versus magazine #20 junho/julho 2012

104

Upload: ernesto-martins

Post on 29-Mar-2016

251 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

DOWNLOAD: www.mediafire.com/view/?cu4flsfpe0bci1d Edição nº20 da Versus Magazine c/ Ne Oliviscaris, Moonspell, Burzum, Din Brad, Blacklodge, Artic Plateau, Seth, Impiety, Carach Angren, Bilocate, Allegaeon, As They Burn, Niklas Sundin e muito mais.

TRANSCRIPT

Page 1: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012
Page 2: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012
Page 3: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

VERSUS MAGAZINE

VERSUS Magazinec/o Ernesto MartinsRua da Barranha, 573 - 2D4460 - 253 - Senhora da HoraPortugal

Telem.: 918 481 127E-Mail: [email protected]: /versus-magazine.com MySpace: /versusmagazineFacebook: Versus Magazine - OfficialFacebook Group: Versus Magazine

PUBLICAÇÃO BiMESTRALDownload Gratuito

DIRECÇÃOErnesto MartinsAndré Monteiro

GRAFISMOA.Monteiro - Design & Multimédia www.amonteiro.net

ILUSTRAÇÃOEyeless Illustratorfacebook.com/eyeless.illustrator

EQUIPAAndré MonteiroCarlos FilipeCristina SáDaniel GuerreiroDicoEduardo RamalhadeiroEliana NevesEmanuel R. MarquesErnesto MartinsJorge CastroJoeyLuís JesusPatricia Marques Paulo EirasPaulo MartinsSérgio PiresSérgio TeixeiraVictor Hugo

FOTOGRAFIACréditos nas Páginas

[email protected]

Todos os direitos reservados. A VERSUS MAGA-ZINE está sob uma licença Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Não a Obras De-rivadas 2.5 Portugal.

O utilizador pode:copiar, distribuir, exibir a obra

Sob as seguintes condições:Atribuição - O utilizador deve dar crédito ao au-tor original, da forma especificada pelo autor ou licenciante.

Uso Não-Comercial. O utilizador não pode utili-zar esta obra para fins comerciais.

Não a Obras Derivadas. O utilizador não pode alterar, transformar ou criar outra obra com base nesta.

Esta é, provavelmente, a primeira vez, em vinte edições, que atribuí-mos as honras de capa a uma banda internacional estreante. Uma aposta em que nos lançamos sem hesitar, tal foi a sen-sação de deslumbramento que o álbum dos Ne Obliviscaris despertou numa boa parte da equipa da VERSUS Magazine. Para além deste destaque concedido ao promissor colectivo australiano, esta edição inclui uma aprofundada conversa com Fernando Ribeiro dos Moonspell, uma interessante troca com o sempre misterioso Sr. Burzum e uma entrevista muito pessoal com Gianluca Divirgilio dos Artic Plateau, entre muitas outras.Na rubrica retroVERSUS recordamos «Operation: Mindcrime» dos Queensryche, um álbum absolutamente intemporal que completou há pouco 24 anos desde que foi publicado, e no que toca aos artistas gráficos – aqueles que com o seu talento pintam “a cara” do Metal tal como o conhecemos – temos a honra de vos apresentar desta vez um dos nomes maiores dessa área: o fantástico Niklas Sundin e a sua CabinFever Media.Terminamos com um destaque mais alargado para o aguardado Vagos Open Air, e, claro, com a secção de reportagens que inclui, entre outros, os recentes concertos de Cannibal Corpse e Exodus.Enviem-nos as vossas opiniões para [email protected].

Ernesto Martins

Page 4: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

Varg Vikernes é Burzum, mesmo que o inverso não seja verdade.Com uma carreira que parece perpetuar-se, desde a primeira vaga do black metal, a banda norueguesa marcou sempre a cena metal, desde os anos 90 do século passado (para grande edifi-cação de uns e indignação de outros).Nesta conversa bem intelectual, o controverso músico norueguês reflete com a VERSUS Magazine sobre o significado da última estrela deste projeto musical, que, apesar de não ser tão dis-cutido como outros seus contemporâneos e conterrâneos, nunca passou despercebido.

A viver numa era dourada

bilhete de avião na Noruega, sem ter de enfrentar uma infinidade de problemas, assim que a minha identidade se torna conhecida. Qualquer pessoa que me contrate, seja para o que for, terá de enfren-tar uma perseguição política, legal ou ilegal, e todos têm consciência disso. Infelizmente, a Noruega é o último estado soviético na Eu-

ropa e os dissidentes como eu são obrigados a emigrar ou a tornar-em-se criminosos, para poderem sustentar as suas famílias. Feliz-mente para mim, tenho a capaci-dade de fazer música e de con-seguir convertê-la numa fonte de proventos.Posto isto, gostaria de dizer que faço música e quero partilhá-la

Por que pretendes partilhar a tua música com o mundo, nem que este se identifique apenas com uma comunidade underground como a cena metal?Varg Vikernes: É uma boa pergun-ta, mas não é fácil responder-lhe. Antes de mais, sinto que não posso fazer muito mais para além disso. Nem sequer consigo comprar um

Page 5: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

dizer ao mundo? O que pretendes dizer, quan-do te referes a uma “conceção estoica de metamorfose”? O que é uma “meta-morfose pagã”?Tenho a im-pressão de que as palavras que usei para descrever o conceito de base deste ál-bum foram “uma conceção da mudança estoica pro-fundamente en-raizada na cultura europeia, ou seja, no paganismo”. Os Eu-ropeus do passado (isto é, os pagãos) não tinham uma con-ceção linear do mundo, incluindo

um princípio e um fim. Em vez disso, tinham uma conceção cí-clica, em que tudo se repetia peri-odicamente: ao outono seguia-se o inverno, depois a primavera e o verão e, de seguida, novamente o outono, para todo o sempre. À noite segue-se o dia, que dá origem à noite e assim por diante. Não há princípio, nem fim.Geralmente, “Voluspå”, o poema nórdico usado como letra em «Umskiptar», é visto como uma descrição da criação do mundo e o crepúsculo dos deuses está com-pletamente errado ou, pelo menos, só tem significado do ponto de vista esotérico. Esta interpretação linear é de origem judaico-cristã. O que o poema descreve realmente são as transformações da natureza que têm lugar todos os anos, e, so-bretudo, as metamorfoses sofridas pelas divindades que fazem parte dela. O Ragnarok descrito no po-

ema é apenas um evento anual.O mundo muda, em cada dia (com a Noite e o Dia), em cada mês (com as fases da lua) e em cada ano (com as quatro estações) e ainda em períodos de 10.000 milhões de anos (com as idades do gelo que vão e vêm). Os Europeus antigos sabiam isto e, por isso, relaciona-vam-se com o mundo e tudo o que nele habita de um modo semel-hante ao dos Estoicos.

E de que forma a bela capa do ál-bum ilustra esse conceito?Na capa do álbum, aparece uma personificação romântica da Noite, tal como foi representada pelo pin-tor norueguês P. N. Arbo. Ele tam-bém pintou uma personificação do Dia. A noite e o dia fazem parte das metamorfoses da natureza. É um artista norueguês, bastante famoso, logo eu “cresci com ele” e com outros escritores, pintores,

“Sou um músico e, enquanto produzir algo que me pareça de interesse, vou continuar a divulgar o meu trabalho. Que mais posso fazer?”

com os que se interessam pela minha arte, muito simplesmente porque a vejo como uma harmo-nia que compensa a falta de har-monia de que o mundo atual pa-dece gravemente.

O que te faz continuar o teu caminho, depois de tantos ál-buns?Sou um músico e, enquanto pro-duzir algo que me pareça de in-teresse, vou continuar a divulgar o meu trabalho. Que mais posso fazer?

Por que é que a tua música é tão monótona? Curiosamente, é essa mesma monotonia que produz o tom encantatório que percorre todos os álbuns de Burzum. É um elemento mágico da tua arte.Obrigado por essa apreciação. A minha música é feita as-sim, para impedir o ouvinte de

“deslizar”/”escapar”/”evadir-se” para um outro estado mental e, as-sim, poder usufruir da beleza de viver – nem que seja só por mo-mentos – num mundo melhor, uma verdadeira Idade do Ouro, recriada no seu espírito.Compreendo que este plano pode não resultar com toda a gente, mas é sempre agradável para mim quando o ouvinte compreende a minha música e a interpreta de acordo com a sua personalidade, o que lhe permite usufruir dela, como se pretendia à partida.

Como consegues produzir esse efeito monótono e mágico, ao mesmo tempo?Provavelmente, porque eu próp-rio me sinto a viver numa Idade do Ouro, quando faço a minha música.

O que tem «Umskiptar» para

Page 6: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

as canções deste ál-bum?T r a t a m d a s d i f e r -e n t e s é p o -cas do ano, do que o

Homem fez para

se prepa-rar para

o que vem a seguir,

como celebra as estações, etc.

Como já foi refer-ido, é um poema

religioso, mitológico, que tem a ver com a for-

ma como os povos pagãos do norte se relacionavam com as mu-danças que ocorriam na natureza ao longo do ano.

Há alguém a cantar contigo em «Umskiptar»?Não. Fiz tudo sozinho, como de costume.

Existe alguma relação entre «Umskiptar» e «Belus» e «Fall-

en»? Podemos considerar os três álbuns como estádios de uma mesma narrativa?«Belus» e «Umskiptar» estão efeti-vamente ligados a nível concetual, mas «Fallen» é um álbum à parte. «Belus» descreve as metamorfos-es da natureza numa linguagem tradicional (seið) e «Umskiptar» trata o mesmo tema, mas recor-rendo a uma linguagem mitológica (ásatrú). «Belus» apresenta essas metamorfoses vistas da perspetiva de um feiticeiro e «Umskiptar» adota o ponto de vista de um sac-erdote pagão.Portanto, são efetivamente dois aspetos da mesma narrativa: «Bel-lus» é uma versão da Idade da Pedra ou do Bronze e «Umskip-tar», da Idade do Ferro ou de uma época intermédia.

Entrevista: CSA

com-p o s i -tores nacionais, t a i s como Th. Kittelsen, Asbjørnsen, Moe e Grieg. A atmosfera do quadro tem a ver com o facto de Arbo ter feito parte do nosso mov-imento romântico, no séc. XIX.

Quais são os temas do poema antigo de onde retiraste as estân-cias que usaste como letras para

Page 7: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012
Page 8: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

O que acontece quando membros de uma banda de metal resolvem levar mais longe uma das linhas mu-sicais que lhes interessam?É o que vamos ver através desta conversa com Negru, a alma da atual formação de Negura Bunget e, agora também, dos Din Brad.Curiosamente, descobrimos que, na longínqua Ro-ménia, também há… saudade!

Da saudade no mundo românico

Page 9: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

É um álbum muito atmosférico. Queríamos que cada ouvinte o compreendesse à sua maneira… de acordo com a sua cultura e a história e tradições a ela associa-das.Neste primeiro álbum, apresenta-mos a nossa própria forma de ver o antigo folclore romeno e as suas tradições que ainda estão vivas em algumas partes da Roménia. Tra-ta-se de um universo místico que congrega mistérios meio oculta-dos, meio revelados, sentimentos ambíguos, florestas negras, céus azuis, montanhas. Uma estranha ligação com a espiritualidade local faz-nos dar atenção aos costumes antigos. «Dor» descreve uma at-mosfera que faz com que te sintas perturbado, como se um espírito vindo de um plano superior te permitisse teres uma noção corre-ta do verdadeiro lugar e valor das

coisas. É uma experiência pessoal e única de tristeza e nostalgia, que faz com que sintas algo muito per-to de ti e, simultaneamente, muito longe. A natureza, as colinas e as montanhas, as águas profundas, as florestas obscuras, o lar, a presença espiritual, lugares onde as almas se sentem livres, fazem parte deste universo.

Que instrumentos folclóricos usam neste vosso primeiro ál-bum? E quem os toca?Usámos o dulcimer (umas vezes tocado por mim, outras pelo Mir-cea Ardelean, que é um músico extraordinário e que convidámos para interpretar duas canções), instrumentos de percussão tradi-cionais (que só eu toquei), flauta de pã (tocada pelos nossos ami-gos Catalin Morotga e Eduard Muntean). Não usámos muitos

O que vos levou a formar Din Brad? É quase um projeto de in-vestigação.Negru: Foi apenas um impulso natural… Sempre quis explorar el-ementos folclóricos de uma forma mais profunda e mais próxima da realidade do que podia fazer com os Negura Bunget. É algo em que me empenho pessoalmente, uma paixão, não um trabalho.

«Dor» é um álbum mais que bo-nito. O que significa o título? Quais são os seus temas?“Dor” é uma palavra caraterística da nossa língua que significa um sentimento de nostalgia, de desejo por algo que tiveste e perdeste, um lugar ou um tempo… O álbum ex-plora algumas das facetas do con-ceito a que esta palavra dá corpo. Procura exprimir aquilo a que na Roménia chamamos dor

Page 10: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

“Foi apenas um impulso natural… Sempre quis explorar elementos fol-clóricos de uma forma mais profun-da […] É […] uma paixão, não um trabalho.”

cional do nosso país. A investigação que levámos a cabo sobre este uni-verso tradicional fascinante levou-nos inevitavelmente a este contacto.

Como relacionam este projeto musical com estudos etnológicos e a grande tradição de investigação centrada na tradição popular oral criada por figuras como os irmãos Grimm, que tanto se interessaram pelos contos?De forma muito íntima. Todos os membros da banda estão familiari-zados com esse tipo de estudos. No entanto, a nossa abordagem é difer-ente: no nosso caso, não se trata de um estudo científico, mas sim de dar corpo à forma como vemos essa música. Apesar de conhecermos es-ses estudos etnológicos, o nosso re-sultado final é muito diferente. Nós procuramos chegar aos elementos dessa cultura tal como eles se apre-sentam, para os apreendermos na sua autenticidade, não os usamos como um instrumento científico para provarmos a veracidade de uma teoria que tenhamos engend-rado.

Quais são as expetativas da banda relativamente à receção deste ál-bum pelos fãs da cena metal? Afi-nal, são todos membros de Negura Bunget, uma banda com créditos

bem afirmados nesse contexto.O nosso trabalho acaba assim que o álbum está pronto. Portanto, gas-tamos toda a nossa energia para o modelarmos da forma que quere-mos, enquanto estamos a criá-lo. O que acontece depois, não depende de nós. Portanto, não alimentamos expetativas. Tenho a certeza de que encontraremos uma audiência ca-paz de apreciar este trabalho, se ele estiver bem feito.

E como pensam que reagirão as pessoas fora da cena metal?É difícil dizer. Este projeto é muito fora do vulgar, mesmo na Roménia, porque apresenta uma visão muito pessoal da nossa música.

Que futuro prevês para este pro-jeto musical?Já estamos a trabalhar num novo ál-bum, que será um pouco diferente deste. Mas, neste momento, ainda é muito cedo para dar pormenores sobre esse trabalho. Também esta-mos a dar o máximo de concertos que podemos. Vamos fazer uma digressão nos EUA com Negura Bunget.

Conhecem Portugal e a nossa música folclórica? É muito varia-da, porque vai desde cantos muito alegres até melodias melancólicas como as que apresentam neste ál-bum.Conheço um pouco o folclore por-tuguês. Cada povo põe um pouco da sua alma na sua música folclórica e pensamos que é importante olhar para ela de uma forma adequada, para a podermos compreender.Também sinto que há algumas se-melhanças entre o folclore dos nossos países, quando penso em conceitos como fado, saudade,

solidão. São pala-vras portuguesas difíceis de traduzir noutras línguas, sem a música que as acompanha e que dá a sua essência.

Gostariam de to-car no nosso país? Onde vão pro-mover este álbum exótico.É claro que gostávamos de ir a Portugal, se nos dessem essa opor-tunidade. Entretanto, já fizemos bastantes concertos, com os Negura Bunget ou sozinhos em festivais. Estamos a contar com mais durante o próximo verão.

Entrevista: CSA

instrumentos, porque queríamos que o álbum fosse simples e direto, mas, finalmente, tudo pareceu ad-quirir uma vida própria. Foi uma experiência extraordinária levar os nossos amigos a compreenderem o que pretendíamos e cada um deles acrescentou o seu toque pessoal à dor que partilhavam connosco.

No texto promocional da Proph-ecy Productions, explicam que, neste álbum, há canções inter-pretadas por cantores folclóricos e outras por Din Brad. As vossas correspondem a versões feitas pela banda de canções folclóricas da tradição oral romena ou são canções originais inspiradas nesse modelo?As canções que nós interpretamos são originais nossos. De facto, in-spiram-se na música tradicional do nosso país, que muito apreciamos, mas, ao mesmo tempo, traduzem a nossa visão pessoal desse universo. Decidimos convidar músicos fol-clóricos para preservar a auten-ticidade, em vez de seguirmos as tendências folclóricas correntes, mais divulgadas. Era nosso objetivo principal concentrarmo-nos no an-tigo folclore e costumes romenos, a fim de mantermos viva a nossa li-gação à espiritualidade local.

Como con-seguiram a participação de músicos popu-lares?M a n t e m o s relações estrei-tas com pessoas que trabalham nessa área, portanto não foi difícil contactar músicos desse estilo. O que custou foi encontrar os artistas que poderiam ajudar-nos a concre-tizar o projeto associado a este ál-bum em particular. Tivemos muita facilidade nas relações com esses artistas, porque fomos ter com eles ao seu ambiente natural. Esse con-tacto permitiu-nos também viven-ciar um pouco a sabedoria ancestral que deu origem ao universo tradi-

Page 11: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012
Page 12: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

Pode dizer-se que há nos Blacklodge a afirmação perfeita do movimento In-dustrial no Black Metal. «Login:SataN», de 2003, é um argumento de excelên-cia, e desde então o recon-hecimento destes franceses tem sido positivo, principal-mente por parte do público com a mente mais aberta. A expressão satânica continua presente em «MachinatioN», embora os moldes tenham mudado um pouco – mais industrializados. A VERSUS Magazine conversou com o Saint Vincent, que de um modo entusiasmado acei-tou as minhas interrogações mais filosóficas.

SataN Ex MachinationN

O vosso álbum novo, «MachinatioN», parece ter mais detalhes industriais do que nos álbuns an-teriores. O nome do vosso álbum é o reflexo da sonoridade da vossa música?Saint Vincent: Eu não diria isso. O título do ál-bum é referente ao processo infernal de escravizar a humanidade nestes tempos de poder e arrogân-cia industrial. Isto é uma conspiração satânica na nossa era sobre tecnológica. Música sábia, diria melhor, nós munimo-nos para sermos mais dire-tos e eficientes: a eficiência da Máquina.

Tanto quanto pude perceber, na música “Indus-trial temple MysticA”, tu dizes ‘Industry is your death’. Essa passagem faz-me pensar no nosso mundo atual e a sua constante industrialização e capitalização. Existe alguma ligação?Lamento mas eu não digo isso! Não sei que frases confundiste, embora num momento eu diga ‘In-dustry is your Temple’. Mas a tua proposição pode ser válida: de facto, eu alego que a Industria é o Templo de SatanáS, as Igrejas pós Idade Média

Page 13: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

da nova religião que conduzem à escravatura da humanidade. Eu não quero falar sobre o capital-ismo porque tem um sentido politico – com os Blacklodge que quero manter-me nos campos do misticismo e da religião. Falo, portanto, acerca do processo mecânico da procura pelo máximo de eficiência colocando, obviamente, no futuro, a máquina acima do Homem. Isto parece uma sin-opse de um filme de ficção científica, mas eu alego que isto é o verdadeiro núcleo da materialização satânica do Anticristo.

Olhando para os títulos das músicas e ouvindo a vossa música, eu penso que o Satanismo e a In-dustria estão de mãos dadas no mesmo camin-ho, e faz-me pensar, mais uma vez, que a queda da humanidade é tornar-se ela própria numa máquina sem sentimentos e sem pensamento próprio. O meu pensamento está correto?Definitivamente. É exatamente como eu vejo as coisas. Parece que a importância da máquina ex-plodiu desde a Revolução Industrial, e houve dois

séculos de evolução no qual a humanidade teve de mudar a sua organização, filosofia e sociedade para se adaptar ao constante crescimento e per-formance das máquinas. Nos nossos tempos de racionalidade, o pensamento lógico é superior à mentalidade humana emotiva e psicologicamente desordenada. Como o universo é uma luta con-stante de domínio e poder, a máquina vai ganhan-do à humanidade, colocando as emoções longe das intuições mas perto do entretenimento, ao mesmo tempo que provoca confusão na autonomia do pensamento através de uma explosão de acessibili-dade à informação.

No novo álbum há um tema intitulado de “Culto Al Sol”, que é o mesmo título do vosso álbum de 2006, «Solarkult». Existe aqui alguma men-sagem importante?Uma mensagem muito importante. Para além do tempo e julgamentos da vida, a mensagem do ál-bum «Solarkult» continua cá. As letras estão em espanhol para saudar a América do Sul, onde tive

Page 14: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

a visão que me levou a escrever esse álbum. Quis sublinhar o fascínio pelos cultos do Sol, porque penso que a vinda do Império Satânico convergirá com o derradeiro Culto do Sol.

Olhando para os vossos trabalhos anteriores, acho que estão, progressivamente, a deixar as estruturas do Black Metal. Podemos esperar que no futuro a porta do Black Metal não estará fechada?Mais uma vez eu discordo. Temos as estruturas de Black Metal mais óbvias no «Login: SataN», mas desde então, na minha opinião, isso mudou. Nós não queremos distanciarmo-nos do Black Metal, ou aproximarmo-nos de outra coisa qualquer. Estamos a fazer a música que queremos, que foi etiquetada no início por Industrial Black Metal, e nesse tempo, em 2003, estávamos a fazer música com os Aborym e os Diabolicum. Queremos con-tinuar nesta veia, trazendo novas revelações mas mantendo a violência do nosso estilo.

Acredito que em França não há muitas bandas a

soarem como a vossa. Como é que vocês vêm a cena no vosso país e na Europa? Vocês são aceites pelos fãs tradicionais de Black Metal?Iniciámos as atividades em 1998, e o nosso primei-ro concerto foi em 2000. No início a cena do Black Metal era muito adversa para nós, ou pelo menos a cena local. Mas eu estava a cagar para isso: o meu objetivo era mostrar que o principal motivo do Black Metal era a ligação entre a música extrema e SatanáS, em vez de usar corpse paint, espetos e roupas pretas. Repara, após a primeira vaga do Black Metal, o estilo começou a tornar-se num cli-ché, e muitas bandas não passavam de sombras que fingiam que tocavam Black Metal porque estavam a copiar os Darkthrone. Com o tempo nós con-quistámos o respeito de muitos ativistas no Black Metal que colocavam a atitude e a ligação satânica antes da normalidade musical. Doze anos depois tocámos em toda a Europa, e sabemos que temos fãs em todo o lado. Blacklodge é uma banda de amor/ódio: continua a haver muita gente no Black Metal que é alérgica à nossa música; contudo há cada vez mais pessoas a sentirem e a entenderem a

Page 15: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

ligação com a nossa música. Quanto às bandas na Europa que tocam o mesmo estilo que o nosso, elas são muito, muito poucas, mas estão a aumentarem constantemente. Um dia haverá uma grande cena de Black Metal Industrial! Após as bandas como Diabolos Rising e MysticuM, estamos orgulhosos em sermos uma das bandas pioneiras a tocar este género, ao lado de Aborym e Diabolicum.

Como é que vão promover o «MachinatioN»? Uma Tour? Concertos?Vamos tocar ao vivo tanto quanto possível: prepar-em-se para o novo ataque do Black Metal Indus-trial!

Entrevista: Victor Hugonn

“Nos nossos tempos de racionalidade, o pen-samento lógico é su-perior à mentalidade humana emotiva e psicologicamente des-ordenada.”

Page 16: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

ASARU«From the Chasms of Oblivion»(Schwarzdorn Productions)Formados em 1995 por Frank Nordmann, os Asaru apresentam neste segundo registo uma interpretação relativamente padronizada de black metal com frequentes erupções cuspidas à máxima velocidade do es-tilo. Não há dúvida que a música tem os seus momentos e que este ex-vocalista dos Agathodaimon (aqui, também, guitarrista) sabe como escrever bons temas, tendo o álbum a sua quota-parte de riffs cati-vantes. O problema incontornável deste disco é que segue milimetrica-mente formulas já esgotadas por nomes como Emperor ou Immortal, para além de que a sonoridade remete também, escandalosamente, para estas bandas.[6.5/10] Ernesto Martins

CHAOS IN PARADISE«Let The Bliss Remain»(edição de autor)«Let The Bliss Remain» conta com pouco mais de 25 minutos ao longo de seis faixas, iniciando-se com uma introdução calma, descontraída e chamativa. No decorrer do EP é possível reparar na diversidade de influências e como estas são aplicadas na tentativa de criar uma sonori-dade própria, o que por vezes pode soar um pouco forçado e desorgani-zado, mas que no final do dia forma uma combinação bem conseguida e um espaço criativo bem trabalhado. Certamente é metal![7.5/10] Daniel Guerreiro

CONFIDENCE«Prelude»(edição de autor)Hard-Rock (ou Hard’n’Heavy) do mais puro e duro vindo diretamente da Suécia. Os Confidence lançam o seu álbum de estreia com 4 te-mas. Trata-se de um lançamento em formato digital, sendo que estarão previstos pelo menos 2 lançamentos por ano sempre com 4/5 temas. Avançando já para o que considero ser o pior do álbum: o som parece-me demasiado comprimido, alto e por conseguinte com pouca dinâmica (loudness). Posso definir o estilo dos Confidence como os modernos Europe e a voz de Emil Kyrk com “rasgos” de Jorn Lande. Poderia ser um bom álbum não fosse o som que considero demasiado comprimido.[6/10] Eduardo Ramalhadeiro

CYCLOPHONIA«Impact is Imminent»(Battlegod Productions)Os Cyclophonia são mais uma banda de Power Metal Melódico, assim no estilo de Sonata Artica ou Helloween ou seja, nada de novo. O grupo é constituído por dois vocalistas, não sei porquê visto o estilo ser muito idêntico. Está lá tudo o que um Power Metalista possa querer numa banda deste género: Harmonias nas vozes, principalmente, nos coros, solos de guitarra ao despique e “cavalgadas” bem rasgadas. No entanto, algo que me tira do sério são mesmos os “gritos” dos vocalistas, nen-hum deles é Geoff Tate ou Michael Kiske. Não havia necessidade. Espero por algo melhor e quando me apetecer ouvir (bom) Power Metal fico-me pela velha guarda! (Ou então, ouço o novo dos Sabaton!)[5/10] Eduardo Ramalhadeiro

Page 17: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

DEVILISH DISTANCE«Deathruction»(MDD)Vindos diretamente da Rússia, os Devilish Distance trazem-nos «Death-ruction», uma descarga brutal de Death Metal, com alguns “salpicos” de Thrash. Rápidos, incisivos, deveras coesos, uma voz gutural fortíssima e boa técnica por parte de todos os membros da banda. A produção é, também, muito boa. As letras baseiam-se em temas como o anti-cristo, ódio e nacionalismo. Som portentoso que certamente será responsável pela deterioração rápida das colunas se não tivermos cuidado com o nível do som. [7.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

EL CACO«Hatred, Love & Diagrams»(Indie Recordings)Não parece mas os El Caco já andam nestas andanças vai para 10 anos, se bem que escondidos por terras Norueguesas. «Hatred, Love & Dia-grams» poderá ser o trampolim que precisam para serem conhecidos no resto da Europa. Quem gostar de Tool vai certamente gostar dos El Caco, embora menos técnicos – não querendo com isto dizer que não têm qualidade. Por estranho que possa parecer, a voz de Øyvind Osa faz-me lembrar Kory Clarke dos Warrior Soul. É um bom álbum de rock-progres-sivo (leve), viciante, com excelentes executantes em especial Fredrik Wallumrød na bateria.[8/10] Eduardo Ramalhadeiro

HAVOK«The Point of No Return»(Candlelight)Às vezes não entendo o porquê do lançamento destes EP’s. Não se tra-tar de promover um lançamento e só posso ver como algo do tipo: “Não esqueçam de nós e tomem lá 2 musiquinhas para curtir enquanto não vem um álbum completo”. Este tem dois temas novos e duas covers. É certo que são duas grande malhas do mais puro Thrash Metal, porreiras para um Headbanging até o pescoço sair do sítio. As covers... bem... “Arise”: bem tocado mas o instrumental não está tão “musculado” como o original e a voz não é tão agressiva como a de Max Cavalera. Postmor-tem/Raining in Blood encaixa muito melhor neste tipo de voz mas estas versões não trazem nada de novo. Preferia mais dois originais.[5.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

HOUR OF 13«333»(Earache Records)Apesar do muito que já se fez no universo das sonoridades doom/stoner, continuam ainda assim a surgir todos os dias apostas nesta área es-pecífica do Metal. Os norte-americanos Hour of 13, de Chad Davis e Phil Swanson, mostram neste terceiro registo de estúdio como é ainda pos-sível compor grandes temas de rock pesado à moda antiga, com riffs assombrosos que bem podiam ter saído da pena do riffmaster Iommi e com toda aquela atmosfera sombria característica dos Black Sabbath. Se é disto que gostam, então esta é sem dúvida uma proposta em que não vão dar o vosso tempo como perdido. [9/10] Ernesto Martins

Page 18: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

MEKONG DELTA«Intersections»(SPV)Sou um pouco suspeito para escrever sobre os Mekong Delta, ainda por cima quando se trata de uma re-edição de temas antigos mas gravados com uma nova formação – parece que está moda. Desde há alguns anos que são uma das minhas bandas favoritas. Mas então, o que nos traz de novo «Intersections»? Bem… nada! Será um bom ponto de partida para ouvir uma banda única no estilo Thrash/Progressivo? Talvez. Mas aceitem o meu conselho e podem começar por ouvir/adquirir «Principle of Doubt» and «The Music of Erich Zann». Não se vão arrepender e pro-meto que nunca mais se esquecem dos Mekong Delta.[--/10] Eduardo Ramalhadeiro

METASOMA«Metal Erosion»(edição de autor)Vindos de terra de sua majestade, os Metasoma lançaram já em 2011 o seu primeiro EP de 5 temas basicamente embebido numa mistura es-tética de Hard-Rock e Heavy-Metal. A primeira componente mais Rock dá aos temas uma fluidez e facilidade de absorção quase imediatas. A vertente mais Heavy-Metal reflete-se no som pesado e nos solos das guitarras apenas. Assim temos um EP de certo modo pesado mas de fácil absorção. Globalmente é um registo bem interessante e que abre o apetite para um primeiro álbum.[8/10] Sérgio Teixeira

NECROPHOBIC«Spawned By Evil»(Hammerheart Records)Esta reedição/compilação demonstra aquilo que os Necrophobic andar-am a tramar entre os seus primeiros dois álbuns. Conta com cinco cov-ers, num total de oito faixas, que podem até parecer originais de Nec-rophobic aos ouvidos de quem não as conheça. Fazem um bom trabalho a pegar no que é dos outros, no entanto o ênfase deveria estar em cri-ações próprias. Este disco serve apenas para “encher chouriços”. Uma reafirmação, mas desnecessária.[5.5/10] Daniel Guerreiro

NAUMACHIA«Black Sun Rising»(Witching Hour Productions)Lançamento de 2009, mas que só agora está a ter a devida exposição por aqui, traz-nos o death metal brutal mas criativo dum colectivo po-laco onde pontuam VX, o teclista dos Atrophia Red Sun, Icanraz, o bat-erista dos Devilish Impressions e Mortifier, baixista dos Hate. A música tem até a precisão rítmica e a contundência esmagadora destes últimos mas inclui como traço distintivo uma utilização muito interessante de teclados e efeitos electrónicos, que apesar da subtileza criam um im-pacto duradouro e não subtraem nada ao lado agressivo. A prestação algo monótona do vocalista Soyak é o ponto menos positivo.[8.5/10] Ernesto Martins

Page 19: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

OBSIDIAN BUTTERFLY«Same»(MDD)Antes de mais, «Same» é capaz de não ser considerado um álbum de metal. Toda a obra é de um homem misterioso, chamado simplesmente Lefthander. Não consegui encontrar nada na internet: sitio, facebook ou myspace… zero. A música é, digamos que diferente, não será para con-sumo imediato e, provavelmente, precisa de ser entendida e ouvida mais que uma vez. A música é calma, “ambiental”, melancólica, triste, “negra – se é que me entendem. No estado de espirito certo para ouvir «Same» dou-lhe “8”.[8/10] Eduardo Ramalhadeiro

PHOBOS CORP.«Felicity»(edição de autor)Saído da mente de Spyros Papadakis, «Felicity» é um EP com quatro temas integrantes de uma história que Spyros tem vindo a desenvolver ao longo de três anos. «Felicity» pertence a um género – Metal Sin-fónico – que se não for bem feito arrisca-se a cair no ridículo pela falta de originalidade. Porém, o nível aqui presente é excelência! A vocalista é feminina, de seu nome Tara e não é lírica, as orquestrações são o melhor deste EP e da responsabilidade de Jon Ong. Apesar de ser somente o se-gundo lançamento deste Grego, a música e todo o conceito que o rodeia, é bastante maduro e refinado. Falta o pior: Só quatro temas!? Espera-se novo EP para finais de 2012.[8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

TOMORROW’S OUTLOOK«34613»(Battlegod Productions)Desilusão foi o sentimento que me assaltou às primeiras audições. Os vocalistas são de excelência: entre outros Graham Bonnet (Rainbow) e Michael Kiske (Helloween). Os primeiras três temas são muito bons, a rasgar, típico Power Metal. Depois o álbum perde-se em temas mais len-tos deixando-me um pouco desapontado – provavelmente, deve-se ao estado de espírito do momento mas estava à espera de ouvir temas um pouco mais rápidos ou então, um pouco mais Rainbow para encaixarem, por exemplo, no perfil de Graham Bonnet. No entanto, o álbum parece “crescer” à medida que ouço... De qualquer maneira, qualidade acima da média com uma produção fabulosa no que diz respeito às vozes.[7/10] Eduardo Ramalhadeiro

VARIOS«Oriental Metal»(Century Media)Colectânea de temas dedicados ao Metal Oriental, isto é, Heavy Metal com sonoridades e instrumentos típicos do médio oriente. Kobi Farhi, vocalista dos Orphaned Land, uma das bandas percursoras deste, cham-emos-lhe assim, sub-génro do Heavy Metal, é o responsável pela escolha dos temas. Não há que criticar as escolhas e limitar-me-ei aos temas que mais apreciei: Desde logo o tema de abertura, “Sapari” dos Orphaned Land, Pentagram com “Lions in a Cage” e por fim os brutais “Kaffir” e “Grand Gathas of Baal Sin”dos Nile e Melechesh, respectivamente. Um bom “Best Of” a ter em conta. [--/10] Eduardo Ramalhadeiro

Page 20: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012
Page 21: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012
Page 22: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

Após uma espera de cinco anos entre a demo «The Aurora Veil» eis que ouço um dos álbuns mais surpreendentes, originais e soberbos dos últimos anos. «The Portal of I» está para Os Ne Obliviscaris como «Black Water Park» para os Opeth. A VER-SUS Magazine entrevistou Tim Charles, violinista, vocalista e produtor.

Original, surpreendente… soberbo!

Page 23: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

tiveram problemas com o visto de longa duração de Benjamin Baret...O álbum levou todo este tempo por uma série de razões. Lançámos a demo «The Aurora Veil», em abril de 2007, com o plano de re-gravar essas músicas e vários outras no final desse ano para um lançamen-to do álbum em 2008. O plano original foi ameaçado quando nos separámos do nosso guitarrista original, em meados de 2007. Isto levou-nos a uma procura de 9 meses por um novo guitarrista que veio a ser o in-crível Benjamin Baret, o qual chegou à Austrália em meados de 2008. Nesta fase tínhamos mais do que material suficiente para o álbum. O plano ficou em dar uns poucos concertos e depois gravar o álbum de imediato. Estávamos a tentar que o plano resultasse com um determinado produtor mas era difícil arran-jar tempo para nos encaixar na sua agenda. Depois de alguns meses a tentar, decidimos abandonar este plano e fomos à procura de estúdios e produtores diferentes. Quando chegou a decisão de que íamos para os estudios Pony Music, com Troy McCosker e a mistura ia ser feita por Jens Bogren, na Suécia, tivemos que esperar até meados de 2009 para ver se o subsídio a que nos candidatámos seria aceite pelo

governo, caso contrário, não nos poderíamos dar ao luxo de pagar a esta equipa para gravar o álbum.Quando o subsídio foi aceite, reservamos o estúdio para o verão de 09/10 com planos para que o álbum fosse lançado no primeiro semestre de 2010. Tudo estava a correr conforme o planeado, inclusivé já tín-hamos gravado toda a bateria, baixo, guitarras rítmi-cas e a maior parte dos solos, quando me surgiu uma emergência familiar e tivemos de cancelar o resto dos dias – faltavam apenas 2-3 semanas para que o álbum ficasse completamente gravado. Como o estúdio já es-tava ocupado nos meses seguintes, não conseguimos terminá-lo nesse tempo. Depois quando temos prob-lemas familiares muito graves, tais como, membros da família a morrer e alguns menores como Xenoyr e eu com gripe, o que impediu de gravarmos as vozes durante várias sessões. Quando finalmente nos está-vamos a aproximar do fim das gravações, o visto do Benji foi negado e, por conseguinte, ficou retido em França onde permaneceu durante 15 meses. Este foi o tempo que demorou o nosso recurso. Durante este tempo, continuamos a conclusão do disco, finaliza-mos as vozes, violinos e avançamos para a mistura/masterização, mas sem grande pressa, visto que não queríamos lançar o álbum sem a saber se podería-mos contar com o Benji. Sentíamos que seria muito difícil arranjar um contrato discográfico com a banda

Devo começar por dizer que este é, provavelmente, o melhor álbum de estreia que ouvi em anos - verdadeiramente original - Simplesmente sur-preendente! (E não estou a exagerar). Podes dizer- nos como está a ser recebido «The Portal of I»?Tim Charles: Primeiro de tudo, muito obrigado pelas amáveis palavras. Significa muito ouvir isso. A resposta foi realmente muito incrível. Temos tra-balhado muito nos últimos anos só para terminar-mos este álbum e mostrá-lo ao mundo. Tem sido muito gratificante ouvir todos os comentários pos-itivos que tivemos até agora. Faz-nos sentir que a nossa constante perseverança valeu a pena.

Aposto que já vos fizeram esta pergunta centenas de vezes: O nome ‘Ne Obliviscaris’ e o título ‘The Portal of I’ têm algum significado especial?O nome da banda ‘Ne Obliviscaris’ é um termo em latim que significa ‘Não esqueças’. Quanto ao título do álbum, ‘The Portal of I’, ele pode ser interpretado de maneiras diferentes, mas para mim simboliza a viagem pessoal que a música contida no álbum nos leva. Música é vida mas é também uma escapatória, um portal para um outro estado mental que cada in-

divíduo, ao ouvir a música, interpretará de maneira diferente.

Ouvi «The Aurora Veil» e... ninguém lança uma demo daquelas. Porque não lançaram como um EP? A qualidade é boa demais para uma demo!«The Aurora Veil» foi pensada para ser uma demo e, sinceramente, sempre achámos que essas músicas eram boas demais para não as incluir num álbum. Por isso decidimos usar essa gravação para que tivés-semos algo que apresentar ao público, na esperança de conseguir alguma exposição e reconhecimento, possivelmente, um contrato discográfico. O plano era sempre lançar o álbum cerca de um ano depois, em 2008. A resposta que a demo recebeu foi defini-tivamente inesperada, e o atraso de 5 anos antes do álbum também não estava planeado. No final, os te-mas da demo nunca foram dados como versões de-finitivas, independentemente das reações positivas das pessoas. Foi ótimo tê-los finalmente gravado no estilo em que estamos mais confortáveis para que as pessoas possam ouvi-los como eram sempre a nossa intenção.

Porquê esperar 5 anos entre a demo e este álbum? (Por favor, façam-nos um favor e não esperem mais 5 para lançar um novo álbum ...) Eu sei que vocês

“Definitivamente, sinto que a nossa maior força é a atitude de mente aberta no processo de composição”

Page 24: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

visão artística e musical. Ainda é cedo para dizer, mas até agora eles estão a fazer um grande trabalho na promoção e estamos muitos confiantes que assim vão continuar.

Qualquer um que ouça «The Portal of I» encontra uma vasta gama de influências. Como foi o proces-so de composição? Quer dizer, vocês são seis exce-lentes músicos, talentosos e acho que todos querem contribuir com ideias, certo? Vocês têm todos as mesmas influências?Temos todos diferentes influências mas, ao mesmo tempo, há alguns pontos em comum e é assim que fazemos a banda funcionar. Quando nós escrevemos é muito colaborativo. Às vezes, um membro traz alguns minutos de música que escreveu, em seguida, todos juntos, trabalhamos esses riffs até que fique do nosso agrado. Outras vezes, um membro tem uma grande parte do tema composto e somente as influências dele estão presentes. No entanto, no momento em que for filtrado por toda a banda, vão haver pormenores que serão acrescentados ou retirados e é aí que começa a soar como Ne Obliviscaris. Definitivamente, sinto que a nossa maior força é a atitude de mente aberta no processo de composição. Se alguém trouxer uma ideia, não importa o género ou estilo, se acharmos que a ideia é boa, então fazemos um esforço para inclui-la

incompleta e, também, incertos sobre qual o futuro da banda. Além disso, nesta fase em 2011, estávamos conscientes de que nosso baterista Dan iria, provavel-mente, passar a fazer outras coisas e por isso tivemos, ainda, essa questão para resolver.FINALMENTE, no final de 2011 recebemos a notifi-cação de que ganhamos o recurso no que diz respeito ao visto do Benji e este chegou à Austrália pouco an-tes do Natal, momento em que começamos a ensaiar com o nosso novo baterista Nelson Barnes, que tam-bém toca nos incríveis The Schoenberg Automaton. Com a banda completa, começámos a colocar tudo no lugar de modo a lançar o álbum e aqui estamos nós!

Quão difícil foi arranjar uma editora? Eu li que só em Maio é que assinaram pela Code666 (World Wide). Como está a correr a promoção do álbum e da banda? Do meu ponto de vista está a ser feito um bom trabalho, estou certo?Encontrar uma editora nunca é fácil. Estivemos sem-pre em contacto com a Code666 desde os tempos de «The Aurora Veil» e eles, durante algum tempo, sempre manifestaram interesse no nosso trabalho. Tivemos algumas editoras muito interessadas, mas no final a Code666 foi a que se mostrou mais “apaix-onada” pela nossa música e a que mais apoiou a nossa

Page 25: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

Uma das coisas que mais gosto é a perfeita inte-gração e combinação da voz limpa e violino. O álbum é brutal e vocês conseguem encaixar esse “suave” instrumento de uma forma perfeita. Como conseguiram isso?A integração do violino tem sido gradual. Esta banda começou em 2003 e hoje a minha maneira de tocar é diferente de quando começámos. Tentar encaixar o violino sobre intermináveis blast beats, pedal duplo e riffs de guitarra (shred) não é, certamente, tarefa fácil! No final, trata-se de ouvir o que o tema precisa; em seguida trabalhar e compor de forma a que o violino possa acompanhar a música. A voz limpa é também utilizada da mesma forma. Isto tudo resume-se a tra-balhar as partes e os instrumentos que a elevem a um nível superior. Nada mais, nada menos.

Então, e no que diz respeito a concertos? Têm al-guns planos para uma tourné? (apenas na Oceania ou os europeus vão ter a sorte de vos ver ao vivo?)Estamos no meio de nossa turnee Australiana. Até agora tem corrido muito bem. Quanto ao resto do mundo, estamos à espera de visitar tantos países

no tema. É este estilo de “vale tudo” na composição que faz o nosso estilo muito eclético.

Foste o produtor do álbum e acho que foi um tra-balho tremendo. Como é para um músico produzir um álbum da própria banda com 72 minutos, sete músicas, tamanha complexidade e variedade?Não foi fácil! Produzir este álbum foi definitivamente uma tarefa monumental, mas também é algo de que me orgulho muito. Todos os membros da banda são músicos fantásticos e é um prazer poder trabalhar com eles no estúdio, de modo a retirar o que de mel-hor têm e fazer este álbum tão bom quanto possível. No entanto, não o poderia ter feito sozinho e para além do enorme contributo que todos os membros da banda deram ao álbum, o nosso co-produtor e en-genheiro de estúdio Troy McCosker também desem-penhou um papel importante em fazer deste álbum algo de especial. Ele fez um trabalho de grande nível no aproveitamento daquilo que queríamos ao nível sonoro e também, mantendo o nosso espírito bem unido. Muito crédito vai para ele também.

“Produzir este álbum foi definitivamente uma tarefa monumental, mas também é algo de que me orgulho muito”

Page 26: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

forma, seja a comprar o álbum, t-shirts, etc. Isto irá permitir-nos ter dinheiro suficiente para gravarmos o segundo álbum!

Em Down Under como vês o cenário musical? Há muitas bandas do vosso género?Não tenho certeza se, na Austrália, haverá mais al-guém como nós, visto sermos uma banda bastante invulgar. Mas, claro, há muitas bandas fantásticas aqui na Austrália: A Million Dead Birds Laughing, The Schoenberg Automaton, Ruins, Be’lakor, Chaos Divine, Psycroptic, Eye of the Enemy, etc. Temos tam-bém, muitas de Rock como Karnivool, Dead Letter Circus, Sleepmakeswaves, Arterial Branch, Glass Em-pire e muitas outras.

Se for possível, esta questão é para o Dan Presland. Eu sei que ele ganhou a final do “World Fastest Drummer Competition”, em 2006, e que a sua ha-bilidade ainda está intacta. Que tipo de treino ou quantas horas pratica por dia? Será que ele usa al-guma técnica especial - tem uns pés incrivelmente rápidos!Dan é de facto um grande baterista e nós adoramos o que fez em «The Portal of I». No entanto, ele saiu da banda no final de 2011, depois de ter decidido que se queria concentrar noutras coisas fora da banda. Temos agora um novo e fantástico baterista, Nelson

quanto possível. Só precisamos de ficar um pouco conhecidos, visto sermos ainda uma banda muito nova para a maior parte das pessoas. Mas espero em breve tocarmos tantos sítios quanto nos for possível.

Descobri os Ne Obliviscaris por acaso - confesso - no youtube. E penso: Porra eles são mesmo fabu-losos. Estando eu numa posição privilegiada estou a fazer tudo para vos promover. Muitos artistas consideram isto uma forma de pirataria - no exem-plo acima: youtube. O que pensas da pirataria hoje em dia? Importas-te com isso ou pensas pelo lado positivo – Só quero que o nome dos Ne Obliviscaris se espalhe pelo mundo?A pirataria é um pouco como uma espada de dois gumes. Realisticamente, é por causa da partilha de ficheiros que conseguimos este reconhecimento em tão pouco espaço de tempo, somente com um álbum lançado. As pessoas podem mostrar coisas aos seus amigos instantaneamente. Isto permite que a “pala-vra” se espalhe mais rapidamente do que no passado. Isso é bom para as bandas que estão a tentar divulgar a sua música, como nós. O lado negativo é que é mui-to mais difícil de fazer algum dinheiro com a banda, o que torna mais difícil dedicar-nos o tempo todo à música, pois temos que ter outros empregos. No final, se as pessoas gostarem do que fazemos nós apenas pedimos que nos apoiem financeiramente de alguma

Page 27: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

Barnes, com quem estamos entusiasmados por tra-balhar. Uma última palavra para os nossos leitores - Po-des usá-la para promover o álbum, a banda, onde podemos comprar, «The Portal of I», tudo o que quiseres!Muito obrigado a todos que tiraram tempo para ouvir «The Portal of I»! Vai estar nas lojas de todo o mun-do, a partir de 11 de junho, através da Code666/Aural Music e disponível on-line através do iTunes, Band-camp, da Amazon, etc. Não se esqueçam de comprar e deixem um comentário na nossa página de Face-book! www.facebook.com/NeObliviscarisBand

Obrigado pelo teu tempo! Eu realmente quero ver os Ne Obliviscaris ao vivo, há alguma hipótese de vos ver por Portugal?Esperemos que sim! Gostaríamos muito de ir a Por-tugal, por isso espero que seja o mais breve possível. Obrigado à VERSUS por apoiar os Ne Obliviscaris! Ficamos muito agradecidos!

Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro

Page 28: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

Do fim e do princípio, das trevas e da luz

Page 29: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

Alguns anos depois, os Moonspell saem de uma noite, que pare-cia eterna, e surpreendem-nos com dois álbuns contrastrantes entre si, mas ligados ao seu predecessor: «Alpha Noir» e «Ome-ga White».Foi para levantarmos um pouco o véu que cobre estes mistérios que contactamos a banda portuguesa para uma entrevista. Fer-nando Ribeiro correspondeu ao nosso apelo e brindou-nos com meia hora bem medida de uma conversa inteligente sobre as úl-timas aventuras destes feiticeiros enfeitiçados.

CSA – Hoje é 25 de Abril. Nas-ceste no ano do 25 de Abril, uns meses depois. O que sentes, ou o que tens a dizer, em relação a essa data?Fernando Ribeiro: Onde é que eu estava? [risos]. Devo dizer que a minha família sempre celebrou o 25 de Abril de uma forma bastante entusiasta e que, para mim, é um feriado que, de alguma forma, tem um significado incrível, que passa um bocado ao lado das gerações como a minha, que não viveram na época da ditadura, e que nos permitiu, por exemplo, a existên-cia de uma banda como os Moon-spell. Nós, hoje em dia, fazemos imensas digressões e espetáculos em países que têm um défice democráti-co – como foi o caso do Líbano, Bielorrússia, etc. – e vejo nesses países um pouco, se calhar, o que era Portugal antes do 25 de Abril de 1974: não há discos à venda, os nossos discos, e doutras ban-das, são proibidos. É um cenário bastante negro, que só tem uma compensação: as pessoas são ex-tremamente entusiastas e, cada vez que uma banda vai a esses países, recebem-nos de uma ma-neira muito condigna. Lembro-me de encontrar um árabe saudita naquele Cruzeiro do Metal que fizemos há dois anos (este ano ire-mos fazer a segunda edição – na

e, normalmente, é para isso que, de alguma forma, existimos. E, quando ouvimos as pessoas diz-erem «o meu primeiro disco foi o “Memorial”» – acontece mais com o «Wolfheart» ou o «Irreligious» –, acho que, de alguma forma, esta-mos a cumprir o nosso papel, tal como outras bandas cumpriram para connosco. Há pouco tempo, tivemos numa tournée no leste e foi muito curioso, porque estáva-mos no aeroporto de Moscovo, o Mike estava comigo a beber uma cerveja e lembrou-me exatamente que fazíamos 20 anos. Normal-mente, não sou uma pessoa de efemérides, porque, para mim, os Moonspell são uma vivência diária. O facto de lançarmos um disco novo será, provavelmente, a melhor maneira de comemorar o vigésimo aniversário. A nossa car-reira é, provavelmente, diferente das outras bandas em Portugal e também da Europa. Acho que o facto de ser português é muito marcante para os Moonspell, não só a nível lírico, musical e ter-ritorial, mas também porque, de alguma forma, conseguimos nos intrometer, juntamente com out-ras bandas de países que são tidos como periféricos, como a Grécia e também a cena finlandesa, entre outros. Porque o Metal estava cen-trado em bandas do Reino Unido, dos Estados Unidos e da Ale-

altura era o 70000 Tons of Metal), que estava a viver o melhor tempo da vida dele, exatamente porque há uma ditadura económica, religiosa e política. Disse-me que, passado o cruzeiro, iria ter oito meses de jejum – de música, de arte, de es-petáculo. Penso que, em Portugal, damos pouco valor ao que já ob-tivemos, não nós, mas as gerações que lutaram por isso e, portanto, acho que é um feriado importante. Acho também que cada vez mais há menos liberdade, há um dé-fice de liberdade. E a Democracia não explica tudo. Talvez os por-tugueses tenham mau gosto para eleger os governantes. Mas, sem dúvida, continua a ser um feriado muito importante para as pessoas e não para os políticos – como se viu agora pela polémica por algu-mas figuras de Estado não irem à cerimónia do 25 de Abril. Tam-bém não fazem lá falta nenhuma, porque, sinceramente, definitiva-mente, é um feriado que pertence ao povo.

CSA – Passando agora à música. O meu primeiro álbum de Metal foi o «Memorial» e o primeiro tema que me agarrou foi o «Fin-isterra». Gostava de saber como vês o vosso percurso.É curioso sermos nós que a iniciá-mos (risos). É uma sensação sem-pre muito boa para uma banda

Page 30: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

manha. Nos anos 90, quando nos iniciámos, houve um movimento interessante que abrangeu mais países e a nossa editora, a Cen-tury Media, foi muito importante. Começámos com o «Under The Moonspell» e depois com o «Wolf-heart», sendo que o «Alpha Noir» e o «Omega White» são, simulta-neamente, o nosso nono e décimo álbuns. O que é interessante é que os Moonspell sempre trabalhar-am com instinto artístico, daí os nossos discos serem diferentes, porque são muito motivados pelo que nós sentimos no momento e pelo que queremos transmitir e es-crever nas nossas canções. E acho que é uma carreira sobretudo com um fator humano muito grande: houve glória, também houve hu-milhação, houve altos e baixos – exatamente desde o «Memorial», que foi um álbum um bocadinho “talismã” para nós, porque gerou

um interesse redobrado pelo que os Moonspell faziam. E beneficiá-mos muito disso, quer nesse disco, quer no «Night Eternal» que lhe sucedeu, e agora com o «Alpha Noir» e o «Omega White». Ape-sar de percalços que poderemos ter tido, apesar de podermos ter feito isto ou aquilo melhor, acho que é uma carreira da qual nos podemos, sem dúvida, orgulhar, porque, para já, é uma situação in-esperada numa banda portuguesa e porque tem uma continuidade muito forte: os Moonspell nunca acabaram, nunca se reformaram como banda e temos um fluxo ininterrupto de concertos e de ál-buns. Estamos a lutar desde 1995, tendo sido formada a banda em 1992 (o que faz os tais 20 anos), e penso que é uma carreira de que pessoalmente me orgulho e espero que o fãs também.

«Alpha Noir» seja a nossa reação a isso. Apesar do “envelope” ser negro, penso que o «Alpha Noir» tem dentro de si uma carta-branca de motivação. É um álbum que tenta passar um certo entusiasmo às pessoas, tentamos passar um feeling de que as coisas não estão consumadas e que não vamos ficar por aqui. O instinto primordial do ser humano é a sobrevivência e penso que nos vamos juntar e que a minha geração (lá está o pós 25 de Abril), provavelmente, irá che-gar a sítios, a Poder, a locais de decisão e, talvez, tenho confiança que façamos um melhor trabalho, porque temos outro entendimento e vivemos outras experiências. E o «Alpha Noir» é, sem dúvida, o nosso testemunho do espírito deste tempo – que é um espírito que tem tudo para começar, mas de uma forma dura e violenta.

CSA – Então, se é um álbum de esperança, por que razão é que, nas canções, dás um ar de sentir tanta raiva?É um álbum de esperança, mas uma esperança transmitida através de uma certa zanga e uma certa rai-va. E o meu estilo vocal neste disco é dedicado exatamente a expressar dessa forma as nossas convicções. Como devem saber, vamos lançar um álbum duplo – «Alpha Noir» e «Omega White» – e sinto o «Alpha Noir» como um grito na cara das pessoas. Acho que é algo de tera-pêutico, não forçosamente nega-tivo, como se fossemos para uma montanha gritar e desabafar com a Natureza e com os elementos. Penso que este álbum é a minha maneira figurativa de subir a essa montanha. Quero que as pessoas ouçam o «Alpha Noir», que leiam as letras e ouçam as músicas. Pes-

CSA – Há alguma ligação entre o «Night Eternal» e o «Alpha Noir»? O próprio título indica o início de alguma coisa, negro, mas um início.Exatamente! Eu acho que o «Night Eternal» foi um álbum composto muito rapidamente. Estávamos, sem dúvida, ansiosos por compor um disco e, de alguma forma, está-vamos com muita procura e tam-bém com vontade de provar algu-ma coisa na cena Metal. E o «Night Eternal» foi um álbum que nos permitiu dar essa continuidade ao trabalho iniciado pelo “Memorial”. É um álbum muito apocalíptico, que fala sobre uma possível noite eterna, que seria mais ou menos o apocalipse da humanidade, mas uma continuidade da Natureza – portanto, tem um tom de final. E, sem dúvida, o «Alpha Noir» tem essa continuidade, não propria-mente musical (porque é um disco

diferente, menos denso, é mais simples, direto e tem outro tipo de emoções), mas, sem dúvida que, depois de uma noite eterna, só po-deria haver um novo começo. In-felizmente, esse começo vai ter de ser violento. Acho que o mundo está cada vez a funcionar pior, os países estão a funcionar pior, e as pessoas ressentem-se disso. Não falo só da crise económica, mas também da crise de valores, da per-da de autoestima, que, para mim, é um acontecimento bastante grave. O facto do nosso país – na minha opinião, tão grandioso e com uma história tão importante, uma geo-grafia tão boa e com uma cultura tão relevante – todos os dias ser motivo de notícias pelas piores razões (porque não pagamos isto e aquilo, coisas que nos ultrapas-sam e que foram “cozinhadas” nas nossas costas) faz com que o

“Enfim, os álbuns de Moonspell geram sempre amores e ódios – acho que é mau sinal que uma banda agrade a toda a gente.”

Page 31: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

soalmente, não conheço melhor maneira nos Moonspell sem ser com este tipo de voz. Já a men-sagem do «Omega White», que é o disco bónus da edição especial, é diferente: um disco com uma voz interior. Mas, definitivamente, o «Alpha Noir» é um disco para ser gritado! Foi a forma apropriada de fazer a minha parte nas com-posições que o Pedro, o Ricardo, o Mike e o Aires escreveram para este disco de Moonspell.

VH – É por isso que há um toque mais “rock‘n’rol” no «Alpha Noir»?Acho que sim! Nós quisemos fazer uma música que soasse mais viva e mais vibrante. O próprio Heavy Metal é um descendente que, provavelmente, começou com os Black Sabbath. Era uma banda de Rock, que fundou o Heavy Metal – apesar de já haver os Led Zep-

pelin, os Pink Floyd ou mesmo os Queen, entre outros. O facto de o álbum soar mais vibrante tem ex-atamente a ver com alguma faceta rock‘n’rol que, provavelmente, as pessoas não esperariam, mas que já existia nos Moonspell em can-ções como “Raven Claws”, “Fire-walking”, “Devilred” e mesmo a própria “Opium”, que têm um feeling Rock. Também há uma in-fluência marcante do Speed e do Thrash Metal, que eram estilos que o Ricardo ouvia, e nós também, no liceu. E, por isso, a orientação das guitarras neste disco foi para ter esse pulso e essa vibração e, de al-guma forma, para não serem tão densas como no «Night Eternal», com os acordes mais “fechados”, e para terem um certo “drive”, um certo “groove” ou ritmo, que apontasse para cima. E penso que o rock’n’roll e o Thrash Metal são

disco, deparámo-nos com três canções bastante distintas: “Ly-canthrope”, que acabou por ser o primeiro vídeo do «Alpha Noir», “Love is Blasphemy”, também do «Alpha Noir», e uma canção in-titulada «White Omega», que aca-bou por ser a primeira do “Omega White”. Reparámos que tínhamos duas fontes diversas e pensámos que poderíamos tentar, de algu-ma forma, o que fizemos noutros discos – como a “Luna”, no «Me-morial», ou a “Scorpion Flower”, no «Night Eternal», – mas não quisemos fazer isso. Plantando es-tas sementes em terras diferentes, quisemos ver como elas brotavam. Acho que foi para nós muito mel-hor termos este princípio criativo, enquanto ainda estávamos no período de composição. Tornou-se tão contagiante saber o que era o Alpha e o que era Omega, que decidimos fazer deste princípio

criativo a base de todo o álbum. Penso que demos um “passo atrás” para ganharmos mais perspetiva. Enfim, os álbuns de Moonspell geram sempre amores e ódios – acho que é mau sinal que uma banda agrade a toda a gente. Sem dúvida que foi isto que nos ori-entou criativamente. Não foi um movimento calculado, nem um plano que tivéssemos há muito tempo. Mas foi exatamente assim que a música nos apareceu e foi as-sim que decidimos trabalhar nela até à sua conclusão.

CSA – Pegando no artwork do Spiros, não haverá nele alguma referência ao «Omega White», já que há duas figuras, uma com um cisne branco e outra com um cisne negro?Quando trabalhamos com os nos-sos designers – desta vez, trabalhá-

influências que voltaram a existir nos Moonspell e são muito mais predominantes neste disco. De-pois as pessoas não se podem es-quecer que os músicos também ouvem música e nós temos ouvido muita coisa que tem a ver com rock’n’roll, como os álbuns de Sa-tyricon, banda que faz uma fusão de Black Metal com Rock que me influencia bastante, e álbuns de Black Metal antigo, como os Dark-throne, apesar do som mais sujo e tenebroso. Também tenho por ali Celtic Frost e mesmo puro Rock como os Turbonegro, por exemp-lo. Além disso, o Mike, o nosso ba-terista, nasceu nos Estados Unidos e, ao contrário de nós, viveu muito o fenómeno do Rock – os Kiss, os Mötley Crüe, os Skidrow e até os Cinderella, entre tantas outras (o Mike e o Ricardo estão sempre a ouvir Rock) – e a maneira dele to-car também é bastante influente

neste disco e, sem dúvida, tem a assinatura dos bateristas de Rock, com um estilo mais simples e di-reto, que mexa um bocado com a vibração que passa para as pessoas quando elas ouvem um disco dos Moonspell.

CSA – E quem fez o quê neste álbum, no «Alpha Noir»? Houve alterações de papéis no «Omega White»?Na banda, quisemos manter o princípio criativo que nos apare-ceu. Não decidimos do dia para a noite fazer um álbum duplo. O que decidimos fazer foi mais can-ções e levar mais tempo a escrevê-las, porque sentíamos que era esse retorno que tínhamos que dar a todas as coisas boas que nos ac-onteceram com o «Memorial» e o «Night Eternal». Quando começá-mos a fazer as maquetes deste

“Acho que o facto de ser português é muito mar-cante para os Moonspell, […] a nível lírico, musi-cal e territorial […]”

Page 32: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

mos novamente com o Seth Spiros Antoniou –, não somos aquele tipo de pessoas de estar sempre em cima deles. Nós tínhamos um conceito e estive com ele muito tempo ao telefone para lhe passar esse conceito e também dar-lhe al-gum enquadramento estético. Mas não estivemos sempre a pressioná-lo, porque, quando convidamos as pessoas, não estamos a convidar um técnico, mas antes alguém que tem a sua própria criatividade e por ela nós chegámos até ele. A capa é aberta a diferentes interpre-tações. Claro, o Seth é um artista completamente simbolista e, tal como eu, é um homem que gosta de aplicar símbolos. Não perden-do o efeito geral da capa, ela tem imensa leitura, porque tem imen-sos elementos que saltam à vista, como os cisnes. Há pessoas que até nos perguntaram se há alguma referência ao Lago dos Cisnes. Pelo menos que nós pensássemos, não. Mas talvez o Seth tenha pen-sado nisso. Para mim, a capa são duas mulheres, para o Seth são dois seres mais andróginos. E é uma capa perfeita, porque há uma espécie de movimento, mas não sabemos se as figuras vão abraçar-se ou atacar-se. Acho que o «Alpha Noir» é um pouco isto. O «Omega White» tem mais a ver com o im-aginário de figuras femininas, tal

que íamos ver em Cascais, como os W.A.S.P., os Manowar e os Iron Maiden, com a parede de amplifi-cadores e pirotecnia. Vai ser, por isso, um espetáculo pensado nesse sentido, com cores mais vivas. E, para além de tocarmos o álbum na íntegra, vamos ao reportório antigo buscar as canções que se integram no reportório do «Alpha Noir» – as canções mais agressivas, como a “Finisterra” ou a “Alma Mater. E, depois de um curtíssimo intervalo (porque o Heavy Metal não se coaduna com grandes para-gens, senão as pessoas perdem o fio à meada), passamos ao palco do «Omega White», mais branco, dedicado ao conceito desse álbum. Também vamos repetir a mesma lógica, ou seja, combiná-lo com reportório antigo que tenha a ver com ele – canções mais melódicas, mais rock gótico e atmosféricas, como a “Opium” ou a “Scorpion Flower”. Vai ter outro tipo de efei-tos e de visualidade. Esperamos que os fãs correspondam e gos-tem, que seja uma grande noite para todos. Honestamente, trabal-hamos sempre para garantir um bom espetáculo e uma noite em que as pessoas possam dar o seu tempo e o seu dinheiro como bem empregues. Hoje em dia, o público é mais exigente com as bandas, o que traz consequências positivas

como no «Night Eternal». É cu-riosa a figura que o Seth desenhou [na capa deste último álbum], pois parece uma que existe no cemité-rio do Alto de São João, que está a fazer um silêncio antes de entrar na paz eterna. Gosto de trabalhar com o Seth, porque é bastante artístico. Nós não gostamos de debitar informação. Deixamos as pessoas trabalhar. Foi o mesmo o que aconteceu no vídeo clip de “Lycanthrope” e de “White Skies”. As pessoas trabalham melhor, respeitando a estética da banda, quando podem colocar no seu trabalho algo pessoal. E, sem dúv-ida, que procuramos isso para os Moonspell.

CSA – Que receção esperam ter quando fizerem o concerto no Campo Pequeno a 12 de Maio?Nós estamos a trabalhar muito nesse concerto, porque provav-elmente deverá ser o maior que faremos em Portugal em nome próprio. E, por isso, estamos a ten-tar que seja algo impressionante. A finalidade desse concerto é ten-tar, com alguma fidelidade, repre-sentar os conceitos que presidem aos álbuns. O «Alpha Noir» será o espetáculo mais elétrico e mais metaleiro. Vamos ter um palco maior, que provavelmente lem-brará aqueles grandes concertos

Page 33: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

e outras nem por isso, mas penso que, sem dúvida, as pessoas que forem ao Campo Pequeno não se irão arrepender.

VH – Tens alguns temas cantados em português. Fez sentido que assim fosse? O que te motivou a escrevê-los e a cantá-los na lín-gua portuguesa?Sabes que não estive com muitas reflexões para o «Alpha Noir», já que este para mim é um álbum de instinto. Quando ouvi o instru-mental da música “Em Nome do Medo”, disse logo que iria fazer para ela uma letra em português. O Pedro ficou entusiasmado, porque andava a sugerir isso há algum tempo, principalmente depois de termos feito aquele projeto intitu-lado “Orfeu Rebelde” e o EP «Cada Som Como Um Grito», com a po-esia do Miguel Torga, em que con-támos com a colaboração do Rui Sidónio, dos Bizarra Locomotiva. Gostámos muito de trabalhar a língua portuguesa dessa maneira, porque foi, sem dúvida, uma coisa diferente e especial. A decisão de usar o português nas canções de Moonspell tem que ser sempre tomada de uma forma especial e num momento especial. Penso que a música “Em Nome do Medo” é um dos momentos altos do disco, e tentei escrever uma letra in-

caremos novamente no Cruzeiro do Metal, que foi uma experiência fantástica para nós. Iremos tocar com bandas de que gosto muito, como os Possessed ou os Artil-lery. Embarcamos em Miami, num cruzeiro com 40 bandas e 2000 fãs, vamos até às Bahamas e voltamos. É claro que estamos a marcar coi-sas em Portugal e anunciaremos datas quando estiver tudo preto no branco – que é assim que gosta-mos de trabalhar –, pois, em Por-tugal, de vez em quando, corremos o risco de termos que desmentir algum anúncio feito. É uma situ-ação sempre chata, para os promo-tores, para os fãs e mesmo para a banda. Mas, estaremos em Fafe, no dia 22 de Junho, e pensamos fazer espetáculos na área do Porto e em Aveiro. Mas contamos ir a mais sí-tios, pois penso que o nosso disco irá ser bem recebido e todos os indicativos nos dizem que temos uma base sólida de fãs que estão habituados a pagar para ir aos nossos concertos. Portanto, este-jam atentos ao nosso sítio oficial e ao facebook, pois contamos tocar, pelo menos, no Porto, várias vezes e noutras cidades que nos queiram receber.

Entrevista: CSA e Victor Hugo

teligível para que não fosse uma letra críptica. É engraçado, porque as pessoas lá de fora que a têm ouvido, não sabendo muito bem o que estou a dizer, conseguem entender algumas das palavras, como “sangue”, principalmente no refrão. Já na “Axis Mundi”, a música que abre o álbum, há três línguas – o português, o inglês e o latim –, porque calhou ser assim. Não significa que domine estas línguas todas. Esforço-me para dominar o português e o inglês, já o latim vem de coisas que recolho das minhas leituras.

VH – E os Moonspell vão chegar ao Hard Club?Penso que sim. Sempre tivemos uma grande relação no Hard Club, e mal seria se não nos dessem o espaço para apresentar este CD. Sabes que a nossa agenda exte-rior movimenta-se mais depressa. Já temos imensas coisas marca-das até Dezembro. Começamos em Itália, depois temos o Campo Pequeno, digressões por toda a Europa. Em Setembro, iremos a visitar Chipre, a Grécia, a Bulgária e a Turquia. Depois iremos fazer uma tour com os Pain, os Swallow The Sun e os Lake Of Tears. Por-tanto, mais uma vez, vamos estar no meio dos escandinavos [risos]. E, finalmente, em Dezembro, to-

Page 34: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

Gianluca Divirgilio é a energia que alimenta os Arctic Plateau. «The Enemy Inside» continua onde o anterior termina. As letras (e porque não a música) contam-nos partes importantes da sua vida. Gianluca respondeu à VERSUS Magazine de uma forma irrepreensível. Entrevista absolutamente pessoal e intransmis-sível.

Pessoal e intransmissível

Page 35: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

Em primeiro lugar, parabéns por «The Enemy Inside» Era uma vez ... No teu primeiro álbum, «On a Sad Sunny Day», começaste uma história sobre a tua infância e memórias que tiveram, de alguma forma, con-tinuação neste lançamento mais recente. (...) Está nos teus planos adicionar mais um capítulo no teu próximo álbum?Primeiro de tudo obrigado pe-los parabéns. O primeiro álbum é musicalmente muito diferente e até mesmo o conceito é difer-ente. As memórias de infância em «The Enemy Inside» são expostas através dos sonhos, de facto, é ba-sicamente um álbum de memóri-as. «On A Sad Sunny Day» retrata o passado de uma maneira que eu posso definir quase angelical, é um álbum de fotos. «The Enemy In-side» é um álbum mais adulto, o

homem abandonou a sua inocên-cia e agora está numa guerra con-sigo mesmo. O abandono da in-ocência e por conseguinte da (boa) educação enganou toda a gente e isto é inevitável no ser humano. Corrupção, violência, abuso, são os males de nosso tempo e isso é um dano que pertence ao mun-do adulto. Quando uma criança aprende a chorar para obter al-guma coisa, já perdeu sua inocên-cia. Digo-te uma coisa, eu escrevi todas as letras na ilha de Elba, em Itália e enquanto passeava à beira mar, um mar lindo por sinal vi um vendedor muito velho, ar de cansado e estava a gritar frases para vender comida. Ele andava com uma bengala e uma frase, uma frase em particular, cham-ou-me à atenção. Então, decidi comprar-lhe qualquer coisa mas em troca pedi-lhe permissão para gravar essa frase no meu portátil. O trecho em “Bambini Piangete”

comigo.

O ambiente criado em torno dos temas está profundamente rela-cionado com a tua vida nesse período de tempo?Eu sublimei o meu passado, gan-hei nele e provavelmente não sofri mais do que qualquer outra pessoa que tenha sofrido à sua maneira. Honestamente, não quero perder mais tempo pensando muito so-bre o passado e preciso de tran-screver os meus sentimentos para a música. Às vezes acontece que quero criar um certo ambiente; em seguida uso as ferramentas que tenho disponíveis, mas os arranjos musicais dramáticos são por vezes reações inconscientes. Para as let-ras é diferente, se quiser posso usar as letras e as palavras para trans-mitir um significado explícito; este é o poder de uma boa letra e é ap-

enas uma das muitas diferenças no que diz respeito à música.

Qual das partes escreves primei-ro? Fazes as letras e, em seguida, ajustas a música e a tua interpre-tação para uma combinação per-feita, fazes a música e as letras vêm depois? Sinto que as músicas e as letras estão fortemente liga-das... como uma ligação embri-onária! Estou certo?Não tenho um método fixo mas em 60% de «The Enemy Inside» a música nasceu antes das palavras.

Musicalmente falando, eu gos-to de “Enemy Inside” por uma razão especial: O álbum é do tipo melancólico e a voz é quente, ma-cia ... assim como “seda” mas no último minuto e meio... Buuuuu-um...!!! Porquê tanta agressivi-dade? Este tema tem algum sig-nificado especial?Ooohhh, o buuuuuuuum que po-

diz: “(...) vamos lá crianças, se vocês chorarem, os pais vão com-prar alguma coisa, vocês vão ver (...)”. Esta frase, aparentemente tão inocente, resume, ironicamente, o conceito de “agradar”.

Esta questão é um pouco pes-soal: Como foi a tua infância? De que modo isso influenciou a tua música? Quer dizer, se a ou-virmos – melancólica - ficamos com a ideia de que foi triste ... É verdade?O meu pai foi funcionário num posto de gasolina (trabalho esse que também fiz durante dez anos da minha vida, um emprego que eu odiava profundamente). A minha mãe adoeceu muito cedo e tenho 3 irmãos mais velhos, dos quais dois são filhos de outra mãe. Vivi numa família profundamente dividida e experimentei muitas

situações dramáticas, algumas das quais, sem a menor sombra de dúvida, me marcaram de uma for-ma inquestionável. Houve muitas coisas que não deveria ter visto e muitas outras que não deveria ter conhecido, mas agora é tarde de-mais, “Big Fake Brother” é tarde demais [NR: “Big Fake Brother” é o título do nono tema de «The Enemy Inside»]. O meu irmão de sangue ensinou-me a tocar baixo e deu-me as primeiras lições de ba-teria. Tinha na altura 3 ou 4 anos; agora ele não pode mais tocar, mas estou-lhe grato por me ter ini-ciado na música. Dos outros dois irmãos não quero falar, porque na minha vida eles foram como fan-tasmas. Então, triste ou alegre não tem importância, transcrevi toda a minha vida na música e continu-arei sempre a fazê-lo. Até alguém ouvir, vou dizer a todos, de uma forma subliminar (ou artística, se assim preferires), o que aconteceu

As memórias de infância em «The Enemy Inside» são expostas através dos sonhos, (...).

Page 36: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

Houve muitas coisas que não deveria ter visto e muitas outras que não deveria ter conhecido (...).

Page 37: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

dem ouvir no tema é um novo território para os Arctic Plateau! Uma área que queria deixar em aberto. Foi, também, um espaço divertido de criar como experiên-cia e aumentar a compressão e impulsionar a dinâmica do tema. Muitos fazem isso, eu não inventei nada. Se tirares os (belos) gritos de Carmelo e deres uma compressão diferente, podes, em poucos minu-tos, fazer um restyling no balanço dos canais (principalmente em relação aos canais de guitarra) e toda a música torna-se post-rock! Tudo depende sempre do resulta-do que eu quero, é claro.

Em 2011 lançaste um Split-EP com os Les Discrets. Planeias outro tipo de colaboração com eles - além de Fursy Teyssier que foi o responsável pela direção artística, desenhos e logo? Al-gum projeto musical, talvez?O Fursy tem um estilo único e emocionante de trabalhar, e eu não posso excluir que no futuro possamos trabalhar juntos nova-mente, mas agora estamos muito ocupados com os nossos respec-tivos projetos. Sendo assim, não te posso dizer com certeza, mas seria muito bom.

Mais uma vez, vejo os Arctic Pla-teau como um projeto muito pes-soal, não só nas letras, mas, tam-bém, a nível musical. Qual é a tua relação com os outros membros da banda? Estou a falar em ter-mos de tocarem as tuas músicas que são pessoais. Eles podem dar ideias para um certo riff ou pura e simplesmente tocam aquilo que tu queres que toquem?Os Arctic Plateau nasceram como um projeto a solo - um projeto de estúdio a solo. Isto não é uma ban-da, pelo que para mim é sempre muito difícil interagir com outros músicos, especialmente porque toda a gente quer dar a sua opin-ião mas eu não posso mudar o significado do meu projeto. Tenho

tor de pautas musicais. Mas isto não é uma minha prioridade para mim, é claro. Caso contrário, eu seria agora um guitarrista clássico. Quando eu era criança tive au-las de guitarra clássica. Entretanto conheci a guitarra elétrica e tudo mudou; tu sabes e podes imagi-nar...Sou capaz de escrever um pouco da minha própria música numa pauta musical. Às vezes transcrevo algumas melodias, riffs básicos e isso ajuda-me a lembrar de algu-mas partes e arranjos musicais, mas o processo de escrita nasce sempre de uma forma diferente ; “Abuse” nasceu de repente na gui-tarra; “Music’s like...” nasceu com a voz e o baixo elétrico, “Melancholy is not only for soldiers” foi escrita usando um piano muito antigo.

Estás familiarizado com um tipo de guitarra chamada Guitarra Portuguesa? Aqui temos um tipo de música chamado “Fado”, que é tocado com este instrumento. Quando ouvi a introdução de “Enemy Inside” e “Loss And Love” imaginei as melodias toca-das com uma guitarra portugue-sa. Se não conheces, aconselho-te a ouvir; soaria de uma forma diferente e ainda mais fantástica!Vi alguma coisa no Youtube. Parece uma ferramenta fantástica e isso lembra-me um pouco outro instrumento, o mandolino, que faz parte do folclore italiano. O som do fado é muito interessante e quando for a Portugal de certeza que vou querer experimentar. Agradeço-te, desde já, a valiosa sugestão.

Obrigado pelo teu tempo, «The Enemy Inside» é um grande, grande álbum. Há alguma hipó-tese de te ver em Portugal?Falando a sério, espero mesmo to-car em Portugal. Muito obrigado!

Entrevista: Eduardo Ramalha-deiro

certeza que entendes. Há um velho ditado que diz: “Nunca mude uma equipe vencedora”. Os Arctic Pla-teau durante um concerto ao vivo tornam-se uma banda real e todos podem, pontualmente, acrescentar algumas ideias mas sempre respei-tando o tema e a ideia principal. É neste ponto onde geralmente aparecem os problemas: não po-des mudar uma “frase” musical inteira! Eu não sou um músico muito ingénuo, vejo e ouço tudo o que os outros tocam e enquanto estiverem a tocar comigo consigo entender se estão a tocar de forma honesta. Estou à procura de um novo baixista, mas o baterista resi-dente é o Massimiliano. O Massi-miliano gosta dos Arctic Plateau e não é um mercenário. Conheci pessoas que queriam muito de mim, mas eu não sou rico e não posso pagar muito dinheiro por um músico ao vivo. Proponho-te tocares num projecto muito inter-essante chamado Arctic Plateau e tu pedes-me dinheiro: estás fora mesmo antes que eu considere a ideia de te escolher, percebes? Eu não posso dar segundas oportuni-dades, a vida é dura e eu também sei algo sobre isso. Acima de tudo, não permito que alguém mude o que é o som básico deste projeto e eu aprecio este conceito, mesmo se fosse um fã de qualquer banda. Estes e outros aspectos são os ver-dadeiros problemas que me dão um monte de dificuldades para escolher uma verdadeira banda e fazer bons concertos. Estou, tam-bém, a trabalhar neste aspecto.

Muitos músicos não têm for-mação musical - No entanto, eles podem ser grandes músicos. Tens algum tipo de formação (edu-cação formal) e compões sempre da mesma forma, usando os mes-mos métodos? Quero dizer, es-creves tudo numa pauta musical, nota por nota?Eu leio música muito devagar e mal, admito; não sou um bom lei-

Page 38: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012
Page 39: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

VAGOS OPEN AIR 2012 Lagoa de Calvão, 3 & 4 de Agosto

Depois de três edições marcadas pelos nomes mais sonantes da música extrema, o Vagos Open Air está a cerca de um mês de voltar com mais uma magnífica selecção de bandas convidadas. Entre estreias absolutas, regressos há muito desejados e uma amostra do melhor que o under-ground nacional tem para oferecer, esta é uma edição feita à medida de preferências muito variadas.Vejamos então, por ordem de entrada em cena:

DISAFFECTEDA par dos saudosos Thormenthor, estes são um dos mais impor-tantes pioneiros lusitanos na abordagem complexa e progressiva à música pesada. Gravaram apenas um álbum durante a primeira fase da sua carreira, e a verdade é que nunca mais ninguém se esqueceu deles. Dezassete anos depois voltam com «Rebirth» e as honras de abertura do VoA2012.

NORTHLANDOriginários de Barcelona, os Northland estrearam-se em 2010 com um álbum homónimo que os levou a partilhar palcos com bandas tão famosas como os Immortal, Primordial, Ensiferum e Týr. En-quanto ultimam o segundo registo, que deve sair lá mais para o final do ano, vão dar um salto a Vagos para mostrar o seu estilo híbrido de folk e thrash/death metal melódico.

ELUVEITEOriginalmente idealizados apenas como uma experiência de estúdio, os Eluveite acabaram por se transformar numa fantástica banda de palco. Surpreenderam em 2006 com o seu estilo próprio de thrash/death melódico injectado de melodias celtas, e desde aí já gravaram cinco álbuns. Estão aí para fazer “dançar” as hostes do Vagos.

ENSLAVEDEmbora não reneguem as suas profundas raízes viking e black met-al, os noruegueses Enslaved já há muito que se distanciaram das fronteiras do género, adoptando uma postura mais progressiva e experimental que tem redundado em discos sempre refrescantes e únicos. Esse é um dos motivos que os torna umas das bandas mais ansiosamente aguardadas desta edição do VoA.

Page 40: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

AT THE GATESEste é o lendário agrupamento sueco que está na génese da chama-da New Wave of Swedish Death Metal que rapidamente degenerou no popular metalcore. O álbum «Slaughter of the Soul» caiu em 1995 como uma violenta pedrada no charco, tornando-se o disco mais incontornável do género. Entretanto a banda já se dissolveu por duas vezes, razão suficiente para se aproveitar esta passagem pelo nosso país pois pode ser a última.

MINDLOCKAbrem as hostilidades do segundo dia do festival e quem os con-hece já sabe que são um dos mais recentes fenómenos nacionais no que toca ao metal moderno e musculado injectado com a prover-bial dose de hardcore. Na bagagem trazem dois álbuns, o último dos quais «Enemy of Silence» de 2010, e uma energia verdadeira-mente explosiva em palco.

CHTHONICProvenientes dum ponto do globo quase sem nenhuma tradição rock – Taiwan –, os Chthonic são, apesar dos seus já dezassete anos de existência, ainda uma curiosidade. A utilização de ele-mentos da música tradicional do seu país de origem, fazem do seu death/black metal melódico uma das propostas mais peculiares da música pesada actual

TEXTURESFormados em 2001, ganharam rapidamente grande exposição mediática graças a um disco de estreia fora de série, e são hoje amplamente considerados como os líderes do novo movimento extremo holandês. O recente «Dualism» cativa pela forma como mistura melodia, brutalidade e técnica, e mostra bem como o colectivo está a atravessar um pico de forma.

CORONERSão a grande surpresa do VoA2012 e a concretização do sonho mais húmido de qualquer fã de thrash metal da velha guarda. Uma das bandas mais injustamente ignoradas da sua geração, o trio suíço esteve activo entre 1987 e 1996, registando cinco álbuns que se revelaram todos muito à frente do seu tempo. Felizmente voltaram à vida depois de um hiato de 16 anos e com certeza que irão fazer muita gente feliz na segunda noite do festival.

ARCTURUSE por falar em experimentalismo… Quem gosta de black metal experimental não quererá perder a estreia em território nacional daqueles que são os precursores de toda a subversão estética de um estilo de regras rígidas, sem a qual nunca teria acontecido nada como «La Masquerade Infernale» ou qualquer outro dos discos brilhantes que lhe sucederam. Os Arcturus são imperdíveis!

Page 41: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

OVERKILLFiéis indefectíveis ao velho thrash dos anos 80, os Overkill nunca comprometeram, ao longo dos seus 30 anos de actividade e 15 ál-buns gravados, para chegar a uma audiência mais vasta. Talvez seja por isso que a banda de Bobby “Blitz” Ellsworh e D.D. Verni – que, injustamente, não encabeça o cartaz do segundo dia do VoA2012 – continua a manter o estatuto de culto invejável que sempre gran-jeou entre os fãs do género. Quem já os viu ano vivo sabe que estes senhores são autênticos animais de palco.

ARCH ENEMYE a fechar esta dupla jornada, o Vagos Open Air 2012 apresenta a banda dos irmãos Michael e Christopher Amott, que é hoje um dos nomes mais respeitados e bem-sucedidos do death melódico. Com a carismática front-woman Angela Gossow, os Arch Enemy renderam totalmente plateias em todo o mundo e prometem in-cendiar a pequena Lagoa de Calvão com a sua mistura demolidora de melodia, técnica e brutalidade.

NASUME como se já não bastasse, a organização do Vagos anunciou re-centemente a adição dos lendários Nasum ao cartaz, como con-vidados. Fundados pelo malogrado Mieszko Talarczyk, estes suecos tornaram-se um dos projectos mais influentes no género grindcore, tendo sido até aplaudidos pelos precursores históricos do género. Depois da dissolução em 2005, a banda reuniu-se este ano só para alguns concertos, e portanto este convite é mais que oportuno.

Page 42: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012
Page 43: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012
Page 44: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

Reeditam, em 2012, um álbum lançado em 1998. O seu conceito de base é a existência de um círculo vicioso, feito de vida, de morte e de renascimento, expresso pelos dragões entrelaçados da capa.Seguindo a ideia de base desse seu trabalho, os Seth renasceram, para en-trarem num novo ciclo de vida. Na morte, não pen-sam. Para além dela, pode haver sempre um novo re-nascimento.

Um círculo vicioso

Page 45: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

Na tua opinião, a cena metal francesa é grande? Concordas com outras bandas do teu país que con-sideram que, em França, é difícil obter-se apoio, quando se faz música extrema?Heimoth: Atualmente, a cena metal francesa apre-senta uma dimensão apreciável. Temos muitas ban-das (não serão demais?), muito ativas e a tocar regu-larmente. Mas isso não significa forçosamente que tenhamos muitos fãs e que os que existem sejam mui-to entusiásticos. Continua a ser muito difícil reunir 250 fãs para assistir a um concerto. Mas penso que ainda é mais difícil conseguir público no estrangeiro, quando se vem de França. Não estou muito certo de que bandas como Gojira tenham conseguido real-mente transformar este panorama.

Independentemente das dimensões da cena, a França conta com algumas das melhores bandas de metal europeias da atualidade. Estou a pensar, por exemplo, em Blut Aus Nord, Alcest, Deathspell Omega e mesmo Gojira. Não te parece que o metal francês (e, nomeadamente, o black metal) é difer-ente do que se faz noutros países europeus?Se assim fosse, tal significaria que os franceses tinham uma cena musical singular ou uma identidade musi-cal específica e um som que os distinguiria de todas as outras nações. Na minha opinião, não existe nada que se pareça com uma identidade metaleira especifi-camente francesa, o que é verdade para países como, por exemplo, a Suécia. Apesar de termos evoluído muito, infelizmente, de algum modo, continuamos a ser meros seguidores.

Este álbum de Seth é absolutamente fantástico. Faz pensar numa espessa muralha de música melódica e fantasmagórica contra a qual se projeta uma voz obscura. Concordas com esta descrição?Cada ouvinte constrói de um álbum a sua própria imagem. Essa imagem é tua, é um feito teu, que eu vejo como uma forma de criatividade subjetiva in-consciente. Quando gravámos este álbum, há 15 anos atrás, está-vamos provavelmente mais condicionados pela ima-gem do mesmo que tínhamos construído nas nossas mentes. Nessa altura, a banda queria exprimir, através da música, um sentido de imortalidade, que encer-raria os ouvintes num círculo vicioso constituído por elementos como o nascimento, a vida, a morte e o re-nascimento. Por isso, nele aparecem títulos como “Le Cercle de la Renaissance”.

A música de Seth parece não ter princípio, nem fim (pelo menos, em «Les Blessures de l’Âme»). Pára, porque não pode prolongar-se para sempre. É um efeito propositado?

Page 46: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

Pois, como já referi, fizemos tudo para que a música parecesse não ter fim. Acho que apreendeste bem a essência do álbum.

Adoro os belos momentos quase acústicos. Fazem-me pensar no último álbum de Alcest [«Les Voy-ages de l’Âme»]. Por que razão uma banda de black metal se interessa tanto pela alma?Muito simplesmente, porque o black metal se sente muito mais espiritual do que outros géneros de músi-ca extrema. A razão pela qual, no black metal, encon-tras partes melódicas combinadas com partes muito agressivas é que este género procura captar a essên-cia da vida (vista simultaneamente como mito e re-alidade), enquanto outras formas de música extrema se focam apenas na realidade (daí a agressividade e a violência que as caracterizam).

Onde encontraram a inspiração para as impressio-nantes letras deste álbum?Todas foram escritas em 1998, pouco antes do lança-mento do álbum, muitas delas pelo nosso anterior vo-calista, o Arkames. Fazem pensar em poesia francesa, ao mesmo tempo épica e lírica. Penso que saíram da sua interioridade. Não sei que mais possa dizer sobre esse tópico.

Comparei esta versão do vosso álbum com a que

saiu em 1998 e vi que houve algumas alterações. Porquê?Remasterizámos a primeira versão do álbum, porque foi preciso fazê-lo… Aumentámos a partes de baixo e tentámos fazer um som mais estéreo, para melhorar a produção. Além disso, decidimos acrescentar duas faixas – “Les Sévices de la Peste” e “Corpus et Anima” –, que tinham sido excluídas do álbum, mas já faziam parte do split que lançámos com Cultus Sanguine, em 2000.

Uma alteração que me chamou muito a atenção prende-se com a capa, que melhorou muito (pelo menos, na minha opinião). Onde encontraram a bela capa que o álbum tem atualmente e o que sig-nifica?A capa da edição atual fazia parte do lay out do inte-rior da primeira versão do álbum. A imagem repre-senta um uróboro, ou seja, dois dragões que mordem a cauda um ao outro, formando um círculo. Todos os símbolos e artwork, em ambas as versões, são da autoria de Faucon Noir, o nosso antigo baixista.

Podemos ver este lançamento como um prelúdio para a publicação de mais um álbum de Seth?Vamos ver como correm as coisas para a banda! De momento, queremos fazer concertos ao vivo!

Portanto, vai haver concertos para promover este álbum.Sim. Já temos algumas atuações previstas, em França e, possivelmente, nos Países Baixos. A ideia não é ap-enas promover esta reedição de um álbum nosso, é também mostrar que a banda está de volta e no seu melhor!Obrigado pelas tuas perguntas e espero que nos en-contremos um dias destes num concerto!

Entrevista: CSA

“Apesar de termos evoluído muito [os músicos franceses], infelizmente, de algum modo, continu-amos a ser meros seguidores.”

Page 47: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

Temos tido aqui bandas que fizeram longos interreg-nos à procura de uma nova direção. Mas não é cer-tamente este o caso dos Impiety, cujo pujante líder – Shyaitan, responsável pelas vozes, baixo, guitarra e composição – acedeu a responder a esta entrevista.Sem perder o fôlego (ou antes, a força para escrever), dissertou longamente (mas sem nunca correr o risco de aborrecer o leitor) sobre as caraterísticas da cena metal asiática e o percurso e aspirações da sua banda.Conclusão: o homem é uma força da natureza, como ele próprio admite, ao referir-se à forma como foi construído o último álbum dos Impiety até ao mo-mento: «Ravage & Conquer».

Uma espiral de impiedade

Page 48: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

como os anos 87/88. Eu encon-trava facilmente álbuns de ban-das como Bathory, Hellhammer, Sodom, Destruction, Possessed, todos os de editoras como a Metal Blade, New Renaissance Records, Steamhammer, quase todos os da Peaceville, da Earache, da Under One Flag. Era fácil encontrar mui-tos títulos em vinil, quando eu era miúdo. E os preços também eram suportáveis. É claro que eu tinha de poupar toda a minha mesada, mas, de quinze em quinze dias, comprava um vinil novo ou um par de cassetes. Também me dedi-cava muito à troca de cassetes e escrevia abundantemente às ban-das. Mas tudo isto era fantástico,

porque as bandas correspondi-am-se todas umas com as outras e enviavam muitas demos, mui-tos EPs e até cassetes VHS. Além disso, Singapura estava no bom caminho para ter boas bandas de metal. A primeira banda do país chamava-se False Melissa e já ex-istia em 85/86. A primeira geração de metal do meu país incluía ban-das como Nuctemeron, Abhorer e Demisor.Impiety surgiu em 1990 e deu logo início às suas marteladas… impie-dosas. Foi difícil, muitas pessoas não gostaram nada da presença habitual dos pentagramas, cruzes invertidas, caveiras, mas, com o tempo, começaram a habituar-se,

Como é ser uma banda de metal num país oriental como Singapu-ra?Shyaitan: Em tempos idos, era muito duro. Como sabes, os va-lores e a cultura asiáticos estão fortemente enraizados em aspe-tos como a família e ser um met-aleiro implica ser visto como um marginal e um agitador. Haha. Os polícias costumavam aparecer nos concertos para “medir o grau de irregularidade”. De qualquer modo, acho que o panorama em Singapura não era muito mau, porque era possível encontrar bons álbuns de black/death/thrash/grind/speed/heavy metal, em tempos tão recuados

Page 49: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

metal. Por isso, sou muito inspira-do por “clássicos” como Bathory, Sarcofago, Hellhammer, Pos-sessed, Sodom, Slayer e Kreator dos primeiros tempos. Também gosto de King Diamond, Manowar dos primeiros tempos, etc., etc. Aprecio particularmente o metal muito rápido, ruidoso, pesado, sem contemplações.Mas também gostamos de bandas mais atuais como Blasphemy, Sur-render of Divinity, Infernal War, Zygoatsis, Archgoat, Inquisition, Black Witchery, Absu e mesmo de algumas muito recentes. Dou-me ao trabalho de ouvir os seus álbuns e de manifestar o meu apreço.

Como reagem à popularidade crescente do death metal cru, que vem substituir a versão melódica

tão popular nos anos 90 do sécu-lo passado?Bem observado. De facto, o death metal cru está a regressar em força. Francamente, deixa-me maravil-hado. Conheces certamente o slo-gan que diz: “Only Death Is Real”. Haha.Faz-me lembrar os bons velhos tempos. Ainda tenho a primeira demo dos Autopsy, além de ál-buns bem antigos de Dismember, Desultory, Carnage, Funebre, As-phyx, etc. Esse metal é intempo-ral. Portanto, não vejo nenhum inconveniente em que as gerações mais novas o apreciem e apren-dam mais sobre grandes bandas de death metal. De qualquer, não gosto de nada que seja melódico! Logo, sou sempre a favor de tudo o que seja pesado, brutal e cru, no death metal.

Fazem concertos no vosso país? Há algum festival do género em Singapura?

Sim, tocamos aqui em Singapura. No entanto, pisamos mais solo es-trangeiro do que pátrio. Em Sin-gapura, a cena é reduzida, mas muito boa. É sempre muito bom tocar no nosso país, mas depende da nossa disponibilidade.Também temos bons festivais, de há alguns anos para cá. Há duas semanas atrás, tivemos o Diablo Metal Fest, em que atuaram ban-das como Suffocation, Nile, Arch Enemy, entre outras.De um modo, geral, o Sudeste da Ásia tem uma boa cena, com mui-tas bandas boas de death/black/thrash/grind/heavy metal e bons festivais também. Por isso, muitas bandas estrangeiras de death metal começaram a incluir-nos nas suas digressões.Impiety atuou recentemente no

Hammersonic Festival, em Jacarta (Indonésia) e havia 30000 pessoas a ouvir-nos.Acho que devias visitar a Ásia, para conheceres a nossa riqueza cultural, histórica, arquitetónica, a nossa comida espantosa, as pes-soas acolhedoras. Terias muito para ver e para fazer. Eu tenho muito orgulho em ser de um país que faz parte do con-tinente asiático e sinto que ainda tenho muito para conquistar, aprender e experimentar, antes de morrer.

Quem querem conquistar e destruir em 2012?Impiety fez uma digressão asiática com cinco datas. Depois, fizemos uma tournée com os Absu nos EUA, incluindo oito concertos. Acabámos de participar no Ham-mersonic Festival, na Indonésia, onde fizemos dois concertos.Vamos agora fazer oito concertos na Austrália e na Nova Zelândia.

a abrir os ouvidos e o espírito e isso fê-los compreender o que era verdadeiramente o metal.

Podemos dizer que são uma “banda política”?Não me parece. É verdade que abordamos temas polémicos, históricos e a História não es-conde a verdade, se nos dermos ao trabalho de ler e de a estudar em profundidade. A política mundial não nos interessa. A hierarquia do mal espalha-se com facilidade no mundo atual, tal como acontecia no passado. É fácil dares-te conta disso, se tiveres o cuidado de ana-lisar a questão. Penso que te estavas a referir ao nosso álbum intitulado «Para-mount Evil» (2004), com a seg-unda Guerra Mundial como pano

de fundo e os alemães e japoneses no papel de vilões, o que era a pura realidade. Impiety concentra-se em produzir música extrema. Te-mas como esses podem ser de in-teresse para bandas como a nossa. Foi o que aconteceu nesse álbum. Centra-se no Homem visto como uma Besta. De qualquer modo, esse álbum foi muito criticado pe-las suas letras, em detrimento da música. Mas penso que muitos fãs gostaram realmente dele. Eu gos-tei!Temas como a guerra, o genocídio, o misticismo continuam a ser at-uais, mas eu agora sou mais cuida-doso na sua abordagem. Procuro transmitir a mensagem de uma forma mais madura.

Quem veem como vossos pares na cena metal?Para começar, devo dizer que é uma cena dura. Conheci o metal mesmo antes do aparecimento da primeira vaga mundial do death

“[…] o death metal cru está a regressar em força. Fran-camente, deixa-me maravilhado. […]De qualquer, não gosto de nada que seja melódico! […]”

Page 50: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

quarto álbum («Paramout Evil» de 2004) era muito do género technical blackened death metal. «Ravage & Conquer» aproxima-se muito dele.Impiety sempre primou por tocar música situada na fronteira entre o death e o black metal. Fomos abordando esse género de diversas formas, ao longo da nossa carreira, mas ultimamente estamos mais negros do que nunca. Em «Rav-age & Conquer», pareceu-me boa ideia injetar mais brutalidade na música. Foi um desafio e eu gosto de desafios. Não sou complacente com nada, muito menos quando se trata de música extrema. Quero levar as fronteiras tão longe quanto possível, sempre agarrado ao bom death metal.

Quem fez o quê em «Ravage &

Conquer», já que, mais uma vez, tinham mudado de formação? E quem fez o artwork?Escrevi este álbum numa semana, logo após ter voltado da digressão nos EUA, gastei mais uma sema-na a ensaiar esta primeira versão e duas semanas a gravar, mixar e masterizar. Foi uma loucura! Mas ainda bem que aconteceu assim. O Nizam (guitarrista) trabalhou as partes principais das faixas, de-pois de ter ouvido as canções que eu tinha escrito. O Dizazter (bat-erista) injetou-lhes alguma dose da sua devastação, durante os en-saios. O design do álbum é essencial-mente meu, mas o Nizam e o Di-zazter também colaboraram. Tra-balharam sem parar para que tudo ficasse na perfeição e eu supervi-sionei todo o processo.

Ainda estamos a preparar uma nova digressão nos EUA e na Eu-ropa. E estamos sempre abertos a novas propostas. Queremos é pisar palcos por todo o mundo e deixar tudo em ruínas, atacando sem pie-dade.

Estão no vosso oitavo longa du-ração e continuam a fazer um death metal arrasador e muito técnico. É muito diferente dos vossos álbuns anteriores? E onde está a diferença?Comparando «Ravage & Con-quer» com os três álbuns anteri-ores - «Formidonis Nex Cultus» (2007), «Terroreign (Apocalyptic Armageddon Command)» (2009) e «Worshippers of the Seventh Tyranny» (2011) – verificas que mudamos muito. Não é nada de absolutamente novo. O nosso

Page 51: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

O Dizazter passou a fazer parte de Impiety em 2011 e o Nizam entrou alguns dias antes de começarmos a gravar. Foi pura loucura, mas nada parece impossível comigo nos comandos. Haha.

Com estão os meios de comuni-cação e os fãs a reagir a «Ravage & Conquer»? Eu achei o álbum devastador, mas maravilhosa-mente belo.Até qui está tudo a correr melhor que bem. A Pulverised Records já vendeu 4000 cópias. Parece-me um bom ponto de partida para o álbum. Estou encantado por ver que temos legiões de fãs e os me-dia a apreciar devidamente este trabalho. Alguns fãs afastaram-se, porque se trata de um álbum muito surpreendente, devido ao

facto de eu ter decidido dar mais ênfase à linha death metal. Mas é um bom álbum, cheio de ener-gia. E, apesar da sua ferocidade e velocidade, continua a ter os pés bem assentes na terra e não é de-masiado técnico. É um álbum que eu próprio ouvirei muitas vezes.

Têm planos bem delineados para promover este álbum. Alguma vez tocaram em Portugal? Este ano vamos ter os Chthonic (de Taiwan) a tocar no Vagos Open Air, um festival muito recente, mas já com uma reputação bem afirmada. Também gostariam de participar nele?Participámos no Bar SWR Fest, em Barroselas, em 2010. Foi ar-rasador! Talvez o Vagos Open Air nos convide um dia. Impiety teria muito prazer em levar o seu infer-no musical a essas paragens!

Entrevista: CSA

“Participámos no Bar SWR Fest, em Barroselas, em 2010. Foi arrasador! Talvez o Vagos Open Air nos convide um dia. […]”

Page 52: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

São capazes de imagi-nar uma banda que faz um álbum sobre guerra, simultaneamente feroz, épico, dramático e pro-fundamente depressivo? Que combina uma at-mosfera de casa assom-brada (resultante de teclados extremamente melódicos, de passagens muito sinfónicas, de coros quase religiosos, de vozes reduzidas a sus-surros) com guitarras pesadas, uma bateria diabóli-ca e gritos ásperos? Que constrói um álbum de black metal, tendo como base uma narração que quase faz pensar num filme?Apresento-vos Carach Angren, uma banda holande-sa, que acaba de lançar o seu terceiro longa duração – significativamente intitulado «Where the Corpses Sink Forever».A VERSUS Magazine põe agora à disposição dos seus leitores o resultado de uma bela conversa com Sere-gor, vocalista e guitarrista do inspirado trio.

O Universo Paralelo

Page 53: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

formidável. São apenas três e conseguem produzir algo de ex-tremamente complexo. Qual é o segredo de uma aliança tão efi-caz? Essa pergunta sobre as raízes mu-sicais de Carach Angren é interes-sante. É muito difícil criar um som singular, já que há muitas outras bandas com essas mesmas car-aterísticas que surgiram antes de nós. Mas nós também já estamos nisto há alguns anos. Pela parte que me toca, comecei há 15 anos atrás a ouvir bandas como Sep-ultura, Deicide, Cannibal Corpse, Cradle of Filth (álbuns mais re-

centes), Emperor, Limbonic Art, etc. Sempre quis fazer parte desse mundo, que te permite exprimir as tuas ideias tenebrosas e fazer disso uma arte. Faz-me sentir-me seg-uro, forte! Quando ouvia a músi-ca dessas bandas, dizia para mim próprio: eu teria antes feito desta maneira ou daquela. Portanto, já tinha começado a criar as bases do meu estilo pessoal. Já nessa altura, em que eu era muito novo, tinha ideias definidas sobre como esta música tenebrosa deveria soar. E também me preocupava muito com os aspetos visuais: corpse-paint, artwork, etc.

Para começar, tenho que dizer que adorei o vosso álbum. É ab-solutamente fantástico e espero que seja tema de uma boa con-versa.Seregor: Desde já agradeço essa apreciação do nosso álbum. Tam-bém estou a contar com uma con-versa muito interessante.

Onde encontraram as bases para um black metal tão especial? É agressivo, sinfónico, desespera-do, depressivo, faz-me pensar na música de outras bandas, mas, na realidade, nunca ouvi nada assim. Vocês são uma equipa

“Neste momento, ando muito ocupado a pensar em efeitos visuais para os nossos concertos. Tenho uma verdadeira obsessão por máscaras.”

Page 54: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

contrar o ritmo e o tempo que vão guiar as nossas melodias e linhas vocais. A nossa banda vive de um certo senso do horror e é ele que nos inspira. Ouvimos um som ou vemos uma imagem e, imediata-mente, sabemos se esse estímulo é ou não inspirador para nós. Não temos nenhum segredo em espe-cial. Somos apenas movidos por um sentido de humor bizarro que nos faz rir perante estímulos que outras pessoas achariam depres-sivos, aterradores. Conseguimos manter-nos juntos este tempo todo e é essa união que gera o êx-ito de Carach Angren. E aqui es-tamos nós, contentes por vermos que têm perguntas a fazer-nos e que querem respostas para essas perguntas.

Podemos relacionar a vossa banda com outras como Vision

Bleak (tendo em conta a atmos-fera de literatura fantástica que se encontra nos vossos álbuns e alguns temas que tratam), Dim-mu Borgir (talvez na sua fase mais recente, pensando no lado sinfónico da vossa música) e Cra-dle of Filth (pela atmosfera de horror e pelos vocais)? Este vosso álbum até me fez lembrar um de uma banda de rock americana (My Chemical Romance), que se intitula «Welcome to the Black Parade». O que tens a dizer sobre estas considerações?Bem! Francamente, Cradle of Filth é, sem dúvida, uma influên-cia a ter em conta. Eu comecei por ser um grande fã de death metal. Acordava a ouvir Deicide, Canni-bal Corpse, Altar, Bolt Thrower e Autopsy Na altura, o black metal e o corpsepaint pareciam-me muito exagerados. Mais tarde, aí por vol-

O mesmo acontecia com o Ardek [o teclista da banda]. Conhecemo-nos, quando ele começou a tocar nas suas primeiras bandas. Mas agora ele é muito mais do que um teclista. Eu vejo-o como alguém que comanda uma máquina in-fernal equivalente a mil instru-mentos. A sua forma de compor continuou sempre a evoluir desde a nossa primeira demo e ele é re-sponsável pela maior parte da música de Carach Angren. De-pois de ele ter feito a sua parte, eu escrevo as linhas de guitarra. Namtar [baterista e percussioni-sta] também está connosco desde o início. É irmão do Ardek e mais novo do que ele. Logo, o Ardek é que o levou a trilhar os caminhos da sabedoria do black metal e ele aderiu imediatamente a esta esté-tica. Por isso, somos agora tão uni-dos que conseguimos sempre en-

“Não temos nenhum segredo em especial. Somos ape-nas movidos por um sentido de humor bizarro que nos faz rir perante estímulos […] aterradores.”

Page 55: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

apenas uma questão de gritar e parecer perverso. Era uma espécie de conversão em personagem de um filme de horror, que me in-spirava muito. Era muito mais do que uma forma de expressão. Se fizeres a coisa certa, nada te pode deter. Nessa altura, até me pareceu que eles deviam apostar mais no corpsepaint. Mas reconheço que o visual deles estava adequado ao conceito de base da banda. Seja como for, naquele dia, eu e o Val-ak passámo-nos para o campo do black metal melódico. Até formá-mos logo uma banda, chamada In-ger Indolia, que ainda durou uns anos. Dimmu Borgir é também uma inspiração para nós, sobretudo o álbum «Enthroned Darkness Tri-umphant». E há outras bandas que nos inspiraram, como, por exemplo, Mörk Grying, Abyssos,

Ragnarok e Dismember. O Valak e eu seguimos caminhos separados durante um tempo. Ele descobriu a sua paixão pela cena thrash sue-ca e continua ligado a ela. Mas é fantástico tê-lo de volta. Ele é um guitarrista maravilhoso, muito perfecionista, e tem uma presença tenebrosa em palco que é única. Mais tarde, começámos ambos a interessar-nos muito por filmes de horror e bandas como Mayhem e Dark Funeral. Quando Carach Angren começou, comparavam-nos muito aos Dim-mu Borgir. Mas nós queríamos ser nós próprios, tornarmo-nos numa banda de relevo. Tínhamos um conceito associado a fantasmas. Decidimos usar corpsepaint e ter sempre uma imagem tenebrosa, associada ao horror, porque estes aspetos estéticos nos pareciam muito inspiradores. Seguimos o

ta de 1998, fui a um concerto com o Valak (o nosso atual guitarrista de sessão). Atuavam os Opeth e os Cradle of Filth. Tenho a impressão de que era a tournée de apresen-tação do álbum «Dusk and Her Embrace». Bolas! Foi um concerto inesquecível para mim. Fez-me mudar muito. Aqui na Holanda, estava habituado a ver públicos bastante sóbrios, que iam bebendo e ouvindo a música. Mas, naquele concerto, foi diferente. As pessoas chegaram, compraram t-shirts de CoF e começaram a mudar de roupa logo ali. Pouco depois da introdução do concerto soar, só se viam fãs a galgar uns por cima dos outros para chegar à banda. CoF não era apenas um banda de música extrema. Estavam imbuí-dos de um espírito “vampiresco”, tipo “família Adams”… e era mes-mo isso que eu queria. Não era

Page 56: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

sente preso numa guerra sem fim. Inspirei-me num dos primeiros filmes de horror que vi: “House” (1986), realizado por Steve Miner. Nesse filme, há uma parte em que o protagonista está a lutar no Vi-etname e encontra um parceiro a gritar de dor, porque caiu numa ar-madilha do inimigo. Como ele não podia salvá-lo, o outro implora-lhe que o mate. Ele fugiu, porque não conseguia fazê-lo. Anos mais tar-de, esse ex-soldado vai viver para uma casa assombrada, que o ataca de todas as formas possíveis, e isso fá-lo recordar o seu amigo do Vi-etname e pensar que aquilo podia derivar do espírito dele se querer vingar por ele não o ter matado. Usei esta ideia nessa canção. Mas, na nossa canção, ele foge do ami-go, que é capturado pelo inimigo, e pisa uma mina e tudo volta ao iní-cio. E continua sempre assim, pelo que ele se sente preso para sempre numa guerra infernal. A guerra pareceu-nos o conceito

ideal para este álbum. Já tratámos de um castelo e de uma floresta assombrados, em “Lammendam”, e também de um navio fantasma que transportava a Morte. Tinha chegado a vez da Guerra.

Curiosamente, a vossa música gera uma espécie de universo à Drácula, graças às melodias eté-reas criadas pelos teclados, a pas-sagens muito sinfónicas, a frag-mentos corais que fazem pensar em canto gregoriano e vocais sussurrados, tudo isto entrete-cido com guitarras muito fortes, bateria bem pesada e uma voz es-sencialmente arranhada. Por que associaram estes efeitos ao tema da guerra?Tudo começou quando decidimos que este álbum combinaria fan-tasmas e guerras. Para compor, o

nosso caminho e já não nos im-portamos que pensem em Dimmu Borgir ou CoF, quando nos ou-vem. Afinal, crescemos a ouvi-los. Eu ainda ouço os álbuns deles, de vez em quando, principalmente os mais antigos.The Vision Bleak são uma banda única. De facto, tal como as outras bandas com que nos relacionaste, essa atrai-nos muito. Por isso, fico contente com essas associações. Desculpa lá, mas não fui espreitar a tal banda de rock americana. Ul-timamente, tenho menos tempo para ouvir música.

Passemos agora ao vosso último álbum: «Where the Corpses Sink Forever». Pelo que percebi, é um álbum sobre a Segunda Guerra Mundial. Por que escolheram esse conflito em particular? In-felizmente, guerras é o que não falta por aí. O nosso álbum não trata apenas dessa guerra. Fala de várias, ocor-ridas em épocas diferentes. Por exemplo, a primeira canção depois da intro (“Lingering in an imprint haunting”) trata de um soldado da guerra do Vietname que se

Page 57: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

É sempre difícil decidir que ima-gem escolher para a capa do ál-bum. No álbum anterior, também usámos uma foto da banda e fi-cou muito bem. Por isso, quando começámos a pensar na capa deste, sentimos que as pessoas estariam à espera de algo diferente. Portanto, decidimos contrariar essas expeta-tivas previsíveis e pôr outra vez uma foto da banda. Hehe! Escol-hemos a melhor que saiu da nossa sessão de fotos. As pessoas pre-cisam de ver como nós somos.

No texto de promoção do álbum, a Season of Mist apresenta-vos como uma banda sensacional em palco. O que fazem, para além de tocar e cantar? Fiquei com vonta-de de ir a um concerto de Carach Angren.Obrigado! Neste momento, ando muito ocupado a pensar em efeitos visuais para os nossos concertos. Tenho uma verdadeira obsessão por máscaras. Nunca conheci o

Ardek precisa de ter o conceito de base bem definido na sua cabeça. Dado o tema escolhido, tudo o que ele escreveu estava imbuído desse espírito de horror e guerra. Todos nós tivemos em conta essa ideia. Eu vi muitos filmes de guerra, para me inspirar para escrever as letras. O lado Drácula não foi procurado por nós. É uma interpretação pos-sível, que pode decorrer do som das guitarras. A maior parte das vezes, a nossa música sai espon-taneamente. A minha voz soa de uma forma adequada ao conceito escolhido para este álbum. Em suma, todos os efeitos criados por Carach Angren ajudam a recriar o conceito de guerra, tal como nós o vemos.

Por que restringiram a capa do álbum a uma foto da banda?

meu pai, mas, se ele alguma vez me aparecer, espero que seja como… Michael Myers. Haha!Em casa, de vez em quando, faço cópias da minha cara feia, para construir máscaras. Podes ver al-gumas delas no nosso videoclip. Vê-las é verdadeiramente assusta-dor! As fisionomias podem con-dicionar a atmosfera e eu ando a tentar construir algumas máscaras para as nossas próximas atuações ao vivo. Dá-me vontade de rir a reação das pessoas, quando as veem. Elas é que não têm nen-huma vontade de rir. Mas não te assustes: tenho uma paixão avas-saladora pelo horror, mas sou um gajo fixe.

Será que os fãs portugueses vão ter a sorte de vos ver num dos nossos “templos do metal”?Ficaria muito feliz, se pudesse fazer “explodir” um dos vossos templos. Portanto, espero que, em breve, possamos ir assombrar o vosso país. Se querem Carach Angren… havemos de aparecer um dia!

Entrevista: CSA

Page 58: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

““I REMEMBER NOW…””

Um dos melhores álbuns conceptuais já mais produzidos e in-terpretado por uma banda de rock. «Operation: Mindcrime» tem tanto de fabuloso como de enigmático. A história acaba como começa... “I remember now...” Até hoje o segredo da morte de Sister Mary (Irmã Maria) continua por revelar...!

Page 59: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

Para que se conste, «Operation: Mindcrime» é simplesmente o álbum que mais vezes ouvi. De-verá estar a par de «New Jersey» (Sim, Bon Jovi! Sou do tempo do Hard Rock ou Hard’n’Heavy, Rock em Stock ou Lança Chamas (saudoso António Sérgio) na antiga Rádio Comercial) «Mas-ter of Puppets», «...And Justice for All» ou «Keeper of The 7 Keys, pt. 1 e 2». Neste número da VERSUS a minha intenção era escrever sobre outra grandiosa banda – SAXON – mas O:M é daquelas coisas que entrando no leitor muito dificilmente sai. Por conseguinte, tive o “azar” de isso acontecer e foram cerca de dois meses consecutivos a tocar 2 vezes por dia em viagens de cerca uma hora! Por isso, resolvi trocar as voltas ao editor e escrever um pouco sobre O:M. (Portanto, para a próxima edição, contem com um artigo sobre os SAXON). Como é óbvio, este pequenos artigos tendem a ser algo pessoais e tentamos, enquanto autores, passar um pouco da nossa experiência e da influência que, neste caso, O:M teve na nossa vida musical. Há algum tempo cheguei à conclusão que O:M não é só ouvir a música! Para entendermos o álbum na sua plenitude é preciso embrenharmo-nos na história e no argumento, é preciso estudar um pouco todo o mundo e personagens. Um pouco de resumo da história... Existem 3 personagens principais: Sister Mary, Dr. X e Nikki. Há ainda um Padre corrupto... Sempre que Nikki ouve a palavra Mindcrime torna-se uma marioneta comandada por Dr. X – “Operation: Mindcrime” que o usa para cometer crimes às suas ordens. Dr. X controla Nikki através do vício da heroína “The Needle Lies” e lavagens cerebrais. Nikki está desiludido com a sociedade e junta-se a um grupo revolucionário – “Revolution Calling”. Sister Mary, é uma prostituta que se tornou freira e os seus serviços foram oferecidos a Nikki, por intermédio do Padre corrupto (associado ao vilão Dr. X) “Suite Sister Mary”. A amizade e afecto entre os dois aumenta e isto faz questionar Nikki sobre o que faz – “The Mission”, sendo que Sister Mary é a única que pode atenuar a dor e lavar os pecados. Os dois decidem abandonar a organização e Dr. X persentindo problemas, decide acabar com a vida de Mary e do Padre corrupto. Quem mais para fazer o serviço? Nikki. Este consegue matar o Padre mas não Mary. O enredo complica-se quando Nikki encontra a freira morta. Sem saber se foi ele que a matou, sucumbe à loucura e é preso, acusado da morte de Mary e das outras que cometeu ao serviço de Dr. X. O fim ou deverei dizer o prin-cipio, aproxima-se! Após vários acontecimentos Nikki recorda-se como tudo começou e O:M termina exatamente dessa forma: “I remember now...”. Este argumento, é da responsabilidade de Geoff Tate – Nas suas palavras: “A id-eia para a história veio numa noite em que estava sentado num banco de madeira nas traseiras de uma igreja católica, em Mon-treal. (...) Numa noite num bar chamado St. Supice conheci aquele que viria a ser Dr. X. Ainda hoje a sua personalidade fria, calcu-lista e cruel deixam-me pouco à vontade. A sua personagem e alegado envolvimento com uma organização terrorista, junto com outras personalidades e pessoas que conhe-ci nas minhas viagens foram a verdadeira inspiração para O:M” – Não contentes em contar a história em CD (musicalmente), os Queensryche tocaram na íntegra O:M ao vivo. Foi gravado um DVD – Operation Live Crime, encenado, onde se destacam as

Page 60: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

participações de Pamela Moore como Mary e Anthony Valantine como Dr. X. Aqui parte do mistério é desvendado. No entanto, a dúvida persiste... Quem matou Mary!? Os Queensryche foram a primeira banda de Rock/Metal a encenar todo um álbum pela primeira vez. No entanto, fora deste estilo de musical já outras o tinham feito: The Who tocaram na sua totalidade «Tom-my» e «Quadro- phenia» em 1969 e 1973, respecti- vamente e talvez, o mais famoso ál- bum conceptual encenado em toda a história da música... «The Wall» dos Pink Floyd, tocado e encenado na sua totalidade em 1980. Podem es-tar alguns leitores a pensar: então, e os Dream Theater com «Metropolis Pt2 – Scenes From a Memory»? A es-ses peço desculpa. São razões que a própria razão d e s c o n h e c e . . . mas continuarei a preferir (o origi-nal) O:M. Musi- calmente falando, O:M é um puro álbum de rock progressivo, sem músicas demasia-do longas, compli- cações, shredding ou contratempos. Muito direto e incisivo, melódi- co e misterioso. Excecionalmente bem tocado e produzido. Geoff Tate assina o tra-balho de uma vida, não só em relação a toda a história e argumento, mas também, às vocali- zações. Inigua-lável! Não com- eterei nenhuma heresia ao escrever que estabeleceu um padrão. Por tudo isto, O:M é imprescindível! Para o disfrutar em toda a sua plen- itude não basta ouvi-lo! A história tem de ser lida, interpretada e viv- ida. Temos de ser Nikki ou Dr. X. e aí sim, estamos preparados para disfruta-lo a 110%! De referir que existe uma sequela: O:M2 que como o seu antecessor foi todo interpretado na íntegra – Mindcrime At The Moore – 2007. Por último, existem/existiam rumores de que O:M (1 e 2) dariam origem a um Musical na Broadway e mais tarde, após o lançamento de O:M 2, Geoff Tate tinha planos para escrever um argumento e transformar todo este enredo num filme. A ver vamos...

Page 61: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

anunciaaqui

Page 62: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

Oriundos da Jordânia, os Bilocate assumem-se na música como criadores do estilo Oriental Dark Metal e acabam de lançar o seu mais recente trabalho que dá pelo nome de «Summoning the Bygones». O álbum tem uma mistura de doom com death metal e pelo meio inclui algumas sonoridades orientais justifi-cando assim o nome dado ao estilo.A VERSUS Magazine foi falar com eles para tentar perceber como é interpretado o metal nessas paragens desconhecidas para este estilo musical e as dificuldades com que a banda se depara para fazer chegar até nós as suas músicas.

Convocando o Médio Oriente

Page 63: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

Olá Hani, podes fazer-nos uma apresentação da banda, contan-do a vossa história? O que sig-nifica “Bilocate”?Hani Al-Abbadi: A banda começou em 2003 e lançou três ál-buns (o último álbum saiu no dia 11 de Junho pela editora Code666 e tem o título «Summoning the Bygones») e duas demos até agora. O nosso anterior trabalho intitu-lado «Sudden Death Syndrome» foi referido em várias revistas de metal e blogues por esse mundo fora e a mesma tendência está a ser seguida no nosso último lança-mento. Além disso estamos rapi-damente a ser considerados a mais importante banda de metal da Jordânia. Os Bilocate têm enfren-tado vários problemas para tocar este tipo de música no Médio Ori-ente mas estamos a fazer o nosso melhor para a tocar ao vivo.O nome da banda foi sugerido pelo irmão mais velho do Ramzi (vocalista) e do Waseem (teclista) e reflecte exactamente o nosso conceito criativo, desenvolvendo uma conexão directa entre os dois lados da nossa música, por um lado metal agressivo e escuro, e por outro o stresse, a pressão, a

seriedade e a melancolia do Mé-dio Oriente. Tentamos alimentar cada lado com o outro, criando assim uma música Dark Oriental. É como visitar dois diferentes lu-gares ao mesmo tempo, fazendo jus à definição do termo bilocação (em inglês bilocation) que sig-nifica presença simultânea de uma pessoa em dois lugares diferentes.

O vosso segundo álbum «Sudden Death Syndrome» saiu em 2008 e foi bastante bem recebido pela crítica. Cinco anos depois lan-çais o vosso novo trabalho intitu-lado «Summoning the Bygones» (STB). Porquê este tempo todo

e isso mantém-se continuamente e ele deixa de ser tolerante, ansiando por deixar a vida e todo este sofri-mento para trás, mas num último momento a vida decide ser miseri-cordiosa. Esta música foi feita num estilo épico como a história requer e foi lançada com o nosso álbum de estreia como uma só, mas no STB decidimos dividi-la em três partes. “Obscurity” descreve a fase quando as noites do personagem o devoravam na escuridão e em que ele se sentia perdido na sua existência. “Surrounding hell” é sobre a sua tentativa de penetrar a escuridão através das luz e por fim a “Of leaving” que descreve a fase em que ele não encontra outra saída do seu sofrimento além da morte.

O doom/death metal jordano não é muito divulgado. Quais são as principais dificuldades senti-das por uma banda jordana para aparecer nos palcos europeus?Hani Al-Abbadi: Sim, é verdade. A Jordânia ainda é desconhecida no panorama do metal, mas fe-lizmente nós temos conseguido mostrar algum deste estilo desta

região/país. Além disso há bandas que têm lutado tão arduamente como nós para inverter o cenário, como é o caso dos Bouq, que eu recomendo. Também temos tido bastantes dificuldades para tocar fora da Jordânia por várias razões: na perspectiva dos promotores, fica caro pagar os voos e o con-certo a 6 pessoas jordanas, tornan-do-se mais simples contratar uma banda europeia. Por outro lado obter um visto no Médio Oriente é muito complicado e por vezes não o conseguimos. Outras vezes somos tratados como se estivésse-mos a fugir do país sendo-nos ne-gado, como aconteceu com a em-

para este novo lançamento? Até agora como tem sido a crítica ao álbum?Hani Al-Abbadi: Tocar este tipo de música não fornece estabi-lidade nem ganhos financeiros, o que torna complicado manter uma vida musical e profissional em simultâneo. A maior parte dos membros da banda têm carreiras profissionais de sucesso e esta é a principal razão para o “atraso” deste lançamento. Não se pense que é falta de criatividade. Por ex-emplo, eu já estou a escrever novas músicas e letras para tentar que os Bilocate apresentem mais músicas de uma forma menos demorada. Esperamos que um novo single ou um novo EP saiam até ao final, mas ainda não há nada certo.

Podes explicar as temáticas que podem ser encontradas ao longo das 8 faixas que compõem o ál-bum?Ramzi EsSayed: Grande parte das músicas foram escritas por mim com a ajuda do meu irmão Wa-seem. As letras são sempre sobre o que a nossa região enfrenta. Nós traduzimos os nossos sentimentos e pensamentos para palavras, por

isso a nossa temática gira em torno de coisas reais que temos vivido nas nossas vidas, como a guerra, a morte e a tristeza.

O tema que fecha o álbum é in-titulado “A Desire to leave”, tem cerca de 20 minutos e é dividida em 3 estágios: “Obscurity”, “Sur-rouding hell” e “Of leaving”. Fa-la-nos um pouco desta música.Waseem EsSayed: A letra para essa música foi escrita há 9 anos. É sobre uma pessoa que sofre um estranho acontecimento na sua vida e entra no reino da escuridão quando cai a noite. Ele luta várias horas até o sol nascer novamente

“temos tido bastantes dificuldades para tocar fora da Jordânia”

Page 64: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

baixada italiana, e como resultado disso tivemos de cancelar uma mini-tour na Europa. O Médio Oriente cria grandes pressões ban-indo-nos inclusivamente de tocar-mos no nosso próprio país, isto só para teres uma ideia do que são as dificuldades em tocar na Europa.

Quais são as referências musicais para os Bilocate? Porquê?Wasseem EsSayed: Os Bilocate sempre foram uma contribuição de todos os membros que traziam diferentes “bagagens” musicais, e eu acredito que este é o factor de sucesso para mantermos uma boa produtividade porque a variedade de ideias é extensa e ampla, por isso cada membro dos Bilocate coloca a sua variedade de influên-cias na banda e a minha responsa-bilidade é criar uma sinergia entre todas essas diferentes ideias e criar algo bom e original. Por isso podes encontrar um grande leque de in-fluências que podem variar entre o funeral doom metal até ao black metal mais extremo, para não no-mear as influências que não advêm do metal como música ambiente e atmosférica, e em alguns casos até jazz. Basicamente nós estamos no

Hani Al-Abbadi: Infelizmente nunca o fizemos até agora, mas como disse antes é algo que esper-amos que aconteça brevemente.

Conheces alguma banda portu-guesa? Têm relação próxima com alguma?Hani Al-Abbadi: Acho que não há ninguém que eu conheça ou con-heci que não tenha ouvido falar dos Moonspell :-)! Claramente que eles tiveram um impacto mui-to grande no meu gosto musical desde a era do «Wolfheart».

Queres deixar uma palavra aos teus fãs em Portugal?Hani Al-Abbadi: Estamos ansi-osos para tocar para todos os nos-sos fãs portugueses e vai ser um privilégio e uma honra fazê-lo. Também gostaria de ler os comen-tários pessoalmente ou através da nossa página do facebook sobre o que as pessoas têm a dizer acerca do nosso novo trabalho «Sum-moning the Bygones».

Entrevista: Sérgio Pires

Médio Oriente e partilhamos as mesmas experiências não musicais como a vida e a morte, a guerra na nossa região e eventualmente cria-mos o nosso próprio subgénero ao qual nós damos o nome de Ori-ental Dark Metal, cujas principais características são a presença de “música oriental” com a manipu-lação de escalas e notas para tor-nar a música mais “dark”.As bandas que mais nos influen-ciam são por exemplo os Opeth, Katatonia, Anathema, Bloodbath, Limbonic Art, Myrksog, Edge of Sanity, My Dying Bride, entre out-ras.

Como está a vossa agenda de concertos para este ano?Hani Al-Abbadi: Andamos a tra-balhar nas datas da nossa tour e esperamos que estas incluam Portugal. Estamos realmente ansi-osos, mas até agora ainda nada é certo. Iremos informar a VERSUS Magazine e os seus leitores quando tivermos algo concreto.

Já alguma vez tocastes em Por-tugal? Quando é que achas que o público terá a oportunidade de vos ver ao vivo?

Page 65: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

Foi uma interessante surpresa ter descoberto estes Norte-Americanos Allegaeon, uma banda de Death-Metal Progressivo que lançou agora o segundo álbum, «Formshifter». Julgo ser um desafio apostar neste género musical, pois requer um refinado talento para a composição, um som pesado e uma produção bem equilibrada. Para não se cair no vulgar tem de se ser mesmo talentoso. E estes Allegaeon estão cada vais mais apurados no som que proporcionam às hostes metaleiras. A VERSUS Magazine teve a oportunidade de entrevistar o guitarrista Ryan Glisan que respondeu a algumas questões.

Inspiração científica

Page 66: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

A primeira questão que gostaria de colocar seria de onde é que vem o nome da banda?Ryan: O nosso nome originalmente era Allegiance mas após termos descoberto um sem fim de outras bandas com o mesmo nome deci-dimos mudar para algo que fosse similar e que ainda assim as pessoas pudessem reconhecer.

«Formshifter» é o segundo álbum da banda e o inaugural «Frag-ments of Form and Function» foi bem recebido pelos críticos. Qual é a vossa expectativa em relação a «Formshifter»?Bem, nós estávamos à espera de ob-ter um conjunto de críticas positivas tanto de críticos como de fãs logo que o álbum saísse para as lojas, mas na realidade as críticas que temos obtido têm sido espetaculares. Pen-sávamos que tínhamos boas canções no disco mas sem grande tempo para nos prepararmos para o álbum não tínhamos muito bem a certeza de como iriam resultar no conjunto. Aparentemente resultaram bastante bem porque as pessoas têm real-mente gostado deste álbum.

Podes falar-nos um pouco da evolução entre os dois álbuns? Tanto o trabalho de produção com as composições tomaram rumos ligeiramente diferentes, estou cer-to?Acho que a grande diferença entre os

çamos a notícia foi quase que uma escolha natural para nós.

Não conheço muitas bandas que escolhem Ciência como um dos temas para as letras. Onde é que foram buscar essa inspiração? E quem é que escreve as letras?Todos partilhamos a responsabi-lidade da escrita. Algumas canções são escritas por uma pessoa e out-ras por todos nós. Quanto a dizer de onde vem a inspiração… Penso que todos nós crescemos sendo nerds e a ver o Discovery Channel etc. O es-tilo tradicional das letras em Death Metal nunca foi nada que me cati-vasse do ponto de vista puramente lírico e aparentemente o mesmo ac-ontece com os outros na banda e o modo com olham para o conteúdo lírico clássico deste género musical. Qualquer uma das emissões no His-tory Channel ou Discovery Chan-nel poderia acabar potencialmente numa canção dos Allegaeon AhAh!

O estilo da banda requer um bom equilíbrio entre técnica e pro-gressão melódica. Imagino que é de certo modo um desafio man-ter duas guitarras sincronizadas através das progressões melódicas ao longo de cada canção. Podes dizer-nos um pouco como é que tu e o Greg equilibram as guitarras em simultâneo? Aqui estou a as-sumir que a tarefa será mais fácil do ponto de vista do baixo, bateria

dois é que o primeiro foi compilado de canções que vinham do passado, ao passo que em «Formshifter» to-das elas são completamente novas e bastante próximas daquilo que a banda é no presente e do estilo que pretendemos para nós. «Form-shifter» é mais um acenar ao futuro do que um aceno que nos ligaria ao passado. As estruturas das nos-sas composições ficaram bastante genuínas à forma, na realidade são baseadas em escrita de formas bási-cas de música, mas obviamente adi-cionamos elementos que a tornam mais sofisticada; isso provavelmente não irá mudar drasticamente no fu-turo porém prevejo que apostemos em escrever com maior criatividade e de algum modo menos conven-cional.

Neste disco tiveram com vocês um outro baterista em estúdio. Podes dizer-nos o porquê dessa alteração e como é que o JP Andrade se inte-grou na banda?Julgo que tanto a banda como o nosso anterior baterista precisáva-mos de uma mudança portanto para este álbum decidimos tentar alguém diferente para tocar connosco. Colocamos a notícia no nosso bom velho Facebook e quase de imediato o JP contactou-me. Eu conheci o JP através de alguns amigos que tín-hamos no FB e esporadicamente comunicávamos com uma ou outra mensagem. Portanto quando lan-

“Formshifter é mais um acenar ao futuro do que um aceno que nos ligaria ao passado”

Page 67: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

ou voz.Hmmmmm. Essa é uma boa questão. Não acho que tanto eu como o Greg alguma vez realmente tentemos escrever um riff ou secção que seja propositadamente “difícil de tocar”. Acho que essas partes surgem quando tentamos criar algo mais único do que apenas despejar uma nota, portanto experimenta-mos criar riffs interessantes… por vezes eles acabam por ser tramados de tocar ahaha. Ambos temos an-dado a tocar há bastante tempo de modo que raramente um de nós ten-ha uma ideia que o outro diga “pah, eu nunca vou conseguir tocar isto”. Dito isto… sim, há alguns segmen-tos das canções que são quase um pesadelo tocarmos juntos especial-mente porque temos normalmente pouco tempo de ensaios juntos.

Falando pessoalmente, Death Metal Progressico Melódico é at-ualmente o meu estilo musical pre-dileto. Quando vocês começaram com a banda e definiram o vosso estilo estavam já claramente con-scientes do som que queriam pro-duzir daí em diante? Atualmente estão 100% contentes com o som que têm?Bem, estou convencido que todos na banda te diriam, e é verdade, que raramente estou satisfeito com al-guma coisa ahah. Quando comecei com a banda há muitos anos, só que-ria tocar música pesada que tivesse alguma melodia presente, portanto ao longo dos anos este som tem-se de algum modo sido desenvolvido. Tive esta ideia de sonoridade du-rante anos que queria trazer para a nossa música e definitivamente ainda não estamos lá, embora acho que Formshifter é o mais próximo daquilo que conseguimos. No próx-imo álbum espero conseguir estar ainda mais próximo dessa sonori-dade.

“Iconic Images” é uma das min-has canções favoritas do álbum (mas há mais é claro); esta começa

Comparando o mercado dos E.U.A, com a Europa onde é que vocês têm tido a melhor receptivi-dade?Bem, nós temos maior visibilidade dentro dos EUA mas acho que a nos-sa música acaba por ser mais similar a alguns estilos na Europa, portanto gosto de pensar que o nível de rece-tividade acaba por ser equivalente em ambos mas quem sabe ahah. Dito isto, acho que a nossa música é realmente mais talhada, como foi dito numa review do nosso álbum novo, para o “Seasoned Metal Lis-tener”, quer dizer que não cabemos realmente em muitos dos géneros musicais atuais, especialmente os estilos Americanos.

Estão a planear concertos aqui na Europa?Nós certamente queremos vir a dar concertos na Europa. Mas para já não temos planos concretos.

Para finalizar, um pouco de Filoso-fia. Muitos estudos científicos con-firmam que a Religiosidade está relacionada com atividade elétrica no cérebro dos indivíduos. Acredi-tas na existência de Deus, ou estás alinhado com o lado científico de olhar par a Realidade e acreditas que Deus é apenas um subproduto da nossa própria mente?Hmmmmm. Essa é uma discussão bastante mais longa do que seria possível apenas nesta entrevista e eu não gostaria de falar por todos na banda portanto serei muito breve. Haja ou não um Deus, é um assunto exclusivamente pessoal para quem acredita e para quem não acredita portanto não discuto esta questão porque é quase impossível provar num sentido ou noutro, pelo menos dentro daquilo que eu conheço so-bre o assunto. Portanto será um as-sunto para cada um meditar por si.

Entrevista: Sérgio Teixeira

com riffs extremamente pesados e rápidos culminando numa fantás-tica parte final puramente acús-tica onde tudo fica ligado de uma forma perfeitamente integrada. A minha questão seria qual a tua canção preferida neste álbum e porquê?Eu diria que “Twelve”, “Iconic Imag-es”, “Behold” e “Path Disclosed” são as minhas preferidas. São pesadas, negras e esporadicamente melódi-cas em determinadas secções. É realmente o som que eu pretendo sempre atingir.

O Greg teve formação musical for-mal e um grau académico subse-quente pelo Conservatório. Porém no teu caso não encontrei muita informação sobre o teu back-ground musical. Também tiveste treino específico ou és mais um autodidata da guitarra?Tive algumas lições esporadica-mente mas a maior parte da minha habilidade e conhecimento fui eu que aprendi por mim. Penso que eu e o Greg vimos de panoramas com-pletamente diferentes em termos de escrita de música mas é o que acho que torna os nossos álbuns ecléticos. Se eu ou ele escrevêssemos individ-ualmente um álbum inteiro, o resul-tado seria completamente diferente. Não seria mau, apenas diferente. Eu sempre gravitei mais em torno do estilo de escrita baseado mais em riffs. Portanto muitas das minhas canções não são escritas com pro-gressão melódica como foco prin-cipal (embora haja definitivamente certas secções que escrevi de modo pensado). Normalmente sento-me e ponho-me a tocar riffs até encontrar certas combinações que soem bem, quer estejam na minha escala em particular, quer sejam emprestadas etc. O Greg é normalmente muito metódico na maneira como escreve, todas as notas têm uma razão de ser. Acho que o resultado final dos nossos estilos conjugados acaba por funcionar bastante bem.

Page 68: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

Não é frequente as-sociar-se o metal a temas tão filosóficos. Mas são estas ideias que, aparentemente, movem os As They Burn, uma jovem banda francesa, que se carateriza pela sua multiculturalidade.Aproveitando a sua passagem por Aveiro, para um memoráv-el concerto, objeto de uma reportagem, a VERSUS Magazine teve uma estimulante conversa com a banda (já que todos os elementos quiseram participar), em que foram abordados este e outros tópicos igualmente interessantes.

Pirâmides e elevação espiritual

Page 69: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

Pirâmides e elevação espiritualCSA – O que pensa a banda do panorama francês no que diz respeito ao tipo de música que fazem? E como se situam nesse panorama?Milton Bakech – Parece-nos que há muitas bandas de metal em França, muitas mesmo. No en-tanto, sentimos que a cena metal francesa tem muita dificuldade em se organizar, as bandas têm di-ficuldade em colaborar na defesa

penhem nessa linha.

Em suma, na vossa opinião, o panorama é bom, mas falta al-guma organização, um pouco de solidariedade, não é assim?Fabio Meschini – Exatamente. Por exemplo, no que se refere à imp-rensa, em França existem quatro ou cinco revistas especializadas. Devido à crise, atualmente, dão pouquíssimo apoio às bandas mais recentes. Em França, os meios de comunicação que se podem inter-essar pela nossa cena são geridos por pessoas que têm entre 45 e 50 anos atualmente e que, entretanto,

de interesses comuns. Houve um movimento forte neste sentido há mais ou menos 10 anos atrás, mas dissolveu-se entretanto. Espera-mos que quem está na cena atual-mente seja capaz de fazer algo de concreto.Fabio Meschini – Neste momen-to, é uma cena em transformação. Há muito a fazer e, para que se possa construir algo de positivo, é preciso que os interessados se em-

Page 70: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

seguiram outras direções. É muito difícil para bandas como a nossa obterem alguma atenção dos mei-os de comunicação.

No entanto, a França tem exce-lentes bandas de metal.Milton Bakech – Neste momento, temos Gojira, que é conhecida em todo o mundo. E temos muitas outras, de que não se fala tanto, mas que são relativamente conhe-cidas de há 15 anos para cá. Mas continua a faltar algum empenho, para tornar todas as bandas con-hecidas.

Passando ao vosso álbum. Es-cutei-o com muita atenção e gostei muito do que ouvi. Achei particularmente interessante o contraste entre as guitarras, muito melodiosas, e a voz, ger-almente bastante áspera. Como descreveriam o som que a vossa banda faz? Quais são as suas principais caraterísticas?Milton Bakech – Parece-nos que um fator importante para a produção do som típico de As They Burn é o facto de sermos cin-co, todos diferentes, mas também complementares. Apesar das nos-sas diferenças, somos todos muito influenciados pelo “nu metal”,

queremos fazer algo mais melód-ico, mais ambiental. Mas não nos deixamos obcecar pelo tecnicis-mo, não nos preocupamos em nos distinguirmos pela qualidade da nossa bateria ou das nossas guitar-ras. Queremos fazer uma música que impressione os ouvintes, que os faça sentir que se passa ali algo que merece a sua atenção.

O vosso álbum tem por título «Aeon’s War». Que guerra é esta?Ronald Pastor – Não nos interes-sa falar diretamente de problemas políticos ou sociais. Preferimos recorrer a metáforas, associadas à mitologia, combinando imagens associadas a diversas religiões e culturas: por exemplo, o cristianis-mo (através das histórias da bíblia) ou o judaísmo (recorrendo à caba-la). São essas referências mitológi-cas que nos permitem refletir so-bre os problemas do mundo atual.

Deve ser relativamente fácil fazer isso, dado que, apesar de serem todos franceses, são oriundos de universos culturais diferentes.Milton Bakech – Exato.

Passando aos temas das vossas canções, o que podem dizer-nos sobre este tópico? Li algures que

ou seja, por bandas como Korn, Deftones, Slipknot, que nos per-mitiram compreender como fun-ciona este tipo de música. Inter-essávamo-nos por metal, mas em especial aquele que era associado à street culture. Outra mais-valia da nossa banda é que todos ouvimos música diferente e temos raízes musicais muito variadas. Ronald,

o nosso baixista, dedicava-se ao gospel. O pai do Fabio [Meschini, guitarrista] faz música brasileira. O meu pai também é músico e sempre se dedicou à música ligei-ra. Portanto, todos temos origens musicais muito diferentes, que procuramos conciliar, misturar mesmo, e isso é que dá o nosso metal bem especial. Fabio Meschini – Há uns anos atrás, o metal era algo de muito enérgico, violento mesmo. Nós

“Nós queremos fazer algo mais melódico, mais ambiental. Mas não nos deixa-mos obcecar pelo tecnicismo […]”

Page 71: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

se interessam muito pelo ocult-ismo.Milton Bakech – Tratamos temas como o amor, o autoconhecimen-to, a realização pessoal.Ronald Pastor – Sobretudo a von-tade de ser alguém, de desenvolver todo o seu potencial. Por isso, re-corremos tanto à pirâmide como símbolo. Não se trata da pirâmide da franco-maçonaria. Usamo-la, porque está carregada de signifi-cado, precisamente por ter sido adotada como símbolo por tantas sociedades secretas. Mas, para nós, ela representa a evolução, a pos-sibilidade de ser alguém. «Aeon’s War» defende a elevação de todos. Daí o termos usado uma pirâmide na capa do álbum.

Victor – Gostava que me falas-sem de uma das canções deste ál-bum, que despertou a minha at-enção: “Phylosophical Research Society”. Como eu próprio fiz estudos de filosofia, fiquei com curiosidade de saber de que trata esta canção em particular.Ronald Pastor – Trata do nosso tema de base: unir as pessoas, para que todos juntos concretizemos as nossas aspirações. Inspirámo-nos no modelo criado por uma universidade dos EUA, que tem

stream. Gostamos menos quando nos vêm elogiar por aspetos téc-nicos, que, obviamente, fazem parte da nossa música, mas não constituem, de modo nenhum, a sua essência.

E que têm a dizer-nos sobre a for-ma como a vossa editora vos tem apoiado?Milton Bakech – Fazem o seu tra-balho. Mas não são uma grande editora. Siege of Amida é uma editora com créditos afirmados no Reino Unido e estamos muito sat-isfeitos por fazermos parte do seu catálogo e com o trabalho de pro-moção e distribuição. Mas sabe-mos que seria diferente noutras editoras. De qualquer modo, o que nos interessa, como banda, é che-gar às pessoas, partilhar com elas a nossa música.

E chegamos à última pergunta. Já estão a trabalhar noutro álbum? O que podem dizer-nos sobre ele e sobre o futuro da banda?Fabio Meschini – Vai ser difer-ente daquilo que o público espera. Nós próprios estamos surpreen-didos com a direção que o nosso trabalho está a seguir. Esta noite, vamos tocar algumas das canções novas e todos vão ver que anda-mos à procura de novos caminhos. Queremos fazer coisas novas, mas também queremos que, ao ouvir estas canções, o público reconheça que são nossas. Milton Bakech – Estamos mesmo a trabalhar em material novo e planeamos ir para estúdio em se-tembro. Podem ir já falando do as-sunto aos vossos chefes [risos].

Victor – Então, o novo álbum sairia…Fabio Meschini – No próximo ano.Hoby Arinosy – Primeiro, temos de o acabar.

Entrevista: Victor Hugo e CSA

por principal objetivo promover o estudo de diversas formas de teo-logia, para levar à reflexão sobre o mundo atual e a forma como ele chegou a este estado e se deixou submeter a tantos dogmas, regras, morais. Através dessa canção, pre-tendemos chamar a atenção para o facto de que não somos todos iguais, mas que devemos todos in-formarmo-nos e cultivarmo-nos, para nos compreendermos melhor mutuamente e, assim, podermos coexistir de forma pacífica.

O vosso álbum saiu há quase um ano, em setembro passado. Que podem dizer-nos sobre a forma como foi recebido pelo público?Milton Bakech – Temos tido reações muito variadas. Alguns fãs disseram-nos que tinham gos-tado muito, porque era algo fresco, inovador. Curiosamente, temos fãs que vêm de horizontes musicais muito diversificados. No conjunto, parece que agradamos ao público e isso faz com que tenhamos von-tade de fazer concertos, para par-tilharmos a nossa música com out-ros. Fabio Meschini – Nos concertos, há muita gente que nos vem dizer que gosta da nossa música, porque tem originalidade, não é main-

Page 72: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

A tranquilidade como essência da arte

Page 73: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

É um dos guitarristas de uma banda icónica do death metal melódico sueco de Gotemburgo… mas só começou a aprender a tocar guitarra na adolescência.Goza de uma excelente reputação no mundo das artes gráficas associa-das à música extrema, mas confessa que os prazos e a necessidade de ir ao encontro das exigências dos clientes ainda lhe causam alguma ansiedade.Em suma, Niklas Sundin, o gráfico desta edição da Versus Magazine, é um homem que precisa de tranquilidade para criar o seu trabalho, frequente-mente… negro!

Sou uma grande fã de Dark Tran-quility. Adoro a música, as letras, a arte gráfica, os concertos. E agora sei que és responsável por uma parte significativa de todo esse tra-balho.Niklas Sundin: Obrigado!

Gozas de boa reputação devido às capas de álbuns que fizeste. Foi por aí que começaste a tua carreira como artista gráfico?Quando era miúdo, andava sempre a desenhar e a pintar e a minha car-reira começou efetivamente com as capas de álbuns e respetivo lay out. Comecei a fazer trabalhos dessa na-tureza para bandas de amigos no início dos anos 90, mas foi só com o lançamento do «Projector», dos Dark Tranquility, em 1999, que esse trabalho começou a sério para mim. Foi nessa altura que fundei o meu gabinete de design [Cabin Fever].

Quais são as principais diferenças entre fazeres arte gráfica para os álbuns da banda a que pertences e para outras bandas?Criar algo para a minha própria banda gera expetativas e uma pressão diferentes. Para os outros clientes, normalmente contacto com uma só pessoa e procuro logo clarificar os objetivos do trabalho. Quando se trata de DT, como é nor-

Nem sempre… Escrevi letras para 2 ou 3 canções de DT, nos últimos dez anos, e é claro que isso repre-senta uma ínfima percentagem da produção da banda. Inspiro-me sobretudo no tema do álbum e na sua atmosfera. É claro que o facto de tocar na banda me ajuda muito a apreendê-los bem. Mas, por ex-emplo, o clip que fiz para “Iridium” não seria certamente como é, se eu não tivesse escrito a letra para essa canção. Portanto, admito que há al-guma relação entre os dois factos.

Nasceste para ser um músico e de-pois converteste-te também num artista gráfico ou foi ao contrário?Eu comecei a desenhar e a pintar bem antes de me interessar seria-mente pela música. Basta dizer que

mal, há que ouvir os restantes cinco elementos da banda e todos temos de ficar satisfeitos com o trabalho fi-nal. Este tem de ser digno dos mais de 20 anos de história da banda e de representar de forma adequada o sentido da música e das letras do álbum em questão. Por outro lado, também é importante que a imagem passe bem no merchandising a ele associado e nas animações em vídeo a apresentar durante os concertos. É uma relação de amor-ódio! Fe-lizmente dispensaram-me de fazer a arte gráfica para o nosso último álbum. Pouparam-me a umas boas dores de cabeça, haha!

É mais fácil para ti fazeres a arte gráfica para álbuns cujas letras es-creveste?

Page 74: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

só comecei a aprender a tocar gui-tarra aos 14 anos, o que é franca-mente tarde, para alguém que quer ser guitarrista.

Vi alguns exemplos do teu trabal-ho como ilustrador e reparei que nele há aspetos recorrentes. Por exemplo, pare-ces ter uma níti-da preferência por cores muito sombrias e, fre-quentemente, combinas o preto e o branco com algumas pinceladas de vermelho. Há alguma razão especial para teres adotado esta paleta de cores?Penso que se trata de uma combi-nação de gosto pessoal e consciên-cia do facto de que são as cores mais adequadas ao universo do metal. De vez em quando, apetece-me fazer trabalhos mais coloridos, mas, na maior parte dos casos, o resultado final é uma mistura do meu gosto

“Understanding comics”, de Scott McCloud, é uma obra de leitura essencial para qualquer pessoa in-teressada na comunicação visual, qualquer que seja a profundidade do seu interesse. Em tempos, reuni algumas ideias para fazer banda de-senhada, mas nunca tive tempo para concretizar esse sonho.

Curiosamente, as tuas ilustrações a cores têm um efeito caleidoscópi-co. Há alguma razão especial para que tal aconteça?Hmm... Não sei se percebi bem o sentido da tua pergunta, haha! Mas posso dizer-te que, tal como acon-tece com a maioria das opções artís-ticas, não há nenhuma razão em es-

pecial para fazer isto e aquilo, exceto a necessi-dade de fazer o que gosto e de, por vezes, alterar um pouco o meu estilo e dar-lhe novas direções.

Podemos dizer que as cores sombrias e o efeito “ fora deste mundo”

que a combinação de cores dos teus trabalhos produz são imagens de marca da tua arte gráfica? Vejo essas caraterísticas em tudo o que fazes, incluindo nos clips e nas projeções para os concertos de DT.Tenho a certeza de que o meu tra-balho gráfico tem caraterísticas próprias, mas sinto que sou a pessoa menos indicada para as identificar. No que diz respeito aos concertos, é natural que eu use muita cor e con-trastes, talvez mais do que nas min-has ilustrações. Mas sinto-me mes-mo incapaz de te dar uma resposta objetiva a essa pergunta.

Por que te interessas tanto por pei-xes? Ao “folhear” o teu portefólio na internet, gostei particular-

pessoal com os desejos do cliente.Também é importante reconhecer que, por muito artístico que um tra-balho seja, continua a ser arte com-ercial e há um cliente que paga e, ob-viamente, quer ter a última palavra. Acontece frequentemente que uma banda/editora me peça para fazer o trabalho com cores diferentes, para escolherem a versão mais adequada ao que pretendem, e que a eleita não seja a que eu preferia.

Alguns dos teus trabalhos fazem-me pensar em bandas desenhadas italianas e americanas (por exem-plo, as histórias de Sin City, da autoria de Frank Miller) e novelas gráficas (como From hell, com texto de Alan Moore e desenhos de

Eddie Campbell), porque também são muito sombrios. Alguma vez tiveste alguma experiência relacio-nada com a banda desenhada?Em tempos, lia muita banda desen-hada. Ainda sou um grande fã, mas agora tenho pouco tempo para me manter a par. Estava muito famil-iarizado com desenhadores under-ground como Robert Crumb, Art Spiegelman, Dan Clowes, David B, Chris Ware, etc. Sempre fui atraído por histórias autobiográficas e um estilo narrativo introvertido. Mas é claro que conheço Sin City and From Hell e as considero como obras excecionais. Penso que a ban-da desenhada continua a ser uma arte subvalorizada. Considero que

Page 75: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

mente da ilustração que represen-ta um peixe crucificado e da foto que mostrava um que tinha secado até à morte. São ambas fantásticas.Obrigado! Não faço ideia nenhu-ma da razão pela qual me interesso tanto por peixes. Já muitas pessoas me fizeram essa mesma pergunta. Sempre gostei de desenhar animais e os peixes são criaturas que podes representar de uma forma abstrata e exagerada, sem que deixem de ser reconhecidos como tal. Podes de-senhar um peixe com quatro patas e duas cabeças e as pessoas continu-arão a ver que se trata de um peixe. A foto de que falas foi tirada numa praia em Portugal, quando fui as-sistir à retirada das redes. Havia muitos peixes pequenos que foram abandonados e ficaram ali a secar ou foram comidos pelas gaivotas.

Quais são as tuas principais in-fluências? São todas originárias das artes gráficas? É difícil recensear as minhas in-fluências, porque elas não funcion-am de modo consciente. Tudo o que experimentamos ou a que somos expostos pode, de alguma forma, funcionar como uma fonte de in-spiração e, no meu caso pessoal, es-sas influências estão muito estreita-mente ligadas. Por exemplo, nunca me aconteceu ver uma exposição e pensar: “Uau! Isto vai levar-me a

tentar fazer isso relativamente ao meu próprio trabalho. Além disso, sou um sujeito extremamente per-fecionista e nunca me sinto plena-mente satisfeito com o que faço. Se não tivesse prazos para respeitar, era capaz de passar um ano inteiro de volta de uma mesma imagem!

Só uma curiosidade. Li algures que tinhas feito a capa para um dos ál-buns de Moonspell, uma banda portuguesa. Qual foi?Não, essa informação é incorreta. O que eu fiz foi desenhos para t-shirts relacionadas com uma digressão que eles fizeram há cerca de dez anos. Talvez tenha sido quando lançaram o “Butterfly Effect”. É uma grande banda, com pessoas maravilhosas!

Queres deixar uma última men-sagem aos nossos leitores?Obrigado pela entrevista!

Entrevista: CSA

deixar mais espaço em branco nos meus desenhos!” Mas é habitual eu ter ideias visuais, quando estou a ouvir música, ou a viajar ou apenas a viver a minha vida quotidiana. É claro que há muito artistas – mor-tos e vivos – que eu admiro sin-ceramente e que, na minha opinião, criaram obras espantosas. Mas nen-hum deles me influenciou ao ponto de eu poder considerar que a minha obra não existiria sem essa influên-cia.

Estudaste artes gráficas?Sim. Fiz um curso de História da Arte na universidade e frequentei uma das primeiras escolas sérias de artes digitais e multimédia da Sué-cia.

És capaz de fazer uma síntese dos principais momentos da tua car-reira e de mencionar trabalhos im-portantes que resultaram de cada um deles?Lamento, mas sinto-me absoluta-mente incapaz de o fazer. Tal como me acontece com a música, nunca paro para tentar analisar o que fiz no âmbito da comunicação visual e tentar encontrar padrões. Sentir-me-ia pretensioso e ridículo. Gosto de ler e de teorizar acerca das cri-ações de outros artistas e penso que é muito importante seguir as suas carreiras, mas parece-me bizarro

Page 76: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

De Lisboa, vêm os Chapa Zero (ex Estaca Zero, como é explicado na entrevista abaixo), com o propósito de AGITAR… Muito experientes no que diz respeito a atuações ao vivo, resolveram agora lançar duas canções, por conta própria, com o propósito de promover a banda e – quem sabe – encontrar uma editora interessada.A conversa com Alexandre Guerra permite conhecer a banda e as suas conceções sobre “bandas de garagem” e as condições em que estas trabalham em Portugal.Vale a pena a leitura!!!

Uma saudável agitação

Page 77: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

Quem são os Chapa Zero? De onde vêm? Por que surgiram? O que pretendem?Alexandre Guerra: A formação atual dos Chapa Zero inclui o Cajó, na voz, o Kaveirinha, na guitarra e voz, o Nuno Machado, no baixo e voz, e o Alex DeLarge, na bateria. Somos oriundos de Benfica e de Alvalade.A banda surgiu devido à necessidade de agredir ver-balmente, com mais ou menos ternura, conforme o caso, certos sectores da nossa sociedade, que pre-cisam de um abanão valente e achamos que sob a forma de música é mais agradável.O que pretendemos no fundo é tocar ao vivo, curtir e fazer o rock n’roll de que gostamos, utilizando as variadas influências dos membros da banda. Tam-bém queremos tocar no CBGB, quando reabrir.

Como caraterizam a vossa música?O que fazemos é Rock Punk com uma mensagem agressiva e satírica, disparando em várias direções.

Por que se chamam Chapa Zero?O primeiro nome da banda era Estaca Zero, mas descobrimos que existia uma banda brasileira com o mesmo nome e, para evitar uma batalha legal que poderia durar anos, resolvemos mudar de nome. Ainda pensámos contratar o Duarte Lima para os convencer a mudar de nome, mas entretanto ele foi preso.

Sendo que vocês têm idade que vos permitiu viver o Metal e o Punk em décadas anteriores, o que nos podem dizer sobre a existência de uma banda numa garagem há 20 ou 30 anos atrás?Infelizmente, no país onde vivemos, há um prob-lema que dura até hoje, que é a falta de sítios para

tocar ao vivo. A música em Portugal ainda é vista como um bem de décima necessidade.Claro que hoje há mais alguns sítios para tocar, também porque as bandas de covers passaram um bocado à história por tocarem sempre os mesmos temas mais que esgotados e o pessoal de alguns espaços começou a convidar bandas com temas originais.Há vinte e tal anos, o pessoal tocava na garagem e ia fazendo umas gravações caseiras em cassete para vender nos poucos concertos que dava e, se tivesse sorte ou amigos na rádio, ainda passava uma ou duas vezes num programa a horas que ninguém ouvia. É claro que também havia os que tinham sen-

sibilidade comercial e faziam o que o povo queria ouvir e saíam da garagem num instante. No entanto, esses não duraram muito. Outro grande problema das bandas de garagem são e sempre foram os vizinhos, essa espécie de humanos que parece ter um grau de audição muito mais apurado que os demais… Foram eles que fiz-eram com que nos fechassem o Rock Rendez Vous e serão sempre eles que vão fazer com que bandas e músicos isolados sejam impedidos de fazer uma coisa que é essencial ao exercício da boa música, que é… treinar. Se virmos bem, a maioria do pes-soal não tem um sítio onde treinar sozinho com o seu instrumento… (isto soou mal?), que é muito importante. Se tocarem sempre em conjunto com a banda, acabam por descobrir muito pouco sobre o instrumento que tocam.

Tens a noção de que o conceito de garagem hoje em dia é bastante diferente do de antigamente? Os resultados são mais rápidos, e a qualidade muito melhor, mas a saturação pelo grande número de bandas é elevada. O que pensas disso?Hoje, com a internet, já é diferente. Pode-se gravar uma demo com muito mais qualidade, porque já há muito mais estúdios – e alguns com preços bem atrativos – e, no dia a seguir, a tua música já está nos quatro cantos do mundo, o que é ótimo. O facto de haver muito mais bandas do que o mer-cado consegue absorver… bem, isso pode ser ou não um problema. É bom, porque há muito mais música para ouvir. Depois, as bandas têm de ser muito mais criativas para sobressaírem. Além disso, mesmo havendo muitas, as más, ou que simples-mente não tenham background, ou “estaleca”, vão desaparecendo como sempre o fizeram… e tão bem.

O lado negativo da coisa é que, na confusão, se vão perdendo também algumas que poderiam vir a ser muito boas, que vão sendo apagadas do mapa, o que é pena. Já vi isso acontecer vezes demais…

Esta conversa relaciona-se com um single que a banda gravou. Qual vai ser o destino desse single? O público pode contar com um lançamento para breve?O single “Queres é aparecer/Matrakilho” é edição de autor, sem apoios exteriores à banda.O objetivo é fazer algumas vendas em concertos, o que já aconteceu e até vendemos mais do que esperávamos. Mas é essencialmente um disco

“A banda surgiu devido à necessidade de agredir verbalmente, com mais ou menos ternura, conforme o caso, certos sectores da nossa sociedade […].”

Page 78: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

promocional. Neste momento, os temas já podem ser ouvidos em algumas rádios. Em termos de lançamentos, só em 2013 é que pensamos lançar o primeiro álbum.

Esperam obter algum contrato?Sim. Confiamos no que fazemos e podemos fazer mais e melhor… e um contrato com uma editora ajuda sempre.

Sei que têm bastante experiência de atuações ao vivo, nomeadamente com outros projetos mu-sicais de que fazem parte. Falem-nos um pouco dessa vossa faceta.Nós somos provenientes de várias bandas: Palha d’Aço, Valium Me Deus, Soldados Desconhecidos, És-Adof, SBB, Spray Mata Chuis, Filhos da Gosma, Paralelo-16, Dá de Fuga e Conto do Vigário, onde o Alex DeLarge toca também.Todos nós tocámos já muito ao vivo e isso dá-nos alguma segurança em concertos, embora haja sem-pre aquele “nervosinho” quando se entra em palco,

mas isso é uma coisa boa. Acho que se trata da re-sponsabilidade de proporcionar um bom espetáculo às pessoas que estão ali para nos ver. Quando se sai do palco é pior, porque apetece sempre ficar e tocar mais um bocado…

Por que ainda não conseguiram fazer nenhum lançamento?Nunca tentámos. Só agora é que temos esta gravação para apresentar. Vamos ver o que acontece.

Há alguma mensagem que a banda queira deixar aos nossos leitores?Formem bandas, façam temas, toquem ao vivo, nunca desistam e toquem sempre só o que gostam. Sejam músicos e não comerciantes de música, disso

“Outro grande problema das bandas de garagem são […] os vizinhos, essa espécie de humanos que parece ter um grau de audição muito mais apurado que os demais…”

Page 79: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

está este país cheio!

Entrevista: CSA e Victor Hugo

Nota:Em junho de 2012, os Chapa Zero foram in-cluídos na primeira compilação realizada pela Voltage, uma produtora musical. Para ter acesso à compilação, o leitor deverá consultar o linkhttp://www.facebook.com/events/353200661414475/

“Outro grande problema das bandas de garagem são […] os vizinhos, essa espécie de humanos que parece ter um grau de audição muito mais apurado que os demais…”

Page 80: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

Diablo Swing Orchestra«Pandora’s Piñata»

(Candlelight)

Com as devidas diferenças, quase que podia copiar e colar a review dos Ne Obliviscaris (NeO). Tanto os NeO como os Diablo Swing Orchestra (DSO) misturam na perfeição sons, estilos, instrumentos, ritmos e vozes. Os NeO são uma banda “normal” com a mais-valia do violino e duas vozes. Os DSO vão um pouco mais além em termos de músicos, senão, vejamos: oficialmente são 8, isto é, para os espectáculos ao vivo – voz, guitarras, sintetizadores, baixo, trompete, violoncelo e trombone. No entanto, em estúdio contam com uma mini orquestra de 10 músicos. Geralmente, costumo citar os meus temas favoritos e dar a minha opinião mas «Pandora’s Piñata» tem 11 e não me parece que vá ter espaço que chegue para os avaliar a todos. Eu vejo a música dos DSO como um bolo de múltiplas camadas, cada uma com um sabor e textura diferente. Tudo misturado nas quantidades exactas. Vou tentar separar as camadas: A voz feminina é lírica, assim no estilo de Tarja Turunen, a voz masculina é pop/rock, temos uma outra camada formada pela secção de metais, outra de cordas, ainda uma outra de sopro – clarinete, flauta e oboé. Por fim, temos as normais: bateria, guitarras e baixo. A esta hora podem estar a pensar: “Ah… imi-tação dos “Nightwish!” Não! Em termos de musicalidade vão muito mais além. Groove e swing a rodos!!! Que estilos musicais, então, poderemos encontrar em «Pandora’s Piñata»? Bem… em “Guerrilla Laments” temos um samba… e adivinhem? Com muito groove(!);“Exit Strategy of a Wrecking Ball” ou “Of Kali Ma Calibre”, com riffs puro thrash que encaixariam perfeitamente num qualquer álbum dos Slayer; “Aurora” é um tema 100% orquestrado, clássico e uma interpretação imaculada de Annlouice Loegdlund; “Mass Rupture” com laivos de música oriental poderia muito bem pertencer aos Orphaned Land; “Justice For Saint Mary” é um épico de 08:15 interpretado por Daniel Håkansson. O tema vai crescendo de intensi-dade até terminar com “beats” industriais. Tudo isto é misturado, interpretado e produzido duma forma absolutamente perfeita e genial! Já tenho a minha cópia encomendada, sugiro que façam o mesmo! (Tal como os NeO cuja nota foi truncada de 11 para 10, os DSO mereciam que rebentasse a escala com 10.5)[10/10] Eduardo Ramalhadeiro

Na mesma edição da VERSUS, 2 álbuns que me sur-preenderam pela interpretação, técnica, musicali-dade e sobretudo originalidade.

Page 81: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

3 INCHES OF BLOOD«Long Live Heavy Metal»(Century Media)Os 3 Inches of Blood não fazem prisioneiros. Estes cinco canadianos de Vancouver entregam aos fãs das vertentes mais tradicionais do Metal como o Heavy Metal, Power e Speed, doze descargas plenas de energia sem compromissos. Metal no seu espírito mais puro. O álbum começa em força com “Metal Woman”, uma glorificação do Heavy Metal com pretensões a “hino” ao vivo, com forte identidade a “The hellion/Elec-tric eye” dos Judas Priest, mid-tempo, que dá vontade de começar um furioso headbanging. Aliás, a influência Judas Priest é polvilhada em doses generosas neste disco, como em “Leather lord”, um tema muito

AKPHAEZYA«Anthology IV (The Tragedy Of Nerak)»(Code666 Records)Os Akphaezya originários de França são uma banda de Avant-Metal ou se quiserem Progressive-Metal que neste «Anthology IV» cria uma obra inspirada nas tragédias Gregas clássicas, obviamente com uma roupa-gem sonora bem atual, de certo modo original e bem produzida. Não costumo fazer comparações mas pode-se resumir esta banda a uma mistura de som inspirado em Dream Theater com vocalizações à la The Gathering. Detalhando um pouco melhor poderei dizer que falta por-ventura aqui e ali uma dinâmica ou pujança mais acentuada no som da bateria e uma voz mais potente por parte da tecnicamente irrepreensível vocalista Nehl Aëlin. Aliás, tecnicamente, todos os instrumentistas nesta

ALLEGAEON«Formshifter»(Metal Blade Records)Com «Formshifter» estamos perante o 2º álbum dos Norte-Americanos Allegaeon. Esta é uma excelente proposta dentro do Death-Metal Téc-nico/Melódico que surge este ano. Comparando com o registo anterior temos um conjunto de dez temas melhor estruturados no seu conjunto e pensados para fazerem parte de um todo mais homogéneo. O resultado prático são pouco mais de 50 minutos em que tema após tema surge sempre algo de novo sem no entanto se perder um certo fio condutor que sustenta todos os temas. Temos riffs bem pesados, linhas melódicas

«Painkiller», com voz a fugir para o Death Metal. “My sword will not sleep” segue num registo Heavy com um pouco de Speed, contendo solos como mandam as regras Heavy-Power. Speed são também “Leave it on the ice” e “Die for gold”. A surpresa surge com o instrumental “Chief and the blade”: flauta num tema um tanto Coutry and Western. Depois, o álbum torna-se um pouco mais homogéneo e os temas perdem alguma da garra inicial. Em suma, os 3IOB não escondem as suas influências Priestia-nas, especialmente na voz de Cam Pipes (com uns pozinhos de David Wayne dos Metal Church), mas produzem Metal com tomates que deve ouvir-se bem alto. Não há nada de particularmente inovador aqui, mas não há momentos mortos, nem temas longos que cansam (apenas “Men of fortune”, que tem 07:35m.). Mas deixará satisfeito todo aquele para quem o Metal deve ser melódico, mas forte e agressivo. A produção é clara e salienta bem todos os instrumentos. Recomendado para quem teve um mau dia e precisa de uma dose extra de energia.[8.5/10] Joey

banda sabem muito bem o que fazem. A diversidade de riffs, a originalidade e pertinência no encadea-mento das progressões melódicas, contratempos usados com equilíbrio e influências que passam pelo Jazz ou até Pop mas sempre doseados por sons pesados de guitarras e baixo, constituem assim mais uma excelente mistura musical que pude ouvir nos últimos tempos. Não há contudo a preocupação de tocar de modo desalmadamente rápido e todos estes encadeamentos de riffs são feitos geralmente de modo mais cerebral do que com a alma impregnada de uma overdose de adrenalina. Globalmente fica-se um pouco indeciso sobre para onde vai o maior pendor, se é para a componente Jazz, se para a vertente Heavy-Metal; tudo somado acho que é esta ambiguidade que marca a estética do disco. A cereja no topo do bolo não está lá, chama-se inflamabilidade mas tirando isso é sem dúvida um exce-lente álbum de Progressive-Metal.[8.5/10] Sérgio Teixeira

Page 82: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

de guitarra e solos bem desenhados, segmentos acústicos bem encaixados, ritmos bem diversos que vão desde o básico até aos contratempos e blast-beats thrashados. As vozes são poderosas, sobretu-do guturais nos tons médios, dando a personalidade que os temas necessitam para se caracterizarem como Death-Metal. Mas o que distingue, e daí o destaque, são de facto composições que têm linhas melódicas bem construídas, os riffs bem puxados mas que ficam na memória auditiva e tudo isto com uma diversidade que revela bem a capacidade de composição recheada de originalidade de Ryan Gli-san e companhia. Como ele nos disse em entrevista, ainda há margem para evolução no sentido de a banda conseguir criar atmosferas ainda mais interessantes; tendo em conta o que se ouve em «For-mshifter» não será preciso muito para lá chegar. Em suma este é um álbum, claro está, pesado, mais técnico e cru do que melódico, mas com sumo o suficiente para os fanáticos do Death-Metal terem algo para digerir durante uns tempos.[9/10]Sérgio Teixeira

AS THEY BURN«Aeon’s War»(Siege of Amida Records)

Os As They Burn resumem-se a deathcore vindo de Paris, mas cantado em inglês. Formados em 2007, a banda só se estreou nos lançamentos com o EP «A New Era of Our Plagues», em 2009, e agora estreia-se nos álbuns com este primeiro lançamento «Aeon’s War». Se são originais? Devo confessar que não. Este é um estilo que já está cheio de outras bandas, e começa a ficar saturado. Se são maus? Não se pode dizer isso. A nível técnico são bons executantes, principalmente na parte rítmica, com destaque para a bateria e o baixo. A banda é competente e o álbum

BILOCATE«Summoning the Bygones»(Code666 Records)Os Bilocate são um sexteto proveniente de um país desconhecido no panorama do metal, a Jordânia. Cinco anos depois do seu segundo lan-çamento sai em 2012 este «Summoning the Bygones». Num país cuja vida social não é fácil, tem que se dar mérito a este projecto que é muito interessante e corajoso visto que as referências a nível interno não são vastas e eles no seu estilo – que auto-denominam de Dark Metal Oriental –, variam a sua música entre um doom muitas vezes com um down tempo ao nível do funeral doom, passando pelo death metal principalmente a nível vocal, percorrendo também estilos mais clássicos

está bem gravado. No entanto, como já foi referido, não traz nada de novo a este “nosso” universo do Metal. Contudo gostaria de destacar duas músicas, a faixa titulo “Aeon’s war”, a música mais “calma” deste trabalho, e “Distorted rules” um tema que tem uma batida inicial pesada e violenta e que fica a marcar toda a música graças ao excelente acompanhamento do baterista Milton Bakech. De resto todo o álbum soa um pouco repetitivo e as músicas acabam por cansar ao fim da primeira audição, sendo que quem arrisca a segunda só vai ouvir aquelas músicas de que gostou inicialmente. Esperemos que os As They Burn nos contemplem com um segundo álbum com musica mais originais, mantendo a qualidade de produção. Uma última nota para a cover deste álbum, que é uma das capas mais belas que ultimamente vi num CD. [5.5/10] Paulo Eiras

como por exemplo o jazz mas, nunca esquecendo as suas raízes orientais com escalas muito próprias daquelas paragens. Todos estes pergaminhos são facilmente identificados nos primeiros segundos da música de abertura intitulada “The tragedy within”. A nível instrumental os músicos são bastante dota-dos e conjugam-se muito bem entre si. Destaco a voz de Ramzi Essayed que é de muito boa qualidade e a bateria de Ahmad Kloub que sabe perfeitamente quando tem que dar rotação à música ou quando tem que “silenciar” a bateria com ritmos mais lentos e mais discretos. A quinta faixa do álbum é um cover convincente da música “Dead emotion” dos Paradise Lost, e a última faixa é uma música dividida em três partes na qual é contada a história de um homem que entra na escuridão e a quem a vida dá uma segunda oportunidade. Uma banda que merece uma oportunidade de ser ouvida e que aconselho a quem quer descobrir novas sonoridades.[8.5/10] Sérgio Pires

Page 83: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

BURZUM«Umskiptar»(Candlelight)A evolução é um facto indiscutível; ninguém duvida que há movimento e que por ele é possível chegar de um ponto A a um ponto B. Esta úl-tima premissa pode-se aplicar a Burzum, já que chegou a um patamar distante do seu ponto de origem. Quanto aos juízos de gosto, caros lei-tores, façam o favor de ouvir as músicas, apreciarem o trabalho do Varg Vikernes para depois poderem afirmar se gostam ou não. Mas, vamos ao álbum propriamente dito. Começando pela embalagem, ela está lindís-sima: com uma representação da deusa da noite, Nott, original de Peter Nicolai Arbo. Todo o conceito lírico está totalmente em norueguês, ou

BLACKLODGE«MachinatioN»(Season of Mist)Podemos afirmar que estes Blacklodge são o pináculo do Industrial Bla-ck Metal. Desde o longa duração de estreia, «Login:SataN», que estes franceses têm vindo a surpreender não só os adeptos e fãs, pela posi-tiva, como também os alérgicos à música da banda, como disse Saint Vincent na entrevista presente nesta edição, pela negativa. É, de facto, uma relação de amor/ódio, já que os mais puristas e conservadores têm razões para apontar o dedo, porque a banda, progressivamente, têm evoluído mais nos ambientes industriais do que propriamente na sonori-dade Black Metal. E este «MachinatioN» é precisamente o ponto alto da

banda, já que ela afirma, sem reservas, que é este som que querem praticar. E sem reservas inicia-se o álbum, com um “TridenT” que é uma bojarda bem disparada das colunas – electro blast beats e riffs Black Metal unidos ao evangelho expelido por Saint Vincent. E todo o álbum poder-se-ia resumir a esta última premissa. Mas nem só de electro blast beats se mune este «MachinatioN». Há temas mais com-passados e mais lentos, como a “Neo.Black.Magic”; ou mesmo um toque de dance na “NeutroN ShivA (Sun, walk with me!)” a lembrar-nos os The Kovenant; e existem, de facto, detalhes interessantes no meio de tanto maquinismo. Contudo, no final fica a sensação que tudo o que se ouviu é insípido, com falta de outra substância – talvez a falta de uns solos de guitarra, já que «MachinatioN» é totalmente composto à base de riffs sólidos e diretos. Mas, os fãs ficarão agradados, os neutros perceberão que se a bateria fosse orgânica teríamos um álbum de Black Metal super interessante (quiçá a roçar os Blut Aus Nord), e os alérgicos fugirão com medo do contágio.[6/10] Victor Hugo

não fossem as letras retiradas de um poema nórdico, Voluspå, que em resumo descrevem as transfor-mações na Natureza todos os anos. Como podem notar, existe aqui material para uma certa sonorida-de Folk. E de facto, Varg Vikernes adota um certo toque Folk, mas bastante discreto, já que também existe a toada Metal. Já não lhe chamo Black Metal, de todo, pois como referi, Burzum está num ponto distante do inicial, mesmo distante do «Fallen», embora próximo do «Belus», porque este «Umskip-tar» é uma continuação do trabalho anterior, apresentando a mesma temática mas sobre outro ponto de vista (leiam a entrevista nesta edição). O que ouvimos aqui são temas com uma certa monotonia, baseadas num ou dois acordes que nos hipnotizam e nos fazem seguir um fio condutor sem que nos percamos – mas corremos o risco de nos aborrecermos (se procuram agitação, ela não está aqui). Não é um álbum fácil de digerir, nem fácil de ouvir, nem adequado para música de fundo ou mesmo para passar em bares ou nalgum local similar. Estas músicas são introspetivas, que exigem muito do ouvin-te. Parece que Varg se virou para a erudição – não estamos longe dessa verdade. [6/10] Sérgio Pires

CIRCUS MAXIMUS«Nine»(Frontiers Records)5 anos! Tive que esperar meia década para poder ouvir “Nine”, o terceiro álbum dos Noruegueses Circus Maximus. Honestamente, este foi o lan-çamento por qual mais esperei nos últimos anos – talvez em pé de igual-dade com o Black Album dos Metallica. “The 1st Chapter” já demonstra-va uma grande maturidade e técnica bastante evoluída, “Isolate”, uns furos acima do álbum de estreia, foi uma clara evolução, tanto a nível melódico como progressivo. Desde 2007 que ouço os Circus Maximus regularmente, com especial relevância para o segundo e era

Page 84: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

DEVILISH IMPRESSIONS«Simulacra»(Lifeforce Records)Se o vento pode retalhar o corpo e as memórias, envenenar o espírito, o que dizer quando é a música a perturbar a ambos? Embora haja um vigoroso sorriso, somos hipnotizados por uma certa ambiência que tem tanto de majestoso como de sombrio. Aqui, não importa o momento mas o que nos transforma além da realidade que vivenciávamos, todo um pulsar de sentimentos e insanidades regendo uma (des)confortável sin-fonia que nos aprisiona. Conhecendo os dois álbuns anteriores e ouvindo este seu terceiro, não há dúvida porque é que os Devilish Impressions são considerados um marco na cena Black/Death-Metal a nível mundial.

Apesar de alguns problemas no alinhamento após os dois álbuns, o mentor do projecto, Quazarre (vo-calista e guitarrista), soube manter-se confiante e inovar a sonoridade da banda (notam-se influências de Heavy e Thrash-Metal) conseguindo assim uma maior excelência. Não é para mais que todas as músicas tenham um certo toque épico muito devido aos vocais, que ora são abrasivos ora limpos, e à forma brilhante como os teclados são tocados (Flumen dos Asgard e Lestath dos Metransmissional tendo sido convidados como músicos de sessão). Neste terceiro álbum, também podemos ouvir a co-laboração com outros artistas tais como Orion (Behemoth/Vesania), Jacek Grecki (Lost Soul) e Roman (Lecter). Este álbum pode não mudar a vossa vida mas é uma experiência muito interessante quando se ouve de olhos fechados, o corpo eventualmente deixando de ser sentido…[9/10] Jorge Ribeiro de Castro

com muita curiosidade que aguardava pelo terceiro capítulo. Digamos que “Isolate” funciona como um ”analgésico” – não estando sempre com disposição de ouvir o que quer que seja, “Isolate” salva-me o dia! Voltando a “Nine”... Já li por aí que é muito parecido a Dream Theater – Não quero saber! Basica-mente, começo a “borrifar-me”, pois, já são muitos anos a ouvir (quase) a mesma coisa! (Digamos que já ouvi mais vezes “Nine” do que todos os álbuns juntos deste o “Metropolis pt2”) Também corremos o risco de estar a ser injustos... “Nine” é soberbo em técnica, progressividade e melodia! Um grande esforço, uma evolução gigantesca! A banda colocou a fasquia num patamar elevadíssimo e desta vez acho que não vou ter problemas em esperar mais 5 anos pelo seguinte, pois, não me importo de passar todo este tempo a ouvi-lo! Produção sem falhas, temas muito diretos e som potente. Não vou perder tempo a destacar músicos e/ou temas, teria que arranjar um pódio só com o número um. No fundo o que tenho a dizer: Estou viciado parte 1 e COMPREM O RAIO DO ÁLBUM!!! (Esperem entrevista na próxima edição)[10/10] Eduardo Ramalhadeiro

DOCTOR SPEED«Face to Face»(MDD)Os Doctor Speed são uma banda germânica constituída por músicos já de uma certa idade, +40 anos e tocam aquilo a que se chama Old School Heavy Metal – Traduzindo: Um tipo de Heavy Metal mais clássico, pro-veniente de bandas tais como: Judas Priest, Overkill, Testament, Hello-ween ou Gamma Ray, só para citar algumas. «Face to Face» é o álbum de estreia e não me parece que vá deixar grandes saudades. De facto, a produção é crua... demasiado crua. Não sei se foi algo deliberado ou falta de talento na produção ou ainda, falta de v€rbas! A sonoridade é muito parecida ao “Walls of Jericho” dos Helloween... mas “cum raio”

estávamos em 1985! Mesmo assim, a produção feita n’altura é muito superior. A voz de Johnny Vox é parecida à de Kai Hansen, (não que isso seja um defeito; trata-se, simplesmente, de estabelecer um termo de comparação) passa ao lado do álbum. Mais uma vez, não sei se será falha de produção ou inaptidão mas soa-me demasiado esforçada, como que a tentar a todo o custo sobressair do restante instrumental. A bateria parece-me algo “caseira”, como uma gravação de um ensaio feito por alguém amador e o baixo não tem a mesma intensidade durante os temas, por exemplo: “The Hammer” o bai-xo acaba por sobressair muito mais que a guitarra mas nos temas seguintes o som como que volta ao “normal”. Os Doctor Speed não fazem a diferença nem trazem nada de novo. Há por aí muitas bandas Old School com qualidade bem superior aos Doctor Speed, é só uma questão de procurar. [5/10] Eduardo Ramalhadeiro

Page 85: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

ETERNAL DEFORMITY«The Beauty of Chaos»(Code666 Records)Normalmente dentro da música extrema, as luzes dos holofotes fazem--se incidir sobre bandas provenientes de países que se contam pelos dedos das mãos, mas fáceis de enumerar: E.U.A, Suécia, Noruega, Fin-lândia, Alemanha e até mesmo França e Holanda ou Brasil. Mas há pé-rolas a surgir por aí que fogem a estes países bem identificados com sons pesados. Não estando a Polónia totalmente alheada do surgimento de bandas de peso, antes pelo contrário, não é de facto o sítio onde se esperaria encontra um álbum como «The Beauty of Chaos». Os Eternal Deformity, com um estilo Deformed Metal, conseguiram uma obra na

minha opinião notável. Desde as linhas melódicas fáceis de encaixar, sustentadas por uma sonoridade pesada, teclados que dão o toque de Midas sem uma exagerada sobre-exposição, ritmos bem alinha-dos com a filosofia das composições e vozes fortes. A produção está de facto a um excelente nível. As vocalizações oscilam entre o limpo melódico, o gutural pesado e o gutural em tom alto; ora isto permite aos Eternal Deformity adaptar as vocalizações, mesmo dentro da mesma música, às múltiplas nuances que vão surgindo. E as nuances surgem, e bem, porque não seria pelas vocalizações que tenderiam a ser limitadas. Enfim temos um número de atributos que encontro e que não são fáceis de congregar numa mesma obra sobretudo em bandas mais fora das luzes da ribalta. Poderia é claro apontar um ou outro ponto menos conseguido, mas globalmente este é um disco que não se pode simplesmente ignorar.[9.5/10] Sérgio Teixeira

IHSAHN«Eremita»(Candlelight Records)A lenda norueguesa do Black metal, Ihsahn lançou no dia 18 de Junho o sucessor de «After». O nome do novo álbum é «Eremita», e, como o próprio autor diz, o nome caracteriza como foi a gravação deste álbum: como um eremita, já que, como vem sendo habitual, com a excepção da bateria que foi gravada por Tobias Ørnes Andersen dos Leprous e que é também o baterista que toca nos espectáculos ao vivo do próprio Ishahn, tudo o resto foi gravado pelo músico norueguês. O novo álbum do ex-vocalista dos Emperor continua com o seu estilo característico, com batidas profundas de bateria, uma guitarra rasgada e com arranjos

de saxofone, criados por Jørgen Munkeby, que se estão a tornar uma imagem de marca do trabalho a solo do Ishahn. O álbum começa com a música que dá pelo título “Arrival” que é uma espécie de seguimento do que foi apresentado no álbum anterior, com a sua voz tão característica a destacar-se. Na terceira música intitulada “Introspection” apresenta a primeira grande surpresa do álbum, refazen-do uma parceria com Devin Townsend que teve sucesso no álbum «Deconstruction». A quarta música que dá pelo nome “The Eagle and the Snake” mostra mais uma parceria de peso que é a participação do Jeff Loomis, ex-guitarrista de Nevermore. «Eremita» não aparentando inicialmente, é um álbum bastante mais intimista, com ritmos rápidos e fortes mas cuja principal característica são os ambientes intimistas criados através dos instrumentos de sopro, em especial o toque jazz dado pelo saxofone. Mais uma vez um bom trabalho apresentado por este grande génio da música.[8/10] Sérgio Pires

KATANA“Storms Of War”(Listenable Records)Após um ano e uns meses do bem-sucedido “Heads Will Roll” – que lhes valeu concertos com os Where Angels Suffer e Lizzy Borden - os suecos Katana voltam à carga com o sucessor “Storms Of War” que promete fortalecer a mesma linha musical sem qualquer aventura extra NWO-BHM – leia-se Judas Priest, Iron Maiden e Saxon. Desta feita os ouvintes que veneraram o revivalismo proporcionado pelos Katana podem pular de alegria com este seguimento. Continua tudo na mesma, mas ainda melhor. A produção está otimizada e ficou a cargo de Andy La Rocque, guitarrista de King Diamond; a voz de Johan Bernspång está mais colada

ao estilo do Bruce Dickinson do que às outras bandas referidas; já o instrumental, esse vai variando entre o estilo Priest e o estilo Maiden, mas com mais incidência na veia Maiden; alguns temas são mais longos do que se poderia esperar, apresentando boas composições (com cabeça, tronco e membros) como o tema “In The Land Of The Sun”. São estas as grandes mudanças em “Storms Of War”, para

Page 86: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

KONTRUST«Second Hand Wonderland»(Napalm Records)Quando, por acaso, li a biografia dos Kontrust, o que me chamou mais à atenção foi o estilo pelo qual vinham rotulados: Crossover, que por definição, é a mistura de Hardcore Punk com Thrash. Como não sou fã de Hardcore Punk este álbum passou-me um pouco ao lado. No entanto, como já tinha decidido escrever a minha opinião foi com alguma relutân-cia que o decidi ouvir. A conclusão a que chego é: esqueçam o rótulo de crossover. «Second Hand Wonderland» vai mais além... De facto, podemos encontrar uma mescla bem abrangente de estilos musicais: pop/rock – “Bad Betrayer” e “The Butterfly Defect”; nu metal – “Adrena-

line” (Este tema abre com uma secção de metais e só este riff encaixava na perfeição num qualquer filme do Kusturika) e “U Say What”; industrial – “Hey DJ”, “salpicos” de punk, jazz, ritmos “dançantes” e como é óbvio... Tirolês – Não fossem os Kontrust oriundos da Áustria. Tema muito interessante é também “Rasputin”... Diga-se em abono da verdade que não consigo definir um estilo ou género musi-cal para este grupo – geralmente faço-o só para situar o leitor e obter um termo de comparação. As vocalizações são divididas entre Stefan e Agata e para além da bateria existe ainda um percussionista – já agora, o grupo é composto por 6 elementos! Toda esta diversidade e criatividade é muito bem explorada e misturada! «Second Hand Wonderland» é uma lufada de ar fresco, um divertimento e é quase impossível ficar indiferente. Estou viciado parte 2![9/10] Eduardo Ramalhadeiro

além de que a essência dos Katana está mais evidenciada neste trabalho do que no primeiro (talvez por ter sido a estreia). É difícil encontrar aspetos negativos na ainda curta carreira dos Katana, porque realmente estes tipos são muito porreiros. É impossível ficar indiferente a temas como o de abertura, “Reaper”, a expelir riffs judaspriestianos, ou ao tema “City On The Edge Of Forever”, ou ao solo da mú-sica “The Gambit” – entre todos os outros – que é brilhante. A todos aqueles que deram a oportunidade a estes suecos, esses têm aqui a oportunidade de os apoiar e continuar com um revivalismo genial e altamente recomendado. A todos os outros que até sabem do que estou a falar mas que embirram só porque sim, a esses tenho a dizer que estão a perder uma pérola. [9/10] Victor Hugo

LONEWOLF«Army Of The Damned»(Napalm Records)Quando em 1984, Rock’N’Rolf Kasparek e os seus Running Wild gra-varam «Gates to Purgatory», estavam certamente longe de imaginar que iriam influenciar toda uma geração de bandas. Bandas essas que iriam erguer o estandarte e manter acesa a chama do chamado “Heavy Metal Teutónico”. 28 anos depois, os franceses Lonewolf fazem parte desse legado Heavy com espírito Speed de guitarras rasgadas, solos acelerados e vozes semi-roucas. A voz de Jens Börner é uma espécie de Running Wild no tom mais grave dos Paragon. As guitarras estão bem salientes, mas o baixo está um pouco sufocado pela bateria à excep-

ção no tema “Crawling to hell”. “Lonewolf” começa as hostilidades e é o típico Speed Running Wild, aliás como “Hellbent for metal”, “Tally ho” e “One second in eternity”, este a terminar o disco com um solo alucinado no fim. Os temas mais mid-tempo são “Crawling to hell”, “Soulreapers” e “The last defenders”, mas possuem uma forte batida de bateria e solos de guitarra a rodos, que lhes confere dinamismo. “Celtic heart” é a semi-balada da praxe, mas com testosterona que faz o tema ganhar alguma rapidez a meio. A produção, sem deslumbrar, é eficaz no que conta: na clareza da voz e dos instrumentos e no ambiente “guerreiro”. Para os adeptos incondicionais do Metal germânico dos anos 80/90, é um álbum a reter. Tem as doses certas de melodia e agressividade próprias do estilo. O único senão, se é que se pode chamar isso, é a demasiada “colagem” ao atrás referido modelo. Nada porém que coloque em causa a força com que estes franceses trilham o seu caminho, indiferentes a modas e tendências mais “modernas”.[7.5/10] Joey

Page 87: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

LORD SHADES«The Rise of Meldral-Nok»(edição de autor)Não é todos os dias que temos o prazer de nos cruzar com uma banda capaz de levar a cabo, a expensas próprias, uma produção de grande en-vergadura como esta. Estou a falar de um álbum que levou mais de um ano a fazer e que, para além dos quatro elementos do colectivo francês em causa, contou com mais dezassete músicos convidados, desde ex-ecutantes de instrumentos clássicos e tradicionais a vozes líricas. Isto já para não falar do belo artwork e do encarte de luxo que adorna a edição do CD. Musicalmente, o que temos aqui é um trabalho bem conseguido que mistura black e death metal com muita atmosfera e um grande sen-

tido épico. Os toques sinfónicos e as orquestrações pontuais lembram muitas vezes os gregos Septic-flesh. A sonoridade pomposa conferida pelos teclados e as melodias de inspiração oriental (particular-mente em “Lust for death”) remetem-nos de imediato para o estilo dos Nile. Mas não me interpretem mal: apesar das referências sonoras inevitáveis, este é um trabalho de grande nível artístico que se basta a si próprio. Do ponto de vista lírico «The Rise of Meldral-Nok» é um disco conceptual que tem como cenário um complexo mundo de fantasia inteiramente idealizado pelo baixista e vocalista do grupo, e que retoma a narrativa da fantástica saga de um tal Lord Shades, exactamente no ponto onde «The Downfall of Fire-Enmek», o disco anterior e primeiro da banda, terminou. Segundo parece é com este cartão de visita que a formação está presentemente à procura do primeiro contrato discográfico. Portanto, aproveitem senhores A&Rs, porque bandas como esta não há muitas por aí.[8.5/10] Ernesto Martins

MALICE«New Breed of Godz»(SPV Steamhammer)O nosso velho cúmplice de Metal, James Rivera, tem mais uma nova aventura: chama-se Malice e é a antiga banda de Heavy/Power que nos anos 80 nos brindou com excelentes discos como «In the Beginning» e «License to Kill», sendo este «New Breed of Godz» o novo álbum da banda. Novo? Não exactamente. Das 12 faixas apresentadas, apenas quatro são temas novos, sendo tudo o resto temas dos dois acima refe-ridos discos, regravados com a voz de Rivera. As diferenças ao nível da voz são que, enquanto a voz de James Neil era um pouco mais aguda e “urgente” a atacar os temas, a de Rivera é mais “quente” e pausada.

Na generalidade, as músicas originais são levemente mais rápidas do que na gravação actual, que ganham um maior efeito dramático. A produção é bem definida, sóbria, mas eficaz. Os temas novos são “New breed of godz” – boa dinâmica, com uma forte batida e solos bem “sangrados”. Faz juz ao legado Malice. “Branded” é um pouco repetitiva, contendo um ritmo corrido que se mantém igual em todo o tema, apenas sendo quebrado pela ponte no meio do tema, que abranda a velocidade antes do solo. “Wings of death (Angel of light)” é a balada. Bem conseguida mas deixa-nos a perguntar “Onde é que já ouvi isto?”. Por último, “Slipping through the cracks”, tema que me parece um pouco insípido, bom para cantar o refrão e com bons solos, mas pouco inspirado. Este disco é bom para quem não os conhece e quer saber como se fazia bom Power Metal americano nos anos 80. Um razoável regresso de uma boa banda que nos deixou demasiado cedo e que, esperamos, queira voltar pelas boas razões.[7.5/10] Joey

MARAUDER«Elegy of Blood»(Pitch Black Records)Vou ter algumas dificuldades em opinar algo decente sobre «Elegy of Blood». E porquê? Bem, os Marauder são uma banda Grega que já conta com 22 anos de idade. Este álbum é um daqueles típicos álbuns de Pow-er/Heavy Metal do mais clássico que há mas ao mesmo tempo do mais “quadrado” que existe à face da terra. Se ao menos os Marauder ainda nos oferecessem um “pingo” de novidade, algo diferente... mas não! Todos os clichés que, no fundo, definem este género(s) de música estão lá. Tudo o que já foi feito (e bem feito!) por bandas como Helloween ou Judas Priest está lá “implantado” mas com uma qualidade manifesta-

mente inferior, roça mesmo o mau! Daria o beneficio da dúvida se ao menos o álbum fosse bem tocado e produzido. Aí, os mais puristas deste género, sim aqueles que gostam de ouvir um bom Power Metal clássico, ainda poderiam atrever-se a uma audição. Digamos que não consegui ouvir o álbum até ao fim, consigo suportar “The Great War” mas nem a voz consegue ser uma mais valia, Alexandros Kosta

Page 88: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

rakos não foi feito para as notas mais agudas, produção fraca e músicos medianos. Os Marauder não fazem a diferença, faltas-lhe algo e não foi com «Elegy of Blood» que o conseguiram. Querem ouvir um excelente álbum de Power Metal!? Sigam para a review de SABATON![5/10] Eduardo Ramalhadeiro

MARDUK«Serpent Sermon»(Century Media)Depois de terem atingido, em 2007, um indiscutível pináculo de criativi-dade com o álbum «Rom 5:12» (disco que se tornou numa espécie de marco delimitador de duas eras artísticas distintas), e de terem man-tido sensivelmente o mesmo rumo no álbum seguinte, «Wormwood», os Marduk dão agora ares de querer retroceder para o estilo rude e directo do antigamente – aquilo que alguns chamam a “essência diabólica do black metal”, e que, no caso em apreço, se traduz por composições mais básicas, com descargas constantes de blast-beats e sem a atmosfera que caracterizou os discos supra. De facto, quatro de entre os dez temas

presentes em «Serpent Sermon» são assim: in-your-face, representando terreno já pisado e repisado pela banda sueca. O resto é, felizmente, material ainda muito em linha com os dois discos anteriores. A fantástica “Souls of Belial”, faixa que resultou já num vídeo promocional, tem um arranque devastador semelhante a “Into utter madness” (de «Wormwood»). Depois seguem-se temas mais a meio tempo, de composição mais desafiante, como “Into second death” e “Damnation’s gold”, que dão mais espaço à expressividade mórbida de Daniel “Mortuus”, frontman cujos dotes laringícos contribuem com um dimensão malévola que é hoje crucial no som Marduk. O lento e opressivo “Temple of decay” chama a atenção especialmente pelos coros distantes ao estilo Bathory e é outro tema de relevo. O mesmo já não se pode dizer de “Coram satanae”, a faixa bónus que vem na edição limitada mediabook, a qual irá certamente surpreender pelas suas semelhanças com… Primordial. Liricamente (e sem surpresas) uma homilia escarnecedora das doutrinas fundamentais do cristianismo, «Serpent Sermon» tem a seu favor o facto de ser, musicalmente, uma espécie de expositor concentrado de todo o espectro black metal da banda de Morgan Hakansson.[8/10] Ernesto Martins

MISERATION«Tragedy has Spoken»(Lifeforce Records)Segundo o “press release” a teoria nos diz que a tragédia é uma forma de drama baseada no sofrimento humano que invoca na sua audiência uma certa catarse ou prazer em ouvir. Bem, tendo em conta que não estamos a ver uma peça de teatro mas perante um excelente agrupa-mento de Death-Metal técnico que não descura a melodia (este seu terceiro álbum tendo como tema a soma das tragédias mais importantes da História), pode-se pensar que todas as músicas dão a conhecer o que foi uma hecatombe e, se trazem algum prazer a este ouvinte, é por este não ter a oportunidade de se inteirar de forma pormenorizada do

conteúdo lírico. Sendo as letras escritas por Pär Johansson (Satariel, Torchbearer…) e pelo vocalista da banda, Christian Älvestam (Solution, Torchbearer…) o certo é que a música não impele a qualquer lágrima mas a um vomitar de movimentos tempestuosos, aquele alucinante “headbanging” que todos os metaleiros apreciam. Usando e abusando dos instrumentos comuns a bandas deste tipo, ouvimos uns outros que providenciam uma tonalidade distinta, tais como mandolin, piano, órgão, harpa indi-ana Esraj, xilofone… Porque muitas vezes somos submetidos à irrevogável queda e em outras somos tocados pelo prazer de sorrir, aquela deturpação que nos mostra quão inquietos somos, este é um maravilhoso elixir para aqueles momentos em que estamos um tanto em baixo, desde que não leiamos as letras, claro.[9/10] Jorge Ribeiro de Castro

Page 89: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

MOONSPELL«Alpha Noir»(Napalm Records)Depois de um interregno de 4 anos, os Moonspell estão de regresso em dose dupla, com o álbum oficial «Alpha Noir» e o álbum bónus «Omega White». Os Moonspell agarram nos dois géneros musicais que lhes são caros e fazem o seu Dark Metal, dividindo as águas num claro B&W, bem ao contrário dos últimos trabalhos onde temos encontrado músicas mais pesadas a contrabalançar com músicas mais atmosféricas. Esta aborda-gem é um golpe de génio e revela bem o alto nível de maturidade a que esta banda chegou. Enquanto «Omega White» é uma clara homenagem às influências dos Sister of Mercy e Type-O-Negative - entre outros, ao

bom velho estilo de um «Butterfly Effect», «Alpha Noir» traz-nos uns Moonspell a debitar toda a sua garra ao bom velho estilo que os preconizou no início da carreira e que recuperaram e bem com «Me-morial» e «Under Satanae». Abrindo com a poderosa “Axis mundi”, o tom do álbum está vincadamente marcado, e música após música não se desvia nem um milímetro, mantendo sempre o altíssimo nível. Não há momentos mortos ou mais fracos neste álbum e os futuros hinos são mais do que muitos – pelo menos há 5 em 8! Nos curtos 40 minutos que «Alpha Noir» dura, ainda temos a oportunidade de descobrir uma música totalmente cantada em português “Em nome do medo” – coisa que não acon-tecia desde “Wolfheart” – e o instrumental que concluiu «Alpha Noir» sem sine missione. Passando da escuridão para a luz, o nível musical não esvanece nem fica inferior, não deixando «Omega White» dever nada à sua “alma gémea”. É um tom totalmente diferente mas com o mesmo nível de grandeza do seu oposto, estes dois preciosos objectos de metal são como dois gémeos de géneros opostos. Enquanto um será consensual, o outro não agradará a todos, mas ambos merecem ser descobertos.[9.5/10] Carlos Filipe

NACHTVORST«Silence»(Code666 Records)Não sei se é da idade, mas o certo é que já há muito que não me sentia verdadeiramente deslumbrado com um disco novo – até ao momento em que este segundo álbum dos Nachtvorst me veio parar às mãos. Mas que maravilha!... «Silence» funde de forma soberba o essencial do black metal expansivo com que esta banda holandesa se estreou em «Stills» (2009), com uma miríade de novos elementos que vão desde o doom/drone às influências progressivas e post-rock/metal. Tudo isto em dos-es perfeitamente equilibradas, de acordo com um estilo de composição muito particular que arranja sempre maneira de nos manter de ouvido

grudado; e até de nos surpreender, como é o caso de “Nightwinds”, que a dada altura nos brinda, in-esperadamente, com o que parece ter sido criado de improviso no decurso de uma jam inspirada. Com a excepção de dois curtos mas belos instrumentais em piano/teclados e cordas, todos os temas são bastante longos, progredindo sucessivamente através de segmentos muito diferentes entre si mas que encaixam na perfeição. Pelo meio há riffs pujantes e explosões de raiva, andamentos lentos e opres-sivos envoltos por uma aura de desolação e melancolia, mas também fantásticos leads planantes e sequencias quase acústicas de grande serenidade. Erghal dá bom uso a toda a sua versatilidade vocal, usando desta vez não só o seu já conhecido registo áspero, mas também apontamentos guturais e até linhas em voz limpa, aspecto que é uma mais valia a juntar ao trabalho exímio do multi-instrumentista Leopold. Com um som enorme e uma produção a condizer, «Silence» é sem dúvida um disco memo-rável que fica desde já com lugar reservado na lista dos melhores deste ano.[9.5/10] Ernesto Martins

NE OBLIVISCARIS«Portal of I»(Code666 Records)Quando nos dedicamos a escrever numa revista, mesmo sendo amadora como a VERSUS, muitas vezes damos por nós a pensar duas coisas: 1 – Quando iremos receber algo de verdadeiramente novo e surpreendente! Algo que nos leve a colocar uma determinada banda ou álbum entre o Olimpo dos nossos “Deuses” musicais, algo que possamos dizer: “Nunca ouvi isto antes!” Há medida que o tempo vai passando e recebemos cada vez mais lançamentos para “opinar” isso vai-se tornando um pouco mais difícil. É certo que recebemos material de muita qualidade mas... nada de “um oásis no deserto”; 2 - ... na consequência do ponto 1, esperamos

Page 90: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

PARADISE LOST«Tragic Idol»(Century Media)Assistir álbum após álbum ao regresso às origens dos Britânicos Para-dise Lost, é um regalo, um must que eu pensava perdido para sempre após «Draconian Times». Com «Tragic Idol», os Paradise Lost estão no caminho descendente até às suas origens e enaltecem a musicalidade que os tornou famosos. Depois de terem culminado num som único e re-finado para os 90 com «Draconian Times», os PL mudaram de rumo para uma vertente e tom totalmente diferente, tendo com isso perdido a sua base de fãs e sem nunca terem realmente ganho uma nova. Vaguearam desde então numa espécie de limbo, por sonoridades mais atmosféri-

cas e góticas dispersando-se do culto original que até então tinham criado. Desde «In Requiem» até «Tragic Idol» passando pelo já “aceitável” – para os nostálgicos – «Faith Divides Us - Death Unites Us» que os PL têm vindo a demonstrar querer recuperar a sua essência musical, e assim completar 360º do seu círculo artístico. Esta proposta consegue transladar-nos completamente para os tempos de «Dra-conian Times», apresentando o mesmo som característico dos PL, a mesma garra e nível de interesse musical. Por onde é que andaram este tempo todo? É caso para perguntar! «Tragic Idol» é um grande comeback dos Paradise Lost e perfila-se como um bom e bem conseguido álbum, com músicas sólidas e consistentes, algumas mais rápidas e outras bem lentas a fazer lembrar «Gothic», como “Solitary one”. Espero que as surpresas por parte dos Paradise Lost não se fiquem por aqui.[9/10] Carlos Filipe

poder juntar ao rol de álbuns/bandas intocáveis. Aquelas mesmas que fazem ou fizeram as nossas fundações musicais – no meu caso: «Master Of Puppets», «... And Justice For All», «Arise», «Keeper Of The 7 Keys (1 e 2)» e todo e qualquer álbum dos Led Zeppelin. Neste número da VERSUS temos 2 álbuns que encaixam desde já no ponto 1 – Diablo Swing Orquestra (DSO) e Ne Obliviscaris (NeO). A qualidade é inquestionável e se os DSO têm o álbum do mês, os NeO são banda de capa. Os NeO foram uma descoberta recente que fiz enquanto deambulava pelo youtube. O primeiro tema ouvido foi “And Plague Flowers The Kaleidoscope” e imediatamente percebi que estes Australianos tinham que ter o devido destaque neste número. Ainda não defini os NeO: Como banda é constituída por 6 músicos: 1 violino, 2 guitarras, baixo, bateria, vozes limpa e extrema; neste álbum de estreia podemos encontrar influências que vão desde o progressivo ao black, thrash, death metal melódico e até mesmo jazz ou flamenco. Os NeO conseguem criar um tipo de música de diversos extremos e com composições muitas vezes superiores a dez minutos, ora muito técnicas e complexas ora simples e subtis. No fundo, são uma banda extremamente original que desafia qualquer caracterização ou género musical. «Portal of I» é imprescindível e obrigatório. (Por questões de coerência editorial a nota atribuída é 10) A minha real nota seria 11 e acho que este facto já justifica o ponto 2.[10/10] Eduardo Ramalhadeiro

PRONG«Carved Into Stone»(SPV Steamhammer)Formados no longínquo ano de 1986, inicialmente como uma proposta de crossover, os Prong acabariam por se tornar influentes assim que desen-volveram o estilo industrial e groovy que ficou registado para a posteri-dade em álbuns como «Beg to Differ»(1990), «Prove You Wrong»(1991) e «Cleansing»(1994). Fruto de algum esgotamento criativo ou talvez mesmo por dispersão do líder Tommy Victor que entretanto passou a integrar os Danzig e a seguir os Ministry, os três álbuns seguintes saíram algo descaracterizados e, em grande medida, defraudaram as expec-tativas. Contudo, 2012 parece que vai ficar marcado como o ano de

redenção da banda Nova Iorquina, visto que este oitavo registo de originais recupera efectivamente a autenticidade dos Prong de há vinte anos atrás. Temas como “Keep on living in pain”, “State of rebel-lion”, “Put myself to sleep” e, muito especialmente, “Revenge served cold” (o grande hit do disco), são quase clássicos instantâneos reconhecidamente saídos da pena de Victor, que desta vez se faz acom-panhar de uma secção rítmica renovada constituída pelo baterista Alexei Rodriguez e pelo baixista Tony Campos, este último experiente companheiro de Victor nos Ministry, e actualmente também integrante dos Soulfy. «Carved Into Stone» traz assim de volta os refrães pegajosos e algum do azedume lírico do passado, mas está também longe de ser um trabalho extraordinário, e muito menos de ter o impacto que os citados discos da década de 90 tiveram. Acima de tudo, é o disco que a banda precisava para colocar de volta o nome Prong no mapa.[7.5/10] Ernesto Martins

Page 91: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

SABATON«Carolus Rex»(Nuclear Blast)Até que enfim! Desde há muito tempo que não ouvia um excelente ál-bum de Power Metal Melódico, realmente diferente e de alguma ma-neira... inovador. Desde já podem surgir duas questões: Como é possív-el existirem na mesma frase/review as palavras “Power Metal Melódico (PMM)”, “diferente” e “inovador”? Sabaton! E o que os distingue das demais bandas de PMM? Joakim Brodén! Na esmagadora maioria das bandas que tocam este género, os vocalistas têm um timbre de voz muito parecido, onde não podem faltar os típicos “gritos” mais ou menos agudos. Mas, se em vez desse estilo de voz, tivermos um... barítono!?

Já agora, o barítono é um registo vocal que se encontra entre o baixo e o tenor; som profundo (ou pesado). Agora, podem-lhe juntar o instrumental, que apesar de não nos trazer nada de novo é ex-emplarmente tocado e faz com que esta “receita” resulte de uma forma verdadeiramente diferente e inovadora. Outro ponto que acho deveras interessante, é o sotaque do Joakim – Inglês com um ligeiro sotaque Sueco, com predominância nos “r”. Em «Carolus Rex» os Sabaton abandonaram o tema da letras referentes à 2ª Guerra Mundial e enveredaram pelo tema do Império Sueco. Musicalmente falan-do, não faltam os temas épicos, sinfónicos e com coros que acentuam ainda mais a grandiosidade de «Carolus Rex». Para terminar, os temas que mais destaco: logo a abrir as “hostilidades” “The Lion From The North” – cavalgada infernal, coro épico (A minha favorita...); “1648” é um tema a “meio-tempo” com um excelente interlúdio a meio, seguido do habitual solo de guitarra; “The Carolean’s Prayer” é a melodiosa e harmoniosa “balada” do álbum. Estou viciado parte 3![9/10] Eduardo Ramalhadeiro

SHINING«Live Blackjazz»(Indie Recordings)No final de 2010 o mundo do metal deu-se conta da existência de uma banda norueguesa com sólidas raízes no jazz, que acabava de publicar o registo da sua primeira incursão efectiva nas sonoridades extremas. «Blackjazz» foi como que o culminar de um processo gradual de endu-recimento que passou por quatro álbuns, para terminar numa brilhante fusão de riffs industriais, electronica e estruturas free jazz, que lhe valeu comparações – em termos de inovação – com o lendário «The Mind is a Terrible Thing to Taste», dos Ministry. Gravado ao vivo no seu país na-tal, este «Live Blackjazz» é uma espécie de extensão ao vivo do citado

quinto registo dos Shining, e uma excelente oportunidade para um primeiro contacto com algum do reportório anterior do quarteto. Depois da abertura com “Fisheye” e “The madness…”, dois dos mais enérgicos e cativantes momentos de «Blackjazz», aqui debitados com uma garra muito superior à da gravação de estúdio (Jorgen Munkeby grita aqui como um perdido), a banda lança-se numa sequência de quatro temas de trabalhos anteriores, que apesar de estarem mais em sintonia com os cânones do jazz, mostram bem que esta atracção pelo extremo não é de agora. Segue-se “Exit Sun”, onde o álbum atinge um momento de quase clímax, voltando de seguida ao saxofone jazz de Munkeby com “Healter skelter”. E isto já seria suficiente para ficarmos satisfeitos, mesmo sem o caótico “21st century schizoid man” que fecha o disco. Globalmente, este é um trabalho fantástico que se recomenda como ‘entry point’ para quem ainda não conhece esta excelente banda.[9/10] Ernesto Martins

THE FIRSTBORN«Lions Among Men»(Rastilho Records)Depois do espectacular lançamento de 2008 «The Noble Search», que foi provavelmente a bomba nacional desse ano, muito se aguardava pelas novas músicas dos portugueses The Firstborn. Essas novas músicas apa-receram no novo álbum que dá pelo título de «Lions Among Men» e saiu em Março deste ano. Eu, como apreciador confesso da banda, estava à espera deste lançamento e a primeira vez que o ouvi pensei “Este álbum é algo estranho”, mas fazendo jus a uma frase bastante pessoana “pri-meiro estranha-se e depois entranha-se” e por isso ouvi-o durante uns dias seguidos, e ao fim desse tempo fico com a sensação clara de que a

nível de qualidade/surpresa o álbum é bastante inferior ao anterior registo da banda da Amora. Este trabalho começa com a música que dá título ao álbum e nota-se que os arranjos de citara do

Page 92: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

WODENSTHRONE«Curse»(Candelight Records)Os Wodensthrone são uma banda natural de Sunderland no Reino Unido e no dia 23 de Abril último deram-nos a conhecer o segundo trabalho que dá pelo nome de «Curse». Depois da boa replica no seu álbum de estreia «Loss», havia uma certa expectativa para saber se eles iriam continuar a apresentar um bom trabalho quem sabe, com mais alguns anos de experiência até melhorá-lo. De facto, quem esperou não vai ficar defraudado já que este quinteto continua a trilhar um caminho bastante interessante, num registo entre passagens pelo Black Metal e por sons bastante mais ambientais e progressivas, dando espaço a vários mo-

mentos instrumentais apenas. Com “apenas” 8 faixas, este álbum tem mais de uma hora de música de boa qualidade. Usando simbolismos e iconografismos pagãos, o álbum começa com uma pequena introdução que faz a preparação para a realmente música de abertura do álbum: “Jormungandr”. A faixa que destaco deste lançamento é a “First light” que ao longo dos seus cerca de 11 minutos con-segue englobar todo o som da banda com uma harmonia implacável entre todos os seus instrumentos que conjugam muito bem com a voz rasgada. A produção/masterização do álbum apesar de não ser o expoente máximo nesta área notasse que é cuidada e não é daqueles tipos de gravação “de garagem” que por vezes o Black metal apresenta. Para já estes ingleses continuam a caminhar com passos firmes e a evoluíram claramente em relação à sua estreia.[8/10] Sérgio Pires

Luís Simões continuam presentes, o que já é quase uma obrigatoriedade nos álbuns dos The Firstborn porque para além de diferenciar a banda, este instrumento conjuga-se extremamente bem com a voz do Bruno Fernandes. A nível individual dos instrumentos, este álbum é claramente mais trabalhado e elaborado quando comparado com registos mais antigos, mas quando os instrumentos se conjugam estes não funcionam tão bem porque parece que cada um está a tocar para si apenas e não como “eq-uipa” o que acaba por dar o tal registo “estranho” ao álbum. Este lançamento, no meu ponto de vista, roça a desilusão já que sendo os The Firstborn uma das bandas charneiras de metal português, neste «Lions Among Men» não conseguiram domesticar este Leão, ou seja, o álbum estranhou-se e não se entranhou.[6/10] Sérgio Pires

anunciaaqui

Page 93: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012
Page 94: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

começa estava de acordo com o tom e universo musical da parte respectiva. O único reparo ao concerto foi o fac-to de o som nem sempre estar à altura da música debitada pelos Moonspell, especialmente na primeira parte.

Assim se apagaram as luzes e deu-se início ao espectáculo ao som de “Axis mundi”, com o Fernando Ribeiro de espada em punho e máscara a con-dizer, tal qual um guerreiro de outros universos. Repletos de garra e grande atitude é caso para dizer que entraram a matar! Com um palco bem deline-ado, ao bom estilo clássico do mel-hor que se faz no Metal mais pesado, “Axis mundi” ainda proporcionou grandes efeitos pirotécnicos, ficando nós a saber desde aí que iríamos pres-enciar a um dos melhores concertos dos Moonspell. As músicas seguiram-se na mesma ordem do álbum e com a mesma intensidade e força colocada desde o primeiro momento, sendo a única surpresa o facto de o público já saber as novas músicas, acompanhan-do assim o Fernando nos refrões. As músicas seguiram-se umas atrás das outras com igual vivacidade e emoção, sempre acompanhadas pelo público. O momento mais alto foi com o re-frão de “Em nome do medo”, o qual foi espectacularmente acompanhado por bursts de fogo a toda a largura do palco. Findo o alinhamento de «Al-pha Noir», com o instrumental «Sine Missione», a setlist da primeira parte do concerto dos Moonspell vertente Dark Metal, ficou completa com “Finisterra”, “Night Eternal”, “Wolf-shade”, “Vampiria” e evidentemente, como não não podia faltar o hino dos Moonspell “Alma Mater”, encer-

rando assim este lado mais pesado em grande, com o público em êxtase… e ainda estávamos a meio!

Seguiu-se um interlúdio, onde pratica-mente tudo no palco foi mudado, in-cluindo a bateria bateria incluída! Até a carpete vermelha que cobria parte do palco foi arrancada. Os Moonspell não pouparam esforços para que este concerto ficasse nos anais da história do Metal e elevaram o conceito de es-pectáculo de Metal a um nível tal que será difícil superar nos próximos tem-pos. Depois de uma primeira parte plenamente Metal, comme il faut, tivemos uma segunda parte mera-mente gótica, com três projectores a passar imagens alusivas a cada música, com o álbum «Omega White» como foco principal, sendo os presentes brindados com um espectáculo de luz e cor deveras marcante e que no meu ver, superou a primeira parte a todos os níveis. Ficou também demonstrado a alma que acompanha as músicas de «Omega White», resultando todas elas em pleno ao vivo. Cada música teve o seu efeito próprio, quer na projecção, quer com um efeito real, como foi o nevar durante a música “Herodisiac”. Sem palavras! Tal como na primeira parte, os Moonspell acrescentaram mais 5 canções ao setlist de «Omega White», começando logo a abrir com “Opium”, seguido de “An erotic al-chemy”, “Raven” e “Scorpion flower” terminando em beleza com o outro hino: “Full moon madness”. Simples-mente excelente, simplesmente genial!

Reportagem: Carlos FilipeFotos: Sérgio Santos

MOONSPELLCampo Pequeno - Lisboa12.05.2012

O equilibrio perfeito do branco e do preto

Concerto anunciado desde que os Moonspell divulgaram no ano pas-sado o seu novo trabalho «Alpha Noir» / «Omega White», tendo desde então prometido um espectáculo ím-par na apresentação do mesmo no Campo Pequeno, em Lisboa. Assim foi dito, assim se concretizou. Tenho acompanhado os últimos concertos dos Moonspell, e por isso posso afir-mar claramente que ainda não vi um concerto igual. Cada concerto dos Moonspell revela-se único, com a sua atmosfera própria, o seu setlist próp-rio, a sua emoção inerente. A noite do campo pequeno vai ficar marcada para sempre na memória colectiva dos Moonspell, em particular dos seus fãs, pela magnitude, plenitude, geni-alidade, emotividade e performance dos mesmos. É caso para dizer: Que grande concerto!

Tal como o álbum, este concerto, perante um público que enchia por completo o Campo Pequeno, pautou-se por duas partes bem distintas uma da outra, a primeira onde os Moon-spell tocaram o «Alpha Noir» e uma segunda parte onde tocaram o «Ome-ga White» na íntegra. O requinte e pormenor foram de tal ordem, que até a playlist que dá música de fundo ao público enquanto o concerto não

Page 95: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012
Page 96: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

frenteà outra tipa da banda sueca. Já os I, Machinery mostraram um Metal téc-nico ultra colado a Meshuggah, mas que mesmo assim conseguiu agarrar a atenção de muitos e abriu o mosh pit. Duas guitarras, voz, a bateria e o baixo programados, foram argumen-tos técnicos para um dos pontos al-tos da noite. De seguida o regresso dos Booby Trap foi, talvez, o mo-mento mais esperado da noite. Com uma formação renovada – o baixo ficou a cargo de Carlos Ferreira – a banda mítica de Aveiro encheu o re-cinto com a garra do Hardcore e do Metal, havendo ainda espaço para um certo feeling Rock e Punk que refres-cou a noite invadida por tanto Thrash e Death Metal. A banda esteve bem, com alguns momentos menos bons, como a saída inesperada do bater-ista por se ter sentido mal. No final tudo ficou bem e ainda ouvimos o grande tema dos Motörhead, “Ace Of Spades”. “Dawn Of The Socio-path” foi um dos melhores álbuns na-

cionais que ficou no TOP 5 de 2011. Os Echidna presentearam-nos com um potente disco de Thrash Metal, carregadinho de malhas old school e de solos de guitarra bem feitos e bem colocados. O delírio e o mosh espalhou-se num grande momento de Metal que o povo de Aveiro há muito não vivia – ou não fossem os Echidna a imagem do Thrash Metal nacional. Por último os W.A.K.O. fecharam a noite com muita brutalidade, trazen-do na bagagem o seu mais recente tra-balho, “The Road Of Awareness”, de 2011. Muito rapidamente o mosh pit foi palco de confusão, cerveja e roupa pelo ar, e muito, mesmo muito, stage diving. Assim se completou mais um concerto mítico do Blindagem Metal Fest com nota positiva, ou não fosse o cartaz uma obrigação para qualquer metaleiro da zona e arredores. Pena o som não ter sido de qualidade, ora ruidoso, ora alto demais. Mas, venha o próximo já dia 13 de Julho!

Reportagem e fotos: Victor Hugo

XIV BLINDAGEM METAL FESTW.A.K.O. + Echidna + Boo-by Trap + I, Machinery + Dark OathAssociação Cultural e Desportiva “Os Ílhavos”02.06.2012

Como já é costume nos eventos pro-movidos pelo Blindagem, a VER-SUS está lá para apreciar e enaltecer o trabalho de uma equipa que teima, e bem, em apostar nas bandas nacio-nais e mostrar o que de mais pesado há por cá. Este ano o já lendário concerto n’Os Ílhavos teve lugar em Junho, numa noite fresca e húmida de Primavera que não intimidou os mais variados metaleiros da zona de Aveiro e não só. As honras ficaram a cargo dos Dark Oath, banda de Soure, Co-imbra, que mostraram o seu Death Metal Melódico com rasgos de Amon Amarth nos acordes e laivos de Arch Enemy na voz, ou não fosse a Sara Leitão uma mulher capaz de fazer

W.A.K.O Booby Trap

Echidna I, Machinery Dark Oath

Page 97: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

presença em palco poderá evoluir um pouco mais mas estou certo que isso surgirá naturalmente sendo apenas uma questão de tempo e experiência. Foram 45 minutos de um bom espe-táculo que conseguiu captar a atenção de todos os presentes. Mas os cabeça de cartaz, Process of Guilt, eram os mais aguardados. Com um código genético mais demolidor e apocalíp-tico, já com registos de originais edita-dos e alguns seguidores conhecedores do som por eles emanado, foi com alguma naturalidade que o head-bang-ing e aplausos mais intensos foram surgindo ao longo da atuação. Se há bandas que ao vivo reforçam a esté-tica do som que ouvimos em CD os Process of Guilt multiplicam essa ca-pacidade de lançar para o público as atmosferas desoladoras e demoníacas registadas em disco. O vocalista Hugo Santos esteve nesse aspeto em exce-lente forma; será porventura uma das melhores vozes nacionais dentro do metal e se houvesse uma eleição para porta-voz nacional do apocalipse este seria um excelente candidato. Mas os restantes elementos da banda não es-tavam lá apenas para marcar o ponto. Globalmente como disse a capacidade da banda transmitir para o público at-mosferas decadentes e apocalípticas não falha e conseguem sem grandes aparatos visuais comunicar essas esté-ticas sonoras desoladoras tocadas de raspão por um pouco de segmentos psicadélicos. Basicamente o negro im-perou na atuação destes senhores de Évora; durante a cerca de uma hora

em que estiveram em palco, concen-traram-se maioritariamente na apre-sentação do disco «FÆMIN» em que para além de todos os temas deste reg-isto ainda intercalaram o tema “Lava” do álbum «Erosion». Foi sem dúvida uma excelente atuação em que o som estava impecável - ou não se tratasse de uma sala do Hard-Club – e a banda soube aproveitar a potência das suas composições para lançar sobre a as-sistência cerca de uma hora de metal de grande qualidade. Finalmente, jul-go que para o nível do espetáculo e do som proporcionado pelas duas ban-das, uma assistência mais composta teria sido mais justo e mais merecido. Tenho a certeza de que quem esteve presente não se arrependeu por um momento das cerca de duas horas em que esteve no Hard-Club para uma excelente noite de música pesada.

Reportagem e fotos: Sérgio Teixeira

PROCESS OF GUILT + JOSEPHHard Club – Porto02.06.2012

Esmagadoramente demoníacos

Foi no início de Junho que os Process of Guilt deixaram o seu reduto em Évora para pisarem o palco do Hard-Club depois de, no dia anterior, terem estado em Viseu. A promoção do novo álbum «FÆMIN» está aí e a VERSUS teve a oportunidade de presenciar a atuação desta banda que rasga as paredes sonoras lusitanas desde 2002. Mas para abrir a noite, pouco depois das 22 horas, estiveram em palco os também Portugueses, Joseph. Numa tónica de Doom/Sludge, estes ra-pazes ainda desconhecidos do grande público mostraram que têm muito para dar nas lides mais obscuras do metal nacional. Sem vocalista, acabam por conseguir com 2 guitarras, baixo e bateria proporcionar uma sólida en-volvente sonora, em que para além do peso inerente ao Doom/Sludge con-seguem de modo muito interessante englobar alguns elementos eletrónicos e melodias que dão uma atmosfera de certo modo intimista e até psicadélica que não deixaram indiferente os pre-sentes na assistência. Após cada tema, os aplausos lá estavam e não eram apenas de circunstância. Penso que a

SETLIST:Process of Guilt1. Empire2. Blindfold3. Lava4. Harvest5. Cleanse6. Fæmin

Process of Guilt

Process of Guilt

Joseph

Page 98: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

as suas bojardas de Death Metal. A banda teve tempo para preparar um set que percorreu os seus trabalhos, e pelo qual provou que a banda está melhor que nunca, o que fez com que o recinto fosse enchendo progressi-vamente. Depois do intervalo eis que surgem os Cannibal Corpse, que abriu a segunda parte com “Dement-ed agression”, prometendo brutali-dade sem reservas durante a próxima hora e meia, dando continuidade ao mosh pit que os Grog provocaram. A banda mostrou-se bastante bem, sem qualquer falha a apontar, mas no fi-nal ficou a sensação que o concerto poderia ter sido melhor. Pairou no ar uma certa monotonia devido à falta de animação. A banda poderia ter sido mais enérgica. Além disso, não houve qualquer projeção de imagens nem de vídeos, o que piorou ainda mais a situ-ação. Contudo, a música por si só foi

excelente, ou não tivessem sido soltos bestas como “Evisceration plague”, “I will kill you”, “Hammer smashed face”, e para finalizar a sempre bem vinda “Stripped, raped and strangled”! Os Hunted Scriptum tiveram o azar de encontrar uma sala quase vazia, e tiveram a difícil tarefa de erguer os ânimos após o concerto do suposto cabeça de cartaz. Apresentando uma estética arrojada, vestidos de médico e mesmo com camisas de força, a banda conseguiu, ainda assim, mostrar um Death Metal interessante. A primeira noite do SWR Porto Hard 2012 ter-minou assim, com brutalidade tal como a conhecemos, mas com falta de algo mais para além dessa mesma – a tal animação para encher os olhos e os ânimos. Fica a nota para o futuro.

Reportagem: Victor HugoFotografia: Eduardo Ramalhadeiro

GROG + CANNIBAL CORPSE + HUNTED SCRIPTUMHard Club - Porto17.06.2012

Brutalidade Cannibal

Chegados ao recinto deparámo-nos com algum pessoal e muito álcool. Al-iás, a cerveja e o Jack Daniel’s foram os ingredientes que se juntaram ao Portu-gal vs. Holanda, e que por acaso, mais tarde, se iriam juntar a um concerto da tão esperada banda norte americana, os Cannibal Corpse. Devido ao fute-bol os concertos foram propositada-mente atrasados, e o alinhamento das bandas foi alterado. De maneira que a abertura ficou a cargo dos Grog. Perante uma plateia já bastante aque-cida, os Grog não tiveram dificul-dade nenhuma em incendia-la com

Cannibal Corpse

Cannibal Corpse Grog

Page 99: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

Altus, precisamente, um dos guitar-ristas que tocaria mais tarde com os Exodus. Por esta altura a sala já es-tava mais composta e suficientemente quente para receber os Death Angel. Que magnífico concerto! O set list foi absolutamente... fantástico. Ora bem, os Death Angel estão a comemorar 25 anos do lançamento do soberbo e ál-bum referência da banda: «The Ultra-Violence». Este foi tocado na íntegra e os músicos entregaram-se de “corpo e alma” elevando a “temperatura” am-biente para valores escaldantes. O en-core foi feito com os temas “Truce” e “Thrown to the wolves”. O Mosh e o surf crowd já estavam quase no máx-imo. Não me atrevo a escrever mais nada a não ser que o preço do bilhete já estava mais que pago! Ah... o baix-ista é um animal no palco!!! Um con-certo de arrasar! Mas como é óbvio a malta estava lá para ver a banda da noite: Exodus! A sala já estava quase lotada e a “guerra” começou ao som de “Last act of defiance”. Rob Dukes é um autêntico animal no palco, desde o primeiro minuto sempre a incitar ao mosh. O público não se fez rogado e ofereceu aos Exodus um curso na arte de bem moshar! O diálogo que Rob manteve com o público foi constante em todos os temas, inclusive, passar o microfone para a malta do publico cantar, algo que me agrada numa ban-da e num frontman; simplesmente, não se limitam a despejar os temas e a arrumar com o assunto. Três factos a reter: 1 – Gary Holt um dos membros fundadores da banda está a preench-er a vaga nos Slayer enquanto Jeff Hanneman recupera de doença. Para

colmatar esta ausência foi chamado Rick Hunolt, que já fez parte dos Ex-odus nas décadas de 80 e 90. 2 – Na sequência do diálogo que Rob man-tinha com a audiência, ficámos a saber que alguns deles beberam mais que o devido, com especial relevância para o baixista Jack Gibson – Está aqui o motivo mais que justificado para uma noite algo parado em cima do palco. Momento alto da noite no que diz res-peito ao humor! 3 – Tom Hunting que nas palavras de Rob é um dos mel-hores bateristas de Thrash (não podia estar mais de acordo) é um autêntico animal... poder, força e técnica! Falta só falar de Lee Altus, que 1 hora an-tes esteve a tocar com os Heathen foi, como todos os outros sublime. A in-teração com o publico atingiu o ponto alto quando os “tugas” foram pica-dos por Rob. Disse ele que no con-certo anterior em Madrid, houve pelo menos 1 pessoa que tinha feito stage diving. Pois, a malta não se fez rog-ada e contei umas 10 as vezes que a malta subiu ao palco. Espero que Rob tenha aprendido a lição e não volte a comprar os “tugas” com nuestros hermanos. Para o fim, ficou o melhor! O ponto alto da noite, algo que eu não pensaria ser capaz de acontecer: Ao som de “Strike of the beast” Rob “organizou um Wall Of Death – para quem não souber de que se trata, faça uma rápida pesquisa no youtube – o público guardou uma réstia de força, esqueceu o cansaço e deu tudo o que tinha no MOOOOOOOOOOOSH!!

Fotos e reportagem: Eduardo Ramalhadeiro

EXODUS + DEATH ANGEL + HEATHEN + SUICIDAL AN-GELSHard Club - Porto18.06.2012

MOOOOOOOOSH!!!

Vou já passar para a conclusão: Foi das melhores noites que vivi no Hard Club! Som excelente, Thrash Metal el-evado ao expoente máximo do mosh, stage diving, headbanging e surf crowd. Esta noite deu para tudo isto! Apesar de estarem previstas 3 ban-das, houve a atuação não prevista dos Heathen. A noite começou com os Suicidal Angels que deram um bom concerto e “amornaram” o ambiente. Por esta altura a sala ainda estava sen-sivelmente a meio. Os Suicidal Angels tocaram alguns temas do último ál-bum «Bloodbath»: no tema “Moshing crew” foi feito um mini Wall of Death e por lá passaram também “Blood-bath”, “Face of god” e “Bleeding holocaust” do álbum de 2006, «Dead Again». Já com a “temperatura” a sub-ir foi a vez dos Heathen subirem ao palco. Estes Americanos de São Fran-cisco, mantiveram a mesma onda do Suicidal Angels. Houve na assistência quem tivesse desapontado com a atu-ação – não achei. Os Heathen contam no seu historial com 3 álbuns e tocar-am temas de todos. Destaco: “Open the grave”, “Hypnotized”, “Dying season” e o ponto alto da noite “No stone unturned”, um épico de 11:10 tocado sem falhas! De referir que um dos fundadores dos Heathen é Lee

Exodus

Page 100: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

Death Angel

Suicidal Angels Heathen

Exodus Exodus

Death Angel

Page 101: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

nervosismo apresentou uma sonori-dade atraente, distante do boom Metal Core e mais próximo de um Thrash/Sludge groovy com toques melódi-cos. No final ficaram os parabéns à banda. Logo depois eis que começam a tocar os já conhecidos Motim, que mais uma vez estão a promover o seu álbum mais recente, “Them Killing Wolves”. A prestação foi boa, com o seu Hardcore duro e contagiante. Mas notava-se que o público estava um pouco “adormecido” desde o iní-cio do espetáculo. A banda esforçou-se para animar a malta, e esta lá foi acordada com ajuda de alguns que se começaram a mexer e a provo-car movimento na inércia. Ao longo do concerto vou dando conta que o Zyon deverá ter um demónio dentro dele que se quer soltar – os gritos e os grunhidos que saem do corpo dele são impressionantes! De seguida deu-se lugar aos já respeitados The Last Of Them. E se com os Motim o peso veio ao de cima, com os The Last Of Them ele transbordou. Estes tipos parecem estar cada vez melhor, e a sua música bastante fresca. Aproveitaram para tocar temas do seu novo álbum que sairá futuramente, com o objetivo de verificar como eles funcionam ao

vivo – e funcionam muito bem! Músi-cas muito boas e com detalhes de gui-tarra estupendos fizeram as delicias dos mais atentos. Toda a banda estava em forma, incluindo o frontman Zé Luís que mostrou uma performance vocal extraordinária. Por último eis que surgem os Beautiful Venom. Com o “An Endless Endeavor” ainda para promover e gerar muitos concer-tos, a banda mostrou mais uma vez o seu Rock/Metal com rasgos de melo-dia, bastante balanceado e enérgico. Sem dúvida que o povo presente se poria todo aos pulinhos. Com a saída do Cláudio, as vozes ficaram a cargo do Danny Mota, guitarrista/vocalista dos Motim – e ficaram bem entregues. Por fim há que enaltecer o trabalho da banda que mereceu uma Tour pela Europa na segunda metade de Julho. A Euro Tour, igualmente organizada e promovida pela DNA Agency, vai correr cidades de Espanha, França, Alemanha, Holanda e Bélgica, inician-do, claro está, com duas datas em Por-tugal – Figueira da Foz e Porto. Fãs, estejam atentos e façam as malas!

Reportagem: Victor HugoFotografia: Vanessa Ribeiro

PRIMAL CORE + MOTIM + THE LAST OF THEM + BEAUTIFUL VENOMBar do Estudante (BE) - Aveiro29.06.2012

“Cromossomas do Metal”

O Bar do Estudante (BE) foi nova-mente palco para uma noite de Metal cá da zona, mais uma boa forma de promover as bandas locais e mostrar do que elas são capazes. Organizado e promovido pela DNA Agency, o even-to decorreu sem grandes problemas relevantes, tirando o normal atraso e algumas falhas técnicas no inicio do espetáculo. Mas fica já a nota que para uma estreia da DNA Agency, o balan-ço é positivo! Assim, a abrir estiveram os Primal Core, banda da Gafanha da Nazaré, que, como já referi, tiver-am uns problemas técnicos no início, os quais foram resolvidos com faci-lidade. Entretanto o Luís Santos, vo-calista, conseguiu animar o povo com algumas piadas – só para manter os ânimos. O som esteve muito porreiro, e a banda mesmo mostrando algum

Beautiful Venom

The Last Of Them Motim Primal Core

Page 102: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

reflexões musicais

dico

Ao vivoDesde tenra idade, o som que mais me apaixona é o de milhares de fãs gritando e cantando em delírio num concerto. Adoro ouvir, viver, sentir e fazer parte desse ambiente. Por vezes, nos espetáculos mais intensos, calo-me nos intervalos das músicas para ouvir o públi-co. Esta enorme paixão pelo clamor dos fãs remonta à primeira vez que escutei um álbum ao vivo – Live Kill-ers, dos Queen. Muitos outros se lhe seguiram: Live Af-ter Death (Iron Maiden), World Wide Live (Scorpions), Strangers in the Night (UFO), Made in Japan (Deep Purple), Live…in the Raw (W.A.S.P.), Live – January 1973 (Uriah Heep) e The Eagle Has Landed foram os mais influentes nos meus primeiros anos enquanto fã de Metal. Ainda hoje o são.Aos 13 anos já a minha banda imaginária – os Iron Skull, cuja designação era uma homenagem aos Iron Maiden – havia registado vários álbuns (igualmente fictícios, como é óbvio). Sendo alguns de “estúdio”, a maioria era “ao vivo”. Recordo-me de passar tardes in-teiras a fazer gravações “live” num pequeno gravador de cassetes. Com um tom de voz abafado tentava repro-duzir o som de milhares de fãs em êxtase. Numa fase posterior misturava diversos minutos seguidos do som da multidão, que retirava dos LP’s ao vivo que possuía. Era mais…”autêntico”! Dessa forma, os “álbuns “ao vivo” dos Iron Skull revestiam-se de maior genuinidade.As “performances” eram simples: com duas colheres de pau viradas ao contrário “tocava bateria” nas caixas tupperware da minha mãe, devidamente fechadas mas com ar dentro, de forma a inflarem a tampa, gerando assim maior nível de ruído (só aos 18 anos compraria o meu primeiro kit real). Simultaneamente cantava letras em inglês e em português da minha autoria redigidas numa velha máquina de escrever.

Lembro-me que, por razões óbvias, a letra de «Alta Foda Infernal», “clássico” maior dos Iron Skull, fazia furor en-tre os meus colegas de escola, que nos intervalos das aulas me pediam insistentemente para a cantar. Por vezes, nas gravações, alternava entre os tupperwares e a viola clás-sica da minha irmã, com cordas de nylon, imitando a dis-torção de uma guitarra elétrica através da voz. Não sabia tocar uma nota, mas assim os “discos ao vivo” dos Iron Skull tornavam-se mais dinâmicos.Quando assisti ao meu primeiro concerto – dos Iron Maid-en com primeira parte dos W.A.S.P. em Cascais – o amor pelo rugir do público tornou-se algo de absolutamente transcendental. Assistir in loco a dois espetáculos em simultâneo – o das bandas e o do público – influenciou-me de forma avassaladora. Gritar a plenos pulmões durante horas, deixar-me arrebatar pelo ambiente inigualável que se viva em cada concerto no velho pavilhão do Grupo De-sportivo e Dramático de Cascais era algo mágico, impos-sível de descrever.Os raros espetáculos de grandes bandas estrangeiras reali-zados em Portugal nos anos 80 e primeira metade dos anos 90 determinaram as receções absolutamente memoráveis de que as mesmas gozavam nas suas deslocações ao país. As letras eram cantadas (gritadas) de cor, em uníssono, muitas vezes abafando os próprios vocalistas. Na primeira deslocação dos Slayer a Portugal, em 1994, após o final do primeiro tema, «Divine Intervention», o vocalista/baixista Tom Araya ficou extasiado, observando durante longo tempo um público delirante. Hoje a oferta de concertos é avassaladora o que, com-preensivelmente, se reflete no calor da receção às bandas. Em muitos casos as palminhas ordeiras e sem convicção substituíram os gritos emocionados. Mas se um público menos caloroso é a contrapartida para uma maior oferta de concertos, apesar de tudo aceito a troca!P.S. – Este é o último texto da rubrica Reflexões Musicais. Um ambicioso projeto que me encontro a desenvolver no âmbito do Underground impede-me de prosseguir a co-laboração na Versus, com muita pena minha. Estes anos foram fantásticos. Muito obrigado por tudo aos meus lei-tores e colegas de revista. Até sempre.

Dico

Texto redigido ao abrigo do novo Acordo ortográfico

Page 103: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

Liberdade de Expressão“Música”, “diversão”, “entretenimento”. São palavras que podem ser usadas na definição de “concerto”. “Mosh”, “headbang”, “entreajuda”. Palavras utilizadas se quiser-mos definir um concerto de sonoridades um tanto mais pesadas. “Desrespeito”, “agressão”, “caos”. Três palavrin-has que podem passar pela cabeça de certos indivíduos quando tentam definir “diversão” e “liberdade de ex-pressão”. No entanto, estes últimos regem-se pela falta de educação, e desculpam-se como estando “a viver o momento”. Há dias, assisti a um concerto, momento de diversão portanto, e tudo corria bem entre público e artistas. O público gritava eufórico e tentava cantarolar por vezes, havia um mosh incansável agitado apenas por quatro ou cinco companheiros de bebida. Era uma ótima noite quente, com bebida fresca, e música pesa-da. Depois de um ou outro pequeno desacato criou-se um pouco de confusão, esta mais alarmante, um grupo de espectadores decidiu que talvez o vocalista da banda que atuava não necessitasse do seu microfone e con-seguiu retirá-lo ao mesmo, também chegaram à con-clusão de que o palco poderia estar demasiado ilumina-do e tentaram mandar abaixo uma das torres de luzes, caso não tivesse sido os membros da equipa de som a dar conta do sucedido esta torre teria decerto caído em cima de alguns dos inocentes que apenas queriam ver o concerto, causando assim danos humanos e materiais. Ora após este episódio, que entretanto envolveu mais indivíduos e se prolongou por mais alguma confusão, discutia eu e um amigo acerca do que se passara, na esperança de tentar compreender a razão de tais ações, quando se juntam mais pessoas a nós e uma delas de-clara relaxadamente “Isto é perfeitamente normal. O pessoal vem aqui para se divertir e libertar o stresse, e é esta a forma com a qual se sentem confortáveis a fazê-lo”. E tendo estas palavras como ponto central deste artigo, passo então a expressar a minha confusão, e descontentamento, em como se pode chamar diversão ao desrespeito pelo trabalho dos outros. Há alturas em

que a destruição de tudo o que nos rodeia parece ser a forma mais eficaz de nos sentirmos bem, compreendo e concordo, no entanto, não é algo que façamos, pois sabemos que isso nos trará consequências negativas; por outro lado, se estivermos num local cheio de pes-soas, em que há uma espécie de anarquia controlada instalada devido à “música ambiente”, podemos então dar cabo de tudo sem termos de nos preocupar? E com a desculpa de que estamos a “viver o momento”? A “descomprimir”? Não são nem desculpas, nem razões para agir de tal forma. Ações de tal índole apenas ali-mentam os estereótipos de que quem gosta de Metal é agressivo, desrespeitoso e procura criar o caos e incitar ao ódio em toda a área circundante. É por estas e por outras que o “metaleiro”, o “punk”, o “gótico”, e por aí fora, são olhados de lado, postos de parte, e pura e sim-plesmente discriminados. Não se compreende, como alguém pode tomar posições a favor do descabeche e do deboche e, alto e bom som, proclamar que está a “viver à verdadeira maneira do rock’n’roll”. Há que mostrar que esta extremidade do espectro musical, assim como os seus simpatizantes, conseguem ser pessoas amáveis, simpáticas e prontas à entreajuda, exemplo disso são os próprios “moshes”, que de fora podem parecer como uma espécie de ritual para que “animais batalhem entre si”, mas que, quando vistos de dentro, mostram o es-pírito de união que naquele momento se cria.

Daniel Guerreiro

Page 104: Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

facebook.com/[email protected]