universidade de brasília - ufrgs.br · É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral...
TRANSCRIPT
Universidade de Brasília
Centro de Educação à Distância
Programa de Capacitação Continuada do Mistério do Esporte Curso de Especialização de Esporte Escolar
DÉBORA DUTRA DA SILVA
ESTUDO SOBRE PROGRAMA “SEGUNDO TEMPO”
COMO ESTRATÉGIA DE RESSOCIALIZAÇÃO DE MENORES INTERNOS DO CAJE/DF
Brasília
2007
ii
DÉBORA DUTRA DA SILVA
ESTUDO SOBRE PROGRAMA “SEGUNDO TEMPO”
COMO ESTRATÉGIA DE RESSOCIALIZAÇÃO DE MENORES INTERNOS DO
CAJE/DF
Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar. Orientadora: Profª. Maria Emília Gonzaga de Souza
Brasília
2007
iii
Dutra da Silva , Débora
Estudo sobre o programa” Segundo Tempo” Como Estratégia de ressocialização de menores internos
do CAJE/ DF .Brasília, 2007.
(Nº de páginas, ex:) 55 p.
Monografia (Especialização) – Universidade de Brasília. Centro de Ensino a Distância, 2007.
1. Programa Segundo Tempo 2. Estratégia de ressocialização 3. CAJE.
iv
DÉBORA DUTRA DA SILVA
ESTUDO SOBRE PROGRAMA “SEGUNDO TEMPO”
COMO ESTRATÉGIA DE RESSOCIALIZAÇÃO DE MENORES INTERNOS DO
CAJE/DF
Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar pela Comissão formada pelos professores:
Presidente: Professora Mestra Maria Emília Gonzaga de Souza
UnB
Membro: Professor Mestre Marcelo de Brito
Brasília, 18 de agosto de 2007.
v
A Deus e a Nossa Senhora. A minha família, pelo carinho. Aos meus amigos Flávia, Andréa Vieira, Juliano, João Felipe, Kelsen e Iza pelo incentivo constante.
vi
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a todos aqueles que, direta ou indiretamente contribuíram
para a elaboração desta monografia o professor do Centro de Atendimento Juvenil
(CAJE) Especializado Augusto Fuzo e o encarregado de Disciplina Delton Pereira,
Sally e aos demais profissionais do CAJE.
Em especial a professora Maria Emília pelo apoio e orientação.
vii
“[...] Viver sem uma fé, sem um patrimônio para defender, sem sustentar a verdade numa luta contínua, não é viver, mas fingir que se vive”.
Beato Jorge Frassati
viii
RESUMO
A presente monografia teve como objeto de estudo o programa “Segundo
Tempo” enquanto estratégia para a ressocialização de menores internos do
Centro de Atendimento Juvenil (CAJE). Para melhor aprofundamento da temática
foram aplicados questionários aos internos da instituição e aos professores que
trabalham com esportes. O estudo permitiu elaborar algumas considerações
acerca da importância do esporte na instituição, que não só contribui para passar
o tempo, como fazer amigos, e aprender regras como ganhar e perder. Neste
contexto a presente pesquisa teve como objetivo discutir a possibilidade de
reinserção social do jovem em conflito com a lei através das atividades
esportivas.
PALAVRAS-CHAVE: violência, esporte, educação, ressocialização de jovens
infratores.
9
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................... 10
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA................................................................. 13
2.1 Definição de Violência ......... .............................................................. ......... 13
2.2. O esporte e a sua contribuição na superação da violência infanto-juvenil ...................... 15 2.3. O CAJE e a trajetória do Programa Segundo Tempo (PST) dentro dessa instituição................ 16
2.4. Sugestões de medidas auxiliares no problema da violência dos alunos do PST do CAJE..... 19
3. MÉTODOLOGIA....................................................................................... 21
3.1 Sujeito............................................................................................................................................ 21
3.2. Instrumento de coleta de dados.................................................................................................. 22
4.RESULTADOS E DISCUSSÃO..................................................................... 22
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS (OU CONCLUSÃO)........................................ 31
6.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................32
APÊNDICES E ANEXOS............................................................................. 34
10
1 INTRODUÇÃO
O interesse pelo tema referido surgiu a partir de uma vivência na
Faculdade de Educação na Universidade de Brasília, onde me formei em
Pedagogia. Tivemos a oportunidade de participar de uma palestra acerca de
menores infratores, ministrada pela Delegada da Delegacia da Criança e do
Adolescente (DCA). Foi quando percebi que a maioria das educadoras não
acreditava na recuperação por meio da educação e chegava até mesmo a comentar
que os jovens deveriam “morrer na cadeia”.
Acredito como Pedagoga, que a partir da relação estabelecida com os
alunos menores infratores utilizando-se a educação pelo esporte é possível diminuir
a violência, já que estes têm sentimento, sofrem, ficam felizes e necessitam, mais do
que a maioria das pessoas, de atenção, cuidados pessoais, sociais, cognitivos e
afetivos.
Escrever sobre os jovens infratores sempre me pareceu muito distante,
por medo e falta de oportunidade. Mesmo já tendo me formado não imaginava ter
essa oportunidade de aperfeiçoar minha formação, o que estou tendo através da
capacitação do Curso de Educação à Distância oferecida pelo Programa Segundo
Tempo, realizado em parceria com a Fundação Universidade de Brasília.
Tinha o desejo de conhecer suas vidas, sua maneira de pensar e agir, e
riscos na vida. Porque creio que com educação, amor e capacidade de compreender
as necessidades, limitações, problemas, dores e angústias dos que estão à nossa
volta somos capazes de amenizar a violência em nosso mundo. É necessário
conhecer o aluno. Tudo o que diz respeito ao aluno deve ser de interesse do
professor.
A alma de qualquer instituição de ensino é o professor. Por mais que se
invista na equipagem das escolas, em laboratórios, bibliotecas, anfiteatros, quadras
esportivas, piscinas, campos de futebol - sem negar a importância de todo esse
instrumental - tudo isso não se configura mais do que aspectos materiais se
comparado ao papel e à importância do professor.
11
O professor tem de quebrar barreiras e trabalhar suas limitações e as dos
alunos. Muitas vezes a melhor forma de demonstrar afeto por um aluno é saber
dizer-lhe não na hora certa.
Descobri com os meus alunos do Programa Segundo Tempo que somos
capazes de mobilizar partes da sociedade para a formação de redes em prol de uma
infância mais justa e uma educação de qualidade.
Logo após uma Reciclagem oferecida pela Universidade de Brasília na
Faculdade UNIP (Universidade Paulista) tivemos a iniciativa de convidar outros
profissionais para participar das atividades tais como: Policial Escolar, Bombeiros,
Médicos e alunos da Universidade de Brasília dos cursos de Psicologia e Ciência
Política.
A partir daí tivemos uma motivação para ir “além de nossas funções”
oferecendo um envolvimento com ambientes culturais (exposição de artes, dança,
teatro, cinema, circo), o que proporcionou, também, o resgate de brincadeiras
antigas, como bolinha de gude, pique- pega, pique alto, pipa, elástico.
Muitas atividades eram realizadas utilizando-se recursos próprios, já que
grande parte dos alunos morava na Comunidade Vila Telebrasília, um bairro de
Brasília com moradores de baixa renda, não tendo assim possibilidade de contribuir
com os trabalhos.
É preciso contextualizar que quando comecei a pesquisa de campo o
núcleo onde eu trabalhava A.S. P (Ação Social do Planalto) como Pedagoga não
teve seu convênio renovado.
Os educadores deixaram de ser meros transmissores de conhecimento
para se tornarem mediadores do processo de constituição de conceitos,
conhecimentos e valores éticos, morais e algumas vezes religiosos que contribuem
para refrear comportamentos sociais reprováveis e amenizar a agressão e a
violência.
Para garantir os direitos das crianças e dos adolescentes, não poderia
deixar de citar as mudanças na legislação.
12
Até muito recentemente, não havia, na legislação brasileira, instrumentos
jurídicos que apresentassem os deveres do Estado em relação à infância e à
adolescência.
A legislação que diz respeito aos assuntos da infância e juventude
brasileira tomou outros rumos após a promulgação do Estatuto da Criança e do
Adolescente. O artigo 4º do Estatuto parece ser o mais completo para definir o que
vem a ser o sistema de garantias de diretos previstos:
É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, a dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.
Isto já constava no texto da Constituição Federal de 1988, em seu artigo
227, afirmando a responsabilidade da família, da sociedade e do Estado na garantia
desses direitos, com absoluta prioridade, com força de lei.
Ainda que seja uma lei considerada modelo internacionalmente, ela não foi
efetivamente implantada no Brasil. Pois grande da parte da população e
principalmente das crianças e adolescentes encontram-se em estado de pobreza,
com os problemas sociais emergindo em todos os sentidos.
Essas mudanças visam superar os preconceitos em torno das crianças e
adolescentes pobres e marginalizados, objetos privilegiados das ações vinculadas
ao Código anterior.
Cumpre ressaltar que alguns dos avanços e conquistas, após o Estatuto
da Criança e do Adolescente – ECA, em 13 de julho de 1990, é: a criação dos
Conselhos Tutelares; dos Conselhos Municipais dos Direitos das Crianças e dos
Adolescentes – CMDCAs; das Conferências dos Direitos das Crianças e dos
Adolescentes (realizadas a cada dois anos a nível municipal, regional, estadual e
federal); e todo um aparato que fiscaliza o funcionamento das instituições sociais e
das políticas.
É tarefa de todos transporem essas medidas do papel para a realidade, de
modo que criem impacto efetivo na qualidade de vida e perspectiva de futuro dos
jovens e adolescentes. Para readaptar o sentenciado ao meio social
13
proporcionando-lhe condição para a sua harmônica integração social, significa em
última análise ressocialização, reeducação, reinserção social de quem cumprindo
pena ou medida privativa de liberdade no cárcere, recebeu (ou deveria haver
recebido) do Estado oportunidades de aprendizado para viver em sociedade com
respeito às normas vigorantes.
Objetivo Geral:
Analisar a importância do Programa Segundo Tempo para a diminuição da violência
no CAJE.
Objetivos específicos:
• Identificar e descrever as estratégias para a diminuição da violência através do esporte
• Verificar a trajetória do PST dentro do CAJE
• Verificar a eficácia do programa segundo tempo em atingir seus intentos estatutários
2 Referencial Teórico
2.1- Definição de Violência
A violência é o emprego desejado de agressividade com fins destrutivos.
Agressões físicas, brigas, conflitos podem ser expressões de agressividade humana,
mas não necessariamente expressões de violência. Podemos ver a agressão como
um comportamento que trazemos dentro de nós desde o nosso nascimento.
(FREIRE, 1989).
Segundo o dicionário Aurélio agressividade é: “1 - Qualidade de agressivo.
2 - Disposição para agredir. 3 - Dinamismo, atividade, energia, força. 4 - Disposição
para o desencadeamento de conduta hostil, destrutivo fixado e alimentado pelo
acumulo de experiências frustradoras”. E hostil quer dizer: “1 - Contrário, adverso,
inimigo. 2 – Agressivo provocante”.
Neste sentido, a marca constitutiva da violência seria a tendência à
destruição do outro, ao desrespeito e à negação do outro, podendo a ação situar-se
14
no plano físico, psicológico ou ético. Possui diversas formas de expressões
determinadas pela cultura, conceitos e valores utilizados por um povo.
A violência é, portanto, um meio de que se vale aquele que a emprega,
para auferir algo, para garantir um interesse, que, de outra forma, não teria como
alcançar.
As raízes da violência no Brasil encontram-se, principalmente, na
precariedade da educação, tanto formal quanto familiar. No entanto, a aplicação de
recursos concentra-se mais em ações corretivas do que preventivas. “Não dá para
dizer que o alto índice de vítimas da violência entre jovens no Brasil seja
conseqüência apenas da falta de escolaridade da população ou das dificuldades
econômicas e sociais enfrentadas pelo país” (Waiselfisk, 2004). Mas um dos motivos
é, sem dúvida, a falta de perspectivas de futuro na população jovem e dos bens
culturais e de lazer.
A vida na infração, que gera um ganho fácil, sem muito trabalho, tem
atraído cada vez mais os jovens para o crime, que desejam usufruir os bens
produzidos pela sociedade de consumo.
O ato de violência vem atingindo, indistintamente, todos os grupos sociais,
instituições e faixas etárias, na qual os indivíduos ora se apresentam como vítimas,
ora como agressores. No enfrentamento dessa situação, aliam-se governo e
organizações da sociedade civil.
.De alguma forma, precisamos enfrentar a violência através do
pensamento, da prática, da educação. A arte, cultura e esporte são atividades
complementares à formação do individuo visando o pleno desenvolvimento,
contribuindo para valores positivos, para um reencontro sobre a vida, como um
elemento estratégico para enfrentar e combater a violência que beneficiariam não
somente os jovens, mas a sociedade em geral.
As atividades esportivas e culturais podem funcionar como uma forma de
enfrentamento à violência, mas estas ações não podem isoladamente conter a
violência. Índices de violência diminuem na medida em que houver possibilidades de
aumento de investimentos e disponibilidade de atendimento de direitos como
moradia, transporte, emprego e qualificação profissional.
15
.
2.2. O esporte e a sua contribuição na superação da violência infanto-juvenil
De que modo a aprendizagem, no que se refere às atividades de Educação
Física, poderá auxiliar o menor carente, trabalhando essa agressividade?
Educar não se limita a repassar informações ou mostrar apenas um
caminho, aquele que o professor considera o mais correto, mas é ajudar a pessoa a
tomar consciência de si mesma, dos outros e da sociedade É oferecer várias
ferramentas para que a pessoa possa escolher dentre várias opções, aquele que for
compatível com seus valores, sua visão de mundo e com as circunstâncias adversas
que cada um irá encontrar.
Segundo Volpi (1997, p.31) um dos princípios pedagógicos norteadores da
organização da vida cotidiana é:
O papel das atividades é educar para o exercício de cidadania e não meramente ocupar o tempo e gastar a energia dos internos. Assim, a realização de atividades lúdicas, culturais, esportivas deve ser considerada conteúdo fundamental do processo educacional e não instrumento de preenchimento do tempo ocioso.
O esporte, se ministrado de forma correta, procura mostrar novos valores
para os alunos, não se preocupa só com a parte física, técnica e tática do jogo, mas
tenta mostrar aspectos éticos e de interação com o outro. Aliado à arte e a cultura,
tornam-se contrários à violência, aparecendo como um contraponto e elementos
estratégicos para enfrentar e combatê-la.
FEIO (1989) afirma que o espírito esportivo conduz à disciplina, ao respeito
ao adversário, a solidariedade, à tolerância, a liberdade e a democracia, deixa a
possibilidade de estender-se este seu entendimento ao conceito mais amplo de
esporte, compreendendo desde o escolar até o talento esportivo, passando pelo
direito de todos às práticas esportivas.
Por isso que as "competições" com o objetivo educacional devem ser
muito bem monitoradas por professores bem qualificados. Por isso que o desporto
educacional tem por finalidade o desenvolvimento e a formação do indivíduo como
cidadão e não como atleta é preparar a criança e o jovem para a vida esportiva
como forma de sociabilidade.
16
Deve ser oferecido a todos os alunos, em todas as faixas etárias, numa
perspectiva de inclusão, evitando a seletividade e a hipercompetitividade, com
atividades adaptadas a sua condição física e mental, com regras que destaquem o
caráter formativo do desporto em todas as suas manifestações.
Ademais a característica interdisciplinar da Educação Física, propiciar a
integração com as demais áreas de ensino, com vistas a favorecer o
desenvolvimento diversificado, harmonioso e completo do ser humano.
O esporte promove o trabalho em equipe, a amizade e o jogo limpo, une
as pessoas, ensina crianças e adolescentes a ganhar e a perder, canaliza a energia
de meninas e meninos, desenvolve mentes ágeis e corpos fortes, ensina técnicas de
liderança, rompe com os estereótipos de gênero, atrai crianças e adolescentes à
escola e, conseqüentemente, à educação. (UNICEF, Dia Internacional da Criança no
Rádio e na TV, 2005)
2.3 O CAJE e a trajetória do Programa Segundo Tempo (PST) dentro dessa instituição
O Centro de Atendimento Juvenil Especializado (CAJE) do Distrito Federal
é o lugar onde se cumpre o artigo 121 do Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA). Tem capacidade de aproximadamente 240 adolescentes, em fevereiro de
2007 a quantidade de jovens era de aproximadamente 250 incluindo sentenciados,
provisórios, internação- sanção e per noites.
A internação é a sexta e última medida prevista para os jovens infratores,
não sendo aprovada para crimes como pequenos roubos. No CAJE estão os jovens
que cometeram assassinatos, estupros, roubos seguidos de morte e tráfico de
drogas.
Os alunos do CAJE têm como característica principal a sua clientela ímpar
composta de adolescentes privados de liberdade.
Para os internos, existem horários específicos e um programa de
atividades que são um direito. As atividades realizadas são Educação de Jovens e
Adultos ( EJA), ensino profissionalizante nas diversas oficinas (informática, mecânica
de automóveis, serigrafia, reciclagem de papéis, marcenaria, estofaria, panificação,
artes múltiplas, horta, grafite, atendimentos técnicos com psicólogos e assistentes
sócias, atividades esportivas/ recreativas pelos professores de educação física e
17
instrutores da “escolinha de futebol”, além de atividades extras como teatro, circo,
bandas de música.
É importante ressaltar que o programa Segundo Tempo começou em
janeiro de 2005 e o convênio não foi renovado com o Ministério dos Esportes desde
junho de 2006.
São cinco profissionais que trabalham com esporte no CAJE, dois
professores de educação física, dois instrutores e um coordenador. As atividades
esportivas são realizadas três vezes por semana, dois horários de noventa minutos e
todos os adolescentes participam. As atividades esportivas são: futebol, futsal,
recreação na piscina, capoeira, jiu-jitsu e xadrez.
Existe no ECA um artigo que fala do direito ao esporte: artigo 71. A criança
e o adolescente têm direito a informação, cultura, lazer, esportes, diversões,
espetáculos e produtos e serviços que respeitam sua condição peculiar de pessoa
em desenvolvimento.
É verdade que, ao criar as medidas sócio-educativas, o legislador tentou
dar um tratamento diferenciado aos menores em vez de proteger a sociedade dos
menores infratores, propõe-se a garantir a proteção à criança e ao adolescente na
condição de seres em desenvolvimento. Nessa linha, as medidas deveriam ser
aplicadas para recuperar e reintegrar o jovem à comunidade, o que lamentavelmente
não ocorre.
Esses passam a ser concebidos não mais como meros objetos de
medidas judiciais e sim como pessoas de direitos.
Pode parecer estranho falar em direito à infância, já que muitos ainda
acreditam que esse direito é indissociável da condição de ser criança. Infelizmente,
esta relação entre criança e infância está, na prática, deixando de ser uma condição
natural do ser humano em desenvolvimento para se tornar cada vez mais um
distante e difícil ideal na pauta da luta global pelos direitos humanos.
No Brasil, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostragem de
Domicílios (PNAD) de 2001, cinco milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 17
anos – dos quais 45% na faixa dos 14 anos – estão trabalhando, muitos deles em
atividades ilegais e perigosas, como o tráfico de drogas e a exploração sexual
comercial.
18
Para conhecer um pouco mais sobre o que é infração ou ato infracional,
buscou- se o Estatuto da Criança e do Adolescente, que utiliza em seu texto o termo
adolescentes autores de atos infracionais. Em seu artigo 103 estabelece que:
“Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal”,
podendo ser praticado por criança ou por adolescente. No caso de crianças até 12
anos, serão aplicadas as medidas específicas de Proteção, e no caso de
adolescentes de 12 a 18 anos, as medidas sócio-educativas.
São medidas previstas no art. 101 do ECA: I- encaminhamento aos pais
ou responsável, mediante termo de responsabilidade; II- orientação, apoio e
acompanhamento temporários; III- matrícula e freqüência obrigatórias em
estabelecimento oficial de ensino fundamental; IV- inclusão em programa
comunitário ou oficial, de auxílio à família, à criança e ao adolescente; V- requisição
de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou
ambulatorial; VI- inclusão em programa oficial ou comunitário de auxilio, orientação e
tratamento a alcoólatras ou toxicômanos; VII- abrigo em entidade; VIII- colocação em
família substituta.
As medidas sócio-educativas são previstas no artigo 112 do ECA
constituem-se em um instrumento de ressocialização dos adolescentes que praticam
um ato infracional.
Readaptar o sentenciado ao meio social proporcionando-lhe condição para
a sua harmônica integração social significa em última análise ressocialização,
reeducação, reinserção social de quem cumprindo pena ou medida privativa de
liberdade no cárcere, recebeu (ou deveria haver recebido) do Estado oportunidades
de aprendizado para viver em sociedade com respeito às normas vigorantes.
Na opinião da mestra em Sociologia da UnB, Bruna Papaiz Gatti, o trabalho
no CAJE deve prever a socialização do menor. “Eles vão ter de sair um dia de lá e
na hora que eles saírem precisarão de oportunidades. Se não tiver oportunidade, se
a cabeça deles não mudar lá dentro do CAJE eles voltarão a praticar assaltos,
homicídios, latrocínios e quem vai sofrer somos nós”. (Web site)Qual? Cite em
rodapé
Desta forma é preciso que seja feito algo no sentido, senão, de resolver,
ao menos, de minimizar ao máximo esse equívoco. É necessária uma consciência
19
de que se há aumento de violência, também deve estar ocorrendo aumento da
exclusão social.
2.4 Sugestões de medidas auxiliares no problema da violência dos alunos do Programa Segundo Tempo no CAJE.
As aulas esportivas são de extrema importância para a realização da
reintegração de adolescentes cumprindo medidas sócios educativas no CAJE.
Os planejamentos desenvolvidos nas aulas oferecidas estão voltados
sempre para a formação do individuo no contexto coletivo e para a construção de
uma melhor relação corporal.
São desenvolvidas com orientação técnica, tática e física do desporto.
Visa o respeito, o saber competir de forma saudável e cidadã, lidando com a
eventual vitória ou derrota e tendo a percepção de que os erros podem ser
superados através do esforço e da cooperação mútua.
Este trabalho amplo e dinâmico tem como foco o resgate das
potencialidades de alunos com pouca aceitação por parte da sociedade, através de
incentivo ao esporte e da conscientização de que atividades físicas, quando bem
direcionadas, trazem benefícios ao corpo e à mente.
Existem inúmeros professores extremamente talentosos que, sem
aplicarem teorias, estabelecem um ótimo equilíbrio entre libido e agressividade,
amor e violência, criação e destruição, simplesmente porque sabem amar suas
crianças. Parece tão fácil, mas essa coisa de amar uma criança é a mais árdua de
todas as lições da formação de um professor ( Freire,1989).
Não há como falar de amor e altruísmo onde impera a fome e a miséria.
Acuado pelo medo e pela necessidade o homem perde sua humanidade. Nestes
momentos, a agressividade passa a ser a expressão pessoal e a única resposta
possível diante da ameaça à integridade do individuo ou do grupo ao qual ele
pertence (Dias, 1996).
Portanto, antes de um desafio profissional, estamos diante de um desafio
existencial. Estamos aptos a amar e acreditar na mudança dos menores infratores?
20
A palavra está com aqueles que, ligados à área, ainda acreditam no ser
humano. Com aqueles que ainda são capazes de ter esperança, apesar de tudo.
Devemos considerar o menor como um indivíduo com potencialidades a
serem trabalhadas para poder superar as dificuldades que o conduziram a cometer o
delito, sendo ele - quando orientado de forma condizente com suas capacidades
capaz de se reintegrar à sociedade.
Não é sensato achar que com apenas discursos e idéias sejamos capazes
de destruir o errado, o antiquado o absurdo, e substituí-los pelo certo, pelo moderno
e pelo coerente. As mudanças mais radicais não ocorrem espontaneamente, sem
resoluções. Mas é preciso, antes de tudo, se dispor a assumir um compromisso
consigo mesmo, com os outros, com o mundo e com a vida. O resto começará a
acontecer a partir daí. (Medina, João 1990)
Claro que sonhar apenas não é suficiente. É preciso agir, ter objetivos e,
sobretudo, ter finalidades. Somente um projeto, levado às suas últimas
conseqüências será capaz de mudar o destino da violência dentro e fora do CAJE.
O adolescente está em busca de filiação e de reconhecimento, tentando
encontrar desesperadamente no social o lugar que lhe foi prometido, acenado,
vendido, e que, em tantos casos, está tão inacessível.
Cárdia (1997) afirma que são indispensáveis intervenções voltadas à
contenção da violência. Seu sucesso, entretanto, reside em envolver a participação
das famílias, das entidades, da comunidade e das escolas. Para a autora, “a escola
é parte do problema e parte da solução.
As pesquisas realizadas pela UNESCO vêm mostrando que o esporte, a
música, o teatro, o circo, a dança, a comunicação e o lazer motivam e provocam
efetivamente impactos no comportamento dos jovens, da escola, da família e da
comunidade, contribuindo para o combate à violência.
TUBINO (2001) afirma que o papel do Estado cada dia mais se encaminha
para as suas responsabilidades diante do Esporte Social. Este esporte social nada
mais é de que o agrupamento das dimensões sociais esporte- educação na sua
nova concepção, e esporte participação ou lazer. Este esporte é um dever do Estado
e compreendem todos aqueles que chegaram ou ainda não chegaram ao esporte de
rendimento.
21
Ensinar a praticar esporte é preparar o aluno para executar determinadas
habilidades por meio da descoberta do prazer de se exercitar. É conscientizá-lo de
suas capacidades e limitações. O indivíduo praticante do esporte, ao mesmo tempo
em que expressa comportamento esportivos, constrói e reconstrói um universo de
valores sociais.
As pesquisas realizadas pela UNESCO vêm mostrando que o esporte, a
música, o teatro, o circo, a dança, a comunicação e o lazer motivam e provocam
efetivamente impactos no comportamento dos jovens, da escola, da família e da
comunidade, contribuindo para o combate à violência.
O Programa Segundo Tempo caracteriza-se pelo acesso a diversas
atividades e modalidades esportivas (individuais e coletivas) e ações
complementares, desenvolvidas em espaços físicos da escola ou em espaços
comunitários, tendo como enfoque principal o esporte educacional. O público-alvo
prioritário são crianças, adolescentes e jovens matriculados no Ensino Fundamental
e Médio dos estabelecimentos públicos de educação no Brasil localizado em áreas
de risco social, bem como aqueles que estão fora da escola, de forma a oportunizar
sua inclusão no ensino formal.
Com efeito, políticas que reconheçam e promovam a educação de
qualidade como um caminho que nos levará a essas transformações, bem como
práticas que valorizem e qualifiquem seus profissionais, são imprescindíveis na
construção de uma sociedade mais justa, com mais oportunidades e menos violenta.
É importante ressaltar que os professores devem assumir as
responsabilidades que lhe cabem, afinal a profissão de professor é uma profissão de
quem estuda pesquisa, debate e intervém com qualidade. Em linhas gerais, no que
se refere ao ensino do esporte, podemos afirmar que os instrutores e monitores são
professores em potencial. Devem ser estimulados ao estudo e à busca de um curso
superior ou capacitação.*
3. METODOLOGIA
Esta pesquisa é qualitativa com enfoque no estudo de caso. Teve como
objeto de estudo alunos do programa “Segundo Tempo” do CAJE e seus
professores de Educação Física.
22
3.1. Sujeitos: Foram aplicados 17 questionários com perguntas estruturadas aos
internos mais antigos do CAJE e que fazem esportes, omitimos os nomes
verdadeiros dos sujeitos que se propuseram a responder o questionário.
Como eu não teria tempo hábil para fazer a entrevista com todos os
alunos, destes dezessete foram indicados pela instituição três (3) internos com os
quais foram feitas entrevistas com perguntas semi-estruturadas individualmente. Na
instituição é necessário que sempre um funcionário nos acompanhe nas entrevistas
e na época da coleta de dados tinham ocorrido rebeliões e outras pessoas estavam
também fazendo outras pesquisas, por isso a visita era agendada com a direção.
Foram aplicados questionários aos quatro (4) professores responsáveis
pelo esporte e uma pessoa da direção.
Diante dos dados coletados passamos agora à sua análise.
3.2. Instrumento de coleta de dados: Os dados foram coletados através de entrevista semi-estruturada,
elaborada pela própria pesquisadora.
As questões formuladas no questionário procuraram abranger
basicamente a prática do esporte dentro e fora da instituição e sua importância na
vida dos internos. A última questão da entrevista em particular que é sobre profissão
teve intenção de perceber se os internos pensam em projeção, futuro, sonho através
do esporte ou por intermédio dele.
4- RESULTADOS E DISCUSSÃO
23
Optou-se por descrever as perguntas aplicadas através do questionário
(em anexo) aos alunos e analisá-las paralelamente à luz das referências
bibliográficas mencionadas anteriormente.
Algumas serão explicadas sem demonstração de gráficos, dadas a sua
importância para a compreensão do processo interno que os detentos descrevem ao
praticar esporte buscando mapear o grau de satisfação dos alunos com a atividade,
as mudanças desencadeadas em sua visão de mundo e bem estar físico e mental.
As falas dos três jovens entrevistados são apresentadas durante os
resultados.
Questão 1 - Como base nos dados apresentados percebeu-se que os esportes mais
praticados na instituição são o futebol e natação.
Questão 2- Quando perguntados sobre qual o esporte que os alunos praticavam fora do CAJE os alunos citaram com maior freqüência o futebol e capoeira.
Esportes praticados no CAJE
1210 9
3 3 3 3 2
0
17
Futebo
l de s
alão
Nataçã
o
Futebo
l
Basqu
ete
Capoe
ira
Jiu-Ji
tsu Vôlei
Futebo
l de a
reia
Esporte
Alu
nos
24
Esportes praticados fora do CAJE
117
42 2 1 1 1 1
0
17
Futebo
l
Capoe
ira
Futebo
l de s
alão
Basqu
ete
Corrida
Caratê
Kick Box
ing
Pingue
Pongu
eVôle
i
Esporte
Alu
nos
Questão 3 – Com relação a qual esporte gostariam que fosse incluído 12 alunos
disseram que estava bom, 1 aluno sugeriu Tênis de mesa,1 atletismo,1 caratê e 2
dança hip -hop. Percebemos através do grande número de alunos que os internos
acham que as modalidades oferecidas pelo PST são suficientes. Questão 4- Quando questionados, os 17 alunos responderam que gostam de
praticar esporte e que se sentem mais tranqüilos, sem stress, retira pensamentos
ruins, sentem cansaço, um atleta, sensação de liberdade, ”... parece uma terapia
aperfeiçoa conhecimento isso é muito bom”, “... sinto-me feliz, o tempo passa mais
rápido me distraio”, “... sinto prazer em jogar” é bom para o corpo. De acordo com os
dados coletados verificamos que através dos esportes os alunos vivenciam
experiências de alegria e prazer.
Questão 5- Quanto à avaliação dos professores, materiais e horários, obtivemos os
seguintes resultados: Em relação aos professores todos acham bom, adequado,
tranqüilo, gente boa, excelente, regular. É importante que o adolescente encontre na
autoridade do professor o limite da independência para que, com ajuda, possa
encontrar as respostas para suas dúvidas.
O material 15 alunos disseram que os materiais são ruins e isso se
justifica com o término do PST. Como mencionado anteriormente o Programa
Segundo Tempo encerrou-se em junho de 2006, e por essa razão não houve o
recebimento de novos materiais esportivos que eram fornecidos pelo Ministério dos
25
Esportes. Sobre o tempo de aula a metade dos alunos gostaria que aumentasse
para passar mais tempo ocupados.
AVALIAÇÃO DOS PROFESSORES
1
11
12
1 1
0
17
Excelente Bom Adequado Gente boa Tranqüilos Regular
AVALIAÇÃO DO HORÁRIO
8
1
8
0
2
4
6
8
10
12
14
16
pouco regular bom
26
Questão 6- O que os alunos gostariam que fosse mudado no programa.
Questão 7- “Em relação às aulas de esporte 16 disseram que mudaram
suas vidas, sua relação com os amigos, que ficaram mais tranqüilos: “... Alivia a
neurose da ala..”,o jeito de pensar e de agir e ”...aprendeu no jiu-jitsu, que o esporte
não é pancadaria e sim uma arte”. E 1 disse que não mudou nada. As informações
AVALIAÇ ÃO D O MATER IAL
15
1 1
0
17
M uito ruim Insufic iente Bom
O que mudariam no Programa
17
0 Mais Não Material 1tempo
precisa de mudar10 aula4
27
dos adolescentes confirmam as idéias de ROXIN (1997) que o fim ressocializador
contido na pena privativa de liberdade, é a proteção da sociedade e do indivíduo
pelo Estado buscando readaptá-lo e reintegrá-lo ao convívio social, cumprindo desta
forma com respeito ao bem estar geral e à dignidade da pessoa
humana.Percebemos através da resposta que os internos reconheceram que o
esporte mudou suas vidas, sua maneira de pensar melhorando a convivência com
os outros, acreditamos que esse é o caminho para a reinserção na sociedade.
Questão 8- Quanto à aprendizagem de regras no esporte que praticaram no PST 14
alunos afirmaram que aprenderam regras, 2 mais ou menos e 1 não.”..aprendi as
regras sei perder e ganhar não posso prejudicar ninguém, aprendi as técnicas do
futebol que não conhecia e nem jogava na rua, aprendi no CAJE”, “aprendi a
respeitar e ser respeitado”.
Percebemos que os alunos com o esporte trabalharam a interação, a
socialização e ao mesmo tempo o respeito às regras com isso diminuindo a
agressividade.
Questão 9- Com as aulas 16 alunos fizeram amizades “..trato todo mundo bem,hoje
trabalho na lanchonete”,”..melhora até com pessoa que tem guerra”.
AMIGOS
0
17
Fizeramamizades
16
Não fiz 1
Como podemos verificar no gráfico, com a necessidade dos alunos terem
que trabalhar em equipe, tiveram a oportunidade de aprender a conviver
socialmente, superando o individualismo e agressividade e com essa aproximação
criou-se um clima de amizade.
28
Questão 10- Para participar dos jogos 14 alunos tem uma equipe já formada com
quem gostam de jogar, 2 não e um ”.. jogo com qualquer um é só brincar,distrair
diversão não vale a vida.”
Como já dissemos o esporte praticado no CAJE é de forma apenas para o
lazer como integração social, onde a vitória é fator secundário há a prática do
esporte de participação e não de rendimento que tem o objetivo principal a conquista
de títulos.
Questão 11- No esporte além de técnicas aprenderam respeito, trabalhar em
equipe, bom pensamento. “... converso muito com o professor de jiu-jitsu que me dá
altos toques depois das aulas, gosto porque ele é mais vivido”. “Aprendi a perder,
perdi até o último campeonato na final.”
Voltamos a ressaltar que o esporte não deve ser praticado com o objetivo do
rendimento, mas sim para preparar a criança e o jovem para a vida esportiva como
forma de sociabilidade.
O que aprendeu com o esporte
0
17
Respeito
6
Trabalha
r em eq
uipe 6
Bom pen
samen
to 1
Controla
r ansie
dade 1
hone
stida
de1
1
perde
r 2
Questão 12 e 13- Quando saírem do CAJE 14 alunos pensam em continuar
praticando esporte no PST, sendo que 6 vão continuar jogando futebol e 3 só por
lazer “...pretendo voltar para a escolinha de futebol de Santa Maria”, ”..mente vazia é
oficina para o cão”, “quero voltar para a minha equipe se eles me quiserem ainda”.
29
Com base nos dados apresentados, percebemos que os alunos já tinham o hábito
da prática desportiva e eles percebiam os benefícios dessa atividade física.
Questão 14- Quando pergunto em relação ao futuro profissional eles demonstram
intenção nas profissões de jogador de futebol 5 deles, sendo que 1(um) respondeu:
“Queria ser jogador na infância só que passou o tempo, agora quero servir a
aeronáutica ”, 5 advogados, 3 mecânicos, 1 bancário, 2 professores de educação
física sendo que um disse “Trabalho é trabalho aceito qualquer coisa” eu perguntei
novamente, o que realmente é do seu interesse? Ele respondeu “gostaria de me
formar em Educação Física para dar aula de Jiu-jitsu”.
Com essa análise percebemos que ainda tão jovens alguns têm saudade
da infância, do tempo que já passou. Mas ainda tem sonhos com um futuro melhor,
com bons empregos e com um curso superior.
É importante ressaltar que qualquer programa esportivo deve estimular as
pessoas a buscarem satisfações na família, comunidade e na profissão. A finalidade
maior do processo educacional, inclusive daqueles privados de liberdade, deve ser a
formação para a cidadania. (Chauí, 2002)
Quando questionamos os professores do CAJE sobre a contribuição do esporte, obtivemos os seguintes resultados: contribui na formação do interno, na
diminuição do nível de stress dos alunos, disciplina corporal, respeito entre os
internos, na formação de valores básicos do cidadão, contribuindo na formação do
caráter, auto-estima, valorização da saúde e família e observam que através do
esporte principalmente o futebol muitos esquecem até da situação de sentenciados
mudando o humor. E um canal de libertação, desenvolvimento físico e mental é
principalmente, uma forma de valorização de indivíduos que precisam receber uma
nova chance por parte da sociedade.
Em janeiro sempre ocorre o campeonato interno entre os adolescentes
privados de liberdade. Esse campeonato ocorre não apenas com o objetivo de
desenvolver o aspecto físico ou simplesmente proporcionar uma atividade de lazer
para os adolescentes, mas procura abranger diversas áreas relativas à formação
integral do indivíduo. Através desses campeonatos houve uma integração e
socialização de diferentes grupos, inclusive entre alas consideradas rivais sob o
aspecto disciplinar da instituição.
30
No que se referem ao esporte (PST) os profissionais tem sugestões para a
melhoria do atendimento dos internos como ampliação das modalidades como
atletismo, calçado adequado para as atividades, construção de ginásio coberto ou
cobertura da quadra e torneios dentro e fora da instituição, aquisição de materiais
didáticos, nas mais variadas atividades e interação com outros setores do centro.
31
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS OU CONCLUSÃO
Buscou-se analisar a importância do esporte na ressocialização do menor
interno do CAJE (Centro de Atendimento Juvenil Especializado).
Através do questionário foi constatado que o esporte ensinou aos alunos:
não prejudicar ninguém, que esporte não é pancadaria, a fazer amigos, respeito,
trabalho em equipe, ficaram mais tranqüilos.
Diante dessa mudança de comportamento dos internos notou-se que o
esporte gera bem-estar social que promove a convivência respeitosa, diminuindo
assim a violência.
CASTRO (2001) considera o esporte como ferramenta pedagógica capaz
de passar as crianças e as jovens noções como disciplina, respeito, companheirismo
e responsabilidade.
Por isso percebemos a necessidade da retomada do programa para que
ajam condições do trabalho com o esporte.
O trabalho propiciou grande experiência em uma área ainda pouco
explorada pela Educação Física, o trabalho com menores infratores.
Consciente das limitações da presente pesquisa, percebemos a
necessidade de que as aulas devem ser observadas durante todas as atividades
esportivas possibilitando maior compreensão e profundidade da pratica do esporte
no CAJE. Pretendemos, em outro momento, dar continuidade a pesquisa em um
programa de mestrado pela complexidade do fenômeno da violência que exige a
ultrapassagem de simplificações e a abertura de pontos de vista que integrem
atuações oriundas de várias disciplinas, setores, instituições e comunidades. É
fundamental despertar o interesse das autoridades e da sociedade para a
necessidade de priorizar ações para a infância e adolescência, visando à real
modificação da sociedade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
32
Brasil, Estatuto da Criança e do Adolescente (2000). Brasília: Ministério da Justiça, Secretaria de Estado dos Direitos Humanos BRASIL. MINISTÉRIO DO ESPORTE. Dimensões pedagógicas do Esporte. Brasília: Universidade de Brasília/CEAD, 2004 CARDIA, Nancy. A violência urbana e escolar. IN: Guimarães, Eloísa & Paiva, Elizabeth (orgs).Violência e vida escolar. Contemporaneidade e Educação. Rio de Janeiro: IEC,a.II,n.2,2.sem,1997.
Cartas Brasileiras de Educação Física. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas: autores associados CASTRO, Mary Garcia. “Cultivando vida, desarmando violências: experiências em educação, cultura, lazer, esporte e cidadania com jovens em situações de pobreza”. UNESCO, Brasil Telecom, Fundação W. K. Kellogg, BID, 2001.
CHAUÍ, Marilena. Filosofia.1ª ed, São Paulo: Ática, 2002.
DIAS, Kátia Pereira. Educação Física x Violência. Uma abordagem de rua. Rio de Janeiro: Sprint,1996.
FEIO, N. A dimensão ética e cultural do Desporto, Ensaio sobre a multidimensionalidade do Agon Contemporâneo. IN: Desporto, ética e sociedade. Porto: Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física, Universidade do Porto, 1989. FREIRE, J.B. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da educação física. São Paulo: Scipione, 1989
MEDINA, João Paulo Subira. A Educação Física cuida do corpo e...”mente”: Base para a resolução e transformação da Educação Física/9 ed. Campinas, SP: Papirus,1990. ROXIN. Derecho penal, parte general, tomo I, fundamentos. La estructura de la teoría del delito. Traducción y notas de la 2ª ed. Alemana Diego-Manuel Luzón Peña, Miguel Díaz y García Conlledo, Javier de Vicente Remesal. Madrid: Civitas, 1ª ed.1997, 2001, p.87.
33
TUBINO, Manoel J.Gomes. Dimensões sociais do esporte/ 2. ed.revista.São Paulo: Cortez, 2001. p.36.
VOLPI, M.(org.). O adolescente e o ato infracional. Editora Cortez: São Paulo, 1997. .
*BRASIL- MINISTERIO DO ESPORTE. Esporte e sociedade/Comissão de Especialistas de Educação Física;2 ª ed. Brasília,Centro de Educação à Distância.
REFERÊNCIAS NA INTERNET
www.esporte.gov.br
www.unesco.org.br
www.unicef.org /dia internacional da criança no rádio e na Tv 2005.
http://www.unb.br/acs/bcopauta/sociologia7.htm
Artigo
KLOSS, V. “Ressocializar x Retribuir”, 25/07/2003. Disponível em
< http://www.direitonet.com.br/artigos/x/12/09/1209/ > acessado em 20/05/2007.
34
APÊNDICES E ANEXOS
QUESTIONÁRIO 1
PARA O DIRETOR DO CAJE 1) Quais são as atividades realizadas pelos internos do CAJE?
2) O centro tem capacidade para quantos adolescentes? Quantos internos têm em fevereiro de 2007?
3) Quantos profissionais trabalham com esporte no CAJE?
4) Como o esporte (Projeto Segundo Tempo) tem contribuído para a diminuição da violência entre os internos?
35
QUESTIONÁRIO 2
PARA OS PROFESSORES
1) Quantos anos você trabalha no CAJE?
2) Quantos alunos participam de atividades esportivas?
3) Quantas vezes são realizadas as atividades esportivas?
4) Quais são as atividades esportivas?
5) O esporte contribui em que aspectos na formação do interno?
6) Qual a sua sugestão para a melhoria, no que se refere ao esporte ( PST), no atendimento dos internos?
36
Questionário 3 Para os alunos
1) Qual esporte você já praticou no CAJE?
( ) Futebol ( ) Basquete ( ) Voley ( ) Natação ( ) Outros. Quais?
2) E fora do CAJE, você pratica algum esporte? Qual? 3) Qual esporte você gostaria que fosse incluído pelo PST no CAJE? 4) Você gosta de praticar esporte? Como você se sente? 5) Avalie as aulas de esporte (com relação ao professores, aos materiais utilizados,
ao horário...) 6) O que você gostaria que mudasse nas aulas do PST? 7) As aulas de esporte mudaram/influenciaram/alteraram seu modo de ser ou de
viver? Se sim, como? 8) O que você aprendeu do esporte que praticou no PST? Você aprendeu as
técnicas e táticas do jogo? 9) Nas aulas do PST você fez novos amigos?
( ) Sim ( ) Não
10) Você tem uma equipe para participar dos jogos? 11) O que, além das técnicas esportivas, você aprendeu com o esporte? (perder,
ganhar, trabalhar em equipe, união...) 12) Quando sair do CAJE você pretende continuar praticando algum esporte? 13) Você pensa em procurar uma escola que ofereça o PST ao sair? 14) Que profissão mais interessa a você? Com o que você pretende trabalhar
quando for adulto?