tortura e violência na ditadura militar

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  • 7/28/2019 Tortura e Violncia na Ditadura Militar

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    TORTURA E VIOLNCIA POR MOTIVOS POLTICOS NO REGIME MILITAR NO

    BRASIL.Adriana Cristina Borges (Cincias Sociais / Universidade Estadual de Londrina)1

    Prof. Dr. Luiz Antnio Cabello Norder (Universidade Estadual de Londrina)2

    Palavras - chave: Ditadura, violncia e direitos humanos.

    1 INTRODUO

    O perodo militar ocorreu no Brasil no perodo de 1964 a 1984. O golpe d aos

    militares um imenso poder. Nesta poca, houve por um lado, a manifestao formal do

    regime militar nos Direitos Humanos, e por outro lado, inmeras prticas foram adotadas

    com violncia e tortura contra as pessoas que se mostravam detentoras de uma conduta

    negativa em relao ao regime.

    Em nome da segurana nacional e do combate subverso comunista, milhares

    de pessoas foram torturadas e mortas. Muitas delas desapareceram sem deixar rastros e

    notcias. Os militares utilizaram muitos meios para que esta represso militar atingisse oseu objetivo.

    A crise que levou ao golpe de 64 comea com a renncia do presidente Jnio

    Quadros em julho de 1961, aps sete meses de governo. Devido a sua poltica, que se

    mostrava de esquerda para os polticos que eram contra o Comunismo, Jnio perdeu o

    apoio poltico que precisava para se manter no governo.

    A sua poltica externa foi um exemplo. Defendeu com vigor o direito de

    autodeterminao de Cuba, no momento exato em que os Estados Unidosprecisavam de aliados principalmente do Brasil para liquidar o regimecubano. Usou e abusou do discurso de independncia, conquistando orespeito pela soberania da sua poltica externa. [...] No ficou s naspalavras: reatou relaes diplomticas com os pases do leste europeu;mandou representantes s conferncias de Cairo e Belgrado, defendendo

    1Graduanda do curso de Cincias Sociais.2Professor do Centro de Letras e Cincias Humanas, Departamento de Cincias Sociais.

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    posies hostis aos Estados Unidos: e, talvez o mais importante, apoiou oingresso da China Popular na ONU (Organizao das Naes Unidas).

    Com o presidente Frondizi, da Argentina, tentou formar uma frente pararesistir ingerncia dos Estados Unidos na poltica dos pases sul-americanos. Recusou as presses de enviados do governo norte americano(Adolf Berle e Moors Cabot) para amenizar sua poltica externa.Convidou o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola (na poca,uma espcie de demnio para a direita), para integrar a misso brasileirana conferncia de Punta Del Este. Defendeu a libertao dos povosafricanos, opondo-se a poltica imperialista de Portugal, apoiada pelosEstados Unidos. Finalmente, Condecorou o astronauta sovitico IriGagrin e, culminando, fez o mesmo com Che Guevara, o smbolo daRevoluo Cubana (CHIAVENATO, 1997, p. 10).

    Seu vice Joo Goulart assumiu a presidncia depois de muitos conflitos, pois

    tambm no era visto com bons olhos pelos mesmos que foraram Jnio Quadros

    renncia. As reformas que Joo Goulart trouxe ao seu governo assustaram as elites. Em

    maro de 1964, depois de rebelies, da perda da sustentao popular e da perda do apoio

    dos polticos, militares e polticos de direita se unem e derrubam o governo de Joo

    Goulart, e instauram uma ditadura militar que cuidou rapidamente de desprezar os polticos

    e as instituies. O regime militar degenerou-se em um sistema repressivo, que cuidou de

    levar a violncia para todos os segmentos considerados de oposio.

    2 O FORTE APOIO AMERICANO

    importante lembrar a tenso internacional desta poca. No cenrio poltico

    internacional acontecia a Guerra Fria. Estados Unidos da Amrica versus URSS, ou

    mundo livre versus comunismo. Os Estados Unidos na inteno de conter o comunismo

    na Amrica Latina, afirmava que a democracia era incapaz de evitar a ecloso deste tipo de

    regime. Este foi o libi usado para justificar os golpes militares.

    A influncia norte-americana no golpe militar do Brasil foi determinante. No fim do

    governo de Joo Goulart:

    Havia a presso dos sindicatos pelas reformas de base, a das ligas Agrriascomandadas por Francisco Julio pela reforma agrria e a de uma CPI(Comisso Parlamentar de Inqurito) para investigar os ganhos das

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    empresas multinacionais instaladas no pas, em especial a Volkswagem(COGGIOLA, 2001, p. 13).

    Estas crises eram desfavorveis para a atuao econmica dos Estados Unidos

    dentro do Brasil. Sendo assim, fica visvel o porqu da sua interveno poltica no pas

    durante o perodo de preparao para o golpe, e na sua manuteno. Em 31 de maro de

    1964 foi aprovada uma operao sigilosa intitulada de Brother Sam. Esta operao consistia

    em dar apio logstico, material e militar aos precursores do golpe. Este apoio contemplava

    o envio para o Brasil de porta-avies de ataque pesado, transportando armas, munies e

    outros recursos. Como a retirada de Joo Goulart da presidncia brasileira no necessitoudestes recursos, a operao Brother Sam foi cancelada antes mesmo de comear.

    3 OS SUBVERSIVOS

    Aps a tomada do golpe, o governo passou a considerar como inimigo interno

    todos os que discordavam do regime. Quando presas estas pessoas eram denominadas

    oficialmente de presos polticos. A violncia atingiu a homens e mulheres, muitas delas

    grvidas, e tambm crianas. O que diferenciava era a forma de tortura, pois as mulheres

    sofriam estupros e eram submetidas a realizar as fantasias sexuais dos torturadores.

    A tortura foi indiscriminadamente aplicada no Brasil, indiferente a idade,sexo ou situao moral, fsica e psicolgica em que se encontravam aspessoas suspeitas de atividades subversivas. No se tratava apenas deproduzir, no corpo da vtima, uma dor que a fizesse entrar em conflito como prprio esprito e pronunciar o discurso que, ao favorecer o desempenhodo sistema repressivo, significasse sua sentena condenatria. Justificadapela urgncia de se obter informaes, a tortura visava imprimir vtima adestruio moral pela ruptura dos limites emocionais que se assentavamsobre relaes efetivas de parentesco. Assim crianas foram sacrificadasdiante dos pais, mulheres grvidas tiveram seus filhos abortados, esposassofreram para incriminar seus maridos (ARNS, 1987, p. 43).

    4 RGOS DE REPRESSO POLTICA

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    Para garantir e controlar a sociedade dentro das regras do regime, o governo criou

    um espetacular sistema de represso que se baseava em divises de tarefas. Uns coletavam,outros analisavam, outros reprimiam e etc. Para isso, a ditadura contava com os rgos de

    represso que consideravam cada cidado um suspeito. No fim da dcada de 60, o Brasil

    iniciou o perodo mais violento do regime militar:

    Sob o lema de Segurana e Desenvolvimento, Mdici d incio, em 30 deoutubro de 1969, ao governo que representar o perodo mais absoluto derepresso, violncia e supresso das liberdades civis de nossa histriarepublicana. Desenvolve-se um aparato de rgos de segurana, com

    caractersticas de poder autnomo, que levar aos crceres polticosmilhares de cidados, transformando a tortura e o assassinato numa rotina(ARNS, 1987, p. 63).

    Um destes rgos era o Dops (Departamento de Ordem Poltica e Social), que tinha

    como atribuio torturar e interrogar. Outro rgo que foi criado fora da lei em 1969 a

    Oban (Operao Bandeirante), composta de vrias autoridades do governo, e que recebia

    verbas de grandes empresas. Alguns exemplos so: Ford, General Motors, Ultrags, entre

    outras. Aps sua legalizao, se transformou em DOI-CODI (Destacamento de Operaes e

    Informaes Centro de Operao e Defesa Interna). Fundado em janeiro de 1970, o DOI-

    CODI se transformou em uma mquina de represso e tortura, que no agiu somente no

    Brasil. De acordo com Vieira (1991, p. 217) o DOI-CODI se infiltrou tambm na Bolvia,

    no Chile, Uruguai e na prpria Argentina.

    Essa forma de represso no comea somente no governo, tem suas razes mais

    profundas:

    A origem dessa poltica pode estar no encontro entre oficiais da FEB (ForaExpedicionria Brasileira) e dos Estados Unidos, na Itlia, durante aSegunda Guerra Mundial. Ali os brasileiros extasiaram-se diante daeficincia do Exrcito norte-americano, que os supriu e orientou. Depois daguerra, os oficiais mais promissores receberam convites para freqentarescolas especiais nos Estados Unidos, onde assimilaram idias modernas,mais condizentes com a realidade da Guerra Fria (CHIAVENATO, 1997,pg. 106).

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    Com esta experincia ocorrida no incio dos anos 70, os brasileiros so levados a

    acreditar que o verdadeiro inimigo esconde-se no interior da nao. o inimigo interno,isto , todos aqueles que querem mudar o sistema. Para conter estes inimigos, eles usavam a

    violncia atravs de torturas, que tomou forma de tortura cientfica. Dan Mitrione foi um

    dos professores que ensinava os militares e policiais brasileiros as tcnicas de torturas

    norte-americanas. Eles seqestravam mendigos que serviam de cobaia para ensinar como se

    dava a processo de tortura aplicado pelos militares.

    De abuso cometido pelos interrogadores sobre o preso, a tortura no Brasil

    passou, com o Regime Militar, condio de mtodo cientfico, includoem currculos de formao de militares. O ensino deste mtodo de arrancarconfisses e informaes no era meramente terico. Era prtico, compessoas realmente torturadas, servindo de cobaias neste macabroaprendizado. Sabe-se que um dos primeiros a introduzir tal pragmatismo noBrasil, foi o policial norte-americano Dan Mitrione, posteriormentetransferido para Montevidu, onde acabou seqestrado e morto. Quandoinstrutor em Belo Horizonte, nos primeiros anos do Regime Militar, eleutilizou mendigos recolhidos nas ruas para adestrar a poltica local.Seviciados em sala de aula, aqueles pobres homens permitiam que osalunos aprendessem as vrias modalidades de criar no preso a supremacontradio entre o corpo e o esprito, atingindo-lhes os pontos vulnerveis

    (ARNS, 1987, p. 32).

    Outro grave problema se refere s vtimas que acabavam sendo mortas durante a

    tortura. Mdicos legistas forneceram laudos falsos que ocultavam as marcas das torturas.

    Tambm justificavam as mortes como sendo de causas naturais ou por atropelamentos,

    suicdios e mortes em tiroteios. Muitos legistas apresentavam os torturados como se

    estivessem gozando de perfeita sade. Muitos cadveres foram sepultados anonimamente, e

    at hoje familiares no sabem o que aconteceu com os corpos das vtimas. O objetivo desta

    ocultao era o de evitar que os familiares constatassem as marcas das torturas praticadas.

    Os guerrilheiros e revolucionrios eram uns dos inimigos internos do regime.

    Entre 1969 e 1974, diversos grupos de esquerda lutavam contra o regime militar:

    Embora guardassem diferenas nas suas origens, anlises e propostas, amaioria destas organizaes nasceu nos anos 60 em meio ao intenso debatepoltico e ideolgico que envolveu o campo da esquerda brasileira e cujos

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    temas centrais foram atualidade da revoluo socialista no Brasil e o papelda luta armada no processo revolucionrio (HABERT, 1994, p. 33).

    Estes grupos eram: PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionrio), MR-8

    (Movimento Revolucionrio 8 de Outubro), VAR-Palmares (Vanguarda Armada

    Revolucionria), VRP (Vanguarda Popular Revolucionria), esta ltima liderada pelo ex-

    capito Carlos Lamarca, e a ALN (Ao Libertadora Nacional), que se destacou na

    guerrilha urbana. Participaram da luta armada de 5 a 6 mil homens, um contingente insignificante

    em relao populao brasileira, estimada em 100 milhes de habitantes em 1970

    (CHIAVENATO, 1997, p. 117).

    Aps muita luta e morte com o chamado combate subverso a guerrilha foivencida. Alguns setores esperavam que os guerrilheiros recebessem uma severa punio.

    Porm, eles foram condenados a apenas cinco a sete anos de priso. Isso ocorreu porque o

    governo Mdici no queria alarmar a populao. At hoje, o silncio sobre estas

    informaes mantido pelo Exrcito.

    Os atos institucionais foram criados pelo governo para dar carter de lei e regra

    represso e violncia. Com o AI-1, muitos perderam os seus direitos polticos. Em outubro

    de 1965, surge o AI-2 que deu poder ao executivo para fechar o Congresso quando julgassenecessrio. Em fevereiro de 1966, o AI-3 restringiu ainda mais o direito ao voto popular e

    ampliou o poder repressivo dos militares. E em 1968, o AI-5 surgiu para dar todo o poder

    que o presidente precisava para aumentar a represso e tornar impossvel qualquer oposio

    ao governo, e pouco depois fechou o congresso por tempo indeterminado.

    5 MTODOS DE TORTURA E SEU DESCONTROLE

    Para tentar tirar informaes e confisses dos presos polticos, os militares usaram

    vrios mtodos de tortura. A pesquisa nesta rea revela que em vinte anos de ditadura

    militar foram utilizadas centenas de modos diferentes de tortura:

    Pau-de-arara: O preso poltico era obrigado a sentar, abraando os joelhos ecom os ps e as mos amarradas. Um cano era introduzido sob os joelhos.Nesta posio, a vtima era pendurada entre dois cavaletes, com cerca de

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    1,5 metro de altura, e muitas pessoas no conseguem suportar o suplcio echegam at perder a vida.

    Choque eltrico: O torturador usa um magneto de telefone, acionado poruma manivela que conforme a velocidade imprimida, fornece uma descargaeltrica de maior ou menor intensidade. Esta corrente transmitida ao corpodos presos polticos pelos plos positivo e negativo. O choque eltrico dado na cabea, nos membros superiores e inferiores e tambm nos rgosgenitais da vtima.Telefone: O torturador, com as palmas das mos em posio cncavaaplica violento golpe, atingindo ambos os ouvidos da vtima a um s tempo.O impacto insuportvel, em virtude da presso e sempre h o rompimentodo tmpano, fazendo o torturado perder a audio.Afogamento na calda da verdade: Consiste em afundar a cabea da vtimaem um tambor com gua, urina e fezes e outros detritos repugnantes. A

    cabea da vtima mergulhada na calda da verdade vrias vezes. Depois opreso poltico obrigado ficar sem tomar banho por vrios dias e o seucheiro torna-se insuportvel.Mamadeira de subversivo: Consiste em introduzir um gargalo de garrafa,cheia de urina quente, na boca aberta do preso, pendurado em um pau-de-arara. Com o uso de uma estopa os torturadores comprimem a boca dotorturado, fazendo-o engolir o excremento.Bal no pedregulho: A vtima colocada, descala e nua, em temperaturaabaixo de zero, sob um chuveiro gelado, tendo como piso pedriscos ponteagudos, que chegam a retalhar os ps da vtima. Para amenizar as dores atendncia do preso bailar sobre os pedriscos e os torturadores ainda fazemuso da palmatria para ferir as partes mais sensveis do corpo.

    Afogamento com capuz: Consiste em afundar a cabea da vtima,totalmente encapuzada, em crregos de gua podre ou tambor dguapoluda. O torturado, desesperadamente, tenta respirar e o capuz molhado seintroduz nas narinas, produzindo um mal-estar horrvel, levando-o, svezes, a perder o flego.Massagem: o preso algemado e encapuzado e o torturador faz umaviolenta massagem nos nervos mais sensveis do corpo, deixando-ototalmente paralisado por alguns minutos. As dores so Horrveis, levando avtima a um estado de desespero (VIEIRA, 1991, p. 247).

    Muitos inocentes foram presos. Estes sofriam mais. Por no ter o que dizer e

    confessar eram vistos com desconfiana, cada vez as torturas que sofriam seintensificavam. A violncia poltica no foi aplicada somente aos que eram suspeitos de

    estarem lutando contra o governo. Uma reportagem publicada nafolha de Londrina em 27

    de fevereiro de 1970, trazia informaes sobre a denncia de um inocente que estava sendo

    torturado em uma delegacia. O caso se deu da seguinte forma: J.C.S, na poca com 28 anos,

    efetuou a compra de um carro pertencente a I.V, de 21 anos, e lhe pagou com um cheque

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    roubado. J.C.S foi preso e torturado, e sua estratgia diante da tortura foi transformar a

    vtima em seu cmplice. Lembrou do nome de I.V e o delatou. Os policiais perseguiram I.Vcom a alegao de que queriam comprar outro carro seu que estava venda. Por isso, a

    famlia de I.V. no desconfiou de seu desaparecimento. O jovem s no veio a bito na

    tortura (sendo que j estava no pau-de-arara), porque um reprter da folha de Londrina que

    estava na delegacia e ouviu os gritos, comunicou imediatamente o delegado superior e

    solicitou para intervir em favor do rapaz. Com a reportagem, percebe-se como todos os

    cidados estavam expostos violncia imposta pelos meios de represso da ditadura

    militar.

    Milhares foram atingidos:

    Um balano ainda precrio registra a priso de 50 mil pessoas. Pelo menos20 mil sofreram torturas. Alm dos 320 militantes da esquerda mortosdesaparecidos. No fim do governo Geisel existiam cerca de 10 milexilados. As cassaes atingiram 4.682 cidados. Foram expulsos dasfaculdades 243 estudantes (CHIAVENATO, 1997, p. 131).

    Neste perodo de represso, os estudantes ganharam espao na cena poltica e deram

    contribuies importantes, reivindicando seus direitos e de todos os brasileiros. Em buscade melhores condies de vida, eles se dirigiam para as ruas a fim de realizar protestos para

    questionar e combater a Ditadura Militar. A violncia era descarregada contra este pessoal.

    Um exemplo desta violncia foi o estudante Edison Luiz, morto em uma manifestao em

    1968. Os estudantes estavam realizando um protesto contra a alta das refeies no

    Restaurante Calabouo, no Rio de Janeiro. Policiais, no entanto, acreditando que aqueles

    estudantes iriam atacar a Embaixada dos Estados Unidos, invadiram o Restaurante, e o

    Comandante da tropa da PM, Alosio Raposo, efetuou disparos contra os estudantes. Com

    isso, o estudante secundarista Edison Luiz foi morto com um tiro queima roupa.

    6 DECLARAO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

    A carta das Naes Unidas, marca a criao da Organizao das Naes Unidas

    (ONU), e contem em seu interior a Declarao Universal dos Direitos Humanos. Foi

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    redigida no final da Segunda Guerra Mundial e envolveu representantes de 50 pases, em

    um evento denominado de Conferncia das Naes Unidas. Este evento aconteceu de 25 deAbril a 26 de Junho de 1945 em So Francisco, e teve por objetivo a Organizao

    Internacional.

    No ano de 1948, a Declarao Universal dos Direitos Humanos assinada por 51

    pases em Assemblia Geral. Este o documento bsico das naes unidas, no qual 192

    pases so participantes atualmente, entre estes o Brasil.

    A Declarao o documento que enumera os direitos de todos os seres humanos,

    como a liberdade de palavra e de crena, a justia e a paz no mundo. Tem por objetivo

    promover e estimular o respeito aos Direitos Humanos. No Prembulo da Declarao

    citado que [...]os Estados-Membros se comprometeram a promover, em cooperao com

    as Naes Unidas, o respeito universal aos direitos e liberdades humanas fundamentais e a

    observncia desses direitos e liberdades [...]. Visto isso, os pases aderentes, em especial o

    Brasil, assinaram que a partir daquela data se comprometeriam em observar e cumprir os

    trinta artigos, que visam expor os direitos de todos os seres humanos no quesito liberdade e

    dignidade.

    No Artigo XIX dito queTodo ser humano tem direito liberdade de opinio eexpresso; este direito inclui a liberdade de, sem interferncia, ter opinies e de procurar,

    receber e transmitir informaes e idias por quaisquer meios e independentemente de

    fronteiras. Isso quer dizer que todo ser humano tem direito e liberdade para expressar sua

    opinio poltica, inclusive sobre determinadas formas de governo, como a presente no

    Brasil de 1964 a 1984.

    7 CONCLUSO

    A ditadura militar agia violentamente contra qualquer pessoa que viesse a se

    manifestar contra o sistema. Os seus mtodos eram agressivos, o que levavam os militares a

    tomarem uma posio totalmente contra a Declarao Universal dos Direitos Humanos, a

    qual o Brasil j era signatrio nesta poca. Como aparece no Artigo I da Declarao, todos

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    os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. So dotados de razo e

    conscincia e devem agir em relao uns aos outros com esprito de fraternidade.No processo de tortura e violao da liberdade poltica foram cometidos muitos

    assassinatos e humilhaes. Atitudes que seguiam contradizendo o Artigo II da Declarao,

    onde consta que:

    1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdadesestabelecidos nesta Declarao, sem distino de qualquer espcie, seja deraa, cor, sexo, idioma, religio, opinio poltica ou de outra natureza,origem nacional ou social, riqueza , nascimento, ou qualquer outra

    condio.2. No ser tambm feita nenhuma distino fundada na condio poltica,jurdica ou internacional do pas ou territrio a que pertena uma pessoa,quer se trate de um territrio independente, sob tutela, sem governo prprio,quer sujeito a qualquer outra limitao de soberania.

    Os atos praticados pelo governo que levavam humilhao, tambm se estenderam

    a amigos e familiares, que at hoje no sabem o paradeiro dos mortos em tortura e

    guerrilhas. Situao esta que caminha para o fato de se indagar que, se hoje aps todos estes

    anos de luta da ONU, e com a realidade atual, estas famlias esto tendo respaldo do

    governo no que diz respeito ao cumprimento destes direitos humanos. preciso considerar

    que se trata de um direito para estas famlias ter acesso a informao sobre o que realmente

    aconteceu naquela poca. Quando muitos desapareceram aps terem sido capturados pelos

    militares, deixando seus familiares sem saber o paradeiro o qual tomaram.

    Os perseguidos e presos polticos no tinham a quem recorrer judicialmente, j que

    a violncia era imposta pelo prprio Governo brasileiro. Uma violncia oficial, por um

    sistema baseado no autoritarismo, que no tinha limites nas suas aes. O que lhes

    importava era manter o sistema vigente. Independente da atitude a qual devessem tomar,

    usaram de muitos meios e artifcios truculentos, que tratavam a populao sem o mnimo

    respeito aos direitos humanos. Os homens que compuseram esse aparato repressivo

    aproveitaram-se da impunidade para torturar, matar e roubar. Vrios presos polticos

    tiveram suas casas saqueadas, seus carros roubados e incorporados frota do Dops

    (CHIAVENATO, 1997, p. 105).

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    Declarao dos Direitos Humanos diz em seu Artigo V que ningum ser

    submetido tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante. A tortura um dos crimes mais cruis que se pode praticar contra a humanidade. No entanto, no

    regime militar, a tortura foi um dos meios que serviu para o governo alcanar os seus

    interesses polticos. Durante a tortura, as vtimas atingiam um nvel de dor e sofrimento que

    acabavam admitindo atos e crimes que no cometeram. Muitas das vtimas foram obrigadas

    a assinar falsas confisses, e foram imprensa se declarar culpadas e arrependidas. Estas

    vtimas levantaram determinadas concepes sobre a esquerda revolucionria, que levaram

    a populao a interpret-las como monstros que queriam destruir a liberdade de todos.

    Passando assim a identificar no governo o defensor de suas vidas, e no limite at acreditar

    na retrica de que era defensor dos direitos humanos.

    Este foi o nvel que a violncia militar atingiu: muitos presos, exilados, mortos e

    desaparecidos. Neste perodo, o pas membro das Naes Unidas, praticou aes cruis e

    desumanas que atentavam contra os direitos definidos na Declarao Universal dos Direitos

    Humanos. Conforme o Artigo IXque diz Ningum ser arbitrariamente preso, detido ou

    exilado.

    As pessoas que se manifestavam contra o regime militar e foram perseguidas,tinham por objetivo lutar e reivindicar seus direitos. Eram organizados em grupos

    populares, movimentos sociais e sociedade civil em geral. Herkenhoff (1997, p. 185), diz

    que se olharmos para distantes tempos da Histria, diversos povos anunciaram suas

    palavras e seus sonhos, para construir e modelar o que chamamos hoje de Direitos

    Humanos. Estes direitos tm que ser transformados em prtica, e no permanecerem

    somente na teoria. O que na poca da ditadura no foi seguido se comparado com o

    contedo dos artigos da Declarao Universal dos Direitos Humanos.

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    REFERNCIA

    ARNS, Dom Paulo Evaristo. Brasil: nunca mais. Petrpolis: Vozes, 1987.

    CHIAVENATO, Jlio Jos. O golpe de 64 e a ditadura militar. So Paulo: EditoraModerna, 1997.

    COGGIOLA, Osvaldo. Governos Militares na Amrica Latina. So Paulo: Contexto,2001.

    HABERT, Nadine. A dcada de 70: Apogeu e crise da ditadura militar brasileira. SoPaulo: Editora tica, 1994.

    HERKENHOFF, Joo Baptista. Direitos Humanos: A construo universal de umautopia. Aparecida. SP: Editoria Santurio, 1997.

    VIEIRA, Ildeu Manso. Memrias torturadas (e alegres) de um preso poltico. Curitiba:SEEC, 1991.