treinamento intervalado[1]

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PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DO RIO GRANDE DO SUL CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAO FSICA

ANTONIO CSAR COGO

TREINAMENTO INTERVALADO PARA ATLETAS AMADORES DE CORRIDA DE RUA: BUSCANDO A INTENSIDADE IDEAL

Porto Alegre 2009

ANTONIO CSAR COGO

TREINAMENTO INTERVALADO PARA ATLETAS AMADORES PRATICANTES DE CORRIDA DE RUA: BUSCANDO A INTENSIDADE IDEAL

Trabalho de concluso de curso cientfico, apresentado Faculdade de Educao Fsica e Cincias do Desporto da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul.

Orientador: Fbio Sn

Porto Alegre 2009

Gostaria de dedicar este trabalho a um verdadeiro exemplo de vida: professora Regina Perin.

RESUMO

O presente estudo se props a investigar o mtodo de treinamento intervalado e sua aplicabilidade em estgio inicial de condicionamento fsico objetivando identificar, inicialmente, a necessidade de utilizao do mesmo em um treinamento de corrida, e os benefcios que um indivduo saudvel poderia usufruir em consequncia do mesmo; foi realizada uma ampla reviso de literatura e busca de artigos cientficos, aps a qual se constatou a enorme importncia do treinamento intervalado para fortalecer a musculatura cardaca e esqueltica, otimizar o funcionamento do sistema ventilatrio e diversas outras adaptaes fisiolgicas, contanto sua aplicao seja orientada por um profissional de Educao Fsica de maneira gradual e criteriosa. Benefcios na esfera mental e emocional tambm foram ressaltados, como autoconfiana, perseverana, coragem, disciplina, dentre os mais importantes, demonstrando que as mudanas fsicas so acompanhadas por modificaes extremamente positivas na personalidade e no carter dos atletas, sejam eles de elite ou amadores, e que estas podem ser, inclusive, to importantes quanto as fsicas; concluiu-se que corredores iniciantes podem sim se beneficiar do mtodo de treinamento intervalado para obterem melhores resultados, assim como fortalecer seu fsico e sua mente.

Palavras-chave: treinamento intervalado. interval training . fartlek.

ABSTRACT

This study was proposed to investigate the method of training range and its applicability in the initial stage of physical conditioning aiming to identify, initially, the need to use the same on a training run, and the benefits that a healthy person could enjoy as a result of same, was a comprehensive review of the literature and search of scientific articles, after whitch it is the importance of the training range to strengthen the heart and skeletal muscles, optimize the operation of the ventilation system and various other phisyological adaptations, provided their application is guyded by a professional of Physycal Education on a gradual and careful. Benefits in mental and emotional sphere were also highlighted, such as selfconfidence, perseverance, courage, discipline, amoung the most important, showing that the physical changes are accompanied by extremely positive changes in personality and character of the athetes, whether an elite or amateur, and they may be even as important as the physical, it was concluded that corridors beginners but can take advantage of the method of training range to obtain best results, and strengthen your physical and your mind.

Keiwords: training interval. Interval training. Fartlek.

SUMRIO

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INTRODUO ...................................................................................................... 6

1.1 CONTEXTUALIZAO........................................................................................ 6 1.2 PROBLEMA DE PESQUISA ................................................................................. 7 1.3 JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 7 1.4 OBJETIVO GERAL ............................................................................................... 8 1.5 OBJETIVOS ESPECFICOS ................................................................................. 8 1.6 OPERACIONALIZAO DOS TERMOS .............................................................. 8

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REVISO BIBLIOGRFICA .............................................................................. 10

2.1 HISTRIA DO TREINAMENTO FSICO ............................................................. 10 2.2 TREINAMENTO AERBIO ................................................................................. 12 2.3 TREINAMENTO INTERVALADO ........................................................................ 17

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METODOLOGIA ................................................................................................. 24

3.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO ......................................................................... 24 3.2 LIMITAES DA PESQUISA ............................................................................. 24

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DISCUSSO DOS RESULTADOS ..................................................................... 26

4.1 BENEFCIOS FISIOLGICOS DO TREINO INTERVALADO ............................. 26 4.2 BENEFCIOS PSICOLGICOS DO TREINAMENTO INTERVALADO ............... 37

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CONSIDERAES FINAIS ................................................................................ 49 REFERNCIAS .................................................................................................. 51

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1 INTRODUO

1.1 CONTEXTUALIZAO

A prtica esportiva tornou-se, nos tempos modernos, fundamental para a manuteno e aperfeioamento da sade fsica, mental e emocional. O que j foi considerado meio de recreao ou lazer, hoje um dos pilares nos quais se sustenta a to falada e desejada qualidade de vida. J no restam dvidas quanto importncia da prtica de exerccios fsicos regulares, porm muitas pessoas acostumadas ao sedentarismo e aos confortos da vida moderna, ou que tiveram experincias negativas em relao prtica de esportes, possuem dificuldades de encontrar uma modalidade que possa ser praticada em qualquer lugar e horrio, e que se adapte em suas agendas. Entre as diversas possibilidades, a corrida uma excelente opo que se apresenta para esse pblico, haja visto que, alm da praticidade - basta um bom par de tnis - os resultados podem ser notados em um perodo curto de tempo: diminuio e controle do estresse, do percentual de gordura corporal, melhora da qualidade do sono, diminuio do colesterol ruim, eficcia no controle do diabetes, dentre outros benefcios. Devido, em grande parte, sua simplicidade e ao seu carter viciante (causado pela liberao de endorfinas que gera uma sensao de bem-estar), hoje aumenta de maneira considervel o nmero de corredores em praas, parques e ruas, assim como surgem cada vez mais eventos organizados para esse pblico nas mais variadas distncias, sendo que ultimamente os que mais proliferam so as corridas de revezamento. A corrida pode receber qualquer pessoa saudvel e que busque uma atividade sem grandes limitaes de espao - pode ser realizada tanto ao ar livre quanto na esteira em dias de chuva - e o corredor iniciante no precisa ter uma habilidade especfica, basta apenas o interesse em assumir um compromisso com o bem-estar. A prtica de qualquer modalidade esportiva em que haja competio sempre estimulou o surgimento e o desenvolvimento de mtodos de treinamento que ampliassem as capacidades fsicas dos atletas. Dentre os mtodos de treinamento

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aerbio usados por corredores para a melhoria das valncias fsicas, destaca-se o mtodo intervalado, tanto por seus efeitos potencializadores de desempenho quanto pelos riscos que a sua aplicao incorreta pode provocar. Assim sendo, entende-se ser necessria uma leitura abrangente na literatura a respeito do treinamento intervalado, passando obrigatoriamente pelo destinado a atletas de elite, para poder efetuar comparaes sobre o risco de leses ou outro aspecto que possa tornar a prtica amadora segura, e, tambm, com a finalidade de coletar conhecimentos que possibilitem ao atleta amador uma prtica com qualidade de vida. Portanto, buscando reunir informaes com o objetivo de oferecer grande maioria da populao uma prtica saudvel e com resultados positivos na performance, realizaremos uma reviso nos estudos feitos at o momento comparando com resultados de mtodos de treinamento intervalado em atletas de corrida.

1.2 PROBLEMA DE PESQUISA

Quais os benefcios de um programa de treinamento intervalado de corrida na capacidade aerbia de adultos no-atletas saudveis?

1.3 JUSTIFICATIVA

Para o indivduo que inicia na prtica de uma modalidade esportiva fundamental que sejam percebidas melhoras em suas valncias fsicas, ou seja, que possa ser notada uma evoluo no seu condicionamento, pois isto servir de estmulo para a continuidade nos treinamentos; em contrrio, o atleta sente-se desestimulado e grande a possibilidade de desistncia. Assim sendo, torna-se imprescindvel que o treinamento deste indivduo seja corretamente dosado e orientado para que a atividade seja sempre uma experincia positiva, j que o mesmo no possui como objetivo participar de competies profissionais e sim uma melhoria fsica, mental e o convvio social. O treino intervalado normalmente realizado em pista de atletismo, e sendo assim pode se tornar montono, excessivamente exaustivo e at mesmo

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desmotivante; em vista destes aspectos, justifica-se um treinamento realizado de maneira que tais fatores negativos e que, eventualmente possam afastar o indivduo da prtica, sejam minimizados e/ou evitados.

1.4 OBJETIVO GERAL

Determinar os benefcios de um programa de treinamento intervalado na capacidade aerbia de adultos no-atletas saudveis.

1.5 OBJETIVOS ESPECFICOS

Determinar os benefcios fisiolgicos de um programa de treinamento intervalado na capacidade aerbia de adultos no-atletas saudveis; Determinar os benefcios psicolgicos de um programa de treinamento intervalado na capacidade aerbia de adultos no-atletas saudveis; Enfatizar o aspecto amador do treinamento e de participao em corridas, priorizando a sade e os aspectos psicossociais.

1.6 OPERACIONALIZAO DOS TERMOS

-Treinamento: atividade desportiva sistemtica de longa durao, graduada de forma progressiva a nvel individual, cujo objetivo preparar as funes humanas, psicolgicas e fisiolgicas para poder superar as tarefas mais exigentes (Bompa 2002). -Dbito cardaco: quantidade de sangue bombeado pelo corao por unidade de tempo, normalmente expressa em litros por minuto - L/min; o produto da frequncia cardaca multiplicada pelo volume sistlico (Powers e Howley 2005). -Endurance: a capacidade fsica que permite a um atleta sustentar por um longo perodo de tempo uma atividade fsica relativamente generalizada em condies aerbias, isto , dentro dos limites do equilbrio fisiolgico denominado steadystate [Tubino, 1979 apud Forjaz 2001].

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-VO2 mximo: quantidade mxima de oxignio que o organismo consegue absorver, transportar e utilizar em um minuto de atividade fsica (Powers e Howley 2005). -cido ltico: resduo metablico produzido quando o indivduo se exercita acima do limiar anaerbio; causa fadiga muscular e diminui a capacidade do corpo de absorver oxignio (Powers e Howley 2005). -Limiar aerbio: nvel de atividade fsica no qual o organismo utiliza o oxignio como combustvel, ao mesmo tempo em que consegue remover todo o cido ltico que se acumula nos msculos (Powers e Howley 2005). -Limiar anaerbio: nvel de consumo de oxignio no qual ocorre um aumento rpido e sistemtico da concentrao de lactato no sangue, limitando a atividade fsica (Powers e Howley 2005).

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2 REVISO BIBLIOGRFICA

2.1 HISTRIA DO TREINAMENTO FSICO

Os seres humanos certamente sobreviveram, segundo Newsholme, Leech e Duester (2006), no apenas por serem bons corredores, mas tambm por sua versatilidade; os autores lembram que, desde tempos antigos, a capacidade do ser humano em se adaptar ao meio e aos mais variados estmulos sempre foi fator determinante para o sucesso de uma caada ou a fuga de algum predador, por exemplo; com base apenas na sua intuio, o homem passou a observar e constatar os resultados de determinadas atividades sobre suas valncias fsicas e, assim, iniciaram-se os primeiros mtodos de treinamento, como podemos observar:

Nos primeiros anos atlticos da Grcia, at cerca do sexto ou quarto sculo a.C., considerava-se que as tarefas dirias do fazendeiro (como levantar pesos, puxar o arado colhendo milho e, o melhor de tudo, pegar cavalos correndo atrs deles) consistiam num treino adequado. Mas, com o profissionalismo, veio o treinamento especfico; ao fim do quarto sculo a.C., o programa de treinamento frequentemente envolvia um ciclo de quatro dias, onde se realizava: no primeiro dia, a fase de preparao com exerccios leves e rpidos; no segundo dia, a fase de concentrao, com esforos mximos at a exausto; no terceiro dia, a fase de relaxamento consistia de repouso e recuperao; e no quarto dia, iniciava-se um novo ciclo de forma moderada, representado apenas por exerccios tcnicos para algum evento especial futuro para o qual se estaria treinando (NEWSHOLME; LEECH; DUESTER 2006, p. 28).

Observa-se claramente, no texto acima, que j em pocas antigas o homem possua conhecimento de mtodos de treinamento sistemtico e os aplicava, apesar de estes no serem resultantes de pesquisas cientficas, mas to somente produto da observao e comparao de feitos atlticos realizados. Pereira da Costa (1972) apud Dantas (1985) organizou a evoluo do treinamento desportivo baseando-se nos Jogos Olmpicos, pois segundo o mesmo, so os Jogos, por excelncia, a vitrine onde os sucessos ou os fracassos de cada mtodo ou filosofia de treinamento so expostos ao mundo, tornando-se conhecidos. Tm-se ento os seguintes perodos: da Arte, que se estende da primeira Olimpada da antiga Grcia (776 a.C.) at a primeira Olimpada da Era Moderna; da Improvisao, que vai da primeira Olimpada da Era Moderna at a Olimpada de Anturpia (1920); do Empirismo, indo da Olimpada de Anturpia (1920) at a

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Olimpada de Helsinque (1952); o Pr-cientfico, da Olimpada de Helsinque (1952) at a Olimpada de Tquio (1964); o Cientfico, da Olimpada de Tquio (1964) at a Olimpada de Los Angeles (1984), e, por fim, o Perodo Tecnolgico, a partir da Olimpada de Los Angeles. Gomes, de Almeida e Almeida [2000] discordam parcialmente quanto classificao acima, por entenderem que antes do Empirismo (1920, conforme Pereira da Costa) j eram seguidos mtodos de treinamento sistemticos (caracterizados pelo planejamento e ordenamento prvio do controle das cargas de trabalho a serem ministradas durante o treinamento, objetivando atingir uma meta previamente estabelecida), apenas nada era comprovado cientificamente; segundo os mesmos, j na antiguidade existiam tcnicas de treinamento que foram desenvolvidas e que em muito se assemelhavam ao treinamento atual. Tubino [1979 apud GOMES; DE ALMEIDA; ALMEIDA 2000] lembra que a preparao dos atletas helnicos era composta por uma preparao multilateral, composta por uso de sobrecargas, aquecimento e volta calma; utilizavam-se ainda de dietas especiais e uma periodizao ainda que rudimentar- do processo de treinamento, qual denominavam tetras; h evidncias, inclusive, fornecidas por pinturas em vasos, demonstrando que corredores eram seguidos por outras pessoas a cavalo, o equivalente prtica corrente do pacing atual, onde os tcnicos acompanham seus atletas no percurso. Sendo assim, acredita-se ter sido esclarecido o fato de que, mesmo no perodo da Arte, conforme a classificao de Pereira da Costa (1972), j eram realizados treinamentos fsicos de maneira sistemtica, apenas faltavam-lhes conhecimentos embasados cientificamente. Bompa (2002) est de acordo com esta afirmao, lembrando que o treinamento no um hbito da civilizao contempornea, pois j na Antiguidade se treinava sistematicamente ou seja, seguindo mtodos de treinamento programados - para atividades militares ou olmpicas. Desta forma, o treinamento desportivo foi sendo difundido pelo mundo com pequenas variaes at o perodo pr-cientfico, aps a Olimpada de Anturpia (1952), quando a influncia de atletas como Emil Zatopek e Paavo Nurmi modificaria para sempre os mtodos de treinamento.

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Apenas recentemente o entendimento cientifico da performance humana alcanou o estgio em que ele pode, efetivamente, influenciar esquemas de treinamento, mas prev-se que a abordagem cientfica ser cada vez mais influenciada por atletas e treinadores que tm conhecimentos e sabem como aplic-los (NEWSHOLME; LEECH; DUESTER 2006, p. 28).

Percebe-se, segundo citado pelos autores, que a contribuio dos atletas da antiguidade foi enorme, sendo eles inclusive os pioneiros da Periodizao; as pesquisas cientficas na rea da fisiologia do exerccio evoluram somente a partir da dcada de 30, quando Reindell (mdico alemo) resolveu comprovar cientificamente os benefcios da atividade aerbia intensa sobre a musculatura cardaca de seus pacientes.

2.2 TREINAMENTO AERBIO

Desde a Grcia antiga, as primeiras competies se resumiam basicamente s corridas; este fato ilustra a importncia dada modalidade pelos atletas e treinadores da poca, sabedores do seu valor na formao de um corpo forte, resistente e bem proporcionado esteticamente, haja visto a perfeio em todos os planos ser uma busca constante daquela civilizao. Bompa (2004) e Guiselini (2007) so categricos ao afirmar que a base aerbica fundamental para o fortalecimento geral do organismo e que antecede os outros mtodos de treinamento; Campos (2008) completa, dizendo que as adaptaes especificas dos exerccios aerbios so importantes para o aumento dos benefcios adquiridos pelo treinamento com carga (musculao). Cabe aqui destacar a importncia da vascularizao decorrente do treinamento aerbio, fundamental para que os vasos sanguneos sejam capazes de transportar mais oxignio e nutrientes para a musculatura. Zatsiorski (1999) apud Hernandes Junior (2002) afirma que o treinamento de fora mxima resulta em efeitos negativos sobre a aquisio de resistncia aerbia, sendo que o inverso no verdadeiro; partindo desta afirmao, podemos concluir que, mesmo em esportes onde a fora e potncia so as principais valncias envolvidas, o treinamento aerbio constri a base slida para que o mximo desempenho possa ser alcanado. Os autores da atualidade apenas vm confirmando o que Cooper havia descoberto a mais de meio sculo, porm importante ressaltar que avanos nos

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campos da fisiologia

do exerccio,

bioqumica

e reas afins

contribuem

enormemente para o aperfeioamento do processo de treinamento. O treinamento contnuo se baseia nos exerccios tipicamente aerbios, tambm chamados de exerccios cclicos, cuja durao prolongada e intensidade baixa a moderada provocam melhoras no transporte de oxignio at o nvel celular, desenvolvendo a resistncia aerbia [WILMORE e COSTILL, 1988 apud SANTOS 2003]; as adaptaes induzidas por este tipo de exerccio so, conforme foi mencionado acima, importantssimas no apenas para os desportos de endurance, mas tambm fundamentais para que o organismo se fortalea e suporte cargas maiores de treinamento anaerbio e de fora, inclusive. A melhor definio de exerccio aerbico, logicamente, vem do homem que o criou, o mdico e coronel da Fora Area dos EUA, Dr. Kenneth Cooper. Segundo Cooper (1968 apud GUISELINI 2007), aerbios so exerccios de baixo-moderada intensidade, que podem ser realizados por perodo prolongado, graas ao equilbrio existente entre o consumo e dbito de oxignio que o organismo necessita para a produo de energia. Os exerccios aerbios tm em comum a caracterstica de se desenvolverem de maneira contnua, conforme j foi observado; Cooper (1983) cita que os melhores exerccios para o aperfeioamento da resistncia geral so: correr, nadar, pedalar, caminhar, correr no mesmo lugar, jogar futebol e basquete, exatamente nesta ordem. Aps vrios testes e estudos comparativos, verificou-se, poca de Cooper, que a corrida era a atividade onde ficavam mais evidenciadas as adaptaes provocadas pelo treinamento aerbio; alm disso, devido praticidade e simplicidade que a modalidade oferece, a ideal para ser praticada por todos, cada um segundo seu nvel de condicionamento. Cooper realmente provocou uma polmica quando afirmou que o treinamento aerbio, ou seja, o desenvolvimento da resistncia geral, era a base para se adquirir e aperfeioar todas as outras valncias fsicas; entretanto, provou que estava certo com inmeros exemplos prticos, em princpio na prpria Fora Area e depois em todo o territrio norte-americano. Seu mtodo chegou ao Brasil na dcada de 70, e a associao do seu nome s corridas foi tanta que, naquela poca, corrida era sinnimo de Cooper, no sentido literal da palavra: as pistas de corrida nos parques eram chamadas de pistas de cooper.

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Cooper (1983) enfatiza que o nosso organismo necessita regularmente, para seu desenvolvimento, de exerccios e que estes no so apenas teis para satisfazer a vaidade da aparncia fsica, mas, principalmente, contribuem de modo decisivo para a manuteno da sade e para o prolongamento da vida til. A atividade fsica considerada, por muitas pessoas, apenas um meio de manter e aperfeioar a forma fsica ou de adquirir status se destacando em alguma modalidade esportiva; infelizmente a maioria da populao no consegue perceber a importncia da prtica regular de uma modalidade esportiva para a sua sade fsica e mental. Conforme Machado (2009) boa parte da populao tem uma variedade de tarefas complexas, envolvendo raciocnio e criatividade, o que, consequentemente, acarreta uma diminuio do gasto energtico e o surgimento de doenas crnicodegenerativas, ao contrrio da sociedade antiga, onde o ser humano tinha como atividades dirias a corrida e a caminhada. De fato, com o advento da automatizao nas indstrias e os avanos da tecnologia, o ser humano foi ficando cada vez mais acomodado em suas poltronas cada vez mais confortveis e com menos trabalho braal, ou seja, atividade fsica. H 50 anos no eram to comuns escadas-rolantes ou elevadores, apenas dois dentre tantos exemplos que evidenciam a quantidade de movimento que o homem executava antigamente, comparada com a atual. Esta inatividade trouxe consequncias desastrosas para a sociedade, e Cooper soube encontrar a soluo de maneira bastante simples: propondo s pessoas que se mantivessem ativas, que fortalecessem seu sistema cardiovascular para obterem e aperfeioarem a sade fsica e mental. Embora o aspecto esttico possua um apelo significativo para motivar as pessoas a iniciarem a prtica de algum esporte visando boa forma, o autor demonstra claramente que a sade deve ser a meta principal; isto particularmente importante quando se percebem treinamentos exaustivos que nada tm de saudvel, sendo realizados por atletas de fim de semana visando uma rpida perda de peso que, na maioria das vezes obtida a um alto preo a ser pago futuramente. Campos (2008) lembra que a incluso de exerccios aerbios importante por aumentar o estmulo para a osteognese, alm de melhorar o condicionamento cardiovascular, a agilidade, coordenao, resistncia e diversificar os estmulos

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promovidos ao sistema musculoesqueltico, pois o estimulo do exerccio aerbio induz estresse ao esqueleto atravs de foras de reao do solo. A osteoporose apenas uma das patologias que podem ser evitadas com a prtica da corrida em particular, por tratar-se de uma atividade de impacto; por outro lado, importante ressaltar a pessoa do treinador enquanto organizador da planilha de treinos do atleta: este tem por funo indicar no apenas o tipo de exerccio e a intensidade, mas tambm prever situaes que evitem o estresse excessivo, e o tipo de terreno no qual o indivduo treina um fator importante a ser levado em considerao. possvel observar claramente a importncia do treinamento aerbio contnuo, que desenvolve as condies necessrias no organismo para que este possa suportar uma intensidade maior, ou ser mais exigido em outro tipo de treinamento especfico; um VO2 mx. desenvolvido necessrio para desempenhos superiores em esportes que envolvam resistncia aerbia e, como se verificar mais adiante, tambm em esportes anaerbios.O msculo cardaco altamente aerbio, respondendo ao estresse das longas distncias da mesma maneira que o msculo esqueltico responde s curtas, isto , com o aumento do nmero de mitocndrias, da quantidade de enzimas dentro desta organela e da densidade capilar (NEWSHOLME; LEECH; DUESTER 2006, p. 185).

Alguns autores inclusive denominam os treinos aerbios de musculao para o corao, por efetuarem uma hipertrofia do msculo cardaco acentuada; este aumento em espessura, principalmente das paredes do ventrculo esquerdo, a base para que o corao possa suportar esforos anaerbios com segurana, e a sua deficincia pode ser a causa de algumas mortes sbitas ocorridas recentemente no futebol, sugerindo que o que faltou aos atletas foi uma preparao fsica geral, com base predominantemente aerbia. O aumento da carga a longo prazo, segundo Guyton (2006), desde que no seja excessivamente a ponto de lesar o corao, faz com que o msculo cardaco aumente sua massa e fora contrtil, do mesmo modo como o exerccio intenso faz com que ocorra hipertrofia do msculo esqueltico. Em virtude disso, comum que os coraes de corredores de maratona aumentem suas massas por at 50% a 75%. Isso eleva o nvel do plat da curva do dbito cardaco, por vezes, por at 60 a

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100%, permitindo que o corao bombeie quantidades muito maiores que a normal do dbito cardaco. De fato, o corao uma bomba que impulsiona sangue pelas artrias e que, para funcionar de maneira mais eficiente, precisa ser maior e mais forte; maratonistas realizam a maior parte de seu treino de forma aerbia, gerando assim adaptaes altamente benficas em sua musculatura cardaca. Embora o mtodo do exerccio contnuo regular constitua o fundamento do treino de resistncia aerbia, este no deve limitar exclusivamente a sua aplicao (ZAKHAROV 2003, p.104); esta afirmao vai de encontro aos estudos de Ozolin (1971) apud Bompa (2002): o autor sugere que se desenvolva primeiramente a resistncia geral e, depois, a resistncia especfica, composta por um estmulo de maior intensidade, pois aps certo tempo realizando apenas treinamento aerbio em total equilbrio entre a oferta e o gasto de oxignio, o organismo se adapta e no mais ocorrem ganhos de performance.Dependendo da intensidade das cargas aplicadas, pode ocorrer a influncia seletiva sobre diferentes possibilidades funcionais do corao. Assim, a aplicao de cargas aerbias contribui, predominantemente, para a dilatao do corao, mas no garante a alta fora de contrao do miocrdio (ZAKHAROV 2003, p. 105).

Em consequncia disto, trabalhos de grande sobrecarga sobre um msculo cardaco que est habituado apenas a exerccios de baixa intensidade resultam em um esforo demasiadamente pesado para ser suportado pelo mesmo, e ento h limitao da capacidade de trabalho. Hernandes Junior (2002) e Guiselini (2007) concordam que, nos casos de pessoas descondicionadas fisicamente deve-se optar pelas baixas intensidades, a fim de evitarem-se leses e complicaes advindas do baixo grau de

condicionamento destes indivduos; os autores destacam que necessrio dar ateno especial aos indivduos que esto deixando o sedentarismo para ingressar num programa de condicionamento fsico, e que este programa deve ser iniciado de maneira muito suave e gradativa. Se por um lado o treinamento contnuo o mais indicado para desenvolver as capacidades cardacas e pulmonares, tambm insuficiente para elevar ou mesmo manter estas adaptaes alm de certo ponto, onde ocorre uma estagnao do rendimento atltico; tornam-se necessrios, ento, estmulos que exijam das

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referidas estruturas uma maior adaptao e que esta se mantenha de maneira consistente; surge aqui a necessidade de ser includo, gradativamente, o treinamento intervalado na rotina de treinos do atleta para que o mesmo perceba uma evoluo em seu condicionamento.

2.3 TREINAMENTO INTERVALADO

As origens do treinamento intervalado so um tanto imprecisas: o que se sabe com exatido o incio de sua utilizao de forma cientfica, ou seja, tendo um processo de desenvolvimento acompanhado por especialistas da Fisiologia com o objetivo de estabelecer normas corretas de aplicao do mtodo.A Inglaterra foi o primeiro pas a sentir a necessidade de orientar as massas para aspectos quase inexistentes at ento, do treinamento nos desportos competitivos. De todas as atividades esportivas recomendadas pelos ingleses, era notvel a preferncia dos mesmos pelas corridas, em especial as de longa durao, as quais alm de serem utilizadas como recreao, passaram a integrar a preparao do exrcito britnico, sendo utilizadas tambm para disputas entre entregadores de correspondncia que percorriam grandes distncias no seu trabalho [GOMES; DE ALMEIDA; ALMEIDA 2000, p. 43].

Percebe-se ento que os ingleses tomaram a iniciativa de desenvolver uma metodologia de treinamento para seus atletas de provas de longa distncia; treinadores americanos, por sua vez, desenvolveram sistemas paralelos que priorizavam a busca da velocidade, como pode ser observado a seguir.Por volta de 1850, os treinadores norte-americanos, influenciados pelas formas de trabalho utilizadas pelos ingleses (corridas de longa durao), comearam a experimentar diversas combinaes entre os mtodos existentes [GOMES; DE ALMEIDA; ALMEIDA 2000, p. 46].

Temos ento um vislumbre dos primrdios do Interval Training, ao mesmo tempo em que confirmamos a teoria de Dantas (1985), quando cita que Goerschler e Pihkala provavelmente tomaram conhecimento dos mtodos americanos e os adaptaram aos seus atletas. Obviamente que estes mtodos e combinaes a que os autores se referem so empricos, e podem ter dado origem, nesta mesma poca, ao fartlek.

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Treinadores da poca, como Dean Cronwell, Lawson Robertson e Mike Murphy se destacaram no panorama competitivo quando propuseram dividir a distncia total da corrida em fraes, as quais eram percorridas em velocidades prximas mxima, e entremeadas com um intervalo para recuperao orgnica, orientando assim o treinamento mais para a capacidade de velocidade, e estabelecendo uma corrente contrria tendncia inglesa de treinamento, cuja nfase recaa sobre o volume de treinamento. Surgiam ento os primeiros conceitos do treinamento com os princpios de intervalos e as pausas entre as repeties de cada corrida, que chamamos hoje de treinamento fracionado (GOMES; DE ALMEIDA; ALMEIDA 2000, p 44). Muito provavelmente agindo de forma emprica, os referidos treinadores observaram que esta variao era mais atrativa aos seus pupilos, evitando a monotonia de longos e repetitivos treinos contnuos: surgia assim o mtodo de treinamento intervalado. A escola inglesa, que influenciou geraes de atletas com sua nfase de trabalho calcada no volume de treinamento, subentendido pelos longos treinos na mesma distncia da prova, reinou at por volta de 1910, conforme Matthyesen (2007); aps os sucessos de Nurmi e Zatopek, passou-se a dar maior ateno qualidade do trabalho (intensidade); neste ponto pode-se concordar com Pereira da Costa (1972): realmente so os resultados que determinam qual mtodo eficiente ou no, e, em consequncia, seguido.Na dcada de 20, o mtodo contnuo foi substitudo pelo de repetio, cujo emprego bem sucedido, na prtica do desporto, acha-se ligado ao nome do corredor finlands Paavo Nurmi e ao no menos conhecido entre os especialistas M. Pihkhala (VOLKOV 2002, p. 15).

Esse perodo corresponde fase de transio entre o perodo da Improvisao e o perodo do Empirismo; foi quando Paavo Nurmi surpreendeu o mundo com seus resultados espetaculares na Olimpada de Anturpia: todos se voltaram para seu treinador, Lauri Pihkhala, tentando entender como seu atleta batia recordes com tamanha facilidade.De acordo com Pihkhala, o aumento na resistncia e rapidez dos corredores de longa distncia pode ser conseguido no s atravs de corridas contnuas de longa durao, mas tambm atravs de corridas repetidas, de distncias mais curtas e com altas velocidades, separadas por breves pausas de tempo (KRUMMEL C. 1930 apud VOLKOV 2002, p. 15).

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Baseados nesta informao, outros treinadores europeus desenvolveram sistemas paralelos, mas a essncia era a mesma que a utilizada por Pihkhala: intervalos de estmulo intenso seguidos por um espao onde o organismo se recuperava parcialmente do esforo. Vrios treinadores utilizam seus pupilos como cobaias, de certa forma, tentando novas maneiras de estimular o aumento de desempenho, assim como cada atleta responde de maneira diferente ao mesmo estmulo, pela lei da individualidade biolgica; sendo assim, e conforme a classificao de Pereira da Costa (1972), o treinamento ainda evoluiu de maneira emprica at o final da dcada de 20, quando os resultados do mtodo no mais passariam desapercebidos. Por definio, Volkov (2002); Brooks (2000), La Farge (1991 apud GUISELINI (2007) e Dantas (1985) concordam que o mtodo intervalado consiste numa srie de estmulos entremeados de intervalos, nos quais a carga necessria ao escolhida recai sobre a funo a ser treinada, que propiciam uma recuperao parcial. Temos ento a descrio simplificada do mtodo intervalado, e percebe-se que era basicamente isso o que fazia Nurmi, toda manh, ao sair de casa para treinar com um cronmetro na mo (ainda no existiam relgios de pulso): controlava o tempo de estmulo e o de intervalo de forma sistemtica, e isso ocorria antes do perodo pr-cientfico. Como no se possui documentao mais detalhada a respeito de seus treinos, leva-se a crer que, se no eram realizados em uma pista de atletismo ou um percurso previamente aferido, o que Nurmi realizava, na verdade, era o que se conhece atualmente por fartlek dirigido (composto de estmulos e pausas controladas e que pode ser realizado em diversos tipos de terreno e, atualmente, at mesmo em pista atltica). O emprego do treino intervalado, em diversas modalidades esportivas, permite aos atletas e treinadores atingir o aumento nas marcas para competies de grande responsabilidade em perodos de preparao mais curtos (VOLKOV 2002, p 10). Principalmente por este motivo, o mtodo foi rapidamente difundido e amplamente utilizado; atletas e treinadores observaram uma evoluo no desempenho que antes necessitava de um perodo de tempo muito maior para ser adquirida, em comparao com o interval training.

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O desportista deve correr com tal rapidez que a acelerao na corrida que ele dever manter em futuras competies lhe seja acessvel e permanea constante ao longo de toda a distncia (GERSCHLER 1962 apud VOLKOV 2002, p 16). O treinador cita a importncia da velocidade no processo de treinamento e da obteno de adaptaes cardiovasculares que sero discutidas mais adiante. Newsholme, Leech e Duester (2006) ressaltam que as pausas so necessrias porque, quando o corao est trabalhando de modo muito intenso, ele depende um pouco mais do metabolismo anaerbio, e os produtos deste metabolismo devem ser removidos pelo sangue durante os intervalos entre os perodos ativos para permitir que a carga de trabalho possa ser sustentada. Fica ento demonstrada cientificamente a necessidade do intervalo de repouso: o msculo cardaco necessita livrar-se do excesso de cido ltico para poder continuar a trabalhar na mesma intensidade no estmulo seguinte; consideraes quanto durao deste intervalo sero feitas mais adiante.Volkov (2002) observa que, j naquela poca, era ressaltada a necessidade de dosagem especial dos intervalos de repouso, mantendo-se a velocidade determinada para a corrida para garantir o efeito exigido pelo treino; esta linha de raciocnio se justifica quando se observa um relato de Pihkhala:ainda no comeo dos anos 20, (Nurmi) entendeu a relao muito importante entre treinamento, repouso e bons resultados (NEWSHOLME; LEECH; DUESTER 2006, p. 29).

Esta uma discusso antiga referente ao mtodo: vrios cientistas tentam determinar qual fator seria o mais importante, o estmulo ou o intervalo; estamos de acordo com Volkov (2002), quando o mesmo ressalta que tanto o trabalho quanto o repouso devem apresentar igual importncia para que o resultado final do treinamento seja positivo, pois entendemos que os dois so fundamentais: o estmulo no deve ser muito forte, nem o repouso muito prolongado, para que no se provoque uma involuo no processo de adaptao ao treino.Dessa forma, os estudos constataram que o mais importante no treinamento de intervalos o fato de haver um maior proveito ou benefcio do treinamento produzido durante as pausas e no durante os esforos. Por esse motivo, essas fases intermedirias entre cada esforo (corrida) foram denominadas de pausas ativas ou proveitosas, o que levou o mtodo a ser chamado de treinamento de intervalo ou interval training. A partir desse embasamento fisiolgico o mtodo passou a ter significado cientfico (GOMES, DE ALMEIDA; ALMEIDA 2000, p. 49).

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perfeitamente clara, no texto acima, a importncia do intervalo de repouso para a aquisio dos benefcios do estmulo do treinamento intervalado, razo pela qual, inclusive, o mtodo recebeu esta nomenclatura. Volkov (2002) ressalta que, no treinamento intervalado, o estabelecimento da durao da pausa e do carter do repouso apresenta importncia idntica; porm, cita que a maioria dos fisilogos alemes (REINDELL, H. 1961, ROSKAMM, H., GERSCHLER W. 1962, KEUL, J. 1961) e especialistas de outros pases (COSTES, N. 1972, METZNER, A. 1962, SMODLOKA V. N. 1964, VAN GOOR H., MOSTERD W. L. 1961) concordam que a eficcia do treinamento intervalado depende, sobretudo, da escolha correta dos intervalos de repouso. Os autores se referem importncia da durao do intervalo e, talvez com maior destaque ainda, ao no intervalo, que pode ser ativa, como numa corrida mais lenta ou caminhada, ou passiva, onde alguns treinadores sugeriam que o atleta ficasse deitado no solo. O mtodo intervalado, na modelagem do exerccio competitivo orientado, apresenta numerosas variantes, que refletem a capacidade criativa dos treinadores em diversas modalidades esportivas (HERNANDES JUNIOR 2002, p 106); apesar de ter se originado nos treinamentos para corredores de meio-fundo e de fundo, o mtodo intervalado foi adaptado para vrias modalidades esportivas, inclusive onde a fora a valncia determinante de desempenho. Independente da modalidade, o mtodo apresenta aspectos que podem ser utilizados como balizadores para se que possa utiliz-lo de maneira cientfica. Dantas (1985) assegura que os mtodos intervalados possuem alguns parmetros comuns: estmulo, tempo, nmero de repeties, intervalo e ao no intervalo. So estas as ferramentas que o treinador possui, e a partir destas variveis ele pode induzir estmulos e adaptaes no treinamento do atleta, tendo total controle sobre cada uma delas. Com o passar dos anos, e inspirados no interval training, surgiram diversos mtodos intervalados que se constituem hoje no principal instrumento para o treinamento da velocidade e da resistncia anaerbia por atletas de todas as modalidades. Dentre os mais conhecidos tipos de treinamento derivados do interval training, Dantas (1985) enumera os seguintes como os mais utilizados: interval training lento, interval training rpido, interval sprint, acceleration sprint, hollow sprint e tempo

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training; segundo o mesmo, a escolha do tipo e distncia dos tiros (forma usual entre atletas e treinadores para designar os estmulos) depender do tipo de prova para a qual o atleta est se preparando. Volkov (2002) argumenta que a principal vantagem do treinamento intervalado est na possibilidade que o mesmo oferece de ampliar significativamente o volume da carga executada e, relacionado a isso, conseguir que o organismo se adapte muito bem, sem diminuir a intensidade da funo treinada. Este um importante fator motivante pois, treinando em intervalos onde possam trotar lentamente para se recuperar (e at mesmo caminhar, aproveitando para reidratar-se), corredores iniciantes podem percorrer distncias que, de modo contnuo e mesmo sendo realizado em velocidades inferiores, no conseguiriam realizar. O mtodo fartlek (termo que se originou da juno das palavras suecas fartlpning", que significa correr, e "lek", traduo de brincar), conforme Dantas (1985), consiste numa corrida em diversos ritmos e em terreno variado, sendo que o prprio atleta estipula a intensidade do treinamento; o volume, por sua vez, determinado pelo treinador. Modernamente, utilizado em combinao com outros mtodos, em obedincia s exigncias de periodizao. De acordo com Bompa (2002), os momentos de velocidade do fartlek so planejados, e baseiam-se normalmente no sentimento e no julgamento do atleta. O uso do mtodo parcialmente especfico na fase preparatria, onde o objetivo maior proporcionar variedade monotonia resultante dos intervalados em pista. O treinamento de corrida necessita de diversificao durante os meses do ano para evitar a saturao do atleta e, em consequncia disto, a perda de motivao; isto possvel atravs da utilizao do mtodo fartlek, onde o indivduo pode criar seus percursos de treino e incluir subidas, obstculos naturais e artificiais que estimulam a competio individual; como exemplo, o atleta pode estabelecer como meta se deslocar at um ponto turstico em local elevado, ou tentar alcanar gaivotas na praia. Dantas (1985) afirma que o fartlek o mais antigo mtodo contnuo, e deu origem aos mtodos cerutty, marathon-training e cross-pomenade; por sua eficincia, grandemente utilizado at a atualidade por atletas de alto nvel; aqui o autor classifica o farltek como sendo contnuo, obviamente se referindo sua

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caracterstica de desenvolver-se em um percurso livre onde os perodos de repouso so obrigatoriamente ativos, em trote lento. Entende-se que o fartlek , por definio, intervalado, apenas

preferencialmente executado fora da pista de atletismo; inclusive, quando se quer que o atleta realize um treino livre, porm com certo grau de controle sobre a sua carga de treinamento, solicitado que o mesmo realize estmulos por certo perodo de tempo, cronometrado e controlado por ele prprio. O mtodo muito utilizado no perodo de base, onde a pista de atletismo pode, e at mesmo deve ser evitada, posto que nesta fase do macrociclo do indivduo no necessrio desenvolver velocidade e sim resistncia geral, o que obtido atravs do treinamento contnuo. Entretanto, no se pode deixar de lado por completo os intervalados, e o estmulo gerado pelo fartlek o suficiente para que se mantenha a velocidade adquirida anteriormente, tornando-se, na prtica, um meio muito eficiente para obter condicionamento aerbio e anaerbio (inda que de maneira discreta) numa mesma seo de treino, e isto de maneira descontrada, o que particularmente interessante para o atleta amador.

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3 METODOLOGIA

3.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO

Este estudo se caracteriza por ser um trabalho de pesquisa de cunho bibliogrfico que visa planejar e realizar uma reviso crtica da literatura existente na rea do Treinamento Intervalado (LAKATOS e MARCONI, 1991). Para realizar a pesquisa proposta foram identificados os artigos cientficos e os livros relacionados ao tema proposto. Para a localizao de artigos cientficos foi utilizada a ferramenta de busca disponibilizada pela biblioteca da PUCRS (pesquisas mltiplas), a ferramenta de busca do scholar Google e sites de artigos cientficos como Scielo e bancos de dissertaes e teses da Universidade de So Paulo (USP); a localizao dos livros se deu atravs de busca nas Bibliotecas da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e do Instituto Metodista (IPA); recorreu-se tambm a livrarias para encontrar as ltimas publicaes sobre o tema. Para a busca nos artigos foram utilizadas as palavras-chave interval training, fartlek, treinamento intervalado. Optou-se por utilizar apenas as referncias em portugus. Aps a primeira seleo do material realizou-se uma leitura com o intuito de identificar informaes, estabelecer relaes entre as informaes obtidas, analisar a consistncia das informaes. Esta leitura seguiu os seguintes passos: Leitura exploratria, Leitura seletiva, Leitura analtica e Leitura interpretativa. Aps a leitura passou-se a redao desta reviso, a qual observou as normas exigidas pelo Curso de Educao Fsica e Cincias do Desporto da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul, PUCRS.

3.2 LIMITAES DA PESQUISA

Durante a busca por artigos cientficos, foi possvel perceber que eram, em sua grande maioria, redigidos em lngua estrangeira, notadamente a inglesa; na tentativa de obter informaes atuais a respeito de nosso objeto de estudo, decidimos adquirir uma obra que, apesar de ter sido escrita em 1996 (Lore of Running), tem como autor um cientista de renome internacional e que considerada

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por muitos a bblia da corrida; mesmo assim, considera-se que o presente estudo fica limitado devido falta de domnio de outros idiomas.

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4 DISCUSSO DOS RESULTADOS

4.1 BENEFCIOS FISIOLGICOS DO TREINO INTERVALADO

Entendemos que a atividade fsica, enquanto corretamente orientada e dosada, proporciona, em sua grande maioria, benefcios inestimveis ao indivduo; leses ocasionais podem ocorrer devido ao excessivo entusiasmo gerado pela sensao de bem-estar que o exerccio provoca, o que leva algumas pessoas a ignorarem suas planilhas de treino e a aumentarem sua carga de trabalho quando o mito da invulnerabilidade age sobre o bom senso do corredor, fazendo com que o mesmo passe de seus limites orgnicos e entre em processo de overtraining. Segundo Newsholme, Leech e Duester (2006), Filstrato, filsofo romano que viveu no sculo III a.C., criticava treinadores que, indiscriminadamente, aplicavam regras rigorosas e rpidas sobre dietas e tcnicas de treinamento sem considerar a idade ou as necessidades prprias dos indivduos. Muitos atletas da atualidade ficariam surpresos com o grau de conhecimento, inda que adquirido de maneira emprica, dos personagens envolvidos nos jogos da antiguidade, quando se aprofundam no referido assunto; apesar de vrios problemas advindos da modernidade serem motivo de preocupao para especialistas da Medicina atual, pode-se constatar que, j em tempos antigos, existia uma preocupao para com a sade da populao.Herdico (480 a.C.), mdico e atleta na Grcia antiga, influenciou Hipcrates (460 a.C.) a estudar, dentre outros assuntos que naquela poca j despertavam interesse, a nutrio, os benefcios do exerccio e as consequncias do sedentarismo sade (MCARDLE et al. apud MACHADO 2009, p. 27).

A importncia da atividade fsica para a sade sempre foi mencionada e , atualmente, um consenso; porm, o que deve ser observado a aplicao correta e individualizada do exerccio pelo treinador ao atleta, a partir do seu objetivo.Neste perodo, alguns pesquisadores atravs de obras prprias orientaram o treinamento alm das questes desportivas, enfatizando os aspectos profilticos da atividade fsica orientada, sendo importante salientar a influncia do mdico Thomas Elyot (1490 1546), que atravs do livro The

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Governous, o qual foi dedicado ao rei Henrique VIII, catalogou exerccios fsicos de diversas espcies, todos direcionados promoo da sade (GOMES; DE ALMEIDA; ALMEIDA 2000, p. 43).

Da Grcia antiga at a Inglaterra do sculo XV, continua sendo fundamental o papel da Medicina no processo de conscientizao das pessoas quanto prtica esportiva visando no apenas a vitria, mas a promoo da sade; outro consenso atual o de que esporte de alto rendimento obrigatoriamente no sinnimo de sade, haja visto que atletas que almejam ao primeiro lugar em qualquer competio de alto nvel treinam alm dos limites. Por sua vez, a preocupao maior dos estudiosos sempre foi a manuteno e aperfeioamento da sade, a partir da observao das consequncias da inatividade para a mquina humana; aps a contribuio de treinadores que desenvolveram, como foi visto, o interval training de maneira emprica, na dcada de 30 o mtodo foi objeto de estudo devido aos seus resultados benficos sobre o sistema cardiovascular. Guiselini (2007) lembra que o mtodo intervalado no desenvolve capilarizao significativa, j que a presso sangunea para a ramificao dos capilares, em velocidade elevada, no mantida de maneira constante pelo tempo necessrio. Isso nos remete importncia do perodo de base, onde se executar o treinamento aerbio em sua grande maioria e, desta forma, habilitar o organismo a desenvolver vascularizao perifrica para sustentar, posteriormente, o treinamento intervalado. Bompa (2002) afirma que a utilizao nica de exerccios intensivos no o meio mais objetivo para o treinamento, ou seja, a alternncia entre o volume e a intensidade necessria. O alto volume de treinamento de baixa intensidade que os atletas realizam na fase preparatria (treinamento aerbio) fornece a base para o treinamento de alta intensidade (treinamento intervalado) e eleva a consistncia do desempenho. Zakharov (2003) afirma que as capacidades funcionais do corao podem ser substancialmente aumentadas por intermdio do treinamento intervalado; segundo o autor, a particularidade que possibilita tal fenmeno a correta relao entre estmulo e repouso, pois lembra que apenas com a combinao racional de cargas diferentes se podem obter melhoras na capacidade funcional do msculo cardaco.

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A primeira abordagem realmente cientfica, segundo Newsholme, Leech e Duester (2006) para o treinamento fsico foi desenvolvida na Alemanha, durante os anos 30, pelo Dr. Reindell, um cardiologista que usou o exerccio para fortalecer o corao de alguns de seus pacientes.O objetivo era melhorar o desempenho do corao, e mensuraes cuidadosas demonstraram que mtodo mais eficiente foi do paciente correndo repetidamente distncias curtas, com breves perodos de descanso entre cada corrida-o que ns atualmente chamamos de treinamento intervalado. Durante a corrida, a freqncia cardaca alcanava de 170 a 180bpm e caa para 120bpm nos perodos de descanso. Reindell demonstrou que este treinamento aumentou tanto o tamanho do corao como o volume de sangue expelido por este rgo durante cada batimento. Ele tambm observou um marcado aumento na freqncia mxima na qual o oxignio poderia ser utilizado pelo corpo em tais pacientes. Isso demonstrou que os efeitos benficos deste programa de treinamento no estavam restritos ao corao. Na realidade, trabalhos subseqentes demonstraram que o maior beneficio para o paciente no era oriundo dos efeitos sobre o corao em si, mas da capacidade melhorada do msculo esqueltico em utilizar oxignio e substratos energticos obtidos da corrente sangunea (NEWSHOLME; LEECH; DUESTER 2006, p. 24).

Temos ento, ainda no perodo do Empirismo, o incio da comprovao cientfica dos benefcios cardiovasculares do treinamento intervalado; apesar de o cientista em questo enfatizar seus estudos na cardiologia, deu origem ao conceito de VO2, como pode ser constatado acima. Segundo Nunes, Marques e Oliveira (2007), os benefcios do treinamento intervalado, e em especial do treinamento intervalado de alta intensidade, tm despertado o interesse atual de profissionais e pesquisadores da rea da sade, pois o mesmo vem se mostrando eficiente na promoo da sade. interessante observar que, embora as primeiras pesquisas tenham se limitado s melhorias do sistema cardiovascular, em estudos posteriores podemos constatar que se descobriram muitos outros benefcios e este processo continua na atualidade para outros sistemas do corpo humano; deve-se ressaltar aqui que tais benefcios foram obtidos em programas de treinamento rigorosamente conduzidos por cientistas da rea da sade, o que nos leva perceber a importncia de uma correta aplicao do mtodo.Grande contribuio para esta rea de estudo foi oferecida pelo professor V. Smodlok (1963 a 1964) com pesquisas iniciadas na Iugoslvia e continuadas, com sucesso, nos EUA, onde chefiou a seo de reabilitao do Hospital de Siracusa, prximo a Nova Iorque. O emprego do treinamento intervalado mostrou-se muito eficiente na reabilitao e no tratamento de

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diferentes gneros de molstias cardiovasculares e pulmonares, de disfunes metablicas e endcrinas e de leses congnitas do aparelho locomotor (VOLKOV 2002, p. 11).

Dentre os problemas que afligem a populao em geral na atualidade, o maior seria a obesidade, pois atravs dela se originam o diabetes, problemas de presso arterial, complicaes articulares, apenas para citar as mais comuns, e isso referente apenas ao aspecto fsico do indivduo; em captulo posterior poder-se- verificar que o psicolgico diretamente afetado por estes fatores. Campos (2008) lembra que as adaptaes cardiovasculares e metablicas relativas ao exerccio de intensidade mais alta so bem maiores quando comparadas ao de baixa intensidade. A partir da constatao deste fato, a rea mdica sugeriu que o treinamento intervalado seria altamente benfico para indivduos em fase de recuperao de problemas cardacos, e tambm uma excelente forma de prevenir a sua incidncia futura, alm de ser profiltico para diversas outras patologias do indivduo. Fica evidente que a primeira e mais importante adaptao que ocorre no organismo de um indivduo que se submete a um treinamento aerbio juntamente com a realizao de intervalados a hipertrofia do msculo cardaco. Conforme Powers e Howley (2005), atletas de resistncia apresentam um aumento do enchimento ventricular durante o exerccio intenso em decorrncia do retorno venoso aumentado; esse aumento do volume diastlico final acarreta uma maior fora de contrao ventricular e um aumento do volume de sangue ejetado para o todo o organismo. Weineck (2003) e Dantas (1985) afirmam que o treinamento resistido com suficiente intensidade resulta em aumento do corao como um todo, isto , um aumento das cmaras cardacas e hipertrofia do miocrdio (paredes do rgo); logicamente, em consequncia ocorre o aumento do volume de sangue ejetado a cada sstole (contrao), uma maior oferta de nutrientes e oxignio ao organismo e assim uma diminuio da frequncia cardaca de repouso (bradicardia).Na realidade, a capacidade do sistema circulatrio de produzir dbito cardaco aumentado, para a distribuio de oxignio e outros nutrientes aos msculos durante o exerccio, igualmente to importante quanto a fora dos prprios msculos em estabelecer o limite ao trabalho muscular continuado (GUYTON 2006, p. 248).

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O autor afirma aqui que o sistema cardiovascular extremamente importante para o desempenho do organismo de modo geral, motivo pelo qual se justifica o treinamento intervalado ser precedido, obrigatoriamente, por uma boa base aerbia para fortalecimento do referido rgo, pois como o autor ressalta, somente dois fatores podem fazer com que o corao atue de maneira mais eficiente: a estimulao nervosa e a hipertrofia cardaca. Weineck (2003) assegura que, se um treinamento de resistncia no for realizado com as cargas mnimas, mas com grande intensidade, h no somente uma adaptao funcional e vegetativa, mas tambm alteraes morfolgicas, que intensificam a economia de energia no trabalho cardaco. Esta afirmao complementa o estudo de Pereira da Costa (2002), quando o mesmo cita que o incremento de intensidade no exerccio recruta unidades motoras no ativadas pelo exerccio de baixa intensidade, comprovando que o interval training realmente solidifica os benefcios advindos do treinamento aerbio, e, concomitante a isso, provoca vrias outras adaptaes que elevam o

condicionamento do indivduo. Dantas (1985) diz que foi apenas em 1952 que o fisiologista alemo Herbert Reindell deu ao interval training a sua forma atual, acoplando ao mtodo uma base fisiolgica. Aps anos sendo utilizado de forma emprica, o interval training passa a ter comprovao cientfica da sua eficcia e difundido pelo mundo, menos por seus resultados na rea da Medicina, mas, principalmente, pelas marcas estabelecidas pelo tcheco Emil Zatopek, que ficou conhecido por Locomotiva Humana; inicialmente, o mtodo havia surgido para o treinamento de corridas de meio-fundo, mas, aps os feitos de Zatopek, ficou comprovadamente til s corridas de fundo.O diferencial mais significativo dos treinos de Zatopek correspondia aos resultados extraordinrios para a poca, impossveis de serem alcanados por meio de outras metodologias de treinamento. Zatopek fez uso da corrida intervalada como base de seu preparo fsico no decorrer de toda temporada (VOLKOV 2002, p. 17).

O autor cita ainda que seu treino consistia, basicamente, de estmulos de 200 e 400 metros, percorridos em ritmo veloz e constante, e o perodo de repouso era representado por um minuto de corrida leve e solta, o popular trote.

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Segundo Weineck (2003), as pausas devem garantir a recuperao completa do atleta, porm sem que haja perda da excitabilidade do sistema nervoso central; por esta razo, considera-se que as pausas devam ser ativas, ou seja, caminhadas ou trote lento. Aps um perodo de esforo intenso, no se considera prudente interromper a atividade de forma abrupta; se sabe que o ideal para evitar sensao de mal-estar e outros inconvenientes reduzir a atividade de forma gradativa, pois est provado que a atividade moderada nas pausas de repouso reflete positivamente sobre a rapidez da eliminao de cido ltico (HERMANNSEN 1972 apud VOLKOV 2002). Alm disso, psicologicamente tambm melhor manter a atividade sem interrupes, para que haja um desenvolvimento da disciplina no atleta: o mesmo no corre o risco de sentir-se tentado a interromper a atividade, posto que o interval training, mesmo quando executado por indivduos iniciantes, os treina fsica e mentalmente, como veremos adiante. Faz sentido, segundo Newsholme, Leech e Duester (2006), alternar os dias de treinamento pesado e leve, e variar as atividades de treinamento, para que um conjunto de msculos seja recuperado enquanto outro treinado. A alternncia de estmulos fortes e fracos vlida tanto para a mesma seo de treino, quanto para as unidades de treino (caso seja efetuada mais de uma seo diria), os microciclos e os mesociclos, pois Machado (2009) lembra que iniciantes devem comear com volume de treinamento menor e com aumentos graduais; este volume deve ser de acordo com o objetivo do atleta, mas sempre respeitando a sua individualidade biolgica. Como foi observado anteriormente, o repouso e o estmulo possuem igual importncia dentro do mtodo intervalado; no repouso que as estruturas msculoesquelticas so reparadas, aps sofrerem o impacto do treinamento, que, para efeito de fcil compreenso, nada mais do que uma leso induzida ao organismo. Este repouso deve ser observado tanto na forma de estmulos fortes seguidos de estmulos mais leves, regenerativos, quanto no que se refere ao descanso do organismo como um todo, quando oferecido ao atleta tempo para seu corpo e sua mente se recuperarem de maneira total do mesociclo (semana de treino), conforme observado abaixo:

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O treinamento uma leso controlada dos msculos: quando os msculos so reparados, eles trabalham melhor do que antes do treino; durante cada semana, pelo menos um dia deve ser reservado ao descanso completo, sem qualquer tipo de treinamento, para permitir reparo completo desta leso (NEWSHOLME; LEECH; DUESTER 2006, p. 189).

Outro benefcio do treinamento aerbio que causa ainda alguma controvrsia, diz respeito intensidade ideal para maximizar a utilizao da gordura corporal como fonte de energia para o exerccio; trata-se de assunto de grande interesse, pois mais de 41% da populao brasileira est acima do peso ideal, segundo senso do IBGE de 2003, e a atividade aerbia sempre foi destacada como fundamental no controle do peso.O percentual de utilizao de gorduras para o fornecimento de energia necessria ao exerccio maior nas baixas intensidades de esforo, localizando-se em torno de 60% da energia utilizada, contra 35% de utilizao nos esforos de alta intensidade (BRYANT e PETERSON, 1996 apud HERNANDES JUNIOR 2002, p. 23).

Os autores utilizaram, por longo perodo, apenas as informaes advindas da Bioqumica, a qual categrica ao afirmar que a fonte de energia que o exerccio ir utilizar ser determinada pela intensidade do mesmo; assim, nada mais bvio do que chegar-se concluso de que, para gastarmos mais gorduras do que carboidratos, devemos realizar treinamento exclusivamente aerbio e em baixa intensidade.A intensidade do exerccio determina qual substrato utilizado em maior proporo como fonte energtica: quanto menor a intensidade do exerccio, maior a porcentagem de utilizao de gorduras e quanto maior a intensidade do exerccio, maior a porcentagem de utilizao de carboidratos (CAMPOS 2008, p. 158).

Esta afirmao justifica o fato de iniciarmos a discusso sobre o referido benefcio lembrando que o mesmo ainda controverso; entendemos que possa ter ocorrido, a partir de estudos iniciais, uma m interpretao dos resultados, pois o texto bem claro quando se refere ao percentual de consumo de gorduras durante a atividade, no afirmando, em momento algum, que este seja o nico meio para se obter o resultado, nem tampouco excluindo a possibilidade de se atingir esta meta (perda de peso) de modo indireto, ou seja, complementada pelos estudos de

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Romijim et al (1993) apud Santos (2003), que conclui ser a intensidade do exerccio fundamental para a maior metabolizao de gorduras. O autor lembra que, geralmente ocorre um equvoco com relao quantidade de calorias gastas durante o exerccio e o gasto total de calorias provocado pela intensidade dos treinamentos intervalados. O aumento da capacidade cardiovascular, bem como as adaptaes com relao ao aumento de nmero e densidade das mitocndrias, aumento do nmero de enzimas oxidativas e da capacidade de transporte e difuso do oxignio fazem com que o individuo treinado com intensidades mais altas tenha cada vez mais a utilizao de gordura como substrato energtico favorecida, tanto durante o exerccio como no repouso, conforme Campos (2008); o autor ainda lembra que, durante o interval training, o gasto calrico maior do que no exerccio de baixa intensidade, o que colabora com o equilbrio calrico negativo no dia deste exerccio. O autor, baseado em estudos mais recentes, comprova que o treinamento intervalado consome mais calorias advindas das reservas corporais acumuladas na forma de gordura de maneira indireta: durante o exerccio intenso, de fato, se utiliza em maior proporo o glicognio muscular e heptico; entretanto, aps o trmino da atividade, o organismo permanece com o metabolismo elevado e se vale de todos os recursos disponveis para repor os estoques de energia, estimulando a liplise. Segundo Guiselini (2007) e Hernandes Junior (2002), quando comparamos as duas intensidades de corrida (alta e baixa) para o mesmo tempo de durao de exerccio, constatamos que, apesar da menor proporo de calorias advindas da queima de gorduras nos esforos de alta intensidade, estes so os que mobilizam uma quantidade de cidos graxos absolutamente maior para o fornecimento de energia, do que a utilizada pelos exerccios de baixa intensidade. O mito de que o exerccio aerbio de baixa intensidade utiliza mais gorduras correto

cientificamente, enquanto for considerado apenas o percentual de energia advinda da fonte de energia armazenada; porm, quando se verificam os valores absolutos de calorias gastas no exerccio de alta intensidade constata-se sua superioridade. Este estudo confirmado por Kaminski et al. (1993) e Ballor et al. (1990) apud Santos (2003), quando entendem que, em termos de perda de gordura, a maioria das pesquisas mostra que o mais importante no a porcentagem de gordura ou carboidrato metabolizado por caloria durante a atividade, mas sim, o que realmente interfere no processo de perda de tecido adiposo o nmero total de calorias gastas

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na atividade; estudos mais recentes, por fim, vieram esclarecer a questo, e comprovar que a intensidade do exerccio o fator que promove maior consumo de gordura corporal e, consequentemente, propicia maior estmulo ao emagrecimento. Entretanto, quando se fala de treinamento de intensidade para indivduos que esto iniciando a prtica de um desporto, em especial a corrida, deve-se ter a preocupao primordial de dosar esta intensidade para que a mesma no seja demasiadamente agressiva ao organismo; aps a constatao de que a primeira e principal modificao morfolgica em atletas de endurance se d no sistema cardiovascular, como ficou comprovado, chegou-se concluso que a frequncia cardaca o melhor parmetro para ser usado como mediador da intensidade dos treinos. A frequncia cardaca geralmente usada como indicador do nvel de trabalho; esse mtodo pode ser suficiente para os iniciantes e at mesmo o ideal para que se trabalhe numa zona segura (BOMPA 2002, p. 93). Weineck (2003) vem corroborar esta afirmao, assegurando que a frequncia cardaca um bom parmetro para mostrar a intensidade do treinamento; temos ento a convico de que este o meio mais seguro de balizar a intensidade de treinamento de iniciantes na prtica da corrida, quando se objetiva manter esta intensidade dentro de um nvel de esforo que seja assimilvel e seguro para o atleta, respeitando seus limites. Segundo Nunes, Marques e Oliveira (2007), indivduos que utilizam o interval training regularmente so hbeis para realizar um volume total de treinamento maior, se for comparado a um atleta que treine apenas de maneira contnua; outro mecanismo que parece ser coadjuvante na melhora da performance de endurance aps o treinamento intervalado uma melhora na tolerncia ao calor via um aumento do fluxo sanguneo cutneo e da taxa de suor. Como j citado anteriormente, o interval training estimulante ao atleta iniciante quando se leva em considerao este importante fator: a capacidade de se conseguir realizar o exerccio em maior escala, o que influencia positivamente tanto no condicionamento fsico quanto mental do atleta; ser capaz de ir mais longe, mais alto, suportar maior carga de trabalho ou uma condio climtica adversa extremamente positivo ao futuro corredor. Hernandes Junior (2002) tambm concorda com a tese de uma otimizao na adaptao ao calor em indivduos treinados; segundo o autor, os mecanismos de ajuste e controle da temperatura corporal tornam-se mais eficientes, facilitando o

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processo de adaptao; j Dantas (1985) categrico ao afirmar que programas de treinamento provocam uma maior adaptao do organismo a temperaturas elevadas, bem como uma capacidade de dissipao do calor mais rpida e gil. O exerccio aerbio promove aumento da temperatura corporal resultante do consumo de energia qumica que utilizada para ser convertida em mecnica, resultando em movimento; o corpo humano possui mecanismos para equilibrar este aumento de temperatura, de modo que ela no se altere em demasia e comprometa o funcionamento normal do organismo. Devido forte associao que tem sido estabelecida entre fadiga e elevadas temperaturas, possvel que atletas altamente treinados possam se adaptar, o que demonstra melhora na termorregulao; apesar de fatos citados anteriormente darem indcios de que possa ser esperada esta resposta adaptativa em funo do treinamento, isto precisa ser mais bem investigado em atletas treinados; j em amadores este fator deve ser tratado com muita cautela. Conforme Newsholme, Leech e Duester (2006) ressaltam, o fluxo de sangue para a pele depender da necessidade de resfriamento, controlada pela taxa de produo de calor e perda do mesmo pelo corpo; isso, por sua vez, depender da temperatura ambiente. Assim, o clima um importante limitador de desempenho, posto que ser necessria uma maior demanda de sangue sendo utilizada pela pele na busca pela regulao de temperatura, o que acarretar em menor aporte sanguneo para cumprir as funes de transporte de oxignio e nutrientes, forando o atleta a diminuir a intensidade. Pode-se concluir ento que atletas amadores devem ser orientados por seus treinadores a reavaliarem suas metas em dias quentes: no dever ser buscado o mesmo desempenho, possvel de ser alcanado em dias amenos, em um dia no qual incidam altas temperaturas. Quando a questo discutida a distncia dos intervalados, Newsholme, Leech e Duester (2006) demonstram claramente que percursos longos so mais vantajosos por, pelo menos, trs variveis que so otimizadas: dbito cardaco, controle da distribuio sangunea e controle da taxa de mobilizao de glicognio nos msculos. Enquanto estmulos intensos e curtos possam ser mais fceis de ser executados, visto que possuem curta durao e que, portanto, proporcionam ao

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atleta um rpido alvio, consenso entre fisiologistas e treinadores que so os intervalados longos os verdadeiramente responsveis por uma melhora consistente nas capacidades do indivduo. Inicialmente acreditava-se que os mtodos intervalados de curta durao melhoravam a resistncia aerbia; obviamente, segundo Bompa (2002), apenas a combinao de vrios mtodos pode levar ao desempenho mximo. O autor, que ex-treinador de vrios medalhistas olmpicos e que, portanto, observou na prtica o sucesso do mtodo enquanto aplicado corretamente, sugere a seguinte linha de treinamento como sendo a mais eficiente para o desenvolvimento aerbio: a combinao de intervalados de curta distncia (15-2) que desenvolvem a resistncia anaerbia; intervalados de distncia mdia (2-8) que solicitam o aprimoramento de ambos os sistemas de produo de energia (aerbia e anaerbia), e os intervalados de longa distncia (8-15) que enfatizam a resistncia aerbia. V-se ento que a capacidade aerbia a mais importante, e deve ser priorizada no treinamento semanal no atleta, por ser a base para o condicionamento anaerbio. Reindell, Roskamm e Gerschler (1962) apud Bompa (2002) asseguram que os intervalos de descanso devem se situar entre 45 e 90, para que o estmulo seguinte ocorra durante o perodo de mudanas favorveis que o trabalho anterior provocou. Os perodos de descanso entre os estmulos devem ser controlados, para que os benefcios adquiridos pelo treinamento no sejam perdidos; este tipo de controle feito, normalmente, pelo prprio atleta, e pode ser baseado tanto no cronmetro quanto na frequncia cardaca. Holmann (1959) apud Bompa (2002) estabelece que o limite de descanso, definitivamente, no deve exceder de 3 a 4, porque durante um perodo de descanso maior os capilares (vasos sanguneos que se conectam as artrias e veias) se fecham e, portanto, o sangue flui com restries. O mesmo autor sugere que possvel utilizar a frequncia cardaca para calcular o intervalo de descanso, e, como j visto anteriormente, este o meio mais seguro de controlar o nvel de esforo em atletas iniciantes, buscando com isso estabelecer um treino de acordo com as capacidades do indivduo e obtendo o mximo de ganhos, correndo o mnimo risco de expor o mesmo ao overtraining.

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Subentende-se ento que no basta o treinamento aerbio continuo, mas a complementao com estmulos de intensidade (treinamento intervalado) para que o organismo se sinta estimulado a adaptar-se em um nvel superior de

condicionamento; Nunes, Marques e Oliveira (2007) concordam com esta idia quando afirma que o treinamento intervalado, quando realizado por indivduos sedentrios ou recreacionais, melhora a performance de endurance em uma extenso maior do que o treinamento contnuo submximo sozinho. Volkov (2002) afirma que nos ltimos 40 anos o treinamento intervalado passou a ser o mtodo principal de treinamento nos tipos de esporte ligados demonstrao bsica de resistncia.

4.2 BENEFCIOS PSICOLGICOS DO TREINAMENTO INTERVALADO

Sendo o corpo humano uma organizao complexa, onde vrios sistemas dependem mutuamente para o perfeito funcionamento, nada mais lgico do que se supor que alguma mudana no corpo fsico influencie o mental ou emocional do indivduo, pois o ser humano muito mais do que um organismo biolgico, como ser constatado. Dantas (1985) define Treinamento Desportivo como o conjunto de procedimentos e meios utilizados para se conduzir um atleta sua plenitude fsica, tcnica e psicolgica dentro de um planejamento racional, visando executar uma performance mxima num perodo determinado. A definio do autor ressalta que, quando se inicia um treinamento fsico objetivando uma melhora de condicionamento especfico para uma modalidade esportiva, o psicolgico do atleta tambm afetado e, em consequncia, aperfeioado. Embora pesquisadores observem que boa parte das alteraes orgnicas e funcionais notadas em atletas de resistncia (ASTRAND, RANDAHL, 1970; MATHEUS e FOX 1976) sejam modificaes neuromusculares, cardiopulmonares e bioqumicas, Bompa (2002) observa que melhorias na condio psicolgica tambm tm sua origem no exerccio fsico. O exerccio aerbio tem, de fato, a capacidade de desenvolver no atleta percepes e associaes relativas ao seu dia-a-dia que, de outra forma, no seriam

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possveis de observar; o exemplo da persistncia cabe perfeitamente aqui: uma pessoa que utiliza diariamente o elevador para chegar ao seu apartamento, num determinado momento decide iniciar uma atividade fsica; ento, seu treinador sugere que o mesmo suba pela escadaria at o oitavo andar, onde ele reside. De incio, a empreitada penosa; porm, medida que ele persiste em seu objetivo, adquire condicionamento e logo chega ao seu andar normalmente pela escadaria; ento, este ensinamento fica profundamente calcado em sua mente para sempre. Weill (1986) afirma que cada modificao no estado fisiolgico acompanhada por mudanas apropriadas nos estados mental e emocional, e que o inverso tambm verdadeiro. Pode-se concluir ento, a partir desta afirmao, que impossvel separar os corpos fsico e mental; uma melhora no aspecto fsico reflete numa auto-estima elevada, ao mesmo tempo em que um problema qualquer no trabalho ou da rea sentimental interfere negativamente no fsico, desestimulando o treino ou mesmo gerando doenas. o que afirmam Newsholme, Leech e Duester (2006), quando lembram que o homem se diferencia dos demais animais por possuir intelecto e raciocnio, e que no se pode separar o fsico e o mental do individuo: quando algo afeta seu corpo fsico, os corpos mental e emocional tambm so modificados/estimulados.A aptido fsica no apenas uma das mais importantes chaves para se ter um organismo sadio, a base da atividade intelectual criativa e dinmica. A relao entre a sade do corpo e as atividades da mente sutil e complexa: ainda falta muito para ser entendida; os gregos, porm, nos ensinaram que a inteligncia e a habilidade s podem funcionar no auge de sua capacidade se o corpo estiver sadio e forte; que os espritos fortes e as mentes confiantes geralmente habitam em corpos sadios (JOHN F. KENNEDY apud COOPER 1983).

Neste discurso do ex-presidente dos EUA notria a interao mente-corpo ressaltada; interessante notar que, a exemplo do que ocorreu na Inglaterra, nos EUA tambm foram feitos esforos no sentido de incentivar a populao a praticar esportes para a manuteno da sade, apenas de forma mais tardia.Portanto, o impulso dever vir de dentro do atleta, independentemente de ser ele um corredor iniciante, corredor srio ou corredor de alto nvel de elite. Motivao energia e esse senso de auto-direcionamento uma das mais poderosas fontes de energia disponveis para um atleta. Pela motivao interna o atleta ganha disposio para perseverar com seu treinamento, para suportar desconforto e stress, e para fazer sacrifcios com seu tempo e

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energia na medida em que se aproxima de seu objetivo (DALKOETTER, 1997 apud VZQUEZ 2004).

Motivao um fator importante a ser levado em considerao nos esportes individuais, pois um atleta iniciante precisa manter o interesse inicial na atividade para que, diante da fadiga fsica e mental, no se sinta tentado a desistir. Contudo, de acordo com Silva (2006), para que ocorram adaptaes fisiolgicas e neurolgicas positivas nos msculos e em outros tecidos necessrio que o treinamento apresente uma periodizao que permita um equilbrio entre a distribuio das cargas de treino e a recuperao do atleta. a este aspecto que Bompa (2002) se refere quando cita o treinamento fsico como benfico enquanto obriga o organismo a adaptar-se ao estresse provocado pelo esforo; porm, ressalta o autor, este esforo deve gerar um estresse suficiente para estimular a adaptao, mas no excessivo a ponto de ultrapassar as capacidades orgnicas adaptativas e resultar em leses e overtraining. Matthyesen (2007) ressalta que preciso tomar muito cuidado com iniciantes que, afoitos com a rpida melhora inicial de seu condicionamento, passam um pouco do que est prescrito na tabela de treino e ficam ento expostos a consequncias negativas resultantes do excesso de treinamento. Conforme comentado anteriormente, o treinamento realmente positivo quando corretamente conduzido, podendo trazer malefcios apenas quando o atleta sente-se tentado a ir alm do que est prescrito, buscando um atalho; alis, a corrida prdiga neste aspecto: ela ensina, atravs do fsico, que no existem atalhos, que s atravs do trabalho dirio, rduo, consciente e pacientemente se alcana um resultado satisfatrio e slido. Bompa (2002) enftico ao citar as funes de um treinador: liderar, organizar, planejar o treinamento e educar o atleta. Muitas variveis fisiolgicas, psicolgicas e sociolgicas esto envolvidas no treinamento, e estas variveis devem ser modeladas segundo a motivao do atleta para enfrentar tarefas rduas. A responsabilidade de um treinador para com o atleta enorme: ele deve preocupar-se com o desenvolvimento do seu aluno de maneira global, e estar atento a qualquer mudana nos seus estados fsico e mental, pois sabe-se agora que eles esto intimamente interligados e interferem mutuamente entre si. Ao se lidar com a cincia do movimento humano, no se lida apenas com o aspecto fsico, mas trabalha-se o desenvolvimento global do homem (MACHADO

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2009, p. 19). O autor vem reforar o j exposto acima, e aqui tambm se percebe novamente a responsabilidade que se tem ao treinar um indivduo: no apenas um amontoado de msculos que se est estimulando a tornar mais resistente ou forte, no somente um ser biolgico a ser desenvolvido, mas um ser biopsicossocial, um ser humano nico, com emoes e reaes nicas. Flavius Philostratus (170-245 a.C.) escreveu o Manual para o treinamento atltico e ginstico, obra que ensinava, j na Grcia antiga, como treinar para as competies e destacava a importncia da recuperao. De acordo com Bompa (2002), o treinador ideal era descrito da seguinte forma: ele deve ser uma espcie de psiclogo, com considerveis conhecimentos de anatomia e de herana gentica. Portanto, o treinador deve, alm de tratar de maneira adequada do corpo fsico, preocupar-se tambm com o lado psicolgico de seu aluno, conversando com o mesmo e tendo conhecimento de seus reais objetivos, intervindo, inclusive, por meio de uma explanao minuciosa das implicaes que determinada atitude pode resultar sobre seu corpo e comportamento, por exemplo, a partir de determinado treino a que ele porventura venha a se submeter. Newsholme, Leech e Duester (2006) citam que os parmetros psicolgicos no podem ser dissecados e quantificados da mesma forma que os fisiolgicos; sendo assim, esta afirmao confirma a importncia da profundidade de conhecimento que um tcnico ou treinador deve possuir; perceber modificaes fsicas pode ser muito fcil at para leigos, mas observar o modo como um atleta corre e determinar se ele est motivado, confiante, ou esgotado psicologicamente e prestes a se frustrar, muito mais difcil, porm o professor/treinador deve estar habilitado para isto. Segundo Rocha [2008], quando se estudam manifestaes fisiolgicas e comportamentos humanos, deve-se considerar que as pessoas so uma combinao de suas experincias e seus contextos ambientais, com seu componente externo e seu componente interno, que efetivamente determinam como ocorrer o vetor de seu desenvolvimento e comportamentos nas diversas interaes intrnseco-extrnsecas que realizar ao longo de toda a vida. Sendo assim, deve-se ter a conscincia de que uma orientao adequada se torna fundamental para que o aluno usufrua apenas dos benefcios da corrida, que podem ser muitos e altamente positivos para a interao corpo-mente, como pode ser percebido a seguir:

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Aspirar aos resultados mais expressivos em uma competio funo da excelncia fsica, que combina, harmoniosamente, trs fatores: o refinamento espiritual, a pureza moral e a perfeio fsica. por meio deles que o atleta adquire as mais variadas e refinadas habilidades, cultiva qualidades psicolgicas superiores e se mantm extremamente saudvel, aprendendo, tambm, a enfrentar estmulos estressantes tanto do treinamento quanto das competies (BOMPA 2002, p. 05).

O esporte realmente promove a unio e interao de mente, corpo e esprito; este ltimo no poderia estar ausente, apesar de no ter sido citado anteriormente, pois atravs da evoluo fsica, percebemos que aumenta nossa confiana e coragem em realizar, em progredir; inicialmente isto se reflete em nossas tarefas dirias, mais tarde torna-se uma caracterstica de nosso comportamento, e, finalmente parte de nossa personalidade. Isto confirmado por Bucher (1972) apud Bompa (2002), quando afirma que a realizao de exerccios fsicos desenvolve o atleta fsica, psicolgica e esteticamente. Certamente que o poder da vaidade no pode ser ignorado num programa de condicionamento fsico: desde que no seja estimulada ao extremo, mais uma arma da qual pode valer-se o treinador para motivar o aluno para que prossiga em seus treinamentos, aps perceber os primeiros sinais visveis dos resultados do seu esforo. Embora pesquisadores observem que boa parte das alteraes orgnicas e funcionais notadas em atletas de resistncia (ASTRAND, RANDAHL, 1970; MATHEUS & FOX 1976) sejam modificaes neuromusculares, cardiopulmonares e bioqumicas, Bompa (2002) observa que melhorias na condio psicolgica tambm tm sua origem no exerccio fsico.Um homem que fisicamente apto, em geral, tem uma viso melhor das coisas, autoconfiana, e quase sempre executa bem qualquer coisa que o talento e ambio o impelem a tentar. Em suma, o efeito do treinamento um conjunto global de vantagens para o corpo, com uma base de paz de esprito (COOPER 1983, p. 117).

A afirmao acima vem confirmar o anteriormente exposto, e que vai de encontro ao que conclui Terra (2001), quando cita que um programa de atividade fsica graduado, regular e dentro das capacidades do indivduo proporciona benefcios fsicos e psicolgicos inestimveis; mais uma vez fica aqui ressaltada a interao global do ser humano, e demonstrada a importncia de uma conduo

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correta do processo de treinamento para que sejam observados os referidos benefcios. Weineck (2003), Bompa (2002) e Cooper (1982) afirmam que indivduos com uma resistncia bem desenvolvida possuem tambm uma maior resistncia ao estresse e estabilidade psquica; esto mais preparados para superar fracassos sem apresentar problemas de motivao ou variaes de humor (depresso em razo do fracasso); Cooper (1983) vai alm quando assegura que indivduos bem condicionados fisicamente e, portanto, menos suscetveis fadiga, tm menos probabilidades de cometerem erros mentais e fsicos. Atualmente, a vinculao da imagem de sucesso a empresrios bem sucedidos que praticam atividades fsicas cada vez maior; j foi comprovado que a melhor oxigenao do crebro, induzida naturalmente pelo exerccio aerbio e em especial pela corrida, tem servido como importante fator liberador de estresse e potencializador da capacidade de raciocnio; a chance diminuda de cometer erros mentais particularmente interessante para executivos e administradores, que so cada vez mais valorizados por sua imagem, atitude e desempenho profissional. Machado (2009) refora esta idia citando que, dentre os muitos benefcios da corrida, ocorrem a diminuio da ansiedade e do estresse, a melhora da sensao de bem-estar e, consequentemente, do desempenho profissional; provavelmente este seja o principal fator que estimulou o surgimento de grupos de corrida em empresas, uma tendncia que vem crescendo e envolvendo funcionrios de todos os setores, muitas vezes incluindo a chefia, e promovendo uma integrao que dificilmente seria possvel de outra forma. A capacidade de ignorar o que est acontecendo ao redor e se concentrar na tarefa em suas mos de enorme benefcio para a maioria das empreitadas da vida, mas especialmente no esporte (NEWSHOLME; LEECH; DUESTER 2006, p. 208). Um elemento que o esporte em geral desenvolve no indivduo a capacidade de concentrao, essencial para diversas profisses e atividades especficas, quando se exige o mximo de ateno para a maximizao do desempenho; a corrida, em particular, serve a esse propsito de forma magnfica, pois um esporte individual e requer grande capacidade de focalizar cada parte do movimento cclico quando se busca corrigir erros de execuo e melhora de desempenho, e este elemento a concentrao - obrigatoriamente se desenvolver no atleta, afetando de maneira positiva outras reas da sua vida.

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Acredito firmemente que o bem-estar psicolgico dos atletas depende de seu estado fisiolgico. Em outras palavras, acredito que um condicionamento fsico perfeito a melhor psicologia. Um programa de treinamento bem periodizado assegurar uma prontido psicolgica superior, o controle do estresse e os nveis de treinamento mental (BOMPA 2002, p. 217).

O treinamento psicolgico necessrio para assegurar um desempenho fsico elevado, melhorando a disciplina, a perseverana, a fora de vontade, a confiana e a coragem (BOMPA 2002, p. 06). Quando o autor cita o treinamento psicolgico, refere-se ao conjunto de mtodos que so utilizados pelo atleta (a iniciativa deve ser dele, sob estmulo/orientao do treinador) para vencer seus medos e se concentrar na correo dos movimentos e aperfeioamento da tcnica, devendo-se ter, obrigatoriamente, uma meta pr-estabelecida e que deve ser alcanvel, pois em contrrio so grandes as chances de ocorrer frustrao e perda de entusiasmo. Por outro lado, conforme Campos (2008), as melhorias no condicionamento cardiovascular e muscular afetam diretamente a capacidade funcional, a postura, a manuteno do peso corporal ou a perda de peso e o estado emocional, proporcionando melhora da auto-estima, menor ansiedade e sensao de bem-estar. Novamente, a idia de se atingir o psicolgico pelo fsico reforada: principalmente em obesos e diabticos, que possuem uma auto-estima muito baixa devido aos problemas de sade e estticos, quando iniciam um programa de condicionamento em corrida e percebem melhoras, visvel a mudana que ocorre em seus semblantes, eles se tornam mais sociveis, so fiis planilha de treino e demonstram alto grau de motivao.Entretanto, a reabilitao fsica era secundria em relao reabilitao da personalidade. Esta mudana na personalidade manifestava-se pela perda da ansiedade e pela capacidade de relaxar-se; passaram a fazer uma imagem melhor de si mesmos e a ter mais autoconfiana; os introvertidos tornaram-se extrovertidos (COOPER 1983, p. 05).

Esta observao verificada em ex-sedentrios obesos que iniciaram um programa de condicionamento fsico atravs da corrida; o autor relatou tais mudanas em seus alunos, oficiais da Aeronutica que estavam muito tempo sentados atrs de uma mesa e sentindo os efeitos malficos do sobrepeso. As mudanas acima mencionadas poderiam ser atingidas com sesses de psicanlise em, aproximadamente, seis meses; entretanto, o paciente ficaria

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confortavelmente

deitado

no

div,

enquanto

que

em

um

programa

de

condicionamento de corrida, o objetivo do atleta pode ser visvel na metade do tempo, com os benefcios de performance agregados. Ressalta-se que este progresso no passvel de sofrer uma involuo, pois, de acordo com Weineck (2003) e Cooper (1982), atividades fsicas intensas contribuem para a melhoria e para a estabilizao da capacidade psicofsica; o termo atleta no pargrafo acima foi posto entre parnteses para lembrar que, ao invs de paciente, o simples fato de uma pessoa dirigir-se a este aluno como tal altamente motivante. Cooper (1983) confirma esta idia quando diz que, se o exerccio beneficia o corpo, pode fazer maravilhas mente. Em todos os estudos feitos sobre este assunto foi provada uma relao definitiva entre aptido fsica, vivacidade mental e estabilidade emocional. Dentre os males que acometem a sociedade atual est o estresse, que se origina no corpo emocional das pessoas; sendo assim, nada mais importante do que procurar desenvolver alta capacidade de lidar com situaes cotidianas

estressantes, e um dos meios de se aprender isso de maneira mais contundente atravs da prtica da corrida, por exemplo. Arajo [2007] ressalta que a prtica regular de exerccios fsicos aerbios pode produzir efeitos antidepressivos e ansiolticos (que diminuem/controlam a ansiedade) e proteger o organismo dos efeitos prejudiciais do estresse na sade fsica e mental; este efeito potencializado medida que o indivduo adquire uma condio fsica melhorada, pois, segundo Bompa (2002), este um fator que aumenta sua auto-estima. A autora esclarece que estes benefcios adquiridos no so exclusividade dos praticantes de corrida, mas de qualquer outra atividade aerbia; contudo, interessante observar que a prtica da corrida de rua est, nos dias atuais, crescendo numa proporo superior de outros esportes como o ciclismo ou a natao, por exemplo, principalmente devido sua simplicidade, aos custos mnimos com o equipamento utilizado e ao fato de se poder treinar em qualquer lugar. Quando Noakes (2001) decidiu, atravs de ampla pesquisa de campo, descobrir os fatores determinantes do sucesso de atletas africanos em provas de meio-fundo e fundo, verificou que os mesmos, desde a formao de base at o

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ltimo estgio antes de atingir o alto nvel, tm o costume de treinar em grupos; todos os treinos intervalados e fartlek se desenvolvem desta forma. Estudo