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  • ENI ROSA AIRES BORBA MESIANO

    Infeces Hospitalares do Trato Urinrio e Corrente

    Sangnea e fatores associados em pacientes internados em

    Unidades de Tratamento Intensivo no Distrito Federal.

    Tese apresentada Universidade de Braslia

    como requisito parcial obteno do ttulo de

    Doutor em Cincias da Sade.

    Orientador: Prof Dr Edgar Merchn Hamann

    BRASLIA

    2007

  • Ficha catalogrfica

    Mesiano, Eni Rosa Aires Borba

    Infeces Hospitalares do Trato Urinrio e Corrente Sangnea e fatores

    associados em pacientes internados em Unidades de Tratamento Intensivo no Distrito

    Federal / Eni Rosa Aires Borba Mesiano 2007.

    xviii 121 fls.

    Tese (Doutorado) Universidade de Braslia. Faculdade de Cincias da Sade.

    Programa de Ps-graduao em Cincias da Sade, 2007

    1. Infeco Hospitalar. 2. Unidade de tratamento intensivo. 3. Preveno e

    controle. 4. Comisso de controle de infeco hospitalar. 5. Trato Urinrio. 6. Infeco.

    7. Infeco da corrente sangnea.

    I Merchn-Hamann, Edgar

    ii

  • TERMO DE APROVAO

    ENI ROSA AIRES BORBA MESIANO

    Infeces Hospitalares do Trato Urinrio e Corrente Sangnea e fatores

    associados em pacientes internados em Unidades de Tratamento Intensivo no

    Distrito Federal

    Tese apresentada como requisito parcial para obteno do ttulo de doutor em Cincias

    da Sade, pela Faculdade de Cincias da sade da Universidade de Braslia, pela

    seguinte banca examinadora:

    Orientador: Prof Dr Edgar Merchn Hamann

    Membro interno do Programa, UnB

    Prof Dr Celeste Aida Nogueira Silveira

    Membro externo do Programa, Faculdade de Medicina da UnB

    Prof Dr Damaris Silveira

    Membro interno do Programa, UnB

    Prof Dr Milca Severino Pereira

    Membro externo do Programa, Universidade Catlica de Gois UCG

    Prof Dr Pedro Sadi Monteiro

    Membro interno do Programa, UnB

    Prof Dr Maria Margarita Urdaneta Gutierrez

    Membro interno do Programa, UnB (suplente)

    Braslia, 23 de junho de 2007

    iii

  • Deus por estar sempre presente em minha vida e ter me

    concedido a persistncia nos estudos, a satisfao constante no

    aprender e a dedicao para realizar este trabalho.

    Aos meus pais, irmos e esposo, pelo apoio constante, sem o

    qual este curso no teria sido concludo.

    iv

  • Dedicatria

    Ao meu pai Francisco, que agora brilha no cu como uma estrela, e minha me

    Luzimira, que sempre se realizaram com o sucesso dos filhos dedicando suas vidas na

    nossa formao nos conduzindo incansavelmente em nossas caminhadas. Obrigada pelo

    exemplo de vida.

    Ao Srgio Barroca Mesiano, esposo e companheiro amado, que sempre soube conduzir

    com doura e afeto os rumos de nossa famlia. Participante ativo da construo de

    minha histria e de quem tive apoio e estmulo constantes. Soube compensar, com

    muito desprendimento, o vazio surgido em nosso lar nos momentos de minha ausncia.

    Obrigada por existir em minha vida.

    Aos meus irmos, Eli, Elenice, Eleni, Mario, Nan, Marcelino, Mrcio, Mrcia e

    Francisco assim como os sobrinhos e cunhados que souberam compreender as minhas

    ausncias em momentos importantes de nossas vidas e no me negaram apoio e

    estmulo.

    v

  • Agradecimentos:

    A concretizao deste trabalho s foi possvel porque contei com a participao direta

    de pessoas muito queridas e amigas, s quais eu quero expressar minha eterna gratido

    registrando um MUITO OBRIGADA carinhoso.

    Ao Prof. Dr. Edgar Merchn Hamann, pela orientao constante e amiga e por ter

    acreditado na minha capacidade.

    Maria do Carmo Rodrigues Ramalho in memoriam, amiga exemplar, pela pacincia

    e disponibilidade para colaborar em todos os momentos sem esperar nada em troca. Foi

    minha estimuladora incondicional na realizao deste trabalho.

    s equipes Mdica e de Enfermagem das Unidades de Tratamento Intensivo,

    Laboratrios de Microbiologia e dos Arquivos dos hospitais: Regional da Asa Norte,

    Regional da Asa Sul, Regional de Sobradinho, das Foras Armadas, Universitrio de

    Braslia e Hospital de Base do Distrito Federal, pela atenciosa colaborao e carinho

    que me dispensaram.

    Aos pacientes internados nas unidades de tratamento intensivo pesquisadas, objeto da

    pesquisa e sem os quais este trabalho no teria se efetivado.

    Rita Consuelo Galo de Arajo pela amizade, apoio incondicional e disponibilidade na

    reviso lingstica.

    vi

  • Ao amigo Paulo Roberto Rangearo Peres pelo carinho, ateno e disponibilidade com

    que sempre colaborou na elaborao das tabelas e formatao do trabalho.

    Ao Dr. Jos Wellington Oliveira Lima pela dedicao na anlise estatstica.

    Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria, em especial o Dr. Cludio Maierovitch e a

    Dr Tnia Costa Pich, que possibilitaram a minha dedicao ao curso de doutorado e

    pela liberao para a pesquisa de campo sem a qual este estudo no teria sido possvel.

    A todos os colegas da Anvisa em especial os da Gerncia-Geral de Saneantes pelo apoio

    e estmulo ao meu trabalho.

    Aos Profs. Drs. Celeste Aida Nogueira Silveira, Damaris Silveira, Milca Severino

    Pereira, Maria Margarita Urdaneta Gutierrez e Pedro Sadi Monteiro pela

    disponibilidade em fazer parte da banca examinadora desta tese.

    Aos funcionrios do Ncleo de Estudos em Sade Pblica (NESP), da secretaria de Ps-

    Graduao e de Sade Coletiva da Faculdade de Cincias da Sade da Universidade de

    Braslia, pela prontido no atendimento e apoio constante.

    Ao Hospital Sarah Kubitschek, local onde iniciei meus trabalhos em Controle de

    Infeco Hospitalar.

    s pedras que tentaram, sem sucesso, bloquear o meu caminho, eu ofereo esta

    conquista.

    vii

  • DESCRIO DAS TABELAS Tabela 1 Freqncia por sexo, idade e tempo de internao dos pacientes internados

    em unidades de tratamento intensivo, no Distrito Federal, 2003.

    Tabela 2 - Freqncia de doenas de base dos pacientes internados em unidades de

    tratamento intensivo, no Distrito Federal, 2003.

    Tabela 3- Freqncia de co-morbidades apresentadas pelos pacientes internados em

    unidades de tratamento intensivo, no Distrito Federal, 2003.

    Tabela 4- Incidncia de infeco do trato urinrio hospitalar, segundo sexo, idade,

    durao da internao e uso de cateter vesical, em pacientes internados em unidades de

    tratamento intensivo, no Distrito Federal, 2003.

    Tabela 5 Freqncia dos diferentes tipos de germes associados infeco do trato

    urinrio hospitalar mono e polimicrobianas, em pacientes internados em unidades de

    tratamento intensivo, no Distrito Federal, 2003.

    Tabela 6- Incidncia de infeco do trato urinrio hospitalar, segundo doena de base

    associada, em pacientes internados em unidades de tratamento intensivo, no Distrito

    Federal, 2003.

    Tabela 7- Incidncia de infeco do trato urinrio hospitalar, segundo alguns

    procedimentos invasivos, em pacientes internados em unidades de tratamento intensivo,

    no Distrito Federal, 2003.

    Tabela 8- Associao no ajustada e ajustada entre variveis e a incidncia de infeco

    do trato urinrio hospitalar em pacientes internados em unidades de tratamento

    intensivo, no Distrito Federal, 2003.

    viii

  • Tabela 09 - Descrio de algumas caractersticas do tratamento com antimicrobianos na

    infeco do trato urinrio hospitalar em pacientes internados em unidades de tratamento

    intensivo, no Distrito Federal, 2003.

    Tabela 10- Custo em Reais e Dlar americano, do tratamento com antimicrobianos nas

    infeces do trato urinrio hospitalar, em pacientes internados em unidades de

    tratamento intensivo, no Distrito Federal, 2003.

    Tabela 11- Distribuio de freqncia dos pacientes com infeco da corrente

    sangnea, segundo tempo de permanncia do cateter venoso central, em pacientes

    internados em unidades de tratamento intensivo, no Distrito Federal, 2003.

    Tabela 12 - Distribuio de freqncia dos pacientes com infeco da corrente

    sangnea, segundo o local de insero do cateter venoso central, em pacientes

    internados em unidades de tratamento intensivo, no Distrito Federal, 2003.

    Tabela 13 - Distribuio de freqncia dos pacientes com infeco da corrente

    sangnea, segundo o nmero de lmem do cateter venoso central, em pacientes

    internados em unidades de tratamento intensivo, no Distrito Federal, 2003.

    Tabela 14 - Distribuio de freqncia dos pacientes com infeco da corrente

    sangnea, segundo procedimentos invasivos utilizados em pacientes internados em

    unidades de tratamento intensivo, no Distrito Federal, 2003.

    Tabela 15 - Distribuio de freqncia dos pacientes com infeco da corrente

    sangnea, segundo o agente infeccioso em pacientes internados em unidades de

    tratamento intensivo, no Distrito Federal, 2003.

    ix

  • GLOSSRIO ANVISA - Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria

    CCIH - Comisso de Controle de Infeco Hospitalar

    CDC - Centers for Disease Control and Prevention

    CVC Cateter Venoso Central

    DF Distrito Federal

    IC Intervalo de Confiana

    ICS - Infeco da Corrente Sangnea

    ICSC - Infeco da Corrente Sangnea Clnica

    ICSRC - Infeco da Corrente Sangnea Relacionada ao Cateter

    IH - Infeco Hospitalar

    ITU - Infeco do Trato Urinrio

    MMR - Microrganismo Multirresistente

    MS - Ministrio da Sade

    NNISS National Nosocomial infection Surveillance System

    SUS Sistema nico de Sade

    UFC Unidade Formadora de Colnia

    UTI Unidade de Tratamento Intensivo

    x

  • SUMRIO

    Dedicatria ........................................................................................................................v

    Agradecimentos ................................................................................................................vi

    Descrio das tabelas..................................................................................................... viii

    Glossrio............................................................................................................................x

    Apresentao ................................................................................................................. xiii

    Resumo ..........................................................................................................................xiv

    Abstract...........................................................................................................................xvi

    CAPTULO I

    INTRODUO

    1. Infeco Hospitalar breve histrico....................................................................2

    2. Infeco Hospitalar Aspectos conceituais sobre seu controle ..........................13

    3. Unidade de Tratamento Intensivo........................................................................16

    4. Infeco do Trato Urinrio ..................................................................................18

    5. Infeco da Corrente Sangnea ..........................................................................24

    CAPTULO II

    OBJETIVOS....................................................................................................................28

    CAPTULO III

    MTODOS

    1. Populao de estudo ............................................................................................30

    2. Critrios de seleo dos pacientes e estimativa de tamanho da amostra .............31

    3. Critrios diagnsticos ..........................................................................................32

    xi

  • - Infeco do trato urinrio ........................................................................................32

    - Infeco da corrente sangnea ...............................................................................33

    4. Procedimento de coleta de dados e acompanhamento dos pacientes ..................34

    5. Variveis e indicadores........................................................................................35

    6. Anlise dos dados ................................................................................................36

    7. Consideraes ticas............................................................................................38

    7.1 -Publicao dos dados....................................................................................38

    CAPTULO IV

    RESULTADOS

    1 - Caractersticas da populao de estudo e das TUIs....................................................41

    3 - Perfil epidemiolgico da infeco do trato urinrio hospitalar ..................................43

    3 - Perfil epidemiolgico da infeco da corrente sangnea..........................................46

    CAPTULO V

    DISCUSSO

    1 - Infeco do trato urinrio .....................................................................................50

    2 - Infeco da corrente sangnea ............................................................................68

    CAPTULO VI

    CONSIDERAES FINAIS ..........................................................................................77

    TABELAS .......................................................................................................................83

    REFERNCIAS ............................................................................................................102

    ANEXOS.......................................................................................................................115

    xii

  • APRESENTAO

    O estudo Incidncia das Infeces Hospitalares urinrias e da corrente

    sangnea e fatores associados em pacientes internados nas unidades de tratamento

    intensivo, no Distrito Federal foi realizado no perodo de 21 de fevereiro a 26 de

    dezembro de 2003. Foram acompanhados todos os pacientes internados nesse perodo

    em oito UTIs de adultos prprias ou credenciadas pelo Sistema nico de Sade.

    O estudo foi apresentado de acordo com a seguinte seqncia:

    O Captulo I trata de uma introduo sobre infeco hospitalar, buscando fatos

    importantes sobre sua histria e complementando com os aspectos conceituais sobre o

    seu controle. Ainda como introduo foram apresentados aspectos mais especficos com

    relao infeco urinria e da corrente sangnea. Como Captulos II e III, foram

    colocados o objetivo da pesquisa e os mtodos utilizados, envolvendo a populao

    estudada, critrios de seleo e diagnsticos, procedimentos de coleta de dados,

    variveis e indicadores utilizados, procedimentos para anlise dos dados e as

    consideraes ticas.

    O Captulo IV refere-se aos resultados. Inicialmente, apresenta-se a

    caracterizao da populao do estudo, depois os dados pertinentes infeco do trato

    urinrio (ITU) e, na seqncia, os resultados relativos infeco da corrente sangnea

    (ICS).

    No Captulo V, encontra-se a discusso dos resultados dessas infeces

    confrontando-os com dados da literatura.

    E, finalizando, no Captulo VI apresentamos nossas consideraes sobre o

    estudo.

    Continuando, apresentamos as tabelas, as referncias bibliogrficas e os anexos.

    xiii

  • RESUMO

    Introduo: A infeco hospitalar constitui um problema de sade pblica causando

    aumento na morbidade, letalidade e no tempo de internao dos pacientes com

    conseqente elevao dos custos hospitalares. Nos estabelecimentos de sade as

    unidades de tratamento intensivo (UTIs) despertam maior preocupao com a infeco

    hospitalar devido gravidade dos pacientes internados bem como ao fato destes

    pacientes estarem mais expostos aos procedimentos de risco.

    Objetivo: O presente estudo teve como objetivo conhecer o coeficiente de incidncia e

    os fatores de risco associados s infeces do trato urinrio e infeco da corrente

    sangnea por Cateter Venoso Central (CVC), em pacientes internados em unidades de

    tratamento intensivo dos hospitais da rede do Sistema nico de Sade (SUS) no Distrito

    Federal (DF).

    Mtodos: realizou-se um estudo epidemiolgico analtico tipo coorte prospectivo em

    mbito clnico. Serviram de campo de pesquisa oito UTIs pertencentes ou credenciadas

    pelo SUS sendo constituda uma amostra seqencial que incluiu todos os pacientes

    internados por mais de 24 horas durante dez meses.

    Resultados: do total de pacientes internados nessas unidades no perodo do estudo

    (1006), 96% (966) de cateter vesical e 62,6% (630) fizeram uso de cateter venoso

    central. Foi encontrada uma incidncia de 8,7% de ITU-H e 6,3% de ITU comunitria.

    Houve uma associao positiva entre ITU e doenas endcrinas, respiratrias, renais e

    ortopedias e traumatolgicas e. O uso concomitante de flebotomia e cateter vesical

    apresentou-se como fator de risco para ITU mesmo aps controlado o efeito

    confundidor. J o uso de cateter perifrico, tipo Scalp, se comportou como fator

    protetor para ITU com significncia estatstica. 77% dos pacientes com ITU foram

    submetidos a tratamento antimicrobiano. Houve uma incidncia de 6,4% de infeco

    xiv

  • da corrente sangnea (ICS) sendo que a presena dessa infeco mostrou-se associada

    ao tempo de internao dos pacientes nas UTIs (tempo mdio de 40,3 dias contra 11,5

    dias para os pacientes que no tiveram infeco); pacientes com problemas neurolgicos

    (30%) foram os mais acometidos; 62,5% do pacientes que apresentaram ICS fizeram

    uso do CVC por mais de 21 dias. O cateter de duplo lmen foi o mais utilizado. Os

    germes Gram-positivos foram os mais incidentes.

    Concluso: a maioria dos resultados encontrados consistente com a literatura, claro

    que guardadas as devidas consideraes nos mbitos em que foram realizados. As aes

    de treinamento dos profissionais que trabalham nas UTIs devero ser analisadas e

    esperamos que os resultados encontrados sirvam de direcionamento para as mesmas.

    Por se tratarem de hospitais pertencentes aos SUS necessria uma uniformidade de

    condutas frente ao uso desses procedimentos assim como a organizao das equipes de

    padronizao de medicamentos principalmente dos antimicrobianos. Ressalta-se o papel

    de engajamento ativo dos profissionais de Enfermagem e Medicina e da equipe das

    UTIs na preveno e na vigilncia das infeces hospitalares.

    UNITERMOS: 1.Infeco Hospitalar; 2.Unidades de tratamento intensivo; 3.Preveno

    e controle; 4. Comisso de controle de infeco hospitalar. 5. Trato urinrio. 6.Infeco.

    7. Infeco da corrente sangnea.

    xv

  • ABSTRACT

    Introduction: hospital-acquired infection is a public health issue because it increases

    morbidity, mortality and time of permanence of patients leading to higher

    hospitalization costs. In the health centers of Intensive Care Units (ICUs) are

    particularly concerned places with hospital infection due to the severity of illness and

    due to greater exposure of patients to risk procedures.

    Objective: this current study had the purpose to find out the rate of incidence of risk

    factors associated to infection to the urinary tract and bloodstream infection related to

    central venous catheter (CVC), in patients in intensive care units of public hospitals in

    the Federal District of Brazil.

    Methods: we conducted an epidemiological prospective cohort study. We used at eight

    ICUs belonging or associated to the Brazilian Public Health System with a sequential

    sample of all inpatients that stayed in ICUs for more than 24 hours.

    Results: from the total number of patients admitted in these units1006; 96% urinary

    catheters and 62.6% used CVC. An incidence of hospital-acquired UTI was 8.7% and

    community-acquired UTI was 6,3%. Results showed association between UTI

    occurrence and some specific deseases as endocrinological, respiratory, renal and

    orthopedic and trauma diseases). The parallel use of phlebotomy and bladder

    catheterization was a risk factor for UTI even after confounding control. Use of

    peripheral flexible venous catheters was a protective factor for UTI with statistical

    significance. BSI incidence was 6.4% and its occurrence was associated to

    hospitalization time of patients, (the average time of BSI patient was 40.3 days whereas

    not-infected patients was 11.5 days); the greater BSI incidence rate was found among

    patients with neurological conditions (30%); 62,5% of BSI patients used CVC for more

    xvi

  • than 21 days. Double lumen catheter was more often used . Gram-positive germs were

    the most isolated ones.

    Conclusion: most of the findings are consistent with medical literature even though

    studies were conducted at several contextual frames. Training of ICU health staff must

    be analyzed and our results will hopefully help to address those educational activities.

    Procedures standardization as well as rational antibiotic prescription are necessary

    because we are dealing with a hospital network within the Public Health System. We

    emphasize the role of active involvement of Medicine and Nursery professionals within

    the ICU staff teams in the prevention and surveillance of nosocomial infections.

    KEY WORDS:1. Hospital infection; 2. Intensive care unit; 3. Prevention and control;

    4. Hospital infection control committee. 5.Urinary tract.6. Infection. 7. Bloodstream

    infection.

    xvii

  • CAPTULO I

    1

  • INTRODUO

    1 - INFECO HOSPITALAR - breve histrico

    A ocorrncia de Infeco Hospitalar remonta ao ano 325 d.C, quando o Imperador

    Constantino convenceu os religiosos a criar em cada catedral um hospital. Esta data

    representa, pois, o marco referencial do aparecimento de um primeiro histrico das

    infeces hospitalares (IH). No entanto encontramos relatos de que Hipcrates (460-370

    a.C), considerado o Pai da Medicina, j conhecia a importncia da lavagem das mos

    antes de operar e das vantagens de usar gua pura ou fervida e vinho na limpeza das

    feridas. Galeno (321-201 d.C), considerado o Pai da medicina cientfica, tambm

    utilizou o vinho para curar as feridas observando a no formao de pus. Entre suas

    vrias publicaes encontra-se um livro sobre Higiene (WHIPPLE, 1961).

    Noes de assepsia, embora rudimentar e emprica, j constituam preocupao

    dos agentes da sade desde a Idade Mdia, que ento usavam o enxofre para evitar a

    propagao da peste bubnica. Entretanto, os estabelecimentos hospitalares eram

    desconfortveis, lugares insalubres, com aspectos desagradveis e com pssimas

    condies de higiene. A maioria dos pacientes ocupava as mesmas esteiras de palha,

    havia sujidade por toda a parte e a infeco espalhava-se rapidamente de um paciente

    para outro.

    O ttano umbilical acometia com freqncia os recm-nascidos; a febre tifide e

    outras doenas contagiosas disseminavam-se pelos hospitais; a febre puerperal era

    aterrorizante e freqentes, os casos de difteria e de clera.

    Em 1665, um ingls, Robert Hooke (1635-1703), usando seu microscpio foi

    capaz de ver individualmente as clulas, fato que marcou o incio da teoria celular ou

    seja que todas as coisas vivas so compostas de clulas. Antony Van Leeuwenhoeck

    2

  • (1632-1723), um comerciante e cientista amador, foi provavelmente o primeiro, naquele

    tempo, a observar microrganismos vivos atravs de lentes de aumento dando-lhes o

    nome de animalculos. Depois da descoberta do invisvel mundo dos

    microrganismos, a sociedade cientfica daquela poca comeou a se interessar pela

    origem desses seres.

    No sculo XVI, sem que se soubesse qual era o agente da infeco, j se conhecia,

    por simples observao, a possibilidade da transmisso de certas doenas e a

    propagao das epidemias (FERRAZ, 1982). No sculo XVIII, para prevenir a

    propagao das doenas, os pacientes eram confinados em hospitais por especificidade

    diagnstica: hospital de febre tifide, hospital de varola, sanatrio para tuberculose e

    casas de peste (EICKOFF, 1981).

    Em 1860 James Young Simpson (1811-1870) - professor de cirurgia da

    Universidade de Edimburg - usou o termo hospitalismo para denominar os riscos

    inerentes hospitalizao. Comparou a mortalidade por supurao de 2000 pacientes,

    amputados em casa, e constatou que a morte era maior em hospitalizados.

    No sculo XIX, os hospitais raramente tinham gua corrente e geralmente a gua

    que eles usavam era contaminada. O lixo, os dejetos humanos e outros resduos

    hospitalares eram comumente jogados em poos nos fundos do terreno. Os cirurgies

    limpavam as mos nas batas, as roupas de cama raramente eram trocadas, as feridas

    eram lavadas com as mesmas esponjas, passando de um paciente para outro. Nestas

    condies to precrias a infeco era devastadora (ALEXANDER, 1985). Um tero

    das mulheres parturientes morriam de febre puerperal, uma doena do sangue

    usualmente causada por uma espcie de Streptococcus.

    Oliver Wendel Holmes (EUA 1809-1894) era poeta, advogado, mdico e

    professor na escola de Medicina de Harvard. De suas observaes, percebeu que no

    3

  • somente a febre puerperal era contagiosa, mas tambm era freqentemente transmitida

    de paciente para paciente por mdicos e enfermeiras. Ao desenvolver um modelo de

    prtica, com aes que tinham como objetivo controlar a sua transmisso, concluiu seu

    trabalho com a seguinte declarao Os casos de febre puerperal no so um infortnio,

    mas sim um crime. Entre as medidas sugeridas por Holmes podemos incluir: mdicos

    envolvidos em trabalho de parto no deveriam tomar parte em procedimentos post-

    mortem de casos de febre puerperal; se presentes em tais autpsias, deveriam tomar

    banho completo, trocar as roupas e esperar, no mnimo, 24 horas para atender qualquer

    nascimento ou examinar paciente; se ocorressem dois casos de febre em um consultrio

    mdico, o atendimento deveria ser interrompido pelo menos por um ms.

    Ignaz Philipp Semmelweis (1818-1865) nasceu na Hungria e graduou-se na

    Universidade da Escola Mdica de Viena, em 1844, com 26 anos de idade. Trs anos

    mais tarde, foi convidado para ser assistente no Departamento da Maternidade em

    Viena, que era o maior departamento de Obstetrcia da Europa. No Hospital Geral de

    Viena ele observou que a febre puerperal era muito comum na enfermaria da

    Maternidade, onde trabalhavam os estudantes de medicina, lugar este cujas taxas de

    morbidade eram altas. Ele acreditava que os estudantes contaminavam suas mos

    quando dissecavam cadveres e, em 15 de maio de 1847, ele exigiu que todos os

    estudantes lavassem as mos com uma soluo de gua clorada, depois da disseco,

    antes e depois de examinar cada paciente. A mortalidade, que chegou aos 18,27% em

    abril, caiu a partir de junho para uma mdia de 3,04% diminuindo visivelmente a

    morbidade, tornando evidente o efeito da medida profiltica indicada por ele. No ano

    seguinte a mortalidade caiu para 1,33%.

    Por estudar a IH com mtodos estatsticos apropriados, Semmelweis tornou-se o

    Primeiro Epidemiologista Hospitalar pois, ao introduzir e exigir a lavagem das mos em

    4

  • 1847, provou ser esta uma medida de controle efetivo na preveno e controle da febre

    puerperal. Iniciou-se a, formalmente, o controle das infeces hospitalares (HALEY &

    GARNER, 1986; FERNANDES 2000). E, em sua homenagem, o dia 15 de maio foi

    institudo oficialmente no Brasil como o dia Nacional de Controle de Infeco

    Hospitalar, pela Portaria n 666 de 17 de maio de 1990 (BRASIL, 1990) .

    Florence Nightingale (1820-1910) enfermeira inglesa desenvolveu modernos

    princpios de enfermagem, utilizou mtodos de capacitao para enfermeiros, estruturou

    um sistema cientfico para a profisso de enfermagem e divulgou amplamente seus

    conhecimentos de higiene hospitalar durante sua participao na Guerra do Crimia. Ela

    usou tanto as tcnicas asspticas como as prticas sanitrias, em todo o hospital.

    Em 1854 ela se solidarizou com John Snow e, juntos, trabalharam no combate

    epidemia de clera, na Inglaterra. Elaborou as bases da Administrao, Higiene e

    Limpeza Hospitalar. Entre suas publicaes destaca-se Notas sobre questes que

    afetam a Sade, Eficincia e Administrao Hospitalar do Exrcito Britnico. Ela

    props um sistema de relatrio para as ocorrncias de bitos, sugerindo que as irms

    religiosas das enfermarias poderiam ser responsveis pela manuteno e documentao

    destes dados estatsticos. Esta , provavelmente, a primeira referncia vigilncia das

    IHs, realizada por enfermeiras. No Brasil, a semana de enfermagem inicia-se no dia 12

    de maio em homenagem a Florence, data do seu falecimento.

    Em 1865 William Farr (1807-1883), chefe de registro, foi considerado o primeiro

    estatstico da sade da Inglaterra. Nightingale e Farr contriburam para a divulgao dos

    conceitos de Semmelweis, e um dos seus inmeros mritos ter colocado a higiene e a

    vigilncia hospitalar num amplo contexto da qualidade do cuidar.

    A base cientfica de que Semmelweis necessitava para comprovar suas

    observaes viriam com as publicaes de Pasteur sobre putrefao (1863) e

    5

  • fermentao (1866-1868). Louis Pasteur (1822-1912) no foi pioneiro ao sugerir que as

    doenas infecciosas eram causadas pelos germes, mas suas pesquisas foram essenciais

    para se demonstrar este nexo e desmontar a teoria da gerao espontnea, o que

    propiciou a descoberta de que putrefao e fermentao so causadas por

    microrganismos. Os processos por ele influenciados, que receberam o nome de

    pasteurizao, e os estudos sobre germes (1862) e doenas infecciosas do grande

    avano microbiologia e assepsia cirrgica e industrial.

    Joseph Lister (1827-1912), jovem mdico cirurgio de Glasgow, Esccia,

    cooperou e muito, com os princpios de assepsia e anti-sepsia hospitalar. Influenciado

    pelos estudos de Pasteur, Lister rapidamente fez a analogia entre a supurao da ferida

    cirrgica e a fermentao. Convencido de que os germes do ar contaminavam as feridas

    cirrgicas, em 1865 comeou a pr em prtica seus estudos em anti-sepsia introduzindo

    subseqentes desinfeces das salas cirrgicas usando cido fnico, com que conseguiu

    reduzir a mortalidade entre os pacientes cirrgicos.

    Lister porm, apesar de seu profundo respeito por Pasteur, insistia nos seus

    mtodos de anti-sepsia com o uso do cido fnico para o instrumental, mesmo aps

    Louis Pasteur e Charles Chamberland demonstrarem que a esterilizao pelo calor era

    superior desinfeco qumica dos instrumentos cirrgicos (RODRIGUES, 1997).

    No perodo pr-listeriano, os centros cirrgicos eram extremamente primitivos,

    com mesas e instrumentos usados sucessivamente, sem qualquer tipo de lavagem entre

    os procedimentos. Os anfiteatros cirrgicos dos hospitais famosos permitiam grande

    assistncia e, freqentemente, alguns dos presentes eram convidados a tocar a ferida

    com objetivos educacionais (WHIPPLE, 1961).

    Robert Kock (1843-1910) foi quem descreveu o captulo final da polmica, que

    envolvia a mortalidade por infeco hospitalar quando publicou a monografia intitulada

    6

  • The Cause of Infection in Wounds, em 1877, em que demonstrou a patogenicidade de

    micorganismos piognicos, e que cada organismo tem caractersticas prprias,

    proporcionando diferentes quadros clnicos (WHIPPLE, 1961). Em 1883 ele provou que

    a transmisso da doena poderia ocorrer pela gua, alimentos e roupas.

    Em 1889, William Steward Halstead (1852-1922), mdico cirurgio do Hospital

    John Hopkins, com objetivo de proteger as mos da enfermeira que o auxiliava,

    introduziu o uso de luvas, nas salas de cirurgia. Os capotes e gorros foram introduzidos

    por Newber e Von Gergman na dcada de 1880. Mixkukicz (1845-1905) foi quem

    utilizou pela primeira vez a mscara em cirurgia, em 1897.

    No sculo XX ocorre a disseminao das infeces estreptoccicas, j atribudas

    hospitalizao prolongada e superlotao das enfermarias. Em 1910, na Alemanha,

    instrumentos estreis tais como aventais, mscaras e luvas eram utilizados amplamente

    nos grandes hospitais universitrios.

    A reduo de mortes por infeco, baseada nas prticas sanitrias e de anti-sepsia,

    foi acelerada em 1935 com a introduo das Sulfonamidas, que foram usadas para curar

    graves infeces estafiloccicas e estreptoccicas. Em 1940, a mais importante

    descoberta foi a introduo da penicilina durante a Segunda Guerra Mundial, seguida

    pela descoberta e uso de outros antibiticos, o que favoreceu o tratamento de doenas

    infecciosas e a reduo das infeces em pacientes hospitalizados. O aparecimento de

    bactrias resistentes, porm, logo levou um grande desencanto aos adeptos da idia

    otimista de que drogas miraculosas resolveriam, definitivamente, o problema da

    infeco (LISTER, 1987).

    As infeces hospitalares comearam a se tornar preocupantes, a partir de 1950

    quando, nos Estados Unidos e Europa, surge uma severa epidemia causada por

    Staphylococcus aureus e o aumento do nmero de amostras bacterianas resistentes a

    7

  • antibiticos, como por exemplo, Staphilococcus aureus, resistente Meticilina. Esta

    bactria infectava, com freqncia, pacientes hospitalizados nas unidades cirrgicas e

    peditricas. Tais eventos j estavam, provavelmente, relacionados com a sua ampla

    utilizao. Assim geraram-se duas necessidades: o controle epidemiolgico rigoroso dos

    coeficientes de incidncia de infeco e o manuseio adequado dos antimicrobianos

    drogas de um valor teraputico inestimvel, porm de efeitos colaterais indesejveis

    (LISTER, 1987).

    Nessa dcada foi criada, na Inglaterra, a primeira comisso de controle de

    infeco hospitalar (CCIH). Essas comisses j tinham sido recomendadas pela

    Associao Americana de Hospitais dos E.U.A. (AMERICAN HOSPITAL

    ASSOCIATION, 1982) desde 1958, e tinham como objetivo prover os hospitais daquele

    pas de um sistema que lhes permitisse apurar se as infeces, eventualmente neles

    adquiridas, decorriam ou no de negligncia ou de desobedincia aos regulamentos de

    proteo ao doente. Tal apurao visava argumentaes e provas necessrias contra

    possveis aes legais, impetradas pela clientela, o que sensibilizou alguns hospitais, na

    poca (BRASIL, 1987; BORBA, 1995).

    Em 1965, o julgamento da ao Darling versus Charleston Memorial Hospital

    concluiu pelo pagamento de uma indenizao por parte do mdico e do hospital a um

    jovem que teve sua perna fraturada jogando futebol e, tendo sido socorrido por um

    clnico geral no Hospital Charleston, teve a perna amputada, dias aps, devido

    gangrena. O hospital, assim, foi condenado a indenizar o paciente considerando entre

    outros aspectos que, se o mdico era qualificado, mas estivesse desatualizado, cabia

    ainda culpa instituio, pois esta no promovera cursos para atualizar o seu

    conhecimento (BRASIL, 1987). Com este caso grande repercusso foi dada

    existncia das Comisses de Controle de Infeco Hospitalar, o que passou a ser uma

    8

  • exigncia legal para conceder autorizao de funcionamento de hospitais americanos

    (ZANON et al., 1978).

    Em 1980 o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) recomendou um

    enfermeiro em tempo integral para cada 250 leitos no hospital, para atuar no controle de

    infeco e, em 1988 publicou os critrios gerais e especficos e definies de infeco

    hospitalar. O surgimento da infeco pelo vrus da imunodeficincia humana (HIV

    Human immunodeficiency virus) gerou grandes progressos na preveno e controle das

    IHs, relacionados principalmente biossegurana.

    No Brasil, foi a partir da dcada de 1960 que teve inicio o controle das infeces

    hospitalares com a implementao de Comisses de Controle. O Hospital Ernesto

    Dornelles, de Porto Alegre - RS implantou primeiramente este servio, em 1963. A

    partir de ento, vrios outros hospitais instituram em seus quadros Comisses e/ou

    Servios de Controle de Infeco (C/SCIH), sendo estas iniciativas individuais e

    isoladas (BORBA, 1995) .

    Em 1973, foi criada a CCIH, no Rio de Janeiro, estimulada pelo Instituto Nacional

    de Previdncia Social. Esta orientao foi reforada pela Ordem de Servios de

    Assistncia Mdica (SAM) n039.24, de 20 de agosto de 1986 (BRASIL, 1986), ficando

    estabelecida a criao de comisses de Controle de Infeco Hospitalar nos hospitais

    pertencentes Previdncia Social, rgo de assessoramento da direo dessas

    instituies. S a partir da promulgao da Portaria GM/MS n196/83 que ficou

    estabelecida a criao dessas comisses em todos os hospitais do Pas (BRASIL, 1983).

    Em 1987, com a Portaria GM/MS n232 o Ministrio da Sade criou o Programa

    Nacional de Controle de Infeco Hospitalar (BRASIL, 1988b). Neste mesmo ano,

    ressalta-se, foi criada a primeira Associao de Profissionais em Controle de Infeco

    9

  • Hospitalar em So Paulo. Aps dois anos, Minas Gerais tambm criou a sua

    Associao.

    Convm ressaltar o interesse e contribuies do Colgio Brasileiro de Cirurgies

    que, com o Inqurito Nacional sobre Infeco Ps-operatria, realizado em Recife em

    1980, demonstrou que 2,7% dos hospitais, servios e cirurgies brasileiros, da amostra

    estudada, controlavam e registravam a infeco (FERRAZ & LIMA FILHO, 1981).

    Em 1992 foi publicada a Portaria GM/MS n930, em 27 de agosto, revogando a

    Portaria 196/83. Essa legislao definiu a estrutura das comisses de controle de

    infeco hospitalar, tornando obrigatria a participao de um mdico e uma enfermeira

    para cada 200 leitos ou fraes (BRASIL, 1992). Em 06 de janeiro 1997 foi publicada a

    Lei Federal n9431/MS mantendo a obrigatoriedade do Programa de Controle de

    Infeco Hospitalar em todos os hospitais e estabelecendo a vigilncia epidemiolgica

    para identificar ocorrncias, determinar causas e possibilitar a proposio de medidas

    administrativas coerentes e oportunas (BRASIL, 1997). No ano seguinte, a Portaria

    2616 de 13 de maio, que se mantm vigente at os nossos dias, determina as

    competncias das trs esferas de governo na preveno das infeces hospitalares,

    apresenta um anexo de lavagem das mos, e revoga a Portaria 930/92 (BRASIL,

    1998b).

    Em 1994, o Ministrio da Sade por meio da Coordenao de Controle de

    Infeco Hospitalar realizou o 1 Estudo Brasileiro das Infeces Hospitalares quando

    ento ficou conhecida a Prevalncia das Infeces Hospitalares (13,1%) (PRADE, et al.,

    1995). Com o resultado desse estudo muitos problemas foram encontrados: o uso

    indiscriminado de antimicrobianos (48%), deficincia dos laboratrios de Microbiologia

    (10%), precariedade das Centrais de Material e Esterilizao e, principalmente, o no

    cumprimento da Legislao vigente em Controle de Infeco Hospitalar.

    10

  • Em 1999, o Programa de Controle de Infeco Hospitalar foi transferido do

    Ministrio da Sade para a Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria - Anvisa. No ano

    seguinte foi criada, dentro da GGTES - Gerncia Geral de Tecnologia em Servios de

    Sade a UCISA - Unidade de Controle de Infeco em Servios de Sade, transformada

    por meio da Portaria GM/MS n385, de 4 de junho de 2003, na Gerncia de

    Investigao e Preveno de Infeces e dos Eventos Adversos GIPEA, cujas

    competncias envolvem outros riscos relacionados assistncia e no s s infeces

    (BRASIL, 2003).

    No Brasil, at 2001, todos os esforos concentrados com o objetivo de se

    diagnosticar o problema das infeces hospitalares e direcionar um plano de aes e

    investimento, baseavam-se apenas nos resultados proporcionados pela 1 Pesquisa

    Brasileira das Infeces Hospitalares (PRADE et al., 1995). Em 2001, a Agncia

    Nacional de Vigilncia Sanitria iniciou a elaborao do Sistema Nacional de

    Informao para o Controle de Infeces em Servios de Sade (SINAIS),

    disponibilizado em 2005, gratuitamente, para todos os hospitais e independente da

    entidade mantenedora, com o objetivo de possibilitar a consolidao do sistema de

    monitoramento da qualidade da assistncia dos servios de sade no Pas.

    O Sistema permite a entrada de dados e a emisso de relatrios em uma rotina de

    trabalho que acompanha as atividades j desenvolvidas pelas Comisses de Controle de

    Infeco Hospitalar. A anlise dos indicadores permite a compreenso do

    comportamento das infeces e o impacto das medidas de controle adotadas. Os

    hospitais interessados so cadastrados na Anvisa e, a partir de ento, os profissionais

    responsveis pelo Sistema so treinados para o uso e o envio dos dados para o banco

    nacional. O Sistema ainda est em fase de implantao e os dados ainda no foram

    11

  • divulgados, mas, com certeza, daro suporte ao planejamento das aes de controle de

    infeco.

    Ainda em 2001, foi realizado um convnio da Anvisa com a Faculdade de Sade

    Pblica da Universidade de So Paulo no intuito de avaliar, entre outras, as atividades

    de controle de infeces nos hospitais brasileiros. Do universo de 4.148 hospitais, em

    1009 municpios que responderam o questionrio enviado pelos pesquisadores, 76% dos

    hospitais informaram possuir Comisso de Controle de Infeco Hospitalar (CCIH)

    nomeada. Em relao aos 1.102 que possuem leitos de UTI, 94% informaram que

    desenvolveram vigilncia de infeco hospitalar (CARDOSO, 2002).

    Os dados preliminares, apresentados na Comemorao do Dia Nacional de

    Controle de Infeco em 2002, em Braslia, revelou uma taxa global de infeco de

    9,0% nas unidades de tratamento intensivo, com 14,4% de mortalidade. A infeco mais

    prevalente nas UTIs, foram as do sistema respiratrio (48%) seguida pela urinria

    (20%); o restante foi distribudo entre as demais infeces (CARDOSO, 2002).

    Com o objetivo de tornar a assistncia sade mais efetiva por meio do uso

    adequado de antimicrobianos e da deteco, preveno e controle da emergncia de

    resistncia microbiana em servio de sade no Pas, a Anvisa, em parceria com a

    Organizao Pan-Americana de Sade em 2006, iniciou o desenvolvimento do projeto

    Monitoramento e Preveno da Resistncia Microbiana em Servios de Sade,

    mediante a formao de uma rede nacional (Rede RM) constituda por Hospitais

    Sentinela, Laboratrios de Sade Pblica (Lacen), Vigilncias Sanitrias Estaduais e

    Municipais, Comisses Estaduais e Municipais de Controle de Infeco Hospitalar e

    diversos colaboradores. At o momento, porm, ainda no foi possvel divulgar

    resultados.

    12

  • 2 - INFECO HOSPITALAR - Aspectos conceituais sobre seu controle.

    No se justifica que o ambiente hospitalar adicione um componente mrbido

    doena que conduziu o paciente ao hospital, visto que este , por definio, o local

    tpico para o desenvolvimento das aes de proteo e recuperao da sade. Com a

    criao das CCIHs procura-se implementar a qualidade da assistncia prestada ao

    paciente hospitalizado, restabelecendo o verdadeiro significado dessa instituio.

    Segundo a Organizao Mundial de Sade - OMS, A Sade um estado de

    completo bem-estar fsico, mental e social (in: LEMKOW, 1990:211), certamente, uma

    viso totalizadora da sade, e no apenas a ausncia de doena. H, portanto, uma

    interdependncia dos aspectos fsicos, psicolgicos e sociais e a doena seria

    conseqncia do desequilbrio entre esses aspectos.

    Segundo a afirmao Sade, Direito de Todos, constante da nossa Constituio

    Federal (BRASIL, 1988a), todos ns cidados temos o direito constitucional de sermos

    contemplados na rea assistencial mdica, e entendemos que esta inclui a tica do

    Controle de Infeco Hospitalar.

    Conceitualmente, necessrio construir a definio de infeco hospitalar. Para

    isto, importante lembrar que os microrganismos envolvidos nas infeces hospitalares

    so, geralmente, habitantes da microbiota do paciente e do ambiente hospitalar. Na

    maioria das vezes, esses microrganismos produzem doena, apenas, quando as defesas

    anti-infecciosas do hospedeiro esto reduzidas. Chegamos, assim, conceituao de

    Infeco Hospitalar que, segundo a Portaria GM/MS n2616 de 12 de maio de 1998,

    aquela adquirida aps a admisso do paciente e que se manifesta durante a internao,

    ou aps a alta, quando puder ser relacionada com a internao ou procedimentos

    hospitalares (BRASIL, 1998b).

    13

  • Infeco Comunitria aquela constatada ou em incubao no ato da

    hospitalizao do paciente, desde que no seja relacionada com internao anterior no

    mesmo hospital. So tambm comunitrias as infeces que esto associadas

    complicao ou extenso da infeco j presente no momento da hospitalizao, a

    menos que haja troca de microrganismos com sinais ou sintomas fortemente sugestivos

    da aquisio de nova infeco (BRASIL, 1998b).

    A infeco hospitalar um srio problema de Sade Pblica. Tem origem

    endgena ou exgena. A primeira est associada doena de base ou agravos do

    paciente, onde microrganismos da flora do paciente so os responsveis pela maioria

    das infeces hospitalares. As infeces exgenas esto relacionadas aos procedimentos

    cirrgicos e instalao de procedimentos invasivos, como cateter venoso central,

    cateter urinrio, entre outros e, portanto, podem ser prevenveis.

    responsvel no s pelos altos ndices de morbidade e mortalidade, como

    tambm pelo prolongamento do tempo de permanncia dos pacientes no hospital, menor

    disponibilidade/utilizao dos leitos hospitalares, com o conseqente aumento do custo

    do tratamento (WENZEL, 1993; GAGLIARDI et al., 2000); tambm, por mudanas nos

    padres de resistncia microbiana; contribui para o aumento dos custos indiretos, devido

    ao afastamento ou mesmo perda do trabalho pelo paciente. O impacto da infeco leva

    a perda funcional, stress emocional e, em alguns casos, como conseqncia, reduo

    na qualidade de vida. Conforme Freitas (1997), a ocorrncia da IH amplia o prejuzo,

    saindo da esfera institucional para o prprio paciente e para a sociedade como um todo.

    No Brasil, aps mais de duas dcadas da primeira regulamentao governamental

    sobre infeco hospitalar (BRASIL, 1983), muitas instituies ainda estimam os custos

    com base nos dados americanos que, certamente, diferem da nossa realidade sem

    esquecer que se deve considerar tambm, variabilidades institucionais e individuais.

    14

  • Como sabemos, a infeco hospitalar um indicador de qualidade da assistncia

    prestada populao e proposta na Portaria GM/MS n2616 como informao

    obrigatria (BRASIL, 1998b). Porm, esta informao no tem sido apresentada por

    muitas instituies de sade.

    As infeces hospitalares localizam-se em qualquer parte do organismo sendo

    mais freqentes as dos tratos respiratrio e urinrio, de ferida cirrgica e da corrente

    sangnea; ou relacionadas diretamente com procedimentos invasivos, como intubao

    traqueal, cateterismo vesical, cirurgia e cateterismo vascular, respectivamente. A

    associao do uso de antibiticos e procedimentos invasivos, como ventilao mecnica

    e sondagem nosogstrica, relatada como fator de risco para infeco hospitalar

    (TALON et al, 1995; PEA et al, 1997)

    Estima-se que, dos pacientes admitidos nos hospitais americanos para serem

    submetidos a algum tipo de procedimento teraputico, 5% a 10% contrairo infeco

    hospitalar (PITTET & WENZEL, 1995). Nos Estados Unidos da Amrica a infeco

    hospitalar uma das 10 principais causas de morte e atinge um custo de 2 bilhes de

    dlares por ano (WENZEL et al., 2000).

    A prevalncia de infeco varia largamente entre os servios. Dados americanos

    reportaram trs vezes mais alta a taxa entre pacientes peditricos em hospitais de ensino

    com mais de 500 leitos, que entre peditricos que no eram de ensino (CDC, 2004).

    H varias formas de quantificar o problema, de modo a visualizar a gravidade que

    a IH representa Sade Pblica. A utilizao dos indicadores propostos pela Portaria

    2616 do Ministrio da Sade (BRASIL,1998b) poder auxiliar as CCIHs nessa

    avaliao.

    A elevao dos coeficientes de infeco hospitalar tem ocorrido numa relao

    direta com o desenvolvimento industrial de tecnologias invasivas. Diante deste fato, o

    15

  • conhecimento tcnico e epidemiolgico dos profissionais de sade sobre as prticas

    assistenciais que previnem infeces tem que acompanhar esse desenvolvimento para

    favorecer a qualidade da assistncia prestada populao e diminuir os gastos dos

    cofres pblicos pela aplicao efetiva de medidas preventivas eficazes.

    3 - UNIDADE DE TRATAMENTO INTENSIVO

    Devido gravidade dos pacientes internados nas unidades de tratamento intensivo

    bem como ao fato destes pacientes estarem mais expostos aos procedimentos de risco,

    as instituies tm maior preocupao com a infeco hospitalar nessas suas unidades,

    nas quais as taxas de infeces so de 5 a 10 vezes maiores do que as verificadas nas

    enfermarias clnicas e cirrgicas (MASSANARI & HIERHOLZER, 1986). Podem

    corresponder a 25% de todas as infeces ocorridas nas unidades de internao da

    instituio (TRILLA et al., 1991), embora representem apenas de 5% a 15% dos leitos

    do hospital (EGGIMANN & PITTET, 2001).

    Estima-se que 5% dos pacientes internados nas unidades de tratamento intensivo

    (UTI) adquiriro uma infeco nosocomial, o que resultar na prorrogao do tempo de

    internao de cinco a dez dias e que at 30% do total de casos esto relacionados

    assistncia prestada aos pacientes (WENZEL, 1988; JARVIS et al., 1991; VERGERA,

    1997).

    Um trabalho realizado em pacientes internados em UTIs revelou que os pacientes

    que permaneceram nessas unidades, por 21 dias ou mais tiveram 33 vezes mais risco de

    contrair infeco do que aqueles que ficaram de um a dois dias. O tamanho da unidade

    tambm afetou o risco: pacientes em unidades com 11 ou mais leitos apresentaram,

    significativamente, mais risco que aqueles em unidades com cinco ou menos leitos

    (VICENT et al., 1995).

    16

  • A taxa de mortalidade nas UTIs atinge cerca de 40%, e as infeces hospitalares

    contribuem de forma decisiva para esta evoluo. Um estudo mostrou uma taxa de

    mortalidade de 33,7% nos pacientes internados que contraram infeco hospitalar,

    contra 14,5% dos que no evoluram com infeco (CONSTANTIN et al., 1987). Outro

    estudo mostrou um aumento de 2,48 vezes naqueles que adquiriram infeco

    (SPENCER, 1994). O autor considerou a gravidade da doena de base, os

    procedimentos invasivos, o prolongamento da internao e o uso de antibiticos,

    principalmente os de espectro ampliado, como fatores que favorecem o aparecimento de

    microrganimos multirresistentes que, possivelmente, contribuem para a alta taxa de

    infeco e mortalidade nas unidades de tratamento intensivo. Certos tipos de infeco

    hospitalar como, por exemplo, pneumonia e infeco do trato respiratrio inferior,

    foram indubitavelmente associadas ao aumento do risco de morte em unidade de

    tratamento intensivo (VICENT et al.,1995).

    A taxa geral de pacientes com infeco hospitalar foi fortemente relacionada com

    o tempo de permanncia na unidade de tratamento intensivo (r =.58, p

  • comprometidos, com larga permanncia de hospitalizao, vrios diagnsticos e

    procedimentos teraputicos (WHO, 2002).

    4 - INFECO DO TRATO URINRIO

    Mais de cinco milhes de cateteres vesicais so inseridos em pacientes,

    favorecendo o aparecimento de nmero superior a 1 (hum) milho de casos de infeco

    do trato urinrio (ITU) nos hospitais e clnicas dos EUA, a cada ano (MAKI &

    TAMBYAH, 2001). Esse tipo de infeco foi responsvel por 40% do total de infeces

    adquiridas em hospitais at 2001 (BURKE & RILEY, 1999; MAKI & TAMBYAH,

    2001); e 80% delas esto associadas ao uso de cateter vesical podendo chegar a 95%,

    em UTI (MAKI & TAMBYAH, 2001).

    Os cateteres vesicais so classificados: pelo local de insero (uretral, supra-

    pbico e nefrostomia); e pela durao, em intermitente ou de demora. Quanto sua

    constituio podem ser de borracha de ltex, silicone e teflon e encontrados em uma

    grande variedade de tamanhos e tipos. O cateter de Foley, desenvolvido em 1927 por

    Frederick E. B. Foley, comumente utilizado para drenagem funcional de urina, em

    obstruo anatmica do trato urinrio, para controle da drenagem em pacientes

    incontinentes e para obter medidas precisas do volume urinrio (GAGLIARDI et al.,

    2000).

    Os cateteres vesicais alteram os mecanismos de defesa em vrios pontos. A sua

    insero pode carrear microrganismos distais para o interior da bexiga, pois uma

    simples cateterizao de alvio pode ocasionar bacteriria em 1% dos pacientes,

    chegando a 20% em idosos. O cateter vesical representa uma via de acesso de

    microrganismos, tanto pela sua superfcie externa como pelo seu lmen. Atuando como

    corpo estranho, ele prejudica os mecanismos de defesa fornecendo a proliferao

    18

  • bacteriana atravs do biofilme formado, protegendo os microrganismos da ao

    mecnica do fluxo urinrio, dos demais mecanismos de defesa do hospedeiro e dos

    prprios antibiticos eventualmente utilizados (WARREN, 1997).

    As infeces urinrias hospitalares relacionadas ao cateter vesical se manifesta 48

    horas, ou mais, aps a cateterizao vesical. Quando atingem uretra, bexiga e prstata

    so chamadas de infeces urinrias baixas; e altas, quando acometem o ureter e o rim.

    Em um trabalho realizado em UTI de adultos, a infeco do trato urinrio apareceu

    como a mais prevalente (31%) (RICHARDS et al., 1999) contrariando outros trabalhos

    (JARVIS et al., 1991; CAMPINS et al.,1993). a segunda causa mais comum de

    infeco da corrente sangnea (MAKI & TAMBYAH, 2001)

    Classicamente, as vias de entrada para os microrganismos causadores de infeco

    urinria so ascendente, hematognica e por contigidade ou extenso direta

    (SCHAEFFER, 1997). A maioria das infeces urinrias causada pela via ascendente

    e resultado da colonizao perineal por flora fecal aerbia. Vrios fatores favorecem

    esta ocorrncia: atividade sexual, higiene pessoal deficiente, incontinncia fecal ou

    urinria e, principalmente, a cateterizao vesical.

    A infeco por via extraluminar ocorrida no momento da cateterizao

    considerada a mais comum. No entanto, a via intraluminal que ocorre em decorrncia

    do refluxo, tambm importante tendo sido encontrado em 34% dos casos

    (TAMBYAH et al., 1999). A contaminao ascendente em pacientes com cateter

    vesical pode dar-se por via periuretral ou extraluminal.

    Segundo Garibaldi et al. (1980), 70% dos episdios de bacteremia em pessoas do

    sexo feminino e 20% a 30% do masculino com cateter vesical, ocorrem por migrao

    das bactrias para a bexiga atravs do meato periuretral que circunda o cateter. A

    invaso do trato urinrio se d pela camada de muco que fica entre a superfcie externa

    19

  • do cateter e a mucosa uretral. A origem dos microrganismos , principalmente, a partir

    da colonizao perineal pela microbiota retal. Mas, microrganismos exgenos

    colonizam o perneo de pacientes hospitalizados em uso de antibiticos, a partir da

    veiculao pelas mos contaminadas dos profissionais de sade, sendo favorecidos pela

    presso seletiva (MAKI et al.,1973).

    O estudo de Tambyah et al. (1999) mostrou que 66% das infeces do trato

    urinrio relacionadas ao cateter foram adquiridas por esta via, sem diferena entre

    homens e mulheres. Foi de maior freqncia entre as mulheres devido ao pequeno

    tamanho da uretra e proximidade do nus (DAIFUKU & STAMM, 1984). Os mesmos

    autores tambm encontraram esta via como sendo a mais importante para bacilos Gram-

    negativos do que para fungos e cocos Gram-positivos. Rogers et al. (1996) relataram

    contaminao via periuretral do cateter a partir de 24 horas de sua instalao, estando a

    formao do biofilme relacionada a este episdio. Mesmo aps a remoo do cateter,

    pelo menos nas 24 horas seguintes, o paciente permaneceu sob risco de bacteriria em

    decorrncia da manuteno desta colonizao (WARREN, 1997).

    A contaminao pela via intraluminal a mais freqente com sistemas de

    drenagem abertos. Ela ocorre principalmente pelo fluxo retrgrado de urina do saco

    coletor para dentro das vias urinrias do paciente, portanto reduzida em sistemas

    fechados de drenagem. De acordo com o estudo de Tambyah et al. (1999), esta via

    representou 34% das infeces, principalmente por cocos Gram-positivos e fungos. Ela

    tambm pode se dar atravs da proliferao microbiana no biofilme, que adere

    superfcie interna do cateter vesical. A via hematognica mais rara podendo acontecer

    nos casos de septicemia ou em indivduos sem defesa imunitria como aidticos e

    transplantados.

    20

  • Em aproximadamente 15% a 20% dos pacientes infectados, o microrganismo

    encontrado previamente, 24 a 48 horas no saco coletor (HELMHOLZ, 1950; STAMM

    et al., 1992). A contaminao do lmen do cateter pode ocorrer durante sua desconexo

    do saco coletor ou pelo tubo de esvaziamento do mesmo.

    At os 15 anos de idade, a ITU est relacionada com anomalias congnitas

    anatmicas e funcionais, tais como o refluxo vesicoureteral, a obstruo e as disfunes

    miccionais. Dos 16 aos 35 anos de idade, a grande maioria das ITUs surge no sexo

    feminino sob a forma de cistites de repeties. A partir dos 35 anos, a iatrogenia (ex:

    cateterismo vesical ou cirurgia ginecolgica), a obstruo por hiperplasia benigna da

    prstata e as disfunes miccionais (causadas por prolapsos ginecolgicos e/ou

    incontinncia) so os principais fatores de risco responsveis pelo aumento da

    incidncia das ITUs nesta faixa etria (NGUYEN, 2004).

    So usualmente definidas por critrio microbiolgico: cultura quantitativa de urina

    positiva (105 UFC/mL) com o mximo de duas espcies isoladas. O isolamento de

    mais que 103 UFC/mL altamente preditivo de infeco do trato urinrio, relacionada

    ao cateter vesical (ITU-RC). Se no fornecido um esquema de antibioticoterapia para

    o paciente, o nvel de bacteriria ou candidria aumenta para 105 UFC/mL dentro de 24

    a 48 horas (STARK & MAKI, 1984). Conforme os autores, em urina de paciente

    cateterizado, sem uso de antibitico, apresentando algum microrganismo, a

    concentrao aumentar rapidamente >105, usualmente, dentro de 72 horas.

    Aproximadamente 10% dos pacientes submetidos cateterizao vesical so

    bacteriricos no momento da insero do cateter. Dos pacientes que no so

    bacteriricos no momento da insero do cateter e so cateterizados por, pelo menos,

    um dia, aproximadamente 10% desenvolvero bacteriria durante seu perodo de

    cateterizao vesical (GARIBALDI, 1993). Em outro estudo, os autores referiram que

    21

  • 25% dos pacientes em uso de cateter vesical desenvolvem bacteriria ou candidria

    hospitalar aps sete dias de uso de cateter (MAKI & TAMBYAH, 2001).

    Quanto s formas clnicas, as ITUs podem ser classificadas em:

    1 - Bacteriria Assintomtica: Quando h ausncia de sintomas em presena de

    bacteriria significativa, isto 105 UFC/mL em cultura da mesma espcie bacteriana

    em duas amostras consecutivas de urina colhidas por mico espontnea, na mulher,

    com intervalo de pelo menos 24 horas. Para o homem, basta uma amostra positiva,

    devido menor possibilidade de contaminao. comum em mulheres idosas e

    aumenta com a idade, em homens. mais freqente em pacientes com cateterizaes

    repetidas ou prolongadas. O resultado do exame de urocultura deve ser interpretado

    juntamente com a clnica do paciente.

    2 Cistite (epididimite, prostatite): Caracteriza-se pela presena de bacteriria

    significativa associada a sintomas do trato urinrio baixo, como: freqncia e urgncia

    urinrias, disria e desconforto supra-pbico, na ausncia de sinais de infeco

    sistmica.

    3 Pielonefrite: Presena de bacteriria significativa associada a sintomas

    sistmicos, tais como febre e calafrios, dor lombar, nuseas e vmitos, cefalia, mal-

    estar geral, podendo estar presentes ou no sintomas do trato urinrio baixo.

    A presena de infeco do trato urinrio hospitalar aumenta o tempo de

    hospitalizao, em mdia, de dois a cinco dias o que acarreta maior risco de aquisio

    de outras infeces hospitalares, caracterizando uma maior morbidade referente a esses

    pacientes. Cirurgies tm reconhecido o aumento das infeces da ferida cirrgica em

    pacientes com infeco em outros stios no momento da cirurgia (GARIBALDI, 1993).

    Constituem fonte de septicemia hospitalar e mortalidade relacionada e so quase todas

    associadas instrumentao do trato urinrio.

    22

  • Autores encontraram uma taxa de 0,5% a 3,9% de bacteremia em pacientes com

    ITU, associadas a cateter vesical (GARIBALDI et al., 1982). Em 1992, o CDC estimou

    que ocorreram mais de 900.000 ITUs hospitalares nos EUA, resultando em um excesso

    de gasto de 600 milhes de dlares. Isto representou, aproximadamente, 14% do total de

    gastos com infeces hospitalares, estimadas em 4.5 bilhes de dlares. Este dinheiro

    bem poderia ser investido em preveno de infeces hospitalares, inclusive nas

    infeces do trato urinrio.

    A mortalidade por ITU incerta sendo a bacteremia a causa mais encontrada. Um

    trabalho americano estimou somente 932 mortes por ITU das 19027 mortes por infeco

    hospitalar. No entanto, contribua com um adicional de 6.500 das 58.092 mortes

    associadas com a infeco hospitalar nos hospitais dos Estados Unidos (CDC, 1992).

    Quanto ao sexo, estudos com pacientes com cateter vesical, encontraram uma

    incidncia de ITU de aproximadamente trs vezes mais em mulheres que em homens

    (RICHARDS et al., 1999; TAMBYAH & MAKI, 2000). A infeco do trato urinrio

    foi considerada, em tempos remotos, como uma conseqncia inevitvel da

    cateterizao vesical de demora. Mas, desde 1950, constatou-se que podem ser

    prevenidas com a introduo da drenagem fechada por bolsas plsticas estreis, que

    representam um marco no controle das infeces. De acordo com um estudo realizado

    em 1999, 70% a 85% das ITUs em pacientes com cateter vesical so prevenveis

    (BURKE & RILEY, 1999).

    Experincias nos Estados Unidos mostram que informaes epidemiolgicas

    representam um forte fator de motivao para conseguir implementao de uma efetiva

    poltica de controle de infeco e reduzir infeces prevenveis (HALEY et al., 1985;

    VICENT et a.l, 1995).

    23

  • Conforme dados do projeto SENIC Study of the Eficacy of Nosocomial

    Infection Control, 1/3 das infeces podem ser prevenveis mediante um eficiente

    programa de vigilncia (HALEY et al., 1985), o que envolve a formao e efetivao

    das comisses de controle de infeco hospitalar. Isto representa um significante

    nmero de episdios prevenveis de infeces adquiridas nos hospitais e, portanto, deve

    ser visto como um ponto para o progresso.

    5 - INFECO DA CORRENTE SANGNEA

    Os cateteres intravasculares so indispensveis na prtica da medicina moderna,

    particularmente em unidades de tratamento intensivo. No entanto, eles representam a

    principal fonte de infeco da corrente sangnea primria. Aproximadamente, 150

    milhes de cateteres so puncionados a cada ano nos hospitais e clnicas dos Estados

    Unidos, sendo mais de 5 milhes de cateteres venosos centrais (McGREE & GOULD,

    2003).

    So encontrados em vrios tipos: perifricos de diferentes comprimentos, centrais,

    centrais com insero perifrica, arteriais e venosos, de curta e de longa permanncia,

    instalados atravs de puno, disseco, e implantao cirrgica parcial ou total. As

    taxas de complicaes infecciosas so diferentes para cada tipo de cateter, sendo que os

    venosos centrais participam com 3% e os venosos centrais de insero perifrica com

    0,2/ 100 cateteres-dia (MAKI & MERMEL, 1998).

    Os avanos tecnolgicos favoreceram a manuteno de acesso vascular por tempo

    mais prolongado e com maior freqncia de uso, acarretando, por conseguinte, o

    aumento de infeces relacionadas a esse procedimento. Dados apontam um aumento

    linear de infeco da corrente sangnea (ICS) de 6,7 a 18,4 por 1.000 altas (0,83 a 1,72

    episdios por 1.000 pacientes-dia) de 1980 a 1992 (PITTET & WENZEL, 1995).

    24

  • Os hospitais do National Nosocomial infection Surveillance System (NNISS) do

    Centers for Disease Control and Prevention (CDC) dos Estados Unidos da Amrica

    publicaram taxas de ICS em unidades de tratamento intensivo, variando de 4,9 em

    unidades de tratamento intensivo cardio-torcica a 11,9 em unidades de trauma, por

    1000 cateteres centrais-dia, referente ao perodo de 2002-2004 (CDC, 2004). O NNISS

    havia publicado, anteriormente, uma taxa de 3,48 por 1.000 altas. Dados argentinos

    registraram uma taxa de 2,92% dessas infeces (ROSENTHAL et al., 2003).

    Quanto colonizao do cateter venoso profundo, ela pode ocorrer pelas

    seguintes vias:

    stio de insero pela migrao pela parede externa do cateter; conexes do cateter com o equipo de infuso migrando pela luz do cateter; hematognica a partir de um foco infeccioso distncia; infuso de soluo contaminada; mos dos profissionais de sade pela contaminao da pele do paciente no stio

    de insero, conexes ou soluo infundida.

    O risco de infeco relacionada ao acesso vascular est associado a: localizao

    do acesso; soluo infundida; experincia do profissional que realiza o procedimento;

    tempo de permanncia, tipo e manipulao do cateter; ao hospedeiro (idade avanada,

    gravidade da doena, entre outros) citando apenas alguns (FERNANDES & RIBEIRO,

    2000). Tais fatores constituem pontos estratgicos importantes para aes preventivas

    destas infeces.

    Embora a incidncia de infeco da corrente sangnea seja mais baixa que as

    outras IHs como as pneumonias, infeces do trato urinrio e as do stio cirrgico, a

    infeco da corrente sangnea tem sua importncia por ser causa de substancial

    morbidade, mortalidade e elevao dos custos hospitalares (FERNANDES & RIBEIRO,

    25

  • 2000; ROSENTAL et al. 2003). A letalidade atribuvel infeco da corrente sangnea

    relacionada ao cateter (ICS-RC) elevada, estimada entre 14 a 28% nos EUA (PITTET,

    1993). O mesmo autor encontrou uma mortalidade relacionada ICS de,

    aproximadamente, 50% sendo considerada 35% como causa direta.

    Trabalhos sobre o custo, estimaram um valor, por episdio de infeces

    relacionadas ao cateter venoso central, de US$25.000 a US$56.000 (MERMEL, 2000,

    O`GRADY et al., 2002). Um trabalho brasileiro, relativo aos custos, apresentou uma

    estimativa entre as diferentes IHs em que as infeces primrias da corrente sangnea

    variam de US$5.000 a US$34.000 (FONSECA, 2004).

    Quanto ao prolongamento do tempo de internao, dados norte-americanos

    registraram uma variao entre 6,5 a 22 dias (APECIH, 2005). Um trabalho realizado na

    Argentina encontrou um excesso de custo de US$4888 e um aumento da durao de

    internao de 11,9 dias por episdio de infeco da corrente sangnea (ROSENTHAL

    et al., 2003). Se considerarmos que o prolongamento da internao representa menor

    rotatividade dos leitos e, que no nosso estudo foram includos apenas hospitais do SUS,

    pode-se avaliar que, alm dos custos que representa para o hospital, a permanncia de

    um paciente internado com infeco hospitalar, ainda temos que gerenciar a quantidade

    de pacientes que deixam de ser atendidos pela falta de disponibilidade dos leitos.

    Quando consideramos que a infeco pode ser prevenvel a preocupao ainda bem

    maior. Isso tudo sem ter mensurado os custos materiais e psicolgicos que a infeco

    hospitalar representa para o paciente e seus familiares.

    26

  • CAPTULO II

    27

  • OBJETIVO

    O presente estudo teve como objetivo conhecer o coeficiente de incidncia e os

    fatores de risco associados s infeces do trato urinrio e infeco da corrente

    sangnea por Cateter Venoso Central (CVC), em pacientes internados nas unidades de

    tratamento intensivo dos hospitais da rede do Sistema nico de Sade (SUS) no Distrito

    Federal (DF).

    Esse objetivo foi alcanado por meio da operacionalizao dos seguintes

    objetivos especficos:

    - Determinar o coeficiente de infeco comunitria do trato urinrio nos pacientes

    internados nessas UTIs;

    - Calcular o coeficiente de incidncia das infeces da corrente sangnea nos pacientes

    em uso de cateter venoso central;

    - Estimar o coeficiente de incidncias das infeces do trato urinrio hospitalar

    - Estimar o coeficiente de incidncias das infeces da corrente sangnea clnica;

    - Estimar o coeficiente de incidncias das infeces da corrente sangnea relacionada

    ao cateter;

    - Identificar fatores de risco associados ITU, ICS-C e ICS-RC;

    - Estimar o custo direto com o tratamento com antibimicrobianos das infeces urinrias

    hospitalares.

    Fundamentadas nas informaes obtidas nesse estudo, nossa inteno

    possibilitar reflexes e sugestes consideradas como sendo passos para a anlise das

    aes desses hospitais e da prpria Anvisa, para a Preveno e o Controle das Infeces

    Hospitalares.

    28

  • CAPTULO III

    29

  • MTODOS

    Este um estudo epidemiolgico analtico tipo coorte prospectiva em mbito

    clnico.

    1 POPULAO DE ESTUDO

    Foram investigados todos os pacientes internados nas oito UTIs do Distrito

    Federal no perodo de 10 meses, dos seguintes estabelecimentos de sade: uma UTI do

    Hospital Regional de Sobradinho (HRS), utilizada apenas para o pr-teste; uma do

    Hospital Regional da Asa Norte (HRAN); trs do Hospital de Base do Distrito Federal

    (HBDF); uma do Hospital Universitrio de Braslia (HUB); uma do Hospital Materno

    Infantil de Braslia (HMIB) e uma do Hospital das Foras Armadas (HFA).

    Das unidades de tratamento intensivo prprias, ou credenciadas pelo SUS, no

    Distrito Federal, foram excludas as UTIs do Hospital Santa Lcia por contar apenas

    com um leito de UTI credenciado pelo SUS, conforme informao do MS, sendo os

    demais leitos de pacientes atendidos em regime privado; e as UTIs dos Hospitais

    Regionais de Taguatinga e Gama, uma vez que os pacientes que requeriam

    procedimentos mais especializados, no perodo do estudo, eram encaminhados para as

    UTIs do Hospital de Base do Distrito Federal.

    Foram avaliados 73% de todos os leitos de UTI credenciados pelos Sistema nico

    de Sade disponveis no perodo, sendo 89% quando relacionados apenas os leitos de

    pacientes adultos.

    30

  • 2 CRITRIOS DE SELEO DOS PACIENTES E ESTIMATIVA DE TAMANHO

    DA AMOSTRA.

    Foi realizado um pr-teste, em 40 pacientes, na unidade de tratamento intensivo

    do Hospital Regional de Sobradinho, que foi utilizada apenas para a finalidade de

    avaliao do instrumento de coleta de dados, durante um perodo de 30 dias. Aps a

    devida anlise, foram efetivados os ajustes necessrios. Esses pacientes no fizeram

    parte da anlise dos dados uma vez que se atingiu a amostra estimada com os pacientes

    das outras UTIs. Portanto, foram sete as UTIs que, efetivamente participaram do estudo.

    Foram includos todos os pacientes, admitidos em sete unidades de tratamento

    intensivo, de hospitais do Distrito Federal, no perodo compreendido entre 21 de

    fevereiro a 26 de dezembro de 2003. Esses pacientes deveriam atender os seguintes

    critrios: adulto, com tempo de internao superior a 24 horas; com ou sem infeco de

    trato urinrio ou de corrente sangnea e uso de cateter vesical ou venoso central,

    independendo da patologia de base, tipo de UTI e uso de medicamentos. Tambm foi

    includa uma paciente com 12 anos de idade uma vez que, por ser me, era considerada

    adulta pela direo do hospital.

    A presena de infeco comunitria no momento da internao no foi utilizada

    como motivo de excluso do paciente no estudo. Num primeiro momento, as UTIs

    foram avaliadas de forma global sem levar em considerao o seu tipo, mas por estarem

    envolvidas com pacientes de clnica mdica, cirrgica ou mista. Foram excludos apenas

    os pacientes com durao de internao inferior a 24 horas.

    Foi estimado que a mdia de pacientes atendidos em um ano nestas 08 UTIs fosse

    de, aproximadamente, 1.250 pacientes, sendo o clculo da amostra de 1006 (hum mil e

    seis) pacientes (Anexo 1). Com esta amostra foi possvel estimar a proporo de

    infeco hospitalar com um erro amostral menor do que 2%, de acordo com a estimativa

    31

  • desta proporo de 13% para as infeces hospitalares, em geral, e 11% para as

    infeces hospitalares urinrias (PRADE et al., 1995), no nvel de significncia de 5% .

    A amostra necessria foi alcanada com dez meses de coleta de dados.

    3 - CRITRIOS DIAGNSTICOS

    Infeco do Trato Urinrio:

    Os critrios diagnsticos utilizados foram os recomendados pelo CDC (GARNER

    et al., 1988).

    1- Sintomtica: caracterizada por um dos seguintes critrios:

    1.1. Um dos seguintes sinais clnicos: febre (38C), urgncia miccional, aumento

    da freqncia miccional, disria, desconforto suprapbico; mais urocultura com

    105UFC/mL de uma nica ou no mximo duas espcies de microrganismos.

    1.2. Dois dos sinais clnicos que se seguem: febre, urgncia mccional, aumento da

    frqncia miccional, disria, desconforto suprapbico; mais um dos seguintes sinais:

    a piria ( 10 leuccitos/mL ou 3 leuccitos por campo de alta resoluo de

    urina no-centrifugada);

    b bacterioscopia positiva (pelo Gram) de urina adequadamente colhida e no-

    centrifugada;

    c duas uroculturas positivas com o mesmo patgeno e com 102UFC/mL, em

    urina adequadamente colhida;

    d uma urocultura positiva para um nico patgeno, mesmo que em contagem

    inferior a 105UFC/mL, mas em paciente em uso de antimicrobiano;

    e diagnstico clnico;

    f quando foi instituda terap~eutica antimicrobiana adequada.

    32

  • 2 - Bacteriria assintomtica; caracterizada por algum dos seguintes critrios:

    2.1. Presena de cateter vesical de demora nos sete ltimos dias anteriores

    cultura de urina e:

    paciente sem qualquer sinal ou sintoma clnico; e cultura de urina com 105UFC/mL, com no mximo duas espcies de

    microrganismos ou,

    2 2. Ausncia de cateter vesical de demora nos ltimos sete dias anteriores

    urocultura positiva com 105UFC/mL com no mximo duas espcies de

    microrganismos.

    Paciente sem sinal ou sintoma clnico.

    Cateter associado bacteriria foi definido como 105UFC/mL com no mais que

    duas diferentes espcies de microrganismos.

    Pacientes com bacteriria com 24 horas de insero de cateter foram excludos da

    anlise.

    Logo aps a admisso dos pacientes nas UTIs estudadas era realizada coleta de

    amostra de urina, e enviada ao laboratrio para realizao de urocultura. Essa rotina foi

    iniciada aps o incio da coleta de dados desse estudo.

    ITU comunitria: utilizados os mesmos critrios para os pacientes com entrada na

    UTIs com menos de 72 horas.

    - Infeco da Corrente Sangnea:

    Os critrios diagnsticos utilizados foram os recomendados pelo CDC (2002).

    33

  • 1 - A infeco da Corrente Sangnea Clnica (ICS-C) foi diagnosticada quando o

    paciente apresentou, pelo menos, um dos sinais ou sintomas sem outra causa

    identificada: febre (temperatura 38 C), dor, eritema ou calor no stio vascular

    envolvido e 105UFC/mL, isoladas da ponta do cateter intravascular, e hemocultura

    negativa ou no realizada.

    2 - A Infeco da Corrente Sangnea Relacionada ao Cateter (ICS-RC) ocorreu

    quando o paciente apresentou os critrios anteriores associados hemocultura positiva,

    com o mesmo microrganismo isolado da ponta do cateter vascular.

    Todos os cateteres venosos centrais introduzidos no mesmo ou em diferentes

    locais aps 24 horas da primeira puno foram considerados como uma nova

    cateterizao. Culturas de sangue perifrico foram realizadas em pacientes com febre ou

    outros sinais de infeco. No foram estudados os cateteres utilizados para hemodilise

    e nutrio parenteral.

    Os cateteres vesicais e venosos centrais eram retirados quando o seu uso se

    tornava desnecessrio, em casos de obstruo ou perda acidental, sendo que os ltimos

    foram submetidos cultura utilizando-se mtodos semi-quantitativos em cinco unidades

    de tratamento intensivo e quantitativos nas duas restantes.

    Os preos dos antimicrobianos foram obtidos no setor de compra dos hospitais

    participantes do estudo. Quando ocorreu diferena de preos de compra dos

    antimicrobianos entre os hospitais, foi considerada a mdia de valor entre os mesmos.

    4 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS E ACOMPANHAMENTO DOS

    PACIENTES

    A pesquisa foi iniciada aps a aprovao pelo Comit de tica em Pesquisa do

    Distrito Federal e anuncia dos diretores dos hospitais. Em seguida, o instrumento de

    coleta de dados (Anexo II) foi validado e o trabalho se concentrou na construo do

    34

  • banco de dados. Concluda esta etapa, foi realizada uma visita a todos os hospitais,

    momento destinado apresentao das intenes desta pesquisa aos profissionais dessas

    UTIs, sobre a realizao do trabalho.

    Os dados foram coletados de todos os pacientes internados nas UTIs, vtimas ou

    no de infeco urinria hospitalar ou infeco da corrente sangnea, e foram

    levantados mediante avaliao diria dos pacientes e auxiliados pela anlise do

    pronturio do paciente, observao dos resultados de exames bacteriolgicos,

    entrevistas com os profissionais dessas unidades, e a avaliao das anotaes da

    enfermagem e outros documentos existentes nas UTIs.

    A situao dos pacientes que foram transferidos para outras unidades do mesmo

    hospital foi acompanhada por mais dois dias.

    5 VARIVEIS E INDICADORES

    As variveis utilizadas foram:

    - Presena de infeco urinria hospitalar nos pacientes internados nas UTIs;

    - Presena de infeco urinria comunitria nesses pacientes;

    - Diagnstico, no momento da internao, dos pacientes internados nas UTIs

    (doena de base);

    - Co-morbidade;

    - Hospital (local);

    - Cdigo de identificao do paciente;

    - Sexo;

    - Idade;

    - Tempo de internao;

    - Data da admisso;

    - Data da sada;

    - Uso de cateter vesical;

    - Sistema de drenagem urinria;

    35

  • - Tempo de uso de cateter vesical;

    - Nome do antimicrobiano utilizado;

    - Posologia;

    - Exame microbiolgico realizado;

    - Tipo de microrganismo isolado;

    - Procedimentos invasivos realizados;

    - Uso de cateter venoso central;

    - Presena de infeco da corrente sangnea;

    - Local de insero do cateter venoso profundo;

    - Nmero de lmens do cateter venoso profundo;

    A tcnica de insero do cateter vesical e do cateter venoso profundo assim como

    o profissional que realizou o procedimento no foram avaliados, pois um grande

    nmero de pacientes eram submetidos a esses procedimentos em outras unidades do

    hospital.

    Os indicadores epidemiolgicos utilizados foram:

    - Nmero de pacientes atendidos nas UTIs;

    - Nmero de pacientes com infeco urinria hospitalar internados nas UTIs;

    - Nmero de pacientes com infeco urinria comunitria internados nas UTIs;

    - Coeficiente de infeco urinria hospitalar por procedimentos realizados nas

    UTIs;

    - Diagnstico dos pacientes internados nas UTIs (doena de base);

    - Percentual de pacientes que usaram antimicrobianos para tratamento da

    infeco urinria hospitalar;

    - Nmero de pacientes em uso de cateter venoso central;

    - Nmero de pacientes com infeco da corrente sangnea relacionada ao uso

    de cateter venoso central.

    6- ANLISE DOS DADOS

    36

  • Para as infeces do trato urinrio foi utilizado o programa estatstico EPI INFO 6

    Verso 6.04d, e foram calculadas as freqncias e o tempo de permanncia de uso de

    cateter vesical, e considerada a idade e o sexo do paciente. As propores de pacientes

    que apresentaram infeco do trato urinrio, segundo a presena, ou no, de um fator de

    risco, foram comparadas por meio do teste Exato de Fisher ou do Qui-quadrado de

    Pearson. Foi estimado o Risco Relativo (RR), o Intervalo de Confiana (IC) de 95% e o

    Valor p associado. O nvel de significncia foi p

  • Kuskal-Wallis) para verificao de diferenas nas variveis numricas entre grupos de

    pacientes, mantendo o mesmo nvel de significncia.

    7 CONSIDERAES TICAS

    Como j mencionado, foi solicitado o parecer do Comit de tica da Secretaria de

    Sade do Distrito Federal, uma vez que a maioria das UTIs participantes do estudo

    pertenciam ao Governo do Distrito Federal. O Hospital Universitrio de Braslia e o

    Hospital das Foras Armadas foram includos nesse parecer. Os pacientes

    acompanhados e/ou seus responsveis assinaram o Consentimento Livre e Esclarecido

    (Anexo III) aps conscientizao sobre o objetivo da pesquisa, e a garantia do

    anonimato de cada um e do sigilo de informaes que envolvessem a identificao de

    pessoas. Os profissionais foram igualmente esclarecidos sobre os objetivos da pesquisa

    e quanto aos procedimentos que seriam realizados pela pesquisadora. Tambm, lhes foi

    garantido o anonimato da identidade dos pacientes e o sigilo das informaes.

    A pesquisa teve incio aps a obteno da autorizao do Secretrio de Estado da

    Sade e da anuncia dos diretores dos hospitais. A natureza da pesquisa operacional e

    buscou avaliar uma situao mediante mtodos observacionais sem realizar outras

    intervenes e, sem nenhuma mudana ou interferncia nas tcnicas ou condutas dos

    servios.

    7.1 PUBLICAO DOS DADOS

    A publicao dos dados, em toda a sua abrangncia e de forma genrica, ficar

    sob a responsabilidade do autor da pesquisa. Os dados de cada estabelecimento de sade

    que fez parte do estudo, no sero publicados nominalmente. Parte dos resultados aqui

    38

  • apresentados foi publicada na Revista Latino-americana de Enfermagem (MESIANO &

    MERCHN-HAMANN, 2007)

    39

  • CAPTULO IV

    40

  • RESULTADOS

    1 -CARACTERSTICAS DA POPULAO DE ESTUDO E DAS UTIs

    Do total de UTIs participantes do estudo, sete pertenciam ao Sistema nico de

    Sade e a oitava, credenciada pelo mesmo sistema. Todas as UTIs eram utilizadas como

    campo de estgio de vrias categorias de profissionais de sade tendo, inclusive,

    Programa de Residncia Mdica.

    O nmero de leitos dessas unidades variou entre cinco e dez com uma grande

    demanda de internaes mantendo assim, 100% dos leitos ocupados constantemente.

    Exceo se faz a uma unidade que apresentava uma movimentao importante de

    pacientes de especialidade ginecolgica e obsttrica.

    Todas tinham uma equipe multiprofissional para o atendimento aos pacientes

    internados e possuam laboratrio de microbiologia onde eram realizados todos os

    exames microbiolgicos solicitados pela equipe mdica. Os resultados desses exames,

    na poca do estudo, foram avaliados individualmente para este estudo. Um dos hospitais

    participou com trs UTIs: clnica mdica e cirrgica, cardiolgica e de traumatologia.

    As demais UTIs participantes do estudo eram de ocupao mista.

    No perodo do estudo, os hospitais passavam por dificuldades financeiras. Em

    algumas oportunidades foi presenciada a compra de medicamentos pelo prprio mdico

    responsvel pelo planto ou feita solicitao, ao paciente ou a seus familiares, da

    compra dos mesmos. Tambm houve, nesse perodo, a falta, dentre outras e

    principalmente, de antimicrobiano, levando quebra da continuidade do tratamento,

    sendo prescrito o que estava disponvel no momento. Outrossim, ocorreu falta de anti-

    spticos e degermantes para lavagem das mos. Em um dos hospitais tambm houve

    41

  • momentos de falta de kits para realizao de exames laboratoriais como os de dosagem

    de Uria e Creatinina.

    No perodo do estudo foram internados nas sete UTIs, 1165 pacientes, dos quais

    1006 (49,4% do sexo feminino e 50,6% masculino) permaneceram internados nessas

    unidades por mais de 24 horas. Conforme pode ser observado na Tabela 1, do total de

    pacientes estudados 54% tinham entre 12 e 49 anos de idade e 46% entre 50 e 101 anos

    de idade. A mdia e a mediana de idade, foram de 47,9 e 47,0 anos respectivamente.

    Uma porcentagem de 55% permaneceram internados entre dois e seis dias, enquanto

    45% permaneceram entre sete e 144 dias resultando em mdia e mediana de durao da

    internao de 11,7 e 6,0 dias, respectivamente.

    Dos 1006 pacientes acompanhados, 966 (96%) fizeram uso de cateter vesical de

    demora ( 49,8% mulheres e 50,2% homens); 630 (62,6%) fizeram uso de cateter venoso

    central (40,8% mulheres e 59,2% homens).

    Na Tabela 2 pode ser verificado que a internao da maior populao dos

    pacientes nas UTIs devida a problemas cardiovasculares, representando 26,2%

    seguidos dos pacientes com problemas neurolgicos, com 13,4%. No entanto foi

    encontrado, em menor porcentagem, todos os tipos de patologias nos pacientes

    internados nessas unidades.

    Com relao co-morbidade, a Tabela 3 mostra que a doena neurolgica a de

    maior freqncia, contribuindo com 30%. Tal como acontece com a doena de base, as

    co-morbidades tambm mostram grande diversidade de patologias.

    Do total de pacientes (1006) 28,5% foram transferidos da UTI para outras

    unidades do mesmo hospital; 6,9% tiveram alta hospitalar; 61,5% foram a bito; e 3,1%

    permaneceram internados at o final do estudo.

    42

  • 2 - PERFIL EPIDEMIOLGICO DA INFECO DO TRATO URINRIO HOSPIT