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    Relatos do V Encontro de Pesquisadores do Caminho Novo - Junho de 2014 - Juiz de ForaMG

    Nilza Cantoni 2

    Abertura dos Trabalhos

    O Encontro de 2014 aconteceu na sede do Instituto Histrico e Geogrfico de Juiz de

    Fora, localizada, na Avenida Getlio Vargas, 455, 4 andar, no centro da cidade. O

    credenciamento foi iniciado s 8:30 e logo depois o professor Luiz Mauro Andrade Fonseca

    fez a abertura dos trabalhos, destacando que a organizao do evento esteve a cargo da

    professora Andreia de Freitas, com o apoio da professora Leila Maria Fonseca Barbosa.

    Destacou que o Encontro caracteriza-se pela informalidade e que, quando foi organizado o

    primeiro, acreditou-se na possiblidade de realizar um evento de qualidade com baixo custo,

    desde que fosse informal. A partir do momento que se comea a burocratizar, disse o Luiz

    Mauro, os custos de elevam. O grupo que participa do Encontro considerado uma confraria

    que se rene sem contar com apoio institucional ou de rgos da administrao pblica.

    Fazendo um retrospecto da trajetria at aqui, foi lembrado que professores e alunos

    que aceitam o convite e comparecem, no o fazem em busca de pontuao para seus

    currculos. Anualmente so recebidos com o maior prazer e muitos passam a fazer parte da

    confraria. Assim foi desde o primeiro Encontro, realizado em Barbacena em 2010. Surgido de

    uma ideia de Luiz Mauro Andrade Fonseca e Francisco de Oliveira, pesquisadores de Histria

    e Geografia do Caminho Novo, constou de uma parte terica com dezesseis comunicaes

    sobre o tema, e no dia seguinte foi realizado um passeio pelo trajeto do Caminho Novo em

    Barbacena.

    No ano seguinte o grupo foi convidado a encontrar-se em So Joo del Rei.

    Organizado por Jairo Braga Machado, aconteceu em dois dias de comunicaes e um passeio

    pelo Caminho Velho, entre Prados e So Joo del Rei, no terceiro dia.

    Em 2012 foi a vez de Conselheiro Lafaiete, a cargo de Mauriceia Maia que organizouas doze comunicaes, o passeio pelo trecho do Caminho Novo que corta aquela cidade e

    uma exposio cartogrfica do professor Antnio Gilberto da Costa.

    O 4 Encontro foi realizado em 2013, na cidade de Congonhas, organizado pelos

    professores Luciomar de Jesus e Mriam Palhares. Assim como So Joo del Rei, oCaminho

    Velho que passa por Congonhas e a realizao do Encontro nesta cidade veio confirmar um

    dos pressupostos dos lanadores da ideia de estimular a pesquisa e a troca de informaes.

    Trata-se de pensar os Caminhos de Minas sem se restringir ao que um determinado Instituto

    denominou como Estrada Real, descartando vrios trechos das diversas vias que a

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    constituram. Na verdade, o Caminho Novo um norte a ser seguido por ser o caminho

    primitivo que ligava a Borda do Campo ao Rio de Janeiro, sendo por isto a primitiva Estrada

    Real. Caminho Novo, Caminho Velho, Caminho do Campo, Caminho dos Diamantes, Caminho

    de Gois e outros mais constituem os Caminhos de Minas que interessam a estes Encontros

    de Pesquisadores.

    Este 5 Encontro, para o qual foram inscritas nove comunicaes, foi programado

    para encerrar-se, no segundo dia, com um passeio por um trecho do Caminho Novo em Juiz

    de Fora. Desta forma, cumpre-se o ritual que vem sendo seguido pela confraria para a qual

    Luiz Mauro convidou todos os que estivessem no Encontro pela primeira vez. As linhas

    temticas so a Histria, a Geografia, a Arquivologia, o Patrimnio Cultural, a Literatura e a

    Genealogia, que vm sendo abordadas por muitos pesquisadores ilustres que comparecem

    voluntariamente e com a maior boa vontade para disseminar seus conhecimentos.

    Luiz Mauro lembrou que s conseguiu terminar seu livro sobre a Histria do

    municpio de Santos Dumont a partir destes Encontros, j que aqui fez novos amigos que o

    ajudaram com informaes importantes. Dando as boas vindas e desejando que todos se

    sentissem muito bem vindos ao Encontro de 2014, ressaltou que poderiam ocorrer algumas

    inverses na ordem das comunicaes em virtude de problemas como o que estava, naquelemomento, prendendo uma das palestrantes num engarrafamento na BR 040, na altura de

    Congonhas.

    Antes de passar a palavra para a professora Andreia, Luiz Mauro fez questo de

    manifestar o agradecimento do grupo ao Instituto Histrico e Geogrfico de Juiz de Fora,

    que cedeu as instalaes para a realizao do evento. Agradeceu tambm Livraria Quarup

    que sempre prestigia os Encontros com um estande para venda de livros novos e usados

    sobre a histria de Minas Gerais.

    A professora Andreia de Freitas fez uso da palavra para dar as boas vindas,

    destacando o apoio da professora Leila Barbosa na organizao e soluo de eventuais

    dificuldades. Agradeceu ao Instituto Histrico e Geogrfico de Juiz de Fora pela cesso do

    espao e equipamentos, Funalfa pelo apoio e sugestes e UFJF que, mesmo em greve,

    no deixou de atend-la, inclusive cedendo um veculo para o passeio pelo trecho do

    Caminho Novo.

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    Comunicao 01

    Arquivos Pblicos e sua interao com os pesquisadores

    Alessandra de Carvalho Germano(Arquivo Permanente/UFJF)

    Alessandra Germano iniciou sua apresentao destacando que o arquivo um rgo

    receptor que recolhe e custodia a produo documental podendo conter documento

    manuscrito, impressos, fotografias... produzidos por pessoas, rgos governamentais ou

    entidades particulares que, alm da funo de prova para o qual foi criado, tambm serve

    para a preservao e pesquisa.

    Lembrou que, para Maria de Lourdes da Costa e Souza, arquivo conjunto de

    documentos oficialmente produzidos e recebidos por um governo, organizao ou firma, no

    decorrer de suas atividades, arquivados e conservados por seus sucessores para efeitos

    futuros.

    Mas um arquivo permanente pode, tambm, conter documentos de outras entidades

    e/ou pessoas caracterizando-o como um centro de documentao, considerado uma

    entidade hbrida. E segundo Celia Maria Leite Costa, a histria de um pas tambm escrita

    atravs de seus documentos. O acesso a estes evidencia a vocao democrtica de uma

    sociedade que permite aos cidados o direito elementar da informao.

    Para ilustrar suas palavras, Alessandra Germano apresentou algumas imagens sobre

    as quais reafirmou os conceitos exarados e fez comentrios sobre o contedo.

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    Em seguida, apresentou o site do Arquivo Histrico da Universidade Federal de Juiz

    de Fora.

    http://www.ufjf.br/ah/

    Memria Social

    http://www.ufjf.br/ah/memoria-social/

    Fundos Arquivsticos Particulares

    http://www.ufjf.br/ah/memoria-social/fundos-arquivisticos-privados/

    Bibliografia

    SOUZA, Maria de Loudes da Costa e. Apostilhas do curso de Organizao e Administrao de

    Arquivos. Rio de Janeiro, Dasp, 1950 Ponto I apud. PAES, Marilena Leite. Arquivo: Teoria

    e Prtica. Rio de janeiro: Editora FGV, 2004. P. 19.

    COSTA, Celia Maria Leite; FRAIZ, Priscila Mores Varella. Acesso Informao nos Arquivos

    Brasileiros. Revista Estudos Histricos. Rio de Janeiro, vol. 2, n3, p.63-76, 1989.

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    Comunicao 02

    Caminhos de Dentro

    Dr. Geraldo Barroso de Carvalho(BarbacenaPesquisador de Histria da Medicina)

    Geraldo Barroso iniciou sua fala comentando que teve a sorte de participar de todos

    os Encontros e que neste apresentaria o assunto abordado em 2011, relembrando alguns

    aspectos e reforando outros. Explicou que o tema surgiu para ele de forma casual, quandofazia uma pesquisa a respeito de Tiradentes e descobriu que o Alferes foi proprietrio de

    fazendo s margens do Rio Xopot.

    Destacou, ento, que o anncio da descoberta de grandes reservas de ouro no Tripu,

    um estreito riacho no fundo de um sombrio vale, escondido no sop do Itacolomi, foi o sinal

    de partida para o desenvolvimento de um pas imenso, descoberto dois sculos antes do

    extraordinrio achado. poca da descoberta do ouro no vale do Tripu, no existia um

    caminho regular que ligasse o porto do Rio regio das Minas.

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    Apresentando a imagem acima, Barroso indicou a primeira via de acesso regio das

    minas de ouro que era formada por um trecho martimo perigoso, aberto ao ataque de

    piratas entre o porto do Rio de Janeiro e Parati. Da para as Minas uma rota descontnua era

    formada por segmentos de trilhas irregulares criadas pelos indgenas O trajeto exigia cerca

    de cem dias para ser percorrido.

    Era premente a necessidade de se abrir um

    caminho, uma rota mais curta, menos acidentadae mais segura entre o mar, no Rio de Janeiro, e as

    lavras de ouro, no serto das Minas. No desenho

    esquerda, Geraldo Barroso destacou que o ponto

    vermelho sua terra natal - Cipotnea, cidade

    cortada pela linha reta que liga Mag a Ouro

    Preto. Com esta constatao surgiu a ideia de

    pesquisar os Caminhos de Dentro.

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    Autorizado por Carta-Rgia, em 1699, Artur de S e Meneses (1697-1702),

    governador da capitania do Rio de Janeiro, decidiu iniciar a abertura de novo acesso regio

    das minas. Como se sabe, Garcia Rodrigues Paes, o sertanista fazendeiro (sesmeiro) que

    explorava terras nas margens do Rio Paraibuna e na Borda do Campo, foi o encarregado de

    abrir a nova rota.

    A ROTA DE GARCIA PAES

    Pode-se ver, com clareza, que a

    rota foi desviada para o oeste, a partir

    da fazenda Fagundes, para Cebolas. Esse

    desvio beneficiou o construtor, pois o

    caminho tomou o rumo das roas deGarcia Paes, nas margens do Rio

    Paraibuna e na Borda do Campo.

    possvel, no entanto, que a

    razo do desvio fosse outro: direcionar

    o novo caminho para a regio de So

    Joo Del Rei.

    http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/82/Rugendas_-_Porto_Estrella.jpghttp://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/82/Rugendas_-_Porto_Estrella.jpg
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    O caminho mais curto e menos acidentado entre o Porto

    da Estrela e Vila Rica est representado na imagem

    esquerda em vermelho forte e trao contnuo. Em preto,

    o Caminho Novo.Os demais traos representam vias alternativas

    (Caminhos de Dentro)

    A rota

    deveria ser outra,

    como na imagem

    direita. Ao invs

    de se desviar parao noroeste, ela

    deveria seguir

    para o norte

    (direo de Mar

    de Espanha). Essa

    uma rota muito menos acidentada e muito mais

    curta. Tropeiros e alguns viajantes estrangeiros

    preferiram esta traada por Garcia Paes.

    As localidades situadas ao leste do CaminhoNovo foram fechadas. Por no produzirem ouro, a

    Coroa temia a abertura de trilhas, os descaminhos,

    vias que facilitassem a evaso de ouro-em-p. A Coroa

    no atinava com a importncia dessas reas, que

    produziam as mercadorias e vveres, para as reas estreis de minerao e para os centros

    do comrcio. A restrio se manteve at fins do sc. XVIII. reas do lado oeste no sofreram

    restries.

    A proibio no surtiu o efeito desejado pela Coroa, pois a abertura de vias de acesso

    ao Caminho Novo tornou-se necessria e urgente. Afinal, das fazendas e arraiais situados nas

    proximidades do Caminho Novo que saam as provises destinadas aos trabalhadores das

    lavras aurferas.

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    FONTE home.radionajua.com.br

    Para conseguirem escoar os seus produtos, os tropeiros do lado oriental do Caminho

    Novo enfrentavam dificuldades srias em suas viagens. Diante disso, eles tiveram de abrir

    novos caminhos, construir pontes, criar pontos para pousada e para reabastecimento,

    clandestinamente. Foi dessa maneira que nasceram, nas encruzilhadas dos descaminhos,

    os pequenos arraiais, e que se formou uma rede viria conhecida como Caminhos de Dentro.

    Fonte: http://www.portaldecotia.com.br/bandeirantes_clip_image040.gif

    Os tropeiros dos descaminhos exerceram uma funo importante na formao de

    nossa histria. A iniciativa de interligarem os povoados com a abertura de rotas clandestinas

    possibilitou o transporte dos seus produtos e tornou possvel a criao de um vnculo

    cultural muito forte entre esses desbravadores do territrio mineiro, permitindo a criao e

    a solidificao de uma cultura genuinamente mineira.

    EXEMPLO DE UM CAMINHO DE DENTRO

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    Os tropeiros da bacia do Rio Xopot chamavam

    de Caminho de Dentro uma via tortuosa que, partindo

    de Cipotnea, seguia o rumo de Alto Rio Doce, da a

    Senhora dos Remdios, a Desterro do Melo e a Mercs,ponto final da rota.

    A via direta Cipotnea-Mercs tinha cerca de 40

    km, enquanto o Caminho de Dentro dos tropeiros tinha

    mais de 80 km, mas eles se desviavam da serra que

    separa Alto Rio Doce de Mercs, cheia de precipcios, de

    aclives e declives bruscos, escorregadios e sinuosos, que

    cansavam os animais e os expunham a acidentes graves.

    Na imagem direita, em trao vermelho contnuo

    est representada a

    rota tortuosa, preferida por alguns tropeiros,

    representantes comerciais e mascates, pois essa rota

    passava por vrias localidades e por pequenos arraiais,

    onde eles podiam vender seus produtos. Essa rota eraconhecida como Caminho de Dentro.

    Tiradentes, que era comandante da Patrulha

    do Mato e Comandante do Destacamento do Caminho

    Novo, conhecia, como ningum, as

    trilhas dos descaminhos, pois,

    alm de exercer funes

    importantes ao longo do Caminho

    Novo, ele possua duas

    propriedades s margens do Rio Xopot, prximas da nascente desse rio (nascente do Rio

    Doce). Uma de suas propriedades localizava-se perto da Cachoeira Cinco Saltos. Segundo a

    tradio oral, esse era um dos locais onde Tiradentes garimpava ouro. O alferes teria sidoproprietrio de outra casa margem do Xopot, em ponto no muito distante do citado. A

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    estrada que liga a Cachoeira Cinco Saltos a Desterro do Melo trecho do chamado Caminho

    de Dentro.

    Tropeiros que preferiam a rota mais longa e menos acidentada e que passava por

    maior nmero de comunidades. Esse fator era importante, sobretudo para os caixeiros-

    viajantes e mascates, com tropas pequenas. Eles precisavam visitar o maior nmero possvel

    de cidades e de comerciantes, para expor e vender seus produtos.

    Os tropeiros mais simples, de poucas posses, tambm tinham motivos para evitarem

    o caminho mais curto e para optarem pela rota mais longa.

    Evitavam tambm o Caminho Novo, pois temiam ser assaltados. Boatos e verdades

    falavam de assaltantes desalmados que roubavam e matavam nas encostas da Mantiqueira.

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    FONTE: https://reader010.{domain}/reader010/html5/0607/5b18fd758b367/5b18fd837782d.jpg

    FONTE: http://www.jornalxopoto.jex.com.br/includes/imagem.php?id_jornal=16495&id_noticia=58

    Esses tropeiros menos abastados evitavam o Caminho Novo mas percorriam a rotatortuosa de Cipotnea a Mercs porque esta, alm de se desviar da trilha montanhosa,

    passava por vrias comunidades: Alto Rio Doce (distritos de Missionrios e Vitorinos),

    Senhora dos Remdios e Desterro do Melo. Nesses lugares, eles vendiam, compravam e

    trocavam produtos, reabasteciam-se e evitavam a exausto de seus animais.

    Outra rota, alternativa ao Caminho Novo, partia de Mercs e localidades prximas e

    seguia em direo a Santos Dumont e a se ligava ao Caminho Novo.

    O roteiro dos tropeiros era este: Mercs > Paiva > Oliveira Fortes > Santos Dumont >

    Juiz de Fora > Matias Barbosa > Simo Pereira > Estado do Rio.

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    Depois de inaugurada a estrada de ferro, ligando o Rio de Janeiro a Belo Horizonte,

    tropeiros dos municpios prximos de Alto Rio Doce seguiam uma rota dirigida para Caranda

    ou para Ressaquinha.

    Aps a inaugurao da estrada de ferro que ligava

    Mercs a Santos Dumont, os tropeiros do Caminho de

    Dentro que trafegavam no sentido Ouro Preto > Rio de

    Janeiro, deixavam o Caminho de Dentro em Mercs onde

    embarcavam suas mercadorias destinadas aos centros

    comerciais.

    De Mercs, asmercadorias seguiam de

    trem para Santos Dumont

    (via Paiva e Oliveira

    Fortes).

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    Barroso comentou que entrevistou um velho tropeiro que fazia a rota Cipotnea -

    Mercs, diretamente, sem passar pelo Caminho de Dentro. Ele trabalhava com o pai e um

    cunhado que tinha uma tropa de dez burros, comprados novos e chucros, sendo ento

    domados e batizados com nomes que comeavam com P:Penacho, Peixo, Passo-Preto

    (Pssaro-Preto?), Pirante, Paran, Pira, Panorama, Piano, Pensamento e Paixonado(Apaixonado).

    HERMANN BURMEISTER

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    Comunicao 03

    Desdobramentos de um estudo: o Caminho do Cantagalo.

    Nilza Cantoni(Pesquisadora da Histria de Leopoldina)

    Assim como o pesquisador que lhe precedeu, Nilza Cantoni informou que retomaria

    um tema j abordado. No caso, trata-se da continuao de um estudo sobre o Caminho do

    Cantagalo. Explicou que, com a apresentao realizada em 2013, havia considerado

    encerrada a pesquisa sobre o assunto. Entretanto, a divulgao do resumo pela internet

    gerou interesse em algumas pessoas e resultou na insero do assunto em cartilha de

    educao patrimonial, em publicao na imprensa peridica de Leopoldina, na produo de

    texto-referncia para estudante de ps-graduao, bem como num convite para outro

    projeto de pesquisa. Por isto, ao ser convidada para falar no Encontro de 2014, decidiu

    abordar o desdobramento daquele estudo.

    Adaptao do mapa Poltico de Minas Gerais, 2009, IGBE, destacando: esquerda o Caminho Novo; o trajetode Langsdorff em 1824, partindo de Barbacena; a provvel primeira parte do trajeto de So Martinho em 1784,

    partindo de Santos Dumont; o Caminho do Cantagalo em 1786, no centro da figura; e, a ligao entre SimoPereira e Alm Paraba.

    Relembrou ento que o Caminho do Cantagalo foi aberto entre 1784 e 1786 e se

    conectava com o Caminho Novo por Barbacena ou Santos Dumont. Mas no foi a nica via

    aberta pelas tropas de So Martinho na regio. Uma das outras foi a ligao entre Simo

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    Pereira e Alm Paraba que, margeando o Rio Paraba do Sul, circunscrevia a rea fiscalizada

    por ocasio da perseguio ao grupo do Mo de Luva.

    Trechos deste caminho passaram a fazer parte do trajeto da Estrada de Ferro Pedro II,

    aberto no meado do sculo XIX, entre Trs Rios e Alm Paraba, onde se iniciava a Estrada de

    Ferro Leopoldina.

    Atualmente a pesquisadora est analisando documentos cartogrficos que trazem

    informaes importantes para estabelecer um paralelo entre as atividades econmicas e os

    aspectos geogrficos e sociais de Leopoldina na segunda metade do sculo XIX. O estudo das

    estradas parte fundamental porque elas representam no somente o meio de escoamento

    da produo como a origem de vnculos sociais. Leopoldina no participou da cultura

    colonial mineira e nasceu de costas para o centro de Minas e olhos voltados para o Rio de

    Janeiro. A tropa comandada por Pedro Afonso Galvo de So Martinho abriu caminhos pela

    Zona da Mata Sul para atingir o Descoberto do Mo de Luva, em Cantagalo, Provncia do Rio

    de Janeiro. Mais tarde surgiu o Arraial do Feijo Cru que na sua maturidade utilizou um

    daqueles caminhos para chegar at a corte, real e metaforicamente falando.

    Na imagem seguinte foram destacadas as estradas existentes na regio ao se iniciar a

    segunda metade do sculo XIX.

    Recorte da Carta da Provncia de Minas Gerais com estradas, de Henrique Gerber, publicado em 1867, baseadoem mapa da Provncia de 1862 do mesmo autor.

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    Alm da Estrada da Corte, que o Caminho Novo em traado da dcada de 1860, foi

    explicado que o mapa acima traz as Estradas da Mata, sendo duas delas de escoamento da

    produo da Zona da Mata Sul: a de Chiador a Ouro Preto e a de Porto Novo do Cunha a

    Mariana. Da primeira, destaque-se o ramal que liga Tabuleiro a So Joo del Rei, j que parte

    dele coincide com o Caminho do Cantagalo. Esta carta foi baseada na seguinte:

    Recorte da Carta da Provncia de Minas Gerais de 1862, de Henrique Gerber.

    Nesta imagem est destacado o caminho feito por Burmeister em 1851 (em

    vermelho) bem como um trecho da Estrada Chiador a Ouro Preto (em azul) que se encontra

    com a primeira na altura de Astolfo Dutra, ambas j constantes do mapa de Joo Jos da

    Silva Theodoro publicado em 1847. Os traados na cor verde direita e na cor vinho

    esquerda representam estas estradas conforme aparecem no mapa deste mesmo autor,

    publicado em 1865.Para o mesmo perodo e o objetivo do atual estudo, Nilza Cantoni declarou que

    contribui tambm o seguinte mapa:

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    Recorte da Carta de Comunicaes Postais da Provncia de Minas Gerais, projetada por Henrique Gerber, incioda dcada de 1860.

    Aqui o destaque para a linha de Correio de Cantagalo para Leopoldina e Pirapetinga,

    identificada por Gerber como Correio de Outras Provncias. Nesta poca a funo era

    exercida por estafetas que transportavam correspondncia entre duas agncias, atravs de

    caminhos bem conhecidos. Pelo mapa, verifica-se que no havia Correio direto entreLeopoldina e a capital da Provncia de Minas.

    J para o ano de 1866 foi apresentado o seguinte indicador:

    Recorte do Mapa das Coletorias, Recebedorias e seus extravios, Linhas de Correios e suas ramificaes naProvncia de Minas Gerais, organizado por Francisco de Paula Eduardo Aroeira, 1866.

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    Nilza Cantoni 23

    Havia uma Coletoria em Leopoldina, com linha de Correio para Porto Novo do Cunha,

    onde existia uma Recebedoria. As Coletorias foram implantadas em Minas com a Lei n. 47 de

    6 de abril de 1836 e tinham por objetivo a arrecadao dos direitos provinciais e gerais nos

    Termos de vilas e nas cidades. No ano seguinte, a Lei Provincial n. 77 de 11 de abril de 1837

    implantou as Recebedorias para arrecadao dos direitos nas fronteiras provinciais. O mais

    antigo Livro da Recebedoria de Porto Novo do Cunha que encontrei de 1841 e pertence ao

    acervo do Arquivo Pblico do Estado do Rio de Janeiro, onde tambm esto o do Registro de

    Barra do Pomba de 1860 e o de Campo Limpo (Leopoldina) de 1880.

    Continuando, a pesquisadora voltou ao mapa de estradas de Gerber:

    Recorte da Carta da Provncia de Minas Gerais com estradas, de Henrique Gerber, publicado em 1867, baseadoem mapa da Provncia de 1862 do mesmo autor.

    Declarou, ento, que ainda no se sabe at quando o Caminho do Cantagalo serviu

    ao escoamento da produo agrcola de Leopoldina. possvel que tenha sido at a dcada

    de 1880, quando a Estrada de Ferro Leopoldina foi implantada na regio.

    Do trajeto daquele antigo Caminho surgiu a estrada que ligava Barbacena a So Joo

    Nepomuceno e, mais tarde, a que se abriu entre So Joo del Rei e Cantagalo. O tero a

    sudoeste de Leopoldina fez parte da ligao entre Mariana e Alm Paraba e, no sculo XX,

    passou a pertencer antiga Rio-Bahia, hoje BR 116.

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    Para concluir, Nilza Cantoni declarou que as ramificaes do Caminho do Cantagalo

    pelo Estado do Rio no fazem parte do escopo de sua pesquisa. Por esta razo, no

    pesquisou o seu prolongamento at Itabora, local ainda hoje conhecido como Porto das

    Caixas, que recebia mercadoria exportada de Minas para seguir em direo ao Porto do Rio

    de Janeiro.

    Fontes Consultadas

    Arquivo Pblico do Estado do Rio de Janeiro:

    Livro da Recebedoria de Porto Novo do Cunha 1841-1842Livro do Registro de Barra do Pomba 1860Livro do Registro de Campo Limpo 1880

    Arquivo Pblico Mineiro:

    Correspondncia entre Pedro Afonso Galvo de So Martinho e o governador Luiz daCunha Meneses e entre este e o Vice-Rei, bem como parecer de Luiz de Vasconcelose Sousa. 1784-1876Livro de Leis Mineiras 1835-1889. Disponvel emhttp://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/leis_mineiras. Acesso em 20 out2011

    Referncias Bibliogrficas

    AROEIRA, Francisco de Paula Eduardo. Mapa das Coletorias, Recebedorias e seus extravios,Linhas de Correio e suas ramificaes da Provncia de Minas Gerais . Arquivo PblicoMineiro. 1866. OP - 013(01)

    GERBER, Henrique. Noes Geogrficas e Administrativas da Provncia de Minas Gerais.Organizao e estudo crtico de Friedrich Renger. Belo Horizonte: FJP, 2013

    MAHLMANN, Heinrich. Mapa da viagem de Hermann Burmeister,que percorreu entre 1850e 1852 as Provncias do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Disponvel emhttp://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/036140901 Acesso em 27 out 2011

    SOUKEF JNIOR, Antonio e DALESSIO, Vito. 150 anos de Ferrovia no Brasil. So Paulo:Dialeto, 2005

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    Comunicao 04

    Estrada Minas Campos dos Goytacazes

    Joana Capella(Pesquisadora da Histria de Cataguases)

    Joana Capella trouxe para este Encontro algumas observaes sobre o tema que

    apresentou em 2013 sobre um antigo caminho que cortava o municpio de Cataguases.

    Informou que o assunto gerou alguns questionamentos, inicialmente por ser desconhecido,

    j que ainda no tinha sido objeto de um estudo mais profundo. Por outro lado, despertou

    tambm um olhar de ateno por parte de pesquisadores de renome.

    Ressaltou que sua participao neste 5 Encontro teria por objetivo exclusivo a

    apresentao das possibilidades abertas pelo assunto, j que ainda no poderia falar de

    alguma ao concreta. Mas que esperava retornar em 2015, trazendo acrscimos.

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    Dois projetos, disse Joana Capella, esto em anlise. O primeiro se refere

    publicao em livro do estudo que realizou sobre a estrada MinasCampos dos Goitacazes,

    mais conhecida como PresdioCampos, e de Cadernos de Histria contendo estudos sobrea histria da regio na qual a estrada se insere.

    O segundo projeto o Memorial Guido Marlire, a ser construdo na Serra da

    Ona, local onde o homenageado foi proprietrio de terras, ao lado do Quartel no qual

    atuava. Atualmente um pequeno conjunto de moradias que a autora julga no poder ser

    denominado sequer como arraial.

    Ressaltou que os dois projetos esto ainda em fase de formatao, j tendo atrado

    interesse de duas empresas que neles pretendem aplicar recursos nos moldes da Lei de

    Incentivo Cultura.

    H, tambm, o interesse do municpio de Visconde do Rio Branco que est criando

    uma rea de reserva florestal e um parque na Serra de Santa Maria. Identificado como

    Caminho da gua Santa, utilizado por tropeiros, apresenta uma coincidncia com um

    aspecto observado por Joana Capella no estudo da Estrada Presdio Campos. Trata-se do

    fato de que o sesmeiro Antnio Janurio Carneiro pediu a abertura de um trecho de estrada

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    que ligasse Guarapiranga estrada PresdioCampos e seguindo suas indicaes, percebeu-

    se que pode ser o mesmo Caminho da gua Santa que a Prefeitura pretende reconstituir

    dentro da rea de reserva florestal mencionada. A pesquisadora destacou a beleza da

    localidade, justificando o motivo pelo qual Eschwege, ao atingir o alto da Serra de So

    Geraldo, assim se manifestou: daqui se deslumbra uma extensssima plancie. linda!

    Prosseguindo Joana Capella informou que o professor ngelo Carrara, da UFJF, est

    desenvolvendo um projeto em torno das antigas relaes comerciais entre Campos dos

    Goitacazes e Minas Gerais, especialmente com Rio Pomba, havendo a possibilidade de nele

    incluir o estudo da pesquisadora.

    Alm disto, o professor Jos Flvio Morais Castro, da PUC-Minas, tambm manifestou

    interesse no trabalho e deste contato poder surgir outra possibilidade de uso da pesquisa

    apresentada em 2013 por Joana Capella.

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    Comunicao 05

    O universo Urbano e as Estradas Reais e Ferrovias

    Profa. Helena Guimares Campos(Belo HorizontePesquisadora da Histria Ferroviria)

    Ao chamar a palestrante, o apresentador Luiz Mauro Andrade Fonseca ressaltou queo tema tratado por Helena Guimares Campos em Conselheiro Lafaiete e Congonhasdespertou grande interesse da plateia. Sendo assim, nada mais natural do que convid-la aparticipar deste 5 Encontro, colaborando com a reviso de temas tratados nos anosanteriores.

    O objeto de pesquisa da professora Helena as ferrovias, mais uma vez atraiu asatenes da plateia. Iniciando sua fala, lembrou que a imagem com que abre suasapresentaes significativa por representar a unio de dois caminhos: a Estrada Real, aquirepresentada pelo marco esquerda, e a ponte ferroviria.

    A finalidade de sua pesquisa aproximar a Estrada Real das Ferrovias como forma dedivulgar o patrimnio cultural que so os caminhos ferrovirios, os quais esto ou estiverampresentes em 70% dos municpios cortados pela Estrada Real. Ela no defende que a ferroviatenha sido sempre construda sobre o antigo leito da ferrovia, mas ressalta que a ferrovia um negcio e, portanto, foi implantada nos trechos onde j havia passageiros e mercadoriasa serem transportadas.

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    Esta divulgao que a professora Helena procura fazer leva em conta que muitosmunicpios ao longo da Estrada Real no foram includos no projeto do Instituto EstradaReal, por no disporem de patrimnio cultural que atraia o turismo.

    Acima a capa de um dos livros de Helena Campos que teve por objetivo promover a

    aproximao das funes dos caminhos reais e ferrovirios ao longo do tempo, ressaltando-

    se que a juno das ferrovias que acompanharam os quatro caminhos: o Velho, o Novo, o

    dos Diamantes e o da Bahia ou do Serto, eleva para mais de 70% o percentual de

    municpios em que a estrada de ferro acompanhou o leito do antigo caminho.

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    Com a inteno de apresentar alguns pontos de aproximao e mudana entre as

    Estradas Reais e a Ferrovia, iniciou-se pela imagem acima, do ramal do Paraopeba da Estrada

    de Ferro Central do Brasil, mostrando que um dos elementos presentes o trabalhador

    migrante.

    O prximo aspecto a ser lembrado foi o da legislao que proibia o trabalho escravo

    na construo das ferrovias, que necessitava de grande nmero de trabalhadores sem

    especializao, como era o caso dos retratados na imagem a seguir que ainda existiam j no

    final do sculo XX. Nela observa-se o fator permanncia do trabalho braal.

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    A seguir outro fator de permanncia, demonstrado pelas tcnicas de abertura de

    ferrovia na dcada de 1950.

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    Outro fator de permanncia: os caminhos motivaram o surgimento de ncleos de

    povoamento, conforme se depreende da representao acima, de Rugendas, mostrando um

    pouco de tropeiros.

    Esta imagem, da estao General Carneiro, em Sabar, antiga Cidade de Minas,

    emblemtica pois dali partiram os 14 km de trilhos que serviram para levar o material de

    construo at o canteiro de obras da nova capital de Minas Gerais.

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    A mesma localidade em fotografia do final do sculo XIX.

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    Imagem da ponte ferroviria em Sabar.

    Aqui, as duas pontes: direita, no canto da foto, a ponte ferroviria localizada h

    poucos metros de distncia da outra passagem sobre o Rio das Velhas.

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    Neste outro exemplo de obra de arte, o que chama a ateno o fato desta ponte

    jamais ter tido o uso a que se destinava, uma vez que o ramal no chegou a ser concludo.

    Helena Guimares Campos observou que a chegada da ferrovia mudou a dinmica

    urbana, aqui representada pela imagem que traz as pessoas observando uma vista

    panormica da cidade.

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    Acima as mudanas so representadas pelo adensamento populacional que se

    aproximou do leito da ferrovia. Barbacena, uma cidade colonial que como todas as outras foi

    formada na parte mais alta, viu depois chegar a ferrovia margeando o rio, na parte mais

    baixa, atraindo para seu entorno uma nova dinmica de ocupao.

    A imagem de Diamantina foi trazida para lembrar que ali se localiza a estao

    ferroviria de maior altitude em Minas Gerais, num processo diferente das demais cidades

    que, no caso, estava localizada na parte mais baixa.

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    A professora Helena exibiu tambm imagens indicando que a maior parte dos antigos

    caminhos passava por dentro dos ncleos urbanos, j que eles cresciam justamente no

    entorno das estradas. Acima, uma rua de Sabar e a seguir, casario de Mariana.

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    Aqui, duas imagens de um bairro de Sabar, em dois momentos distintos.

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    Os acidentes ferrovirios foram, muitas vezes, utilizados pela imprensa como

    argumento para a extino das ferrovias, no sendo mencionado que foi a urbanizao

    desordenada que invadiu a rea da ferrovia e no o contrrio. Ou seja, as pessoas invadiam

    mas as culpa era do trem.

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    A professora Helena chamou a ateno para as manchetes abaixo, lembrando que

    esta campanha para culpar o trem foi feita ao longo de dcadas, desconstruindo a boa

    imagem das nossas ferrovias.

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    Passagem de nvel em Belo Horizonte, incio da dcada de 1960

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    A imagem acima foi utilizada para declarar que Belo Horizonte tem um tmido metr

    de superfcie que s foi construdo porque aproveitou a faixa de domnio da ferrovia, como

    se v direita. Assim, a ferrovia tida como algo que incomoda mas, quando se precisa

    solucionar o transporte de massa, ela a soluo.

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    Dando prosseguimento, foi abordada a necessidade de conscientizao da populao

    no que se refere ao respeito pela sinalizao.

    Devido premncia de tempo, a professora Helena apresentou alguns outros tpicos

    sem maiores comentrios.

    Insegurana: Conhecido o caso do Vira-Saia, apelido pelo qual ficou conhecido o

    rico comerciante de Vila Rica, Antnio Francisco Alves, que organizou um sistema de

    espionagem para fornecer aos salteadores informaes sobre o transporte do ouro da Coroa

    por tropas que partiam da capital. Usando a ponta da saia de uma imagem de Nossa Senhora

    das Almas que ficava num oratrio de rua, ele indicava aos comparsas a direo do comboio

    que transportava o ouro. Assim, apesar das estratgias e cuidados das autoridades

    metropolitanas, que despachavam simultaneamente vrias tropas por caminhos diferentes,

    aquela que levava o ouro era sempre assaltada. (Caminhos da Histria: Estradas Reais e

    Ferrovias)

    Na regio de Ouro Preto a ferrovia atravessa um lugar chamado Garganta do Vira-Saia.

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    Cena do filme O assalto ao Trem Pagador, de 1962, que tem a ferrovia como pano de fundo do argumento.

    Controle militar dos caminhos

    E havia bandidos que roubavam de bandidos, como o grupo formado por ciganos e

    mestios, chefiados por um branco apelidado de Montanha. Conhecido como Quadrilha da

    Mantiqueira, por agir na estrada para o Rio de Janeiro, esse grupo atacava contrabandistas

    de ouro e de diamantes que viajavam disfarados de mascates e caixeiros-viajantes. Quando

    essa quadrilha passou a assaltar e matar tambm indivduos reconhecidamente de bem,

    com profisso, domiclio e prestgio nas Minas, organizou-se a represso. Descoberta em

    1783, a quadrilha foi perseguida por uma fora militar que incluiu o alferes Joaquim Jos da

    Silva Xavier, o Tiradentes. (Caminhos da Histria: Estradas Reais e Ferrovias)

    Outra permanncia, aqui representado pela relao com as Foras Armadas.

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    Cartaz mostrando a integrao dos caminhos para as comunicaes.

    CORREIOS

    No Brasil colonial os correios foram institudos em 1663 e funcionaram

    precariamente, exceto na regio de Minas Gerais, ondepara limitar o acesso s informaes

    e manter sigilo sobre medidas administrativas referentes s Minas, a Coroa proibiu, a 26 de

    abril de 1730, a instalao de um servio regular de correios por terra que ligasse a Capitania

    s demais regies (ROMEIRO, 2003; p. 90). Oficialmente, os servios postais de Minas Gerais

    datam de 1798, quando foram instaladas agncias em Vila Rica, So Joo del Rei, Sabar e

    Serro. Os carteiros, chamados de estafetas, viajavam pelo Caminho Novo, at Paraibuna,

    onde entregavam e recebiam as malas postais que tinham como destino ou origem o Rio de

    Janeiro. (Caminhos da Histria: Estradas Reais e Ferrovias)

    CORREIOS X TROPEIROS

    Os estafetas do governo podiam ser um pouco mais ligeiros ou menos demorados

    mas no eram mais seguros, nem abrangiam de maneira nenhuma, uma to grande rea de

    influncia e domnio (BENVOLO, 1953; p. 457).

    PARCERIA

    Nas composies ferrovirias havia um carro especialmente dedicado ao correio, cuja

    comunicao com os demais vages ou carros de passageiros era vedada. Neles viajavam

    somente funcionrios dos Correios e Telgrafos devidamente uniformizados e no se

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    permitia a conduo de outros volumes que no malas de correio e acessrios. (Caminhos

    da Histria: Estradas Reais e Ferrovias)

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    O time do Atltico Mineiro viajando para jogar futebol em Juiz de Fora.

    Crditos das imagens

    Acervos:

    Manoel Marcos Monachesi

    Secretaria Municipal de Cultura de Sabar

    Arquivo Pblico Mineiro

    PDDIPlano de Desenvolvimento Integrado da Regio Metropolitana de Belo Horizonte

    Ricardo de Moura Faria

    Helena Guimares Campos

    RevistasA Semana, O Cruzeiro e Vida de Minas

    Pinturas/ilustraes de Walter Lara, Georg Grimm, Jean-Baptiste Debret, Johann

    Moritz Rugendas

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    Comunicao 06

    Indivduos, grupos, trajetrias : o Caminho Novo e as elites de

    Barbacena (1791 - 1831)1

    Leonardo Bassoli Angelo2(Doutorando PPGHis/UFJF)

    A histria da cidade de Barbacena est fortemente atrelada construo do

    Caminho Novo, criado em 1698 por Garcia Rodrigues Pais, genro de Ferno Dias Pais

    o caador de esmeraldas para construir uma rota alternativa a ligar as capitanias

    de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, a primeira ento em franco desenvolvimento em

    virtude do desenvolvimento da regio mineradora. Apesar de Renato Pinto Venncio

    (apud RESENDE, 2008) creditar esse caminho a uma rota traada por indgenas muitotempo antes da colonizao do Brasil, cumpre destacar que o sculo XVIII

    acompanhou o desenvolvimento econmico desse caminho, que substituiu o

    Caminho Velho.

    O estabelecimento de pessoas em torno dessa estrada e seu posterior

    desenvolvimento econmico levaram fundao, ainda por Garcia Rodrigues Pais, de

    um povoado nomeado Arraial da Igreja Nova da Borda do Campo, tendo este

    indivduo como primeiro detentor de sesmaria e o posterior estabelecimento de

    outras pores de terra que desenvolveriam essa regio. Ao fim do sculo XVIII, a 14

    de agosto de 1791, um pedido proveniente da Borda do Campo, de Nossa Senhora da

    Assuno do Engenho do Mato e de Simo Pereira visou criao de uma vila que,

    autorizada, recebeu o nome de vila de Barbacena. Isso significava que o antigo

    Arraial da Igreja Nova da Borda do Campo teria, alm da nova condio jurdica,

    pelourinho prprio e uma Casa de Cmara onde haveria espao para exercer a

    poltica de forma mais consistente com o poder da capitania de Minas Gerais e, ainda

    que de forma indireta, com o poder central, do qual poderia ser esperada maior

    visibilidade.

    As pessoas que atuaram na regio de Barbacena desde os tempos de Garcia

    Rodrigues Pais incluindo esse indivduo como grandes detentoras de pores de

    terras, e outras com influncia sobre pessoas e grupos, compuseram o que denomino

    elites3na supracitada regio. A existncia de elites, e no elite implica afirmar

    que havia indivduos e grupos que se dispunham de forma variada e que tinham

    1Texto do autor2Doutorando em Histria pelo Programa de Ps-Graduao em Histria da UFJF e analista de instrumentos deavaliao no Centro de Polticas Pblicas e Avaliao da Educao (CAED/UFJF). Este artigo compe reflexes

    iniciais de minha pesquisa de Doutorado, financiada pela CAPES.3 Para o conceito de elite, me baseio em John Scott, que versou sobre um amplo conjunto de indivduos

    pertencentes ao topo da hierarquia social, como profissionais da poltica, empresrios, legisladores, entreoutros, sem referncia a nenhuma implicao terica particular. Cf: SCOTT, 1995, p. 9.

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    caractersticas e demandas variadas, algumas especficas, mas que tinham em

    comum o fato de terem interesses a defender. Muitas das pessoas que atuaram em

    Barbacena pertenciam a famlias cuja presena na economia e na poltica da

    localidade se fizeram presentes por dcadas, enquanto outras perderam espao pelosmais variados motivos. O passo inicial para que se compreenda a configurao dessas

    elites responder seguinte pergunta: quem eram essas pessoas? Em quais espaos

    atuaram? A quem se aliaram?

    Manoel de S Fortes de Bustamante Nogueira nasceu no Arraial da Igreja

    Nova da Borda do Campo, na Fazenda do Curral, em 1759. Era filho do capito

    Manoel Antunes Nogueira e de Rita Luiza Vitria de Bustamante e neto materno de

    Luiz Fortes de Bustamante e S, que foi juiz de fora do Rio de Janeiro e

    posteriormente se estabeleceu no Stio do Curral Velho, em Minas Gerais. Esse

    indivduo formou-se em Coimbra e casou-se com Mariana Leocdia da Silva. Sua

    histria em Barbacena peculiar, pois foi o primeiro presidente da Cmara de

    Barbacena (posto que ocupou diversas vezes), era irmo do capito Luiz Fortes de

    Bustamante Nogueira, e sobrinho de Joo Pedro de Bustamante e S, que tambm foi

    presidente da Cmara (1795). Tendo sido juiz executor de sesmarias da vila de

    Barbacena e seu termo, na comarca do Rio das Mortes, Manoel foi misteriosamente

    assassinado e, por no haver esclarecimentos acerca da motivao do crime e do

    prprio assassino, a historiografia elencou uma srie de especulaes, uma delas

    poltica, haja vista sua forte presena no Senado da Cmara de Barbacena, onde ele e

    a famlia buscaram incessantemente se fazer presentes nos mais altos postos

    (RESENDE, 2008; LACERDA, 2010).

    Outro indivduo que compe as elites sobre as quais me detenho foi Francisco

    de Paula Lima, filho do capito Jos Rodrigues de Lima e de Maria Antnio de

    Oliveira, neto materno do capito Jos Aires Gomes e irmo de Constncia Emdia de

    Lima Duarte, casada com o comendador Feliciano Coelho Duarte e irm de Jos

    Rodrigues de Lima Duarte, visconde de Lima Duarte. Casou-se duas vezes, primeiro

    com sua sobrinha Maria Cndida de Lima e depois com Francisca Cndida Monteiro

    de Barros, filha de Jos Cesrio Monteiro de Barros, visconde de Uberaba, e de Maria

    Jos Monteiro de Barros. Francisco elegeu-se vereador pela Cmara Municipal da vila

    de Santo Antnio do Paraibuna, onde ocupou o cargo de presidente, autoridade

    policial, juiz de paz, substituto de juiz municipal e de rfos.

    A famlia de Manoel do Vale Amado ocupou as terras do Arraial da Igreja

    Nova da Borda do Campo desde o incio do sculo XVIII. Manoel recebeu inmeras

    sesmarias nessa regio e, alm de grande detentor de terras, era administrador dos

    contratos no Registro de Matias Barbosa e tenente-coronel da cavalaria de Drages

    da Mantiqueira e do Paraibuna. Adquiriu em 1776 a sesmaria de Matias Barbosa. Seu

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    filho Joo, capito de ordenana, foi um dos fazendeiros com mais posses no termo

    de Barbacena (RESENDE; JANURIO, 2010, p. 7).

    Outro exemplo entre vrios foi Jos Vidal de Barbosa, presidente da Cmara

    de Barbacena em diversas ocasies, e um dos principais proprietrios de sua

    localidade; outro presidente, Pedro Teixeira de Carvalho, casou-se mais de uma vez e

    se transformou em um rico comerciante de Barbacena; um ltimo indivduo a ser

    mencionado Silvestre Pacheco de Castro, tambm presidente da Cmara, que

    possuiu importante casa de negcios de fazendas secas na mesma localidade.

    Os indivduos acima elencados compem exemplos do que pode ser verificado

    na sociedade barbacenense, e vrios fatores devem ser considerados, a comear pela

    famlia que, longe de ser uma instncia homognea, tinha conflitos e realizava

    rearranjos de acordo com as circunstncias polticas, econmicas e sociais dalocalidade, da regio e do Brasil. Cumpre entender como famlias a exemplo das de

    Manoel de S Fortes de Bustamante Nogueira e a de Jos Vidal de Barbosa atuaram

    nos tempos de fundao da vila de Barbacena, qual era sua situao poltica e

    econmica no perodo da chegada da Corte portuguesa ao Brasil, e os efeitos desses

    eventos sobre seus componentes.

    Muitas vezes, a famlia se relacionou a outra instncia muito importante: a

    Cmara. Essa instituio se configurou, a meu ver, como o mais importante espao de

    exerccio poltico em mbito local, pois era o meio oficial de se relacionar aos poderesconstitudos na capitania/provncia e no governo central. Um indivduo que atuava na

    Cmara, notadamente aquele que a dirigia, tinha maior visibilidade junto aos

    governantes, e tinha maiores possibilidades de obteno de benesses. A famlia do

    supracitado Manoel, por exemplo, teve atuao destacada na Cmara de Barbacena

    (verificvel com apenas uma consulta lista de dirigentes da instituio), enquanto

    outras, como a famlia Ferreira Armonde, no tiveram acesso to amplo

    participao poltica oficial, por opo ou por falta de oportunidade em razo da

    pouca articulao.

    As irmandades se constituam como um importante veculo de exerccio

    espiritual. Por meio delas, os irmos praticavam a caridade e cultivavam valores em

    comum; em Barbacena havia inmeras irmandades, dedicadas aos mais variados

    santos, e os indivduos das famlias poderosas de Barbacena fizeram parte dessas

    instncias. Manoel Rodrigues da Costa, padre inconfidente e membro da Cmara de

    Barbacena na ocasio da Independncia, pertencia Irmandade de So Miguel e

    Almas. Luiz Teixeira dos Santos, que assinou a petio para elevar o arraial

    condio de vila, pertencia Irmandade do Santssimo Sacramento. Francisco Luiz de

    Medeiros que tambm assinou a petio e Silvestre Pacheco de Castro, vereadorna ocasio da Independncia e presidente em mais de uma ocasio, pertenciam

    Irmandade Senhor dos Passos. Esses indivduos, em meu entendimento, no se

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    associavam com o propsito nico de obter benefcios; explicando melhor, no penso

    que um desses indivduos que elenquei como irmo se associou a uma irmandade

    porque outro indivduo, poderoso, a ela pertencia. Deve ser levado em considerao o

    propsito devotivo dessas associaes, mas no pode ser negado que isso poderialevar a consequentes benefcios para determinadas pessoas; a proximidade em

    virtude da devoo poderia resultar em uma aliana poltica, em acordos econmicos,

    entre outros. No sei at que ponto possvel estender esta anlise s lojas

    manicas.

    As alianas estabelecidas entre essas pessoas compuseram o que denomino

    redes,4 relaes de tessitura complexa que eram dinmicas, com significaes e

    ressignificaes constantes, arranjos e rearranjos, rupturas e constante mudana de

    papel entre os sujeitos. Um desentendimento poderia levar a uma diviso no interior

    de uma famlia ou entre duas famlias; uma medida econmica do governo poderia

    forar um rearranjo entre parceiros de um negcio, e, por fim, o desentendimento

    entre dois ex-companheiros no Senado da Cmara poderia resultar no rompimento de

    alianas familiares at ento possveis, o que poderia determinar, tambm, o fim de

    relaes econmicas. Ao analisarmos a atuao de pessoas poderosas, devemos levar

    em considerao que, em ltima instncia, essas pessoas desejavam o sucesso, a

    felicidade, e para conseguir esses objetivos era necessria a manuteno, ampliao

    ou o impulso de atividades econmicas/polticas/sociais. Seria simples pensar assim

    se no se considerasse que, muitas vezes, interesses se chocavam e provocavam

    mudanas, adaptao de estratgias.

    A importncia em se adotar essa proposta metodolgica para estudar as elites

    de Barbacena se explica, em parte, pela importncia dessa localidade para a histria

    do Caminho Novo, essa via que interligou Minas Gerais e o Rio de Janeiro, o que

    denota a participao, tanto na histria de Barbacena quanto do Caminho Novo, de

    pessoas que, por serem poderosas ou terem se tornado poderosas por suas

    atividades contriburam para o desenvolvimento regional. A Cmara de Barbacena

    se ofereceu, s vsperas da Independncia poltica do Brasil, para sediar um provvel

    governo independente, e cumpre investigar as articulaes de suas elites nesta

    ocasio. O estudo da participao de pessoas poderosas de Barbacena na Revolta

    Liberal de 1842 revelar, indubitavelmente, o peso da localidade para esse

    movimento que considerado como um dos ltimos entraves consolidao da

    ordem imperial no Brasil. Por fim, o estudo de elites se justifica pelo fato de poder

    remeter a um conjunto maior, ou seja, as elites de Barbacena podem lanar luz sobre

    outras localidades at mesmo em outros continentes o que atestado pelas

    investigaes de elites da Frana que auxiliam no entendimento de arranjos no Brasil

    4Cf: GRIBAUDI, 1993.

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    , e suas especificidades podem contribuir para essa metodologia, to rica para

    compreender a complexidade dos agentes de quaisquer perodos histricos.

    BIBLIOGRAFIA

    GRIBAUDI, Mauricio. Relazioni sociali e strategie individuali in ambiente urbano: Torino:

    Torino nel Novecento, 1993.

    LACERDA, Antnio Henrique Duarte. Negcios de Minas: famlia, fortuna, poder e redes de

    sociabilidades nas Minas Gerais A Famlia Ferreira Armonde (1751-1850). Niteri: UFF,

    2010. (Tese de Doutorado em Histria).

    RESENDE, Edna Maria; JANURIO, Erlaine. Barbacena: desenvolvimento histrico e fontespara a histria regional. Guia de Fontes do Acervo do Arquivo Municipal Professor Altair

    Savassi. Barbacena: 2010. CD-rom.

    RESENDE, Edna Maria. Ecos do Liberalismo: iderios e vivncias das elites regionais no

    processo de construo do Estado Imperial (1831-1840). Belo Horizonte: UFMG, 2008. (Tese

    de Doutorado em Histria)

    SCOTT, John. Les lites dans la sociologie anglo-saxonne. In: SULEIMAN Ezra; MENDRAS

    Henri. Le recrutement des lites en Europe. Paris: Editions la Dcouverte, 1995.

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    Comunicao 07

    Olhar de Pedra

    Vanderlei Tomaz(Juiz de ForaPesquisador da Histria de Juiz de Fora)

    O apresentador desta comunicao foi trazido pelas pesquisadoras Leila Maria

    Fonseca Barbosa e Marisa Timponi Pereira Rodrigues, que o convidaram para falar sobre o

    tema a que ele se dedica h alguns anos: o Caminho Novo em Juiz de Fora. Palavras delas:

    ... gostaramos de apresentar a vocs o dubl de

    pesquisador e poeta VANDERLEI DORNELAS TOMAZ(29/07/1964) que nasceu em Benfica de Minas (ento

    distrito de Juiz de Fora, e atual bairro de Benfica), foi

    vereador, diretor da Biblioteca Murilo Mendes, e o

    autor da Lei Murilo Mendes de Incentivo Cultura.

    Publicou: Lira Suburbana e Nos Ombros de Minas,

    poesias. Sobre sua poesia, Carlos Drummond afirmou:

    Em seus poemas me pareceu haver aquela alguma

    coisa que distingue os criadores atravs da palavra;

    Jorge Amado disse: Li e gostei do pingente no trem

    da poesia e Abgar Renault ressaltou o aparecimento

    de um novo poeta. Estudioso do Caminho Novo,

    pesquisador meticuloso, para ns, quem mais tem

    material coletado a respeito do assunto em Juiz de

    Fora. No conto que nosso autor ler a seguir, podemos observar como a literatura

    importante para a histria ou como podemos escrever histria atravs da literatura.

    Em sua fala, Vanderlei Tomaz mencionou os diversos estrangeiros que citaram o

    Caminho Novo em seus escritos como Antonil, Tavares de Brito, Costa Matoso, Saint Hilaire,

    ressaltando que cada viajante deu destaque a algum aspecto ou citou alguma curiosidade

    do lugar por onde passou, sendo importante ter em mente quando informam os intervalos

    entre determinados pontos, pois esta informao que permite, hoje, identificar

    corretamente os locais. Como, por exemplo, a localizao da Casa do Juiz de Fora, cargo que

    deu origem ao nome do municpio.

    O pesquisador observou que corredeiras ou altura de cachoeiras, registradas pelos

    viajantes estrangeiros, permitiram a identificao, por exemplo, das cercanias do local onde

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    hoje se encontra a Barragem Joo Pinheiro. E foi na busca dos locais mencionados pelos

    viajantes que Vanderlei Tomaz chegou aos vrios entrevistados que contriburam com suas

    lembranas para a soluo de alguns enigmas. Tambm foi lembrando que a localizao dos

    marcos de sesmarias constituiu um ponto fundamental em sua pesquisa. A explicao sobre

    a forma de identificao no s das distncias como tambm dos sesmeiros limtrofes, foi

    recebida pela plateia com surpresa e curiosidade, e foi declarado que a concluso adveio da

    confrontao de vrias fontes a partir da localizao de quatro marcos de sesmaria na rea

    de Juiz de Fora.

    tambm de Leila Barbosa e Marisa Timponi a transcrio a seguir, com que o autor

    nos brindou para alm dos comentrios interessantes que fez a respeito do assunto.

    OLHAR DE PEDRA

    Nunca sa daqui.

    J se passou muito tempo! Duzentos e tantos anos...

    A estrada foi aberta um pouco antes. O bandeirante veio de longe, rasgou a mata

    aproveitando as trilhas dos coroados e facilitou a fuga do ouro mineiro.

    Apareci anos depois, descendo a serra em lombo de burro. Fui plantado neste lugar.

    Pio de pedra, marco de sesmaria, assim me chamavam.

    Quem me trouxe usou-me para marcar o centro da

    propriedade. Mediam o terreno esticando cordas. Muito

    cho para uma famlia s. A Coroa foi generosa. Vi

    quando levantaram a casa principal. Havia gado

    pastando do meu lado.

    A lavoura de milho divisava com o Caminho Novo. A

    famlia cresceu. O dono morreu. O solo foi dividido.

    Outras casas apareceram, muitas mulheres e novas

    crianas. Cheguei a ver ndios. No eram de famlia

    brava. Houve um tempo em que passavam livres com

    suas caas.

    A seguir, foram caados. Suas roupas modificadas revelavam os costumes do invasor.

    J no via suas mulheres e filhos. Seguiam tropeiros. Levavam cargas. Tambm

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    carregavam em seus corpos marcas de chibatas. Quem abriu a estrada, usando sua

    picada, no era seu amigo.

    Passaram negros escravos. Outros em fuga.

    O Tiradentes perseguia a Quadrilha da Mantiqueira. Soube que mataram muitos em

    Joo Gomes. Numa das vezes que o vi passar, ele tentava convencer seus

    companheiros que a Colnia podia ser livre e o seu ouro no ir mais embora.

    No demorou muito e os seus amigos passaram amarrados. Diziam que o julgamento

    seria no Rio e a pena podia ser dura. Nunca mais os vi. Falaram que foram levados

    para a frica. Anos mais tarde, o alferes voltava para sua provncia. J no falava

    mais e nem estava inteiro. Vi sua cabea passando numa gaiola. Seguia para Vila

    Rica. Outras partes ficaram no caminho.

    Quando o Imperador passou (era o ano de 1831), seus oficiais comentavam do seu

    medo ao entrar em Medeiros. Apeado do seu cavalo, fez uma cruz de gravetos e

    fincou no Morro dos Arrependidos. Era uma tradio e D.Pedro I temia no voltar pra

    casa. E seguiu para So Joo DelRei. Passou por mim. Desejei-lhe boa viagem.

    Costa Matoso, Eschwege, Saint Hilaire, Luccock, Pohl, Cunha Matos, Caldcleugh,

    Langsdorff... Portugus, ingls, francs, alemo...Vi muita gente diferente, de costumes diversos, de lnguas estranhas. Estudavam

    sobre plantas e animais. Escreviam sobre pessoas e suas manias. Faziam dirios e

    desenhavam paisagens.

    A estrada j no era boa. Quando o Imprio contratou o servio de um engenheiro

    alemo, coube-lhe alargar e encurtar o traado. Vi o instante em que passou, com

    seus mapas, ferramentas e operrios. O caminho foi desviado e o movimento que

    testemunhava caiu.

    Restou-me uma solido do tamanho desta sesmaria. Aqui era a Rocinha, Engenho ou

    Chapu DUvas. Hoje, virou Paula Lima e Vileta.

    Quem me v parado, ereto e com uma cruz escavada em cada lado, pensa que aqui

    tem gente enterrada. No reviram a terra. Respeitam o sono do suposto falecido.

    Anos atrs, passaram uma linha de transmisso de energia aqui por cima.

    Agora me chega a notcia que vo fabricar ao por perto. O alvoroo grande. Tenho

    testemunhado propostas e especulaes. No fui chamado pra negociar. O que ficou

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    do caminho do ndio e do bandeirante vai desaparecer. Minha vigilncia e as

    lembranas sumiro tambm.

    Ainda no sei o que vo fazer comigo.

    Talvez me aproveitem como pedra no alicerce de algum galpo ou me queiram aqui

    mesmo onde estou guardando minhas memrias e que tambm so suas.

    No dia seguinte, tivemos o prazer da companhia de Vanderlei Tomaz no passeio

    cultural com que o 5 Encontro foi encerrado, quando visitamos a Fazenda Ribeiro das

    Rosas.

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    Comunicao 08

    A literatura margem do Caminho Novo

    Profa. Leila Barbosa e Profa. Marisa Timponi(Juiz de ForaPesquisadoras de Literatura)

    Professoras aposentadas da UFJF, so pesquisadoras da Histria Literria de Juiz de

    Fora. Leila Barbosa participou de Encontros anteriores e nesta edio elas atraram para o 5

    Encontro alguns membros de instituies culturais a que pertencem, como a Academia

    Juizforana de Letras e o Grupo Caf com Poesia e Arte, aos quais agradeceram pela

    presena.

    A professora Marisa declarou ter se identificado muito quando ouviu a fala da

    professora Helena Guimares Campos, por ter residido numa casa da Estrada de Ferro

    Leopoldina em So Geraldo e se sentir muito tocada com a questo ferroviria, conhecendo

    aspectos como a buzina, o apito e a fumaa do trem.

    Passando ao tema que iriam apresentar, Marisa Timponi destacou ser necessrio

    comear pela significao da palavra caminho na literatura, em que simboliza a vida no

    espao e no tempo. Em suas palavras:

    Significa tambm movimento, um estar a caminho. Os egpcios viam seucaminho pela vida na trajetria do sol. Na China antiga, a vida humanacorrespondia ordem csmica, ao caminho do cu e da Terra, ao Tao. No VelhoTestamento, o caminho corresponde ao plano divino do mundo, vida dohomem.Todas as religies procuram indicar o caminho correto para a salvao: Budapregava o caminho sagrado de oito elementos que conduz cessao dosofrimento: entendimento, pensamento, linguagem, ao, modo de vida, esforo,

    ateno plena e concentrao, todos corretos. Na ndia antiga, o sufi designa oacesso vida mstica como caminho (tariqa). No cristianismo, Jesus disse de simesmo: Eu sou o caminho,a verdade e a vida (Jo 14,6).J o Novo o desconhecido, o que d medo, o diferente e que, ao mesmotempo, atrai, excita a curiosidade, mobiliza. ainda o necessrio para que hajamudanas, para que haja progresso.Segundo o pesquisador Vanderlei Tomaz, em Juiz de Fora: o Caminho Novo foi a

    primeira via pblica aberta na regio, com o propsito de encurtar a distnciaentre o Rio de Janeiro e os lugares de onde se extraa a nossa riqueza mineral,alm de permitir a ocupao do territrio por meio da distribuio de

    sesmarias. Juiz de Fora cortada por cerca de 50 km do Caminho Novo daEstrada Real, entre os municpios de Matias Barbosa e Ewbank da Cmara,sempre na margem esquerda do Rio Paraibuna, nunca o atravessando.

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    Neste nosso trabalho, atualizamos alguns de nossos escritores literrios queescreveram sobre o Caminho Novo.

    Neste momento Leila Barbosa informou ao pblico que interromperiam a prpria

    apresentao para chamar Vanderlei Tomaz que, em virtude de compromissos precisaria

    ausentar-se em seguida.

    No retorno, Marisa Timponi e Leila Barbosa se dedicaram a apresentar os escritores

    de Juiz de Fora que mencionaram o Caminho Novo em suas obras. A seguir o texto que foi

    projetado no telo e comentado pelas pesquisadoras.

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    Comunicao 09

    Caminho Novo: arquitetura de ocupao

    Prof. Vanda Arantes do Vale(UFJF - Juiz de Fora)

    Ao iniciar sua comunicao, a professora Vanda Arantes lembrou Pedro Nava:

    Eu sou um pobre homem do Caminho Novo das Minas dos Matos Gerais. Se no

    exatamente da picada de Garcia Rodrigues, ao menos da variante aberta pelo

    velho Halfeld e que, na sua travessia pelo arraial do Paraibuna, tomou o nome de

    Rua Principal e ficou sendo depois a Rua Direita da cidade do Juiz de Fora. Nasci

    nessa rua, no nmero 179, em frente Mecnica, no sobrado onde reinava

    minha av materna. E nas duas direes apontadas por essa que hoje a

    Avenida Rio Branco hesitou a minha vida. A direo de Milheiro e Mariano

    Procpio. A da Rua Esprito Santo e do Alto dos Passos. (NAVA, Pedro. Ba de

    ossosmemrias. Rio de Janeiro, Sabi, 1972, p. 13).

    Eis a um panorama da cidade que pontifica na mata mineira. Foi sobre alguns

    exemplares da arquitetura mineira que surgiu a regio. A ocupao a partir do sculo XVIII,

    em torno da picada aberta por Garcia Rodrigues ligando a Borda do Campo a Paraibuna,

    girou sobre elementos como os ndios, os sesmeiros, os pousos e as roas. Eram vrios tipos

    de arquitetura, sendo que a professora Vanda falaria sobre as que sobreviveram.

    O primeiro exemplar

    destacado foi a Fazenda da Borda

    do Campo, construda para

    moradia definitiva, diferente dos

    pousos que serviam para acolhida

    temporria. Importante destacar

    que a vidraa, utilizada nesta

    construo, no tem nada de

    colonial. Provavelmente tero sido

    acrescentadas posteriormente, j

    que um elemento que s aparece

    no Brasil aps a chegada de Dom Joo VI. Para Vanda Arantes, provavelmente o vidrochegou regio de Juiz de Fora j no final do sculo XIX, depois da ferrovia.

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    A capela da Fazenda da Tapera, conforme

    imagem ao lado, traz resqucios da arquitetura

    colonial encontrveis tambm em outras

    construes da regio. uma arquitetura mais

    pobre do que a do ciclo do ouro.

    Outro exemplar a Fazenda da Tapera, que assim como outras da poca foram feitas

    em pau-a-pique:

    Aps 1840 houve um adensamento populacional e o caf foi introduzido na regio,

    vindo do Vale do Paraba. Ocorreu, ento, o desmatamento de grandes reas e a arquitetura

    modifica-se para adaptar-se s atividades desenvolvidas pela produo cafeeira. Como

    exemplo, Vanda Arantes fez projetar a gravura ao lado, da Fazenda de Santana, em Goian.

    Aqui j aparece a senzala e uma parte da grande fazenda, de um modelo comum para a

    poca. Hoje o prdio j no existe mais e a propriedade est ocupada por sem terra.

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    Relatos do V Encontro de Pesquisadores do Caminho Novo - Junho de 2014 - Juiz de ForaMG

    Nilza Cantoni 71

    Outro momento da arquitetura a residncia de Mariano Procpio Ferreira Lage,

    construda por trabalhadores de origem germnica, utilizando-se de tijolos de alvenaria,

    argamassa e vidros. Agora j no mais ao lado do Caminho Novo, mas da estrada de

    rodagem Unio e Indstria.

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    Nilza Cantoni 72

    Jornal do Comrcio, 1861- sobre a Villa:

    Com palavras no se pode fazer a descrio deste lindo edifcio, e dos stios que

    o rodeiam. Recorde-se cada qual da ideia que em sua infncia temos formado da

    habitao de alguma fada e poder compreender talvez o que vimos em Juiz de

    Fora. (BASTOS, W.L. Mariano Procpio Ferreira Lage, sua vida, sua obra,

    descendncia, genealogia. Juiz de Fora: Editora Paraiso, 1991, p. 105-106).

    Modelo arquitetnico oposto ao colonial. Os capitais oriundos da cafeicultura eram

    investidos em bens de consumo e o panorama se modifica. A Vila coloca Juiz de Fora como

    amostra do que estava acontecendo no ocidente, disse a professora Vanda.

    A chegada da revoluo burguesa encontra outro exemplar na arquitetura das

    estaes ferrovirias.

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    Nilza Cantoni 73

    A Usina de Marmelos, trazendo a energia eltrica, promoveu tal mudana no sculo

    XIX que parece ter representado o mesmo que a internet para os dias atuais.

    Mais um exemplar da arquitetura do sculo XIX a Cervejaria Poo Rico, deimigrantes germnicos:

    Usina de Marmelos

    Cervejaria Poo Rico

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    Nilza Cantoni 74

    Tambm de imigrantes germnicos a Fbrica Meurer:

    Voltado a Pedro Nava:

    E aqui? Tambm tivemos a nossa Belle poque, por sinal que feia como sete dias

    de chuva. (NAVA, P. Ba de ossosmemrias. Rio: Sabi, 1972, p. 208).

    Vanda Arantes do Vale lembrou que na Belle poque 1870-1920, o Brasil viveu o

    auge da imigrao, a abolio da escravatura, a Proclamao da Repblica, a construo de

    Belo Horizonte e a industrializao. E a arquitetura do perodo nos deixou os seguintes

    exemplares:

    Meurer

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    Nilza Cantoni 75

    So modelos de uma poca em que se buscava a separao entre Igreja e Estado, a

    adoo de setores destinados elite, a educao baseada numa tica ligada ao trabalho e

    arquitetura ecltica que reforma traos antigos. O Grambery, de influncia norte-americana,

    encontra oposio no modelo catlico da Academia de Comrcio, imagem a seguir.

    Grambery

    Academia de Comrcio

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    O modelo a seguir, do final do sculo XIX, foi construdo na Avenida Rio Branco,

    revivendo o estilo dos chals suos.

    Para a professora, na Belle poque Juiz de Fora quer ser internacional.

    A ltima imagem apresentada por Vanda Arantes a de um momento em que Belo

    Horizonte comea a superar Juiz de Fora e isto se reflete no estilo arquitetnico.

    Edifcio Ciampi