tribo skate edição 238

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Ano 25 2015 # 238 R$ 12,90 www.triboskate.com.br Tiago Lemos, ss heelflip ALEXSANDRO DUKA * RICARDO DEXTER * PER CANGURU * QUESTIONS 15 ANOS EXEMPLOS DE SUPERAÇÃO MARCELO AKASAWA ARTESANATO E EXCLUSIVIDADE MIKE DIAS COLHENDO BENÇÃOS DE LA CALLE/DA RUA VANGUARDA LATINA MACEIÓ SKATE PELO SKATE RODRIGO GONZALES ALL TERRAIN, TUDO BEM! FLORIPA O PARAÍSO DAS TRANSIÇÕES DEFICIÊNCIA?

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Tribo Skate Edição 238

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Page 1: Tribo Skate Edição 238

Ano 25 • 2015 • # 238 • R$ 12,90

www.triboskate.com.br

Tiago Lemos, ss heelflip

ALEXSANDRO DUKA * RICARDO DEXTER * PER CANGURU * QUESTIONS 15 ANOS

EXEMPLOS DE SUPERAÇÃO

MARCELO AKASAWAARTESANATO E EXCLUSIVIDADE

MIKE DIASCOLHENDO BENÇÃOS

DE LA CALLE/DA RUAVANGUARDA LATINA

MACEIÓSKATE PELO SKATE

RODRIGO GONZALESALL TERRAIN, TUDO BEM!

FLORIPAO PARAÍSO DAS TRANSIÇÕES

DEFICIÊNCIA?

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NOVEMBRO 2015

CAPA: O momento do Tiago Lemos é o mais brilhante possível, mas provavelmente ele continuará brilhando por muito mais tempo. Muito skate no pé, muito carisma e uma estrela que o está levando aos principais projetos de skate da atualidade. Desta vez, ele está no vídeo da DC, De La Calle/Da Rua, com seus skills distribuídos por países da América Latina e outros lugares legais do mundo. Switch heelflip em New York.Foto: Mike Blabac

ÍNDICE: Skatista, fotógrafo, mobiliário urbano, calçada, espelhos. Resultado disso, vários ângulos da mesma moeda. A rua não para. Thaynan Costa, flip, para o mesmo vídeo.Foto: Jake Darwen

ESPECIAIS>28. MOTIVADORES MARCELO AKASAWA ARTESANATO E EXCLUSIVIDADE

32. MACEIÓ/AL VÁRIAS ORIGENS, UM DESTINO

40. ENTREVISTA AM RODRIGO GONZALES ALL TERRAIN, TUDO BEM!

48. ENTREVISTA PRO MIKE DIAS COLHENDO BENÇÃOS

58. FLORIPA O NOVO PARAÍSO DO BOWLRIDING

68. DE LA CALLE/DA RUA A VANGUARDA LATINA

78. DEFICIÊNCIA FÍSICA? HISTÓRIAS DE SUPERAÇÃO

SEÇÕES>EDITORIAL ......................................................................10ZAP ..................................................................................14CASA NOVA ....................................................................82TECNOLOGIA E NEGÓCIOS .........................................90HOT STUFF .................................................................... 91PLAYLIST: RAGUEB ROGÉRIO .....................................92ÁUDIO: QUESTIONS 15 ANOS ......................................93SKATEBOARDING MILITANT .......................................96

TRIBO SKATE 238

24 ANOS // índice

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POR CESAR GYRÃO //FOTO JOVANI PROCHNOV

Marcamos nesta edição a conta-gem regressiva para o nosso pri-meiro quarto de século em 2016. Alguns poucos se lembram de uma frase animadora na capa de

nossa primeira edição, em setembro de 1991: Incorpore-se à madeira. Certo que eram dois assuntos diferentes e não havia a crase, mas a ligação das duas chamadas foi natural. Incorpore-se, era uma chamada para a coluna do Flávio Ascânio, o skatista professor de educação física que abraçou a ideia de falar sobre sua área de conheci-mento. A madeira, era uma pauta de duas páginas com texto e foto de Daniel Bourqui, skatista, fotógrafo e arquiteto que falava sobre minirrampas de quintal, incluindo uma técnica de isolamento acústico com a aplicação de caixas de ovos em suas es-truturas. Daniel também foi o autor da foto da capa, um nosebone transfer no pôr do sol do ZN Skatepark por Marcelo Just, com outra frase alentadora. Na verdade, uma le-genda: O alvorecer de uma nova era. Tanto tempo passou e muitas das frases, fotos e situações que retratamos nesse longo perí-odo, continuam fazendo muito sentido hoje em dia. Muitos se incorporaram à madeira, como uma extensão de seu corpo, incluindo lixas, eixos, rodas, rolamentos. Caprichamos nesta edição com uma gama de assuntos que retratam os tempos atuais, cada vez mais embebidos de fatos, sangue e suor do passado. Da cena de street pouco con-taminada de Maceió, ao ambiente turbinado de concreto de Floripa. Da pilha autoral do artesanato de Marcelo Akasawa ao skate overall de Rodrigo Gonzales. Do street con-sistente de Mike Dias ao vídeo internacional da DC puxado por brasileiros. Não é pouca coisa. Os 25 anos estão mais próximos. Vivemos a nova era, simplesmente porque o skate é o que é, um ambiente que pulsa o coração na boca, que contagia e faz o mundo mais alegre.

A calmaria do entorno apenas amplia a concentração. Vencer o medo,

sentir a pancada, ficar em cima do carrinho e sair andando. Obra de

Ohana Almeida, batizando a igreja.

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Editores:Cesar Gyrão e Fabio “Bolota” Britto Araujo

Conselho Editorial:Gyrão, Bolota, Jorge Kuge

Chefe de redação:Junior Lemos

Arte:Edilson Kato

Publicidade:Fabio BolotaCezar Toledo

Colaborararam nesta edição:Texto: Deise Santos, Fernando Gomes, Guto Jimenez, Helinho Suzuki, Pedro de Luna, Rodrigo K-b-ça Fotos: Adriano Rebelo, André Matos, Carlos Eduardo Falcon, Daniel Romero, Fernando Gomes, Helge Tscharn, Jake Darwen, Jovani Prochnov, Leandro Moska, Luiz Trezeta, Mike Blabac, Nefhar Borck, Pablo Vaz, Raphael Kumbrevicius, Ricardo Soares, Rodrigo K-b-ça, Thomas Teixeira

Norte Marketing EsportivoDiretor-Executivo e Publisher: Felipe Telles Gerente de Conteúdo: Rafael Spuldar Diretora de Criação: Ana Notte Diretor de Arte: Fernando Pires Editora de Arte: Renata Montanhana Editor de Fotografia: Ricardo Soares Produtora: Carol Medeiros Editora On-line: Anna Paula Lima Editor de Vídeo: Paulo Cotrim

Distribuição: DINAP

Assinaturas:www.assineesfera.com.br Telefone: (11) 3522-1008 Endereço: R. Estela Borges Morato, 336 – Limão – CEP 02722-000 – São Paulo – SP

Impressão:Leograf

www.triboskate.com.brA revista Tribo Skate é uma publicação mensal da Norte Marketing Esportivo

As opiniões dos artigos assinados nem sempre representam as da revista.

ANO 25 • NOVEMBRO DE 2015 • NÚMERO 238

DOS SKATE SHOES?COMO ANDA O UNIVERSO

O IMPULSO CERTO(Edição 134, junho de 2010)

O FABULOSO MUNDODO SKATE SHOES(Edição 98, dezembro de 2003)

TRIBO SKATELEITURA OBRIGATÓRIA

PRÓXIMA EDIÇÃOEDIÇÃO 239, DEZEMBRO DE 2015

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// TEXTO E FOTOS JUNIOR LEMOS

A gente corre o risco de que o equipa-mento seja atingido, de levar uma skatada no meio da cara e até de quebrar qualquer osso do corpo. Mas a gente curte pra caralho o Rheumatic! Esse ano a legítima skate party não deixou nada a desejar. Estava com uma área de alimentação ainda mais completa e a cerveja como sempre estupidamente ge-lada. Além disso, na tenda da Blunt Brasil o Magoo Felix lançava sua arte em camisetas, a Converse Cons e a Drop Family trincaram lindo mais uma vez e o profissional da Drop Shoes Nilton Neves fez aquela trilha sonora com seus vinis, certamente um dos raros momentos em que a pista diminuiu o ritmo frenético. Porque nos demais momentos o manobramento na pista esteve sempre no hardest level, ao som das mais estridentes músicas do punk/rock/metal/hardcore. Mas teve momentos que não foram tão da hora assim! A afobação dos invasores de baterias e os que literalmente se matavam nas sess-sions livres faltaram com respeito para com a essência de uma autêntica skate party do skate brasileiro. Nós não vamos deixar de ir no Rheumatic e muito menos queremos ver que esta festa acabe. Por isso a expectativa para 2016 é ainda maior. A gente se vê lá!

Respeite o reumatismo!

Espaços tomados.

Manobrou, levou.

Nilton Neves e seus vinis.

Hamburguer & barbecue, perfumando o ambiente.

Rapazeada limpando a pista com o tradicional bate cabeça.

The Boneyard Club.

Allan Machado, tailbone.

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Do Heavyao Trash Metal// POR PEDRO DE LUNA

Durante 25 anos, os jornalistas Jon Widerhorn e Katherine Turman entrevistaram os principais astros do heavy metal. O resultado está no livro Barulho Infernal (722 páginas, R$ 89,90), que acaba de ser publicado no Brasil pela Conrad Editora. Além de contar a história do gênero e diversas curiosidades, os autores também explicam subgêneros como o trash, o death e o black metal, entre outros. Um prato cheio para os fãs conhecerem as origens e os principais ícones e o que rola nos bastidores − brigas, problemas com álcool, drogas e orgias sexuais. “O livro tem falas de mais de 400 pessoas. Isso é muito rico porque o leitor tem acesso a diferentes pontos de vista. Em alguns casos, é até engraçado porque as versões são diferentes”, explica Katherine. O Brasil é representado pelos irmãos Igor e Max Cavalera, do Sepultura, que, na opinião dos autores, se tornou a mais inovadora e influente banda de trash metal fora dos Estados Unidos. Barulho Infernal tem capa dura e reúne dois cadernos com fotos coloridas de várias bandas, além da introdução de Scott Ian, do Anthrax, e epílogo de Rob Halford, do Judas Priest. Uma aquisição imperdível para os metaleiros de carteirinha.

Dicas de mercadoSolomoto unifica ferramentas digitais visando pequenos empresários

 // POR PEDRO DE LUNA

 O israelense é discreto. E assim foi a chegada da Solomoto

no Brasil, em abril deste ano. A plataforma de gestão de sites e campanhas em mídias sociais aportou aqui em abril, na surdina, e recentemente no México. Os dois países são a porta de entrada da companhia na América Latina. Dados do Sebrae Nacional indicam que existem 6,4 milhões de estabelecimentos em nosso país, sendo 99% micro e pequenas empresas. Certamente se enquadram aí pequenas skateshops e lojas de street wear, entre outros negócios que poderiam aumentar as vendas e fortalecer sua marca.

O que a solomoto.com oferece como o diferencial é o fato de ter, em uma única plataforma, as ferramentas de marketing digital, relacionamento com os clientes e comércio eletrônico. E isso é possível através das parcerias que a companhia já estabeleceu com Google, Facebook, PayPal, Mercado Pago, Apontador, GuiaMais e outros players do mercado. Assim, em um único painel de controle, o pequeno empresário pode gerenciar as vendas da loja virtual, realizar campanhas de divulgação online e interagir com seus clientes. “O mais importante para nós é levar as pequenas empresas para o meio digital, que é fundamental para a sobrevivência delas”, sentenciou o CEO e fundador Pasha Romanovski, durante a coletiva de imprensa realizada em São Paulo.

Omar Tellez, Diretor para a América Latina, destaca que dos 50.000 usuários ativos, 8.000 são brasileiros. E que existem dois perfis: os que já têm presença online e os que não têm. “Nosso sistema é do tipo faça você mesmo, bem simples. Mas se o usuário precisar, nós disponibilizamos gratuitamente o treinamento e o suporte online”. Para se inscrever, o empresário precisa fazer algum investimento que ele mesmo define. Como uma espécie de pré−pago. O custo da plataforma sem comércio eletrônico é de R$ 1,50 por dia. Com a loja, é de R$ 4,50. O serviço é oferecido até que o crédito inicial acabe.

Com 15 anos de experiência em agências de publicidade no exterior, o Diretor Geral da Solomoto no Brasil, Darlan Moraes Jr., lembra que só para fazer um site bacana uma agência digital cobra entre R$ 10.000 e R$ 15.000. “Com a nossa plataforma ele pode ter vários negócios diferentes, com investimentos diferentes em cada um, e gerenciar tudo através de um único painel de controle. É muito simples. E ele pode parar e reativar quando quiser”.

Cliente da plataforma, o empresário Leandro Telet, das lojas Gol de Placa e Riveira, em Santo André, investe R$ 350 por mês. Ele está satisfeito e pretende continuar como cliente. “O retorno tem sido exclusivamente de maneira midiática, propagando em rede social”.

QuadrinhosJá o quadrinista Miguel Mendes acaba de lançar “Thrash − as

tiras do menor fenômeno do metal” (50 páginas, Independente) reunindo os quadrinhos de uma banda de crianças cujo líder usa o pseudônimo Thrash. Publicadas nos anos 90 na Folha de SP, as tirinhas trazem muito do contexto da época, como o hábito de comprar e ouvir discos de vinil. O livro é todo colorido e custa R$ 24,30 já com o correio incluso. Basta escrever para [email protected].

Quem também voltou a publicar por conta própria é o Marcatti, autor de capas dos Ratos de Porão. A revista “Lasca de Quirica” é bimestral e já está a venda em lojas especializadas em HQ e na Galeria do Rock, em São Paulo. Quem gostar deste quadrinista de estilo único pode adquirir também a sua biografia “Marcatti − Tinta, suor e suco gástrico” (R$ 20) lançada pela Editora Marsupial. Yeah!

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// TEXTO E FOTOS RODRIGO K-B-ÇA

Para se ter uma ideia, Duka era um dos poucos que conseguia bater Rodil Ferrugem em uma época em que o curitibano era sinô-nimo de campeão, mas foi com o lançamento de “Ricos, Bonitos e Famosos”, o primeiro vídeo da Drop Dead, em 1993, que Duka passou a ser conhecido em todo o Brasil e foi promovido a profis-sional. Mas por onde anda esse cara que, mesmo passando tanto tempo afastado do skate, ainda é lembrado por muita gente que certamente ficará feliz em saber que ele segue andando de skate?

Quando o skate entrou na sua vida? Chegou a imaginar que um dia seria skatista profissional?

O skate entrou na minha vida quando minha tia Helena me deu um Bandeirantes no meu aniversário de 10 anos. Ficava vendo a galera mais velha da minha rua andando e queria ser igual a eles. (risos) Sem as mínimas possibilidades, pois o meu skatinho era de brinquedo e a galera já andava com carrinhos de verdade. Com o tempo comecei a ganhar peças, comprar shapes e a dedicar-me diariamente. Vibrava a cada manobra aprendida e queria aquilo pra minha vida! Enquanto a galera ia pra night, eu dormia cedo para poder acordar bem para andar de skate.

Você foi um dos primeiros gaúchos a chegar na categoria profissional com patrocínio de uma grande marca e ter até mo-del de shape. O que te fez afastar-se do skate nesta época?

Ter o patrocínio da Drop Dead foi algo marcante para a minha vida, pois passei a mudar a minha identidade. Deixei de ser o japa da “Machado Lopes” (rua onde morava na época), para ser o Duka, da Drop. (risos) Como na minha época não vivíamos do skate, não tínhamos salário, nenhuma perspectiva de um futuro brilhante como skatistas e começaram as cobranças familiares. Minha mãe queria que eu estudasse e me formasse para poder ter um futuro digno. Nessa época não tínhamos a internet para nos atualizar e os caras da gringa eram de um mundo longínquo para nós, para não dizer irreal. Então tive que estudar e trabalhar, não teve jeito!

Quais as principais diferenças do skate dos anos 90 pra hoje em dia?

A principal diferença dos anos 90 para hoje em dia é a quan-tidade de pistas. Atualmente temos pistas espalhadas pelo Brasil afora. Naquela época existiam poucas pistas, o que nos forçava a criar nossos próprios obstáculos, que colocávamos nas ruas, em frente a nossas casas. A qualidade dos materiais (rodas, shapes e trucks) que utilizávamos era inferior. Me lembro bem a dificuldade que era pra conseguir assistir a um vídeo de skate. Acredito que a maioria dos vídeos que assisti foi através de convites da galera do bairro Jardim Planalto, os Trevo Boys. (risos)

Atualmente você trabalha com o quê? Continua morando em Esteio?

Sou formado em ciências contábeis, com pós-graduação em en-genharia de produção, e trabalho em uma multinacional japonesa. Continuo morando em Esteio.

Seu enteado, o Vini, é da novíssima geração e começa a mos-trar que tem o skate no pé. A companhia dele é um dos motivos para que as suas sessões voltem a ser mais frequentes? Reu-nir-se com a galera dos anos 90 de Esteio também ajuda?

Sem dúvida alguma, a companhia do meu enteado, o Vini, me motivou a andar. Ele começou a andar quando tinha sete anos e sempre pedia pra lhe ensinar alguma manobra. Agora, aos 14, se deixar, ele tira onda! Adora me desafiar... As sessões que têm ro-lado com a galera dos anos 90 de Esteio, ajudam, e muito. Nos in-centivamos mutuamente a tentar algo a mais, sair da zona de con-forto e ultrapassar, nem que seja um pouquinho, nosso limite atual.

Sei que você é um cara que fica entediado com facilidade.

ALEXSANDRO DUKAAPESAR DE PEQUENA, ESTEIO SEMPRE FOI UMA CIDADE QUE EXPORTOU BONS SKATISTAS COMO GUI ZOLIN, RAFAEL RUSSO E DANIEL CRAZY. ALEXSANDRO SAWADA, O DUKA, FOI, SEM DÚVIDA ALGUMA, UM DOS MAIORES NOMES DO STREET SKATE, NÃO SÓ DA CIDADE, MAS DO RIO GRANDE DO SUL. COM UMA HABILIDADE FORA DO COMUM, AS MANOBRAS QUE DUKA FAZIA, GERALMENTE DEIXAVAM TODOS ABISMADOS COM O SEU TALENTO.

Essa nova fase no seu skate está te empolgando? Quais as principais dificuldades?

Tenho tentado andar mais em transições, mas tenho enfrentado alguma dificuldade em manter regularidades nas sessões.  Empol-gado? Eu? Sempre!

Já que a gente falou no Vini, como skatista, que conselho você daria pra ele?

O principal conselho é estudar. Algumas marcas já o enxerga-ram com apoios, como a Freeday,  a Feeble skateshop (do grande brother Ariel) e  a Halloween,  do Gosma. Ele já ganhou alguns tí-tulos importantes e está sempre dando o seu rolê; vive skate, anda, assiste vídeos e, quando está no seu quarto, está sempre com o skatinho de dedo...  Sempre reitero que não basta ser bom e man-dar as manobras que todos dão. Tem que ser o melhor e  encon-trar meios de se sobressair sobre os demais. O moleque está aí, só falta uma grande marca o encontrar. Aí sim, vocês vão ouvir falar do Vini Tomasi “Alemão”! (risos)

Você sabe que muitos dos grandes skatistas dos anos 1990 sempre perguntam a seu respeito, quando cruzam com algum skatista de Esteio? Como se sente sabendo que tanta gente lembra de você mesmo depois de tanto tempo?

Fico feliz em saber. É importante, porque acabei deixando um legado do bem. Skate por esporte, por diversão e sem drogas... Os anos 1990 ficarão marcados como os anos que consolidaram o skate como esporte.

 Pra finalizar: Tirando o fato de hoje o skate ser um hobby, o que ele significa na sua vida?

Na minha vida o skate significa muito. Consegui me sobressair e isso sempre mexe com o nosso ego. Meus amigos são skatistas e minha família curte skate. Frequentemente viajamos e vamos andar em pistas diferentes. Até a minha filha, a Akemi, de cinco anos já manda nollie flip, isso segundo ela!!! (risos)

// Alexsandro Sawada40 anos,  27 de skateEsteio, RS

Akemi, Duka e Vini.

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B/s nosegrind na pista de Nova Petrópolis, no RS. O tempo passa, mas o controle do skate é o mesmo!

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Da esquerda para a direita, de cima para baixo: 1. Observado e observando. 2. Nosso jogo. 3. Nutricionista dentro de casa funciona assim; te amo, saúde em pessoa, @steiafrate. 4. Bom dia soldados. 5. Onde tem skate esses dois estão presentes, os irmãos Diogo e Diego Gema. 6. Folha seca e água, sinal de renovação. 7. Chichenitza embaixo da garoa. 8. Imune ao mal e protegido pelo divino. 9. Família.

NA VELOCIDADE PARA SE GANHAR LIKES, O MUNDO SE DARÁ CONTA QUE CADA VEZ MAIS A CONSCIÊN­CIA DESPERTA PARA O APEGO AO QUE REALMENTE IMPORTA: O CICLO NATURAL DA VIDA, A FAMÍLIA, BOAS LEMBRANÇAS, RESPEITO, SAÚDE, VIAGENS E MUITO, MAS MUITO SKATE DE DENTRO PRA FORA. (RAPHAEL KUMBREVICIUS)

#CONSCIÊNCIA DESPERTA // POR @KUMBREVICIUS

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Ultrapassar limitesEis a questãoPOR PER CANGURU // FOTO RODRIGO K-B-ÇA

Poucos o conhecem pelo nome de batismo, Ricardo Amaral, mas muitos o conhecem pelo nome de guerra do skate: Per Canguru. Um cara dedicado a criar em sua modalidade, o freestyle, desde sempre, agora tem um novo motivo pra co-memorar: sua inclusão no Guinness Book – o co-nhecido livro de recordes. Flagra seu depoimento:

“Sempre gostei de desafios e de ultrapas-sar meus limites. Logo após ser incluída uma competição de ‘mais longo coconut wheelie’ no Mundial de Cloverdale em 2014, pensei: - Por que não? Eu mal passava dos 8 metros com um primo slide…

Infelizmente a área não era suficiente para quebrar o recorde lá no Canadá, mas espaço não é um problema na Marquise do Ibirapuera, mesmo que o piso não seja tão bom. Depois de ter a aprovação do Guinness Book para a inser-ção que é a parte mais difícil e poder apresen-tar as evidências, eu já estava superando os 30 metros propostos, então registramos 33 e quatro dias depois, sem pressão e sem câmeras eu já passava dos 35 metros com tranquilidade. Esse é o objetivo, descobrir até onde podemos che-gar, que os limites que acreditamos existir po-dem ser superados.”

“The longest Coconut Wheelie on skateboard” - recorde oficial de 33 metros, por Per Canguru no Parque Ibirapuera.

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RICARDO DEXTER

• Curto muito seu rolê e seu estilo, que-ria saber quais as peças e medidas do seu skate? Abraço, sou seu fã. (instagram.com/r.dalla)

– Então, ultimamente as medidas do meu skate são shape 8.5, trucks 159 e rodas 53. Tem sido meu skate ideal, pois consigo an-dar em tudo: transição, street, solo e etc.

• Diz aí: Seu skate é jovem e com cer-teza você ainda tem muita lenha pra quei-mar. Nessa jornada, o que lhe deu e dá mais prazer em todos esses anos vividos em cima do skate? (instagram.com/ mauri-ciomagalhas)

– Salve, Magalhães! Cara, o que me dá prazer á fazer e viver do que eu gosto. Hoje em dia isso é muito prazeroso: poder andar de skate todos os dias da minha vida. Agora o que meu deu mais prazer na verdade foi tudo que eu consegui absorver com a vivência do skate. Isso também me formou e me forma como pessoa todos os dias da minha vida.

• Dexter, por onde anda o Ratão? (insta-gram.com/ itsmeguima_)

– Agora está aqui na frente do computa-dor respondendo às perguntas. Depois da-qui ninguém sabe!

• Sempre vejo sua linha, tanto no street quanto na transição, com um estilo agres-sivo e unido a muita coragem na execução de certos desafios. Diz pra nós quem são suas inspirações para você ter esse estilo overall? (instagram.com/nicholasmdo)

– Na verdade fui inspirado inconsequen-temente, pois nunca pensei em me limitar no skate, sempre gostei de andar em todas as situações. Se tinha uma mini ramp eu estava andando, mas também curtia andar no palquinho e na travinha que a gente co-locava na rua. Aí, com o passar do tempo,

// Ricardo Fernandes25 anos, 15 de skateSão Paulo, SPPatrôs: Vans, Creature, Monster, Independent e Evoke

A primeira vez que vi o Dexter foi na minirrampa do Jabaquara, um garoto magro que me pediu o skate em-prestado e destruiu a pistinha. Fazia várias no spine (transfer, meu caro) e tinha os poderes do ollie air! A conversa era como a de qualquer adolescente, naquela fase que troca de voz, crescem pelos pelo corpo e afirma uma identidade. Eu tinha certeza que estava conhecendo um skatista que entraria no mundo adulto com muita, muita base e skate espontâneo. E foi isso que eu vi, ao longo dos anos, na antiga pista da Imi-grantes, na Saúde e em outras várias ocasiões que o skate nos proporcionou. Agora tenho orgulho de ter esse cara como meu amigo, pronto para qualquer sessão e uma ótima influência para o universo da prancha com rodas, pois transita em todos os lugares e terrenos com muita confiança. No meu entender, o comitê da CBSK que não o passou pra pro em 2015 cometeu um tremendo equívoco. Um cara com o histórico dele, com o nível técnico, com entrevista amadora na Tribo Skate, com seu trabalho na televisão representando a nossa classe, jamais teria que esperar mais para ser considerado profissional. Mas, tudo bem, seus patrôs e sua atuação são de profissional e não será por isso que ele vai andar ou representar menos. (Cesar Gyrão)

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RICARDO DEXTER

eu assistia vídeos e via nas revistas caras como Biano Bianchin, Nilton Urina e Denis Buiu, que eram uns caras que já andavam em tudo, em todos os terrenos, e isso eu acho muito legal. Respeito todos os tipos de skate e acho todos legais, mas quanto mais completo você for, melhor. Assim você vai se divertir andando de skate em qualquer situação, sem se limitar.

• Quais foram a melhor e a pior parte de gravar a Rota Explosiva? (instagram.com/ wolffpipoca)

– Na verdade sempre são mais partes boas do que ruins. A gente faz o que gosta e pesquisa antes de fazer coisas que a gente acha legal. A parte ruim, na verdade, é quando acaba e a gente tem que voltar para casa, por-que acabamos criando nosso mundo e fazendo só o que a gente adora. É triste quando acaba a viagem.

• Mano, qual a sua relação com o Deco e o Lucas? Como conheceu os malucos? Acho que não teria pro-dutora melhor que a Bolovo para lançar sua primeira vídeo parte. Sucesso! (Hugo Deleon Oliveira Souza)

– Eles são meus amigos até hoje. Criamos um vínculo de amizade muito da hora e eu os conheci por causa do programa MTV Sports, que foi a primeira viagem de ôni-bus que fizemos juntos em 2012. Mas depois de 20 dias viajando com alguém, ou você vira amigo ou você mata a pessoa (risos). Concordo com você, a vídeo parte na mão deles fortaleceu o que eu precisava; é muito bom às vezes colocar pessoas fora do skate com mentes criativas para pensar e criar coisas diferentes. Este foi o caso da minha vídeo parte Pro-blemático. A ideia do nome também foi de-les. Na verdade eu só levava as imagens filmadas de skate é o conteúdo de criação foi todo deles e, no final, eu curti muito o resultado.

• Quando você e os repetentes da quarta série pre-tendem fazer mais programas na MTV? (Lucas Spinelli)

– Para a MTV eu não sei. Gostaríamos de fazer coisas diferentes! Já tivemos outras ideias em mente e talvez em breve vamos lançar algo novo, mas na verdade precisa-mos de algum patrocínio para abraçar as ideias do jeito que elas têm que ser e deixar as mentes criativas do Deco e Lucas trabalharem.

• Por que seu apelido é ladrão de linguiça? (insta-gram.com/tiaguinhoarraes)

– Esse apelido é seu, Tiago Arraes. Não tente passar ele para os outros, seu surfista calhorda (risos).

• Qual foi sua pior lesão envolvendo o skate? (insta-gram.com/wiilbarbosa)

– Foi a do meu braço direito, quando quebrei dois ossos: o rádio e a ulna. O meu braço ficou igual uma salsicha. Tive que colocar duas placas e 12 pinos, estão aqui até hoje e vão ficar até o fim da minha vida.

• Com toda essa ascensão de mídia da Street Lea-gue, você acha que o skate perdeu o seu foco de ir-mandade ou se tornou mais um motivo para a prática crescer? (Steven Regis)

– Na verdade esse lance de irmandade sempre vai exis-tir, Steven! O skate é isso, independente da Street League continuar por vários anos ou acabar amanhã, os skatistas vão continuar e as sessões de rua não vão morrer. Isso só faz parte do nosso tempo e quanto mais o skate cres-cer, melhor: mais pistas vão ter, mais dinheiro no mercado, mais pessoas vivendo do skate e mais posers vão existir (ahahahaha).

• O que representou pra você ter feito parte de equi-pes mais core como a Gardhenal e qual importância dessas marcas que vivem no underground? (Rogério Lemos)

– Boa, Rogério Lemos! Cara, a Gardhenal foi uma fase muito style da minha vida e o Ragueb Rogério é meu amigo até hoje. Nada mudou, só não andamos de skate juntos com tanta frequência como antes porque a gente andava todos os dias, era muito style. Ele me ajudou muito desde a minha entrada nas marcas, como na Vans, e tam-bém com conselhos de vida e profissionais. Essas marcas são muito verdadeiras e são as que fazem as coisas mais legais, pois elas não estão ligando se vão vender ou não e sim se estão fazendo do jeito que gostam de fazer. Isso é o legal das marcas undergrounds, elas têm total identidade com o que criam! Se o cara fez uma camiseta ou um pa-tch, é porque ele vai colocar aquilo no peito com orgulho e não está preocupado se aquela cor ou aquela estampa vai vender. Na verdade elas não querem ver aquilo em várias pessoas e sim só no lugar que eles acham legal. No final, quanto menos pessoas e mais verdadeiras, melhor.

• Como é andar pra Creature? São os atletas que mais me inspiram e curto demais o estilo da marca. Você de identifica com a marca? (instagram.com/grego-rioskate)

– É animal, é uma marca que sempre gostei muito e uso os shapes com orgulho. Para mim são os melhores gráfi-cos e a melhor madeira! A marca você tem que se iden-tificar, Gregório. Principalmente a marca de shape, que é sua maior identidade, ela que define seu estilo! Hoje não tenho do que reclamar, só estou nas marcas que gosto e me identifico.

• A Vans é uma marca mundial mas tem uma atua-ção aqui bem diferente do que é feito nos EUA. Qual o envolvimento dos skatistas patrocinados, a voz de vo-cês é escutada ou só pegam os tênis pra usar mesmo? (Lúcio Mathias)

– Lúcio, é muito difícil e complexo a gente querer com-parar a forma de atuação feita aqui no Brasil com o mer-cado dos EUA, não só da Vans mas de qualquer outra marca que esteja aqui no Brasil e seja americana. Então não é só pegar tênis e valeu! Como em qualquer marca, eles têm que escutar os skatistas pois é a gente que está na rua e não eles. Na Vans isso não é diferente, a gente sempre põe nossos pontos e falamos o que achamos legal ou o que achamos zoado. Tem todo um trabalho pois o centro da marca são os skatistas, se isso não fosse impor-tante, eles nem teriam uma equipe de skate aqui no Brasil.

*Pergunta escolhida e que leva os prêmios é a do Maurício Magalhães.

Próximo enfocado: LEO RUIZ Envie perguntas em nossas redes sociais (Instagram, Twitter e Facebook) com a referência #LinhaVermelhaTS. E se preferir, no site há um formulário para também enviar perguntas. Participe!

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Impressionante capacidade de andar em muitos centímetros de vertical com tranquilidade. Frontside grind, frontside grab num canto até então inexplorado

da Inside Corner, em Floripa.

ADRI

ANO

REBE

LO

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Filho da Zona Leste de São Paulo, foi um dos ama-dores que apavorou a cena do street skate da segunda metade dos anos 1990 e criou um es-tilo que inspira os amantes do graffiti, atualmente colocando seu traço a serviço de uma galera que

preserva raízes autênticas. Com sua Nype do Gueto, fe-cha com a Colex e a Foton, loja e marca que comungam os mesmos valores da rua. O fluxo segue em adesivos produzidos manualmente, um a um, coisa de louco.

Quando encomendamos as fotos desta pauta com o Thomas Teixeira na Vila Fernandes, na casa do cara, logo um sorriso largo se abriu. Sim, do nosso motivador desta edição, o Marcelo Akasawa. Ele estampou nossas

páginas no longínquo ano de 1998, na edição 36, aquela com a belíssima capa com o Alexandre Ribeiro, bs tail-slide na borda (então) nova da Praça Charles Miller. Marcelo foi um Frequência Am daquela edição, nossa antiga Casa Nova. Um amador em ascensão que cha-mava atenção pelo skate técnico e longas linhas com manobra em cima de manobra. O cara que foi mordido pelo vírus do skate aos 14 anos, ali no bairro vizinho de Arthur Alvin, logo foi descoberto pelo Duda Santos, do vídeo Chiclé, pra estrear um novo bloco: o Na Mira. Vale dar aquela pesquisada na web para flagrar o que o ma-grelo mandava com o sorriso no rosto. Esta imagem que você está tendo agora do personagem, eu enxerguei

ALGUNS ARTISTAS GUARDAM A PUREZA DE SUA ARTE DE MANEIRA ÍMPAR. ESTE É O CASO DO MARCELO AKASAWA, UM MANIPULADOR DE LÁPIS, TINTAS E CANETAS ESPECIAIS QUE NÃO REPRODUZ EM ESCALA COMERCIAL SEUS TRABALHOS. CADA UMA DAS MAIS DE 3.000 CAMISETAS QUE ELE JÁ DESENHOU, POR EXEMPLO, É UMA PEÇA EXCLUSIVA. UMA ESTAMPA NUNCA SERÁ IGUAL À OUTRA.

POR CESAR GYRÃO // FOTOS THOMAS TEIXEIRA

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numa ligação telefônica que durou alguns bons minutos, quando senti a vibração e orgulho de ser lembrado por suas qualidades, sua arte e seu skate. Seu tom de voz animado foi embalado por estas boas lembranças. Em 94, por exemplo, outra paixão de Akasawa surgiu natu-ralmente, seus dons para o graffiti: “Era uma vertente nossa, coisa de quadra, bem o que a gente vivia em nossa cidade, para criar uma identidade.” Nascia ali o “Rigor”, o nick do Marcelo no universo das pinturas ca-racterísticas dos muros e paredes, mas não só neles. Como morador de uma área carente de infraestrutura, Rigor retratava sua realidade e levava adiante seu re-cado também andando muito de skate. Numa época de eventos precários, mas também de bons campeonatos amadores, como os da Prestige (pista da Zona Oeste), quando foi pelo menos duas vezes segundo lugar en-tre os iniciantes, correu o Circuito Paulista e liderou o certame da região de Mogi das Cruzes, nos eventos da Action Now, Akasawa plantava seu nome no mundo das competições. “A gente andava com shape Tailon, com o que tínhamos e fazíamos o que precisávamos fazer. Hoje, tudo está muito legal para a molecada nova, tudo pronto, mas na nossa época era mais na raça.” Entre outros momentos memoráveis, está uma vitória no Pau-lista em São José dos Campos, como amador, e todos os eventos de São Caetano do Sul, na pista do Buracão da Cerâmica. “Um deles eu fiquei em segundo amador, atrás do Humberto Beto”, lembra. Pergunto para ele so-bre alguns dos seus combos que ainda hoje são atuais, e ele lembra sem falsa modéstia dos seus flips back-side tailslide saindo de flip antes mesmo de virarmos para o século XXI! E eu posso acrescentar seus flips

to crooked em corrimãos. Verdadeiras pérolas! Além de ser muito agradecido ao Rubens Ishikawa, o China da Action Now, pelos convites e eventos em Mogi, Marcelo lembra também com muito carinho do apoio do Leone da Tracker, atual Six Skates. “Era uma tremenda força,” diz. Lembro que eu mesmo vi esta parceria entre estas figuras na volta do evento Ladeira da Morte, no bairro do Sumaré, em 2010. Leone e Claudinho estavam com uma Kombi da Tracker/Six na pracinha com o Akasawa custo-mizando camisetas para alguns sortudos. A minha ficou muito style e usei até desbotar, por anos. Voltando para a Zona Leste de São Paulo, vejo o Rigor ou o Akasawa interagindo com vários skatistas que criaram um nome, como o Marcelo Alves, o Fábio Castilho, o Jailson Si-queira, alguns que se tornaram profissionais do esporte. Atualmente, outra fonte de inspiração são os agitadores do Love CT, da Cidade Tiradentes, entre alguns que divi-diram sessões no passado e seguem no skate hoje em dia, como o Elton Melônio, o Anderson Lucas, o Denis Silva o Celo e o Marcelo Black.

FUGA PARA O JAPÃONão esperava usar esta expressão, mas “nem tudo na vida são flores” e numa época de baixa financeira da família, Marcelo e sua mãe se tocaram pro Japão. “Mi-nha mãe tava sem emprego e vendendo churrasquinho na rua, com isso pensamos em mudar para o Japão pra ver se a vida melhorava.” O ano era 2000 e foram nove anos em idas e vindas para a terra de seus ancestrais. Marcelo foi para Nagoya, para trabalhar. Sua mãe, foi para Saitama. No Centro de Sakae, nosso motivador conheceu e fez parte de uma turma de skatistas bra-

marcelo akasawa // motivadores

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sileiros que criaram um universo paralelo da cultura do board, os famosos “Mundrungos”. Um outro brasileiro que viveu esta época, o Dênis Pona, hoje também está de volta ao Brasa e trampa na distribuidora Plimax. En-tre boas recordações deste tempo no Japão, estão os vídeos produzidos pelos Mundrungos e a intensa troca de informações dos emigrantes brasileiros naquela área. Outra parada mais dura que viveu, foi constatar aos 20 anos que a diabetes o acompanharia pelo resto da vida. Sérias limitações físicas se impuseram, mas o “zica” não se deu por vencido. O cara é terrível, como ele mesmo diz. Tem a manha de seguir no trabalho bruto com aquela sequência de raciocínio rápido, que o skate e o graffiti, mesmo o basquete e a música, antigas pai-xões, o inspiraram. Outras passagens da vida que lhe garantem boas emoções foi fazer parte da galera da marca Typo, do Marcelo Spanto e Sandro Testinha, com amigos como Erasmo Sucrilhos, Guilherme Martins, Ma-noel Tavares e Johnny Correa e também da TM, a Turma do Mato, desde que começou no graffiti. Entre alguns

“troféus” conquistados com sua arte, há sua assinatura num shape da coleção da marca de New York, Fifty Ave-nue, do Lavar McBride. Mesmo com tanto trampo pra fazer agora na nova “máfia” com a Nype do Gueto, Colex e Foton e sua linguagem de tags invocados, produção manual de centenas de adesivos por dia, o skate segue como terapia, não tão intenso por causa da diabetes, mas bonito e técnico como sempre e algumas janelinhas para criar algo novo, sempre. A última novidade, talvez seja a música Bendito Dinheiro Sujo, cantando com Dudu e o Binho, sobre um beat do Fly (Mosquito). Se tiver oportunidade de reservar uma peça única da arte de Akasawa/Rigor, não perca a chance.

// MARCELO AKASAWA36 anos, 22 de skateJardim Fernandes, São Paulo/SPCriador da Nype do Gueto

motivadores // marcelo akasawa

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// TEXTO E FOTOS FERNANDO GOMES

CARRO POPULAR, VÁRIOS AMIGOS, SKATES NO PORTA-MALAS E UM OBJETIVO: MANOBRAR EM NOVOS PICOS. ASSIM SÃO FEITAS A MAIORIA DAS SKATE TRIPS E NÃO FOI DIFERENTE QUANDO ME JUNTEI A CLAUDIO SOUZA, FELIPE OLIVEIRA, IVAN RIBEIRO E LUIS MOSCHIONNI PARA SAIR DE SALVADOR E VER O QUE ROLAVA NA CIDADE DE MACEIÓ.

Luis Moschionni veio do interior paulista e deixou sua marca nesse pico clássico e proibido da capital alagoana. Backside boneless por cima

do brasão, acertado em pouquíssimas tentativas e fugindo dos seguranças.

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A capital alagoana nos surpreendeu bastante. O que vivemos lá foram quatro dias de skate intenso, divertido e sincero numa cidade que conta com uma orla repleta de picos e skatistas de alma. Como em muitos outros lugares onde

o mercado é precário, a dedicação e vontade dos ska-tistas locais é indiferente à existência de patrocínios e aparição nas mídias. Skate pelo skate, como tem que ser! Amigos se reunindo para manobrar nas ruas ou nas pistas mal conservadas e fortalecendo a cena que eles mesmos mantêm, com iniciativas como a revista Sequência e o vídeo Candy Sessions, que está em fase de finalização e é idealizado por Álvaro Koringa, skatista meio baiano e meio alagoano que foi nosso anfitrião na trip. Além dele, os locais Andy Shady, Pedro Lima, Lu-cas Abuh e Virgílio Fernandes também chegaram junto no rolé. Pra completar, a banca dos paraibanos da All for Life também estava por lá e ajudou a elevar o nível das sessões. Diversos estados unidos pelo skate numa só cidade. Uma certeza é que Maceió deixou sauda-des e esperamos voltar em breve para rever os amigos, a praça Deodoro, os picos da Vera Arruda, o clássico banks, as belas praias e, acima de tudo, sentir nova-mente a boa energia do skate sincero que existe por lá.

Acima: Poucos dias de trip e muita vontade de andar resultaram em madrugadas de muito skate. Esse foi um dos picos castigados no turno noturno e o jovem talento local, Pedro Lima, mandou esse hardflip cheio de estilo. Na página ao lado no alto: Numa esquina próxima a essa rampa de chão de ida ruim e de volta pior ainda, a sessão estava rolando em alta, mas Virgílio Fernandes preferiu pegar seu skate e mandar um frontside flip pesado, mesmo sem nenhuma câmera registrando. Alguns minutos depois, voltou a manobra mais algumas vezes com o devido registro. Na página ao lado embaixo: A Praça Deodoro é um dos picos mais ricos de Maceió. Direto de Simões Filho, BA, Claudio Souza chegou com esse backside heelflip e outras tricks na sessão que durou o dia todo.

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Estadunidense residindo na capital alagoana, Andy Shady e seu impossible.

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Meio baiano, meio alagoano e 100% nômade do skate, Álvaro Koringa nos deu hospedagem, muitas crises de risos e as chances de vê-lo executar várias manobras improváveis, como esse drop ignorando a grade na volta e os turistas da orla com suas câmeras de smartphones.

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Últimas horas de trip e, no caminho para nos despedirmos dos amigos locais, avistamos esse pico. Felipe Oliveira fez o barril ficar pequeno com seu flip nada modesto.

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O que veio primeiro, o street na Praça das Águas ou o vertical no bowl do Taquaral?Foi o street na Praça das Águas, o Ta-quaral veio bastante tempo depois. A

gente ia na praça quando não tinha ninguém ainda, tá ligado? A gente montava os obstá-culos, só tinha os blocos e lá embaixo havia o chafariz; colávamos rezando pra não ter

água nele e conseguir encontrar um gapinho ali, fora o chão liso. Lembro que descíamos no trilho de trem, pegávamos madeira, o que fosse, levávamos pra pista pra fazer os obs-táculos e ficávamos lá o dia inteiro. Era bem no começo, antes de ser o que ela é hoje. A praça não era nem conhecida ainda! Depois veio o Parque Ecológico, que eu fiquei tam-bém uma temporada indo todo dia lá. É um

pico importante pra evolução do skate da ci-dade. O Taquaral, veio há três anos. Eu tinha me lesionado e fiquei um tempo sem andar e aí voltei ao skate no banks de lá, mais tran-quilo e devagar. Acabei curtindo a parada de fazer uns carvings e fluiu isso aí o que eu sou hoje: transição, corrimão, tudo.

Foi dessa forma que o seu estilo mais overall surgiu?

POR JUNIOR LEMOS // FOTOS LEANDRO MOSKA

DO COLEGIAL NO STREET DA PRAÇA DAS ÁGUAS PARA A FACULDADE DE BOWL DO RTMF FORAM ALGUNS PULOS CERTEIROS JÁ QUE RODRIGO GONZALES SEMPRE SOUBE O QUE QUERIA: VIVER O SKATE E NÃO DO SKATE! INDEPENDENTE DO TERRENO E PACIENTE NA ESPERA PELA SUA HORA, O GAROTO PRODÍGIO DE CAM-PINAS APROVEITOU CADA OPORTUNIDADE QUE LHE FOI OFERECIDA PARA APRIMORAR SUA TÉCNICA COM OS MESTRES DO RIO TAVARES E AGORA PREPARA SUA PRIMEIRA VIDEOPART, TRAZENDO PARA AS PÁGINAS DA TRIBO SKATE A EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL ÚNICA QUE SEU SKATE OVERALL TEVE RECENTEMENTE.

entrevista am // rodrigo gonzales

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Fs roll in na Alemanha.

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Prefiro andar de skate, independente de onde seja! Ando em qualquer lugar, sei que vai ser divertido. Vou andar de skate sempre sem me importar com muita coisa ou com qual manobra tenho que mandar. Eu só vou no instinto e deixo ir no feeling, deixo fluir a essência do skate, tipo da rua. Na real foi de onde eu vim porque a gente não tinha pista, então quando a gente não estava nas Águas estávamos nas ruas. Lembro dos rolês no Centrão de Campinas, numa segunda-feira, quinhentas pessoas pra lá e pra cá e a gente pulando escada o dia inteiro, sem querer saber de patrocínio, sem querer saber de

nada, só querendo andar de skate! Era a nossa forma de nos expressar na época.

E o que mudou na sua visão quando você foi pra Floripa?

Eu mudei totalmente minha visão sobre bowl. Vi que, na verdade, não andava na-quele terreno; andava em minirrampa, em banks e que aquilo ali me bloqueava. Podia até andar bem nestes, mas quando ia pra outra pista meu rolê era travado. Quando fui pra Floripa eu conheci o bowl da Hi, o bowl do Pedro e foi aí que surgiu o verdadeiro amor pelas transições de verdade, aquele lance de andar todo dia durante um ano.

Fui pra lá com 17 anos, contra a vontade do meu pai. Nessa época já tinha a intenção de conseguir viver o skate, eu não queria viver do skate. Pra isso eu tinha que estar nos eventos, nos lugares que respiram o skate que eu queria. Decidi ir pra Floripa primeira-mente pra aprender a andar de skate!

Como foi seu começo por lá?Aluguei um pico no fundo da casa do

Orlando, que não tinha parede do lado e quando chovia a gente tinha que erguer o colchão. Éramos eu e um brother, o Said. A gente passou seis meses de perrengue ali, só que na época eu nem via assim. Era,

Fs ollie em Barcelona.

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Ando em qualquer lugar, sei que vai ser divertido. Vou andar de skate sempre sem me importar com muita coisa ou com qual manobra tenho que mandar.

tipo, “tô aqui vamos andar de skate e é isso!” Chegava em casa, dormia, acordava e an-dava de skate; era assim todo dia. Essa eu acho que foi a decisão mais importante para minha evolução mesmo.

Como foi conquistar seu espaço em um lugar que tem tantas transições e skatistas, como é o RTMF?

Puta, foi bem style porque na real quando fui pra lá eu não sabia muito bem como fun-cionava. Só fui porque eu queria andar de skate e acho que, naturalmente, a galera sempre me recebeu muito bem, abriu todas as portas e isso foi o que influenciou muito

na minha vida. Estar fazendo uma sessão com o Vi (Kakinho) e o Felipe (Foguinho), foram as pessoas que na época me fortale-ceram. Eu não tinha nenhum apoio, o Vi tava lá sempre me dando shape, rodas, roupas, o que fosse. O Léo (Kakinho) sempre me dando ideia boa, me incentivando. Foi isso, me sinto honrado e sempre vou representar aquele lugar como a minha segunda casa. Lá é o lugar que quero construir minha famí-lia, no futuro, daqui uns dez anos.

O que você aprendeu lá que você vai levar pro resto da vida?

Questão de humildade e receptividade. Ali,

Fs boneless, Barcelona.

rodrigo gonzales // entrevista am

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naquelas cinco ruas, quando você está meio triste, onde quer que você vá a galera já quer saber como você está, te convida pra surfar ou andar de skate. Eles te põe pra cima, tá ligado. Eles não olham seu skate e querem ser melhor que você, eles curtem o que você faz e te incentivam pra fazer ainda melhor.

Como você encara o uso de equipa-mento de proteção?

Acho bom pra quem consegue usar. Eu não uso e não é por estilo, mas sim por-

que eu nunca soube usar. A minha pista era baixa, então não tinha isso. A molecada não usava, eu muito menos e quando eu conheci acho que já era meio tarde. Então hoje, quando eu coloco pads, até me atra-palha muito. Mas eu até procuro andar às vezes no half de pads, pra tentar me acostu-mar mas não conseguiria correr um campe-onato usando algo do tipo.

Como é pra você encarar o corre de amador no Brasil? Vale a pena virar pro?

A gente está na rua, andando de skate, mais por amor do que por dinheiro, ou do que qualquer outra coisa.

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Por enquanto pra mim ainda não vale a pena, pretendo esperar mais uns dois anos e ter bastante experiência na gringa. Porque acho também que o meu skate hoje não se adapta muito ao mercado no Brasil, ele ainda não está tão valorizado. Hoje os caras querem a pessoa que ganha o campeonato e tipo, pra mim, campeonato não vai mudar nada porque as pessoas esquecem no dia depois. O irado é estar fazendo foto todo dia, fazendo vídeo. O Brasil está caro, é foda!

Eu não passaria agora, acho que não está na hora. Mas se fosse, teria que estar muito bem estruturado porque está difícil andar de skate no Brasil. A gente está na rua, an-dando de skate, mais por amor do que por dinheiro, ou do que qualquer outra coisa.

Como foi sua primeira experiência na gringa?

Pô eu não ia, estava foda porque no final do ano tinha machucado meu pé e acabei saindo dos patrocínios na época. Acabei

adiando a viagem! Coisa de um mês antes da parada rolar, o Kennedy Radar, que é um cara que devo muito e que fez muito por mim no skate, fez um envolvimento com a BRX - acabei entrando na Birdhouse e também na marca dele, a Sobrenomy. Rolou também uma parada com a Édem Skate board e a gente fez todo um movimento. Eu já tinha também um dinheiro guardado e acabei indo.

Qual foi o roteiro e como foi trombar o Moska por lá?

Bomb drop suicida, Barcelona.

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Quando fui pra Floripa eu conheci o bowl da Hi, o bowl do Pedro e foi aí que surgiu o verdadeiro amor pelas transições de verdade, aquele lance de andar todo dia durante um ano.

Primeiro eu fui pra França, em um campe-onato, depois pra Praga e de lá estava indo direto pra Barcelona; daí encontrei o Moska. Nunca o tinha visto na vida, não o conhecia! Nos trombamos loucos na festa, de madru-gada, daí ele me chamou pra ir pra Berlim, disse que tinha tudo certo pra ficar lá. Che-gando em Berlim, no tradicional pico dos bancos, todo mundo estava lá com as malas e o Moska disse que o esquema não tinha virado; a gente acabou dormindo ali mesmo. Aí veio um cara e trocou ideia; ele acabou convidando a gente pra ficar na casa dele. Ficamos eu, Moska, Lekinho e o Sergio An-dré em um quarto na casa do cara, que nos recebeu muito bem. Depois fui pra Barce-lona, passei uma temporada de um mês e meio lá, andando de skate na rua todo dia.

Lá no Rheumatic você estava andando com uma latinha de cerveja na mão. Você costuma andar bêbado?

Não tem nada melhor que você ir em um evento de skate como o Rheumatic. Você se diverte, dá risada com seus amigos e vai pra casa com todo mundo ganhando junto; nin-guém ganhou de ninguém. Geralmente não ando bêbado, mas na real no dia anterior ti-nha feito uma tatuagem e estava passando mal, vomitando e com a imunidade baixa. Estava zoado, não conseguia comer e já ia começar a sessão, então acabei tomando umas brejas. Lembrei do Marlon andando com uma latinha na Filadelfia, um cara que é muita inspiração no skate como um todo. Acabei brisando também nessa, pra ver qual que é. Foi irado que não deixei ela cair nenhuma vez! Mas eu não consigo andar bêbado, só em eventos especiais como o Rheumatic. (risos)

E como está o corre pra finalizar sua primeira videopart?

Ia soltar agora no final do ano mas vou esperar pra pegar imagem na Califórnia também, pra poder fazer o melhor possível. Eu ainda não tenho uma videopart até hoje porque eu quero fazer da melhor forma pos-sível e também pra poder mostrar um skate que não tenho visto ultimamente no Brasil, vai ser só rua e bowl de verdade.

// RODRIGO GONZALES19 anos, 6 de skateBirdhouse Brasil, Édem Skateboards, Sobrenomy e CavePoolNasceu em Campinas, mora em SP Boardslide no corrimão com kink, Barcelona.

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// TEXTO E FOTOS RODRIGO K-B-ÇA

ELE NASCEU HERNIÓGENES E FOI APELIDADO MICROFONE, MAS É COMO MIKE DIAS QUE ESTE SKATISTA DA ZONA SUL PAULISTANA CADA VEZ MAIS SE FAZ CONHECIDO. SEU SKATE TÉCNICO, DE MANOBRAS TÃO COMPLICADAS QUANTO SEU NOME DE BATISMO, MAS FLUÍDAS E CHEIAS DE ESTILO, SÃO APENAS ALGUMAS DAS CARACTERÍSTICAS QUE FAZEM DELE UM SUJEITO ÍMPAR.

Com um bom humor característico, na busca incessante por fazer o bem, Mike Dias, em sua primeira entrevista como profissional, mostra que sua evolução não se resume somente ao

nível de skate. Entre outras qualidades, sua atitude positiva em relação à vida faz dele uma pessoa que inspira admiração. E é plan-tando coisas boas, positivas, que Mike Dias cada vez mais colhe bênçãos em sua vida.

Não tem como começar essa entrevista sem perguntar uma coisa: como o Micro-fone virou o Mike Dias?

Todos sabem que meu nome é diferente e complicado. Até meu pai, que escolheu esse nome, me chama pelo apelido. Quando par-ticipei pela primeira vez do Damn Am, em Woodward, o cara que fazia a inscrição não entendia meu nome de jeito nenhum e per-

guntou se eu tinha apelido. Respondi em inglês que meus amigos me chamavam de Microphone ou Mic e ele disse “Posso co-locar Mike Dias?” Respondi positivamente e aqui estou.

Existe alguma diferença entre ser ama-dor ou profissional no Brasil?

Esse assunto é complicado. Na real, tanto o amador quanto o profissional têm que ma-tar 10 leões por dia. Ser ligeiro para conquis-tar e manter seu espaço no game. Não pode vacilar, pois o skate é injusto.

Na sua opinião quais seriam os crité-rios adequados para um skatista ser pro-fissional?

O amador teria que ter uma carreira no skate, seja com vídeo partes, fotos em re-vistas, viagens nacionais ou internacionais e campeonatos, não sendo necessário ter todos os requisitos, porém se preencher to-

dos, já seria meio caminho andado para o profissionalismo. Infelizmente os pódios con-tam muito quando falamos nesse assunto no Brasa, mas não podemos esquecer que temos muitos talentos no skate que não cur-tem participar dos eventos, mas represen-tam nas ruas tanto ou até mais do que os campeonateiros nas pistas.

Como amador, mesmo andando muito na rua, você era presença frequente em campeonatos. Está sentindo falta dos campeonatos neste seu primeiro ano como profissional?

Os campeonatos me ajudaram muito quando eu era amador, tanto financeira-mente quanto no marketing pessoal. Hoje em dia estou viajando tanto, filmando e fa-zendo fotos, que nem deu tempo de sentir falta dos champs; mas quando tiver algum vou estar lá, dando trabalho! (risos)

entrevista pro // mike dias

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Pouca gente gosta de mandar manobras técnicas em bordas tão grandes. Mike Dias resolveu flipar antes de correr o noseslide no pouco utilizado hubba da Praça Charles Miller no estádio do Pacaembu. Flip noseslide.

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Você é de uma família humilde. Seus pais lhe apoiaram na decisão de ser um cara que iria viver do skate? Qual a im-portância deles pra você ser a pessoa que é hoje?

Vamos dizer que minha família não é fã de skate, mas meus pais me apoiaram e me apoiam muito para eu fazer o que gosto e me deixa feliz. Louvo a Deus pelas boas atitudes e exemplos do Seu Beto e pelos en-sinamentos, amor e muitas surras da Dona Lu. Hoje sou um bom cidadão porque vocês são ótimos pais. Obrigado.

Hoje você é pai de uma filha linda e, de quebra, também se preocupa com o filho de um relacionamento anterior da sua esposa. Consegue entender melhor algu-mas coisas que seus pais diziam?

Meus pais sempre me deram ótimos exemplos e pude aprender cada ensina-mento. Poder passar tudo isso para meus filhos é uma honra, pois os amo e sempre quero o melhor para eles.

Que coisas você aprendeu com a vida de casado e de pai?

Quando eu era solteiro, andava muito largado. Não estava nem aí pra nada. Não tinha horários, nem compromissos e só que-ria saber de skate o dia todo - essa época era da hora – (risos). Com o casamento fui aprendendo aos poucos que há tempo pra tudo e nem tudo é skateboard. Aprendi a va-lorizar ainda mais as pessoas que amo e, isso sim, vale a pena praticar todos os dias!

Além de andar de skate, você ajuda com as coisas de casa. Como acaba sendo a sua rotina?

Minha rotina é bem tranquila. Quando não estou em tour ou em missão, acordo cedo, dou um beijo na minha esposa linda e vou fazer um workout. Volto e deixo minha filha no transporte escolar, tomo café da manhã e dou um check na net. Em seguida dou uma arrumada na casa e vou dar um rolê de skate. À tarde volto para casa, pego mi-nha filha que chega da escola, faço a janta e fico brincando com minha filha até minha esposa chegar. Jantamos, agradecemos a Deus pelo dia maravilhoso e vamos dormir.

E como fica o coração de pai quando tem que viajar?

Dá saudade, mas eles sabem que estou fazendo o corre por mim e por eles. A von-tade é levá-los comigo, para fazer aquela bagunça em família. Iria ser muito louco!

Em 2013 você foi para os EUA, ficando uma boa temporada e, recentemente, você viajou pra África do Sul. Como fo-ram essas viagens?

Fui pra gringa só com a fé em Deus que iria ser uma viagem satisfatória, com mui-tas sessões de skate e não foi diferente dos meus pensamentos. A temporada em Los Angeles foi maravilhosa. Quero agradecer todos que me ajudaram de alguma forma. Não citarei nomes, pois são muitos. Quem me ajudou sabe... “Tamo” junto família. Agra-deço de coração! Já a viagem pra África do Sul foi surpreendente. Já sabia que iria participar de um campeonato muito visado e que andaria com skatistas cabreiros do mundo todo... Mas o melhor da viagem foi fazer um safari e poder ver muitos animais que eu só tinha visto pela TV ou pela inter-net, poder conhecer os skatistas locais e

Meu pai é preto, minha mãe é branca, eu sou marrom, minha esposa é loira e

minha filha é branca do cabelo enrolado. O Brasa é uma mistura doida, fora do comum.

Ao invés de rotular as etnias, acho que devemos praticar mais a empatia.

Já que o Vale do Anhangabaú terá outra cara em breve, nada melhor que registrar um hardflip antes que a nova arquitetura acabe com os clássicos blocos marrons.

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Apesar da altura da borda, Mike Dias sempre enxerga inúmeras possibilidades para picos como esse. Nollie noseslide nollie heelflip out.

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Ter skill suficiente pra andar em bordas altas ajudou, e muito, na tarefa de acertar um switch backside tailslide para representar os blacks de toda a Zona Sul.

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saber que o amor pelo carrinho é o mesmo ou até maior. Obrigado Form Skateboard e TipTechnology, por fazerem essa viagem ser uma das melhores da minha vida.

Acha que viajar é importante para um skatista? Quais as próximas viagens que deve fazer?

Viajar é o mais importante para o ska-tista evoluir, expandir os conhecimentos e, ao mesmo tempo, fazer o marketing do seu trabalho com o skate, pois quem não é visto, não é lembrado. Tenho algumas viagens marcadas mas não gosto de ficar falando. Só confio em Deus de que tudo vai dar certo e pronto. Quando pensam que estou aqui, BUM, estou lá, na skatelife. (risos)

Mudando um pouco de assunto. Qual o peso da religião na sua vida? Você fre-quenta alguma igreja?

Sou cristão. Frequento uma igreja e acre-dito que cheguei até aqui porque o Senhor meu Deus tem me ajudado em cada mo-mento da minha vida. Tenho total fé em Je-sus Cristo e sou grato por ele ter morrido na cruz por mim. Mesmo eu sendo tão falho, ele é maravilhoso e misericordioso para me per-doar e me chamar de filho! Obrigado Senhor.

Enquanto a gente fazia as fotos notei que você falava, sempre de maneira po-sitiva, do fato de ser negro. Você sente orgulho da sua cor?

Sinto muito orgulho da minha cor e sem-pre digo que represento todos os blacks da Zona Sul de Sampa. (risos)

Você já sofreu com racismo? O que você acha quando algumas pessoas fa-lam que não existe racismo no Brasil?

Já sofri com isso, mas não vale a pena fa-lar. Meu pai é preto, minha mãe é branca, eu sou marrom, minha esposa é loira e minha filha é branca do cabelo enrolado. O Brasa é uma mistura doida, fora do comum. Ao invés de rotular as etnias, acho que devemos pra-ticar mais a empatia.

Você é um cara que se preocupa muito com a imagem que passa, tanto pessoal quanto como skatista. De onde vem essa preocupação?

Quando se vive uma vida “pública” você tem duas escolhas: ter boas atitudes, que se transformam em bons exemplos e, direta ou indiretamente, vai ajudar alguém ou então você pode fazer ao contrário. Prefiro a pri-meira opção.

Até que ponto você acha que as boas atitudes na vida refletem no seu skate?

Boas atitudes nos dão alegria e, quando estamos alegres, conseguimos fazer tudo mais fácil. Isso reflete não só no skate, mas também na minha vida!

Descreve uma manobra perfeita. Qual a receita? Quais os skatistas que você mais curte ver andando e que se encai-xam nesses quesitos?

A manobra perfeita é aquela que você acerta e fica tão feliz que sai correndo, pu-lando, gritando e abraçando seus camara-das. Não importa se voltou com as quatro ou se os braços estavam perfeitos. O importante é a satisfação própria pelo acerto! Não estou falando de filme, foto ou campeonato, es-tou falando de skateboard. Os skatistas que mais curto são o Ricardo Macaco, pelo pop e pelos skills no switch; o William Damascena, pelo corre monstro que sempre faz para cap-turar suas tricks controladas em qualquer lu-gar do mundo e o Jonatan Samambaia, por sua vontade de andar de skate e pelo traba-lho social que ele faz com a Diamante Bruto, no Jardim Rosana, Zona Sul de Sampa. Má-ximo respeito “ma brothas”!

Você é um cara que, além de andar de skate, também treina pesado pra manter o corpo em forma. Como você se deu conta dessa necessidade?

Me dei conta que eu sempre me con-tundia. Já quebrei dedo, pulso, cotovelo e ombro. Torci o pé três vezes, estirei a viri-

lha duas vezes e minha lombar já inflamou algumas vezes. Percebi que alguma coisa estava errada e me dei conta que minha alimentação era a pior possível e que teria que começar a fortalecer meu corpo para aguentar as sessões pesadas de skate. Pesquisei e conversei com algumas pes-soas boas nesse assunto. Mudei alguns há-bitos na minha alimentação - até onde meu bolso me permite (risos) - e comecei a prati-car alguns exercícios para fortalecimento do meu corpo. Confesso que minha vida mu-dou para melhor. Estou mais disposto, mais saudável e com mais skills no skate!

Nos anos 80, um skatista com 25 anos era considerado um cara velho. Hoje vemos profissionais chegando aos 40. Como você acha que será o seu futuro como skatista?

Meu futuro no skate depende somente de mim. Busco trabalhar corretamente, an-dando de skate e cuidando do meu corpo. Desta forma, acredito que terei uma longa vida no skate. Já pensei em diversas coisas para fazer quando eu estiver mais velho, po-rém o futuro a Deus pertence. Ele sempre tem o melhor pra mim e nesse assunto não será diferente.

Para encerrar, sei que a pergunta é cli-chê, mas gosto de saber o que cada pes-soa pensa a este respeito. O que o skate significa pra você? É esporte, estilo de vida?

Skate é uma coisa inexplicável. Você estar com seus amigos, que só o carrinho poderia proporcionar tais amizades. Poder sentir a maravilhosa sensação de dar uma trick, de deslizar ouvindo o barulho do truck na borda de concreto ou pular uma escadaria grande, na qual você flutua no slow natural da vida... Mano, skate é um bagulho muito louco e eu agradeço sempre a Deus por tê-lo colocado em minha vida!

Na real, tanto o amador quanto o

profissional têm que matar 10

leões por dia.

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Penhasco de um lado, chão ruim de outro. Nem estes problemas impediram Mike Dias de “inaugurar” este pico com um backside fifty.

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Boas atitudes nos dão alegria e, quando estamos alegres, conseguimos fazer tudo mais fácil. Isso reflete não só no skate, mas também na minha vida!

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// MIKE DIAS27 anos, 16 de skateSão Paulo, SPPatrocínios: Form Skateboard e Black SheepApoio: Arqagriptape, Cbskateshop e Drop Family

Mike Dias mal voltou da África do Sul e chegou com gás suficiente para acertar, em poucas tentativas, este switch frontside tailslide 270. Isso é vontade pura de andar de skate!

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Pedro Barros, o grande catalizador. No comply fs tailslide na casa do Felipe.

Presente: Condomínio do Guga, Rio Tavares.

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POR CESAR GYRÃO // FOTOS JOVANI PROCHNOV, ADRIANO REBELO,HELGE TSCHARN, NEFHAR BORCK, ANDRÉ MATOS

42 PRAIAS, RICO FOLCLORE E UMA ARRAIGADA CULTURA DE SURF. ESSA É A ILHA DE SANTA CATARINA, UM LOCAL COBIÇADO DESDE A ÉPOCA DA COLONIZAÇÃO POR PORTUGUESES DA ILHA DOS AÇO-RES, PIRATAS E OUTROS EUROPEUS QUE HÁ SÉCULOS ATRÁS JÁ HA-VIAM SIDO ENCANTADOS COM TANTAS BELEZAS NATURAIS. OS NATI-VOS, AOS POUCOS, FORAM SENDO VENCIDOS POR TANTAS INVASÕES DE CULTURAS DIFERENTES… NÃO É MUITO DIFERENTE HOJE EM DIA.

Definitivamente Floripa é um lugar atraente. De poucos anos para cá, outras atrações se impuseram. A Ilha da Magia tornou-se uma das mecas do skate mundial, principal-mente quando se fala de transições, mais precisamente de bowls e similares. Cada vez mais pessoas procuram se estabelecer por lá para beber deste caldo. A última grande novidade é o skatepark do Condomínio Casting Arruda, no já conhecido bairro do Rio

Tavares, casa do surfista Guga Arruda, pai do skatista Arthur “Tuco”. Neste novembro, a pista será a sede do Red Bull Skate Generation, o quinto evento da série criada na casa do Pedro Barros, no RTMF Bowl, em 2010. Como lá atrás, no meio dos anos 1990, quando surgiu o primeiro bowlzinho neste mesmo bairro, no terreno onde mais tarde foi criada a pousada Hi Adventure, o board vai contaminando mais, mais e mais. Léo Kakinho, o antigo prodígio do skate de Guaratinguetá, em São Paulo, havia sido seduzido pelas ondas da Ilha e foi um dos primeiros a abraçar a ideia da construção do primeiro bowl, em 1997. O ambiente começou a reviver os velhos tempos das transições da pirambeira em forma de pista no Clube 12 de Agosto, no outro lado da Ilha, em Jurerê. No distante 1978, tive o prazer de participar de um dos primeiros campeonatos de skate vertical do Brasil, no snake run do 12. Ao chegar no portão do clube, avistei as cores do que mais parecia um festival de rock, com tantas estrelas da época, com equipes de São Paulo, do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul, do Paraná e locais. Luis Roberto “Formiga” estava entre eles, representando a pista Wave Park, de SP, e registrando o que foi o primeiro aerial em uma competição no Brasil. Um fs air em uma das curvas daquela paredinha cavada, uma verdadeira maluquice. O skate vertical em Floripa se desenvolveu em intercâmbio com outros centros, mas com personagens catalizadores de tempos em tempos, ligando a região com outras praças do país, em intercâmbios que conec-taram a cidade com Guará, Rio, São Paulo, Porto Alegre, Curitiba… Houve a época dos half pipes de madeira, no meio dos anos 80, como o do Aterro da Baía Sul e o do bairro Santa Mônica e, muitos anos depois, o do Fernando Gomes, em Coqueiros. Na era das vacas ma-gras, foram opções para quem sonhava com piscinas ou quem simplesmente se divertia com os amigos. Lá pelo meio dos anos 1990, a Drop Dead levou um campeonato de vertical, mon-tando seu half em plena Praia Mole. Lincoln Ueda, Digo Menezes, Marcelo Kosake, Miguel Catarina, Cristiano Mateus e tantos outros skatistas presentes, fazendo escola. Ligar o skate em half pipes com a atual cena de bowls na Ilha passa naturalmente pela proliferação das minirrampas de madeiras. Elas foram fundamentais para acordar o monstro que havia dentro de todos, quando a primeira foi montada no Rio Tavares. Numa delas, o alemãozinho de dois, três aninhos deu seus primeiros fakies, depois seus ollies. Sim, estou falando de Pedro Bar-ros, que atendeu pelo diminutivo grande parte de seus 20 anos. Ali no bairro, Pedrinho cres-ceu com um mestre do quilate de Léo Kakinho. Seu pai, o André, foi o maior incentivador e logo estava construindo o próprio half pipe da sua cria, no novo terreno que comprara, bem próximo de onde hoje fica o RTMF Bowl, um novo half e área de street. Lá pelos seus 8 anos de idade, Pedro já dava altos aéreos e preparava a base para ganhar o mundo com seu skate explosivo. São números e conquistas impressionantes que levantaram o tsunami brasileiro sobre o bowlriding mundial. Não é pouco chamar Pedro de fenômeno, pois com ele todo um novo cenário foi se desenhando. Parece tão perto da gente quando se fala das vitórias do cara em eventos como o famoso Vans Pool Party, em Orange County, na Califórnia, ou em Bondi

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Beach, na Austrália (aliás, país onde Pedro e seu pai André moraram por um pequeno período de sua infância). Quando se fala dos eventos em sua casa, principalmente os da série Generation, um vasto corredor de celebridades do skate se faz presente. Dos brasileiros Léo Kakinho a Mauro Mureta, de Sandro Dias a Cristiano Mateus, de Marcelo Kosake a Luis Roberto Formiga, de Franco Bertagnoli a Marcos Kbça. Dos grin-gos Jeff Grosso, a Steve Caballero, de Duane Peters a Steve Alba, de Pat Gnoho à estrela máxima Christian Hosoi. Pedro, Felipe Foguinho, Vi Kakinho, Murilo Peres, Otavio Neto, Nilo Peçanha, Marlon Silva… De diferentes origens, todo esse mundo de skatistas e esse punhado de história se traduzem numa proliferação absurda da cultura do skate na Ilha da Magia. Com a ida de Eduardo Dias com sua Drop Family para a área, mais força se uniu ao que já estava borbulhando. A pousada Hi Adventure continua sendo um caldeirão de formação de novos skatistas e também um bom motivo para que muitos antigos skatistas não deixem de andar, pelo menos uma vez por semana na sessão old school das terças. Miguel Catarina começou com as aulinhas de skate na pousada, depois encabeçou o evento The Number One of RTMF (junto com o

Sangue novo, Kalani Konig, no seu quintal, fs crailslide. Rio Vermelho.

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Laércio Pescoço voltou a andar nas sessões old school na Hi Adventure. Invert no Guga.

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Caíque Silva, fs stall fs grab reentry, Konig.

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Micael “Mika” dos Passos, do half do Tonel, em Estância Velha, para Floripa. O cara se radicou na Ilha para viver o sonho do skate. Madonna no RTMF Bowl.

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André, o Rafa e outros amigos) e a Hi continua como parada obrigatória e projeção de talentos. Depois, Affonso Muggiati assumiu a escolinha, logo mais tendo suporte do Oscar Mad. Parte da nova cena de Floripa começa ali seus primeiros rolês. Entre eles o Ian Poleto, Gabriel Penteado, Vinicius Kothe, Isadora, Yndiara Asp e Pedrinho Carvalho. Com a mesma ideia de ter o prazer de andar de skate em seu próprio quintal, muitos ou-tros criaram pequenas cenas em seus bairros. João Batista, ou simplesmente o JM, por exem-plo, em 1994 já montava suas rampas de madeira no gramado de casa. Logo, o gaúcho criou em seu Dagger’s Ranch, uma espécie de “mini mega” com mini ramp que foi capa da Tribo Skate com um rodeo de Allan Mesquita em 2006. Em 2011, JM conseguiu realizar o sonho de construir seu primeiro banks, que recentemente ganhou acaba-mento de coping blocks adquiridos com o André Barros. João foi o responsável pelo primeiro pico do gênero no bairro do Rio Vermelho, distante al-guns quilômetros do RTMF. Entre alguns dos ska-tistas que estavam lá no início do Dagger’s Ranch, estava Marquinhos Gabriel, que plantou seu nome na cena e hoje divide sessions com os irmãos Zene e Lucas Sachs, o Caíque Silva e ou-

tros do Red River. Ali naquela imensa praia onde o vento ecoa nas árvores, outros bowls surgiram em quintais, como o do Marcio Konig. Seus filhos Kalani e Luka evoluem espan-tosamente em casa. Outro quintal que tem nome e sobrenome é o do Arthur Rockenbach, o das panelinhas verdes que já foi Casa Nova aqui na revista. Há um outro que constará aqui como “secret spot”, para preservar a tranquilidade do dono. Era um antigo sonho de ter onde praticar com sossego, pois as únicas opções que ele tinha eram a Hi e duas pistas públicas distantes. Esse é o mais recente, de dezembro de 2014, mas antes dele, outros lugares na região são frequentados por bowlzeiros ou quem quer aprender a an-dar. Um deles é o Sushi Bowl, do Luciano, próximo ao JM e um lugar onde você pode curtir uma session e uma boa comida japonesa. O outro pico fica na Barra da Lagoa e tem o nome de Kintal. A grande procura de lugares legais para se andar de skate, fez surgir todo um movimento por parte dos criadores do RTMF. André Barros usou sua

Food Truck Parking Lot.

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André Barros é um dos articuladores da nova cena e segue surfando e andando de skate. Fs grind, Food Truck Lagoa da Conceição.

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Marcos Gabriel é um dos primeiros bowl riders de Flo ripa que se tornou profissional. Viaja o mundo explorando bowls e piscinas. Stale fish to disaster no Guga.

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Local da Hi Adventure, Yndiara Asp espalha manobras por todos os cantos. Fs feeble na curva.

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Outro “sem freio”, Hericles Fagundes se adapta a qualquer terreno com facilidade. Fs nosegrind no Floripa Skatepark, no Campeche.

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O pioneiro do Rio Vermelho, o gaúcho JM em seu quintal. Layback to tail.

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Daniel Kim, fs grind, Inside Corner, Rio Tavares.

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Adriano Py, bs carving grind, Sushi Bowl, Rio Vermelho.

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Rodrigo Guerra, fs kiwy rock’n’roll, Kintal, Barra da Lagoa.

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Para representar na Hi Adventure, Pedrinho Carvalho foi com um clássico bs air na extensão.

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influência para a reforma da pista da Costeira do Pirajubaé, luta de skatistas como Ronaldo Ja-maica e Alexsandro “Gu” da Silva. Enquanto ele não abre, algumas opções são particulares, mas acessíveis. É o caso do Floripa Skatepark, na praia do Campeche, próximo ao Rio Tavares. Ou-tro não é acessível, a não ser para convidados, nas imediações da Canto da Lagoa. Foi presente de um pai para seu filho, o Felipe O. H. Este é o bowl da abertura da matéria, um dos mais incrí-veis do país, conforme depoimento de 100% dos amigos que lá andaram. O movimento do skate de transições na Ilha da Magia é tamanho que

Luis Roberto Formiga, fs ollie no RTMF Bowl.

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Arthur Rockenbach, fs smith grind seat belt em casa. Rio Vermelho.

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Marcos Gabriel, fs ollie no secret spot da área.

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ATOS

O novo skatepark no condomínio do Guga tem muitas opções de linhas. No lugar de uma piscina de verdade, com água, Guga convenceu a construtora a lançar um complexo de bowls. Tiro certo. Zene Sachs sai do Rio Vermelho pra deixar seu bs smith grind no Rio Tavares.

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acaba criando um intenso fluxo de migração de skatistas, alguns que passam temporadas por lá para aprimorar a técnica e outros que se mudam definitivamente. No momento, o Carlos Alberto “Cheirinho” hospeda em sua casa dois dos principais amadores do skate de bowl do momento: Mika dos Passos e Hericles Fagundes (atual campeão mundial amador). Felipe Foguinho, de Guará, morou alguns anos na Ilha. Marcelo Kosake fica entre idas e vindas de sua terra, Curitiba, inclusive agora recentemente com suas aulas de half pipe na rampa do Pedro Barros. Gui Godoy Barbosa, outro monstro do bowlriding, dono do Vert In Roça em Guará e irmão de Léo Kakinho, passou meses e meses construindo belas pistas na região. A parada é tão intensa que o antigo campeão brasileiro junior de 1978, Luis Roberto Formiga, depois de um longo afastamento do skate, voltou embalado

pelo espírito RTMF e hoje está em sua melhor fase, aos 51 anos de idade. A fome de fazer pelo skate e contaminar mais pessoas com nossa cultura, fez surgir no início do ano um local que é a síntese de Floripa, o Food Truck Parking Lot - Lagoa. Para quem já teve o prazer de morar ou estar na Ilha de Santa Catarina, a Lagoa da Conceição é a bela paisagem que centraliza os seus extremos, passagem obriga-tória para as praias e lugar pra se socializar com tantos visitantes de lugares do mundo todo. Bem no meio da “muvuca”, você senta pra fazer um bom lanche, tomar uma cerveja ou suco no entorno de uma réplica atualizada do banks em oito de Guaratinguetá. Se hoje a cena de Floripa instiga tantos a viver a cultura do skate, os personagens que arregaçaram as mangas e colocaram a mão na massa, desde os anos 70, que durmam com esse barulho…

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POR CESAR GYRÃO // FOTOS MIKE BLABAC

“Trabalhar com o Iqui, Thaynan e o Felipe foi muito legal, porque eu jáconhecia os moleques, mas nunca pensei que a gente ia trabalhar juntos em um projeto focado em nós.”

Tiago Lemos tem visão além do alcance e faz as manobras parecerem fáceis! Ss bs smith em Brasília.

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Muitos vão lembrar do The DC Vi-deo, de 2003. Talvez um dos úl-timos grandes vídeos da marca, que ficaram na memória com par-tes instigantes de seus grandes

skatistas de então, entre eles Josh Kalis, Rob Dyrdek, Ryan Smith, Brian Wenning, Anthony Van Englen, Colin McKay e Danny Way. Talvez fique melhor para lembrar se fa-larmos do Rob Dyrdek sendo escoltado por seu guarda-costas o “Big Black”, da evolução espantosa do Danny Way na Megarrampa, ou da sessão metaleira de McKay e Way no half pipe. Reparem na lista de nomes acima, praticamente todos são de origem norte-a-mericana (EUA e Canadá). Corta para 2015.

Depois de tantos anos, a DC Shoes lança neste mês de novembro um novo full video, desta vez com nomes de brasileiros puxando o trem. A vanguarda latina vem capitaneada por partes de Felipe Gustavo, Tiago Lemos, Carlos Iqui e Thaynan Costa. Como no DC Video, o De La Calle/Da Rua conta com ima-gens produzidas por mais de dois anos, mas desta vez, foi o brilho dos skatistas desta parte da América que promoveu o desejo da marca de produzir um novo vídeo, incluindo seu time global na levada – Wes Kremer, Evan Smith, Tristan Funkhouser, Chris Cole, Mickey Taylor, Madars Apse, Matt Miller, Cyril Jackson, Tommy Fynn, Josh Kalis, Da-vis Torgerson, Jagger Eaton e Tom Schaar. Com todas as sessões gravadas em países da América Latina e contando com skatistas locais, a fita tem direção de Chris Ray, um cara que se notabilizou com grandes filmes, muitos produzidos para a revista Transworld Skateboarding. Ver essa inversão de valores da cultura do skate é uma bela mostra do que podemos oferecer para o mundo.

:: FELIPE GUSTAVOVocê é do time principal de profissionais da DC. Essa posição lhe chamou mais responsabilidade em tocar o projeto do filme, já que os demais brasileiros são amadores?

Sim, com certeza. Além do que, não são só os brasileiros. Mas quem são os brasilei-ros? Haha, Tiago, etc?

Quais foram os seus melhores momen-tos? Países visitados, picos sinistros, manobras choradas para voltar, conquis-tas pessoais…

Acredito que quando fui pra Portugal, foi umas das primeiras trips do vídeo pra mim. Logo em seguida, fomos pra China. Essas duas foram aonde mais renderam imagens. Muitas manobras que eu já havia imaginado, consegui voltar. Então, acho que essas duas trips foram essenciais. Além do que, me ma-chuquei logo depois e fiquei sem poder fina-lizar o vídeo. Mas, mesmo assim, estou feliz com minha parte!

Qual o som da sua parte? Você ajudou na edição das imagens?

Na real, tenho trabalhado com o Massimo com isso. Tem sido bem difícil, por causa dos direitos autorais. Várias músicas que eu queria usar, não consegui autorização, en-tão, a partir daí, deixei na mão dele pra fazer o melhor. Espero que gostem!

Como foi trampar com o Chris Ray?Com o Chris trabalhei muito pouco. Mi-

nha parte foi mais filmada com o Dylon e o Massimo.

“Sempre quis trazer a equipe para a minha cidade (Brasília), porque sabia que todos iriam

curtir os picos e tudo mais.”

Felipe Gustavo e um ligeiro 360 flip bs crooked 180 em LA.

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“Sobre as personalidades, não somos muito diferentes, no final, somos crianças nos divertindo.”

Thaynan Costa “coast to coast” no movimento, 50-50 em Brasília.

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Você foi o guia para as filmagens em Brasília, sua terra?Foi muito style. Sempre quis trazer a equipe para a minha ci-

dade, porque sabia que todos iriam curtir os picos e tudo mais. Já tinha uns picos na mão para os moleques, haha…

Como vocês conseguiram puxar o time global para traba-lhar com vocês no filme?

Acho que isso veio com o crescimento do skate na América do Sul. Vem crescendo muito, eles viram isso e decidiram pegar a gente, que é do Brasa, e fazer esse projeto!

:: TIAGO LEMOSDe uma hora para outra você projetou seu nome no cenário internacional, gravando para vários projetos, fotografando muito. Desde quando começou a produzir imagens para o vídeo da DC?

É, então, é a maior doideira! Esse foi um ano cabreiro; sur-giram vários projetos do nada, nem tive muito tempo pra ficar com minha família. Então, eu filmei pra esse vídeo por mais ou menos uns dois anos.

Como foi trabalhar com seus parceiros Iqui, Thaynan e Felipe, sempre conhecendo novos DC guys latinos e mesmo os do time global?

Trabalhar com o Iqui, Thaynan e o Felipe foi muito legal, porque eu já conhecia os moleques, mas nunca pensei que a gente ia trabalhar juntos em um projeto focado em nós. Isso foi muito louco. Foi perfeito, porque aí fechou o kit: amigos, skate, zoeira, diversão e trabalho, tudo junto e misturado. E ainda tive a oportunidade de conhecer melhor o Wes Kremer, Evan Smith e outros moleques do time da DCShoes.

Quais foram as melhores sessions de sua parte? E o que você mais curtiu no vídeo?

As melhores sessões, pra mim, foram em New York, aqui no Brasil, em Guadalajara (no México) e as de Los Angeles. O que eu mais curti no vídeo foi o nome: De La Calle/Da Rua, porque o skate veio da rua e na rua é onde tudo acontece.

:: CARLOS IQUIAtualmente você está mais nos EUA do que em casa no Brasil. Como foi pra você separar material de seu país e desbravar a América Latina?

Então, as viagens para a América Latina foram bem impor-tantes e legais, todas com uma vibe muito boa. Em todos os

lugares que passamos, encontramos sempre boas pessoas mostrando a cidade e picos diferentes incríveis.

O que o De La Calle/Da Rua vai mostrar de diferente frente aos grandes vídeos atuais, no seu ponto de vista?

No meu ponto de vista, vai mostrar os atletas americanos da marca andando nos picos mais difíceis da América Latina e ‘full parts’ somente de brasileiros, que puderam filmar em todas as partes do mundo!

Você foi o guia da molecada em Porto Alegre? O que marcou mais dos dias em sua terra?

Sim, tive a oportunidade de mostrar minha cidade, minha fa-mília e onde tudo começou para mim no skate. Foi bem louco. Não foi numa boa época do ano, por conta de muita chuva, mas conseguimos andar em alguns picos e meu pai fez um ‘churras’ na casa da minha família para toda a equipe da DC Shoes. Foi bem louco; momentos que nunca vou esquecer.

:: THAYNAN COSTAPor morar em Portugal e se debandar para países desco-nhecidos na América Latina para gravar, o que representou esse vídeo pra você?

Esse é um projeto muito louco, porque todos que temos parte nos conhecemos há muito tempo e é muito engraçado como acabamos juntos neste filme. Gostei muito de conhecer mais a cultura de alguns dos países que pude visitar durante esse ano.

 As grandes cidades em todos os lugares do mundo têm picos de rua legais, mas ainda se encontra muita sujeira e buracos nas cidades latino-americanas. Como vocês en-frentaram os lugares toscos? Quais os picos mais legais?

É difícil andar em muitos dos picos da América Latina. Gosto de andar em picos no centro de cidades grandes, mas durante este vídeo fomos para lugares mais tranquilos, porque quando vamos em tour, somos muitos e fica difícil andar nos centros, porque a maioria dos picos são 5 min e “kick out”.

 Você participou das poucas sessions em pistas, como os especialistas em transições? Como foi lidar com tantas personalidades diferentes? 

Não fui nesta parte da viagem. Era um tour de duas partes entre Argentina e Brasil e eu fui na parte da Argentina, mas não andamos em pistas. Depois quando foi a parte do Brasil, eu voltei para Portugal. Mas sobre as personalidades, não somos muito diferentes, no final, somos crianças nos divertindo.

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Alex Carolino representa muito bem a equipe brasileira com este switch 360 shovit no tradicional monumento em Brasília.

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“As viagens para a América Latina foram bem importantes e legais, todas com uma vibe muito boa.”

Carlos Iqui mostra o pop único que está no sangue latino. Switch bs flip em Costa Mesa, Califórnia.

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Estamos a poucos meses da primeira edição dos Jogos Olímpicos na América do Sul, que será realizada no Rio de Janeiro, entre 5 e 21 de agosto de 2016. Logo depois, entre 7 e 18 de setembro, será a vez dos jogos Paralímpicos, que contarão com 4.350 atletas de 178 países. E a julgar pelo

desempenho no Parapan de Toronto, realizado em agosto, a expectativa é a melhor possível. A delegação brasileira voltou com 257 medalhas, sendo 109 de ouro. Para comparação, no Pan de Guadalajara, em 2011, foram 197 medalhas sendo 81 de ouro. Ou seja, ganhamos muito mais medalhas e a meta para o ano que vem é pular do 7º para o 5º lugar no quadro geral.

Na última olimpíada de inverno, realizada em 2014 na Rússia, o paulistano André Cintra foi o porta−bandeira do Brasil na cerimônia de abertura. Ele perdeu parte da sua perna direita num acidente de moto aos 18 anos e hoje representa o nosso país no snowboard.

Em janeiro deste ano, ele se consagrou como o primeiro brasileiro a ganhar medalha numa etapa do circuito mundial. Aos 34 anos, conquistou o bronze em Aspen, nos Estados Unidos, na categoria SB−LL1. “Além desta, só fiz mais duas provas este ano. Fiquei em 7º lugar no mundial da Espanha e peguei ouro no campeonato brasileiro, que rolou no Chile, agora em agosto”, comemora.

Antes de perder uma perna, Cintra andava muito de skate. Hoje aderiu ao longboard. Ele chegou a treinar na AAS com Amy Purdy (ver destaque a seguir) e lamenta que não haja nada parecido no Brasil. “Ainda não temos uma cultura de esportes radicais profissionais”.

Mas se engana quem acha que ele para por aí. Além do snowboard, Cintra também pratica corrida, kitesurf e wakeboard . E para cada modalidade ele tem uma prótese diferente. Com o apoio das confederações e sem nenhum patrocinador privado, leva um dia a dia normal, com emprego numa empresa, e se ausentando para competir nas duas temporadas do ano. “Grande parte das despesas com hospedagem, treino e alimentação é subsidiada pela CPB e CBDN, as próteses e partes dos equipamentos eu mesmo pago”.

Ainda assim, ele mantém a esperança por dias melhores. “Eu penso que é um processo progressivo, com o tempo isso pode mudar. Mas é necessário que as novas gerações se interessem por esportes mais radicais e que atletas adaptados se desenvolvam e tenham ótimas performances”. E dá o caminho das pedras: “o público quer vibrar vendo competições. Acho que o Brasil ainda tem poucos eventos que proporcionam espaço aos atletas e um tipo de show de esporte pro público. Os EUA são mestres nisso, eles têm eventos pra tudo e o esporte reina entre suas atenções e patrocínios”. 

APESAR DE TODAS AS DIFICULDADES, O ESPORTE BRASILEIRO NÃO PÁRA. PELO CONTRÁRIO, AVANÇA CADA VEZ MAIS E MAIS ALTO NO PÓDIO. SEJA EM COMPETIÇÕES OLÍMPICAS OU NÃO. ESTAMOS FALANDO DE ATLETAS COM DEFICIÊNCIA, QUE MESMO CONTANDO COM POUCO APOIO E PRATICANDO ESPORTES RADICAIS, FAZEM BONITO MUNDO AFORA E SE TRANSFORMAM NOS NOVOS ÍDOLOS DE MUITA GENTE. OS RESULTADOS ESTÃO AÍ, TRANSFORMADOS EM MEDALHAS, CIDADANIA E REABILITAÇÃO.

POR PEDRO DE LUNA // FOTOS PABLO VAZ

Eu respeito pessoas como Og de Souza e Ítalo Romano por não pararem. Eles fizeram do skate a sua vida, assim como eu trabalho mesmo com as minhas limitações.

Oscar Loreto Jr.

LENDA DO SKATE DE RUA SENTADOO pernambucano Og de Souza, 43 anos, também já sentiu a emoção de participar de um grande evento mundial. Mesmo não fazendo parte da competição, o skate foi representado por ele na abertura dos jogos Pan-americanos de 2007, no Rio de Janeiro. Og ficou famoso por disputar o circuito brasileiro em condições iguais com todos os atletas. Já esteve entre os 15 melhores do Brasil e disputou duas finais, uma em São Paulo e outra em Tampa, na

André Cintra.DI

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Ítalo Romano e sua escalada para…

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O EXEMPLO QUE VEM DOS EUAQuando tinha 19 anos, Amy Purdy perdeu as duas pernas por conta de uma meningite bacteriana que quase lhe tirou a vida. Ao invés de lamentar, ela deu várias voltas por cima e se tornou a tricampeã mundial de para−snowboard. Suas histórias de superação estão em seu livro Por um sentido na vida (editora Agir, 240 páginas), lançado este ano no Brasil. Aos 36 anos de idade, Amy também é atriz, modelo, estilista e dançarina.

E mesmo se tornando uma superstar, ela resolveu ajudar outras pessoas na mesma situação. Criou com o marido Daniel Gale a Adaptive Action Sports (adacs.org), a primeira organização não governamental sem fins lucrativos para adaptados em skate e snowboard, auxiliando aos amputados e veteranos de guerra através da prática de esportes.

Uma das primeiras iniciativas de Amy foi criar um time de atletas para os dois esportes. E no time inicial de skate lá estava Oscar Loreto Jr, 29 anos. Ele abraçou tanto a causa que se tornou o team manager, o coach, e o responsável pelos vídeos e as mídias sociais. Oscar nasceu em Los Angeles sem o pé esquerdo e apenas um dedo na mão direita.

Em entrevista exclusiva a Tribo Skate, Oscar acha que começar a andar de skate é mais difícil para aqueles que tinham todos os membros e, então, perderam algum. “Vejo que as pessoas que nasceram deficientes já sabem como se adaptar um pouco mais facilmente”. No caso do skate, ele acredita que é possível fazer qualquer manobra básica mesmo sem uma perna ou parte dela. “Mas os amputados acima do joelho têm mais dificuldade em fazer as mais difíceis”.

Oscar explica que nos EUA não existem muitos campeonatos de skate adaptados então eles seguem o modelo da Street League. “São três ou quatro etapas e os pontos são computadas num ranking. No verão eu fiz uma versão beta de campeonatos adaptados”. Lá as ONGS sem fins lucrativos não recebem automaticamente dinheiro do estado. “Podemos nos candidatar a bolsas, mas são difíceis, ainda mais para o skate. Fazemos levantamento de fundos e pedimos doações de produtos a empresas. A Element tem sido um grande defensor desde 2006. Eles doaram dinheiro para viagens e produtos”. Apesar de não fabricar próteses, a AAS ajuda a angariar fundos para algum integrante da equipe que necessite.

Sobre a Rio 2016, Oscar lamenta que o skate não faça parte dos Jogos Olímpicos. Pode não parecer, mas existe uma importante diferença do snowboard ser considerado um esporte olímpico, mesmo que de inverno, e o skate não. Tanto que uma pessoa paga a AAS para participar do snowboard, já que existe um programa de desenvolvimento paralímpico, e não paga nada no caso do skate. No Brasil, da mesma forma, a confederação de snowboard está filiada ao Comitê Paralímpico Brasileiro e a de skate não.

Oscar diz que nos EUA ou no Brasil sempre existirão os que utilizam a deficiência como desculpa para não trabalhar. “Eu respeito pessoas como Og de Souza e Ítalo Romano por não pararem. Eles fizeram do skate a sua vida, assim como eu trabalho mesmo com as minhas limitações. Algumas pessoas têm circunstâncias especiais, mas acredito que a maioria, se precisar de dinheiro, pode trabalhar ela mesma para conseguir”.

Flórida, em 2005. Na etapa do mundial realizada na Alemanha, em 2002, ele venceu a competição de melhor manobra.

Atualmente, Og mora em Olinda e anda aos finais de semana, mas continua sonhando com um patrocínio. “Continuo fazendo apresentações em eventos amadores e competindo entre os masters aqui no Nordeste”.

Ídolo do momento, o paranaense Ítalo Romano, 25 anos, possui patrocinadores e é o único skatista sem pernas a andar na megarrampa. Ele perdeu as duas quando tinha 11 anos, após cair debaixo do trem onde surfava no teto. Inspirado em Og, começou a competir pra valer e, em 2011, se consagrou campeão paranaense amador (categoria amador 2).

O vice−presidente da Confederação Brasileira de Skate (CBSK), Ed Scander, explica que está sendo feito um levantamento da quantidade de atletas nesta condição junto às federações para avaliar a viabilidade de se criar uma categoria específica. “Quando se falou a respeito, havia apenas dois profissionais no país, Og e Ítalo, o que não justificaria uma categoria. Mas com a massificação do skate no país, caso existam vários paraskatistas filiados podemos incluir na última etapa do campeonato brasileiro amador, previsto para dezembro”. Ele diz que há também uma grande movimentação para o skate fazer parte das Olimpíadas de 2020.

Não importa os obstáculos, nem as limitações. Perseverantes e corajosos, os nossos heróis do esporte brasileiro estão sempre voando para o alto e avante.

Og de Souza e a capa da edição 57.

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Oscar Loreto Jr.

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Oscar Loreto Jr, fs ollie.

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… o imenso shovit sobre a escada.

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Alef Rodrigues // FOTOS JUNIOR LEMOS

Skate e roupas atuais: shape Dic Athletic, rodas Element, rolamentos Reds e trucks Royal. Touca Wu Tang, camisa Neway e tênis Öus.Manobra que não suporta mais ver: No comply.Manobra que ainda pretende acertar: Nollie flip crooked nollie flip out.Rede social que mais usa ultimamente: Youtube e Instagram.Principal dificuldade em ser skatista na sua área: Falta união entre os skatistas, muitos só reclamam e poucos fazem acontecer.Skatista profissional em quem se espelha: Stevie Williams.Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Tam Viagens.Atual melhor equipe de skate brasileira: Öus.Amador que você gostaria de ver pro: Eduardo Duzinho.

// Alef Rodrigues de Oliveira19 anos, 6 de skateCampinas, SPApoio: Dic Athletic e Neway

Dê o sangue para chegar no seu objetivo, que na hora certa vai acontecer.

Bs lipslide na Praça das Águas, Campinas.

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Gustavo Picaski// FOTOS NEFHAR BORCK

Skate e roupas atuais: shape Elephant, rodas Bones e trucks Independent. Roupas e acessórios Mormaii.Manobra que não suporta mais ver: Fifty fifty.Manobra que ainda pretende acertar: 1080.Rede social que mais usa ultimamente: Instagram e Facebook.Principal dificuldade em ser skatista na sua área: Falta de bowls de cimento pra treinar.Skatista profissional em quem se espelha: Bob Burnquist.Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Rip Curl.Atual melhor equipe de skate brasileira: Lay Back Beer.Amador que você gostaria de ver pro: Micael dos Passos.

// Gustavo Picaski12 anos, 3 de skateDe Curitiba, PR, mora em Imbituba, SCPatrocínio: Mormaii Apoio: Session Store, Fifty Skate Surf Shop e Elephant Brand Skateboarding A caminhada é longa, mas o objetivo é óbvio.

Invert, RTMF Bowl.

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Matheus Luz// FOTOS RAPHAEL KUMBREVICIUS

Skate e roupas atuais: shape Amount, rodas Bones, rolamentos Reds e trucks Independent. Camiseta do Pinkfloyd e calça preta.Manobra que não suporta mais ver: Bs crooked.Manobra que ainda pretende acertar: Blunt bs heel out.Rede social que mais usa ultimamente: Instagram.Principal dificuldade em ser skatista na sua área: Chão ruim, poucas pistas, pouco incentivo e muitos oportunistas.Skatista profissional em quem se espelha: Danilo do Rosário.Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Heineken.Atual melhor equipe de skate brasileira: Jah Light.Amador que você gostaria de ver pro: Percy Jr.

// Matheus Luz17 anos, 7 de skateCuritiba, PRApoio: Amount Skate Faça o que tu queres, pois é tudo da lei.

Bs fifty no Largo da Ordem, Curitiba.

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A boa energia de uma sessão fora do comum deixa o clima propício para manobrar. Ivan Monteiro, 270 flip boardslide. Chegada da Mountain Dew no Brasil. São Paulo, 18 de outubro de 2015. Foto: Junior Lemos

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Apesar de ser um sucesso na gringa, o aplicativo Skatewire da Nike SB ainda não pegou no Brasil. O objetivo é que o usuário realize na vida real o maior número de manobras e compartilhe estes vídeos na plataforma. Eles integrarão um ranking global e, através do Game of S.K.A.T.E.,

podem ser selecionados para ações locais da marca. Destaque para os vídeos dos atletas profissionais mostrando como executar as manobras por vários ângulos diferentes. Disponível para download gratuito no iTunes da Apple.

Ainda falando sobre smartphone, a chinesa Xiaomi chegou ao Brasil neste segundo semestre e com força total. O segundo lançamento por aqui é o modelo Redmi 2 Pro (R$ 729 pelo http://br.mi.com), que tem entre os pontos fortes a memória RAM com 2 GB, os 16 GB de armazenamento e as câmeras com filtros e bom desempenho em ambientes pouco iluminados.

Na opinião da Diretora de Marketing, Gabriela Viana, “o Redmi 2 Pro tem várias características que combinam com o estilo de vida dos skatistas”. Ela destaca a tela com vidro AGC Dragontrail, que é super resistente, a câmera traseira que faz vídeos em Full HD e os dois slots para SIM 4G que permitem compartilhar rapidamente os arquivos em redes sociais. “É um aparelho compacto, ergonômico, com uma excelente configuração e o melhor preço da categoria”. Agora é testar e opinar.

Fechando a coluna com música boa. O trompetista de nu jazz Guilherme Mendonça, mais conhecido como Guizado, acaba de lançar o seu terceiro álbum, O Vôo do Dragão, em CD, vinil artesanal pintado à mão e em formato digital gratuito (http://guizado.bandcamp/releases). Conhecido por acompanhar artistas como Nação Zumbi, Criolo e Karina Buhr, o skatista também já teve três músicas suas incluídas em vídeos de skate, duas delas para a Vibe Shoes.

“Eu andava de skate mais intensamente por volta dos 13 até os 16 anos, quando a música começou a ocupar tempo integral na minha vida”, conta Guizado em entrevista a coluna. “No início dos anos 2000, nos EUA, fiz uma série de shows ao lado da banda do Tommy Guerrero e montei um skate novamente”. Ele diz que isso o ajudou a entender o centro gravitacional do corpo na região central do abdômen. “Me auxilia como trompetista, dá mais firmeza e controle na coluna de ar”.

Já no lado artístico, ele explica que assim como as manobras mais antigas são reinventadas, também é possível recriar a música. “Eu pego algumas frases do Miles Davis, por exemplo, junto com outras do Freddie Hubbard, e quando eu consigo realmente assimilá-las, elas se tornam naturais no meu fraseado. Daí então eu posso criar algo novo, uma linguagem minha. Acho que os skatistas criativos também passam por esse processo”.

DESTA VEZ O DESTAQUE DA COLUNA É O APP DE VÍDEOS DA NIKE, O NOVO TRABALHO DO GUIZADO, E O CELULAR DA XIAOMI, QUE CHEGOU AO BRASIL NO SEGUNDO SEMESTRE DESTE ANO PARA ENTRAR NO MERCADO COM FORÇA TOTAL.

O CELULAR DA CHINA, UM APLICATIVO E O TROMPETISTA SKATISTA

// POR PEDRO DE LUNA

1. Telas do app da Nike SB.2. Redmi 2 Pro. 3. Gabriela Viana, Diretora de Marketing da Xiaomi.4. Guizado num ollie sem skate. 5. Guizado e seu inseparável trompete.

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// Blunt BrasilO boné Flex Fit 110 Bat, a bermuda de moleton

Dark Inside, a camiseta Dark Bat e o meia tie dye são apenas algumas das várias opções de

kits que a Blunt coloca com força nas ruas.bluntbrasil.com.br / [email protected]

// Black SheepLançamentos da marca neste mês, os novos bonés snapback trazem tecidos especiais na aba e detalhes bem discretos nas estampas. Já a mochila modelo Ledge é robusta e conta com porta skate, sendo feita para ir da escola pro rolê de skate ou praquela trip.(11) 5071-8850 / [email protected]

// Habitat SkateboardAgora dentro do seleto leque de marcas distribuídas com exclusividade no Brasil pela Plimax, a Habitat Skateboard desembarca por aqui com linha completa das últimas séries de shapes lançadas recentemente!(11) 3251-0633 / [email protected]

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A MENTE INQUIETA DE RAGUEB ROGÉRIO ENCONTRA A TRANQUILIDADE DE QUE PRECISA QUANDO ESTÁ ANDANDO DE SKATE. O QUE NÃO QUER DIZER QUE SEJA CALMO O SOM QUE O ACOMPANHA NOS ROLÊS, PELO CONTRÁRIO! É SIM A MAIS PURA CONTEMPLAÇÃO SUPREMA DO MAL. OUÇA A PLAYLIST DELE LÁ NO YOUTUBE.COM/TRIBOSKATEMAG E SINTA O PESO COM SEUS PRÓPRIOS TÍMPANOS.

Black Flag, Nervous Breakdown

Dead Kenndys, Holiday in Cambodia

Bad Brains, Sailin’ On

Black Sabath, Heaven and Hell

Danzig, Am I Demon

Die Hunns, Hate & Love

Youth Brigade, Did you Wanna Die

Garage Fuzz, Remains Wasted

G.G. Allin, Freaks, Faggots, Drunks & Junkies

Dag Nasty, Under Your Influence

*Ragueb Rogério (Gardhenal Skates, Volcom, Independent Trucks, Vans e GnarlyFoot)

Escuta som andando de skate? Sim Não

Onde você mais ouve música?NO CARRO, MEU MAZDA MODELO PROTEGE.

Fs feeble no spot DIY da Vila Prudente, em SP.

DANI

EL R

OMER

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POSITIVE HARDCORE. ASSIM É A QUESTIONS, BANDA DE HARDCORE DE SÃO PAULO, QUE COMPLETA UMA DÉCADA E MEIA ESTE ANO. FORMADA POR AMIGOS E COM MENSAGENS DE PROTESTO, UNIÃO E RESPEITO MÚTUO, A QUESTIONS LEVA À RISCA A MÁXIMA FAÇA VOCÊ MESMO E COM ISSO CON-QUISTOU O PÚBLICO NÃO SÓ BRASILEIRO, MAS TAMBÉM O CONTINENTE EUROPEU, ONDE A BANDA JÁ FEZ ALGUMAS TURNÊS. A IDENTIDADE DA BANDA ESTÁ NÃO SÓ NA SONORIDADE, MAS TAMBÉM NO MATERIAL GRÁFICO E EM TUDO QUE ELES POSSAM USAR COMO MEIO PARA PASSAR SUA MENSAGEM. NESSA ENTREVISTA, PABLO MENNA BARRETO, GUITARRISTA DA BANDA, FAZ UMA REFLEXÃO SOBRE OS 15 ANOS DE ATUAÇÃO, ALÉM DE FALAR SOBRE A CENA UNDERGROUND, O CHOQUE CULTURAL NA PRI-MEIRA VEZ EM QUE PISARAM NO VELHO CONTINENTE E SOBRE A ATUAL SITUAÇÃO POLÍTICA E SOCIAL DE REGIÕES TOMADAS PELA GUERRA. É HARDCORE POLITIZADO, SEM SER PANFLETÁRIO. CONFIRA.

Quinze anos de estrada, de uma trajetória que começou com a ami-zade na periferia de São Paulo e o interesse pelo que acontecia no cenário underground do final dos

anos 80. Como é olhar para trás e ver esse rastro de atitude positiva em que a Questions se transformou?

Muito bom. Manter a banda viva significa manter a amizade e o espírito que a gente tinha quando era moleque. Por um lado, tudo mudou. A vida de cada um vai tomando ru-mos diferentes, a gente assume responsa-bilidades, encara novos desafios. Por outro, nada mudou. Somos quatro amigos de bairro com vontade de tocar e expressar nossas ideias. Manter isso vivo por tantos anos é uma puta conquista por si só. Ver e sentir que outras pessoas dos mais variados lugares se identificam com o que a gente diz e com

o nosso som, é muito gratificante. Dá o gás que a gente precisa para continuar na luta.

A banda tem como marca registrada a postura enérgica e positiva não só em suas letras, mas também nas suas apre-sentações ao vivo. Como é possível man-ter essa fórmula por 15 anos?

Só é possível manter essa “fórmula” por-que não é uma fórmula. A energia da música, do show, é algo natural para nós. É algo que nos pegou quando a gente era moleque e que não esquecemos mais. O hardcore pra nós é, entre tantas outras coisas, isso: banda e público fazem o show juntos. Um alimenta a energia do outro. Quando isso acontece de verdade, é uma parada muito forte, nunca conhecemos emoção parecida na vida. En-tão podemos dizer que a gente meio que vi-ciou nesse sentimento, cada vez que a gente vai tocar é isso que a gente busca.

Numa reflexão sobre os 14 anos da banda, publicada no site de vocês, foi dito que o “Faça Você Mesmo” é o lema desde o primeiro dia. E o que podemos notar é que a Questions não é só sonori-dade. Isso fica claro pelas capas, artes de flyers (de shows nacionais ou tours pela Europa) e demais linguagens artísticas que a banda se utiliza para atingir seu público. Essa é uma forma de mostrar que é só arregaçar a manga e fazer você mesmo que as coisas acontecem?

A gente entende que uma banda, espe-cialmente de hardcore, não é só música. Além das letras, claro, toda a forma que nos comunicamos é importante. Desde o co-meço a gente se propôs a buscar a nossa própria identidade, seja no som, nas capas, cartazes, adesivos, vídeos e tudo mais. Muito em função do nosso vocal Edu (Revol-

POR DEISE SANTOS // FOTOS LUIZ TREZETA

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back), que sempre gostou de desenhar, de montar fanzines etc. Ele foi desenvolvendo seu estilo e isso aparece em tudo o que a gente faz. Desde cedo a gente entendeu que, se ficássemos sentados esperando as coisas acontecerem pra gente, nunca iríamos sair do lugar. A gente se inspirou e se inspira nas pessoas e bandas que são correria, que fazem as coisas acontecerem. Tá aí o principal legado que o punk deixou e que procuramos levar pra frente.

Quais bandas vocês podem citar como influência de autogestão, postura, enfim, bandas que fizeram com que vocês se-guissem em frente?

Já dissemos isso muitas vezes, mas não cansamos de repetir: a gente viveu o Se-pultura do começo, então o Max e o Iggor foram os caras que nos ensinaram a cor-rer atrás das coisas que a gente queria na vida. Eles vieram do metal, mas levaram a postura punk “faça você mesmo” ao máximo e construíram a maior banda underground que já existiu por aqui. Muito respeito ao Ra-tos de Porão também, que está aí com todo o gás há mais de 30 anos; não é para qual-quer um. Acabamos de tocar alguns shows com eles na Europa e os caras continuam destruindo. Dos gringos, duas referências obrigatórias são o Sick of it All e o Madball. São bandas dos anos 80 que fazem os me-lhores shows de hardcore de hoje, na nossa opinião. E os caras são honestos com o som e com a mensagem que passam, não tem estrelismo nem nariz empinado, são verda-deiros. Isso é o mais importante.

A banda é rapidamente identificada pelo material gráfico, que como você disse, é assinado pelo Edu (Revolback), dentre as artes produzidas por ele para a banda, qual a que mais marcou vocês?

Cada uma tem um significado especial e é muito bom ver como o trabalho dele foi se desenvolvendo ao longo dos anos. A arte com as nossas mães no disco “Life is a Fi-ght” é uma das mais marcantes com certeza.

Como se chegou a essa ideia de ho-menagear as mães dos integrantes? Por sinal, a sensibilidade do Edu Andrade ao desenvolver várias versões da capa é algo louvável.

Ele veio com o nome da música/disco, e também com a ideia de representar isso com a imagem das nossas mães. Se é para falar de uma vida de luta, nada mais apro-priado que homenagear nossas mães, que batalharam muito para criar os filhos num ambiente com muitas dificuldades. E nin-guém aqui virou engenheiro (hahaha). Te-mos consciência que escolhemos um cami-nho difícil para nós e elas sempre apoiaram as nossas escolhas.

Como foi pisar pela primeira vez no solo europeu? Houve choque cultural? Alguns mitos caíram por terra? O que essa experiência influenciou na trajetória da banda?

Tocar na Europa era um sonho de mo-leque. Foi uma coisa que não veio fácil pra nós, a gente teve que batalhar muito para chegar lá. Então, quando finalmente acon-teceu, o sentimento de realização pessoal foi muito grande. Na primeira tour, em 2007, fizemos quase 40 shows em 17 países, um

rolê gigante. Passamos por muita coisa, todo tipo de show, desde clubes super profissio-nais até os squats mais precários. Apren-demos muito sobre como segurar o tranco, porque uma viagem dessas exige muito de todos. O choque foi enorme em vários sentidos, mas o principal, para mim pelo menos, foi ver que as condições de vida da população em geral são muito melhores que aqui. Mesmo nos países mais pobres, não existe essa quantidade obscena de pessoas vivendo na miséria ou em condições muito ruins como no Brasil. Por isso mesmo, a ga-lera tem mais chance de colar nos shows, tem tempo e pelo menos um pouco de grana pra comprar uma camisa ou um disco, se gostou da banda. Mesmo que o show seja num terça, numa cidade pequena, tem pú-blico. Isso torna possível uma viagem longa como essa, as bandas podem tocar todos os dias. Aqui parece que a gente está o tempo todo correndo atrás só para sobreviver, shows no meio da semana são praticamente inviáveis; ainda estamos muito longe da re-alidade deles. Aqui o país não proporciona nem o mínimo básico para o povo, não tem moradia, escola, hospital, transporte decen-tes, então realmente não dá para comparar. O que mais nos revolta é que sabemos que o Brasil é um país rico, enfim, essa conversa vai longe. Essa tour confirmou todas as nos-sas expectativas e nos deu a certeza de que a gente queria fazer isso mais vezes, tocar e conhecer mais e mais lugares. Desde então voltamos outras quatro vezes e pretende-mos ir o máximo possível.

O que vocês trouxeram na bagagem cultural da tour realizada no início do se-gundo semestre de 2015? Como foi tocar em festivais no verão europeu?

Já fomos cinco vezes para lá, cada tour é uma experiência única. Estamos aos pou-cos construindo nosso caminho, explorando lugares novos ou tocando em lugares onde já temos amigos e pessoas que gostam da banda. Dessa vez tivemos a oportunidade de tocar alguns shows com o Ratos de Porão, outros com o First Blood, mais uma vez com o Madball, tocamos pela primeira vez em Pa-

ris e outras cidades da França, enfim, foi a melhor tour que a gente já fez, porque além de tudo isso ainda tocamos em três festivais importantes: o Hardcore Help Foundation na Alemanha, o Fluff na República Tcheca e o Ieper na Bélgica. O mais gratificante não é só a oportunidade de tocar, mas sentir que a re-ação da galera nesses shows todos foi muito boa. Uma viagem dessas proporciona muitas experiências, não só no meio do hardcore. Sempre que possível a gente gosta de co-nhecer coisas e as duas memórias mais mar-cantes dessa tour foram: a visita ao campo de concentração de Auschwitz, na Polônia e ao museu Van Gogh, em Amsterdam.

Em uma entrevista dada a um portal de cultura independente, um de vocês falou que um dos objetivos da banda era con-seguir resgatar o sentimento que existia no cenário underground do início da dé-cada de 90 quando o hardcore não tinha subdivisões. O pensamento continua o mesmo? É possível tornar a cena UNA?

Sim, a gente sabe que esse discurso pode soar meio ingênuo ou utópico para alguns, mas foi assim que a gente apren-deu. O básico: a união faz a força. Então, nós já vivemos num lugar onde o rock em geral não é muito bem aceito, não existe uma estrutura legal para as bandas se de-senvolverem e tantas outras dificuldades. E aí a gente vai ficar arrumando mais e mais motivos para dividir as pessoas? Achamos que não. Achamos desde o começo e con-tinuamos achando que em no nosso show todos são bem vindos: punks, straight edges (sxes), bêbados, headbangers e etc. A única coisa que não faz sentido é se a pessoa tem qualquer comportamento homofóbico, ra-cista, nacionalista ou segregador. O nosso show não é lugar para nada disso.

O que os integrantes da Questions fazem quando não estão no estúdio (en-saiando ou gravando) ou no palco to-cando? Com o que vocês trabalham? O que vocês fazem no horário de lazer?

Morando no Brasil, não tem outro jeito, cada um de nós tem que ter um trampo para se manter. Estamos todos os dias na corre-

Pausa reflexiva no ponto final do trem em Aushwitz, Polônia. Eurotour 2015.

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A gente sente que todo o esforço de conscientização é válido. Então a galera que acessa nossa página pode ter uma ideia do que a gente pensa, quais são as coisas em que a gente acredita.

ria; nem sempre podemos tocar as ideias da banda com a velocidade que a gente gos-taria, mas por outro lado a gente mantém o Questions 100% do jeito que a gente quer. Não temos compromisso nenhum a não ser com nós mesmos, só com o que a gente acredita. O Duzinho é o mais ligado à mú-sica no dia a dia, ele é professor de bateria no Bateras Beat (agende uma aula corte-sia com ele, hahaha); o Edu trabalha numa firma de merch e faz as artes dele, seja desenho, xilogravura, pintura, estêncils na rua etc; o Helinho trabalha numa assessoria de imprensa e eu faço vídeos. Todo mundo gosta de artes em geral, então quando so-bra algum tempo a gente gosta de colar em exposições, feiras de zines, shows (claro, haha!), cinema e tal. Como na pergunta que a gente falou sobre a vida na Europa, infelizmente sobra muito menos tempo para essas coisas do que a gente gostaria de ter. Mas sempre que possível a gente vai. Ah, eu também gosto de jogar bola.

Vocês são de um estado que respira cultura, que tem vários locais para fazer shows, mas em outras partes do país o cenário underground é órfão de bons es-paços para shows e demais atividades. Como vocês driblam isso, para não cair na armadilha de só tocar em São Paulo? Como tem sido o contato e a descoberta de locais Brasil afora?

A gente respeita muito as pessoas que fa-zem o corre nos vários cantos do país para que as bandas possam tocar e a cultura underground se desenvolver. Sentimos que, aos poucos, existem mais espaços e chan-ces para tocar. Nos últimos anos, tocamos em João Pessoa, Natal, Porto Alegre, Pal-mas, Brasília, Belém, todos bem longe de SP, coisa que era mais difícil de acontecer nos primeiros anos da banda. A gente sempre meteu as caras e fez todos os rolês possí-veis, e não perdeu essa vontade de descobrir lugares novos até hoje. Achamos importante botar a banda na estrada e não ficar só to-cando em casa. Assim, estamos sempre em contato com produtores pelo Brasil; quere-

mos levar as ideias e o som para todos os lugares onde tenha alguém interessado.

Brasileiros estão no topo do ranking de horas gastas em redes sociais através de seus smartphones, tablets etc. Vocês acham que isso interfere na cena? Será que o público está cada vez mais optando por ficar em casa em vez de sair para co-nhecer novos espaços para shows e no-vas bandas do jeito tradicional?

Esse foi outro choque que rolou na Eu-ropa agora. Nós, como brasileiros legítimos (hahaha), estamos acostumados a estar online o tempo todo. Lá sentimos que o pes-soal não liga tanto. Sim, é claro que quase todo mundo tem o seu Face, Instagram e etc, mas a noia de ficar atualizando o tempo todo parece um pouco menor. Nos shows você vê menos gente fazendo foto com celu-lar. Quando tem alguém fotografando, geral-mente é com câmeras, lentes pro e tal. Nós achamos a internet um avanço importantís-simo, uma puta conquista da tecnologia para facilitar o contato das pessoas. A molecada que cresceu depois do email não faz ideia de como era antes disso. Mas nada subs-titui a experiência real de colar num show com seus amigos, conhecer gente de ver-dade ali, trocar ideia pessoalmente. Isso não é virtual, é vida real. O hardcore acontece nas ruas, nos shows, nas posturas que você assume na vida... real. O que acontece do teclado pra lá é virtual. Por mais que alguns possam preferir ficar em casa conhecendo bandas e sons só na net, honestamente não acho que isso vai de alguma forma ‘matar’ a cena de verdade. Pode soar meio ingênuo, mas nada substitui a experiência real, por isso mesmo isso nunca acaba.

Nas redes sociais, a banda se pronun-cia sobre assuntos sociais e políticos como, por exemplo, o apoio aos refu-giados da Síria, que vivem um êxodo só comparável ao vivido durante a II Guerra Mundial. Como o público de vocês res-ponde a esse tipo de postura? O que vo-cês pensam em relação a esse momento político e social?

Acreditamos que uma das coisas que o hardcore deve fazer é isso: tentar desper-tar nas pessoas alguma consciência sobre o que está acontecendo no mundo. Alguém tem que falar das injustiças, dos problemas, do que está dando errado. Não precisa ser muito entendido em política internacional para perceber que a crise da imigração para a Europa hoje é uma tragédia enorme. Muita gente da Síria e de outros lugares do Oriente Médio e da África estão fugindo da guerra. A opção delas é tentar fugir dali ou prova-velmente morrer. Ninguém abandona sua cidade, seus amigos, seu lugar de origem porque está a fim de roubar o emprego de al-guém num país mais rico. É um ato de deses-pero. É muito triste que isso ainda aconteça em 2015. A gente sente que todo o esforço de conscientização é válido. Então a galera que acessa nossa página pode ter uma ideia do que a gente pensa, quais são as coisas em que a gente acredita. Se se identificar e quiser se aprofundar em algum assunto, tro-car ideia, ótimo. Se não, já sabe qual a nossa visão. Vivemos um momento muito ruim em muitas coisas hoje. Existe uma radicalização generalizada no debate político, muitos dis-cursos de ódio, de atraso, pouco espaço para uma reflexão mais racional sobre quais deve-riam ser as prioridades do país. É inacredi-tável que a maioria da população ainda não tenha um mínimo de condições básicas de vida, infelizmente temos que dizer a verdade: somos terceiro mundo mesmo. Isso precisa ser dito para que as pessoas se conscienti-zem e lutem para melhorar.

Questions é:Pablo Menna - GuitarraEdu Andrade - VocalHelio Suzuki - BaixoDuz Akira - Bateria

Contatos:Site: www.questions.com.brBandcamp: questionshc.bandcamp.comFacebook: facebook.com/questionsbr Twitter: @questionshcYoutube: www.youtube.com/questionstv

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* Guto Jimenez está no planeta desde 1962, sobre o skate desde 1975.

APOIO CULTURAL

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Nesse mês de novembro, faz dez anos que o skate brasileiro perdeu uma de suas referências tanto em técnica quanto de sua cultura. Jorge Luiz de Souza, o “Tatu”, não só foi o pri-meiro a ser considerado campeão brasileiro de vertical, como também foi o catalisador para o surgimento do movimento

punk no Rio de Janeiro e precursor do skate rock no Brasil. Dentro e fora das pistas, ele tornou-se fundamental para o surgimento desse cenário geral que vemos na atualidade.

No início da década de 80, Tatu ganhou o primeiro campeonato brasileiro de skate vertical na pista de Campo Grande, no Rio de Janeiro, batendo caras que estão na ativa até hoje, como Sérgio Ne-gão e George Rotatóri. Falando na pista, ele foi um dos skatistas que mais detonaram aquele terreno em todos os tempos; eu fui local do pico durante anos e só vi dois caras andando melhor do que o “Narigudo” em seu auge, que foram Christian Hosoi e Álvaro Porquê. Fazendo apostas em equipamentos e cervejas com os que duvida-vam de sua capacidade, ele progredia ao mesmo tempo em que es-timulava o progresso dos outros – e sempre tomava as duas geladas que apostava com outros locais, sempre de “bico seco” pro perdedor. Depois de pagar para aplacar a sede dele por duas vezes seguidas, logo aprendi que não se deveria duvidar do sujeito... Obstinação era mesmo uma das marcas do Tatu, não só no skate quanto na vida de modo geral. Que digam os antigos locais de pistas como a Wave Cat e cidades como Guará, Jundiaí, Volta Redonda, Belo Horizonte e onde quer que tivesse um bowl de cimento à disposição.

Foi por causa de sua insistência que ele resolveu montar uma banda de punk rock, isso quando poucos eram os que curtiam o som no Rio; fora dos picos de skate, raros eram os que conheciam ou gostavam do estilo musical, muito diferente do que se ouvia nas rádios de então. Junto a outros dois skatistas (o então streeteiro Ol-mar “Marreco” no baixo e o eterno freestyler Lúcio Flávio na bateria) e mais o único músico no grupo (o guitarrista Cesar “Ninne”), formou o Coquetel Molotov, uma das bandas mais seminais da história do rock brasileiro em todos os tempos. Eles tocaram em locais de todos os tamanhos, de gafieiras no subúrbio e bibocas nas periferias até festivais com centenas de entusiastas (como no Circo Voador) até os que contavam com milhares de expectadores (como em Juiz de Fora). Somente após o seu surgimento foi que começou uma cena punk na cidade, estimulando o surgimento de bandas como Eutaná-sia e Descarga Suburbana, ao mesmo tempo em que tinha a sua fita demo tocada na histórica rádio Fluminense FM, a “Maldita”. A música “Ódio Às TVs” fez com que a banda fosse conhecida pelo grande público de rock que escutava a estação e que começava a ganhar número naquele momento em nosso país.

Não dá pra mensurar a importância do Tatu pra história da cultura do skate no Brasil.

Por outro lado, dá pra ficar bem feliz com a homenagem pres-tada a ele, cujo nome batiza a pista de skate do Parque Madureira, uma das melhores do país e do mundo. O “Tatu Skate Park” tem um banks com coping de granito saltado e um complexo de bowls que fomentaram não só as novas gerações de vertical da região, como também fez com que alguns veteranos resolvessem voltar a dar os seus rolés no carrinho. Como se não bastasse, a pista ainda tem uma street plaza que deixa qualquer fã da modalidade babando, com todos os obstáculos que você precisa pra detonar o seu skate. Não ficaram por aí: ainda foi construída uma miniladeira suave pela lateral da área de skate, o que faz com que praticamente todas as

TATU VIVE!

modalidades tenham espaço em suas dependências. Como amante do skate em todas as suas modalidades, Tatu certamente aprovaria o uso de seu nome a esse legado – muito embora tenha feito uma zoação característica dele, ao mandar a chuva no evento de inaugu-ração do pico onde foi homenageado... Típico dele!

Outra parte de seu legado acaba de ser restabelecida: Olmar e Cesar, os únicos remanescentes da banda na ativa no cenário mu-sical, resolveram trazer o Coquetel Molotov de volta ao cenário após mais de 30 anos. Eles juntaram-se ao baterista Sérgio Conforti e ao vocalista Rod Santoro pra retornar às atividades de shows e gravar o repertório clássico da banda, curiosamente 10 anos depois que o Tatu foi praquela Grande Pista pra qual nós todos iremos algum dia. Eu estava lá e acompanhei a primeira formação da banda desde o primeiro ensaio até o último show, e pretendo acompanhar de novo nesse retorno às atividades.

Skatista de nível internacional, que fazia todas as manobras vistas nas revistas; visionário com coragem e disposição pra militar pelo skate e pelo punk rock, isso num momento de liberdade limitada no país; zoador ao extremo e imprevisível, a ponto de arrumar brigas com desconhecidos e até amigos... Faltam adjetivos pra descrever o cara como pessoa, protagonista em cenários que não davam lá muita mídia na época e que foi essencial para o crescimento do skate e da música alternativa no país. Na verdade, tem um único que eu acho adequado: “insubstituível”. Jorge Luiz de Souza nunca será esquecido por quem o conheceu, conviveu ou andou de skate com ele, portanto que as novas gerações o conheçam e possam também reverenciar o “Narigudo” como um dos pilares do universo do skate brazuca da atualidade. Tatu vive!

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Layback grind de Jorge Luiz “Tatu” de Souza, no bowl de Campo Grande, Rio/RJ. Na virada dos 70 para os 80, Tatu fazia a revolução.

skateboarding militant // por guto jimenez*

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