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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA LAYSA RAISA DE SOUZA VIEIRA ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO DE BIODETRITOS NO SEDIMENTO SUPERFICIAL DA PLATAFORMA CONTINENTAL SUL DE SERGIPE SÃO CRISTÓVÃO SE 2015

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Trabalho de conclusão de curso - Bacharelado em Geologia

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Page 1: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA

LAYSA RAISA DE SOUZA VIEIRA

ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO DE BIODETRITOS NO SEDIMENTO

SUPERFICIAL DA PLATAFORMA CONTINENTAL SUL DE SERGIPE

SÃO CRISTÓVÃO – SE

2015

Page 2: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

LAYSA RAISA DE SOUZA VIEIRA

ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO DE BIODETRITOS NO SEDIMENTO

SUPERFICIAL DA PLATAFORMA CONTINENTAL SUL DE SERGIPE

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Departamento de Geologia,

Universidade Federal de Sergipe, como

requisito parcial para obtenção do título de

Bacharel em Geologia.

Orientador: Prof. Dr. Antônio Jorge

Vasconcellos Garcia

Co-orientador: Prof. Msc. Luiz Carlos da

Silveira Fontes

SÃO CRISTÓVÃO – SE

2015

Page 3: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço ao Universo e a seu(s) arquiteto(s) pelos caminhos que me

concederam para que eu concluísse mais essa etapa de minha jornada. Agradeço também aos

meus familiares, pelo constante incentivo, em especial à minha mãe Edvânia, pelo apoio diário

e ao meu pai, José Vieira.

Agradeço ao laboratório GEORIOEMAR, pelos anos de experiência e o companheirismo do

dia-a-dia. Em especial agradeço a João Bosco e Landerlei, sempre muito solícitos e dispostos a

compartilhar conhecimentos, e ao professor e co-orientador Luiz Carlos Fontes, pela confiança,

oportunidade e ensinamentos.

Um grande “Obrigada” ao colega Ramon Marques pela força na confecção dos mapas. Aos

amigos que fiz durante a graduação, Gabriela, Luciana(s), Mara, em especial à sempre alto

astral Ellen Roberta e a Ludmilla Fernandes, pelos momentos de descontração e as conversas

construtivas.

Ao professor orientador Antônio Jorge V. Garcia. Agradeço também a Edilma de Jesus

Andrade, Andrea Nascimento e Ivan Lemos pelas aulas enriquecedoras que tanto me

influenciaram na escolha do tema desse trabalho.

Agradeço ao CENPES/PETROBRAS pela disponibilização dos dados, que permitiram o

desenvolvimento desse trabalho.

Page 4: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

“Por vezes sentimos que

aquilo que fazemos não é senão

uma gota de água no mar. Mas o

mar seria menor se lhe faltasse

uma gota.”

Madre Tereza de Calcutá.

Page 5: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

RESUMO

Esse trabalho apresenta uma caracterização da distribuição espacial dos principais componentes

bioclásticos do sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe. As amostras de

fundo foram coletadas com amostrador pontual do tipo van Veen e passaram por um pré-

tratamento envolvendo lavagem, secagem, peneiramento mecânico e quarteamento. Foram

selecionadas 80 amostras representativas da região, distribuídas em 15 transectos, das quais 200

grãos aleatórios foram analisados. A partir das análises foram calculadas as frequências

relativas e frequência de ocorrência de cada componente identificado e suas distribuições

espaciais foram analisadas através de mapas. As distribuições foram analisadas em conjunto

com a profundidade e tipo de sedimento de fundo (textura), permitindo algumas interpretações.

Os biodetritos mais frequentes na região foram os moluscos bivalves, foraminíferos, briozoários

e algas vermelhas. Observou-se que os foraminíferos e moluscos (principalmente os bivalves)

não mostraram fortes tendências a formar grãos de uma granulometria específica, ao contrário

das algas vermelhas e Halimeda, que tem ocorrências quase que restritas aos sedimentos areno-

cascalhosos e a maiores profundidades. Os briozoários encontram-se disseminados por toda a

região, exceto na região em frente à foz, onde são ausentes ou pouco expressivos. A partir das

análises foi possível distinguir algumas particularidades da região quando comparada à

plataforma Nordeste como um todo, principalmente em relação à distribuição das algas

calcárias, que se mostram menos frequentes na região de estudo.

Palavras-chave: Plataforma continental, Sergipe, biodetritos.

Page 6: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

ABSTRACT

This paper presents a characterization of the spatial distribution of the main bioclastic

components of the surface sediment of continental shelf south of Sergipe. Background samples

were collected with a van Veen bottom grap and underwent a pre-treatment involving washing,

drying, sieving and quartering. 80 (eighty) representative samples distributed in 15 transects

were selected and 200 random grains were analyzed in each one. From the analysis the relative

frequencies and frequency of occurrence of each component identified where calculated and

their spatial distribution were analyzed using maps. The distributions were analyzed together

with the depth and type of bottom sediments (texture) allowing some interpretations. The most

common biogenic components in the region were the bivalve molluscs, foraminifera, bryozoans

and red algae. It was observed that foraminifera and molluscs (especially bivalves) didn’t show

strong tendency to form grains of a specific size, as opposed to Halimeda and red algae, which

are almost restricted to gravel and sandy bottom sediments and greater depths. The bryozoans

are spread throughout the region, except in the area in front of the mouth river, where they are

absent or not significant. From the analysis it was possible to distinguish some particularities

of the region compared to the Northeast Platform as a whole, especially in relation to the

distribution of calcareous algae, which are less frequent in the study region.

Keywords: Continental shelf, Sergipe, bioclasts.

Page 7: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Características gerais da margem continental (sem escala). Modificado de

Schmiegelow, 2004. ................................................................................................................... 1

Figura 2 - Localização da área de estudo ................................................................................... 4

Figura 3 - Precipitação média anual total em Sergipe. Fonte: SEMARH, 2010. ....................... 6

Figura 4 – Correntes do Oceano Atlântico Equatorial. Fonte: Philander, 2001. ........................ 8

Figura 5 - Sentido da deriva de sedimentos (seta verde) de acordo com indicador geomórfico

na desembocadura do rio Real. Fonte: Livramento, 2008. ....................................................... 10

Figura 6 - Sentidos da deriva efetiva de sedimentos estimados pela modelagem numérica e

providos pelos indicadores geomórficos de deriva. Fonte: Bittencourt et al., 2012................. 10

Figura 7 - Região Hidrográfica Atlântico Leste, com destaque para a unidade Litoral SE 01

(Modificado de Ministério do Meio Ambiente, 2006) ............................................................. 11

Figura 8 – Localização e compartimentos da bacia Sergipe-Alagoas. Fonte: Souza-Lima, 2002.

.................................................................................................................................................. 12

Figura 9 - Arcabouço estrutural da Bacia Sergipe-Alagoas, mostrando os principais

compartimentos tectônicos e feições estruturais. (Retirado de Lana, 1985 apud Cruz, 2008) . 13

Figura 10 - Modelo Digital do terreno da plataforma continental, talude e canyons da margem

continental de Sergipe (Modificado de Fontes et al. 2012) ...................................................... 15

Figura 11 - Províncias Sedimentares da plataforma nordeste Fonte: Lana et al. 1996, modificado

de Summerhayes et al., 1975.. .................................................................................................. 16

Figura 12 - Zonação esquemática das litofácies carbonáticas na plataforma continental média e

externa. Fonte: Coutinho (2000), modificada de Carannante et al. (1988). ............................. 17

Figura 13 - Mapa com curvas batimétricas e estações amostrais da área de estudo. Fonte:

GEORIOEMAR/DEPAQ/UFS ................................................................................................. 19

Figura 14 - Draga do tipo van Veen utilizada na coleta das amostras ..................................... 19

Page 8: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

Figura 15 - Fluxograma das etapas das análises dos sedimentos (modificado de Fontes et

al.,2012) .................................................................................................................................... 21

Figura 16 - Frequência relativa total dos biodetritos. ............................................................... 26

Figura 17 – Mapa de predomínio de biodetritos. Fonte: GEORIOEMAR/DEPAQ/UFS. ....... 27

Figura 18 - Gráfico de frequência de ocorrência ..................................................................... 28

Figura 19 - Mapa de distribuição dos Moluscos bivalves. Fonte:

GEORIOEMAR/DEPAQ/UFS. ................................................................................................ 29

Figura 20 - Mapa de distribuição dos foraminíferos. Fonte: GEORIOEMAR/DEPAQ/UFS. 30

Figura 21 - Mapa de distribuição dos briozoários. Fonte: GEORIOEMAR/DEPAQ/UFS ..... 31

Figura 22 - Mapa de distribuição das algas vermelhas ............................................................ 33

Figura 23 - Mapa de distribuição dos gastrópodes. Fonte: GEORIOEMAR/DEPAQ/UFS. .. 34

Figura 24 – Mapa de distribuição das Halimedas. Fonte: GEORIOEMAR/DEPAQ/UFS. ..... 35

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Sumário das Computações Geostróficas para a Corrente do Brasil, com destaque

para os dados que englobam o Estado de Sergipe (Modificado de Stramma et al, 1990). ......... 9

Tabela 2 - Classificação dos sedimentos estabelecida por Wentworth (1922), com intervalos

analisados em destaque. Modificado de Fontes et al., 2012. ................................................... 22

Page 9: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 1

2. OBJETIVOS ....................................................................................................... 3

2.1 Geral .................................................................................................................. 3

2.2 Específicos ........................................................................................................ 3

3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ............................................ 4

3.1 Localização ....................................................................................................... 4

3.2 Climatologia e Precipitação Pluviométrica ....................................................... 5

3.3 Características Oceanográficas ......................................................................... 6

3.3.1 Marés ........................................................................................................... 6

3.3.2 Ondas .......................................................................................................... 6

3.3.3 Correntes oceânicas ..................................................................................... 7

3.3.4 Transporte de sedimentos ............................................................................ 9

3.4 Hidrografia ...................................................................................................... 11

3.5 Arcabouço Geológico ..................................................................................... 12

3.6 Morfologia e Sedimentologia da Plataforma de Sergipe ................................ 14

4. METODOLOGIA............................................................................................. 18

4.1 Origem dos Dados .......................................................................................... 18

4.2 Coleta das Amostras ....................................................................................... 18

4.3 Procedimento Laboratorial ............................................................................. 20

4.3.1 Preparação das amostras ........................................................................... 20

4.3.2 Análise dos biodetritos .............................................................................. 21

4.3.3 Tratamento dos dados ............................................................................... 24

5. RESULTADOS ................................................................................................. 26

5.1 Frequência Relativa e Predomínio de Biodetritos .......................................... 26

Page 10: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

5.2 Frequência de ocorrência ................................................................................ 27

5.3 Distribuição dos biodetritos na área de estudo ............................................... 28

5.3.1 Moluscos bivalves ..................................................................................... 28

5.3.2 Foraminíferos ............................................................................................ 29

5.3.3 Briozoários ................................................................................................ 31

5.3.4 Algas vermelhas ........................................................................................ 32

5.3.5 Gastrópodes ............................................................................................... 33

5.3.6 Halimeda ................................................................................................... 34

6. DISCUSSÃO ..................................................................................................... 36

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 39

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 40

Page 11: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

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1. INTRODUÇÃO

A margem continental é a região separa os domínios continentais dos oceânicos.

Representando uma zona de transição entre crosta continental e crosta oceânica, corresponde a

cerca de 1/5 da superfície submersa dos oceanos (Suguio, 2003).

A plataforma continental representa a zona marginal dos continentes e, juntamente com

o talude e a elevação ou sopé continental constitui a fisiografia da margem continental. De

acordo Schmiegelow (2004), característica principal que diferencia essas três subdivisões é o

ângulo médio no qual eles se inclinam em direção ao fundo abissal (Fig. 1).

Figura 1 - Características gerais da margem continental (sem escala). Modificado de Schmiegelow, 2004.

O relevo local da plataforma é liso ou terraceado e com desníveis inferiores a 18m e

largura variável, sendo estreita no nordeste do Brasil e larga na foz do Amazonas (Souza, 2005).

A plataforma continental do Nordeste se caracteriza por apresentar reduzida largura, em média

de 35 a 40km, com menos de 40m de profundidade em sua maior parte (França; Coutinho;

Summerhayes, 1976), sendo recoberta quase inteiramente por sedimentos carbonáticos

biogênicos (Coutinho, 1976).

Segundo Soares-Gomes, Pitombo e Paiva (2002), diferentes tipos de sedimentos

condicionam comunidades distintas, não só quanto a composição específica como também

quanto a dominância em termos de grandes grupos taxonômicos. Esses autores destacam ainda

Page 12: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

2

que essa diferença está relacionada aos grupos funcionais desses organismos, principalmente

aqueles relacionados ao hábito alimentar. Essa relação íntima entre a fauna e o tipo de substrato

foi considerada historicamente como um superparâmetro para explicar os padrões de

distribuição da fauna bentônica, sendo também adicionado com o avanço dos estudos, o

hidrodinamismo do fundo como fator preponderante.

Os componentes biogênicos são originados de estruturas biomineralizadas produzidas

por diversos tipos de organismos, tais como moluscos, algas, corais, foraminíferos, dentre

outros (Poggio et al., 2013). Segundo Wetmore (1987), a paleoquímica da água, padrões de

circulação de correntes aquáticas, taxas de sedimentação e atividade bioerosiva podem estar

representadas em carapaças fósseis e atuais. Eles têm sido utilizados em muitos estudos, com

diferentes objetivos, como por exemplo: determinar e delimitar microfácies, definir processos

deposicionais atuantes e reconstituir ambientes, determinar a idade relativa de camadas

sedimentares e verificar mudanças no ambiente, inclusive variações no nível relativo do mar

(Poggio et al., 2013).

De acordo com Tinoco (1989), a interpretação ambiental da qualificação e quantificação

dos componentes bióticos de um sedimento é de capital importância na definição de ambientes

atuais e dos processos deposicionais atuantes e, em consequência disto, na determinação dos

ambientes antigos de sedimentação.

Page 13: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

3

2. OBJETIVOS

2.1 Geral

O objetivo do estudo é a caracterização e a análise a distribuição espacial dos

componentes biogênicos do sedimento superficial da plataforma continental adjacente à foz do

rio Piauí-Real.

2.2 Específicos

Caracterizar a distribuição dos biodetritos na plataforma.

Avaliar os controles exercidos pela batimetria e textura sedimentar sobre a distribuição

biodetritos.

Comparar os resultados com a literatura disponível para a região.

Page 14: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

4

3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

Os dados apresentados a seguir se referem, em grande parte, ao Estado de Sergipe como

um todo, devido à escassez de levantamentos na região específica alvo desse trabalho.

3.1 Localização

A região do estudo encontra-se inserida na margem continental do estado de Sergipe,

que constitui a porção média da extensa plataforma continental Nordeste-Leste brasileira

(Coutinho, 1976). Abrange a plataforma continental sul do estado de Sergipe, adjacente ao rio

Piauí-Real, o qual marca a divisa do estado com a Bahia (Fig.2).

Figura 2 - Localização da área de estudo

Page 15: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

5

3.2 Climatologia e Precipitação Pluviométrica

O Estado de Sergipe, apresenta um clima tropical que varia de úmido, sub-úmido ao

semiárido, onde as temperaturas são elevadas durante todo o ano, com médias térmicas anuais

em torno de 24ºC (Soares-Cruz, 2009). Está sob a influência das oscilações da Zona de

Convergência Inter Tropical (ZCIT), das massas Tropical Atlântica (mTa) e Equatorial

Atlântica (mEa). O regime pluviométrico é caracterizado pela atuação da Frente Polar Atlântica

e das Correntes de Leste resultando em chuvas abundantes no período outono/inverno

(Carvalho, 2006).

Os ventos alísios são atuantes o ano todo, variando de SE para NE. O regime térmico

sazonal mensal é praticamente uniforme (Carvalho, 2006). Devido à sua posição geográfica

espacial, Sergipe possui uma característica de transição entre os regimes pluviométricos do

norte (com máximos de fevereiro a maio) e do sul do Nordeste (dezembro a fevereiro) (Soares-

Cruz, 2009).

A precipitação média anual é destacada na Figura 3. Na faixa litorânea, com relevo de

baixas altitudes, os ventos alísios que vêm do Atlântico penetram no continente propiciando

totais pluviométricos mais elevados, entre 1.200 e 1.600 mm, diminuindo em direção ao interior

(Soares-Cruz, 2009). Uma faixa com precipitações de 800 a 1.000 mm/ano ocorre na porção

média do Estado, no sentido nordeste-sudoeste e corresponde às porções média e alta das bacias

do Rio São Francisco, ao norte até a do Rio Real, ao Sul. (SEMARH, 2010). O período chuvoso

no Estado como um todo se concentra entre os meses de abril a agosto, com o máximo

concentrado nos meses de maio e junho (SEMARH, 2009).

Page 16: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

6

Figura 3 - Precipitação média anual total em Sergipe. Fonte: SEMARH, 2010.

3.3 Características Oceanográficas

3.3.1 Marés

As marés do litoral de Sergipe são semidiurnas, com dois picos de marés altas e baixas

em um período de 24 horas e 50 minutos, e com amplitude entre 2 e 4m (mesomarés). A máxima

amplitude ocorre nos equinócios de março e setembro (Dominguez, 1996; Carvalho, 2006).

3.3.2 Ondas

As ondas constituem um dos processos marinhos mais efetivos no selecionamento e

redistribuição dos sedimentos depositados nas regiões costeiras e plataforma continental interna

(Carvalho, 2006).

Page 17: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

7

Na costa sergipana, as ondas têm direções predominantemente de nordeste e sudeste. As

primeiras constituem vagas originadas pelos ventos de NE (70º a 110º) no período de outubro

a março. Por outro lado, as de SE constituem ondulações formadas por perturbações

atmosféricas ao longo da costa originadas pelos ventos de SE (120º a 160º) e no período de

maio a julho têm maior altura. A maioria das ondas (70,8%) provoca transporte litorâneo

dominante de NE para SE (Fontes, 2003).

3.3.3 Correntes oceânicas

A corrente que domina toda a região próxima à borda da plataforma continental na costa

brasileira é a Corrente do Brasil (CB) que toma a direção sul, começando a aproximadamente

10°S, na proximidade do litoral de Pernambuco, e se estendendo até os 35-40°S, no norte da

Argentina (Vieira et al., 2005; Truccolo et al., 2005).

A CB representa um ramo da Corrente Sul-Equatorial (CSE), que flui de leste para oeste

e, ao encontrar a costa brasileira próximo aos 10º bifurca-se originando a Corrente do Brasil

(CB), que corre na direção sul, e a Corrente Norte do Brasil (CNB), que segue para Noroeste,

em direção ao Caribe (Barreto e Summerhayes, 1975; Marin, 2009) como pode ser visualizado

na Figura 4.

Page 18: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

8

Figura 4 – Correntes do Oceano Atlântico Equatorial. Fonte: Philander, 2001.

Essa corrente de núcleo raso (50-90m de profundidade) carrega águas aquecidas

denominadas de “Águas Tropicais”, com temperaturas entre 13°C e 24°C e salinidade acima

de 35% (Barreto e Summerhayes, 1975).

Segundo Cavalcanti et al. (1965), as variações sazonais dos ventos afetam a CB, de

forma que durante o verão a corrente, sensível aos ventos N-E, se desloca próximo à costa.

Durante o inverno, os ventos alísios S-E provocam um deslocamento da corrente principal em

direção ao mar aberto, ocasionando na região da plataforma uma espécie de contracorrente.

O volume de transporte da CB é considerado pequeno quando comparado a sua análoga

no Atlântico Norte, a Corrente do Golfo (Stramma et al. ,1990). De acordo com Petterson e

Stramma (1991), a maior parte da massa de água carregada pela Corrente Sul Equatorial é

desviada para a Corrente Norte do Brasil, de forma que apenas cerca de 4Sv (1Sv = 106 m³s-1)

se desloca para sul, alimentando a insipiente Corrente do Brasil que segue para sul. As medições

de velocidade e transporte podem ser vistas na Tabela 1, a seguir:

Page 19: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

9

Tabela 1 - Sumário das Computações Geostróficas para a Corrente do Brasil, com destaque para os

dados que englobam o Estado de Sergipe (Modificado de Stramma et al, 1990).

3.3.4 Transporte de sedimentos

O transporte de sedimentos litorâneos ao longo da costa sergipana é de 790.000m³/ ano,

com cerca de 658.000 m³/ano no sentido NE-SW e 132.000 m³/ ano no sentido inverso (Viana

1972, apud Fontes, 2006).

Livramento (2008) e Bittencourt et al. (2010) realizaram estudos dos padrões de

dispersão de sedimentos ao longo do litoral norte do estado da Bahia, englobando a região da

foz do rio Real. Segundo esses autores, na desembocadura do rio Real onde há um pontal, que

indica que o sentido de longo prazo da deriva efetiva é de SW para NE (Fig. 5). Contudo, a

modelagem numérica feita a partir de diagramas de refração de onda indica sentido oposto da

deriva (NE-SW), como pode ser visto na Figura.6, que traz a comparação dos sentidos da deriva

litorânea efetiva obtidos pela modelagem numérica e por indicadores geomórficos de deriva.

Segundo Bittencourt et al. (2010), tal discrepância pode estar relacionada à provável existência

de modificações quase-cíclicas de curto prazo nesse trecho da linha de costa, induzidas pela

dinâmica das barras de desembocadura aí presentes, que podem, local e temporariamente,

inverter o sentido da deriva efetiva.

Page 20: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

10

Figura 5 - Sentido da deriva de sedimentos (seta verde) de acordo com indicador geomórfico na

desembocadura do rio Real. Fonte: Livramento, 2008.

Figura 6 - Sentidos da deriva efetiva de sedimentos estimados pela modelagem numérica e providos

pelos indicadores geomórficos de deriva. Fonte: Bittencourt et al., 2012.

Page 21: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

11

3.4 Hidrografia

A região de estudo encontra-se sob influência direta do aporte terrígeno do sistema

estuarino Piauí-Real, que atravessa o Estado de Sergipe no sentido leste-oeste e deságua no

oceano Atlântico, entre os municípios de Estância (Sergipe) e Jandaíra (povoado Mangue

Seco/Bahia).

Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA/SRH, 2006) está inserida na

Região Hidrográfica Atlântico Leste, mais especificamente na unidade hidrográfica

denominada “Litoral SE 01” (Fig. 7). As bacias hidrográficas Piauí e Real apresentam

vazão média de 22,92m³/s e 20,46m³/s, respectivamente (JICA, 2000 apud SEMARH,

2009).

Figura 7 - Região Hidrográfica Atlântico Leste, com destaque para a unidade Litoral SE 01 (Modificado

de Ministério do Meio Ambiente, 2006)

Page 22: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

12

3.5 Arcabouço Geológico

O objeto desse estudo constitui a cobertura da porção submersa da bacia de Sergipe-

Alagoas, descrita por Coutinho (1976) como um meio gráben assimétrico, alongado na direção

NE-SW, mergulhando para o mar.

Com uma área de aproximadamente 35.000 Km², dos quais dois terços estão em sua

porção submersa (Milani e Araújo, 2003), a bacia SEAL limita-se ao norte pelo Lineamento e

Pernambuco, que separa a bacia SEAL da Bacia de Pernambuco-Paraíba. A sul, é limitada

através da falha de Itapuã da bacia de Camamu (Souza-Lima et al., 2002).

De acordo com Souza-Lima et al. (2002), a bacia é internamente diferenciada em quatro

sub-bacias, com diferentes histórias tectono-sedimentares e preenchimentos distintos: as sub-

bacias do Jacuípe, de Sergipe, de Alagoas e do Cabo (Fig. 8). A área específica do estudo

encontra-se aproximadamente na região limítrofe entre as sub-bacias de Sergipe e Jacuípe,

separadas pelo Alto do Rio Real.

Figura 8 – Localização e compartimentos da bacia Sergipe-Alagoas. Fonte: Souza-Lima, 2002.

A bacia de Sergipe-Alagoas é a que apresenta exposta a mais completa sucessão

estratigráfica, estando representados depósitos de todos os seus estágios evolutivos: Sinéclise

Paleozóiza, Pré-rifte, Rifte, Transicional e Drifte.

Page 23: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

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A sequência de Sinéclise ocorreu entre o neocarbonífero e o eopermiano e está

representada pelo Grupo Igreja Nova, constituído pelas unidades siliciclásticas das Formações

Batinga, de provável origem glacial, e Aracaré, com arenitos eólicos, folhelhos e laminitos

algais lacustres (Cruz, 2008; Souza-Lima et al, 2002).

No Estágio Pré-rifte, iniciado no neojurássico, os sedimentos fluviais e lacustres das

Formações Candeeiro, Bananeiras e Serraria foram depositados em uma série de depressões

periféricas (denominadas em conjunto de “depressão Afro-brasileira”), geradas por um

soerguimento crustal neojurássico.

O estágio Rifte corresponde ao intervalo de subsidência mecânica da bacia, quando

foram depositadas, em ambiente continental e marinho restrito, as rochas das Formações Rio

Pitanga, Penedo, Barra de Itiúba e Coqueiro Seco (Campos-Neto et al, 2007; Souza-Lima et al,

2002). Durante esse estágio, o arcabouço estrutural da bacia SEAL foi definido principalmente

por falhas de direções NE, N-S e E-W, em geral interpretadas como falhas normais (Fig. 9).

Figura 9 - Arcabouço estrutural da Bacia Sergipe-Alagoas, mostrando os principais compartimentos

tectônicos e feições estruturais. (Retirado de Lana, 1985 apud Cruz, 2008)

Page 24: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

14

A partir do eoaptiano, inicia-se a deposição das sequências do estágio Transicional,

sendo representada pelas Formações Muribeca e Maceió. No início do Albiano, já no estágio

Drifte, ocorre a subsidência termal da bacia e deposição dos Grupos Sergipe e Piaçabuçu. O

Grupo Sergipe, constituído pelas Formações Riachuelo e Cotinguiba, foi depositado durante a

expansão do Atlântico Sul, em condições marinhas inicialmente restritas. A seção superior,

representada pelas Formações Marituba, Mosqueiro e Calumbi (Grupo Piaçabuçu), compreende

o registro da sedimentação de leques costeiros, plataforma carbonática, talude e bacias

oceânicas (Cruz, 2008; Campos-Neto et al, 2007; Souza-Lima et al., 2002).

3.6 Morfologia e Sedimentologia da Plataforma de Sergipe

A margem continental brasileira é classificada como do tipo Atlântica (margem passiva)

e compreende uma área total de 5.003.397 Km2, equivalente a 59 % do território brasileiro

emerso (Coutinho, 2000). A porção mais estreita da plataforma continental brasileira encontra-

se no setor Nordeste, com largura média de 35 a 40 km e profundidades máximas em torno de

50 metros.

A plataforma continental do estado de Sergipe constitui a porção média da extensa

plataforma continental Nordeste-Leste brasileira (Coutinho, 1976). Apresenta largura média de

27 km, variando entre 12 e 35 Km, com profundidade média de quebra de 41 m e possui em

geral uma baixa declividade (1:1000) (Nascimento, 2011).

Segundo França (1979) as feições morfológicas proeminentes na região são os cânions

do São Francisco, Sapucaia, Japaratuba, Vaza-Barris e o Real, os quais se prolongam, todos,

até a plataforma a partir de profundidades do talude de 2000 m (Real) e 3600 m (Sapucaia)

como pode ser visto na Figura. 10.

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15

Figura 10 - Modelo Digital do terreno da plataforma continental, talude e canyons da margem

continental de Sergipe (Modificado de Fontes et al. 2012)

A plataforma estreita e rasa da costa Nordeste é uma das poucas plataformas tropicais

estáveis quase totalmente recoberta por sedimentos biogênicos carbonáticos, apresentando

também virtual ausência de corais, oólitos ou precipitações carbonáticas (Lana et al. 1996).

Summerhayes et al. (1975), referiram-se à ocorrência de sete grandes províncias sedimentares

na costa nordeste, agrupadas em províncias carbonáticas (sedimentos com mais de 50% de

carbonatos) e terrígenas (sedimentos com menos de 50% de carbonatos) (Fig. 11).

Sergipe, por outro lado, possui uma maior contribuição fluvial, evidenciada pela

quantidade de lama terrígena que preenche a sua plataforma interna. Além disso, a plataforma

de Sergipe corresponde a um dos trechos mais estreitos da plataforma brasileira, o que restringe

a área de desenvolvimento dos depósitos bioclásticos, sendo ainda mais restrita por conta do

recorte dos vários canyons instalados em sua borda externa (Nascimento, 2011).

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16

Figura 11 - Províncias Sedimentares da plataforma nordeste Fonte: Lana et al. 1996, modificado de

Summerhayes et al., 1975..

Kempf (1970), realizou a primeira tentativa de divisão fisiográfica da plataforma

brasileira, estabelecendo a profundidade de 35-40 m como o limite entre as zonas

infralitoral e circalitoral na plataforma do Estado de Pernambuco. Contudo, esse autor

propôs a subdivisão baseado em critérios puramente biológicos, de forma que, não há esse

registro no sedimento que possa ser preservado às influências modeladoras do relevo da

plataforma.

Em 1976, Coutinho propôs uma outra subdivisão da plataforma do Nordeste,

levando em conta critérios sedimentológicos associados a feições morfológicas e dividindo

a plataforma em três setores:

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17

Plataforma interna: limitada pela isóbata de 20 m, com relevo suave e

coberta com areia terrígena, onde dominam associações bem retrabalhadas

de moluscos com ou sem foraminíferos bentônicos.

Plataforma média: de 20 até 40 m, com um relevo irregular, recoberto por

sedimentos grosseiros de origem biogênica. As associações carbonáticas

não mostram sinal de retrabalhamento.

Plataforma externa: a partir de 40 m, coberta com areias biodetríticas,

cascalhos de algas e lama cinza azulada.

Guimarães (2010), entretanto, argumenta que essa divisão não se aplica a plataforma

continental estudada, pois em Sergipe as isóbatas de 40 e 60 m praticamente coincidem entre

si, sendo mais coerente referir-se apenas a plataforma interna e externa.

Em relação às associações carbonáticas dos principais tipos de sedimentos e parâmetros

ambientais, Carannante et al. (1988) apud Coutinho (2000) subdividiram a plataforma brasileira

em três setores (Fig. 12). Nessa classificação, plataforma de Sergipe se encaixaria na “Zona

Tropical”, onde predominam algas calcárias verdes (Halimeda) e algas coralinas ramificadas e

os briozoários e foraminíferos bentônicos são localmente abundantes.

Figura 12 - Zonação esquemática das litofácies carbonáticas na plataforma continental média e externa.

Fonte: Coutinho (2000), modificada de Carannante et al. (1988).

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18

4. METODOLOGIA

4.1 Origem dos Dados

Todos os dados utilizados aqui fazem parte dos levantamentos realizados no âmbito do

“Projeto Caracterização dos Foraminíferos e Meiofauna da Plataforma Continental de Sergipe

e Sul de Alagoas e da Geologia-Geomorfologia da Plataforma Continental Sul de Sergipe -

Projeto Plataforma Sul”, realizado em parceria UFS/FASEPE/PETROBRAS e disponibilizado

pelo laboratório GEORIOEMAR/DEPAQ (UFS) para o desenvolvimento do presente estudo.

4.2 Coleta das Amostras

A amostragem foi realizada pela equipe do laboratório GEORIOEMAR, no período

entre 26 e 30 de março de 2012. A malha amostral foi estabelecida com 15 transectos

perpendiculares à linha de costa, constituindo uma em malha de aproximadamente 2,0 x 2,5 km

nas proximidades da foz do rio Piauí-Real (Fig. 13).

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19

Figura 13 - Mapa com curvas batimétricas e estações amostrais da área de estudo. Fonte:

GEORIOEMAR/DEPAQ/UFS

Em todas as estações amostrais, georreferenciadas com auxílio de GPS, o sedimento de

fundo foi coletado com auxílio de amostrador do tipo Van Veen de aço inoxidável (Fig. 14).

Figura 14 - Draga do tipo Van Veen utilizada na coleta das amostras

Page 30: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

20

4.3 Procedimento Laboratorial

Todos os procedimentos laboratoriais descritos a seguir foram realizados no laboratório

GEORIOEMAR/DEPAQ/UFS.

4.3.1 Preparação das amostras

O pré-tratamento das amostras consistiu na secagem da amostra total, pesagem,

peneiramento na malha de 4 mm, homogenização, quarteamento, pesagem e lavagem para

retirada do excesso de sal (Fig.15).

Todas as amostras foram secas na estufa a 60 graus por no mínimo 24 horas. Após

secagem, as amostras foram pesadas e passadas na peneira 4 mm para separação do

cascalho/seixos.

As frações que passaram na peneira 4 mm foram homogeneizadas e quarteadas

sucessivamente até que se obtivesse a quantidade aproximada de 200 gramas. Em seguida as

amostras foram lavadas para retirada do excesso de sal, novamente levadas a estufa e quarteadas

até que seu peso reduzisse a 100 gramas. A fração areia (< 4mm) foi então submetida a

peneiramento mecânico em intervalos de ½ φ, desde a classe granulo até lama (de a 4,00 <

0,062 mm), de acordo com a escala de Wenthworth (1922) de classificação do tamanho dos

grãos.

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21

Figura 15 - Fluxograma das etapas das análises dos sedimentos (modificado de Fontes et al.,2012)

4.3.2 Análise dos biodetritos

As análises de biodetritos das amostras selecionadas foram realizadas através da lupa

binocular. A determinação dos componentes biogênicos foi realizada para as frações

granulométricas denominadas Fração 1 e Fração 2 (Tabela 2). A Fração 1 corresponde ao

intervalo de -1,5 a 0 phi (areia muito grossa a grânulo) e a Fração 2 ao intervalo de 2 a 3 phi

(areia fina a média).

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Tabela 2 - Classificação dos sedimentos estabelecida por Wentworth (1922), com intervalos analisados

em destaque. Modificado de Fontes et al., 2012.

Após a homogeneização de cada Fração granulométrica (1 e 2), foram separados, de

forma aleatória, e identificados, uma média de 100 grãos, resultando em um total de 200 grãos

por amostra, seguindo metodologia Drooger & Kaschieter (1958), apud Tinoco (1989).

Os biodetritos foram identificados e agrupados em 12 grupos taxonômicos distintos a

nível de Filo, com exceção do Filo Mollusca em que se distinguiram três Classes e uma Família.

Alguns componentes não apresentaram características suficientes para que fosse feita a

identificação e foram então, contabilizados em um grupo a parte, o grupo “Outros”. No total,

foram distinguidos 12 grupos taxonômicos, 8 grupos a nível de Filo 3 grupos a nível de Classe

e 1 grupo a nível de Família:

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23

Filo Rhodophyta - Algas vermelhas

Filo Chlorophyta – Halimeda;

Filo Foraminífera - Foraminíferos;

Filo Mollusca - Classe Gastropoda;

Filo Mollusca - Classe Bivalvia;

Filo Mollusca - Classe Scaphópoda;

Filo Mollusca - Família Vermetidae;

Filo Equinodermata - Espinhos e carapaças de ouriço;

Filo Porífera - Espículas de esponjas;

Filo Crustácea - Carapaças de crustáceos;

Filo Bryozoa – Briozoários;

Filo Cnidária – Corais;

Outros.

Houveram algumas estações amostrais em que registrou-se a dominância de sedimentos

lamosos, com granulometria inferior às Frações 1 e 2 (areia muito grossa a grânulo) e (areia

fina a média). Neste tipo de sedimento, foi realizado um novo peneiramento na malha de

2,00mm (1,0 phi), com separação das frações >2,00 mm e <2,00 mm.

Para a fração maior que 2,00mm foram identificados todos os biodetritos, visto que estes

foram raros nessa fração. Na fração menor que 2,00mm, aproximadamente 1,5g de sedimento

foi separado de cada amostra e todos biodetritos presentes nessa fração foram identificados.

Page 34: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

24

4.3.3 Tratamento dos dados

A partir dos dados de freqüência absoluta, determinados a partir da totalidade dos

fragmentos encontrados, foram realizados os cálculos de freqüência relativa. Esta freqüência é

um importante valor a ser quantificado, visto que expressa a razão entre o número de indivíduos

de uma determinada espécie com relação ao número total de indivíduos da amostra (Tinoco,

1989). A freqüência relativa foi calculada de acordo a seguinte fórmula:

F = (n x 100) / T

Onde n corresponde ao número total de fragmentos de determinada espécie na estação

e T ao número total de espécies na estação.

Para avaliar a frequência de cada taxa identificado foi utilizada a escala proposta por

Dajoz (1983), na qual os grupos são classificados de acordo com sua frequência relativa em:

Principais – Valores acima de 5%;

Acessórias – Valores entre 4,9 e 1%;

Traços – Valores inferiores a 1%;

A partir dessa classificação, foram elaborados mapas de distribuição dos taxa principais

e um mapa de predomínio de cada um deles. No caso do Filo Chlorophyta (Halimeda), apesar

de não contabilizar mais de 5% do total de biodetritos, foi aberta uma exceção e sua distribuição

foi também avaliada.

Foi calculada também a frequência de ocorrência (%) dos componentes. Segundo

Tinoco (1989) a frequência de ocorrência é uma relação entre as espécies e a amostragem,

expressa em percentagem segundo a fórmula:

FO = (p x 100) / P

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25

Onde p corresponde ao número de estações onde a espécie ocorre e P corresponde ao

número de estações analisadas. Seguindo novamente a sistemática de Dajoz (1983) os

componentes foram agrupados em três categorias:

Constantes: presentes em mais de 50% das estações,

Acessórias: presentes em 25 a 50% das estações,

Acidentais: presentes em menos de 25% das estações.

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26

5. RESULTADOS

5.1 Frequência Relativa e Predomínio de Biodetritos

Na figura 17 tem-se o gráfico das frequências relativas de cada organismo, com base na

contagem total dos indivíduos observados nas 80 amostras. A saber, a frequência relativa é

definida como a razão entre o número de indivíduos de uma categoria e o total de indivíduos

de todas as categorias expresso em percentagem.

Figura 16 - Frequência relativa total dos biodetritos.

Foram obtidos como taxa principais, segundo a classificação de Dajoz (1983)

previamente mencionada, em ordem decrescente de abundância, os moluscos bivalves (31%),

foraminíferos (27%), briozoários (14%), algas vermelhas (12%) e gastrópodes (5%). Entre os

componentes acessórios figuram os equinodermatas (3%), Halimeda (3%), crustáceos (2%) e

scaphopoda (2%). Como componentes de menor representatividade (traço) estão os

vermetídeos, poríferos e corais que, somados, contabilizam cerca de 1% dos biodetritos.

A Figura 18 traz o mapa de predomínio de biodetritos, com destaque do organismo que

obteve maior frequência relativa em cada ponto amostral analisado. Observa-se que, os

foraminíferos e bivalves são os biodetritos predominantes na maioria mas amostras,

contabilizando predomínio em, respectivamente, 40 e 22 amostras do universo total de 80

estações.

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27

Na região abaixo dos 25 m de profundidade, os bivalves e foraminíferos dividem o

predomínio nas amostras, com estes últimos predominando na maioria das amostras no extremo

sul da área. A partir dos 25 m há um nítido predomínio dos foraminíferos e o aumento da

frequência de algas vermelhas, que predominam em 10 estações nas proximidades da borda da

plataforma. Os briozoários predominaram em 5 estações de amostragem e os equinodermos em

1 ponto amostral.

Figura 17 – Mapa de predomínio de biodetritos. Fonte: GEORIOEMAR/DEPAQ/UFS.

5.2 Frequência de ocorrência

A análise frequência de ocorrência, de acordo com a classificação de Dajoz (1983),

evidencia que os bivalves, foraminíferos, gastrópodes e briozoários ocorrem como

componentes biogênicos constantes (presentes em >50% das estações) na região. Entre os

biodetritos acessórios (entre 25% e 50%) estão os crustáceos, scaphopoda, algas vermelhas e

os equinodermatas. Agrupados como acidentais (<25%) figuram as Halimeda, poríferos e os

vermetídeos

Page 38: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

28

Figura 18 - Gráfico de frequência de ocorrência

5.3 Distribuição dos biodetritos na área de estudo

A análise da distribuição dos biodetritos foi realizada para os taxa definidos como

principais, abrindo-se uma exceção para as Halimedas. As correlações foram feitas tendo por

base os mapas de faciologia textural e de batimetria, elaborados no âmbito do Projeto

Plataforma Sul pelo laboratório GeoRioeMar/UFS.

A seguir uma breve descrição das características dos biodetritos principais e suas

distribuições individuais na região de estudo.

5.3.1 Moluscos bivalves

São organismos de corpo mole, achatados lateralmente e envolvidos por concha com

duas valvas lateralmente simétricas (Moore; Lalicker; Fischer, 1952) compostas por calcita e/ou

aragonita. Ocorrem em ambientes marinhos e de água doce e são predominantemente habitantes

sedentários do fundo aquático tanto na epifauna quanto na infauna. Habitam a linha de marés,

em águas rasas, embora alguns atinjam até 5.400 metros de profundidade (Ribeiro-Costa;

Marinoni, 2006).

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29

Geologicamente, são de grande importância para a datação de sedimentos marinhos a

partir do Triássico e na determinação de sedimentos relíquias da plataforma continental

(Tinoco, 1989).

Os bivalves encontram-se disseminados, geralmente em pequenas proporções, em toda

a área de estudo. As maiores concentrações ocorrem nas areias da plataforma interna abaixo

dos 10 m de profundidade (Fig.19). Sua ocorrência não aparenta estar fortemente vinculada a

nenhuma classe textural em específico.

Figura 19 - Mapa de distribuição dos Moluscos bivalves. Fonte: GEORIOEMAR/DEPAQ/UFS.

5.3.2 Foraminíferos

Os foraminíferos são organismos Protoctistas, abundantes no registro sedimentar

marinho. Secretam uma concha ou testa com constituição química que pode ser quitinosa,

aglutinada, silicosa ou calcária, representando esta última a vasta maioria de espécimes (Moore;

Lalicker; Fischer, 1952)

Page 40: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

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Possuem hábito bentônico e planctônico, ocorrendo em diversos ambientes marinhos e

de água salobra. (Lemos-Júnior, 2009). As formas bentônicas possuem maior diversidade e

vivem ligadas mais diretamente ao substrato, habitando todas as profundidades.

Devido a abundância nos sedimentos, excepcional forma de preservação e a outros

caracteres biológicos, os foraminíferos constituem o grupo de bióticos dos mais estudados e

citados na literatura paleontológica, em numerosas linhas de pesquisa (Tinoco, 1989).

Na área de estudo é o biodetrito predominante no maior número de amostras (trinta e

nove amostras). As maiores proporções ocorrem na região arenosa rasa (abaixo dos 25 m).

Concentrações de 40 a 80% ocorrem nos sedimentos lamosos a arenosos acima da cota de 25

m em frente à foz do rio Piauí-Real. As ocorrências são mais escassas na porção cascalhosa

mais externa da plataforma (Fig. 20).

Figura 20 - Mapa de distribuição dos foraminíferos. Fonte: GEORIOEMAR/DEPAQ/UFS.

Page 41: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

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5.3.3 Briozoários

Os briozoários modernos são organismos coloniais, tipicamente epibentônicos sésseis,

predominantemente marinhos e que ocorrem em todas as latitudes, desde a zona de intermaré

até profundidades abissais (Taylor, 2000). São capazes de colonizar substratos flexíveis e

particulados todavia, a diversidade é maior em substratos rígidos como seixos, rochas,

concreções, algas coralinas e conchas. Nos substratos particulados a diversidade é maior na

fração cascalhosa (McKinney; Jackson, 1989 apud Almeida, 2012)

São mais abundantes em mares rasos das zonas temperadas e tropicais em regiões com

pouca turbidez da coluna d’água (Moore; Lalicker; Fischer, 1952), principalmente entre as

profundidades de 20m e 80m, com abundância máxima aos 40m (Tinoco, 1989).

Os briozoários mostram-se disseminados, mesmo em pequenas quantidades em toda a

plataforma estudada, exceto na região a frente da foz do rio Piauí-Real, onde há ausência desses

componentes na maioria das amostras. Em geral apresentam-se em concentrações de até 20%

do total de organismos identificados nas amostras, com maiores valores em algumas arenosas.

Figura 21 - Mapa de distribuição dos briozoários. Fonte: GEORIOEMAR/DEPAQ/UFS

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5.3.4 Algas vermelhas

As algas vermelhas ou coralinas constituem o grupo mais importante dentre as

chamadas algas calcárias, tanto pela abundância quanto pelo estado de conservação. São

encontradas em sua maioria abaixo dos 100 m de profundidade (Tinoco, 1989).

Predominantemente marinhas bentônicas, precipitam em suas paredes celulares o carbonato de

cálcio e magnésio, sob a forma de cristais de calcita (Dias, 2000).

O mesmo autor destaca ainda que, as algas rodofíceas dos gêneros Lithothamnium,

Lithophyllum, Amphiroa, entre outras, dominam nos sedimentos recentes da plataforma

continental brasileira, do Estado do Maranhão até o sul da Bahia.

Segundo Coutinho (1976), as do gênero Lithothamnium podem viver livres sobre o

fundo, desse modo as foram capazes de colonizar grande parte dos depósitos relíquia

regressivos de areia quartzosa que cobrem a plataforma Alagoas-Sergipe.

Na região estudada as algas concentram-se quase que exclusivamente em profundidades

maiores que os 25 m. Há uma forte correlação com os sedimentos cascalhosos da plataforma

externa, onde esses organismos chegam a perfazer até 80% dos organismos contabilizados. No

bolsão lamoso e regiões de areia, são praticamente ausentes.

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Figura 22 - Mapa de distribuição das algas vermelhas

5.3.5 Gastrópodes

Os gastrópodes apresentam uma única concha aragonítica enrolada em espiral e uma

cefalização nítida (Tinoco, 1989, Ribeiro-Costa; Marinoni, 2006); . Podem habitar a terra firme,

águas doces, salobras e marinhas e, assim como os moluscos bivalves, são fósseis guias de

relativa importância. Seus restos esqueletais são abundantes nos sedimentos recentes

plataformais (Tinoco, 1989).

Representam somente 5% da frequência total de biodetritos contudo, os gasprópodes

apresentam-se distribuídos por toda a plataforma estudada, com presença em 75% das amostras,

em pequenas quantidades (abaixo de 20% do total de biodetritos por amostra).

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Figura 23 - Mapa de distribuição dos gastrópodes. Fonte: GEORIOEMAR/DEPAQ/UFS.

5.3.6 Halimeda

Embora tenham contabilizado apenas 3% do total de biodetritos identificados, as

Halimeda possuem notória distribuição na plataforma continental do nordeste de uma forma

geral, motivo pelo qual optou-se por incluir a análise de sua distribuição.

Representam um gênero das algas verdes calcificadas e são importantes formadoras de

sedimento carbonático nas plataformas. As formas eretas podem crescer sobre sedimentos

inconsolidados, enquanto as formas prostradas preferem fundo duro (Coutinho, 1976). Ocorrem

frequentemente na plataforma do nordeste sugerindo que a região apresenta ambiente calmo

e/ou que esses depósitos podem ser relíquias (Mabesoone; Coutinho, 1970).

A distribuição das algas Halimeda na região de estudo é similar à das algas vermelhas,

ocorrendo somente a partir da isóbata de 25 m e quase que restritas aos sedimentos cascalhosos.

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Figura 24 – Mapa de distribuição das Halimedas. Fonte: GEORIOEMAR/DEPAQ/UFS.

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6. DISCUSSÃO

A partir da análise da distribuição dos biodetritos, algumas constatações puderam ser

feitas acerca da ocorrência dos organismos em relação ao sedimento de fundo e profundidade:

Na região arenosa litorânea, limitada pela cota batimétrica de 20 m há o

predomínio de foraminíferos, bivalves e gastrópodes em menor quantidade.

Os briozoários são inexpressivos.

Nos bolsões lamosos entre os 10 m e 25 m de profundidade há o predomínio

dos moluscos bivalves, seguidos dos foraminíferos e gastrópodes, com

ocorrências localizadas e pouco expressivas de briozoários.

A região arenosa entre os 10 m e 25 m de profundidade tem o predomínio de

foraminíferos, os briozoários predominam em duas estações e os moluscos

ocorrem com frequências de até 20 %.

Na região lamosa em frente à foz do Piauí-Real, a partir dos 25 m, os

foraminíferos são o grupo mais abundante, seguido dos bivalves, briozoários

e gastrópodes.

As algas vermelhas começam a ter maior relevância nos sedimentos arenosos

a cascalhosos a partir dos 25 m de profundidade, ainda que, em geral estejam

subordinadas aos foraminíferos, que predominam na maioria das estações.

Os moluscos também estão presentes e os briozoários ocorrem com

frequências relativas de até 40%.

Observou-se que os briozoários encontram-se disseminados por toda a plataforma,

exceto na região em frente à foz, onde são quase que ausentes nas areias e pouco expressivos

na zona lamosa. A razão dessa ausência próximo à foz pode estar relacionada à dinâmica local,

já que, segundo Almeida (2011) e Távora & Neto, (2011), os briozoários, assim como outros

organismos filtradores, são vulneráveis a sedimentação e turbidez, que podem impedir a

realização de suas funções vitais.

Os foraminíferos e moluscos (principalmente os bivalves) não mostraram fortes

tendências a formar grãos de uma granulometria específica, estando amplamente distribuídos

nas frações analisadas. Isso possivelmente deve-se ao fato de ser um grupo bastante diverso,

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composto por organismos com diferenças arquitetônicas importantes em suas conchas, que lhes

conferem diferentes graus de resistência (Nascimento, 2011).

As algas vermelhas estão restritas a profundidades a partir dos 25 m, e são mais

expressivas nos fundos cascalhosos, distribuição semelhante à das algas verdes (Halimedas).

Segundo Coutinho (1981), o sedimento lamoso pode asfixiar certos grupos bentônicos, como

briozoários e algas calcárias, fato este que pode ser um dos fatores restritivos à ocorrência das

algas na região mais próxima da influência terrígena.

Em relação a Halimeda, o mesmo autor cita que a diferença na temperatura entre as

águas a norte e a sul do rio São Francisco é condicionante a abundância destas a norte do rio e

a quase ausência das algas verdes a sul do São Francisco. Coutinho (2000) acrescenta ainda

que, a sul da foz do Rio São Francisco, a corrente de material fluvial, carregada de lama, segue

uma direção para sul carreada pela Corrente do Brasil, resultando numa ausência quase total

das algas na plataforma sergipana.

As condições abióticas que tornam a plataforma do nordeste uma região propícia ao

desenvolvimento de depósitos carbonáticos são, segundo Summerhayes et al. (1975) apud Lana

et al. (1996), a pequena profundidade da plataforma, a presença de substratos duros, o

predomínio de águas quentes e o input pouco significativo de material proveniente da drenagem

continental.

A plataforma sergipana no entanto, possui uma maior contribuição fluvial e além disso,

corresponde a um dos trechos mais estreitos da plataforma brasileira (Coutinho, 2000), o que

restringe a área de desenvolvimento dos depósitos bioclásticos, sendo ainda mais restrita por

conta do recorte dos vários canyons instalados em sua borda externa (Nascimento, 2011). Na

região específica do presente estudo a plataforma possui uma largura média de

aproximadamente 21 km e tem ainda um estreitamento no canyon do Piauí-Real.

Em trabalhos mais recentes Nascimento (2011) e Suffredini (2013) discursaram acerca

do bentos da plataforma sergipana. Nascimento (2011) realizou a análise da distribuição dos

principais componentes bioclásticos na plataforma de Sergipe como um todo e obteve como

resultado que as algas coralinas correspondem ao principal constituinte dos depósitos

carbonáticos, seguida dos moluscos, foraminíferos bentônicos e briozoários.

Suffredini (2013) analisou os biodetritos nos sedimentos superficiais da plataforma sul

de Alagoas e norte de Sergipe e concluiu que componentes mais frequentes, dentro do total de

biodetritos identificados, foram: as algas vermelhas (24%), os foraminíferos (20%), os

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biválvios (17%), os briozoários (16%), os gastrópodes (8%), as halimedas (6%), e os poríferas

(com 4%).

Observa-se que em ambos os trabalhos, os autores registraram uma ocorrência de algas

vermelhas mais expressiva que a encontrada na área desse estudo, onde representam somente

12% do total de organismos identificados. Em relação aos demais componentes, as

contribuições para o sedimento obtiveram proporções semelhantes, com exceção dos bivalves,

que se mostraram mais expressivos na plataforma sul alvo desse trabalho.

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39

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse trabalho foi possível avaliar que os principais componentes biogênicos

formadores de sedimento na área são os moluscos bivalves, foraminíferos, briozoários, algas

vermelhas e gastrópodes, em ordem decrescente de frequência relativa.

Tal resultado contrasta com algumas subdivisões clássicas da costa nordestina quanto a

litofácies carbonáticas, como por exemplo o zoneamento proposto por Carannante et al. (1988)

apud Coutinho (2000), no qual a região de estudo estaria incluída na “Zona Tropical”,

caracterizada pelo predomínio das algas calcárias verdes (Halimeda) e algas vermelhas

ramificadas, com briozoários e foraminíferos bentônicos localmente abundantes.

Algumas dessas particularidades da plataforma sergipana já foram apontadas em

diversos trabalhos (Coutinho, 1976, 1981, 2000; Guimarães, 2010; Nascimento, 2011;

Suffredini, 2013 entre outros).

A região plataformal adjacente à foz do complexo estuarino Piauí-Real mostrou também

suas particularidades em relação à plataforma do nordeste brasileiro como um todo e também

em relação a outras áreas da própria plataforma sergipana. No entanto, estudos pormenorizados

são necessários para uma melhor caracterização e compreensão da dinâmica da região.

Page 50: Vieira, 2015 - Análise da distribuição de biodetritos no sedimento superficial da plataforma continental sul de Sergipe

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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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