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INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA IBRATI SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA SOBRATI MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA THAYS VANESSA ARRUDA DA SILVA TUBERCULOSE: Uma abordagem geral sobre os desafios do tratamento

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INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA – IBRATISOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA – SOBRATIMESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA

THAYS VANESSA ARRUDA DA SILVA

TUBERCULOSE: Uma abordagem geral sobre os desafios do tratamento

RECIFE - PE2016

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THAYS VANESSA ARRUDA DA SILVA

TUBERCULOSE: Uma abordagem geral sobre os desafios do tratamento

Artigo apresentado à Coordenação

do Curso de Mestrado Profissionalizante

em Terapia Intensiva pelo Instituto

Brasileiro de Terapia Intensiva, para

obtenção do título de Mestre em Terapia

Intensiva.

Orientadora: Ms. Leila Pereira de Souza

RECIFE – PE2016

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RESUMO

A tuberculose é um problema de saúde prioritário no Brasil. O agravo atinge a

todos os grupos etários, com maior predomínio nos indivíduos

economicamente ativos e do sexo masculino. Diante deste contexto foi

despertado o desejo de compreender através da literatura uma abordagem

geral sobre o tratamento da tuberculose no Brasil com o objetivo de relatar o

tratamento medicamentoso; descrever adesão ao tratamento e caracterizar os

fatores de abandono do tratamento da tuberculose. Estudo de caráter descritivo

com abordagem qualitativa, através de artigos, livros e documentos de

organizações, entre dezembro de 2015 a setembro de 2016, tendo como

critérios de inclusão: disponibilidade dos textos na integra em suporte

eletrônico e bibliotecas, publicado em periódicos nacionais e redigido em

português com delimitação temporal de 2011 a 2016. Após o levantamento,

procedeu-se a análise dos dados de maneira cuidadosa. A pesquisa não

ofereceu riscos à população, conforme determina a Resolução n° 466/2012. Foi

possível evidenciar que a cura e o tratamento da Tuberculose têm sido

crescente, após a descentralização e estratégia dos Tratamentos Diretamente

Observados nas unidades de saúde. Observa-se que há uma tendência do

abandono a diminuir, para o êxito do tratamento. Conclui-se, que é

indispensável à educação em saúde para que os profissionais conheçam e

aplique na assistência os protocolos de terapia medicamentosa, sendo

necessário que haja comprometimento dos profissionais, envolvimento do

serviço de saúde e do doente para contemplar as necessidades de ambas as

partes.

Descritores: Tuberculose. Abandono. Tratamento.

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ABSTRACT

Tuberculosis is a priority health problem in Brazil. The injury affects all age

groups, with predominance in the economically active individuals and males.

Given this context it was awakened the desire to understand through literature a

general approach on the treatment of tuberculosis in Brazil in order to report

drug treatment; describe treatment adherence and characterize the

abandonment factors of tuberculosis treatment. descriptive study with

qualitative approach, through articles, books and organizations documents,

from December 2015 to September 2016, with the inclusion criteria: availability

of texts full electronic support and libraries, published in national and written

journals in Portuguese with temporal delimitation from 2011 to 2016. After the

survey, conducted the analysis of the careful way data. The survey did not offer

risks to the population, as determined by Resolution No. 466/2012. It was

possible to show that the cure and treatment of TB have been increasing after

decentralization and strategy of Directly Observed Treatment in health facilities.

It is observed that there is a tendency to decrease abandonment, to the

success of treatment. It follows that it is essential to health education for

professionals to know and apply in assisting the drug therapy protocols, and

there needs to be commitment of the professionals involved in the health

service and the patient to accommodate the needs of both parties.

Keywords: Tuberculosis. Abandonment. Treatmento.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................62 MÉTODO..........................................................................................................83 RESULTADO E DISCUSSÃO.........................................................................93.1 Tratamento da tuberculose........................................................................93.2. Adesão ao tratamento da tuberculose...................................................123.3. Fatores de abandono do tratamento da tuberculose............................143.3.1 Condições socioeconômicas................................................................143.3.2 Portador de vícios de drogas licita e ilícitas........................................153.3.3 Crença na cura através da fé.................................................................153.3.4 Influência familiar...................................................................................163.3.5 Efeitos colaterais da terapia medicamentosa......................................163.3.6 Relacionados à operacionalização dos serviços de saúde...............174 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................19REFERÊNCIAS.................................................................................................20

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1 INTRODUÇÃO

A tuberculose (TB) é um problema de saúde prioritário no Brasil. O

agravo atinge a todos os grupos etários, com maior predomínio nos indivíduos

economicamente ativos e do sexo masculino. Doença infecciosa que atinge,

principalmente, o pulmão. O agente etiológico é o M. Tuberculosis, também

conhecido como bacilo de Koch (BK). O reservatório principal é o homem. A

tuberculose é transmitida de pessoa a pessoa, pelo ar, através da fala, do

espirro, e principalmente a tosse de um doente pulmonar, pois é lançadas

gotículas de tamanhos variados contendo no seu interior o bacilo. Após a

infecção transcorrem em média de quatro a doze semanas para a detecção

das lesões (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

É evidenciado por tosse com tempo igual ou superior a três semanas,

distúrbios ventilatórios obstrutivos ou restritivos, infecções respiratórias de

repetição, formação de hemoptise, atelectasias e empiemas. Para interromper

a cadeia de transmissão da TB é fundamental a descoberta precoce dos casos

bacilíferos. Com a implantação em nosso país da Equipe de Saúde da Família

(ESF) e do Programa de Agente Comunitário de Saúde (PACS), a busca ativa

deve ser estendida à comunidade com a inclusão da identificação do

Sintomático Respiratório (SR) na visita mensal para todos os moradores do

domicílio na população da área de abrangência de cada equipe (MINISTÉRIO

DA SAÚDE, 2006).

É importante que os profissionais de saúde tenham participação ativa na

busca de doentes tuberculosos em suas Unidades de Saúde, como

capacitando equipes das comunidades de forma a torná-los capazes de

reconhecer os suspeitos e encaminhá-los para exame. Lembrando que quanto

mais precoce o diagnóstico menor a possibilidade de disseminação da doença.

A maior parte dos doentes tuberculosos tem lesão no pulmão e tosse

( CAMPOS, 2006)

Ao refletir sobre os desafios do tratamento da tuberculose e a assistência

nos serviços de saúde, foi evidenciada a importância deste estudo para

melhorar a qualidade da assistência e assim evitar recidiva e transmissão da

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doença que já modificou não somente a vida dos doentes, mas foi responsável

por inúmeras modificações socioculturais.

Diante deste contexto foi despertado o desejo de compreender através

da literatura uma abordagem geral sobre o tratamento da tuberculose no Brasil

com o objetivo de relatar o tratamento medicamentoso; descrever adesão ao

tratamento e caracterizar os fatores de abandono do tratamento da

tuberculose.

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2 MÉTODO

Este é um estudo de revisão da literatura brasileira de caráter descritivo

com abordagem qualitativa, buscando expor uma abordagem geral sobre os

desafios do tratamento da tuberculose no Brasil, através de produção científica

indexada nas seguintes bases eletrônicas de dados: SciELO Brasil - (Scientific

Electronic Library Online); LILACS (Centro Latino-Americano de Informação em

Saúde) e BVS (Biblioteca Virtual em Saúde. Foram incluídas também na

revisão as referências de artigos capturados pela busca eletrônica, livros e

documentos de organizações, obtidos em sítios da internet. O período de

busca procedeu-se entre dezembro de 2015 a setembro de 2016.

Selecionamos referências que buscassem alcançar os objetivos da pesquisa,

tendo como critérios de inclusão: disponibilidade do texto na integra em suporte

eletrônico e bibliotecas, publicado em periódicos nacionais e redigido em

português. Determinamos, então, a delimitação temporal de 2011 a 2016 os

últimos cinco anos de estudos realizados na área. Os critérios de exclusão

foram: referências cujo objeto não apresentava especificidade com o tema e a

problemática do estudo.

Após o levantamento, procedeu-se a análise dos dados, todos os

artigos, documentos e capítulos de livros selecionados, foram lidos na íntegra,

de maneira cuidadosa, uma vez que a amostra assume papel de indicador de

uma pesquisa na busca de entendimento sobre o tratamento da tuberculose

buscando assim a recidiva e propagação da enfermidade.

Portanto, por se tratar de revisão de literatura e não oferecer riscos, não

foi necessário submeter o projeto à avaliação de Comitê de Ética em Pesquisa

com Seres Humanos, conforme determina a Resolução n. 466/2012 do

Ministério da Saúde.

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3 RESULTADO E DISCUSSÃO

3.1 Tratamento da tuberculose

O tratamento da Tuberculose deve ser feito em regime ambulatorial,

supervisionado, no serviço de saúde mais próximo à residência do doente.

Antes de iniciar a quimioterapia, é necessário orientar o paciente quanto ao

tratamento. Para isso, deve-se explicar, em linguagem acessível, as

características da doença e o esquema de tratamento que será seguido -

drogas, duração, benefícios do uso regular da medicação, consequências

advindas do abandono do tratamento, e possíveis efeitos adversos dos

medicamentos. Principal estratégia do novo modelo de atenção ao paciente

com Tuberculose, a Estratégia de Tratamento Diretamente Observado (DOTS),

é fator essencial para se promover o real e efetivo controle da Tuberculose. O

DOTS visa o aumento da adesão dos pacientes, maior descoberta das fontes

de infecção (pacientes pulmonares bacilíferos), e o aumento da cura,

reduzindo-se o risco de transmissão da doença na comunidade.

As drogas usadas, nos esquemas padronizados, são as seguintes:

Isoniazida-I; Rifampicina-R; Pirazinamida-P; Etambutol-E. Em crianças

menores de cinco anos, que apresentem dificuldade para ingerir os

comprimidos, recomenda-se o uso das drogas, na forma de xarope ou

suspensão.

Em agosto de 2008, o Comitê Técnico Assessor do Programa Nacional de

Controle da Tuberculose, recomendou a inclusão do Etambutol, para adultos e

adolescentes (>10 anos de idade), no tratamento de primeira linha da

Tuberculose no Brasil. Desse modo, está recomendado o uso de Rifampicina,

Isoniazida, Pirazinamida e Etambutol na primeira fase do tratamento durante

dois meses seguidos de Rifampicina e Isoniazida durante quatro meses,

mantendo dessa forma o regime de curta duração de 6 meses. Para crianças

(<10anos de idade) continua a rcomendação com 3 fármacos na 1° fase (RHZ)

e 2 fármacos (RH) na 2° fase:

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1° fase (ou de ataque): As 4 drogas preconizadas serão administradas

em comprimidos compostos por dosagens fixas de Rifampicina –

150mg, Isoniazida – 75mg, Pirazinamida – 400mg e Etambutol – 275mg.

2° fase (ou de manutenção): As 2 drogas preconizadas serão

administradas em comprimidos com dosagens fixas de Rifampicina –

150mg e Isoniazida – 75mg.

Estes comprimidos denominados dose fixa combinada (DFC)

incorporam 2 ou 4 drogas em proporções fixas. O uso destas

apresentações traz uma série de vantagens para o controle da

Tuberculose. Apesar de todos os benefícios da DFC, ela não garante a

ingestão dos comprimidos pelos pacientes. Portanto, é fundamental o

controle efetivo do tratamento e a implementação do DOTS-Tratamento

Diretamente Observado. Em casos individualizados, cuja evolução

clínica inicial não tenha sido satisfatória, ou ainda nos casos de TB

extrapulmonar, com a orientação de especialistas ou profissionais de

unidades de referência, o tempo de tratamento poderá ser prolongado,

na sua 2ª fase, por mais três meses.

Os casos de Tuberculose associados ao HIV devem ser

encaminhados para unidades de referência (serviços ambulatorial

especializado), em seu município ou em municípios vizinhos, para serem

tratados para os dois agravos (TB/HIV).Quadro 1: Esquema básico para

adultos e adolescentes - 2 RHZE/4RH.

Regime Fármacos e Faixa de Unidades/dose Meses

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doses em mg peso2RHZE Fase

intensiva

RHZE

150/75/400/275

20 a 35

kg

36 a 50

kg

>50 kg

2 comprimidos

3 comprimidos

4 comprimidos

2

4RH Fase de

manutenção

RH

300/200 ou

150/100

20 a 35

kg

36 a 50

kg

>50 kg

1 cápsula

300/200

1 cápsula

300/200 + 1

cápsula

150/100

2 cápsulas

300/200

4

As apresentações de RH em cápsulas de 300/200 e 150/100

deverão ser utilizadas até que as apresentações de RH em comprimidos

de 150/75 estejam disponíveis. As doses preconizadas para

comprimidos de RH 150/75 são: a) 2 comprimidos/dia para 20 a 35 kg

de peso; b) 3 comprimidos para 36 a 50 kg e c) 4 comprimidos para >50

kg de peso.

Quadro 2: Esquema Básico para crianças - 2RHZ/4RH

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Regime Fármacos e doses em

MG

Faixa de peso

Unidades/dose Meses

2RHZ Fase

intensiva

R/H/Z Até 20 kg

20 a 35 kg

36 a 50 kg

>50 kg

10/10/35 mg/kg

peso

300/200/1000

mg/ dia

450/300 mg/dia

600/400 mg/dia

2

4RH Fase de

manutenção

R/H Até 20 kg

20 a 35 kg

36 a 50 kg

>50 kg

10/10 mg/kg/dia

300/200 mg/dia

450/300 mg/dia

600/400 mg/dia

4

Em todos os casos de retratamento por recidiva ou retorno após

abandono preconiza-se a solicitação de cultura, identificação e teste de

sensibilidade antes de iniciar o tratamento ( MINISTÉRIO DA SAÚDE,

2010).

3.2. Adesão ao tratamento da tuberculose

Apesar de ser potencialmente previsível e curável, a tuberculose (TB) é,

ainda hoje, um grande problema de Saúde Pública, principalmente nos países

em desenvolvimento. Estima-se que dois bilhões de pessoas apresentem

infecção tuberculosa latente anualmente, com cerca de 5,4 milhões de casos

novos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).

Denomina-se caso de TB todo indivíduo com diagnóstico confirmado por

baciloscopia ou cultura, e também aquele com diagnóstico médico baseado em

dados clínico-epidemiológicos e resultados de exames complementares

(GIROTI et al., 2010).

A infecção pelo bacilo pode ou não resultar no desenvolvimento da

doença. Entre os indivíduos infectados, a probabilidade de adoecer aumenta na

presença de depressão do sistema imunitário, o que pode ser causado por

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outras enfermidades (síndrome da imunodeficiência humana adquirida,

insuficiência renal crônica, depressão), uso de medicamentos (drogas

imunossupressoras para tratamento de neoplasias e transplantes,

corticosteróides para tratamento de asma), desnutrição ou diabetes

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).

No Brasil, no combate à TB, um dos aspectos mais desafiadores é o

abandono do tratamento, pois repercute nos índices de mortalidade e

incidência da doença, e na multirresistência ao tratamento. Considera-se

abandono quando, após iniciado o tratamento, o indivíduo deixa de comparecer

à unidade de saúde por mais de 30 dias consecutivos após a data aprazada

para o retorno (GIROTI et al., 2010).

No intuito de impedir a disseminação da doença, o tratamento de

pacientes com tuberculose pulmonar ativa continua sendo a estratégia com

maior eficácia. A adesão ao tratamento compreende tanto a utilização correta

das drogas, de acordo com a prescrição e outras recomendações, quanto à

realização de avaliações periódicas para acompanhar a progressão da

doença.No entanto, a interrupção do tratamento da tuberculose apresenta-se

como o principal desafio para seu controle (SILVA et al, 2014).

Faz-se necessária a compreensão da adesão em um nível ampliado,

transcendendo a clínica tradicional, numa ótica voltada para a concepção do

próprio usuário sobre a doença e como este vive. Assim, a adesão não se

restringe ao ato de ingerir medicamentos, relaciona-se com o contexto social

do usuário, seus meios de produção e reprodução social, na medida em que

destes resultam condições favoráveis ou desfavoráveis ao sucesso terapêutico

(QUEIROGA, 2012).

Para isso, é necessário que o profissional de saúde desenvolva e ponha

em prática atitudes sensíveis, escutando o que o paciente tem a dizer,

disponibilizando tempo suficiente para que ele fale sobre seus anseios e

esclareça as dúvidas. Quando a escuta é desenvolvida e ocorre vínculo entre

profissional e paciente, esse desenvolve confiança em seu cuidado e no

serviço de saúde, sentindo-se seguro para seguir o tratamento. Perceber a

pessoa como alguém que não se resume meramente a um ser com

necessidades biológicas, mas como agente biopsicossocial e espiritual, com

direitos Revista Baiana de Saúde Pública a serem respeitados e garantida sua

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dignidade ética é fundamental para começarmos a caminhar em direção à

humanização dos cuidados de saúde (RÊGO et al, 2014).

3.3. Fatores de abandono do tratamento da tuberculose

Neste tópico serão abordados os principais fatores do abandono do

tratamento associados ao portador de Tb.

3.3.1 Condições socioeconômicas

Ao correlacionar a forma clínica com escolaridade pode se observar que

foi estatisticamente significativo, comprovando que os indivíduos com

escolaridade inferior, ou igual a oito anos de estudo são os mais acometidos

pela enfermidade em todas as formas clínicas.

A baixa escolaridade é reflexo de todo um conjunto de condições

socioeconômicas precárias, que aumentam a vulnerabilidade à tuberculose e

são responsáveis pela maior incidência da enfermidade e pela menor

aderência ao respectivo tratamento (JESUS et al., 2012).

Os profissionais têm a tendência em abordar a questão da adesão/não-

adesão exclusivamente sob suas perspectivas, ignorando as do paciente. Eles

deixam de considerar a variabilidade e negam a validade das condutas que se

diferenciam das suas prescrições.

Agindo assim, distanciam-se das ações e razões dos pacientes,

julgando-os e rotulando- os, em vez de conhecê-las e entendê- las. A natureza,

os sentidos e os determinantes do comportamento de não-adesão são

complexos e difíceis de serem entendidos. Por isso, há que se considerar essa

questão sob outra ótica, levando em conta a subjetividade do paciente, bem

como suas necessidades e dificuldades, mais do que a precisão com que ele

segue as recomendações.

De acordo com a Word Health Organization (2011), o termo adesão é

utilizado como uma relação em que o paciente consegue entender sua

condição, os aspectos de sua doença e a importância da adesão não apenas

no contexto individual da patologia, mas também na dimensão da própria

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doença em questão. Esse seria um novo entendimento do papel do paciente,

não apenas como aquele que cumpre ordens, mas como um sujeito ativo, que

participa e assume responsabilidades sobre seu tratamento (BRITO NETO et

al., 2015) .

3.3.2 Portador de vícios de drogas licitas e ilícitas

O primeiro fator a ser analisado como interferente negativo para a

continuidade do tratamento está relacionado ao uso de álcool e de drogas,

principalmente o crack. O consumo excessivo de bebida alcoólica e o uso

indiscriminado de drogas são prejudiciais à saúde e ao bom funcionamento

orgânico de qualquer indivíduo, principalmente quando este já se encontra

acometido por alguma enfermidade.

A associação entre o tratamento medicamentoso da TB e o consumo de

álcool aumenta a chance de intolerância à medicação, o que pode também ser

considerado como uma das causas de abandono. Todas as drogas indicadas

nos esquemas de tratamento da TB (rifampicina, isoniazida, pirazinamida,

etambutol e estreptomicina) apresentam interações com outras drogas entre si,

aumentando o risco de hepatoxicidade.

O tratamento e a quimioprofilaxia da TB devem ser administrados com

cautela em pacientes com histórias de uso de álcool, pois esse grupo é

considerado de alto risco para desenvolver esse tipo de toxidade. Além disso,

outros efeitos colaterais são comumente encontrados nesses pacientes como:

manifestações neurológicas manifestações psiquiátricas, caracterizadas por

distúrbios do comportamento, alterações do padrão de sono, redução da

memória e psicoses (COUTO et al., 2014).

3.3.3 Crença na cura através da fé

Estudos semelhantes em Unidades de Saúde da Família (USF) apontam

que muitas pessoas, diante de situações complicadas e delicadas, acreditam

que o poder divino trará soluções e promoverá a cura.

A busca por instituições religiosas pode estar relacionada à falta de

apoio emocional aos doentes pelo sistema de saúde, mesmo que seus

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gestores, pesquisadores e profissionais reconheçam a importância da fé na

recuperação da saúde, como está sendo mostrada pela psiconeuroimunologia.

O problema apresentado é a insuficiência de diálogo entre esses

setores, pois quando o paciente admite ter apresentado melhora ou ter obtido a

cura somente pela fé, revela que, para ele, a melhora ou a cura não se deu

pelo acompanhamento e tratamento a partir dos serviços de saúde (COUTO et

al., 2014).

3.3.4 Influência familiar

Os conteúdos desta representação refletem que a família da pessoa

com tuberculose, ao ter contato com ela, pode adoecer também. Este medo do

contágio que a família tem conduz à desunião e ao afastamento familiar. A falta

de apoio da esposa e dos filhos pode ser a primeira razão para o portador de

TB não continuar com o tratamento.

Assim, o medo da infecção, a autodiscriminação e a discriminação

familiar podem ser percebidos como fatores que influenciam na não adesão ao

tratamento terapêutico, visto que as relações familiares fornecem o suporte

social, que é fundamental para a adesão ao tratamento (CHIRINOS;

MEIRELLES; BOUSFIELD, 2015).

Como já descrito em diversos trabalhos, estes achados revelaram como

os laços afetivos e o apoio da família são importantes no processo de cura, e

que o autocuidado e a vontade de se curar também são essenciais

(WENDLING; MODENA; SCHALL, 2012).

3.3.5 Efeitos colaterais da terapia medicamentosa

Quando se trata dos fatores que interferem no tratamento gerando o

abandono, os principais citados pelos pacientes foram os efeitos indesejados

da medicação que incluíram náusea, tonturas e mal-estar. Há doentes que

concluem o tratamento sem apresentar reações adversas decorrentes do uso

das drogas. Mas, há casos, em que efeitos colaterais se fazem presentes e

contribuem para a interrupção do tratamento.

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Nesse sentido, é imprescindível que os profissionais de saúde

sensibilizem os usuários para os possíveis efeitos colaterais e reações

adversas decorrentes da terapia medicamentosa, tornando-os protagonistas do

processo terapêutico e detentores do conhecimento acerca do tratamento, de

modo a promover a sua continuidade (BRITO NETO et al., 2015) .

Na construção dessa categoria, evidenciou-se que quase todas as

pessoas que vivenciaram o tratamento da tuberculose sofreram os efeitos

colaterais dos medicamentos, representados por dor e ardor no estômago,

náuseas, vômitos e dor generalizada em todo o corpo. Dessas, a maioria

abandonou o tratamento.

Observa-se que os sintomas e sinais gerados pelos efeitos colaterais,

sentidos pelas pessoas com TB, parecem ser mais fortes do que os sintomas

da doença, levando as pessoas a abandonarem o tratamento. Esse fato

confirma o que outros estudos concluíram: esse tratamento traz sérias

implicações orgânicas, como as gastrointestinais, obrigando o paciente a,

muitas vezes, interromper o tratamento (CHIRINOS; MEIRELLES;

BOUSFIELD, 2015).

3.3.6 Relacionados à operacionalização dos serviços de saúde

Pode-se considerar, que o abandono do tratamento da TB também está

relacionado à organização dos serviços de saúde e ao trabalho desenvolvido

por alguns profissionais de saúde que lidam com essa problemática.

Os serviços de saúde precisam estar organizados de forma a facilitar

tanto o diagnóstico da TB quanto o acesso ao tratamento, levando em

consideração as necessidades dos usuários em obter informações sobre a

doença e a importância do tratamento.

Cabe aos profissionais de saúde transmitir as informações necessárias,

apresentando ao usuário os possíveis efeitos colaterais decorrentes da

ingestão da medicação, mas sempre enfatizando a importância de seguir o

tratamento adequadamente e pelo tempo necessário. Tanto fornecer as

informações depois de diagnosticada a doença, quanto garantir a medicação e

acompanhar os usuários na evolução/cura da doença, são ações preconizadas

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pela Política Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT) aos serviços da

Atenção Básica (AB) (COUTO et al., 2014).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Considero que a presente tese foi muito válida e extremamente

enriquecedora na qual aprimorei meus conhecimentos. Os estudos indicaram

que a cura e tratamento da Tuberculose têm sido crescente, após a

descentralização e estratégia dos Tratamentos diretamente observados nas

unidades de saúde. Observa-se que há uma tendência do abandono a diminuir,

para o êxito do tratamento da tuberculose é necessário que haja

comprometimento dos profissionais, envolvimento do serviço de saúde e do

doente para contemplar as necessidades de ambas as partes. Verifica-se

também, que com a descentralização da estratégia de saúde da família, houve

aumento da busca ativa pelos sintomáticos respiratórios, considerando que os

profissionais dos centros de saúde estão aptos para a coleta do material

proporcionando maior acessibilidade do cliente ao serviço oferecido.

Diante desta realidade, conclui-se que os objetivos para o tratamento

desta doença só é alcançado quando há uma permanente educação em saúde

e mantendo os profissionais motivados e comprometidos. Políticas públicas

que possam efetivamente melhorar a qualidade de vida da população têm

repercussões positivas no controle da tuberculose, neste sentido a

descentralização e a estratégia do Tratamento Diretamente Observado, se

colocam como possibilidades para melhorar a assistência aos doentes com

tuberculose.

REFERÊNCIAS

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