superando dificuldades

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O que leva uma família a abandonar a cidade e ir buscar dias melhores no campo? Foi indo na contramão de muita gente que seu Enoque Alves de Araújo deixou a zona urbana de Castelo do Piauí para morar na localidade Morada Nova, do mesmo município. Natural de Cabaças no Ceará, seu Enoque já andou em tantos lugares até chegar ao povoado Morada Nova. Chegando em Castelo em 1985, ele e a família passaram por dificuldades. “Era tudo muito brabo”. Até que um dia ele decidiu vender a casa que tinham em Castelo e comprar 10 cabeças de bode para criar em uma propriedade que adquiriram na localidade. O pequeno criador diz que, quando a família começou a criar os bodes, tinham deles que dava 35 quilos de tão gordo e nutrido. Os negócios da família estavam tão bem que ele chegou a ter mais de 100 cabeças de bode em uma propriedade de 80 hectares. Mas a criação de seu Enoque não deu certo, não por causa de falta de recursos ou pouca vontade em produzir, mas por rixas com uma proprietário vizinho que chegou a matar suas crias. Pacífico, seu Enoque preferiu não brigar e deixou de criar seus bodes. Hoje o agricultor e pecuarista usa seus conhecimentos para cuidar da criação de cerca de 70 cabeças do genro Antonio Almeida Abreu, o Antonio Cabôco, que mora na cidade. Na propriedade ele mantém um plantio de sequeiro, onde cultiva feijão e milho para a alimentação da família e da criação. O milho é colocado na forrageira com casca e tudo e sai só o “xerém” que serve como uma ração natural para complementar a alimentação do rebanho, que, segundo ele, é mais rentável que o gado. Para adubar o plantio, seu Enoque aproveita o esterco do bode que é um ótimo estrume. Ele conta que este ano toda a plantação, tanto de milho quanto de feijão, deram com uma semente bem “graúda” por causa do adubo natural. O agricultor mantém ainda um banco de sementes próprio em casa para que todos os anos tenha como plantar sem precisar comprar semente na cidade e para que o fruto seja semelhante ao do ano que passou. Piauí Ano 1 | nº 02 | julho | 2008 Castelo do Piauí - PI Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Superando dificuldades Conhecimento e fé garantem sustento para a família do seu Enoque 1 Criação já chega a 70 cabeças Seu Enoque mostra cabrito bem nutrido Projeto Piloto

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Page 1: Superando dificuldades

O que leva uma família a abandonar a cidade e ir buscar dias melhores no campo? Foi indo na contramão de muita gente que seu Enoque Alves de Araújo deixou a zona urbana de Castelo do Piauí para morar na localidade Morada Nova, do mesmo município.

Natural de Cabaças no Ceará, seu Enoque já andou em tantos lugares até chegar ao povoado Morada Nova. Chegando em Castelo em 1985, ele e a família passaram por dificuldades. “Era tudo muito brabo”. Até que um dia ele decidiu vender a casa que tinham em Castelo e comprar 10 cabeças de bode para criar em uma propriedade que adquiriram na localidade.

O pequeno criador diz que, quando a família começou a criar os bodes, tinham deles que dava 35 quilos de tão gordo e nutrido. Os negócios da família estavam tão bem que ele chegou a ter mais de 100 cabeças de bode em uma propriedade de 80 hectares.

Mas a criação de seu Enoque não deu certo, não por causa de falta de recursos ou pouca vontade em produzir, mas por rixas com uma proprietário vizinho que chegou a matar suas crias. Pacífico, seu Enoque preferiu não brigar e deixou de criar seus bodes. Hoje o agricultor e pecuarista usa seus conhecimentos para cuidar da criação de cerca de 70 cabeças do genro Antonio Almeida Abreu, o Antonio Cabôco, que mora na cidade.

Na propriedade ele mantém um plantio de sequeiro, onde cultiva feijão e milho para a alimentação da família e da criação. O milho é colocado na forrageira com casca e tudo e sai só o “xerém” que serve como uma ração natural para complementar a alimentação do rebanho, que, segundo ele, é mais rentável que o gado.

Para adubar o plantio, seu Enoque aproveita o esterco do bode que é um ótimo estrume. Ele conta que este ano toda a plantação, tanto de milho quanto de feijão, deram com uma semente bem “graúda” por causa do adubo natural. O agricultor mantém ainda um banco de sementes próprio em casa para que todos os anos tenha como plantar sem precisar comprar semente na cidade e para que o fruto seja semelhante ao do ano que passou.

Piauí

Ano 1 | nº 02 | julho | 2008Castelo do Piauí - PI

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Superando dificuldadesConhecimento e fé garantem sustento para a

família do seu Enoque

1

Criação já chega a 70 cabeças

Seu Enoque mostra cabrito bem nutrido

Projeto Piloto

Page 2: Superando dificuldades

Os bodes do seu Enoque também são criados com alimentação da vegetação natural da região o que, segundo ele, faz com que os bichos fiquem mais fortes e dificilmente dão alguma doença. Ele e a esposa soltam os animais de manhã bem cedo para irem comer, e quando já estão de bucho cheio, por volta das três da tarde começam a retornar para beber água. Eles só voltam pro cercado de tardezinha quando o sol já baixou e o tempo está menos quente.

A água que ele dá para os bichos vem de um poço construído na localidade, que abastece todas as famílias que moram no lugar. A água é armazenada em uma caixa d’água e distribuída nas casas através de uma rede de canalização. Mas o poço não dá água o tempo todo o que é um tormento para a população que tem que andar muito para buscar água do açude nos dias mais quentes do ano.

Além disso, os moradores contam que a água do poço é salobra e que é ruim para beber e para cozinhar. Para as atividades domésticas o problema foi resolvido com a construção das cisternas de 16 mil litros do Programa Um Milhão de Cisternas Rurais, o P1MC da ASA. Cada casa da comunidade conta com sua cisterna própria que garante água de qualidade para as famílias.

A facilidade de ter água pertinho de casa também garantiu para a família laranja docinha no fundo do quintal. Na casa do seu Enoque tem quatro pés da laranja que ele diz que é da terra e que tem gosto, diferente da laranja incestada que vendem na feira. Para ele o segredo é não deixar faltar água no tronco para que dê uma laranja doce o ano inteiro.

A esperança da comunidade agora são as cisternas do Programa Uma Terra e Duas Águas da ASA (P1+2) que garantirá água para a produção. E seu Enoque já faz planos para quando sua cisterna for construída. Ele pretende plantar melancia para aumentar a renda da família, que ainda não consegue tirar uma renda boa da venda dos bodes, pois a maioria deles é usada para consumo próprio da família. Seu Enoque acredita na rentabilidade da melancia que é um produto valorizado na região e que, como as suas laranjas, vão ser bem cuidadas para que sejam bem gostosas e muito saudáveis.

Para ele tudo o que vem da terra e é tratado com carinho cresce bem. E que apesar de ser um homem pequeno, sempre trabalhou toda a vida sem esmurecer, pois a sua principal arma é a fé em deus e a esperança em dias melhores.

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Banco de sementes garante safra do ano

www.asabrasil.org.br

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Projeto PilotoPiauí

O PROJETO PILOTO DO P1+2 ESTÁ SENDO DESENVOLVIDO COM OS SEGUINTES APOIOS:

Ministério doDesenvolvimento Social

e Combate à Fome

Secretaria de Segurança Alimentar

e Nutricional

CENTRO REGIONAL DE ASSESSORIA E CAPACITAÇÃO

Seu Enoque, sua esposa e a criação