsável pela
regularização fundiária no estado do Rio de Janeiro, as famílias deixaram o Bairro de Santa
Cruz para ficar provisoriamente no município de Nova Iguaçu, em uma fazenda chamada JR,
sob a promessa da criação do assentamento em poucos meses.
O assentamento Terra Prometida somente foi criado no ano de 2010, através de uma
parceria entre o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e o Instituto
de Terras e Cartografia do Estado do Rio de Janeiro (ITERJ). Foram assentadas 61 famílias
em áreas das antigas fazendas JR, Paraíso e Sempre Verde, de posse do governo fluminense,
localizadas nos municípios de Duque de Caxias e Nova Iguaçu (INCRA, 2016).
As áreas do assentamento apresentam problemas decorrentes do histórico de
utilização através de sucessivos ciclos produtivos que contribuíram para o empobrecimento da
paisagem, marcada pela erosão e degradação dos solos e a consequente perda da
biodiversidade. Também possui sérios problemas quanto aos recursos hídricos, pela ausência
de estrutura de irrigação ou pela frequente inundação ocasionada pela má drenagem do solo
em determinadas épocas do ano (geralmente temporais de verão, no período de novembro a
março), limitando a produção agrícola.
A infraestrutura básica (estradas, habitação, saneamento básico, energia elétrica,
dentre outras) é precária, e não existem estruturas de escola e posto de saúde, obrigando as
famílias a buscarem auxílio nos bairros vizinhos ou nas cidades de Nova Iguaçu ou Duque de
Caxias.
10
São péssimas as condições das vias de acesso, limitando as possibilidades de mercados
e possibilitando a ação de atravessadores6, que compram os produtos, principalmente o aipim
no assentamento. As famílias nunca tiveram acesso à assistência técnica vinculada aos
programas de assistência técnica e extensão rural do INCRA e a créditos produtivos. Esta
condição, segundo os agricultores, limita o desenvolvimento do assentamento, pois tais
direitos poderiam melhorar as condições produtivas e organizativas e, consequentemente,
proporcionar melhores condições de trabalho e renda para as famílias.
Atualmente, as famílias produzem uma diversidade de alimentos como: banana,
batata-doce, abóbora, quiabo, feijão de corda, dentre outros. No entanto, a principal cultura e
fonte de renda dessas famílias é a mandioca de mesa. O assentamento está localizado em um
local com acentuada produção da cultura, conhecida na região como “Aipim de Tinguá”, mas
o histórico de produção da cultura da mandioca vem desde o Bairro Santa Cruz, onde
mantinham lavouras para a subsistência.
O material propagativo das plantas cultivadas, com algumas exceções, é dos próprios
agricultores ou doado pelo ITERJ, sendo que as manivas são retiradas das próprias lavouras e
armazenadas para o plantio seguinte. Quanto aos equipamentos de infraestrutura, o
assentamento possui trator e um microtrator tipo tobata, geridos pela associação dos
assentados. Todos os associados podem usar essas máquinas, desde que sejam arcados os
custos da hora trabalhada.
Em busca de soluções para os diversos entraves apresentados no assentamento, no ano
de 2011 foi criada a Cooperativa de Produção Agroecológica Terra Fértil (Coopaterra), com o
intuito de fomentar e contribuir para a organização das famílias, a melhoria dos sistemas
produtivos, a garantia de escoamento da produção e a ampliação do acesso a políticas
públicas.
Diversas ações são desenvolvidas pela Coopaterra em busca de melhorias nas
condições de vida das famílias, o que inclui o debate das questões socioculturais e ambientais
e a busca de estratégias de organização da produção com base agroecológica e de acesso a
diferentes mercados.
Atualmente tem sido realizada a venda de produtos para a rede de consumidores
denominada “Rede Ecológica”, através da organização e entrega de alimentos produzidos
com base nos princípios da agroecologia, principalmente a mandioca. A certificação e
garantia da qualidade dos produtores é realizada pelos membros da Rede Ecológica, que
organizam visitas e diversas atividades juntos às famílias.
No ano de 2015, a cooperativa conseguiu acesso ao Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE) e assinou 25 contratos para o fornecimento de mandioca no
município de Duque Caxias e um contrato no município de Nova Iguaçu. Segundo Santos
(2015), as ações desempenhadas têm sido importantes referências para as famílias e para os
municípios envolvidos, pois ao passo que a Cooperativa avança na organização jurídica da
entidade, e no acesso aos programas e políticas, a exemplo do PNAE, consegue fomentar a
discussão da importância da agricultura dentro da esfera municipal, que não tem uma política
agrícola definida.
Outros canais de comercialização utilizados pela cooperativa são as feiras livres em
nível municipal, estadual e nacional. Além destas, houve participação nas feiras organizadas
na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), na Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ) e na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/RJ).
6 São comerciantes intermediários que compram produtos dos agricultores e os revendem para outros comerciantes (varejistas) ou diretamente aos consumidores. Esta relação comercial retira do agricultor a chance
de aferir preços justos para os produtos, fruto do seu trabalho e da família.
11
As ações desempenhadas pela Cooperativa têm contribuído para o fomento da
discussão política, econômica e social da produção de alimentos saudáveis e diversificados,
na agregação de valor e na organização das famílias. O envolvimento das famílias na
cooperativa é um importante indicador social de sustentabilidade, pois tem contribuído para o
fomento de sistemas produtivos com base em princípios da agroecologia, para o acesso a
informações, fomento a comercialização e acesso a mercados, bem como a participação em
espaços coletivos que permitem às famílias participarem das tomadas de decisões.
A cooperativa desenvolve trabalhos em várias frentes produtivas, realizando o
processamento de frutas para doce/compota, produção de fitoterápicos, dentre outros
produtos. Todavia a cadeia produtiva foco das principais atividades da cooperativa é a
mandioca, através do produto descascado, cortado em pequenos pedaços, ralado para bolo ou
para extração de goma e na forma natural.
A cultura da mandioca assume elevada importância, pois faz parte da cultura alimentar
da maioria das famílias, exercendo importante papel na segurança alimentar e, ao mesmo
tempo, representando a principal fonte de renda das famílias.
O tema da produção de alimentos no contexto da cooperativa compreende que, para
melhorar a sustentabilidade econômica e ecológica dos agroecossistemas, é fundamental
desenvolver sistemas de manejo que tenham como base os recursos locais e uma dinâmica
adequada às condições ambientais e socioeconômicas existentes no assentamento (ALTIERI,
2012).
Nesse sentido, a agroecologia é compreendida como uma orientação politica-produtiva
que se contrapõe à modernização conservadora da agricultura. Assim, as famílias cooperadas
apontam como desafio a construção de estratégias, que possibilite a consolidação de
referências produtivas com bases agroecológicas.
2.3. Modernização Conservadora da Agricultura e a Noção de Sustentabilidade
O processo da Revolução Verde possibilitou mudanças na base tecnológica da
agricultura brasileira, impulsionadas através do chamado pacote tecnológico, baseado em
inovações técnicas no campo da química agrícola, mecânica e genética. Expressas através da
motomecanização agrícola (tratores, colheitadeiras, arados, grades, moto-bombas para
irrigação, pulverizadores), insumos sintéticos (adubos, inseticidas, herbicidas), agrotóxicos,
plantas e sementes melhoradas geneticamente (GONÇALVES, 2008).
No Brasil, essas mudanças se disseminaram no final dos anos de 1960, e se
intensificaram no início da década de 1970, devido a incentivos governamentais, em especial
na forma de crédito agrícola (DELGADO, 1985).
Para a implantação e disseminação da modernização da agricultura, utilizou-se o
crédito subsidiado, que possibilitou a capitalização de grandes proprietários de terra, para o
investimento em máquinas e insumos. Contou com o aparato do Estado brasileiro para
implantar suas inovações tecnológicas através da expansão e criação de empresas de
pesquisas e de extensão rural, para disseminar seus valores e princípios nas diversas esferas da
sociedade (BALESTRO & SAUER, 2013).
As ações desencadeadas utilizaram o discurso de solucionar os problemas da fome,
baseadas nas teorias malthusianas de escassez de alimentos, dado ao crescimento das
populações. No entanto, para os países “periféricos”, a exemplo do Brasil, isso representava
tanto a questão alimentar como também uma oportunidade de resolver as lacunas tecnológicas
que o afastavam dos países centrais em busca do crescimento econômico (DELGADO, 1985).
Graziano Neto (1982) chama a atenção para a existência de uma “ideologia
modernizadora” que orientava o setor rural, onde rotulavam de atrasados os que não se
adequavam ao “moderno”, provocando intensa desvalorização das práticas tradicionais.
12
A agricultura industrial ou moderna não cumpriu seu objetivo de melhorar a vida da
população rural, marginalizando contingentes enormes dessa população, que vivem o drama
do êxodo e da vida marginal nos grandes centros urbanos, com consequências em termos de
qualidade de vida e de deterioração ambiental (JESUS, 2005).
O processo de êxodo rural decorrente da expropriação de pequenos agricultores
marginalizados pelas políticas de crédito do Estado e pela intensificação tecnológica dos
processos produtivos marcou fortemente o campo brasileiro. Dados apontam que nas décadas
de 1950 e 1960, o campo brasileiro abrigava em torno de 70% da população, passando para
30% do total da população na década de 1990 (SAUER, 2008; BALESTRO & SAUER,
2013).
A modernização conservadora da agricultura estimulou fortemente a concentração
fundiária, decorrente, sobretudo, da apropriação das regiões de fronteiras agrícolas por
grandes empresários interessados na especulação fundiária. Tal processo agravou as disputas
por terra em todo o país, gerando e ampliando antigos e novos conflitos no campo (SAUER,
2008; BALESTRO & SAUER, 2013).
O modelo convencional, mediante a apropriação do conceito de desenvolvimento,
definiu e impôs como progresso para o meio rural a “homogeneização sociocultural”, motivo
que acarretou perda de conhecimento tradicional construído historicamente na interação entre
homem e natureza nos diversos agroecossistemas (GUZMÁN CASADO et al., 2000).
A simplificação extremada dos agroecossistemas, induzida pelas práticas produtivas
características da Revolução Verde, acarretou impactos ambientais negativos em diferentes
regiões do país, tais como: degradação dos solos; comprometimento da qualidade e da
quantidade dos recursos hídricos; devastação de florestas e campos nativos; empobrecimento
da diversidade genética das culturas e contaminação de alimentos consumidos pela população
(ALMEIDA et al., 2001).
A introdução recente de novas biotecnologias, em especial a engenharia genética
através dos Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), está pautada na mesma
perspectiva de modernização conservadora e representa um aprofundamento das bases
orientadoras da implantação da Revolução Verde (BALESTRO & SAUER, 2013).
Na atualidade, o chamado agronegócio, constitui-se a continuidade da lógica da
modernização conservadora da agricultura, construída sob as bases dos pacotes tecnológicos
da Revolução Verde. Como apontam Machado & Machado Filho (2014),
A essência da “revolução verde”, hoje gerida explicitamente pelo capital financeiro,
que controla o pequeno grupo de multinacionais que detém a patente das sementes e
a produção de fertilizantes e agrotóxicos, é mudar o ambiente e implantar as imensas monoculturas, incorporando grandes contingentes energéticos, via ‘insumos
modernos’, produtos do petróleo, todos produzidos pelas multinacionais que, por
sua vez, são controladas pelo capital financeiro que, assim, realiza a reprodução do
capital em um novo segmento econômico, o agronegócio ou agricultura industrial. (Machado; Machado Filho, 2014 p. 54).
A crescente contradição ocasionada pelo modelo agrícola convencional leva a um
descompasso entre a produção de alimentos e as necessidades básicas da população, que
ocorre em grande medida, devido à ruptura do processo de evolução simultânea dos
elementos “sociedade-natureza”. Os sistemas agroalimentares são dominados por grandes
empresas transnacionais comandadas por grandes corporações sendo totalmente globalizados
e voltados para geração de lucro e acumulação de capital (CAPORAL, 2009).
As ações voltadas para o fortalecimento desses sistemas agroalimentares resultam, em
grande medida, na subordinação da agricultura familiar às grandes cadeias agroindustriais,
fragilizando diversas dimensões (econômica, cultural, política, produtiva, dentre outras) das
13
famílias agricultoras (PETERSEN, 2012). Para Caporal (2009), atualmente ocorre uma perda
de valores socioculturais e ambientais, que anteriormente contribuíam para orientar a
produção de alimentos e de consumo e garantiam maior equilíbrio dos agroecossistemas como
forma de possibilitar a própria sobrevivência.
Dados da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) chamam a atenção para a
quantidade de agrotóxicos utilizados no Brasil, o que transformou o país no maior consumidor
mundial desde o ano de 2008. Destaca-se que o consumo nas lavouras saltou de 599,5
milhões de litros no ano de 2002 para 852,8 milhões de litros em 2011, principalmente nas
culturas de soja, milho e cana, para exportação ou transformação industrializada no País.
Todavia, os alimentos básicos (arroz, feijão, mandioca, dentre outros) também estão sendo
contaminados (ALENTEJANO, 2014).
Decorrente da crescente percepção acerca dos impactos do processo desencadeado
pela agricultura moderna sobre a sociedade, sobretudo nos aspectos ambientais, surge a noção
de sustentabilidade. O conceito foi difundido pelas organizações internacionais a partir da
publicação do relatório da Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento7
(CMMAD), também conhecido como relatório de Brundtland em 1987 (CMMAD, 1987).
Para Moreira & Carmo (2004), o conceito difundido pelo relatório, é a convergência
de uma variedade de concepções para o entendimento de desenvolvimento sustentável como
um sinônimo de crescimento econômico sustentável, e apresenta um discurso de
características “ecotecnocráticas”, amparado pelas dimensões ecológica, social e econômica.
Caporal (2009) chama atenção para o discurso equivocado e reducionista da noção de
desenvolvimento sustentável a partir de uma visão “ecotecnocrática”, e enfatiza a necessidade
de uma visão ampla com base nos princípios da agroecologia e com uma postura mais
humana nas estratégias de desenvolvimento. Tal posicionamento é elucidado quando o autor
aborda a referida questão, utilizando-se da expressão “agriculturas mais sustentáveis” assim
como “desenvolvimento mais sustentável”.
Para Caporal (2009), a construção da chamada agricultura mais sustentável precisa ter
presente as dimensões ecológicas, econômicas, sociais, políticas, culturais e éticas da
sustentabilidade. Esse autor também enfatiza que tais aspectos implicam diretamente em
mudanças estruturais, dentre as quais se destaca a reforma agrária e o acesso aos meios
adequados de produção. Implica, também, em garantias de acesso aos direitos básicos de
cidadania e na igualdade de gênero, raça e etnia.
O conceito de desenvolvimento sustentável proposto por Sevilla Guzmán (2001) está
calcado nos princípios da agroecologia e se baseia no potencial dos elementos de resistência
locais, frente às consequências da modernização conservadora, para o desenvolvimento de
estratégias a partir da realidade e identidade de cada local.
De acordo com Gliessman (2001), são necessárias estratégias para que ocorram
mudanças nos complexos sistemas sociais e ecológicos, com vistas a uma agricultura
verdadeiramente sustentável. Dessa forma, é central uma abordagem científica para o
desenvolvimento de bases fundamentadas na realidade socioeconômica, cultural e ambiental
de cada localidade, com base na agroecologia.
7 A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) foi criada pela Organização das
Nações Unidas (ONU) e foi presidida pela Primeira-Ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland. Essa
Comissão, em 1987, publicou o documento Our Common Future (Nosso Futuro Comum) ou, como é bastante
conhecido, Relatório Brundtland, onde o conceito de desenvolvimento sustentável é definido como: “Em
essência, o desenvolvimento sustentável é um processo de mudança no qual a exploração de recursos, a direção
dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e
reforçam o potencial presente e futuro para atender as necessidades e aspirações humanas” (CMMAD, 1987, p. 43).
14
Altieri (2012) enfatiza que uma verdadeira sustentabilidade será obtida quando os
agricultores e agricultoras tiverem acesso aos bens naturais (terra, biodiversidade, água), a
tecnologias apropriadas de acordo com localidade, o acesso às diversas formas de mercado
(pautado em circuitos curtos), e que por meio de ações conscientes e da própria organização
assegurem o controle dos recursos que lhes garantam a reprodução da vida.
O “desenvolvimento mais sustentável” requer a criação de mecanismos para o
fomento e estímulo da produção sustentável por meio políticas e estratégias com vistas a
garantir a soberania alimentar, respeitando a realidade e diversidades da população
(CAPORAL, 2009).
Os movimentos pertencentes à organização internacional Via Campesina8 apontam
que:
É direito dos povos definir suas próprias políticas e estratégias sustentáveis de
produção, distribuição e consumo de alimentos que garantam o direito à alimentação
a toda a população, com base na pequena e média produção, respeitando suas
próprias culturas e a diversidade dos modos camponeses de produção, de
comercialização e de gestão, nos quais, a mulher desempenha um papel fundamental
(MPA, 2016).
O atual modelo de desenvolvimento pautado no paradigma da agricultura moderna
tem enfrentado crises e ao mesmo tempo processos de resistências, onde diversas concepções
deram ênfase para a importância da contribuição da agricultura de base familiar e da
sociobiodiversidade. Nessa perspectiva, o tema da agroecologia tem conquistado espaço na
direção de um desenvolvimento sustentável (SAUER, 2013).
2.4. Processo Histórico e a Construção das Bases Agroecológicas
A partir de críticas ao processo de modernização da agricultura, diversos setores
questionaram os métodos reducionistas da Revolução Verde, surgindo movimentos
contestatórios, conhecidos por diferentes nomes: agricultura orgânica, agricultura biológica,
agricultura natural, agricultura ecológica. Todos eles são chamados de alternativos em
detrimento ao modelo de desenvolvimento convencional (MACHADO & MACHADO
FILHO, 2014).
Os primeiros desses movimentos alternativos datam do início do século 20, época em
que a agricultura convencional começava sua disseminação mais intensa em diversos países
(JESUS, 2005).
O termo agroecologia é utilizado pela primeira vez na década de 1930, para designar a
associação da ecologia com a agricultura, que passou a ser entendida na época como
“ecologia aplicada”. Até então, o conhecimento científico ecológico estava voltado para os
sistemas naturais, enquanto a ciência agronômica estava voltada para o estudo de sistemas de
produção agrícolas (COSTA NETO & CANAVESE, 2002).
O uso do termo agroecologia foi popularizado na década de 1980, a partir dos
trabalhos de Miguel Altieri e, posteriormente, de Stephen Gliessman, pesquisadores
8 A Via Campesina é um movimento internacional com participação de 164 organizações em 73 países, que
reúne; pequenos e médios produtores, sem terra, povos indígenas, migrantes e trabalhadores agrícolas em todo o
mundo. No Brasil, compõe a Via Campesina as seguintes organizações: Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST), Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), Movimento de Atingidos por Barragens
(MAB), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Pastoral da Juventude Rural (PJR), Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP), Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas (CONAQ)
(VIA CAMPESINA INTERNACIONAL, 2016).
15
atualmente conhecidos como os principais formuladores da “vertente americana” da
agroecologia. Outra importante vertente é conhecida como “escola europeia”, surgida em
Andaluzia, Espanha, buscando uma caracterização agroecológica do campesinato com um
olhar mais sociológico, e seus principais formuladores são Eduardo Sevilla Guzmán e Manuel
González de Molina (GUHUR & TONÁ, 2012).
Autores como Altieri (2012) e Gliessman (2001), no início dos anos 1980, começaram
a pautar e defender a agroecologia como base conceitual que disponibiliza princípios para
implantação de agroecossistemas sustentáveis, incorporando elementos sociais, culturais e
ambientais. Nesse período, o tema da agroecologia passou a ter crescente influência sobre o
conceito de sustentabilidade na agricultura.
Segundo Gliessman (2001), a agroecologia continua a fazer conexão entre fronteiras
estabelecidas. Por um lado, é o estudo de processos econômicos e de agroecossistemas, por
outro é um agente para as mudanças sociais e ecológicas. Para Altieri (2012), a agroecologia
emerge como uma disciplina que disponibiliza os princípios ecológicos básicos sobre como
estudar, planejar e manejar agroecossistemas que sejam produtivos e ao mesmo tempo
conservem os recursos naturais, assim como sejam culturalmente adaptados e social e
economicamente viáveis.
De acordo com experiências acumuladas em comunidades rurais da Andaluzia,
Espanha, Sevilla Guzmán (1999) aponta que a agroecologia pode ser compreendida como o
manejo ecológico dos recursos naturais através de formas de ação social coletiva, que
representam alternativa em relação ao atual modelo de desenvolvimento, através de propostas
de cunho participativo, reconhecendo o potencial endógeno das comunidades. O autor aponta
que ações político-produtivas praticadas nessas comunidades se aproximam, na essência, com
a proposta agroecológica que surge na América Latina.
No Brasil, o movimento apenas tomou impulso mais decisivo a partir da década de
1970 (JESUS, 2005). No entanto, passou a ser uma referência conceitual e metodológica a
partir do início da década de 1990 (SCHMITT, 2013).
A abordagem, que traz em seu cerne uma crítica aos impactos socioambientais gerados
pelo processo de modernização da agricultura brasileira, teve como precursores uma parcela
da sociedade civil ligada à chamada “agricultura alternativa”. A tradução e publicação no
Brasil, em 1989, do livro “Agroecologia: as bases científicas da agricultura alternativa”, de
Miguel Altieri, foi um marco importante na concepção da agroecologia no Brasil
(PETERSEN, 2012; SCHMITT, 2013).
No final da década de 1990, o debate da agroecologia é incorporado como estratégia
política pelos movimentos sociais populares do campo, em especial aqueles vinculados à Via
Campesina, desenvolvendo ações importantes (jornadas, encontros, congressos, campanhas,
experiências produtivas, dentre outras) que tem contribuído na consolidação de referências no
campo agroecológico (GUHUR & TONÁ, 2012).
Para Caporal (2009), a agroecologia deve ser compreendida como um novo paradigma
em construção, pautado em um campo do conhecimento científico. O autor propõe que esse
enfoque científico passe a reorientar processos produtivos e estratégias de desenvolvimento
mais condizentes com a realidade sociocultural e ambiental e que possa auxiliar na redução
dos impactos negativos promovidos pela agricultura convencional.
A estratégia para uma agricultura mais sustentável, que tenha por base os princípios da
agroecologia, necessita considerar as diversas dimensões que se interrelacionam numa
perspectiva transformadora, sendo: Ecológica - pautada na preservação e conservação da base
dos recursos naturais; Social - com a garantia de melhor qualidade de vida e menor
desigualdade social; Econômico - que seja favorável aos agricultores e compreendido como
elemento estratégico; Cultural - que valorize os saberes e conhecimentos locais; Político -
como fator de fortalecimento das organizações dos agricultores e dos processos participativos;
16
e Ético - pela solidariedade e por maior igualdade no acesso aos bens necessários para uma
vida digna (CAPORAL & COSTABEBER, 2002).
A ciência agroecológica, para Assis & Romeiro (2002), resgata, sob novas bases
tecnológicas e econômicas, a lógica da complexificação das sociedades camponesas
tradicionais e seus conhecimentos desprezados pela agricultura moderna como forma de
vencer o desafio de estabelecer uma agricultura sustentável.
Através de suas bases técnico-científica, a agroecologia subsidia outro modelo de
produção e aponta para a necessidade de se repensar, numa perspectiva sustentável, formas de
desenvolvimento rural (SEVILLA GUZMÁN, 2001). Para o autor, a agroecologia, considera
e legitima a diversidade ecológica e sociocultural dos agricultores e enfatiza a necessidade de
gerar um conhecimento holístico que tenha origem nas culturas locais.
Segundo Caporal (2009), existe uma complexidade nos processos socioculturais,
econômicos e ecológicos envolvidos, que reforçam a natureza científica da agroecologia.
Assim, para que os princípios da agroecologia sejam colocados em prática, devem ser
considerados os requisitos de equidade social, a preservação e recuperação dos recursos
ambientais locais, os aspectos culturais e os processos organizativos dos atores envolvidos.
A realização das Jornadas de Agroecologia no estado do Paraná, a partir do ano de
2002, tem sido considerada como um marco importante dentro do chamado “campo
agroecológico” para os movimentos/organizações sociais (Movimentos Sociais do Campo,
Organizações da Agricultura Familiar e de Assessoria), principalmente para o MST
(Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). A atividade é fruto de esforços entre
diversas organizações que por anos, desenvolveram experiências agroecológicas no Sul do
Brasil, através da articulação de produtores, organização de eventos, de formação de núcleos
familiares de produção agroecológica, redes de comercialização, capacitação de agricultores e
técnicos e no desenvolvimento de materiais didáticos e cartilhas, dentre outros
(GONÇALVES, 2008). Realizadas há mais de uma década, as Jornadas apresentam-se como
uma síntese da construção das bases agroecológicas e embate ao modelo de desenvolvimento
vigente, consolidando-se como espaço político, de formação e intercâmbio nos territórios dos
agricultores com abrangência e participação em nível internacional (GONÇALVES, 2008;
HADICH, 2016).
Altieri (2012) destaca quatro razões que contribuem para compreender a adoção da
agroecologia como estratégia política pelos movimentos/organizações sociais, sendo: pelo seu
caráter mobilizador, já que requer a participação direta dos agricultores e agricultoras;
reconhece a importância do conhecimento tradicional e promove o diálogo de saberes;
possibilita o desenvolvimento de ações e técnicas economicamente viáveis com base no uso
do conhecimento local, evitando a dependência de insumos externos; e favorece a melhoria
dos sistemas produtivos através de diversos elementos, sendo considerada ecológica “per se”.
Alentejano (2014), ao discutir sobre o tema da agroecologia na atualidade, aponta que
os principais desafios para o desenvolvimento da agroecologia passam pela compreensão da
natureza da questão agrária brasileira diretamente associada ao atual modelo de
desenvolvimento, uma vez que, conforme os princípios que formam a base da agroecologia
torna-se contraditório dissociá-la do tema da reforma agrária e do fortalecimento da
agricultura familiar.
Costa Neto & Canavesi (2002), em virtude de pesquisas realizadas em torno de
projetos e ações desenvolvidas em assentamentos, formulam o que denominam de “Reforma
Agrária Agroecológica no Brasil”, com o intuito de discutir sobre a necessidade e importância
de compreender a lógica da organização politica-produtiva-cultural dos assentamentos a partir
dos princípios da agroecologia. Esses autores apontam que, ao longo do tempo a resposta
poderá ser favorável, desde que se leve em consideração o caráter “multidimensional da
sustentabilidade” em geral, e particularmente nos assentamentos de reforma agrária.
17
Os assentamentos no Brasil representam na atualidade um importante espaço para a
adoção de ações com base nos princípios agroecológicos em virtude de suas características
que lhes possibilitam o trabalho com base familiar, relações associativas e cooperativas e a
preocupação ambiental (COSTA NETO & CANAVESI, 2002).
Todavia, há que considerar, no contexto dos assentamentos, os diversos fatores
socioeconômicos e político-organizativos, que interferem diretamente na transposição dos
princípios da agroecologia, ou seja, na passagem do plano da proposta para a prática cotidiana
dos agricultores assentados, e enfatiza-se a necessidade de incentivo à criação de programas
de fomento para disseminar, multiplicar e massificar ações que tenham por base os princípios
da agroecologia, realizar investimentos para geração de tecnologias e conhecimentos
adaptados à realidade dos agricultores considerando as dimensões cultural, social, econômica
e ambiental dos assentamentos, com garantia de trabalho e renda (GOMES & SILVEIRA,
2002; GONÇALVES, 2008).
Nessa perspectiva, compreendendo a complexidade dos desafios apontados e
utilizando como ponto de partida os princípios e métodos que formam a base da agroecologia,
torna-se cada vez maior a necessidade de meios que contribuam para construir e fomentar
ações a partir da realidade dos assentamentos e seus territórios.
2.5. Agroecossistemas e as Estratégias de Manejo
Para Altieri (2012) e Caporal & Costabeber (2002), a agroecologia proporciona as
bases científicas para apoiar o processo de mudanças e considera o agroecossistema como
sua unidade de análise. Para tal, é fundamental no contexto do desenvolvimento de práticas
mais sustentáveis que tenham por base os princípios da agroecologia, conhecer os
componentes e o funcionamento do agroecossistema.
O conceito de co-evolução entre os aspectos naturais e sociais é considerado de
extrema importância para a agroecologia. Esses elementos contribuem para o entendimento
que a estrutura interna dos agroecossistemas é resultado da co-evolução entre sociedade e
natureza (CASADO et al., 2000).
Um agroecossistema possui um determinado sistema de produção em uma parcela de
terra, que apresentam, através de diversas atividades, resultados físicos, biológicos e
socioeconômicos, conforme o manejo realizado e de acordo com as condições materiais e
interesse de cada agricultor (CONWAY, 1993; CASALINHO, 2003).
Apresentam componentes abióticos e bióticos, onde os diversos organismos vivos
interagem com o ambiente, objetivando a produção para consumo e utilização humana. Cada
local possui uma determinada configuração de agroecossistema, resultante das variações de
clima, solo, relações econômicas, estrutura social e histórica. Desta forma, em cada região
pode-se encontrar agroecossistemas convencionais ou tradicionais que podem ter alta ou
baixa tecnologia (ALTIERI, 2012).
Para Casalinho (2003), torna-se importante fomentar ações que possibilitem a
compreensão dos agroecossistemas na sua totalidade, a partir do conjunto indissociável e
indivisível das relações homem-animal-recursos naturais e suas inter-relações, de forma
integrada, procurando identificar os fatores limitantes ou potenciais para o seu
desenvolvimento.
Existem muitos agroecossistemas de base familiar que se encontram subordinados à
lógica do pacote tecnológico da Revolução Verde e da simplificação dos sistemas produtivos,
mas também existem muitos sistemas tradicionais complexos. Nesse sentido, é importante
que através dos pilares que sustentam as bases da ciência da agroecológica, esta possa garantir
o fortalecimento da agricultura familiar, para que avance na construção de agroecossistemas
18
produtivos e sustentáveis, que garantam as necessidades humanas e a recuperação e
conservação dos recursos naturais para as gerações atuais e futuras (MONTEIRO, 2012).
Ao se discutir sobre as bases agroecológicas, torna-se cada vez mais evidente que o
desenvolvimento de uma agricultura sustentável está relacionado às transformações da
sociedade na sua totalidade, advento que aponta para a impossibilidade de considerar a
agroecologia como simples substituição de insumos industriais vinculados aos modelos da
Revolução Verde, por insumos mais ecológicos ou por práticas mais sustentáveis (MOREIRA
& CARMO, 2004).
Nessa perspectiva, Altieri (2012) propõe que o planejamento de agroecossistemas deve
estar orientado pela redução do uso de insumos externos e pela diversificação no tempo e no
espaço do emprego de espécies e de recursos genéticos, que possibilitem o aumento da
matéria orgânica no solo, a integração com animais e a otimização dos recursos locais.
A manutenção da fertilidade do solo e da saúde dos cultivos é essencial nesse
contexto, e depende de uma série de medidas complementares. Dentre elas, destacam-se o
aporte de biomassa e a adoção de práticas que promovam a diversidade biológica, estratégias
que constituem os principais elementos para o constante equilíbrio dos sistemas e,
consequentemente, do solo e das culturas (RESENDE & VIDAL, 2008).
O desafio de construir estratégias produtivas com base nos princípios da agroecologia
deve considerar a construção de práticas agrícolas que se fundamentam na contramão dos
pacotes da agricultura moderna convencional, que dialoguem com a importância da
construção do conhecimento numa perspectiva integrada, sistêmica e multidisciplinar, que
otimizem os recursos disponíveis na unidade produtiva e garantam a valorização do
conhecimento acumulado historicamente pelos agricultores (CANELLAS et al., 2005).
De acordo com Altieri (2012) e Caporal (2009), a construção de alternativas técnico-
produtivas com bases agroecológicas deve primar pela busca de maior complexidade nos
agroecossistemas, objetivando a regeneração, manutenção e a ampliação da
agrobiodiversidade, potencializando processos auto-regulatórios nos sistemas produtivos.
Resende & Vidal (2008) chamam a atenção para a importância dos agricultores em
preocupar-se com a diversificação da paisagem na totalidade de sua unidade produtiva, de
forma a procurar o equilíbrio entre os seres vivos. Destacam a importância da inserção de
espécies com diversas funções em busca do equilíbrio dos sistemas de produção e do
agroecossistema como um todo. Nesse contexto, cabe a inclusão de espécies de interesse
econômico, alimentar, arbóreas, medicinal, dentre outras, buscando a sustentabilidade da
unidade produtiva, com a inserção de características de que se aproximem em ecossistemas
naturais.
Para Calegari (2008), atualmente tem-se intensificado a discussão sobre a necessidade
de agroecossistemas produtivos e ao mesmo tempo sustentáveis em longo prazo. Para o
alcance de tais aspectos, é necessário priorizar a integração de sistemas que possibilitam
maior biodiversidade; reciclagem e aproveitamento de nutrientes e manutenção e/ou
recuperação das características químicas, físicas e biológicas do solo. Como exemplo nesse
sentido, destacam-se as práticas como o plantio direto, a adubação verde e rotação de culturas,
dentre outras.
Cada agroecossistema é composto por diferentes interações e formas de manejo e,
consequentemente, diversas relações ambientais. Esse fato reforça que os arranjos,
organização e planejamento dos sistemas produtivos são específicos e devem considerar a
realidade de cada local (ALTIERI, 2012).
19
2.6. Adubação Verde e a Dinâmica dos Sistemas Produtivos
A adubação verde é uma prática agrícola que se baseia na utilização de espécies em
rotação ou em consórcio com culturas de interesse econômico. Essas plantas podem ser de
ciclo anual, semi-perene ou perene e podem ser utilizadas de forma a serem incorporadas ou
roçadas para manutenção em cobertura, proporcionando de forma geral, melhores condições
do solo (ESPINDOLA et al., 1997; ESPINDOLA et al., 2004).
Utilizada por muitos povos na agricultura, a adubação verde é uma prática milenar.
Com o advento da modernização da agricultura que estimulou a mecanização, a adubação
mineral e a utilização de agrotóxicos, muito agricultores foram levados a abandonar essa
prática (CALEGARI et al., 1993).
Existem diversas espécies que podem ser cultivadas e empregadas como adubos
verdes, mas as leguminosas, por proporcionarem ao mesmo tempo aporte grande de biomassa
vegetal ao solo e formarem associação simbiótica com bactérias fixadoras de nitrogênio
atmosférico dos gêneros Rhizobium e Bradyrhizobium, adquirem notável importância para a
adubação verde (ESPINDOLA et al., 1997; ESPINDOLA et al., 2004).
A prática da adubação verde tem se mostrado promissora em processos de transição
para sistemas produtivos mais sustentáveis, pois sua utilização apresenta baixo custo. Por não
exigir grandes investimentos, tem apresentado resultados importantes, principalmente em
unidades produtivas com baixo aporte de nutrientes (FEIDEN et al., 2008).
Conhecida pelas suas múltiplas funções, a prática da adubação verde, além da adição
de nitrogênio ao sistema, promove benefícios sobre características químicas, físicas e
biológicas dos solos, assim como contribui para o aumento da diversidade biológica,
favorecendo mudanças expressivas no funcionamento dos agroecossistemas, influenciando na
dinâmica populacional de plantas espontâneas, de insetos praga, inimigos naturais, parasitas e
fitopatógenos (ESPINDOLA et al., 2004, 2005).
Dentre os benefícios químicos, físicos e biológicos do uso frequente de adubos verdes,
sobre a fertilidade do solo estão: a maior capacidade de troca catiônica – CTC, manutenção da
umidade, melhoria da estrutura, proteção contra a lixiviação, maiores disponibilidades de
nutrientes principalmente aporte de Nitrogênio (N), quando trata de leguminosas, por meio do
processo de Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) e o acúmulo de P (fósforo), quando
cultivadas em solo com baixa disponibilidade desse elemento (BALIEIRO et al., 2013). Além
disso, podem promover alterações no teor e na qualidade da matéria orgânica do solo, ao
longo dos anos (CANELLAS et al., 2004).
A utilização de leguminosas favorece as bactérias fixadoras de nitrogênio e o aumento
na população de fungos micorrízicos nativos do solo (ESPINDOLA et al., 1997). Outros
organismos que se beneficiam com a prática e merecem atenção são as minhocas, que
segundo Calegari et al. (1993), melhoram as condições do solo, atuando na redistribuição de
resíduos, na abertura de canais que permitem maior aeração, infiltração de água e penetração
do sistema radicular das culturas. Além disso, as minhocas têm potencial para ser um
indicador de qualidade do solo, uma vez que podem ser observadas a olho nu (MERLIM et
al., 2005).
Para garantir o desempenho e a eficiência dos adubos verdes nos agroecossistemas, é
essencial que as espécies sejam adequadas às características de cada local e orientada através
do planejamento, sendo necessário o conhecimento das espécies a serem utilizadas, as
condições edafoclimáticas, o histórico da localidade e a intencionalidade da utilização da
prática, tais como: suprimento de N, descompactação, aumento de C orgânico do solo,
diminuição de pragas e doenças, controle de invasoras, dentre outras (CALEGARI, 2008).
20
Tabela 2. Características de espécies de leguminosas empregadas como adubos verdes.
Espécie
Ciclo
Hábito de
Crescimento
Comportamento
Ecofisiológico
Nome
Vulgar
Nome
Científico
Crotalária Crotalaria
juncea
Anual Ereto
Adaptadas às condições de
baixa fertilidade do solo
Mucuna
Preta
Mucuna
aterrima
Anual Volúvel
Feijão de
Porco
Canavalia
ensiformis
Anual Ereto
Guandu Cajanus cajan Semi-
perene
Ereto Adaptadas às condições de
baixa fertilidade do solo e
de reduzida umidade Feijão bravo
do Ceará
Canavalia
brasiliensis
Anual Volúvel
Feijão Caupi Vigna
unguiculata
Anual Volúvel Adaptadas às condições de
reduzida umidade Fonte: Espindola et al. (2005).
O uso de adubos verdes, a exemplo do guandu, em virtude do seu sistema radicular
bem desenvolvido, possibilita que o enraizamento ocorra em maiores profundidades, mesmo
quando existe camada de maior resistência à penetração no solo. Essas características
contribuem para reduzir o efeito da compactação do solo e favorecem a absorção de água e a
ciclagem de nutrientes das camadas mais profundas (ALVARENGA et al., 1995).
Alguns adubos verdes como guandu e caupi apresentam múltiplas funções no sistema
produtivo, por apresentarem elevado valor nutritivo e sementes com alto teor de proteínas,
podendo ser utilizados na alimentação animal e humana (CALEGARI et al., 1993).
Para Favero et al. (2001), o uso de adubos verdes, em especial as leguminosas,
apresentam bons resultados para o controle de plantas espontâneas, devido aos efeitos
alelopáticos de determinadas espécies, à competição por luz, água, oxigênio e nutrientes,
aspectos que provocam alterações na dinâmica de sucessão das espécies espontâneas. Os
autores concluem que a mucuna preta demonstra alto potencial de supressão de plantas
espontâneas, em virtude de sua capacidade de recobrir o solo e dificultar o desenvolvimento
das plantas espontâneas.
A decomposição de adubos verdes favorece a redução de populações de fitopatógenos
fúngicos e no controle de nematoides (ARF et al., 1999; SANTOS, 2009). Em trabalho
realizado para verificação de efeito de determinadas plantas no controle de fitonematóides,
Moraes et al. (2006) destaca que a utilização de mucuna preta e Crotalaria juncea reduz
significativamente a população de nematóides de galhas (Meloidogyne spp) em cultivos de
hortaliças.
O uso de leguminosas na cobertura do solo tem sido recomendado para o cultivo de
banana. A prática aumentou a quantidade de nutrientes no solo e reduziu o número de
capinas. Tem-se utilizado, de modo geral, o feijão de porco, soja perene, crotalaria, guandu e
leucena, com destaque para o feijão de porco que tem sido o mais utilizado (ALVES, 2003).
Alvarenga et al. (1995) destaca que o feijão de porco pode ser qualificado como uma espécie
rústica e precoce, tendo se mostrado ideal para utilização em consórcios com diversas
espécies de interesse econômico.
21
Mercante et al. (2012), ao analisar o Índice de Equivalência de Área (IEA)9 para
comparação entre consórcios e monocultivo de milho, avaliou que os consórcios de milho
com guandu, crotalária, feijão-de-porco e mucuna-preta, demostrou ser uma prática vantajosa
do ponto de vista produtivo e promissora para sistemas de produção com baixo aporte de
insumos externos.
Em sistema de consórcio com mandioca, Devide (2006), demonstrou o potencial do
feijão caupi no controle da erosão do solo e de plantas espontâneas, devido à habilidade
daquela leguminosa em cobrir por completo as entrelinhas da mandioca. Esse autor também
enfatiza que o estabelecimento de consórcios utilizando culturas de valor econômico e adubos
verdes visa, além de proporcionar uma renda adicional e melhorar a cobertura do solo,
contribuir para o aporte de nutrientes e matéria orgânica, assim como a distribuição da força
de trabalho.
Para a utilização de adubos verdes, devem ser consideradas as necessidades de cada
agroecossistema e podem ser utilizados a partir de diferentes arranjos. Contudo, é
fundamental que seja garantida a sincronização entre os ciclos da leguminosa com a cultura
de interesse econômico, de modo a evitar competições por água, luz e nutrientes, bem como o
manejo da biomassa e a decomposição do adubo devem estar sincronizados com período de
maior demanda da cultura econômica (ESPINDOLA et al., 2005).
Os efeitos de sua utilização nas propriedades do solo variam em decorrência de
diversos fatores e da integração entre eles, tais como: a espécie utilizada, o manejo dado à
biomassa, a época de plantio e o corte do adubo verde, o tempo de permanência dos resíduos
no solo e as condições de cada agroecossistema (ALCANTARA et al., 2000).
Em determinados casos, recomenda-se a utilização do consórcio de gramíneas e
leguminosas, ou ainda a mistura de diversas espécies, pois essa integração, além de melhorar
as propriedades físicas do solo, produz resíduos de relação C/N intermediária, o que favorece
a mineralização de N e promove maior equilíbrio e acúmulo de C no solo (GIACOMINI et
al., 2003; CALEGARI, 2008).
A produção de alimentos, aliada a práticas mais sustentáveis que considerem o
cuidado com os recursos naturais, a biodiversidade e as condições de sobrevivência das
famílias agricultoras, vem sendo experimentada em vários lugares e mostra que é possível
conduzir agroecossistemas mais equilibrados e produtivos.
O uso da adubação verde a partir de uma estratégia de utilização nos sistemas
produtivos pode contribuir para uma agricultura mais sustentável, baseada na integração entre
a manutenção da produtividade agrícola, a regeneração da fertilidade do solo, a ciclagem de
nutrientes e a diversificação das culturas.
2.7. Ferramentas Metodológicas e a Participação dos Atores Sociais
Para o desenvolvimento de estudos, pesquisas e práticas na perspectiva da construção
do conhecimento que tenham por base os princípios da agroecologia, tem se evidenciado a
partir de diversas experiências desencadeadas em assentamentos a necessidade de considerar a
heterogeneidade e complexidade desses territórios nos diversos aspectos: ambiental,
socioeconômico, cultural, político e territorial.
Para Sevilla Guzmán (2001), ferramentas participativas com base nos princípios da
agroecologia são importantes na geração de elementos para o desenho de métodos de
desenvolvimento com base na realidade. Nesse sentido, o método participativo contribui para
9 Equivalência de Área (IEA) é a relação entre a área cultivada em consórcio e uma área em monocultivo, necessária para alcançar a mesma produtividade, sob o mesmo manejo (FAGERIA, 1989; MERCANTE et al.,
2012).
22
o desenvolvimento de tecnologias agrícolas e fortalece a capacidade local de experimentação
e inovação dos agricultores, conforme a realidade de seus agroecossistemas.
Tais aspectos apontam para o desafio de construir agroecossistemas saudáveis que
considerem o ambiente cultural da “agricultura camponesa”, seus conhecimentos sobre os
ecossistemas e as agriculturas, reconhecendo a necessidade de resgatar e ressignificar, por
meio de interações entre os saberes populares e os construídos nas instituições de ensino e
pesquisa (MONTEIRO, 2012).
Canuto (2005) aponta que a concepção de métodos de pesquisa participativa em
agroecologia deve ser definida pelas condições da realidade a partir das diversas
características sociais, econômicas e ecológicas das comunidades. Destaca ainda, que o
processo é desafiador no sentido da necessidade da integração da complexidade social e
ecológica.
Experiências denominadas “Diálogos de Saberes” vêm sendo desenvolvidas em
assentamentos de reforma agrária do estado Paraná com o objetivo de orientar o
desenvolvimento de estratégias com bases agroecológicas (TONÁ & GUHUR, 2009). Com
base nos resultados dessas experiências, os autores apontam para a importância do
estabelecimento do diálogo entre técnicos e camponeses, enquanto “sujeitos educando –
educadores” em busca de instrumentos de compreensão e planejamento dos agroecossistemas
nas unidades familiares e/ou coletivos, partindo da compreensão histórica dos indivíduos e
dos movimentos sociais envolvidos, a fim de identificar as potencialidades e limites locais de
modo a fomentar a experimentação em agroecologia.
O monitoramento e avaliação de práticas agrícolas utilizando espaços que possibilitem
a experimentação, na perspectiva da discussão do caminho para a agricultura mais
sustentável, tornam-se importantes e necessários, tanto no que se refere aos efeitos sobre o
ambiente como sobre aspectos socioeconômicos (GUZMÁN CASADO et al., 2000). Todavia,
é preciso conhecer o significado da atividade agrícola para os agricultores, e para isso, é
necessária uma nova abordagem, que integre conhecimentos e contribua para compreender e
avaliar os efeitos das diferentes tecnologias (CASALINHO, 2003).
Metodologias objetivas para o entendimento de um agroecossistema estão sendo
experimentadas no contexto dos assentamentos, através de diagnósticos de agroecossistemas
por indicadores de sustentabilidade. Os resultados enfatizam a necessidade de se trabalhar
com indicadores de fácil compreensão e a metodologia deve garantir a participação dos
agricultores na construção dos indicadores, de forma que possam se apropriar do método
(CANUTO, 2005).
Para Guindani (1999), os indicadores são elaborados para cumprir com as funções de
simplificação, quantificação, análise e comunicação, permitindo facilitar a compreensão de
processo complexo, tornando-os mensuráveis e compreensíveis, de maneira tal que possam
ser analisados em diversos contextos.
Nicholls et al. (2004), em virtude do desenvolvimento do método denominado
“Avaliação Rápida da Qualidade do Solo e Sanidade dos Cultivos”, que permite identificar o
impacto do manejo do agroecossistema por meio de indicadores, enfatiza com base em
experiências realizadas junto a agricultores, a necessidade da aplicabilidade dos indicadores
conforme a realidade local, e justifica a importância e relevância do método: 1) Facilidade de
utilização pelos agricultores; 2) Facilidade de análise e interpretação; 3) Contribuição para
orientação nas tomadas de decisão; 4) Sensibilidade para a visualização de mudanças
ambientais e efeito da adoção de determinadas práticas de manejo dos sistemas produtivos; 5)
Estabelecimento de conexão entre propriedades físicas, químicas e biológicas dos solos; 6)
Possibilidade de relacionar os processos existentes nos agroecossistemas, como exemplo, os
diversos benéficos da agrobiodiversidade.
23
Segundo Verona (2008), ferramentas metodológicas que utilizam indicadores para
monitoramento e avaliação de sustentabilidade são consideradas fundamentais para a geração
de informações que possibilitam eleger as prioridades de mudanças, direcionando o melhor
caminho com propostas de desenvolvimento calcadas nos agroecossistemas locais, podendo
contribuir inclusive para o desenho de estratégias políticas e de planejamento mais
sustentável.
Embora as experiências com enfoque participativo venham se multiplicando e
ganhando crescente reconhecimento acadêmico e científico, nota-se que ainda há necessidade
de aprimoramento de metodologias a partir da percepção ambiental dos assentados para a
construção de conhecimentos que facilitem planejamentos produtivos mais sustentáveis nas
áreas de reforma agrária (MANCIO, 2008).
A construção do conhecimento, tendo os agricultores como sujeitos do processo
através do fortalecimento e validação de suas percepções sobre o significado de seu
agroecossistema, é fundamental e se constitui como elemento orientador para a execução de
pesquisas participativas. Tais pesquisas devem ser conduzidas numa proposta que possibilite
o fomento de ações com vistas a melhorias na qualidade de vida das famílias assentadas
(CASALINHO, 2003; VERONA, 2008).
Nessa perspectiva, Canuto (2011) enfatiza a necessidade de considerar a realidade
local complexa, facilitar a participação das comunidades e possibilitar o diálogo entre o
conhecimento científico e acumulado historicamente pelos agricultores. Construir ações dessa
natureza pode contribuir para que o agricultor exercite uma posição ativa, de pesquisador das
especificidades de seu agroecossistema, para desenvolver tecnologias apropriadas, não só às
condições ambientais (solo, relevo, clima e vegetação), mas também nas inter-relações entre
os aspectos ecológicos, sociais, econômicos e culturais (GUHUR & TONÁ, 2012).
O método da pesquisa-ação participativa, enquanto linha de pesquisa ligada às
diversas formas de ação social coletiva, traz à tona a necessidade da concepção metodológica
de construção do conhecimento estar alicerçada em situações sociais concretas
(THIOLLENT, 2005). O estabelecimento dos princípios da pesquisa-ação participativa
contribui para o intercâmbio de conhecimentos que permitem iniciar e desenvolver
experiências que exercitem um diálogo entre os agricultores e pesquisadores, utilizando
técnicas quantitativas e qualitativas de investigação social e/ou agronômica (GUZMÁN
CASADO et al., 2000).
Para Thiollent (2005), a concepção e organização do trabalho com base na pesquisa-
ação devem ser orientados a partir da análise e delineamento das questões abordadas junto à
comunidade. Como decorrência de elementos que surgem desse processo, é possível
potencializar ações a serem trabalhadas através da organização, planejamento, execução e
avaliação. Estas ações podem ser realizadas utilizando-se um conjunto de ferramentas
complementares, onde os agricultores e técnicos possuem papel fundamental na definição de
demandas, na socialização do conhecimento acumulado e na condução das ações propostas
(THIOLLENT, 2005; GUZMÁN CASADO et al., 2000; CANUTO, 2011).
Dentro de uma perspectiva que utiliza elementos para o desenho de sistemas
produtivos mais sustentáveis, onde o agricultor assume uma posição ativa de
pesquisador/experimentador, acredita-se que a orientação metodológica pode contribuir para
facilitar a construção dos meios para a reapropriação e/ou adoção de novas práticas e valores
baseados em princípios da agroecologia.
24
3 MATERIAL E MÉTODOS
Considerou-se para a condução e desenvolvimento das ações um conjunto de
ferramentas metodológicas, com base na pesquisa-ação, com vistas a conceber uma avaliação
da prática da adubação verde em Unidades Demonstrativas, onde os sujeitos da
experimentação foram os agricultores.
Ao longo deste trabalho, diversas questões foram levantadas, debatidas e analisadas. A
metodologia será apresentada a seguir, incluindo a descrição de algumas ferramentas
metodológicas que se fizeram necessárias para o desenvolvimento da proposta.
3.1. A Experimentação como Ferramenta Pedagógica
O diálogo sobre a possibilidade de utilizar a prática da adubação verde ocorreu junto
aos assentados da Cooperativa de Produtores Agroecológicos Terra Fértil - COOPATERRA.
Essa cooperativa surgiu a partir de um grupo de pessoas que desenvolviam, de forma coletiva,
a produção agrícola com base agroecológica no assentamento Terra Prometida. É constituída
por assentadas(os), agricultores familiares vizinhos ao assentamento, técnicos e estudantes
que buscam avançar nas práticas produtivas de base agroecológica, através de experiências
concretas.
A partir das necessidades produtivas das famílias assentadas os membros da
cooperativa indicaram pontos e questões que gostariam que fossem discutidos no contexto
desse trabalho. A proposta foi implantar Unidades Demonstrativas, como ferramenta de
experimentação da adubação verde consorciada com a mandioca.
Primeiramente, ocorreu a implantação de Unidade Demonstrativa (UD) na Fazendinha
Agroecológica Km 47, com o intuito de constituir um espaço didático e de análise
participativa com agricultores assentados em relação às práticas de manejo. Posteriormente,
foram implantadas duas Unidades Demonstrativas no assentamento, nos lotes das famílias
assentadas. Após o estabelecimento das UDs, utilizou-se como instrumento de avaliação e
monitoramento o método denominado de “Avaliação Rápido da Qualidade do Solo e
Sanidade dos Cultivos”, com intuito de avaliar, de forma participativa a UDs por meio de
indicadores de qualidade e solo e sanidade dos cultivos (ALTIERI & NICHOLLS, 2002;
NICHOLLS et al., 2004).
3.2. Implantação de Unidade Demonstrativa na Fazendinha Agroecológica
A implantação de uma Unidade Demonstrativa (UD) foi realizada no Sistema
Integrado de Produção Agroecológica (SIPA), também conhecido como Fazendinha
Agroecológica do Km 47, localizado no município de Seropédica, Região Metropolitana do
Estado do Rio de Janeiro. A Fazendinha Agroecológica foi criada em 1993, fruto de uma
parceria entre a Embrapa Agrobiologia, a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(UFRRJ) e a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (PESAGRO-
RIO), que no decorrer dos anos tem atuado como espaço para experiências em sistema
orgânico de produção, com base nos princípios da agroecologia, através do ensino, pesquisa e
extensão (ALMEIDA et al., 2003).
A Fazendinha Agroecológica situa-se sob a latitude 22º 45’ S e longitude 43º 41’ N. O
clima da região é quente e úmido, com inverno pouco acentuado. Na classificação de Köppen,
é caracterizado como Aw, com precipitação anual de 1.300 mm. Os solos mais comuns são
25
Argissolos Vermelho-Amarelos e Planossolos de baixa fertilidade natural (ALMEIDA et al.,
2003).
A implantação da UD foi realizada em maio de 2014, em uma área total de 680 m2,
sendo organizada em cinco parcelas. Para a organização e escolha das culturas e do manejo a
ser adotado, utilizaram-se elementos de discussão preliminar realizada junto à Coopaterra e
aos assentados, sendo a mandioca indicada como cultura de principal interesse.
Para a escolha dos adubos verdes a serem avaliados, foram levadas em consideração as
características de cada espécie, de acordo com as observações feitas pelos assentados e
experiências realizadas na Fazendinha Agroecológica. Foram utilizadas três cultivares de
mandioca (Manihot esculenta Crantz) - cv. IAC 576-70, cv. Saracura e outra obtida junto a
agricultores de Cachoeiras de Macacu. Para o milho (Zea mays), empregou-se a cv. Eldorado,
com intuito de obter espigas verdes e grãos secos. Para adubação verde, utilizaram-se três
leguminosas - feijão caupi (Vigna unguiculata) cv. Mauá, feijão de porco (Canavalia
ensiformis) e guandu (Cajanus cajan) cv. Porciúncula (Figura 1).
A proposta foi organizada nos seguintes arranjos: 1) Mandioca em monocultivo; 2)
Mandioca + Milho e Guandu + Feijão Caupi; 3) Mandioca + Milho e Guandu; 4) Mandioca +
Milho + Feijão de Porco; 5) Mandioca + Milho (Figura 1).
Figura 2: Arranjos espaciais, representando as parcelas avaliadas: 1) Mandioca em
Monocultivo; 2) Mandioca + Milho e Guandu + Feijão Caupi; 3) Mandioca + Milho e
Guandu; 4) Mandioca + Milho + Feijão de Porco; 5) Mandioca + Milho.
Utilizou-se, para o plantio da mandioca, manivas de 15 cm de comprimento e 2,0 cm
de diâmetro, colocadas em sulcos, a 10 cm de profundidade. Para a parcela de mandioca em
monocultivo, foram utilizadas fileiras simples, com espaçamento de 0,60 x 1,0 m e para as
demais parcelas consorciadas foram utilizadas fileiras duplas, com espaçamento de 0,60 x
0,50 x 2,00 m. Cada parcela foi composta por seis linhas de mandioca de 20 m lineares de
comprimento, sendo que nas parcelas consorciadas a área útil foi formada por duas linhas
centrais.
Os consortes foram semeados no mesmo dia, utilizando as seguintes densidades de
semeadura: Milho - 4 plantas m-1
, Guandu - 2 plantas m-1
, Feijão Caupi - 10 plantas m-1
e
Feijão de Porco - 12 plantas m-1
.
26
Para a adubação de plantio utilizou-se farinha de ossos (50g / planta de mandioca e de
milho) nos sulcos de plantio e duas adubações de cobertura com torta de mamona (20 N kg
ha-1 para mandioca e 60 N kg ha-1 para o milho), sendo a primeira aos 30 dias após o plantio
(DAP) e a segunda aos 45 DAP.
Foram realizadas capinas aos 30 DAP em todas as parcelas e aos 48 DAP e 67 DAP
foram realizadas capinas apenas nas parcelas de monocultura de mandioca. Realizaram-se
aplicações foliares com o produto comercial à base de Bacillus thuringiensis para o controle
de lagartas no milho, assim como com calda sulfocálcica para mosca branca no feijão caupi e
para ácaros na mandioca. A UD foi irrigada por aspersão durante todo período de
permanência, conforme a necessidade.
Figura 3: Unidade Demonstrativa implantada na Fazendinha Agroecológica, parcela
composta por: Mandioca + Milho + Feijão de Porco.
3.3. Avaliação de Unidade Demonstrativa na Fazendinha Agroecológica
Após o estabelecimento da UD, foi realizada uma atividade de campo com a
participação de sete agricultores e agricultoras do assentamento Terra Prometida, dois
técnicos da cooperativa Coopaterra, três pesquisadores da Embrapa Agrobiologia e um
pesquisador da PESAGRO-RIO.
A atividade de campo ocorreu aos 80 DAP, de modo que todas as espécies ainda
estavam presentes na UD. Realizou-se, inicialmente, uma apresentação geral da Fazendinha
Agroecológica para os participantes da atividade de campo. Foram abordados os objetivos e
experiências ali conduzidas, em seguida, houve apresentação dos agricultores e da situação
produtiva, ambiental e socioeconômica do assentamento.
Cada parcela foi objeto de discussão com os agricultores, levantando-se questões
relativas à utilização da adubação verde, suas características e a importância da diversidade
funcional da produção.
Para a análise e discussão dos resultados, foram elencados parâmetros como
sustentabilidade e possibilidade de replicação da experiência no assentamento, através de
questões geradoras discutidas coletivamente após a atividade de campo. Tais questões podem
27
ser resumidas da seguinte forma: Como a experiência observada ajuda na realidade do
assentamento? Quais culturas podem ser utilizadas a partir dessa prática nos
assentamentos?
As informações decorrentes desse debate acerca da UD foram sistematizadas após a
atividade, utilizando-se indicadores de sustentabilidade baseados no método para
monitoramento de agroecossistemas denominado de “Sistema de Avaliação Rápida da
Qualidade do Solo e Sanidade dos Cultivos” (ALTIERI & NICHOLLS, 2002; NICHOLLS et
al., 2004; MACHADO & VIDAL, 2006), conforme as principais informações surgidas na
atividade de campo com os agricultores. Os indicadores elencados foram: 1) Desenho
agroecológico; 2) Supressão de plantas espontâneas; 3) Fertilidade do solo; 4) Cobertura do
solo; 5) Umidade do solo; 6) Presença de invertebrados; 7) Aparência geral dos cultivos e 8)
Mão de obra.
Após a atividade (aos 81 DAP), houve o corte do feijão de porco e do feijão caupi,
sendo seus resíduos depositados na superfície do terreno.
3.4. Contexto da Experiência no Assentamento Terra Prometida
A segunda etapa desse trabalho foi conduzida junto a famílias do Assentamento de
Reforma Agrária Terra Prometida, localizado nos municípios de Nova Iguaçu e Duque de
Caxias, na Baixada Fluminense. O assentamento possui uma área total de 540,1 ha, onde
moram 61 famílias com parcelas/lotes que possuem aproximadamente 6,8 ha. O restante do
assentamento está dividido em área de preservação permanente (15,9 ha), área de reserva
legal (18,4 ha) e área coletiva e comunitária (13,9 ha) (AGRAR, 2008).
A área está situada na zona de amortecimento da Reserva Biológica do Tinguá, uma
Unidade de Conservação Federal, considerada de proteção integral com gerenciamento
realizado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis –
IBAMA (AGRAR, 2008).
O assentamento é composto por planícies fluviais, morrotes e morros baixos e maciços
alcanivos, situado sobre a Bacia do Rio Iguaçu, uma sub-bacia da Baia da Guanabara. As
planícies fluviais tendem a ser áreas inundáveis, mesmo que em parte do ano ou em situações
específicas. Em épocas de chuvas intensas, o Rio Iguaçu transborda e lança nas planícies a
água excedente à sua capacidade. Tais aspectos são marcados por frequentes inundações no
assentamento (AGRAR, 2008).
Segundo dados do Plano de Desenvolvimento do Assentamento (AGRAR, 2008), os
solos encontrados no assentamento são o Latossolos Vermelho-Amarelo (classes LVa3 e
LVa14) e Argissolos (classe PLa2). Parte das áreas apresenta impedimentos à mecanização e
estão localizadas em áreas de aptidão restrita para a agricultura, com entraves causados por
degradações ambientais e de localização.
O desenvolvimento desse estudo se deu através da parceria com a Cooperativa de
Agricultores Agroecológicos Terra Fértil (Coopaterra), criada em 2011, fruto de experiências
de produção no assentamento Terra Prometida que tinham por base os princípios da
agroecologia. A cooperativa atua em diversas frentes e tem por missão construir os meios para
que as famílias assentadas tenham condições de avançar nos processos de produção.
Toda organização, planejamento e mobilização das famílias acerca do trabalho
desenvolvido nessa dissertação foram realizados no âmbito de atuação da cooperativa. Dessa
forma, antes do planejamento, foi realizado um levantamento de informações em diálogo com
a Cooperativa, através de reuniões, com o intuito de permitir a identificação de questões
produtivas a serem trabalhadas e os aspectos potenciais que poderiam apoiar as propostas de
ações, considerando a utilização da adubação verde.
28
Em seguida, houve a caracterização das unidades produtivas das famílias que foram
indicadas pela cooperativa para participarem do estudo. Na descrição geral das unidades
produtivas e das famílias participantes do estudo, foram identificadas as características gerais
dos agroecossistemas e do histórico familiar, suas similaridades, especificidades e demandas.
O processo ocorreu através de entrevistas semiestruturadas, com quatro perguntas abertas que
possibilitaram às famílias responderem as questões e discorrer sobre suas experiências (Anexo
3).
Mediante avaliações feitas junto às famílias e aos técnicos da cooperativa, surgiram
propostas para a criação de espaços de experimentação que utilizem práticas de manejo e que
possibilitem melhorias na dinâmica produtiva das famílias, alicerçada na construção de
agroecossistemas produtivos, sustentáveis e biodiversos. Nessa perspectiva puderam-se criar
propostas para experimentação, tais como consórcios, utilização de adubação verde, dentre
outros.
3.5. Implantação de Unidades Demonstrativas no Assentamento
Dentre os participantes da atividade na Fazendinha Agroecológica Km 47, duas
famílias assentadas foram indicadas pela cooperativa e se disponibilizaram a realizar a
implantação em seus lotes, dentro de uma estratégia coletiva de planejamento e construção de
sistemas produtivos que contemple os princípios preconizados pela cooperativa.
Essa etapa do trabalho exigiu planejamento e organização das atividades. Nesse
sentido, reuniões foram realizadas com a cooperativa e as famílias, no sentido de compreender
e retomar as demandas que poderiam ser atendidas, e quais seriam as culturas consideradas.
Para o conhecimento das unidades de produção das famílias e a escolha das áreas de
implantação das unidades demonstrativas, foram realizadas caminhadas para observação das
questões gerais das unidades de produção, tais como características ambientais (solo,
topografia, água, matas, dentre outras) e socioeconômicas (utilização de insumos,
infraestrutura, mão-de-obra, dentre outras).
O local para implantação foi escolhido pelos assentados, conforme a realidade de cada
unidade de produção. O planejamento das UDs foi realizado de forma individual, com cada
família assentada envolvida e a participação dos técnicos da cooperativa. Utilizou-se como
base para o planejamento as informações obtidas durante a caminhada, através do
questionário semiestruturado, as percepções da atividade de campo na Fazendinha
Agroecológica Km 47 e a discussão sobre os resultados da análise química do solo.
Todas as etapas de planejamento foram acompanhadas de levantamento e organização
das atividades e divisão das tarefas, tais como: preparo do solo (aração e gradagem),
marcação da unidade, organização do croqui, planejamento de uso dos insumos, ferramentas,
dentre outras atividades necessárias à concretização da implantação da unidade.
Esse processo resultou em um desenho diferente para cada unidade familiar, onde
foram estabelecidas as culturas e suas associações, levando em consideração a utilização de
adubos verdes, os anseios e objetivos das famílias, as características de cada unidade
(territorial e ambiental), a disponibilidade de infraestrutura (trator, irrigação, dentre outras), a
disponibilidade de mão de obra e a experiência de cada agricultor.
Foi realizada, nas unidades produtivas dos assentados, coleta de amostras para análise
química do solo na camada superficial (0-20 cm). Para essas amostras compostas coletadas de
solo, foram quantificados: valor de pH; teor de carbono, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e
alumínio, conforme a metodologia descrita por Embrapa (1997).
A partir dos resultados das análises de solo, recomendou-se a utilização de calcário
para correção da acidez e realizada uma única adubação na ocasião do plantio, utilizando
29
farinha de osso (50g / planta de mandioca e milho). Ambas as unidades foram implantadas em
solos anteriormente cultivados por diversas culturas, principalmente a mandioca. O preparo
do solo ocorreu de forma convencional, com aração e gradagem, estratégia já realizada pelos
assentados.
A implantação das UDs foi realizada nas unidades dos assentados a partir do
planejamento e cronograma de execução. O acompanhamento foi realizado através de
observações gerais sobre o andamento, verificando pontos positivos e deficiências através do
trabalho cotidiano dos assentados. Estas informações foram retomadas na etapa de avaliação
através da utilização e discussão de indicadores, objetivando a realização de um método de
trabalho formativo junto aos agricultores.
Todas as etapas de condução das UDs, desde a implantação até a avaliação final,
ocorreram por meio de metodologias que comtemplaram espaços coletivos de discussão junto
aos membros da cooperativa e espaços individuais com cada família. Todo esse processo foi
organizado de modo a enumerar e dividir as responsabilidades quanto às atividades propostas.
Cabe destacar que ambas foram conduzidas pelos agricultores, com a contribuição de dois
técnicos da Coopaterra que acompanharam todo o trabalho desenvolvido.
Unidade Demonstrativa 1
O planejamento da UD considerou como cultura principal a mandioca (Manihot
esculenta) cv. Vassourinha (mais utilizada no assentamento), o milho (Zea mays) cv.
Caatingueiro (desenvolvido por pesquisadores da Embrapa especialmente para a região
Semiárida, apresentando como característica a rusticidade e precocidade), feijão guandu
(Cajanus cajan) cv. Mandarim (desenvolvido pela Embrapa) e o feijão de porco (Canavalia
ensiformis). O cultivo do milho e da mandioca têm como finalidade a obtenção de renda e
autoconsumo familiar. Já no caso do feijão de guandu e do feijão de porco, a finalidade
consiste na realização da adubação verde (Figura 4).
O plantio foi realizado em abril de 2015, sendo a área total da Unidade Demonstrativa
de 500 m². A UD foi organizada com o seguinte arranjo: mandioca + feijão de porco + milho
e guandu (Figura 3).
Figura 5: Arranjo espacial representando a unidade
demonstrativa do assentamento em Unidade de Produção
1, composto por: Mandioca + Feijão de Porco + Milho e
Guandu
30
Para a mandioca, foram utilizadas manivas de 15 cm de comprimento e 2,0 cm de
diâmetro, colocadas em sulcos, a 10 cm de profundidade. Foram utilizadas fileiras simples
com espaçamento de 0,60 x 1,0 m.
As culturas consortes foram semeadas manualmente, no mesmo dia, utilizando-se as
seguintes densidades: Milho - 4 plantas m-1
, Guandu - 2 plantas m-1
e feijão de porco - 12
plantas m-1
. Foi realizada uma única adubação na ocasião do plantio, utilizando-se farinha de
osso (50g / planta de mandioca e milho).
Foi realizada na unidade apenas uma capina de forma manual, com enxada, aos 51
DAP. O corte do feijão de porco foi realizado com auxílio de enxada, quando se encontrava
na fase final de florescimento e início da formação das vagens (104 DAP).
Figura 6: Unidade demonstrativa do assentamento na Unidade de Produção 1, composta
por: Mandioca + Feijão de Porco + Milho + Feijão Guandu.
Unidade Demonstrativa 2:
O planejamento da UD junto ao assentado teve como cultura principal a banana cv.
Prata Mel (com grande aceitação pelos assentados e pelo mercado). Também foi proposta a
inserção da cultura da mandioca (Manihot esculenta) cv. Vassourinha (mais utilizada no
assentamento), milho (Zea mays) cv. Eldorado e o feijão de porco (Canavalia ensiformis). A
banana e a mandioca tem como finalidade a obtenção de renda e autoconsumo familiar, e o
feijão de feijão de porco tem por finalidade a adubação verde.
31
Figura 7: Arranjo espacial representando a unidade
demonstrativa do assentamento em Unidade de Produção
2, composta por: Banana + Mandioca + Feijão de Porco +
Milho
A Unidade Demonstrativa foi de 720 m², sendo organizada no seguinte arranjo:
banana + mandioca + feijão de porco + milho (Figura 8). Devido ao tamanho da área, a
reduzida mão de obra disponível e a dinâmica de trabalho da família, a implantação dessa
unidade foi realizada em três momentos. Para a banana, o plantio foi realizado no dia 29 de
abril de 2015, utilizando-se mudas do próprio assentado, com espaçamento de 4 x 4 m. Os
consortes milho (4 plantas m-1
) e feijão de porco (12 plantas m-1
) foram semeados no 21 de
maio de 2015. O plantio da mandioca ocorreu no dia 18 de junho de 2015, utilizando-se
manivas de 15 cm de comprimento e 2,0 cm de diâmetro, colocadas em sulcos a 10 cm de
profundidade e com espaçamento de 0,6 x 2,0 m.
Foi realizada uma única adubação com farinha de osso na ocasião do plantio, (50g /
planta de banana, mandioca e milho). Após 104 DAP, foi realizado, por enxada manual, o
corte do feijão de porco.
Nessa UD, não houve avaliação através do método de “Avaliação Rápido da
Qualidade do Solo e Sanidade dos Cultivos”, pois não se conseguiu um dia para realizar a
avaliação com a UD ainda em condições produtivas. Essa dificuldade ocorreu por limites no
acompanhamento e pelo reduzido tempo da família, uma vez que são apenas duas pessoas
para o desenvolvimento de todas as atividades produtivas no lote. Desta forma, foi realizada
uma avaliação qualitativa através de questões abertas relativas à experiência de implantação
da UD como: 1) Como a experiência ajuda na realidade da unidade produtiva? Qual a
importância do uso da adubação verde? As questões foram conduzidas no primeiro
momento na casa da família e, em seguida, foi realizada uma breve caminhada na UD para
observar com o agricultor os resultados da utilização da adubação verde em consórcio.
Desse espaço de avalição na UD participaram também os técnicos da COOPATERRA,
que contribuíram para a análise e interpretação dos resultados.
32
Figura 9: Unidade demonstrativa do assentamento na Unidade de Produção 2, composta
por: Banana + Mandioca + Feijão de Porco + Milho.
3.6. Avaliação de Unidade Demonstrativa no Assentamento através de Indicadores de
Sustentabilidade.
O acompanhamento das UDs no assentamento inseriu-se na dinâmica de trabalho das
famílias assentadas envolvidas. Todas as atividades realizadas tiveram por princípio básico o
interesse e a disponibilidade das famílias.
Em setembro de 2015, foi realizada a avaliação através do método denominado de
“Avaliação Rápido da Qualidade do Solo e Sanidade dos Cultivos”, com intuito de avaliar, de
forma participativa a UD por meio de indicadores sensíveis e fáceis de estimar a campo.
Utilizou-se uma lista de indicadores propostos por Altieri & Nicholls, (2002); Nicholls et al.
(2004) e adaptados por Machado & Vidal (2006) que foi apresentada para os assentados e
técnicos da cooperativa. Em seguida após a apresentação da lista de indicadores para os
assentados e técnicos, houve, através de um debate coletivo, a escolha dos indicadores que
mais se aproximavam da realidade dos assentados. Foram escolhidos 8 indicadores de
qualidade de solo e 4 indicadores de sanidade dos cultivos; 1) Qualidade do Solo: Estrutura,
Compactação, Estado do Resíduo, Cor, Odor e Matéria Orgânica, Retenção de Água,
Cobertura do Solo, Presença de Invertebrados e Atividade Microbiológica; 2) Sanidade dos
Cultivos: Aparência Geral dos Cultivos, Competição e Supressão de Plantas Espontâneas,
Desenho Agroecológico e Sistema de Manejo.
Os principais parâmetros e requisitos elencados para a escolha dos indicadores foram a
fertilidade do solo, a diversidade de cultivos e a incidência de pragas. Questões consideradas
também para a implantação e avaliação da UD na Fazendinha Agroecológica foram levadas
em consideração na construção desses espaços para experimentação e validação de práticas
produtivas.
33
Para a avaliação de sustentabilidade através dos indicadores, foi realizada uma
atividade de campo na Unidade Demonstrativa no Assentamento (UD) 1, indicada pela
cooperativa e pelos assentados. A aplicação da metodologia, utilizando os indicadores
selecionados para qualidade do solo e sanidade dos cultivos, foi realizada aos cinco meses
após a implantação da UD 1.
A metodologia foi exposta coletivamente para os assentados envolvidos e os técnicos
da Coopaterra. Os indicadores escolhidos foram apresentados, havendo a preocupação de
possibilitar o debate e a explicação sobre cada indicador, para que os assentados e os técnicos
pudessem atribuir notas e discorrer sobre suas percepções e seu conhecimento quanto aos
temas apresentados. Para cada indicador escolhido, foram atribuídas notas entre 1 a 10,
relacionadas às características de sanidade dos cultivos e qualidade de solo (ALTIERI &
NICHOLLS, 2002; NICHOLLS et al., 2004).
Os valores obtidos foram sistematizados e apresentados em gráficos do tipo “ameba”.
O gráfico demonstra que quanto mais o resultado estiver próximo da borda do círculo
(próximo a 10), mais sustentável se encontra o sistema. Ao contrário, quanto mais afastado o
resultado se encontra da borda (abaixo de 5), menos sustentável se encontra o sistema, e
medidas devem ser tomadas quanto ao manejo adotado.
Os resultados também foram sistematizados, de modo que as médias dos atributos de
qualidade de solo e sanidade dos cultivos possam ser visualizadas, permitindo identificar se
são necessárias ou não medidas corretivas ou complementares no sistema produtivo
(ALTIERI & NICHOLLS, 2002; NICHOLLS et al., 2004; MACHADO & VIDAL, 2006).
De posse da organização dos resultados no gráfico e da síntese do debate, houve a
socialização dos resultados para os agricultores e a cooperativa para uma análise geral e
discussão dos atributos que obtiveram maior destaque ou maior limitação.
34
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. Unidade Demonstrativa na Fazendinha Agroecológica
O conjunto de informações e discussões realizadas com os agricultores e com a
cooperativa, anteriormente ao processo de implantação da UD, foi decisivo para a escolha das
espécies e a organização dos arranjos, elaborada conforme demandas que surgiram da
realidade dos agricultores. Dentre as limitações produtivas que os agricultores optaram para
serem discutidas e trabalhadas no contexto das UDs, estão: a baixa fertilidade do solo, a
necessidade de controle de plantas espontâneas (associada à reduzida mão de obra), a
melhoria das condições produtivas da mandioca (associada à fertilidade do solo, pragas e
doenças, dentre outras) e o aumento da diversidade produtiva.
Durante a visita à Fazendinha Agroecológica, a UD se constituiu como um espaço de
debate e análise da experiência, onde os benefícios a respeito da utilização da adubação verde
foram trabalhados, permitindo aos assentados melhor compreensão das práticas utilizadas,
através da socialização de saberes e da convergência do conhecimento tradicional acumulado
pelos agricultores e do conhecimento técnico-cientifico desenvolvido na Fazendinha
Agroecológica.
O cultivo em consórcio, utilizando-se leguminosas como adubos verdes e sua
funcionalidade, foi bastante discutido na atividade, a fim de apontar os benefícios à produção
agrícola. O tema permitiu avançar em níveis de comparação com os sistemas produtivos
utilizados pelos agricultores em suas unidades produtivas, destacando quais seriam as
limitações e potencialidades quanto à aplicabilidade desse tipo de sistema na realidade do
assentamento. Por sua vez, no assentamento, o cultivo da mandioca ocorre de forma solteira,
com espaçamento simples e, em muitos casos, em camalhões, devido à ocorrência de áreas
alagadiças.
Todavia, grande parte dos posicionamentos dos agricultores esteve direcionado para o
reconhecimento da importância da experiência, no sentido de convergir com as demandas
produtivas e alimentares das famílias, sem a obrigação de construir padrões, mas dialogando
com possibilidades concretas de aumento de renda e a otimização do trabalho.
Dentre as diversas questões levantadas durante a discussão, foi bastante enfatizada a
importância da cobertura gerada pela biomassa para a menor incidência de plantas
espontâneas nas unidades consorciadas. Nesse sentido, o manejo da vegetação espontânea no
contexto das práticas utilizadas nas UDs foi bastante discutido. Segundo os assentados, esse
fator afeta a cultura da mandioca e reduz sua produtividade. As principais formas de controle
de plantas espontâneas no assentamento ocorrem através do uso de herbicidas sintéticos ou de
capina. Essas opções de manejo são consideradas entraves pelos agricultores que buscam
soluções alternativas.
Nessa perspectiva, foi observado pelos assentados que a organização dos arranjos nos
consórcios através da inclusão das culturas de valor econômico e adubos verdes podem
favorecer o controle de plantas espontâneas e podem contribuir para diminuição dos custos de
produção.
Segundo os agricultores, de modo geral a experiência observada na UD ajudou na
realidade do assentamento, pois permitiu visualizar praticas que podem beneficiar seus
sistemas produtivos e, consequentemente, a mandioca como a principal cultura de interesse.
Avaliaram que tais práticas podem ser adotadas em suas atividades agrícolas, todavia devem
ser consideradas as experiências produtivas realizadas no assentamento.
Na discussão sobre as culturas que poderiam ser adotadas para a implantação de UDs
nas unidades produtivas no assentamento, reafirma-se a importância da mandioca, seguida do
35
milho, e dentre os adubos verdes foram indicadas as leguminosas guandu e feijão de porco,
conforme as necessidades alimentares e de melhorias dos sistemas produtivos. Segundo os
agricultores, a escolha se deve às seguintes características: 1) O feijão de porco apresenta
rusticidade, capacidade de cobertura do solo e ação no controle de plantas espontâneas; 2) O
feijão guandu mostra-se como uma leguminosa para adubação verde, cujas raízes apresentam
capacidade de descompactar o solo, além de poder ser empregado na alimentação humana ou
animal.
A realização da atividade na Fazendinha Agroecológica resultou em um conjunto de
informações qualitativas que contribuíram como subsídio para as propostas de implantação de
UDs no assentamento.
As informações decorrentes do debate acerca da UD foram sistematizadas na Tabela 3,
utilizando indicadores de sustentabilidade resultantes das principais informações surgidas na
atividade de avaliação. A sistematização através de indicadores contribuiu para sensibilizar as
famílias e elucidar a possibilidade de estabelecimento de consórcios, utilizando culturas de
valor econômico (mandioca) e adubos verdes (feijão caupi, feijão guandu, feijão de porco),
com vistas a favorecer a renda adicional, proporcionar melhorias nas condições de solo e
distribuição da força de trabalho.
Tabela 3. Indicadores e observações utilizados para sistematizar a avaliação da atividade na
Fazendinha Agroecológica.
Indicadores Observações Apontadas por Pesquisadores e Assentados.
Desenho
Agroecológico
Foi considerada como positivo a diversidade de espécies na
composição da UD, apresentando: três cultivares de mandioca,
feijão caupi, feijão de porco, feijão guandu e milho. Foi observado,
através do consórcio, a diversidade alimentar e funcional das
espécies empregadas, potencializada pela presença de leguminosas
e sua multifuncionalidade.
Supressão de
Plantas Espontâneas
A presença de plantas espontâneas obteve maior ocorrência na
parcela de monocultura de mandioca. Nas parcelas consorciadas,
ocorreu supressão das espontâneas, com destaque para as parcelas
consorciadas com adubos verdes (feijão de porco e feijão caupi),
que apresentaram quantidades expressivas de biomassa vegetal,
proporcionando maior cobertura do solo.
Fertilidade do Solo
Destacou-se a importância da utilização da adubação verde com
leguminosas e o manejo de sua biomassa, apontando os benefícios
para a fertilidade (física, química e biológica) do solo. Também
foram apresentadas algumas considerações sobre agregados,
estrutura, microrganismos e fixação biológica de nitrogênio, dentre
outros.
Na oportunidade, foram apresentados aos assentados os nódulos
contidos nas raízes do feijão de porco, explicando a sua
funcionalidade e os seus benefícios para a fertilidade do solo.
Cobertura do solo
Foi observado o solo protegido pela cobertura viva, uma vez que
ainda não tinha realizado o corte das leguminosas, principalmente
nas parcelas consorciadas com adubos verdes. Já na parcela de
monocultivo de mandioca, observou-se o solo descoberto.
36
Tabela 3. Indicadores utilizados para sistematizar a avaliação da atividade (Continuação).
Umidade do Solo
Decorrente da cobertura do solo, principalmente nas parcelas
consorciadas com adubos verdes, nas quais o solo se encontrava
protegido da incidência direta do sol e, consequentemente,
apresentava maior umidade. Já na parcela de monocultivo de
mandioca, observou-se o solo descoberto/exposto e com reduzida
umidade.
Presença de
Invertebrados
Observou-se, como aspecto negativo, o trânsito de formigas na UD,
em particular na parcela de monocultura de mandioca.
Aparência Geral dos
Cultivos
A mandioca consorciada aparentemente não apresentava nenhum
tipo de deficiência ou competição, e seu crescimento estava
vigoroso. Contudo, os agricultores mostraram-se preocupados com
a circulação de ar entre as plantas e o crescimento das raízes,
devido às diversas espécies no consórcio e ao fato da mandioca
estar disposta em fileira dupla. Apontaram ainda que não optariam
para o plantio da mandioca com essa conformação.
Mão de Obra
Foi apontado pelos assentados que, de modo geral, a falta de mão
de obra é um dos problemas mais graves em suas unidades de
produção, pois na maioria dos casos a disponibilidade se resume ao
casal de agricultores. A observação dos arranjos possibilitou aos
agricultores perceber que o sistema apresentado pode minimizar a
necessidade de mão de obra, com a possibilidade de diminuição do
número de capinas.
Fonte: Adaptados de ALTIERI & NICHOLLS, 2002; NICHOLLS et al., 2004
Figura 10: Atividade de avaliação da Unidade Demonstrativa, implantada na Fazendinha
Agroecológica, com a participação de Agricultores/as, Técnicos da Coopaterra,
Pesquisadores da Embrapa Agrobiologia e PESAGRO-RIO.
37
4.2. Caracterização Socioeconômica e Produtiva das Unidades Familiares
A caracterização das unidades produtivas das duas famílias que foram indicadas pela
cooperativa para participarem do estudo e implantação das UDs foi fundamental para
identificar as características gerais dos agroecossistemas e do histórico familiar, suas
similaridades, especificidades e demandas. O processo, que ocorreu através de entrevistas
semiestruturadas (Anexo 3) e caminhadas nos agroecossistemas, possibilitou às famílias
responderem as questões e discorrer sobre suas experiências de vida no assentamento.
Unidade produtiva 1:
A família, que vive no assentamento, é composta por três membros, sendo um homem,
uma mulher e uma criança. O trabalho na unidade produtiva é realizado pelo homem e pela
mulher. Quando necessário, nas tarefas nos cultivos, a família conta com a contribuição
ocasional de um parente do gênero masculino, que mora aos arredores do assentamento.
A família, antes de ser assentada, trabalhava para o proprietário da antiga Fazenda
Sempre Verde. Conforme as regras que regem os assentamentos, a família pôde ser
beneficiada com um lote de terra, que segundo o agricultor, lhes garante melhores condições
de vida.
A unidade produtiva fica distante da casa e da chamada agrovila, o que traz algumas
limitações estruturais, como ausência de estrada para saída da produção, de energia elétrica
para uma possível bomba de irrigação, dentre outras limitações.
O sistema produtivo possui como cultura principal a mandioca, item que basicamente
garante a renda da família e parte significativa de suas áreas produtivas está composta por
essa cultura, em monocultivo. Contudo, existe a preocupação em manter culturas como
quiabo, abóbora, jiló, banana, laranja, inhame, milho, dentre outras, como renda extra e para
alimentação familiar. Essas culturas citadas são plantadas em consórcios e/ou intercaladas, ou
como denomina o agricultor, as culturas ficam misturadas. Também possui gado de leite e
produz queijos para consumo e venda, mas não utiliza o esterco para as atividades agrícolas.
O gado é criado livremente no pasto.
A comercialização da mandioca é realizada de diversas formas, tais como via
cooperativa, nas redondezas diretamente para o consumidor, mas a maior parte é vendida via
atravessadores que compram e buscam a produção no assentamento. Os demais itens
basicamente são produzidos para alimentação familiar e quando existem excedentes, os
produtos são comercializados também através da cooperativa.
Na unidade produtiva, não se observa a utilização de insumos externos. Às vezes, são
utilizadas sementes convencionais doadas pelo ITERJ. Contudo, a maior parte das sementes
utilizadas é do próprio agricultor, que não utiliza, por convicção, nenhum tipo de agrotóxico
ou fertilizante sintético.
Apresenta questionamento, em especial, sobre a cultura da mandioca, relacionado ao
aumento da quantidade de pragas, o esgotamento do solo quanto à sua fertilidade e a ausência
de mão-de-obra para as tarefas da roça.
Unidade produtiva 2:
A família, que vive no assentamento, é composta por dois membros sendo um homem
e uma mulher. A inserção no assentamento decorre da participação da família no processo de
luta pela terra, que vem desde a ocupação no município de Miguel Pereira até o assentamento
definitivo, na Fazenda Sempre Verde, em Duque de Caxias. A família destaca o longo período
de luta pela terra como um processo formativo, mas doloroso e desgastante, e considera
38
desrespeitoso o fato das famílias serem assentadas em área com terras com baixo potencial
produtivo, com baixa fertilidade natural e dificuldades para o desenvolvimento da agricultura.
O trabalho na unidade produtiva é realizado pelo casal, sendo que a mulher também se
ocupa com os afazeres domésticos. A casa está inserida na unidade produtiva, não exist indo a
divisão entre lote produtivo e quintal (ambos ficam na agrovila), fato que contribui para a
organização produtiva e do trabalho.
O sistema produtivo é bem diversificado, apesar de a mandioca ser a principal cultura,
ela não é a única, pois o quiabo, abóbora, jiló, banana, inhame, milho, plantas medicinais,
laranja, suínos, dentre outras, também são consideradas na composição da unidade produtiva,
conforme a época adequada de plantio. Na unidade produtiva, apesar da diversidade de
produtos, com algumas exceções, não se observa muitas vezes a realização de consórcios,
sendo que grande parte das culturas estão dispostas em pequenos talhões em monocultivos.
Na unidade produtiva, quase todos os produtos são comercializados através da
cooperativa, diretamente para consumidores nas redondezas, para atravessadores que entram
no assentamento para comprar a produção, sendo a maior parte vendida no CEASA – RJ, pelo
próprio assentado, que possui um veículo para transporte.
Observa-se a forte presença de insumos externos, com a utilização de herbicidas
sintéticos e fertilizante químico sintético, incluindo também as sementes convencionais, que
na maioria dos casos são doadas pelo ITERJ.
O agricultor aponta dificuldade em garantir recursos financeiros para investimentos e
tem vontade de diminuir a utilização de agrotóxicos, pois tem demonstrado problemas de
saúde, com custos de produção elevados e com insuficiência de mão-de-obra para o trabalho
diário.
4.3. Implantação de Unidades Demonstrativas no Assentamento
Buscou-se, no processo de implantação de Unidades Demonstrativas no assentamento,
desenvolver uma metodologia de trabalho onde as famílias pudessem olhar para as questões
nos diversos aspectos, principalmente quanto aos sistemas produtivos, e apontar quais seriam
as possíveis ações a serem discutidas ou fomentadas, através da experimentação de novas
práticas de manejo e da troca de saberes.
Através do levantamento preliminar de informações sobre o assentamento e as
observações dos agroecossistemas locais, podem-se observar os vários aspectos (ambientais,
estruturais, mão de obra) e obter maior compreensão dos sistemas produtivos das famílias.
No decorrer das atividades e da caracterização das unidades produtivas, ficaram mais
evidentes os motivos pelos quais os assentados gostariam de experimentar ou reorientar a
utilização de práticas mais sustentáveis em suas unidades produtivas. Ambas as situações
representaram oportunidades para o desafio de implantação das UDs.
Uma das famílias (vinculada à UD 1) não possui acesso a insumos sintéticos e, por
convicção, nunca utilizou tais insumos. Esse fato lhe confere uma característica peculiar de
experimentador, estando abertos a novas práticas que tenham como premissa a melhoria das
condições produtivas de sua unidade.
A outra família (vinculada à UD 2), compreendendo ser a única forma de produzir nas
condições do assentamento, adotou a utilização de insumos sintéticos. Contudo, essa forma de
produzir no contexto de um assentamento, sem acesso a crédito, assistência técnica e
infraestrutura, se mostrou cada vez mais difícil. Em decorrência disso, se iniciou a busca por
outras formas de praticar a agricultura, mais adequadas às condições da unidade de produção
e do assentamento.
39
A pesquisa possibilitou verificar as diferenças acentuadas entre os agroecossistemas
dos agricultores envolvidos. Tal fato contribuiu para a orientação do método a ser adotado,
pois o mesmo deveria considerar as especificidades e a necessidade do planejamento com
base na realidade do assentamento. Nessa perspectiva, o diagnóstico nos agroecossistemas,
ainda que de forma superficial, possibilitou identificar as principais demandas das famílias, e
contribuiu para avançar no planejamento das atividades.
Como o planejamento foi orientado pelos princípios básicos da diversificação das
espécies cultivadas, o mesmo possibilitou o debate sobre a importância do aumento da
matéria orgânica no solo, da otimização dos recursos locais numa perspectiva de
complementariedade e da integração das praticas já realizadas no assentamento.
As atividades de acompanhamento possibilitaram a compreensão de alguns fatores
limitantes relacionados ao sistema produtivo, tais como: falta de mão de obra familiar,
dificuldades financeiras para aquisição de insumos (principalmente sementes), dentre outras.
O reconhecimento do limite da mão-de-obra foi fundamental no planejamento e indicação das
espécies utilizadas nas UDs, uma vez que o aspecto social foi considerado de grande
importância na análise de sustentabilidade pelos agricultores.
A identificação e o reconhecimento dos pontos críticos de natureza socioeconômica, a
partir da observação e análise dos agroecossistemas, foi uma forma de garantir que os
diversos atributos de sustentabilidade fossem abordados e considerados no caminho para a
seleção dos indicadores (VERONA, 2008). Ademais se avaliou que a análise e uso das
técnicas participativas deveriam estar além da discussão sobre os instrumentos metodológicos,
uma vez que, existem características culturais, econômicas e técnicas, importantes de serem
consideradas.
Os resultados da análise química do solo, que podem ser observados no Anexo 2,
contribuíram para visualizar os limites e potencialidades quanto às condições de solo, além
de possibilitar junto aos agricultores o manejo mais adequado para as unidades de produção
a serem implantadas. A análise de solo apresentou elementos críticos como: alto teor de
alumínio trocável, baixo pH e baixa quantidade de nutrientes como Ca e Mg. Procedimentos
como calagem e adubação com farinha de osso foram recomendadas para a implantação das
UDs.
O processo desencadeou, em certa medida, anseios nos agricultores por resoluções das
questões apontadas a curto prazo, fato que gerou a necessidade de aprofundar a compreensão
sobre os princípios das práticas propostas. Isso porque se criou uma visão imediatista da
resolução dos problemas, dado ao fato de não trabalharem com a proposta de utilização da
adubação verde. Os benefícios da adubação verde foram abordados de forma mais didática na
atividade de avaliação de sustentabilidade.
4.4. Indicadores e a Sustentabilidade dos Agroecossistemas no Assentamento
Considerou-se indispensável, no contexto mais amplo da metodologia de avaliação de
sustentabilidade, a participação dos assentados em todos os momentos, principalmente na
etapa de seleção de indicadores. Ainda que isso tenha exigido uma adaptação ao se discutir
sobre as características dos indicadores, esse processo foi essencial para identificar quais
atributos realmente deveriam ser avaliados.
Os indicadores estabelecidos foram orientados pelos requisitos (fertilidade do solo,
diversidade de cultivos, incidência de pragas), o que resultou nos indicadores que mais
correspondiam à realidade do assentamento, segundo os agricultores: 1) Qualidade do Solo:
Estrutura, Compactação, Estado do Resíduo, Cor, Odor e Matéria Orgânica, Retenção de
Água, Cobertura do Solo, Presença de Invertebrados e Atividade Microbiológica; 2)
40
Sanidade dos Cultivos: Aparência Geral dos Cultivos, Competição e Supressão de Plantas
Espontâneas, Desenho Agroecológico e Sistema de Manejo.
Está metodologia revelou-se bastante didática, uma vez que contribuiu para discutir e
analisar as formas de gestões e práticas que podem ser adotadas ou melhoradas. Dessa forma,
através da discussão e da atribuição de valores aos atributos avaliados, foi possível a
compreensão pelos agricultores e técnicos de como a prática da adubação verde pode ser
utilizada como uma medida sistemática ou complementar ao sistema produtivo dos
assentados. Isso porque a metodologia permite discutir com os agricultores, através das notas,
quando e quais medidas precisam ser tomadas no agroecossistema para que o mesmo possa
atingir a sustentabilidade.
Para a introdução da atividade, foram abordadas questões gerais sobre os
agroecossistemas, alguns de seus componentes e suas funções. No desenrolar do trabalho de
pesquisa, diversos temas foram colocados em discussão de forma complementar,
apresentando alguns conceitos em paralelo à avaliação. Dessa forma, temas como adubação
verde, consórcios, fertilidade do solo, dentre outros, foram explicados e exemplificados no
contexto das práticas propostas.
Para a sistematização da discussão e percepções acerca dos indicadores nas unidades
produtivas, optou-se por reproduzir, em determinadas situações, as palavras dos assentados
(marcadas em itálico), uma vez que isso demonstra o conhecimento acumulado a respeito de
seus agroecossistemas.
Por iniciativa própria, o assentado da UDA 1 realizou uma introdução com
considerações gerais a respeito da área onde foi implantada unidade, destacando algumas
características do solo e o objetivo da sua escolha por aquela área. Realizou uma pequena
abertura no solo, apontando que “a terra é dura”, sem matéria orgânica e que sua intenção
com escolha dessa área baseia-se na tentativa de melhorar as condições de solo, pois “nunca
conseguiu plantar aipim na área”.
Dada a condução realizada pelos assentados, optou-se por iniciar com os indicadores
de qualidade do solo.
Indicadores da Qualidade do Solo
Iniciou-se a avaliação da qualidade do solo pela Estrutura que teve sua visualização
facilitada pela iniciativa em realizar uma pequena abertura no solo (Figura 10). Foi apontado
pelo agricultor a existência de dois “tipos de terra”, uma na parte que se encontra
poeirenta/solta, e outra que se encontra “dura, onde a agua não passa. Assim, a terra não tem
como guardar umidade. Acabou a água, a terra seca”. Buscou-se trabalhar o conceito de
agregados e foi realizado o manuseio com os dedos para avaliar a resistência dos mesmos à
pressão. De forma geral, foram verificados poucos agregados visíveis.
Para a avaliação da Compactação, utilizou-se a inserção de um arame no solo. Isso
indicou que, nos locais com cobertura decorrente da biomassa do adubo verde (feijão de
porco) houve penetração mais fácil do que em áreas descobertas. A compactação foi um dos
requisitos que recebeu menor nota pelos agricultores (Figura 8). Dentro desse contexto, foram
realizadas considerações juntamente com os agricultores a respeito da importância da
cobertura do solo e das praticas realizadas nas unidades demonstrativas.
Quanto ao Estado do Resíduo, devido às condições apresentadas pelo solo, a
cobertura proporcionada pela adubação verde foi rapidamente decomposta. Foram levantados
alguns quesitos (ambientais e produtivos) que determinam a rápida decomposição. Algumas
características dos tipos de cobertura do solo foram citadas, incluindo a possibilidade e
importância de consorciar gramíneas e leguminosas, com o intuito de obter uma relação C/N
41
intermediária, capaz de promover maior eficiência no fornecimento de nutrientes às culturas
de interesse comercial, conforme proposto por GIACOMINI et al. (2003).
A Cor, Odor e Matéria Orgânica, devido ao processo heterogêneo de decomposição
da matéria orgânica com o adubo verde, apresentou diferença da cor e odor. Os agricultores
constataram que o solo tinha uma aparência mais “pálida” quando descoberto.
Dada a rapidez de decomposição da matéria orgânica fornecida pelo adubo verde,
existia uma heterogeneidade na unidade quanto a Retenção de Água. De forma geral, em
manchas cobertas pela matéria orgânica, o solo estava mais úmido. Um dos agricultores
destacou que a terra “fazia uma reserva e guardava para usar depois”.
Os indicadores citados até agora trouxeram informações que possibilitaram discutir
sobre a importância da Cobertura do Solo. Frisou-se que o solo em questão estava com
reduzido estoque de matéria orgânica. Isso, somado às condições climáticas, como altas
temperaturas, promoveu uma decomposição rápida da cobertura do solo, constituída pelos
resíduos da adubação verde.
A Presença de Invertebrados foi identificada a partir da presença de insetos
polinizadores como vespas, mangangá e abelhas atraídas pelas flores do feijão guandu. Foram
discutidos aspectos relativos aos insetos benéficos e inimigos naturais, suas funções e
algumas formas de atraí-los. Verificou-se pouca presença de minhocas, pois segundo um dos
agricultores, “esse animal não gosta de terra dura”.
Para a Atividade Microbiológica10
, foi realizado o teste da água oxigenada. Utilizou-
se como parâmetro de efervescência o comportamento de uma amostra de esterco de gado.
Observou-se que o solo das áreas sem matéria orgânica estava com pouca atividade
microbiológica, diferente da área com cobertura da matéria orgânica, que apresentou maior
efervescência e possivelmente atividade microbiológica.
O gráfico (Figura 8) indica as notas apontadas para os atributos de qualidade do solo
da Unidade Demonstrativa.
10 Para a realização desse teste, uma pequena quantidade de água oxigenada foi colocada em uma amostra de
solo para observar a efervescência. É indicativo de solo rico em matéria orgânica quando houver efervescência
significativa, quando há pouca ou nenhuma efervescência é sinal de que o solo é pobre em atividade microbiológica e com pouca matéria orgânica (MACHADO & VIDAL, 2006).
42
Figura 11: Representação dos Indicadores de Qualidade do Solo - Unidade
Demonstrativa no Assentamento Terra Prometida
Indicadores de Sanidade dos Cultivos
Para Aparência Geral dos Cultivos e Crescimento das Plantas, o elemento central
da avaliação foi a cultura da mandioca. O crescimento das plantas estava prejudicado pelas
condições do solo. Segundo o agricultor, a cultura não estava crescendo por conta da terra
muito dura. Por outro lado, observou o crescimento vigoroso do feijão de porco e do feijão
guandu, sem aparente deficiência nutricional. Tais características foram associadas à
capacidade dessas leguminosas em adaptar-se em solos com reduzida fertilidade e de fixar N
atmosférico, de acordo com ESPINDOLA et al. (2005).
O tema da Supressão de Plantas Espontâneas foi conduzido com discussão sobre as
dificuldades quanto à disponibilidade de mão-de-obra na unidade produtiva, enfatizando que a
cultura da mandioca é afetada pela competição com as plantas espontâneas, exigindo muitas
capinas. Nessa perspectiva foi apontada a importância de diminuir o tempo de trabalho. Na
UD, a utilização do feijão de porco foi fundamental no “controle do mato” (plantas
espontâneas), necessitando apenas de uma capina. Destacou-se que o feijão de porco, por ser
qualificado como uma espécie rústica e precoce, mostrando-se adequado para utilização em
consórcios com a espécie de interesse econômico, conforme observado por ALVARENGA et
al. (1995).
No Desenho Agroecológico, onde foi avaliada a adoção de práticas agroecológicas e o
planejamento do sistema produtivo, destacou-se a importância da experimentação do
consórcio, envolvendo as culturas consideradas principais pela família e adubos verdes.
Reafirmou-se que o crescimento da mandioca não foi melhor porque “a terra muito dura”
prejudicou seu crescimento, embora o milho e as leguminosas (feijão de porco e guandu)
tenham obtido um ótimo crescimento, cumprindo com a função esperada para essas culturas
no consórcio.
Para o Sistema de Manejo, enfatizou-se a importância da utilização de adubos verdes
e a proposta de consórcio que possibilitou experimentar arranjos diferentes com a cultura
0123456789
10Estrutura
Compactação
Estado do Residuo
Cor, Odor e Matéria
Orgânica
Retenção de Agua
Cobertura do Solo
Presença de
Invertebrados
Atividade Microbiológica
Qualidade do Solo
43
principal, proporcionando inclusive a redução da capina, o que possibilita reduzir insumos
como herbicidas, e a utilização de mão de obra. A unidade, por ser a primeira experiência
proposta para o assentado, contou com insumos externos (corretivo, sementes e farinha de
osso), que não compõem a realidade do assentado, mas que foram importantes para o
estabelecimento da UD.
De modo geral, destacou-se que existe uma relação entre a manutenção da fertilidade
do solo e da saúde dos cultivos, dependendo de uma série de medidas. Dentre essas medidas,
pode-se destacar o aporte de biomassa e adoção de práticas que promovam a diversidade
biológica, como fatores para o equilíbrio dos sistemas produtivos (RESENDE & VIDAL,
2008).
O gráfico (Figura 9) apresenta as notas indicadas para os atributos de Sanidade dos
Cultivos.
Figura 12: Representação dos Indicadores de Sanidade dos Cultivos – Unidade
Demonstrativa no Assentamento Terra Prometida
0123456789
10
Aparência Geral dos
Cultivos
Competição e Supressão
de Plantas Espontâneas
Desenho Agroecológico
Sistema de Manejo
Sanidade dos Cultivos
44
Figura 13: Atividade de avaliação de sustentabilidade através do método denominado de
“Sistema de Avaliação Rápida da Qualidade do Solo e Sanidade dos Cultivos” – Unidade
Demonstrativa.
4.5. A Metodologia Utilizada e a Socialização do Conhecimento
A utilização da metodologia de avaliação de sustentabilidade contribuiu para elucidar
diversas questões sobre a necessidade de respostas rápidas quanto às práticas de manejo
adotadas nas UDs. Tais questões possibilitaram reflexões sobre a utilização de adubação
verde e seus benefícios. Ao mesmo tempo, pontos foram observados sobre a necessidade do
uso constante da prática de adubação verde, uma vez que os benefícios decorrentes da adição
de materiais orgânicos ao solo tornam-se mais evidentes a médio e longo prazo, conforme é
destacado por ESPINDOLA et al. (1997).
Considerações sobre a prática da adubação verde foram feitas durante a atividade, a
partir da discussão sobre as propriedades do solo e dos cultivos, através da utilização dos
indicadores. Foi destacada a relação direta entre a diversidade dos sistemas produtivos com a
qualidade (física, química e biológica) do solo.
Pode-se observar que o aumento da diversidade de espécies ou da matéria orgânica do
solo podem beneficiar diversos atributos do sistema produtivo e a utilização da adubação
verde contribui relevantemente para tais benefícios. Nessa perspectiva, o uso de indicadores
cumpriu com a função de orientar os caminhos para a avaliação, discussão e percepção da
sustentabilidade.
Os resultados obtidos a partir da avaliação na UD conduzida pelo agricultor indicam
valor intermediário no que diz respeito à qualidade do solo e elevado quanto à sanidade dos
cultivos (Tabela 4), indicando que a prática avaliada pode contribuir para um aumento da
sustentabilidade daquele agroecossistema.
45
Tabela 4: Média dos valores atribuídos aos indicadores de qualidade do solo e da sanidade de
cultivos em Unidade Demonstrativa no Assentamento Terra Prometida.
Indicador Unidade Demonstrativa
Estrutura 7
Compactação 5
Estado do Resíduo 7
Cor, Odor e Matéria Orgânica 8
Qualidade do Solo Retenção de Agua 6
Cobertura do Solo 6
Presença de Invertebrados 8
Atividade Microbiológica 6
Média Qualidade do Solo 6.6
Aparência Geral dos Cultivos 8
Sanidade dos
Cultivos
Competição e Supressão de Plantas
Espontâneas 8
Desenho Agroecológico 8
Sistema de Manejo 9
Média Sanidade dos Cultivos 8.2
Considera-se, pelo caráter participativo da metodologia, que a experiência
desenvolvida facilitou a compreensão dos agroecossistemas. Pode-se fazer essa afirmação
porque a visualização dos benefícios, ainda que pontual, da utilização da prática da adubação
verde mostrou sua relevância, sobretudo quanto à cobertura do solo, ao impacto da radiação
solar, ao armazenamento de água e ao controle de plantas espontâneas.
A discussão estimulou propostas de modificações no agroecossistema ou a inserção de
práticas com vistas a aumentar valores dos atributos que receberam menores notas, assim
como a necessidade de continuar avaliando tais características. Tal procedimento permite
favorecer a sustentabilidade, através do monitoramento no decorrer do tempo, possibilitando a
comparação quanto à utilização de diversas práticas e manejo (ALTIERI & NICHOLLS,
2002; NICHOLLS et al., 2004).
Apesar das limitações quanto à participação de mais famílias na condução desse
trabalho, a metodologia se mostrou adequada à realidade do assentado, permitindo uma
abordagem onde os participantes (agricultores e técnicos) se mostraram motivados e cujos
resultados foram facilmente interpretados.
A realização da atividade ocorreu de forma dinâmica e participativa, favorecendo a
troca de conhecimentos, impressões e percepções entre agricultores e técnicos, e permitindo
aos agricultores conduzirem o processo de avaliação, com o intuito de compreender a situação
de seus agroecossistemas.
Observou-se que o assentado possui conhecimentos empíricos para analisar alguns
atributos, principalmente quanto à qualidade do solo em seu sistema produtivo. Dentro desse
contexto, os agricultores empregaram termos característicos. Como exemplos, encontram-se:
46
1) Estrumado para designar solo com bastante matéria orgânica; e 2) Poeirento para ausência
de agregados no solo.
O reconhecimento de plantas indicadoras (plantas espontâneas) relacionadas a
determinadas condições do solo (fertilidade, acidez, matéria orgânica, dentre outras), foi
expressivamente citado pelo assentado, evidenciando a importância dessas plantas para a
compreensão do estado do solo no agroecossistema. Algumas plantas indicadoras elencadas
foram fundamentais para verificar a compreensão do agricultor quanto aos indicadores
utilizados e sua relação com os atributos do solo.
Dentre as plantas citadas pelo assentado estão a trapoeraba (Commelina erecta), como
indicadora de “terra fresca e boa qualidade”, com presença de matéria orgânica, e a
guanxuma (Sida sp.), para designar “terra dura e sem vida”. De forma similar, Ricci &
Neves (2004) também destacam a guanxuma como planta indicadora, correspondendo a solos
compactados ou superficialmente erodidos. Por sua vez, a trapoeraba é citada como
indicadora de solo rico em matéria orgânica por IASB (2009).
Durante toda a atividade, o agricultor relacionou os indicadores com a forma com que
avalia seu agroecossistema no cotidiano, incluindo as plantas indicadoras, principalmente
quanto à qualidade do solo. A experiência apontou para a necessidade de sistematizar esses
conhecimentos como fundamentos importantes na busca da sustentabilidade, especialmente
nos assentamentos.
Nesse sentido, enfatiza-se a importância de considerar que os agricultores, de forma
empírica, possuem a capacidade de traduzir indicadores naturais e no cotidiano fazem a
interpretação e os relacionam com as diversas práticas desenvolvidas em seus sistemas
produtivos (SEVILLA GUZMÁN, 2001).
No contexto geral, a atividade também foi importante para aproximar-se do
conhecimento popular e para reconhecê-lo como importante na avaliação de seus
agroecossistemas. Esse aspecto coincide com a premissa de que os agricultores historicamente
desenvolvem experiências e acumulam conhecimento (CANUTO, 2011).
De forma geral, a experiência desenvolvida no assentamento dialogou com a
importância do desenvolvimento de Unidades Demonstrativas, por se caracterizarem como
espaços didáticos de construção do conhecimento, experimentação, avaliação,
monitoramento, capacitações, intercâmbio e troca de saberes entre os diversos participantes.
Assim, tais Unidades Demonstrativas podem ser consideradas como espaços de apropriação
social de práticas e manejo com base nos princípios da agroecologia (CANUTO et al., 2013).
A discussão sobre os resultados da implantação da UD e da avaliação de
sustentabilidade, realizada junto ao agricultor e membros da cooperativa, ocorreu através da
apresentação dos gráficos, contendo as notas atribuídas aos indicadores de qualidade de solo e
sanidade dos cultivos na UD e o resultados da discussão desses atributos, apresentando a
situação de cada indicador e apontando quais medidas precisam ser tomadas para melhorias
dos sistemas produtivos.
A visualização dos gráficos do tipo “ameba” foi eficiente para a verificação dos
indicadores de sustentabilidade. Na oportunidade, foram realizadas indicações de caminhos
para agroecossistemas sustentáveis, apontando a necessidade de adotar um conjunto de
práticas, incluindo adubação verde, já que os resultados da primeira experiência, ainda que
pontuais, foram considerados positivos.
47
5 CONCLUSÕES
O conjunto de ferramentas metodológicas construídas através de princípios da
pesquisa-ação orientou as atividades executadas e se mostrou adequado à realidade do
assentamento, possibilitando fomentar a utilização de práticas agrícolas que contribuem para a
diversificação e a melhoria das condições dos sistemas produtivos.
A utilização da prática da adubação verde, em função dos seus efeitos sobre a
dinâmica dos sistemas de produção, no contexto da implantação das Unidades
Demonstrativas, contribuiu como instrumento para sensibilização das famílias assentadas
acerca da necessidade de estabelecer ou aprimorar práticas sustentáveis, com vistas à
obtenção de agroecossistemas produtivos e biodiversos.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A organização das famílias através da cooperativa se mostrou um importante agente
fomentador das potencialidades socioeconômica e cultural, contribuindo para o desenho de
estratégias coletivas nas diversas esferas que podem garantir e proporcionar autonomia e
melhores condições de vida aos assentados. Além disso, potencializa gerar um ambiente
formativo, permite o fortalecimento e ampliação da capacidade de resistência e auto-
organização das famílias, fazendo com que muitas proposições sejam difundidas e colocadas
em prática.
A participação da cooperativa em todo processo de pesquisa se constituiu como fator
fundamental em todas as esferas, mas principalmente na perspectiva de continuar a
desenvolver ações dessa natureza como estratégia para a diversificação da produção nos
assentamentos e de consolidação de unidades que sejam referências produtivas para as
famílias assentadas.
Considera-se que a avaliação e o monitoramento do agroecossistema, através do
método “Sistema de Avaliação Rápida da Qualidade do Solo e Sanidade dos Cultivos”, atua
como um importante instrumento motivador para que os assentados envolvidos possam dar
continuidade ao trabalho ora iniciado, e que, pela própria convicção, possam seguir adotando
práticas que sejam condizentes com a realidade do assentamento. Portanto, a metodologia
proporciona um espaço didático e formativo onde os agricultores identificam e propõem
processos em seus agroecossistemas.
As diversas atividades realizadas no contexto das UDs (conduzidas na Fazendinha
Agroecológica e no Assentamento), a saber, de planejamento, implantação, acompanhamento
e análises, permitiram o levantamento de um montante de informações sobre as famílias e o
assentamento que contribuíram para o delineamento do trabalho na sua totalidade. Esse fato
possibilitou constatar que a participação das famílias no presente trabalho está na perspectiva
de adoção de tecnologias de baixo custo que contribuam para: (1) a recuperação das
condições de fertilidade do solo; (2) o controle de plantas espontâneas, considerando a
insuficiência de mão de obra e a necessidade de diminuir a utilização de agrotóxicos e (3) a
melhoria das condições fitossanitárias.
Existem muitas semelhanças quanto aos anseios das famílias para a implantação das
UDs, mas também diferenças marcantes quanto às práticas e manejo cotidiano nas unidades
produtivas. Esses aspectos alertaram para os cuidados necessários no método de trabalho no
sentido de não criar padrões de recomendação. Tal análise possibilitou como resultado a
implantação de uma UD que fortaleceu o caráter de experimentação do trabalho realizado
com base na realidade das famílias assentadas.
48
O estudo realizado também torna evidente que existem diversas limitações
socioeconômicas e ambientais no contexto do assentamento, tais como ausência de
infraestrutura básica, acesso a crédito e assistência técnica, insuficiência de mão-de-obra,
terras de baixa fertilidade natural, dentre outras. Portanto, torna-se necessário, ao se discutir
sistemas produtivos com base nos princípios da agroecologia, considerar esses importantes
desafios para o crescimento socioeconômico e permanência das famílias nos assentamentos.
Finalmente, considera-se que esse trabalho não está esgotado e enfatiza como
importante o desenvolvimento de ações de fomento que possibilitem a sua continuidade, uma
vez que as famílias apontam para a necessidade de avançar na experimentação que utilize
práticas dessa natureza, onde o nível de sustentabilidade possa ser mantido e apresente
resultados que possam ser expressos através da utilização de indicadores como produtividade,
custo de produção, renda, segurança alimentar, diminuição do tempo de trabalho, dentre
outros.
49
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGRAR CONSULTORIAS E ESTUDOS TÉCNICOS. Plano de Desenvolvimento do
Assentamento Terra Prometida – PDA. Rio de Janeiro: ITERJ, 2008. 120 p.
ALCANTARA, F. A. de; FURTINI NETO, A. E.; PAULA, M. B. de; MESQUITA, H. A. de;
MUNIZ, J. A. Adubação verde na recuperação da fertilidade de um Latossolo Vermelho-
Escuro degradado. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 35, p. 277-288, 2000.
ALENTEJANO, P. R. R. Questão agrária e agroecologia no Brasil do século XXI. In:
MOLINA, M. C.; SANTOS, C. A.; MICHELOTTI, F.; SOUSA, R. da P. (Org.). Práticas
contra hegemônicas na formação dos profissionais das Ciências Agrárias: reflexões sobre
Agroecologia e Educação do Campo nos cursos do Pronera. MDA: Brasília, 2014. 292 p.
ALENTEJANO, P. R. R. Um breve balanço da agricultura e da política agrária no estado do
Rio de Janeiro nas últimas décadas. In: ASSOCIAÇÃO DOS GEÓGRAFOS BRASILEIROS.
II Caderno de Textos do GT Agrária – AGB. Rio de Janeiro/Niterói, 2012. p. 8-10.
ALENTEJANO, P. R. R. Evolução do espaço agrário fluminense. GeoGraphia, v. 7, n. 13, p.
49-70, 2005.
ALENTEJANO, P. R. R. Reforma agrária, território e desenvolvimento no Rio de
Janeiro. 2003. 297 p. Tese (Doutorado em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade) -
Instituto de Ciências Humanas Sociais, CPDA, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro.
ALMEIDA, D. L. de; RIBEIRO, R. de L. D.; GUERRA, J. G. M. Sistema Integrado de
Produção Agroecológica: uma experiência de pesquisa em agricultura orgânica. Seropédica:
Embrapa Agrobiologia, 2003. 37 p. (Embrapa Agrobiologia. Documentos, 169).
ALMEIDA, J. A construção social de uma nova agricultura: tecnologia agrícola e
movimentos sociais no sul do Brasil. Porto Alegre: UFRGS, 1999. 216 p.
ALMEIDA, S. G; PETERSEN, P; CORDEIRO. A. Crise socioambiental e conversão
ecológica da agricultura brasileira: subsídios à formulação de diretrizes ambientais para o
desenvolvimento agrícola. Rio de Janeiro: ASPTA, 2001. 122 p.
ALTIERI, M. Agroecologia: bases científicas para uma agricultura sustentável. 3. ed. São
Paulo: Expressão; Rio de Janeiro: ASPTA, 2012. 400 p.
ALTIERI, M.; NICHOLLS, C. I. Un método agroecológico rapido para la evaluacion de la
sostenibilidad de cafetales. Manejo Integrado de Plagas y Agroecologia, v. 64, p. 17-24,
2002.
ALVARENGA, R. C; COSTA, L. M. da; MOURA FILHO, W; REGAZZI, A. J.
Características de alguns adubos verdes de interesse para a conservação de solos. Pesquisa
Agropecuária Brasileira, v. 30, p. 175-185, 1995.
ALVES, E. J. Consórcio da bananeira com culturas anuais, perenes e plantas de
cobertura do solo. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e Fruticultura, 2003. 16 p. (Embrapa
Mandioca e Fruticultura. Circular Técnica, 52).
ARF, O.; SILVA, L. S.; BUZETTI, S.; ALVES, M. C.; SÁ, M. E.; RODRIGUES, R. A. F.;
HERNANDEZ, F. B. T. Efeito da rotação de culturas, adubação verde e nitrogenada sobre o
rendimento do feijão. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 34, p. 2029-2036, 1999.
ASSIS, L.; ROMEIRO, A. R. Agroecologia e agricultura orgânica: controvérsias e
tendências. Desenvolvimento e meio ambiente, n. 6, p. 67-80, 2002.
AUGUSTO, D. O assentamento como um espaço de organização. Disponível em:
<http://antigo.mst.org.br/jornal/282/entrevista>. Acesso em: 14 de Abril de 2016.
BALESTRO, M. V.; SAUER, S. Diversidade no Rural, transição agroecológica e caminhos
para a superação da Revolução Verde: introdução ao debate. In: SAUER, S.; BALESTRO, M.
V. (Orgs.). Agroecologia e os desafios da transição agroecológica. 2. ed. São Paulo:
Expressão Popular, 2013. p. 173-198.
50
BALIEIRO, F. de C.; BERBARA, R.; FARIA, S. M.; DE-POLLI, H.; FRANCO, A. A.
Insumos biológicos. In: FREIRE, L. R. (Coord). Manual de calagem e adubação do estado
do Rio de Janeiro. Seropédica: Universidade Rural, 2013. 430 p.
BERGAMASCO, S. M. P. P. A realidade dos assentamentos rurais por detrás dos números.
Revista Estudos Avançados, São Paulo, v. 11, n. 31, p. 37-49, 1997.
CALEGARI, A. Plantas de cobertura e rotação de culturas no sistema de plantio direto.
Informações Agronômicas, n. 122, p. 18-21, 2008.
CALEGARI, A.; MONDARDO, A.; BULISANI, E. A.; WILDER, L. do P.; COSTA, M. B.
B. da; ALCÂNTARA, P. B.; MIYASAKA, S.; AMADO, T. J. C. Adubação verde no sul do
Brasil. Rio de Janeiro: AS-PTA, 1993. 346 p.
CANELLAS, L. P.; ESPINDOLA, J. A. A.; REZENDE, C. E.; CAMARGO, P. B.;
ZANDONADI, D. B.; RUMJANEK, V. M.; GUERRA, J. G. M.; TEIXEIRA, M. G.; BRAZ
FILHO, R. Organic matter quality in a soil cultivated with perennial herbaceous legumes.
Scientia Agricola, v. 61, n. 1, p. 53-61, 2004.
CANELLAS, L. P.; BUSATO, J. G.; CAUME, D. J. O uso e manejo da matéria orgânica
humificada sob a perspectiva da agroecologia. In.: CANELLAS, L. P.; SANTOS, G. A.
(Eds.). Humosfera: tratado preliminar sobre a química das substâncias húmicas. UENF:
Campos dos Goytacazes, 2005. p. 244-267.
CANUTO, J. C. Investigación en agroecología: instituciones, métodos y escenarios futuros.
In: MORALES HERNÁNDEZ, J. (Coord.). La agroecologia en la construcción de
alternativas hacia la sustentabilidad rural. México: Instituto Tecnológico y de Estudios
Superiores de Occidente, 2011. p. 143-162.
CANUTO, J. C. Metodologia da pesquisa participativa em agroecologia. In: SEMINÁRIO
ESTADUAL DE AGROECOLOGIA DO MARANHÃO, 2005, São Luiz. Anais. São Luiz:
UEMA, Programa de Pós-Graduação em Agroecologia, 2005.
CANUTO, J. C.; ÁVILA, P. C.; CAMARGO, R. C. R de. Assentamentos rurais
sustentáveis: o processo de construção participativa do conhecimento agroecológico e o
monitoramento de unidades de referência no Assentamento Sepé Tiaraju-SP. Jaguariúna:
Embrapa Meio Ambiente, 2013. 47 p. (Embrapa Meio Ambiente. Documentos, 93).
CAPORAL, F. R. Agroecologia: uma nova ciência para apoiar a transição a agriculturas mais
sustentáveis. Brasília: MDA/SAF, 2009. 27 p.
CAPORAL, F. R.; COSTABEBER, J. A. Análise multidimensional da sustentabilidade: uma
proposta metodológica a partir da Agroecologia. Agroecologia e Desenvolvimento Rural
Sustentável, v.3, p.70-85, 2002.
CASADO, G. G.; SEVILLA GUZMÁN, E.; MOLINA, M. G. Introducción a la
agroecología como desarrollo rural sostenible. Madrid: Mundi-Prensa, 2000. 535 p.
CASALINHO, H. D. Qualidade do solo como indicador de sustentabilidade de
agroecossistemas. 2003. 192 p. Tese (Doutorado em Produção Vegetal) - Faculdade de
Agronomia Eliseu Maciel, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas.
CEPERJ. Divisão Regional: o Grande Rio e a Baixada Fluminense. Disponível em:
<http://www.ceperj.rj.gov.br/ceep/info_territorios/divis_regional.html>. Acesso em: 12 de
abril de 2016.
COMISSÃO MUNDIAL PARA O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO -
CMMAD. Our common future: the Brundtland report. Oxford: Oxford University Press,
1987. 247 p.
CONWAY, G. R. Análise participativa para o desenvolvimento agrícola sustentável.
ASPTA: Rio de Janeiro, 1993. 32 p.
CORRÊA, E, F.; MACEDO, M, E. Zé Pureza e a reforma agrária no Rio de Janeiro do pré-
64. Estudos Sociedade e Agricultura, v. 15, n. 2, p. 368-392, 2007.
51
COSTA NETO, C. P. L.; CANAVESI, F. Sustentabilidade em assentamentos rurais: o MST
rumo a uma Reforma Agrária agroecológica no Brasil? In: ALIMOND, H. (Org.). Ecologia
política, sociedad y utopia. México: CLACSO, 2002, p. 203-215.
DELGADO, G. da C. Capital financeiro e agricultura no Brasil, 1965-1985. Campinas:
lcone; Unicamp, 1985. 144 p.
DEVIDE, A. C. P. Sistema orgânico de produção de mandioca consorciada com milho e
caupi. 2006. 85 p. Dissertação (Mestrado em Fitotecnia) – Instituto de Agronomia,
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica.
EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Manual de métodos de análise de solos.
2. ed. Rio de Janeiro: Embrapa Solos. 1997. 212 p.
ESPINDOLA, J. A. A.; ALMEIDA, D. L. de; GUERRA, J. G. M. Estratégias para
utilização de leguminosas para adubação verde em unidades de produção agroecológica.
Seropédica: Embrapa Agrobiologia, 2004. 14 p. (Embrapa Agrobiologia. Documentos, 174).
ESPINDOLA, J. A. A.; GUERRA, J. G. M.; ALMEIDA, D. L. de. Adubação verde:
estratégia para uma agricultura sustentável. Seropédica: Embrapa Agrobiologia, 1997. 20 p.
(Embrapa Agrobiologia. Documentos, 42).
ESPINDOLA, J. A. A.; GUERRA, J. G. M.; DE-POLLI, H.; ALMEIDA, D. L. de;
ABBOUD, A. C. de S. Adubação verde com leguminosas. Brasília: Embrapa Informação
Tecnológica, 2005. 49 p. (Coleção Saber, 5).
FAGERIA, N. K. Sistema de cultivo consorciado. In: FAGERIA, N. K. (Ed.). Solos tropicais
e aspectos fisiológicos das culturas. Brasília: EMBRAPA-DPU, 1989. p. 185-196.
FAVERO, C.; JUCKSCH, I.; ALVARENGA, R. C.; COSTA, L. M. da. Modificações na
população de plantas espontâneas na presença de adubos verdes. Pesquisa Agropecuária
Brasileira, v. 36, p. 1355-1362, 2001.
FEIDEN, A.; CAMPOLIN, A; LISITA, F.; COSTA, F.; FIDELYS, Z.; MARTINS, R.;
TRINDADE, L.; BRANCO, O. Avaliação participativa de adubos verdes em assentamentos
de reforma agrária de Corumbá, MS: resultados preliminares. Revista Brasileira de
Agroecologia, v. 3, p. 19-22, 2008.
GIACOMINI, S. J.; AITA, C.; VENDRUSCOLO, E. R. O.; CUBILLA, M.; NICOLOSO, R.
S.; FRIES, M. R. Matéria seca, relação C/N e acúmulo de nitrogênio, fósforo e potássio em
misturas de plantas de cobertura do solo. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 27, p.
325-334, 2003.
GIULIANI, G. M.; CASTRO, E. G. Recriando espaços sociais: uma análise de dois
assentamentos rurais no Estado do Rio de Janeiro. Estudos Sociedade e Agricultura, v. 6, p.
138-169, 1996.
GLIESSMAN, S. R. Agroecologia: processos ecológicos em agricultura sustentável. 2. ed.
Porto Alegre: UFRGS, 2001. 653 p.
GOMES, E.; SILVEIRA, P. R. C. Agroecologia nos assentamentos de reforma agrária – o
caso do assentamento Alvorada/RS. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E
SOCIOLOGIA RURAL, 40., 2002, Passo Fundo. Anais… Passo Fundo: EDIUPF, 2002. 1
CD-ROM.
GONÇALVES, S. Campesinato, resistência e emancipação: o modelo agroecológico
adotado pelo MST no Estado do Paraná. 2008. 311 p. Tese. (Doutorado em Geografia) –
Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente.
GRAZIANO NETO, F. Questão Agrária e Ecologia: crítica da moderna agricultura. São
Paulo: Brasiliense, 1982. 154 p.
GRYNSZPAN, M. Mobilização camponesa e competição política no Estado do Rio de
Janeiro (1950-1964). 1987. 376 p. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Museu
Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
52
GUHUR, D. M. P.; TONÁ, N. Agroecologia. In: CALDART, R. S.; PEREIRA, I. B.;
ALENTEJANO, P.; FRIGOTTO, G. (Orgs.). Dicionário da Educação do Campo. Rio de
Janeiro: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio; São Paulo: Expressão Popular, 2012.
p. 57-67.
GUINDANI, S. Indicadores de sustentabilidade em agroecossistemas: uma análise. 1999.
72 p. Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas). Universidade Federal de Santa Catarina.
Centro de Ciências Agrárias, Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas.
Florianópolis.
GUZMÁN CASADO, G.; GONZÁLEZ de MOLINA, M.; SEVILLA GUZMÁN, E.
Introducción a la agroecología como desarrollo rural sostenible. Madrid: Mundi-Prensa,
2000. 535 p.
HADICH, C. As Jornadas de Agroecologia e sua contribuição na construção do Projeto
Popular. Disponível em: < http://www.jornadaagroecologia.com.br/?page_id=1501>. Acesso
em: 20 de Marco de 2016.
IASB - Instituto das Águas da Serra da Bodoquena. Sistemas agroflorestais: uma alternativa
para manter a floresta em pé. Bonito: IASB, 2009. 52 p.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Agropecuário 2006.
Agricultura Familiar, Primeiros Resultados. Rio de Janeiro: IBGE. 2006. 267 p.
INCRA – INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA.
INCRA cria assentamento em conjunto com o governo do Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://www.incra.gov.br/incra-cria-assentamento-em-conjunto-com-o-governo-do-rio-de-
janeiro>. Acesso em: 28 de Março de 2016.
JESUS, E. L. Diferentes abordagens de agricultura não-convencional: história e filosofia. In:
AQUINO, A. M.; ASSIS, R. L. de (Eds.). Agroecologia: princípios e técnicas para uma
agricultura sustentável. Seropédica: Embrapa Agrobiologia; Brasília: Embrapa Informação
Tecnológica, 2005. p. 21-45.
LEITE, S. P. Assentamento rural. In: CALDART, R. S.; PEREIRA, I. B.; ALENTEJANO, P.;
FRIGOTTO, G. (Orgs.). Dicionário da Educação do Campo. Rio de Janeiro: Escola
Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio; São Paulo: Expressão Popular, 2012. p. 108-114.
LEITE, S.P.; HEREDIA, B.; MEDEIROS, L.; PALMEIRA, M.; CINTRÃO, R. Impactos
econômicos dos assentamentos rurais no Brasil: análise das suas dimensões regionais. Revista
Economia Ensaios, v. 22, n. 1, p. 1-21, 2007.
MACHADO, C. T. T.; VIDAL, M. C. Avaliação participativa do manejo de
agroecossistemas e capacitação em agroecologia utilizando indicadores de
sustentabilidade de determinação rápida e fácil. Planaltina: Embrapa Cerrados, 2006. 32 p.
(Embrapa Cerrados. Documentos, 173).
MACHADO, L. C. P.; MACHADO FILHO, L. C. P. A dialética da agroecologia:
contribuição para um mundo com alimentos sem veneno. São Paulo: Expressão Popular,
2014. 360 p.
MANCIO, D. Percepção ambiental e construção do conhecimento de solos em
assentamento de reforma agrária. 2008. 94 p. Dissertação (Mestrado). Universidade
Federal de Viçosa, Viçosa.
MEDEIROS, L; LEITE, S. (Coords.). Os impactos regionais dos assentamentos rurais:
dimensões econômicas, políticas e sociais. Rio de Janeiro: CPDA/UFRRJ. Relatório de
Pesquisa. Convênio CPDA – UFRRJ/FINEP, 2002.
MERCANTE, F. M.; SILVA, R. F.; RICHETTI, A.; MARANHO, E.; PEZARICO, C. R.
Rendimento de grãos de milho cultivado em consórcio com adubos verdes sob condições
de baixa aplicação de insumos. Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste, 2012. 22 p.
(Embrapa Agropecuária Oeste. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, 61).
53
MERLIM, A. O.; GUERRA, J. G. M.; JUNQUEIRA, R. M.; AQUINO, A. M. Soil
macrofauna in cover crops of figs grown under organic management. Scientia Agricola, v.
62, p. 57-61, 2005.
MONTEIRO, D. Agroecossistema. In: CALDART, R. S.; PEREIRA, I. B.; ALENTEJANO,
P.; FRIGOTTO, G. (Orgs.). Dicionário da Educação do Campo. Rio de Janeiro: Escola
Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio; São Paulo: Expressão Popular, 2012. p. 67-73.
MORAES, S. R. G., CAMPOS, V. P., POZZA, E. A., FONTANETTI, A., CARVALHO, G.
J.; MAXIMINIANO, C. Influência de leguminosas no controle de fitonematóides em cultivo
orgânico de alface americana e repolho. Fitopatologia Brasileira, v. 31, p. 188-191, 2006.
MOREIRA, R. M.; CARMO, M. S. do. Agroecologia na construção do desenvolvimento rural
sustentável. Agricultura em São Paulo, v. 51, n. 2, p. 37-56, 2004.
MPA. Movimentos dos Pequenos Agricultores: as políticas da Via Campesina. 2010.
Disponível em: <http://www.mpabrasil.org.br/soberania>. Acesso em: 14 de Abril de 2016.
NICHOLLS, C. I.; ALTIERI, M. A.; DEZANET, A.; LANA, L.; FEISTAUER, D.;
OURIQUES, M. A rapid, farmer-friendly agroecological method to estimate soil quality and
crop health and vineyard systems. Biodynamics, n. 250, p. 33-40, 2004.
NORDER, L. A. C. Assentamentos rurais: casa, comida e trabalho. 1997. 143 p. Dissertação
(Mestrado) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas,
Campinas.
PESSÔA, L. F. T. Construindo a Terra Prometida - da terra de (agro) negócio à terra de
trabalho: a nova face da questão agrária e a luta pela reforma agrária em um acampamento
no Estado do Rio de Janeiro. 2009. 160 p. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) -
Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
Seropédica.
PETERSEN, P. Agroecologia em construção: terceira edição em um terceiro contexto. In:
ALTIERI, M. Agroecologia: bases científicas para uma agricultura sustentável. 3. ed. São
Paulo: Expressão; Rio de Janeiro: ASPTA, 2012. 400 p.
RESENDE, F. V; VIDAL, M. C. Organização da propriedade no sistema orgânico de
produção. Brasília: Embrapa Hortaliças, 2008. 11 p. (Embrapa Hortaliças. Circular Técnica,
63).
RIBEIRO, M. A.; CAVALCANTI, V. M. Tipologia urbana: o exemplo do estado do Rio de
Janeiro ao final do milênio. In: PEREIRA, E.; DIAS, C.D. (Eds.). As cidades e a
urbanização no Brasil: passado, presente, futuro. Florianópolis: Insular, 2011. p. 147-158.
RICCI, M. dos S. F.; NEVES, M. C. P, Cultivo do café orgânico. Seropédica: Embrapa
Agrobiologia, 2004. 95 p. (Embrapa Agrobiologia. Sistemas de Produção, 2).
SANTOS, C. A. B. Consórcios de espécies de cobertura de solo para adubação verde,
antecedendo ao cultivo milho e repolho sob manejo orgânico. 2009. 69 p. Dissertação
(Mestrado em Fitotecnia) – Instituto de Agronomia, Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro, Seropédica.
SANTOS, R. T. R. Entraves e perspectivas da Cooperativa de Produção Agroecológica
Terra Fértil (COOPATERRA) para acessar o PNAE (Programa Nacional de
Alimentação Escolar), no município de Duque de Caxias, Rio de Janeiro. 2015. 54 p.
Monografia (Especialização em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável em
Assentamentos) - Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro, Seropédica.
SAUER, S., Conflitos agrários no Brasil: a construção de identidade social contra a violência.
In: BUAINAIN, A. (Ed). Luta pela terra, reforma agrária e gestão de conflitos e reforma
agrária no Brasil. Campinas, Editora da Unicamp, 2008, p. 231-262.
54
SCHMITT, C. J. Transição agroecológica e desenvolvimento rural: um olhar a partir da
experiência brasileira. In: SAUER, S.; BALESTRO, M.V (Orgs.). Agroecologia e os desafios
da transição agroecológica. 2. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2013. p. 173-198.
SEVILLA GUZMÁN, E.S. Uma estratégia de sustentabilidade a partir da Agroecologia.
Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, v. 2, n. 1, p. 35-45, 2001.
SEVILLA-GUZMÁN, E. Asentamientos rurales y Agroecología en Andalucía. In:
Agricultura y alimentación, Cuadernos n. 35. Sadepaz: Madrid, 1999 p. 76 - 85
SIMÕES, M. R. A cidade estilhaçada: reestruturação econômica e emancipações municipais
na Baixada Fluminense. 2006. 292 p. Tese (Programa de Pós-Graduação em Geografia) –
Instituto de Geociência, Universidade Federal Fluminense, Niterói.
SOUZA-ESQUERDO, V. F.; BERGAMASCO, S. M. P. P.; OLIVEIRA, J. T. A.;
OLIVEIRA, E. S. Reforma agrária, qualidade de vida e segurança alimentar e nutricional. In:
JORNADA DE ESTUDOS EM ASSENTAMENTOS RURAIS, 6., 2013, Campinas. Anais.
Campinas: Unicamp, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola, 2013. p. 13-23.
THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. 14. ed. São Paulo: Cortez , 2005. 132 p.
TONÁ, N; GUHUR, D. O diálogo de saberes, na promoção da agroecologia na base dos
movimentos sociais populares. Revista Brasileira de Agroecologia, v. 4, n. 2, p. 3322-3325,
2009.
VERONA, L. A. F. Avaliação de sustentabilidade em agroecossistemas de base familiar e
em transição agroecológica na região sul do Rio Grande do Sul. 2008. 192 p. Tese
(Doutorado em Produção Vegetal) – Faculdade de Agronomia, Universidade Federal de
Pelotas, Pelotas, 2008.
VIA CAMPESINA INTERNACIONAL. La voz de las campesinas y de los campesinos del
mundo. Disponível em: <http://viacampesina.org/es/index.php/organizaciainmenu-44>.
Acesso em: 13 de Abril de 2016.
55
8 ANEXOS
Anexo 1: Indicadores de Sustentabilidade para Agroecossistemas de Qualidade de Solo e
Sanidade dos Cultivos
QUALIDADE DO SOLO
Valor Estabelecido Característica Valor Estimado
Estrutura
1 Solto Empoeirado sem Visíveis Agregados
5 Poucos Agregados que quebram como pouca pressão
10 Agregados bem formados difíceis de ser quebrados
Compactação
1 Solo compactado o arame encurva-se facilmente
5 Fina Camada Compactada, alguma restrição à penetração do arame.
10 Sem compactação o arame é todo penetrado no solo
Estado do Resíduo
1 Resíduos orgânicos com lenta decomposição
5 Presença de resíduos em decomposição há pelo menos um ano
10 Resíduos em vários estágios de decomposição, muitos resíduos bem decompostos.
Cor, Odor e Matéria Orgânica.
1 Pálido, odor químico e ausência de húmus.
5 Marrom claro sem odor, há alguma presença de húmus.
10 Marrom escuro, odor de matéria fresca e abundante presença de húmus.
Retenção de Agua
1 Solo seco não retém água
5 Grau imitado de umidade por curto período de tempo
10 Considerável grau de umidade por um curto período de tempo
Cobertura do Solo
1 Solo exposto
5 Menos de 50% do solo coberto por resíduos ou cobertura viva
10 Mais de 50% do solo coberto por resíduos ou cobertura viva
56
Anexo1: Indicadores de Sustentabilidade para Agroecossistemas de Qualidade de Solo e
Sanidade dos Cultivos (Continuação).
Presença de Invertebrados
1 Ausência de atividade de invertebrados
5 Poucas minhocas e artrópodes presentes
10 Presença abundante de invertebrados
Atividade Microbiológica
1 Muito pouca efervescência após aplicação de água oxigenada
5 Efervescência leve a média
10 Efervescência abundante
SANIDADE DOS CULTIVOS
Valor Estabelecido Característica Valor Estimado
Aparência Geral dos Cultivos
1 Clorótico, folhagem descolorida com sinal de deficiência.
5 Folhagem verde clara com alguma perca de pigmentação.
10 Folhagem escura sem sinal de deficiência
Competição e Supressão de Plantas Espontâneas
1 Plantas estressadas, suprimidas por plantas espontâneas.
5 Presença média de plantas espontâneas, algum nível de competição.
10 Plantas vigorosas suprimindo plantas espontâneas
Desenho Agroecológico
1 Sem barreiras de vento, sem corredores de vegetação, apenas 1 cultura, sem rotação
5 Barreiras e corredores dispersos na área de cultivo, mais de 1 cultura plantada, sem
rotação
10 Com barreiras e corredores , mais de 1 cultura plantada, com rotação
Sistema de Manejo
1 Convencional, monocultivo, manejo com agroquímicos.
5 Em transição para orgânico ou agroecológico, com substituição de insumos.
10 Orgânico diversificado ou agroecológico, com pouco uso de insumos naturais
externos.
Fonte: MACHADO & VIDAL (2006)
57
Anexo 2: Tabela de Análise Química do Solo Assentamento Terra Prometida
Agricultor pH
(unid)
Al
(cmolc/dm3)
C
(g/kg)
P K
----(mg/dm3)----
Ca Mg
---(cmolc/ dm3)---
UDA 1 4,36 2,10 25,3 9,00 78,00 2,65 0,86
UDA 2 4,17 3,60 21,9 19,51 100,00 1,25 0,54
Observação: Resultados obtidos no Laboratório de Química Agrícola – LQA, da Embrapa Agrobiologia.
58
Anexo 3: ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA.
Data:
Local:
Nome:
Questões:
1) Como ocorreu sua inserção no assentamento?
2) Como ocorre a organização produtiva (Mão-de-obra, insumos, créditos, infraestrutura,
comercialização, dentre outros)?
3) Existe trabalho cooperado no assentamento?
4) Porque motivo gostaria de implantar a Unidade Demonstrativa?