sarah mallory - calor do coração

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  • Hlq Histricos 136 Calor do corao - Sarah Mallory

    Projeto Revisoras Pgina 2

    CALOR DO CORAO

    Snowbound With The Notorious Rake

    Sarah Mallory

    Uma ceia de delcias e malcias Rose Westerhill quase congela de medo quando se v presa em uma casa de

    campo com o notrio e perigoso sir Lawrence Daunton durante uma tempestade de neve! Ao perceber que confundiu endereos, ela no tem alternativa seno aceitar a oferta de abrigo. Entretanto, promete a si mesma que se manter indiferente aos encantos de Lawrence. medida que a temperatura declina, Rose descobre que o melhor meio para se aquecer se entregar terrvel e abrasadora seduo do libertino. Por uma noite apenas,ela abandona seus princpios e seu corpo ao toque habilidoso de Daunton. Passar o Natal com um farrista promete ser uma celebrao inusitada.

    Digitalizao: Projeto Revisoras Reviso: Paula Lima

  • Hlq Histricos 136 Calor do corao - Sarah Mallory

    Projeto Revisoras Pgina 3

    Traduo Maurcio Araripe HARLEQUIN

    2013

    PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V./S..r.l. Todos os direitos reservados. Proibidos a reproduo, o armazenamento ou a transmisso, no todo ou em

    parte. Todos os personagens desta obra so fictcios. Qualquer semelhana com pessoas vivas ou mortas mera coincidncia.

    Ttulo original: SNOWBOUND WITH THE NOTORIOUS RAKE

    Copyright 2011 by Sarah Mallory

    Originalmente publicado em 2011 por Mills & Boon Historical Romance Projeto grfico de capa: Nucleo i designers associados

    Arte-final de capa: de Casa Editorao eletrnica: EDITORIARTE

    Impresso: RR DONNELLEY www.rrdonnelley.com.br

    Distribuio para bancas de jornais e revistas de todo o Brasil:

    FC Comercial Distribuidora S.A. Editora HR Ltda.

    Rua Argentina, 171,4 andar So Cristvo, Rio de Janeiro, RJ 20921-380 Contato: [email protected]

    Querida leitora,

    Quando escrevo um livro, no incomum ambient-lo em um tipo de clima enquanto experimento outro bem diferente. Contudo, durante o processo de criao de Calor do corao, eu estava exatamente no mesmo clima invernal que meus personagens! Nos Montes Peninos, o mau tempo comum, e neste inverno tivemos uma prolongada temporada de nevascas, o que transformou os pntanos em um paraso invernal, mas tornou impossvel trafegar nas estradas. Por sorte, adoro esse tipo de clima, e escrevi a maior parte deste livro enroscada nas cobertas com meu laptop, diante da lareira, com a neve batendo nas janelas. Uma verdadeira delcia!

    Estar presa na neve pode ser maravilhoso, contanto que todo mundo esteja em segurana e haja comida e combustvel estocados em quantidade suficiente. H uma grande sensao de isolamento. O restante do mundo parece to distante que como se no importasse mais. o que acontece com minha herona, Rose, quando se v isolada em uma casa solitria nos pntanos. uma fuga do tdio de sua vida rotineira. No de se surpreender que ela logo sucumba ao ambiente de conto de fadas e ao charme do dono da casa. Ajuda claro, o fato de sir Lawrence ser justamente o tipo de homem capaz de derreter o corao de uma dama!

    Nasci no oeste da Inglaterra, e foi um grande prazer situar esta histria em Exmoor. Contudo, decidi no usar lugares reais como cenrio para meu livro. Preferi dar asas imaginao, algo to fcil de fazer em uma parte to selvagem e linda do pas. Espero que gostem muito de Calor do corao e desejo a todos as alegrias da estao.

    Boa leitura! Sarah Mallory

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    Captulo Um

    A SALA de visitas de Knightscote Lodge era considerada por muitos o aposento

    ideal para uma fria noite de inverno. O teto com estruturas de madeira e lustrosos painis de carvalho formavam o cenrio perfeito para as mentes mais romnticas. Sem dvida, com uma chama vibrante na enorme lareira e o brilho dourado de velas, o aposento parecia quente e acolhedor.

    Seu atual ocupante estava afundado na poltrona com os ps calados em botas e em posio de descanso sobre o piso da lareira. Ele fitava sorumbaticamente o fogo com uma taa de vinho pela metade em sua mo de dedos magros e compridos.

    A neve comeara a cair um pouco mais cedo. Agora, impulsionada pelo vento uivante, chocava-se contra as vidraas reluzentes.

    Sir Lawrence Daunton ergueu a cabea quando uma rajada particularmente forte sacudiu os caixilhos. Ele considerou que, se a nevasca continuasse, seria impossvel passar pela trilha por vrios dias.

    timo murmurou ao esvaziar o copo. Era vspera de Natal. Cavalgara at sua cabana de caa nos limites de Exmoor,

    alguns dias atrs, com duas ideias em mente. A primeira era evitar qualquer companhia durante a temporada de festas. A outra, ficar muito, muito bbado. Pronto para atingir a segunda meta, estendeu o brao na direo da garrafa pousada na mesa ao seu lado. Vazia. Levantou-se e, quando se dirigia aos aposentos dos criados para buscar outra, escutou batidas vigorosas na porta.

    Lawrence se deteve. Quem diabos ser? Com gestos controlados, colocou a garrafa na mesa e pegou o lampio. Seus

    passos ecoaram sobre o piso de pedra no caminho at a entrada. Perdeu um instante tentando destrancar. Por fim, abriu a porta.

    Uma rajada de vento gelado o deixou sem flego. Assim como a viso postada sob o abrigo da varanda. Diante dele estava uma jovem envolta em uma capa de viagem de veludo azul-claro.

    As bordas de pelos brancos do capuz emolduravam um rosto plido e delicado, com um nariz reto, lbios generosos e um par de olhos acinzentados adornados por clios escuros.

    Lawrence notou cada detalhe imediatamente. Quando piscou para se certificar de que a viso no desapareceria de sua frente, a mulher tratou de adentrar o chal, comandando:

    No me deixe parada na neve! Por favor, avise a sua patroa que a sra. Westerhill gostaria de v-la. Imediatamente. Esta ltima palavra foi pronunciada com certa nfase, pois Lawrence ainda a fitava. Ela continuou: Meu cavalario encontra-se l fora com os cavalos. Seria bom indicar para ele os estbulos antes de fechar a porta.

    Lawrence tornou a piscar. Uma rajada de vento trouxe mais neve para dentro do vestbulo, cada floco caindo sobre o piso escuro e se dissolvendo.

    Perfeitamente. Com licena. Sem perder tempo, ele saiu da cabana, fechou a porta e correu at onde o infeliz cavalario, prostrado, segurava as rdeas de dois cavalos.

    Aps algumas palavras de orientao, Lawrence correu de volta para dentro da casa. Encontrou o hall de entrada vazio, mas uma trilha de pegadas molhadas indicava a direo da sala de visitas. L, encontrou a dama aquecendo as mos junto ao fogo.

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    Ela tirara a capa. Trajava um vestido de veludo azul-marinho de gola alta, apenas ornamentado nas bordas dos punhos e no pescoo com uma delicada renda branca. A seriedade da roupa era abrandada pela abundncia do cabelo cor de mel que pendia em cachos suaves sobre os ombros.

    E ento? Informou sra. Anstey que estou aqui? H No. Ela se empertigou, franzindo a testa ao fit-lo. Aqui Knightshill Hall, no ? Na verdade, no respondeu Lawrence. Estamos em Knightscote Lodge.

    Knightshill fica em Stoke Pero. Ah, meu Deus! Quer dizer que esta no a casa da sra. Anstey? No. Deve ter perdido a entrada. Lawrence observou quando os pequenos dentes brancos mordiscaram o lbio

    inferior, to generoso e vermelho quanto uma cereja madura. O olhar dela percorreu o aposento, e, pela primeira vez, pareceu se dar conta de seu estado desmazelado.

    H uma patroa nesta casa? Lawrence meneou a cabea. No no momento. Nesse caso, talvez queira informar ao seu patro Ela interrompeu a fala ao

    notar a expresso divertida do rosto dele. Bom Jesus! Colocou a mo sobre a boca, e os olhos emoldurados por clios compridos o fitaram expressando profundo horror e constrangimento. Por favor, no me diga que o senhor o patro desta propriedade.

    Certo. Tratou de responder. Eu no direi. As pupilas dela brilharam, mas a dama retrucou com severidade: No seja tolo. Se o senhor o patro, diga-me seu nome. A dama no sabe? Ela fez que no. Devo parecer terrivelmente ignorante, cavalheiro, mas no costumo me ausentar

    de meu lar. De modo geral, no temos uma vida social muito agitada. Sou Daunton anunciou ele observando-a com ateno. Lawrence Daunton. Na mesma hora, a expresso de bom humor abandonou o rosto dela, e a dama deu

    um passo para trs. O Libertino Daunton?! Ele sorriu, falando com certa satisfao: Vejo que realmente me conhece. Conheo sua reputao. Embora, como eu disse, no tenhamos uma vida social

    muito agitada, isso no significa que no sabemos o que acontece no mundo. Uma tia minha que mora na cidade nos escreve com regularidade, e as colunas sociais dos jornais londrinos so uma eterna fonte de entretenimento. Seu nome sempre aparece!

    Garanto que no passam de mexericos e rumores. Ah, meu Deus! Ela levou as mos s faces. Isto terrvel. Ele cruzou os braos. Mais terrvel do que era cinco minutos atrs? Achei que estvamos nos dando

    muito bem. Os olhos dela faiscaram. Estou a quilmetros de casa, e ainda por cima na companhia de um dos libertinos

    mais notrios do pas. Lawrence ergueu as mos. Espero que no me acuse de ter planejado isto! Alguma inspirao travessa o

    fez acrescentar: Jamais tive de recorrer a uma ttica to desprezvel com as mulheres. Ela no pareceu acreditar nele, e, ansiosa, olhou ao redor. H alguma outra mulher por aqui?

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    Nenhuma. Minha nossa! Ela pegou as luvas. Neste caso, devo ir imediatamente. Ir aonde? Para Knightshill Hall. Ter vindo aqui foi um terrvel engano. A neve cobria a placa

    no porto, e apenas as primeiras letras eram visveis. Eu poderia jurar que estava no lugar certo. Endireitou os ombros, empertigou a cabea e anunciou, formal: Vou me retirar agora. Peo perdo por ter incomodado.

    Caminhou at a porta, mas Lawrence nem sequer fez meno de abri-la. Mas eu no posso deix-la ir. Os olhos dela se arregalaram, alarmados, e ele acrescentou: No pode cortar pelo pntano com essa neve, e longe demais para viajar pela

    estrada. Ter de voltar pelo menos um quilmetro e meio at a encruzilhada, e, de l, so mais alguns quilmetros at Knightshill Hall.

    Ah Bem, deve haver alguma outra famlia por perto que possa me oferecer abrigo. Concentrou o olhar esperanoso sobre ele.

    E, por um instante, Lawrence quase lamentou ter de desapont-la. Quase. Receio que no. Veja bem, este um chal de caa. Foi projetado para ser

    isolado de outras habitaes. Estamos no meio do nada. A sra. Westerhill aceitou muito bem a notcia, sua aflio apenas aparecendo nos

    olhos, que assumiram um tom mais escuro de cinza. Sendo assim, devemos tentar chegar em casa. Se puder me mostrar o caminho

    at os estbulos, falarei como meu cavalario. Lawrence sacudiu a cabea. Ele deve ter acabado de acomodar os cavalos. Ento ter de desacomod-los. Devemos nos pr a caminho outra vez, o mais

    rpido possvel. Lawrence caminhou at a janela. claro, mas no creio que isso ser esta noite. Estendeu a mo, convidando-a

    para juntar-se a ele. Venha dar uma olhada. Ela se aproximou, tomando o cuidado de no ficar muito perto dele ao espiar l para

    fora. Ainda nevava com grande intensidade, o vento soprando os flocos de neve quase horizontalmente de encontro janela.

    Mas talvez consigamos passar, pelo menos at Exford Impossvel. Ele fechou as cortinas, deixando a noite l fora. No h casa ou

    abrigo em um raio de quilmetros daqui, e, nesta nevasca, seria loucura tentar. Sendo assim, o que vou fazer? Pela primeira vez, Lawrence notou um qu de incerteza na voz dela. Ele pousou a

    mo sob o seu cotovelo e a guiou de volta at a lareira, gentilmente a ajudando a se sentar.

    Vou buscar uma garrafa, e madame vai beber uma taa de vinho comigo. ASSIM QUE se viu a ss, Rose voltou a se levantar de um salto. Caminhou de volta

    at a janela e espiou l para fora atravs das cortinas. Talvez houvesse se enganado, talvez no estivesse to ruim quanto pensara a princpio.

    Na realidade, estava era pior. A neve continuava a cair em pesados flocos brancos, espalhados pelo vento que soprava e uivava ao redor da casa velha. Agitada, ela pegou a capa e a estendeu sobre uma poltrona para secar, e, em seguida, retornou para o assento diante da lareira para considerar a sua situao desagradvel.

    Encontrava-se sozinha naquela casa com um libertino. No, no exatamente sozinha. Evans, o cavalario, viera com ela, embora no fizesse a menor ideia de onde

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    ele pudesse estar. Talvez sir Lawrence o houvesse dominado. O pobre Evans poderia agora mesmo estar aprisionado em algum poro!

    Na mesma hora, Rose tratou de ignorar tais pensamentos, repreendendo-se pela imaginao frtil. At ento, sir Lawrence se portara com impecvel decoro. Era bem verdade que se vestia com certa informalidade; contudo, por outro lado, no aguardava visitas.

    Uma violenta rajada de vento sacudiu a janela e assobiou a chamin abaixo, lembrando-a da tempestade l fora. No prestara muita ateno na casa ao se aproximarem, por se sentir agradecida demais por enxergar as luzes acolhedoras vindo da janela.

    Era semelhante a outras casas antigas na regio, uma construo baixa e tortuosa com o telhado triangular. O seu interior era mobilhado para conforto, em no para elegncia, com pesados mveis e painis escuros contrastando com almofadas e tapearias de cores alegres. E havia tambm uma boa quantidade de metais reluzentes.

    Rose olhou ao redor. O aposento estava bem limpo, mas notava-se um ar de desorganizao, com as almofadas espalhadas e os copos vazios na cornija da lareira, como se no houvesse ningum para arrumar a baguna do patro.

    O patro. Os pensamentos de Rose se voltaram para o indivduo perturbador. Na verdade,

    no foi de surpreender que ela o houvesse confundido com um servial, tendo em vista que sir Lawrence aparecera apenas com botas de cano alto e cala justa de algodo, o palet desabotoado e a camisa aberta no pescoo, deixando mostra a viso imprpria do peito com os seus pelos negros e crespos. Alm, claro, da mancha mais escura ao redor do queixo, revelando que no fizera a barba nesse dia.

    Quando ele abrira a porta para ela, Rose tivera a impresso de que era um gigante, o cabelo escuro roando no lintel, e os ombros largos preenchendo o vo da porta. Postados juntos no corredor estreito, ela o achara muito intimidador. Fora por isso que seguira para a sala, preferindo colocar um pouco mais de distncia entre os dois. claro que, agora que sabia quem ele era, dera-se conta de que havia motivo para o seu nervosismo.

    Sobressaltou-se quando a porta se abriu e o anfitrio entrou trazendo uma garrafa. Ele caminhou at um aparador e se ps a encher duas taas. Sua mo era firme, Rose, porm, se deu conta de que ele podia estar embriagado, o que explicaria o brilho que notara nos olhos azuis. Na realidade, estava mais para um lampejo, uma centelha, convidando-a a compartilhar daquilo que tanto o divertia.

    Sir Lawrence era ao mesmo tempo alarmante e atraente, o que Rose achava extremamente preocupante. Teria de manter a cabea no lugar, e decidiu que uma taa de vinho com ele seria mais do que o suficiente.

    Onde est o meu cavalario? perguntou quando Lawrence lhe estendeu o vinho.

    Na cozinha. Falei para ele ficar vontade por l. E, se mantiver o fogo acesso, ser algo a menos com que eu terei de me preocupar.

    No h criados aqui? No. Eu os mandei para casa, para aproveitarem o Natal com as famlias. Por qu? Ela sacudiu a cabea, sentando-se em uma cadeira diante da lareira. Acho que j respondi perguntas o suficiente. O que acha de me contar o que est

    fazendo fora de casa em uma noite como esta? Haveria algo que pudesse dizer que no aumentaria ainda mais a sua

    vulnerabilidade? Buscando ganhar tempo, Rose tomou um gole de vinho. Era rico, doce e surpreendentemente reconfortante.

    Estava levando flores para o meu marido admitiu, por fim. Entenda, sou viva. Meu marido faleceu neste dia, quatro anos atrs, e, desde ento, tenho visitado

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    Exford duas vezes por ano, no aniversrio dele e toda vspera de Natal, para depositar flores no seu tmulo.

    Mas no onde mora agora? No. Moro em Mersecombe. Mersecombe! Devem ser mais de 15 km de l at Exford. Com certeza no passam de 12. E no nevava quando sa de casa. E, claro, todo mundo espera dias ensolarados em dezembro. No tive nenhum problema ao fazer a viagem nos ltimos quatro anos! Apenas um tolo faria tal viagem nesta poca. Nesse caso, sou uma tola retrucou ela empertigando-se. Por um instante, ele olhou fixo para ela, e Rose se retesou, esperando outra

    resposta desaforada. Em vez disso, ele falou, baixinho: Peo que me perdoe. Para fazer tal jornada at Exford no meio do inverno

    Admiro a sua devoo. Quase sem se dar conta, Rose fez um gesto de pouco-caso com a mo ante o

    comentrio. No fora a devoo que a fizera deixar Mersecombe naquela manh. Talvez uma pontada de culpa, pelo fato de o marido to raramente estar nos seus pensamentos atualmente, somada a uma agitao cada vez mais difcil de suportar.

    Seguir para Exford, tendo apenas o cavalario por companhia, lhe oferecia liberdade temporria de seus vnculos com o dever e a responsabilidade. No que se ressentisse de tais vnculos, pois haviam sido forjados por amor. No entanto, ao deixar a casa naquela manh, no tivera como ignorar a vontade de ser livre para fazer o que bem quisesse, mesmo que apenas por um curto perodo.

    Notando o gesto, Lawrence sorriu. Pelo menos aceite que possui grande determinao. Obrigada, mas em nada contribui para solucionar o meu problema. No h como

    ignorar o fato de que estou em terrveis apuros, uma vez aqui, a ss, com o senhor. Muitas mulheres a invejariam. E eu de bom grado trocaria de lugar com elas! Sua sinceridade o fez rir. Entendo o que quer dizer, madame A propsito, qual o seu nome? Ela sacudiu a cabea. Acho melhor no lhe contar. No apropriado que nos conheamos. Para o inferno com tudo isso! No posso ficar chamando-a de madame para

    sempre! Alm do mais, tudo o que tenho a fazer perguntar ao seu cavalario. Rose imaginou uma corrida no muito digna at a cozinha, onde ordenaria que

    Evans no lhe revelasse o nome. Seria por demais tolice. Eu Sou Rose Westerhill. Muito bem, sra. Westerhill, permita-me assegurar que no lhe cobio a virtude.

    Vim at aqui para fugir do mundo. Por qu? Isso, madame, no lhe diz respeito. Lawrence parecia irritado, o que era muito conveniente para Rose. Decerto haveria

    menos chance de ele se tornar amoroso se desgostasse dela. Com grande cordialidade, retrucou:

    No, graas a Deus no diz. Bem, no h esperana de chegar a lugar algum antes de amanhecer. De esguelha, ela lhe lanou um olhar desafiador. H um quarto de hspedes, ou serei forada a passar a noite toda sentada aqui?

    Quartos no faltam, mas nenhum deles est preparado. Se s isso, tenho certeza de que serei capaz de colocar lenis na minha cama. Sim, mas o problema onde encontrar lenis. Em sorriso esboou-se nos lbios dela.

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    Se puder me mostrar o quarto da governanta, tentarei localiz-los. Muito bem. Ele esvaziou a taa e se levantou. Que tal irmos procurar

    agora? Ela levou a mo barriga, que roncava. Eu preferiria primeiro encontrar algo para comer. Lawrence assentiu. Para a cozinha, ento. Rose seguiu o anfitrio atravs das passagens frias e escuras que levavam

    cozinha, onde encontraram Evans sentado em uma cadeira ao lado da grade da lareira. Quando eles entraram, o homem tirou o chapu e ficou de p.

    Vejo que acendeu o fogo aqui. Bom homem. Lawrence assentiu. Encontrou tudo de que precisa nos estbulos?

    Sim, meu senhor. Darei outra verificada nos cavalos antes de dormir, mas encontram-se bem acomodados onde esto.

    Precisar de um lugar para dormir falou Rose lanando um olhar indagador para sir Lawrence.

    H bastante espao acima dos estbulos, mas o ajudante de cozinha tem uma cama em um pequeno quarto adjacente cozinha, logo atrs da lareira. Talvez fique mais confortvel ali. Lawrence interrompeu-se quando outra rajada gelada de vento se chocou com a janela. Sem dvida ficar mais aquecido.

    , eu vi a cama. Evans assentiu. Se no se importar, irei me acomodar por l.

    Apenas no deixe de tirar suas botas antes de se ajeitar debaixo das cobertas advertiu Rose, o que resultou em uma expresso contrariada.

    J passei tempo suficiente na casa de um cavalheiro para sabe disso retrucou o cavalario.

    Lawrence cruzou o aposento e ergueu a tampa de uma panela preta equilibrada na lareira. Um aroma apetitoso apossou-se da cozinha.

    Achei que fosse o seu jantar, meu senhor, de modo que a coloquei para aquecer comentou Evans.

    Sim. Minha governanta, a sra. Brendon, disse ter deixado algo para mim. Hum. No muito para ns trs. Ele seguiu para a despensa e comeou a investigar os potes e as tinas ali guardados. H um pouco de po, um pouco de presunto, um tanto de arroz e farinha, e uma cesta de vegetais. Ah, e limes.

    Rose encontrou um avental, que amarrou ao redor da cintura. Apanhando uma colher de pau, mexeu um pouco a sopa.

    Tem um galinheiro? Ora, tem sim respondeu Lawrence, saindo da despensa. Se no me

    engano, fica na outra extremidade do ptio. Sendo assim, deve haver um ou dois ovos, mesmo nesta poca do ano. Talvez

    possa ir busc-los. Eu? Rose lanou-lhe um sorriso inocente. Eu pediria para Evans, claro, mas preciso que ele busque mais lenha para o

    fogo da cozinha. Ela estendeu uma pequena cesta. Talvez possa precisar disto. Sem dizer uma s palavra, sir Lawrence pegou a cesta e deixou a cozinha

    arrastando os ps. Eu poderia ter feito isso e pego a lenha, sra. Rose comentou Evans depois que

    a porta voltou a se fechar. Tenho certeza de que sim murmurou Rose mexendo o caldo. Mas far bem

    a sir Lawrence esfriar um pouco h a cabea, l fora.

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    LAWRENCE BAIXOU um pouco o chapu sobre o rosto e ajeitou o queixo no

    cachecol, ao curvar-se de encontro ao vento que uivava no ptio, lanando geladas agulhas de neve de encontro s suas faces. Maldio, estivera ansioso para passar uma noite tranquila, bebendo abundantes quantidades de vinho e talvez tomando um pouco de sopa com po antes de ir para a cama. Agora, tudo mudara, e via-se na obrigao de encontrar comida suficiente para as visitas.

    Quem dera houvesse sido um homem na porta; nesse caso, talvez pudessem beber juntos, jogar um carteado e se arranjar com o presunto e queijo da despensa. Ou at mesmo uma meretriz. Agora, isso sim teria sido divertido!

    Mas no. Via-se com uma respeitvel viva sob sua responsabilidade, uma dama que parecia determinada a se apossar de sua cozinha. Pior ainda: uma mulher que esperava que ele fosse trabalhar pelo seu jantar!

    Lawrence gargalhou. Com certeza, no fora assim que imaginara passar o seu Natal!

    MEIA HORA mais tarde, sir Lawrence estava de volta cozinha, tirando o

    sobretudo. Rose contou os ovos na cesta. Meia dzia. Muita habilidade a sua conseguir tantos, ainda mais no escuro! Sim, senhora. Obrigado. Ela o fitou com um brilho divertido no olhar. Ah, bom Deus, por acaso pareo estar falando com uma criana? Perdoe-me. O

    senhor me lembra muito o meu menininho. Lawrence quase estremeceu. Um comentrio feito com o propsito especfico de

    habilmente coloc-lo no seu devido lugar! Olhou ao redor, passando os olhos pela cozinha.

    Onde est Evans? Eu mandei que ele levasse mais lenha at a sala de visitas. Achei melhor

    comermos l. Dei uma espiada na sua sala de jantar, mas ela est to fria que vai levar uma eternidade para aquecer.

    Est disposta a correr o risco de jantar a ss comigo? No d para ser evitado. O pobre Evans no comeria nada se ficssemos com

    ele aqui na cozinha. Terei de confiar no senhor para que se comporte. Mais uma vez aquele tom ameaador. Acho que posso me lembrar de agir como um cavalheiro. Espero que sim. Ser muito mais agradvel para todos ns se o fizer. Rose o

    presenteou com um sorriso. Talvez possa fazer a gentileza de colocar a mesa. S vou levar alguns instantes para preparar os ovos.

    Presumo que saiba cozinhar desafiou ele. Mas claro. Minha me achou muito importante que eu aprendesse um pouco da

    arte. Vou fazer uma panqueca com os ovos e acrescentar um pouco de presunto. Servir de entrada para a sopa.

    Excelente. Lawrence se deu conta de como estava com fome. Vou buscar uma garrafa de um bom vinho para acompanhar o nosso banquete.

    SIR LAWRENCE no falou nada desgracioso durante o jantar, mas Rose no foi

    capaz de tirar da cabea a sua terrvel reputao. Desde a morte do marido, ela no

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    jantara a ss com nenhum homem, e sentar-se pequena mesa de jantar com sir Lawrence parecia ntimo de um modo quase indecente.

    Rose estava perturbadoramente ciente de sua companhia. Com o seu corpo alto e atltico, e as feies bonitas de uma maneira quase perigosa, ela podia entender o sucesso que ele fazia com as mulheres. Mesmo a roupa informal e a barba por fazer em nada prejudicavam o seu charme. Na verdade at contribuam para acrescentar um ar de perigo.

    Ela tomou um gole do vinho, determinada a no beber mais que uma taa. Sir Lawrence podia ser um exemplo de decoro agora, mas ainda havia muitas longas horas at a manh chegar.

    medida que a noite foi passando, e o comportamento dele para com ela permaneceu impecvel, Rose comeou a relaxar, e a conversa entre os dois passou a fluir com mais naturalidade. Ele lhe perguntou sobre a sua vida, e ela se flagrou contando para Lawrence sobre a casa em Mersecombe que compartilhava com a me e o filho.

    Se o seu marido est enterrado l, por que no permaneceu em Exford? Ela nada comentou, enquanto ele lhe completava de novo o copo. Ser que deveria

    lhe contar a verdade? Que quisera escapar dos olhares e dos sussurros carregados de piedade? Que achara as lembranas por demais dolorosas?

    Fui forada a vender para pagar as dvidas. Tambm era verdade. De sbito, era um alvio poder conversar com algum. Harry era um sonhador. Quando nos mudamos para Exford, ele achou que a fazenda providenciaria o nosso sustento, mas recusou-se a dar ouvidos a conselhos. Rose suspirou. Despediu o administrador, que era um homem da regio, e contratou outro que nada sabia a respeito da terra. Quando Harry morreu, restaram apenas dvidas e a escritura de Hades Cove, uma mina intil. Vendi a casa e a fazenda, contudo, quando acabei de pagar os credores, j no sobrava muito. Levei Samuel de volta para Merescombe, onde minha me possui uma boa casinha. Ns estamos nos saindo muito bem, e complemento a nossa renda administrando a escola da igreja.

    Ah Os olhos dele brilharam ao sorrir para ela. professora de escola. Isso explica o seu jeito controlador.

    O sorriso dele a privou das palavras de ofensa, e ela se flagrou sorrindo de volta para Lawrence, fascinada com o modo como a luz das velas reluzia nos seus olhos azuis. Era mesmo muito atraente.

    Um ligeiro vestgio de desejo despertou no seu ntimo, e Rose desviou o olhar, sabendo que precisava manter as defesas erguidas.

    Deveria ser grato pelo meu jeito controlador retrucou ela. Deus sabe o que teria acontecido se eu no houvesse assumido o comando na cozinha hoje noite.

    Eu no teria sido enviado para catar ovos como um ajudante de cozinha qualquer!

    Ah, minha nossa, isso realmente o incomodou? Rose voltou-se para ele, rindo. Mas o senhor se saiu to bem.

    No queira me conquistar com as suas lisonjas, madame. O sorriso nos olhos dele a tranquilizou. Ora, se no tivesse sido tolo a ponto de enviar todos os seus empregados para

    casa Ele riu, uma risada espontnea e autntica, e Rose no pde deixar de pensar em

    como parecia mais jovem. Mais despreocupado. De novo ela sentiu um ligeiro arrepio de desejo, e tratou de reprimi-lo. Aquele

    homem era um libertino. Ela teria de manter a distncia.

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    A REFEIO encerrada, Evans veio buscar os pratos para lev-los at a cozinha. Rose fez meno de segui-lo, mas ele sacudiu a cabea.

    Madame preparou a refeio. Nada mais justo que descanse um pouco agora. Ela se recostou na cadeira, fitando sir Lawrence, na outra extremidade da mesa, que

    disse: Estou em dvida com sua pessoa, sra. Westerhill. No me recordo da ltima vez

    em que jantei to bem. Como o resto da casa est to frio, no posso sugerir que se recolha. Sendo assim, eu a convido para me acompanhar em um copo de conhaque.

    Era tentador. O brilho da luz das velas, o vinho, o fogo estalando Mas Rose no ousava baixar a guarda.

    muita gentileza, cavalheiro; no entanto, h mais trabalho a ser feito. Temos de arrumar um quarto para mim. Falava como se fosse a coisa mais natural do mundo para ela dormir na casa dele. Nenhum rubor ou tremor das plpebras lhe traa o nervosismo. Talvez possamos ir procura do armrio de roupas.

    Rose se retesou, meio que esperando um olhar sugestivo, ou algum comentrio malicioso. Entretanto, sir Lawrence apenas assentiu e empurrou a cadeira para longe da mesa.

    Venha, ento. No estou familiarizado com a parte da casa da sra. Brendon, mas tenho certeza que encontraremos algo.

    A residncia era fria, escura e repleta de ecos. Rose manteve-se perto de sir Lawrence, que carregava o lampio. Perto demais. Quando Lawrence se deteve de sbito, ela esbarrou nele. Num gesto instintivo, ele estendeu a mo para ampar-la, mas o toque quente atravs da manga fina do vestido apenas a fez tremer mais.

    Sinto muito. Sua voz saiu baixa e rouca. Eu tropecei. O cho irregular. Ah. A mo dele deslizou pelo brao dela at lhe tomar os dedos. Nesse

    caso, permita-me ajud-la. Ela no retraiu a mo. Parecia sensato aceitar o apoio dele. E sentia-se muito mais

    segura tendo aquela mo grande e reconfortante segurando a sua. Caminharam sob a luz fraca do lampio at chegarem a um corredor ladeado por

    uma srie de armrios embutidos. Lawrence comeou a abrir as portas. Uma estava abarrotada com travessas de cobre e um antigo jogo de jantar; outro continha vrios uniformes de serviais cuidadosamente dobrados. Um inebriante aroma de ervas de vero veio na direo deles ao abrirem o terceiro armrio.

    aqui murmurou Rose. Sir Lawrence postou-se de lado, erguendo o lampio para mostrar pilhas ordenadas

    de lenis brancos. Muito bem, madame. Pegue o que precisar. Rose adiantou-se. Logo tinha uma pilha de lenis, fronhas e colchas nos braos. Permita-me carregar isso para a senhora. Rose sacudiu a cabea. No, no est pesado. Se puder apenas me mostrar o caminho at o quarto Ele posicionou a mo sob o cotovelo dela, e a guiou de volta pelos corredores. Acho que ficar mais vontade no quarto azul. um dos aposentos menores,

    mas isso torna mais fcil aquec-lo. Lawrence abriu uma porta. Chegamos. Rose no saiu da soleira enquanto ele circulava pelo aposento acendendo as velas

    nos candeeiros nas paredes. Uma enorme cama de dossel ocupava a maior parte do cmodo, o colcho coberto por um lenol branco.

    Receio que no haja dossel. Lawrence tirou a capa do colcho. Mas no faltam cobertores e uma colcha elegante, sem dvida bordada por alguma antiga dama da casa. E o colcho muito confortvel.

    Rose se flagrou tentando imaginar como ele poderia saber disso, e que tipo de hspedes recebera ali antes.

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    Melhor no pensar nisso. Ela baixou a pilha de roupas de cama. Obrigada agradeceu com secura. Agora, se me der licena, vou tratar de

    arrumar tudo. Consegue se arranjar sozinha? Muito bem, muito obrigada. No sou do tipo de dama que nem sequer sabe fazer

    a prpria cama. Muito bem. Nesse caso, vou acender o fogo. No h necessidade. Evans pode Evans j tem o bastante a fazer verificando os cavalos antes de dormir. E no sou

    o tipo de cavalheiro que nem sequer sabe acender um fogo. No. Claro que no. Ela sorriu para ele. Muito bem. Sendo assim, obrigada. Em surpreendentemente pouco tempo, a cama estava feita, e o fogo ardia com

    firmeza na lareira. Sir Lawrence ficou a admirar o prprio trabalho por alguns instantes. Ainda cedo disse ele. Ser que no quer se juntar a mim na sala de

    visitas, e dar ao fogo a chance de esquentar o quarto? Quando ela hesitou, Lawrence sacudiu a cabea. No tenho nada mais sinistro que uma simples conversa em mente, madame. Achei que tinha enviado os seus criados para casa porque queria ficar sozinho. Verdade, mas a sua presena na casa me impede de levar a cabo o meu plano

    original, que era afogar as mgoas com uma boa garrafa. Ele falou em tom jocoso, contudo, Rose pde detectar a amargura na sua voz. E

    notou um lampejo de sofrimento nos seus olhos. Talvez queira que eu lhe prepare um pouco de caf. No, reservaremos isso para a manh. Ele voltou a sorrir. Eu prepararei um

    pouco de ponche quente para ns!

    Captulo Dois

    O AROMA forte de limo e cravo deu as boas-vindas para Rose, quando ela

    retornou para a sala de visitas, pouco depois. Uma pequena panela de ferro se achava suspensa sobre o fogo, e sir Lawrence curvado sobre ela, mexia o seu contedo.

    Ele no ergueu o olhar de imediato, e Rose aproveitou a oportunidade para observ-lo, notando o modo como o casaco escuro se esticava sobre os ombros largos, admirando as pernas compridas e poderosas na justa cala de algodo e nas botas de cano alto. A luz do fogo reluzia no cabelo negro e acentuava os traos fortes do rosto bonito.

    Muitas mulheres a invejariam. As palavras anteriores de sir Lawrence lhe voltaram memria.

    Ele ergueu a cabea e sorriu quando ela se aproximou. Pensei que tivesse cado no sono. Fui falar com Evans. Ele est confortvel? Rose achou graa. Muito. Ainda mais depois que lhe deu permisso para se servir da cidra! Espero que ele no se arrependa amanh de manh. Confio em Evans para no beber demais. Ele sabe que teremos de nos pr a

    caminho assim que possvel, quando o dia raiar. Rose sentou-se em uma das duas

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    poltronas que ele puxara para perto da lareira. Est sacudindo a cabea, cavalheiro. Por acaso acha que estou sendo demasiado otimista?

    Se continuar nevando, as estradas podero ficar bloqueadas. Ela deu de ombros. Nesse caso, cruzaremos os campos. J fiz isso antes. Lawrence encheu uma taa de ponche quente e a passou para ela. uma mulher muito desenvolta, sra. Westerhill. Sou uma viva, meu senhor. Preciso ser desenvolta. Rose acomodou-se na poltrona, saboreando o ponche quente e doce. Que fim

    levara a sua determinao de no tomar mais do que uma taa de vinho? Colocou de lado o pensamento.

    O vento diminura, e os nicos sons na sala eram o crepitar do fogo e o tique-taque constante do relgio. Lawrence ocupava a poltrona diante dela, os ps calados nas botas descansando no piso da lareira. O olhar se achava fixo nas chamas saltitantes, mas Rose pressentia que seus pensamentos estavam distantes. Os cantos da boca inclinados para baixo a lembraram de suas palavras anteriores.

    O que quis dizer quando falou que queria afogar as suas mgoas, meu senhor? Por um instante, achou que ele no fosse responder, ou que fosse mudar de

    assunto com uma palavra indiferente. Encontrava-se prestes a lhe oferecer um pedido de desculpas pela impertinncia quando Lawrence falou:

    H cerca de 14 meses, minha noiva morreu de febre. Noiva! Rose corou quando o olhar intenso dele se voltou para ela. Sua

    exclamao de incredulidade fora ofensiva. Afinal de contas, nada sabia a respeito de sir Lawrence, a no ser mexericos. M-minhas desculpas gaguejou. Pensei que Eu no sabia

    E por que haveria de saber? Nunca foi anunciado. Foi um noivado de longa data. At mesmo a morte dela recebeu apenas uma linha nas colunas sociais, facilmente ignorada. Nosso noivado no foi segredo, mas tambm no foi digno de nota. Lawrence ergueu o copo e fitou o lquido escuro. Sempre achei fascinante que minhas indiscries fossem registradas nas colunas sociais de todos os jornais; contudo, a minha doce Annabelle, cuja breve vida foi to cheia de gentileza e atos de caridade, no foi considerada digna de sequer um pargrafo.

    Disse que foi um combinado em particular. Os pais dela eram contra o noivado? Ah, no. E por que haveriam de ser, quando significaria a combinao de nossas

    duas propriedades? Fora tudo acordado entre as famlias quando no passvamos de crianas. Veja bem, somos vizinhos, e sempre se sups que um casamento entre os Craven e os Daunton seria de grande vantagem. Seus lbios se curvaram. Mas eu no me permitiria ser reprimido. Iria para Londres e me entregaria aos prazeres da juventude, depois retornaria para Hampshire, para o lar da famlia, onde me casaria com a minha namoradinha de infncia. Porm, antes que eu pudesse fazer isso, ela ficou doente e morreu.

    Sinto muito. Eu tambm. No ltimo Natal, voltei para Daunton House. Afinal, tornara-se uma

    tradio para ambas as famlias estarem em Hampshire durante as festas de inverno. Meus pais morreram alguns anos atrs, mas ainda h tios, tias, primos e primas, assim como toda a famlia Craven. Todos vieram para as propriedades dos Daunton e dos Craven para passar o Natal juntos. Entretanto, sem Annabelle

    Lawrence interrompeu-se para dedicar a sua ateno ao reenchimento da prpria taa.

    Foram as condolncias falou ele bruscamente. Todo mundo foi to maldi demasiadamente compreensivo. O que eu fizera para merecer tanta compaixo? Em vez de se mostrarem solidrios com a minha perda, deveriam ter me censurado por ter

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    negligenciado a pobre Annabelle, condenando-a a uma vida pacata com seus atos de caridade e o seu bom trabalho, enquanto eu chamuscava uma trilha atravs da sociedade, deixando a minha marca como um como um cometa determinado a provocar a minha prpria destruio. Por isso este ano me vi determinado a no voltar l. Preferi vir para c e

    Afogar-se em autopiedade? Ele ergueu bruscamente a cabea. E por que no? Nenhum motivo em especial. Rose estendeu a taa, s voltando a falar

    quando Lawrence a contemplou. Como era ela? Annabelle? Um anjo. Paciente, compreensiva Parece uma santa. Ficar sentada em casa ano aps ano, enquanto o senhor se

    divertia em festas e folias! Bom Deus, se ns pudemos ler sobre as suas proezas aqui, to longe de Londres, decerto ela tambm fez o mesmo.

    claro. E ela jamais o censurou pelo seu comportamento turbulento? Nunca. Suas sobrancelhas negras se juntaram. E o que significa esse

    olhar? Peo que me perdoe. No da minha conta. Lawrence empertigou-se na poltrona. Tem toda a razo. Ele fixou o olhar nela. Todavia, tendo em vista que j

    chegamos to longe, por que parar agora? Explique-se. Rose hesitou. No entendo por que a famlia dela, ou a sua, no expressou desaprovao ante

    os seus excessos. Admito que uma leitura interessante. Minha me vida leitora dos peridicos, assim como a minha tia e a maioria de suas amigas. Contudo, acho que todas reagiriam de maneira diferente se fosse algum com quem tivssemos algum vnculo. A famlia da dama devia saber do mal que vinha fazendo a si mesmo.

    claro que sabia. O irmo de Annabelle, George, passa o seu tempo na cidade, e sabia exatamente o que eu vinha fazendo. Mas, contanto que eu no prejudicasse a minha fortuna, todos estavam dispostos a fingir que nada enxergavam.

    Mais uma vez, Rose escutou a amargura por trs de suas palavras. Sentiu uma pontada de piedade, mas seu instinto a alertou de que era melhor nada demonstrar. Em vez disso, disse:

    Bem, acho que foi muito bom no ter se casado com ela. O silncio que se seguiu s palavras de Rose foi frgil como vidro. Ela tomou um

    gole de ponche, tentando aparentar despreocupao, enquanto os penetrantes olhos azuis a fitavam.

    Ser que pode explicar? O tom de voz dele estava perigosamente baixo. Rose teve a impresso de estar

    sentada diante de um tigre pronto para saltar, e precisou reunir sua determinao para prosseguir:

    No vejo como poderiam ter sido felizes. A no ser, claro, que planejassem morar separados.

    Isso de modo algum o que eu pretendia. Quer dizer que planejou se assentar com uma mulher a respeito da qual nada

    sabia Como disse? Eu lhe contei que ramos vizinhos. As famlias se conheciam havia

    anos. Srio? Cresceram juntos, como irmos? lgico que no. Fui mandado para o internato antes mesmo que Annabelle

    deixasse o berrio.

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    Talvez ento tenham brincado juntos, durante as frias. Bem, no. George e eu ramos amigos, mas Annabelle jamais gozou de boa

    sade E, uma vez tendo estabelecido o seu acordo, ela ficou feliz de deixar que o

    senhor fosse se entregar aos prazeres da juventude. Bom Deus, madame, no sou pior que o irmo dela ou que a maioria dos homens

    na cidade! Perdoe-me, cavalheiro, mas se apenas metade do que eu j li for verdade, o

    senhor muito pior que a maioria! Ele gargalhou selvagemente. S porque no escondo meus pecadinhos. Na realidade, no so to graves

    assim Meu pior crime gostar da companhia de lindas mulheres, que tambm parecem gostar da minha. Mas me recuso a pagar para manter o meu nome fora dos jornais. No sou to hipcrita.

    Isso, claro, um mrito, cavalheiro. Rose retribuiu o olhar furioso com um de transparente inocncia, mas notou as

    juntas daqueles dedos compridos esbranquecendo ao redor da taa. Achou que a vontade dele era estrangul-la.

    Lawrence inspirou fundo, como se para conter a raiva. Jamais menti para Annabelle. Ela sabia o que eu era. Tudo indica que o senhor no fez esforo algum para escond-lo. Ela tambm sabia que eu mudaria depois que estivssemos casados. Pois sim! Diabos, madame! Ousa duvidar de mim? Bem, com certeza no houve escassez de notcias a seu respeito ao longo do

    ltimo ano, cavalheiro. Sem Annabelle, no vi motivo para mudar meu modo de vida. Como Rose nada disse, ele colocou de lado a taa. Acha que um homem no pode mudar? Ela fixou o olhar nele. Uma cobra pode trocar de pele, sir Lawrence, mas ainda uma cobra! Se tivesse

    se casado com a pobre mulher, duas coisas poderiam ter acontecido: o senhor morreria de tdio em menos de um ms, ou teria dado prosseguimento sua carreira agitada, e partido o corao dela. Talvez at mesmo as duas coisas.

    Com um improprio sussurrado, ele se levantou de um salto. Como ousa me dizer tais coisas! Ora, j estava na hora de algum dizer. Tenho a impresso de que a pobre moa

    vinha sendo levada a um casamento sem nenhuma considerao pela sua felicidade, ou pela do senhor. Sinceramente acredita que ela estava feliz vivendo a sua existncia solitria, aguardando que o senhor decidisse quando fosse chegada a hora de se assentar?

    Sim! Sim, ela estava. Na realidade Rose aguardou, observando-o marchar de um lado para o outro no interior do

    aposento. Aps algum tempo, ele se deteve e passou a mo sobre os olhos. Admito que me surpreendi por ela ter se resignado com tanta facilidade com o

    seu destino. Muitas vezes me questionei se ela, de fato, queria se casar comigo. Talvez no quisesse. Com secura, Rose acrescentou: Por mais

    encantadores que sejam, libertinos no do bons maridos. Lawrence voltou at a sua poltrona e largou-se de novo nela, lanando-lhe um

    rpido olhar de esguelha. A madame realmente tem uma pssima opinio a meu respeito, no ? Rose desviou o olhar.

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    Acho que o senhor no tem uma boa opinio a seu respeito, cavalheiro. Ela terminou o ponche. Est ficando tarde. melhor eu me recolher.

    Na mesma hora, ele ficou de p. Eu a acompanho. Ah, no, no necessrio Lawrence j estava na porta, o lampio na mo. Ele inclinou a cabea, escutando as

    badaladas do relgio informando a hora. Eu me lembro de como a senhora estava apreensiva antes. No ficar muito

    mais, agora que j meia-noite? A gentileza a pegou de surpresa. Rose o enfurecera, criticara o seu jeito de viver, e,

    no entanto, ele ainda pensava no conforto dela. Rose no discutiu, simplesmente pegou a vela oferecida para o quarto de dormir e

    permitiu que Lawrence lhe mostrasse o caminho. A conversa dos dois no lhe saa da cabea. Talvez houvesse sido franca demais, porm, ele era um libertino, e ela desprezava esse tipo de gente.

    Mas como sir Lawrence escolhia levar a vida no era da sua conta. Era uma hspede na casa dele, e no queria que ele achasse que havia sido descorts. Um olhar de relance na direo do rosto msculo nada revelou.

    Aqui est o seu quarto. Ele se deteve. Boa noite, sra. Westerhill. Vamos torcer para que tenha parado de nevar de manh, para que possa continuar a sua viagem.

    Sir Lawrence! O que eu disse antes Se eu o ofendi, lamento muito. O olhar que ele lhe lanou foi impassvel, mas as sombras bruxuleantes faziam a

    sua expresso parecer sria e intransigente. Rose tratou de prosseguir: Fui ensinada a jamais permitir que o sol se pusesse sobre um desentendimento. Considerei o que me disse mais como verdades que tinham de ser ditas. Ela esboou um sorriso. J est arrependido da sua generosidade de ter me oferecido abrigo? A expresso dura abandonou os seus olhos. Com um qu de humor, ele disse: No me recordo de ter tido escolha. Tomando-lhe a mo, ele a levou aos

    lbios. Boa noite, Rose Westerhill. Contente-se com o fato de que me deu muito no que pensar.

    Rose adentrou o aposento e encostou as costas na porta fechada. Tremia, no de medo, ou por causa do efeito de palavras duras. Era choque ante a onda de desejo que lhe percorreu o corpo causado por aquele beijo final na sua mo.

    LAWRENCE ABRIU os olhos, e ficou deitado, imvel, fitando o movimento da luz no

    teto. Tinha algo errado. Estava no chal de caa, era dia de Natal, mas seus pensamentos se encontravam estranhamente lcidos.

    Foi ento que lembrou. Deslizou para fora da cama e pegou o roupo. Tinha uma hspede. Uma respeitvel

    professora de escola que ousava lhe passar um sermo Um sermo nele, sobre como deveria lamentar a perda de Annabelle. Bem, quanto antes Rose Westerhill seguisse o seu caminho e estivesse fora da sua vida, melhor.

    Bastou uma olhada para fora da janela para Lawrence ter certeza de que ela no iria a lugar algum hoje. Nevara pesadamente a noite toda, recobrindo o cho com um espesso tapete branco que formava enormes montes de encontro s paredes. Ele escutou uma batida na porta.

    Entre! Evans entrou.

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    Cortesia de madame, meu senhor. Ela lhe enviou gua quente. Disse que haveria de querer se lavar e fazer a barba antes de descer para o caf da manh.

    mesmo? Sim, meu senhor. O olhar do cavalario se fixou em algum lugar alm do

    ombro de Lawrence. Ela tambm pediu para que no usasse suas melhores roupas, apesar de ser Natal. E disse que h muito trabalho a ser feito.

    O RELGIO indicava dez da manh quando sir Lawrence adentrou a cozinha. Rose

    escutou-lhe os passos impacientes e virou-se na direo da porta. Seu corao, que recentemente se tornara muito pouco digno de confiana, veio garganta e, depois, comeou a lhe martelar as costelas.

    Eu sabia. Sabia que ele seria insuportavelmente lindo! Quando o vira na noite passada, com o cabelo em desalinho, as roupas em

    desordem e a barba por fazer, Rose o achara um patife; contudo, um patife de olhos gentis e sorriso radiante. Estava agora postado diante dela, de barba feita, o cabelo escovado at reluzir como as asas de um corvo, e Rose tinha certeza de que a brancura do leno de pescoo engomado estaria perfeitamente vontade em qualquer salo de bailes de Londres.

    O palet marrom parecia modelado ao corpo dele, assim como a cala justa de algodo se agarrava s suas coxas. Rose ouvira falar que alguns homens preferiam calas de algodo para que ficassem mais justas. A dele com certeza deixava muito pouco a encargo da imaginao. A boca de Rose se achava to seca que ela no conseguia falar.

    Bem Havia bom humor no tom de voz dele. Passo pelo seu crivo de aprovao?

    Ela enrubesceu. Pedi para Evans lhe dizer para no se arrumar todo hoje. Lawrence olhou para baixo. Isto o que costumo usar no campo. Nada de especial. O caf est com um

    cheiro timo. Posso experimentar um pouco? O qu? Ah Ah, sim. claro. Com supremo esforo, Rose se recomps. Encontrei alguns sonhos que a sua governanta havia lhe deixado. E h mel e

    manteiga Excelente. J comeu? Ela sacudiu a cabea. Nesse caso, tomaremos juntos o desjejum. Eles se sentaram a uma das extremidades da enorme mesa e tostaram os sonhos

    no fogo. Rose se flagrou relaxando, aproveitando a companhia. No havia como manter a pose quando se estava lambendo manteiga dos prprios dedos. Sir Lawrence a observava por sobre a borda da xcara de caf. Ela sorriu.

    Minha nossa, que lambana eu fiz! No h maneira refinada de se comer isto. Pegando o guardanapo, ela limpou os lbios.

    Lawrence baixou a xcara. Est com manteiga no rosto. Aqui Permita-me. Ele tomou o guardanapo das

    mos dela e inclinou-se mais para perto. Rose prendeu a respirao. A mo dele estava na sua face, mas o rosto, a apenas

    centmetros do dela, to prximo que Rose podia enxergar os ligeiros vincos ao redor dos olhos, acompanhar o sentido de cada mecha escura, estudar em detalhe aqueles incrveis olhos azuis.

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    Ao inspirar, no pde deixar de notar o aroma de limpeza que emanava dele. Ouvira falar que o prncipe regente usava gua com perfume de rosas. Fosse qual fosse a fragrncia usada por Lawrence, no era de rosas, mas uma mistura muito mais sutil de ervas. Talvez fosse de alfazema.

    A mo dele ficou imvel na sua face, e ele olhou para baixo, expondo-a total intensidade do seu olhar. Rose sabia que precisava dizer algo, e rpido.

    Que fragrncia essa que est usando, cavalheiro? Os olhos azuis jamais se desviaram de seu rosto. Vem da Frana. gua-de-colnia. Os cantos da boca se repuxaram.

    Lamento dizer que o patrocnio de Bonaparte tornou o produto um tanto quanto impopular na Inglaterra. No aprova?

    E como aprovo, ela pensou, seus sentidos embotados por inalar a fragrncia inebriante.

    Rose pigarreou. No cabe a mim aprovar ou desaprovar, meu senhor. Ele ainda estava bem perto dela; perto demais. A maioria das damas parece gostar. As palavras eram provocantes. Ela deveria repreend-lo, contudo, no conseguiu.

    Ele ainda a fitava, e ela no conseguiu desviar o olhar. Por outro lado, no queria desvi-lo. Todas as suas determinaes virtuosas a desertaram. Afogava-se em um par de olhos azuis.

    Bom Deus, mas como est frio! Uma rajada de vento gelado os envolveu quando Evans entrou, tirando a neve das

    botas antes de fechar a porta. A entrada do cavalario libertara Rose de sua inrcia. Minha nossa, como chegara perto da runa! Levantou-se logo e comeou a juntar os pratos, empilhando um no outro com fria.

    Muito ruim? perguntou sir Lawrence, sem se deixar perturbar. Sim, meu senhor. Com certeza, ningum est viajando hoje. A sra. Rose me

    pediu para ir o mais longe que eu pudesse, at onde achasse que ficava a estrada principal, mas os montes de neve esto muito fundos. Assim que os cavalos de carga tiverem aberto caminho, poderemos seguir a sua trilha, mas no espero v-los hoje. Afinal, Natal.

    mesmo! Sir Lawrence virou-se para Rose. Permita-me ser o primeiro a lhe desejar um feliz Natal, madame.

    Quer dizer que ficaremos presos aqui por mais um dia? inquiriu ela. Sir Lawrence sorriu. No mnimo. Rose se deu conta de que a notcia em nada incomodara o seu anfitrio. Quando espera que os seus criados retornem? Ele deu de ombros. Eu lhes disse para voltar amanh. Contudo, se tornar a nevar, isso poder mudar

    os planos. Se ns no conseguimos sair, eles no conseguiro chegar. Tal perspectiva no parece aborrec-lo muito. E por que deveria? A sra. Brendon deixou a despensa bem estocada de presunto

    e queijo, e deve haver biscoitos, tambm. Pode ser o suficiente para o senhor sozinho. Contudo Frios no dia de Natal?

    Ela ficou de p, alisando o avental. Ele a acusara de ser controladora. Mostraria que tinha razo! Muito bem, ento, ao trabalho. Evans, j verificou os estbulos? No, madame. H um enorme monte de neve bloqueando a porta. Sendo assim, acho que voc deveria usar uma p para retir-lo, para que possa

    cuidar dos cavalos.

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    Sir Lawrence ficou de p. Eu lhe darei uma mozinha No, cavalheiro, tenho outra tarefa para o senhor. Rose sorriu para ele com

    doura. Receio, sir Lawrence, que a ocasio exija um sacrifcio. Sir Lawrence fechou o semblante. Este est provando ser um Natal muito incomum. Rose achou graa. Sei disso, sir Lawrence, mas eu diria que a fora da necessidade. ESTAVAM EM um dos galinheiros, cercados de penas. S toro para que no sejam as melhores poedeiras murmurou sir Lawrence.

    A sra. Brendon ter muito a dizer quando retornar. No entanto, meu caro cavalheiro, precisamos de algo para comer hoje. Ele lanou um olhar fulminante na direo de Rose. Minhas exigncias eram mnimas. Uma fatia de presunto, uma garrafa de vinho Mas est to frio que tenho certeza de que a sua governanta ficaria satisfeita de

    saber que o senhor comer uma refeio decente retrucou Rose, esforando-se para no sorrir. Eu j quase terminei de deplumar a minha ave, sir Lawrence. No parece estar fazendo muito progresso com a sua. Mas eu o perdoo, considerando que foi o senhor quem teve de despachar as pobrezinhas.

    Rose olhou para ele e riu. Que vergonha, sir Lawrence! Se no me engano, neste exato instante o meu

    pescoo que o senhor desejaria ter torcido! A boca dele se curvou em um sorriso relutante. Admito que me senti bastante tentado, madame, quando me falou o que queria

    que eu fizesse. Mas prometo que gostar muito da sua refeio, cavalheiro. Rose colocou de

    lado a prpria ave e pegou a dele. Deixe-me terminar isto para o senhor, sir Lawrence. Ele a fitou com as sobrancelhas erguidas. Por que ser que tenho a sensao de que encontrar algo igualmente oneroso

    para eu fazer agora? No, de modo algum. Ela riu. S quero que v se certificar de que as

    lareiras estejam bem estocadas. Evans j trouxe mais turfa, mas talvez o senhor possa completar os cestos de lenha. Quando tiver feito isso, e eu houver preparado as aves para o espeto, talvez possamos dar uma volta e ver com os prprios olhos o estado das estradas.

    AS NEVASCAS da noite anterior e a neve ao longo da noite deram lugar a um

    glorioso e lmpido cu azul. O reluzente mundo branco brilhava do outro lado da porta. Seu resplendor ofuscou Rose. Ela estava louca para sair e explor-lo; contudo,

    passara anos ensinando para os alunos que o tempo de lazer era mais gostoso quando feito por merecer. Assim, levou as duas aves at a cozinha, e deixou tudo pronto para o jantar antes de sequer se permitir pensar em ir l para fora.

    QUANDO SUBIU at o quarto para pegar a sua capa, Rose se deteve por alguns

    instantes para olhar para fora da janela. O mundo fora transformado por um cobertor branco.

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    Ela pensou na famlia em Mersecombre, que devia ter entendido como era impossvel para Rose voltar para casa. Torcia para que os familiares no estivessem muito ansiosos. O pequeno Sam decerto no se preocuparia muito. Estaria empolgado demais com a primeira neve de verdade do inverno.

    Mas mame Ela sabia que Rose tinha Evans consigo, e na certa acreditaria que a filha fosse ajuizada o suficiente para procurar abrigo. Rose deu uma risadinha. Sensata! Se a me pudesse v-la agora, a acharia qualquer outra coisa que no ajuizada, ilhada em uma grande casa velha com um homem cuja reputao de devasso era conhecida ao redor de todo o pas!

    Porm, na realidade, o que mais poderia fazer? A atitude ajuizada fora permanecer em Knightscote, e era ainda mais ajuizado garantir que tivessem uma boa refeio.

    Uma risada voltou a brotar na sua garganta. Talvez pudesse ter desmaiado ou tido um ataque histrico ao descobrir quem era o seu anfitrio. Mas Rose no conseguia imaginar que benefcio poderia ter tirado de tal tipo de comportamento. No, simplesmente precisaria tirar o melhor proveito da situao.

    A famlia devia estar na igreja agora, de modo que ela fez uma ligeira prece para eles ao pegar a capa e seguir para se juntar a sir Lawrence, no andar abaixo.

    O sol ia alto no cu quando deixaram a casa. Estou surpreso de v-la disposta a deixar o seu novo reino comentou sir

    Lawrence, quando comearam a cruzar o ptio. No o meu reino, milorde. Evans tem o maior prazer em ficar sentado na

    cozinha, fumando o seu cachimbo e mantendo o fogo acesso. Minha presena no necessria.

    Eles saram da propriedade por uma portinhola que levava direto trilha. Rose caminhava atrs de sir Lawrence, posicionando os ps em suas pegadas, mas, ainda assim, era necessrio erguer a capa e as saias para evitar que arrastassem neve consigo.

    At o final da trilha eram apenas cem metros; contudo, quando l chegaram, a sua respirao j estava ofegante, e as botas e as bordas das saias, cobertas de neve.

    Sir Lawrence, Rose notou, com o seu palet informal, luvas de couro bege e um elegante chapu de pele de castor parecia to descansado quanto no instante em que saram da casa. Ele no vestira o sobretudo, e sua nica concesso ao frio era um cachecol enrolado ao redor do pescoo.

    Rose posicionou-se ao seu lado, e os dois fitaram uma paisagem incomum, com apenas os contornos das rvores e dos arbustos se destacando de encontro ao cegante lenol de neve branca.

    Evans tem razo disse sir Lawrence, protegendo os olhos do brilho do sol refletido na neve. Seria difcil para vocs abrirem caminho por toda esta neve acumulada.

    Mas quanto tempo teremos de aguardar at que os cavalos de carga consigam atravessar?

    Ele deu de ombros. No mximo alguns dias. Ah, no! Sorrindo, ele se virou para ela. No se preocupe. O sustento de muitos depende dos negcios. Assim que

    puderem, vo tratar de abrir as estradas. Bem, para mim, quanto mais cedo, melhor. Mulher ingrata! Por acaso minha casa peca tanto por falta de hospitalidade? Sem dvida que sim retrucou ela. Haja vista que sou forada a cozinhar

    minha prpria comida e arrumar a minha prpria cama!

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    E nenhuma das duas coisas era necessria. A sra. Brendon deixou muita comida fria, e a minha cama estava arrumada. Teria sido um prazer compartilhar ambos com madame.

    Rose deixou escapar uma exclamao de surpresa. Como como ousa?! gaguejou, suas faces ardendo. Ah, com facilidade. Ele sorriu. Se no sabe, sou um libertino notrio. Eu-eu diria que muitssimo ultrajante. Ela franziu as sobrancelhas,

    esforando-se para no rir. Est tentando me fazer corar. E estou sendo bem-sucedido! Saiba que eu preferiria que no o fizesse. Ser bastante desagradvel para mim

    ter de passar o restante da minha estada na cozinha com Evans. Sem dvida que seria, e eu no iria querer isso por nada no mundo. Que tal

    voltarmos? A caminhada de retorno foi mais fcil, pois j haviam aberto uma trilha a ser seguida,

    e Rose agora conseguiu caminhar ao lado de sir Lawrence. Os comentrios ultrajantes do homem no a perturbaram; na realidade, justamente o contrrio, pois havia compreenso nos olhos azuis, e um convite para ela partilhar da piada. Era bvio que ele estava de bom humor, de modo que Rose ficou um pouco surpresa com o tom srio do seu prximo comentrio.

    O que madame me falou, ontem noite disse ele olhando para o sol , acha mesmo que verdade? Que, no fundo, Annabelle jamais quis se casar comigo?

    Meu senhor No, peo que seja sincera. Sinto-me como se vivesse cercado de bajuladores,

    pessoas que sempre me dizem o que acham que eu quero escutar. Ao passo que eu lhe direi a verdade como a enxergo. . Rose inspirou fundo, admirada com a responsabilidade que ele depositava sobre os

    seus ombros. No conheci sua Annabelle. Talvez fosse mesmo uma santa, disposta a esperar.

    Mas se de fato ela o amava, eu me pergunto por que jamais o censurou. Ela jamais o fez. Nem mesmo uma palavra. Como eu disse, ela era um anjo. Independentemente do quanto lamente a sua morte, milorde no a trar de volta.

    Ela se foi, e o melhor que pode fazer por ela agora dar um significado real sua prpria vida.

    Lawrence deixou escapar uma gargalhada desprovida de humor. E para o que eu realmente sirvo? Gastar dinheiro, seduzir mulheres Ela lhe segurou o brao. Milorde um homem jovem e forte. E rico! No mnimo, deveria tentar melhorar a

    vida daqueles que emprega. E, mesmo que as suas terras estejam em boa situao e sustentando o senhor e os seus, h outros que precisam de ajuda. Por exemplo, os pobres coitados que lutaram em Waterloo. Soldados, homens orgulhosos que agora so rejeitados, desnecessrios para o governo. comum v-los, de vez em quando, mesmo neste fim de mundo, passando fome na beira das estradas. Deveriam ser reverenciados, protegidos. Se tem como ajud-los, o que deveria fazer.

    Lawrence se deteve. Ah! Quer dizer que concorda que um homem possa mudar? No, meu senhor. Ela lhe retribuiu o olhar. Mas no creio que seduzir

    mulheres seja tudo o que possa fazer com a sua vida! A casa estava vista deles, comprida e baixa, as janelas escuras reluzindo sob o

    sol, abaixo do telhado coberto de neve. Ao redor, havia montes de neve empilhada de encontro s paredes, e os arbustos, transformando os contornos do dia a dia em formas mgicas. Rose respirou fundo. O ar lmpido era inebriante como o vinho.

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    Talvez lhe interesse saber, madame, que minha reputao um tanto quanto exagerada. Eu no fao de tudo para atrair as mulheres.

    Mas tambm no faz de tudo para evit-las. No, mas o seu sexo capaz de ser bastante decidido. Lawrence sorriu.

    Ainda mais quando o prmio vale tanto a pena. Quando os olhos azuis sorriam daquele jeito, Rose era capaz de entender como

    tantas tolas acabaram sucumbindo ao charme dele. Porm, estava determinada a no ser uma delas. Com severidade, falou:

    Tem a si mesmo em alta conta, sir Lawrence. Mais uma vez, ele exibiu aquele sorriso malicioso. Quem sou eu para contradizer o que as damas dizem? Aproximavam-se do pequenino porto, e ele seguiu na frente, de modo a no ter de

    escutar a sua exclamao indignada. Ora, seu arrogante presunoso convencido! Rose pegou um punhado

    de neve e o comprimiu entre as mos, mirando quando Lawrence se curvou para abrir o porto.

    A bola de neve apenas o atingiu de raspo no ombro, de modo que Rose tratou de fabricar outra e a atirou atrs da primeira. Ela mirara com pressa, e a bola de neve teria passado direto por sobre a cabea dele caso sir Lawrence no houvesse se virado naquele exato instante, recebendo a fora total do projtil no chapu, que foi arrancado de sua cabea.

    Ora, isso me proporcionou grande satisfao. Rose esfregou as mos uma na outra, um sorriso repuxando-lhe os lbios, at perceber que sir Lawrence estava prestes a retaliar.

    Ela se virou, deixando escapar um gritinho, quando a primeira tentativa dele lhe acertou o pescoo, um pouco da neve encontrando o caminho at a sua pele. Lembrou-se do ditado que dizia que a melhor defesa era o ataque, e disparou mais alguns voleios; contudo, logo compreendeu que no era preo para a mira certeira de sir Lawrence.

    Basta! gritou, rindo. Trgua, sir, trgua! Ah, no, este um duelo at a morte! Outro tiro bem disparado acertou-lhe o ombro, espirrando flocos gelados no seu

    rosto. Erguendo as saias, Rose buscou abrigo atrs dos arbustos. Sir Lawrence a seguiu, e Rose cruzou em disparada o campo recoberto de neve.

    Peguei! A mo no seu ombro a derrubou no cho. Sir Lawrence a acompanhou, ao

    desequilibrar-se no escorregadio solo coberto de gelo. Os dois se esparramaram juntos, rindo e sem flego.

    Desleal, cavalheiro! declarou Rose, quando enfim foi capaz de falar. Por acaso sabe como difcil se mover quando as saias esto atrapalhando?

    Pois sim! E quem foi que atacou primeiro, quando eu estava com as costas viradas?

    Foi um ataque merecido. Rose fazia meno de se levantar, mas sir Lawrence rolou para cima dela,

    imobilizando-a no lugar. Merecido? E o que foi que eu fiz? Foi castigo pela sua arrogncia! Minha Suas sobrancelhas negras se ergueram. E culpa minha se as

    mulheres me acham irresistvel? O senhor incorrigvel! Rose estava rindo, achando quase impossvel discordar, e inconscientemente

    reagindo ao humor nos olhos dele.

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    Continuaram daquele jeito, sorrindo um para o outro, olhos azuis fixos em olhos acinzentados, por um longo, longo instante.

    O tempo parou. Tudo ao redor deles pareceu ficar silencioso e imvel, como se o mundo estivesse prendendo a respirao. De repente, Rose se deu conta de que jamais experimentara um momento igual, nem mesmo com o marido.

    Percebeu a prpria situao, estendida sobre a neve com sir Lawrence quase deitado sobre seu corpo, seus lbios a apenas alguns centmetros dos dela, sua respirao acariciando-lhe a face, o ligeiro aroma da gua-de-colnia apossando-se de seus sentidos.

    Na sua imaginao, ela estendeu as mos na direo dele, puxando o rosto dele para si, e beijando-o com paixo. Lawrence responderia, claro, mas no pararia apenas em beijos.

    De repente Rose entendeu por que vinha se sentindo to irrequieta. Tomada de pnico, esforou-se para sentar-se. Na mesma hora, sir Lawrence rolou para o lado.

    Muito bem, sra. Westerhill. Acho que podemos chegar a um acordo quanto quela trgua, agora. Lawrence se levantou com agilidade e estendeu a mo para ela. Aceita fazer as pazes?

    At mesmo o toque das mos enluvadas era perturbador. Assim que ficou de p, Rose libertou os dedos e virou-se, sabendo que estava corando, mas as imagens dos dois fazendo amor se recusavam a sair de sua cabea.

    Sir Lawrence na mesma hora disse: Espero no t-la machucado. N-no. Ela se concentrou em espanar as saias, falando rpido, de modo a

    disfarar a sua confuso. Mas isso foi muita irresponsabilidade nossa. Nossas roupas agora ficaro encharcadas.

    Espere, permita-me ajud-la. Ela se sobressaltou quando ele comeou a espanar a neve de suas costas. Pronto. Lawrence a virou para si. Perdoe-me pediu com gentileza.

    No foi a minha inteno alarm-la. Os olhos dela se fixaram no rosto dele. Rose estava nervosa, tensa, mas Lawrence

    no fizera nada alm de estar ali. Ah, no Isto , a culpa foi tanto minha quanto sua. Rose esforou-se para

    esboar um sorriso. Receio que a neve tenha me deixado um pouco zonza. Isso torna tudo diferente concordou ele olhando ao redor. como viver em

    um mundo de conto de fadas. Estendeu a mo. Amigos? Rose assentiu. Amigos. Quando chegaram horta, sir Lawrence parou. Natal, e eu no tenho um presente para lhe dar. Lawrence estendeu a mo

    na direo de um arbusto e puxou de l um ramo coberto de neve. Aqui est. Alecrim, como recordao.

    Rose pegou o galhinho espinhento e o trouxe at o rosto, aspirando o seu perfume. Queria jamais esquecer aquele dia, independentemente do quo montona e respeitvel o restante da sua vida pudesse ser. O perfume de alecrim para sempre a lembraria de sir Lawrence.

    Obrigada. Rose guardou o ramo cuidadosamente no bolso. Porm, agora, estou em dvida para com o senhor.

    Ele colocou os dedos sob o queixo de Rose, que cedeu presso, erguendo o rosto, e Lawrence a beijou.

    Agora estamos quites.

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    O beijo foi breve, leve como uma pena, nada como a carcia ardente e voraz de sua imaginao. Rose procurou se convencer de que nada significara. Fora um gesto amigvel para assegur-la de que ele no lhe cobiava a virtude.

    Rose no sabia ao certo se queria acreditar nesse argumento; mas, ao caminharem de volta para a casa, ela fez um grande esforo para se recompor. Quando adentraram a cozinha, j se recuperara o suficiente para sorrir ante a expresso surpresa de Evans.

    Fomos por demais imprudentes. Rose tirou a capa. Sir Lawrence poder se trocar, mas eu terei de contar com a lareira da sala de visitas para secar minha saia.

    Ah, bem, eu acendi a lareira de l para a madame e para o meu senhor, e alimentei as labaredas dos quartos. No entanto, no pode ficar o dia inteiro sentada assim, sra. Rose. O cavalario demenou a cabea. Ora, daqui d para se ver que as costas do seu vestido esto encharcadas.

    Sir Lawrence, que ajeitava as luvas na cornija da lareira, virou-se, falando: Se quiser me seguir, madame, talvez possamos arrumar algo para usar enquanto

    as suas roupas secam. Rose sacudiu a cabea. Tenho de colocar as aves no espeto para assar Posso fazer isso para a madame ofereceu Evans, gesticulando para que ela

    seguisse na direo da porta. melhor tirar essas roupas molhadas antes que fique resfriada.

    Esse o problema com criados que conhecemos desde criana. Ela franziu o cenho para o cavalario. De vez em quando, eles nos passam uma descompostura.

    Mas a madame sabe que ele tem razo retrucou sir Lawrence. Venha comigo.

    Na expresso do lorde havia apenas cordialidade, de modo que Rose assentiu e o seguiu at as escadas, notando que as roupas molhadas comeavam a ficar geladas de encontro pele.

    Este meu quarto de dormir anunciou Lawrence. Sinta-se vontade para entrar ou permanecer aqui fora, mas s peo para que no mantenha a porta aberta, pois vai deixar o calor todo escapar.

    Rose sabia que deveria recuar e aguard-lo no corredor, mas o calor da lareira era to tentador que ela adentrou o aposento e fechou a porta.

    Enquanto sir Lawrence revirava as gavetas e vasculhava um grande armrio de roupas, ela olhou ao redor. As paredes pintadas reluziam, vermelhas, sob a brilhante luz do sol, combinando com a decorao vermelha e dourada da cama. A lareira entalhada retratava imagens de caadas que se repetiam no friso ao redor do teto. Sob a luz do dia, a cmara parecia elegante e acolhedora. Rose tentou imagin-la noite, com as cortinas fechadas diante das janelas e a luz quente de velas somada ao brilho das chamas. Seria muito mais confortvel deitar-se ao lado de sir Lawrence naquela imensa cama, em vez de na neve fria l fora

    Seu corpo ficou quente ante a mera noo. Cus, ser que simplesmente estar na companhia de um libertino era o suficiente para deixar uma pessoa vtima de pensamentos to devassos? Rose na mesma hora estendeu a mo na direo da maaneta.

    Talvez eu deva aguardar no meu quarto No, no, eu encontrei. Sir Lawrence veio na direo dela, uma esvoaante confeco de renda e fitas em

    uma das mos. Apesar do nervosismo, Rose deu risada. No posso usar isso declarou ela fitando a camisola quase transparente.

    No seria apropriado. Alm do mais, no me aqueceria nem um pouco. Sir Lawrence sorriu.

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    Uma de minhas h hspedes deixou aqui. Eu no me lembro de t-la achado inapropriada.

    Rose engasgou. No podia rir do comentrio ultrajante. Ele prosseguiu, como se nada houvesse notado: Contudo, concordo que no seria muito quente, mas talvez possa usar isto por cima. Lawrence estendeu um manto de l cinza. um banyan, um traje oriental, e um tanto quanto pequeno para mim.

    Rose hesitou, e ele acrescentou: Com certeza seria melhor que arriscar a sade continuando nessas roupas

    molhadas. Verdade. Ela estendeu a mo. Vou me trocar. Precisa de ajuda? perguntou sir Lawrence. Estou familiarizado com No. Obrigada. Rose pegou as roupas das mos dele e foi embora.

    Captulo Trs

    BEM, PODE no ser muito elegante, mas com certeza respeitvel. Rose contemplou a prpria imagem no espelho. O roupo de sir Lawrence chegava

    a dar quase duas voltas nela, mantido no lugar pelo cinto apertado ao redor da sua cintura. A roupa a cobria por completo, dos ps ao pescoo. Se no houvesse dobrado as mangas, elas haveriam engolido por completo os seus dedos.

    Por sorte as prestativas botas de couro mantiveram-se amarradas com firmeza ao redor dos tornozelos, e no permitiram a entrada de umidade, de modo que Rose pde cal-las para proteger os ps do gelado piso de pedra do andar de baixo.

    Quando Rose deixou seu quarto, apreciou a renda e a seda macias da camisola de encontro pele. Envolta como estava pelo roupo, ningum poderia dizer que se vestia de maneira imodesta; no entanto, sem a sua roupa de baixo, sentia como se estivesse lhe faltando algo.

    Ao adentrar a cozinha, foi recebida pelo aroma suculento de galinha assando, o que a fez se dar conta de como se encontrava faminta. Pegou o avental pendurado atrs da porta, e o amarrava ao redor de si quando Evans entrou trazendo uma cesta de legumes. Se o cavalario notou a sua vestimenta incomum, nada comentou.

    Sir Lawrence, que entrou logo atrs dele, fez o mesmo, mas Rose no pde deixar de notar o modo como o olhar dele se demorou sobre ela, e se viu pouco vontade ante a sensao de que ele sabia exatamente o que ela estava ou no estava usando por baixo do roupo.

    Quer dizer que vai cozinhar uma ceia de Natal para ns, madame? Vou. Ela se esforou para manter a ateno fixa nas galinhas assando.

    Possuo muita experincia na cozinha. Fico feliz em saber disso. Lawrence sentou-se enorme mesa. Rose franziu a testa. O que est fazendo? Nada. Isto , estou observando-a. Ela se voltou para o fogo. Preferiria que no o fizesse.

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    Por qu? Gosto de observ-la. Rose sabia que no era apenas o fogo que lhe fazia as faces arderem. Bem, no quero que me observe retrucou contrariada. um tanto quanto

    desconcertante. Ele riu. Muito bem. H algo que queira que eu faa? A aquiescncia bem-humorada de sir Lawrence a desarmou. Rose ficou parada por

    um instante, limpando as mos no avental, e disse, por fim: A mesa ter de ser posta Nesse caso, o que farei afirmou ele de pronto. Se madame ser a

    cozinheira e a criada, eu serei o lacaio Ah, e o mordomo, claro. Vou encontrar uma garrafa de vinho para bebermos.

    A SALA de visitas parecia muito acolhedora. As pesadas cortinas de veludo estavam

    fechadas diante das janelas, deixando a noite fria do lado de fora. Sobre a mesa, a luz das velas reluzia nos jogos de copo e na prataria, e sir Lawrence at colhera um pouco de sempre-vivas para decorar a mesa. Uma travessa de legumes fumegantes se achava pousada no centro, e uma galinha, dourada e suculenta, aguardava para ser trinchada por sir Lawrence.

    Uma refeio simples declarou Rose admirando a sua obra, ao sentar-se mesa , contudo, acho que supera carne fria e queijo.

    Mil vezes melhor concordou sir Lawrence. Eu a congratulo, madame. O aroma e a aparncia esto deliciosos. Ergueu a taa. Um brinde. mulher mais diligente que eu conheo.

    Rose agradeceu pela luz fraca das velas, que lhe disfarou seu rubor. No foi nada. Qualquer boa dona de casa poderia fazer o mesmo. E tambm

    merece crdito, cavalheiro. O dispositivo para girar o espeto na cozinha fez um excelente trabalho.

    Ah, foi uma das condies exigidas pela sra. Brendon quando comprei o lugar. Ela falou que s trabalharia aqui se eu fizesse melhorias na cozinha.

    Quando foi que comprou Knightscote? Ela quis saber. Acho estranho que no tivssemos sabido de nada em Mersecombe.

    Tenho a propriedade h uns dois anos, mas raramente a uso, de modo que minha vinda para c no provocou muito estardalhao.

    O qu? No houve mexericos? Rose ousou provoc-lo. Nem mesmo quando trouxe as suas hspedes no muito respeitveis aqui?

    Lawrence franziu as sobrancelhas, mas Rose no se deixou enganar, pois podia enxergar o brilho divertido no seu olhar.

    Seja grata ao fato de minhas hspedes de reputao duvidosa terem decidido me visitar, sra. Westerhill, ou madame no teria o que usar.

    Instintivamente, ela levou a mo gola do roupo. Eu tinha esperana de que minhas prprias roupas j teriam secado, a esta

    altura Receio que tenhamos feito um bom trabalho ao encharc-las. Rose mordeu o lbio inferior, e se esforou para no relembrar os pensamentos

    pecaminosos daquela tarde, mas eles estavam sempre presentes na sua cabea. Pelo menos est decorosamente vestida prosseguiu ele. Basta cobrir o

    cabelo com um guardanapo e poder passar at por uma freira! Ela no conseguiu resistir a uma resposta: Dada a sua reputao, cavalheiro, h quem sugira que seja uma defesa

    necessria.

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    Ele exps os dentes. Guarde as suas garras, tigresa. No vou brigar no dia de Natal. Que tal, em vez

    disso, me contar sobre a sua vida em Mersecombe? Tem uma propriedade grande? No, uma casa modesta com alguns criados. No entanto, possui um cavalario. Evans est comigo desde que eu era criana. E acompanhou-me ao novo lar

    quando me casei; e, quando vendi a casa em Exford, ele concordou em vir para Mersecombe, embora, alm de cuidar dos cavalos, tenha de trabalhar na casa. Ela sorriu. So o meu nico luxo. Quando o dinheiro permitir, comprarei um pnei para o pequeno Sam. Evans o ensinar a montar Foi ele quem me colocou no meu primeiro pnei. Gostaria que fizesse o mesmo pelo meu filho.

    Deve ser difcil criar um filho por conta prpria. Tenho a minha me para me ajudar. Mas, tem razo, ele sente falta do pai. Sam

    tinha apenas 4 anos de idade quando enviuvei, de modo que no sei bem o quanto ele se lembra do pai.

    Talvez seja uma boa coisa, ela pensou, lembrando-se das lgrimas e das discusses.

    Como foi que seu marido morreu? Perdida no passado, Rose olhou para ele, sem compreender, e Lawrence apressou-

    se em dizer: Peo que me perdoe. Se prefere no No, no. No tenho problemas em lhe contar. Um acidente de cavalo. O animal

    escorregou no gelo, e o jogou no cho. Partiu o pescoo dele. Rose no acrescentou que o falecido marido retornava de um encontro com a

    concubina da vez. Todos em Exford podiam saber da verdade, mas no havia por que ela admitir isso para um desconhecido.

    Eu sinto muito. Rose deu de ombros, como se para evitar a sua solidariedade. J faz quatro anos. Ns nos viramos muito bem desde ento. E agora temos

    Magnus acrescentou, sorridentemente. Magnus? Magnus Emsleigh. Ele comerciante martimo e dono de uma considervel

    propriedade nos arredores de Mersecombe. um pilar da sociedade local. Um excelente exemplo para o meu filho seguir.

    E esse Magnus quer se tornar o pai de Sam? Ah, pela sua expresso posso deduzir ser esse o caso. Por que no o mencionou antes?

    Rose j se perguntara a mesma coisa. Com certeza, falar para sir Lawrence que estava noiva de uma respeitado e abastado cavalheiro da regio teria aumentado a sua importncia. No era uma unio amorosa, mas sim um combinado prudente, cujo propsito era oferecer segurana para ela e Sam. Rose se deu conta de que estava relutante em admitir, mesmo para si mesma, que em breve se casaria com Magnus Emsleigh.

    J marcaram a data? perguntou ele baixinho, falando de novo. Dia da Anunciao. Ela brincou com o pedao de galinha no prato. Magnus

    no tem experincia com crianas. s vezes, Sam pode ser difcil. Lawrence recostou-se na poltrona, seus dedos brincando com a haste da taa de

    vinho. Lembrou-se do prprio padrasto, um homem profundamente religioso, cujo regime repressivo de sermes e surras s deixaram um jovem determinado ainda mais decidido a se rebelar.

    Pode ser difcil para um menino pequeno aceitar outro homem na casa. Ser necessrio tempo e pacincia.

    assentiu ela energicamente. Foi o que eu disse para Magnus.

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    Lawrence tomou um gole de vinho. Mas o que passa pela cabea desse pilar da sociedade para deixar que a

    madame viaje desacompanhada com um clima desses? Ela ergueu o queixo. Magnus no meu dono. No permito que me diga o que fazer. Lawrence ergueu as sobrancelhas, e ela acrescentou: Alm do mais, ele est em Bath, e no sabe do meu paradeiro. Rose voltou a ateno para o prato, e Lawrence aproveitou a oportunidade para

    estud-la. A dama parecia absurdamente jovem no roupo emprestado, mas este em nada escondia os seus encantos. O cinto se apertava ao redor da cintura fina, e acentuava o volume farto e arredondado dos seios. Os cachos ordenados de ontem haviam cedido lugar a ondas mais naturais, que ela prendera para trs com uma fita larga, e as faces ainda estavam delicadamente ruborizadas de seus esforos na cozinha.

    Aplaudo sua vontade de independncia, sra. Westerhill, mas tenho pena do seu pretendente. Lawrence achou que ela fosse corar ante o comentrio, mas Rose o surpreendeu ao rir.

    Pobre Magnus. Ele acha que no sou capaz de cuidar de meus prprios interesses, e est disposto a assumir todo e qualquer fardo que eu possa ter. Como se eu tivesse algum! Minhas parcas economias no necessitam de muito esforo e, independentemente do que eu diga, no consigo convenc-lo de que Sam no um fardo! Magnus um amor, mas tem a tendncia a me dar sermes, o que me irrita s vezes Ela se interrompeu. Peo que me perdoe, no deveria estar lhe contando tudo isto.

    Pode me contar o que bem quiser. Na verdade Lawrence interrompeu-se, um tanto alarmado ao perceber que queria saber tudo a respeito dela.

    Levantou-se para colocar mais lenha no fogo. Precisava ter cuidado, essa mulher comeava a mexer com ele. Apreciava sua companhia, gostava de provoc-la, observar o delicado rubor se apossar de suas faces, mas Rose no pertencia ao seu mundo. A seduo de uma respeitvel professora de escola no era algo que queria na conscincia.

    Ao erguer a cabea, notou que ela havia caminhado at a janela e aberto a cortina. Tivemos mais neve esta noite. Parou agora, e a lua est se erguendo no cu.

    Venha ver, est quase to claro quanto de dia. Rose lanou-lhe um olhar de esguelha quando Lawrence se postou ao seu lado. No lindo?

    Quase to lindo quanto voc. As palavras estavam na ponta da lngua de Lawrence, mas ele as engoliu,

    preferindo dizer: Se no tivermos mais neve, os cavalos de carga devero poder abrir as estradas

    amanh. A senhora poder se pr a caminho. O seu tom de voz brusco pareceu peg-la de surpresa, e os clios de Rose

    baixaram, velando-lhe os olhos. Sim, claro. E este breve idlio ter terminado. Houve um qu de tristeza na voz da dama que o pegou de surpresa. Um idlio? o que tem sido para madame? Seu sorriso no apenas lhe iluminou o rosto como tambm toda a sala. Ilhados aqui, tendo que nos arranjar por conta prpria tem sido muito diferente

    da rotina da minha vida. Com certa timidez, Rose acrescentou: claro, a princpio milorde me assustou um pouco, contudo acabou se provando de fato

    Tome cuidado alertou ele. No v me transformar em heri! de fato comedido completou Rose, com um dos cantos da boca se

    erguendo um tanto. Voltou a olhar para a janela. Eu me pergunto o que poderia ter acontecido se tivesse sido menos decente.

    Como disse, senhora?

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    Decerto escutara errado. Porm, o ligeiro rubor nas faces dela lhe diziam que no escutara. Recebemos esta oportunidade de escapar de nossas vidas corriqueiras por

    alguns dias. Amanh, voltarei para Mersecombe, e presumo que milorde em breve retornar a Londres. pouco provvel que voltemos a nos encontrar. S me pergunto o que poderia ter sido

    Por um longo instante, ela o fitou nos olhos. Perdoe-me. Desviando o olhar, Rose sacudiu um pouquinho a cabea.

    Acho que exagerei no vinho. Por favor, ignore o que eu disse. Voltou-se para a mesa. melhor levar estes pratos para a cozinha. Evans j deve ter terminado sua refeio, e est aguardando para arrumar tudo.

    Deixe-me ajud-la. Rose no recusou, e Lawrence a acompanhou at a cozinha, seu crebro

    fervilhando com conjecturas. A dama estaria mesmo lamentando que ele no tivesse tentado seduzi-la?

    Lawrence sacudiu a cabea. No. Rose era por demais respeitvel para isso. Seu olhar se voltou para as orgulhosas costas empertigadas, para a cintura fina e os

    generosos quadris, que balanavam, to convidativos, de um lado para o outro, medida que ela ia andado. Era um ato inconsciente, o que s fazia torn-lo mais sedutor.

    Evans j limpara o espeto e as panelas, e s permitiu que os dois trouxessem os pratos at a pia.

    A cozinha no lugar para algum como a madame murmurou. Nem como milorde. Perdoem-me dizer, mas receio que atrapalhariam mais do que ajudariam.

    Lawrence deu risada. Acho que tem razo. Eu vou embora. Sim, meu senhor, e faa-me a gentileza de levar minha patroa junto! FRANCAMENTE, EVANS est ficando um tanto quanto aristocrtico demais

    resmungou Rose. Ajoelhada diante da lareira da sala de visitas, usava o atiador para cutucar as toras de madeira. Ele sabe que sou mais do que capaz de auxili-lo.

    Pode ser, mas no significa que devesse ter de faz-lo. Sir Lawrence tomou o atiador das mos dela. Rose sacudiu a cabea para ele,

    sorrindo. Eu quero fazer alguma coisa! Ele se sentou ao lado dela, e terminou de alimentar a chama. Nesse caso, encontre algo um pouco menos nocivo para as suas mos.

    Lawrence tomou os dedos dela nos seus. Olhe s como esto speras. Constrangida, Rose tentou se soltar. Isto no resultado apenas dos dois ltimos dias Sir Lawrence a ignorou e continuou a lhe examinar as mos, aprisionadas com

    gentileza nas suas. O intenso escrutnio era desconcertante. O corao de Rose batia forte, palpitando

    no interior do peito como um pssaro aprisionado. A madame chegou at a se queimar. Uma queimadurazinha de nada. Rose tentou e falhou em manter a voz firme,

    ciente de como Lawrence estava prximo. O efeito da atrao era quase palpvel. Ele continuou a estudar a pequena marca

    vermelha na beirada de sua palma. Ela engoliu em seco. o tipo de coisa que se tem de esperar na cozinha A voz de Rose falhou, e

    ele levou a sua mo at os lbios. Foi um gesto gentil e ntimo que a deixou sem flego. Sem pensar, ela apertou os

    dedos ao redor dos dele. Rose inclinou-se para a frente e o beijou direto na boca. As mos de Lawrence deslizaram pelos braos dela, subindo at se deterem nos ombros,

  • Hlq Histricos 136 Calor do corao - Sarah Mallory

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    puxando-a para si. Rose fechara os olhos, mas, no instante seguinte, arregalaram-se, e ela recuou.

    Ah, minha nossa! Peo que me perdoe! No h necessidade. No estou ofendido