spe mod em 05 soc al - prepapp - para a...

64
APRESENTAÇÃO Este módulo faz parte da coleção intitulada MATERIAL MODULAR, destinada às três séries do Ensino Médio e produzida para atender às necessidades das diferentes rea- lidades brasileiras. Por meio dessa coleção, o professor pode escolher a sequência que melhor se encaixa à organização curricular de sua escola. A metodologia de trabalho dos Modulares auxilia os alunos na construção de argumen- tações; possibilita o diálogo com outras áreas de conhecimento; desenvolve as capaci- dades de raciocínio, de resolução de problemas e de comunicação, bem como o espírito crítico e a criatividade. Trabalha, também, com diferentes gêneros textuais (poemas, histórias em quadrinhos, obras de arte, gráficos, tabelas, reportagens, etc.), a fim de dinamizar o processo educativo, assim como aborda temas contemporâneos com o ob- jetivo de subsidiar e ampliar a compreensão dos assuntos mais debatidos na atualidade. As atividades propostas priorizam a análise, a avaliação e o posicionamento perante situações sistematizadas, assim como aplicam conhecimentos relativos aos conteúdos privilegiados nas unidades de trabalho. Além disso, é apresentada uma diversidade de questões relacionadas ao ENEM e aos vestibulares das principais universidades de cada região brasileira. Desejamos a você, aluno, com a utilização deste material, a aquisição de autonomia intelectual e a você, professor, sucesso nas escolhas pedagógicas para possibilitar o aprofundamento do conhecimento de forma prazerosa e eficaz. Gerente Editorial Trabalho e Política

Upload: others

Post on 18-Jul-2020

5 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

APRESENTAÇÃO

Este módulo faz parte da coleção intitulada MATERIAL MODULAR, destinada às três

séries do Ensino Médio e produzida para atender às necessidades das diferentes rea-

lidades brasileiras. Por meio dessa coleção, o professor pode escolher a sequência que

melhor se encaixa à organização curricular de sua escola.

A metodologia de trabalho dos Modulares auxilia os alunos na construção de argumen-

tações; possibilita o diálogo com outras áreas de conhecimento; desenvolve as capaci-

dades de raciocínio, de resolução de problemas e de comunicação, bem como o espírito

crítico e a criatividade. Trabalha, também, com diferentes gêneros textuais (poemas,

histórias em quadrinhos, obras de arte, gráficos, tabelas, reportagens, etc.), a fim de

dinamizar o processo educativo, assim como aborda temas contemporâneos com o ob-

jetivo de subsidiar e ampliar a compreensão dos assuntos mais debatidos na atualidade.

As atividades propostas priorizam a análise, a avaliação e o posicionamento perante

situações sistematizadas, assim como aplicam conhecimentos relativos aos conteúdos

privilegiados nas unidades de trabalho. Além disso, é apresentada uma diversidade de

questões relacionadas ao ENEM e aos vestibulares das principais universidades de cada

região brasileira.

Desejamos a você, aluno, com a utilização deste material, a aquisição de autonomia

intelectual e a você, professor, sucesso nas escolhas pedagógicas para possibilitar o

aprofundamento do conhecimento de forma prazerosa e eficaz.

Gerente Editorial

Trabalho e Política

Page 2: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Todos os direitos reservados à Editora Positivo Ltda.

© Editora Positivo Ltda., 2013Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio, sem autorização da Editora.

DIRETOR-SUPERINTENDENTE: DIRETOR-GERAL:

DIRETOR EDITORIAL: GERENTE EDITORIAL:

GERENTE DE ARTE E ICONOGRAFIA: AUTORIA:

CONSULTORIA:ORGANIZAÇÃO:

EDIÇÃO DE CONTEÚDO:EDIÇÃO:

ANALISTA DE ARTE:EDIÇÃO DE ARTE:

ILUSTRAÇÃO:PESQUISA ICONOGRÁFICA:

CARTOGRAFIA:PROJETO GRÁFICO:

EDITORAÇÃO:CRÉDITO DAS IMAGENS DE ABERTURA E CAPA:

PRODUÇÃO:

IMPRESSÃO E ACABAMENTO:

CONTATO:

Ruben FormighieriEmerson Walter dos SantosJoseph Razouk JuniorMaria Elenice Costa DantasCláudio Espósito GodoyFábia Berlatto / Patrícia Vieira Trópia / Renato Monseff Perissinotto / Adriano Nervo CodatoAdriano Nervo CodatoWilma Joseane WünschWilma Joseane WünschRose Marie WünschTatiane Esmanhotto KaminskiAngela Giseli de SouzaDivanzir Padilha / José AguiarVictor PuchalskiLuciano Daniel TulioO

2 Comunicação

Bettina Toedter Pospissil© iStockphoto.com/Nick Cowie; © iStockphoto.com/blackred; © iStockphoto.com/Abel Mitja Varela; © Shutterstock/Lane V. Erickson; © Shutterstock/Dmitriy KuzmichevEditora Positivo Ltda.Rua Major Heitor Guimarães, 17480440-120 Curitiba – PRTel.: (0xx41) 3312-3500 Fax: (0xx41) 3312-3599Gráfica Posigraf S.A.Rua Senador Accioly Filho, 50081300-000 Curitiba – PRFax: (0xx41) 3212-5452E-mail: [email protected]@positivo.com.br

Neste livro, você encontra ícones com códigos de acesso aos conteúdos digitais. Veja o exemplo:

Acesse o Portal e digite o código na Pesquisa Escolar.

@SOC497Capitalismo fabril

e mais-valia

@SOC497

@

Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP)

(Maria Teresa A. Gonzati / CRB 9-1584 / Curitiba, PR, Brasil)

B514 Berlatto, Fábia.Ensino médio : modular : sociologia : trabalho e política / Fábia Berlatto ... [ et al.] ;

ilustrações Divanzir Padilha, José Aguiar. – Curitiba : Positivo, 2013.: il.

ISBN 978-85-385-7155-1 (livro do aluno)ISBN 978-85-385-7156-8 (livro do professor)

1. Sociologia. Ensino médio – Currículos. I. Padilha, Divanzir. II. Aguiar, José. III.Título.

CDU 373.33

Page 3: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

SUMÁRIOUnidade 1: Natureza do trabalho nas sociedades divididas em classes

O trabalho no senso comum 5O conceito de trabalho para a Sociologia 5O trabalho nas diferentes sociedades 8Divisão técnica e capitalista do trabalho 10

Unidade 2: Força, condições e processos de trabalho no capitalismo

Mais-valia: fonte de riqueza 12Mais qualidade em menos tempo: taylorismo 15Racionalização do trabalho: fordismo 16Mudanças na produção e na organização do trabalho 18

Unidade 3: Trabalho, lutas e movimentos sociais

Luta coletiva dos trabalhadores 21História dos sindicatos 23Ideologias políticas e movimento sindical 24

Unidade 4: Classes e formas de estratificação social no capitalismo contemporâneo

Conceito de classe social na sociologia de Marx e Weber 26Estratificação social na Sociologia 27Estratificação social da sociedade contemporânea 29

Unidade 5: A Sociologia Política e o fenômeno do poder

A Sociologia Política 32O que é política? 35O que é decisão política? 36O que é comportamento político? 38O que é Sociologia Política? 39

Unidade 6: O conceito de poder

O que é poder? 40O poder como probabilidade 41O poder como relação social e imposição de vontade 42O poder como resistência e conflito 43O poder político 44

Unidade 7: O poder em ação

Fundamentos econômicos do poder político 46Fundamentos organizacionais do poder político 48Fundamentos informacionais do poder político 50Fundamentos culturais do poder político 51

Unidade 8: Poder, elites e democracia

A democracia contemporânea: uma democracia representativa 53Igualdade política e desigualdade social 54Condições necessárias e condições suficientes da democracia 55

O projeto gráfico atende aos objetivos da coleção de diversas formas. As ilustrações, diagramas e figuras contribuem para a construção correta dos conceitos e estimulam um envolvimento ativo com temas de estudo. Sendo assim, fique atento aos seguintes ícones:

Fora de escala numérica

Imagem ampliada

Representação artística

Formas em proporção

Escala numérica

Imagem microscópica

Coloração artificial

Coloração semelhante ao natural

Fora de proporção

Page 4: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Contrariamente à filosofia alemã, que desce do céu para a terra, aqui

parte-se da terra para atingir o céu. Isto significa que não se parte

daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo que

são nas palavras, no pensamento, na imaginação e na representação

de outrem para chegar aos homens em carne e osso; parte-se dos

homens, da sua atividade real.

MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã. São Paulo: Martins Fontes, 1980. p. 26.

Natureza do trabalho nas sociedades divididas em classes

1

Trabalho e Política4

Page 5: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

O trabalho no senso comum

Em geral, circulam ideologias (ver Conceitos sociológicos no final do módulo) sobre o trabalho, na forma de frases feitas, tais como: “brasileiro é indolente e preguiçoso”; “brasileiro não gosta de trabalhar”; “quem faz greve é a favor da vagabundagem”; “fun-cionário público é ineficiente”; etc.

Será que, em comparação com cidadãos de outros países, o brasileiro trabalha menos? Será que a produtividade do trabalho no Brasil é menor? Por que os trabalhadores que se organizam em movimentos são, geralmente, vistos como baderneiros? Essas são algumas

das questões que se deve ter em mente ao olhar para o trabalho de um ponto de vista sociológico.O campo de conhecimento da Sociologia que estuda o trabalho e o lugar dos trabalhadores na

estrutura de classes é a Sociologia do trabalho.

O conceito de trabalho para a Sociologia

Qualquer trabalho, em qualquer período histórico e sociedade, constitui um conjunto de atividades manuais e intelectuais criadas e planejadas pela espécie humana que, ao se apropriar de bens da natureza e modificá-los, visa à reprodução de seus indivíduos e, assim, da própria sociedade.

A sociedade não existiu sempre da mesma forma. Os grupos sociais não se organizaram cultural, política e economicamente de maneira idêntica. Ao elaborarem suas interpretações sobre a sociedade moderna, os clássicos da Sociologia destacaram o papel do trabalho, mais precisamente da divisão do trabalho (Émile Durkheim), da ética do trabalho (Max Weber) e das relações de trabalho (Karl Marx).

Embora Durkheim, Marx e Weber tenham considerado o trabalho uma categoria-chave para com-preender a organização das sociedades, há diferenças importantes entre eles.

Durkheim e o trabalho como forma de

solidariedade socialInteressado em explicar o que garante coesão entre os membros de determinada sociedade, Émile

Durkheim, em Da divisão do trabalho social (1893), divide as sociedades em antigas (hordas) e modernas. Nas sociedades antigas, o que garante a coesão e a perenidade social é a solidariedade mecânica (ver Leitura sociológica a seguir), fundada em crenças e valores religiosos comuns. Já nas sociedades modernas, os valores, as crenças e os interesses são diversificados, diferenciados. Por esse motivo, nestas, a coesão social é mais complexa, mas, ainda assim, existe. A divisão do trabalho social (as variadas profissões e a intensa especialização do trabalho) é que mantém a interdependência entre os indivíduos. O trabalho torna-se assim a fonte principal de solidariedade. Durkheim chama essa forma de coesão de solidariedade orgânica (ver Leitura sociológica a seguir).

Como o trabalho

é representado na

sociedade brasileira?

Dia do

Trabalho:

significado e

importância

histórica

@SOC165

Ensino Médio | Modular 5

SOCIOLOGIA

Page 6: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Divisão do trabalho e solidariedade social

É completamente diferente a solidariedade produzida pela divisão do trabalho. Enquanto a precedente

[a solidariedade mecânica] implica que os indivíduos se assemelhem, esta [a solidariedade orgânica] supõe que

difiram uns dos outros. A primeira só é possível na medida em que a personalidade individual é absorvida pela

personalidade coletiva. A segunda é apenas possível se cada um tem uma esfera de ação que lhe é própria,

por conseguinte, uma personalidade. [...] cada um depende tanto mais estreitamente da sociedade quanto mais

dividido é o trabalho, e, além disto, a atividade de cada um é tanto mais pessoal quanto mais especializada.

Sem dúvida, por mais circunscrita que seja [a atividade de cada um], [ela] não é jamais completamente

original; mesmo no exercício de nossa profissão, conformamo-nos a usos, a práticas que nos são comuns com

toda a nossa corporação. Mas, mesmo nesse caso, o jugo que sofremos é menos pesado do que quando a

sociedade inteira pesa sobre nós, e deixa muito mais lugar à livre ação de nossa iniciativa. Portanto, aqui a

individualidade do todo cresce ao mesmo tempo que a das partes; a sociedade torna-se mais capaz de mover-

-se como conjunto, ao mesmo tempo que cada um de seus elementos tem mais movimentos próprios.

DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 372. (Os pensadores).

Durkheim afirma que “no exercício de nossa profissão, conformamo-nos a usos, a práticas que nos são comuns com toda a nossa corporação”.

Escolha uma lista de cinco profissões diferentes (por exemplo: político, médico, advogado, engenheiro, professor, etc.) e procure mostrar quais são as atitudes que esses profissionais têm em comum, que valores sociais eles compartilham. Em seguida, reflita sobre a ideia de corporativismo profissional e sua relação com algo chamado de “espírito de corpo”.

Marx e o trabalho como forma de alienação socialPara Karl Marx, o trabalho também é fundamental para a compreensão das sociedades humanas.

É a fonte de toda a riqueza social. No capitalismo, Marx chama o trabalhador de “indivíduo nu”. Apesar de curiosa, a expressão é

apropriada porque, no capitalismo, o produtor direto está duplamente separado dos meios de produ-ção. Além de não ser proprietário dos meios de produção, dos instrumentos de trabalho, o trabalhador também não detém o controle técnico do processo produtivo.

Marx procurou analisar os efeitos do trabalho no capitalismo tendo em vista aquela separação. Ele chamou de alienação o efeito que o trabalho produz na consciência do trabalhador. O trabalho alienado provoca um estranhamento justamente porque o trabalhador não se reconhece no trabalho que realiza, não reconhece sua atividade nos produtos que ajuda a produzir.

A divisão social do trabalho, para Marx, caracteriza as sociedades divididas em classes, mas, na fase industrial do capitalismo, aquela dupla separação dos meios de produção (os instrumentos do trabalho e o controle dos seus processos) gera uma nova divisão técnica entre trabalho intelectual e trabalho manual. Essa divisão é comumente representada pela separação entre quem pensa e quem executa (ver Leitura sociológica a seguir).

Então, é possível concluir que, também para Marx, o trabalho e a divisão do trabalho são funda-mentais para a compreensão da sociedade. Assim, enquanto para Durkheim a divisão do trabalho na sociedade industrial é a fonte de solidariedade social, para Marx a divisão (técnica) do trabalho constitui a fonte de exploração do trabalho pelo capital.

Trabalho e Política6

Page 7: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Segundo Max Weber, a substituição do trabalho escravo pelo trabalho dos servos em uma gleba explicaria o declínio do Império Romano

A alienação do trabalhador

A apropriação do objeto [produzido pelo trabalho] aparece como alienação a tal ponto que quanto mais objetos o

trabalhador produz tanto menos pode possuir e tanto mais fica dominado pelo seu produto, o capital. Todas essas

consequências decorrem do fato de o trabalhador ser relacionado com o produto de seu trabalho como com um

objeto estranho. Pois está claro que, baseado nesta premissa, quanto mais o trabalhador se desgasta no trabalho

tanto mais poderoso se torna o mundo de objetos por ele criado em face dele mesmo, tanto mais pobre se torna a

sua vida interior, e tanto menos ele se pertence a si próprio. [...] Quanto maior for sua atividade, portanto, tanto

menos ele possuirá. O que está incorporado ao produto de seu trabalho não mais é dele mesmo. Quanto maior for

o produto de seu trabalho, por conseguinte, tanto mais ele minguará. A alienação do trabalhador em seu produto

não significa apenas que o trabalho dele se converte em objeto, assumindo uma existência externa, mas ainda que

existe independentemente, fora dele mesmo, e a ele estranho, e que com ele se defronta como uma força autônoma.

A vida que ele deu ao objeto volta-se contra ele como uma força estranha e hostil.

MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos (1844). Primeiro manuscrito. Disponível em: <http://www.marxists.org/portugues/

marx/1844/manuscritos/cap01.htm>. Acesso em: 2 out. 2009.

Alienação e alienado são palavras dos vocabulários jurídico, médico, filosófico e mesmo de uso comum. Faça, em grupo, uma pesquisa, nos dicionários, sobre os diferentes significados dessas duas palavras. Liste-os e depois formule frases para cada um deles, a fim de perceber o seu emprego em contextos diversos.

Weber e o trabalho como fator de desenvolvimento social

© W

ikim

edia

Com

mon

s/D

uc d

e Be

rry

AS MAIS ricas horas do Duque de Berry (julho). 1412-1416. Iluminura, color., 22,5 cm x 13,6 cm. Museu Condé, Chantilly.

O sociólogo alemão Max Weber também considera o trabalho algo muito importante para se compreenderem as diferentes sociedades.

Em seu texto As causas sociais do declínio da cultura antiga (1924), Weber encontrou na substituição do trabalho escravo pelo servil a explicação para o declínio do Império Romano.

A cultura antiga é, na obra de Weber, identificada com a cultura escravista e com o modelo expansionista e militar. O fim do período expansionista do Império Romano repercutiu na produção econômica que tinha como base o trabalho de escravos. A solução, face à crescente escassez de escravos, passou a ser a transformação destes em servos de gleba.

Em História geral da Economia (1923), Weber afirma que, antes do capitalismo moderno, já havia existido capitalismo em outras sociedades. O que distinguiria, então, um capitalismo do outro? Para Weber, seriam os valores da religião pro-testante – ou seja, o ascetismo (disciplina e autocontrole do corpo e espírito), a virtude, a poupança, a austeridade, a vocação para o trabalho – que tornaram a atividade produtiva e eficiente, o substrato da racionalidade econômica capitalista (ver Leitura sociológica a seguir). A ética protestante – porque liberava o traba-lhador do pecado da usura e concebia o trabalho como vocação, como um “meio excelente, quando não o único, de atingir a certeza da graça” (WEBER, 1974, p. 233) – explicaria o desenvolvimento do capitalismo moderno em certos países.

Ensino Médio | Modular 7

SOCIOLOGIA

Page 8: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Estilo de vida protestante e desenvolvimento do capitalismo

Um dos componentes fundamentais do espírito do moderno capitalismo, e não apenas deste, mas de toda a cultura

moderna: a conduta racional baseada na ideia da vocação, nasceu do espírito da ascese cristã. [...] O puritano queria

tornar-se um profissional e todos tiveram que segui-lo. Pois, quando o ascetismo foi levado para fora dos mosteiros

e transferido para a vida profissional, passando a influenciar a moralidade secular, fê-lo contribuindo poderosamente

para a formação da moderna ordem econômica e técnica ligada à produção em série através da máquina, que

atualmente determina de maneira violenta o estilo de vida de todo indivíduo nascido sob esse sistema [...]. Desde

que o ascetismo começou a remodelar o mundo e a nele se desenvolver, os bens materiais foram assumindo uma

crescente, e, finalmente, uma inexorável força sobre os homens, como nunca antes na História.

WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. 6. ed. São Paulo: Pioneira, 1989. p. 131.

O trabalho nas diferentes sociedades

Embora a ideia mais geral de trabalho como um conjunto de atividades realizadas pelos homens sobre a natureza, visando à reprodução (da espécie e da própria sociedade), seja universalmente válida, os meios utilizados e os fins almejados variam muito de uma sociedade para outra.

As organizações social e do trabalho dependem: da forma como os homens se relacionam com a natureza; da função da produção – se é de subsistência ou se visa gerar um excedente comercializável; de o produto excedente pertencer a toda a sociedade ou apenas a uma parte dela.

Embora seja bastante comum se afirmar que o desenvolvimento técnico (ou tecnológico) é o prin-cipal vetor das mudanças sociais, a explicação torna-se mais consistente e eficaz quando se inicia uma hipótese diversa, quase oposta.

São as necessidades, criadas pelos homens para se adaptarem às condições sociais e naturais concretas ou para superar os obstáculos os quais os impedem de realizar seus interesses, que os levam à experimentação e invenção de novas técnicas. Sendo assim, foram as necessidades relacionadas ao trabalho, ou melhor, à mudança na natureza do trabalho que gestaram as transformações históricas. Os objetivos sociais se alteraram porque o trabalho mudou.

O trabalho como fator de organização socialComo o trabalho se organiza, quais são as relações domi-

nantes entre trabalhadores, meios de produção, instrumentos de trabalho e proprietários, nas sociedades divididas em classes? É possível compreender e distinguir o escravismo, o feudalismo e o capitalismo em função do trabalho?

No escravismo antigo e moderno, os meios de produção (terra, instrumentos de trabalho) e o produto do trabalho pertenciam apenas a uma pequeníssima parte da sociedade. Essa parte era chamada de senhores, justamente porque estes detinham a propriedade privada, isto é, eram seus donos e senhores.

Embora o escravizado transformasse a natureza com o seu trabalho e, portanto, criasse riqueza, nem o produto do seu tra-balho, nem o seu corpo lhe pertenciam. Ao contrário, o próprio escravizado era, tanto quanto a terra e os instrumentos de que se utilizava, propriedade alheia (propriedade do senhor).

Prisioneiros egípcios esculpidos na pedra. [ca. 1260 a.C.]. Com-plexo Arqueológico de Abu Simbel, Egito

Latin

stoc

k/A

kg-im

agen

s/H

ervé

Cha

mpo

llion

Organização

da sociedade

segundo suas

forças produtivas

@SOC093

Modos

históricos

de produção:

primitivo,

asiático,

escravagista

e feudal

@SOC716

O trabalho e a

divisão social

ao longo da

história

@SOC852

Trabalho e Política8

Page 9: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

No sistema feudal, a riqueza social resultante do trabalho agrícola era obtida pelo trabalho de servos. A relação de servidão derivava do fato de esses trabalhadores não terem a posse do principal meio de produção: a terra. Embora, eventualmente, eles possuíssem os instrumentos de trabalho (arados e foices), a terra pertencia ao “seu senhor”. Apenas uma pequena parte da riqueza produzida lhe pertencia, pre-cisamente a parte que lhe garantia a sobrevivência.

A recorrência de pestes, os sucessivos períodos de carência de alimentos e de fome, bem como a necessidade de pagamento do dízimo à Igreja e as obrigações do pagamento de tributos ao senhor feudal tornavam a vida dos servos extremamente penosa e miserável. Porém, justamente porque o servo, embora fosse livre, vivesse e trabalhasse na terra alheia, estabeleceu-se uma relação de dependência pessoal face ao senhor feudal, relação que garantia para o último a maior parte da riqueza produzida. O código da corveia, estabelecia quais obrigações (quantos dias de trabalho nas terras do senhor) o servo teria que cumprir pelo usufruto da terra do senhor.

No período de transição do feudalismo para o capitalismo comercial na Europa, surgiram novos grupos sociais: comer-ciantes, artesãos e camponeses livres. O que os distingue em relação aos servos é o fato de serem proprietários dos meios de produção e, no caso de artesãos e camponeses, do produto de seu próprio trabalho. O trabalho agrícola passou, então, a ser gradualmente realizado por camponeses livres. Nas cidades, o artesanato transformou-se em uma atividade produtiva, legítima e cada vez mais necessária. E a atividade

mercantil se expandiu de tal forma e a tal ponto que gerou cada vez mais excedente em dinheiro – que, nas mãos da nascente burguesia comercial, se transformou, pouco a pouco, em capital financeiro.

O surgimento do “homem livre”Paralelamente a esses processos, crescia, nas cidades, um contingente de trabalhadores livres.Camponeses, comerciantes e artesãos constituíram-se em proprietários-trabalhadores. Porém, em

parte expulsos do campo, em parte provenientes da expansão econômica das próprias cidades, surgiram trabalhadores livres expropriados de todos os meios materiais de sobrevivência. Eles passaram, então, a vender a sua força de trabalho em troca de um salário. Surgiu assim o trabalhador assalariado.

Para se compreender e dimensionar bem a nova ordem social, é preciso prestar bastante atenção ao papel que o Estado moderno, saído das revoluções burguesas (como a Inglaterra no século XVII e a França no século XVIII), desempenhou ao conceder a todos os indivíduos, não importando sua classe social, a igualdade jurídica e ao defini-los, proprietários e trabalhadores, como homens livres (ver Leitura sociológica a seguir).

Bibl

iote

ca B

ritân

ica

Autor desconhecido. As viagens de Sir Mandeville. Sopradores de vidro na Boêmia. Início do século XV. Biblioteca Britânica, Londres

O trabalho escravo era, na Antiguidade clássica (e também no Novo Mundo até o século XIX), fonte de riqueza social destinada a poucos – aos que viviam ociosamente por terem escravizados trabalhando para eles. Não é, portanto, difícil compreender por que na Antiguidade o trabalho era identificado com esforço físico, penalização e tortura (tripalium), nem, em contrapartida, por que a atividade política do filósofo ou do guerreiro não era considerada trabalho.

Fatos que

marcaram a

Revolução

Francesa

@SOC567

SOCIOLOGIA

9Ensino Médio | Modular

Page 10: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Características

da Revolução

Industrial

@SOC725

Estado moderno e igualdade jurídica

O trabalhador assalariado era desprovido de qualquer meio de subsistência, por isso o que lhe restava era vender sua força de trabalho em troca de um salário. Para que essa venda acontecesse livremente no mercado de trabalho, ele não poderia ser dependente de um senhor (como era o servo), nem propriedade de um senhor (como era o escravo), por isso o novo trabalhador, que surgiu na transição do feudalismo para o capitalismo, foi o trabalhador livre. Este, que vendia a sua força de trabalho, pertencia a uma determinada classe social: a classe trabalhadora. Os compradores da força de trabalho assalariada pertenciam à outra classe social: a burguesia.

Latin

stoc

k/A

kg-Im

agen

s

METSYS, Quentin. O prestamista e sua esposa. 1514. 1 óleo sobre tela, color., 71 cm x 68 cm. Museu do Louvre, Paris.

Divisão técnica e capitalista do trabalho

O encontro histórico entre capital acumulado nas mãos da burguesia comercial, Estado moderno e artesanato constitui fator decisivo para a compreensão da nova organização do trabalho fabril. Essa nova organização do processo de trabalho é, do ponto de vista da Sociologia do trabalho, a chave para o entendimento da organização social dos primeiros tempos do capitalismo. Veja, brevemente, como ocorreu esse processo.

Os artesãos, ou mestres de ofício, detinham a propriedade de suas ofici-nas, das matérias-primas, dos instru-mentos de trabalho e dominavam, com destreza e habilidade, o conhecimen-to técnico necessário para o ofício que realizavam. Esse conhecimento era, na época, tão importante que foram forma-das guildas, ou corporações de ofício, com o objetivo de proteger os artesãos e definir regras e procedimentos extre-mamente rígidos de controle da produ-ção e da comercialização. Além disso, a formação de novos artífices acontecia por meio de um processo educativo severo e longo; afinal, tratava-se de passar para os aprendizes o segredo do ofício.

Pois bem, a transformação do ar-tesanato para a manufatura e desta para a grande indústria é, em geral, interpretada como um processo natural

e automático, derivado apenas do progresso técnico e do aumento da produtividade. É bem verdade que tal transformação elevou a produção de mercadorias e a criação de mais capital. Todavia, esse processo só é compreensível se forem levadas em conta a desapropriação do saber do artesão, a divi-são da manufatura em parcelas e, já no período da grande indústria (século XIX), a minuciosa divisão técnica (ver Conceitos sociológicos) que conduziu a separação entre o trabalho manual e o não manual.

Modos

históricos

de produção:

capitalista

@SOC619

Trabalho e Política10

Page 11: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Primeiramente, houve um período em que a burguesia, por intermédio do putting-out-system, (ver Conceitos sociológicos) passou a monopolizar a distribuição das matérias-primas e a comprar o produto acabado dos artesãos.

Essa fase foi denominada de cooperação simples. Ela reuniu um conjunto de artesãos, ainda conscientes do processo técnico, portanto do saber fazer, em um mesmo local. Na manufatura, por sua vez, introduziram-se máquinas-ferramenta e alterou-se o processo de trabalho, dividindo-o em tarefas específicas. Entretanto, sua execução ainda dependia da qualificação do trabalhador, embora tudo ocorresse sob controle do capitalista. Já na indústria, parafraseando Marx, o trabalhador “ficou nu”.

Na grande indústria moderna, ocorreu uma separação total entre o trabalhador (o “produtor direto”, na linguagem de Marx) e os meios de produção. Máquinas e instrumentos de trabalho tanto quanto o seu produto passaram a pertencer ao capitalista. Isso tornou o trabalhador ainda mais dependente do capital.

Nessa fase histórica de enorme desenvolvimento econômico, em que se formaram as forças produtivas especificamente capitalistas, ocorreu uma dupla transformação:

uma transformação técnica, possível graças ao investimento e à consequente modificação da maquinaria a vapor; uma modificação de ordem social, à medida que o progresso técnico instituiu uma nova hierarquia no trabalho – entre trabalho manual e trabalho intelectual, entre operário e gerente, entre quem executava funções e quem controlava a produção.

Essa hierarquia era, pois, a chave para tornar o operário uma força de trabalho para o capital. Como será visto mais adiante, ela teve repercussões decisivas sobre a estratificação social, isto é, sobre a divisão de classes na sociedade contemporânea.

Em uma mesma economia, podem subsistir diversas formas históricas de produção. O trabalho artesanal pode funcionar ao lado do trabalho técnico, altamente especializado, executado na grande fábrica capitalista. Esse fato é mais visível ainda em sociedades que não estão plena-mente desenvolvidas.

Identifique, com os membros de sua família, as diferentes profissões que eles exercem e classifique-as segundo o tipo de relação com o mercado de trabalho (autônomo, empregado, etc.) e conforme o nível e o tipo de saber e habilidade exigidos.

Latin

stoc

k/A

kg-Im

agen

s

Linha de montagem de uma fábrica da Ford em Detroit, EUA, 1910

Ensino Médio | Modular 11

SOCIOLOGIA

Page 12: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Força, condições e processos de trabalho no capitalismo

2

Mais-valia: fonte de riqueza

Na fase industrial do capitalismo, nasceu a ideia de trabalhador coletivo. O conjunto dos tra-balhadores colocava sua energia e sua capacidade à disposição do capitalista, durante determinada jornada de trabalho, para que fosse produzido um valor. Que valor era esse? Como ele era gerado? Quem o produzia?

Partindo da ideia segundo a qual “o trabalho é a fonte de toda riqueza”, Karl Marx procurou demonstrar que a riqueza no capitalismo provinha da mais-valia produzida pelos trabalhadores manuais – os operários.

Para explicar o que seria a mais-valia, ou mais valor, Marx fez o seguinte caminho. Primeiramente, escreveu, logo na primeira frase de sua mais importante obra, O capital (1867), que a riqueza da sociedade capitalista aparecia como uma imensa coleção de mercadorias.

Ele queria dizer que, ao observar a sociedade capitalista, o vai e vem das mercadorias nos merca-dos, gente com dinheiro querendo comprar, gente com mercadoria querendo vender, dinheiro pra cá e dinheiro pra lá, nossa primeira impressão poderia ser a de que a riqueza no capitalismo estava “nas próprias mercadorias”.

Por que há tanta importância no intercâmbio de mercadorias? Ora, as mercadorias são úteis porque têm a qualidade de satisfazer necessidades materiais ou

simbólicas (construir, vestir-se, locomover-se, enfeitar-se). As mercadorias – pregos, sapatos, casacos, chapéus, bicicletas, carros, brincos e livros, enfim o produto industrial – têm, para serem vendidas, de ser úteis aos compradores.

Embora cada mercadoria tenha uma utilidade determinada e, por isso, contenha em si um valor de uso, elas também têm um valor de troca.

Para os capitalistas, tais mercadorias também devem ser úteis, mas o sentido dessa utilidade é algo diferente. Elas são úteis porque podem ser vendidas e compradas, isto é, porque podem ser trocadas.

Sistemas

produtivos

capitalistas:

fordismo,

taylorismo,

toyotismo

@SOC682

A riqueza das sociedades em que domina o modo de produção capitalista aparece como uma “imensa coleção

de mercadorias” e a mercadoria individual como a sua forma elementar.

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. 2. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1985. p. 45.

Trabalho e Política12

Page 13: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Contudo, Marx não parou por aí. Ele revelou qual era o “se-gredo mais íntimo” das mercadorias. Que segredo seria esse?

Marx chegou à ideia de mais-valia para explicar que, embora as mercadorias tivessem valor de uso e valor de troca, o mais rentável não era nem a utilidade delas nem a possibi-lidade de serem trocadas. As mercadorias expressavam riqueza porque elas continham um valor a mais. Esse valor a mais provinha do trabalho, e Marx o chamou de mais-valia.

Trabalho como

mercadoriaQual o valor produzido pela

força de trabalho e quanto (em termos de salário) é neces-sário para a sua sobrevivência? Para responder a essas duas perguntas, Marx analisou a jornada de trabalho.

A jornada de trabalho é o tempo de trabalho medido na maioria das vezes em horas diárias, durante as quais o trabalhador está à disposição do empregador. Costuma-se falar em jornada de seis e oito horas diárias ou 36, 40, 44 e até 48 horas semanais. Ela é geralmente estabelecida por meio de um contrato entre patrão e empregado. Mas, às vezes, quando o trabalho é informal, a duração da jornada fica à mercê da vontade do empregador e de uma série de variáveis não estipuladas antecipadamente.

A extensão da jornada de trabalho variou muito desde o início do capitalismo. Inicialmente, a jornada de trabalho durava até 18 horas ao dia, o que a tornava tão extenuante que os acidentes, inclusive com morte, eram frequentes. A jornada de trabalho no Brasil, definida pela Constituição de 1988, é de 44 horas semanais.

A tabela a seguir, mostra a evolução do número de horas trabalhadas por semana em 14 países:

Notas: 1Horas remuneradas; 2Horas trabalhadas; 3Exceto Irlanda do Norte; 4Horas trabalhadas/IPEA.

Fonte: OIT: Anuário de Estadistica del Trabajo – International Labour Organisation – Yearbook of labour statistics 2006 = annuaire des statistiques du travail = anuario de estadisticas del trabajo. Geneva: ILO,1981-2004.

Jornada de trabalho semanal em países selecionados – 1980-2003 Países 1980 1984 1988 1990 1992 1994 1998 2000 2001 2002 2003

Austrália1 - - 36,1 35,8 35,5 36,0 35,7 35,6 35,2 34,9 34,8

Alemanha1 41,6 40,9 40,2 39,7 39,0 38,3 39,8 39,8 40,8 41,5 40,8

Canadá1 - 32,0 32,1 31,3 30,8 31,2 31,4 31,6 31,6 31,9 -

Coreia2 51,6 52,4 51,1 48,2 47,5 47,4 45,9 47,5 47,0 46,2 -

Espanha2 39,7 37,6 37,2 37,4 36,8 36,8 36,7 35,9 35,9 35,7 35,4

EUA2 43,3 43,3 41,3 41,2 40,5 41,0 40,6 41,0 40,6 40,5 42,6

França2 41,1 39,1 39,1 39,1 39,1 39,9 39,8 39,0 38,4 38,3 38,6

Israel2 36,5 36,0 35,6 35,9 36,7 37,4 37,1 37,8 36,9 37,3 37,0

Japão2 - - 46,8 45,7 44,1 43,2 42,3 42,7 42,2 42,2 42,0

Noruega2 35,5 35,0 35,8 35,3 34,9 35,0 35,3 35,1 34,9 34,8 34,6

R. Unido2;3 - - 40,6 40,5 40,0 40,1 40,2 39,8 39,8 39,6 39,6

Suíça2 - - - - 36,1 36,1 36,2 36,4 36,2 35,6 35,6

Itália2 - - - - - 39,5 39,4 39,3 39,3 38,2 38,3

Brasil4 - - 44,1 - - - - - - - 41,3

Sentido preciso,

sociológico, político

e econômico do

trabalho

@SOC171

Valor de uso e valor de troca

O produto, de propriedade do capitalista, é um valor de uso, fios, calçados, etc. Mas, embora calçados sejam úteis à marcha

da sociedade e nosso capitalista seja um decidido progressista, [ele] não fabrica sapatos por paixão aos sapatos. Na

produção de mercadorias, nosso capitalista não é movido por puro amor aos valores de uso. Produz valores de uso apenas

por serem e enquanto forem substrato material, detentores de valor de troca. [Assim, o capitalista] tem dois objetivos.

Primeiro, quer produzir um valor de uso, que tenha um valor de troca, um artigo destinado à venda, uma mercadoria. E,

segundo, quer produzir uma mercadoria de valor mais elevado que o valor [do] conjunto das mercadorias necessárias para

produzi-la, isto é, a soma dos valores dos meios de produção e força de trabalho, pelos quais antecipou seu bom dinheiro

no mercado. Além de um valor de uso quer produzir mercadoria, além de valor de uso, valor, e não só valor, mas também

valor excedente ([isto é], mais-valia).

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. 2. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1985. p. 155.

Ensino Médio | Modular 13

SOCIOLOGIA

Page 14: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Jornada de trabalho no BrasilNo Brasil, embora, desde 1988, a jornada oficial tenha sido fixada em 44 horas, na prática e considerando

as diferenças contratuais, a jornada média semanal varia. Enquanto em 1988, a jornada média semanal era de 44,1 horas, em 2003, era de 41,3 horas. Entre todos os países citados na tabela, apenas os Estados Unidos e o Japão tiveram jornadas médias semanais superiores à brasileira, em 2003. Em 1988, apenas o Japão tinha jornada superior à brasileira. O Japão é considerado o país com maior jornada de trabalho do mundo.

Tendo por base os dados apresentados na tabela, responda às seguintes questões: a) Por que se costuma dizer que brasileiro é preguiçoso e não gosta de trabalhar?b) Será que, relativamente aos países apresentados na tabela, os brasileiros trabalham menos?

Embora não seja visível, o tempo do trabalho durante a jornada está dividido em tempo necessário e tempo excedente.

O tempo de trabalho necessário é equivalente às necessidades de reprodução da força de trabalho, o que envolve morar, comer, deslocar-se e, fundamentalmente, voltar ao trabalho no dia seguinte com a mesma energia vital. Esse tempo corresponde a um valor suficiente para remunerar a própria força de trabalho e garantir a satisfação de suas necessidades básicas.

O tempo de trabalho excedente, em contrapartida, é a mais-valia. Isto é, em uma parte da jornada, o traba-lhador produziria um valor, que seria o equivalente à sua necessidade de sobrevivência. Na outra parte da jornada (que pode ser maior ou menor), produziria outro valor, um valor a mais: é o que chamamos de mais valor.

O contrato de trabalho estabelece as horas traba-lhadas e o salário, mas nunca explicita o que é traba-lho necessário e o que é trabalho excedente. E não o faz por uma razão bastante simples: será a mais- -valia que gerará o lucro tão necessário ao capital. Explorar o trabalho era, para Marx, o fundamento do capitalismo como sistema social.

Proporção de assalariados que trabalharam mais que a jornada legal, segundo setores de atividade econômica

Indústria Comércio ServiçosRegiões metropolitanas e DF

2004 2005 2004 2005 2004 2005

São Paulo 42,4 38,8 59,1 56,6 38,0 36,5Porto Alegre 29,1 26,2 50,6 51,6 28,8 27,6Belo Horizonte 36,8 37,9 51,8 51,9 27,2 27,6Salvador 44,8 48,9 60,6 64,3 31,4 32,5Recife 61,2 59,0 72,0 71,6 39,1 39,4Distrito Federal 43,0 40,3 67,2 65,1 20,8 20,4

Fonte: Convênio DIEESE/Seade, MTE/FAT e convênios regionais. PED – Pesquisa de Emprego e Desemprego.

Teoria da

mais-valiaKarl Marx distingue duas formas de mais-valia: absoluta e

relativa. A mais-valia absoluta depende da maior ou menor extensão da jornada de trabalho. Quanto maior for a jornada, maior será o trabalho excedente. A mais-valia relativa resulta da intensificação da produtividade do trabalho. Ou seja, ao usar tecnologias e novas formas de organização do trabalho e do processo produtivo, torna-se possível produzir mais em menos tempo.

Pode-se compreender, assim, por que racionalizar o proces-so de trabalho – dividir em etapas, separar o trabalho manual do trabalho intelectual, inserir novas máquinas, técnicas e tecnologias ou substituir o homem por máquinas – tornou-se tão vital para o capitalista. Essa lógica de busca constante e crescente de lucro causa mudanças periódicas na organização do trabalho.

Que os processos produtivos mudam já se sabe. A So-ciologia do trabalho pode ajudar a entender por que eles mudam. É o que será visto a seguir. Mas, antes, faça uma reflexão sobre os seguintes dados:

Capitalismo fabril

e mais-valia

@SOC497

Trabalho e Política14

Page 15: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Considerando as informações da tabela, responda às seguintes questões: a) Qual o objetivo dessa tabela? b) O que está sendo comparado? c) O que ela evidencia a respeito da jornada de trabalho?

Mais qualidade em menos tempo: taylorismo

Os capitalistas, seus técnicos e cientistas passaram, então, a criar, experimentar e adotar formas de organização do trabalho mais eficientes e lucrativas.

Taylor (1856-1915) analisou o tempo gasto pelos trabalhadores na execução e na troca de tarefas e, posteriormente, publicou um trabalho intitulado Princípios da administração científica (1911) em Nova Iorque. Os princípios eram uma espécie de manual de demonstração, por meio de dados, dos efeitos positivos da divisão técnica do trabalho. Ele acreditava que, além de aumentar os lucros, seria possível melhorar também os salários.

Esse engenheiro mecânico observou que a capacidade produtiva de um trabalhador era subapro-veitada. Por que isso ocorria? O problema era o tempo que os trabalhadores perdiam entre uma tarefa e outra. Ele responsabilizava os próprios trabalhadores pela “perda de tempo”. O que Taylor não compreendia é que a “perda de tempo” era, na verdade, uma estratégia utilizada pelos trabalhadores para manter algum controle sobre o seu trabalho, sobre o seu tempo. Eles pretendiam diminuir, um pouco que fosse, o desgaste que prevalecia nas fábricas desde a Revolução Industrial.

Taylor propôs uma subdivisão das funções tanto na esfera da produção quanto na esfera da admi-nistração. Isso gerou uma espécie de superespecialização do trabalhador. Quanto mais específicas fossem as tarefas executadas, menor seria a necessidade de qualificação. Em contrapartida, a necessidade de administração e supervisão das tarefas realizadas pelos trabalhadores aumentaria.

Essa mudança na organização do trabalho alterou o papel dos controladores do processo produtivo, transformando-os em uma espécie de “capatazes”. Como o aumento da produtividade e, portanto, dos lucros do capitalista passava a depender cada vez mais dos cargos da administração da empresa, os administradores (capatazes) se profissionalizaram.

Veja um trecho do livro de Taylor que explica a importância dos gerentes na organização taylorista do trabalho:

Administração científica sobre o trabalho humano

Sob o sistema antigo de administração, o bom êxito depende quase inteiramente de obter a iniciativa do operário

e raramente essa iniciativa é alcançada. Na administração científica, a iniciativa do trabalhador (que é seu

esforço, sua vontade, seu engenho) obtém-se com absoluta uniformidade e em grau muito maior do que é possível

sob o antigo sistema; e em acréscimo a essa vantagem referente ao homem, os gerentes assumem novos encargos

e responsabilidades, jamais imaginados no passado. À gerência é atribuída, por exemplo, a função de reunir todos

os conhecimentos tradicionais que no passado possuíram os trabalhadores e então classificá-los, tabulá-los,

reduzi-los a normas, leis ou fórmulas, grandemente úteis ao operário para execução de seu trabalho diário.

TAYLOR, Frederik Winslow. Princípios de administração científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 1970. p. 49.

Capitalismo,

relação de

trabalho e

produção de

mercadorias

@SOC177

Ensino Médio | Modular 15

SOCIOLOGIA

Page 16: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Racionalização do trabalho: fordismo

Entre o final do século XIX e o início do século XX, ocorreram algumas mudanças importantes no capitalismo.

Nos países centrais, a fase liberal desse modo de produção, marcada pela concorrência aberta entre os empresários (os capi-talistas individuais), foi substituída pela fase monopolista. Nesta última, predominou a grande concentração de capital e a formação de grandes empresas. A Ford Motor Company, sediada na cidade de Detroit (EUA), foi o exemplo desse processo.

No início do século XX, Henry Ford (1862-1947) desenvolveu o primeiro projeto dos veículos que trazia seu nome, impulsionado pela ideia de aumentar a produção e as vendas de automóveis, de torná--los um item de consumo popular, já que, até então, o carro era um bem de consumo restrito só aos muito ricos. Sua ideia foi muitíssimo

bem-sucedida não apenas para a indústria automobilística, mas para praticamente todos os ramos industriais. O fordismo produziu uma verdadeira revolução no processo de trabalho.

Ford partiu da seguinte hipótese: se os produtos fossem padronizados e fabricados em grande escala, os custos diminuiriam e o produto seria mais acessível.

Com isso em mente, Henry Ford pensou um mecanismo em que todas as fases da produção, desde a transformação da matéria bruta até o acabamento final, ocorressem sobre uma linha de montagem. Enquanto o produto percorreria essa grande esteira, o trabalhador permaneceria em seu posto. Dessa forma, inúmeros trabalhadores passaram a realizar uma única e repetitiva função, o ritmo do trabalho tornou-se mais rápido, e as tarefas ficaram mais simples.

O objetivo do taylorismo foi, portanto, au-mentar o controle sobre o processo produti-vo, transferindo-o dos operários para a gerência. Assim, enquanto o trabalho dos primeiros se tornou mais manual, a gerência, os técnicos e cientistas da produção e da produtividade pas-saram a concentrar ainda mais conhecimento e controle sobre o processo como um todo.

Sobre o taylorismo, responda às seguintes questões:a) Quais foram seus principais objetivos? b) Que mudanças ocorreram no trabalho operário? c) Que consequências sofreram os trabalhadores?d) Quem passou a controlar o trabalho manual?

O fordismo criou a produção em grande escala, também conheci-da como produção em série ou, ainda, produção em massa

Latin

stoc

k/SP

L D

C/Sc

ienc

e Ph

oto

Libr

ary/

CCI A

rchi

ves

Introdução da esteira nas fábricas da Ford

Henry Ford adaptou o sistema de carretilhas utilizado nos matadouros, para esquartejar as peças das reses, para

a produção e montagem dos veículos de sua fábrica. A grande inovação de seu projeto era, a bem da verdade, a

utilização da esteira para produzir em grande escala e o uso do cronômetro no controle e definição de metas de

velocidade e produtividade para os operários.

PINTO, Geraldo Augusto. A organização do trabalho no século 20: taylorismo, fordismo e toyotismo. São Paulo: Expressão Popular, 2007. p. 33.

16 Trabalho e Política

Page 17: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

A simplificação das tarefas reduziu ainda mais a ne-cessidade de qualificação do trabalhador manual, embora, e em contrapartida, tenha aumentado a exigência de maior qualificação de trabalhadores não manuais (técnicos, cientistas, projetistas, profissionais de propaganda, etc.). Desse modo, a linha de montagem tornou-se o instrumento por excelência de intensificação do trabalho manual e, portanto, de mais lucro.

Para conseguir a padronização necessária à produção em massa, além de todas as mudanças acima descritas na organização do trabalho, Ford determinou a produção de um modelo de carro único, com as mesmas caracterís-ticas, como cor e acabamento. Ao ser questionado sobre a possibilidade de escolher a cor do novo Modelo T, Ford deu uma resposta célebre: “Você pode escolher a cor do carro que quiser desde que ele seja preto”.

O Modelo T era o automóvel padrão da Ford. Nos momentos de maior pico da produção, chegou a ser produzido em menos de duas horas. Isso em 1913!

Lat

inst

ock

Corb

is/H

ulto

n-D

euts

ch C

olle

ctio

n

Observe um processo de trabalho qualquer. Pode ser sua mãe cozinhando, seu pai consertando algo em casa, seu irmão lavando o carro ou mesmo alguém costurando.

Se for possível, procure observar uma atividade produtiva: algum serviço econômico que vise produzir alguma mercadoria. Cronometre uma etapa do processo de trabalho escolhido. Sugira, em seguida, uma pequena mudança nesse processo, visando racionalizar, melhorar o serviço. Em outra oportunidade, cronometre novamente e veja se o trabalho ficou mais veloz, mais eficiente, mais produtivo.

q q

Trabalhador da indústria fordista: operário-padrãoA nova organização do trabalho, implantada nas fábricas da Ford Motor Company, repercutiu,

evidentemente, sobre as condições de trabalho e sobre os próprios trabalhadores. O perfil do trabalhador era o de um operário capaz de realizar atividades repetitivas e simplificadas.

Por outro lado, o aumento da produtividade permitiu lucros tão elevados que foi possível melhorar os salários dos operários.

Nesse novo contexto produtivo, houve de fato melhorias salariais, até porque a classe trabalhadora deveria ser inserida no mercado de consumo. Mas o efeito político dentro das fábricas foi grande: apenas os operários conformados com a nova organização puderam dela se beneficiar. Isso ficou claro quando ocorreu uma manifestação de trabalhadores qualificados contra o novo sistema. Ford demitiu todos os grevistas e contratou trabalhadores menos qualificados por salários muito maiores. Por que ele fez isso? Embora o salário tivesse sido elevado (cinco dólares por dia) e a jornada definida em oito horas, os benefícios só valiam para os operários que se adaptassem: homens, assíduos, abstêmios e que não se envolvessem com sindicatos. Em poucas palavras, que fossem operários-padrão.

Estado, mercado e planejamento econômicoA organização do trabalho fordista se expandiu para os países capitalistas centrais desde as primeiras

décadas do século XX, mas se consolidou apenas nos anos 1950, embora de forma bastante heterogênea. Essa expansão, todavia, estava relacionada às crises vividas pelo próprio capitalismo e pelas

mudanças políticas que os Estados Nacionais implantaram. A grande crise econômica de 1929 levou à ruína milhares de grandes e pequenas fortunas e ao desemprego milhões de trabalhadores. Gerou uma grave desconfiança das elites na capacidade de autorregulação dos mercados e agitou o movimento operário e sindical que reivindicava proteção do Estado.

Ensino Médio | Modular 17

SOCIOLOGIA

Page 18: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Engenheiro de controle e automaçãoO profissional dessa área atua nos projetos e na manutenção dos processos de automação, sejam

industriais ou residenciais. A formação do profissional da área se realiza em curso de graduação com duração de cinco anos e as opções profissionais tendem a se expandir com a modernização da produ-ção industrial. O curso de graduação alia os conhecimentos da mecânica, eletrônica e computação.

Mudanças na produção e na organização do trabalhoMáquinas

automáticas são amplamen-

te utilizadas em bancos (os

caixas automá-ticos) e empre-

sas (máquina de controle

numérico)

Latin

stoc

k/Im

age

Sour

ce

As formas de produção e organização do trabalho nos dias atuais são diversificadas e, sobretudo nos paises centrais, estão muito distantes do que foi o fordismo, tão distantes que alguns autores denominam essas novas formas de pós-fordistas.

Da década de 1970 para cá, ocorreram, em algumas grandes empresas (no Japão, principalmente) e em regiões de grande atividade econômica (Estados Unidos, Itália, Alemanha, por exemplo), transformações na maneira de produzir e de organizar o trabalho. Essas novas formas têm sido denominadas com termos variados: reestruturação produtiva, especialização flexível, toyotismo ou simplesmente pós-fordismo.

Os termos utilizados são diversos, mas todos eles indicam que, nas últimas décadas do século XX, a produção em massa – ou seja, aquela voltada para o consumo em massa e sempre crescente, realizada por grandes empresas em que se concentrava um considerável contingente de trabalhadores especializados, majoritariamente semiqualificados – estaria sendo superada ou se transformando.

As razões dessas transformações devem ser buscadas na crise do capitalismo dos anos de 1970, crise ocasionada pela súbita elevação, decidida pela Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP), nos preços do óleo cru.

Esse aumento gerou tanta instabilidade na economia estadunidense que sua, até então, poderosa moeda – o dólar – passou a sofrer oscilações: ora o dólar era artificialmente valorizado ora era desvalorizado.

Não é muito difícil imaginar que, quando a principal moeda do mundo sofre mudanças bruscas, todos os demais Estados e setores econômicos sentem seus efeitos, como se fosse um terremoto. O medo generalizou- -se pela sociedade. As grandes empresas, motivadas pela redução de custos, diminuíram o ritmo da produção industrial, demitiram trabalhadores e passaram a ser muito mais cautelosas antes de decidir sobre onde (isto é, em que lugar do mundo) e em que setor ou negócio fariam novos investimentos. Afinal, o risco de prejuízo era grande. Evidenciava-se, assim, o fim da era de ouro do capitalismo. As alternativas encontradas para enfrentar essa crise foram, basicamente, reorganizar a produção, os investimentos e o processo de trabalho.

Grande parte dos investimentos passou a ser feito em ciência e tecnologia, especialmente no emprego da automação, ou seja, na utilização de máquinas automáticas que dispensam a utilização de grande contingente de trabalhadores.

O

Assim, para evitar novas crises, como a de 1929, outra concepção sobre o funcionamento da sociedade começou a ser valorizada. Tratava-se da concepção segundo a qual o Estado teria um papel fundamental no equilíbrio do mercado, no planejamento da sociedade, na garantia e geração de empregos e no financiamento de setores menos atrativos. A ideia era de que a falta de regulação e de intervenção do Estado nos mercados teria gerado a Crise de 1929 e, consequentemente, a Grande Depressão.

Como toda a ênfase do processo produtivo capitalista nesse período (na década de 1930) estava no aumento físico da produção de mercadorias, o modelo taylorista/fordista tornou-se, então, dominante no plano da organização produtiva. Ao lado dele, entre as duas grandes guerras mundiais, o modelo econômico dominante nos países centrais passou a ser o intervencionismo estatal na economia.

Trabalho e Política18

Page 19: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Novos padrões de produção capitalista

Um dos novos padrões de produção inventados pelo capitalismo é a chamada especialização flexível.

A especialização flexível não se fundamenta na produção em massa de produtos padronizados, mas exatamente em seu oposto, na produção flexível, ou seja, na produção diferenciada de produtos.

Um bom exemplo relaciona-se à produção do velho telefone preto, que atualmente pode ser encontrado só nos museus, quando comparada com a fabricação de inumeráveis modelos de telefones fixos e celulares. A ideia é mais ou menos esta: na especializa-ção flexível, a produção se adapta às necessidades e exigências de qualidade do consumidor. No fordismo, o que ocorria era, em grande medida, o contrário.

Shut

ters

tock

/joc

ic

Reflita sobre as imagens a seguir. Relacione-as a um modelo de produção e de organização do trabalho. Em seguida, responda por escrito à seguinte questão: Que diferen-ças o modelo fordista apresenta em relação ao pós-fordismo?

Primeira fábrica da Volkswagen no Brasil. São Paulo, década de 1950

RA

cerv

o Ic

onog

raph

ia

Olh

ar Im

agem

/Ric

ardo

Azo

ury

Linha de produção da Audi, São José

dos Pinhais – PR

Outro desses novos padrões de organização do processo produtivo capitalista é o toyotismo.

O toyotismo constitui uma forma de organização da produção e do trabalho que começou a ser desenvolvida pela fábrica Toyota Motor Company, no Japão, na década de 1950.

Implantado pelo engenheiro industrial da empresa, Taiichi Ohno, o novo sistema tinha como objetivo elevar a competi-tividade das empresas automobilísticas japonesas, ou seja, tornar os carros japoneses da Toyota atrativos no mercado internacional.

A redução de custos de produção, combinada à elevação da qualidade e flexibilização dos produtos era, na realidade, o grande desafio de Ohno. A produção teria que ser rápida; os produtos, de qualidade e diversificados; os trabalha-dores deveriam ser ouvidos; e seu conhecimento prático não poderia ser descartado. Seria também necessária a divisão da produção entre a empresa principal e as empresas subcontra-tadas para fornecer matérias-primas e peças – o que também

possibilitaria a redução de estoques. Relativamente aos modelos anteriores, o toyotismo é bem mais complexo.

Várias foram as inovações introduzidas pelo toyotismo: automação, controle dos estoques (just in time), controle de produção baseado em indicadores do material necessário à produção em tempo real (Kan-ban), organização celular da manufatura (Círculos de Controle de Qualidade – CCQ), tra-balho em equipe, administração por estresse, flexibilização da mão de obra, gestão participativa e subcontratação. Outra novidade do toyotismo diz respeito ao envolvimento da força de trabalho na produção.

Ao criar, inclusive com a ajuda dos sindicatos japoneses, os Centros de Controle de Qualidade – equipes de tra-balhadores organizadas de modo a opinar sobre inovações e melhoria na qualidade do trabalho e do produto – as em-presas pretendiam aumentar a produtividade e o desempenho dos trabalhadores, premiando os times mais bem-sucedidos com adicionais de salário.

Shut

terst

ock/

KULIS

H VIK

TORI

IA

Ensino Médio | Modular 19

SOCIOLOGIA

Page 20: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Trabalho, lutas e movimentos sociais

3

O trabalho é, conforme foi visto, uma atividade fundamental para a compreensão da espécie humana e da organização das sociedades. É ele a fonte de toda a riqueza. Porém, justamente porque a riqueza produzida não é proporcionalmente distribuída entre todos os que trabalham, ocorrem situações, como a do Brasil, em que, mesmo quando há crescimento da produção de riquezas – aquilo que os economistas denominam Produto Interno Bruto (PIB) – mantém-se ou amplia-se a desigualdade.

Segundo dados do Fundo Monetário Internacional, o PIB do Brasil, em 2010, foi de US$ 2.090 milhões, o que o colocou em segundo lugar entre os países da América, superado apenas pelos Estados Unidos (US$ 14.657 bilhões). Mesmo nessa posição, o Brasil não conseguiu diminuir os índices de pobreza e permaneceu como um país com grande desigualdade social, o que significa dizer que aqui há muita concentração de renda.

As condições de vida da maioria dos brasileiros são precárias. Isso é evidenciado pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), número que mede a qualidade de vida dos indivíduos (ver Conceitos sociológicos). Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD, 2011), enquanto o Chile ocupa a 44ª. posição, a Argentina a 45ª., o Uruguai a 48ª., o Brasil ocupa a 84ª. posição no mundo.

As desigualdades sociais variam de um país para outro, mas elas existem em todos os países. Essa diferença foi bru-tal no início da Revolução Industrial nos países centrais e, embora eles tenham conseguido reduzi-la, principalmente na era de ouro do capitalismo, sabe-se que, em momentos de crise, ressurgem, em maior ou menor proporção, problemas, como desemprego, aumento da explora-ção da força de trabalho, exploração do trabalho infantil, pobreza e fome.

Nos primórdios do capitalismo, as condições de vida e de trabalho do

Engels reproduz relato de um comissário de indústria em Manchester

[...] as crianças são obrigadas a trabalhar em jornadas cruel e irracio-

nalmente longas e que inclusive os adultos estão sobrecarregados com

um trabalho que nenhum ser humano pode suportar. As consequências

são que muitos morrem prematuramente, outros sofrem por toda a

vida os efeitos de uma constituição deficiente e que, fisiologicamente

falando, são fundados os temores de ver nascer gerações debilitadas

pela constituição debilitada dos sobreviventes.

ENGELS, Friedrich. A situação da classe trabalhadora. São Paulo: Boitempo, 2008. p. 195.

[...] Para falar com clareza: o operário é, de direito e de fato, um es-

cravo da classe possuidora, da burguesia; é seu escravo a ponto de ser

vendido como uma mercadoria e, tal como uma mercadoria, o preço

aumenta e diminui.

ENGELS, Friedrich. A situação da classe trabalhadora. São Paulo: Boitempo, 2008. p. 121.

Diferentes

formas de

desigualdade

social

@SOC692

Características

gerais da

Revolução

Industrial

@SOC687

Trabalho e Política20

Page 21: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

proletariado, isto é, da classe operária, eram degradantes. Em seu livro A situa-ção da classe trabalhadora na Inglaterra (1845), Friedrich Engels descreveu, após realizar uma espécie de pesquisa de campo (ver Conceitos sociológicos) em Manchester, as condições precárias, miseráveis e insalubres em que viviam as famílias operárias, em meio à fome, sujeira, excrementos e ignorância.

O jornal Folha de S.Paulo publicou uma matéria, para a qual realizou uma espécie de pesquisa de campo entre os boias-frias. As condições de trabalho e de vida desses trabalhadores muito se assemelhavam ao que ocorria nos primórdios da Revolução Industrial.

Luta coletiva dos trabalhadores

Embora a miséria e a pobreza sensibilizem moralmente muitos segmentos da sociedade, mudar as condições de trabalho e de vida não é simples.

Se um trabalhador isolado enfrenta seu patrão, o conflito entre eles é desfavorável ao empregado. Mas, quando os trabalhadores se unem como classe trabalhadora e enfrentam a classe burguesa, o conflito se acirra porque os dois lados ficam mais fortes. As lutas e os movimentos sociais são fundamentais para se compreender a melhoria nas condições de trabalho e de vida dos trabalhadores.

Diferentemente dos trabalhadores no feudalismo e no escravismo, que não tinham direitos civis, os trabalhadores no capitalismo são formalmente livres e iguais. Embora essa seja uma igualdade jurídica, isto é, formal e não real, no capitalismo os trabalhadores têm, potencialmente, o direito de expressar individual e coletivamente suas vontades, suas necessidades e assim denunciar seus pro-blemas, reivindicando a solução ou a superação de, ao menos, uma parte deles.

Seba

stiã

o Sa

lgad

o

Serra Pelada, 1986. Sebastião Salgado fotografou trabalhadores do mundo todo, muitos dos quais exercendo

suas atividades em condições absolutamente precárias, insalubres e miseráveis, mostrando que, embora a sociedade

contemporânea tenha alcançado níveis de riqueza e de de-senvolvimento inimagináveis, convive-se ainda com grandes

desigualdades

Ensino Médio | Modular 21

SOCIOLOGIA

Page 22: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Outro aspecto que diferencia a condição dos trabalhadores no capitalismo é a possibilidade de mobilidade e ascensão social – o que praticamente não existia nas sociedades pré-capitalistas (ver Conceitos sociológicos). mobil(ver Co

Evidentemente, conquistar benefícios e direitos não é nada fácil. As mulheres atualmente têm direito ao voto, estão inseridas no mercado de trabalho, podem ir às universidades. Isso ocorreu em alguns países, mas em muitos outros as mulheres ainda não conquistaram esses direitos.

Nas sociedades contemporâneas, as lutas e os movimentos sociais ocorrem de forma periódica, quase constante, manifestando a resistência da classe trabalhadora. Por exemplo, pela redução da jornada de trabalho, pelo aumento de salários, pela conquista de direitos sociais mais amplos, como saúde, educação e emprego.

Leia atentamente o texto a seguir e responda às questões de interpretação listadas:

Mobilidade social no Brasil [...] os brasileiros continuam entrando e saindo em diferentes estratos sociais. Isso sugere que os pobres

não permanecem pobres a vida inteira. Nos estratos mais baixos, saem uns, entram outros. Assim como há novos ricos, há também novos pobres.

Entretanto, alguns problemas graves persistem. A precocidade de entrada no mercado de trabalho é um deles. A discriminação racial é outro.

Nos dados de 1973, mais de 70% dos chefes de família homens começaram a trabalhar com menos de 14 anos – a maior parte na zona rural. Nos dados de 1996, esse problema continuou: 70% dos chefes de família começaram a trabalhar antes de 14 anos. A idade média do início do trabalho ficou em 12,5 anos – o que dá a dimensão da precocidade do fenômeno.

Um outro problema que persiste é o da maior dificuldade de ascensão social que afeta os brasileiros de cores preta e parda.

Entre os brancos, 16,5% estão no estrato mais baixo da estrutura social. Entre os de cor preta, são 25%; e entre os pardos, 30,7%. Inversamente, nos estratos médios, a percentagem de brancos é de 35,7%; entre os pardos, é apenas 18%; e entre pretos, 14,2%. A escolaridade média é de 6,6 anos para brancos, 4,2 para pardos e 4,1 para pretos. Os dados mostram que as pessoas de cores preta e parda que nascem em famílias de estratos mais altos correm mais risco de descer na estrutura social do que as de cor branca – independen-temente de sua escolaridade.

PASTORE, José; SILVA, Nelson do Valle. Nota sobre a mobilidade social no Brasil. Minifórum em homenagem aos 40 anos do IPEA. Rio de Janeiro, set. 2004. p. 4.

a) Quais são os dois problemas identificados pela pesquisa sobre mobilidade social?b) Que grupo de brasileiros tem mais dificuldade de ascender socialmente?c) Qual é a direção da mobilidade social para brasileiros de cor preta e parda?

A participação

feminina na

política

@SOC850

22 Trabalho e Política

Page 23: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

História dos sindicatos

Nos primórdios do capitalismo, não só a necessidade de redução da jornada de trabalho motivou os trabalhadores a se organizarem, mas também a luta por melhores salários e por formas de proteção em casos de acidente, inva-lidez e morte. A conquista de direitos relativos à aposentadoria, por exemplo, está muito relacionada à capacidade dos trabalhadores de lutarem por esse direito.

A Inglaterra, berço da industrializa-ção e do moderno capitalismo, foi palco de inúmeros movimentos de resistência até que fossem criados os primeiros sindicatos (em inglês, Trade Unions).

Logo no início do século XIX, um movimento chamado ludista ou lu-dismo foi deflagrado. Utilizando-se de comunicados por bilhetes e de ações diretas (incendiar as fábricas e quebrar

o maquinário), trabalhadores ameaçavam proprietários, caso eles não se livrassem das máquinas que lhes estavam tirando os postos de trabalho.

Após realizarem várias dessas ações, espontâneas e radicais, os trabalhadores perceberam que seus problemas não eram as máquinas, mas os proprietários delas. Afinal, mesmo quando cumpriam as ameaças, lá estavam logo depois as máquinas consertadas e as fábricas reconstruídas nos mesmos lugares. A experiência levou-os a compreenderem que, de certa forma, deveriam se unir, reivindicar e, caso não fossem atendidas as suas necessidades, paralisar aquilo que mais interessava aos capi-talistas: a produção.

A partir dos anos 1830, começaram a ser formados os primeiros sindicatos na Inglaterra e, na década de 1860, eles surgiram na França, nos Estados Unidos e na Alemanha.

Se a luta pela melhoria das condições de vida e de trabalho não era fácil, mais difícil ainda foi lutar pelo direito de livre organização sindical.

Patrões, isoladamente ou em grupos, com o apoio do Estado, buscavam reprimir os manifestantes. Mas, se por um lado o Estado reprimia as lutas operárias, por outro, ele impunha limites à exploração da força de trabalho por meio de leis trabalhistas. Foi por intermédio da ação do Parlamento britânico, por exemplo, que, em 1824, garantiu-se o direito à livre associação e limitou-se a jornada de trabalho. Uma legislação fabril passou a ser instituída a partir de então.

Faça uma pesquisa sobre as origens da legislação sindical e de proteção ao trabalho no Brasil. Explique, por escrito, qual o significado da sigla CLT e o que essa legislação contém de importante.

As primeiras associações de operários eram reprimidas; seus líderes, demitidos e perseguidos. Apenas a resistência histórica dos trabalhadores foi capaz de superar as dificulda-des entrepostas

Wik

imed

ia C

omm

nos

Gravura de 1886 do livro Histórias verdadeiras do reinado da rainha Vitória, de Cornelius Brown.

Ensino Médio | Modular 23

SOCIOLOGIA

Page 24: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Leia a matéria a seguir, publicada pela revista Veja, e escreva uma dissertação sobre a seguinte questão: A greve é uma forma de luta social legítima mesmo quando as empresas se sentem prejudicadas?

Funcionários dos Correios voltam ao trabalho nesta quinta

Após quase um mês de braços cruzados, os funcionários dos Correios voltarão ao trabalho nesta quinta--feira, por decisão do Tribunal Superior do Trabalho (TST). Em caso de descumprimento da ordem judicial, a Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios, Telégrafos e Similares (Fentect) fica sujeita a multa de 50 000 reais por dia. [...]

A ETC queria que os dias parados fossem descontados do salário dos grevistas e que a greve fosse consi-derada abusiva. O TST, no entando, determinou que 21 dias sejam repostos com trabalho nos finais de semana e o corte na remuneração seja referente a apenas sete dias. Os ministros também consideraram que não houve abuso, já que a entrega de correspondências não é um serviço essencial.

Além disso, a corte definiu que os trabalhadores terão direito a um reajuste de 6,87% nos salários e um -

ria, que pedia valores maiores. O aumento concedido tem efeito a partir de 1º. de outubro. A corte rejeitou a concessão de abono de 800 reais, que estava na pauta de negociações, e estabeleceu um aumento no valor diário do vale-alimentação, de 23 para 25 reais.

VEJA. Funcionários dos Correios voltam ao trabalho nesta quinta. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/ noticias/brasil/funcionarios-dos-correios-voltam-ao-trabalho-nesta-quinta>. Acesso em: 25 out. 2011.

Ideologias políticas e movimento sindical

No interior do movimento sindical existem muitas diferenças, uma das maiores relaciona-se à ideologia política (anarquismo, socialismo, comunismo, social-democracia, liberalismo) (ver Con-ceitos sociológicos).

No Brasil, por exemplo, os primeiros sindicatos tinham uma orientação política anarquista. Os anarquistas defendiam que a luta contra o capitalismo deveria acontecer por meio de revoltas, greves, boicotes, mas não pela tomada do poder político.

Os anarquistas têm um ideal libertário, ou seja, de que a sociedade ideal é aquela em que domina plena liberdade e não há poder. Por isso, eles têm uma visão muito negativa do poder e, consequen-temente, da luta política parlamentar. Segundo a ideologia anarquista, o poder deve ser destruído, não conquistado.

O socialismo e o comunismo também influenciaram e ainda influenciam a ação sindical. Embora o sindicalismo seja um movimento de resistência à exploração do trabalho, socialistas e comunistas acreditam que os sindicatos podem ser um instrumento eficaz na luta pela abolição definitiva do trabalho assalariado e, portanto, pela abolição do capitalismo.

Por sua vez, o sindicalismo de orientação social-democrata crê que os trabalhadores podem e devem lutar no plano político pela conquista e ampliação de direitos sociais (ver Conceitos sociológicos).

Essa causa foi muito importante durante todo o século XX nos países centrais. Ali, o sindicalismo operário e de setores das classes médias se tornou a base de apoio de partidos trabalhistas que, ao chegarem ao poder, conquistaram benefícios e direitos sociais universais. Uma das bases do Estado de bem-estar social (em inglês, Welfare State) foram justamente os sindicatos (ver Conceitos sociológicos).

Trabalho e Política24

Page 25: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Na Primeira República brasileira (1889-1930), quase não havia proteção legal aos trabalhadores. Ocorrendo aciden-tes de trabalho, fatais ou não, as famílias não eram amparadas pelo Estado. As primeiras organizações operárias foram as Sociedades de Auxílio Mútuo e de Socorro Mútuo. Essas associações visavam ajudar os trabalhadores nos períodos de greve e em caso de acidentes. O princípio dessas sociedades era o do mutualismo, ou seja, da ajuda recíproca. Elas foram sucedidas pelas uniões operárias e, posteriormente, pelos sindicatos

Por fim, os sindicatos também podem ter uma orientação liberal. O caso mais exemplar de sindica-lismo orientado pelo liberalismo é o estadunidense.

O sindicalismo nos Estados Unidos ganhou im-portância na virada do século XIX para o século XX, quando foi criada a American Federation of Labor (AFL). A principal característica dessa organização era a defesa da luta econômica, da negociação direta com o patronato e a rejeição tanto à luta política quanto à formação de partidos trabalhistas e socialistas. A estratégia de conquista salarial dominante da AFL era a barganha, o que fez com que ela se tornasse ativa e reivindicativa, muitas vezes violenta, apesar de as greves serem curtas, por empresa (e não por categoria) e deflagradas na forma de boicote ao patronato.

Porém, em contraste com o anarquismo, socialismo e comunismo, o sindicalismo estadunidense é pró-capitalista, pois os trabalhadores acreditam que os benefícios e ganhos salariais só ocorrem com o desenvolvimento capitalista.

Além do sindicalismo, alguns movimentos existentes no campo, como o Movimento dos Trabalha-dores Rurais Sem-Terra (Brasil) e a Via Campesina (Brasil), lutam pelo acesso à terra, pela reforma agrária (ver Conceitos sociológicos) ou pela melhoria das condições do homem no campo. No Brasil, o conflito no campo tem sido especialmente latente nas últimas décadas. E isso por um motivo: aqui não se fez reforma agrária.

Ace

rvo

Icon

ogra

phia

Latin

stoc

k/Co

rbis

/Flip

Sch

ulke

A concentração da propriedade da terra no Brasil é apontada como um dos motivos da desigualdade social. Qual seria a origem histórica da concentração da propriedade fundiária no Brasil? Produza um relatório, ava-liando as raízes históricas e a forma como os governantes trataram, historicamente, essa questão.

Grevistas no Largo do Palácio. São Paulo, julho de 1917.

Marcha com participação da American Federation of Labor (AFL)

Ensino Médio | Modular 25

SOCIOLOGIA

Page 26: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Classes e formas de estratificação social no capitalismo contemporâneo

4

O que é classe social? Por que é importante dividir os indivíduos em classes sociais? Para compre-ender e explicar seu objeto principal – o funcionamento da sociedade, sua dinâmica, suas mudanças e permanências, suas contradições e sua estrutura –, o cientista social faz uso de muitos conceitos. Entre eles é muito provável que o de classe social seja dos mais importantes e também dos mais polêmicos. Embora todos os autores clássicos da Sociologia tenham escrito sobre grupos sociais, é muito diferente a forma como cada um entende, classifica e explica o assunto.

Conceito de classe social na sociologia de Marx e Weber

O conceito de classe social serve para evidenciar que a sociedade tem divisões e diferenças internas, que determinado grupo de indivíduos tem características sociais comuns as quais o distinguem dos demais. Assim entendida, a ideia de classe social é útil para explicar que, no interior das sociedades, os indivíduos são diferentes e ocupam lugares desiguais no espaço social (ver Conceitos sociológicos).

O termo “classe social” também é importante para qualquer profissional que busca descrever, mesmo que de forma superficial, alguns aspectos da sociedade. Por exemplo, fala-se, entre jornalistas e publicitários, de classes A, B, C, D e E.

Também é muito comum as classes sociais serem tratadas, como classe alta, classe baixa e um dos mais polêmicos entre os conceitos: classe média. Certamente, há uma diferença enorme entre classificar as classes com as primeiras letras do abecedário e com os termos “alta”, “média” e “baixa”. A terminologia dominante nos meios publicitários (A, B, C, D e E) apenas dá uma vaga e imprecisa ideia da hierarquia social, enquanto os termos “alta”, “média” e “baixa” aludem a posições sociais diferentes e a desigualdades sociais existentes.

No senso comum e no vocabulário corriqueiro, usa-se, em certas circunstâncias, a expressão “este homem não tem classe” para designar um indivíduo que se comportou de forma deselegante, hostil e ríspida. Em contraposição, diz-se também “aquela mulher é de classe”. Mas, pensando em termos rigorosamente sociológicos, essas expressões não fazem sentido, afinal todos os homens e mulheres necessariamente pertencem a determinadas classes sociais. Que classes são essas?

No geral, as classes sociais são divididas com base em critérios que podem ser estritamente eco-nômicos ou considerando uma espécie de composição de critérios econômicos, culturais ou ideológicos e políticos. Pode-se, sinteticamente, afirmar que Max Weber (1864-1920) se utiliza, basicamente, do critério econômico para definir as classes sociais, enquanto Karl Marx desenvolve uma análise mais complexa. Vejamos o que pensam esses autores a respeito de classe social.

Trabalho e Política26

Page 27: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Estratificação social na Sociologia

Para Weber, classe social significa a posição dos indivíduos em uma escala de estratificação social (ver Conceitos sociológicos).

Para Marx, as classes são definidas pelo lugar em que os agentes ocupam no processo de produ-ção. Assim, a propriedade ou não dos meios de produção é decisiva para compreender a divisão da sociedade em classes. A classe que tem a propriedade dos meios de produção e dos produtos do trabalho (seu ou alheio) é a classe dominante. Contrariamente, a classe desprovida desses meios de produção e dos produtos do seu trabalho é a classe dominada. No capitalismo, a classe dominante seria a burguesia; e a classe dominada, o proletariado. Essa concepção está explícita no livro escrito em colaboração com Friedrich Engels (1820-1895), O manifesto comunista (1848).

Para Marx, as relações de produção constituem um conjunto muito mais amplo de dimensões, além daquelas entendidas como propriamente econômicas. Ele considera as relações jurídicas e políticas – por exemplo, o contrato de trabalho e a igualdade formal entre os indivíduos no capitalismo – como condição para que o trabalhador venda a sua força de trabalho e, portanto, se constitua como força de trabalho para o capital.

Classe social segundo Weber

Podemos falar de uma “classe” quando: 1) certo número de pessoas tem em comum um

componente causal específico em suas oportunidades de vida, e na medida em que 2) esse

componente é representado exclusivamente pelos interesses econômicos da posse de bens e

oportunidades de renda, e 3) é representado sob as condições de mercado de produtos ou

mercado de trabalho. [Esses pontos referem-se à “situação de classe”, que podemos expressar

mais sucintamente como a oportunidade típica de uma oferta de bens, de condições de vida

exteriores e experiências pessoais de vida [...]. A palavra “classe” refere-se a qualquer grupo de

pessoas que se encontre na mesma situação de classe].

WEBER, Max. Classe, estamento, partido. In: WEBER, Max. Ensaios de Sociologia. 3. ed. Rio de Janeiro: J. Zahar,

1997. p. 212.

Estratificação e

desigualdades

na sociedade

brasileira

@SOC496

Ensino Médio | Modular 27

SOCIOLOGIA

Page 28: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

A forma como os indivíduos experimentam as suas condições de existência, portanto aquilo que eles pensam que são, o modo como vivem, seus interesses e sua capacidade de organização política formam e conformam as relações de produção. Em síntese, as relações de produção dizem respeito às relações políticas, ideológico-culturais e econômicas e estas, segundo Marx, não podem ser reduzidas ape-nas ao montante de renda ou à posição no mercado (como faz Weber). O montante de renda – ter muita renda e ser considerado rico ou ter pouca renda e ser considerado pobre – é, apenas e tão somente, um efeito da propriedade ou não dos meios de produção. Isso para o marxismo.

O sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002) utiliza, diferentemente de Marx e de Weber, outro critério para classificar os indivíduos na estrutura social. Não são as relações de produção nem a si-tuação de mercado os critérios que permitem localizar o lugar dos indivíduos e dos grupos no espaço social. Bourdieu considera as relações culturais decisivas nessa classificação. Os estilos de vida de cada classe – o padrão estético, de comportamento, os hábitos de consumo – são uma espécie de marca, de distintivo que caracteriza e, ao mesmo tempo, distingue uma classe da outra. O modo como os grupos vivem, consomem, os hábitos mais recorrentes e importantes, tudo isso dá certa marca aos grupos sociais, certa exclusividade para a sua classe.

Em seu livro A distinção (1979), Bourdieu mostra que tão logo certos hábitos de con-sumo, estilos de vida de uma classe, passem a ser incorporados por outra, a primeira tratará de buscar novos distintivos sociais

Shut

ters

tock

/Fer

enc

Szel

epcs

enyi

Para Marx e Engels, as duas classes fundamentais estão sempre em luta

A história de toda a sociedade até aqui é a história de lutas de classes. [Homem] livre e escravo,

patrício e plebeu, barão e servo, burgueses de corporação e oficial, em suma, opressores e oprimidos,

estiveram em constante oposição uns aos outros, travaram uma luta ininterrupta, ora oculta ora aberta,

uma luta que de cada vez acabou por uma reconfiguração revolucionária de toda a sociedade ou pelo

declínio comum das classes em luta.

MARXISTS. Manifesto do Partido Comunista. Disponível em: <http://www.marxists.org/portugues/marx/1848/ManifestoDoPar-

tidoComunista/cap1.htm>. Acesso em: 15 out. 2009.

Trabalho e Política28

Page 29: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

A relação entre as classes também é compreendida diferentemente por esses autores. Para Marx, no capitalismo, a relação entre burguesia e proletariado é sempre uma relação de conflito e de exploração, um antagonismo. Para Weber, a relação entre as classes é de mera justaposição, ou seja, uma classe é alta porque tem mais renda e poder de consumo; outra é baixa porque tem menos renda e poder de consumo; outra é média porque fica no meio das duas anteriores.

Já para Bourdieu, a relação entre as classes não é de exploração, nem de mera justaposição. As classes constroem seu “capital simbólico”, seu estilo de vida, suas marcas sociais, sobretudo em oposição às demais, isto é, para se distinguir das demais.

A que classe pertenço?A questão do pertencimento de classe não é consensual na Sociologia. Isso porque, dependendo

do critério considerado, um indivíduo poderá pertencer a uma ou outra classe. O que fazer, então? Utilizar qualquer classificação? Embaralhar os critérios de Marx, Weber ou Bourdieu, por exemplo, assumindo, assim, uma postura eclética em relação às interpretações sociológicas?

Nem uma coisa, nem outra. Não se podem misturar ou embaralhar os conceitos elaborados pelos autores, porque eles estão ligados a teorias distintas. O que é classe para um autor, não o é, necessariamente, para outro. Pode-se então adotar qualquer critério de estratificação social ou existem aqueles mais eficazes?

O modelo de estratificação social proposto por Weber para compreender a sociedade contem-porânea tem sido o mais influente dentro e fora da Sociologia. A ideia, segundo a qual a posição do indivíduo na estrutura social depende do montante de renda e da situação de mercado (status derivado de diplomas, de determinadas profissões, da própria renda), influencia a grande maioria dos estudos econômicos (e publicitários) sobre o assunto.

Porém, há limites na aplicação do conceito weberiano de classe social. Por exemplo, ao consi-derar apenas a posição econômica dos indivíduos, não se cogita a possibilidade de encontrar um proprietário de uma lanchonete que tenha uma renda mensal menor do que a de um metalúrgico ou de um petroleiro. Caso se considere o critério da renda, as inúmeras diferenças entre o metalúrgico (assalariado manual) e o pequeno proprietário serão apagadas completamente.

O sociólogo estadunidense Charles Wright Mills (1916-1962) sofisticou a noção de classe baseada no critério estritamente econômico, proposto por Weber, acrescentando dois novos fun-damentos: status social e poder. Wright Mills pensava que mais importante do que a posição econômica ocupada pelos indivíduos era sua posição nas relações de poder e influência e nas relações de status social. O status, o poder de decisão, a autonomia no trabalho, a posição mais destacada na hierarquia do trabalho, entre outros fatores, comporiam um conjunto de variáveis para definir o pertencimento de classe.

Embora Mills tenha sofisticado os critérios weberianos de pertencimento de classe e criado o conceito de “nova classe média” para se referir aos “colarinhos brancos” – os trabalhadores não manuais dos escritórios –, o problema do empilhamento social permaneceu intacto. As classes estariam sobrepostas umas às outras. Essa metáfora da sobreposição elimina a existência de conflitos e contradições entre as classes. Os conflitos existentes aí seriam os individuais – por mais poder, melhores empregos, melhores salários, acesso a itens de consumo diferenciados, etc. Mas, isso não é conflito entre classes.

Estratificação social da sociedade contemporânea

Marx mostrou que os antagonismos existentes na sociedade capitalista são complexos e se caracte-rizam, por assim dizer, não apenas pela relação entre as classes fundamentais (burguesia e proletariado), mas entre elas e as classes intermediárias (pequena-burguesia, classe média, camada média) e entre as frações ou camadas existentes em uma mesma classe. Ou seja, existem conflitos entre as frações das classes dominantes e entre as frações das classes dominadas.

Ensino Médio | Modular 29

SOCIOLOGIA

Page 30: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Há uma crescente diferenciação, verificada a partir do início do século XX, entre trabalhador manual e trabalhador não manual. Embora o número de trabalhadores manuais tenha crescido, acompanhando o próprio desenvolvimento do capitalismo, o montante de trabalhadores não manuais, seja no interior das empresas capitalistas seja nos escritórios e no setor público, aumentou ainda mais. As ocupações e profissões não manuais foram ampliadas e estabeleceu-se entre seus ocupantes e os trabalhadores manuais uma clara hierarquia de funções, salários, educação e direitos sociais.

Essa crescente diferença reflete-se também nos comportamentos sociais e políticos. O crescimento da classe média, o aumento de sua importância social e as mudanças em sua composição foram tão grandes que Wright Mills falou da existência de uma “nova classe média”.

A expressão “classe média” tem sido utilizada para designar um subconjunto de assalariados: os trabalhadores não manuais. O adjetivo “nova”, inserido por Wright Mills, cumpre a função de evidenciar que, se inicialmente a classe média era minoritária quantitativamente e composta por profissionais liberais, a partir do século XX, a nova classe média superou em termos numéricos a classe operária (trabalhadores manuais). A fase monopolista do capitalismo (ver Racionalização do trabalho: fordismo, neste volume) demandava cada vez mais trabalhadores com formação específica para funções de natureza burocrática, administrativa, financeira, de serviços e de comunicação, nos setores público e privado da economia.

Ocupações e profissões novas vão sendo criadas, no decorrer de todo o século XX, ora por substi-tuição ora por força dos processos produtivos, da inovação tecnológica e do próprio desenvolvimento das grandes cidades. As demandas por direitos sociais também impulsionam setores, em especial os de serviços, educação, saúde e cultura, engrossando o contingente de trabalhadores não manuais. O mesmo pode ser dito a respeito do crescimento dos meios de comunicação, do setor financeiro, da produção de ciência e tecnologia.

Mudanças na estrutura de classes também se verificaram nas últimas décadas do século XX, em função das reformas neoliberais e do processo de reestruturação produtiva nas empresas, que geraram desemprego, aumentaram a informalidade, precarizaram as condições de trabalho e suprimiram algumas ocupações de classe média, embora outras tenham aumentado (como o setor informacional).

No Brasil, nos anos 1990, inúmeros trabalhadores formais passaram a ser contratados, por exemplo, indiretamente (terceirização), subcontratação direta (trabalha-se para alguém de forma autônoma) ou contratação regida por metas de produtividade. Uma parcela dos trabalhadores de classe média alta converteu-se em pequenos proprietários ou em trabalhadores especializados autônomos; uma parte dos trabalhadores de classe média e baixa e de trabalhadores manuais passou a ser contratada por tempo determinado ou na condição de prestadores de serviços. Houve, também, mudanças na composição ocupacional, geradas, por exemplo, pelo aumento do setor de serviços. Foram reduzidos alguns quadros administrativos, especialmente os cargos de chefia intermediária e de supervisão. Com o aumento dos investimentos das empresas em informatização e também a chamada reengenharia de produção, foram reduzidos os níveis hierárquicos das grandes empresas, fenômeno conhecido por downsizing (achatamento). O setor do comércio, que já era tradicionalmente marcado pelas irregularidades nos contratos, é amplamente afetado pela flexibilização trabalhista. Outro indicador importante foi o en-xugamento do emprego no setor público, ocasionado pelas privatizações e pela política de redução de gastos sociais. No período de 1989-1994, teria ocorrido uma retração de 19% nos postos de trabalho de classe média no estado de São Paulo (QUADROS, 1996). No ano de 1980, 31,7% da População Economicamente Ativa (PEA) brasileira pertencia à classe média, enquanto, em 2000, essa cifra caiu para 27,1% (POCHMANN, 2006).

30 Trabalho e Política

Page 31: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

A tabela elaborada pela Fundação Getúlio Vargas, em 2008, apresenta a seguinte estratificação da sociedade brasileira:

Renda domiciliar total de todas as fontes

Limite inferior Limite superior

Classe E 0 768

Remediado D 768 1.064

Classe média C 1.064 4.591

Elite A e B 4.591

Fonte: FGV, 2008. * Valores em reais.

Com base na tabela, responda: Que critério de estratificação social foi utilizado pela Fundação Getúlio Vargas para elaborar essa tabela?

Mobilidade social: ascensão e queda socialDiferentemente das sociedades pré-capitalistas, no capitalismo é possível a mudança de classe, ou

seja, é possível haver mobilidade social ascendente e descendente. A mobilidade social ascendente é possível quando um indivíduo pertencente a determinada classe de origem, no decorrer de sua vida e por variadas oportunidades, muda a sua condição de classe. Essa mobilidade é possível graças à igualdade formal e ocorre em função, basicamente, do trabalho e da escolarização. Embora a mobilidade ascendente seja possível para indivíduos particulares, ela não é possível para todo o grupo de uma classe social. Por exemplo, um jovem que venha de uma família de operários ou de assalariados rurais pode, pela via escolar, ascender à condição de classe média ou de pequeno proprietário. A ideologia da ascensão social pela via escolar, que é uma ideologia típica da classe média, oculta que, embora se considere possível alguns indivíduos “mudarem de vida” e de classe, isto é impossível para todos os indivíduos da sua classe.

Geralmente, a mobilidade descendente é minimizada ou negligenciada pelos analistas, mas ela também existe, especialmente nos momentos de crise do capitalismo. A mobilidade descendente pode ser observada por meio de dois fenômenos: a mudança da condição de pro-prietários (pequena burguesia ou burguesia) para a de assalariados (manuais ou não manu-ais) e a mudança da condição de assalariados não manuais para a de assalariados manuais. Justamente porque, no capitalismo, as ideologias tipicamente de classe média valorizem o empreendedorismo, o sucesso ou a ascensão social, pouco se fala da queda social. Em ge-ral, quando um indivíduo descende socialmente, a “culpa” recai sobre ele próprio: supõe- -se que ele tenha sido um péssimo negociante, que seja um derrotado, um desajustado ou, então, que tenha se complicado com problemas pessoais. O medo do rebaixamento social contamina e influencia o comportamento político não apenas dos indivíduos, isoladamente, mas das classes às quais eles pertencem.

Ensino Médio | Modular 31

SOCIOLOGIA

Page 32: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

A Sociologia Política e o fenômeno do poder

5

A Sociologia Política

Em termos muito gerais, a Sociologia é a ciência que estuda e explica o comportamento humano em sociedade.Ela procura esclarecer por que os seres humanos se comportam da maneira como se comportam quando se relacionam

uns com os outros. Portanto, a Sociologia não estuda qualquer tipo de comportamento ou ação humana (por exemplo: pensar, querer, orar, que são ações em princípio individuais), mas o comportamento que se desenvolve em interação com outros seres humanos. Por essa razão, pode-se dizer que a Sociologia é a ciência das interações humanas ou, para definir de outra forma, a ciência das relações sociais (ver Conceitos sociológicos).

Sendo uma ciência (assim como a Física, a Química ou a Biologia), a Sociologia procura identificar as causas e as consequências do que ela pretende estudar, isto é, das relações entre os agentes sociais.

As causas do comportamento humano, porém, são sempre complexas e nunca há uma só causa responsável por uma ação ou decisão que se toma. Essa é uma das razões que explica a existência de várias escolas sociológicas, como o estruturalismo, o individualismo metodológico, o funcionalismo, o interacionismo simbólico, etc.

As imagens sugerem os dois tipos básicos de análise social: uma tradição sociológica foca preferencialmente o indivíduo; outra tradição sociológica focaliza o sistema (social) mais amplo do qual ele faz parte. Como na Astronomia: podemos considerar os planetas individualmente, ou o Sistema Solar, e mesmo a galáxia, que eles integram

O que estuda a Sociologia Política? O que

é decisão política? O que é comportamen-

to político? O que é poder?

Div

anzi

r Pad

ilha.

201

0. D

igita

l.

Trabalho e Política32

Page 33: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Algumas dessas escolas, ao estudarem o comportamento humano em sociedade, procuram saber quais são os motivos subjetivos (ver Conceitos sociológicos) que levam os seres humanos, em uma dada sociedade, a agirem desta ou daquela maneira. Pode-se agir por egoísmo, altruísmo, interesse, bem comum, paixão, etc.

Outras escolas sociológicas preocupam-se sobretudo com a estrutura social (ver Conceitos sociológicos) em que os seres humanos estão inseridos e sobre como essa estrutura pode condicio-nar suas práticas. Nesse caso, não é aquilo que os indivíduos pensam sobre o seu comportamento que explica o modo de interagirem uns com os outros, mas o grupo étnico em que nasceram, sua situação econômica (a classe social da qual fazem parte, por exemplo, mas não só ela), seu estoque cultural (o nível de escolaridade, os valores religiosos que lhes foram ensinados e que devem seguir, etc.) e assim por diante.

Essas duas formas de explicar o comportamento humano – através dos motivos individuais ou da estrutura social que os condiciona – são complementares, embora com muita fre-quência sejam apresentadas como antagônicas.

O texto a seguir sintetiza as duas maneiras pelas quais a Sociologia aborda os comporta-mentos humanos.

A primeira, chamada objetivista ou, em termos mais amplos, “estruturalista”, preocupa--se com o modo pelo qual a estrutura social influencia, limita, determina, estimula ou impede os comportamentos dos indivíduos. A sociedade é pensada aqui, na linha de um sociólogo como Émile Durkheim, como um conjunto de fatos sociais, isto é, um conjunto de instituições – Igreja, Escola, partido, religião, costumes sexuais, etc., – que uma vez constituídas (isto é, tornadas “coisas” que existem objetiva e independentemente da von-tade do indivíduo) condicionam as condutas, ideias e práticas das pessoas.

A segunda, chamada subjetivista, corresponde à maneira pela qual a Sociologia aborda os comportamentos humanos. Ela é chamada assim porque sua ênfase recai no sujeito, no indiví-duo, e na forma pela qual ele vê o mundo, e não nas estruturas sociais. O mundo social, na linha de um sociólogo como Alfred Schütz (1899-1959), autor de Fenomenologia e relações sociais, deve ser então compreendido e explicado pelo sociólogo a partir das ideias, das noções e formas pelas quais os indivíduos percebem o mundo social. Dessa maneira, interessa menos a capaci-dade de uma religião instituída moldar os comportamentos dos fiéis, e mais os mecanismos de percepção, as formas de crença que são construídas nas cabeças desses fiéis e que permitem que eles “leiam”, isto é, expliquem o mundo social a partir daí.

A diferenciação

entre as noções

de senso comum e

saber científico

@SOC200

Ensino Médio | Modular 33

SOCIOLOGIA

Page 34: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

As perspectivas objetivista e subjetivista na Sociologia

Em termos muito gerais, a ciência social, tanto a Antropologia como a Sociologia e a História, oscila

entre dois pontos de vista aparentemente incompatíveis [...]: o objetivismo e o subjetivismo [...]. De um

lado, ela pode “tratar os fatos sociais como coisas”, segundo a velha máxima durkheimiana [...]. De outro

lado, ela pode reduzir o mundo social às representações que dele se fazem os agentes, e então a tarefa

da ciência social consistiria em produzir uma “explicação das explicações” [...] produzidas pelos sujeitos

sociais. [...] [Portanto,] assim como o subjetivismo predispõe [o observador, o sociólogo] a reduzir as estruturas [sociais] às interações [entre os agentes sociais], o objetivismo tende a deduzir as ações e

interações [sociais] da estrutura.

BOURDIEU, Pierre. Espaço social e poder simbólico. In: ______. Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense, 2004. p. 150, 155-156

(Grifos nossos).

Seja qual for a perspectiva adotada, a Sociologia, conforme Peter Berger (1929-) – um cientista social austríaco que ensinou nos EUA após a Segunda Guerra Mundial – é sempre uma ciência desmitificadora. Ele afirma que não há nada de natural no comportamento dos seres humanos quando se relacionam entre si. A Sociologia procura mostrar que tais comportamentos são criados arbitrariamente pelos homens e, por isso, podem também ser transformados por eles (ou não). O título de um livro de Berger, escrito em 1966 em parceria com o sociólogo alemão Thomas Luckmann (1927-), A construção social da realidade, sugere exatamente isto: o mundo social não é um dado, ele não existe pura e simplesmente como os planetas ou os ecossistemas. Ele é construído, não por um indivíduo, mas por muitos, coletivamente, ou melhor, socialmente. Eles resumiram assim essa ideia: “O Homo sapiens é sempre Homo socius”.

Os homens produzem a sociedade, a sociedade produz a humanidadeÉ um lugar comum etnológico dizer que as maneiras de tornar-se e ser humano são tão numerosas quanto as culturas hu-manas [existentes]. A humanização é variável em sentido sociocultural. Em outras palavras, não existe natureza humana no sentido de um substrato biologicamente fixo [...]. Há somente a natureza humana no sentido de constantes antropológicas [...]. Mas a forma específica em que esta humanização se molda é determinada por essas formações socioculturais, sendo relativa às suas numerosas variações. Embora seja possível dizer que o homem tem uma natureza, é mais significativo dizer que o homem constrói sua própria natureza, ou, mais simplesmente, que o homem produz a si mesmo.

BERGER, Peter; LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade. Petrópolis: Vozes, 1976. p. 72.

Com base exclusivamente no texto acima, assinale a alternativa correta: a) Segundo os autores, não existe algo como uma “natureza humana” eterna, isto é, imutável e universal, ou seja,

válida para todas as sociedades. A natureza do homem não está fora do tempo e fora do espaço. Os seres humanos são, antes de tudo, produtos da cultura humana.

b) Para Berger e Luckmann, a existência ou não de uma natureza humana é um tema controverso. O assunto não foi resolvido por filósofos, por sociólogos, nem por etnólogos. Esses últimos, aliás, recusam o lugar comum segundo o qual a variedade de formas assumidas pela humanidade é resultado da variedade de culturas existentes.

Trabalho e Política34

Page 35: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

c) Conforme essa passagem, só existe uma natureza humana quando se pensa o problema do ponto de vista etnológico. Isso já é um lugar comum. A Antropologia Social revelou, graças às pesquisas de campo com muitos povos, que existem comportamentos universais e invariáveis.

d) Para Berger e Luckmann não existe algo como uma “natureza humana” eterna e universal visto que a variedade de culturas impõe a variedade de pensamentos, de comportamentos e de ações dos agentes sociais. Na realidade, há uma natureza humana, mas apenas do ponto de vista biológico.

A variedade de culturas existentes resulta em muitas formas diferentes de organização das sociedades humanas. Em todas essas sociedades há, todavia, um mesmo problema a resolver. Esse problema diz respeito ao exercício do poder. Quem deve mandar? Essa é a questão política por excelência. Em grupos, façam o seguinte exercício es-peculativo – debatam e procurem responder às seguintes questões:

a) Será que é possível haver uma sociedade organizada sem que haja, ao mesmo tempo, um centro de poder de onde emana a autori-dade legítima, mas também a dominação e a subordinação de uns em relação aos outros?

b) Se não for possível prescindir do poder e da dominação de uns sobre os outros, será que há uma maneira mais racional e/ou mais justa de organizar o exercício do poder? Seria essa maneira a democracia eleitoral ocidental? Por quê?

c) Por outro lado, se é possível, sim, existir uma sociedade sem um poder político centraliza-do, seja na figura do chefe ou do líder, seja na figura do Estado, como fazer para que todos obedeçam às regras de convivência?

O que é política?

Se a Sociologia é uma ciência do comportamento huma-no, é preciso reconhecer que esse assunto é muito complexo e variado. Por exemplo: há um comportamento de tipo eco-nômico (comprar, vender), de tipo religioso (crer, orar) e há também um comportamento político.

Nenhuma Sociologia e nenhum analista podem dar conta de todas essas dimensões da vida social. Essa é uma das razões que explica o surgimento de disciplinas especializadas no campo da Sociologia. Assim, para estudar o comportamen-to religioso dos seres humanos, há a Sociologia da Religião; para estudar o comportamento econômico, a Sociologia Econômica; para analisar a formação e a transformação dos Estados Nacionais, a Sociologia Histórica; e para estudar como homens e mulheres usam o seu tempo na vida em sociedade, a Sociologia do cotidiano. A rigor, todo tipo de atividade humana em sociedade pode ser transformado em uma especialidade da Sociologia. Daí Sociologia do trabalho, do lazer, da música, do esporte, da violência, etc.

A Sociologia Política é, por sua vez, aquele ramo da Sociologia que pretende analisar e explicar os fenômenos políticos a partir de seus diversos condicionantes sociais.

Essa definição coloca imediatamente outras perguntas. O que é então política? O que se quer dizer quando se diz que uma pessoa faz política? A política é uma dimensão fundamental da vida social?

Latin

stoc

k/Re

uter

s

A fotografia de 1989 mostra um homem postado diante de uma fila de tanques do Exército chinês visando impedir que estes

chegassem à Praça da Paz Celestial, em Pequim, lugar onde, nos dias anteriores,

protestos contra o governo havia resultado no massacre de civis

Conceito de

política e sua

relação com

a noção de

poder e de

Estado

@SOC209

Ensino Médio | Modular 35

SOCIOLOGIA

Page 36: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

A imagem da Praça da Paz Celestial possui várias simbologias. A maioria delas pode ser incluída na categoria “política”. Em grupos, discutam que forma de fazer polí-tica a fotografia sugere e façam um breve relatório das implicações que essa forma de agir pode produzir.

A fotografia da página anterior mostra uma forma dramáti-ca de se fazer política. Mas há muitas outras formas. Pode-se fazer política ativamente (militando por uma causa) ou passi-vamente (votando a cada quatro anos). Pode-se fazer política de maneira coletiva, engajando-se em uma organização, como um partido ou um sindicato; ou de maneira individual, assinando uma petição de protesto contra algo que ofenda os princípios. Até quando os indivíduos se desinteressam de política eles fazem política. Ou melhor, estão deixando que outros façam política em seu lugar e definam, dessa forma, os rumos da sociedade em que vivem.

Resumidamente, pode-se dizer que a política é aquela esfera da sociedade em que os diversos grupos e/ou seus representantes autorizados (políticos de carreira, líderes sindicais, representantes dos empresários) lutam entre si para interferir nas decisões produzidas pelas autoridades de forma a influenciar a distribuição de quaisquer recursos sociais ao mesmo tempo valorizado e escasso, como dinheiro, influência, acesso à educação, prestígio social, etc.

Nesse sentido, a política é marcada por uma disputa permanente entre os múltiplos grupos sociais, incluindo as autoridades administrativas (como o presidente, os ministros, os dirigentes de empresas públicas), que também têm os seus próprios objetivos e interesses. A finalidade dessa disputa é fazer com que seus interesses sejam contemplados pelas decisões políticas.

Em resumo: política é conflito e conflito em torno de interesses, motivos, causas específicas, que não são iguais entre si. Esse conflito pode ser mais ou menos intenso, mais ou menos pacífico, envolver mais ou menos indivíduos ou organizações, implicar uma luta aberta (como nas revolu-ções) ou uma batalha regulada por leis (como é o caso das disputas eleitorais). Isso depende de uma série de fatores. O fundamental a saber é que política é igual a conflito. Mas também política é a forma pela qual se pode negociar e resolver esses conflitos de maneira civilizada.

Com base no que foi visto até aqui, assinale a alternativa incorreta:

a) Fazer política é fazer com que os interesses corretos da grande maioria da sociedade sejam consensualmente atendidos por go-vernos eleitos de forma livre e democrática.

b) Fazer política é fazer com que grupos adver-sários que lutam entre si para impor deter-minados valores ou realizar determinados interesses cheguem a um acordo possível.

c) Fazer política é fazer com que o grupo (po-lítico, social, ideológico) ao qual pertenço atinja seus objetivos da maneira mais efi-ciente e com o menor custo possível.

d) Fazer política é fazer com que o poder que exerço seja acatado por todos de maneira que as minhas decisões sejam obedecidas sem que seja preciso apelar sempre para a força.

O que é decisão política?

Faça um exercício de imaginação. Pense em um grupo qualquer de empresários do setor industrial. Eles estão orga-nizados politicamente, são um grupo bem coeso e articulado, familiarizados com o mundo da economia, assessorados por vários técnicos e especialistas capazes de manejar informa-ções e estatísticas. Esse grupo tem um objetivo definido: pressionar o governo, através da sua associação de classe e dos contatos que eles podem estabelecer diretamente no mundo político e com as cúpulas do Estado, para congelar o valor do salário mínimo. Essa medida seria adequada, na visão exclusiva dessas pessoas, porque facilitaria o processo de contratação de trabalhadores. Com o tempo, as empresas poderiam diminuir as despesas com esse fator de produção e com os direitos sociais ligados a ele (como abonos, décimo terceiro salário, gratificações). O raciocínio que justifica essa tomada de posição é o seguinte: quanto mais os empresários economizarem em salários, mais dinheiro eles terão para rein-vestir no seu negócio; quanto mais investimento houver, mais desenvolvimento econômico haverá. Mais desenvolvimento econômico é igual a mais emprego para os trabalhadores.

Trabalho e Política36

Page 37: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Imagine ainda que esses empresários sejam bem-suce-didos em sua ação e que essa pressão se traduza em uma decisão conjunta do Ministério da Fazenda e do Ministério do Trabalho e do Emprego, apoiada pelo Congresso Na-cional, a favor do congelamento temporário do valor do salário-mínimo. Como facilmente se percebe, essa ordem resultaria em uma clara desvantagem econômica para to-dos os trabalhadores cujo nível de renda está vinculado ao valor do salário-mínimo. Esses trabalhadores, através dos seus sindicatos, dos seus partidos, dos seus representantes políticos, tentarão então exercer a mesma pressão sobre o governo, mas em sentido contrário. Esse conflito é um conflito político.

Uma vez feita essa deliberação pelo governo – e isso vale para quaisquer deliberações – é preciso notar uma coisa importante. Como essa é uma decisão patrocinada pelas autoridades legítimas (ver Conceitos sociológicos), ainda que sob a influência de um grupo particular (os empresários

do setor industrial), ela se torna “obrigatória” e “inclusiva”. Como assim?

Segundo o cientista político estadunidense, Charles E. Lindblom (1917-), uma decisão é obrigatória e inclusiva quando todos os membros de uma dada comunidade po-lítica, mesmo aqueles que não concordam absolutamente com o conteúdo da determinação, têm que se submeter a ela. Ou seja: são obrigados a aceitá-la. Aqueles que se sentirem prejudicados devem, caso queiram defender seus interesses, também se organizar, mobilizar-se e pressionar as autoridades para reverter a decisão. Se isso ocorrer, a nova decisão (digamos: reverter o congelamento dos salários) também será obrigatória e inclusiva (isto é, válida para todos), mesmo para os empresários, agora derrotados.

Entretanto, os grupos sociais não têm todos eles a mes-ma capacidade de se organizar e interferir no processo de produção de decisões políticas, já que possuem recursos de poder desiguais.

Decisão política e democracia

O processo de formulação e implementação das decisões políticas não é um processo técnico, mas, sim, um

processo político no qual interferem desigualmente os mais diversos grupos sociais. Sendo assim, é fundamental,

quando nos propomos a pensar o problema da democracia, questionarmo-nos em que medida as decisões tomadas

pelas autoridades políticas expressam a vontade [de um] grande número [de pessoas] ou, ao contrário, [elas

resultam] da pressão de grupos minoritários e poderosos.

LINDBLOM, Charles E. O processo de decisão política. Brasília: UnB, 1989. p. 79.

Considere a seguinte definição de legitimidade:

Legitimidade [é] um atributo do Estado que consiste na presença, em uma parcela significativa da população, de um grau de consenso capaz de assegurar a obediência sem a necessidade de recorrer ao uso da força, a não ser em casos esporádicos. É por essa razão que todo poder busca alcançar consenso, de maneira que seja reco-nhecido como legítimo, transformando a obediência em adesão.

LEVI, Lucio. Legitimidade. In: Norberto Bobbio et al. (Org.). Dicionário de política. 4. ed. Brasília, UnB, 1992. v. 2, p. 675.

Com base nessa definição, o que é uma decisão legítima?

C id

A política é, portanto, uma luta permanente entre grupos sociais de diversos tipos (e não apenas entre grupos econô-micos) para fazerem com que os seus interesses e/ou seus pontos de vista sejam contemplados pelas decisões políticas.

Nesse sentido, segundo o cientista político estaduniden-se Harold Lasswell (1902-1978), o estudo da política consiste em saber quem consegue o quê, quando e como.

Teoria weberiana

acerca das formas de

dominação política e de

legitimação do poder

@SOC369

Ensino Médio | Modular 37

SOCIOLOGIA

Page 38: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

O que é comportamento político?

É toda ação que busca influenciar as decisões políticas, isto é, as decisões que contribuem para manter ou redefinir a distribuição de bens sociais valorizados e escassos.

Todos os grupos sociais e as organizações que os repre-sentam (partidos, sindicatos, associações civis, movimentos sociais) se mobilizam para produzir decisões obrigatórias e

inclusivas sobre impostos, distribuição de vagas nas universida-des, construção de casas populares, mensalidades das escolas privadas, nível dos salários públicos e privados, remuneração dos rendimentos financeiros, punição de atos racistas, políticas de ação afirmativas, criminalização de movimentos sociais e uma infinidade de outros temas. Eles estão com isso fazendo política.

A política como distribuição autoritária de “coisas” socialmente importantes

[...] as interações políticas [...] são predominantemente orientadas para a alocação autoritária de valores em uma

sociedade [...]. As alocações autoritárias distribuem [...] coisas valorizadas entre as pessoas e os grupos. Uma alocação

pode privar uma pessoa de algo valorizado que possua; pode impedir a consecução de valores que de outra forma teriam

obtido; ou pode permitir o acesso de pessoas a valores e impedir o de outras. Uma alocação é autoritária quando as

pessoas que a sofrem consideram-na obrigatória [...] coagidas pelo receio do uso da força ou de alguma sanção psicológica

severa, [...] autointeresse, tradição, lealdade, senso de legalidade ou sentimentos de legitimidade [...]. É o fato de

considerar as alocações como coercitivas que distingue as alocações políticas.

EASTON, David. Uma teoria da análise política. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1968. p. 79-80.

Alocação política é o ato de distribuir coisas valorizadas por pessoas ou grupos. Recursos públicos para investimento econômico, por exemplo. Com base no texto acima, assinale a alternativa correta:

a) Uma alocação política de um bem ou recurso nunca pode ser autoritária, pois a política, para funcionar bem, depende do consenso entre pessoas ou grupos.

b) Uma alocação política de um bem ou recurso é sempre uma medida autoritária, e esse é um traço típico dos regimes de força, como os regimes totalitários.

c) A alocação autoritária de bens e recursos socialmente valorizados obriga mesmo os membros de uma co-munidade política democrática a aceitá-la.

d) Se uma alocação política é autoritária, ela não pode distribuir bens ou recursos socialmente valorizados, pois eles são produtos de uma sociedade democrática.

Entendida dessa forma, a política é essencialmente uma esfera marcada pelo poder. Mas o que é o poder?

Esse conceito será visto detalhadamente mais adian-te. Por ora, basta dizer que o poder, segundo Max Weber (1864-1920), economista, sociólogo e jurista alemão, é a capacidade que um indivíduo ou um grupo tem de impor a sua vontade a outros grupos ou indivíduos em uma dada relação social.

Em política diz-se que um grupo exerce o poder quando se mostra capaz de, na concorrência, na disputa ou no conflito com outros grupos, fazer com que os seus interesses/concepções sejam prioritariamente contemplados pelas decisões políticas.

E dizemos que um grupo exerce o poder político quando é capaz, ele mesmo (ou seus representantes diretos), de tomar decisões políticas e garantir que tais decisões sejam acatadas por todos, isto é, que sejam obrigatórias e inclusivas.

Trabalho e Política38

Page 39: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

O que é Sociologia Política?

Se a política é essencialmente luta ou conflito, e conflito em torno da capacidade de impor decisões válidas, e se essa capacidade depende do poder político que se reúna e se dete-nha, então cabe perguntar o que garante que um grupo social consiga fazer com que os seus interesses prevaleçam sobre os interesses dos demais grupos com os quais ele compete.

Essa é a questão fundamental da Sociologia Política. Essa ciência se preocupa em identificar os recursos sociais (que podem ser econômicos, culturais, institucionais, simbólicos,

organizacionais, informacionais, motivacionais) de poder dos grupos que atuam na esfera política, e como eles conferem aos seus possuidores maior vantagem competitiva.

À medida que os recursos estão desigualmente distribuí-dos na sociedade, a Sociologia Política estuda as condições sociais da desigualdade política, procurando explicar por que alguns grupos têm mais poder que outros.

Mas, para compreender melhor essa discussão, é preciso saber um pouco mais sobre o conceito de poder.

Sociologia Política A Sociologia pode ser definida como a disciplina que “tende a optar por condições socioestruturais como variáveis expli-cativas”. Simetricamente, a Ciência Política pode ser definida como a disciplina que opta por condições político-estruturais como variáveis explicativas. Poder-se-á dizer que as variáveis independentes – causas, determinantes ou fatores – do sociólogo são, basicamente, estruturas , ao passo que as variáveis independentes – causas, determinantes ou fatores – do cientista político são, basicamente, estruturas . [...] A Sociologia Política é um que tenta combinar as variáveis sociais e políticas explanatórias, isto é, os insumos ( ) sugeridos pelos sociólogos e os sugeridos pelo cientista político. A sociologia da política é, pelo contrário, uma da política.

SARTORI, Giovanni. Da Sociologia da política à Sociologia Política. In: LIPSET, S. M. (Org.). Política e Ciências Sociais. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1969. p. 109, 112.

p ,

S i l i P líti

Com base na leitura do texto, assinale a alternativa incorreta: a) A Sociologia quer explicar o mundo político (as eleições, as relações entre os partidos, as disputas pelo poder)

pelos fatores principalmente políticos e econômicos. b) A Ciência Política pretende explicar o mundo político através de fatores puramente políticos, deixando em

segundo plano os fatores sociais. c) A Sociologia Política deseja explicar o mundo político unindo, de maneira equilibrada, tanto fatores sociais

como fatores políticos. d) A Sociologia da Política, por sua vez, é uma tentativa de explicar o mundo político por intermédio de fatores

principalmente sociais.

Cientista político

A profissão exige graduação de quatro anos em Ciências Sociais e especialização voltada para a política. Esse profissional deve realizar análises políticas e, para tanto, precisa ter um sólido conhecimento de história e da língua portuguesa. O mercado de trabalho comporta a atuação na mídia, como analista político ou junto aos parlamentares e políticos do Executivo, prestando assessoria para sua atuação e discursos. Há também um importante espaço no serviço público, principalmente na área de definição das políticas públicas, além do trabalho na educação, como professor de escolas no nível médio e graduação.

Ensino Médio | Modular 39

SOCIOLOGIA

Page 40: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

O conceito de poder6

Como escreveu Bertrand Russell (1872-1970), matemático e filósofo britânico, o conceito de poder está para a Ciência Social assim como o conceito de energia está para a Física, isto é, constitui-se no seu mais importante tema de estudo. Assim, é preciso definir bem precisamente o conteúdo desse termo.

Ao contrário da Física e da Matemática, a Sociologia utiliza, para se exprimir, a linguagem natural, ou seja, as palavras do dia a dia. As Ciências Exatas conseguem expressar o mundo físico, o espaço lógico, os componentes da matéria através de fórmulas. Essas fórmulas – uma equação, por exemplo – utilizam símbolos precisos e universais. Já no caso das Ciências Sociais, é muito comum ficarmos perdidos entre o uso corrente de um termo, o emprego que todos damos a palavras usuais, como capital, dinheiro, Estado, governo, mercado, liberdade, etc., e o significado desses termos em uma dada teoria social.

Ideologia é um vocábulo desse tipo. Todos nós intuímos seu sentido. Ideologia é um conjunto de ideias que alguém possui sobre alguma coisa; ou, melhor ainda, um conjunto de convicções políticas. Mas ideologia é um termo cujo sentido varia bastante conforme cada Sociologia. E, mesmo no interior de uma teoria sociológica, seu sentido pode mudar no decorrer do tempo, conforme outros autores se disponham a utilizá-lo nos seus estudos e análises.

Com o termo poder acontece algo semelhante. Para com-plicar ainda mais, quando se consulta o dicionário percebe-se que “poder” pode ser empregado no mesmo sentido de força (física ou moral), influência, capacidade, autoridade, domínio e controle. Esses termos parecem intercambiáveis.

Assim, para utilizar o conceito de poder na Sociologia Política deve-se saber muito bem do que se está falando. Como seria possível definir essa palavra tão utilizada para descrever as relações políticas? Esse é o objetivo desta unidade.

Na tradição marxista clássica, o termo “ideologia” (mais frequente nos textos de polêmica política do que no discurso teórico) foi utilizado por Engels e Marx para qualificar os pensa-mentos tomados como entidades independentes da realidade material, como juízos puramente especulativos, tais como os sistemas de filosofia e a religião. Engels, mais adiante, agregou outro significado à noção de ideologia e esta passou a compreender todos os motivos falsos ou aparentes, todas as concepções ilusórias (“falsa consciência”) que concorriam para ocultar do próprio sujeito suas condições materiais e as contradições sociais em que estava enredado

O que é poder?

Quantas vezes você já não disse ou ouviu a seguinte frase: “Fulano tem poder”? Quantas vezes você também não afirmou: “Fulano tem mais poder do que sicrano”?

A primeira declaração sugere que o poder é alguma coisa que podemos possuir; a segunda sugere algo diferente, que o poder é uma quantidade passível de ser comparada, já

que uns podem ter mais dessa coisa do que outros. Mas raramente se diz claramente, quando se fala assim, o que se entende por poder.

Max Weber (1864-1920) foi o cientista social que mais procurou apurar, polir e tornar precisa a linguagem socio-lógica. Praticamente todos os termos empregados na sua

José

Agu

iar.

2010

. Dig

ital.

Trabalho e Política40

Page 41: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Sociologia são bastante bem explicados e, mais importante, diferenciados de termos parecidos. É o caso, por exemplo, de conceitos parecidos, como poder e dominação.

Essas diferenciações não são meros preciosismos de eruditos, mas meios necessários para saber do que se fala. Isso diminui muito a subjetividade das análises sociais.

Poder e dominação segundo Weber

“Poder significa a probabilidade de impor a própria vontade dentro de uma relação social, mesmo que contra toda

resistência e qualquer que seja o fundamento dessa probabilidade”. [...] Já “a dominação é um caso especial do poder”. [...]

“entendemos aqui por ‘dominação’ um estado de coisas pelo qual uma vontade manifesta (‘mandato’) do ‘dominador’ ou

dos ‘dominadores’ influi sobre os atos de outros (do ‘dominado’ ou dos ‘dominados’), de tal modo que num grau socialmente

relevante estes atos ocorram como se os dominados tivessem adotado por si mesmos e como máxima de sua conduta o conteúdo do mandato (‘obediência’)”.

WEBER, Max. Economía y sociedad. México: Fondo de Cultura Económica, 1984. p. 43, 695, 699.

Essas diferenciações levam a crer que o conceito de poder é um conceito genérico; e o de dominação, um conceito mais específico. Por essa razão, Weber dirá que o conceito de poder é “sociologicamente amorfo”, podendo ser aplicado a um sem--número de situações em que um homem é capaz de impor sua vontade a outro.

O conceito de dominação, ao contrário, aplica-se a casos muito mais específicos, muito concretos, isto é, a casos em que o predomínio da vontade de um sobre o outro se dá em uma relação de mando e “obediência”. No caso do poder, trata-se de “imposição da vontade”, com base no instrumento

da coação. A motivação interna do subjugado é o medo; no caso da dominação, a vontade do dominador predomina (isto é, orienta a conduta do dominado) porque o dominado toma o conteúdo da ordem como uma máxima que, por dever, deve orientar a sua conduta, como se, por si sós, eles tivessem adotado aquele conteúdo. Enfim, é como se a vontade do dominador tivesse se transformado na vontade do dominado.

Isso posto, o que de diferente em relação a outras teorias sobre o poder está sendo postulado pelo autor? Observe separadamente o sentido de cada um dos termos dessa definição de poder.

O poder como probabilidade

Primeiramente, o que Weber pretende dizer ao afirmar que o poder é uma probabilidade (“poder significa a pro-babilidade de impor a própria vontade”, etc.)?

A resposta a essa questão não pode ser dada sem que se leve em consideração outro termo da definição, qual seja, fundamento (“qualquer que seja o fundamento dessa probabilidade”).

Por “fundamento” Weber se refere aos recursos de poder. Todo poder, para que possa ser exercido, exige certo recurso, certos meios. É preciso, por assim dizer, ter alguma coisa a mais em relação aos outros para que “eu” possa mandar. Esse recurso pode ser riqueza, prestígio social, conhecimento, respeito dos outros. Tudo depende da situação social.

Diferentes recursos geram diferentes espécies de poder. Desse modo, o poder econômico precisa de recursos de tipo econômico (em geral capital, dinheiro, mas não só); o poder político utiliza, em última instância, a força física (mediante

os exércitos, por exemplo); o poder científico tem como base o conhecimento; e assim por diante. Ou seja, o fundamento não apenas viabiliza o exercício do poder – em política só posso mandar completamente se “eu” puder, no limite, subjugar militarmente meu adversário – como permite diferenciar “espécies de poder”.

Latin

Stoc

k/A

lbum

Cin

ema/

HBO

FIL

MS/

DRE

AM

WO

RKS

SKG

SOCIOLOGIA

Ensino Médio | Modular 41

Page 42: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

No entanto, um recurso, um meio por si só nunca é poder, mas apenas uma “base provável” para o seu exercício. É por essa razão que Weber define poder, a princípio, como uma probabilidade. Quem controla um dado recurso tem a probabilidade (e não a certeza) de exercer poder sobre outras pessoas, caso queira.

Ao fazer essa distinção, Weber evita a falácia dos re-cursos, que consiste em confundir a quantidade de recursos que um indivíduo ou grupo controla com a quantidade de poder que ele exerce efetivamente. Uma falácia é um ra-ciocínio falso que parece verdadeiro.

A definição de Weber aponta para o fato de que os recur-sos são uma condição necessária, mas não suficiente para o exercício do poder. Os recursos só estão a serviço do poder quando mobilizados, postos em prática pelo seu detentor em uma relação social com vistas a fazer com que sua vontade prevaleça. Nesse sentido, a definição weberiana jamais autoriza o analista a produzir conclusões sobre o poder de um dado agente com base em uma mera quantificação de seus recursos, por mais significativos que sejam.

Um exemplo para ilustrar o fato de um agente possuir os recursos, mas não o poder: um militar de alta patente, um coronel, de 58 anos de idade, acostumado a comandar tropas, dar ordens, ser respeitado e obedecido imediatamente e sem questionamentos decide, depois de aposentado e retirado do Exército, mudar de carreira, seja para aumentar seu orde-nado, seja para ocupar-se produtivamente. Aproveitando-se do fato de ser também engenheiro, com especializações e pós-graduações (mestrado, doutorado, estágios no exterior), candidata-se a uma posição de professor universitário. Para isso, ele deverá demonstrar uma habilidade diferente da que exibia antes na carreira militar. Num concurso para dar aulas na universidade, ele será julgado pela quantidade, pela atualidade do seu estoque de conhecimento na matéria específica; não por suas condecorações ou sua experiência prática nas Forças Armadas. Na nova situação, o tipo de poder que ele tinha não vale mais nada, por maior que fosse.

Com base no que foi visto até aqui, responda às seguintes questões:1. Qual a diferença básica entre os conceitos

de poder e dominação para Max Weber?2. Quais são os fundamentos do poder?3. O que é a falácia dos recursos?

O poder como relação social

e imposição de vontade

Tipos sociais distintos controlam e mobilizam recursos também distintos de poder. Recursos que têm muita importância num campo não têm, necessariamente, em outro. Capital, habilida-des e conhecimento são recursos valorizados, mas em domínios sociais diferentes: no mercado, no esporte, no laboratório, etc.

Shut

ters

tock

/Seb

astia

n D

uda

Wik

imed

ia C

omm

ons/

Nic

ole

Eloc

ih

Wik

imed

ia C

omm

ons/

Seve

rin N

owac

ki

Para que os “fundamentos” controlados por determi-nado indivíduo ou grupo deixem de ser apenas uma base provável para o poder, é preciso que ele esteja disposto a mobilizar tais recursos no interior de uma relação social. Esse é um ponto-chave.

Dessa forma, a frase “O indivíduo A exerce poder” não faz sentido, pois o poder só pode ser exercido sobre alguém. A só pode exercer seu poder sobre B (ou C ou D).

A definição weberiana de poder é, portanto, uma defi-nição relacional. Assim, o poder não é uma coisa que se

Segundo Weber, o poder é algo que só existe quando exercido sobre alguém

Latin

Stoc

k/Br

asil

RF/M

arce

lo O

livei

ra

Trabalho e Política42

Page 43: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

O poder como

resistência e conflito

possua, mas, sim, uma relação social. Somente quando uti-lizados no interior de uma relação social é que os recursos são o fundamento do poder. Mas utilizados em que sentido?

Portanto, o poder é sempre uma forma de afetar o comportamento do outro da maneira que se deseja. Para-fraseando Bertrand Russell, o poder é a capacidade de produzir efeitos pretendidos. No caso, obter do outro o comportamento que se pretende que ele assuma. Não é comum ouvirmos que uma mãe tem o poder de mandar seu filho sentar-se direito, parar de ver televisão, tomar banho?

Mas, se reduzíssemos o poder a uma maneira de obter do outro o comportamento desejado, ele não poderia ser diferenciado de outras formas de interação social, como a persuasão, a manipulação, a influência ou a dominação (ver Conceitos sociológicos).

Poder implica, portanto, uma forma específica de obter do outro o comportamento desejado. É nesse ponto que a palavra “imposição” tem um papel importante, pois ela indica que o exercício do poder implica a mobi-lização de recursos, estratégicos e escassos, no interior de uma dada relação social, com o fim de ameaçar outra pessoa da privação de coisas que ela valoriza e, assim, convencê-la a fazer algo que, de outro modo, ela não faria.

O poder, portanto, tem uma dimensão claramente coati-va: “Se você não fizer o que eu exijo, eu utilizarei os meus recursos para privar você de coisas que você valoriza”.

Mas atenção: o fato de o poder ter uma dimensão essencialmente coativa não quer dizer que ele se ba-seie apenas no uso da violência. A violência física é uma entre várias outras formas de sanção, mas nem de longe é a mais corriqueira. A perda de um emprego, os constrangimentos psicológicos, a humilhação pública, as reprimendas diárias, a perda de um apoio político, todas essas atitudes são maneiras de obter de outra pessoa o comportamento desejado em uma dada circunstância.

Qual é a paixão mais básica, o sentimento íntimo mais primário que permeia as relações de poder, segundo o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679)? “A paixão com que se pode contar é o medo”. O medo, conjugado à racionalidade humana, garante a obediência ao pacto social: “[...] é preciso alguma espécie de poder coercitivo, capaz de obrigar os homens ao cumprimento de seus pac-tos, mediante o terror de algum castigo que seja superior ao benefício que esperam tirar do rompimento do pacto” (HOBBES, 1983. p. 84; 86.).

O poder é, necessariamente, uma relação de conflito. Com relação a esse ponto, entretanto, é importante fazer duas observações.

Primeiramente, é preciso diferenciar conflito de resis-tência. A definição de Max Weber aponta para a ideia de conflito ao dizer que o poder é uma relação de “imposição de vontade”. No entanto, nem toda relação de conflito implica, necessariamente, o exercício aberto da resistência por parte daquele que se submete. Em uma situação ideal, uma relação de poder entre A e B se desenvolveria da seguinte maneira:

A deseja fazer x;B deseja fazer y;A ordena que B faça x e não y;B resiste;A ameaça privar B de alguma coisa que ele valoriza muito;B então obedece.No entanto, as relações de poder quase sempre se de-

senvolvem de maneira bem mais sutil.É o caso da regra das reações antecipadas. Nessas

situações, B adota o comportamento desejado por A sem esboçar resistência e sem que A tenha que enunciar uma ordem, pois B, pela experiência, sabe das consequências negativas que sofreria caso desobedecesse. Nesse caso, não presenciamos nenhuma resistência, mas a relação ainda é de conflito, isto é, de antagonismo entre aquilo que B desejaria fazer e aquilo que A exige que B faça.

Resumindo, pode-se dizer que o poder:(1) é uma relação social de conflito (e eventual resis-

tência) entre dois atores sociais conscientes do caráter antagônico, oposto de suas preferências;

(2) é uma relação social de conflito na qual A consegue fazer com que a sua vontade prevaleça sobre a von-tade de B;

(3) A consegue impor sua vontade a B valendo-se, para tanto, do uso de recursos socialmente escassos que lhe permitem ameaçar ou efetivamente impor a B privações severas; todavia,

(4) desde que os custos dessa ameaça ou imposição não se aproximem ou superem os benefícios obtidos por A, aplicando-se a B o mesmo cálculo em relação à submissão.

SOCIOLOGIA

Ensino Médio | Modular 43

Page 44: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Toda relação social é sempre uma relação de poder?

Segundo os cientistas políticos norte-americanos Peter Bachrach e Morton S. Baratz, para que uma relação social seja

qualificada como uma relação de poder é preciso que as seguintes condições sejam contempladas:

“a) A pessoa ameaçada tem consciência daquilo que dela se espera;

b) A sanção ameaçada é de fato considerada como uma restrição pela pessoa que recebe a ameaça;

c) A pessoa ameaçada tem que ter mais estima pelo valor que seria sacrificado se ela desobedecesse do que por um

outro [valor] a que seria promovido caso desobedecesse;

d) A pessoa ameaçada tem que estar convencida de que não é vã a ameaça contra ela, de que seu antagonista não

hesitaria in fine [no fim] a realmente impor sanções”.

BACHRACH, Peter; BARATZ, Morton S. Poder e decisão. In: CARDOSO, F. H.; MARTINS, C. E. (Org.). Política e sociedade. São Paulo: Companhia

Ediora Nacional, 1983. p. 46-47.

O poder político

Se toda relação de poder é marcada pelo conflito e pela imposição da vontade de uns sobre a vontade de outros, o que diferencia o poder político de outras espécies de poder? Várias vezes ouvem-se expressões do tipo: “fulano tem poder econômico”; “cicrano tem poder político”; “beltrano tem po-der ideológico”. Como é possível diferenciar essas diversas espécies de poder?

Conforme foi visto, um componente fundamental da defi-nição de poder são os fundamentos ou recursos que servem de base para o seu exercício. São esses os recursos que permitem diferenciar as espécies de poder.

Quando, por exemplo, se afirma que um indivíduo ou um grupo tem poder econômico, isso significa que esse indivíduo ou grupo controla recursos econômicos socialmente escassos que somente ele possui. Sendo assim, consegue-se fazer

com que sua vontade prevaleça sobre a vontade de outros indivíduos ou grupos. Seguindo a mesma lógica, como se pode definir poder político?

O recurso específico do poder político, seja qual for a forma assumida por ele, é o uso da violência física. Mas atenção: a violência física é o recurso específico controlado exclusivamente pelos detentores do poder político, mas não é o seu único recurso.

Uma autoridade política pode convencer os governados a aceitarem uma dada decisão por meio da persuasão ou da negociação. A força é o último recurso e só pode ser utilizada pelas autoridades políticas legítimas. Nas sociedades con-temporâneas, a instituição que concentra a capacidade de usar a força para impor suas decisões a todos os membros da comunidade política é o Estado.

Uma definição sociológica de Estado Hoje [...] podemos dizer que o Estado é uma comunidade humana que pretende, com êxito, o monopólio do uso legítimo da força física dentro de um determinado território. [...] O Estado é considerado como a única fonte do “direito” de usar a violência.

WEBER, Max. A política como vocação. In: GERTH, H. H.; MILLS, C. Wright (Org.). Max Weber: ensaios de Sociologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1982. p. 97-98.

Com base nessa passagem do texto de Weber, responda à seguinte questão:

Por que o Estado deve ser considerado “a única fonte” que possui o “direito” de usar a violência?

U d fi i ã i l

O estado

segundo Weber

e Marx

@SOC321

Trabalho e Política44

Page 45: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Acorda amorComposição: Leonel Paiva e Julinho da Adelaide (ambos heterônimos de Chico Buarque).

Acorda amorEu tive um pesadelo agoraSonhei que tinha gente lá foraBatendo no portão, que afliçãoEra a dura, numa muito escura viaturaMinha nossa santa criaturaChame, chame, chame láChame, chame o ladrão, chame o ladrãoAcorda amorNão é mais pesadelo nadaTem gente já no vão de escadaFazendo confusão, que afliçãoSão os homensE eu aqui parado de pijamaEu não gosto de passar vexameChame, chame, chameChame o ladrão, chame o ladrão

Se eu demorar uns mesesConvém, às vezes, você sofrerMas depois de um ano eu não vindoPonha a roupa de domingoE pode me esquecerAcorda amorQue o bicho é brabo e não sossegaSe você corre o bicho pegaSe fica não sei nãoAtençãoNão demoraDia desses chega a sua horaNão discuta à toa não reclameClame, chame lá, chame, chameChame o ladrão, chame o ladrão, chame o ladrão

(Não esqueça a escova, o sabonete e o violão).

BUARQUE, Chico. Sinal fechado. Chico Buarque. Universal. 1974. 1 CD.

Julinho da Adelaide nasceu quando Chico Buarque passou a ser muito conhecido entre os censores do regime militar, na década de 1970. Suas músicas eram proibidas somente porque levavam sua assinatura. A saída para burlar a censura foi a criação de um heterônimo. E deu certo. Acorda amor, Jorge maravilha e Milagre brasileiro passaram pela censura sem maiores problemas. Julinho chegou até a dar uma entrevista para o jornal Última Hora sobre sua carreira em ascensão. [...]

Disponível em: <http://www.chicobuarque.com.br/sanatorio/abre_julinho.htm>. Acesso em: 23 jun. 2010.

Interprete a letra da música. Destaque os versos mais significativos que sugiram a ação de determi-nada forma de poder. Faça uma pesquisa sobre o medo manifesto nos versos da música. Que medo seria esse? De quê? De quem?

O fato de, nas sociedades contemporâneas, o Estado ser a instituição que concentra e monopoliza o uso da violência física (por exemplo: há o risco de alguém ser preso caso a ordem de uma autoridade pública não seja acatada) explica em grande medida por que os diversos grupos sociais utilizam os mais diversos recur-sos para interferir nas decisões estatais ou mesmo para controlar diretamente o aparelho de Estado (ver Conceitos sociológicos).

Caso sejam bem-sucedidos, esses grupos conseguirão fazer com que os seus interesses sejam contemplados pelas decisões políticas e, por isso, infligidos a toda a comunidade. Assim, terão maior probabilidade de impor seus interesses àqueles grupos que possuírem em maior quantidade os recursos sociais estratégicos (econômico, simbólico, organizacional, cultural, etc.) capazes de influenciar os decisores políticos, que, por sua vez, dominam um instrumento indispensável para garantir suas decisões: a violência física do Estado. Mas atenção: “violência” aqui não designa “repressão”, embora, no limite, ela possa ser empregada. Designa antes os instrumentos, aparelhos e mecanismos com os quais o Estado faz valer o seu poder para coagir e constranger os indivíduos (os “cidadãos”) a cumprirem as leis. Isso envolve

a polícia, mas também os códigos legais, os tribunais e todo o imenso aparato de justiça.

Desse modo, pode-se dizer que um grupo que controla im-portantes recursos econômicos detém ao mesmo tempo o poder político quando, e somente quando, ele consegue utilizar seus recursos para produzir decisões políticas obrigatórias e inclusivas.

Isso pode ocorrer, por exemplo, por meio do financiamento da eleição de deputados que, uma vez vencedores nas urnas, defen-derão os interesses do grupo que o apoiou; pode ocorrer ainda por meio da ameaça de suspensão dos investimentos, o que poderia gerar uma grave crise econômica e um brutal desgaste político para o governo. Do mesmo modo, as mais diversas espécies de poder (poder cultural, poder organizacional, poder midiático, etc.) estão sempre em estreita interação com o poder político, e a distribuição desigual desses diversos recursos sociais está na base da desigualdade política.

A Sociologia Política estuda como a distribuição desigual desses recursos sociais afeta o funcionamento da vida política. É o que será visto a seguir.

Ensino Médio | Modular 45

SOCIOLOGIA

Page 46: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

O poder em ação7

Como foi possível observar no final da unidade anterior, existem vários recursos sociais que são utilizados por grupos e indivíduos que vivem em sociedade para influenciar as decisões políticas. Quando um grupo controla recursos que são muito importantes, este tende a ter mais poder político que outros grupos, isto é, ele tende a ter os seus interes-ses preferidos pelos decisores políticos em detrimento dos interesses de outros grupos, que se apresentam desprovidos de recursos tão importantes quanto o seu. O resultado disso é que aqueles que têm mais poder político, em função dos recursos que controlam, estão propensos, exatamente porque são mais influentes, a obter mais recursos e, por conseguin-te, a aumentar o seu poder político. Instaura-se, assim, um círculo vicioso que se inclina a aprofundar a desigualdade política na sociedade: quem tem mais tem sempre mais probabilidade de conseguir ainda mais.

Veja a seguir quais são os principais recursos sociais que afetam a dinâmica política nas sociedades contemporâneas. Segundo o sociólogo estadunidense Charles Wright Mills (1916-1962), prestígio, riqueza e poder são “cumulativos”.

Latin

Stoc

k/Co

rbis

/Sim

on J

arra

tt

,s se o-

Prestígio, riqueza e poder

Como a riqueza e o poder, o prestígio é cumula-tivo: quanto mais temos, mais podemos conseguir. Também esses valores tendem a se traduzir uns nos outros: o rico verifica ser-lhe mais fácil conseguir poder do que o pobre; os que têm um com-provam ser mais fácil controlar as oportunidades de adquirir fortuna do que os que não têm.

MILLS, Charles Wright. A elite do poder. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1981. p. 19.

Você concorda com essa proposição de Wright Mills? Prestígio, riqueza e poder tendem a vir junto porque um puxa o outro? Ou não? Argumente sobre suas opiniões e exemplifique suas posições.

Fundamentos econômicos

do poder político

Você já deve ter ouvido várias vezes que as decisões relativas à esfera da economia devem ser essencialmente técnicas, que não devem sofrer a influência de interesses políticos nem serem objeto da luta político-partidária. Também já deve ter lido várias vezes nos jornais que as empresas privadas são um mundo separado da política, que se situam num domínio próprio, o mercado, e que o Estado não deve, sob hipótese alguma, interferir na administração das empresas, assim como os seus donos não devem participar da política. São coisas que não se misturam.

Dinâmica do poder

político

@SOC995

Trabalho e Política46

Page 47: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Esse tipo de senso comum (ver Conceitos sociológicos) sugere que existe, de um lado, um sistema econômico e, de

O sistema político e o sistema econômico

A análise política lida com o poder, o governo e a autoridade. A economia se interessa pelos recursos escassos e

a produção ou distribuição de bens e serviços [...]. Por isso um economista e um cientista político podem estudar a

mesma instituição, mas o primeiro se ocupará primordialmente com a utilização de recursos escassos e o segundo com os

problemas relacionados com o poder, o governo e a autoridade. Porém, como a maioria das distinções traçadas entre os

temas de investigação e reflexão, a diferenciação entre política e economia não é perfeitamente clara.

DAHL, Robert. Análise política moderna. Brasília: UnB, 1988. p. 14.

outro, um sistema político, cada um deles regido por lógicas e leis próprias. Essa separação, no entanto, não é tão rígida quanto normalmente se apregoa.

A dificuldade para definir claramente a fronteira entre a ciência da economia e a ciência da política se deve em grande parte ao fato de que esses dois sistemas estão sobrepostos e em geral confundidos no funcionamento prático das sociedades huma-nas. Do ponto de vista político, isso quer dizer que o controle de recursos econômicos confere a certos grupos sociais uma maior probabilidade de influenciarem as decisões políticas a seu favor. Como isso pode ocorrer? De várias maneiras. Eis alguns exemplos:

Primeiramente, considere duas famílias, uma de classe média alta e outra situada nos estratos mais baixos da pirâmi-de social. Os filhos desta última família muito provavelmente estudarão em uma escola de poucos recursos, com professores desmotivados e/ou despreparados. A certa altura de sua forma-ção escolar, serão obrigados a trabalhar para contribuir com a renda familiar e, portanto, abandonarão os seus estudos. Muito dificilmente conseguirão retomar suas atividades estudantis e, caso o façam, isso ocorrerá em uma instituição de qualidade inferior. Exatamente o contrário ocorrerá com o filho da família abastada. Além de boas escolas e bons professores, terá tempo livre para se dedicar aos estudos até o final do ensino superior. Ao lado das atividades curriculares básicas, será estimulado a fazer cursos de línguas estrangeiras, viajar para o exterior, ler jornais e livros, etc. Essa simples diferença de condições e meios de vida já produz uma desigualdade política fundamental.

A desigualdade de renda se traduz na formação de um apa-rato cognitivo diferente em cada um dos casos para decifrar as informações políticas. Quem possui menos escolaridade (ou está submetido a uma educação de qualidade mais baixa) tem acesso a menos instrumentos lógicos, conceituais, culturais para entender o que se passa na política. Além disso, uma vida familiar cultu-ralmente rica, a leitura de livros e jornais e um bom ambiente escolar tendem a fomentar o interesse por política e este tende a se traduzir em mais participação e, portanto, mais influência.

Imagine-se agora, como segundo exemplo, uma grande associação que representa a indústria brasileira de brinque-dos. Os empresários filiados a essa associação estão muito incomodados com as baixas tarifas alfandegárias sobre brin-quedos importados (por exemplo: da China), o que leva parte da população consumidora a optar pelo produto estrangeiro, mais barato. Esses empresários resolvem então financiar a campanha de um político para o cargo de deputado fede-ral com a condição de que este, uma vez eleito, elabore e aprove projetos de leis favoráveis aos interesses daqueles empresários, por exemplo, aumentando a tarifa sobre uma série de produtos importados, inclusive os brinquedos. Caso sejam bem-sucedidos, os consumidores de brinquedos serão submetidos a uma decisão que os obriga a pagar bem mais caro pelo produto estrangeiro ou a consumir o produto nacional. Fica fácil perceber, entendendo esse exemplo, as mais diversas esferas da economia, que terão tanto mais capacidade de interferir nas decisões políticas daqueles grupos quanto mais recursos econômicos controlarem e mais dispostos estiverem a utilizar tais recursos para eleger parlamentares, políticos que representem e defendam ativamente seus interesses.

Latin

Stoc

k/Ra

dius

Imag

es

SOCIOLOGIA

Ensino Médio | Modular 47

Page 48: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Senadores durante votação do projeto que criou a 13ª. parcela da Bolsa Família, em Brasília (DF). 21 nov. 2006

Manifestantes de centrais sindicais e entidades civis durante manifestação, na avenida Paulista, contra demissões e a crise global, em São Paulo (SP). São Paulo (SP), 30 mar. 2009

Multidão faz fila para se inscrever no concurso de gari da Comlurb, a companhia de limpeza urbana do Rio de Janeiro (RJ), no Sambódromo da cidade. Rio de Janeiro – RJ, 03 jul. 2003

Por fim, suponha que, nas eleições presidenciais, os brasilei-ros resolvam votar em um candidato que defenda uma elevação substancial do salário-mínimo, multiplicando, por exemplo, o valor atual em quatro ou cinco vezes. Suponha ainda que esse candidato, uma vez eleito presidente, resolva cumprir essa pro-messa e consiga aprovar uma lei no Congresso Nacional com esse conteúdo. Muito provavelmente, os detentores do capital (os empresários), antevendo um enorme aumento dos custos de mão de obra, demitissem uma grande massa de trabalhadores e, também muito provavelmente, fechassem suas fábricas. O resultado prático disso tudo seria que o novo presidente estaria em uma encruzilhada fatal: ou recuaria de sua decisão, enfra-quecendo-se politicamente, ou insistiria na sua implementação, correndo, entretanto, o altíssimo risco de afundar o país num caos econômico em função da reação negativa dos “mercados”.

É importante perceber que essa reação – demissões em massa – não é uma ação política no sentido estrito, isto é, os donos das empresas não estão atuando no Congresso Nacional por meio de um representante eleito com seu dinheiro para reverter, anular ou bloquear a decisão do presidente. Trata-se simplesmente de suspender os investimentos numa situação que se afigura economicamente desvantajosa. No entanto, essa simples reação econômica, dada a importância dos recursos – sociais, econômicos, estratégicos – que esses em-presários controlam, produziria efeitos políticos devastadores.

Fundamentos

organizacionais

do poder político

Qualquer que seja o recurso ou estratégia utilizado por um grupo social, ele terá de se organizar, para influenciar as decisões políticas dos governos.

A organização é um fato político básico. Sem se cons-tituir num coletivo, sem se preparar para brigar, os grupos sociais estão condenados a verem os seus interesses (o que eles querem) e os seus valores (o que eles pensam) relegados a segundo plano pelos decisores públicos, em função da sua apatia política, ou estão condenados à indignação impotente e a manifestações episódicas, descontínuas e inúteis.

Folh

apre

ss/L

alo

de A

lmei

da

Conforme escreveu Mancur Olson em seu livro A lógica da ação coletiva (EDUSP,1999), um grupo social pode ser definido como um número de pessoas com interesses comuns. Uma organi-zação representa uma ação coordenada para atender aos interes-ses dos membros desse grupo. Uma organização, portanto, existe para produzir benefícios coletivos para o grupo em questão. Benefícios coletivos são aqueles que podem ser apropriados por todos os membros do grupo, tanto por aqueles que cooperaram para a sua realização como por aqueles que não cooperaram.

Os exemplos anteriores revelam que não só é um equí-voco separar a análise política da análise econômica, mas que a distribuição desigual de recursos econômicos é uma das mais importantes bases da desigualdade política.

Folh

apre

ss/S

érgi

o Li

ma

Folh

apre

ss/C

hris

Von

Am

eln

Trabalho e Política48

Page 49: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Se uma organização existe para produzir benefícios que possam ser apropriados por todos os membros de um grupo (pelos que cooperam e pelos que se abstêm de lutar por eles), tem-se então um grande problema para o surgimento das organizações. Como assim?

É muito importante reter que esses problemas de que serão falados se aplicam a grandes grupos (isto é, àqueles formados por muitas pessoas que, na maioria das vezes, nem se conhecem) e não a grupos pequenos (cujos mem-bros se conhecem e se relacionam pessoalmente).

Segundo Mancur Olson, os indivíduos agem por meio de uma racionalidade estratégica (ver Conceitos sociológi-cos), isto é, tendem sempre a agir de modo a maximizar os seus interesses.

Imagine um operário pensando se deve ou não cooperar com a greve proposta pelos seus colegas a fim de obter aumento salarial. Esse operário, indivíduo racional que é, realiza dois cálculos:

Primeiramente, ele pode pensar da seguinte maneira: “os meus colegas pretendem agir juntos para produzir um benefício coletivo (au-mento salarial). Este, uma vez produzido, pode ser apropriado por qualquer um, inclusive pelos que não cooperaram (os “fura-greves”). En-tão, a decisão mais vantajosa para mim é não cooperar, pois eu não tenho que arcar com ne-nhum custo da cooperação (por exemplo, uma eventual demissão ou represálias dos patrões, como o desconto dos dias parados) e posso me apropriar do benefício produzido (o aumento salarial), pois ele é coletivo”.

Posteriormente, esse mesmo operário pode avaliar: “além disso, se todos os meus colegas cooperarem, a minha contribuição individual seria tão insignificante que eu poderia me abster, não participar da greve, sem que minha abstenção fosse sequer notada; por outro lado, se ninguém cooperar com o movimento grevista, a minha contribuição isolada seria tão insignificante que não produziria resultado algum, de modo que não faria sentido eu agir nessas circunstâncias. Tanto num caso como no outro, seria sempre mais vantajoso não cooperar com meus companheiros”.

O problema, diz Olson, é que, como todos os indivíduos são racionais, todos pensarão da mesma forma e todos de-cidirão não cooperar. O resultado final é que a ação coletiva,

Elabore individualmente dois exemplos de ação coletiva, um para grandes grupos e outro para pequenos grupos. Liste quais seriam os dilemas e os problemas concretos para o primeiro grupo, e quais seriam as vantagens e as facilidades para o segundo. Anote os resultados.

que melhoraria a situação do grupo, seria frustrada exatamente em função dos vários cálculos racionais feitos pelos indivíduos que o compõem.

Como é fácil perceber, num grupo muito pequeno, os dois cálculos resumidos acima levam exatamente para a direção contrária.

Imagine um pequeno número de três ou quatro empresários que monopolizam a venda de combustíveis (álcool, gasolina, diesel) numa cidade qualquer. Imagine ainda que eles desejem aumentar o preço do combustível a cada 60 dias. Primeiramente, como apenas um deles controla uma grande fatia do merca-do, se ele sozinho decidir suspender a venda de combustíveis por algum tempo a fim de aumentar a procura pelo produto e, consequentemente, seu preço, essa ação isolada, por si só, produziria o efeito desejado e beneficiaria aos demais donos de postos de gasolina sem que eles cooperassem entre si – sem que precisassem combinar uma ação e agir juntos. Como o grupo é pequeno, os ganhos produzidos são tão elevados que acabam por incentivar um único indivíduo a assumir sozinho o ônus da produção do benefício coletivo. Em segundo lugar, a abstenção num pequeno grupo é sempre mais dramática, seja pelos impactos negativos que produz, seja pela pressão e pelos constrangimentos que o grupo impõe àquele que pretende se abster. Logo, o incentivo para que todos esses poucos indivíduos cooperem entre si é muito maior.

Esses raciocínios, com base nos princípios de análise propostos por Manur Olson, produzem um resultado de im-portância central para a vida política: os grupos pequenos têm muito mais facilidade para se organizar e para defender os seus interesses na vida política do que os grupos grandes.

Para dizer de forma mais contundente: as minorias têm mais poder político que as maiorias. Isso, como se percebe, afeta o funcionamento das democracias naquilo que elas têm de essencial, pois, afinal, os regimes democráticos se afirmam como os regimes em que as maiorias devem governar pelo voto.

Regimes políticos, dos

clássicos antigos a

Montesquieu e Weber

@SOC201

Ensino Médio | Modular 49

SOCIOLOGIA

Page 50: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Fundamentos informacionais do poder político

Você já parou para pensar na importância estratégica da in-formação quando é preciso tomar uma decisão muito importante?

Um exemplo bem corriqueiro: há pessoas que complicam sua situação financeira ao comprar um imóvel financiado no banco sem saber os juros que deverão pagar ao longo do período do emprésti-mo. Tivessem todas as informações desde o início (taxas, prazos), certamente tomariam outra decisão: adiariam a compra, com-prariam um imóvel mais barato ou optariam por viver de aluguel.

Imagine agora a importância do acesso à informação para o bom funcionamento da vida política, em geral, e da vida política democrática, em particular. O fato de alguns grupos possuírem mais e melhores informações que os outros pode representar uma vantagem considerável na busca de ganhos políticos (isto é, decisões que os favoreçam). Sem a informação adequada, a tendência é agir de forma equivocada. Isso produziria, na maior parte das vezes, resultados finais decepcionantes, tendo em vista os objetivos iniciais. Os adversários políticos, por sua vez, pode-riam aproveitar essa falta de informação a fim de obter vantagens

significativas, contrariando e frustrando os interesses daquele grupo.

Limitando-se a alguns exemplos muito triviais sobre o papel estratégico da informação, imagine, primeiramente, que duas facções políticas rivais lutem entre si para influenciar as decisões do Congresso Nacional em um assunto qualquer referente aos seus interesses – sobre a reforma da previdência social. O primeiro grupo é altamente informado sobre o funcionamento do Congresso, sobre as comissões parlamentares responsáveis pelos assuntos que lhe interessam, sobre os parlamentares es-pecializados no tema em questão, isto é,

Puls

ar Im

agen

s/D

u Zu

ppan

i

sabem muito bem aonde ir e com quem falar. O segundo grupo, ao contrário, carece de todas essas informações. Conta apenas com a boa vontade dos seus militantes e o entusiasmo pela causa que defende. Parece evidente que o primeiro grupo terá uma enorme vantagem política em relação ao segundo.

Imagine agora um eleitor que não tem qualquer informação sobre a proposta dos candidatos que disputam o seu voto para a eleição de vereador. É alto o risco de esse eleitor hipotético optar por um candidato que, em função de sua atuação política passada, dos seus vínculos políticos, dos interesses que ele costumeira-mente representa, não vir a fazer nada de bom para si. Imagine, por fim, um eleitor que confie demasiadamente numa única fonte de informação (um determinado canal de TV, um blog de opinião política), sem ter a oportunidade de comparar o que é informado por outras fontes (rádios, jornais, outros comentaristas). Esse eleitor corre sério risco de ser manipulado politicamente.

A desigualdade de informação tem várias origens. Uma delas, já abordada, reside na desigualdade econômica. Pessoas eco-nomicamente carentes podem ter dificuldades não apenas para acessar a informação necessária para tomar a boa decisão, como também dificuldades de processar a informação obtida em função de um déficit de educação formal.

Ao lado da desigualdade econômica entre os diversos grupos sociais, a própria organização das empresas de jornalismo e te-levisão pode comprometer o acesso a fontes de informação mais plurais. Como empresas, essas instituições filtram as informações em função dos seus interesses econômicos e políticos, dos seus pactos comerciais, dos seus compromissos com certos anunciantes. Se uma revista semanal depende muito, para existir, de publicidade oficial (campanhas do governo, anúncios de empresas estatais), dificilmente sua linha editorial será totalmente independente.

O cientista político estadunidense Anthony Downs afirmou que é preciso diferenciar, em política, conhecimento contex-tual de informação.

Conhecimento contextual e informação política

O conhecimento contextual ilumina a estrutura causal básica de algum campo de operações; ao passo que a informação

fornece dados atuais sobre as variáveis significativas naquele campo. [...] Com base nessas definições, é possível ver que

um homem pode ser culto sem ser informado, ou ser informado sem ser culto, mas ele não consegue interpretar informação

sem conhecimento contextual. Portanto, quando falamos de um cidadão informado, estamos nos referindo a um homem

que possui tanto conhecimento contextual quanto informações sobre aquelas áreas relevantes à sua tomada de decisão.

DOWNS, Anthony. Uma teoria econômica da democracia. São Paulo: EDUSP, 1999. p. 99, 101.

Congresso Nacional, 2009

Trabalho e Política50

Page 51: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Fundamentos culturais do poder político

Um indivíduo pode estar muito bem atualizado sobre tudo o que as autoridades políticas estão discutindo nesse exato momento, ler dois jornais por dia, assistir a três telejornais à noite, acompanhar diariamente os fatos na internet, em tempo real. Ele terá com isso muita informação política conjuntural. Mas ela adiantará pouco se ele não souber interpretá-la, se não puder inserir esses dados todos numa cadeia causal, se não conseguir dar um sentido a eles. É o caso indicado por Downs de alguém que é “informado sem ser culto”. Mas para tanto é preciso uma cultura especial.

Assim, ele precisará de conhecimento contextual sobre quem propõe o quê, com que interesses, em nome de quem; quem fala o quê, em nome de quem ou no lugar de quem; se as palavras usadas revelam a intenção real ou encobrem as posições políticas reais; e assim por diante.

O conhecimento contextual revela não só como funciona de fato a luta política de um país, mas onde os agentes políticos principais estão realmente situados, que grupos políticos eles representam e que ideias eles patrocinam. Para isso é necessário ter uma visão histórica adequada sobre a

vida passada dos principais protagonistas políticos, seus partidos atuais/anteriores, as causas que já defenderam, os compromissos que já firmaram com aliados, quem são seus adversários principais, etc. Isso é inclusive mais importante que ter sobre o assunto uma cultura teórica, uma visão livresca. Um advogado que domine bem o Direito Constitu-cional pode distinguir como se organizam, juridicamente, os Três Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário; quais são as suas funções constitucionais; como deveria ser, idealmente, a relação entre eles. Mas esse é o caso típico indicado por Downs: “um homem pode ser culto sem ser informado” do que realmente acontece no mundo político real.

O que importa frisar é que tanto a obtenção de conhe-cimento contextual quanto a de informação têm um custo bastante elevado em termos econômicos e mesmo um alto custo em termos de tempo despendido para ir atrás do que se quer ou se precisa saber para tomar a decisão correta. Portanto, não são, o conhecimento contextual e a informação conjuntural, adquiridos igualmente por todos os cidadãos.

Você se interessa por política? Por que algumas pessoas se interessam por política e outras não? É apenas uma questão de gosto pessoal? Você acha que essa diferença no interesse pela política produz algum efeito no funcio-namento da vida política do Brasil? Na sequência, esses pontos serão abordados um pouco mais detidamente.

Primeiramente, o interesse por política não é algo que cai do céu sobre as pessoas. Ele é socialmente pro-duzido. Os estudos de cultura política têm revelado claramente que aqueles que se interessam por política ou que defendem a democracia como o melhor regime político são os que têm o nível de escolaridade mais alto.

Segundo José Álvaro Moisés, cientista político bra-sileiro, a curiosidade dos cidadãos no Brasil por política e a sua relação (positiva, negativa ou de indiferença) em conformidade ao sistema democrático estão intimamente ligados ao seu grau de escolaridade (fundamental, médio, superior) e à sua situação social (rico, pobre, etc.). Portanto, essas predisposições subjetivas em relação à política não podem ser entendidas separadamente da posição social dos indivíduos.

Gostar mais ou menos de política tem a ver com posi-ção social e acesso à educação. Não é assim uma decisão estritamente pessoal. Ora, se os recursos econômicos e educacionais afetam o interesse por política e se tais re-

cursos são desigualmente distribuídos, então o interesse por política também é desigualmente distribuído.

Isso quer dizer que alguns grupos sociais se interessam mais por política que outros. Por conseguinte, tais grupos tendem a participar mais da vida política e, consequen-temente, a obter ainda mais vantagens, o que, por sua vez, contribui para aumentar mais ainda o seu interesse pela participação política. Como se vê, o interesse por política é outra dimensão da desigualdade política.

Folh

apre

ss/C

léo

Velle

da

Homem assina documento para retirada da Febem do Tatuapé, 23 set. 1999

Ensino Médio | Modular 51

SOCIOLOGIA

Page 52: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Poder, elites e democracia8

Já foi discutido como o funcionamento do poder político nas sociedades contemporâneas, formalmente igualitárias, é afetado por uma série de desigualdades produzidas pela estrutura social: desigualdade de classe, de acesso a informações, organizacional, cultural, etc.

Nesse sentido, é importante nesse momento tentar responder a duas questões fundamentais:(1) O que se quer dizer quando se fala de um poder político democrático?(2) Seria a democracia um sistema político baseado estritamente na igualdade jurídico-política (ver Conceitos so-

ciológicos) ou um sistema que deveria também fomentar a igualdade em outras dimensões da vida social?Para responder à primeira questão é preciso lembrar que vários autores têm defendido a tese de que nas sociedades

contemporâneas, dados o seu tamanho e a sua complexidade, a democracia não pode de modo algum se assemelhar àquela forma de organização política existente na Grécia Antiga, baseada na participação efetiva dos cidadãos livres na condução política da cidade, isto é, não pode ser mais uma democracia direta (ver Conceitos sociológicos).

Os Estados Nacionais contemporâneos, habitados por milhões de pessoas, responsáveis pela administração de extensos territórios e marcados por uma economia cada vez mais complexa, exigem uma forma de democracia bastante diferente.

Cidadania, liberdade e

democracia

@SOC785

Trabalho e Política52

Page 53: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

A democracia contemporânea:

uma democracia representativa

Essa nova forma de democracia, a democracia contemporânea, tem as seguintes características:

Ela não é direta, mas representativa, isto é, os cidadãos não devem participar diretamente da política, mas escolher, pelo voto, as lideranças que irão representá-los no Parlamento e no Poder Executivo.

Aqueles que obtêm a maior quantidade de votos assumem o governo ou o cargo político correspondente ao qual se candidataram.

Uma vez escolhidas essas lideranças (os “representantes”), elas devem ter poder suficiente para governar e impor as suas decisões até que sejam substituídas nas próximas eleições.

Para que esse procedimento funcione adequadamente, exige-se que as eleições sejam compe-titivas (isto é, contem com a participação de vários grupos com propostas políticas diferentes) e idôneas (isto é, que não haja fraudes).

Como a todos os eleitores, guardadas algumas restrições (de idade, por exemplo), é concedido o mesmo peso político (cada cabeça, um voto), esse sistema pressupõe, para que funcione adequadamente, a igualdade política.

A definição de democracia do economista austríaco Joseph Schumpeter (1883-1950) é a que me-lhor resume os princípios aqui expostos: “O método democrático é aquele acordo institucional para se chegar a decisões políticas em que os indivíduos adquirem o poder de decisão através de uma luta competitiva pelos votos da população” (SCHUMPETER, 1984, p. 336).

Como se percebe, a democracia, entendida dessa forma, é fundamentalmente um procedimento político (eleições competitivas baseadas no sufrágio universal) para a escolha de lideranças políticas.

Puls

ar Im

agen

s/Ju

ca M

artin

s

Democracia como

um sistema de

governo, um

processo de tomada

de decisões

@SOC142

Ensino Médio | Modular 53

SOCIOLOGIA

Page 54: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Igualdade política e desigualdade social

Primeiramente, o caráter universal e igualitário do voto não impede que as instituições da democracia sejam elas mesmas marcadas por intensas desigualdades. O fato de que todos os votos tenham o mesmo peso (igualdade política) não elimina as desigualdades que caracterizam o próprio processo eleitoral.

Podem-se listar brevemente algumas delas: Apenas uma pequena minoria controla os partidos políticos e define o leque de opções (a lista de candidatos) que será ofertado aos eleitores; são os dirigentes partidários ou, num sentido mais amplo, a “burocracia partidária” que se encarrega disso.

Em geral, terão mais visibilidade aqueles candidatos com mais recursos financeiros para financiar suas campanhas eleitorais. Os eleitores, portanto, não escolhem livremente, de acordo com suas preferências e valores (ou apenas conforme esses critérios), mas de acordo com as opções deter-minadas pelas oligarquias partidárias.

O voto de um empresário rico, que financia a campanha eleitoral de um candidato, vale, de fato, muito mais do que o voto de um cidadão comum, pois aquele certamente será ouvido em suas reivindicações, ao passo que, muito provavelmente, o cidadão comum não será lembrado após as eleições.

Nesse sentido, o que caracteriza as democracias representativas, em especial as pouco institu-cionalizadas, é a notável irresponsabilidade política dos políticos profissionais. Em geral, eles raramente prestam conta (“respondem”) a seus eleitores, principalmente aos eleitores “comuns”.

O eleitor desprovido de todos os recursos discutidos anteriormente tem bem menos condições de tomar a melhor decisão possível tendo em vista seus interesses, já que dificilmente conseguirá coletar e processar as informações necessárias para tanto.

Nem todos os eleitores têm o mesmo interesse por política e, quanto a esse ponto, vimos que esse interesse está longe de ser mera característica pessoal, mas está intimamente ligado à situação social do eleitor. Com menos interesse, tende-se a participar menos, a se informar menos e a ser menos levado em consideração pelos governantes e políticos profissionais.

Ademais, é preciso enfatizar que a política não se encerra no ato de votar. A luta política não se restringe ao processo eleitoral. No período entre as eleições, os mais diversos grupos sociais ativam seus recursos para tentar influenciar as decisões políticas e inscrever nelas os seus interesses. Nesse momento, todas as desigualdades traduzem-se de forma bastante intensa em desigualdade política. Assim, a democracia que, formalmente, é o regime político baseado na igualdade e no governo da maioria acaba se transformando, na prática, em um sistema amplamente marcado por desigualdades sociais diversas e que, por isso, concede poder principalmente aos grupos minoritários que controlam os mais importantes recursos sociais. Nesse sentido, como sugere a cientista política britânica Carole Pateman, no seu livro Participação e teoria democrática, não basta democratizar as estruturas formais de poder, é preciso democratizar a sociedade como um todo.

Será que a igualdade política baseada estritamente no sufrágio universal (todos têm o direito de votar e ser votados e todos os votos têm o mesmo peso) é suficiente para se caracterizar uma democracia? Não seria dema-siadamente ingênuo acreditar que a afirmação da igualdade no nível político superaria todas as desigualdades encontradas no nível econômico, organizacional, cultural e racial?

Definição e

formação

das minorias

e seu papel

político

histórico

@SOC728

Trabalho e Política54

Page 55: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Aparelho de Estado: essa expressão designa o conjunto de órgãos que compõem o Estado. A Presidência da Repú-blica, os diversos ministérios, o Congresso Nacional, o Poder Judiciário e as Forças Armadas compõem as partes mais importantes do aparelho de Estado no Brasil. Controlar essas instituições significa, em grande medida, controlar seus recursos organizacionais e sua capacidade de impor decisões.

Autoridade legítima: diz-se que uma autoridade é legítima quando o governado lhe obedece não por medo de repre-sálias, sanções, mas por um sentimento de dever. Isso significa que o governado, nesses casos, crê que a autoridade em questão detém o direito ao mando. Existem várias formas de autoridade legítima nas sociedades humanas, sendo a autoridade democrática apenas uma delas e, nem de longe, a mais recorrente. Há, por exemplo, a autoridade teocrática, a autoridade carismática, etc.

Democracia direta: descreve um sistema político no qual os cidadãos participam diretamente do processo de elabo-ração das decisões que, uma vez aprovadas, todos serão obrigados a cumpri-las. Na democracia direta não se admite a existência de representantes, já que somente o cidadão pode falar em nome de si mesmo. Esse era o regime da Grécia Antiga no Período Clássico (século V a.C.).

Direitos sociais: são direitos pelos quais as classes trabalhadoras buscam se manter e reproduzir em um patamar compatível com o desenvolvimento e a riqueza gerada pelo capitalismo. Moradia, saúde, educação, emprego, cultura, etc. tornam-se, em função do desenvolvimento capitalista e das lutas, demandas sociais que, dependendo do país, são mais ou menos universais, mais ou menos públicas, mais ou menos gratuitas.

Divisão técnica do trabalho: diz respeito à divisão entre trabalho manual e trabalho não manual. Ela é espe-cífica do capitalismo e constitui a chave para se compreenderem o processo produtivo e a estratificação social nesse modo de produção.

Dominação: dominar significa obter obediência em função do exercício da autoridade legítima. Quem domina é portador de autoridade legítima, isto é, é reconhecido como tendo o direito de mandar no interior da estrutura social e política em que atua.

Condições necessárias e condições

suficientes da democracia

Mas atenção: isso não quer dizer que a igualdade jurídica (todos são iguais perante a lei) e a igualdade política (todos valem a mesma coisa na hora de votar) sejam desprovidas de importância. A igualdade jurídica e a igualdade política são condições fundamentais da democracia e nenhum regime que se pretenda democrático pode dispensá-las.

No entanto, se são condições necessárias, não são condições suficientes. A igualdade jurídica e a igualdade política operam sempre num dado contexto social cujas características podem torná-las mais ou menos efetivas, mais ou menos reais. Uma excessiva desigualdade econômica, cultural, organizacional, informacional, de gênero e de “raça” (ver Conceitos sociológicos) pode, sim, transformá-las em mera formalidade, em atributos que só existem “no papel” (isto é, nos textos constitucionais). Nesse sentido, a democracia pressupõe igualdade política e jurídica, mas exige também que os demais recursos sociais não sejam o privilégio de uma minoria.

Wik

imed

ia C

omm

ons/

Talk

Abo

ut

40ª. Reunião dos “Panteras Negras” em Okland, Califórnia, EUA, 2006

A lh d E d

Ensino Médio | Modular 55

SOCIOLOGIA

Page 56: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Espaço social: é diferente de espaço geométrico. Pessoas próximas umas das outras no espaço geométrico (por exemplo, um rei e seu súdito, um senhor e seu escravo) estão muitas vezes grandemente separadas no espaço social (como dois bispos da mesma religião, generais de igual patente de um mesmo exército, situados uns na América, outros na China), mas podem estar muito próximas no espaço social. Sua posição social é frequentemente a mesma, apesar da grande distância geométrica que as separa. Um homem pode percorrer milhares de milhas no espaço geométrico sem mudar sua posição no espaço social. Por outro lado, um homem, apesar de permanecer no mesmo lugar geométrico, pode ter sua posição consideravelmente transformada. (SOROKIN. In: CARDOSO, 1977, p. 223-224.)

Estado de bem-estar: trata-se do modelo de Estado caracterizado por um grau ou padrão de intervenção econômica e social, intervenção que garante, por meio de instrumentos legais, direitos e benefícios sociais demandados pelos trabalhadores e necessários à reprodução das relações capitalistas.

Estratificação social: é uma espécie de medida, cuja definição é dada pelo montante de bens, oportunidades no mercado de trabalho, renda, capacidade de compra de mercadorias e educação. Dessa forma, os indivíduos são distribuídos na escala de estratificação, podendo ocupar uma posição alta, média ou baixa.

Estrutura social: o conceito de “estrutura” é dotado de inúmeros sentidos na teoria sociológica. Aqui a expressão “estrutura social” designa basicamente o conjunto de restrições e parâmetros que limitam as possibilidades da ação humana em sociedade.

Ideologias: são representações mentais que orientam o comportamento dos indivíduos e das classes na sociedade. Essas representações podem ocultar certos aspectos do real, à medida que expressam interesses específicos e parciais.

Ideologia política: são concepções (valores, ideias, táticas e estratégias) que orientam a ação dos indivíduos e das classes na conservação ou na transformação das estruturas de uma sociedade.

Igualdade jurídico-política: essa expressão refere-se à afirmação da igualdade em dois níveis. No nível jurídico, trata-se de reconhecer a igualdade de todos os homens e de todas as mulheres, independentemente de sua origem social, perante a lei. Todos têm, formalmente, os mesmos direitos. A igualdade jurídica, portanto, é um atributo do direito moderno, que não admite privilégios de qualquer tipo. No nível político, trata-se de reconhecer que todos os cidadãos têm o mesmo direito de participar da vida política da comunidade. Nas democracias contemporâneas, a igualdade política se manifesta, sobretudo, por meio do voto universal e com peso igual para todos.

Índice de Desenvolvimento Humano IDH: considera algumas variáveis, como educação, saúde, expectativa de vida e renda. Vai de 0 a 1, de tal modo que, quanto mais próximo de 1, melhores serão as condições sociais e, inversamente, quanto mais próximo de 0, piores serão elas.

Influência: diz-se que alguém tem influência quando é capaz de afetar o comportamento do outro em função do seu prestígio pessoal, baseado na autoridade que emana do cargo que ocupa, na importância social dos recursos que controla ou na sua notoriedade profissional, sendo assim capaz de obter dos outros indivíduos colaboração voluntária, sem que seja necessário enunciar ordens seguidas de ameaças.

Manipulação: é um modo de afetar o comportamento do outro fornecendo-lhe informações falsas de modo a induzi-lo a se comportar da maneira desejada sem que ele perceba que está sendo enganado.

Mobilidade social: quer dizer que um indivíduo que é trabalhador manual pode ascender à condição de trabalhador não manual; ambos podem ascender à condição de pequenos proprietários e, embora seja raríssimo, até mesmo à condição de grandes proprietários, tornando-se, nesse último caso, membro de outra classe social: a burguesia.

Motivos: são razões subjetivas que os indivíduos elaboram e a partir das quais agem. Para certa escola sociológica (a “sociologia compreensiva” elaborada por Max Weber), esse processo de atribuição subjetiva de significados às condutas é o elemento causador fundamental da ação social.

Persuasão: é um modo de afetar o comportamento do outro convencendo-o a se comportar da maneira desejada, por meio da apresentação de argumentos racionais (e não por meio da força, da manipulação ou de qualquer outro artifício). Em relações baseadas na persuasão, o outro é convencido por meio de bons argumentos.

Trabalho e Política56

Page 57: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

1. (UEM – PR) Em termos sociológicos, assinale o que for correto sobre o conceito de classes sociais:

(02) Sua utilização visa explicar as formas pelas quais as desigualdades se estruturam e se re-produzem nas sociedades.

(04) De acordo com Karl Marx, as relações entre as classes sociais transformam-se ao longo da história conforme a dinâmica dos modos de produção.

(06) As classes sociais, para Marx, definem-se, so-bretudo, pelas relações de cooperação que

se desenvolvem entre os diversos grupos en-volvidos no sistema produtivo.

(08) A formação de uma classe social, como os proletários, só se realiza na sua relação com a classe opositora, no caso do exemplo, a burguesia.

(16) A afirmação “a história da humanidade é a história das lutas de classes” expressa a ideia de que as transformações sociais estão profundamente associadas às contradições existentes entre as classes.

Pesquisa de campo: consiste em uma das formas de se sistematizar a observação da sociedade. Ou seja, uma pesquisa de campo é realizada quando o pesquisador julga necessário conhecer de perto certos locais, determinadas pessoas, modo de viver, trabalhar, pensar, comportar-se e relacionar-se. Putting-out-system : processo produtivo que estava situado no início do capitalismo. Tratava-se de um sistema de produção de mercadorias por encomendas. Os capitalistas (aqui, os comerciantes) encomendavam aos artesãos artigos manufaturados (têxteis, vestuário e calçados) para, em seguida, vendê-los ao mercado. A burguesia comer-cial exercia o monopólio da compra e da venda, vedando o acesso dos produtores diretos ao mercado. Não eram os artesãos que comerciavam os produtos de seu trabalho. Por outro lado, nesse sistema, não eram os capitalistas que controlavam o ritmo da produção nem as técnicas produtivas. O domínio do processo produtivo permanecia nas mãos dos artesãos.

Racionalidade estratégica: outras noções designam a mesma ideia: “ação racional com relação a fins”; “racionalidade instrumental”; “racionalidade formal”. Essas expressões designam um tipo de conduta em que um indivíduo, querendo atingir determinado fim, avalia quais são os meios à sua disposição capazes de produzirem aquele fim com a melhor relação custo/benefício possível. O termo descreve, portanto, um tipo de conduta em que o indivíduo se guia sempre pelo cálculo, pela eficiência e pelo objetivo de maximizar seus interesses.

“Raça”: biologicamente está comprovado que não existem raças entre os seres humanos. No entanto, na vida social, algumas pessoas utilizam a cor da pele para diferenciar as pessoas em “raças” (brancos e negros, por exemplo). Assim, apesar de não existir do ponto de vista biológico, a “raça” pode ser uma construção cultural capaz de produzir vários efeitos sobre a vida dos indivíduos. No Brasil, por exemplo, a cor da pele é fonte de preconceito e discriminação, afetando significativamente a qualidade de vida das pessoas de pele mais escura.Reforma agrária: consiste em uma ação estatal contra a tendência à concentração da terra e formação de la-tifúndios; por conseguinte, essa ação visa permitir, àqueles que nela trabalham, o acesso à propriedade da terra para a sua utilização de forma socialmente produtiva. Estados Unidos, México, Japão, Itália e Cuba, por exemplo, fizeram reforma agrária.

Relações sociais: esse termo designa a existência de interações entre dois ou mais seres humanos. Essas interações têm de ser regulares (mais ou menos frequentes). Isso indica que, nesse tipo de relação, os envolvidos nela orientam as suas condutas em função da conduta dos demais. Segundo Max Weber, as relações sociais são marcadas por uma conduta plural reciprocamente referida.

Senso comum: esse termo designa as ideias correntes (as opiniões) que as pessoas têm sobre os mais diversos assuntos e fenômenos sociais. Na maioria das vezes, o senso comum, apesar de difundido e partilhado por um número muito grande de pessoas, não descreve adequadamente o que acontece na vida social já que ele é carregado de preconceitos, é fruto de expe-riências muito particulares e resulta de certas idiossincrasias, isto é, maneiras de ver, sentir, reagir, próprias de cada pessoa.

Ensino Médio | Modular 57

SOCIOLOGIA

Page 58: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

2. (UEL – PR) Segundo Émile Durkheim:

[...] constitui uma lei da história que a solidarieda-de mecânica, a qual a princípio é quase única, per-ca terreno progressivamente e que a solidariedade orgânica, pouco a pouco, se torne preponderante.

DURKHEIM, É. A divisão social do trabalho. Tradução de Carlos A. B. de Moura. São Paulo: Abril Cultural, 1977. p. 67. (Os pensadores).

Por esta lei, segundo o autor, nas sociedades sim-ples, organizadas em hordas e clãs, prevalece a solidariedade por semelhança, também chama-da de solidariedade mecânica. Nas organizações sociais mais complexas, prevalece a solidariedade orgânica, que é aquela que resulta do aprofunda-mento da especialização profissional.

De acordo com a teoria de Durkheim, é correto afirmar que:

a) as sociedades tendem a evoluir da solidarie-dade orgânica para a solidariedade mecânica, em função da multiplicação dos clãs.

b) na situação em que prevalece a solidariedade mecânica, as sociedades não evoluem para a solidariedade orgânica.

c) as sociedades tendem a evoluir da solidarie-dade mecânica para a solidariedade orgâni-ca, em função da intensificação da divisão do trabalho.

d) na situação em que prevalece a divisão social do trabalho, as sociedades não desenvolvem formas de solidariedade.

e) na situação em que prevalecem clãs e hordas, as sociedades não desenvolvem formas de so-lidariedade e, por isso, tendem a desaparecer progressivamente.

3. (UEM – PR) Considerando que a produção e a cir-culação de bens e de serviços são o resultado da combinação de trabalho, matéria-prima e instru-mentos de produção, assinale o que for correto:

(01) Para Karl Marx, no capitalismo, os trabalhado-res encontram-se alienados pelo fato de não se apropriarem dos resultados do seu traba-lho nem controlarem o processo produtivo.

(02) Na produção capitalista contemporânea, a ciência e a tecnologia tornaram-se forças pro-dutivas e agentes de acumulação do capital.

(04) As atividades relacionadas às artes e à ati-vidade intelectual não podem ser conside-radas trabalho, pois não produzem riqueza material.

(08) No modo de produção asiático, os escravos e os camponeses entregavam a sua produção ao Estado, porém o excedente da produção era dividido igualmente por toda a população.

(16) A partir das mudanças ocorridas em seu processo de produção, o sistema feudal en-trou em declínio, assim, os países europeus predominantemente agrários lentamente se transformaram em urbano-industriais.

4. (UEL – PR) Segundo Braverman:

O mais antigo princípio inovador do modo capi-talista de produção foi a divisão manufatureira do trabalho [...]. A divisão do trabalho na indús-tria capitalista não é de modo algum idêntica ao fenômeno da distribuição de tarefas, ofícios ou especialidades da produção [...].

BRAVERMAN, H. Trabalho e capital monopolista. Tradução de Nathanael C. Caixeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1981. p. 70.

O que difere a divisão do trabalho na indústria capitalista das formas de distribuição anteriores do trabalho?

a) A formação de associações de ofício que cria-ram o trabalho assalariado e a padronização de processos industriais.

b) A realização de atividades produtivas sob a for-ma de unidades de famílias e mestres, o que aumenta a produtividade do trabalho e a inde-pendência individual de cada trabalhador.

c) O exercício de atividades produtivas por meio da divisão do trabalho por idade e gênero, o que leva à exclusão das mulheres do mercado de trabalho.

d) O controle do ritmo e da distribuição da pro-dução pelo trabalhador, o que resulta em mais riqueza para essa parcela da sociedade.

e) A subdivisão do trabalho de cada especialida-de produtiva em operações limitadas, o que conduz ao aumento da produtividade e à alie-nação do trabalhador.

5. (UEL – PR)

No capitalismo, os trabalhadores produzem todos os objetos existentes no mercado, isto é, todas as mercadorias; após havê-las produzido, entregam-nas aos proprietários dos meios de produção, median-te um salário; os proprietários dos meios de pro-dução vendem as mercadorias aos comerciantes, que as colocam no mercado de consumo; e os trabalhadores ou produtores dessas mercadorias,

Trabalho e Política58

Page 59: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

quando vão ao mercado de consumo, não conse-guem comprá-las. [...] Embora os diferentes tra-balhadores saibam que produziram as diferentes mercadorias, não percebem que, como classe so-cial, produziram todas elas, isto é, que os produto-res de tecidos, roupas, alimentos [...] são membros da mesma classe social. Os trabalhadores se veem como indivíduos isolados [...], não se reconhecem como produtores da riqueza e das coisas.

CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2004. p. 387.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre alie-nação e ideologia, considere as afirmativas a seguir:

a) A consciência de classe para os trabalhadores resulta da vontade de cada trabalhador em superar a situação de exploração em que se encontra sob o capitalismo.

b) É no mercado que a exploração do trabalha-dor torna-se explícita, favorecendo a forma-ção da ideologia de classe.

c) A ideologia da produção capitalista constitui- -se de imagens e ideias que levam os indivíduos a compreenderem a essência das relações so-ciais de produção.

d) As mercadorias apresentam-se de forma a ex-plicitar as relações de classe e o vínculo entre o trabalhador e o produto realizado.

e) O processo de não identificação do trabalha-dor com o produto de seu trabalho é o que se chama alienação. A ideologia liga-se a este processo, ocultando as relações sociais que es-truturam a sociedade.

6. (UEL – PR) Sobre a exploração do trabalho no ca-pitalismo, segundo a teoria de Karl Marx (1818- -1883), é correto afirmar:

a) A lei da hora extra explica como os proprie-tários dos meios de produção se apropriam das horas não pagas ao trabalhador, obtendo maior excedente no processo de produção das mercadorias.

b) A lei da mais-valia consiste nas horas extras trabalhadas após o horário contratado, que não são pagas ao trabalhador pelos proprietá-rios dos meios de produção.

c) A lei da mais-valia explica como o proprietá-rio dos meios de produção extrai e se apropria do excedente produzido pelo trabalhador, pagando-lhe apenas por uma parte das horas trabalhadas.

d) A lei da mais-valia é a garantia de que o traba-lhador receberá o valor real do que produziu durante a jornada de trabalho.

e) As horas extras trabalhadas após o expediente constituem-se na essência do processo de produ-ção de excedentes e da apropriação das merca-dorias pelo proprietário dos meios de produção.

7. (ENEM)

A economia solidária foi criada por operários, no início do capitalismo industrial, como resposta à pobreza e ao desemprego que resultavam da utilização das máquinas, no início do século XIX. Com a criação de cooperativas (de produção, de prestação de serviços, de comercialização ou de crédito), os trabalhadores buscavam independên-cia econômica e capacidade de controlar as novas tecnologias, colocando-as a serviço de todos os membros da empresa. Essa ideia persistiu e se es-palhou: da reciclagem ao microcrédito, já existem milhares de empreendimentos desse tipo hoje em dia, em várias partes do mundo. Na economia solidária, todos os que trabalham são proprietá-rios da empresa. Trata-se da possibilidade de uma empresa sem divisão entre patrão e empregados, sem busca exclusiva pelo lucro e mais apoiada na qualidade do que na quantidade de trabalho, em convivência com a economia de mercado.

SINGER, Paul. A recente ressurreição da economia solidária no Brasil. Disponível em: <http://www.cultura.ufpa.br/itcpes/documentos/ecosolv2.pdf>. Acesso em: 23 mar. 2009. (com adaptações).

A economia solidária, no âmbito da sociedade capitalista, institui complexas relações sociais, demonstrando que:

a) a fraternidade entre patrões e empregados, comum no cooperativismo, tem gerado solu-ções criativas para o desemprego desde o iní-cio do capitalismo.

b) a rejeição ao uso de novas tecnologias torna a empresa solidária mais ecologicamente sus-tentável que os empreendimentos capitalistas tradicionais.

c) a prosperidade do cooperativismo, assim como a da pirataria e das formas de economia infor-mal, resulta dos benefícios do não pagamento de impostos.

d) as contradições inerentes ao sistema podem resultar em formas alternativas de produção.

e) o modelo de cooperativismo dos regimes co-munistas e socialistas representa uma alterna-tiva econômica adequada ao capitalismo.

Ensino Médio | Modular 59

SOCIOLOGIA

Page 60: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

8. (UEM – PR) A respeito das características da so-ciedade industrial, assinale o que for correto:

(01) Existe uma separação entre indústria e círculo familiar, ou seja, o local onde se trabalha não é o mesmo onde se compartilha a vida do-méstica.

(02) Existe uma divisão social do trabalho baseada na separação entre aqueles que detêm a pro-priedade dos meios de produção e aqueles que vendem sua força de trabalho.

(04) A crescente especialização do trabalho in-tensifica a interdependência das funções sociais.

(08) As indústrias necessitam de um sistema de planejamento para aprimorar cotidiana-mente as formas de controle e execução das tarefas, o que resulta na criação de pro-fissionais especialistas na administração da empresa.

(16) A indústria é uma forma moderna de se-leção natural, recrutando os mais fortes e orientando os operários a adaptarem-se ao ambiente.

9. (UEM – PR)

A década de 1980 presenciou, nos países de capitalismo avançado, profundas transforma-ções no mundo do trabalho, nas suas formas de inserção na estrutura produtiva, nas formas de representação sindical e política. Foram tão intensas as modificações, que se pode mesmo afirmar que a classe que vive do trabalho so-freu a mais aguda crise do século, que atingiu não só a sua materialidade, mas teve profundas repercussões na sua subjetividade e, no íntimo inter-relacionamento destes níveis, afetou a sua forma de ser.ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaios sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 7. ed. Campinas: Cortez, 2000.

Considerando o que diz o trecho acima, assinale o que for correto:

(01) Na década de 1980, a automação, a robótica e a microeletrônica ocuparam o espaço fabril, afetando as relações de trabalho e a produ-ção do capital.

(02) As novas formas produtivas adotadas, a partir das últimas décadas do século XX, por boa parte do setor industrial mundial, correspon-dem ao chamado toyotismo.

(04) No final do século XX, novos processos de trabalho emergem favorecendo a crescente substituição da produção em série e de massa pela flexibilização da produção.

(08) As transformações recentes no mundo do trabalho provocaram o enfraquecimento dos sindicatos, uma vez que a produção industrial espalhou-se pelo mundo, fragmentando não só a produção, mas também os trabalhado-res que estão divididos em filiais pelo mundo todo.

(16) As modificações na estrutura produtiva do ca-pitalismo avançado não resultaram num novo modo de organização societária, em relação ao capitalismo da era fordista e taylorista.

10. (UEM – PR) Sobre as teorias sociológicas a res-peito do Estado, assinale o que for correto:

(01) Algumas teorias sociológicas afirmam que o Estado é necessário para garantir a unidade de uma sociedade dividida em classes sociais, favorecendo, assim, os interesses das classes dominantes.

(02) Para alguns sociólogos, o que diferencia o Es-tado das demais instituições é o fato de ele ter o direito legítimo e exclusivo do uso da força.

(04) Segundo alguns sociólogos, em socieda-des complexas, o Estado é uma instituição fundamental para garantir a coesão social, sobrepondo-se às demais instituições e re-gulando a sua coexistência.

(08) Há um consenso na Sociologia de que o Esta-do é um fenômeno exclusivamente ocidental e próprio do modo de produção capitalista. Nas demais sociedades, não se encontram instituições que assumam funções correlatas.

(16) De acordo com algumas interpretações, o Estado é fundamental para assegurar as próprias condições de funcionamento da economia de mercado, embora muitos libe-rais rejeitem sua intervenção.

11. (UEM – PR) Sobre o sistema político brasileiro e suas transformações ao longo da história, assi-nale o que for correto:

(01) A democracia que vigorou no país entre os anos de 1946 e 1964 indicou um dos poucos momentos na história brasileira em que o po-der legislativo adquiriu autonomia suficiente diante do executivo para exercer suas funções.

Trabalho e Política60

Page 61: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

(02) Para alguns estudiosos, a partir da década de 1990, a Medida Provisória (MP) tornou-se, muitas vezes, o instrumento legal que permitiu ao poder executivo sobrepor-se ao legislativo.

(04) O projeto de industrialização promovido no Brasil pela “Revolução de 30” dependeu de mudanças na estrutura do Estado que des-centralizaram o poder político.

(08) A existência de Constituições durante a vi-gência dos últimos regimes autoritários vi-vidos pelo Brasil (1937-1945 e 1964-1984) confirma que elas não garantem, necessa-riamente, a democracia representativa e os direitos dos cidadãos.

(16) Na Primeira República, o domínio exercido pelos grandes proprietários de terra sobre os trabalhadores rurais integrou as estraté-gias das oligarquias regionais para controla-rem os resultados dos processos eleitorais.

12. (UEM – PR) Considere a seguinte afirmação:

A democracia no Brasil é algo muito recente e ainda está se consolidando. Ela continuará cres-cendo se as regras institucionais para as eleições e o exercício do poder forem ampliadas, para possibilitar a participação da população, e se os movimentos sociais tiverem mais liberdade para lutar pela manutenção dos direitos fundamentais e a criação de novos direitos. Somente quando a maioria da população tiver educação de qualida-de, condições de se alimentar adequadamente e condições de vida social decente poderemos ter democracia no Brasil. Enquanto isso, temos uma democracia “capenga”.

TOMAZI, Nelson. Sociologia para o Ensino Médio. São Paulo: Atual, 2007. p. 124.

Sobre a análise exposta, assinale o que for corre-to: (01) Podemos deduzir do texto que, para o au-

tor, a qualidade de um regime democráti-co pode variar no tempo e no espaço. Ele nos sugere que a presença e a estabilidade do sistema eleitoral são apenas indicadores mínimos para definir o grau de democracia que existe em uma determinada sociedade.

(02) Podemos concluir do texto que, em uma de-mocracia, os partidos políticos não são tão importantes. Assim, a democracia brasileira seria melhor se as regras eleitorais reconhe-cessem os movimentos sociais como insti-tuições de representação, e não os partidos políticos.

(04) Podemos concluir do texto que as deficiên-cias da democracia brasileira têm relação com o fato de que tivemos, ao longo da história republicana, a vigência de longos períodos de regimes autoritários.

(08) De acordo com o texto, a consolidação da democracia brasileira não depende de mu-danças na estrutura jurídica do Estado.

(16) Para o autor, a qualidade de uma democra-cia pode ser medida observando-se os se-guintes indicadores: as regras institucionais vigentes, as condições dadas para a cons-trução de ações coletivas e a maneira como os recursos materiais estão distribuídos.

13. (UFSCAR – SP) O Estado é o grande agente modi-ficador do espaço geográfico na atualidade.

a) Explique o que é Estado e faça uma distinção entre Estado e governo.

b) Por que o Estado é o principal e quase exclusivo ator nas relações geopolíticas internacionais?

14. (UEPG – PR) A respeito das formas de governo do mundo atual, assinale o que for correto:

(01) Entre as atuais monarquias do mundo figu-ram: Japão, Espanha, Grã-Bretanha, Holan-da, Arábia Saudita e Mônaco.

(02) A democracia, forma mais comum de orga-nização política, apresenta traços de autori-tarismo em alguns países.

(04) O regime republicano é uma antiga forma de governo na qual o chefe de Estado não é um monarca. Estados Unidos, México, Bra-sil, Argentina e Paraguai são repúblicas.

(08) Existem ainda muitos países comunistas, que são Estados totalitários de partido úni-co, como Cuba, China, Romênia, Hungria, Casaquistão, República Checa, Bósnia-Her-zegovina e Eslovênia.

Ensino Médio | Modular 61

SOCIOLOGIA

Page 62: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

62

Anotações

Page 63: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

Anotações

Ensino Médio | Modular 63

SOCIOLOGIA

Page 64: SPE MOD EM 05 SOC AL - PrepApp - Para a Vidaprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/SOCIOLOGIA/SPE... · 2019-08-29 · daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo

64

Anotações