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TEIA DO TEIA DO SABER SABER 2005 Fundação de Apoio às Ciências: Humanas, Exatas e Naturais Espaços não formais de ensino-aprendizagem Prof. Dr. Perci Guzzo GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DIRETORIA DE ENSINO - REGIÃO DE RIBEIRÃO PRETO Av. Nove de Julho no. 378 - Ribeirão Preto METODOLOGIA DE ENSINO DE DISCIPLINAS DA ÁREA DE CIÊNCIAS DA NATUREZA, MATEMÁTICA E SUAS TECNOLOGIAS DO ENSINO MÉDIO: FÍSICA, QUÍMICA E BIOLOGIA Material Pedagógico para uso do professor E Venda Proibida Coordenação Geral Prof. Dr. Mauricio dos Santos Matos (16) 3602-3670 e-mail: [email protected] Acompanhe a programação pela internet: http://sites.ffclrp.usp.br/laife Turma III (Aprofundamento)

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TEIA DOTEIA DO SABERSABER2005

Fundação de Apoio às Ciências: Humanas, Exatas e Naturais

Espaços não formaisde ensino-aprendizagem

Prof. Dr. Perci Guzzo

GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULOSECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

DIRETORIA DE ENSINO - REGIÃO DE RIBEIRÃO PRETOAv. Nove de Julho no. 378 - Ribeirão Preto

METODOLOGIA DE ENSINO DE DISCIPLINAS DA ÁREA DE CIÊNCIAS DA NATUREZA, MATEMÁTICA E SUAS TECNOLOGIAS DO ENSINO

MÉDIO: FÍSICA, QUÍMICA E BIOLOGIA

Material Pedagógico para uso do professorEVenda Proibida Coordenação GeralProf. Dr. Mauricio dos Santos Matos(16) 3602-3670 e-mail: [email protected]

Acompanhe a programação pela internet: http://sites.ffclrp.usp.br/laife

Turma III (Aprofundamento)

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TEIA DO SABER 2005 Metodologia de Ensino de Disciplinas da Área de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias do Ensino Médio: Física, Química e Biologia (Turma III – Aprofundamento)

ESPAÇOS NÃO-FORMAIS DE

ENSINO-APRENDIZAGEM

Prof. Perci Guzzo Supervisão: Profa. Dra. Clarice Sumi Kawasaki

APRESENTAÇÃO DOS PROFESSORES RESPONSÁVEIS PELO MÓDULO DE ENSINO

Prof. Perci Guzzo: Ecólogo, mestre em Geociências e Meio Ambiente, especialista em

Ciências Ambientais da Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto, SP, professor

de 7a e 8a séries da Escola Miró, Ribeirão Preto, SP.

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APRESENTAÇÃO DAS ATIVIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS

Caros Professores:

Desenvolvimento da Oficina: Antes: - entrega de texto aos professores para leitura prévia; - preparação de material de registro de imagens: máquina(s) fotográfica(s) e filmadora(s); Durante: - atividade de campo de 1h e 30h no Jardim Recreio para observação e registro da arborização do bairro; - discussão sobre o texto (1 hora); - atividades com música e leitura (20 minutos); - exposição e discussão dos registros feitos pelos professores (1h e 30minutos); - breve comentário sobre outras atividades sobre o tema que podem ser desenvolvidas nas escolas. Depois - Exposição itinerante dos registros de imagens nas escolas nas quais os professores trabalham.

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PRIMEIRA PARTE

ARBORIZAÇÃO URBANA 1) Alguns conceitos com objetivo de introduzir o tema

Arborização urbana é o conjunto de árvores existentes em uma cidade, ou ainda, são as árvores

encontradas na zona urbana de um município. Entretanto, a palavra arborização possui também outro

significado: corresponde aos cuidados aplicados às árvores existentes na cidade. Ter árvores na cidade é

bem diferente de uma mata natural, pois na cidade as coisas se transformam em uma velocidade maior,

devido às atividades humanas, tais como construção, demolição, asfaltamento, loteamento, reforma em

residências etc. Com essas mudanças, as árvores que fazem parte da cidade, sempre estão necessitando

de cuidados, como replantios, podas, controle de pragas e doenças, por exemplo. Assim, arborização

tem também o significado de uma prática constante de zelo pelas árvores da cidade.

Árvores são plantas lenhosas1, cujo caule, chamado popularmente de tronco, se ramifica, isto é

se divide em galhos e ramos, bem acima do nível da terra, formando uma copa no alto, distante do chão.

De um modo geral, todas as árvores quando adultas ultrapassam a altura de três metros. Os arbustos, ao

contrário das árvores, apresentam vários ramos muito próximos do solo e geralmente possuem porte

inferior às árvores.

As árvores estão por todos os cantos e lugares da cidade? Não, não estão. Nos lugares onde há

construções (prédios, casas e fábricas) e onde o solo encontra-se impermeabilizado2, não há

1 Muitas vezes a madeira é chamada de lenha. Nesse caso, é usada principalmente, quando se pretende usar a madeira

para fazer fogo, caso de fogueiras por ocasião das festas juninas, fogões a lenha, ainda existentes em sítios, por

exemplo. Mas, quando dizemos que um vegetal é lenhoso significa dizer que ele possui um tipo de tecido vegetal que

sustenta toda a planta e também conduz a seiva bruta, que são nutrientes e água capturados no solo pelas raízes. Esse

tecido, encontrado tanto no caule como nas raízes das árvores, tem essa função de transportar para outras partes da

planta os nutrientes e a água e ainda sustentar a árvore. Esse tecido é chamado pelos botânicos, os estudiosos das

plantas, de xilema.

2 O solo impermeabilizado é aquele que foi cimentado, asfaltado, que não permite a infiltração da água de chuva.

Significa dizer que a terra deixou de ser permeável, ou seja, que não permite mais a passagem de água. Esse é um dos

problemas que causam as enchentes nas cidades. Uma vez que a água da chuva não infiltra na terra, ela corre em grande

quantidade e rapidamente para os córregos, que não conseguem conter tanta água. Assim, boa parte dessa água

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possibilidade de existir árvores ou outras plantas de porte menor, como os arbustos e as plantas rasteiras.

Entretanto, onde não existem essas limitações, como por exemplo, praças, parques, quintais, canteiros

centrais de avenidas, calçadas - desde que os moradores ou a Prefeitura tenha deixado um lugar com o

solo descoberto, há a possibilidade de plantio de árvores e de outros tipos de plantas. Lembre-se que

todas as formas de vegetação são importantes para melhorar o ambiente da cidade.

As árvores encontram-se nos espaços livres3 de uma cidade, principalmente nas áreas verdes.

Estes lugares são importantes para a qualidade do ambiente da cidade e para a qualidade de vida de seus

moradores. Neles, as pessoas podem descansar, fazer alguma atividade física ou esportiva, contemplar e

sentir a presença da natureza. Esses espaços são importantes para o lazer da população.

As árvores não possuem donos particulares. Assim como o ar, a água, os animais e os ninhos, as

árvores pertencem ao meio ambiente. Elas são um bem de interesse coletivo4, ou seja, possuem

importância para todas as pessoas e para todos os outros seres vivos. No Brasil, os maus tratos, a

destruição e os danos causados às árvores e às outras plantas existentes nas cidades são considerados

como crime ambiental5.

Em muitas cidades brasileiras e estrangeiras a poda ou o corte de uma árvore só pode ser feito se

houver uma autorização da prefeitura daquele município. O morador faz o pedido de corte ou poda para

a prefeitura do seu município através de um documento escrito ou por meio digital. A partir de uma

vistoria técnica6 feita na árvore, a autorização é dada ou negada. Esse procedimento é necessário tanto

ultrapassa o canal do córrego e invade ruas, residências, casas de comércio, causando enormes prejuízos às pessoas que

vivem ou estão nestes locais naquele momento. 3 Todos os espaços da cidade em que não há construções, nós podemos chamá-los de espaços livres. Sim, espaços livres

de construção, ou ainda, espaços abertos. Abertos para o céu! Então, praças, quintais, lagos, córregos, jardins, áreas de

lazer, como campos e quadras, calçadas, todos são exemplos de espaços livres urbanos. Quando esses espaços abrigam

plantas nós denominamos de áreas verdes. Assim, toda área verde é um espaço livre, mas nem todo espaço livre é uma

área verde! 4 Todo o meio ambiente é um bem de interesse coletivo, ou seja, não é de propriedade particular de ninguém. Por isso,

quando uma pessoa polui o ar, a água ou o solo, ela está poluindo algo que é de todos e não apenas dela. Até mesmo o

direito de propriedade sobre a terra é limitado ao cumprimento de sua função social e a regras urbanísticas, no caso das

cidades. 5 São atividades e condutas humanas que causam lesão ao meio ambiente, como por exemplo prejuízos à flora e à fauna,

poluição ao ar, à água, ao solo e ao subsolo. Os danos causados ao patrimônio cultural, como monumentos históricos,

prédios e documentos públicos também são considerados crimes ambientais. A lei federal de número 9.605 de 1998,

conhecida como Lei de Crimes Ambientais, prevê as penas, ou seja as punições para aqueles que cometerem danos ao

meio ambiente. 6 É uma avaliação feita por um profissional que entende do assunto. Por exemplo, uma vistoria técnica em árvores pode

ser feita por agrônomo, engenheiro florestal, biólogo, ecólogo e arquiteto paisagista. Durante a vistoria, o profissional

irá verificar as condições da árvore, observando se ela apresenta algum risco de cair, se está doente e se está plantada

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para as árvores que estão nas calçadas, em frente às residências, como aquelas que se encontram dentro

de propriedade particular, como por exemplo, nos quintais.

em um local inadequado. Diante dessas observações e outras que poderão ser feitas no momento da vistoria, ele chegará

à uma conclusão do que precisa ser feito para melhorar a situação da árvore e resolver o problema existente.

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SEGUNDA PARTE

2) Os benefícios das árvores para as cidades

Quem não gosta de sombra, de pássaros, de terra e de ar puro?

As árvores proporcionam vida em uma cidade. Elas abrigam ninhos, liquens7 e plantas epífitas8.

As flores atraem os agentes polinizadores9, que podem ser borboletas, besouros, abelhas ou beija-flores.

Seus frutos servem de alimento para aves e para as pessoas, dependendo do tipo de árvore. As folhas

retêm umidade e muitos gases poluentes, proporcionando um ar mais fresco e puro. A água da chuva

bate na copa das árvores, escorre pelos galhos e pelo tronco, indo infiltrar na terra, favorecendo a

riqueza do solo, onde estão as raízes. Todas essas funções ecológicas das árvores e das plantas de um

modo geral, melhoram as condições ambientais da cidade, tornando-a mais agradável. Sendo assim, as

árvores contribuem muito com a qualidade de nossas vidas. 7 São organismos que resulta da associação entre algas e fungos. Ambos se beneficiam por conviverem juntos, tanto a

alga quanto o fungo. Esse tipo de associação em que os dois lados se beneficiam chama-se simbiose. A associação entre

organismos de espécies diferentes é conhecida como interação ecológica. Há vários tipos de liquens que possuem cores

e formas diferentes. Eles são encontrados nos troncos e galhos de árvores, bem como em rochas. A ausência de liquens

nas cidades, principalmente nos grandes centros urbanos, é um indício de que o ar nestas áreas encontra-se poluído e

com pouca umidade. Por isso dizemos que os liquens são bioindicadores de qualidade do ar, pois em ambientes muito

poluídos eles não conseguem sobreviver. Como há vários tipos de liquens, sabe-se que alguns são mais resistentes à

poluição atmosférica do que outros. 8 Planta que cresce ou se apóia sobre o tronco ou os galhos de outra planta, em busca da luz do sol. Retira seu alimento

da água da chuva, e não do tecido vivo da planta que lhe serve de suporte. Não sendo um parasita, a epífita beneficia-se

sem prejudicar a planta que lhe dá apoio. Esse tipo de associação entre dois organismos é também conhecido como

comensalismo. Trata-se, portanto, de uma interação ecológica. Os exemplos mais conhecidos de epífitas são as

bromélias e as orquídeas. Os liquens também podem ser considerados epífitas, pois se abrigam nos galhos de árvores

sem prejudicá-las. 9 O que promove a polinização das plantas. A polinização é a transferência dos grãos de pólen (que contêm os gametas

masculinos) para o órgão sexual feminino da planta (gineceu). Esse transporte acontece antes da fertilização, quando os

gametas feminino e masculino, que são as células sexuais, se unem e produzem o embrião de uma nova planta. O agente

polinizador é o responsável por fazer essa transferência de uma flor para outra. Tal transporte pode ser feito por insetos

(abelhas, besouros, mosquitos, borboletas), por aves (beija-flores, saíras), por mamíferos (morcegos), pelo vento e

também pela água. No caso dos animais, eles procuram por alimento presente nas flores, que pode ser o néctar ou o

pólen, e ao passarem de uma flor para outra, eles acabam fazendo a polinização.

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O Quadro 1 traz os principais benefícios para o ambiente urbano e para as pessoas que nele

vivem.

Quadro 1: Efeitos benéficos da arborização para o ambiente urbano e seus moradores

Atmosfera

Purifica o ar por meio da fixação de poeiras e gases tóxicos: processo que ocorre

principalmente nas folhas. Purifica o ar pela reciclagem de gases a partir do processo

de fotossíntese. Purifica o ar por meio da diminuição da quantidade de bactérias e de

outros microorganismos presentes na atmosfera.

Clima

Suaviza as temperaturas extremas ao filtrar os raios do sol: árvores com muitas

folhas absorvem mais de 80% da radiação solar que atinge diretamente a copa.

Conserva a umidade do ar através do processo de evapotranspiração10. Contribui

para diminuir o excesso de luminosidade por interceptar os raios solares: interrompe

ou barra a passagem direta do sol. Diminui os efeitos da ilha de

calor11 nas cidades.

Solo Mantém as propriedades de permeabilidade12 e fertilidade13 do solo: a queda de

galhos, folhas, flores e frutos propicia a formação de adubo natural para a terra.

10 Processo que envolve a evaporação da água a partir do solo e a transpiração das plantas. Nos dois casos ocorre a

liberação de água na forma gasosa para a atmosfera, de uma maneira lenta, o que torna o ar mais úmido. No caso do

concreto e do asfalto também irá ocorrer evaporação, mas de uma maneira muito rápida. Esses materiais não conseguem

segurar a água que vem da chuva. Já com as plantas e a terra ocorre o inverso. Há a retenção da água da chuva e

posteriormente a liberação lenta dessa água na forma gasosa para a atmosfera. 11 Nos centros das cidades ocorre maior absorção de radiação solar pelas grandes e excessivas construções. O concreto,

o aço, o ferro e o asfalto absorvem e armazenam muito calor. Por isso nós sentimos uma diferença grande quando

estamos no centro de uma cidade, e quando estamos no campo. As temperaturas no centro de uma cidade são maiores

do que na periferia ou na zona rural próxima à essa cidade. Existem estudos que comprovam essa diferença. Já foi

constatado uma diferença de 10 oC em um único dia, na mesma hora, entre o centro da cidade de São Paulo e sua

periferia. O efeito da ilha de calor é maior nas grandes cidades. 12 Capacidade – no caso, do solo - de deixar passar substâncias líquidas e gasosas pelos poros. Permeável é poder

atravessar. O solo possui mais poros e é portanto mais permeável quando ele possui adubo natural, também conhecido

como húmus. Esse adubo é formado a partir do apodrecimento de folhas, galhos, frutos e flores que caem no chão. As

mudanças de temperatura, a umidade do ar e os animais que vivem no solo são os responsáveis pela formação desse

adubo. 13 Característica relacionada com a quantidade de nutrientes químicos presente no solo. Nitrogênio, potássio, cálcio,

magnésio, ferro, alumínio são alguns elementos químicos que se encontram no solo. A quantidade e a distribuição

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Conserva a umidade do solo, atenuando a sua temperatura. Evita a erosão em

terrenos acidentados e íngremes por interceptar a água das chuvas: interrompe a

passagem direta da água da chuva para a terra.

Água

Influencia no balanço hídrico14, uma vez que mantém a umidade do ar e facilita a

infiltração de água no solo e subsolo, e ainda contribui para a conservação de rios e

lagos, quando presente ao longo deles.

Fauna

Fornece abrigo e alimento à fauna: os animais estão presentes onde há vegetação.

Permite a fixação de novas espécies de animais no ambiente urbano, uma vez que

"cria" novos habitats15.

Ruído

Contribui para o amortecimento de ruídos: o uso de plantas de folhas largas e de

grandes cercas-vivas têm resultado quando se deseja amortecer barulhos contínuos,

como sons de carros e fábricas.

Estético

Diversifica a paisagem16, quebrando a monotonia provocada pelo excesso de

edificações. Ornamenta e valoriza o espaço urbano: as espécies de árvores, com suas

formas e cores diferentes, promovem um efeito visual belíssimo e agradável para o

habitante da cidade. Promove a interação entre as atividades humanas e o meio

ambiente.

dessas substâncias químicas conferem maior ou menor fertilidade a determinado tipo de solo. Quanto maior a

quantidade de adubo natural no solo, maior fertilidade ele terá. 14 Também conhecido como balanço d'água ou equilíbrio hídrico, diz respeito à circulação da água em determinado

ambiente ou organismo. A água está presente no ambiente em forma líquida, gasosa ou sólida. É encontrada no solo, no

subsolo, na atmosfera, nas plantas e nos animais, por onde circula. Nosso organismo contém muita água! O fluxo da

água é contínuo na natureza. O balanço hídrico refere-se também à quantidade de água absorvida e eliminada por um

ambiente, por exemplo uma cidade. É fundamental que uma cidade absorva água, por meio da precipitação das chuvas,

por exemplo, na mesma proporção que ela elimina, pelos processos de evaporação e transpiração. Somente assim será

mantido o equilíbrio hídrico favorável e saudável para todos os seres que nela vivem. 15 Relacionado com o conceito de espécie, consiste no local que possui condições físicas e biológicas favoráveis à

sobrevivência de uma determinada espécie. Assim, uma espécie de animal habita um local, ou uma região, porque nele

existem condições favoráveis para isso. Em uma cidade, quanto maior a quantidade de vegetação, maiores serão as

oportunidades de novas espécies de animais e de outras plantas se estabelecerem. A partir do aparecimento de novas

espécies, ocorrerá um reequilíbrio na teia alimentar da cidade. Isso provocará uma diminuição na quantidade de animais

considerados como "pragas", tais como ratos, baratas, pernilongos, pombos, pardais e escorpiões. Essas espécies são

indesejáveis, entre outros motivos, porque suas populações crescem rapidamente. O reequilíbrio da teia alimentar

acontecerá à medida que os predadores dessas espécies voltarem a habitar o ambiente da cidade. 16 Conjunto de componentes naturais e modificados pelo ser humano que pode ser apreendido pelo olhar. A paisagem

urbana é formada por muitos componentes, tais como edifícios, casas, ruas, árvores, relevo, córregos, placas de

propaganda, automóveis, pessoas, enfim, tudo o que faz parte da cidade.

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Econômico

Reduz o consumo de energia destinada a condicionadores de ar, pois a sombra das

árvores refrescam naturalmente o ambiente. Valoriza os imóveis construídos nas

áreas que abrange.

Social e Saúde

Possibilita diferentes formas de lazer: a presença das plantas estimula práticas

esportivas, passeios, encontros e convivência com as pessoas e, ainda, a

contemplação da natureza. Proporciona bem-estar físico e mental: o verde das

plantas é agradável para nossos olhos, e o contato direto com as árvores melhora o

nosso humor .

2.1) Cobertura vegetal em área urbana

Quanto maior for a sua quantidade de vegetação, melhor for a sua distribuição pela área urbana

e, ainda, quanto mais saudáveis as plantas estiverem, maiores serão os benefícios para a cidade. Para

que isso ocorra é importante estarmos sempre atentos à arborização urbana, priorizando o uso de

espécies nativas17 e valorizando todos os espaços onde é possível cultivar plantas. Ruas, avenidas,

quintais, chácaras, praças, parques, jardins internos de residências e de empresas, matas naturais, áreas

ao longo de córregos e lagos, enfim, todos os espaços livres de construção podem se prestar ao cultivo

de árvores.

Quando olhamos uma cidade do alto de um avião, podemos ter idéia da quantidade de

vegetação, principalmente árvores, que ela possui. Por meio de fotografias aéreas, é possível medir a

quantidade de vegetação que recobre a cidade denominada cobertura vegetal em área urbana. O

resultado, dado em porcentagem, corresponde ao índice de cobertura vegetal em área urbana. Este é

diferente do índice de espaços livres de uso público que mede a quantidade de área pública disponível

para o lazer da população e é dado em metros quadrados por habitante.

Estudos indicam que uma cidade deve ter no mínimo 30% de sua área coberta com vegetação.

Segundo essas pesquisas, somente acima dessa porcentagem é possível detectar uma melhoria no clima

urbano e no balanço hídrico da cidade. É claro que esse índice de 30% é uma média para todas as

cidades. Outros aspectos devem ser considerados, tais como o tamanho da cidade, suas características

17 Planta ou animal, típicos de um local, que não foram introduzidos pelo ser humano. Uma espécie nativa está

intimamente adaptada ao seu habitat de origem. É comum ouvirmos dizer que uma determinada espécie de árvore é

nativa do Brasil. Este comentário não está de todo errado... Mas de que região do Brasil? Ou melhor dizendo, de que

bioma brasileiro? Uma espécie nativa da Amazônia pode não ser nativa no Cerrado ou na Mata Atlântica. Poucas são as

espécies de plantas e animais que sobrevivem e se distribuem por todo o território nacional. A maioria das espécies

ocorre em regiões específicas, com condições ambientais diferenciadas. O uso de espécies nativas na arborização

urbana é fundamental, uma vez que elas já estão adaptadas às condições ambientais e à paisagem da região na qual a

cidade está inserida.

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urbanas18 e o próprio clima19. Por exemplo, uma cidade pequena localizada em uma região de altitudes

elevadas, onde a circulação do ar é maior, apresenta condições climáticas mais saudáveis do que uma

grande cidade, com centenas de edifícios, localizada em um vale.

TERCEIRA PARTE

3) Manejo da arborização urbana

As árvores existentes na cidade necessitam de muito mais cuidados do que as árvores que

existem em uma floresta. Cuidados periódicos, no dia-a-dia. No ambiente urbano as árvores dividem

espaço com as construções, com a fiação de energia elétrica, com os encanamentos, com os postes e

com os locais por onde passam pessoas e veículos. Esses elementos urbanos, essenciais para o

funcionamento de uma cidade, são responsáveis pela distribuição de água e energia elétrica, pela coleta

de esgotos, pela transmissão de linhas telefônicas, pela circulação de veículos, entre outros. São os

chamados serviços urbanos, essenciais para a sobrevivência dos cidadãos20. Assim, desde a fase de

plantio da muda até a morte da árvore, devemos estar atentos. No ambiente urbano temos que

compatibilizar a sobrevivência saudável das árvores com o funcionamento das atividades humanas.

3.1) Plantio 18 Dizem respeito à forma pela qual a cidade encontra-se organizada, ao modo pelo qual foi construída e sua

localização. Por exemplo: se as ruas são estreitas ou largas; se existem edifícios altos ou somente prédios baixos; se as

margens dos córregos estão preservados ou se são ocupadas por avenidas etc. Essas características variam conforme o

momento histórico em que a cidade se desenvolveu, as condições naturais (relevo, solo, clima) do local onde se

estabeleceu, as influências culturais e as condições econômicas de sua população. 19 O de um local ou de uma região é definido pela sucessão habitual de tipos de tempo, que correspondem às condições

de ar que ocorrem com maior freqüência em uma certa estação do ano. Por exemplo: no verão, em todo interior paulista,

temos muitos dias quentes, com altas temperaturas, e muitos dias chuvosos, com temperaturas um pouco mais baixas.

São os tipos de tempo mais comuns nessa época do ano para essa região. No período que chamamos de inverno, os tipos

de tempo mais comuns são diferentes: chove bem menos, o ar é mais seco, e as temperaturas são mais baixas. A

repetição desses tipos de tempo ao longo de muitos anos é o que define o clima de uma região ou de um local. Podemos

dizer com certeza que o clima do interior paulista é diferente do clima de Porto Alegre ou da região amazônica. As

diferenças seriam marcantes para nós se pudéssemos viver alguns anos em cada um desses três locais. 20 Habitante da cidade. Além desse sentido, há também o relacionado à cidadania. Assim, cidadão e cidadã são pessoas

que exercem seus direitos e seus deveres civis e políticos em uma sociedade.

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Podemos plantar árvores durante todo o ano?

Não, não é recomendável, pois há períodos do ano de escassez ou mesmo ausência de chuvas em

muitas regiões brasileiras. Nesses períodos de seca devemos evitar o plantio de árvores, pois é uma

época do ano em que o solo possui menor quantidade de água disponível para as raízes, e o ar tem

menor umidade favorável às folhas. É importante considerar que o período de estiagem, ou seja, de

menor quantidade de precipitação21 de chuva, varia de região para região. Há, entretanto, regiões no

Brasil em que chove bem durante todo o ano. Se você não sabe como é a distribuição das chuvas em sua

região, procure observar o tempo atmosférico22 ao longo de alguns anos e também converse com seu

(sua) professor(a) ou com seus pais sobre o assunto. Provavelmente eles devem ter uma noção da

distribuição das chuvas ao longo do ano em sua cidade.

É importante, ainda, considerar que, assim que começa o período das chuvas, há um tempo para

que o solo comece a armazenar água. Esse tempo varia de acordo com a quantidade de água que cai no

início do período chuvoso e conforme das condições e tipos de solo. De um modo geral, é bom fazer o

plantio depois de um mês do início do período das chuvas.

A escolha do local de plantio da muda, bem como de sua espécie, requer muita atenção!

Dependendo então do espaço disponível, faremos a escolha da espécie a ser plantada. As espécies

possuem características diferentes, como, por exemplo: porte, que envolve a altura da árvore e a largura

da copa; sistema radicular, que se refere ao formato das raízes no solo e subsolo; espessura do caule;

tipos de folhas; permanência ou queda das folhas ao longo do ano; época e efeito da floração; tipo de

21 Fenômeno em que a nebulosidade atmosférica se transforma em água ou gelo, formando o orvalho, a chuva, a neve e

o granizo. Chamamos de nebulosidade o fenômeno em que as gotículas de água em suspensão na atmosfera formam

nuvens. Mas a nebulosidade se refere também às condições de cobertura do céu, que pode ser, por exemplo, estar claro,

parcialmente encoberto ou totalmente encoberto. Assim, quando ouvimos as previsões meteorológicas que indicam que

o céu se encontra totalmente encoberto, isso significa que ele está encoberto por nuvens e que provavelmente irá

chover. 22 Indica as condições de ar (chuva, vento, frio, calor, etc), em determinado momento e local. É muito comum

conversarmos com as pessoas sobre as condições do tempo atmosférico. Quando dizemos que o tempo está chuvoso,

quente, frio ou seco, estamos fazendo um resumo das condições meteorológicas que vemos e sentimos naquele

momento. Na verdade, para cada um desses tipos de tempo há diversos parâmetros meteorológicos que podem ser

medidos separadamente, como, por exemplo, temperatura do ar, umidade relativa do ar, velocidade do vento,

nebulosidade, luminosidade, precipitação, pressão atmosférica etc. Para cada um desses parâmetros meteorológicos

existem equipamentos apropriados de medição. É com esses parâmetros que trabalham os meteorologistas, e é a partir

deles que se fazem as previsões do tempo atmosférico.

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agente polinizador; período de frutificação; características dos frutos; animais que consomem esses

frutos; e dispersão das sementes23.

Essas características são diferentes de uma espécie de árvore para outra.

Assim, é importante sabermos se estamos plantando a muda em local adequado. Esse local pode

ser o quintal, a calçada pública em frente da nossa casa, a praça, a chácara, o clube de lazer ou a escola.

Mas, atenção, toda vez que formos plantar árvore em logradouro público24 é necessário comunicar à

prefeitura.

Para conhecer as características das várias espécies vamos precisar pesquisar para obter

informações precisas a respeito. Para isso, podemos não só lançar mão dos livros de botânica, dos

manuais de arborização, como também consultar profissionais que trabalham na área (engenheiros

agrônomos e florestais, arquitetos, biólogos, ecólogos e geógrafos), seja em órgão público, como as

prefeituras, seja em empresas particulares. Podemos ainda conversar com os jardineiros, que conhecem

bem as árvores, pois trabalham no dia-a-dia com elas. É importante também observar com atenção as

árvores que existem na nossa cidade, procurando saber a que espécies pertencem e se elas se ajustam ao

local em que foram plantadas.

3.2) Poda

Você já ouviu falar de podar as árvores que vivem nas florestas naturais?

Com certeza não! As podas só existem para árvores que vivem nas cidades. Há também podas

em árvores plantadas para fins econômicos, como os reflorestamentos de eucaliptos e pinheiros, em que

a madeira é usada para fazer o papel ou a fabricação de móveis.

23 Consiste na migração da semente para a terra. As sementes que estão nos frutos se dispersam de diferentes maneiras,

isto é, elas migram do fruto para a terra por intermédio da água, do vento e dos animais. Cada espécie possui sua

estratégia de dispersão, pois disso dependerá o nascimento de novas plantas da espécie. A paineira, por exemplo, possui

dentro do seu fruto a paina que envolve as sementes. Quando os frutos se abrem, normalmente nos meses de agosto e

setembro, período de ventos mais fortes no Centro-Sul do Brasil, as sementes são carregadas junto com a paina para

lugares mais distantes, onde poderão germinar. A paina tem também a função de conservar a umidade da semente, o

que favorece a germinação. Já os carrapichos de todos os tipos, que grudam nas roupas das pessoas e nos pêlos dos

animais, encontram nisso uma forma de dispersar suas sementes. A pessoa ou o animal então passa a ser o agente

dispersor que carrega as sementes para outros locais. Quando caem no chão, estas poderão germinar, dando origem a

uma nova planta da espécie. 24 É qualquer espaço livre que se destine ao uso comum do povo, como, por exemplo, avenidas, ruas e calçadas, praças,

parques e jardins públicos. Trata-se de espaços que não podem ser vendidos ou cedidos, por serem essencialmente

públicos. Nas cidades eles estão sob responsabilidade das prefeituras, mas a sua conservação depende também da

colaboração da comunidade.

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As árvores são seres vivos cujo tamanho e formas são predeterminados pela sua constituição

genética. Cada espécie tem sua maneira de desenvolver-se e seu próprio tipo de copa, tronco, raízes,

folhas, flores e frutos. Não é possível alterar essas características naturais de cada espécie. Por isso, toda

poda é considerada uma agressão à árvore.

Mas então porque podamos as árvores na cidade?

Por que na cidade as árvores precisam conviver com fios, postes, trânsito de veículos, placas de

sinalização, casas, prédios, e todo o tipo de atividade humana. É uma questão de espaço. Aprendemos na

física que dois corpos não ocupam o mesmo lugar. Por isso, para compatibilizar a presença das árvores e

os equipamentos e atividades urbanas, em muitos casos temos que fazer o uso da poda.

No entanto, quando a poda é feita em época apropriada, em árvores mais jovens, e quando os

cortes dos galhos são feitos corretamente e com ferramentas adequadas, os prejuízos à planta são bem

menores. Esse trabalho deve ser coordenado e exercido por profissionais que conheçam as

características de cada espécie e qual tipo de poda poderá ser feito em cada situação. É necessário,

portanto, ter competência técnica para podar bem, como respeito pela árvore e para que ela sofra menos

danos.

Uma árvore jovem tem maior capacidade de cicatrização25 e regeneração do que uma árvore

adulta ou senil. Por isso, o ideal é orientar, por meio de poda, o crescimento da árvore desde cedo,

quando ela ainda é uma muda, para que ela adquira uma forma compatível com o espaço disponível.

Essa medida evitará problemas futuros com os equipamentos urbanos e as atividades humanas. Esse tipo

de poda, em que são cortados galhos finos, pode ser feito em qualquer período do ano.

A poda de galhos mais grossos (com mais de 3 a 4 cm de diâmetro) deve ser executada no final

do inverno e início da primavera. Neste período, a ausência ou pouca quantidade de folhas facilita uma

visão geral da copa da árvore. É importante observar que nessa época do ano as árvores têm maior

capacidade de cicatrização, pois estão saindo do período de repouso vegetativo26.

Uma outra regra geral é evitar a poda no período em que as árvores se encontram floridas.

Várias espécies, como ipês, flamboyants, jacarandás, sibipirunas, quaresmeiras, unhas-de-vaca, ficam

belíssimas no período em que estão floridas. Realmente, não faz sentido algum podar as árvores quando

elas estão com flores.

3.3) Extração

25 Processo de regeneração ou recuperação de tecidos, em que se forma uma cicatriz. 26 Coincide com a época de estiagem do ano, ou seja, época de poucas chuvas. Como há pouca água disponível no solo

e no ar, as plantas diminuem o ritmo de suas atividades, produzindo pequenas quantidades de ramos e folhas. Algumas

espécies chegam a perder todas as folhas, evitando assim a perda de água pela superfície das mesmas. Essas espécies

são chamadas de caducas, pois as folhas caem no período mais seco do ano. No Centro-sul do Brasil esse período

coincide com o outono-inverno, acentuando-se nos meses de julho, agosto e início de setembro.

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Existem situações na cidade em que algumas árvores estão tão velhas ou doentes que é preciso

extraí-las, ou seja, cortá-las por inteiro. São casos em que há o risco de a árvore cair por força da chuva

ou do vento forte. Há também situações de risco envolvendo espécies de grande porte, que, plantadas

em locais inadequados, podem, por exemplo, causar danos a residências ou patrimônio público. Nesses

casos a melhor medida é retirar a árvore e substituí-la por uma espécie de porte menor.

Extrair a árvore significa retirá-la por inteiro, inclusive suas raízes. A madeira do tronco e dos

galhos poderá ser útil em serviços de carpintaria. Os ramos, as folhas e as raízes poderão ser triturados e

transformados em adubo verde. Muitas vezes, porém, as raízes não são retiradas e sobra uma pequena

parte do tronco rente ao chão. Essa é uma prática condenável, pois a extração deve implicar a remoção

de todas as partes da árvore.

Vale lembrar que nenhuma pessoa pode cortar árvores na cidade sem autorização. Como já

vimos, elas pertencem a todos os seus habitantes, pois são um bem de interesse coletivo. A autorização

para extração do órgão ambiental27 do município.

Quando houver problemas com árvores, a primeira medida a tomar é solicitar uma vistoria

técnica do órgão ambiental. Na vistoria serão avaliadas as condições da árvore e indicadas as

providências necessárias. Às vezes achamos que o problema só será resolvido se a árvore for cortada.

Outras vezes ignoramos que a árvore da frente de nossa casa está muito doente e não tomamos nenhuma

providência. Como já vimos, existem profissionais especializados nas prefeituras. São eles que irão

recomendar o que deverá ser feito em cada situação. Para isso é preciso pedir uma vistoria técnica na

árvore.

3.4) Controle fitossanitário

Para preservar a arborização urbana, é necessário fazer o controle fitossanitário. Esse controle

corresponde aos cuidados que devem ser tomados na defesa dos vegetais contra pragas e doenças. Uma

árvore infestada por alguma praga, como cupim, por exemplo, deve receber os cuidados necessários

para que continue vivendo. Esses cuidados devem ser orientados por um profissional que saiba o que

realmente deve ser feito para salvar a árvore e controlar a praga.

27 Setor público que trata de questões ambientais. Muitas cidades brasileiras já têm suas secretarias municipais de meio

ambiente. Outras cidades possuem um departamento de meio ambiente. São órgãos do poder executivo do município,

ou seja, das prefeituras. Uma de suas funções é organizar o desenvolvimento da cidade, garantindo a proteção do

ambiente. Uma maneira de se garantir a conservação da água, do solo, das árvores e dos animais é por meio das leis

ambientais. Essas leis são feitas pelo órgão ambiental municipal e devem ser aprovadas pela câmara dos vereadores

(Poder Legislativo). Além de propor leis, cabe ainda ao órgão ambiental exigir o cumprimento delas por meio da

fiscalização. Por isso é necessário que estes órgãos contem com profissionais habilitados para acompanhar tudo o que

diz respeito ao ambiente.

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O controle fitossanitário pode ser preventivo ou curativo. O controle preventivo é aquele em que

medidas são tomadas para que as pragas e as doenças sejam evitadas. Já o controle curativo diz respeito

às medidas aplicadas a plantas já doentes ou infestada por alguma praga. Nesse sentido, podemos fazer

uma comparação da vida das plantas com a nossa vida. Se cuidarmos da nossa saúde no dia a dia,

mantendo uma boa alimentação, praticando alguma atividade física, descansando o necessário,

poderemos assim evitar muitas doenças. Esses cuidados são, portanto, preventivos. Mas, se já estamos

doentes, é necessário tomar medidas que nos ajude a sarar. Essas são as medidas curativas. Existe um

ditado muito conhecido que diz "melhor prevenir do que remediar". Então, fique atento à sua saúde e

também à saúde das plantas. O Quadro 2 traz algumas indicações de controle fitossanitário.

Quadro 2: Principais cuidados relacionados ao controle fitossanitário em árvores urbanas. Controle Fitossanitário Preventivo

1. Usar espécies nativas da região onde está localizada a cidade _ As chances de desenvolvimento são

maiores e a ocorrência de doenças e pragas são bem menores, pois a espécie já está adaptada às

condições ambientais da região.

2. Escolher espécies com maior resistência a pragas e doenças _ Existem espécies de árvores mais

rústicas, isto é, mais fortes diante o ataque de pragas. Entre as espécies exóticas, ou seja, originadas

em outra região, deve-se utilizar aquelas mais resistentes e não as mais vulneráveis.

3. Selecionar sementes saudáveis para a formação de mudas _ Uma forma muito comum de plantas

serem atacadas por pragas e doenças é por meio de sementes que não foram tratadas nem

selecionadas.

4. Garantir o desenvolvimento saudável da muda no período em que ela se encontra em formação _

Nos viveiros onde são formadas as mudas é muito importante controlar as condições ambientais,

para que a planta cresça forte e saudável. É como cuidar de um bebê nos primeiros meses de vida!

Cada espécie tem as suas exigências com relação à temperatura, à luminosidade, à umidade do ar e

do solo, aos nutrientes disponíveis no solo etc.

Controle Fitossanitário Curativo

1. Fazer o controle biológico de pragas _ As pragas têm seus inimigos naturais, os predadores. Uma

espécie torna-se praga quando a sua população aumenta assustadoramente e passa a causar

problemas para outras espécies de seres vivos, seja de plantas, seja de animais. Ocorre então um

desequilíbrio na cadeia alimentar. Para restabelecer o equilíbrio, pode-se introduzir mais predadores

daquela praga no ambiente. As cigarras, por exemplo, quando em desequilíbrio (grande população),

tornam-se uma praga para a arborização urbana, bem como fonte de poluição sonora. Seus inimigos

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naturais são corujas, bem-te-vis, anus e outras aves. Uma maneira de controlar a grande quantidade

de cigarras é estimular a sobrevivência dessas aves.

2. Usar produtos químicos para controlar pragas e doenças _ No caso da arborização urbana, ainda não

há no Brasil uma lei que regulamente, ou seja, que permita o uso de produtos químicos para

combater pragas e doenças. Para a agricultura, pecuária, fruticultura e hortas existem os defensivos

agrícolas, e para habitações e outras construções existem os produtos domissanitários. Como a

arborização urbana está presente em ambiente público, onde circulam muitas pessoas, o uso de

produtos químicos não é permitido. Até agora só é permitido o uso de produtos químicos que

controlam plantas daninhas _ os chamados herbicidas. Inseticidas, acaricidas, bactericidas,

fungicidas e nematicidas não podem ser utilizados nos espaços públicos.

3. Fazer uso de inseticidas caseiros para controlar pragas _ Esses produtos que podem ser elaborados

em casa dão bons resultados e não causam prejuízos à planta e nem ao ambiente. Anote essa receita:

“Calda de fumo”: pique 20 gramas de fumo de rolo bem forte e coloque para ferver durante meia

hora em um litro de água. Coe em pano fino e misture em três litros de água limpa. Borrife ou

pulverize esse líquido diretamente na praga que está em sua planta. O produto deve ser utilizado no

mesmo dia em que foi feito. Pode ser utilizado contra cochonilha, ácaro, pulgão e formigas. Outros

produtos caseiros, tais como calda de água e sabão, calda bordaleza e cinza de fogão à lenha, podem

ser utilizados também. Procure obter informações sobre como elaborá-los.

4. Controlar manualmente alguns tipos de pragas _ Lagartas, besouros e cupins podem ser controlados

manualmente no início da infestação. No caso de besouros que estão prejudicando alguma árvore,

pode ser feita uma coleta dos que já são adultos e eliminá-los. O mesmo se aplica às lagartas que

estão se alimentando das folhas da árvore. No caso de cupins, o que pode ser feito é destruir a casa e

os túneis que eles fazem no tronco e nos galhos das árvores. Para isso use uma bucha resistente. Em

todas essas situações, é necessário usar luvas para proteger as mãos de picadas e de outros acidentes.

II) Contribuição da Arte

Seguem as letras de duas músicas sobre árvores, um conto sobre o corte de uma árvore e um

texto sobre a chegada da primeira palmeira imperial no Brasil. A partir desse material é possível

preparar aulas e atividades sobre arborização urbana. A partir da utilização desse material artístico abre-

se a possibilidade de chamar a atenção para o conteúdo estético do tema. As atividades desenvolvidas

com música, poesia, teatro, cinema e pintura, permite a construção de um momento com maior conteúdo

emocional, despertando-nos para os sentidos do amor e do prazer, importantes no processo de ensino-

aprendizagem.

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Quadro 1: Letra da Música “As árvores” de Arnaldo Antunes.

As árvores são fáceis de achar

Ficam plantadas no chão

Mamam de sol pelas folhas

E pela terra

Também bebem água

Cantam no tempo

E recebem a chuva de galhos abertos

As que dão frutas

E as que dão frutos

As de copa larga

E as que habitam esquilos

As que chovem depois da chuva

As cabeludas

As mais jovens mudas

As árvores ficam paradas

Uma a uma enfileiradas

Na alameda

Crescem para cima como as pessoas

Mas nunca se deitam

O céu aceitam

Crescem como as pessoas

Mas não são soltas no espaço

São maiores

Mas, ocupam menos espaço

Árvore da vida

Perdão pelo coração que eu desenhei em você

Com o nome do meu amor

Árvore da vida

Árvore querida

Perdão pelo coração que eu desenhei em você As árvores

Com o nome do meu amor ( Jorge Benjor / Arnaldo Antunes )

As árvores são fáceis de achar

Ficam plantadas no chão

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Quadro 2: Letra da música “Matança” de Augusto Jatobá

Cipó caboclo tá subindo na virola

Chegou a hora do pinheiro balançar

Sentir o cheiro do mato da imburana

Descansar morrer de sono na sombra da barriguda

De nada vale tanto esforço do meu canto

Pra nosso espanto tanta mata haja vão matar

Tal mata atlântica e a próxima amazônica

Arvoretos seculares impossível replantar

Que triste sina teve o cedro nosso primo

Desde de menino que eu nem gosto de falar

Depois de tanto sofrimento seu destino

Virou tamborete mesa cadeira balcão de bar

Quem por acaso ouviu falar da sucupira

Parece até mentira que o jacarandá

Antes de virar poltrona porta armário

Mora no dicionário vida eterna milenar

Quem hoje é vivo corre perigo

E os inimigos do verde da sombra

O ar que se respira

E a clorofila das matas virgens

Destruídas bom lembrar

Que quando chegar a hora

É certo que não demora

Não chame Nossa Senhora

Só que pode nos salvar

É caviúna, cerejeira, baraúna

Imbuia, pau-d'árco, solva

Juazeiro, jatobá

Gonçalo-alves, paraíba, itaúba

Louro, ipê, paracaúba

Peroba, massaranduba Matança

Carvalho, mogno, canela, imbuzeiro Compositor: Jatobá, interpretação: Xangai

Catuaba, janaúba, aroeira, araribá

Pau-ferro, angico, amargoso, gameleira

Andiroba, copaíba, pau-brasil, jequitibá

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Quadro 3: Conto "A última canafístula" de Charles Kiefer

Canafístula, repetiu meu avô, batendo a mão espalmada contra a casca da árvore. Deve

ter mais de trezentos anos, continuou. Olhei pra árvore, olhei pra ele. Eu jurava que ele era mais

velho que ela. Gosto desta canafístula, ele disse. Olhou pra cima e ao redor, bateu outra vez na

casca grossa e rugosa. Porque é a última, continuou. Deve ser muito triste, eu disse. O quê?, ele

perguntou. O que deve ser triste? Ser a última, eu disse. É, ele respondeu. Levantou a cabeça, olhou

pra cima; fiz o mesmo. Não dava pra ver a copada. Deve ser frio lá em cima, eu disse. Melhor que

aqui embaixo, ele retrucou, ao menos não fica sufocada. É, respondi e cheguei a sentir no rosto o

ventinho bom que soprava lá em cima. Será que ela sabe?, perguntei. O quê, ele murmurou. Que é a

última, respondi. Sabe, é claro que sabe, ele disse e alisou a casca da árvore. Saber é pior, dói mais.

Ficou quieto. Eu queria falar, puxar assunto, mas não conseguia: ele estava ali e não estava. De

repente, vi uma lágrima, uma só, escorrendo pelo seu olho direito. Fingi não ver, ele aproveitou pra

se enxugar. Entrou um cisco no meu olho, ele falou. Caiu da canafístula, eu disse. Viu só, agora

você diz o nome dela certinho. É, eu respondi. Ele sorriu. Quantos dias eles vão levar pra chegar

aqui?, eu perguntei. Uns três, com as motosseras em três dias eles vão conseguir derrubar todo o

mato. Não quero ver, eu disse. O quê, ele perguntou. Não quero ver ela cair, expliquei. Eu também

não, ele respondeu. Ficou em silêncio outra vez. Vamos dar um abraço nela, eu disse, de despedida?

Vamos, ele retrucou. Abri os meus braços o mais que pude, mas não consegui alcançar os dedos de

meu avô do outro lado. Não dá, ele disse. É muito grossa, respondi. Vamos, ele disse, já está

escurecendo. Pegou a minha mão e me levou pra casa. Ele tinha a mão áspera e fria, como a casca

da canafístula.

Conto de Charles Kiefer, publicado no jornal "O Estado de São Paulo", em 07/04/90

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Quadro 4 - A primeira palmeira imperial no Brasil

A palmeira imperial, cujo nome científico é Roystonea oleracea é originária da Venezuela e

da Colômbia, países vizinhos ao Brasil. Mas a primeira palmeira imperial trazida ao Brasil não veio

de nenhum desses dois países. A muda do primeiro exemplar dessa espécie foi trazida da Ilha

Mauritius, localizada no Oceano Índico, antes denominada Ilha de Bourbon. Dominada pelos

franceses, nesta ilha havia um jardim de aclimatação de plantas tropicais, onde existia exemplares

da palmeira imperial, levada dos países sul-americanos. A tripulação de um navio português, vindo

de Goa para o Brasil foi presa por um navio de guerra francês e conduzida para aquela ilha, onde os

marinheiros tiveram que trabalhar no viveiro do jardim de aclimatação. Algum tempo depois,

navios ingleses assaltaram e ocuparam a ilha, libertando os marinheiros portugueses e facilitando-

lhes a viagem para o Brasil. Permitiram que levassem consigo alguns caixotes com mudas de

plantas, frutos de seu trabalho forçado na ilha. Chegando ao Rio de Janeiro, os marinheiros

presentearam as mudas trazidas ao Príncipe Dom João VI. Este se estusiasmou com o porte bonito

da muda de uma palmeira e fez questão de plantá-la com as próprias mãos em seu Real Horto, em

1809. Este era o nome do Jardim Botânico naquela época. Este exemplar, único no Brasil, existiu

até 1972, quando foi fulminado por um raio, com 163 anos de idade. A palmeira tinha 40 metros de

altura e um diâmetro de um metro e meio na base do tronco. Deste exemplar descendem todas as

outras palmeiras imperiais presentes no Jardim Botânico e as demais que se espalharam pelo Brasil.

Este texto foi parcialmente transcrito e também alterado a partir de uma palestra do professor Harry

Blossfeld, sobre a utilização de plantas ornamentais no paisagismo no Brasil, proferida no 4o

Congresso Brasileiro de Floricultura e Plantas Ornamentais, realizado no Rio de Janeiro, em 1983.

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III) Sugestões de atividades interdisciplinares

1. Arborizando o entorno da escola : esta atividade pode ser desenvolvida por um grupo de

professores de quaisquer disciplinas.

Esta é uma atividade prática, cujo objetivo é arborizar as calçadas no entorno da escola.

Caso nesse local todas as calçadas já sejam arborizadas, escolha um quarteirão próximo à escola

que seja desprovido de árvores. Pode ocorrer também, isso é muito comum, que existam calçadas

que precisem de um incremento na quantidade de árvores. Primeiro deve ser feito o planejamento

do plantio. Nesta fase pode ser solicitada a ajuda de profissionais que trabalham com arborização

na cidade. Leve em consideração os critérios para plantio, como por exemplo: largura da calçada;

presença de fiação aérea (elétrica - baixa e alta tensão, telefônica, tv a cabo); existência de postes;

rebaixamento de guia para entrada de veículos; encanamentos; distâncias mínimas entre árvores,

postes e placas de sinalização etc. Também leve em conta a localização da escola em relação ao

percurso que o sol faz nos períodos de verão e inverno. Em seguida pode ser feita a escolha das

espécies. Isso deverá acontecer levando-se em conta as restrições existentes nas calçadas. Neste

momento será necessário consultar livros e catálogos, bem como, técnicos e jardineiros que

trabalham com árvores. Após a fase de planejamento, pode ser definido o dia ou a semana de

plantio -- não se esqueça de que isso deve ser feito no período das chuvas. Guarde 3 ou 4 semanas

para os preparativos: obtenção das mudas; abertura das covas; preparação da terra; obtenção dos

tutores e gradis de proteção; abertura do canteiro ao redor da cova e conserto da calçada.

Provavelmente será necessária a ajuda dos funcionários da escola nesta fase, procure envolvê-los.

Após essa fase, procure estender a atividade para todas as outras classes, apresentando o projeto e

solicitando que cada uma plante uma muda e fique responsável por ela. Podem ser confeccionadas

placas com o nome da espécie e a identificação da classe responsável. Enfim, plantem,

comemorem e faça com que os alunos se responsabilizem pelos cuidados necessários durante o

desenvolvimento das mudas.

Essa atividade pode ser estendida para outros quarteirões próximos à escola. O(s)

professor(es) devem sentir se isso é viável. Caso optem pela ampliação do projeto, procurem

envolver as famílias, a prefeitura e as empresas que lidam com produção, comercialização e plantios

de árvores.

2. Pesquisa de opinião pública sobre a arborização urbana : essa atividade pode ser desenvolvida

pelos professores de Geografia, Português e Matemática.

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O objetivo é saber se as pessoas estão contentes com a arborização que existe na sua cidade.

Tome como base algumas questões para orientar as entrevistas com a população. As perguntas

podem ser elaboradas pelo professor em conjunto com os alunos. Algumas sugestões de perguntas à

pessoa a ser entrevistada: a) Você acha importante ter árvores em uma cidade? Por quê? b) Você

está satisfeito com a arborização da cidade? Por quê? c) Existem problemas com as árvores da sua

rua ou do seu quintal? Que tipo de problema? d) O que você tem feito para ajudar na melhoria das

condições das árvores?; e) Já solicitou o corte ou a poda de árvores? Por quê motivo? A pesquisa

deve ser por amostragem e pode representar a opinião da população do bairro ou da cidade. O

professor deve indicar quantas pessoas devem ser entrevistadas e em que locais. Oriente os alunos a

fazer as entrevistas sempre em dupla, procedendo da seguinte maneira: um pergunta e conversa com

o entrevistado, enquanto o outro só anota ou grava a fala. Após as entrevistas organize a tabulação

dos dados, junto com os alunos. Para isso é fundamental a participação do professor de Matemática.

Os resultados poderão fazer parte de um relatório, ser divulgado na escola e também encaminhado

ao setor de parques e jardins da prefeitura. Outra possibilidade é redigir uma matéria (ou artigo) a

partir desse relatório e encaminhá-la a algum jornal da cidade.

3. Sentindo os benefícios da arborização : essa atividade pode ser desenvolvida pelos professores de

Ciências, Geografia e Educação Física.

Essa atividade tem o objetivo de trabalhar a percepção sensorial e estética do aluno.

Organize uma excursão que percorra um trajeto previamente definido, estabelecendo uma espécie

de trilha urbana. Procure incluir ruas com maior e menor movimento de veículos, o centro da cidade

onde haja maior quantidade de construções, árvores grandes isoladas, uma praça ou um local bem

arborizado, um bairro tranqüilo ou a casa de um aluno onde haja bastante vegetação e outros pontos

diversos. A idéia é sentir e observar as diferenças que existem entre locais com vegetação e locais

sem vegetação. Por exemplo: perceber as diferentes sensações quando estamos embaixo de uma

grande árvore e quando estamos no meio da rua ou num pátio de estacionamento de carros; notar

que os ruídos (barulhos) dentro de uma residência onde exista muita vegetação ao redor, ou num

bosque, diferem daqueles ouvidos em uma rua com intenso movimento de automóveis; observar a

diferença entre uma rua ou uma avenida bem arborizada, com árvores floridas, e uma rua sem

arborização. O importante nessa atividade é ficar mais atento às sensações do corpo e também ao

que cada um dos alunos considera belo na paisagem da cidade. É uma atividade de percepção

ambiental.