trabalho completo - rumba

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Trabalho de Etnomusicologia I Música Afro-cubana: Estudo sobre a Rumba Alexandre Reinalt Magni A59497 Cátia Vanessa Gomes Gonçalves A57265 Universidade do Minho Instituto de Letras e Ciências Humanas Departamento de Música

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Page 1: Trabalho Completo - Rumba

Trabalhode

Etnomusicologia I

Música Afro-cubana: Estudo sobre a Rumba

Alexandre Reinalt Magni

A59497

Cátia Vanessa Gomes Gonçalves

A57265

Universidade do MinhoInstituto de Letras e Ciências Humanas

Departamento de Música

Universidade do MinhoInstituto de Letras e Ciências Humanas

Departamento de Música

Page 2: Trabalho Completo - Rumba

Identificação dos Alunos

Nome: Alexandre Reinalt Magni

Data de Nascimento: 21 de Janeiro de 1978

Código de Aluno: A59497

Nome: Cátia Vanessa Gomes Gonçalves

Data de Nascimento: 14 de Julho de 1991

Código de Aluno: A57265

Área de Formação: Licenciatura em Música - Ciências Musicais

Unidade Curricular: Etnomusicologia I

Docente: Professora Drª. Elisa Lessa

Contactos dos Alunos

e-mail: [email protected]

[email protected]

Telefone móvel: 964337229

e-mail: [email protected]

[email protected]

Telefone móvel: 919565411

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Page 3: Trabalho Completo - Rumba

Índice- Introdução pág. 1

- Aspectos Gerais da República de Cuba pág. 2

- Panorama geral da História da Música em Cuba pág. 9

- As origens da música cubana tradicional e folclórica pág. 11

- A Música Popular Cubana pág. 15

- A Rumba Afro-Cubana pág. 19

- World Music pág. 23

- Entrevista pág. 26

- Panorama da Rumba ou Música Afro-Cubana

em Portugal pág. 29

- Análise Musical de uma Rumba Afro-Cubana pág. 30

- Conclusão pág. 33

- Referências Bibliográficas pág. 34

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Introdução

A música cubana tem tido um fenomenal impacto cultural a nível global nos últimos setenta anos. A mistura de influências africanas e europeias (e não só, como veremos mais posteriormente), e a fusão destes elementos, resultou num mosaico fascinante de formas e géneros musicais.

O interesse mundial nesta música tem aumentado ao longo dos últimos anos. A cultura musical de Cuba tornou-se muito mais exposta devido à sua riqueza, e a dinâmica dos acontecimentos políticos, sociais e económicos, dentro e fora da Ilha. A música cubana atrai pessoas de todas as nacionalidades e esferas sociais, despertando curiosidade entre as pessoas e o desejo de a aprender mais. No entanto, continua a ser um assunto de perplexidade académica, devido à falta de conhecimentos e habilidades técnicas básicas, havendo também uma escassez de professores qualificados neste domínio.

A música em Cuba, muitas vezes representa uma síntese complexa de influências, incluindo não só espanholas e africanas, bem com culturas latino-americanas, mas nos últimos anos também regionais e estilos internacionais modernos: a partir de uma linguagem clássica, “folk”, jazz, e ultimamente de fontes comerciais. Isto aplica-se especialmente na música popular afro-cubana, que por sua vez deriva da música folclórica e tradicional.

Cuba já existe como uma entidade política a mais de quinhentos anos, e tem desenvolvido muitos géneros sincréticos nacionais que testemunham a originalidade histórica cultural, apreciado por quase todos os cubanos. Por outro lado, a cultura em Cuba está longe de ser homogénea e muitas formas culturais têm alcançado popularidade apenas entre os segmentos limitados da população. Géneros musicais associados ao culto religioso afro-cubano, por exemplo, não eram tocadas de forma consistente na mídia de massas, sendo consideradas não musicais ou até mesmo ofensivo para alguns ouvintes (situação que já reverteu-se nas últimas décadas). Tais atitudes são mais comuns entre cubanos/latino-americanos brancos, alguns dos quais continuam a afirmar que a expressão “africano” está associada a pobreza, ignorância e superstição.

Ao invés de conceber a música cubana como uma entidade única e monolítica, é mais útil vê-la como um conglomerado de diferentes estilos e tendências que têm se modificado gradualmente, em diferentes graus ao longo do tempo.

O objectivo deste trabalho é contribuir para uma melhor compreensão e apreciação da música afro-cubana, e em especial da rumba.

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Aspectos Gerais da República de Cuba

Aspectos Geográficos

A República de Cuba é um arquipélago formado por aproximadamente 4.195 restingas, ilhotas e ilhas. As maiores são a Ilha de Cuba e a Ilha da Juventude, com uma superfície de 2 200 km². A longa ilha de Cuba é a maior ilha das Caraíbas com uma superfície 104.945 km². O conjunto do arquipélago cubano, possui uma superfície de 110 860 km² e uma extensão territorial de 1.200 km.

Bandeira da República Cubana

Banhada a norte pelo estreito da Flórida (Oceano Atlântico Norte), a noroeste pelo Golfo do México, a oeste pelo canal do Iucatão, a sul pelo mar das Caraíbas, e a leste pela passagem de Barlavento. A república compreende toda a ilha, incluindo muitas ilhas próximas como a ilha da Juventude, com a excepção da baía de Guantánamo, uma base naval que está alugada aos Estados Unidos da América desde 1903.

A ilha de Cuba esta formada principalmente por planícies onduladas, com colinas e montanhas mais escarpadas situadas maioritariamente na zona sudeste da ilha. O ponto mais elevado é o Pico Real del Turquino com 2.005 m. O clima é tropical, embora temperado pelos ventos Alísios. Existe uma estação relativamente seca de Novembro a Abril e uma estação mais chuvosa de Maio a Outubro. Havana é a maior cidade e a capital, Santiago de Cuba e Camaguey são outras cidades importantes.

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1. Isla de la Juventud (Ilha da Juventude) - Capital: Nueva Gerona

2. Pinar del Río - Capital: Pinar del Río

3. La Habana (Havana) - Capital: Havana

4. Ciudad de la Habana (Cidade de Havana) - Capital: Havana

5. Matanzas - Capital: Matanzas

6. Cienfuegos - Capital: Cienfuegos

7. Villa Clara - Capital: Santa Clara

8. Sancti Spíritus - Capital: Sancti Spíritus

9.Ciego de Ávila - Capital: Ciego de Ávila

10. Camagüey - Capital: Camagüey

11. Las Tunas - Capital: Victoria de Las Tunas

12. Granma - Capital: Bayamo

13. Holguín - Capital: Holguín

14. Santiago de Cuba - Capital: Santiago de Cuba

15. Guantánamo - Capital: Guantánamo

Aspectos Históricos, Sociais e económicos

A história de Cuba, a maior das ilhas do Caribe, começou a ser registada quando Cristóvão Colombo avistou a ilha durante sua primeira viagem à América, em 27 de Outubro de 1492. A ilha, que então era habitada por povos indígenas, se tornou uma colónia de Espanha, chefiada por um governador espanhol em Havana. Em 1762 a cidade foi ocupada brevemente pelo Reino da Grã-Bretanha, porém retornou à posse espanhola depois de uma troca pelo território da Flórida, nos actuais Estados Unidos da América. Uma série de rebeliões durante o século XIX não lograram pôr fim ao domínio espanhol. No entanto, as tensões entre a Espanha e os Estados Unidos provocaram a Guerra Hispano-Americana, que eventualmente levou à retirada dos espanhóis e, em 1902, Cuba conquistou a independência formal.

Durante as primeiras décadas do século XX os interesses dos Estados Unidos predominaram em Cuba, e o país exerceu grande influência sobre a ilha. Isto terminou em 1959, quando o líder do país, Fulgencio Batista, foi deposto pelos revolucionários, liderados por Fidel Castro. A deterioração rápida das relações com o país norte-americano levou à aliança cubana com a União Soviética, e a transformação de Cuba numa auto-proclamada república socialista. Castro permaneceu no poder desde então, primeiro como primeiro-ministro, e depois, a partir de 1976, como presidente.

Cuba era povoada por índios, os quais chamavam a ilha de Bohío, quando foi visitada por Cristóvão Colombo na sua primeira viagem, em 24 de Outubro de 1492. Colombo pensava que aquela terra era parte do continente asiático e pertencente aos domínios do Grande Cão (o rei da Ásia, descendente de

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Genghis Khan). Colombo deu àquele território o nome de La Juana, em homenagem à filha dos Reis Católicos. Apenas em 1509, Sebastião de Ocampo provou que Cuba era uma ilha, quando começou a sua colonização.

A cidade de Havana foi fundada por Diego Velázquez de Cuéllar, primeiro governador da colónia, em 1514. Durante quatro séculos, Cuba foi uma colónia explorada pela Espanha. Após o esgotamento dos metais preciosos, ainda em meados do século XVI, a partir do século XVII a produção açucareira tornou-se a base de sua economia, baseada na monocultura extensiva, e na mão-de-obra dos escravos africano, trazidos por espanhóis e portugueses, até ao território. No século XIX, os Estados Unidos já era o maior comprador do açúcar cubano.

O primeiro movimento de independência de Cuba, a chamada Grande Guerra registou-se entre 1868 e 1878, conduzido por Carlos Manuel Céspedes, um latifundiário educado na Europa, que defendia os princípios liberais do Iluminismo.

Em 10 de Outubro de 1868, a partir de seu engenho de açúcar, à frente de duzentos homens, Céspedes levantou-se contra o governo espanhol, proclamando a independência de Cuba. Entre as primeiras providências de seu governo, proclamou a liberdade de todos os escravos que se unissem ao exército revolucionário. Essa medida teve como resultado imediato o aumento do seu efectivo para doze mil homens, e a oposição dos demais latifundiários, que se viram privados, por esse meio, de sua mão-de-obra. Enquanto isso, a Espanha ampliava o seu contingente militar na ilha, e Céspedes era deposto em 1873. A resistência, entretanto, prolongou-se até 1878, quando as tropas espanholas retomaram o controle da ilha.

Nesse meio tempo, surgiu um novo líder revolucionário: José Martí. Detido aos 16 anos de idade por ter fundado um jornal revolucionário (o La Patria Libre), foi condenado a trabalhos forçados e depois deportado para a Espanha. Livre, viveu no México, na Venezuela e nos Estados Unidos, onde passou a articular uma nova revolução para a independência de Cuba. Em 1892 fundou o Partido Revolucionário Cubano, em busca de recursos para o seu projecto. Deste modo, em 1895 desembarcou em Cuba, dando início a uma nova guerra de independência, na qual pereceu, um mês após iniciado o conflito. Entretanto, mesmo após a sua morte, os combates prosseguiram até 1898, quando, com a entrada dos Estados Unidos no conflito, a luta pela independência foi abortada, e Cuba passou a ser colónia dos EUA.

Em 1898, o USS Maine, um navio de guerra norte-americano ancorado em Havana, repentinamente explodiu. Sem que se soubesse de imediato qual foi a causa, a imprensa e o governo dos Estados Unidos culparam a Espanha.

Sob o pretexto da explosão do navio, foi desatada uma guerra contra a Espanha. O presidente William McKinley assinou a Resolução Conjunta em 20 de abril de 1898, que declarava:

“(…) que o povo de Cuba é, e por direito deve ser, livre e independente, … que os Estados Unidos por intermédio da presente declaram não ter vontade nem intenção de exercer soberania, jurisdição ou domínio sobre esta Ilha, excepto para sua pacificação, e assevera sua determinação, quando a

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mesma seja atingida, de entregar o governo e o domínio da Ilha a seu povo (...)”.

A Resolução Conjunta autorizou o presidente a usar a força para eliminar o governo espanhol em Cuba. Assim, os Estados Unidos declararam guerra contra a Espanha, passando a atacar territórios espanhóis quer no Caribe quer no Pacífico, invadindo-os.

Derrotados, os espanhóis retiraram-se e Cuba assinou com os Estados Unidos o Tratado de Paris que põe fim a dominação espanhola na ilha, que se tornou um protectorado americano, sendo nomeado um Governador-Geral pelos EUA, o General norte-americano John Brooke.

O governo americano começou a criar propostas económicas que beneficiavam apenas aos EUA, como por exemplo, todos os produtos que Cuba produzia eram exportados apenas para os Estados Unidos, a preços baixíssimos, que os revendia por preços maiores.

Cuba permaneceu ocupada pelos Estados Unidos até 1902, sendo liberada depois da aprovação de uma emenda à Constituição cubana, que dava o direito aos EUA, de invadir Cuba a qualquer momento em que os interesses económicos dos Estados Unidos fossem ameaçados. A chamada Emenda Platt permaneceu mantendo Cuba um protectorado estado-unidense até 1933.

Em 1933, um golpe militar encabeçado pelo sargento estenógrafo Fulgencio Batista derrubou a ditadura de Gerardo Machado. Fulgencio Batista era mulato e pela primeira vez na história cubana os afro-descendentes chegavam ao poder. Ao se tornar chefe do exército, Batista dominou a situação usando uma orientação socialista (segundo alguns), portanto oposta às ingerências norte-americanas.

Batista foi eleito em 1940 presidente da República Cubana. Promulgou a Constituição Liberal, e em 1952 conduziu um novo golpe de Estado apoiado por diversos partidos políticos, dentre os quais o Partido Socialista Popular (ou Partido Comunista Cubano).

Após o golpe de Batista, Cuba progrediu economicamente, porém sua economia ainda era fraca e tinha forte desequilíbrio na distribuição de renda. A ilha, mesmo sendo a maior economia das Caraíbas, em 1958 era apenas a oitava economia entre os vinte maiores países latino-americanos relativamente ao PIB, e um dos países mais pobres das Caraíbas, considerando o PIB per capita. Além disto, havia também um grande desequilíbrio entre a área rural e urbana.

A área urbana possuía forte infra-estrutura, e o capital proveniente do submundo ítalo-americano (dos Estados Unidos) financiava grande parte da economia. Em 1958, havia um total de quinhentas prostitutas em Havana, sendo a indústria da prostituição a mais rentável da ilha. A prostituição, a corrupção e negociatas caracterizaram a era Batista, e, pouco a pouco, a classe média afastou-se do regime.

“A Revolução Cubana”

Devido à estrutura político-económica seguida por Batista, começou a haver um descontentamento das classes média e baixa da população

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cubana. Na esteira dos protestos, os jovens começaram a se mobilizar e a adquirir ideias revolucionárias descendentes do bloco soviético.

Os estudantes, liderados por José António Etcheverria, criaram o “Directório Estudantil Revolucionário” que patrocinou um grupo armado e atacou, em Março de 1953, o palácio presidencial. Etcheverria foi morto e o directório disperso.

Outro grupo de estudantes iniciou nova movimentação, liderados por um estudante de Direito chamado Fidel Alejandro Castro Ruz, (Fidel Castro). Numa acção de guerrilha urbana, o grupo atacou uma guarnição militar chamada de La Moncada. Na acção, alguns dos atacantes foram mortos e Fidel Castro capturado. Julgado, foi condenado a 15 anos de prisão; libertado em seguida por interferência de alguns religiosos, viajou para o México. Lá, conheceu um médico argentino comunista chamado Ernesto Guevara, conhecido como Chê.

O “guerrilheiro” argentino Chê Guevara ajudou Fidel na formação de um movimento revolucionário chamado “Movimento 26 de Julho”, composto de jovens estudantes que iniciaram uma luta contra Batista, que durou 25 meses.

Em 7 de Novembro de 1958, Ernesto Guevara Lynch de la Serna, Chê Guevara ou El Chê, começou sua marcha para Havana, capital de Cuba. No dia 1 de Janeiro de 1959, Batista põe-se em fuga, acompanhado por todos os dignitários de sua ditadura. Em 1959, Fidel Castro liderou a Revolução Cubana contra o ditador Fulgencio Batista. Fidel Castro não era comunista, aliás, os comunistas apoiavam Batista e não confiavam em Fidel. Fidel Castro mobiliza a juventude cubana e consegue eliminar o analfabetismo - que era de 40% - em apenas um ano, utilizando-se de cem mil jovens nessa empreitada. Fidel Castro realizou a reforma agrária, desapropriando propriedades dos americanos, indemnizados pelo valor que declararam nas finanças, no exercício anterior, muito abaixo do valor real, provocando descontentamento entre os proprietários mais ricos, e o que levou os EUA a considerarem o líder cubano um inimigo e tentarem derrubá-lo, treinando ex-militares de Batista para invadir Cuba. Cortaram também a compra do açúcar cubano. Isso obrigou Fidel a se aproximar da União Soviética e dois anos mais tarde instaurar um regime de orientação marxista e partido único.

Entre 17 e 21 de Abril de 1961, cerca de 1500 exilados cubanos recrutados, patrocinados e treinados pela CIA dos Estados Unidos tentaram uma invasão frustrada na Baía dos Porcos. Foram rechaçados e trezentos deles morreram, sendo mil e duzentos, aprisionados. Eram na maioria, soldados do ex-ditador Batista, e julgados pela multidão no estádio em que foram mantidos presos. Fidel recebeu USS$ 50 milhões em alimentos e medicamentos, pela libertação dos exilados.

Devido a aproximação das relações do regime cubano com a URSS, que estava em plena “Guerra Fria” com os EUA, assistiu-se a um aumento de tensão entre os países provocado pelo apoio militar declarado pela URSS. Khrushchov decidiu implementar secretamente um conjunto de mísseis soviéticos em Cuba. Perante a possibilidade de Cuba possuir armas nucleares, de origem russa, que ameaçariam os EUA , Kennedy presidente

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dos Estados Unidos de então, ponderou invadir a ilha ou bombardear as rampas de lançamento (dos mísseis). Kennedy optou por decretar um embargo naval à ilha, o que impede os cargueiros russos de chegar a Cuba.

Khrushchev acabou por ceder, e retirou a sua pretensão de inserir mísseis em território cubano, em troca do compromisso dos EUA, de respeitarem a soberania de Cuba e não invadirem a ilha e desmontar bases de mísseis na Turquia, facto que só foi divulgado recentemente nos EUA.

O Embargo económico à Cuba

Inconformados com a expropriação de corporações americanas, e de terras rurais de posse de americanos na ilha cubana, com indemnização baseada no valor declarado ao fisco no exercício anterior, ou seja, muito inferior ao real, primeiramente, depois com o fracasso da operação na Baía dos Porcos (1961), os Estados Unidos impuseram um embargo económico à Cuba. Ameaçando cortar relações com qualquer país que fizesse comércio com Cuba. Foi quando a União Soviética entrou em cena, comprando os produtos que seriam exportados caso não houvesse embargo. Isso causou desespero aos americanos, pois ter um país, durante a “guerra fria”, sob a órbita de influência soviética, a 120 km de distância, era intolerável. Os EUA mantêm o embargo económico à Cuba até hoje, alegando desrespeito contínuo de direitos humanos pelo regime “Castrista”, embora a ONU não reconheça tais violações (alguns especialista consideram que o embargo é uma forma de pressão, de comunidades anti-castristas residentes em Miami).

Com o fim da União Soviética, Cuba acabou por reabrir economicamente o país para o mundo, pois já não dispunha mais do subsídio, e sua economia estava em declínio. Porém, dada a força do bloqueio económico estado-unidense, o país vive isolado economicamente, passando por muitas dificuldades.

Actualidade

Em 3 de Junho de 2009, a Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovou por consenso a anulação da resolução de 1962, que expulsava a ilha da organização. Na época, a expulsão ocorreu sob pressão dos Estados Unidos, no contexto da Guerra Fria, quando a ilha se aproximava do bloco socialista soviético. Contudo todos os governos do continente restabeleceram contacto com a ilha, com excepção dos EUA.

Um grupo de trabalho instituído para debater o assunto apresentou a proposta à chanceler hondurenha, Patrícia Rodas, que presidia a “Assembleia Geral”. A proposta então foi aceita por aclamação. A decisão histórica permite que Cuba seja reincorporada caso manifeste vontade, embora o governo cubano já tenha declarado em várias ocasiões não ter interesse em retornar. No mesmo dia 3 de Junho, o ex-presidente Fidel Castro, em artigo publicado no Granma, acusava a OEA de ter aberto as portas “ao cavalo de Tróia (Estados Unidos) que apoiou as reuniões de cúpula das Américas, o neo-liberalismo, o narcotráfico, as bases militares e as crises económicas." Nos últimos anos, governos de esquerda do sub-continente, também têm defendido a formação de um grupo regional alternativo à OEA, sem a presença dos EUA.

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Horas antes da resolução da assembleia da OEA, sete deputados americanos, a maioria deles republicanos, haviam apresentado um projecto de lei, que suspende o apoio financeiro dos Estados Unidos à organização, caso Cuba seja readmitida como país-membro do grupo.

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Panorama Geral da História da Música (e seu variados géneros) em Cuba

A música erudita em Cuba

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A história da música erudita em Cuba mostra que superou a de qualquer outra ilha das Caraíbas, embora, a música colonial começou muito mais tarde, do que nos maiores países da América Latina. A actividade musical durante os séculos XVI e XVII foi aparentemente limitada. Naquele tempo a música sacra estava concentrada na Catedral de Santiago, a mais antiga referência à música indica a presença de Miguel Velázquez lá, em 1544, um organista nativo. O cargo de Mestre de Capela foi fundado em 1682, com meios limitados, por Dom Juan García de Palácios, e foi preenchido pela primeira vez por Domingos de Flores.

As tentativas de reviver a música da igreja de Santiago, que começou durante a primeira metade do século XVIII, foram bem sucedidas apenas durante a última parte do século, quando Cuba produziu o seu primeiro compositor importante, Estéban Salas y Castro. Antes de sua transferência para Santiago em 1764, Salas esteve ligado a música da igreja paroquial de Havana (que se tornou uma catedral em 1788). Sua extensa produção inclui missas, geralmente em quatro partes, com acompanhamento de cordas, lamentações, salmos, motetos, ladainhas e numerosos vilancetes em vernáculo. Suas peças litúrgicas são em estilo barroco tardio de transição que combina características do pré-clássico. Outro cubano, Francisco José Hierrezuelo, ocupou o cargo de Salas em Santiago, após a sua demissão, o espanhol Juán de Paris (1759-1845) ocupou o mesmo cargo (1805-1845). Os musicólogos Alejo Carpentier e Pablo Hernández Balaguer descobriram diversas obras de Paris, que incluem vários vilancetes. Até 1830 a música operística e sinfónica estava sendo realizada na catedral, muito à desaprovação de alguns músicos locais.

A música na Catedral de Havana parece ter atingido seu pico no início do século XIX, embora não tenha havido nenhum estudo específico dos arquivos históricos e musicais de lá. A Academia de Música foi fundada em 1814, e a Academia Stª Cecília, em 1816, a primeira música publicada em Cuba foi uma contradanza (1803).

Sinfonias, óperas e música de piano, primeiro em estilo clássico e, em seguida, em um estilo predominantemente romântico, caracterizam a música cubana do século XIX. António Raffelín (1796-1882) escreveu uma missa, várias sinfonias e música de câmara funcional em uma linguagem clássica. Robredo Manuel Saumell, um prolífico compositor, cultivou o contradanza com seu típico acompanhamento em figuras pontuadas , característica da habanera, depois do danzón e outros ritmos latino-americanos de dança popular. Laureano Matóns Fuentes (1825-1898) escreveu muitas obras de câmara, peças sacras, um poema sinfónico América, uma ópera Seila e várias zarzuelas. Nicolás Ruiz Espadero (1832-1890) escreveu peças virtuosísticas para piano em um estilo derivado de Liszt e Gottschalk, tais como a sua Canto del guajiro. Gaspar Villate estudou no Conservatório de Paris e teve três de suas óperas estreadas na Europa (Zilia, Paris, 1877; La czarine, Haia, 1880; Baldassare, Madrid, 1885).

O primeiro passo decisivo no sentido do nacionalismo musical em Cuba, foi levado a cabo por Ignácio Cervantes (1847-1905), o mais importante compositor cubano de sua geração, tendo uma carreira de sucesso como concertista. Ele foi aluno de Gottschalk e Espadero Ruíz de Marmontel,

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estudando depois no Conservatório de Paris. Entre seus muitos trabalhos estão 45 Danzas cubanas para piano (1875-1895), muitos delas contradanza, combinam a música folclórica (elementos de ambos: afro-cubanos e tradições Guajiro) num estilo romântico, de piano virtuosístico. Estas peças são a contribuição mais original de música erudita cubana do século XIX. Entre os muitos compositores activos durante o início do século XIX, está Eduardo Sánchez de Fuentes, um dos mais influentes, também defendeu um estilo romântico nacional. Mais tarde, compositores proeminentes associados com o nacionalismo musical incluía Amadeo Roldán e Alejandro García Caturla, que encontrou no “Afrocubanismo” a fonte mais adequada de expressão nacional. As idiossincrasias estilísticas impressionantes de Roldán são melhores observados em sua série de seis Rítmicas (1930) para vários instrumentos, os dois últimos para instrumentos de percussão afro-cubana e outros. García Caturla teve vários de seus trabalhos publicados na Europa e nos EUA. Seu tratamento hábil e original da música afro-cubana está bem representado por sua La rumba (1933), e Tres Danzas (1937) para orquestra, e particularmente pelas suas muitas adaptações as poemas afro-cubanos de Alejo Carpentier e Nicolás Guillén. Por um tempo Roldán foi líder da Orquestra Popular de Havana, fundada em 1924 por Pedro Sanjuán. Anteriormente, a Orquestra Sinfónica de Havana tinha sido estabelecida sob Gonzalo Roig, compositor da popular zarzuela Cecilia Valdés. Ernesto Lecuona, um membro da mesma geração, foi reconhecido internacionalmente por suas comédias musicais e muitas canções populares.

Após a morte prematura de Roldán e García Caturla, José Ardévol (1911-1981), ocupou uma posição de destaque como compositor e professor, de 1930 a meados da década de 1950. Ele deu à muitos compositores jovens uma sólida formação técnica e fundando o Grupo de Renovação Musical (1942) em Havana, que promoveu a música contemporânea. O manifesto do grupo afirmou, no entanto, que um "factor nacional é indispensável na criação musical, no sentido de que toda expressão artística ocorre dentro de um contexto cultural". Como compositor Ardévol passou de um estilo rigoroso neo-clássico, que ele iniciou em Cuba, para um estilo modernista "nacional".Os alunos de Ardévol, que foram associados ao grupo e se tornaram proeminentes, inclui Serafin, compositor de obras corais, Gisela Hernández (1912-1971), Edgardo Martín (b 1915), Harold Gramatges (b 1918) e Argeliers León (1918-1991), conhecido também como um etnomusicólogo na década de 1960. Uma pessoa do grupo, Julián Orbón (1925-1991), estabeleceu uma reputação internacional como compositor e pianista. No início de 1950, ele rompeu com o grupo para desenvolver as suas próprias ideias artísticas. Outros compositores cubanos do século XX que se desenvolveram independentemente, incluem Carlo Borbolla (1902-1990), Félix Díaz Guerrero (b 1916) e Aurélio de la Vega (b 1925). O último nome é o compositor mais conhecido fora de Cuba. Ele compôs em uma linguagem atonal e virou-se para a música electrónica na década de 1960. Dirigiu a escola de música na Universidade de Oriente, em seguida, mudou-se para os EUA como professor de música na St. Fernando State College, na Califórnia, onde dirige o laboratório de música electrónica (não pude confirmar). Entre outros compositores nascidos nos anos de 1920 e 30, esatão Juan Blanco (1929 b), Carlos Fariñas (b 1934) e Leo Brouwer (b 1939) que utilizaram técnicas de electrónica e de serialidade. Brouwer

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trabalhou também sobre as técnicas aleatórias. Desde a década de 1970 os valores mais significativos da vanguarda cubana foram Héctor Angulo (b 1932), Calixto Alvarez (1938 b), Roberto Valera (b 1938), José Loyola (b 1941) e Sergio Fernández Barroso (b 1946). Com a fundação do Instituto Superior de Arte, em 1976, um grupo altamente individual de compositores surgiram, incluindo Jorge Garciaporrúa (b 1938), Malcolm Carlos (b 1945), Piñera Juan (b 1949), José Angel Pérez Puentes (b 1951), Magaly Ruiz (b 1941) e Efraín Amador (b 1947). O aparecimento substancial destes compositores, desde a década de 1970 ,confirmou a riqueza e a diversidade da música erudita contemporânea cubana.

As origens da música cubana tradicional, e folclórica

a) Música Ameríndia.

Os primeiros habitantes conhecidos de Cuba foram os grupos indígenas Siboney e Arawak que viviam na ilha na época da conquista espanhola. O pouco que se sabe sobre as suas práticas musicais foi retirado dos apontamentos dos viajantes, como Bartolomé de las Casas e Gonzalo Fernández de Oviedo. Os instrumentos utilizados pelos grupos indígenas incluiem a mayohuacán, um cilindro de madeira oco e com fenda semelhante ao teponaztle, da cultura azteca; e trombetas de casca de conchas, conhecidas como Guamos ou Cobos, flautas, e matracas semelhante as maracas. As maracas parecem ser o único instrumento utilizado em Cuba hoje, que pode derivar do passado indígena.

Uma das mais importantes formas de expressão Siboney foi o Areito, um evento religioso comunal envolvendo música, dança, rituais, tabagismo e o consumo de bebidas alcoólicas. Os movimentos da dança do Areito não estão bem documentados, mas parecem ter formação circulares e miméticos, pelo menos em parte. A canção responsorial, era um elemento crucial na cerimónia, liderada por um especialista ou tequina musical escolhido pela tribo. Os colonos era proibidos participar do Areito até 1512, o que, combinado com a conquista de natureza brutal, resultante da dizimação das populações indígenas Caraíbas, levou à extermínio prematuro de tal actividade cultural.

b) Músicas Íbero-derivadas

Essas tradições musicais têm existido em Cuba desde os primeiros dias da conquista. Enquanto a maioria dos géneros nacionais demonstram bastante influência de Espanha, o punto e décima estão mais estreitamente associados a esse património. Estas formas de expressão, vagamente conhecidos como música guajira (música rural dos agricultores latino-americanos), se mantiveram fortes até o século XX, devido à imigração das Ilhas Canárias, subsidiada pelo governo Espanhol nas décadas de 1910 e 20. O punto e décima é, principalmente, música tradicional de instrumentos de corda. Eles empregam o alaúde, o tres e a bandurria (variantes dos instrumentos espanhóis, desenvolvidos em Cuba), assim como a guitarra e as maracas, ou outras percussões de mão. Estritamente falando, punto é um

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termo usado para descrever a música instrumental que geralmente acompanha uma canção. Décima, pelo contrário, refere-se à poesia mais comummente associada a música guajira. Podendo esta música ser pré-constituída ou espontaneamente improvisada. A décima foi primeiramente uma forma desenvolvida na Espanha medieval. É constituída por dez linhas de oito sílabas, com um esquema de rimas chamado espinela (ABBAACCDDC). As melodias associadas a música guajira são estilizadas e estereotipadas. A ênfase está principalmente sobre o texto, com notação musical de apoio. Punto e décima perderam a preferência, especialmente entre os jovens, que os consideram antiquada. No entanto, programas de televisão e rádio continuam a promovê-los.

Um dos aspectos mais emocionantes da apresentação improvisada da décima é o facto de que muitas vezes ocorrer no contexto das controvérsias, ou em duelos de canções-poéticas entre dois artistas. Improvisadores da décima são necessários para responder rapidamente aos desafios de seu oponente e cantar suas próprias respostas dentro de rígidas convenções métricas. O derivado do romance espanhol, ou a balada lírica, também existe em Cuba, assim como outros inúmeros géneros Ibéricos.

c) Música afro-cubana

Adoptando a terminologia do autor Miguel Barnet, a música e a dança da cerimónia de santeria pode ser considerado como a "fuente viva" de grande parte da inspiração cultural de Cuba. Como no caso do gospel negro, norte-americano, a música sacra da santeria nunca gozou de popularidade comercial em massa (embora isso esteja mudando), mas tem sido de fundamental importância para o desenvolvimento da maioria da música popular cubana, e à força das retenções culturais do “Africano” em geral. Uma fusão de crenças yorubas com aspectos do catolicismo (os santos), a santeria é a maior das várias religiões afro-cubanas, incluindo Arará e Palo Monte (derivado da Ewe/Dahomey, e dos grupos do Congo, respectivamente), bem como o ritual de espiritismo e Abakuá. Praticamente toda a devoção religiosa afro-cubana envolve música e dança: o orichasò (divindades ancestrais) só pode ser invocado (supostamentes) e adorado através de músicas tocadas e dedicadas a elas.

Vários tipos de música estão associadas as religiões afro-cubanas. Estas incluem os eventos da performance formal, fechado aos não iniciados, no qual os tambores batá (Oru seco: só tambores tocados / Oru cantado: tambores e canções) predominam, assim como celebrações mais abertas, no qual um ekón (campana/choca) e um ou mais “atabaques consagrados” são geralmente tocados, por vezes em conjugação com chéqueres (cabaça seca balançadas dentro de uma rede de contas), ou até mesmo violinos, podem ser utilizados. Os batás, talvez o mais conhecido dos instrumentos da santeria, é composto por um conjunto de três tambores de “duas bocas” (pele dos dois lados do tambor), em forma de ampulheta, e de diferentes tamanhos. Os nomes mais comuns desses tambores, em ordem decrescente de tamanho, são iyá, itótele e okónkolo. Os tambores batá são considerados

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sagrados e os féis acreditam que estes contém uma força espiritual (añá) que facilita a comunicação religiosa.

Em qualquer tipo de cerimónia afro-cubana derivados da cultura yoruba, devoção religiosa envolve tipicamente a performance de Orus, que são estritamente sequências ordenadas de ritmos percussivos e cânticos aos orichás. Solos vocais, denominados akpwon, lideram o canto e são respondidos por um coro de iniciados. Cantores e membros do coro podem ser homens ou mulheres, as mulheres, no entanto, constituem a maioria dos devotos da santeria. As características musicais da música afro-cubana tradicional, tanto sacra e como secular, incluem a predominância de instrumentos de percussão, cantos cíclicos e interligados por segmentos musicais que são repetidos para proporcionar uma textura base para a unidade musical; polirritimias complexas; canto responsorial; descendente das melodias vocais pentatónicas; há uma tendência para se tocar alguns instrumentos de forma estática e, imutável, enquanto noutros improvisam-se figuras variadas.

Por incorporar muitos dos mesmos instrumentos utilizados em eventos religiosos, a rumba afro-cubana soa similar a música da cerimónia de santeria. A rumba é, no entanto, uma actividade cultural distintamente profana/secular. É praticada nas províncias de Havana e Matanzas, e os seus ritmos dizem-se ser de origem Bantu (mas provavelmente é a fusão desta a outras culturas negras, de diversas origens ocidentais da África) e géneros similares (mais notavelmente a Tumba Francesa do Oriente), existente em outras zonas de Cuba. Como no caso dos tambores Batá, os artistas da rumba (tradicionalmente os homens) na maioria das vezes tocam três tambores/atabaques: salidor, tumbador (tres-dos) e quinto (em ordem decrescente de tamanho/largura), claves e os palitos, ou cáscara (literalmente “a casca”, este termo se refere o corpo de madeira de um tambor, ou um bloco de madeira guataca, ou outro objecto ressonante golpeado com paus/baquetas). A rumba também pode ser executada em caixas de madeira chamados “cajones”( originalmente iniciou-se assim a sua prática) ou noutros instrumentos de percussão. Em contraste com a performance dos batás, na rumba os tambores menores (mais agudos) é que improvisam, sendo os tambores maiores (mais graves) do conjunto, juntamente com a clave e a cáscara, que fornecem a textura musical (rítmico-melódicas), mais estática.

Numerosos géneros antecedente são mencionados na literatura (por exemplo tahona, papolote, yuka, calinda, etc;) e novas formas estão surgindo constantemente (gurapachanguero, timba, etc). Na rumba três subgéneros principais são hoje mais comummente encontrados: a yambú, guaguancó, e a colómbia, cada um associado a ritmos distintos e movimentos distintos do corpo. As rumbas yambú e guaguancó são danças de casal. Yambú, é uma forma mais antiga, é realizada em um andamento mais lento e envolve gestos miméticos característicos da rumba do século XIX (“rumba del tiempo de España”). Guaguancó, provavelmente a variante mais conhecida, tem inspirado muitas danças comerciais em cabarés e teatros. A coreografia representa uma forma estilizada de conquista sexual sugerida por movimentos pélvicos do dançarino (referida como “vacunao”) e a cobertura da virilha pela bailarina (a botao). Colúmbia é uma forma rápida de ritmo e

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dança masculina solo, e virtuosa, associado a irmandades secretas (grupos Abakua ñáñigo, uma tradição que derivam da cultura Efik).

A Comparsa (ou conga) representa ainda um outro género afro-cubano, que teve um impacto significativo sobre as tradições nacionais. Comparsas são grupos de músicos de rua, principalmente afro-cubanos, que executam em desfiles de rua, desenvolvido em torno do início do século XIX. Elas derivam do século XIX, de conjuntos de escravos e negros livres que foram autorizados a executar publicamente as suas músicas de tango congo, no dia da Epifánia (El Día de Reyes) a cada ano. Este evento era especificamente para os negros cubanos, que muitas vezes não eram autorizados a participar no Carnaval. Ao término das Guerras de Independência (1868-1898), o Carnaval tornou-se um evento mais etnicamente integrado. Controvérsias sobre as comparsas continuaram por muitos anos, entretanto, as bandas foram realmente impedidas da participação no Carnaval entre 1914-1936, novamente.

Enquanto as comparsas no século XIX tendem a ser organizadas pelo cabildo (representando sociedades particulares de grupos étnicos africanos), as comparsas do século XX, foram organizadas por distritos da cidade. Bairros com comparsas conhecidas em Havana incluem Belém, Atarés, Jesús María e Cayo Hueso. Cada comparsa tem a sua própria música, bem como movimentos de dança e figurino. Os instrumentos são muitas vezes feitos em casa pelos participantes ou improvisados com materiais baratos. Eles incluem tambores (feito com longas tiras de madeira) de várias formas e tamanhos, sinos, frigideiras, aros de pneus (jantes de metal), trompetes e outros instrumentos de sopro, bem como a “corneta china” (um aerofone de palheta dupla, levado para Cuba por chineses servos contratados). Através da década de 1940, as comparsas eram frequentemente contratadas pelos políticos cubanos em uma tentativa de atrair os eleitores negros. Bandas de baile tocavam “congas de salão”, inspiradas por comparsas de rua, começaram a ganhar popularidade em Cuba e no exterior (onde estavam emigrantes cubanos), nos anos 1930.

A Música Popular Cubana

a) A Música de salão.

Os géneros de música de salão europeias têm sido dançadas em Cuba ao longo dos séculos (por exemplo, o minueto, a quadrilha, a gavotte e a valsa) e ao longo dos anos têm se misturado com influências afro-cubanas, produzindo novos estilos. Entre os primeiros géneros sincréticos de salão a ganhar popularidade no início do século XIX foram as fusões da danza e contradanza, formas musicais predominantemente europeias com acompanhamento de percussão leve e com um padrão isorrítmico transladados a Cuba por refugiados haitianos nos anos 1790. Esse padrão é conhecido como o cinquillo (Ex.1). A crescente popularidade da contradanza

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e danza reuniu-se com uma oposição feroz por muitos críticos de classe média, que denunciaram o cinquillo como um “africanismo selvagem”. O danzón, sucessor directo a esses géneros, deparou-se com uma oposição semelhante algumas décadas mais tarde. Considerado por muitos como a primeira forma muito popular de música nacional, desenvolveu-se entre a classe média de negros e mulatos da província de Matanzas, em 1870. O líder da banda Miguel Faílde (1852-1921) é especialmente lembrado como um dos seus importantes inovadores.

Los Danzones permaneceram controversos por muitos anos por causa do padrão cinquillo, a predominância de músicos afro-cubanos a realizá-los, e sua incorporação do casal dançando-o (muito sensual), esta prática foi considerada imoral em Cuba. Pouco distingue o danzón das danza e contradanza em um sentido musical, a sua singularidade reside principalmente na sua coreografia complexa, envolvendo uma série de etapas distintas: lo paseo, la cadena, lo sostenido e el cedazo. A estrutura do danzón mais típico consiste de um rondó (ABACAD). Sua popularidade está intimamente associada com a Guerra da Independência de Cuba e do sentimento nacionalista gerado durante a luta pela autonomia de Espanha. O danzonete e Cha cha cha do século XX, são fusões do danzón com influências do son, sendo o repertório das bandas de charanga. Os conjuntos de música de salão de meados do século XIX, eram conhecidos como Orquestras Típicas. Sua instrumentação incluíam o reco-reco (uma cabaça com raspador; timbales (derivado do tímpano espanhol, das orquestras sinfónicas e bandas militares, mas uma adaptação menor), clarinete, trompete, trombone, fagote e tuba. Na virada do século, a flauta, o piano, o contrabaixo, e violinos começaram a substituir os instrumentos de sopro.

b) Géneros de música sentimental.

Como é o caso na maioria dos outros países latino-americanos, uma quantidade significativa de música popular em Cuba, tende a ser lenta, canção sentimental, em vez de música de dança. Géneros sentimentais incluem o bolero canción, e a trova tradicional (também conhecido como la trova vieja). Eles são caracterizados por prorrogadas harmonias cromáticas, e compasso binário moderado, influências estilísticas dos Lieder alemães ou operetas italianas, e letras alusivas ao amor e relacionamentos pessoais. Uma série de composições habaneras da passagem do século XIX para o XX são também essencialmente canções de amor, embora o género foi inicialmente destinado a dança. A tradição cubana da trova vieja é de particular interesse, uma vez que envolveu principalmente negros e mulatos artistas da classe trabalhadora em Santiago de Cuba, sem nenhum treinamento formal que, contudo, demonstrou fortes influências da música erudita em suas composições.

Influências operísticas também são visíveis nas zarzuelas (operetas nacionalistas) muitos populares, que ganharam popularidade na virada do século, e continuam bem representados. As zarzuelas cubanas derivam do

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género espanhol do mesmo nome, mas suas temáticas são baseadas em temas e imagens específicas de Cuba. O pico de sua popularidade veio nas décadas de 1920 e 1930, durante um movimento simultâneo com (e em alguns aspectos muito semelhante) ao renascimento do Harlem (bairro nova-iorquino colonizado por caribenhos) conhecido como zarzuela afro-cubana. Compositores famosos cubanos incluem Ernesto Lecuona, Jaime Prats e Gonzalo Roig.

c) El Son

El son de Cuba (não confundir com o seu homólogo mexicano), e a música salsa, entre outros géneros derivados dele, são reconhecidos como as formas mais importantes da música das Caraíbas do século XIX. O son é altamente sincrético, o que representa uma fusão de influências culturais hispânicas e africanas. Na década de 1920 tornou-se um importante símbolo da identidade nacional em Cuba, apesar da sua origem como música regional da província de Oriente. O son é difícil definir com precisão, devido a tão numerosas sub-classificações existentes (por exemplo, son montuno, changüí, sucu sucu, guaracha, e mambo), bem como características formas híbridas que se fundem derivados do son misturados com outras músicas (por exemplo, son- guajira, son-pregón, afro-son e guaracha-son). Estruturalmente, o son tradicional tende a estar em compasso binário, com base em simples padrões harmônicos (I-V, I-IV-V) descendentes europeus, e alternância entre as secções, verso e refrão. Segmentos instrumentais curtos executados no tres (violão/guitarra popular) ou trompete, também são frequentemente incluídos entre as repetições estróficas. O montuno, parte final de alguns sones, é realizado a um ritmo mais rápido e envolve alternâncias relativamente rápidas entre um coro e um solista (improvisação vocal ou instrumental). As frases nesta secção são geralmente referidos como inspiraciones. A natureza cíclica, antifonal e altamente improvisada do montuno carrega uma semelhança notável com a organização formal de muitas músicas tradicionais do Oeste africano, enquanto que as secções estróficas iniciais (conhecido como “canto” ou “tema”) se assemelham mais a música europeia.

O son acústico utiliza diversos instrumentos, incluindo o tres, guitarra, maracas (fig.1d, bongó, reco-reco, botija baixo (jarro), marímbula (Kalimba grande), ou baixo acústico. Bandas modernas geralmente usam um baixo eléctrico, teclado eléctrico substituto para a guitarra e o tres, e adicionam tumbadoras (congas) e timbales, bem como uma secção de sopros. O son, descendente europeu, utilizam formas poéticas como coplas, cuartetas e décimas. Dentre as características mais marcantes do género musical esta o seu padrão de clave, figuras altamente sincopadas, reforçados pelos tres e / ou teclado que definem a estrutura de acordes da peça, e uma tendência para o bongó enfatizar o quarto tempo do compasso (mais forte do que o primeiro), e um único ritmo no baixo, geralmente referido como um “baixo antecipado” (Ex.2). O padrão de baixo sincopado do son, bem como o seu padrão ambivalente de tensão foi fundamental para a criação da salsa moderna.

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Com excepção de algumas músicas guajira, canciones, trova tradicional e boleros, virtualmente toda a música cubana contém uma figura conhecida por clave que fornece uma base rítmica para a peça. O termo clave é confuso já que pode se referir tanto a uma diversidade de ritmos característicos de dois compassos, bem como o tocar de duas “claves” (fig) em que alguns ritmos de clave são executados. Em um sentido mais geral, a expressão “estar na clave” é usado para indiar a consciência de uma clave, ou padrão de tempo (não necessariamente realizado) que relaciona a execução rítmica e melódica dos músicos. Os padrões de clave afro-cubanas vem do repertório religioso, geralmente executado em um sino, ou um outro objecto de metal, tendem a estar em compasso 6/8, enquanto os géneros seculares são mais frequentemente executados em compasso binário ou quaternário.

A música “Socialista” de Cuba.

As mudanças políticas decorrentes da revolução socialista em 1959 tiveram um impacto dramático sobre a actividade musical cubana. Apoio à cultura e às artes em diversas formas tem sido uma prioridade para o governo, a ENA (Escola Nacional de Arte) e ENIA (Escola Nacional de Instrutores de Arte) foram criados pelo governo de Fidel Castro em 1961. Como no caso da maioria dos estados “marxistas”, a cultura tem sido altamente politizada em Cuba. Inúmeras formas de expressão musical floresceram com o generoso apoio de órgãos governamentais, enquanto outras foram marginalizadas, censuradas e perseguidas. O panorama musical é complexo e contrastante, tais como a educação gratuita, assistência médica e relativamente altos salários para muitos artistas (com limitações à expressão pessoal), por outro lado a falta de materiais adequados para o estudo e a dificuldade em viajar (já há mudanças positivas neste panorama). Deve-se ressaltar, no entanto, que a actividade artística em geral aumentou após 1959, e que a “ilha” continua a produzir artistas de excepcional qualidade.

Uma das formas mais conhecidas de expressão musical associado a Cuba revolucionária é referido como la nueva trova. O termo trova deriva de trovador, nome dado a de compositores/guitarristas do início do século XX. A nova trova é uma forma de música de protesto incorporando influências estilísticas dos géneros cubanos tradicionais e populares e géneros externos como: jazz, rock, música clássica europeia, e outras fontes. Ele surgiu como um movimento reconhecido no final dos anos 1960, entre artistas jovens, apesar de que seus antecedentes directos podem ser encontrados em composições de Carlos Puebla, Eduardo Saborit, e artistas da trova

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tradicional. A nova trova representa parte de um fenómeno de canção pan-americana de protesto latino-americanas que se estendeu aos EUA e à Europa.

As letras das músicas do repertório da nueva trova podem variar no estilo, mas representam uma tentativa de escapar da banalidade comercial, muitas vezes referindo a injustiça política, sexismo, colonialismo e questões relacionadas. Pablo Milanés, Silvio Rodríguez, Noel Nicola, Pedro Luís Ferrer, e outras figuras, cedo apareceram no palco com roupas de rua, entre outras formas de minimizar o “fosso” entre o intérprete e platéia. Artistas da nueva trova, mantiveram, em meados de 1970, uma relação tensa com representantes do governo, que considerava seus cabelos longos, roupa 'hippie' e interesse em rock uma manifestação de decadência capitalista. No final de 1970, no entanto, muitos dos mesmos artistas tinham conseguido um amplo apoio e se transformaram em ícones internacionais do socialismo. cantores de protesto, incluindo Carlos Varela, Amaury Pérez e Gerardo Alfonso. Foram artistas mais fortemente influenciados pelo rock e têm criticado as políticas do governo, mais abertamente.

Após o início da crise económica em 1989, os músicos procuraram activamente gravações, turnées, e contratos no exterior, tornando seu trabalho mais acessível internacionalmente. Para contornar o embargo económico norte-americano de diversas maneiras, tanto eles quanto o partido comunista cubano, utilizou a música como um meio de gerar divisas, principalmente após o colapso da União Soviética (grande apoiante da reforma socialista cubana). Artistas de jazz, na ilha (e no exílio) têm recebido amplo reconhecimento por sua excelência, assim como bandas de baile. Grupos como Los Van Van e Los Angelitos Negros, com influências internacionais, incluindo rap, hip hop e música brasileira, combinadas com géneros cubanos, criando de formas inovadoras. Fusões exclusivas dos ritos religiosos afro-cubanos (percussão e canto) com son, salsa, e rumba tornaram-se bastante comuns, na esteira das liberalizações políticas para praticantes religiosos. Cuba continua a ser um local dinâmico de criação musical, apesar de severas dificuldades económicas e isolamento político experimentado por seu povo.

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A Rumba afro-cubana

A cerca de cem kilómetros de Havana, em direcção a leste, fica a cidade portuária de Matanzas, onde a rumba emergiu no final do século XVIII (mais

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tarde também em Havana). A rumba surgiu de uma combinação vistosa de estilos de percussão congolesa (e de outras regiões do noroeste africano) e influências das canções flamencas (árabes) espanholas. Desenvolveu-se e tornou-se um dos mais importantes géneros de música e dança tradicionais, entre a inúmera variedade de géneros tradicionais afro-cubanos.

Segundo o especialista e etnomusicólogo cubano, Fernando Ortiz, a rumba foi originada no cenário urbano (nas “cuartearías e solares”), e semi-rural, onde abundavam negros pobres, alguns trabalhavam nos engenhos de açúcar e outros nos portos. "

Por incorporar muitos dos mesmos instrumentos utilizados em eventos religiosos, a rumba afro-cubana soa similar a música da cerimónia de santeria. A rumba é, no entanto, uma actividade cultural distintamente profana/secular. É praticada nas províncias de Havana e Matanzas, e os seus ritmos dizem-se ser de origem Bantu e Kongo (mas provavelmente é derivado da fusão destas, a outras culturas negras, de diversas origens ocidentais da África), e outros géneros similares (mais notavelmente a Tumba Francesa do Oriente – próximo do Haiti), existente em outras zonas de Cuba. Como no caso dos tambores batá, os artistas da rumba (tradicionalmente os homens) na maioria das vezes tocam três tambores/atabaques: salidor, tumbador (tres-dos) e quinto (em ordem decrescente de tamanho/largura), claves e os palitos, ou cáscara (literalmente “a casca”, este termo se refere o corpo de madeira de um tambor, ou um bloco de madeira catá, ou outro objecto ressonante golpeado com paus/baquetas). A rumba também pode ser executada em caixas de madeira chamados “cajones” (originalmente iniciou-se assim a sua prática) ou noutros instrumentos de percussão. Em contraste com a performance dos batás, na rumba os tambores menores (mais agudos) é que improvisam, sendo os tambores maiores (mais graves) do conjunto, juntamente com a clave e a cáscara, que fornecem a textura musical (rítmico-melódicas), de maneira mais estática.

Os instrumentos da rumba afro-cubana

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Os três tambores usados na rumba: “Quinto, Tres dos e Salidor “

As Claves, onde se toca “ La Clave” o ritmo (estático) que guia a rumba.

“El Catá” onde se toca um ritmo complementar a clave.

O “chequeré” e a “guataca” são instrumentos de percussão complementares a todo complexo rítmico da rumba.

Numerosos géneros antecedentes são mencionados na literatura (por exemplo tahona, papolote, yuka, calinda, etc;) e novas formas estão surgindo

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constantemente (gurapachanguero, timba, etc). Na rumba, três subgéneros principais, são hoje mais comummente encontrados: a rumba yambú, a rumba guaguancó, e a rumba colúmbia, cada um associado a ritmos distintos e movimentos distintos do corpo, na dança. As rumbas yambú e guaguancó são danças de casal. Yambú, é uma forma mais antiga, é realizada em um andamento mais lento e envolve gestos miméticos característicos da rumba do século XIX (“rumba del tiempo de España”).

Rumba Yambú “Del tiempo España”, que é mais lenta e geralmente dançada pelos mais velhos.

Exemplo musical de uma rumba yambú:♪01- Grupo Afro-Cuba Matanzas – “Yambú con Melodia”

A rumba Guaguancó, provavelmente a variante mais conhecida, tem inspirado muitas danças comerciais em cabarés e teatros. A coreografia representa uma forma estilizada de conquista sexual sugerida por movimentos pélvicos do dançarino (referida como “vacunao”) e a cobertura da virilha por parte da bailarina (o botao).

O Guaguancó, ritmo mais popular da rumba afro-cubana.

Exemplo musical de uma rumba guaguancó:♪02- Grupo Afro-Cuba Matanzas – “Enigue Nigue”

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Colúmbia é uma forma rápida de ritmo, e dança masculina solo, virtuosa, associado a irmandades secretas (grupos Abakua ñáñigo, uma tradição que deriva da cultura Efik). Assume uma rítmica em 6/8, de onde derivam a maioria dos ritmos africanos.

Bailarino improvisando em uma sessão de rumba Colúmbia

Exemplo musical de uma rumba Colúmbia:♪03 – Grupo Afro-Cuba Matanzas: “Aguado Koloya”

Em meados século XX, a rumba começava a misturar-se com o son para formar o início da do género conhecido como salsa, muito devido a imigração de americanos para o país, mas principalmente devido a emigração de cubanos para outros países caribeños e Estados Unidos (Miami e Nova York).

Para muitos, a rumba é mais do que um género musical e de dança; é a expressão colectiva da natureza crioula da ilha em si.

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World Music

World music é um termo geral e categórico, aplicado as “músicas do mundo”, como a música tradicional ou popular de uma cultura, que é criada e tocada por músicos nativos, estando intimamente relacionado a música das suas regiões de origem.

O termo foi creditado ao etnomusicólogo Robert E. Brown, que o cunhou em 1960 na Universidade de Wesleyan, em Connecticut, onde ele fez a sua graduação através de programas de doutorado na disciplina. Para melhorar o processo de aprendizagem, ele convidou mais de uma dúzia de artistas da África e da Ásia, e começou uma série de concertos de “músicas do mundo”. O termo se tornou corrente na década de 1980 como um dispositivo de marketing classificatório na mídia e na indústria da música, e era geralmente usado para classificar qualquer tipo de música não ocidental.

Existem várias definições conflituantes para a música mundial. Uma delas é que ela consiste em "todas as músicas do mundo", embora tal definição torna-se tão ampla que a palavra fica quase sem sentido. O termo também é tido como uma classificação de música, que combina estilos ocidentais de música popular modernos (jazz por exemplo) com algum dos muitos géneros de música não ocidental que foram previamente descritos como a música folclórica ou música étnica. Portanto, a world music não é considerada exclusivamente música folclórica ou tradicional. Pode referir-se às formas clássicas nativas de várias regiões do mundo, e estilos de música moderna, , de vanguarda (ou pop) também.

A world music pode incorporar distintas escalas não ocidentais, os modos e/ou inflexões musicais, e muitas vezes traços distintivos tradicionais, e instrumentos étnicos, tais como a kora (harpa Oeste africano), o steel drum (República Dominicana), a cítara (Índia) ou o didgeridoo (Austrália).

Música de todo o mundo exerce uma influência transcultural larga, como estilos que naturalmente influenciam-se mutuamente, e nos últimos anos a world music também tem sido comercializada como um género de sucesso, em si mesmo. O estudo académico da world music, bem como os géneros musicais, e artistas individuais, com os quais tem sido associada, pode ser encontrado em disciplinas como a antropologia, focloricismo, estudos de performance, e principalmente a etnomusicologia.

As amplas categorias da world music incluem formas isoladas de música étnica, de várias regiões geográficas. Estas estirpes diferentes de música étnica são comummente classificadas em conjunto, por força de suas raízes nativas. Ao longo do século XX, a invenção da gravação de som, as viagens aéreas internacionais de baixo custo, e o acesso comum a comunicação

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global, entre os artistas e o público em geral, tem dado origem a um fenómeno interligado, chamado Crossover ou "cruzamento" de músicas. Músicos de diversas culturas e locais podem facilmente ter acesso (nas últimas décadas) a música gravada de todo o mundo, ver e ouvir os músicos visitantes de outras culturas, e visitar outros países para tocar suas próprias músicas, criando um caldeirão de influências estilísticas.

Embora as tecnologias de comunicação permitirem um maior acesso a desobscurecer as formas de música, as pressões de comercialização também apresentam o risco de aumentar a homogeneidade musical, a indefinição das identidades regionais, e a extinção gradual das práticas de músicas tradicionais locais.

Embora primariamente descrevesse a música tradicional, a categoria world music também inclui a música popular de comunidades não ocidentais urbanas (por exemplo "township", música Sul africana), e as formas de música não europeias que foram influenciadas por outras músicas, as do chamado “terceiro mundo” (por exemplo, a música afro-cubana).

Neste contexto podemos afirmar que a rumba afro-cubana, assim como outros géneros da ilha, espalhou-se pelas Caraíbas, América do Norte, Europa, e na última década, pelo mundo todo. Dando origem a géneros híbridos, mas que ao estabelecerem-se desenvolveram identidade própria, de tal forma que alguns destes, quase já não são associados a rumba tradicional cubana. Como exemplo temos a rumba flamenca, da qual podemos afirmar ser o género híbrido mais antigo da rumba. Colonos espanhóis ou hispano-descendentes que retornavam a Espanha pelos portos do Sul (mais perto e mais acessível) e acabaram por influenciar a música Flamenca, já estabelecida na região a cerca de cem anos. Alguns estudiosos chegam a afirmar que o próprio flamenco espanhol influenciou primeiramente a rumba (estilo dos cânticos e letras), desde a altura dos descobrimentos e colonizações. Quase podemos considerar uma dinâmica de “Ida e Volta”na aculturação, ou dupla aculturação em períodos diferentes.

A rumba tornou-se conhecida de uma forma modificada nos EUA, por volta de 1914 (primeira leva emigração cubana para Miami e Nova York), não tornando-se muito popular nesta altura, até que foi restabelecida nos EUA em uma versão menos sugestiva, em 1931(segunda leva de emigração cubana), e logo a rumba (entre outros géneros e subgéneros) e espalharam pela Europa. Na Europa e nos EUA da década de 1930 a rumba absorveu elementos do jazz (be bop), nascendo o subgénero latin jazz, até hoje muito explorado e corrente pelo mundo todo.

Outra vertente moderna e fruto da “reinterpretação” cultural é a adaptação da rumba como uma dança de salão, tornando-se muito popular na década de 1970,e realizado por um bailarino a solo, ou por um casal. O movimento é uma característica de balanço dos quadris, a um ritmo rápido-lento-rápido, criando frequentemente ritmos cruzados com o acompanhamento. A melodia é repetitiva e muitas vezes o carácter da música deriva do ostinato do padrão rítmico tocado nas claves e outros instrumentos de percussão cubana. O ritmo continuou a ser muito explorado como uma dança de salão, e tem sido o modelo para o mambo, cha cha cha e outras danças latino-americanas de salão espalhadas pelo mundo.

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A rumba também tem sido utilizada na música erudita, nomeadamente por Darius Milhaud em La création du monde, e no último andamento de seu segundo concerto para piano. Entre muitos outros compositores que utilizaram-se da rumba para as suas composições.

Há também o movimento contrário, no qual músicos cubanos (ou músicos que tocam música afro-cubana) compõem rumbas usando melodias de clássicos eruditos (principalmente dos períodos Barroco e Clássico) como motivos para as suas adaptações. Como exemplo temos: o grupo de Miami “Tiempo Libre” (formado por cubanos e descendentes) que no seu álbum “Bach in Havana” adaptam obras de J.S.Bach aos géneros afro-cubanos. E o projecto “Klazz Brothers & Cuba Percussion” que seu no álbum “Symphonic Salsa” interpretam obras de Mozart, Beethoven, Mendelshon, Brahms, entre outros compositores, fazendo também esta adaptação aos estilos afro-cubanos. Quem sabe futuramente não podemos ter aqui um novo género híbrido destas combinações?

Exemplos musicais:

♪04 - Tiempo Libre – “Clave en C minor” (Rumba Guaguancó – Baseada no Prelúdio nº 2 em Dó menor BWV 847 – do Cravo Bem Temperado I de J. S.

Bach);

♪05 - Klazz Brothers & Cuba Percussion – “Mambozart” (baseada na Sinfonia em Sol menor nº40 de W.A.Mozart)

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Entrevista com Angel “El Maestro de la Rumba” (ver vídeo em anexo)

Apresentação

Alexandre:- Olá a todos! - Estou aqui com meu amigo Angel, que é cubano de nascimento e “português” de coração, devido ao tempo que já está cá; Ele trabalha aqui com música e dança, um Cubano de verdade. - Amigo por favor apresenta-te para nós?

Angel: - Olá a todos e obrigado!

Alex: - Bom, obrigado nós!

Angel: - Chamo-me Angel, venho de Havana, Cuba, já vivo aqui a um certo tempo, a quase dez anos, e adoro Portugal!

Entrevista:

Alex: - Qual é a tua actividade aqui em Portugal?

Angel: - Aqui dou aulas de cinema, dou aulas também no Exempolar aqui do Porto, aos séniors, de cinema e televisão; e também faço o que mais gosto que é dançar, tenho uma escola de dança no Contagiarte aqui no Porto, que é onde estamos, em minha sala. Também danço e canto com meus amigos de vez em quando uma Rumbita que nós fazemos, é tudo música; e eu sem a música não posso viver!

Alex: - O que você pode nos dizer sobre a música cubana? Qual a importância da música para o povo cubano?

Angel: - A música Cubana, acho que noventa e nove porcento para não dizer cem porcento dos cubanos, adoram a música, pois somos das Caraíbas e temos aquele calor bom, e cada vez que ouvimos música, a música para os cubanos é tudo, vem no sangue é, vida para os cubanos.

Alex: - Então fala um pouco para nós dessa mistura, fusão dos ritmos africanos com a melodia espanhola na música Cubana?

Angel: - É muita mistura, pois nós fomos colonizados pela Espanha, por espanhóis de toda parte, mas a música em geral espanhola enraizou-se na música cubana; Eu vou explicar: os espanhóis em Cuba faziam suas festas com a guitarra, com cajones, como ciganos mesmo, e os escravos negros que chegavam para trabalhar na plantação da cana do açúcar que era a maior fonte económica, faziam as suas festas com tambores com sua

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música, com sua religião yoruba, entre outras, então havia muitos espanhóis que castigavam os negros para que não tocassem a sua música típica, mas os espanhóis ouviram e juntaram, misturaram muita melodia deles com a música e os ritmos africanos para “disfarçar” e assim nasceu muitos ritmos, a rumba guaguancó, entre muitos outros.

Alex: - Então tudo parte desse primeiro choque cultural entre os africanos escravos com a música espanhola.

Angel: - Isto influenciou muito a música Cubana, depois os criolos foram criando (nascidos em Cuba), que eram os verdadeiro cubanos, os campezinos, e foram desenvolvendo, formando toda a música cubana.

Alex: - Há alguma influência musical do povo local, dos indígenas que habitavam Cuba antes dos espanhóis chegarem? Na música campezina por exemplo?

Angel: - Na música campezina cubana nota-se muito mais a mistura espanhola com a africana, a indígena quase não se nota, pois os espanhóis no princípio dizimaram os indígenas que viviam em Cuba.

Alex: - E sobre a rumba, o que podes nos dizer? Descrevas para nós o que é uma rumba: os instrumentos, os cantores, os bailarinos, como se forma uma rumba?

Angel: - Existem diferentes tipos de músicas em Cuba, que os escravos trouxeram, a rumba, o guaguancó, tudo isso provem da junção da música dos negros do Congo, Bantu, Yoruba, Carabali, então tudo isso foi se juntando dando origem a música cubana. A partir desta mistura dos escravos começaram a formar a sua religião e sua cultura, e disso começa a rumba. A rumba é a fusão da música espanhola, com a música, com os tambores dos africanos, a maioria entra um pouco com os cânticos e com o baixo cigano, a rumba é música com muito síncopa, essa parte é africana, mas depois entra o canto espanhol e o baixo. O toque africano e o canto espanhol, é a rumba.

Alex: - E também há a dança?

Angel: - Sim, dança-se o guaguancó.

Alex: - O guaguancó é um dos tipos mais populares da rumba, sim?

Angel: - Exactamente é um dos mais populares, e sempre a música cubana é acompanhada da dança, cada ritmo que em Cubana se faz, a Salsa a dança Salsa que não se chamava assim, chamava-se son, mas depois com a influência americana passou a chamar-se Salsa, a mistura, a fusão dos povos, o tempero , o sabor, o molho tudo isso é Salsa. E se tocamos Salsa, dançamos salsa, se tocamos cha-cha-cha dançamos cha-cha-cha, para cada estilo e ritmo que se faz, há sempre uma dança específica para o acompanhar.

Alex: - Então podemos afirmar que a rumba ainda é cultuada, tocada da forma original, é folclórica?

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Angel: - Sim, é folclórica, é tradicional, a rumba em Cuba é muito tradicional, podendo haver alguma influência na forma de cantar, mas no toque dos tambores, na clave, isto nunca mudou, é mesmo uma coisa típica, é a rumba.

Alex: - Como vez o panorama da rumba, o de outras práticas musicais em Portugal?

Angel: - Todos os músicos cubanos que estão a morar aqui em Portugal, todos que conheço, mesmo que cante, toque piano, ou outros instrumentos, todos tocam a rumba, faz parte da cultura, já nascemos com isso, mesmo não sabendo tocar o instrumento, sempre damos uns toques, pois isso nasce connosco, cubanos, como para um brasileiro o samba, que se ouve desde pequenino, assim é para o Cubano, faz parte do nosso dia-a-dia.

Alex: - Tu aqui tocas mais aquela música cubana mais popular, ou seja a salsa, cha-cha-cha, etc?

Angel: - Sim, tocamos Salsa, cha-cha-cha, mambo, merengue.

Alex: - Que já é fruto da mistura comercial com a cultura tradicional, já é uma aculturação, ou ainda uma reinterpretação.

Angel: - É muito mais avançado, muito mais duro, já é diferente daquela época, já é outra coisa, outra história, mesmo que nós toquemos rumba, fazemos uma clave e acrescentamos outras coisas; mesmo na salsa há rumba, a salsa é clave, tem que ter sempre a clave cubana, é a espinha dorsal, isso vem dos pretos, dos escravos, foi o que nos deixaram, uma força, é a nossa cultura; e muito agradecidos estamos a eles, e aos espanhóis.

Alex: - Agora vamos demonstrar um pouco: “Vamos a Rumbiar”?

Alex: - Vamos mostrar a base da rumba que é a clave; (exemplo)

Alex: - Salidor, que é o tambor mais grave; (exemplo)

Alex: Tres dos que é o tambor médio; (exemplo)

Alex: Clave, salidor e tres dos, todos juntos de uma forma adaptada para só um percussionista tocar, tentando encaixar os improvisos;

Finalizamos a entrevista tocando e cantando uma rumba improvisada; (ver vídeo em anexo)

Alexandre Magni e Angel

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Panorama da rumba ou da música afro-cubana em Portugal (ver vídeo em anexo)

A rumba em Portugal é praticada de maneira diferente, principalmente devido ao contexto social e económico distinto, ao que os imigrantes cubanos obrigam-se a se adaptar quando se vive neste país. A manifestação cultural de seu país acaba muitas vezes por se tornar o seu meio de sustento, abandonando o carácter lúdico e de convívio existente entre os seus, no seu país de origem.

As aulas de dança, aulas de instrumento, aulas de música afro-cubana, actuações musicais e dança, não só afro-cubanas, mas de todas as Caraíbas ou América-latina, em um formato muito comercial, descaracterizando a originalidade cultural afro-cubana, ocupa a maior parte da prática musical cubana em Portugal.

Mas não podemos deixar de relatar que o artista cubano, entre raras excepções, é muito talentoso e esforça-se para demonstrar, da melhor maneira possível, as actividades artísticas/culturais originárias da sua pátria. Aos quais aproveitamos para dedicar este humilde trabalho de pesquisa na área da etnomusicologia.

Apresentação do Grupo La Habana

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Análise musical de uma rumba afro-cubana (Guaguancó)

A execução da rumba Guaguancó, no seu contexto tradicional, consiste em dois grupos principais interligados, rítmico e melódico, criando polirritmias complexas. Divididos por: Uma primeira secção, que começa com a percussão a entrar por camadas, seguindo determinadas convenções; Esta secção é chamada de “Diana"”. O cantor improvisa um fragmento melódico (lalaleo) como uma preparação para a formação do coro, que virá a seguir. O quinto, tambor que improvisa intercala com as frases vocais (executadas primeiramente por um só cantor).

Na segunda secção o cantor principal desenvolve o tema da canção; Em um determinado momento sinaliza para começar a ser respondido por um coro no típico estilo africano de “chamada e reposta”, geralmente repetindo um refrão curto. Isso sinaliza o início da terceira secção, chamada de “Güiro” onde se começa um acelerar gradualmente do ritmo, caracterizando também o aumento dos movimentos dos dançarinos através do “vacunao”, seguindo-se uma quarta secção, sem vocal onde só os tambores “falam”, num ápice rítmico até um final determinado por uma convenção rítmica geralmente pré-determinada.

Como já vimos a formação do ritmo tem elementos de origem africana (Yorubá, Congo e Carabalí), enquanto o texto, a melodia, harmonia(vocal) são claramente de origem espanhola, com traços gitanos/árabes.

Secção rítmica/melódica (percussão):

Primeiro, o ritmo da clave é tocado por um percussionista que usa um par de claves (instrumento), com seu padrão sincopado característico (Fig.1);

A seguir outro percussionista toca o ritmo chamado cascara ou palito em um instrumento chamado Catá (Fig.2);

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Seguem-se três percussionistas em tambores e padrões rítmicos diferentes, que interligados formam a “melodia” de tambores característica da rumba Guaguancó:

Salidor - 1º tambor, de sonoridade grave, encarregado de sustentar a base, como um contrabaixo; muitas vezes forma um padrão em ostinato com o 2º tambor, tres dos (Fig.3);

Tres dos - 2º tambor, de sonoridade média, completa a “melodia” básica dos tambores, respondendo ao Salidor ;

Quinto - 3º tambor, de sonoridade aguda, seu toque é livre, improvisado, mas respeita algumas figuras rítmicas típicas. É responsável por tecer os toques entre o Salidor e o Tres dos, improvisa frases respondendo ao cantor, e após cada movimento dos passos dos bailarinos ;

Em um contexto mais actual os três tambores também podem ser tocados por um percussionista só, que tenha destreza para executá-los ao mesmo tempo (fig.5);

Legenda dos Tambores:

P= Palma / T= Tapa ou “Slap” / D= Dedos / A= Golpe Aberto.

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Pode haver outros instrumentos de percussão envolvidos na execução rítmica da rumba , como por exemplo o chequeré e a guataca, entre outros objectos que podem ser adicionados conforme se tenha disponível a mão, como: talheres de cozinha, enxadas, jantes de carro, etc.

Secção Melódica (vocal):

O canto, geralmente realizado por um vocalista principal, que canta texto e melodias pré-definidas devido ao extenso repertório, ou muitas vezes improvisa, havendo a possibilidade de misturar partes pré-definidas (conhecidas) com improvisos. É característico destes cantos cíclicos serem interligados por segmentos musicais, repetidos para proporcionar uma textura base para a unidade musical; o canto responsorial; descendente das melodias vocais pentatónicas africanas. Os textos são geralmente alusivos a assuntos característicos do seu dia-a-dia, e acontecimentos que compõem a vida negra: política, protesto social, o patriotismo, amor, morte, amizade, sátira e muito mais.

Para uma abordagem mais profunda da essência da rumba, recomenda-se ouvir gravações de grupos folclóricos importantes, tais como: Clave y Guaguanco, Yorubá Andabo, Los Muñequitos de Matanzas, Los Papines, Rumberos de Cuba, Afro-cuba Matanzas, Ensemble Nacional de Folclore, etc.

Esta análise seguiu-se de uma maneira generalizada, mas como é óbvio não há uma fórmula, ou uma receita para a rumba, mas sim determinadas frases rítmico/melódicas, muitas vezes em forma de ostinato, mas que pode variar de acordo com o estilo ou região cubana (Havana ou Matanzas – principalmente), pode-se incluir instrumentos de sopro, ou de corda (como a flauta, o trompete, ou o tres). Sem contar que no contexto de crossover da world music tudo é possível, havendo inúmeras formas, andamentos, possibilidades de instrumentação, e tudo mais o que a liberdade criativa musical permitir.

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Conclusões acerca deste trabalho

A partir de todas pesquisas realizadas para elaborar este trabalho, concluímos que a cultura da rumba afro-cubana é muito mais complexa do que aquilo que se pode imaginar a primeira vista. Cada que vez lemos um artigo, um livro, uma entrada sobre o assunto na internet, ou principalmente, cada vez que ouvimos uma rumba, descobrimos características novas (diferenças de estilo derivado: a localidade, país, contexto cultural, influências distintas, etc).

Há uma enorme riqueza multicultural envolvida na música afro-cubana, fruto da mistura de culturas europeias, africanas, árabe/cigana (através do espanhóis colonizadores) e até muçulmanas (através dos africanos oriundos do Norte de África) que se fundiram.

Vimos que a rumba influenciou a própria música popular afro-cubana, dando origem a outros géneros cubanos, como a Salsa e a Timba; Que a misturar-se com o Be-bop americano deu origem a Latin Jazz, retornando ao país colonizador deu origem a rumba flamenca, influenciou as danças de salão espalhadas por todo mundo, fundiu-se com a música pop dando origem a géneros híbridos comerciais com Rap afro-cubano e o Reggaeton, etc. Influenciou também alguns compositores de música erudita do século XX, e continua a influenciar compositores e interpretes eruditos no século XXI, como vimos exemplos.

Podemos afirmar que mesmo em Cuba, a rumba ainda hoje sofre mutações, ou reinterpretações, através de influências (externas e internas), mas ao mesmo tempo consegue se manter forte e presente as origens de suas tradições, muito aproximado a maneira que se praticava a quatro séculos atrás.

Trabalho realizado pelos alunos:

Alexandre Magni e Cátia Gonçalves

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Referências Bibliográficas:

Ortiz, Fernando, “La africanía de la música folklórica de Cuba” Segunda edicion, Havana: Editora Universitaria, 1965. (Original 1952);

Ortiz, Fernando, “La Musica Afrocubana”. Madrid: Ediciones Jucar, 1975;

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cuba - Pesquisado nos dias 10 e 12 de Janeiro de 2011;

SADIE,Stanley – ed. (2001), New Grove Dictionary of Music and Musicians, 29 Volumes, Londres: MacMillan;

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