texto. o teatro do absurdo - sobre zizek

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  • 7/30/2019 Texto. O Teatro Do Absurdo - Sobre ZIZEK

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    F e r n a nd o L u i s S c h u l er

    o T EA T R O D O A B S U R D OD E S L A V O J Z IZ EK

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  • 7/30/2019 Texto. O Teatro Do Absurdo - Sobre ZIZEK

    2/12

    o artigo que segue procura esboar al-

    gumas ideias sobre uma tica da atividadeintelectual. A leitura da obra de Zizek, em

    especial seus dois ltimos livros publicados

    no Brasil, Vivendo ofim dos tempos e E m d e-

    fes a da s causas perd ida s, funciona como uma

    espcie de campo de batalha. Encontro em

    Zizek o paradigma do oposto daquilo que

    defendo como uma perspectiva tica da

    vida intelectual, da prtica do texto ana-

    ltico, em especial no que diz respeito ao

    terreno da poltica. Algum poderia retru-

    cardizendo que nada disso interessa ou diz

    respeito a Zizek,que no passa de um ide-

    logo,de modo que no h muito sentido em

    lhe exigir rigor, mtodo ou mesmo algum

    apego verdade. Sendo este o caso, o texto

    que segue no faz nenhum sentido. De fato

    fiquei em dvida se valia a pena investir al-

    gum tempo analisando um escritor como

    Zizek. No cheguei a uma boa concluso.

    De todo modo, fui em frente.

    Zizekconcentra-se na tese de que o ca-pitalismo est em estado terminal. Em seu

    penltimo livro, Em defesa das causas perdi-

    das, os motivos do fim do capitalismo eram

    essencialmente a crise financeira, e andava

    em voga falar da crise na Grcia. O tempo

    passou, O capitalismo no acabou e Zizek

    publicou um novo livro, V iv md o a fi m d os

    tempos. O livro vai na mesma direo, asse-

    gurando que o capitalismo est beira do

    "zero apocalptico". A Grcia e a crise fi-

    nanceira saram de cena, surgindo uma nova

    listade razes: a "crise ecolgica, a revoluo

    biogentica, o crescimento vertiginoso das

    excluses e divises sociais e as contradies

    do prprio sistema"

    F E R N A N D O L U I S S C H U L E R 81

    A lista me pareceu incompleta. Zizek

    no explica porque a revoluo biogentica

    seria mais ameaadora do que a nanotecno-

    logia ou a revoluo robtica, ou quem sabe

    os recentes avanos da explorao em Marte.

    O livro traz uma srie de exemplos de tecno-

    logias com riscos apocalpticos muito alm

    do campo biogentico. A cada tecnologia

    mencionada, a pergunta sempre a mesma:

    o que est por trs disso?, suspeita que surge

    mesmo em relao a pequenos modernismos

    tecnolgicos; tomemos o caso da intelign-

    cia artificial. Em geral, vemos como positivo

    o aumento da capacidade de processamento

    dos computadores e sua capacidade de re-

    solver nossos problemas no trabalho e no dia

    a dia. Zizek olha mais adiante e nos alerta:

    "Eles se comunicaro, tomaro decises etc.,

    e nos apresentaro apenas os resultados de

    sua interao." "Elesll

    , obviamente, so os

    computadores. Fiquei em dvida sobre o

    "etc.". Do que mais seriam capazes os comu-

    tadores? Zizek nos d um exemplo: "quan-do tiramos dinheiro de um caixa eletrnico,

    ele informa ao computador do banco, que

    manda a informao por e-mail ao nosso

    computador". Diante deste exemplo, fiquei

    pensativo. H bancos mais avanados que j

    permitem ao cliente solicitar a suspenso do

    envio de e-mails. Casualmente, o caso da

    instituio com a qual trabalho. Fui adiante.

    Em outro alerta, Zizek nos informa que

    assistiu a uma reportagem da CNN mos-

    trando que "macacos com sensores implan-

    tados no crebro aprenderam a controlar um

    brao robtico com o pensamento, usando-o

    para comer frutas e marshmellow". As pes-

    quisas so conduzidas por uma equipe da

  • 7/30/2019 Texto. O Teatro Do Absurdo - Sobre ZIZEK

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    88 FILOSOFIA

    bus,

    Universidade de Pittsburgh liderada pelo de argumentao? Rene um punhado de rari:Dr. Andrew Schwartz. Essa leitura me pro- dados dispersos (evita sries estatsticas), um

    Ivacou um leve incmodo nacionalista, vis- menciona os riscos envolvidos e debita a queto que o brasileiro Miguel Nicolelis reali- responsabilidade na conta da peste priva- umza pesquisas na mesma direo. H muitas tista-capitalista. Numa variao estilstica, no

    , equipes trabalhando mundo afora. O foco substitui dados por exemplos. Exemplos de quecentral desenvolver neuroprteses para que as coisas no vo acabar bem. O mto- COITamputados e pessoas com paralisia. H in- do permite, no limite, demonstrar qualquer

    contveis matrias sobre isto em revistas e coisa. No seu caso, a concluso permanece put,

    na internet. Zizek percebe algo estranho constante: caminhamos para o apocalipse. nol