revista in guardia.7ª edição

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Revista para leitura on line ou download gratuitos de teor estritamente Católico Apostólico Romano.

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SumárioSumário - 3

Nossa Equipe - 4

Apresentação - 6

Entrevista com Olavo de Carvalho - 7O “espanto” e a filosofia

A homilia do Papa - 11

A homilia de Pedro - 13

Democracia paraguaia - 15Ives Gandra Martins

Quem pode dizer não - 16José Nivaldo Cordeiro

Avanço do Satanismo - 17Pe. Inácio do Vale

Legítima defesa: direito natural da pessoa - 20Bruno Dornelles de Castro

São João Batista Maria Vianney - 21Ana Maria Bueno Cunha

Assunção de Maria: Prefiguração da estadia humana com Deus - 24Ian Farias

O censo do IBGE e a Igreja Católica - 26Ivanaldo dos Santos

Top 10 In Guardia - 28

O Catecismo: Conhecimento de Deus na filosofia e na revelação - 29Carlos Ramalhate

A Santa Sé na Rio+20 - 31Lenise Garcia

A falácia do “ambientalismo” e o fiasco da Rio+20 - 32Paulo Cremoneze

As celebrações litúrgicas na ausência do presbítero - 33Kairo Neves

O pai e o mundo moderno - 36Evelyn Mayer de Almeida

Nossa Senhora de La Salette - 37Lizandra Silva

Pastorear é dar a vida - 39Pe. Mateus Maria

Igreja, porta voz da palavra de Deus junto ao jovem - 40Pedro Brasilino

Tristeza e Alegria - 41Dom Fernando Arêas Rifan

Pensando alto sobre a oração em línguas - 42Rafael Brodbeck

Igreja: Carisma e Poder - 43Igson Mendes da Silva

Ano II, nº 07, Agosto de 2012

Revista Bimestral

Edição:Emanuel de Oliveira Costa Jr.

DiagramaçãoRenan da Silva Cunha

RevisãoSilvia Elizabeth

Design e Logos:Ellen Jordana Portilho Mendes

Colaboradores Colunistas dessa Edição:Ana Maria Bueno Cunha

Bruno de CastroCarlos Ramalhete

Evelyn MayerD. Fernando Arêas RifanIgson Mendes da Silva

Ives GandraIan Farias

José Nivaldo CordeiroKairo Neves

Lenise GarciaLizandra DaniellePaulo Cremoneze

Pe. Inácio José do ValePedro BrasilinoProf Ivanaldo

Pe. Mateus MariaRafael Brodbeck

Contato:[email protected]

Sessão Carta do LeitorOpiniões, sugestões ou comentários podem ser encaminhados para www.inguardia.blogspot.

com ou para o e-mail: [email protected].

Os artigos aqui publicados podem ser reproduzidos desde que citada a fonte.

Página no Facebookhttps://www.facebook.com/InGuardia

Os artigos dessa revista poderão ser reproduzidos desde que se indicada a fonte.

O conteúdo das matérias assinadas é da responsabilidade dos respectivos autores.

Essa revista tem o cunho essencialmente católico apostólico romano, não devendo ser

entendido sob outro prisma ou filosofia.

Nossa EquipeEmanuel de Oliveira Costa Jr. - EditorCatólico, casado, coordenador do Grupo de Coroinhas e Acólitos da Paróquia do Imaculado Coração de Maria em Goiânia/GO, advogado militante, professor, autor de artigos científicos publicados em revistas impressas e virtuais. Mantém o Blog do Emanuel Jr: www.blogdo-emanueljr.blogspot.com Twitter: http://twitter.com/emanuelocjr Facebook: Emanuel Jr.

Rafael Vitola Brodbeck - ColunistaCatólico, casado, é Delegado de Polí-cia em Sta Vitória do Palmar,RS, coordena o site “Salvem a Li-turgia”. Colunista da “Catequese Litúrgica”, na revista mensal “O Mensageiro de Santo An-tônio”, dos Frades Menores Conventuais, membro da Sociedade Internacional San-to Tomás de Aquino (SITA/Roma), e da Academia

Marial de Aparecida. É incorporado ao Regnum Christi (1998). Palestrante de Liturgia e doutrina. [email protected] Twitter: http://twitter.com/rafael_brodbeck

Kairo Rosa Neves de Oliveira - Colu-nistaCatólico, solteiro, estudante universitário, cursa Engenharia Civil na UNESP de Ilha Solteira - SP. Colaborador do site “Sal-vem a Liturgia”, na coluna de paramentos litúrgicos e dando dicas para solenizar a celebração. Atua no site Movimento Liturgico, responde dúvidas litúrgicas. Mantém, ainda, um blog de imagens litúrgicas, o Zelus. E-mail: [email protected]

Ives Gandra da Silva Martins -

Colunista.Católico.

Dispensa maio-res apresentações. Ganhador de diversos prêmios, professor em diversas faculdades. Professor Emérito e honoris causa em várias universidades. Doctor Honoris Causa da Universi-dade de Craiova – Romênia. Um dos mais conceituados tributaristas bra-sileiros. Supernumerário da Opus Dei. Colar de mérito judiciário em diversos Tribunais do país, bem como medalhas e comendas de mérito cultural.

Pedro Bra-silino Peres

Netto - Colunista

Solteiro, Católico, estu-dante de Biomedicina na

Universidade Federal de Goiás - UFG, coordenar da Pastoral da Juventude na Paróquia do Imaculado Coração de Maria em Goiânia. Facebook: Pedro Brasilino.

Lenise Garcia - ColunistaCatólica, graduada em Farmácia e Bioquími-ca pela Universidade de São Paulo, mestrada em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo e doutorada em Microbiologia e Imunologia pela Universidade Federal de São Paulo. Atualmente é professora adjunta da Universidade de Brasília, no departamen-to de Biologia Celular. Numerária do Opus Dei. Presidente do Movimento Nacional da Cidadania pela Vida – Brasil Sem Aborto

Ana Maria Bueno da Cunha - ColunistaCasada, católica, Farma-cêutica- bioquímica, dona de casa, mãe de dois filhos em - Praia Grande/SP. Católica amante da Igreja, da Santíssima Virgem, do Santo Padre o Papa e sempre sedenta da graça de Deus. Mantém o blog

Blog: É Razoável Crer? http://razoavelcrer.blogspot.com/E-mail: [email protected]

Evelyn Mayer de Almeida - ColunistaUma filha de Deus, católica, esposa e mãe desejosa em cumprir a doce missão que o Senhor a deu. Professora de Língua Portuguesa, é também dona do blog Fazei o

que Ele vos disser e colaborado-ra do site Rainha dos Apósto-

los. Já foi coordenadora da Missão Kerigma Christi. Interessa por Filosofia,

Educação, Política e Humanidades. Twitter: @evelynsmalmeida Facebook: Evelyn Mayer

de Almeida

In Guardia - 04

Renan da Silva Cunha - Diagramador

Estudante de Jornalismo pela Universidade

Estadual de Londrina. Editor do Blog Porta

Fidei.

Nossa EquipePe. Inácio José do Vale - Colunista É sacerdote católico e Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo em Resende/RJ, é especialista em Ciência Social da religião pesquisador de seitas e conferencista, é Professor de Teologia Sistemática na Fa-culdade de Teologia de Volta Redonda/RJ.

E-mail: [email protected]

Carlos Ramalhete—Co-lunistaCasado, pai de dois filhos adolescentes, e licen-ciado em filosofia pela Universidade Católica de Petrópolis. Trabalha

como professor de filosofia e sociologia, além de manter uma coluna no jornal Gazeta do Povo (Curitiba) e o apostolado A Hora de São Jerônimo, o apostolado de apologética cató-lica mais antigo da internet brasileira (www.hsjonline.com).

Bruno Dornelles de Castro - ColunistaCatólico, solteiro, formado em Direito. Dá formações de Doutrina Social da Igreja. Mantém um blog onde escreve so-bre política e filosofia

(brunodornellesdecastro.blogspot.com). Facebook: Bruno Dornelles de Castro

Lizandra Danielle Araújo da Silva - Co-lunista.Católica, solteira, estudante de Controle Ambiental no Institu-to Federal de Goiás. Coroinha há 6 anos na Paróquia do Imaculado

Coração de Maria em Goiânia. Twitter: _lizdaniele

Ivanaldo Santos - Colunista.Ivanaldo Santos é filósofo, doutor em estudos da linguagem, professor do De-partamento de Filosofia e do Programa de Pós-Graduação em Letras da UERN. Possui vários livros publicados, entre os quais destacamse: Teologia da Libertação: ensaios e reflexões e Linguagem e epistemologia em Tomás de Aquino. E-mail: [email protected].

Silvia Elizabeth - Revi-soraFormada em Letras pela Universidade Estadual de Londrina e aluna de Espe-cialização em Literatura Brasileira pela mesma Universidade. Atualmente trabalha no site Christo Nihil Praeponere como redatora e presta serviços para a Editora Ecclesiae como revisora.

Ian Farias de Carva-lho Almeida - Colu-nistaSeminarista do Seminá-rio Papa João Paulo II, Diocese de Jequié-BA, cursa Filosofia na Instituto de Teologia de Ilhéus. http://beinbetter.wordpress.com/ ou : http://www. reflexoesfranciscanas.com.br/Twitter: @ianfariasca Skype: ianfarias

Paulo Cremoneze - ColunistaAdvogado (especializado em Direito do Seguro e Direito dos Transportes), Pós-graduado “lato sensu” em Direito. Defendo os valores morais, as tradi-ções sociais e religiosas, a

família e a vida humana desde a concepção. Procuro viver conforme as virtudes cardeais e as teologais

Pe Mateus Maria - Colunista. Sacerdote e Prior do Mosteiro Menino JesusVisite: http://www.mosteiroreginapa-cis.org.br/

Niveldo Cordeiro. Colunista. José Nivaldo Cordeiro é economista

e mestre em Administração de Empresas na FGV-SP. Cristão, liberal e democrata. Articulista do site Mídia Sem Máscara.

In Guardia - 05

Igson Mendes da Silva - ColunistaAnalista de Siste-mas do Tribunal de Contas do Amazonas, gradu-ando em Teolo-gia, palestrante sobre doutrina, ética aplicada aos meios de comunicações sociais; Dirige o Apostolado Spiritus Paraclitus que se dedica em promover a fé católica. E-mail: [email protected]

Apresentação

In Guardia Edição de aniversário

Igreja Católica tem muitos e muitos santos. Muitos oficiais, outros desconhecidos. Dentre os muitos que foram reconhecidos – canoni-

zados – alguns de destacam e ganham do povo um reconhecimento especial. Porém, existe um santo que, além de ser amado pelo povo é venerado tam-bém por outros santos.

Assim é São João Maria Vianney, um homem que quase não conseguiu se ordenar sacerdote por ab-soluta incompetência nos estudos, não porque não quisesse, mas porque não tinha capacidade inte-lectual. Um homem que foi ordenado graças a uma “forcinha” de um padre amigo seu e, principalmente graças a uma profunda humildade e sentimento de amor e fidelidade pela Santa Igreja Católica.

Esse homem, que por pouco não consegue ser ordenado sacerdote, é hoje o padroeiro de todos os assim ordenados. É exemplo a ser seguido! Tem sua festa no dia quatro de agosto, Dia do Padre e é como sinal de simples agradecimento e devoção que oferecemos a capa dessa edição para São João Maria Vianney.

Ele terá ainda um belo artigo na coluna sobre a Vida dos Santos. Sua vida exemplar, milagres e atitu-des estarão narrados em nossas páginas. Em direção diametralmente oposta teremos o primeiro de uma série de artigos sobre o livro “Carisma e poder” de

Leonardo Boff, ex-frei cuja obra teve o efeito de uma bomba herética dentro de nossa Santa Igreja. Assim como uma bomba seus estilhaços feriram mortal-mente alguns, seriamente outros e levemente outra parcela. Indiferentes, poucos ficaram. Assim como uma bomba, continuou a surtir seus efeitos como uma onda, mas, felizmente também vai perdendo, aos poucos, sua força destrutiva.

Teremos mais uma série de artigos para ótima lei-tura: Milagres de Nossa Senhora de La Sallete, mais um artigo da série sobre o Catecismo da Igreja Ca-tólica, como devem ser as celebrações na ausência de um sacerdote, os temas das JMJ’s que já tivemos até aqui, legítima defesa, os livros mais vendidos no mês e suas sinopses pela Editora Ecclesiae e tantos outros que já nos acostumamos a acompanhar.

Temos ainda, nessa edição de aniversário, já que estamos completando um ano de trabalho, a partici-pação de ilustres convidados: Dom Fernando Rifan e Nivaldo Cordeiro, aos quais agradecemos a presença em nossa edição.

Ainda em comemoração ao aniversário da Revis-ta In Guardia, temos a primeira parte da entrevista com o filósofo Olavo de Carvalho, que discorre sobre temas atuais do Brasil e do mundo.

Desejo a todos uma boa leitura e um santo mês das vocações.

A

In Guardia - 06

Entrevista com Olavo de Carvalho

O “espanto” e a filosofia In Guardia: Com a intenção de conhe-cer mais a pessoa Olavo de Carvalho, se-ria interessante saber o que levou o Sr. a trilhar o caminho da filosofia e – uma vez que boa parte de sua obra é composta de reflexões sobre temas políticos – como o Sr concebe a ação política do intelectual? Mais ainda, sabendo que na sua reflexão o conhecimento é a experiência mais indi-vidual que existe, como o Sr diferencia sua forma de ação política daquela preconiza-da por setores da esquerda, como o inte-lectual orgânico de Antonio Gramsci ou o intelectual engajado de Jean Paul Sartre?

Olavo de Carvalho: São duas pergun-tas, primeiro o que me levou à filosofia e segundo como eu concebo a ação políti-ca do intelectual especificamente a minha mesma e no que ela se diferencia de outras concepções a respeito. Então, o que me le-vou à filosofia foi o que sempre levou as pessoas à filosofia que é o que Aristóteles já dizia: “a filosofia começa com o espanto”; é a perplexidade diante de algumas questões que a vida mesma foi me colocando, foi despertando em mim o interesse por uma série de leituras – em primeiro lugar – e de-pois quando as leituras já não respondiam mais o que eu tinha necessidade de saber, então, naturalmente fui levado a filosofar por minha própria conta. Em nenhum mo-mento me ocorreu a ideia de ser um filó-sofo no sentido profissional da coisa como se entende hoje, como carreira universitá-ria, quando eu tinha 17 anos eu entrei para o jornalismo e me considerei muito feliz porque o salário que eu ganhava era mui-to bom e naquela época o jornalismo era meio período – 5 horas de trabalho – en-tão eu disse para mim “eu nunca mais vou sair daqui”, porque eu precisava de tempo para estudar e a profissão me dava exata-mente isso; então não tinha porque eu me interessar pela filosofia como carreira aca-dêmica, então isso quer dizer que eu nun-ca fui estudar nada em filosofia por algum interesse escolar (cumprir algum programa ou devesse cumprir um currículo), não, eu fui estudar tudo porque era realmente im-portante para mim, eram perguntas que eu tinha na minha própria vida. Não perguntas de ordem pessoal, não se tratava de autoa-juda ou de orientação para a vida, não era isto, mas as perguntas sobre como me po-sicionar perante as questões que estavam presentes na própria sociedade em torno, particularmente as questões de ordem polí-

tica. A breve experiência que eu tive na mi-litância esquerdista despertou em mim uma série de perplexidades que levei 20 anos para resolver e eu não podia ter feito nada disso sozinho, precisava de muita ajuda e muita informação. Lembro-me que depois que eu abandonei a militância eu passei 20 anos praticamente sem dar palpite nenhum em matéria de política (só estudando, estu-dando, estudando) e naturalmente aí houve a necessidade de me abrir também para o lado antagônico, quer dizer, eu ainda me considerava um homem de esquerda, ain-da que não estivesse mais oficialmente na militância, então fui ler os autores que pa-reciam estar à direita; isso abriu todo um outro continente e tornou as perguntas mais complexas e mais interessantes. Então foi

assim que eu comecei e entrei nessa histó-ria. Quanto à concepção da ação política do intelectual: a figura do intelectual moderno foi inventada por Dante Alighieri. Ele foi o primeiro indivíduo que, na história do oci-dente, se aventura a julgar o estado inteiro da sua sociedade e da civilização em que está a partir apenas da sua visão individual das coisas, partindo do princípio de que a alma humana tem um potencial de se or-denar de acordo com a vontade de Deus e, a partir daí, ela pode entender o que está acontecendo em torno e, inclusive, julgar os governos, as instituições etc. Mas julgar é uma coisa e reformá-las é outra. Acho que a consciência individual tem força su-ficiente para entender o estado de coisas na sociedade até com mais profundidade, mais

Emanuel Jr. e Fabio Florence

Acho que na história espiritual do ocidente aconteceram três coisas no século XX: a primeira foi o milagre de Fátima, a segunda foi São Padre Pio de Pietrelcina e o terceiro são os visionários de Kibeho, Ruanda. Não prestar atenção a esses três acontecimentos é uma cegueira imperdoável

In Guardia - 07

certeza, mais clareza e mais confiabilidade do que qualquer instituição tem; mas isso não quer dizer que esse indivíduo esteja dotado por isto mesmo da capacidade e do mérito para conquistar o poder e reformar as coisas à sua imagem e semelhança. Você vê que Dante não deixou escapar nada, ele julgou tudo, até papas, ele botou seis pa-pas no inferno; um total desrespeito pelos prestígios de gentes, julgando tudo impla-cavelmente. Então, acho que ele inventou a figura do intelectual como um juiz da situação, não como um governante, não como um revolucionário e acho que é essa exatamente a função do intelectual e isso só o indivíduo pode fazer, quer dizer, uma as-sembleia não pode ter a acuidade e a visão organizada e integral que o indivíduo pode ter; você vê que em todos os campos do co-nhecimento são sempre os indivíduos que descobrem as coisas, sempre os indivídu-os que vão na frente, a comunidade depois vai atrás, entendendo pedaços. Sempre dou um exemplo: se você está dando uma aula é possível que um ou dois alunos entendam tudo e o resto da classe não entenda nada, o que não é possível é a classe como tal en-tender tudo sem que nenhum deles indivi-dualmente entenda nada; então, a atividade cognitiva revela o melhor de si somente na escala da consciência individual e, curiosa-mente, acredito que a atividade intelectual de um indivíduo isolado acaba tendo uma força incomparável pelo simples fato de ser um testemunho individual e não alguém que está falando em nome de alguma coisa. Dante não falava em nome de ninguém, fa-lava em nome dele mesmo, eu também falo em nome de mim mesmo. Se a pessoa me pergunta: “quem é você para dizer isso”, eu respondo “eu sou o sujeito que disse isso”. Pronto, quem mais eu precisaria ser além desse?

In Guardia: Em vários de seus progra-mas de áudio e vídeo, especialmente o True Outspeak que pode ser visto sema-nalmente no Youtube, o Sr. inicia invocan-do a proteção de Padre Pio (São Pio de Pietrelcina). Explique-nos qual o motivo e a importância de sua devoção ao Pe. Pio?

OdeC: Acho que na história espiritual do ocidente aconteceram três coisas no sécu-lo XX: a primeira foi o milagre de Fátima, a segunda foi São Padre Pio de Pietrelcina e o terceiro são os visionários de Kibeho, Ruanda. Não prestar atenção a esses três acontecimentos é uma cegueira imperdoá-vel, é puro preconceito. Os fatos de ordem miraculosa são abundantes na história, eles estão aí à disposição de todo mundo que queira conhecê-los e não tem o menor sen-tido você recusar reconhecer um fato por-que você não tem a explicação dele; se você tivesse que ter primeiro a explicação para

depois conhecer o fato, nós jamais teríamos conhecido coisíssima nenhuma, essa atitu-de é incompatível com a própria existên-cia do conhecimento humano, quer dizer, nós buscamos uma explicação porque um fato chegou ao nosso conhecimento; acei-tar os fatos é o primeiro item. No caso do Padre Pio de Pietrelcina o número de mi-lagres operados por Jesus Cristo através dele é uma coisa assombrosa, eram vários por dia e, de certo modo, os mais chocan-tes da história humana, como a história da menina que enxerga sem pupilas: a menina estava cega, mas não apenas cega, ela não tinha pupilas e Padre Pio orou sobre ela e ela enxerga perfeitamente sem pupilas, o que é anatomicamente impossível e, no entanto, está acontecendo. Ao sujeito que recusa isso porque não tem uma explicação científica, eu digo: para ter uma explicação científica você precisa primeiro aceitar o fato, ele aconteceu e, segundo, esses fatos de ordem miraculosa têm uma importância excepcional dentro do cristianismo porque o cristianismo se constitui de milagres e não de uma doutrina; isso é importantíssi-mo. A vida de Jesus Cristo, se somarmos tudo o que Jesus Cristo disse e que está no Evangelho, não dá quinze páginas, mas o tempo todo ele está fazendo milagres (fa-zendo o paralítico andar, fazendo o cego enxergar, limpando a pele de leprosos etc..) e quando João Batista, da cadeia, manda alguns emissários perguntar a Jesus Cristo: “é você o Messias que estamos esperando ou devemos esperar por um outro?” (isso está em Mateus 11, 1-6) e Jesus responde: “vão e digam a João o que vocês viram e ouviram: vocês viram os paralíticos andan-do, viram os cegos enxergando, viram os leprosos aparecerem com a pele limpa”. O que Jesus Cristo fez? Ele deu um critério científico. As pessoas misturam as coisas e acham que a religião é uma questão de fé; eu digo que sim, a fé é um componente da religião, mas não é tudo. Quando Cristo diz ao paralítico “tua fé te salvou”, muito bem, a fé dá um motivo a Jesus para que ele ope-re o milagre, mas e a eficácia do milagre, é matéria de fé? O paralítico saiu andando ou apenas teve fé de que saiu andando? Então o terreno da discussão não é a fé, mas os fatos e o cristianismo é uma sucessão de fa-tos. Você achar que tudo isso é apenas ma-

téria de fé é loucura porque o que é matéria de fé na doutrina cristã são cinco ou seis itens, o resto é tudo matéria que pode ser discutida e provada e deve ser discutida e provada. E se você quer fatos ninguém for-neceu ao mundo mais fatos no século XX do que São Padre Pio de Pietrelcina, à base de cinco, seis, dez por dia; inclusive Padre Pio era confessor, mas era um confessor sui generis porque as pessoas não precisavam confessar os pecados, ele os confessava (a pessoa chegava para se confessar e ele dizia: “você fez aquilo mais aquilo mais aquilo”). Confessou o próprio pai no leito de morte, o pai tinha morado um tempo nos Estados Unidos e Padre Pio disse “então tem o caso daquela americana com quem você teve um caso” e o pai disse “tive mesmo”. Então, é a vida mais importante e mais bonita do sé-culo XX; quem quer que não seja sensível a isso é um idiota completo.

In Guardia: Em seu artigo “A inversão revolucionária em ação” (http://www.olavodecarvalho.org/semana/080721dc.html ), o Sr. fala em delírio de interpreta-ção e a trata como doença psiquiátrica. Olhando para o Ocidente sob o prisma do delírio da interpretação, quais são os prin-cipais sintomas desse mal e quais os seus efeitos sobre a alta cultura e sobre a vida cotidiana do homem moderno? Qual seria a forma mais adequada de profilaxia?OdeC: O delírio de interpretação foi uma sintomatologia descoberta no começo do

Olavo de Carvalho e sua esposa, Roxane, o filho, Pedro e a filha, Leilah

“A breve experiência que eu tive na

militância esquerdista despertou em mim uma série de perplexidades que levei 20 anos para resolver e eu não

podia ter feito nada disso sozinho

”In Guardia - 08

século XX, mais ou menos em 1910, pelo psiquiatra francês Dr. Paul Serieux. Ele defi-ne o delírio de interpretação dizendo que se distingue das outras patologias mentais por não implicar distúrbios sensoriais, são ape-nas distúrbios ideacionais, ou seja, o sujeito não está vendo coisas, não vê vacas voando, não vê duendes, não está conversando com sapos, nada disso, ele vê os fatos sensorial-mente como são, porém ele os monta num esquema fictício. O delírio de interpretação surge, em primeiro lugar, da perda da noção da estrutura da realidade, uma noção que é comum a todas as épocas e civilizações – não digo que isso seja fácil de verificar, mas é verificável que aquilo que Heráclito dizia que os homens acordados vivem todos no mesmo mundo e quando eles dormem vai cada um para o seu mundo – então é fácil de ver que todas as culturas e civilizações viveram no mesmo mundo, tinham a mes-ma noção da estrutura da realidade e esta noção se baseava essencialmente na distin-ção entre o que nós hoje chamaríamos de natural e sobrenatural ou entre o mundo visível e o que está para lá do mundo visí-vel ou o mundo sensorialmente acessível e o que está para além dele. No instante em que você perde essa noção e quer limitar o conhecimento humano só à esfera do que é visível você já está fora da estrutura da realidade e, a partir daí os efeitos, claro que isso começa nas altas esferas da filosofia, da ciência, mas isso acaba tendo efeito nas mentes individuais, elas são educadas nesse

padrão deformado, mutilado, nas suas pró-prias vidas individuais desenvolvem uma concepção também mutilada do espaço do tempo, de sua própria pessoa, da escala da realidade, quando você abole a noção de in-finitude e eternidade e começa a achar que aquele mundinho que você conhece é tudo, já está fora dela, vivendo uma escala falsa e, portanto, o delírio de interpretação se es-palha de maneira epidêmica por toda civi-lização do ocidente, sobretudo, à partir do séc. XIX, pois foi no séc. XIX que as ideias positivistas, materialistas se impuseram no ensino. Antes disso havia essas ideias, mas elas se limitavam aos intelectuais e, a par-tir do séc. XIX elas se tornam obrigatórias nas escolas, então, como se diz, é a imbe-cilização programada, na qual todo mundo é obrigado a achar que o mundo, tal como ser construído pelas ciências presentes é “o mundo”. Mas, se você somar tudo que as ciências sabem num determinado momen-to, você não compõe um mundo. Entre as várias ciências, tem-se a remotíssima pos-

sibilidade da intercomunicação entre as ciências, pois, por exemplo, como é que se faria a ligação entre a trigonometria e a fisiologia, as duas falam de realidades que existem num mesmo mundo, mas não há linguagem em comum entre elas. Isso quer dizer que os vários recortes da realidade es-tudados pelas várias ciências não compõe um mundo, compõe submundos ou peque-nos mundos, “o cosmos”, como disse Eric Voegelin. E nós não podemos viver nesses pequenos mundos, nós temos que viver no mundo real, que é um mundo único. Então, “concepção científica do Universo”, que eu saiba não existe nenhuma, pois, se somar tudo o que a ciência sabe, não é possível formar um Universo, no entanto, nós vive-mos num Universo cuja unidade é patente a um mundo só e é nesse mundo que nós vivemos, só que o padrão de unidade desse mundo não é objeto de nenhuma ciência e nem pode ser, pois o mundo como unidade é um fato concreto, não é uma teoria e não existe nenhuma ciência que possa estudar nenhum fato concreto porque a ciência só pode estudar, por definição, um recorte abs-trativo; e somando vários recortes abstrati-vos não é possível formar um único fato concreto, portanto, a unidade do mundo é um pressuposto da existência das ciências e não objeto de nenhuma delas. Não existe nenhuma forma de profilaxia, cada um tem que se virar.

In Guardia: Ao longo dos últimos anos, o Sr se envolveu em polêmicas com uma-série de autores de esquerda (Marilena Chauí, Emir Sader, Leandro Konder, Carlos Nelson Coutinho etc.) e até mesmo libe-rais (como na recente polêmica com Ro-drigo Constantino). Sabendo que o debate atual – pelo menos como exposto na mí-dia – se resume a discordâncias epidérmi-cas e sempre “respeitosas”, explique-nos a importância de sua adoção de um tom mais combativo e qual o efeito que o Sr espera exercer sobre o público?

OdeC: Em primeiro lugar, “polêmica” talvez não seria a palavra exata, pois, pelo gênero literário a que pertence esses inter-câmbios verbais são polêmicas, mas pela sua substância não são, porque a polêmica subentende, no mínimo, uma unidade de objeto, quer dizer, você tem um determi-nado objeto, uma pessoa tem uma determi-nada teoria sobre ele, outra tem uma teoria contrária e eles se confrontam. Eu nunca tive uma discussão deste tipo com nenhuma dessas pessoas, nem Marilena Chauí nem Emir Sader nem Leandro Konder nem Car-los Nelson Constantino. Tudo o que eu fiz foi denunciar empulhações, isso é comple-tamente diferente; pode-se dizer que eu tive agora uma polêmica com o Julio Lemos e Joel Pinheiro, pois houve um conjunto de

Olavo de Carvalho e sua esposa, Roxane, o filho, Pedro e a filha, Leilah

“Ser um escritor é participar da

tradição literária, ter incorporado séculos de técnica literária e prosseguir representando, se

conseguir inová-la ótimo, mas pelo menos, tem que manter o nível

” In Guardia - 09

fatos de ordem histórico-filosóficas, eles interpretam de um jeito e eu interpreto do jeito contrário, aí sim eu estou tentando provar que as ideias deles estão erradas, mas, eu nunca vi a D. Marilena Chauí, o Sr. Emir Sader, o Sr. Leandro Konder tendo ideia nenhuma, mas apenas empulhação, Rodrigo Constantino também não tem ideia nenhuma. Portanto, o que eu estou fazendo é um serviço de saneamento básico, então, eu acho que remover os empulhadores da vida intelectual é obrigação estrita de quem tem a capacidade para fazê-lo. A presença de certas pessoas, como, por exemplo, Car-los Nelson Constantino, que é um sujeito que até tem algum trabalho respeitável e a própria Marilena Chauí, que é uma das pessoas que já fez algum trabalho que vale ou que justifica a sua presença ali, mas o Sr. Emir Sader e o Sr. Rodrigo Constantino, eles não podem estar presentes na vida in-telectual do país, eles têm de ser removidos e devolvidos “revertere ad locum tuum”, vão pra cozinha, vão limpar banheiro, vão lavar chão, vão fazer alguma coisa que está na sua competência, não dê palpite em algo que está infinitamente acima de sua capa-cidade, nós não podemos permitir. Eu não acredito que ao denunciar essas empulha-ções eu esteja fazendo polêmica, pois esse pessoal não tem capacidade para polemizar comigo, nem um deles, contudo, pode-se chamar de polêmica sim, se quiser só pelo gênero jornalístico, não pela substância. Por exemplo, tudo o que eu escrevi sobre o Dicionário Crítico do Pensamento da Di-reita, que reúne 140 professores pagos com subsídios estatais e privados e você lê o Dicionário inteiro e não tem os pensadores fundamentais do conservadorismo anglo-saxônico nem francês nem coisa nenhuma, em suma, o título que eu dei quando escrevi a esse respeito: “tudo que você queria saber sobre a Direita e vai continuar não saben-do”, ou seja, não tem nada, é empulhação. Não há polêmica aí, é uma denúncia jorna-lística gravíssima. Eu acho que isso é mal-versação de dinheiro público e pessoas de-veriam perder os seus cargos por causa do que fizeram. Como chamar isso de polêmi-ca? E isso não tem nada a ver com posições políticas. O problema do pseudo-intelectual é um problema crônico no Brasil e que se agravou enormemente nos últimos anos, mas não dá pra dizer que seja crônico por-que em outras épocas a elite intelectual do Brasil até os anos 50 não tem comparação como que se tem agora. Na época, os escri-tores que estavam em circulação (nos anos 50 até os anos 60), Antonio Olinto, Josué Montello, Herberto Salles, Graciliano Ra-mos, Carlos Drummond de Andrade, todos eles tinham uma cultura literária universal, eles conheciam a literatura do mundo e, portanto, tinham referência de onde eles

estavam, sabiam onde estavam historicamen-te na tradição literária, hoje em dias as pessoas não sabem nada, estão soltas no ar, o sujeito tem uma opinião aqui outra ali, se apega a ela e acha que por isso é um intelectual. Veja só, esse Rodrigo Cons-tantino é tão burro que acha que pelo fato de ocupar um espaço na mídia, opinando, o torna um intelectual, mas não torna, de ma-neira nenhuma. Outro dia, esse sujeito estava usando a expressão re-ductio ad absurdum e dizia “o reductio ad ab-surdum”, ora não faça citação em outra língua que você não conhece. Essa expressão é femi-nina, portanto, é “a re-ductio ad absurdum”, então, isso é coisa de moleque de ginásio que quer mostrar uma cultura que não tem e onde ele pegou essa expressão “reductio ad absurdum”? Num livro meu, pois é, o su-jeito pega um livro, copia as palavras sem saber usar e fica tentando botar banca com isso, é uma coisa ridícula de ginásio, nin-guém faria isso nos anos 50, 60, nenhum es-critor faria isso nunca. A marca número um de um intelectual é ele reconhecer a limita-ção de sua cultura, saber quando ele estava entrando num terreno que não era o dele e, note bem, que o terreno que cada um deles ocupava era imenso. Eu estava falando de Josué Montello. Eu não conheço nenhum escritor importante que Josué Montello não tenha lido, então, o que é ser um escritor? Ser um escritor é participar da tradição li-terária, ter incorporado séculos de técnica literária e prosseguir representando, se con-seguir inová-la ótimo, mas pelo menos, tem que manter o nível. Hoje em dia as pessoas não fazem questão disto, por exemplo, o sujeito é um jornalista, eu digo muito bem, agora você me diga o que estudou sobre os limites e possibilidades da profissão de jor-nalista? Eu sou capaz de citar pelo menos dez ou vinte trabalhos que li exatamente so-bre isso, então, isso quer dizer que você está exercendo o jornalismo com a consciência do que está fazendo. Aí você pergunta para esses caras: o que você estudou a respeito, por exemplo, sobre a possibilidade cogni-tiva do jornalismo? Onde termina a inves-

tigação histórica e começa a investigação jornalística? Qual a diferença entre inves-tigação jornalística e investigação policial, judicial, histórica, científica? Eles nunca pensaram nisso, não têm a menor ideia, não conhecem o próprio terreno que estão an-dando. Então, para marcar diferença entre o que é esta confrontação que eu faço com essa gente e o que seria uma polêmica de verdade, eu adotei outra linguagem para falar desses camaradas. Eu tenho que mos-trar o meu total desrespeito por eles, eu não posso respeitá-los como interlocutores. Va-mos supor, se é para discutir com marxista, muito bem, eu posso discutir com Antonio Negri, posso discutir até com um porta-voz do marxismo, como Immanuel Wallerstein, Itsvan Meszaros, mas eu só posso discu-tir com esses, agora, eu vou discutir com Emir Sader? Não. Eu vou discutir com um homem que escreve Getúlio com “lh”? Eu tenho que dizer um palavrão e mandá-lo pra casa. Então, discutir com uma pessoa implica que você o aceita como interlocutor e eu não aceito essa gente como interlocu-tores. Eles não são interlocutores, não estão debatendo comigo, eu estou denunciando a presença de vigaristas empulhadores, não são ladrões no sentido “material” da coisa, mas fazem empulhação intelectual para a qual não existe punição judicial, infeliz-mente.

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Prezados irmãos e irmãs!Esta tarde gostaria de meditar convos-

co sobre dois aspectos, ligados entre si, do Mistério eucarístico: o culto da Eucaristia e a sua sacralidade. É importante retomá-los em consideração para os preservar de visões incompletas do próprio Mistério, como aquelas que se relevaram no passa-do recente.

Antes de tudo, uma reflexão sobre o valor do culto eucarístico, em particular da adoração do Santíssimo Sacramento. É a experiência que, também esta tarde, nós viveremos após a Missa, antes da pro-cissão, durante a sua realização e no seu encerramento. Uma interpretação unilate-ral do Concílio Vaticano II tinha penalizado esta dimensão, limitando praticamente a Eucaristia ao momento celebrativo. Com efeito, foi muito importante reconhecer a centralidade da celebração, no qual o Se-nhor convoca o seu povo, o reúne ao re-dor da dúplice mesa da Palavra e do Pão de vida, o alimenta e o une a Si no ofer-tório do Sacrifício. Esta valorização da as-sembleia litúrgica, em que o Senhor age e realiza o seu mistério de comunhão, per-manece obviamente válida, mas ela deve ser recolocada no equilíbrio justo. Com efeito — como acontece com frequência — para ressaltar um aspecto termina-se por sacrificar outro. Neste caso, a justa evidência conferida à celebração da Euca-ristia prejudicou a adoração, como gesto de fé e de oração dirigido ao Senhor Jesus, realmente presente no Sacramento do al-tar. Este desequilíbrio teve repercussões inclusive na vida espiritual dos fiéis. Com efeito, concentrando toda a relação com Jesus Eucaristia unicamente no momento da Santa Missa, corre-se o risco de esva-ziar da sua presença o resto do tempo e do espaço existenciais. E assim compreende-

se menos o sentido da presença constante de Jesus no meio de nós e conosco, uma presença concreta, próxima, no meio das nossas casas, como «Coração vibrante» da cidade, do povoado, do território com as suas várias expressões e atividades. O Sa-cramento da Caridade de Cristo deve per-mear toda a vida quotidiana.

Na realidade, é errado opor a cele-bração à adoração, como se uma com a outra estivessem em concorrência. É pre-cisamente o contrário: o culto do Santís-simo Sacramento constitui como que o «ambiente» espiritual em cujo contexto a comunidade pode celebrar bem e na ver-dade a Eucaristia. A ação litúrgica só pode expressar o seu pleno significado e valor se for precedida, acompanhada e seguida por esta atitude interior de fé e de adoração. O encontro com Jesus na Santa Missa re-aliza-se verdadeira e plenamente quando a comunidade é capaz de reconhecer que no Sacramento Ele habita a sua casa, nos espera, nos convida à sua mesa e depois, quando a assembleia se dissolve, perma-nece conosco, com a sua presença discreta e silenciosa, e acompanha-nos com a sua intercessão, continuando a receber os nos-sos sacrifícios espirituais e a oferecê-los ao Pai.

A este propósito, apraz-me sublinhar a experiência que juntos viveremos tam-bém esta noite. No momento da ado-ração, nós estamos todos no mesmo plano, de joelhos diante do Sacra-mento do Amor. O sacerdócio co-mum e o ministerial encontram-se unidos no culto eucarístico. É uma experiência muito bo-nita e significativa, que vive-mos várias vezes na Basíli-ca de São Pedro e também nas inesquecíveis vigílias

com os jovens — recordo, por exemplo, as de Köln, London, Zagreb e Madrid. É evi-dente para todos que estes momentos de vigília eucarística preparam a celebração da Santa Missa e predispõem os corações para o encontro, de tal modo ele seja ain-da mais fecundo. Estarmos todos em silên-cio prolongado diante do Senhor presente no seu Sacramento é uma das experiências mais autênticas do nosso ser Igreja, que é acompanhado de maneira complementar pela celebração da Eucaristia, ouvindo a Palavra de Deus, cantando, aproximando-nos juntos da mesa do Pão de Vida. Co-munhão e contemplação não se podem separar, pois caminham juntas. Para me comuni-car verdadeira-mente com ou-tra pessoa devo conhecê-la, saber estar em silêncio ao seu lado, ouvi-la e fitá-la com amor. O amor au-têntico e a ami-

A Homilia do Papa

Homilia do Papa Bento XVI, na Basílica de São João de Latrão, Quinta-feira, 7 de Junho de 2012

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zade verdadeira vivem sempre desta reci-procidade de olhares, de silêncios inten-sos, eloquentes e repletos de respeito e de veneração, de tal maneira que o encontro seja vivido profundamente, de modo pes-soal e não superficial. E infelizmente, se falta esta dimensão, também a própria comunhão sacramental pode tornar-se, da nossa parte, um gesto superficial. No en-tanto, na comunhão autêntica, preparada pelo diálogo da oração e da vida, nós po-demos dirigir ao Senhor palavras de con-fiança, como aquelas que há pouco resso-aram no Salmo responsorial: «Senhor, sou teu servo, filho da tua serva; / quebraste as minhas cadeias. / Hei-de oferecer-te sa-crifícios de louvor / invocando, Senhor, o teu nome» (Sl 115, 16-17).

Agora gostaria de passar brevemen-te ao segundo aspecto: a sacralidade da Eucaristia. Também aqui ressentimos, no passado recente, de um determinado de-sentendimento a respeito da mensagem autêntica da Sagrada Escritura. A novidade cristã em relação ao culto foi influenciada por uma certa mentalidade secularista dos anos sessenta e setenta do século passa-do. É verdade, e permanece sempre váli-do, que o centro do culto já não se encon-tra nos ritos e nos sacrifícios antigos, mas no próprio Cristo, na sua pessoa, na sua

vida e no seu mistério pascal. E todavia, desta novidade fundamental não se deve concluir que o sagrado já não existe, mas que ele encontrou o seu cumprimento em Jesus Cristo, Amor divino encarnado. A Carta aos Hebreus, que ouvimos esta tarde na segunda Leitura, fala-nos precisamen-te da novidade do sacerdócio de Cristo, «Sumo Sacerdote dos bens futuros» (Hb 9, 11), mas não afirma que o sacerdócio ter-minou. Cristo «é Mediador de uma nova aliança» (Hb 9, 15), estabelecida no seu sangue, que purifica «a nossa consciên-cia das obras mortas» (Hb 9, 14). Ele não aboliu o sagrado, mas completou-o, inau-gurando um novo culto, que é sem dúvida plenamente espiritual, mas que no entan-to, enquanto estivermos a caminho no tempo, ainda se serve de sinais e de ritos, que só virão a faltar no final, na Jerusalém celeste, onde já não haverá templo algum (cf. Ap 21, 22). Graças a Cristo, a sacralida-de é mais verdadeira, mais intensa e, como acontece no caso dos mandamentos, tam-bém mais exigente! Não é suficiente a ob-servância ritual, mas exigem-se a purifica-ção do coração e o compromisso da vida.

Apraz-me ressaltar também que o sa-grado tem uma função educativa, e inevi-tavelmente o seu desaparecimento empo-brece a cultura, em particular a formação

das novas gerações. Se, por exemplo, em nome de uma fé secularizada que já não precisa de sinais sagrados, fosse abolida esta procissão urbana do Corpus Christi, o perfil espiritual de Roma ficaria «nivela-do» e por isso a nossa consciência pessoal e comunitária seria debilitada. Ou então, pensemos numa mãe e num pai que, em nome de uma fé dessacralizada, privassem os próprios filhos de toda a ritualidade re-ligiosa: na realidade, acabariam por deixar este campo livre aos numerosos sucedâ-neos presentes na sociedade consumista, a outros ritos e sinais, que mais facilmente poderiam tornar-se ídolos. Deus, nosso Pai, não agiu assim com a humanidade: man-dou o seu Filho ao mundo não para abolir, mas para levar a cumprimento também o sagrado. No ápice desta missão, na última Ceia, Jesus instituiu o Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue, o Memorial do seu Sacrifício pascal. Agindo deste modo, Ele pôs-se no lugar dos sacrifícios antigos, mas fê-lo no âmbito de um rito, que ordenou aos Apóstolos que perpetuassem como si-nal supremo do verdadeiro Sagrado, que é Ele mesmo. Caros irmãos e irmãs, é com esta fé que nós celebramos hoje e cada dia o Mistério eucarístico e que O adoramos como Centro da nossa vida e âmago do mundo! Amém.

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«Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o Seu Filho, nascido de mu-lher... para que recebêssemos a adopção de filhos» (Gál. 4, 4-5).

Chegamos ao termo de um ano solar: dentro de algumas horas 1996 cederá a passagem ao novo ano, depois de ter atin-gido, para assim dizer, a sua plenitude cro-nológica e o ápice do caminho iniciado há 366 dias.

A expressão «plenitude dos tempos» tem um valor, podemos dizer, histórico, porque nos recorda que o ano já a termi-nar nos aproxima, a grandes passos, do iní-cio do terceiro milênio. Contudo, com essa expressão São Paulo, na Carta aos Gálatas, quer evocar uma dimensão mais profunda que faz referência a quanto se realizou na gruta de Belém: «Deus enviou» ao mundo «o Seu Filho, nascido de mulher» (Gál. 4, 4). Nestas palavras revive o evento miste-rioso da Noite Santa: o unigênito e eterno Filho de Deus, «por obra do Espírito Santo encarnou no seio da Vir-gem Maria e fez-Se homem» (Símbolo Niceno-Constanti-nopolitano). Entrou na histó-ria dos homens e como que a superou.

Com efei-to, pode-se definir dou-tro modo o i n g r e s -so de D e u s n a his-t ó -ria,

senão como superação da própria histó-ria? Quando Deus Se fez Homem, o tem-po no seu cadenciar de anos, de séculos e milênios foi introduzido na dimensão da eternidade divina: de fato, vindo ao mun-do, mediante o Seu Filho Unigênito, Deus quis unir entre si as dimensões do tempo e da eternidade. Ao referir-se a isto, a litur-gia hodierna torna- nos conscientes duma perspectiva nova: com a Encarnação do Verbo o tempo do homem é chamado a participar da eternidade de Deus.

Como acontece tudo isto? À pergunta dá resposta a leitura da liturgia hodierna das Vésperas: «Deus enviou» ao mundo «o Seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei, para resgatar os que se en-contravam sob o jugo da Lei e para que recebêssemos a adoção de filhos» (Gál. 4, 4-5). Por isto o Verbo Se fez carne e habi-tou entre nós, para que nós, acolhendo-O, recebêssemos a adoção de filhos.

O apóstolo João, no Prólogo do seu Evan-gelho, proclama com admiração: «O Ver-bo fez-Se homem e habitou entre nós... A todos os que O recebe-ram... deu-lhes o poder de se

tornar filhos de Deus» (Jo. 1, 14.12). O Unigênito, consubs-t a n c i a l

ao Pai, veio ao mundo

a fim de, mediante

a graça santificante, serem regenerados todos os homens, chamados ao alto privi-légio de se tornarem, por adoção divina, «filii in Filio», filhos no Filho.

A Igreja professa esta verdade acerca da plenitude do tempo e quer proclamá-la hoje dum modo muito singular. Como Bispo de Roma e Sucessor do Apóstolo Pedro, cuja missão é anunciar o Evangelho Urbi et Orbi, tenho razões especiais esta tarde para louvar a Deus pela «plenitude do tempo» e pela salvação que se actua no mundo, mediante o ministério eclesial. Te-nho singulares motivos de agradecimento ao Senhor por aquilo que a nossa comu-nidade eclesial, centro da Igreja universal, faz de modo particular ao serviço da cida-de de Roma: com efeito, ela é em primeiro lugar enviada aos cidadãos romanos, como outrora lhes foram enviados os apóstolos Pedro e Paulo. Desde aquela época passa-ram-se cerca de dois mil anos e, no arco destes dois milênios, o mandato conferido à Igreja de Roma produziu inúmeros frutos de bem.

Esta tarde, neste magnífico templo si-tuado no centro da Urbe, na nossa ação de graças queremos fazer menção de todo o benefício operado por Deus, através do ministério apostólico tanto na Igreja uni-versal como na nossa Cidade. Desejo dar graças ao Senhor, de modo especial, pelos resultados alcançados no ano que está para terminar, durante o qual, ao aproxi-mar-se a conclusão do segundo milênio, iniciamos a preparação próxima para o Grande Jubileu.

Tenho ainda diante dos olhos o magní-fico espetáculo da última Vigília de Pente-costes. Naquela circunstância a Igreja que está em Roma, nas suas diversas compo-nentes — Bispos, Sacerdotes, Famílias re-

A Homilia de Pedro

Homilia do Papa João Paulo II na Solene Celebração do Te Deum de Ação de Graças

«... E o meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador. Porque olhou para a humilde condição da Sua Serva» (Lc. 1, 47). Com Maria assim canta a Igreja que está em Roma, redescobrindo quotidianamente a sua

fragilidade e as maravilhas que Deus realiza n’Ela.

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ligiosas e fiéis leigos, em representação de todo o Povo de Deus — deu solenemente início à preparação imediata do Ano San-to, com o lançamento da grande Missão da Cidade.

O meu pensamento dirige-se, além disso, às paróquias e às comunidades que viveram no ano corrente a graça da Visita pastoral: Santo António de Pádua na Cir-cunvalação Ápia; São Cleto, São Júlio, São Vicente Pallotti, Santa Maria «Causa Nos-trae Laetitiae», Santa Bibiana, Beato José Maria Escrivá, Santa Madalena de Canos-sa, na primeira parte do ano, e, recente-mente, São Jerônimo Emiliano e Nossa Se-nhora de Valme. O número das paróquias até agora visitadas são assim 251; faltam ainda 77.

Por todos estes eventos e pelo serviço prestado à Igreja de Roma, estou grato ao Cardeal Vigário e a vós, caros Irmãos Bis-pos Auxiliares, juntamente com os páro-cos, os vigários paroquiais e os sacerdotes que trabalham na nossa Cidade. Agradeço aos Religiosos e às Religiosas, assim como aos leigos empenhados nas várias ativida-des apostólicas e a todos dirijo uma cordial e fraterna saudação.

Desejo, além disso, exprimir a minha gratidão a todos os fiéis da Diocese de Roma. Obrigado, Irmãos e Irmãs! Obriga-do, famílias romanas, «igrejas domésticas » (cf. Lumen gentium, 11), primeiras e fun-damentais células da sociedade! Obrigado,

membros das muitas Comunidades, Asso-ciações e Movimentos empenhados em animar a vida cristã da nossa Cidade!

Saúdo com vivos sentimentos de grati-dão o Padre Peter-Hans Kolvenbach, Pre-pósito-Geral da Companhia de Jesus, e os Padres Jesuítas que trabalham nesta igreja. Apresento, também, uma saudação cordial às Autoridades Civis presentes e, de modo especial, ao Presidente da Câmara Munici-pal de Roma, agradecendo-lhe o dom do cálice que, segundo uma bonita tradição, cada ano se renova. De coração faço votos por que jamais falte o empenho de todos para dar à Cidade uma feição mais de acor-do com os valores de fé, de cultura e de civilização que promanam da sua vocação e da sua história milenária, também em vista do Grande Jubileu do Ano 2000.

Caríssimos Irmãos e Irmãs, haurindo inspiração e encorajamento das palavras do apóstolo Paulo aos Gálatas, recordadas nesta liturgia das Vésperas, sirvamos jun-tos a única causa da Redenção: a partir do momento em que Deus enviou o Seu Filho unigênito, para que nós pudéssemos obter a filiação adoptiva (cf. Gál. 4, 5), não pode existir para nós maior tarefa do que a de estarmos totalmente ao serviço do projeto divino.

«A minha alma glorifica ao Senhor!» (Lc. 1, 46). Este cântico, brotado do cora-ção de Maria por ocasião da visita à Santa Isabel, possa tornar-se hoje expressão da

nossa ação de graças. A Igreja repete-o cada dia, recordando-se de todos os bene-fícios de que se sente colmada.

«... E o meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador. Porque olhou para a humilde condição da Sua Serva» (Lc. 1, 47). Com Maria assim canta a Igreja que está em Roma, redescobrindo quotidiana-mente a sua fragilidade e as maravilhas que Deus realiza n’Ela.

«Desde agora todas as gerações me hão-de chamar ditosa, porque me fez gran-des coisas o Omnipotente. É Santo o Seu nome e a Sua misericórdia vai de geração em geração para aqueles que O temem» (Lc. 1, 48-50).

Estamos aqui para anunciar as mise-ricórdias realizadas pelo Senhor no arco do ano que está a terminar. Estamos aqui para, com a alma repleta de gratidão, nos dispormos a cruzar, à meia-noite, o limiar do ano de 1997.

Te Deum laudamus...A Vós, ó Deus, louvamos,a Vós, Senhor, cantamos.Eterno Pai,adora-Vos toda a terra...Tende piedade de nós, Senhor,tende piedade de nós.Vós sois a nossa esperança,jamais seremos confundidos.

Amém!

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Em 1991, fui convidado pelo Ministro da Justiça do Paraguai, com outros constitucionalistas de outros países latino-ameri-canos, para proferir palestras sobre a Constituição Brasileira. À época, o Paraguai se encontrava em processo constituinte, em vias de promulgar a Constituição que hoje rege os destinos da nação.

Entre os temas que abordei, expliquei-lhes que toda a Consti-tuição brasileira fora formatada para um regime parlamentar de governo, só na undécima hora tendo se transformado numa Lei Maior presidencialista. Talvez, por esta razão, o equilíbrio de Po-deres foi realçado, ao ponto de, apesar de nossas crises políticas (“impeachment” presidencial, crise do orçamento, dos anões, superinflação, alternância do poder, mensalão etc.) jamais ter-se falado em ruptura institucional.

Lijphart, em seu livro “Democracies”, de 1984, detectou, em todo o mundo, apenas 20 países em que não houvera ruptura institucional depois da 2ª. Guerra. Dezenove eram parlamenta-ristas e um presidencialista (EUA). Ulisses Guimarães pediu-me o livro emprestado, mas preferi enviar-lhe um exemplar - lembran-do da advertência de Aliomar Baleeiro, que dizia ter amigos que fizeram sua biblioteca com livros emprestados.

Sou parlamentarista, desde os bancos acadêmicos, e sempre vi no parlamentarismo um sistema de “responsabilidade a prazo incerto” – eleito um irresponsável para a chefia do governo, pode ser afastado, sem traumas, tirando-lhe o Parlamento o voto de confiança — e no presidencialismo, um regime de “irresponsabi-lidade a prazo certo”, pois, eleito um irresponsável, só pode ser afastado pelo traumático processo de “impeachment”.

O Paraguai adotou o regime presidencial, mas, no artigo 225

de sua Constituição, escolheu instrumento existente no sistema parlamentar para afastar presidentes que: a) tenham mau de-sempenho; b) cometam crimes contra o Poder Público; c) come-tam crimes comuns.

Tendo tido um voto na Câmara dos Deputados e quatro no Senado, Lugo foi afastado do governo, NOS ESTRITOS TERMOS DA CONSTITUIÇÃO, por mau desempenho.

É de se lembrar que o Parlamento tem representantes da to-talidade da Nação (situação e oposição), enquanto o Executivo, só da maioria (situação).

Tanto foi tranqüilo o processo de afastamento no Paraguai, que não houve manifestações de expressão em defesa do ex-pre-sidente. As Forças Armadas nem precisaram enviar contingentes à rua e Lugo continuou com toda a liberdade para expressar suas opiniões e até para montar um governo na sombra.

Processo digno das grandes democracias parlamentares, mas difícil de ser compreendido pelo histriônico presidente venezue-lano, que usa de todos os meios para calar a oposição e a impren-sa; pela aprendiz de totalitarismo, que é a presidente argentina, que tudo faz para eliminar a imprensa livre em seu país; ou pelos dois semi-ditadores da Bolívia e do Equador.

O curioso foi o apoio da presidente Dilma a esta “rebelião de aspirantes a ditadores”, pisoteando a democracia e a Lei Supre-ma paraguaia, a fim de facilitar a entrada no MERCOSUL de um país, cuja monoeconomia só permitirá a seu conturbado presi-dente permanecer no poder, enquanto o preço do petróleo for elevado.

Decididamente, a ignorância democrática na América Latina tem um passado fantástico e um futuro deslumbrante.

Ives Gandra Martins

Democracia Paraguaia

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É certo que o Brasil, conduzido por Dilma Rousseff e o PT, está a caminho do desastre. Na economia já fizeram soar os clarins do apocalipse. No plano das liberdades, as ameaças são antigas e continuadas. No da moral e dos bons costumes, temos assistido à criminalização das virtudes e a autorização legal (quando não a compulsoriedade) para a prática dos vícios,tresvalorando todos os valores.

Ontem vi pela TV a cabo a fantasia cinematográfica do Quen-tin Tarantino, Bastardos Inglórios. Belo filme, a crônica do que poderia ter sido se quem podia dizer não o tivesse feito em tem-po hábil. Toda gente sabia o que viria. Em 1929 Thomas Mann proferiu seu famoso discurso contra o nazismo. Raymond Aron, em 1932, também escreveu contra a loucura. Ortega y Gasset, Eric Voegelin, e Joseph Strauss também, mas nenhum deles tinha poder para tornar seu não efetivo. Todos que poderiam dizer não e tinham poder tornaram-se sócios da empreitada nazista. Nos primeiros anos tiveram lucros certos e espetaculares. Depois veio o mergulho no abismo.

Quem pode dizer não ao PT hoje? Alguém diria: os eleitores. Ora, depois da propaganda maciça, da anestesia injetada no sis-tema educacional, da adesão interesseira das elites econômicas (os banqueiros em primeira hora, mas estes já estão purgando seus pecados), a classe política inteira e até mesmo o estamento militar não têm como dizer não ao aprofundamento da loucura política. Eu reconheço a extrema competência com que os revolu-cionários petistas estão conduzindo a coisa. Em oito anos de Lula, por exemplo, não ousaram mexer nos fundamentos da política monetária. Agora estão à vontade para ditar aos bancos regras draconianas, mesmo que sejam contra as leis econômicas.

Os eleitores não dirão não porque não têm senso crítico e a propaganda utilitarista recomenda mesmo é a troca de votos pelo benefício imediato oferecido pelos governantes. Vivemos a falsifi-cação plena da democracia. Perdeu-se o medo coletivo da tirania. Nem mesmo os exemplos históricos das experiências tiranas pa-recem acordar a massa, que adormeceu letargicamente.

Os políticos são sócios maiores do butim, assim como os grandes empresários. Nenhum deles se colocará como oposi-ção ao PT e sua loucura. Fazer oposição custa caro e empobre-ce.

A elite intelectual menos ainda. Não apenas é sócia, ela é

quem pôs o PT no poder e é a gestora de sua aventura governan-te. Está no poder. Não há dissenso quanto ao gosto com que vê o PT no poder. O mesmo vê-se na imprensa, cevada com verbas publicitárias e com as redações entregues aos militantes partidá-rios. Nunca dirão não.

E a Justiça? Bem vimos as recentes decisões do STF. Os minis-tros deixaram a majestade da toga para envergarem a bandeira partidária e agora deliberam como resignados e obediente mi-litantes partidários. O Ministério Público também está grande-mente tomado pela militância do PT, bem como a magistratura de primeira e segunda instâncias. A Justiça não é mais órgão de Estado, mas órgão partidário.

Quem pode dizer não, então? Ninguém. Alguns podem até ver com clareza o desastre que se aproxima e saber exatamente o que se passa. Mas gente assim está politicamente e economi-camente iso- lada e não tem como influir no processo. E, se ten- tar, entrará na condição de alvo dos

chefes do regime. Como aconte-ceu com a fraca e quase inexis-

tente resistência ao nazismo, na Alemanha.

O Brasil terá que viver integralmente seu desti-no trágico, cujos acon-tecimentos são de difícil previsão. Beberá, até a última gota, do cálice preparado pelas esquer-

das.

José Nivaldo Cordeiro

Quem pode dizer não

In Guardia - 16

Avanço do Satanismo

“No mundo, há um mal agressivo, que Satanás

guia e inspira. Vivemos dias tenebrosos e somos assaltados

pelo mal”, Papa João Paulo IIIn Guardia - 17

Por Pe. Inácio José do Vale Em entrevista á Rádio Vaticano, Aldo

Bonaiuto, do serviço anti-seitas da Asso-ciação João XXIII, alertou para o aumento de seitas satânicas na Itália e indicou que seu crescimento afeta e especialmente os jovens.”Segundo estatísticas recentes, pelo menos meio milhão de pessoas tem contato mais ou menos freqüente com tais organizações ,conhecidas geralmente através da musica, dos filmes e dos sites da internet “, explicou.

“Os jovens estão rodeados por estas mensagens, que falam mais do mal que do bem, mais da morte do que da vida, mais do diabo do que de Deus. Não esqueçamos que, dentro destas seitas, quase sempre há consumo de drogas, assim como ritos muitos particulares com presença da se-xualidade, pelos quais os jovens se deixam influenciar. Normalmente tais associações são criadas com fins lucrativos, para sub-meter e manipular as pessoas e depois ob-ter lucro”, afirma Bonaiuto.

Assim, é necessária uma maior sensi-bilização e formação nas escolas, especial-mente através dos professores de religião, e nas paróquias. Para isso, concluiu Aldo Bonaiuto, “é fundamental a correta forma-ção dos sacerdotes” (1).

Diante desse mundo tenebroso requer sacerdotes santos e sábios para informar e formar na verdade do Evangelho liber-tador o povo de Deus. O grande “Doutor Angélico”, Santo Tomás de Aquino disse muito bem que o padre deve pregar e ensinar com autoridade, porque ele é o instrumento e ministro de Deus. Portanto, ele tem autoridade, está revestido da au-toridade do Senhor Deus para este ofício. Desejo do demônio: tornar possessos em-presários e políticos

O Padre Gabriel Amorth, exorcista ofi-cial da diocese de Roma, explicou á revista “Maria Mensageira” que Satanás “gosta de apossar de pessoas que exercem car-gos de responsabilidade, empresários, políticos”. E acrescentou que Hitler e Sta-lin foram possessos, em virtude de “uma aceitação total e voluntaria das sugestões do diabo, que trabalha em toda parte. [...] E com toda segurança age também no Va-ticano, no próprio centro do cristianismo”. Essas impressionantes revelações tornam imperiosa a necessidade de recorremos com maior empenho e confiança às armas sobrenaturais, que põem em fuga o pai da mentira (2). O jornalista e historiador americano Timothy W.Ryback em seu livro Hitler’s private liberary: the books that slr-ped his life, escreve que o ditador nazista gostava de ler: guias de turismo, romances baratos de caubói e livros de ocultismo.

Adolf Hitler disse: “Torne a mentira grande, simplifique-a, continue afirman-

do-a, e eventualmen-te todos acreditarão nela”.

Realmente, Hitler foi um fiel discípulo do pai da mentira. “O dia-bo é homicida desde o principio e não perma-nece na verdade, por-que nele não há verda-de: quando ele mente, fala do que lhe é pró-prio, porque é mentiro-so e pai da mentira” (Jo 8, 44).

Estima – se que existam hoje na Rússia cerca de 800mil curan-deiros. O fato é que os curandeiros fazem parte da cultura Russa há muito tempo e nin-guém deixou de acredi-tar neles , nem mesmo durante os 70 anos de comunismo ateu. O presidente Leonid Brejnev cercou-se sem-pre de curandeiros e consultores espiritu-ais (3).

“Britânico recebe autorização para pra-ticar satanismo na Marinha”

Chris Cranmer, de 24 anos, foi autori-

zado a declarar sua religião como satanista pelo capitão do navio HMS Cumberland. Agora, ele tem permissão até para reali-zar rituais satânicos a bordo do navio. De acordo com o jornal Sunday Telegraph, “Cranmer percebeu que era um satanista há nove anos”. Ele disse que, na época, se

Padre Gabriele Amorth, exorcista do Vaticano

In Guardia - 18

Cena do filme “O Ritual”

deparou com uma cópia da Bíblia Satâni-ca, escrita pelo fundador da igreja de Satã, Anton Szandor La Vey .

O oficial da marinha, que é de Edim-burgo, na Escócia, agora esta fazendo lo-bby junto ao Ministério da Defesa para fa-zer do Satanismo uma religião oficializada

nas Forças Armadas. A igreja de Satã foi estabelecida em San Francisco , nos Esta-dos Unidos, em 1966. La Vey foi o principal sacerdote até a sua morte, em 1997 (4).

No Reino Unido muitos templos evan-gélicos foram transformados em estabele-cimentos comerciais ou menos em locais de ocultismo (5).

Na Itália, a Igreja Católica perdeu mais de 10 milhões de fiéis para as filosofias da Nova Era, para as seitas e para o ocultismo e secularismo.

Estima-se que haja 100.000 magos de tempo integral, que oferecem consultas: quase três vezes o número de sacerdotes católicos. O satanismo é forte no Norte, e Turim é um dos centros globais destas ati-vidades (6).

A pesquisa-dora e professora Grace Davie da Universidade de Exeter, na Grã – Bretanha, num estudo sobre re-ligião européia, disse: “As pessoas simplesmente es-colhem e mistu-ram o que encontram na várias religiões disponíveis. A religião, como tantas outras coisas, entrou para o mundo das opções, estilos de vida e preferências”.

Ação diabólica O Papa Paulo VI, na audiência públi-

ca de 15 de novembro de 1972, fala sobre sinais da presença da ação diabólica: “Po-demos admitir a sua ação sinistra onde a negação de Deus se torna radical, sutil ou absurda; onde o engano se revela hipócri-ta , contra a evidencia da verdade ; onde o amor é acumulado por um egoísmo frio e cruel ; o nome de Cristo é empregado com ódio consciente e rebelde: onde o espírito do Evangelho é falsificado e desmentindo; onde o desespero se manifesta como a úl-tima palavra”.

Satanás não foi criado com esse nome. Esse é um nome descritivo que significa “Adversário; Inimigo; Acusador”. Ele pas-sou a ser chamado de Satanás porque faz oposição a tudo que é direcionado á Deus. (Mt 13,19. 25; 1Pd 5, 8 ; Ap 12,10). O termo “diabo”, significa no grego “calu-niador”, “tentador”. Também foi acrescen-tado á descrição desse ser como homicida e pai da mentira (Mt 4 , 1 – 4 ;Jo 8 ,44). Satanás – diabo, o chefe dos demônios (Mt 12,22-28 ;MT 25,41; Lc 10,17-20;Ap 12,9). Jesus Cristo inaugurou o Reino de Deus neste mundo e veio pôr fim ao reino de sa-tanás (Mt 12, 28 : Lc 10,17.18; Jo 12, 31). O santíssimo nome de Jesus faz os demô-nios estremecerem e serem expulsos (Mc 16,17;Lc 10 ,17;At 16,16 -18).

O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica descreve: “Jesus acompanha a sua palavra com sinais e milagres para atestar que o reino está presente nele , o Messias. A expulsão dos demônios anuncia que a sua cruz será vitoriosa sobre o “príncipe deste mundo” (Jo 12,31)(nº108)”. A ação diabólica é derrotada pelo sangue do Cor-deiro Imaculado e pala Palavra de Deus (Ef 6,17; Ap 12,11).

Não temos medo de Satanás e seus de-mônios. Escreve São João Apóstolo: “Vós, filhinhos, sois de Deus e vós os vencestes. Porque o que está em vós é maior do que aquele que esta no mundo”(1 Jo 4,4). “O demônio teme a alma unida a Deus como ao próprio Deus”, afirma o Doutor da Igre-ja e grande místico São João da Cruz.

Conclusão Grande é a

nossa responsa-bilidade de anun-ciar a verdade do Cristo libertador num mundo to-mado pela Nova Era e pelas seitas satânicas. Evan-gelizar é enfren-

tar os desafios da sociedade materialista e capitalista, da intolerância e do terrorismo religioso, do relativismo e da banalidade do homem pós-moderno. O ser humano vive hoje um vazio terrível e aventuras mortais. Oprimido e escravo da superficia-lidade ideológica. Torturados pelos vícios e sem chegar a lugar algum: perdido e hu-milhado.

O homem sem a graça de Deus esta morto em seus delitos e pecados (Ef 2,1-8). Sem o Cristo libertador, ele está preso nos laços do diabo (2 Tm 2,26).

Sem a luz do Espírito Santo, ele vive na escuridão do príncipe das trevas (Ef 5,12). A nossa missão é impactar o mundo com pregação do Evangelho de poder e com o nosso testemunho cristão. Proclamar ao homem que ele só pode ter paz “no Prín-cipe da Paz “(Is 9,5). Vida, só com o “Prín-cipe da Vida” (At 3,15) e salvação eterna, só com o “Salvador, que é o Cristo-Senhor” (Lc 2, 11). Somente no Salvador Jesus Cris-to o ser humano tem a felicidade de viver aqui e a certeza da vida eterna nos beati-tudes celestiais.

Notas:(1) Mundo e Missão, nº126, p.9.(2) Catolicismo, nº692, p.13.(3) O globo, 07/09/2008, p.49.(4) Vida e Religião, nº 2, p.7.(5) Graça / show da Fé, outubro de 2003, p. 72.(6) Revista Alcance, 3º trimestre de 2005, p. 25.Veja-Edição Especial, abril de 2005 p. 6.

Padre Gabriele Amorth, exorcista do Vaticano

“Podemos admitir a sua ação sinistra onde a negação de Deus se torna radical, sutil ou absurda”, Papa Paulo VI sobre a influência do Mal

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Cena do filme “O Ritual”

Não é de hoje que a democracia é desrespeitada pelos gover-nantes petistas no Brasil. Após uma imensa propaganda pelo de-sarmamento da população, o governo se viu derrotado pela mes-ma, em 2005, no chamado “Referendo do Desarmamento”. Uma imensa maioria da população (63,94%) disse não à retirada do seu direito de possuir uma arma para se defender. Mas, a vontade da maioria, em face à praxe do PT das minorias derrotadas e fun-dadas no “coitadismo” histórico, não foi novamente respeitada.

Atualmente, o acesso ao porte de arma para o cidadão de bem é mínimo - para não dizer raro -, enquanto os bandidos continuam se armando das mais diferentes e criativas maneiras possíveis. A mídia afirma que no ano de 2009 em São Paulo foram concedidos somente 47 portes de armas para civis, uma verdadeira vergonha para um Estado de quase 42 milhões de habitantes e altos índices de criminalidade.

Quando se clama por armar a população, não se trata, caro leitor, de uma causa unicamente relacionada à segurança pública como um todo, mas da garantia à vida do senhor e de sua família em um hipotético e muito possível caso de grave ameaça. Em ter-mos ainda mais específicos, trata-se de um direito natural de toda a pessoa: o de legítima defesa.

O argumento politicamente correto dos desarmamentistas padece nas suas indiferenças em debaterem um fato muito simples e claro: armas, por si só, não matam pessoas; pes-soas matam pessoas. Além do mais, como afirmar arbitraria-mente que cada cidadão brasi-leiro não é inocente e idôneo para possuir uma arma em casa? Não obstante, pessoas relativamente inocentes, sem qualquer forma de defesa pro-porcionais às ameaças comuns dos criminosos, possuem muito mais chances de saírem de tais situações com graves danos ou mesmo sem vida. Eis a verdade do desarmamento: a única garantia concedida é exclusiva aos que praticam esses delitos, que, com a segurança de não serem surpreendidos ao atentarem contra o bem-jurídico pessoal, se tornam livres para praticarem as mais brutais e cruéis ameaças à vida dos brasileiros.

O resultado da garantia dada pelo PT aos bandidos, de que todo cidadão brasileiro estará indefeso no momento em que ti-ver a vida ameaçada, está tatuada nas estatísticas de aumento de homicídios. Os grupos desarmamentistas ligados ao governo já conseguiram o que desejavam, que era desarmar a população,

mas porque seus planos se mostraram errados - no sentido de conter a criminalidade - agora procuram alternativas que atingem diretamente a liberdade da pessoa, como a imposição da proibi-ção do comércio de álcool noturno, a negociação com criminosos para a manutenção da paz local ou até mesmo a liberação de todo e qualquer tipo de drogas para “quebrar” o tráfico.

O Catecismo da Igreja Católica expõe o conceito de legítima defesa em seu §2263:

“A legítima defesa das pessoas e das sociedades não é uma ex-ceção à proibição de matar o inocente, que constitui o homicídio voluntário. ‘Do ato de defesa pode seguir-se um duplo efeito: um, a conservação da própria vida; outro, a morte do agressor’ ‘Nada impede que um ato possa ter dois efeitos, dos quais só um esteja na intenção, estando o outro para além da intenção’.”

Ainda neste sentido, em casos extremos, nos quais nada mais pode ser feito para impedir uma agressão - com a absoluta cer-teza acerca da responsabilidade do agente -, a Doutrina da Igreja afirma ser válida a possibilidade da aplicação da pena de morte, conforme o §2267 do Catecismo, visto que a dignidade daque-le que agride outra pessoa dotada de dignidade é renunciada

no ato em que se consumou a agressão. São Tomás Morus, no seu livro “A Utopia”, foi mais além: opinava - para seus tem-pos - que o Estado, em face de um homicida, possuiria todo o direito de condená-lo à morte por este ter este tirado a vida de um inocente, e, alternativa-mente, de torná-lo um escravo público, assim conciliando a justiça e a utilidade pública em face do agressor.

Enquanto o governo do PT desobedece a população e pro-move campanhas para desar-má-la periodicamente, cente-nas de brasileiros, no momento

que protegem suas vidas de uma ameaça real, exercendo a legí-tima defesa, são acusados de crime por porte ilegal de arma. De fato, como registrar uma arma de forma legal, urbana e respon-sável, se o governo, além de não conceder o porte, irá se apossar do único meio de defesa proporcional a essas ameaças? O caso da anarquia gerada pelo desarmamento no Brasil somente reflete o problema de ideologias de esquerda, contrárias aos direitos fun-damentais da pessoa, manterem-se no poder: o eterno discurso politicamente correto e a retórica populista, à custa incontável de vidas inocentes. Até quando teremos de conviver com estes ditadores disfarçados de “pais dos pobres”?

Enquanto o governo do PT desobedece a população e promove

campanhas para desarmá-la periodicamente, centenas de brasileiros, no momento que

protegem suas vidas de uma ameaça real, exercendo a legítima defesa, são acusados de crime por porte

ilegal de arma

Bruno Dornelles de Castro

Legítima defesa: direito natural da pessoa

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São João Batista Maria Vianney - O santo Cura d´ArsA vida, o sacerdócio, os milagres e a paixão

deste grande santo da Igreja Católica

Por Ana Maria Bueno Cunha

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“Conta-se que, ao aproximar-se a or-denação de João Batista, o Vigário Geral de Lyon, reunido com alguns padres, pon-deraram a inconveniência em conceder-lhe o sacramento da Ordem, porque “era muito burro”, conforme comentaram en-tre si num momento de reunião, não com maldade, mas com a sinceridade de quem estava convencido da incapacidade inte-lectual de quem iria assumir tão elevado cargo.

Nesse momento, João Batista estava a chegar e ouviu ainda na sala de espera, o constrangedor comentário. Aguardou a saída dos padres e foi ter com o Vigário. Antes de iniciar a conversa, o Santo pediu licença para falar e disse: “Padre, se com uma fisga feita da mandíbula de um burro, David conseguiu derrubar Golias, imagine o que o Senhor poderá fazer tendo nas mãos um burro inteiro!” Estas palavras foram suficientes para revogar a intenção do vigário que, logo de seguida, o enviaria para a comunidade de Ars.

Apesar da história se parecer a princí-pio engraçada, e para alguns digna de co-miseração, ela só nos mostra como Deus age através de quem Ele quer, como e quando Ele quer. São João Maria Vianney é um santo, que pelo menos a mim, causa compunção e desejo de ser humilde, sim-ples e oculta. Sua vida instigante, aos olhos do mundo até medíocre, nos faz ver com absoluta certeza a ação divina nesta terra.

São João Maria Vianney nasceu em 1786 e morreu em 1859 - Sua memória é comemorada em 4 de agosto. Foi cano-nizado em 1925 e é considerado Patro-no dos sacerdotes, porque soube ser um sacerdote exemplar, por ter amado e se desgastado pelo seu ofício. Sua vida retra-ta o poder da graça divina que o lapida a ponto de tudo perder para o mundo, para ganhar almas de Deus para Deus. Sua hu-mildade, suas lutas contra o demônio, sua luta para a santidade, seu ardor pela Igreja e, sobretudo, pela Santa Eucaristia e pelo

Sacramento da Confissão devem ser subli-nhadas e retratam bem este santo mara-vilhoso.

Nascido de família humilde, mas mui-to devota, teve nos pais camponeses um exemplo de amor a Deus e serviço aos mais necessitados. Em sua época, o terror imperava por conta da Revolução Fran-cesa; padres eram exilados, muitos eram mortos, Igrejas eram fechadas, havia, por-tanto, uma verdadeira perseguição aos cristãos. E foi exatamente neste cenário que São João Maria sente o chamado de Deus para o sacerdócio, aliás, desde ga-rotinho gostava de se afastar para rezar. Queria se desgastar, e este foi sempre o seu lema. Recebeu a primeira comunhão aos 13 anos e a Crisma aos 20 anos, onde recebeu o nome “Batista”.

Após receber o consentimento dos pais para ingressar no Seminário, enfrentou muitas dificuldades nos estudos, pois não conseguia entender o latim e filosofia. Sua dificuldade era tal que chegou a ser des-pedido do Seminário de Lyon. Deus então lhe envia um santo sacerdote que o ajuda,

e foi somente com esta ajuda amorosa do incansável do Pe. Balley, que o ensinou em francês , pode, então, completar seus es-tudos. Ordenado sacerdote aos 29 anos, em 1815, foi vigário de Ecully durante três anos, mas não obteve permissão para ou-vir confissões, pois não era considerado capaz de guiar consciências, o que muito o entristeceu; mas como estava dispos-to a obedecer e tudo fazer pelas almas, a mortificação e a obediência foram por ele escolhidas como meio. Somente três anos depois conseguiu a liberação para confes-sar; seu carisma de santidade já o fazia es-pecial diante de alguns.

Deus então o envia a Ars – e foi ali onde ficou por 42 anos que pode exercer seu pa-pel de santo sacerdote. Santo no sofrimen-to, santo nas injúrias, santo no desapego, santo no amor incondicional. Ao chegar em Ars, a Igreja estava praticamente va-zia e as tabernas lotadas. A população dis-tante de Deus precisou ser chamada pelo Santo para reconhecer em Deus o Senhor. São João percorria a cidade, visitava as pessoas, chamava-os ao Banquete do Cor-deiro – a Missa -, e sua pobreza e cuidados tocavam a todos.

Indo para sua paróquia, após o garoti-nho dizer-lhe onde ficava Ars, o santo respondeu-lhe: “Você me ensinou o ca-minho para Ars, agora eu vou te ensinar o caminho para o céu”

Corpo incorrupto de São João Maria Vianney

Cidade de Ars, França, onde viveu São João Maria Vianney

“Quem coloca Jesus no Sacrário? O padre. Quem acolheu nossa alma na entrada da

vida? O padre. Quem alimenta nossa vida na peregrinação terrestre?

O padre. É o padre quem dá continuidade a obra da redenção na terra”,

São João Maria Vianney

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Sua chegada a Ars em fevereiro de 1818 foi totalmente especial, numa car-roça, transportando alguns pertences e o que mais precisava: seus livros; sem saber como chegar, encontra um menino que sem demora o ajuda. Conta a tradição que na estrada ele se dirigiu a este menino pas-tor dizendo: “Tu me mostraste o caminho de Ars: eu te mostrarei o caminho do céu”. Hoje, um monumento na entrada da cida-de lembra esse encontro.

Por quatro vezes tentou a fuga da ci-dade, por se considerar inapto para o ser-viço sacerdotal, mas a população que já o amava e se opunha ferrenhamente a sua transferência e a sua fuga, não permitiu. Passava horas rezando, se mortificava até o limite de seu físico, se extenuava no Con-fessionário. Em resposta a sua fidelidade e luta, o Senhor derramava suas graças co-piosas fazendo daquele lugar um reduto de santidade e conversão.

Suas homilias eram simples e fortes e focavam que muito na conversão exigida pelo reino de Deus e no juízo final. No iní-cio, São João Maria tendia a incutir o medo nos seus paroquianos, mas depois superou o rigor e cheio de misericórdia exalava em

suas pregações e atos, brandura e amor. Sua pregação simples e objetiva chamava à vida e como ele mesmo dizia: “ Não eram mais que a união com Deus”.

Por conta do grande número de con-versões, as tabernas esvaziaram, os fiéis aprenderam a amar a Igreja, a Deus, os Sacramentos, a Santa Missa e com elas vieram as calúnias ao Bispo, as persegui-ções sem tamanho, tanto das pessoas como do demônio. Sofreu amargamente as cruzes, mas ao pedir a Deus que desse a ele amor por ela, aprendeu a ser feliz no meio de toda esta tribulação. Ele dizia: “Precisamos pedir amor das cruzes; então as cruzes passam a ser suaves. Eu fiz essa experiência durante quatro ou cinco anos. Fui bastante caluniado, bastante desmen-tido. Oh! Como tinha cruzes; mais do que

poderia carregar. Comecei a pedir o amor das cruzes e fui feliz” (Mensagem dos San-tos – Paulus – Pedro Teixeira Cavalcante – pag 223)

São João fundou a Confraria do Ro-sário para as mulheres, e a Irmandade do Santíssimo Sacramento para os homens.

Resultado: per-seguições e mais persegui-ções. Mas, ao contrário de que queriam estes perseguidores, Ars virou centro de peregrina-ções e o Santo mais rezava, mais se mortifi-cava, mais fazia do Confessio-nário seu lugar. Chegava a ficar 14 horas confes-sando os paro-

quianos e peregrinos. Chegou a confessar mais de 200 pessoas num só dia.

São João viveu o que pregou e soube ganhar as almas de Deus para Deus, ser-vo fiel no pouco de si e no muito de Deus. Muitas e muitas vezes, dizia: “Deixai uma paróquia sem padre durante vinte anos e seus habitantes adorarão animais” e isto o impulsionava a servir, ele sabia o valor de um sacerdote nas mãos de Deus. Sabia de suas limitações, mas também sabia do po-der da graça. Seu lema: orar sem cessar, se desgastar, morrer para que muitos possam viver. Criou orfanatos, escolas para pobres, catequese, ajuda aos necessitados, tudo isso fez o santo com a ajuda da Divina Pro-vidência. Um simples homem, sem nada, materialmente falando, e, no entanto, tão cheio de graça. Deus de fato, estava pre-sente em Ars.

Sua catequese englobava três pontos: a luta contra o trabalho nos dias de festas e guarda, contra o hábito das blasfêmias - para ele sinais de ateísmo prático, e a luta contra as tabernas e contra os bailes, con-siderados por ele como obra diabólica que leva à imoralidade.

No dia 2 de agosto de 1859, aos 73 anos, recebe a unção dos enfermos, no dia 3 assina seu testamento deixando seus bens aos missionários e seu corpo à paró-quia. Falece no dia 4 - mais de trezentos padres e uma multidão veio despedir-se, bem diferente daquele dia em que chegou a cidade.

Foi proclamado venerável pelo Papa Pio IX em 1872, beatificado pelo papa São Pio X em 1905, canonizado pelo Papa Pio XI em 1925 e por ele foi declarado padro-eiro de todos os párocos, em 1929.

Sua vida confirma o que São Paulo Apóstolo escreveu: “Mas o que é loucura no mundo, Deus o escolheu para confun-dir os sábios; e, o que é fraqueza no mun-do, Deus o escolheu para confundir o que é forte; e, o que no mundo é vil e despre-zado, o que não é, Deus wescolheu para reduzir a nada o que é, a fim de que ne-nhuma criatura se possa vangloriar diante de Deus” (1 Cor 1, 27-29).

“ Para a honra de Deus e para o bem dos fiéis , o santo Cura restaurou a igreja e edificou várias capelas, dedicando-se ao Ecce Homo, aos santos anjos, a são João Batista e a santa Filomena, à qual atribuía seus milagres, para encobrir sua fama de santidade. Sua vida foi, pois , não só pe-nitente e mística, mas também cheia de obras de zelo pelo próximo: foi a plenitude da vida apostólica desse herói do ministé-rio sacerdotal paroquial que realizou uma de suas palavras: “ É belo morrer depois de ter vivido na Cruz” ( Os santos do Calendá-rio Romano – Paulus – pag 293)

São Cura D’Ars – Rogai por nós!

Corpo incorrupto de São João Maria Vianney

“O que nos impede de sermos santos, a nós,

os padres, é a falta de reflexão. Nós não encontramos em nós

mesmos, não sabemos o que estamos fazendo.

O que nos falta é a reflexão, a oração e a união com Deus”, São João Maria Vianney

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No dia 15 de agosto é celebrada sole-nemente a Assunção da Virgem Maria ao Céu. Esta festa remete ao Dogma procla-mado pelo Papa Pio XII, em 1950, mas que há vários séculos constituiu parte de uma teologia mariana, na qual se professava que Maria fora elevada em corpo e alma aos céus. Dentro desta perspectiva, este estudo pretende centrar-se, não tanto na análise histórico-teológica do dogma, mas, sobretudo, na visão bíblica que faz da Mãe de Deus, aquela que com seu sim soube manifestar em sua vida a potencialidade do amor divino e o desapego dos bens apa-rentemente satisfatórios deste mundo.

A primeira leitura constitui uma narra-tiva que, como em todo o livro do Apoca-lipse, merece uma interpretação aprofun-dada devido aos significados dos símbolos usados pelo autor.

“Abriu-se o Templo de Deus que está no céu e apareceu no Templo a arca da Alian-ça” (Ap 11, 19a). A arca da Aliança indica os tempos iminentes nos quais tudo será restaurado. O Templo de Deus é o templo

celeste, a nova visão da Igreja triunfante, que sofreu as perseguições e demais con-sequências pelo anúncio do Evangelho.

“Então apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas. Então apareceu ou-tro sinal no céu: um Dragão, cor de fogo” (Ap 12, 1.3). Esta narração, devido ao seu contexto simbólico e complexo, tornou-se suscetível à várias interpretações errône-as. A visão apocalíptica não se refere em primeiro instante à mulher enquanto Ma-ria, mas sim ao povo de Deus, o antigo Is-rael, pelo qual nos vem Jesus; em seguida representa o novo Israel, a Igreja, que ofe-rece Cristo ao mundo, que porta o Messias como Senhor da salvação, Corpo de Cris-to. Tanto esta segunda como a primeira, são representações da mulher, perseguida pelo dragão, símbolo de Satanás e da sua escravidão.

O vestido de sol, usado pela mulher, in-dica a predileção de Deus por ela; um ves-tido de transcendência e formosura. Ela

está envolvida em Deus, é escolhida por Ele para que assuma a alta digni-dade de esposa e mãe do Messias. Ela vence a barreira do tempo, sinal da lua na qual está pi-sada (Sl 88, 38). A coroa faz alusão aos doze após-tolos e as doze tribos de Israel, simbolizando o prêmio que lhe fora con-cedido. Assim, podemos ver a descrição da Igreja enquanto esta “mulher”.

A aplicação deste trecho à Virgem Maria foi feita por Santo Agos-tinho e São Boaventura, que mediante o contexto em que outrora fora es-crito, seria estranho ao autor sagrado. Mas, se aplicado à Virgem Maria, poderíamos também fa-zer uma correlação entre os dois. Maria é, por ex-celência, aquela que se disponibilizou na escuta atenta da palavra e na constante prática, evi-dente, sobretudo, por ter acolhido em seio a Pala-vra de Deus, Jesus Cristo encarnado.

Na narrativa da primeira leitura pode-mos contemplar que a vitória vem para todo aquele que se confia a Cristo, que nele deposita sua esperança e não se deixa entorpecer nos caminhos da morte.

Enquanto o dragão perseguia a mulher no deserto, mas inutilmente, ela é assis-tida pela providência de Deus e é nutrida com o maná – símbolo da Eucaristia. Ainda que a Igreja seja perseguida na hodierna sociedade, ainda mais agora que depara-mo-nos com uma realidade tão contras-tante aos valores éticos e morais, somos chamados a confiar-nos, também nós, à graça de Deus que nunca falha. Quem confia em Deus, como Maria, quem se despoja de tudo por amor de Cristo, não o faz em vão, mas leva a certeza de que Deus está conosco, de que o Amor de Cris-to é uma força propulsora na caminhada e que somente sob o poder de Deus po-deremos encontrar sentido em nossa vida. Várias são as tentativas de sucumbirem a Igreja, também começando a miná-la em seus fundamentos. Mas Deus, aquele que, como retrata o Salmo, não dorme nem co-chila (cf. Sl 120,4), não a deixa ser entregue ao poder dos inimigos.

Na segunda leitura, Paulo fará uma ex-posição teológica da escatologia e todos os acontecimentos que, com ela, dar-se-ão nos últimos dias. “Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram – escreve ele. Com efeito, por um homem veio a morte e é também por um homem que vem a ressurreição dos mortos. Como em Adão todos morreram, assim também em Cristo todos reviverão. Porém, cada qual segundo uma ordem determinada” (1Cor 15, 20-23a).

Paulo nos recorda que a ressurreição de Cristo é também a prefiguração e ga-rantia da nossa ressurreição. No entanto, dirá ele que a ressurreição de Cristo é pri-mícias para os que estavam mortos. Cabe-nos aqui pensarmos em que sentido se aplica tal termo. As primícias (do hebraico bikkurim) eram os recolhimentos feitos an-tecipadamente sobre os “primeiros” frutos produzidos pela terra e que eram conside-rados os melhores da colheita. Mas não apenas os frutos da terra eram doados, como também os primogênitos dos ani-mais e dos homens, em agradecimento a bondade divina que lhes concedera.

Com estas primícias da ressurreição de Cristo, Paulo não quer indicar que Jesus fora um caso esporádico, o único a fazê-lo, mas que é Ele o primeiro a fazê-lo e, como tal, em seguida poderemos fazer também

Assunção de Maria: Prefiguração da estadia humana com DeusPor Ian Farias

In Guardia - 24

nós. Entretanto o fato de ser o primeiro não é meramente por uma ordem crono-lógica. Por meio de Sua ressurreição Ele, que é o primogênito dentre os mortos (Cl 1,18), abre, por assim dizer, as portas da eternidade a todos os que serão chamados a participarem do eterno convívio. Todos são convidados a ressuscitarem para sen-tarem-se com Ele em sua glória.Sua res-surreição não acontece apenas na carne, mas transcende as perspectivas humanas, aliás, é um fato que nem mesmo os ho-mens poderiam prever.

Santo Tomás de Aquino, em sua Suma Teológica, escreve: “As primícias consti-tuem um gênero de oblação, pois, ofere-cemo-las a Deus acompanhando-as de um certo juramento, como se lê na Escritura... E as primícias eram oferecidas por uma razão especial, isto é, em reconhecimento de um benefício divino: como se confes-sassem ter recebido de Deus os frutos da terra e, por isso, estarem obrigados a lhe oferecer as primícias dele, conforme aqui-lo da Escritura: O que recebemos da tua mão, nós isso te oferecemos” (q. 86, a. 4).

As primícias por excelência já não são mais oferecidas a Deus, senão que ofere-cidas por Deus para a salvação do gênero humano, isto é, o Seu Filho Cristo Jesus. Por Ele todos os outros sacrifícios e ofere-cimentos não serão mais necessários. Ele é primícias dos que morreram e dos que ressuscitarão na Nova Aliança, que não é outra, mas está em continuidade com a aliança feita a Moisés e concretizar-se-ia n’Ele.

O cristão, configurado a Cristo, com Ele vê sua vida renovar. Com o Senhor ele encontra um sentido existencial para a sua vida, que não se encontra no mun-do, mas além dele. Contemplamos assim a figura de Maria, que sempre se deposi-tou nas mãos do seu Senhor e jamais se desesperou nas suas maiores dores. Ela vi-veu a radicalidade do “sim” a Deus; soube fazê-lo sem temor, como um lírio entre os espinhos. Dizia Adão de São Vitor, monge e poeta medieval: “Salve, pois, ó Mãe do Divino Verbo, Flor que brotou entre os es-pinhos, sem espinho; glória do jardim dos espinhos. O espinheiral somos nós; fomos ensanguentados pelos espinhos dos pe-cados. Mas, para tua pessoa, não existe espinhos” (SÃO VÍTOR, Adão de. Prosa per l’Assunzione dela B.V.M.).

Paulo ainda nos deixa claro que: “É pre-ciso que ele reine até que todos os seus inimigos estejam debaixo de seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte”

(1Cor 15,25-26). Tratamos aqui de Cristo em dos aspectos: Rei e combatente, que destrói a morte. Ao sentir que seu reino será atacado o rei monta guarda junta-mente com seu exército e lutam para que

nenhum dos seus seja ferido. A morte, que pelo pecado entrou no mundo, será extinguida dele pela vitória definitiva de Cristo em sua Parusia e os que em Adão morreram, em Cristo reviverão para a vida eterna.

É nesta relação do Deus que defende, que salva, que nós encontramos o amor enquanto sentido existencial da vida hu-mana, manifestado nas palavras do Mag-nificat, recitadas por Maria. Na narração evangélica de São Lucas vemos presente a visitação de Maria a sua prima Isabel. A fi-

gura de Maria contrasta-se com a de Zaca-rias, que duvidou no primeiro instante. Ela recebe a notícia do anjo e vai a Isabel às pressas, portando o Salvador em seu seio. O encontro das duas simboliza também o encontro das crianças: João e Jesus. João simbolizando a passagem do Antigo para o Novo Testamento e Jesus que representa a Nova Aliança.

Maria entoa o seu famoso Magnificat, que na verdade é um salmo de ação de graças composto por citações e alusões ao Antigo Testamento, visando bem o canto de Ana, mãe de Samuel (1Sm 2, 1-10).

Deus não faz uso do poderio e da ri-queza humana para manifestar a sua oni-potência, mas usa-se essencialmente da humildade. O poder de Deus diverge do poder dos homens. Os homens fazer deitar seus tesouros nos cofres, mas Deus faz re-pousar seu tesouro no ventre de uma po-bre mulher de Nazaré. Os homens sentam em tronos e, quando morrem, repousam em belíssimos caixões adornados; Deus, por meio de seu Filho, pende na cruz, sofre torturas, é renegado, humilhado. Por isso, “o Pai das misericórdias e o Deusde toda a consolação” (2Cor 1,3) não renega nem ri-cos nem pobres, mas a todos Ele pede que apenas uma coisa os cerquem: O amor e a bondade, estarem desprovidos dos apegos aos bens materiais e, como Maria, se abri-rem a graça de um sim renovado, cotidia-namente, na fidelidade e no amor.

Assunção de Maria: Prefiguração da estadia humana com Deus

O Papa Pio XII foi o pontífice que proclamou o dogma da Assunção

Maria é, por excelência, aquela que se

disponibilizou na escuta atenta da palavra e

na constante prática, evidente, sobretudo, por

ter acolhido em seio a Palavra de Deus, Jesus

Cristo encarnado

In Guardia - 25

Nos últimos dias do mês de junho de 2011 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), órgão do governo fede-ral brasileiro responsável em fazer levan-tamentos estatísticos da vida sociocultural do Brasil, revelou alguns dados do censo realizado em 2010. Entre esses dados en-contram-se os dados referentes à vida re-ligiosa do brasileiro. Vale salientar que as informações colhidas pelo IBGE referem-se apenas a filiação religiosa e não se os ci-dadãos possuem, ou não, uma vida mística e se seguem realmente alguma doutrina religiosa.

Apenar desse fato, alguns dados forne-cidos pelo IBGE são surpreendentes. Por exemplo, o número de cidadãos que se di-zem católicos caiu drasticamente. Há qua-renta anos quase toda a população bra-sileira era católica, agora um pouco mais 60%, ou seja, praticamente 50 milhões de pessoas deixaram a Igreja em menos de quatro décadas. É preciso observar, por exemplo, que Portugal, dados fornecidos pelo governo português, tinha, em 2000, uma população de um pouco mais de dez milhões de habitantes. Fazendo uma com-paração é como se a Igreja Católica tives-se perdido, em apenas quatro décadas, o equivalente a cinco vezes a população de Portugal.

Além dos dados sobre o número de ca-tólicos no Brasil, o IBGE demonstrou que houve, nos últimos dez anos, um pequeno crescimento do número de protestantes e um significativo crescimento dos cidadãos Sem Religião (SR) e de membros de Outras Religiões (OR), como, por exemplo, muçul-manos, religiões orientais e coisas seme-lhantes.

Não se trata de ficar fazendo questio-namentos sobre as informações prestadas pelo IBGE serem verdadeiras ou falsas. No entanto, é preciso, diante dos números apresentados, fazer três reflexões.

A primeira reflexão é que houve por parte de membros da hierarquia católica

no Brasil alguns questionamentos sobre o censo do IBGE. Entre esses questiona-mentos citam-se, por exemplo, o fato de a pergunta, feita pelo censo, sobre a filiação religiosa católica ser ambígua ou duvido-sa. A pergunta realizada pelo IBGE colo-cava várias opções para o cidadão, como se existissem diversas “igrejas” católicas e não apenas uma. A pergunta confundia filiação religiosa com algum rito litúrgico (rito latino, rito grego melquita, rito de São Pio V etc.) ou então filiação com algum movimento pastoral (movimento caris-

mático, movimento de casais etc.). Muita gente pensa que essa confusão, feita pelo IBGE, foi feita de propósito para “forçar” a diminuição do número de católicos no Brasil. É público e notório que a Igreja Ca-tólica ainda é uma das maiores forças polí-ticas do país e se o número estatísticos dos católicos diminuíssem, mesmo que fosse apenas por uma “erro” do IBGE, esse fato agradaria a muitos segmentos políticos, como, por exemplo, grupos pró-aborto, pró-casamento gay e semelhantes.

A segundo reflexão é que o Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (CERIS), um órgão ligado a Conferência Na-cional dos Bispos do Brasil (CNBB), lançou no mês de junho, portanto, no mesmo pe-ríodo da divulgação dos dados do IBGE, os dados oficiais do censo anual da Igreja Ca-

tólica no Brasil. Esses dados apresen-tam uma Igreja bem viva, com gran-de crescimento da vida liturgia, da presença dos fiéis nos movimentos pastorais e nas paróquias. Houve nos últimos anos um grande crescimento do número de seminaristas, de orde-nações de padres, da vida religiosa masculina e feminina, da criação de paróquias e coisas semelhantes. Em certos aspectos, os dados apresen-

tados pelo CERIS entram em choque com os dados apresentados pelo IBGE. O CERIS apresenta uma Igreja viva e em crescimen-to, já o IBGE apresenta, a mesma Igreja, em decadência e com grande perda de fi-éis. Quem está certo? O CERIS ou o IBGE?

Esses questionamentos abrem espaço para a terceira e mais importante reflexão, ou seja, o papel evangelizador da Igreja no Brasil nas últimas quatro décadas. De um lado, não se pode negar o crescimento dos movimentos espirituais católicos. A conse-quência desse crescimento é o aumento das vocações sacerdotais, da vida religio-sa, do aumento das novas comunidades e outras coisas. Todo esse amplo movimen-to é retratado no censo realizado pelos CE-RIS. Do outro lado, não se pode negar que milhões e milhões de brasileiros deixaram as fileiras do catolicismo nas últimas déca-das. São cidadãos que ou eram católicos apenas por nominação, conhecidos justa-mente como “católicos do IBGE”, ou não tinham uma sólida formação doutrinária ou, pior ainda, não encontraram dentro da estrutura eclesial, onde estavam inseridos, uma sólida formação espiritual e doutri-nal. Seja como for, a verdade é que a Igreja Católica no Brasil perdeu grande parte do seu rebanho e, entre outras coisas, o Brasil pode perder o “título” de maior país cató-lico do mundo.

São muitos os fatores que conduzem a essa realidade. Entre esses fatores é pos-sível citar, por exemplo, o secularismo, a programação neopagã apresentada pela grande mídia, o discurso antirreligioso pre-sente nas universidades e a pregação fácil de muitas igrejas protestantes, conhecida como teologia da prosperidade, que fala abertamente que se o cidadão mudar de religião vai ganhar dinheiro, ter cartão de crédito, carro novo e muitos outros obje-tos de consumo.

Todos esses fatores são parte da verda-de. No entanto, tem uma parte da verdade que não está sendo lembrada. Essa parte é justamente a culpa da própria estrutura católica, no Brasil, ser responsável pelo fe-nômeno da grande perda de fiéis vividos pela Igreja.

Não é nenhuma novidade que, no Bra-sil, desde o final da década de 1960, pas-sando pelo período da década de 1970 até meados da década de 1990, a Igreja dei-xou, um tanto quanto de lado, a missão, dada pelo próprio Senhor Jesus Cristo, de Evangelizar. Essa missão é sintetizada pelo

O censo do IBGE e a Igreja Católica

Não é nenhuma novidade que, no Brasil,

a Igreja deixou, um tanto quanto de lado, a missão, dada pelo próprio Senhor Jesus Cristo, de Evangelizar

Por Ivanaldo dos Santos

In Guardia - 26

mandado de Cristo: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Marcos 18, 15). Por causa dessa missão o Após-tolo Paulo afirma que “porque, se anuncio o evangelho, não te-nho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evan-gelho!” (I Coríntios 9, 16) e, por isso, conclui que o “viver é Cristo, e o morrer é lucro.” (Filipenses 1, 21).

O problema é que no Brasil a Igreja, no último quarto do sécu-lo XX, resolveu adotar uma pos-tura moderna, progressista e que chegou ao ponto de se autoin-titular de libertadora. Era uma Igreja que não pregava o evange-lho, que só falava em social, que pregou e, até mesmo, engajou-se na luta política, especialmente na luta dos partidos políticos de es-querda. Uma Igreja que dizia que o pecado era apenas social, que, de certa forma, o Reino de Deus é comida e bebida e, com isso, quase negou a pregação bíblia que afirma que o “reino de Deus não é comida nem bebida” (Romanos 14, 17). Era uma Igreja que participava de invasões de ter-ras e de empresas públicas, de greves e de piquetes em frente de fábricas. No entan-to, essa mesma Igreja, tão moderna e li-bertadora, não usava hábito religioso, não ouvia confissões, não orientava espiritual-mente os fiéis. Era, em síntese, uma Igreja que não cumpria sua missão, ou seja, de evangelizar. Era uma Igreja próxima, até de mais, do mundo, do secularismo, das reivindicações sociais. É claro que a Igreja deve dialogar com o mundo, com o secula-rismo e com as lutas sociais. Muitas dessas lutas são justas e encontram fundamento no Evangelho. Entretanto, a grande missão da igreja é a pregação do Evangelho e, por conseguinte, a santificação das almas. Sem isso não existe libertação política e social.

A consequência dessa postura pastoral da Igreja no Brasil, muitas vezes chamada de “opção preferencial”, é o que o teólo-go Clodovis Boff (irmão de Leonardo Boff) classifica, no artigo Teologia da Liberta-ção e a volta aos fundamentos, publicado na Revista Eclesiástica Brasileira, um dos porta-vozes, no Brasil, da Igreja progres-sista, moderna e libertadora. Segundo ele, isso aconteceu porque no Brasil se tentou

transformar a Igreja em uma simples orga-nização de caridade social, um braço ins-trumentalizado do movimento social. Esse grave equívoco conduziu a Igreja a ficar destituída de suas funções missionárias e do anúncio da Verdade Salvadora. Por sua vez, os fiéis ficaram perdidos, sem direção e orientação espiritual, muitas vezes sen-do obrigados a recorrem a ajuda das sei-tas protestantes e de religiões neopagãs, a sociedade e principalmente os pobres dei-xam de ser assistidos pelos organismos da Igreja ligados a doutrina social católica.

Diante de um quadro tão problemáti-co e tão desestimulador, apresentado por Clodovis Boff, não admira que milhões e milhões de brasileiros tenham deixado as fileiras do catolicismo e entrado em diver-sos outros segmentos religiosos, como, por exemplo, as igrejas protestantes, o espiritismo, as religiões neopagãs e até mesmo no indiferentismo religioso e em alguma forma de ateísmo.

Para usar um ditado popular é como se, no Brasil, a Igreja Católica não tivesse “feito o dever de casa”. Nas últimas déca-das a Igreja fez um nobre trabalho social, o qual deve ser reconhecido e até mesmo elogiado. No entanto, quase não cumpriu sua missão específica, para a qual foi ins-tituída pelo próprio Jesus Cristo, ou seja, pregar o Evangelho e santificar as almas. Se a Igreja tivesse feito a denúncia social e, com isso, transformado as estruturas injustas da sociedade e, ao mesmo tem-

po, pregado o Evangelho e santificado as almas, é possível que ela tivesse até per-dido alguns fiéis. Afinal até mesmo Cristo foi abandonado e renegado. No entanto, a perda de fiéis, a grande sangria, seria bem menor. Faltou a Igreja no Brasil ser auten-ticamente católica.

Por fim, é preciso observar que a gran-de missão da Igreja é o anúncio do Evan-gelho. Justamente o Evangelho que está acima de todas as ideologias e doutrinas políticas e sociais. O Evangelho que santifi-ca, que obriga a mudança de vida, que une o fiel a Cristo, o Salvador, que transforma o mundo e a sociedade. A opção prefe-rencial da Igreja tem que ser sempre por Jesus Cristo e pelo Evangelho. Foi essa op-ção que fez a Igreja completar 2.000 anos de existência. É por essa opção que temos que viver e morrer.

Bibliografia Consultada:BOFF, Clodovis. Teologia da Liberta-

ção e a volta aos fundamentos. In: Revista Eclesiástica Brasileira, v. 67, n. 28, outubro de 2007, p. 1001-1022.

PAPA BENTO XVI. Discurso do Papa Bento XVI aos prelados da Conferência Episcopal dos Bispos do Brasil dos Regio-nais Sul 3 e Sul 4

em visita «Ad Limina Apostolorum» em 05 de dezembro de 2009, n. 3. In: Re-pórter de Cristo. Disponível em http://re-porterdecristo.com/papa-condena-outra-vez-a-teologia-da-libertacao. Acessado em 26/03/2012.

O censo do IBGE e a Igreja Católica

In Guardia - 27

3) Consagração à Nossa SenhoraAutor: Pe. Paulo Ricardo Editora: Ecclesiae

4) Tratado da Verdadeira Devoção Autor: São Luís Maria Grignion de Monfort Editora: Arca de Maria

5) Todos os Caminhos levam a RomaAutor: G. K. Chesterton / Editora: Oratório

6)Batismo Autor: Pe. Paulo Ricardo / Editora: Ecclesiae

7) O Inferno Autor: Monsenhor Louis Gaston de SégurTradução: Diogo Chiuso / Editora: Ecclesiae

8) Os Padres da Igreja IAutor: Bento XVI / Editora: Ecclesiae

9) As Virtudes Morais Autor: São Tomás de AquinoTradutores: Dr. Paulo Faitanin e Bernardo Veiga / Editora: Ecclesiae

10) Em busca de sentidoAutor: Viktor Frankl Editora: Vozes

TOP 10 In Guardia

Os mais vendidos da Editora EcclesiaeA metodologia para determinar os 10 mais vendidos foi a observação das vendas no período indicado nos seguintes sites: ecclesiae.com.br, livrariatradicao.com.br, artigocatolico.com.br. Nós computamos também as vendas feitas para distribuidoras e livrarias católicas que totalizam 72 pontos de venda.

Poder Global e Religião UniversalAutor: Monsenhor Juan Cláudio Sanahuja Editora: Ecclesiae

Descrição: O livro do Monsenhor Juan Cláudio Sanahuja fala da atual crise da Igreja que é muito grave principalmente nos aspectos que afetam o respeito à vida humana e à família. Citando Michel Schooyans, este afirma que a Nova Ordem Mundial, “do ponto de vista cristão, é o maior perigo que ameaça a Igreja desde a crise ariana do século IV”, quando, nas palavras atribuídas a São Jerônimo, “o mundo dormiu cristão e, com um gemido, acordou ariano”.

Soma-se à tudo isso a atitude vacilante de muitos católicos perante a ditadura do politicamente correto, muito mais sutil que as anteriores e que reivindica a cum-plicidade da religião, uma religião que por sua vez não pode intervir nem na forma de conduta nem no modo de pensar. A nova ditadura corrompe e envenena asconsciências individuais e falsifica quase todas as esferas da existência humana.

A sociedade e o estado excluíram Deus, e “onde Deus é excluído, a lei da organi-zação criminal toma seu lugar, não importa se de forma descarada ou sutil. Isto começa a tornarse evidente ali onde a eliminação organizada de pessoas inocentes – ainda não nascidas – se reveste de uma aparência de direito, por ter a seu favor a proteção do interesse da maioria”.

Autor: Olavo de CarvalhoEditora: VIDE EditorialDescrição: O que é pensar? O que une Kant às decisões da ONU em favor de um governo global? Por que o culto da ciência “começa na ignorância do que seja a razão e culmina no apelo explícito à autoridade do irracional”? Essas e ou-tras questões são respondidas por Olavo de Carvalho neste livro que reúne alguns de seus textos produzidos nos últimos anos.Mas devemos ler Olavo de Carvalho? Há duas respostas possíveis: a dos seus detratores, sempre negativa. E a dos que se recusam a aceitar o doutrinamento da Weltanschauung pós-moderna, que, amealhando adeptos entre liberais e es-querdistas, baseia-se num tripé corrup-tor: relativismo, hedonismo e ateísmo.Olavo sabe que, para uma efetiva

resistência cultural, os que desejam se manter lúcidos devem possuir um corpo teórico consistente, capaz de apresentar respostas persuasivas ao mundo de falso desvanecimento do homem contemporâ-neo e de advogar em defesa da verda-de, o valor mais vilipendiado nos dias atuais.Assim, frente aos ideólogos cujo objeti-vo é nos convencer de que princípios e valores são obstáculos à liberdade, Olavo denuncia a ditadura do relativismo – a arma que restou à esquerda diante do fracasso da ditadura do proletariado. E o faz com seu estilo característico, que lhe permite, como ele mesmo diz, “transitar livremente entre o discurso acadêmico e a voz do coração”, movido por seu objetivo “quase obsessivo: a busca do Supremo Bem”.Nada é pequeno neste livro. A resposta

a certos polemistas transforma-se nos degraus que Olavo transpõe para ensinar arquitetura gótica ou recolocar a lógica como elemento acessório da produção filosófica. Desmonta Martial Guéroult, presta tributo à inesquecível figura de Stanislavs Ladusãns, rebate Peter Sin-ger, Richard Dawkins e outros pseudolu-minares. E o faz seguindo o método que propõe a seus alunos: espantar-se frente à realidade da experiência.Mas não só. Olavo de Carvalho nos re-corda que não esquecer nossa condição mortal é o ponto de partida da investi-gação metafísica. Aqui, ele ultrapassa a filosofia – e assemelha-se aos mes-tres da espiritualidade monástica, que recomendam a reflexão sobre a própria morte para curar uma das mais nocivas doenças da alma: a acídia.

In Guardia - 28

Continuando esta série sobre o Cate-cismo, trataremos agora do conhecimen-to de Deus na Filosofia e na Revelação. São dois conhecimentos de naturezas absolutamente diversas, ainda que am-bos apontem, em última instância, para o mesmo Deus.

Diz a sabedoria popular que um tatu no alto de uma árvore foi posto lá por al-guém. Em outras palavras: se vemos um tatu no alto de uma árvore, em boas con-dições de saúde, sabemos que alguém passou por aquele lugar há pouco tempo. O tatu não sobe sozinho nem desce sozi-nho. Se ele está lá, podemos deduzir que alguém lá o colocou; pelo seu estado de saúde podemos saber se está lá há pouco tempo ou se a fome e a sede já colocaram sua vida em risco.

O conhecimento de Deus que se pode ter pela filosofia é semelhante, em muitos aspectos, ao conhecimento do colocador-de-tatu desconhecido. Sabe-se que ele existe, sabe-se que ele age, sabe-se que ele se move. Mas não se pode saber mui-to mais. Pela razão, apenas, é possível afirmar com certeza a existência de Deus, mas não Sua Encarnação, não ser Ele Uno

e Trino, não ser Ele o Deus amoroso e jus-to que na Revelação nos é dado contem-plar.

Não existe mudança que não tenha uma causa: tudo o que ocorre pode ser

percebido como decorrência de algo que ocorreu antes. O que ocorreu antes, por sua vez, decorre de algo ainda anterior. Esta regressão não pode, contudo, ir ao infinito; é necessário que haja algo (ou Al-guém) que não muda, mas que muda as outras coisas: este Alguém é Deus. A este Deus, que pode ser discernido pela razão, São Paulo chamou de “Deus desconheci-

do” ao ver um altar com esta inscrição em meio aos altares dedicados aos deuses pagãos.

Do mesmo modo, podemos perceber que uma Lei nos é natural, que uma cer-ta ordem existe todo o universo. As leis da física continuam sempre as mesmas, e sabemos que todos os dias nascerá o sol. Sabemos, também, e reconhecemos em nossas vidas, que há uma Providência Di-vina, há um meio pelo qual Alguém mui-to acima de tudo o que vemos coordena sincronicamente os acontecimentos. Esta percepção já nos leva a reconhecer que o Deus desconhecido dos filósofos é um Deus pessoal, não um mero argumento retórico. É esta percepção que nos prepa-ra para que possamos aceitar a Sua Reve-lação.

Deus, tendo-nos preparado para aceitá-l’O e reconhecê-l’O, revelou-Se progressivamente aos homens, d’Ele es-quecidos devido ao pecado de nossos primeiros pais. Fez Ele aliança com Noé, e por Noé com todos os homens, deixando-nos o arco-íris como sinal. Fez Ele, em se-guida, aliança com Abraão e sua descen-dência física, o povo hebreu. Este povo foi

Pela Revelação, nos é dado ser plenamente, ou seja, ser em Deus. Conhecer

Deus, amá-l’O e glorificá-l’O por nossas próprias vidas, sendo, assim, aquilo que somos chamados a ser

O conhecimento de Deus na Filosofia e na Revelação

Carlos Ramalhete

In Guardia - 29

por Ele conduzido e separado, servindo como testemunha por seus atos e por sua presença da existência e da força do único Deus verdadeiro.

Na descendência de Abraão segundo a carne, na plenitude dos tempos, a Re-velação se completou, ao fazer-Se carne o Verbo de Deus.

Ou seja: Deus correspondeu plena-mente ao anseio dos homens por conhe-cê-l’O, fazendo perfeito uso das capa-cidades por Ele criadas no homem, dos desejos do Infinito que marcam cada um de nós. Assim se tornou possível, pela primeira vez, um conhecimento de Deus que vai muito além do conhecimento que apenas a Razão pode nos dar.

O conhecimento de Deus pela Revela-ção – que nos é transmitida pela Igreja e na Igreja – completa o conhecimento obti-do apenas pela razão, e nos dá meios para que entendamos, sem mistura de erro e com certeza, as Verdades que podem nos levar à Salvação.

Pela Revelação, sabemos que Deus é Uno e é Trino. Pela Revelação, sabemos a que somos chamados, a que leva, auxilia-da pela graça, esta natural “capacidade de Deus” que o homem tem.

Sem ela, o homem não tem como en-contrar perfeitamente o seu destino. Sem ela, o homem é como uma ferramenta ignorada, cujo objetivo não pode ser dis-

cernido. É por isso que quem a ignora, no mais das vezes, torna-se escravo dos pró-prios sentidos. Sem a Revelação, é fácil convencer-se que o prazer vale mais que a justiça, que o orgulho vale mais que a retidão e a verdade.

Com ela, contudo, temos como levar a cabo o nosso fim último, o objetivo de nossa criação. Fomos criados por Deus para glorificá-l’O, o que fazemos sendo santos, sendo plenamente e totalmente

quem Deus nos criou para ser. Deus nos criou diferentes, deu-nos talentos diver-sos e vocações variadas. E cada um de nós é chamado a fazer com que estes talentos prosperem, que estas vocações sejam ou-vidas e atendidas, que as diferenças entre os homens sejam causa não de discórdia, mas de harmonia.

Com o que nos é dado saber pela Re-velação – expressa na Tradição Oral e Es-crita e definida pelo Magistério da Igreja – podemos encontrar, assim, o caminho

para algo que vai muito além do mero re-conhecimento da existência de Deus. Com ela, podemos perceber o sentido de to-dos aqueles sinais que nos apontam para Deus, e elevar a Ele não só nosso olhar, mas nosso próprio ser.

Pela Revelação, nos é dado ser plena-mente, ou seja, ser em Deus. Conhecer Deus, amá-l’O e glorificá-l’O por nossas próprias vidas, sendo, assim, aquilo que somos chamados a ser.

A Igreja, que nos dá acesso a este te-souro maravilhoso, expressa-se em pala-vras humanas, e nos fornece, na Pessoa d’Aquele que é Deus verdadeiro e homem verdadeiro, o caminho para alcançar a Deus. Da Criação, podemos, assim, discer-nir que Há Deus. Na Revelação de Deus a nós, podemos ir muito além disso; pode-mos discernir o homem e toda a Criação à luz de Deus, identificando o caminho a seguir para que possa ser efetuada esta re-ligio, esta “re-ligação”, ou “religião”, que finalmente nos pode unir a nosso Criador.

Ele, fazendo-Se homem, veio ao nos-so encontro. Nós, acolhendo-O no Seu Corpo Místico, que é a Igreja, podemos, finalmente, responder a este chamado, saciando plenamente o anseio que todo homem sempre teve de sair do finito para a eternidade, do imanente para o trans-cendente, do mesquinho ao Sumo Bem.

Aula de catequese de Dom Bosco aos jovens de seu oratório

Sem a Revelação, é fácil convencer-se que o prazer

vale mais que a justiça, que o orgulho vale mais que a

retidão e a verdade

In Guardia - 30

Foi bastante comentada a intervenção da Santa Sé que, jun-tamente com algumas delegações de países, conseguiu que se omitisse do texto final da Conferência Rio +20 a referência a “di-reitos sexuais e reprodutivos”, o já conhecido disfarce da palavra “aborto”. Em outro momento, pretendo também voltar-me sobre esse assunto, mas gostaria primeiro de destacar as propostas po-sitivas da Santa Sé na mesma Conferência, que foram bem menos divulgadas.

Em síntese, o documento apresentado pela delegação oficial destacou que a busca de soluções à problemática ambiental não pode ser separada da compreensão do ser humano, que é “im-portante chegar a combinar a técnica com uma forte dimensão ética baseada na dignidade da pessoa humana”. Esses princípios levam à centralidade do ser humano no desenvolvimento susten-tável. Para se conseguir isso, foram elencados 4 pontos principais, “que têm claras repercussões éticas e sociais em toda a humani-dade”:

1. A Rio +20 poderia dar uma contribuição para a redefini-ção de um novo modelo de desenvolvimento, que tenha um foco especial nas pessoas em situações mais vulneráveis. Para isso se-ria preciso levar em conta vários princípios, entre os quais:

a. - A responsabilidade, com a necessária mudança no esti-lo de vida e de padrões de produção e consumo;

b. - A promoção e a partilha do bem comum;c. - O acesso aos bens primários, como a nutrição, a edu-

cação, a segurança, a paz, a saúde; “neste último caso, deve ser sempre lembrado que o direito à saúde decorre do direito à vida: o aborto e a contracepção são ferramentas que se opõem grave-mente à vida e não podem ser consideradas questões de saúde”;

d. - O cuidado da criação, conectada com a equidade entre gerações;

e. - O destino universal não somente dos bens, mas tam-bém dos frutos da atividade humana.

2. O princípio de subsidiariedade, intimamente ligado ao princípio da solidariedade, reconhecendo e valorizando o papel da família e colocando no centro da vida econômica a dignidade humana, o bem comum e a salvaguarda da criação.

3. A conexão entre o desenvolvimento sustentável e o de-senvolvimento humano integral, tendo em conta os valores éticos e espirituais que orientam e dão significado às escolhas econômi-cas, dado que cada decisão econômica tem uma consequência de caráter moral. Isso sinaliza para uma mudança dos indicadores de desenvolvimento.

4. Uma definição de “economia verde” que tenha como foco principal o desenvolvimento humano integral, com modelos de consumo e de produção apropriados, respeitando não apenas o ambiente, mas também a dignidade do ser humano.

Como se vê, são propostas totalmente harmônicas com a Doutrina Social da Igreja, muitas delas já explicitadas em docu-mentos anteriores, como a Caritas in Veritate e a mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2.010. Essa centralidade do ser humano contrapõe-se a duas tendências opostas, que equilibra, e serve inclusive para facilitar a convergência de grupos que sempre se defrontam quando se fala em desenvolvimento sustentado.

Por um lado, temos os grupos que tendem a defender os “di-reitos da natureza” em si mesma, com uma perspectiva que pode se aproximar de um esoterismo panteísta. No lado oposto, os adoradores da “deusa Economia”, que se recusam a admitir que a atual crise evidencia a necessidade de uma mudança de estilo de vida que envolve não poucos valores morais.

Por mais que sejam importantes os debates e acordos interna-cionais, a chamada “Economia verde” só terá sucesso se acompa-nhada por uma mudança de mentalidade, por uma – por que não dizê-lo? – conversão, no que se refere aos valores que orientam a vida social. Além de verde, ela é da cor de todas as etnias hu-manas.

A Santa Sé na Rio+20Lenise Garcia

Delegação da Santa Sé, chefiada por Dom Odilo Scherer, na Rio+20

In Guardia - 31

Tenho visão cética relativamente a Rio+20.E alerto: não porque é no Rio, Brasil, mas pela temática mes-

mo. Se fosse Roma+20 minha visão seria a mesma.É óbvio que é preciso cuidar do meio-ambiente, mas acredi-

to existir muitas mentiras e exageros em torno do assunto.O tal aquecimento global, já está demonstrado, não é tão

quente como os primeiros prognósticos acusavam.Os estragos também não são tão horríveis e

irreversíveis assim…Penso que essa festa internacional para

alimentar ONGs e edulcorar cientistas do segundo time não levará ninguém a lugar algum e tem por pano de fundo desfocar a opinião pública da crise financeira mun-dial.

A crise econômica é muito mais impor-tante do que a suposta crise ambiental.

Aliás, alguns especialistas sérios, não en-gajados politicamente, acusam a “fobia” am-biental de ser um dos elementos do cadinho da al-quimia da crise financeira.

Ninguém duvida da importância de se proteger o meio-am-biente. Quem é religioso como eu encara a tutela da natureza como dever imposto pelo próprio Deus ao homem. Todavia, é

o homem o centro do meio-ambiente e suas necessidades ime-diatas, com todo respeito, são mais importantes do que a pro-teção do mico-leão-dourado ou o ciclo reprodutor das baratas do antigo Ceilão.

Ê preciso discutir produção de bens, circulação de riquezas, tributação, geração de empregos, fornecimento de alimentos,

educação, incremento das cadeias de consumo. De-pois, o meio-ambiente, os índios, etc, esses as-

suntos “politicamente corretos” que tanto agradam os pseudo-intelectuais, os ativis-

tas político-ambientais, os que vivem de bolsas, incentivos, projetos, os que não produzem, enfim, os que formam o rebo-talho do mundo.

O desabafo contundente e que tan-gencia a deselegância é imperioso porque

estou literalmente farto de ver enganações como esta desfilarem diante dos meus olhos

e inteligência.Não aguento mais observar o casuísmo político

usado para temas tão importantes como este, o ambien-tal.

Impossível não ver em tudo isso as mãos obscenas do mar-xismo cultural e do relativismo moral.

A falácia do “ambientalismo” e o fiasco da Rio+20

Paulo Cremoneze

In Guardia - 32

As Celebrações Litúrgicas na Ausência do Presbítero

Por Kairo Neves

Os ministros ordenados exercem gran-des ministérios junto à liturgia, seja na administração dos sacramentos, seja na pregação da sã doutrina. Seu ministério é indispensável para a vida da igreja. Desde o ministério petrino, vínculo da unidade da Igreja, passando pelo ministério episcopal, sumo sacerdócio, até o serviço dos padres e diáconos que, em cooperação com o Bis-po, exercem o pastoreio de todas e cada uma das almas.

Ocorre por vezes, que a presença de um ministro ordenado, em particular de um presbítero não é possível a uma ou ou-tra comunidade. A Igreja tem consciência dessa situação e se preocupa com a vida sacramental dessas almas. Para isso, tanto o Código de Direito Canônico, quanto os livros litúrgicos apresentam ritos a serem utilizados nessas situações.

Não se deve, porém, abusar de tais permissões. Criando comunidades subpa-roquiais, com o simples objetivo de “des-centralizar” as celebrações dos templos. Esse erro é uma traição às comunidades primitivas que sempre tiveram seu funda-mento na presidência do Bispo e, depois, de seus representantes, os presbíteros. A comunidade deve se esforçar por estar na presença do sacerdote, seja se unindo a igrejas maiores por ocasião das celebra-ções mais solenes do ano, seja por uma maior flexibilidade nos horários das mis-sas dominicais que permita ao sacerdote celebrar.

Persistindo a impossibilidade da pre-sença do ministro ordenado, a comunida-de cristã celebre a palavra de Deus e, se for o caso, também os sacramentos que lhes são permitidos.

Os sacramentos que validamente se celebra na ausência do presbítero são o Batismo, o Matrimônio e ainda a distri-buição da Sagrada Eucaristia, previamente consagrada.

BatismoOs ministros ordinários do Batismo

são o Bispo, os presbíteros e os diáconos. Ocorre, porém, que o ordinário local pode designar um catequista ou outra pessoa para conferir o batismo, segundo o cânon 861 §2. Esse leigo confere, de acordo com o ritual do batismo, o sacramento da ini-ciação cristã consoante a orientação do Bispo.

Em função da importância deste sacra-mento, em casos de verdadeira necessida-de, qualquer pessoa, mesmo não batizada, pode conferir validamente o batismo, utili-zando matéria, forma e intenção válidas.

MatrimônioOs ministros do matrimônio são os nu-

bentes. Apesar disso, a Igreja considera válidos apenas os matrimônios realizados na presença de um ministro autorizado,

normalmente o Bispo ou Pároco ou outro clérigo designado por um deles.

Nas regiões de escassez de clérigos, o Bispo diocesano, obtida a permissão da Santa Sé, pode designar leigos idôneos para assistir matrimônios e receber, em nome da Igreja, o consentimento dos nu-bentes.

Celebração da Palavra (com comunhão eucarística)

Os casos anteriores ocorrem, natural-mente, apenas em situações extremas em que os sacerdotes ficam um período longo sem se fazer presente na comunidade. O

que leva a necessidade de se designar lei-gos para administrar esses sacramentos.

Entretanto, há de se considerar tam-bém celebrações na ausência do presbíte-ro em casos menos raros. Por exemplo, em uma paróquia com muitas igrejas, onde o sacerdote não pode celebrar no domin-go em todas as igrejas. É natural que, de acordo com a situação pastoral, o sacerdo-te consagre a eucaristia a ser distribuída durante a celebração da palavra realizada naquela igreja no domingo.

Essa celebração deve-se realizar com alguns cuidados. O primeiro deles é que os fiéis devem ser avisados que não se trata de missa. Muitas vezes ocorre confusão, por um horário de missa ser substituído ocasionalmente por Celebração da Pala-vra. Os fiéis têm o direito de serem infor-mados, uma vez que, havendo possibilida-de, é dever deles ir à Santa Missa.

A Santa Sé diz, ainda, que não se deve fazer tal celebração numa igreja em que a missa já foi celebrada ou vai ser em horá-rios posteriores no mesmo domingo, ou ainda em que foi celebrada no sábado an-terior.

Tais celebrações são presididas por um, e um único, leigo. Este age como “um en-tre os iguais”. Em se tratado de um semi-narista, pode usar batina e sobrepeliz ou alva e cíngulo. Antes da celebração deve-se preparar o lecionário. Se for o caso de

se distribuir a comunhão também o corpo-ral, a galheta com a água, a chave do sacrá-rio e a patena. Sendo necessário, também cibórios. Sobre o altar ou perto dele este-jam dois castiçais com velas acesas. Não se acende o círio pascal, e não se admite o uso de incenso.

O rito aprovado para esta celebração é muito diferente do Rito da Missa. Deve-se descontruir urgentemente a ideia de que a celebração da palavra é uma adaptação da missa. As expressões “o Senhor esteja conosco” ou “abençoe-nos o Deus todo poderoso...”, por exemplo, simplesmente não existem. O ritual com todas as fórmu-las a serem usadas são descritas no ritual “Sagrada Comunhão e Culto do Mistério Eucarístico fora da Missa”. É um rito bem mais simples que o da Missa.

Pode-se iniciar o rito com uma peque-na procissão. Para ressaltar que a impor-tante figura do sacerdote não se encontra presente, aquele que preside pode levar nas mãos uma estola da cor da liturgia que se celebra e colocá-la sobre a cadeira do sacerdote; ou realizar outro gesto simples que seja inteligível aos fiéis. Na cadeira do sacerdote, não se assentem os leigos, sob nenhuma circunstância.

Os ministros fazem reverência ao altar e sobem ao presbitério. Ninguém beija o altar. Os ritos iniciais constam de uma sau-dação simples “Irmãos e Irmãs, bendizei a Deus...”. Pode parecer estranho ao cos-

É natural que as celebrações litúrgicas

tendam a ser presididas por clérigos, de maneira

marcante por presbíteros, até por conta do

ministério de dispensar os sacramentos, em

particular consagrar a Santíssima Eucaristia

In Guardia - 34

tume das comunidades, mas o ritual não diz que se deva começar a celebração com “Em nome do Pai...”.

O ato penitencial é feito como na Santa Missa, com uma das três fórmulas do Mis-sal. Entretanto, não se acrescenta depois do ato penitencial o Kyrie. De igual manei-ra, o Glória e a Coleta não existem nessa celebração.

Passa-se então à liturgia da Palavra. Aquele que conduz a celebração, bem como os que lhe auxiliam toma lugar em cadeiras preparadas junto da assembleia fora do presbitério.

Sendo domingo, fazem-se as leituras do Lecionário Dominical, de forma habitu-al; em outros casos, podem-se usar os tex-tos do dia ou outros mais apropriados. O evangelho é lido por um leitor, omitindo-se a saudação “O Senhor esteja convosco”. Como não é permitido aos leigos fazer ho-milia, esta se deve omitir. Entretanto, por concessão do Bispo local, pode-se autori-zar àquele que preside a celebração que leia uma homilia escrita pelo pároco ou outro clérigo.

Não se diz o Credo, mesmo em do-mingo ou festa; faz-se a Oração dos Fiéis. É uma ocasião importante para se rezar, entre outras coisas, pelo clero, pelas voca-ções às ordens sagradas e pelo pároco.

Se não há distribuição da comunhão, reza-se o Pai Nosso e a oração conclusiva. Executam-se os ritos finais e os ministros

se retiram.Havendo distribuição da Sagrada Co-

munhão, passa-se à segunda parte da ce-lebração. Se os ministros foram se sentar junto da assembleia, voltam ao presbitério nesse momento.

Abre-se o corporal sobre o altar. Aque-le que preside, se for o caso, acompanha-do por alguém que o auxilie, vai ao sacrá-rio, tomam os cibórios e os coloca sobre o altar. Genuflete. Nesse momento pode-se fazer um ato de adoração, uma oração de ação de graças ou algo semelhante. É con-selhável inclusive cantar um hino litúrgico como o Glória ou Magnificat; mas deve-se evitar qualquer tipo de adaptação de oração eucarística. Aquele que preside e os que o auxiliam pode colocar-se nesse momento de frente para o altar, todos se ajoelham ao menos por alguns instantes diante da Santíssima Eucaristia.

Depois disso, reza-se o Pai Nosso, ex-cluindo-se o embolismo, passa-se ao beijo da paz, se for o caso. Então, é feita a apre-sentação da hóstia e a comunhão. Todas as orações silenciosas que ocorrem na missa não aparecem nesse rito, com exceção da que aquele que preside reza antes de co-mungar “Que o Corpo de Cristo me guarde para a vida eterna”. Diferentemente das outras ocasiões, é permitido ao leigo que preside, e somente a ele, comungar pelas próprias mãos.

A comunhão é distribuída como de

costume. Depois da comunhão, guarda-se certo tempo de silêncio sagrado. Aquele que preside pondo-se de pé, diz “Oremos” e conclui com a oração depois da comu-nhão.

Os ritos finais, a serem usados tan-to quando há distribuição da comunhão, quanto no outro caso, constam da fórmula “O Senhor nos abençoe, nos livre de todo mal...”, a mesma do final de Laudes e Vés-peras; e a despedida costumeira “Ide em paz que o Senhor vos acompanhe”.

Liturgia das HorasNão poderíamos deixar de falar, é claro,

da oração que a Igreja eleva aos céus du-rante todo o dia. A liturgia das horas, um conjunto de orações distribuída ao longo do dia, é um tipo de liturgia que a igreja realiza ininterruptamente. Os clérigos e os religiosos são obrigados a rezá-la, ao me-nos individualmente. Aqueles que vivem em clausura, os cônegos e alguns outros a fazem sempre em comunidade.

Também os leigos são convidados a rezar a liturgia das horas, principalmente as horas mais importantes, Laudes e Vés-peras _ oração da manhã e da tarde. Essa oração se pode fazer de maneira individual ou de maneira comunitária e esta última pode ser ainda de forma cantada.

Nessa celebração, as partes próprias do presidente da celebração podem ser feitas por um leigo, de seu próprio lugar na assembleia. As leituras e preces podem ser feitas do ambão, sendo os leitores os úni-cos a subir ao presbitério. Incenso e homi-lia estão, naturalmente, fora de cogitação.

Todos ficam de pé durante o hino, as preces, o cântico evangélico e as orações e sentados durante a salmodia e as leituras. A liturgia das horas pode, ainda, ser cele-brada diante do Santíssimo Sacramento exposto.

ConclusãoÉ natural que as celebrações litúrgi-

cas tendam a ser presididas por clérigos, de maneira marcante por presbíteros, até por conta do ministério de dispensar os sacramentos, em particular consagrar a Santíssima Eucaristia. Entretanto, a Igreja olha com atenção também aquelas co-munidades que não dispõem de clérigos, autorizando-as a celebrar os sacramentos que se pode confiar aos leigos, a distribuir a Santíssima Eucaristia, celebrar a Palavra de Deus e oferecer o sacrifício de seus lá-bios. A Igreja, enquanto Mãe e Mestra, é também sábia ao lembrar constantemen-te essas comunidades da importância do sacerdócio e de seu valor indispensável à salvação das almas, de modo que essas comunidades não se queiram tornar “re-publicanas”, mas estejam sempre à espera do Rei Jesus que vai ao encontro delas na humilde figura do sacerdote.

In Guardia - 35

O pai e o mundo modernoEvelyn Mayer de Almeida

“Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais

vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe

pedirem?” Mt 7,11

Quando nos perguntamos sobre o papel de pai no mundo mo-derno, as respostas que se nos dão são as de que este papel mudou: hoje, o pai saiu do papel de “opressor, tirano e totalitário” para um baby-sitter moderno. Dezenas, diria até centenas de matérias, vídeos, reportagens e afins mostram – orgulhosos! – os homens que decidiram realizarem-se (cof!) no papel de “donos de casa”. São tão generosos, tão homens-beta que, a fim de demonstrarem sua sensibilidade à realização da esposa, ficam em casa e viram a “Amélia”.

Mal sabem estes pais (e mães) que colaboram absurda e inge-nuamente para com este programa ideológico e partidário femi-nista vigente em nossos tempos. Com a ascensão do feminismo, colocar a mulher como dona de casa é mantê-la em submissão ao esposo. Ser submissa é viver sob a opressão machista. Qual a forma “lógica” em “oprimir” o homem, fazendo-o sentir física, emocional e socialmente o que as mulheres sentiram por séculos? Fadá-los ao serviço doméstico. E, assim, os filhos crescem sem compreenderem o que, de fato, representam pai e mãe na so-ciedade, bem como eles mesmos.

Quer dizer então, Evelyn, que você é contra o homem fazer o serviço domésti-co? Não. Meu marido, por exemplo, me ensinou a fazer grandes coisas quanto a isto. Mas, depois de ensinado, não tocou mais a mão, porque compreendeu que agora eu sei, logo domino o mesmo. En-tretanto, quando ele nota que estou apura-da e/ou sobrecarregada, prontifica-se em auxiliar-me sem que eu peça. Quanto a isso, sou favorável. Contudo, jamais aceitaria que meu esposo viesse a desempenhar o trabalho de dono de casa. E o motivo é simples: não foi para isso que ele foi criado. Os homens, por mais caprichosos que sejam (e o são!) não têm a delicadeza das esposas em pensar nos detalhes mínimos para a casa: enxoval, louça, decoração, flores... Evidenciar isso não é desmerecer os homens. Ao contrário: é dizer que homens têm papéis diferentes das mulheres. Do mesmo modo, não sou favorável que a mulher deva assumir uma profissão de autorrisco, que exija dela uma força descomunal apenas para provar que pode fazer tudo seme-lhante ao homem. Por qual motivo? Competição?! Que absurdo! Qual a necessidade em perder toda a feminilidade para mostrar-se “tanto quanto” competente ao homem? Sendo o homem mais for-te por natureza, que seja ele a fazer o que a Natureza lhe incubiu. Enquanto isso, nós – mulheres – lhes satisfa-zemos e comple- tamos com a doçura que nos cabe. E, me des- culpem as feministas, mas

não en- contro nisso machismo, e s i m , realidade. Verdade!

Em uma sociedade como a nossa, é fato que a mulher está praticamente vetada ao serviço domés-

tico. Com uma renda apertada, pouco tempo e/ou condições para formar-se, o homem tem necessitado do

apoio de sua companheira

para que os filhos tenham comida à mesa. A mulher tem saído de casa mais do que deveria. Não acredito que isso seja culpa dela ou dele (somente), e sim, de uma sociedade que se descristiani-zou. Retirando Deus do centro do universo, racionalizando todo e qualquer pensamento e paradigma (leia-se “tabu”), nossa socie-dade passou a ver cada ser humano como um ser “unissexualiza-do”. Logo, homens e mulheres devem ter direitos e deveres como se, naturalmente falando, fossem iguais, o que não procede.

Não é de hoje que a mulher trabalha para auxiliar o marido nas rendas de casa. A mulher citada em Provérbios 31, 10-31, mostra que, além de cuidar do marido e da casa, ela faz trabalhos artesanais para auxiliá-lo na renda. E a alegria desta mulher está em saber que o coração de seu marido a ela está confiado (cf. PV 31,11). E isso só foi possível porque esta é temente ao Senhor. Temer ao Senhor, algo quase que inexistente em nossos dias.

Cabe a nós, cristãos, lembrar que neste dia dos pais devemos exaltar o real papel do homem na família: chefe. Devemos, como aqueles que dese-jam imitar o Cristo, fazer valer o modelo de família que, antes, exortou-nos Paulo: “as mulheres sejam submissas aos seus maridos, como ao Senhor, pois o marido é o chefe da mulher, como Cristo é o chefe da Igreja, seu corpo, da qual ele é o Salva-dor [...] Maridos, amai vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela água do batismo e pela palavra [...]

Em resumo, o que importa é que cada um ame a sua mulher como a si mesmo, e a mulher respeite o seu marido.” (Efésios 5, 22-23; 25-26; 33).Ora, dar ao homem o papel de chefe não é dar-lhe o mastro de prepotente, mas de zelador. Note que Paulo compara a vocação de esposo ao de Cristo, evidenciando quão duríssimo é ser esposo quanto espera o Senhor. Zelar pela esposa, santificá-la, fazer de sua casa um lar que bendiga ao Senhor (cf. Js 24, 15) é algo possível àquele que em Deus confia.

Cabe a nós, também, esposas, observar se não estamos “cas-trando” os nossos maridos. Com o advento feminista, muitas de nós procuramos tanto nos autorrealizarmos (como se o fato de sermos donas de casa, esposas e mães fosse um sacrilégio) que acabamos por impedir, e até mesmo castrar os nossos esposos. Não lhes damos mais o direito de advogar em nosso favor, não lhes pedimos conselhos tanto quanto deveríamos fazer, coloca-mos nossas vontades e direitos acima das deles que estes acabam perdidos quanto o seu papel neste núcleo familiar. Submissão não é viver à sombra, mas auxiliar os maridos que nos guiam para Deus. É fazer com que o marido brilhe e o brilho dele seja tam-bém o da mulher, que o apoia, que o consola e serve de suporte para toda a vida. Nenhuma mulher que faça valer o seu papel de esposa se sente triste, como pintam as ‘feminazis’. Todas elas sabem que honrar o seu esposo é papel primordial no caminho da salvação. Sabem que, honrando seus maridos, seus filhos terão alegria ao ver que o pai é o reflexo de Deus, da esperança em suas vidas.

Que São José, pai adotivo de Jesus e benditíssimo esposo da Virgem Santíssima possa abençoar todos os pais neste dia. Que ele também ensine os homens e as mulheres de nosso tempo viver o sagrado sacramento do matrimônio como ensinou-nos São Pau-lo, pois é isto que de nós espera o Senhor.

In Guardia - 36

Nossa Senhora de La Salette

“A Mensagem que Eu comuniquei em La Salette é urgente e deve ser obedecida por vós e dada a conhecer

por vós também aos Meus filhos do mundo todo.”

Na tarde do dia 19 de setembro de 1846, na montanha de La Salette, locali-zada num povoado de mesmo nome nos Alpes Franceses, estavam Maximin Girald, então com 11 anos e Mélanie Calvat, 15, pastoreando o gado de seu patrão. De re-pente, Mélanie avistou uma luz muito forte que vinha de dentro da mata, uma luz que dava a impressão de serem duas em uma. A luz dividiu-se: uma parte sumiu e a ou-tra permaneceu em uma pedra. A menina chamou Maximin, com um pouco de receio foram ao encontro daquela luz não identi-ficada.

A luz era muito intensa, como o sol, mas não queimava os olhos. Ao chegarem mais próximos, perceberam que a luz formava a silhueta de uma mulher, vestida como uma camponesa (um longo vestido, touca, um lenço que se cruzava na frente e nas costas). O que mais chamou a atenção das crianças foram as correntes pesadas que a mulher trazia nos ombros e uma outra cor-rente mais leve no pescoço, onde havia um incomum crucifixo: nele era possível ver Jesus crucificado, contorcendo-se de dor e de um lado da cruz havia um martelo e do outro um alicate. A cabeça da mulher esta-va adornada com lindas flores igualmente a seus pés.

A mulher estava sentada na pedra, com as mãos cobrindo o rosto. Ela chorava. Cho-

rou durante todo o tempo que permaneceu com as crianças. Mesmo assim, olhou para elas e disse:

- Vinde, meus filhos, não tenhais medo, aqui estou para vos contar uma grande no-vidade!

- Se Meu povo não quer submeter-se, sou forçada a deixar cair o braço de Meu Filho. É tão forte e tão pesado que não o posso mais suster.

Há quanto tempo sofro por vós!Dei-vos seis dias para trabalhar, reser-

vei-me o sétimo, e não mo querem conce-der! É isso que torna tão pesado o braço de Meu Filho.

E também os carroceiros não sabem in-juriar sem usar o Nome de Meu Filho. São essas as duas coisas que tornam tão pesa-do o braço de Meu Filho.

Se a colheita se estraga, não é senão por vossa causa. Eu vo-lo mostrei no ano passa-do com as batatas, e vós nem fizestes caso! Ao contrário, quando encontráveis batatas estragadas, injuriáveis usando o Nome de Meu Filho. Elas continuarão assim, e neste ano, para o Natal, não haverá mais.

A bela senhora então continuou falan-do, mas somente para Maximin, Mélanie não podia escutar. Algum tempo depois a senhora começou a falar com Mélanie, e Maximin não escutava, eram segredos confiados a cada um, que só depois foram

revelados.E mais uma suplica foi feita a eles em

relação à oração:-Fazeis bem vossa oração, meus filhos?- Ah! Meus filhos, é preciso fazê-la bem,

à noite e de manhã, dizendo ao menos um Pai Nosso e uma Ave-Maria quando não puderdes rezar mais. Quando puderdes re-zar mais, dizei mais.

Durante o Verão, só algumas mulheres mais idosas vão à Missa. Os outros traba-lham no Domingo, durante todo o Verão. Durante o Inverno, quanto não sabem o que fazer, vão à Missa zombar da religião. Durante a Quaresma vão ao açougue como cães.

Depois de conversar com Mélanie e Maximin, ainda com lágrimas no rosto, a Bela Senhora despede-se e sai andando até um ponto do bosque. As duas crianças rela-taram que seus pés deslizavam sobre a rel-va. Ela então começa a subir lentamente, ao chegar em uma altura de aproximada-mente quatro metros, olha para sua direi-ta onde se encontra Roma e logo para sua esquerda onde está França, volta o olhar para as crianças e se ofusca em meio uma luz muito forte.

As crianças voltam para casa e conta-ram aos patrões a aparição. Muito surpre-sos escreveram tudo que eles contaram, as características da Senhora, suas palavras e,

Por Lizandra Silva

In Guardia - 37

principalmente, sua mensagem. O Crucifixo de Nossa Senhora de La Sa-

letteA cruz chama muito atenção. Mélanie

relata que o crucifixo brilhava muito e o Crucificado às vezes parecia morto e outras parecia vivo com os olhos abertos e dando a impressão de estar ali por Sua vontade própria.

O martelo do lado esquerdo de Jesus Cristo é um símbolo daqueles que O cru-cificam todos os dias , com seus pecados, com seu desprezo às leis divinas e com seu ódio pela perfeição.

O alicate representa aqueles que o amam e que com suas boas obras dimi-nuem as dores de Jesus, tentando despre-gá-lo da Cruz.

Mensagens e segredos de Nossa Se-nhora de La Salette

Mensagens e segredos importantes, contados a duas crianças pobres, nos fazem entender que o mundo é governado por homens que não possuem a pureza e a ino-cência necessária e digna para receberem tamanhos tesouros da Virgem Santíssima. Podemos perceber que nas aparições mais importantes de Nossa Senhora está a figura de crianças que acreditaram no que viram e não mediram esforços para transmitir ao mundo as mensagens.

Nossa Senhora permitiu a revelação das mensagens endereçadas a Mélanie apenas no ano de 1858, quando ela aparece tam-bém em Lourdes.

Aos SacerdotesEla cita as irreverências e a crise moral

dos sacerdotes, ministros de Jesus Cristo, que possuem má vida e celebram os Santos Mistérios de forma indigna principalmente o Santo Sacrifício da Missa. Tornam cada vez mais impuros, por causa do amor ao di-nheiro, amor à honras e aos prazeres.

“ Ai dos sacerdotes e das pessoas con-sagradas a Deus que, pelas suas infidelida-des e a sua má vida, crucificam de novo o meu Filho!”

PrevisõesEla prevê grandes desastres na huma-

nidade. A divisão entre aqueles que reinam

em todas as sociedades e em todas as fa-mílias.

Por tamanhos pecados, Maria diz que seu Filho mandaria grandes castigos que durariam 35 anos.

“A sociedade está nas vésperas dos mais terríveis flagelos e dos maiores aconteci-mentos; serão governados por uma vara de ferro e beberão o cálice da cólera divina”.

Ela prevê ainda os desastres causados por Napoleão Bonaparte. Pede para que o Papa Pio IX que “desconfie de Napoleão, o seu coração é duplo e quando quiser ser ao mesmo tempo imperador e papa, em bre-

ve, Deus o abandonará.”Os Apóstolos dos Ultimos tempos Como para São Luiz de Montfort, a Vir-

gem Santíssima falou na aparição em La Sa-lette para Mélanie sobre os apóstolos dos últimos tempos.

Esse foi um dos segredos contados à menina. Maria pediu para que fosse fun-dado uma ordem religiosa que seguisse os seguintes propósitos :

1º – Padres, que serão os Missionários da Santíssima Virgem e os Apóstolos dos Últimos Tempos;

2º – Irmãs religiosas que dependerão dos Missionários;

3º – Fiéis de vida secular que se quei-ram associar à obra. A finalidade desta nova ordem religiosa é a de trabalhar-se mais eficazmente na santificação do clero, na conversão dos pecadores e a de propagar o reino de Deus na terra inteira. As religiosas, tal como os missionários, são chamadas a trabalhar com zelo na salvação das almas pela oração e pelas obras de misericórdia corporais e espirituais. Quanto ao espírito da ordem, este deve ser o espírito dos pri-meiros apóstolos.

A Santíssima Virgem caracterizou su-ficientemente este espírito, seja na regra que Ela me deu, seja no apelo aos Após-tolos dos Últimos Tempos em que finda o segredo”. (Mélanie)

“Eu dirijo um urgente apelo à Terra; chamo os verdadeiros discípulos do Deus Vivo que reina nos Céus; chamo os verda-deiros imitadores de Cristo feito Homem, o único e verdadeiro salvador dos homens; chamo os meus filhos, os meus verdadeiros devotos, aqueles que já se me consagraram a fim de que vos conduza ao meu Divino Fi-lho; os que, por assim dizer, levo nos meus braços, os que têm vivido do meu Espírito; finalmente, chamo os Apóstolos dos Úl-timos Tempos, os fiéis discípulos de Jesus Cristo que têm vivido no desprezo do mun-do e de si próprios, na pobreza e na humil-dade, no desprezo e no silêncio, na oração e na mortificação, na castidade e na união com Deus, no sofrimento e no desconheci-mento do mundo. Já é hora de que saiam e venham iluminar a Terra. Ide e mostrai-vos como filhos queridos meus. Eu estou con-vosco e em vós sempre que a vossa fé seja a luz que alumie, e nesses dias de infortú-nio, que o vosso zelo vos faça famintos da glória de Deus e da honra de Jesus Cristo.”

Tempos depois, Mélanie recebe uma visão:

“Vejo os Apóstolos dos Últimos Tempos com os seus hábitos. Ele parece-se mais ou menos ao dos sacerdotes dos seus tempos. Numa extremidade da cinta encontram se estas três letras em encarnado: M.P.J. (Mourir pour Jesus – Morrer por Jesus), na outra extremidade as seguintes três letras

em azul: E.D.M. (Enfant de Marie – Filho de Maria)”.

EspiritismoOutra profecia que se concretizou tem-

pos depois, foi a previsão de uma religião que seria comandada pelo inimigo, o Es-piritismo.

A Virgem Santíssima diz em palavras duras que assustam ao ser lidas: ela diz que depois de alguns anos de sua apari-ção em La Salette, em 1864, Lúcifer e seus anjos seriam soltos na terra. Com suas ar-timanhas iriam abolir rapidamente a fé de muitas pessoas, até mesmo aquelas que eram consagradas á Deus. Essas pessoas iam ser dominadas por espiritos maus e muitas casas religiosas seriam devastadas pela má fé, fazendo com que suas almas se perdessem.

Disse ainda que um mau livro se mul-tiplicaria no mundo, pregando um evange-lho contrário ao de Jesus Cristo, negando a existência do Céu e do Inferno, fundando uma igreja para servir à esses espíritos. O demônio se passaria por espíritos de justos já mortos, pregando um outro evangelho, diferente do evangelho do Deus verdadei-ro, negando a existência de almas conde-nadas. E todas essas almas pareceriam unidas ao seu corpo. Ela ainda diz que ha-veriam prodígios extraordinários feitos por homens.

Ainda há dúvida de que Maria falava do Espiritismo?

Em 1846, as crianças Mélanie e Maxi-min descreveram todas essas palavras vin-das da boca de Nossa Senhora. Na época eram profecias que não possuíam muita lógica. Mas, 18 anos depois tudo se cum-priu!

Por incrível que pareça, exatamente no ano de 1864 no mês de abril em Paris acon-tece o lançamento do livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo” de Allen Kardec, comprovando a profecia falada às duas crianças de La Salette.

DevoçãoO culto a Nossa Senhora de La Salette

passou a ser mais intenso no século XX, juntamente com Nossa Senhora de Lour-des em 1858 e Nossa Senhora de Fátima em 1917 que são as três aparições mais fa-mosas da idade moderna.

O dia de Nossa Senhora de La Salette é comemorado 19 de setembro. O Santuário está localizado nas montanhas de La Salet-te (Alpes Franceses) a uma altitude de cer-ca de 1800m.

Sua construção começou em 1852 e foi concluída em 1865.

Perto da basílica está o local onde acon-teceu a aparição, foram erguidas estátuas de bronze no local que se chama Vale da Aparição.

In Guardia - 38

Irmãos, precisamos de santos sacerdotes, pastores interessa-dos em se doar para a santificação do povo, precisamos de bispos que seja mais pastores que mercenários interessados no dinheiro e na fama, precisamos de pastores que não estejam interessados apenas em aparecer na mídia, dando o mau exemplo para o clero e o povo de Deus com as bobeiras que às vezes dizem, com a falta de comprometimento com a radicalidade evangélica, com a falta de comportamento clerical, precisamos de pastores que tenham a coragem de erguer as vozes nas catedrais proclamando profe-ticamente a boa nova, que automaticamente denuncia o pecado, denunciando o abuso de crianças, denunciando o aborto, denun-ciando a violência urbana, denunciando a prostituição de crian-ças, jovens e mulheres, denunciando o tráfico de drogas, denunciando a imoralidade sexual, e as mentiras pregadas na mídia em relação às questões bioéticas referentes à inse-minação artificial, e etc..., não preci-samos de pastores que aparecem na televisão dizendo: ‘O nome de Jesus é doce’ ou de medíocres direções es-pirituais na tv que nada mais são que autoajuda. Precisamos sim de Pasto-res que tenham em uma mão o bastão com pregos na ponta, para defender o seu rebanho dos mercenários, dos animais ferozes, e na outra tenham o cajado, para ritmar o passo das ovelhas, e puxar as que estão se ex-traviando do caminho ou caindo no precipício, por isso devemos rezar, rezar com o coração, rezar com força de Deus, rezar no espírito, rezar com um amor profundo pela igreja, para podermos receber santas e perseve-rantes vocações, vocações proféticas para os nossos tempos impregnados pela oposição silenciosa ao Papa e ao seu magistério petrino.

O Sacerdote é chamado a seguir o modelo de Cristo, a ser fiel a vontade do Pai, como Cristo o foi, devendo “ser”, a imagem visível do pró-prio Cristo para os homens, sinal do amor que doa a vida levando à solidariedade autêntica com aqueles que sofrem, com os pobres espirituais e materiais. O sacerdote chamado por Deus a celebrar os mistérios da salvação, os sacramentos, a Santa Missa, não de qualquer jeito, não como um evento feito em um placo de tea-tro ou um show, não como alguém que está dando qualquer coisa ao povo, mas deve, viver intensamente cada um destes mistérios, com a oração, para como Cristo, doar-se, se deixar partir, vivendo o seu sacerdócio no escondimento danoite, como aquele agricultor que sai a semear, e lança a palavra, a qual cresce na terra, cresce no coração do homem, no silêncio da noite, vivendo também a Eucaristia, orando e se entregando por aqueles que participam do banquete e do sacrifício, vivendo a dor do abandono, como Jesus a viveu na Agonia no horto, mas, sobretudo, vivendo a alegria da ressurreição e do encontro com os seus, como viveu com os dis-cípulos a margem lago de Tiberíades, onde eles o reconheceram:

‘É o Senhor!’.Na verdade, o bispo, o padre, o papa, não importam, o que

importa é Cristo, é crer em Cristo, pois os homens decepcionam, e estes pastores instituídos por Cristo a cuidar do rebanho da Igreja e do mundo, nada mais são que instrumentos frágeis, que levam o tesouro da presença de Deus, dentro de seus corações, em suas vidas, nos vasos frágeis de barro de sua humanidade, para o bem comum, e quando pensamos a imagem de pastor, a associamo-la a um líder. Contudo, não é pelo simples fato que alguém se ocupe de ovelhas, de pessoas, que deve constituir um pastor.

Olhando a figura do mercenário e do pastor, a primeiro mo-mento, não há uma diferença, ambos são líderes, olham o rebanho,

se ocupam das ovelhas, e muitas vezes não se percebe a diferença em uma olhada rápida, mas observando o agir e a vida de ambos, nota-se pelos seus interesses quem é quem. Alguns tra-balham por amor, outros por dinheiro, e aqui temos a diferença, quem faz por amor e por amor a Deus, e ao que trabalha por interesse financeiro, os outros para ele não interessa, porque “as ovelhas não lhes pertencem!”

Em João 10, 1-18, Jesus se defi-ne como o bom Pastor, que em gre-go “Egoimeinopoimem o kalos”, que quer dizer literalmente “Eu sou o Belo pastor”, porque a ideia fundamental é que o belo dá-nos a ideia do perfei-to, e por ser belo, perfeito, é bom, é belo por dentro, assim a beleza e a perfeição estão em Jesus como reali-dades juntas, inseparáveis, onde uma complementa a outra. Esta deve ser a figura dos Pastores da Igreja, ser com Cristo o “Bom, o Belo Pastor!”, dan-do a sua vida, e não extrair a vida das ovelhas. O pastor oferece a sua vida, em grego não é a sua vida, mas a sua psique, a sua alma.

Jesus, fala do Bom Pastor, para expressar a si mesmo como aquele que se assemelha com as suas ovelhas, vive com elas, sofre com elas, se alegra com elas, e assim diz: “Por isso o Pai me ama, porque ofereço a minha vida, nin-guém me tira, mas sou eu que a ofereço”. No cenáculo na ultima ceia, Jesus disse “Ninguém tem maior amor que este, dar a vida pelo seu amigo!”

Todos nós somos ovelhas e pastores, mas é Jesus o nosso único modelo. E para nos amodelar a ele, devemos estar em sintonia com ele, dispostos a morrer para nós mesmos, a doar a vida, para nãos sermos mercenários que trabalham apenas pelo dinheiro. Fa-lamos muito em dar a vida, mas na realidade, se prestarmos aten-ção, todas as vezes que damos a vida a ganhamos, todas as vezes que morremos para nós mesmos, é que vivemos a verdadeira vida, e abrimos as portas para Deus escrever em nós, abrirmos as portas para uma nova vida que nasce em nós.

Que o Senhor faça de nós ovelhas dóceis a sua palavra e pas-tores sábios e fortes para os nossos irmãos.

Pastorear é dar a vidaPadre Mateus Maria

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Deus sempre quer falar ao homem, por isso o Verbo se fez carne e habitou entre nós... (Jo 1,14). Deus continua falando por meio da Igreja, seu corpo místico. De for-ma específica a Igreja, como é o seu papel, é a porta voz da Palavra de Deus. Assim, junto aos jovens durante as edições das Jornadas Mundiais da Juventude pode for-mar e ensinar com o uso dos lemas.

Todos os anos, as jornadas acontecem em âmbito diocesano, sendo celebrada no Domingo de Ramos e recebem sempre um lema a ser meditado, são as chamadas Jornadas Diocesanas da Juventude. Entre intervalos que podem variar de dois e três anos, são feitos os grandes encontros in-ternacionais. No Rio de Janeiro, em julho de 2013, teremos a décima terceira em âmbito internacional e a vigésima sétima contando todos os eventos.

Num rápido passeio pelos lemas sele-cionados pela Santa Sé, nas edições em que o evento teve âmbito internacional, não é difícil perceber uma vontade de oferecer ao jovem um novo e real senti-do para a vida. Para isso, os lemas giram em torno de passagens bíblicas que convi-dam ao conhecimento de Deus e à missão evangelizadora. Nesse sentido, para ajudar os jovens frente a esse desafio, em duas oportunidades, em Czestochowa (1991) e Sydney (2008), a Igreja por meio do lema clamou o Espírito Santo. Ela quis, também, durante esses anos de lemas nas JMJ favo-recer o relação entre o jovem e a Pessoa de Jesus Cristo, sem o qual é impossível a vocação missionária.

Os lemas até hoje foram todos retira-dos do Novo Testamento, e em oito vezes as citações extraídas foram do Evangelho, sendo na sua maioria do evangelista São João. Mas, o mais importante é o caminho que se pode fazer na leitura e reflexão de cada lema. Desse modo, realiza-se a feliz e santa inspiração de que, dentro da relação amorosa com Deus, Ele revela-se, revela-nos a nós mesmos e convida-nos para a plenitude de nossas vocações.

Estabelecer um verdadeiro diálogo com o Senhor que compreenda uma es-

cuta verdadeira é uma necessidade sem-pre atual dos filhos de Deus. A Santa Mãe Igreja quer favorecer esse diálogo de vida e amor eternos. Louvado seja Deus, por sua eterna vontade de relacionar-se com seus filhos.

De maneira concreta, a meditação dos lemas refaz o convite eterno de amor que Deus tem pela humanidade, por isso fica aqui o convite de fazer durante os meses que antecedem a Jornada do Rio um cami-nho de escuta usando como motivação as citações bíblicas usadas nos eventos pas-sados e da próxima JMJ.

1986

A primeira JMJ, realizada em Roma, teve como lema “Estejam sempre prepa-rados para responder a qualquer que lhes pedir a razão da esperança que há em vo-cês” (1Pd 3, 15). A celebração aconteceu em âmbito diocesano.

1987A primeira fora de Roma ocorreu em

Buenos Aires, na Argentina, com o lema “Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele.” (1 Jo 4, 16). Um milhão de pessoas participou do evento.

1989Em Santiago de Compostela, na Espa-

nha, com o lema: “Eu sou o caminho, a ver-dade e a vida”(Jo 14,6).

1991Na Polônia, terra natal de João Paulo II.

Foi a primeira reunião dele com milhares de jovens em um país do Leste Europeu. Em Czestochowa, com o lema “Vocês re-ceberam o Espírito que os adota como fi-lhos” (Rm 8,15).

1993Em Denver, nos Estados Unidos, como

lema “Eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente” (Jo 10,10).

1995A maior jornada em número de parti-

cipantes, cerca de quatro milhões, aconte-ceu em Manila, nas Filipinas, com o lema “Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio” (Jo 20,21).

1997Paris, na França, o lema foi “Mestre,

onde moras? Vinde e vereis” (Jo 1,38-39).2000“E o Verbo se fez carne e habitou en-

tre nós” (Jo 1,14) foi o lema da grande Jor-nada, o ano do Jubileu da Juventude. Em Roma, na Itália se reuniram quase três mi-lhões de jovens.

2002Toronto, Canadá, com o lema “Vós sois

o sal da terra... Vós sois a luz do mundo” (Mt 5,13-14). Foi a última JMJ com a pre-sença do Papa João Paulo II.

2005A juventude acolheu de braços abertos

a primeira jornada conduzida pelo Papa Bento XVI, realizada em sua terra natal, a Alemanha. Colônia foi a cidade sede e teve como lema “Viemos adorá-lo” (Mt 2, 2) e recebeu aproximadamente um milhão e meio de peregrinos.

2008“Recebereis a força do Espírito Santo,

que virá sobre vós, e sereis minhas teste-munhas” (Atos 1, 8) foi o lema da JMJ da Austrália. Na cidade de Sydney milhares de jovens cruzaram os continentes.

2011Em agosto, cerca de dois milhões de jo-

vens se reuniram para realizada em Madri, Espanha, com o lema “Enraizados e edifi-cados em Cristo, firmes na fé” (cf. Cl 2, 7).

2013Em julho o Brasil terá a oportunidade

de demonstrar toda sua vocação em rece-ber pessoas. O maior país católico fará o maior evento católico, com o lema “Ide e fazei discípulos entre todas as nações” (Mt 28, 19).

Igreja, porta voz da Palavra de Deus junto ao Jovem

Os lemas até hoje foram todos retirados do

Novo Testamento, e em oito vezes as citações

extraídas foram do Evangelho

Por Pedro Brasilino

In Guardia - 40

Psiquiatras e psicólogos estão alarmados com o crescimento do suicídio entre os jovens, uma das principais causas de morte entre eles, sinal de sua profunda tristeza e infelicidade.

Em sua mensagem para o XXVII Dia Mundial da Juventude de 2012 cujo tema é a frase de São Paulo: “Alegrai-vos sempre no Senhor!” (Fl 4,4), o Papa Bento XVI lembra que “a alegria é um elemento central da experiência cristã”. Eis alguns belos trechos:

“A Igreja tem a vocação de levar ao mun-do a alegria, a alegria autêntica e duradoura, aquela que os anjos anunciaram aos pastores de Belém na noite do nascimento de Jesus (cfr Lc 2,10)... No difícil contexto atual, tan-tos jovens em torno de nós têm uma grande necessidade de sentir que a mensagem cristã é uma mensagem de alegria e de esperança! Gostaria de refletir com vocês, então, sobre as estradas para encontrá-la, a fim que possam vivê-la sempre mais em profundidade e que vocês possam ser mensageiros en-tre aqueles que estão à sua volta”.

“O nosso coração é feito para a alegria... E cada dia são tantas as alegrias simples que o Senhor nos oferece: a alegria de viver, a alegria diante da beleza da natureza, a alegria de um trabalho bem feito, a alegria do serviço, a alegria do amor sincero e puro..., os belos momentos de vida familiar, a amizade partilhada, a des-coberta das próprias capacidades pessoais e o alcance de bons resultados, o apreço por parte de outros, a sensação de ser úteis ao próximo... Cada dia, porém, nos deparamos também com tan-tas dificuldades e nos corações existem preocupações para com

o futuro... Como distinguir as alegrias realmente duradouras dos prazeres imediatos e enganosos? Como encontrar a verdadeira alegria na vida, aquela que dura e não nos abandona também nos momentos difíceis?”

“Deus é a fonte da verdadeira alegria. Na realidade, as alegrias autênticas, aquelas pequenas do cotidiano ou aquelas grandes da vida, encontram toda sua origem em Deus, mesmo se não parece

à primeira vista... Deus quer fazer-nos parti-cipantes de sua alegria, divina e eterna, fa-zendo-nos descobrir que o valor e o sentido profundo da nossa vida está no ser aceito, acolhido e amado por Ele: eu sou querido, tenho um lugar no mundo e na história, sou amado pessoalmente por Deus. E se Deus me aceita, me ama e eu me torno seguro, sei de modo claro e certo que é bom que eu

seja, que eu exista.”“Este amor infinito de Deus por cada um de nós se manifesta

de modo pleno em Jesus Cristo. Nele se encontra a alegria que buscamos... E, de fato, do encontro com Jesus nasce sempre uma grande alegria interior. Um cristão não pode ser jamais triste por-que encontrou Cristo, que deu a vida por ele. Queridos jovens, não tenhais medo de arriscar vossa vida, abrindo-a a Jesus Cristo e seu Evangelho... Gostaria de exortar-lhes a serem missionários da alegria. Não se pode ser feliz se os outros não são: a alegria, portanto, deve ser compartilhada. Vão e contem aos outros jo-vens a alegria de vocês por terem encontrado aquele tesouro pre-cioso que é o próprio Jesus”.

Tristeza e AlegriaDom Fernando Arêas Rifan

“A Igreja tem a vocação de levar ao mundo a alegria, a alegria

autêntica e duradoura”

In Guardia - 41

O modo como a RCC entende a oração em línguas é, sim, algo novo na teologia mística. Não há um só caso, que eu saiba, sobre tal fenômeno. Os maiores especialistas do assunto (Tanquerey, por exemplo) não o citam.

Isso não quer dizer que a oração em línguas não exista nem que a RCC esteja errada. Apenas que nos dá o direito de, como católicos, em um ponto controverso, ter uma posição distinta da RCC. A oração em línguas e mesmo a contemporaneidade dos dons extraordinários NÃO são verdades de fé. Pode-se acreditar ou não. Ninguém é menos ou mais católico por crer na oração em línguas tal qual praticada na RCC.

O fato de ser nova essa manifestação da oração em línguas (ou, pelo menos, se ter dúvidas a respeito da prática da RCC quan-to a ela) é exatamente o motivo pelo qual a Santa Sé ainda não se pronunciou. Prudente como é, está estudando, meditando, vendo os frutos.

Enquanto não se pronuncia, somos livres.A RCC talvez tenha o direito de crer que a prática dos grupos

de oração é a oração em línguas, o direito de achar que os “ge-midos inefáveis” são a oração em línguas, o direito de diferenciar oração em línguas de falar em línguas.

Outros temos o direito de não sustentar nada disso. Podem os carismáticos citar milhares de passagens bíblicas, mas serão sem-pre a SUA interpretação pessoal. Como nós, ao citarmos outras e também a teologia mística, daremos a NOSSA interpretação. Ambas são válidas até que o Magistério dê a SUA interpretação infalível.

No essencial unidade, no disputado diversidade, em tudo caridade.

Pode-se duvidar que a prática que a RCC chama de oração em línguas seja realmente um fenômeno místico? A resposta: sim, pode-se, dado que o Magistério ainda não se pronunciou sobre a questão.

Muito melhor do que eu, define esses termos a Catholic Encyclopedia:

http://www.newadvent.org/cathen/14613a.htmTem mais aqui:http://www.freaknet.org/martin/libri/Compendio/ - O melhor

livro sobre o assunto!!! O clássico Tanquerey!Para quem quiser comprá-lo em português, tem na Quadran-

te. www.quadrante.com.brE a tradução para o espanhol do artigo da Catholic Encyclope-

dia que postei antes:http://www.enciclopediacatolica.com/t/teologiaascetica.htmMais um sobre teologia mística e ascética:http://www.gratisdate.org/nuevas/directorio/default.htm

“Il dono delle lingue, detto anche con termine greco glosso-lalia, che in S. Paolo è il dono di pregare con santo entusiasmo in ignota lingua straniera; secondo i teologi invece è il dono sopran-naturale di parlar varie lingue.”

Ou seja, o dom das línguas é o dom de orar (“pregare”) com santo entusiasmo em língua estrangeira e de falar várias línguas. Vemos aqui que é tanto o orar quanto o falar em línguas. Ambos são manifestações (diversas) do mesmo dom.

Todavia, não indagamos a respeito da existência do dom. Todos aqui sabemos que ele existe.

A questão é: o que a RCC chama habitualmente de dom de línguas, de orar em línguas e de falar em línguas, é, de fato, o dom de línguas? Noutros termos: o dom de línguas (tanto faz se rezar ou falar) descrito por São Paulo e explicado no Tanquerey (maior autoridade em teologia ascética e mística) é aquilo que a RCC diz que é?

A RCC diz que sim. Outros, entre os quais me incluo, digo que não, ou, no mínimo, que nem sempre. Pode haver, na RCC (e fora dela) um autêntico rezar em línguas e um autêntico falar em línguas. Acredito, entretanto, que nem sempre as línguas pratica-das na RCC sejam reais manifestações desse dom, e sim sugestão psicológica.

É lícito ao católico acreditar que nem sempre o que a RCC cha-ma de dom de línguas é verdadeiro dom? É, porque o Magistério ainda não se pronunciou.

É lícito acreditar que as línguas da RCC são sempre o dom? É, pelo mesmo motivo.

Entretanto, chamo a atenção para o fato de que o verdadeiro dom (rezar ou falar) é, para Tanquerey e todos os outros autores de mística e ascética, um dom extraordinário. Ora, a prática da RCC é de um rezar em línguas comum e ordinário, o que contrasta com esse ensino mais tradicional.

Alguns poderiam invocar os tais vídeos em que dois padres da RCC ensinam a orar em línguas.

À luz de Tanquerey, que inclui a oração em línguas como um dos nove carismas de 1 Cor 12 e os chama de FENÔMENOS MÍS-TICOS e DONS EXTRAORDINÁRIOS, acho, sim, um total absurdo ensinar a orar em línguas. Um fenômeno místico não pode ser aprendido. A pessoa recebe um dom, manifestando um fenôme-no místico, e reza em línguas. Não se aprende a rezar em línguas, como não se aprende a ter visões, nem se aprende a ter os estigmas. E Tanquerey explica todos esses fenômenos no MESMO capítulo!

Pouco importa se é o Pe. Jonas ou o Pe. Léo quem está no vídeo ensinando a orar em línguas. A despeito da veneração que nutro por tais sacerdotes, eles estão errados, sim.

Pensando alto sobre a oração em línguasRafael Brodbeck

In Guardia - 42

A partir desta edição será feita uma breve avaliação em várias partes do livro “Igreja:

Carisma e Poder”, de Leonardo Boff. Contudo, é necessário que se percorra o

caminho traçado pelo referido autor a fim de melhor compreendermos um pouco de sua

vida e obra

Igreja: Carisma e PoderLeonardo Boff nasceu em Concórdia,

Santa Catarina, 1938. Cursou Filosofia em Curitiba-PR e Teologia em Petrópolis-RJ. Doutorou-se em Teologia e Filosofia na Uni-versidade de Munique, na Alemanha, em 1970. Foi professor de Teologia Sistemáti-ca e Ecumênica em Petrópolis, no Instituto Teológico Franciscano e Espiritualidade em vários centros de estudo e universidades no Brasil e no exterior. Em 1984, em razão de suas teses ligadas à Teologia da Liber-tação, apresentadas no livro “Igreja: Caris-ma e Poder”, foi submetido a um processo pela Sagrada Congregação para a Defesa da Fé no Vaticano. Em 1985, foi condenado a um ano de silêncio. Permanecendo de-sobediente, em 1992, de novo ameaçado com uma segunda punição por Roma, re-nunciou às suas atividades de padre e se autopromoveu ao estado leigo. Atualmen-te é escritor, professor universitário, expo-ente da Teologia da Libertação(Marxista e herética) no Brasil onde é reconhecido por sua história em defesa das causas sociais e questões ambientais.

Após breve comentário sobre a vida do autor, vamos aquela que foi uma de suas obras de grande repercurssão e erros gro-tescos. A obra “Igreja: Carisma e Poder” teve algumas edições e sofreu algumas mudanças: reeditada no Brasil pela Record, teve sua primeira edição em 1981 (Edito-ra Vozes), uma segunda edição em 1994 (Editora Ática). No decorrer das edições foi

retomando o texto original e acrescentan-do um longo apêndice contendo a docu-mentação do processo doutrinário que se seguiu à publicação do livro. Hoje, segue-se o padrão anterior, com a adição de um novo prefácio do autor e um sucinto balan-ço final sobre o significado do livro. O livro “Igreja: carisma e poder”, na verdade, reco-lhe uma série de ensaios elaborados pelo ex-frei Leonardo Boff, ao longo dos anos 70 e início de 80, época em que foram publi-cados vários de seus ensaios em revistas teológicas nacionais e internacionais. Dos treze artigos que acompanham a coletânea de ensaios, apenas dois eram inéditos na ocasião da publicação do livro, e um deles parte da tese de doutorado do autor de-fendida na Alemanha em 1970.

Logo após a publicação do livro, em 1981, surgem os primeiros questionamen-tos e críticas. Algumas reações partiram de notaveis teólogos, drente eles o francisca-no Boaventura Kloppenburg, antigo profes-sor e colega de cátedra de Leonardo Boff. Outras resenhas foram também desfavo-ráveis, como as de Ubano Zilles e Estevão Bettencourt. A polêmica ganha grande pro-porção e, então, entra em ação o Cardeal Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Após grande debate refe-rente a questão da Verdadeira Igreja de Cristo (amplamente abordada no livro), o cardeal Ratzinger publica em 1985 uma no-tificação sobre o livro e submete o autor a

um “silêncio obsequioso”. É possível notar na obra de Boff a in-

fluência do pensamento marxista, como também, da exegese protestante liberal. A Igreja, do ponto de vista marxista, é com-parada a autoridade do partido comunista onde haveria entre ambas um paralelis-mo de estruturas e de comportamentos. É por isso que se percebe uma forte crítica à Igreja, como se a mesma fosse opressora e manipuladora.

Já da parte protestante liberal, herdam-se ideias (antigas), dentre elas, destaca-se o fato de Jesus mesmo não ter fundado uma Igreja, mas que esta, simplesmente, se deriva da vontade dos apóstolos inspi-rados pelo Espírito Santo. Com isso, é em-pregada a ideia que Jesus Cristo fundou um reino exclusivamente interior, espiritual. Só que tal visão protestante liberal foi conde-nada por Pio XII nos seguintes termos: “Es-tão longe da verdade revelada os que ima-ginam a Igreja por forma que se não pode tocar nem ver, mas apenas, como dizem, uma coisa pneumática que une entre si com vínculo invisível muitas comunidades cristãs, embora separadas na fé.”

Em síntese: o livro é constituído de XI ca-pítulos e um apêndice, na sua edição mais atual (1994), tudo sob a responsabilidade de um único autor: Leonardo Boff. Tudo co-meçou a ser escrito com base no contexto eclesial entre os anos 70 e 80, período em que foi se firmando a Teologia da Libertação

Por Igson Mendes

e a ramificação das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Talvez a intenção maior do autor fora favorecer uma participação mais efetiva dos leigos e pobres nas “decisões” da Igreja. Pena, que “de boas intenções o inferno está cheio”. Sua famosa expressão teológica conhecida como eclesiogênese, foi na verdade um ato de completa falta de discernimento e demonstração de total rompimento com a Igreja Católica, fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo. Vejamos um fragmento de como o autor, pobre em seu poder de persuasão, e totalmente desespe-rado por glórias efêmeras de poder através dos meios de comunicação e, quem sabe, até tentado ao possível ganho de lucro au-toral com vendas de tamanhas asneiras e idiotices, escreve:

“Evidentemente a velha Igreja olhará com certa desconfiança para a nova Igreja na periferia e para com as liberdades evan-gélicas que ela se toma. Poderá ver nela uma concorrente; gritará em termos de Igreja paralela; magistério paralelo, falta de obediência e lealdade para com o Centro! A Igreja nova deverá saber usar de uma in-teligente estratégia e tática: não deverá en-trar no esquema de condenações e suspei-tas como o Centro poderá fazer. Deverá ser evangélica, compreender que a instituição enquanto é poder somente poderá usar a linguagem que não ponha em risco o pró-prio poder, que sempre temerá qualquer afastamento do comportamento ditado pelo Centro e verá isso como deslealdade. Apesar de poder compreender tudo isso, a Igreja nova deverá ser fiel ao seu caminho; deverá ser lealmente desobediente*.”

Afirmam ainda outros mercenários e pseudo-teólogos que um fato marcante no livro “Igreja: carisma e poder” é a lingua-gem profética, que vem retomar um gêne-ro que tem larga tradição teológica.

A verdade é que em em todo o livro respira-se a fumaça do demônio. Com um léxico eloquente e “lindas” falsas profecias. Já vimos isso antes povo de Deus! Já sen-timos o reflexo dessas barbaridades em nossas paróquias, comunidades e grupos de autênticos membros da Igreja.

O teólogo é, pois, chamado a decifrar a linguagem das diversas situações — os si-nais dos tempos — e a abrir esta linguagem à inteligência da fé (cf. Enc. Redemptor ho-minis, n. 19). Examinadas à luz dos critérios de um autêntico método teológico — aqui apenas brevemente assinalados — certas opções do livro de L. Boff manifestam-se insustentáveis. Sem pretender analisá-las todas, colocam-se em evidência apenas as opções eclesiológicas que parecem decisi-vas, ou seja: a estrutura da Igreja, a con-cepção do dogma, o exercício do poder sagrado e o profetismo.

Podemos concluir que o presente ar-

tigo analisa a obra eclesiológica do ex-frei Leonardo Boff, mostrando tratar-se de es-tudo tendencioso e ambíguo. A partir do esquema, preconcebido, de que a cobiça do poder inspirou o comportamento dos pastores da Igreja através dos séculos, o autor propõe uma Igreja “carismática”, em que não haja docentes e discentes, mas se adotem os critérios de comportamento de uma democracia humana.

O estilo do autor é quase que ridículo, chegando à sátira; hipóteses são propostas como teses (principalmente quando o au-tor recorre à exegese bíblica protestante); falta por vezes ao autor a akribia (senso de exatidão) necessária a um estudo científico para matizar os respectivos dizeres, dando a posições discutidas o atributo de discuti-das. Tal akribia se impõe de modo especial numa obra que não é destinada apenas a especialistas, mas se volta para o grande público, o qual muitas vezes está desprepa-rado para discernir o certo do incerto e do errado.

As afirmações do autor são empalideci-das ou sufocadas pela veemência das acu-sações feitas à Santa Igreja. No decorrer da leitura do livro têm-se não raro a impres-são de estar diante de uma obra inspirada por protestantismo e marxismo. E também pelo próprio demônio, autor e pai da men-tira.

Considerações importantes a fazer:1. A Obra é sem estilo Quem lê a obra em pauta, observa de

imediato algumas características significa-tivas: o autor aborda questões importantes de história da Igreja ou de doutrina de fé, fazendo afirmações generalizadas, sem ex-plicitar matizes. Propõe hipóteses como se fossem teses firmes e indiscutíveis – o que ilude o leitor despreparado. Aliás, é curioso que desejando combater o autoritarismo, L. Boff, use de linguagem extremamente autoritária, caricatural, sarcástica. O autor é irônico, cínico e ignorante. Um nazista e preconceituoso que ignora as próprias ra-ízes.

2. Linguagem cheia de contradições L. Boff usa vocabulário e linguagem

que frequentemente têm o sabor da am-biguidade – o que não se admite nem num livro científico nem num livro de ampla di-vulgação. Seria ele uma espécie de novo Lutero no século XVI?

Um exemplo bem direto está em todo o cap. VII que é uma exaltação do sincre-tismo! O que até hoje inúmeros padres pregam na Igreja. E influenciam um falso ecumenismo.

3. Influência marxistaO leitor não pode deixar de perceber

certa influência do marxismo (ou de as-pectos tendenciosos e discutíveis do mar-xismo) nas expressões e nas categorias as-

sumidas pelo autor. O autor compara a autoridade na Igre-ja com a autorida-de no Partido Co-munista da União Soviética antes da revolução chinesa! Haveria entre am-bos um paralelismo de estruturas e de comportamento? Esta afirmação é, no mínimo, estranha e despropos i tada. Um bom teólogo não ignora quanto é artificial ou falsa a tese de L. Boff (ou do marxismo) quan-do aplicada à Igreja.

O autor, por-tanto, recorre às categorias de aná-lise marxista da so-ciedade, categorias que são materialis-tas e ateias e, por conseguinte, jamais po-derão servir para construir uma autêntica teologia; de resto, o uso das mesmas foi ex-plicitamente condenado pelo S. Padre João Paulo II em discurso proferido aos Bispos do CELAM aos 2/07/80: “A libertação cris-tã… não recorre… à práxis ou análise mar-xista, pelo perigo de ideologização a que se expõe a reflexão teológica, quando se realiza partindo de uma praxis que recor-re à análise marxista. Suas consequências são a total politização da existência cristã, a dissolução da linguagem da fé na das ciên-cias sociais e o esvaziamento da dimensão transcendental da salvação cristã”.

4. O papel da exegese protestante li-beral

O autor confia plenamente nas senten-ças dos exegetas protestantes mais liberais, que tentam interpretar os Evangelhos e a figura de Cristo segundo referenciais racio-nalistas e assaz duvidosos (porque subjeti-vos). Por isso L. Boff julga que Jesus mesmo não fundou a Igreja, mas que esta se deriva da vontade dos apóstolos inspirados pelo Espírito Santo (págs. 222s 216). A bibliogra-fia citada por Boff é, em grande parte, pro-testante liberal, ficando as clássicas obras da teologia católica relegadas para o plano do superado.

Breve Conclusão Leonardo Boff não deixa de reconhecer

que na Igreja há elementos divinos e ele-mentos humanos (pág. 221) e que a Igre-ja é sacramento (pág. 130s)… Todavia tais afirmações são raras e pálidas no conjunto do livro, onde a Igreja é geralmente tratada como sociedade meramente humana, na

O então Cardeal Joseph Ratzinger (Bento XVI) foi quem condenou as teses marxis-tas de Leonardo Boff, contidas no livro “Igre-ja: Carisma e Poder”

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qual teriam prevalecido os abusos de ho-mens gananciosos e prepotentes. De modo especial a secção das págs. 60-76 é carica-tural, com veste de aparato científico.

Tem-se a impressão de que, segundo Boff, a Igreja autêntica seria governada pelo povo de Deus, que deveria ter nos bis-pos e no Papa os seus representantes, de tal modo que não se justificaria a distinção entre Igreja discente e Igreja docente:

“A hierarquia se sente membro da Ec-clesia discens e o leigo membro da Ecclesia docens. Cada qual é mestre e discípulo um do outro e todos seguidores do Evangelho. Na coexistência e simultaneidade das duas funções, deve-se entender o apelo de Je-sus para que ninguém se deixe chamar de mestre, pai ou diretor espiritual, pois todos somos irmãos (cf. Mt 23, 8-10)” (pág. 215).

Pergunta-se então: qual o critério para discernir verdade e erro se todos são mes-tres e discípulos? Seria o Espírito Santo, que falaria no íntimo dos fiéis? Tal critério está sujeito a ser manipulado pelo subjeti-vismo, como demonstra a história do Pro-testantismo, cujas últimas denominações não reconhecem mais a Divindade de Cris-to (cf. Mórmons, Testemunhas de Jeová, Estudiosos da Bíblia …).

Seria desejável a menção, muito mais importante, do “carisma seguro da verda-de”, que o Concílio do Vaticano II atribui aos Bispos para guardarem e transmitirem au-tenticamente a mensagem da fé (cf. Cons-tituição Dei Verbum nº 8). Se alguém quer dizer que os carismáticos devem governar a Igreja, não esqueça tal carisma peculiar dos Bispos. Diz explicitamente o Concílio:

“O ofício de interpretar autenticamente

a palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo. Tal magistério evidente-mente não está acima da Palavra de Deus, mas a seu serviço, não ensinando senão o que foi transmitido …; com a assistência do Espírito Santo, piamente ausculta aquela Palavra, santamente a guarda e fielmente a expõe” (Dei Verbum nº 10).

Assim vemos que carisma e autoridade (= poder, na linguagem do livro em foco) não se opõem entre si. Numa palavra, a autoridade na Igreja é serviço (diakonía), e não exercício de poder arbitrário.

Se não se admite esse carisma indefec-tível da verdade (que está acima da erudi-

ção dos teólogos, embora precise desta), é natural que se caia no Protestantismo e, muito especialmente, no Protestantismo congregacionalista (onde a congregação dos fiéis se governa na mais autêntica for-ma democrática). Na verdade, a autorida-de na Igreja vem de Cristo, que prolonga sua tríplice função sacerdotal, profética e pastoral nos ministros que Ele escolhe e or-dena e que exercem suas funções não por delegação dos fiéis, mas por disposição do próprio Cristo (cf. discurso de João Paulo II aos ordenados no Maracanã aos 2/07/80); mesmo que haja eleição de Bispos, o eleito não recebe do povo a sua autoridade, mas de Cristo mediante os eleitores.

Compreende-se até certo ponto que deva haver autoridade forte na Igreja, pois esta não é obra humana. Se fosse criação de homens, logicamente poderia ser re-tocada e re-criada por homens, as suas decisões seriam tomadas simplesmente por maioria de votos; deveria prevalecer exclusivamente o bom senso fundamen-tado sobre razões filosóficas ou científicas. Acontece, porém, que a Igreja não é socie-dade meramente humana; é, sim, sacra-mentum, ou seja, realidade sensível que assinala e transmite uma realidade divina, isto é, a presença e a graça de Cristo. Por isto, os pastores da Igreja têm o dever de preservar a mensagem da fé e as autênti-cas expressões desta não segundo critérios puramente humanos, mas segundo os cri-térios que a S. Escritura, colocada dentro da Tradição viva da Igreja, aponta ao povo de Deus; para realizar esta função, o magisté-rio da Igreja goza de especial assistência do

Espírito (cf. Mt 16,16-19; Lc 22,31s; Jo 21, 15-17; 14,26); tal assistência não depende da santidade ou das faltas dos pastores da Igreja, mas se exerce sempre que a Igreja se deva pronunciar oficialmente em maté-ria de fé e de costumes.

Houve, sem dúvida, no passado da Igreja atitudes de Papas e Bispos fortemen-te autoritárias, que não correspondem ao modo de pensar e agir nem dos eclesiás-ticos nem do mundo de hoje. Observe-se, porém, que não se pode julgar o passado à luz das categorias de pensar e agir do presente. Os antigos praticavam de boa fé o que nos pode parecer hoje inaceitável; a geração que hoje acusa o passado, será um dia veementemente acusada pelas futuras gerações. Não se pode esquecer, por exem-plo, que São Francisco de Assis, Santa Clara, S. Tomás de Aquino, S. Alberto Magno, S. Boaventura e outros santos e sábios vive-ram em pleno século XIII, que foi um século de Inquisição, e não deixaram uma palavra de protesto contra esta. Aliás, sempre hou-ve santos entre os Papas e pastores da Igre-ja através dos seus vinte séculos; viveram o amor a Deus e o serviço aos irmãos tão generosamente quanto lhes sugeriam as circunstâncias de sua época.

Todo fiel católico deve reconhecer que entre os pastores da Igreja de Cristo confia-da a Pedro houve e há falhas intelectuais e morais. Mas isto não o impede de afirmar que, através das mãos humanas dos cléri-gos (às vezes, manchadas e poluídas), pas-sou e passa incólume o ouro de Deus para todos os fiéis.

Ainda poderíamos citar numerosas pas-sagens do livro de L. Boff merecedoras de observações. O livro está, de ponta a ponta, inspirado pelos princípios que assinalamos até aqui. Tais princípios e as aplicações que dos mesmos faz L. Boff, se tomados a sério, levar-nos-iam a dizer que a eclesiologia de Boff é camufladamente protestante.

As considerações propostas neste ar-tigo permanecem no plano dos estudos, onde é lícito (e, às vezes, necessário) dis-cordar; principalmente quando se trata das verdades da fé, o dever de fidelidade aos autênticos mananciais (no caso, ao Senhor Jesus) é duplamente imperioso. Cremos que as hipóteses e as afirmações de Boff, entregues à ampla divulgação num estilo de sátira e caricatura “científica”, são des-tinadas a destruir mais do que a construir, pois o autor não oferece ao leitor a ocasião de ver outros aspectos que ele aborda; ele não ajuda o leitor a criticar e a matizar as posições assumidas no livro; ao contrário, o autor da obra usa de estilo que parece di-rimente … ou mesmo esmagador de qual-quer tese contrária (quando na verdade se trata de um conjunto, em grande parte, subjetivo, oscilante e vulnerável).

É curioso que desejando combater o autoritarismo, L. Boff, use de linguagem

extremamente autoritária, caricatural, sarcástica

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Indicações

http://www.reinodavirgem.com.br/

www.paraclitus.com.br

http://www.chestertonbrasil.org http://www.padrepauloricardo.org

http://www.http://sociedadecatolica.com.br

http://www.movimentoliturgico.com.br

http://www.vatican.va/phome_po.htm

http://www.zelusdomustuae.com

http://www.gazetadopovo.com.br/blog/tubodeensaio

http://blogdoemanueljr.blogspot.com

http://www.inguardia.blogspot.com

http://www.reinodemaria.com/www.salvemaliturgia.com