seifert_michel_a eutonia de gerda alexander

Upload: jane-nogueira-dos-santos

Post on 08-Oct-2015

76 views

Category:

Documents


7 download

DESCRIPTION

Tecnicas de Alexander, cuidados com postura corporal. Gerda Alexander. O Tônus correto do corpo.

TRANSCRIPT

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    1

    A Eutonia de Gerda Alexander, sua

    teoria, sua prtica e seu ensino.

    Michel Seifert

    (Traduzido do francs por Virginia Schmidt,

    e do ingls por Rosana Vila e Miriam Dascal)

    Apostila revista por Celso Luiz de Azevedo Nobre e Jussara De Chiara

    I A EUTONIA DE GERDA ALEXANDER

    A O QUE EUTONIA?

    Para saber quem cada um , a pessoa deve estar ciente do que ela sente... A

    pessoa saudvel tem a imagem de si prpria, que est de acordo com o modo

    que ela se sente e como se v... A perda de contato com o corpo resulta na

    perda de contato com a realidade. A identidade pessoal tem substncia e

    estrutura somente enquanto est baseada na realidade do sentimento

    corporal.

    Um dos objetivos essenciais da Eutonia permitir redescobrir as nossas

    capacidades mximas de reagir, tanto no nvel motor quanto no relacional, com

    a maior liberdade possvel dentro dos limites da nossa realidade psicolgica. A

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    2

    Eutonia demonstra que esses limites geralmente so mais flexveis e menos

    rgidos do que acreditamos.

    Ela prope um procedimento muito preciso para se obter um estado de

    liberdade, tanto na vida particular como na profissional, o que nos permitir

    sermos ns mesmos - em harmonia com nosso ritmo, necessidades e

    profundas aspiraes, assim como com o nosso meio ambiente.

    Uma caracterstica especial da Eutonia a de obter a mais profunda

    transformao atravs da sensao, que se torna mais e mais precisa tanto

    proprioceptivamente como externoceptivamente.

    Outra caracterstica refere-se a um procedimento pessoal envolvendo

    uma constante presena dentro do ambiente. No comeo, o aluno convidado

    a relaxar sem se tornar isolado ou desligado; esse aspecto essencial e ser

    discutido em detalhes.

    A palavra Eutonia (do grego eu = bom, harmonioso, justo; e tonos =

    tnus = tenso) foi inventada em 1957 com inteno de expressar a ideia de

    tonicidade harmoniosamente equilibrada, continuamente adaptada, em relao

    exata com a condio ou ato de viver (Alexander, referncia 1, p.2). Essa a

    definio oficial de Eutonia, embora possa ser de algum modo incompreensvel

    para pessoas leigas. impossvel explicar Eutonia num nico captulo; por isso

    a primeira parte dessa discusso dedicada Eutonia. No final da parte I, o

    leitor formar uma impresso slida de Eutonia at onde uma descrio

    terica possa proporcionar.

    O exemplo que se segue introduzir o leitor para o ponto de vista da

    Eutonia e, mais particularmente, para a ideia de uma tenso harmoniosamente

    equilibrada.

    Imagine uma antena de TV de telhado. Uma pessoa que deseja

    endireit-la pode se deparar com duas alternativas:

    A alternativa nmero 1 encurtar o estal (fio de arame de sustentao

    da antena) nmero 1 e esticar o estal nmero 2. Resultados possveis: a) o

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    3

    estal nmero 2 ficou frouxo ou arrebente; b) ambos estais permanecem e,

    consequentemente, a antena fica torta. Infelizmente, a terapia cintica

    tradicional procede dessa maneira, reforando o problema por adicionar mais

    fora e tenso.

    Por exemplo, muitos homens e mulheres tm barrigas grandes; como

    remdio, eles praticam exerccios abdominais. O mximo que conseguiro com

    isso ser continuar tendo barrigas grandes, mas endurecidas! Enquanto fazem

    o exerccio, eles contorcem e danificam todo o seu mecanismo digestivo sem

    mencionar outros efeitos nas vsceras. E no restauram o tnus dos msculos

    abdominais.

    A alternativa nmero 2 reposicionar a antena, ajustando a tenso dos

    estais e restabelecendo o relaxamento natural, correto. A Eutonia procede

    desse modo procurando um equilbrio natural e correto entre todos os estais,

    assim como uma tenso mnima de cada um. Troque estais por msculos e

    antena por coluna vertebral e assim voc poder compreender o sentido da

    Eutonia. Essas duas opes de se aproximar do corpo humano so

    irreconciliveis.

    B NOTA SOBRE A CINCIA

    Um dia um mdico falou para Gerda Alexander: Que sorte voc tem de

    no ser uma mdica!. Essa observao sugere a distncia que Alexander tem

    percorrido fora do caminho conhecido e quanta liberdade relativa ela tem

    desfrutado, comparada a outros profissionais da medicina ocidental, para fazer

    pesquisa e investigao.

    O enfoque de Gerda Alexander consiste em uma pesquisa contnua em

    maneiras especiais de aperfeioes seu prprio equilbrio psico-corporal, assim

    como o de seus alunos por emprstimo de fontes geralmente estrangeiras ou

    realmente at hostis para a medicina.

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    4

    Um nmero razoavelmente grande de suas descobertas tem sido

    recebido com indiferena ou simplesmente ignorado pela instituio mdica,

    at mesmo aqueles xitos que foram impressionantes como, por exemplo,

    tornar possvel que pessoas com dificuldades (consignadas cadeira de rodas

    pela medicina tradicional) andassem. Para realizar isso, Gerda Alexander no

    inventou uma nova droga, nem construiu um aparelho milagroso. Ela contribuiu

    com uma nova maneira de ser, de mover e de ver sade. Para ela, doena

    teria que ser considerada como parte da mina de possibilidades da tendncia

    dos nossos corpos para defender e estimular nosso organismo. O prprio

    paciente se torna o principal criador da sua recuperao. A luta contra o

    inimigo microbiano foi ultrapassada na busca por uma maior unidade

    corpo/mente.

    A medicina tradicional no poderia aceitar Eutonia sem se por, ela

    prpria, em perigo. Mesmo hoje, no so muitos os mdicos que possuem

    suficiente autonomia ou segurana interior para ousar questionar seu

    treinamento e prtica da medicina.

    Na sua introduo para O caso Nora, Moshe Feldenkrais d uma

    descrio admirvel sobre a posio na qual investigadores como Gerda

    Alexander se encontram: O que pode parecer milagroso baseado em uma

    teoria situada no meio do caminho entre a intuio de hoje e o fato cientfico de

    amanh. (referncia 7, p.13).

    Mesmo sabendo que a teoria da Eutonia baseada num rigoroso

    conhecimento de anatomia e de fisiologia, os elementos essenciais das

    descobertas de Gerda Alexander ainda no podem ser explicados pelo nosso

    conhecimento cientfico atual. Um simples exemplo nos permitir compreender

    o imenso abismo existente entre as experincias sentidas nas quais se apoia a

    Eutonia e o conhecimento cientfico e contemporneo: quando voc carrega

    um beb dormindo (ou at um gato) nos seus braos, ele parece ser mais

    pesado do que quando est acordado. A sensao de mudana de peso entre

    um beb dormindo e um que est acordado pode ser infalivelmente

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    5

    experimentada por qualquer nmero de pessoas; porm, no existe nenhum

    instrumento cientfico que possa medir e registrar essa mudana!

    Para a cincia esse simples fato incomoda e inexplicvel. Gerda

    Alexander diz claramente: ... Eutonia no existiria se ns tivssemos esperado

    por explicaes cientficas para comprovar os extraordinrios efeitos pessoais

    que ns experimentamos com um novo acesso nossa realidade

    multidimensional (referncia 1, p.96).

    Ainda assim, Alexander tem colaborado com mdicos em muitas

    ocasies.

    Finalmente, chamamos a ateno para o fato de que a medicina oficial

    continua muito presa aos conceitos materialistas e cartesianos; fsicos, ao

    contrrio, e mais particularmente fsicos subatmicos, tm feito um salto

    qualitativo nas ltimas dcadas, que permite aproximar realidades no

    identificveis e irreconhecveis, pelas suas teorias cientficas tradicionais

    baseadas nos princpios de Newton. E um livro extraordinrio de Fritjof Capra,

    professor de fsica na Universidade da Califrnia em Berkeley, demonstra como

    a fsica moderna capaz afinal de reconhecer certas realidades que algumas

    civilizaes orientais tm sabido e explicado por milhares de anos que a cincia

    ocidental mesmo que estivesse ciente da deles poderia admitir somente at

    o risco de ver o seu prprio sistema de investigao e pensamento sucumbir.

    De acordo com Capra:

    ... os dois fundamentos da fsica do sculo vinte teoria quantum e a teoria da relatividade ambos nos foram a ver o mundo muito do modo como um hindu, budista ou taosta o v, e como essa semelhana se fortifica quando ns olhamos para os recentes esforos para juntar essas duas teorias com a finalidade de descrever o fenmeno das partculas subatmicas das quais toda a matria feita. Aqui os paralelos entre a fsica moderna e o misticismo oriental so mais notveis, e ns geralmente encontramos declaraes onde quase impossvel de se dizer se elas

    tm sido feitas por fsicos ou por msticos orientais (referncia 2, p.19).

    Ns s podemos desejar que a medicina tradicional possa fazer esse

    salto qualitativo.

    No que nos diz respeito, seguimos lidando com informaes bem-

    fundamentadas anatmica, fisiolgica e fisicamente.

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    6

    II TNUS

    Tnus existe em todo organismo vivo. As definies de tnus variam de

    acordo com os diferentes enfoques para movimentar o corpo humano. Em

    Eutonia, tnus definido como: o grau de atividade em um msculo em

    descanso aparente. Na verdade, um msculo est sempre ativo, mesmo

    quando aparentemente esteja passivo. o grau de tenso em um msculo

    que particularmente afeta a circulao do sangue e da linfa mesmo quando se

    est dormindo. De fato, o grau de atividade de um msculo, ou seu tnus,

    nunca chega a zero grau, exceto em casos de extrema paralisia, depois de

    receber injees de curare, ou quando a pessoa morre.

    O tnus responsvel por toda atitude e toda postura que o corpo pode

    assumir enquanto em movimento ou em descanso.

    Normalmente, num organismo saudvel, o tnus deve aumentar

    simultaneamente quando o corpo est em movimento e diminuir quando o

    corpo est em descanso. Mas, existem partes dos nossos corpos, grupos de

    msculos, por exemplo, cujo tnus permanece muito alto no descanso (isso

    tpico de insnia). Em Eutonia, nos referimos a isso como tnus fixado.

    A atividade do Tnus est intimamente ligada com os diferentes

    sistemas vitais do organismo, tal como:

    O sistema nervoso central;

    O senso de equilbrio;

    A orientao da ateno e outras funes fundamentais;

    O sistema nervoso autnomo (parassimptico e simptico).

    Tnus fixado ao nvel de certos grupos musculares pode prejudicar cada

    uma de suas funes vitais. por isso que essencial adquirir o mximo

    controle do tnus.

    Nessa altura, a constante interao entre a vida emocional e a funo do

    tnus bem conhecida. Na verdade, cada um de ns j tem conhecido o

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    7

    impacto da emoo no seu prprio corpo: por exemplo, tristeza geralmente

    associada sensao de garganta comprimida e um esterno hipersensvel,

    medo com sensao de estmago e msculos abdominais contrados; alegria

    com a sensao de leveza; raiva com a sensao de msculos contrados nas

    costas, ombros, queixos, etc. Nessa relao, lembre-se que tais reaes do

    nosso corpo so involuntrias.

    Eutonia introduz a ideia de flexibilidade no tnus. essa flexibilidade

    que nos permite atravessar cada grau da tonicidade muscular: do descanso

    atividade, com a maior vigilncia e competncia. A flexibilidade da funo

    tnica nos permite experimentar a gama de emoes humanas com todas as

    suas minuciosas sutilezas. Se a medicina est preocupada, acima de tudo,

    com pacientes cujo tnus muito baixo (indivduos hipotnicos, que esto

    apanhados em um estado de hipocinesia e passividade) e com aqueles cujo

    tnus alto demais (indivduos hipertnicos, que sempre tendem fazer mais

    do que o necessrio), a Eutonia est suplementarmente preocupada com

    aqueles indivduos cujo tnus permanece imobilizado no nvel mdio

    incapazes de fazer adaptaes fsicas e emocionais ou de criar

    espontaneamente a cada novo estmulo e exigncia da vida. Essa habilidade

    de ser flexvel incrivelmente bloqueada durante a nossa educao,

    especialmente em escolas cujos modos de instruo encurtam a dinmica,

    aspecto nico de cada aluno. Em Eutonia ns falamos em normalizao do

    tnus, quando o seu trabalho conduz o estudante a readquirir a total

    flexibilidade de seu tnus.

    Como podemos notar, todos ns j experimentamos essas mudanas

    em ns mesmos: os mesmos degraus, quando subimos quatro de uma vez

    num dia de boas notcias, podem ser escalados desastrosamente e com

    dificuldade em um dia down. Por outro lado, ns podemos sentir a mudana

    do tnus de outra pessoa: Nogushi, um mestre escultor japons, diz poder

    sentir, apenas por carregar suas crianas nos braos, o que aconteceu com

    elas durante o dia. Se o dia foi bom, a criana parece ter um peso maior. Ao

    contrrio, se a criana teve um dia perturbado, o seu peso parece mais leve.

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    8

    A prtica da Eutonia revela que cada ideia, cada pensamento, cada

    imagem e sua satisfao interna possuem uma influncia real no tnus.

    Realmente, essa inter-relao funciona continuamente em dois sentidos: cada

    mudana no tnus tambm refletida no nvel da nossa vida emocional e

    intelectual.

    por isso que trabalhando o corpo particularmente na organizao e na

    funo tnica do organismo, a Eutonia , acima de tudo, um trabalho holstico

    que toca e transforma profundamente a personalidade do estudante. Por

    relaxar a fixao do tnus, o aluno liberado emocional, intelectual e

    criativamente.

    Operar sobre o tnus revela atravs da experincia a realidade

    inseparvel dos conceitos tericos corpo e mente. Na prtica, um pode

    sentir seu corpo e mente serem duas faces da mesma moeda: o verso e o

    reverso, constantemente inter-relacionados, nenhum capaz de existir ou at

    de ser imaginado sem o outro.

    No reconhecimento ou aceitao dessa relao de corpo-mente pode,

    por conseguinte, provocar enormes dificuldades em relao ao funcionamento

    motor e da relao de si prprio e os outros.

    essa relao prxima entre corpo e esprito que faz a linguagem do

    corpo to rica para aquele que tem aprendido a observar o corpo de outros

    conscientemente, respeitosamente e com tato.

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    9

    A TNUS E MEIO AMBIENTE

    Nosso meio ambiente exerce uma enorme influncia sobre o nosso

    tnus. Se o meio ambiente fsico (terreno traje presso atmosfrica

    temperatura eletromagnetismo...), ou se ele vivo (animais, plantas, seres

    humanos...), isso constantemente influencia o sistema vital do organismo,

    incluindo a funo do tnus.

    A princpio, introduzir Eutonia consiste em ser capaz de sentir o impacto

    do meio ambiente no campo e da ser capaz de dominar isso o mximo

    possvel.

    Todo encontro com um ser humano influencia o nosso tnus.

    Todo mundo tem sido capaz de observar o impacto que pessoas

    nervosas ou ansiosas podem ter sobre aqueles ao seu redor: eles carregam a

    atmosfera. O impacto de uma pessoa calma e relaxada totalmente diferente.

    Essas influncias tnicas - positivas ou negativas, conscientes ou

    inconscientes -, condicionam a natureza das nossas relaes com outros seres

    humanos. fundamental estar ciente disso. Crianas so particularmente

    sensveis a tais influncias, mesmo sabendo os adultos podem voluntariamente

    tentar esconder seus estados da mente. Mesmo sabendo que a me deve ter

    aprendido, ela prpria, a sorrir e pronunciar frases corteses aos estranhos e aos de

    classe alta, e no deve manifestar medo algum na sua face de caretas artificiais, a

    criana gritona nos seus braos denuncia o pnico oculto (Bateson and Mead,

    citado em Montagu, referncia 7, p.110).

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    10

    Caractersticas das funes tnicas

    Alguns conceitos anatmicos precisos nos permitiro compreender as

    funes caractersticas do tnus em relao funo fsica dos msculos.

    Nossa musculatura composta de dois tipos principais de msculos:

    msculos estriados (ou voluntrios) e msculos lisos (ou involuntrios).

    Msculos lisos: o movimento destes msculos completamente

    involuntrio. Eles so controlados pelo sistema nervoso involuntrio, conhecido

    como sistema nervoso autnomo ou vegetativo; por exemplo, os msculos das

    vsceras (estmago, intestinos, etc.) ou as glndulas (como as glndulas

    salivares ou sudorparas). Assim, ns podemos atender aos nossos negcios

    sem prestar ateno para nossa digesto, circulao linftica, atividade

    endcrina, etc.

    Msculos estriados: estes msculos esto sob o controle do sistema

    nervoso central. Os msculos estriados possuem duas funes: atividade

    cintica, tambm chamada atividade PHASIC; o alongamento e a contrao

    das fibras musculares que causam movimento do membro no espao. Esta

    atividade voluntria e controlada pelo sistema nervoso.

    Atividade tnica: ela d certa tenso bsica para o msculo, seja no

    descanso ou na atividade. Esta atividade tnica d ao msculo, assim como

    para o resto do corpo, uma firmeza e forma apropriada. O tnus responsvel

    por todas as posies feitas pelo corpo em atividade ou em descanso; por

    exemplo, a postura de um gato em ateno, a postura de uma pessoa em sono

    profundo. Esta atividade do tnus involuntria, mas, assim como podemos

    ver, ela pode ser influenciada indiretamente.

    Finalmente, ns podemos notar que apesar do sistema nervoso

    autnomo exercer suas funes independentemente do sistema nervoso

    central, eles esto ambos proximamente associados e capazes de atividade

    sinrgica.

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    11

    Cada um pode sentir a diferena entre a funo involuntria do tnus e a

    funo fsica voluntria dos msculos estriados. Ns fazemos nossos negcios

    dirios sem notar particularmente o que as nossas plpebras esto fazendo.

    Nossos olhos esto abertos e ento nossas plpebras se fecham regularmente

    para cobrir nossos olhos por um dcimo de segundo para limp-los e

    descans-los. Esta atividade involuntria feita pela funo tnica dos

    msculos elevadores das plpebras. Esta atividade pode ir por horas, sem

    cansar. Se ns estamos cansados no final do dia, nossas plpebras se tornam

    pesadas. O tnus geral do corpo, junto com os msculos elevadores das

    plpebras, est abaixado. Se ns decidimos neste estgio manter nossos olhos

    abertos de qualquer maneira, ns estamos fazendo um esforo voluntrio para

    segurar nossos olhos abertos; ns agora recorremos s funes voluntria e

    fsica dos msculos elevadores das nossas plpebras. O simples ato de

    manter os olhos abertos se torna cansativo e dolorido apesar de, visto

    objetivamente, as plpebras serem quase sem peso.

    Essa distino entre o tnus e a funo fsica essencial para se

    entender a tese da Eutonia que d um lugar de destaque funo do tnus.

    Algumas das investigaes em Eutonia consistem em restabelecer um

    tnus adequado para o corpo, baseado nas atividades habituais das pessoas; o

    tnus no deve ser baixo demais, seno a pessoa se move com uma sensao

    de peso e experimenta certa dificuldade em iniciar o movimento. Alm disso,

    quanto mais baixo o tnus, maior a exigncia da funo fsica voluntria, o

    que causa uma grande quantidade de fadiga e de esforo muscular. O tnus

    tambm no pode ser muito alto h o perigo de perder a flexibilidade e os

    recursos articulares do corpo.

    A atividade da funo do tnus no pode ser voluntria: durante a

    transmisso do impulso de um nervo voluntrio para o msculo, o tnus do

    msculo no pode ser mudado, o msculo s pode ser contrado. Se uma

    pessoa exerce uma contrao voluntria permanente, ela se torna paraltica

    cerebral, resultando numa perda de sensibilidade local e progressiva

    deteriorao do equilbrio autnomo. E, infelizmente, isto o que ginsticas e a

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    12

    dana clssica fazem constantemente: embora possuam uma louvvel

    inteno de tonificar o corpo, criam extremos, atravs de contraes

    musculares crnicas, por reforarem constantemente a funo muscular

    cintica e voluntria em detrimento da funo tnica. Assim, por exemplo, para

    o corpo ficar reto, tanto a dana clssica como a ginstica clssica reforam a

    contrao dos msculos dos ps, das pernas, do abdmen, das costas, do

    trax, do pescoo, etc. Com esse tratamento, verdade que a funo tnica

    atingida os msculos permanecem constantemente tensionados. A postura

    em p no requer nenhuma contrao muscular se o tnus bsico de todo o

    corpo est suficiente alto. Ficar de p no requer mais contrao de msculos

    do que requerido para manter os olhos abertos quando a pessoa est fresca

    como uma margarida.

    Um efeito direto na funo tnica pode ser obtido por dirigir ateno para

    partes diferentes do corpo. Por exemplo, o simples ato de sentir o seu polegar

    (seu formato, comprimento, direo, juntas, unha) muda o tnus do polegar e

    da mo. Com treinamento, a sensao de variao do tnus se torna mais e

    mais precisa e necessita de menor esforo.

    To paradoxal quanto isto possa parecer primeira vista, dominar a

    funo tnica requer uma atitude de no volio e de no fazer, que

    semelhante com a sabedoria oriental.

    A experincia de Eutonia nos permite ter uma melhor compreenso e

    conhecimento da importncia das disciplinas antigas como ZEN. A experincia

    viva, como descrita por Eugen Herrigel no seu livro sobre A arte

    cavalheiresca do arqueiro Zen (Zen in the art of Archery), semelhante em

    muitas consideraes com as descobertas da Eutonia, particularmente na

    importncia que Zen concede liberao da funo tnica.

    Finalmente, ele deixa a flecha voar....Seus gestos aparentemente sem esforo eram marcados com beleza. Faa o mesmo, mas lembre que a arte do arqueiro no quer dizer fortalecer os msculos. (Os arcos japoneses referidos aqui possuem uma extraordinria tenso por causa da sua construo peculiar na maioria das vezes, assim como o bambu usado neles. O arco de quase 2 metros de comprimento e a corda no totalmente tensionada). Para acionar a corda, no necessria usar toda a fora do nosso corpo, mas voc precisa aprender a deixar s suas duas mos

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    13

    fazerem todo o trabalho, enquanto seus msculos do ombro e do brao parecem no tomar parte na ao. Somente quando voc puder fazer isto, voc ter cumprido uma

    das condies graas qual voc ir puxar o arco espiritualmente. (Herrigel, referncia 9, p.31)

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    14

    CONTATO

    Cada cultura favorece ou treina especificamente seus jovens, crianas e adolescentes para desenvolver diferentes tipos de limite para contatos tteis e estimulao, de maneira que suas caractersticas orgnicas, constitucionais e temperamentais so

    acentuadas ou reduzidas. (Frank, citado por Montagu, referncia 7, p. 220)

    A Eutonia faz uma forte distino entre toque e contato.

    A PELE E O TATO

    O que mais profundo no homem a pele Valery (Idee Fixe)

    Considerando que a pele, assim como o sistema nervoso, surge da

    ectoderme e que suas funes so diversas; pela sua posio de envelope do

    corpo, ou limite exterior, ela simultaneamente um rgo sensorial a pele

    contm os receptores sensrio-nervosos que recebem uma grande poro de

    informaes sobre o meio ambiente, um rgo protetor, o corpo protegido

    contra intruses nocivas, assim como material fecal, radiao, raio X, etc.

    A pele desempenha um papel de reguladora (temperatura do corpo,

    adaptao presso atmosfrica), assim como um papel metablico.

    Sabendo destes fatos anatmicos bsicos, ns podemos prontamente

    medir a importncia da pele em proteger e manter a vida.

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    15

    CONTATO

    Atravs do toque ns experimentamos o limite externo do nosso

    organismo; atravs do contato ns nos abrimos para os nossos arredores e

    entendemos nossa conscincia corporal para sentir alm do limite visvel de

    nossa pele. Essa capacidade de contato onipresente na nossa vida diria.

    Por exemplo, ela nos permite andar na rua enquanto usamos sapatos, botas e

    at saltos altos; nossos ps no tocam o cho diretamente e ns ainda

    podemos sentir atravs dos nossos sapatos. Essa capacidade de contato

    tambm nos permite ter uma relao real e sensvel com outra pessoa, mesmo

    sem toc-la. Contato consciente tem uma influncia mais forte do que

    simplesmente tocar. Contato harmoniza tenses inferiores e facilita o equilbrio

    do sistema nervoso autnomo. Normalmente, o ser humano entra em contato

    espontneo com o seu meio ambiente. A criana que amamentada est em

    prximo contato corporal com o corpo da me. Um bom msico se torna um

    com o seu instrumento; um bom artista sente seu instrumento. Contudo, essa

    capacidade de contato geralmente bloqueada com o crescimento da criana;

    em alguns casos, pode resultar em srias formas de patologia. Por exemplo,

    crianas autistas se retiram e se fecham completamente ao mundo exterior, o

    qual elas julgam que seja horrivelmente perigoso.

    O aluno pode recuperar sua capacidade de fazer contato consciente por

    cada parte do seu corpo. O fenmeno de contato que existe no estado

    inconsciente reforado, por exemplo, por pensar em direo ao objeto seguro

    nas mos de algum. Com treinamento, o aluno pode conseguir sentir a forma

    de um objeto ao toc-lo em um nico ponto; e ele pode se tornar

    progressivamente capaz de sentir uma pessoa na sua totalidade, embora ele a

    toque apenas em um ponto determinado.

    As tcnicas de tratamento em Eutonia so em grande parte baseadas no

    contato; j que eu no tenho a habilidade de ter um resumo preciso das

    descobertas feitas pela Eutonia em terapia, esse aspecto no ser discutido.

    Eu irei simplesmente mencionar que antes de entrar em contato consciente

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    16

    com outra pessoa voc deve ter domnio suficiente de seu prprio equilbrio

    tnico e autnomo. Acima de tudo, necessrio ter respeito pela outra pessoa.

    Na verdade, quando ns estamos em contato com a outra pessoa, ns

    podemos transmitir nosso prprio equilbrio assim como nossos desequilbrios

    (tenses, dificuldades em respirar...)

    Um dos objetivos principais da Eutonia desenvolver a capacidade de

    contato consciente com seu meio ambiente, ao mesmo tempo mantendo uma

    sensitiva e slida presena em si mesmo. O eutonista sempre convida pessoas

    entrando no contato consciente com seu meio ambiente, a permanecerem

    presentes dentro delas prprias enquanto avaliam constantemente a influncia

    do contato no corpo todo. Pode acontecer, por exemplo, que a sensao de um

    pau de bambu seguro nas mos se torna to forte que leva o aluno a ficar

    cnscio s do bambu, deste modo perdendo totalmente a conscincia do seu

    prprio espao interior. Visto que isto exige uma transio na conscincia,

    no vale mais a pena manter o propsito da Eutonia, a qual aspira por um

    aumento de conscincia, ao invs de um deslocamento da conscincia.

    A perda da presena de si prprio muito mais crtica quando a pessoa

    est em contato com outra pessoa; a pessoa pode perder completamente a

    sensao de si prpria e invadir totalmente o outro. por isso que o contato

    rotineiro com outra pessoa s permitido quando o aluno est

    proprioceptivamente estvel ou equilibrado interiormente. A tcnica de contato

    livra e libera movimentos. Isso ser discutido detalhadamente no captulo sobre

    movimento.

    Contato em Eutonia uma troca ou uma relao em duas direes:

    entre si prprio e o meio ambiente, e entre o meio ambiente e si prprio.

    Contato uma busca do equilbrio sem ter uma direo predominando

    sobre a outra.

    Por colocar o desenvolvimento do toque e contato no centro de sua

    pedagogia, a Eutonia , em essncia, um relationalwork, que permite a todos

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    17

    que desejarem, fazer com que a segurana seja aberta dentro do seu meio

    ambiente.

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    18

    III - O ESQUELETO

    Quo falso, sem substncia e inquietador A cabea de uma pessoa iria parecer Se no tivesse A cabea de um morto dentro How false, insubstantial and disquilting A living persons head would seen If there were not A deaths head inside

    Jacques Prevert

    Jaques Prevert e muitos outros poetas tm oferecido admirveis

    exemplos da obviedade das coisas. Eles so geralmente to tautolgicos como

    se parecessem infantis. E mais, so dotados de profunda sabedoria.

    Estamos em uma poca obcecada por msculos. A educao fsica

    tradicional est largamente baseada nos conceitos suecos de ginstica e

    desempenha um papel no desenvolvimento desta valorizao dos msculos;

    ns vemos surgir em todos os lugares programas de desenvolvimento

    muscular nos quais construo corporal talvez seja o caminho mais

    representativo. No nossa inteno desacreditar esses mtodos, mas a

    maioria deles no v um fato anatmico essencial. Embaixo da pele existem

    msculos, claro; mais abaixo dos msculos, existem ossos. Sem o esqueleto,

    que persiste muito tempo depois da morte, ns no teramos o formato de

    seres humanos; sem um esqueleto, seramos uma simples forma de larva.

    Imagine-se por um momento sem esta estrutura ssea presente dentro

    de si, e compreender a imensa vantagem de finalmente levar a existncia dela

    em considerao.

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    19

    A. TORNANDO-SE CONSCIENTE DOS OSSOS

    Ao observar crianas pequenas, podemos verificar e apreciar a importncia

    do esqueleto:

    a) Se algum coloca os calcanhares de uma criana recm-nascida em

    uma superfcie resistente, sua coluna vertebral inteira se estica, do

    cccix at a cabea.

    b) Uma criana pequena, s com alguns meses de idade, permanece

    numa posio sentada sem ajuda, sua coluna vertebral fica reta e ativa.

    c) Uma criana comeando a andar muda o peso do seu corpo de um p

    para o outro (com a coluna vertebral e a cabea bem posicionadas).

    Nestes trs exemplos inconcebvel falar-se de fora muscular nessas

    crianas. De fato, elas permitem energia fsica passar atravs do esqueleto: a

    criana recm-nascida deixa a energia fsica passar dos calcanhares em

    direo cabea (reflexo involuntrio righting); a criana pequena em posio

    sentada permite a energia passar atravs dos pequenos anis plvicos

    (squios) at o topo da cabea; a criana que est comeando a andar

    desloca seu esqueleto empurrando seus calcanhares contra o cho.

    E ela permanece de p pela fora do seu esqueleto. A criana que est

    comeando a andar no precisa desenvolver os msculos da barriga da perna.

    Se voc tocar os msculos de uma criana pequena que est de p, poder

    verificar que eles esto completamente relaxados.

    A Eutonia re-ensina o uso consciente do primitivo e quando no, do

    reflexo righting involuntrio, o que permite a energia fsica passar livremente

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    20

    atravs do esqueleto, enquanto a musculatura perifrica permanece livre e

    relaxada. Gerda Alexander chama esse esforo consciente de carrage, para

    distinguir isso do reflexo righting involuntrio.

    Tomar conscincia do esqueleto (sensao precisa da estrutura ssea,

    combinada com a correta imagem anatmica do corpo) resulta em um

    sentimento de segurana e surpreendente energia interior. Alm disso, esse

    fato gera estabilidade mental e emocional, o que da mxima importncia

    nessa era de grande e rpida mudana que vivemos.

    O aluno aprende gradualmente a experimentar seu esqueleto na sua

    totalidade. Coexistente com essa busca pela unidade, ele tambm desenvolve

    um crescente bom conhecimento de cada osso, at de sua forma exata,

    direo, espao interno (medula, circulao) e a sua conexo com ossos

    adjacentes, atravs das juntas (articulaes), tendes, etc.

    Desenvolvendo um preciso senso da estrutura ssea, nossas mais

    profundas e mais primitivas tenses emocionais internas podem ser liberadas

    com segurana. Reich e Lowen tm corretamente falado de vrias contraes

    musculares e fixaes tnicas que bloqueiam a energia da pessoa e a

    impedem de viver inteiramente sua vida adulta. Em Eutonia, nossas

    consideraes e experincias levam em conta que ainda existem tenses mais

    profundas que influenciam nossa vida emocional interna; elas esto fixadas na

    prpria estrutura ssea, nos tendes, entre os tendes e o esqueleto. Na

    realidade, possvel relaxar no s os msculos, mas a estrutura ssea

    tambm. De fato, enquanto relaxamos um osso, afetamos profundamente

    toda a musculatura ligada a ele, livre de fixaes do tnus, e assim

    melhoramos a circulao do sangue e da linfa.

    http://www.facebook.com/photo.php?fbid=800937949916766&set=a.511577468

    852817.123055.100000017051543&type=1&theater

    Conscincia da estrutura ssea resulta em uma sensao de leveza que

    permite movimentar sem fatigar. Esse efeito praticamente precioso para os

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    21

    deficientes fsicos e pessoas idosas, cujos msculos esto fracos e atrofiados.

    Este aspecto ser explicado em detalhes na seo intitulada Transporte.

    A Eutonia emprega um nmero de estratgias para tornar uma pessoa

    consciente da estrutura ssea.

    Aqui esto alguns exemplos: com a

    mo ou um pau de bambu, bata levemente nas extremidades dos ossos e sinta

    a vibrao medida que ela se espalha atravs dos espaos entre os ossos.

    Com um pau de bambu, faa contato em parte do osso; pelo estmulo do ponto

    de contato, pode-se tornar consciente de todo o osso.

    mais gratificante aprender como desenhar e fazer modelos em argila

    da estrutura ssea de (1) ilustraes anatomicamente corretas e (2) das

    prprias sensaes da pessoa.

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    22

    B TRANSPORTE

    Em fsica, um fato bem conhecido que cada esforo de fora

    automaticamente provoca uma fora contrria (reaction force), de igual

    intensidade e exatamente oposta em direo fora inicial.

    Como uma consequncia das percepes bsicas na Eutonia, o corpo

    humano capaz de aproveitar-se completamente desses princpios da fsica.

    Por exemplo, quando ns estamos de p imveis, pelo nosso prprio peso,

    mandamos uma fora perpendicular ao solo e automaticamente, conforme a lei

    da fsica citada acima, o solo manda de volta uma fora de igual intensidade,

    paralela outra direo. Por outro lado, a resistncia e a solidez do esqueleto

    asseguram a essa fora/reao uma passagem especfica atravs do corpo,

    dos ps at a cabea. A realizao do transporte consiste em aprender permitir

    que essa fora passe conscientemente atravs do esqueleto, enquanto libera

    toda a musculatura perifrica, chamada musculatura dinmica - para distingui-

    la da musculatura de sustento, sendo a ltima mais profunda. Mais

    precisamente, quando estamos em p (note que no dizemos: quando ns

    nos carregamos em uma posio de p), a fora passa atravs dos ossos do

    p (calcanhar), da atravs da tbia, segue pela articulao do joelho em

    direo ao fmur (coxa) atravs da articulao do quadril, dirige-se para a parte

    superior do sacro, da vai atravs da quinta vrtebra lombar, percorre toda a

    coluna vertebral at o atlas (primeira vrtebra do pescoo), prxima ao topo do

    crnio . Desse modo, para ficar de p,

    suficiente permitir que a fora passe atravs do esqueleto {que tem o efeito de

    trazer tona somente a musculatura de sustento com a exceo do

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    23

    quadratus lumborum (quadrado lombar), que liga a parte superior da plvis com

    as costelas inferiores};

    mas um nmero razoavelmente grande de pessoas se torna tensa nos ps, nos

    joelhos, nos quadris, no abdmen inferior, entre as costelas, na garganta,

    levanta seus ombros para cima, cerra o queixo e a lngua. Essa sinfonia de

    contraes musculares no s inutilmente fatigante, como tambm diminui

    muito a capacidade do corpo para respirar. Essa atitude de superatividade

    muscular geralmente origina da ideia que a pessoa deve ficar reta. Gerda

    Alexander chama essa ao consciente de carriage, com a finalidade de

    distinguir isso do reflexo righting, que inconsciente e geralmente perdido nos

    adultos. Esse reflexo righting pode ser obtido em todas as posies possveis,

    que um aluno ser capaz de desenvolver uma conscincia precisa do seu

    esqueleto.

    A sensao de transporte da fora atravs do corpo realmente permite

    ao aluno libertar sua musculatura perifrica e torna-a particularmente livre para

    respirar. Carriege e seus prolongados efeitos estimulam a circulao de um tal

    modo que um sobre-esforo evitado durante o esforo violento., diz

    Alexander. Como a rvore que coloca suas razes profundamente dentro da

    terra e permite seu tronco elevar-se nos ares em direo do cu, o aluno pode

    ter a sensao subjetiva que a energia encontrada no solo. Na verdade,

    energia se origina na estreita relao entre si mesmo e o meio ambiente (solo,

    cadeira, instrumento, outros seres humanos etc.).

    O aluno pode progressivamente se mover por deslocar seu esqueleto.

    Isto pertence a um salto qualitativo numa dinmica do movimento do aluno, que

    ir ento realmente permitir cada movimento de se originar do centro do corpo

    (fibras nervosas da espinha). Essa possibilidade d ao movimento grande

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    24

    leveza e liberdade. interessante notar que o corpo da quinta vrtebra lombar

    est localizado exatamente no meio do corpo. Nesse ponto poderia muito bem

    ser a Hora, to frequentemente mencionada nas tradies Ocidentais como

    sendo o centro de todo o movimento.

    Desde a idade mdia, o esqueleto tem sido associado com a mrbida

    ideia da morte. A Eutonia nos permite redescobrir que o esqueleto carrega vida

    dentro dele (alm disso, as clulas sanguneas so produzidas pelo osso da

    medula). De acordo com Gerda Alexander: O esqueleto a expresso do

    esprito, uma maravilha espiritual. Ele carrega dentro de si tudo que o ser

    humano tem disso, tudo que ele deseja ser e tudo que ele ser.

    http://www.facebook.com/video.php?v=781338591901172&set=vb.1000007511

    65903&type=2&theater

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    25

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    26

    IV MOVIMENTO

    Toda a vida movimento; tudo que tem acontecido est em movimento. Nada que imvel est vivo. gua estagnada est morrendo; s gua corrente, gua "branca tem vida. O mesmo verdadeiro para o nosso corpo; para estar verdadeiramente vivo, no se pode estar nem imvel nem inativo. Ns carregamos dentro de ns mesmos certas partes imveis ou estagnadas. Elas no tem sido usadas por muito tempo e esto diminuindo por desuso. Elas enfraquecem nosso corpo e reduzem seu vigor fsico, assim como suas faculdades intelectuais e mentais; elas impedem a circulao de energia, formam um obstculo para a percepo compreensiva e quebram harmonia. Desse modo, movimento revela-se indispensvel para a vida e o florescimento de todo o nosso ser.

    (James Kon, 6, p. 13)

    A Eutonia convida a pessoa para encontrar um caminho pessoal para

    mover, que respeite as leis da natureza, no impea a respirao, a circulao

    e outras funes orgnicas, enquanto assegure mxima eficincia com um

    mnimo de energia. Tal requinte pode ser realizado somente quando sensaes

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    27

    proprioceptivas e exteroceptivas se tornam mais e mais precisas. O aluno

    aprende a avaliar todo o tempo o impacto que seu prprio modo de movimentar

    tem em seu corpo. Na realidade, o aluno deve abandonar todos os estilos de

    movimento, maneirismos culturais, ou movimentos copiados de fora, para uma

    busca pessoal interior, que sozinha pode produzir a qualidade do movimento;

    apesar da Eutonia aspirar esttica, o aluno ir progressivamente suceder em

    se movimentar com elegncia assegurada.

    Essa nasce da unidade, fluidez, facilidade e leveza que ele ter adquirido, ao

    contrrio de um desejo de fazer bem. Isso bastante comparvel com a

    graa felina.

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    28

    A AS DIFERENTES FUNES DO MOVIMENTO

    Ns podemos diferenciar quatro funes do movimento:

    1. A funo autnoma (vegetativa)

    Todos esses movimentos asseguram a vida e so involuntrios; por

    exemplo, circulao do sangue, linfa, respirao, movimento visceral,

    metabolismo, etc.

    2. A funo motora de deslocamento

    Essa funo refere-se aos movimentos que nos permitem mudar de

    posio, nos mover sobre as coisas e interagir com pessoas. Para sermos

    claro, possumos certo nmero de esquemas inconscientes correspondendo

    aos nossos vrios movimentos dirios. Por exemplo, para andar, um

    movimento bastante complexo, ns no temos que pensar sobre a maneira que

    ns usaremos os nossos dedos, joelhos ou quadris. Esse movimento se tornou

    automtico e, na maioria das vezes, ns nem sabemos exatamente o que ns

    fazemos para andar. Note que esses esquemas de movimento podem ser

    inadequados: por exemplo, cerrar o queixo enquanto escreve.

    3. A funo expressiva

    Inclui nossos gestos e atitudes expressivas, ambos verbais e no-

    verbais (postura do corpo, tom de voz, ritmo de falar, posio das mos,

    expresses faciais, etc.). Essa funo do movimento fortemente influenciada

    pelos valores sociais e culturais adquiridos.

    4. A funo de manuteno

    Inclui todos os movimentos pelos quais a pessoa acorda, renova as

    atividades, descansa e mantm seu organismo; por exemplo: bocejando,

    espreguiando, friccionando, arranhando, tremendo, espirrando, vendo; um

    nmero razoavelmente grande desses movimentos vitais considerado

    socialmente sem educao. Alunos iniciantes geralmente acham muito difcil

    movimentar-se dessa maneira. Crianas pequenas e animais podem dar-nos

    lies a respeito da importncia da funo de manuteno. verdade que eles

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    29

    no aprenderam a distinguir entre movimentos corretos e indecentes. O aluno

    gradualmente aprende a detectar suas necessidades profundas. Os

    movimentos acima, os quais ItsuoTsuda chama de movimentos

    regenerativos, so discutidos pormenorizadamente em seu livro (Tsuda, 8, p.

    20).

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    30

    B FINS E PRINCPIOS DO MOVIMENTO EUTONIA

    Desde a primeirssima lio o aluno convidado a mover-se com

    presena e conscincia. Essa qualidade da presena e da ateno consigo

    mesmo e com o meio ambiente pode ser bastante perturbadora no comeo

    um pouco como centopeia tendo que se perguntar em que sequncia ela deve

    mover seus ps. Mas essa fase do trabalho muito importante, pois permite ao

    aluno tornar-se cnscio de uma srie de pequenas contraes e movimentos

    expressivos; no existe nenhuma razo para que eles devam ocorrer como

    parte do esquema funcional (por exemplo, segurar a respirao e apertar o

    abdmen quando se corta um pedao de po). Contraes e movimentos

    expressivos particularmente impedem as funes autnomas (vegetativas) e

    so necessariamente fatigantes.

    O aluno gradualmente aprende a se mover ao observar a variao em

    suas maneiras de tocar o cho, em observar seu espao interior (msculos,

    estrutura ssea, circulao, sensao de carrige por todo o corpo) e por ter

    cuidado em deixar sua respirao livre. Sua respirao ir espontaneamente

    ajustar-se ao ritmo e amplitude de acordo com as necessidades do momento.

    CARACTERSTICAS DO MOVIMENTO EUTNICO

    a) TNUS HARMONIOSAMENTE DISTRIBUDO POR TODO O CORPO.

    Quando uma parte do corpo est em movimento, todo o corpo est movimento e quando um membro do corpo est em descanso, todo o

    corpo deve estar em descanso.

    Nessa citao, James Kou admiravelmente descreve a noo de

    um tnus harmoniosamente distribudo por todo o corpo. Os dois

    exemplos seguintes ilustraro esse conceito se voc tentar andar com

    um dedo contrado, depois de poucos momentos a cimbra ir se

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    31

    espalhar para a barriga da perna, a coxa, o quadril, em direo rea

    lombar.

    Hipertenso local pode tambm influenciar o tnus de todo o corpo.

    Alm disso, nossa sociedade, que certamente experimenta tenso

    excessiva, preocupada com o relaxamento. Mas relaxar pode ser

    catastrfico para o corpo, caso ele esteja desacostumado com o

    movimento que est sendo executado: por exemplo, enquanto sentados,

    muitas pessoas relaxam as costas e as deixam curvas; essa postura

    pode parecer legal, mas ela envolve presso nos msculos

    abdominais, msculos dos ombros, costelas, etc. Na realidade, o

    movimento pode ser feito sem cansar e prejudicar o organismo apenas

    se todos os msculos do corpo tiverem o mesmo tnus bsico. Essa

    harmonia do tnus geral permite pessoa realizar e experimentar a

    unidade do seu corpo de um modo real.

    Unidade Corporal pode ser definida pelo fato que um movimento no esteja

    bloqueado em nenhum nvel do corpo e pode ser transmitido atravs do corpo

    inteiro. Essa total participao pelo corpo evidente em todo momento,

    incluindo respirao. Esse um princpio igualmente verdadeiro para as outras

    funes, como a fala e todas as formas de satisfao. (Digelmann, 3, p. 22).

    b) FLEXIBILIDADE DO TNUS, EM CONTNUA ADAPTAO COM O ATO DE

    VIVER. Essa ideia foi completamente apresentada na sesso sobre tnus.

    c) PRESENA

    d) MANTER CORRIAGE DE TODO O ESQUELETO

    e) PROLONGAMENTO E CONTATO

    f) LEVEZA

    g) CONFORTO E ECONOMIA.

    Desde o comeo, o aluno convidado a integrar suas descobertas na sua

    vida diria. Pouco a pouco, se ele tem xito em mover com real presena e

    sensvel ateno na sua vida diria, a movimentao rgida e sem funo

    desaparece, e substituda por novas atitudes, melhor adaptadas ao presente.

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    32

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    33

    C ESTUDOS DO MOVIMENTO

    No decorrer do seu desenvolvimento em Eutonia, o aluno segue certo

    nmero de estudo do movimento. O professor de Eutonia prope um tema

    funcional para ser explorado pelo aluno. O que segue so temas possveis

    para estudo do movimento:

    Variaes em tocar o solo;

    Investigao on carriage em vrias situaes;

    Forma de um movimento quando iniciado por uma parte do corpo

    (por exemplo, mover o cotovelo, joelho, cccix).

    Apesar de o aluno mover com preciso, a forma exata do movimento

    deixada para a sua prpria iniciativa, guiada pelos seus prprios impulsos e

    sua dinmica prpria. Ainda quando o tema funcional, contentamento afetivo

    e emocional vem superfcie durante a explorao, pelo aluno, da forma do

    movimento.

    Como o processo instrutivo se desenvolve em um estudo do movimento:

    primeiro, o professor prope um exerccio de sensibilizao baseado no tema

    do estudo. Ento o aluno improvisa livremente sobre o tema. De suas

    improvisaes, ele cria e decide por uma forma definitiva, que possa ser

    reproduzida muitas vezes de um modo absolutamente idntico.

    O aluno se permite interpretar a forma, regular a intensidade, a

    sincronizao e o ritmo dos movimentos. Ele apresenta seu estudo antes do

    grupo.

    Feedback do Eutonista: a atitude do eutonista muito rigorosa nessa

    conexo. primeira vez, ele revela para o aluno que progresso ele tem

    observado e os desenvolvimentos proeminentes que contriburam na sua

    Avaliao:

    Auto-avaliao Pelo eutonista Avaliao do grupo.

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    34

    direo de investigao. Depois, indica quais elementos so para serem

    explorados novamente e aperfeioados. Esses elementos devem estar dentro

    da capacidade do aluno e adaptados s suas necessidades. Geralmente,

    mesmo enquanto aponta esses elementos, o Eutonista d exemplos de atalhos

    ou caminhos teis para explorar novas possibilidades.

    Representao do estudo do movimento um instrumento fecundo. A

    experincia prova que esses estudos do movimento geralmente representam

    um estgio importante no desenvolvimento do aluno de Eutonia. Eles permitem

    estabilizar sua experincia e explorar novas possibilidades com segurana.

    Alm disso, o estudo torna-se uma ocasio para os observadores

    desenvolverem sua prpria capacidade de observao e conscincia sensorial

    dos outros. O observador pode realmente entrar em harmonia com a pessoa

    que est apresentando seu estudo, at o ponto de sentir no seu prprio campo

    a qualidade do movimento apresentado.

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    35

    V. PEDAGOGIA

    Pelos seus princpios, a pedagogia muito precisa em Eutonia. Das

    primeiras lies, o Eutonista convida o aluno para entrar em contato com o

    meio ambiente imediato. medida que o aluno desenvolve suas sensaes

    proprioceptivas, esta capacidade para observao conduz para um grau

    crescente de abertura para o mundo exterior.

    Tais investigaes fazem da Eutonia um treino fundamentalmente

    relacional. A experincia prova que a capacidade de relaxar e de sentir a si

    mesmo em harmonia quando se est sozinho, tem pouqussimo valor, se essa

    qualidade de presena perdida quando a pessoa est se relacionando com

    outros seres humanos.

    O objetivo da Eutonia desenvolver no aluno a capacidade para

    observao no presente: a habilidade para observar exatamente o que est

    acontecendo e no o que a pessoa desejaria que acontecesse.

    Progressivamente, o aluno aprende a observar seu corpo do modo mais

    neutro que puder; ou seja, recebendo sensaes diferentes medida que

    eles chegam sua conscincia, sem distorc-las, disfar-las ou ocult-las.

    Atravs dessa capacidade de observao do presente, o aluno comea a

    descobrir as caractersticas fundamentais e inseguras de suas sensaes, e da

    sua vida em geral. Devemos reiterar nossa verdade que estar em Eutonia no

    um estado adquirido uma vez e para todo o tempo, mas sim uma constante

    atividade diria, um reequilbrio constante estimulado pela mudana bsica,

    natural da vida. No esprito, a Eutonia estimulada por um questionamento

    dinmico; o instrutor de Eutonia que abandonou sua investigao pessoal e

    est contando com suas experincias anteriores e realizaes, definitivamente

    pode aplicar somente uma tcnica pobre em esprito e vazia da sua substncia

    essencial.

    Para permitir o despertar da sua capacidade de observao do presente,

    as sugestes so evitadas o mximo possvel. Em vez de dizer: sinta o seu

    brao pesado no cho, ns dizemos: observe o peso do seu brao no cho.

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    36

    Em vez de dizer: sinta todo seu corpo relaxado como se ele afundasse no

    cho, ns dizemos: sinta que partes do seu corpo tocam e esto situadas no

    cho. Deixando de fazer sugestes, o aluno Eutonista d ao aluno a

    oportunidade de sentir o seu corpo como ele e, no como se espera que ele

    seja. Esse o primeiro passo em direo a uma maior aceitao de si mesmo

    e dos outros.

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    37

    RESPEITO PELA PERSONALIDADE HUMANA um dos pilares da

    pedagogia da Eutonia. Desde o comeo, a Eutonia estimula a capacidade da

    pessoa para a autonomia. Como primeira lio, o aluno tem o papel principal. O

    pedido de ATENO e participao estendido at para aquelas pessoas

    que esto doentes, e mais dependentes fisica e espiritualmente. Nessa

    discusso, o termo aluno designa cada pessoa engajada em aplicar Eutonia.

    O uso desse termo sublinha a caracterstica essencialmente dinmica e ativa

    de um aprendizado da Eutonia. Esse aspecto muito importante: significa que

    o aluno sozinho responsvel pelo seu desenvolvimento pessoal; o Eutonista

    est presente para convid-lo, no para induzi-lo a tomar certos caminhos na

    sua observao. Portanto, a pedagogia da Eutonia tem a investigao pessoal

    do aluno como base. Essa investigao, que traz profundas mudanas no

    aluno, cumprida no seu prprio ritmo; todas as capacidades orgnicas da

    pessoa para mudana so estritamente respeitadas.

    Como ns vimos na seo dedicada ao movimento, o aluno reaprende a

    expressar sua profunda originalidade. A aceitao das diferenas individuais

    ocorre no comeo das discusses grupais, que geralmente ocorrem no final da

    sesso. Por exemplo, depois de um inventrio completo da pessoa (sentir a

    coxa, o joelho, a batata da perna, a tbia, o tornozelo, o calcanhar, os dedos), o

    Eutonista pede ao aluno para comparar ambas as pernas e observar se pode

    sentir diferenas de sensaes entre elas. O aluno descobre dessa vez que as

    sensaes especficas que sente so diferentes daquelas experimentas pelas

    outras pessoas do grupo. Assim, ele pode comear a levar em considerao as

    reais diferenas entre as pessoas do grupo. Esse um dos motivos pelos quais

    as sesses de Eutonia geralmente acontecem em grupo.

    Alm disso, a Eutonia no convida o aluno para classificar sensaes

    como boas ou ruins, respeitveis ou vergonhosas. Adquirir essa atitude de

    sentir sensaes sem classific-las difcil para muitas pessoas que esto

    acostumadas a pensar de uma maneira dualista, cartesiana (bom como o

    oposto ao diabo; o corpo oposto ao esprito).

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    38

    Outro pilar da pedagogia da Eutonia a contnua alternncia entre

    desestruturar e reestruturar a unidade psico-corporal do indivduo. De fato, a

    Eutonia no est limitada a libertar tenses, emoes e sistemas profundos do

    aluno; esse aspecto do treinamento no muito difcil. muito mais difcil dar

    ao aluno caminhos especficos para integrar tais liberaes sua vida diria

    (sem transform-lo), como geralmente ocorre com certas aproximaes

    fortes, onde o indivduo tem necessidade de trs ou quatro anos para se

    encontrar.

    Dentro do alcance da investigao da alternncia entre desestruturar e

    reestruturar, no existe lugar algum para a noo de fracasso ou falha.

    Fracasso ou falha no so mais considerados como uma ocorrncia trgica,

    mas tornam-se parte do processo instrutivo. Quando uma criana aprende a

    andar, ela cai, levanta e cai novamente umas cem vezes, uns milhares de

    vezes. Nesse caso especfico, ns geralmente no falamos em fracasso;

    entendemos que a criana que cai est aprendendo a cair e a levantar e que

    todas essas aes so parte do complexo aprendizado de andar.

    Assim como a criana que est aprendendo a andar, na Eutonia

    somente cometendo erros e enganos que o aluno pode realmente obter

    progresso. Essa nova atitude no nasce tanto de uma preocupao com a

    originalidade, mas muito mais do aprendizado baseado na observao de

    como as crianas aprendem naturalmente, e quais estgios elas atravessam

    inevitavelmente.

    De fato, no existe nenhum modelo de procedimento restrito para as

    sesses de aprendizado em Eutonia. O instrutor deve ser capaz de sentir o

    grupo (antes, durante e depois da sesso) e adaptar a sequncia de eventos

    de acordo com o que est acontecendo no mesmo: ele s se encarrega que as

    sesses de Eutonia tenham progresso de acordo com tticas instrutivas

    bastante precisas; para evitar tornar-se tcnico demais, essas estratgias no

    sero elaboradas.

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    39

    Finalmente, importante enfatizar que a Eutonia aspira uma abertura da

    conscincia, e no a sua reformulao. Atravs da constante observao de

    suas sensaes proprioceptivas e pelo contnuo conhecimento do seu meio

    ambiente, o aluno desenvolve uma capacidade estvel para contnuos contatos

    com a realidade bsica. Engajar em Eutonia no significa entrar em estado

    alternado e partir para regies etreas; praticar Eutonia ter seu p no cho,

    criar razes e desenvolver um alerta especial para viver cada dia da vida no

    seu principal nvel espiritual.

    Em resumo, evidente que a Eutonia mais que um novo mtodo de

    movimento. Eutonia prope uma nova atitude frente vida uma nova Arte de

    Viver. Alm disso, muitos que chegam Eutonia com problemas fsicos e

    tcnicos notam rapidamente que os resultados que eles obtm do seu trabalho

    excedem de longe as suas primeiras esperanas e motivaes. Trabalhando

    no seu corpo, o aluno progressivamente muda seu modo de se relacionar

    consigo prprio e com o meio ambiente.

    Talvez a importncia social da Eutonia seja agora mais compreensvel;

    longe de sublevar-se abertamente enquanto lamenta o passado, presente e

    futuro, a Eutonia d aos indivduos a oportunidade de mudar agora sem

    esperar por alguma nova ordem. As experincias tm demonstrado que a

    profunda mudana no corpo da pessoa ocasiona uma mudana imediata no

    seu ambiente domstico e profissional.

    O processo investigativo em Eutonia est acima de todas as dinmicas:

    investigao, questionamento, contnua integrao. Flexibilidade do tnus e

    segurana interna permitem ao indivduo reagir criativamente com respostas ao

    inesperado. A presente crise social realmente exige respostas criativas que no

    podem necessariamente vir do passado. A Eutonia se fez parte da futura tarefa

    humana de descobrir novas perguntas em resposta a novas questes que nos

    encaram nesse momento de nossa histria.

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    40

  • Educao Musical - Prtica e Ensino 3

    Professoras Jussara De Chiara e Valentina Daldegan

    41

    BIBLIOGRAFIA

    1. Alexander, Gerda. Le corpsretrouve par lEutonie. Tchou, 1977

    2. Capra, Fritjof. The tao of Physicas. Schambala Publications, Berkeley,

    1975

    3. Digelmann, O. LEutonie de G Alexander. Scarbes, 1971

    4. Feldenkrais, Meshe. Le CasTorisBachette.1978

    5. Henigel, E.Le zendansLartchevaleresque du Tir. Dervy-Livres, 1970-

    1980

    6. Kou, James. Tai chi chuan, ed. F.F.T.C.C..Paris 1979

    7. Montagu, Aschley Touching. The Human Significance of the Skin.

    Columbia University Pres, 1971

    8. Tisuo Tsuda. Le Non-faire, Escola de la Respiration, Le Couvier du Li