relatos do iv encontro de pesquisadores do caminho novo

Upload: nilzacantoni

Post on 14-Oct-2015

151 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Comunicações apresentadas em Congonhas, Minas Gerais, nos dias 24 e 25 de maio de 2013, por estudiosos do Caminho Novo da Estrada Real.

TRANSCRIPT

Relato do IVEncontro de Pesquisadores do Caminho Novo

SumrioAbertura dos Trabalhos2Alguns aspectos notveis do Caminho Novo4O Caminho Novo sob a perspectiva dos viajantes do sculo XIX10O Caminho Novo em mapas: a Capitania de Minas Gerais21O Universo Urbano e as Estradas Reais e Ferrovirias25Vrtebras do Caminho Novo pelos Sertes do Leste37Peregrinos e a Estrada Real: os diversos caminhos dos devotos do Bom Jesus51Monumentos barrocos desconhecidos ao longo das Estradas Reais57Belmiro Braga: uma cidade no meio do Caminho Novo63As imagens dos Passos no Santurio do Senhor Bom Jesus do Matosinhos: uma anlise iconolgica.69A insero do Caminho do Comrcio no universo das Estradas Reais76

Relato do IV Encontro de Pesquisadores do Caminho Novo Congonhas, MG Maio 2013

Nilza Cantoni e Joana CapellaAbertura dos Trabalhos

No dia 24 de maio de 2013 reuniu-se em Congonhas, Minas Gerais, o grupo de Pesquisadores do Caminho Novo para seu IV Encontro anual. Na abertura um dos organizadores, o pesquisador Luiz Mauro Andrade da Fonseca, ressaltou que o grupo forma uma confraria que se rene para trocar ideias e experincias e que, este ano, seriam apresentadas doze pequenas conferncias.

Foi composta a mesa de abertura com o objetivo de esclarecer, especialmente aos nefitos, qual a finalidade e como acontece o Encontro, sendo convidados para comp-la a professora Mriam Palhares, Secretria de Cultura de Congonhas, o artista e professor Luciomar de Jesus, tambm de Congonhas, o professor Geraldo Barroso de Carvalho e o professor Francisco Rodrigues de Oliveira.A primeira a se apresentar foi a professora Mriam, que deu as boas vindas em nome da Prefeitura e da Secretaria de Cultura de Congonhas e declarou ter sido uma grande felicidade receber os organizadores quando da visita inicial de preparao do evento. Explicou que, anteriormente, Congonhas contava apenas com a Fundao de Cultura e que este ano foi criada a Secretaria. Assim, neste primeiro ano de funcionamento do novo rgo, houve uma grande satisfao em colaborar com a organizao do Encontro, especialmente atravs de Luciomar de Jesus, com quem foi possvel aprender sobre a importncia desta reunio anual de pesquisadores. Mriam Palhares acrescentou que todos os participantes receberiam um kit sobre a cidade, contendo o cd Cidade dos Profetas, do Coral de Congonhas (que tambm recebe apoio da Prefeitura Municipal e da Secretaria de Cultura); o livro Silvrio, o Profeta Negro, de Helvcio Maranhas Dias Leite com ilustraes de Luciomar de Jesus; e, material de divulgao turstica sobre a cidade.Em seguida, Luciomar de Jesus falou sobre o programa da visita guiada pela obra de Aleijadinho, a realizar-se no dia seguinte. Iniciando-se s 9 horas em seu ateli, prosseguindo com uma visita aos Passos da Paixo e terminando pela visita ao Santurio de Bom Jesus, o programa ser encerrado com apresentao do Coral Cidade dos Profetas.Geraldo Barroso foi o segundo orador, ressaltando as qualidades artsticas do nosso Michelngelo, como denomina o artista plstico Luciomar de Jesus, grande conhecedor da obra de Aleijadinho.Luiz Mauro explicou que o livreiro que sempre participa, trazendo para venda obras variadas e muitas vezes raras, no havia chegado e, por esta razo, convidou os autores presentes a falarem rapidamente sobre as obras que trouxeram. Inicialmente Geraldo Barroso abordou seu mais recente livro As Assinaturas do Criador, e foi secundado por Rosalina Pinto Moreira, que lanou recentemente Velho Porto... Porto Nosso sobre a cidade de Astolfo Dutra e, enfim, Joo Paulo Ferreira de Assis com o livro Histria do Municpio de Senhora dos Remdios; alm do prprio Luiz Mauro que acaba de lanar O Arraial e o Distrito de Joo Gomes, primeira parte da trilogia sobre o municpio de Santos Dumont.

Em seguida Silas, Diretor de Arte da Secretaria de Cultura de Congonhas, trouxe a atriz Regina Baa para saudar os participantes com um poema.

Alguns aspectos notveis do Caminho NovoProfessor Mrio Celso Rios, pesquisador, professor e membro da Academia Barbacenense de Letras.

O professor Mrio Celso iniciou sua fala agradecendo a todas as pessoas que se dedicam a guardar papis velhos que se transformam em fontes para a produo de histria. Ressaltou a necessidade de se consultarem as fontes para escrever a histria, mas sem cair na armadilha de s consultar as escritas. Em seguida, passou a discorrer sobre o Caminho Novo, declarando ser a trilha principal de um marcante episdio da Histria do Brasil - enquanto Colnia de Portugal - que foi a descoberta de minerais preciosos e o que isso representou para a formao da nacionalidade. Nesta exposio, temas peculiares so trazidos como motivadores para debates e estudos.Explicou ter realizado levantamentos bibliogrficos, impressos e virtuais e prosseguiu: O Caminho Novo norteou um momento-chave do domnio da metrpole. No obstante tal cultura de explorao e espoliao, nova conscincia ia sendo moldada. Assim, surgiam pousos, alguns em pontos estratgicos e aglomerados humanos insipientes. Tambm povoados e vilas iam sendo edificados o que resultou na ocupao de forma decisiva do Sudeste do territrio brasileiro e em tal cenrio, homens e mulheres de etnias variadas colaboraram decisivamente nessa transformao que resultou em base para o desenvolvimento scio-poltico do pas.Chamou a ateno para o fato de que Caminho Novo foi expresso que surgiu para designar uma via alternativa em oposio ao denominado Caminho velho e que seria a mais importante a partir do sculo XVIII. O fato histrico que motivou seu traado e concretizao foi o descobrimento de ouro em Minas Gerais. Passou a ser fiscalizado com muito rigor pela Coroa Portuguesa para se evitar o descaminho, ou seja, o contrabando. Da, a origem do nome Estrada Real da Corte. Na verdade, O Caminho Novo era um conjunto de trilhas construdas por povos autctones e conhecidas por peabirus, desde tempos imemoriais e o trabalho dos bandeirantes foi adequ-las aos objetivos de Portugal que era o escoamento de bens. Ento, foi feito meticuloso trabalho de engenharia para que tal empreitada obtivesse xito.A seguir apresentou uma Linha do Tempo destacando os seguintes fatos:1500 Chegada dos portugueses ao Brasil: interesse pela arabut-orabut ou ibirapitanga ibirapiranga, a rvore vermelha - pau-brasil;1531 Primeira Expedio a tocar a mata das Gerais ;1600 Notcia sobre os Sertes Gerais dos Cataguases;1664 Primeiras notcias sobre ouro nas Minas dos Cataguases;1688 Garcia Rodrigues Pais, filho de Ferno Dias, se dispe a abrir uma estrada que encurtasse a viagem da Capital do Sul, que era o Rio de Janeiro, at as Regies das Minas em 1688;1703 Tratado de Methuen e outros entre Portugal e Inglaterra;1708-1709 Guerra dos Emboabas;1720 Revolta de Felipe dos Santos;1729 Descoberta de diamantes;1730-1814 Aleijadinho (Antnio Francisco Lisboa, elabora os 12 profetas de Congonhas 1800-1805);1758 Expulso dos Jesutas;1768 Publicao de Obras Poticas de Cludio Manuel da Costa;1789 Inconfidncia Mineira;1792 Morte de Tiradentes; e, Publicao de Marlia de Dirceu de Toms Antnio Gonzaga;1775-1800 Decadncia da Minerao;1852 Mariano Procpio Ferreira Lage recebe a concesso governamental para iniciar a Rodovia Unio & Indstria;1854 Irineu Evangelista de Souza inaugura a Estrada de Ferro Mau, com 14,5 km do Porto da Estrela Raiz da Serra da Estrela;1953 Ceclia Meireles publica Romanceiro da Inconfidncia;1972 Lanamento do filme Os inconfidentes, direo de Joaquim Pedro de Andrade, argumento baseado em trechos de Romanceiro da Inconfidncia.Neste momento o professor Mrio Celso informou no ter o propsito de falar sobre Aleijadinho, Tiradentes e assuntos j sobejamente estudados. Sendo assim, optou por resgatar termos que podem constituir um vocabulrio comumente utilizado ao se falar do Caminho Novo. Foram relacionados os seguintes nomes de origem indgena: Tejuco ou Tijuco terras deamantinas (sic) o nome original de Diamantina. Na regio foram criados termos como finquete, fiminho, catatau, buzio, bisborna, lambreado e outros para se referir ao peso e forma dos diamantes; Beta de ouro No Brasil escavao profunda em rochas para se retirar ouro; Caet - mato genuno; Capivari - rio das capivaras; Carand - palmeira de carnaba; Caranda - idem anterior, variante; Catagus - Mato, rvore, vale; tribo indgena; Ibitipoca - montanha ou casa onde mora o vento; Ibirit madeira excelente; Ibertioga Etimologicamente, segundo o Padre Anchieta, Bertioga a evoluo do termo beriguioca que quer dizer lugar ou paradeiro dos Biriguis ou maruins, mosca pequena.Foram tambm citados alguns termos peculiares, tais como: Cachaceiros Vendedores de cachaa e, muitas vezes, cmplices dos garimpeiros, pois ao levarem cachaa para os arraiais praticavam contrabando; Garimpeiros Nome com que se apelidavam os mineradores furtivos nas terras diamantinas; Tropeiros comitiva composta por lotes de sete animais, muares ou cavalos, controlados por guias atravs de assovios e gritos, podendo transportar at 120kg e percorrer longas distncias. Mantiqueira a serra predominante na regio do Caminho Novo. Segundo Antonil a Amantiquira o lugar onde fica dependurada ou sepultada a conscincia. J para Burton Mantiquira contm a ideia de ardil e trapaa. Da, terra de salteadores. Pouso Mero terreno para acampar, a cu aberto, onde o proprietrio permite que se d gua s mulas; rancho construo rstica e simples, mas coberta com telhas; Venda lugar onde se vende velas, doces, aguardente, livros, h um balco e sobre ele uma balana rstica; estalagem, hospedaria e hotel.O professor barbacenense no se esqueceu das mulheres do Caminho Novo, as quais representou lembrando os nomes de Brbara Eliodora (ou Heliodora), Maria Dorotia Joaquina de Seixas Brando, a Marlia de Dirceu para Toms Antnio Gonzaga; Chica da Silva; e Hiplita Jacinta Teixeira de Melo. Alm destas, informou que Dona Beja e Dona Joaquina do Pompeu no estiveram diretamente ligadas ao Caminho Novo, mas sem ele talvez no tivessem passado histria.Voltando a mencionar o alfres Joaquim Jos da Silva Xavier, Mrio Rios manifestou-se bastante insatisfeito com certas correntes de pensamento, segundo as quais Tiradentes no teria existido. Tambm em relao a Aleijadinho e a Santos Dumont informou que tm sido publicadas informaes absurdas que poderiam ser facilmente corrigidas se houvesse mais leitura e estudo.Neste momento outro mineiro mereceu destaque pelo orador. Trata-se de Agripa Vasconcelos, a respeito de quem Mrio Celso apresentou a smula biogrfica a seguir:Agripa Vasconcelos (Matozinhos, 12 de abril de 1896 Belo Horizonte, 20 de janeiro de 1969) formou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, tendo defendido tese, aprovada com distino, para obter o ttulo de Doutor. Filho de Ulisses Gabriel de Castro Vasconcelos, neto paterno de Francisco Gabriel da Cunha e Castro, bisneto de Maria do Carmo Pereira de Vasconcelos, esta, irm do grande estadista Bernardo Pereira de Vasconcelos. O enredo de cada livro o prprio enredo da histria e, por ser rigorosamente histrico, todo o seu contedo interessa a todos que desejam conhecer a verdadeira significao das Minas Gerais na histria do Brasil. Sete obras compem as Sagas: Fome em Cana, que relata o ciclo do latifndio; Gongo Soco, o ciclo do ouro; A vida em flor de Dona Beja, o ciclo do povoamento; Sinh Braba, o ciclo da agropecuria; Chica Que Manda, o ciclo do diamante; Chico Rei, o ciclo da escravido; Ouro verde e Gado Negro, o ciclo do caf e da abolio do cativeiro das Gerais.Foram lembrados, ainda, os nomes de Antnio Francisco Lisboa em arquitetura e estaturia e imaginria; Manuel da Costa Atade em pintura; Baslio da Gama; Alvarenga Peixoto; e, Santa Rita Duro em literatura.Para o professor Mrio Celso, as ideias iluministas chegaram a Minas Gerais por causa da opulncia. Alm disso, no se pode esquecer a ao de homens e mulheres de diversas etnias que, nos mais variados papeis, deixaram rastros. O papel exercido pelos escravos e indgenas fundamental para se entender nossa cultura, principalmente nos nomes de lugares e nos remdios caseiros, por exemplo. Herana maior, disse o professor, so os registros familiares ou de ofcios, que sem pretenses acabam por preservar e compor o mosaico a que se d o nome de Caminho Novo.Para concluir, o orador destacou a frase de Srgio Paulo Rounet em As Razes do Iluminismo: O antiautoritarismo significa o repdio a um sistema social de dominao em grande parte fundado na ignorncia dos dominados, mas no o repdio autoridade do saber.Com o objetivo de contribuir com outros pesquisadores do Caminho Novo, foi apresentada a seguinte lista contendo as fontes utilizadas no trabalho e uma extensa bibliografia sobre a regio cortada pelo Caminho Novo.ALENCAR, Gilberto de. Tal dia o batizado. (O Romance de Tiradentes). Ed. Itatiaia INL . BH, 1972.ALMEIDA, Pe. Jos Joaquim Corra. Ramerraneiro Ex-professor de Latim e Filho Bastardo da mesma Cidade. Notcia da Cidade de Barbacena e seu Municpio. Typ. Universal de H. Laemmert & Cia. RJ, 1883.ALVARENGA, Plnio. Barbacena Princesa dos Campos cidade das Rosas. 3 Ed. FUNDAC. BC, 1993.ALVARENGA, Plnio. Biografias. Barbacena, 1993. Ed. do autor. BC, 1993.Andrada, A. C. D. de. Ensaios Histricos Os barbacenenses na Inconfidncia Mineira Coronelismo. Opsculo. Do autor. 1983.ANDRADA, B. J. T. & LIMA, A.C. A Cultura em Barbacena. Ed. FUPAC BC. s/ d. ANDRADE, Carlos Drummond de. Brasil, Terra & Alma. Editra do Autor. RJ, 1967ANTONIL, Andr Joo (Joo Antnio Andreoni). Cultura e opulncia do Brasil. Ed. Itatiaia INL. BH, 1967.ARQUIVO PBLICO MINEIRO. Guia. Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais. BH, 1993.BUENO, Eduardo. Histria do Brasil. Ed. Folha de S. Paulo. 2. Ed. SP, 1997.BUENO, Silveira. Vocabulrio Tupi-Guarani-Portugus. Brasilivros Editora e Distribuidora Ltda, 3. Ed., SP, 1984.BURTON, Richard Francis. Viagens aos Planaltos do Brasil (1868). Trad. De Amrico Jacobina Lacombe. Cia Ed. nacional. SP, 1941.BUZATTI, Dauro Jos. Antigos povoados de Minas nos Campos das Vertentes. UCMG. BH, 1978. Tambm disponvel em CARVALHO, Gerado Barroso de. Doenas e Mistrios do Mestre Aleijadinho. Editora Lemos. PN, 2005.CASTELLO BRANCO, Oswaldo Henrique. Uma cidade Beira do Caminho Novo. Editora Vozes. Petrpolis, 1988.CATLOGO DO MUSEU MUNICIPAL DE BARBACENA Edson Brando e outros. 1995.DEBRET, Jean Baptiste. Viagem Pitoresca e histrica ao Brasil. Trad. Srgio Milliet. Crculo do Livro. SP, s/d.ESCHWEGE, Wilhelm Ludwig Von. Dirio de uma viagem do Rio de janeiro a Villa Rica, na capitania de Minas Gerais, no anno de 1811. Ed. Imprensa Oficial. SP, 1936.ESTADO DE MINAS GERAES COMMISSO DESTUDO DAS LOCALIDADES INDICADAS PARA A NOVA CAPITAL Relatrio apresentado a S. EX. Sr. Dr. 5-Affonso Penna (PRESIDENTE DO ESTADO) pelo Engenheiro Civil Aaro Reis -JANEIRO MAIO DE 1893 RIO DE JANEIRO IMPRENSA NACIONAL 1893. FAZENDA DO REGISTRO VELHO. Propriedade do padre Manoel Rodrigues da Costa. Documentao de Tombo. 199FLORIANO, Raul. Garcia Rodrigues Paes em Barbacena. Revista do Instituto Histrico e Geogrfico de Minas Gerais. Belo Horizonte, V.11, pp. 61-64. BH, 1964.FONSECA, Luiz Mauro Andrade da. O Arraial e o Distrito de Joo Gomes ( Histria Antiga de Santos Dumont - MG). Centro Grfica Editora. BC, 2013.FURTADO, Celso. Formao Econmica do Brasil. Cia Ed. Nacional. 11 Ed, SP, 1972.GONALVES, Joaquim Teixeira, Gonalves, Wilson Teixeira e PINTO, Solange Marinho Gonalves. Memrias para a Histria de Alto Rio Doce _ Trs Geraes. Ed. autor. A. R. D, 1998.GONZAGA, Toms Antnio Gonzaga. Marlia de Dirceu. Edio do bicentenrio. Villa Rica Editoras Reunidas Limitada. BH-SP, 1992.GUIA DAS FONTES DO AHMPAS verso digital FUNDO DO PODER JUDICIRIO. Fundao Municipal de Cultura - FUNDAC / Frum Mendes Pimentel. Edna M. Resende, Org.KOMISSAROV, Boris. Histria da Expedio Langsdorff no Brasil. Aluminis Ed. SP, 1996.LEO, Flvio. De Volta Estrada Real Uma viagem a p pelas trilhas do sculo XVIII entre o Rio de janeiro e Ouro Preto. Rona Editora, BH, 1999.MARINHO, Jos Antnio ( Cnego). Histria do Movimento Poltico Que no Ano de 1842 Teve Lugar na Provncia de Minas Gerais. Tip. Almeida. 2. edio. Conselheiro Lafaiete, 1939.MASSENA, Nestor. Barbacena - A Terra e o Homem. Ed. Imprensa Oficial MG. V. I e II. BH, 1985.MAWE, John. Viagens ao Interior do Brasil. Trad. de Solena Benevides Viana.Ed. Z. Verde. RJ, 1944.MAXWELL , Keneth. A Devassa da Devassa. Ed. Paz e Terra. RJ, 1977. MEIRELES, Ceclia. Romanceiro da Inconfidncia. Obra potica. 2. Ed. Aguilar. RJ, 1967.MERCADANTE, Paulo. Os Sertes do Leste estudo de uma Regio: A Mata Mineira. Zahar Editores. SP, 1973.OLIVEIRA, Francisco Rodrigues de. Godofredo Rodrigues de Oliveira - Seus ancestrais e sua vida.Ed. do autor. Il. BC, 2005.RESENDE, Edna Maria. Ecos do liberalismo: iderios e vivncias das elites regionais no processo de construo do Estado imperial, Barbacena (1831-1840). 2008. Tese (Doutorado em Histria). FAFICH/UFMG, Belo Horizonte, 2008.Revista do Instituto Histrico e Geogrfico de Minas Gerais. V. XXXIV. 15 de agosto de 2010. BH, MG.ROUANET, Sergio Paulo. As Razes do Iluminismo. Cia Das Letras. Ed. Schwarcz. SP, 1987.RUGENDAS, Johann Moritz. Viagem pitoresca Atravs do Brasil. Trad. De Srgio Milliet. Ed. Martins. SP, 1940.SAINT-HILAIRE, Auguste de. Segunda viagem do Rio de Janeiro a Minas Gerais e So Paulo. Ed. Itatiaia. BH, 1974.SOUZA, Laura de Mello e. Desclassificados do Ouro A pobreza mineira no sculo XVIII . 4 edio revista e ampliada. Ed. Graal, SP, 2004. ISBN 85-7038-069-0SPIX, J. B. Von e MARTIUS, C. F. P. Von. Viagem pelo Brasil. Trad. De Lcia Furquim Lahmeyer. Imprensa Nacional. RJ, 1938.VASCONCELOS, AGRIPA. Saga do Pas das Gerais. 7 Vol.s, Ed. Itatiaia, BH, 1966.

O Caminho Novo sob a perspectiva dos viajantes do sculo XIXProfessora Edna Maria Resende, doutora em Histria, pesquisadora do Arquivo Histrico Municipal Professor Altair Jos Savassi, Barbacena, trabalhando na sua implantao e organizao desde o ano de 2000.Inicialmente a professora Edna declarou ter grande prazer em comparecer novamente ao Encontro de Pesquisadores do Caminho Novo, evento que viu nascer em Barbacena no ano de 2010. Explicou que falaria sobre os relatos dos viajantes estrangeiros, considerados de leitura muito prazerosa, dos quais extraiu aspectos relacionados ao Caminho Novo, trilhado por eles no sculo XIX . Relatos de Viagem, ressaltou Edna Resende, foram produzidos antes do sculo XIX para a Amrica Portuguesa, predominantemente por portugueses em virtude de estrangeiros no terem autorizao para viajar pelo territrio brasileiro. Com a vinda da Corte em 1808, encerrou-se o perodo do exclusivismo portugus. Tendo D. Joo VI tomado a iniciativa de promover estudos sobre o Brasil, desencadeou-se um ciclo de viagens de estudos que representa um novo descobrimento do Brasil.A diretora do Arquivo Histrico barbacenense apresentou uma anlise detalhada sobre os relatos que consultou, destacando os seguintes aspectos:A perspectiva de se conhecer as potencialidades do pas atraiu cientistas (mineralogistas, botnicos, zologos, cartgrafos, etnlogos, gelogos), comerciantes, diplomatas, imigrantes, aventureiros, vidos por aventura, pesquisa, lazer e trabalho. Ao empreenderem as viagens, alm de ocuparem-se de suas pesquisas e interesses especficos, os viajantes preocuparam-se em relatar minuciosamente a experincia vivenciada, descrevendo suas observaes, registrando seus testemunhos, transmitindo suas impresses.O relato resultado da viagem. Era preciso viajar para conhecer e para escrever. O viajante, imbudo do esprito do Iluminismo, procura compreender racionalmente o mundo e a natureza. Inspirado no projeto totalizante de Humboldt, aspira a tudo conhecer, natureza e cultura, a tudo classificando, na perspectiva da taxonomia e do enciclopedismo.O relato de viagem multidimensional, sendo um texto capaz de conter muitos outros, de tudo poder abrigar. Resulta de um projeto e de um trajeto, expressando uma representao da sociedade visitada.Essa representao marcada pelas motivaes da viagem (estudar e classificar a natureza, conhecer os recursos e potencialidades de novos mercados, colecionar espcies para museus, aventurar-se por locais desconhecidos) e pela cultura do observador, que moldar sua viso do outro.A narrativa de viagem traz a marca do confronto com a diferena. O viajante percebe o outro a partir de si e conhecendo o outro que ele conhece a si mesmo. Ento, identifica o diferente como extico.A falta de vivncia e o desconhecimento da populao local impedem o viajante de compreender adequadamente uma populao. Por outro lado, o fato de ser estrangeiro d a ele maior autonomia e distanciamento para observar situaes impossveis de serem apreendidas pelos habitantes da regio visitada.Relatos de viagem produzidos pelos viajantes que percorreram o Brasil durante o sculo XIX, constituem fontes indispensveis para os estudiosos do perodo, por darem conta de parte significativamente grande de nosso passado e por oferecerem uma verso j considerada quase consensual sobre a totalidade dos aspectos do Brasil no sculo XIX.Busca-se capturar os olhares dos viajantes sobre o Caminho Novo, ressaltando os aspectos que nos deram a conhecer.Saint-Hilaire diz: esbocei o quadro que me oferecia aos olhos ou necessrio dar a conhecer sobre a viagem, o caminho, a paisagem, os ranchos, vendas e comrcios, as fazendas e suas atividades, as povoaes com seus habitantes e seus costumes.Esses olhares revelam o dinamismo do Caminho Novo e sua importncia econmica e estratgica.Em geral, os viajantes que vinham para Minas partiam do Rio de Janeiro depois de terem providenciado as condies para a viagem (licenas, informaes, aparato material e humano).Cunha Matos, que empreende sua viagem em direo a Gois, em 1823, mostra os itens que deve levar um indivduo abastado: uma barraca, uma cantina etc. Se no for abastado, pelo menos uma rede para dormir livre da imensa quantidade de bichos que h nos ranchos e se introduzem nos ps.Ao colocarem-se a caminho, entra em cena o olhar atento do viajante, armado pela Histria Natural.H um encantamento com a paisagem, descrita como exuberante, maravilhosa, marcada pela noo do pitoresco.Ao deixar o Rio de Janeiro, Saint-Hilaire registra: Talvez cousa alguma no mundo se compare em beleza aos arredores do Rio de Janeiro. No vero o cu de um azul carregado, no inverno a colorao enfraquece e apresenta esse azul claro que entre ns se admira nos belos dias de outono. L jamais a vegetao repousa, e, em todos os meses do ano, as matas e campos esto ornados de flores vistosas. Florestas virgens to velhas como o mundo exibem sua imponncia, quase s portas da cidade, e formam contraste encantador com o trabalho dos homens.Os viajantes impressionaram-se vivamente com a mata virgem, conforme destaca Spix e Martius: As matas densas, que existem como testemunho da fora criadora do Novo Continente na sua primitiva selvajaria, e ainda no profanadas pelo homem, chamam-se no Brasil mato virgem. Dentro dele, o viajante sente a frescura europeia, ao mesmo tempo avista um painel da mxima opulncia; vegetao eternamente nova impele as rvores para altura majestosa e, no satisfeita de ter produzido esses gigantes velhssimos, a natureza enfeita cada tronco com uma nova criao de muitos parasitas verdes e floridos. Aqui e acol, (...) excepcionais e incomparveis se alteiam as esbeltas palmeiras com os topos ondulantes, ornamento das florestas, cuja beleza e majestade superam toda descrio.

Floresta brasileira. Johson Heade, 1864 in BELUZZO, 2000, v. 3, p. 176Os viajantes no deixaram de notar ainda as roas (de milho, feijo, mandioca, cana) que margeavam o Caminho, como Cunha Matos: Segui pela estrada real ao lado de altos morros granticos, plantados de cafezeiros e vrios roados de milho e feijo, e algumas abboras.Tambm estavam atentos s mudanas na paisagem, como quando se deparavam com a regio dos campos. Aps dias mergulhados nas densas florestas, tal no era a satisfao dos viajantes ao se depararem subitamente com os campos.Richard Burton tambm se deslumbrou: Parece desnecessrio dizer que nada pode haver de mais puro do que o ar desses campos; o prazer de respir-lo combate a monotonia de uma viagem em lombo de mula (...) No falta, tambm, aos campos a beleza da forma e do colorido. H grandeza em sua vasta continuidade, que se vai perdendo distncia.

Campos Gerais, von Martius, in COSTA, Cartografia da Conquista do Territrio das Minas, 2004, p. 90

Vista dos campos de Barbacena, RugendasAo executarem seus projeto de viagem, os viajantes vo construindo o trajeto, registrando o itinerrio, preocupados com o fato de que o itinerrio talvez tenha de ser visto por pessoas que hajam de fazer jornada.Os viajantes no se furtam de comentar sobre as condies da viagem e sobre a qualidade das estradas. Pohl reclama, ao subir montanha acima, que o caminho bastante cansativo.Saint-Hilaire relata que o caminho vai, sem cessar, ora subindo, ora descendo, e as rampas so frequentemente rudes e muito fatigantes para os animais de carga. Alis, embora se atravesse continuamente florestas, o trajeto no , em absoluto, montono.Desde que saiu do Rio de Janeiro, Saint-Hilaire observou o intenso movimento do Caminho Novo: no deixamos de encontrar homens a p e a cavalo, e negros que conduziam cargueiros descarregados (...); rebanhos de bois, e varas de porcos, tocados por Mineiros, avanavam lentamente, fazendo voar turbilhes de p.Assim que deixavam o Rio de Janeiro, os viajantes chegavam ao arraial do Porto da Estrela, uma espcie de emprio de mercadorias vindas de Minas Gerais.Cunha Matos informa que no arraial h vrias lojas de fazendas secas e molhadas, grandes armazns de sal e muitos ranchos e armazns abertos e fechados, onde os viandantes recolhem as suas fazendas.

Porto da Estrela, Rugendas

Tropa na Serra da Estrela in COSTA, Cartografia da Conquista do Territrio das Minas, 2004, p.86

Habitantes de Minas Gerais, Rugendas

Tropa de negociantes, Rugendas

Tropa na Serra dos rgos, RugendasCunha Matos observa ainda a larga quantidade de mineiros que o comrcio chama a este arraial; o imenso nmero de bestas de sela e carga; a azfama e o alarido que aqui causam espanto queles que pela primeira vez chegam aos portos de embarque e desembarque dos gneros que vm e vo para as Minas Gerais.O ir e vir de mineiros era to intenso que Cunha Matos diz no ter ouvido, em toda sua jornada, nem canto de pssaros, nem vozes de animais selvagens, talvez por motivo da frequentssima passagem de tropas de mineiros, que vo e vm do Porto de Estrela e outros lugares.As rcuas (tropas) de mineiros, que transitavam to intensamente pelo Caminho Novo, transportavam, alm de boiadas e porcadas, sacos de milho, rolos de tecido de algodo e queijos.A viagem e a circulao pelo Caminho Novo eram viabilizadas pela estrutura dos pousos e ranchos. Alm de entrepostos fundamentais nesse sistema de circulao, os ranchos pontuavam o Caminho e ajudavam a demarc-lo, fixando o itinerrio.A cada intervalo de tempo, existem ranchos, assim descritos por Cunha Matos: Tem rancho grande ou barraco para os viandantes. Junto ao rancho existe uma taverna, que estava cheia de tropeiros e outros indivduos de todas as cores, empregados em diversos servios de jornada, e alguns cantavam e tocavam nas suas violas.Nos ranchos, ao parar para se refazer da jornada, o viajante encontrava abrigo, alimentos, pasto para os animais, lojas de ferrador e arreeiro para reparo nas tropas. Muitas vezes, eles reclamavam do alto preo das mercadorias e da sujeira das vendas e ranchos.Saint-Hilaire diz que o o viajante , em geral, no encontra nessa estrada o menor recurso. As vendas so a, verdade, bastante numerosas; algumas garrafas de aguardente de cana, algumas peas de vasilhame de barro, um pouco de fumo, porm constituem ordinariamente quase todo o sortimento dessa casa de negcio; uma felicidade quando se pode encontrar uma dzia de bananas ou uns queijos.Cunha Matos tambm descreve um rancho onde pernoitou: o rancho do Almeida aberto; tem uma venda imunda; o cheiro das cangalhas das bestas insuportvel; o alarido dos arrieiros ensurdece; e estou j conhecendo os incmodos que hei de sofrer na minha marcha. Apenas chegamos ao rancho, tratou-se de arranjar as cargas, dar gua e milho s bestas; um dos tocadores foi fazer a comida do tropeiro, a qual consistiu em feijo preto com pingo de toucinho, misturado de farinha de mandioca. Eu mandei fazer galinhas com arroz para mim (...) e feijo com toucinho para os pretos.Cunha Matos continua: Aqui comeam as privaes. Na venda do rancho existia po, bolacha, queijo, doce de goiaba em tijolos, farinha de milho; no faltava aguardente, vinho e mais alguns gneros.

Pouso de uma tropa, Rugendas

Rancho, Thomas Hender, 1817 in COSTA, Cartografia da Conquista do Territrio das Minas, 2004, p. 94Os viajantes informam sobre a alimentao, no apenas nas vendas, ranchos e tropas, como da populao.Saint-Hilaire, enquanto herborizava nas matas, chega a uma plantao de milho e encontra uma choa de negros. Ao se aproximar, encontra um negro sentado no cho, comendo pedaos de tatu assado sobre carves; nesse momento mesmo ps alguns pedaos numa meia cabaa, acrescentou angu, e ofereceu-me da forma mais graciosa.Cunha Matos registrou os hbitos alimentares dos fazendeiros: Tenho observado que nas hortas das casas por onde passo h muitas bananeiras, couves algumas laranjeiras e pessegueiros. As galinhas compram-se por estes stios a 480 ris; o feijo, farinha, toucinho e mais comestveis so pouco mais baratos que no Rio de Janeiro. Em todas as mesas tenho visto canjica de milho e couve picada.No Rancho de Paulo da Vrzea, localizado depois da Rocinha da Negra, Cunha Matos foi convidado para jantar pelo fazendeiro e descreve o cardpio oferecido: A comida consistia em muita carne de porco com feijo, carne de vaca e couve: carne de porco guisada coberta de talhadas de laranjas; e canjica de milho. Para os eclesisticos, e para mim e os meus companheiros de jornada, puseram vinho, po e doce, bons guardanapos e talheres de prata. Nesta casa principiei a ver o que ao depois observei constantemente no interior do Brasil, e vem a ser as talhadas de laranja sobre a carne, e o dar graas a Deus ao fim do jantar.Ao olhar as povoaes, sua populao, suas manifestaes culturais, os viajantes no mostram o mesmo encantamento relativo s paisagens naturais. Mais do que nunca a alteridade se explicita e as comparaes so inevitveis: quanto mais perto da sua cultura melhor.Desse modo, Saint-Hilaire, ao chegar vila de Barbacena, surpreende-se por no encontrar uma reunio miservel de choupanas, mas uma pequena cidade que pode rivalizar com todas as da Frana de igual populao, onde o ar que se respira (...) extremamente puro.Quando passou por Congonhas, Saint-Hilaire observou: no meio de uma praa alongada, se acha a igreja paroquial, notvel por seu tamanho. No morro que fica fronteiro ao que venho de falar v-se a igreja de Bom Jesus de Matosinhos, que goza de grande celebridade. Est visto que eu no deixaria Congonhas sem ir visitar a igreja de N. S. Bom Jesus de Matosinhos, que , para esta regio, como observa Luccock, o que para a Itlia a N. Sra. de Loreto. Diante dela [igreja] colocaram sobre os muros da escadaria e sobre os do terrao, esttuas de pedra representando os profetas. Essas esttuas no so obras primas, sem dvida; mas observa-se no modo pelo qual foram esculpidas qualquer cousa de grandioso, o que prova no artista um talento natural muito pronunciado.Por outro lado, a populao, especialmente escravos, forros e livres pobres, so vistos de forma preconceituosa.Cunha Matos afirma ser incomparvel o nmero de moas galhofeiras que povoam os ranchos desta vila [de Barbacena]; sitiam, combatem, vencem, e despojam os desgraados tropeiros, arreadores, tocadores, e os mesmos passageiros. Esta milcia de Vnus consta pela maior parte de raparigas pardas e pretas, que, durante a noite, em completa bacanlia, no saem dos infernais batuques com que divertem e limpam as algibeiras dos desgraados a quem pescam.Por outro lado, a populao, especialmente escravos, forros e livres pobres, so vistos de forma preconceituosa.Cunha Matos afirma ser incomparvel o nmero de moas galhofeiras que povoam os ranchos desta vila [de Barbacena]; sitiam, combatem, vencem, e despojam os desgraados tropeiros, arreadores, tocadores, e os mesmos passageiros. Esta milcia de Vnus consta pela maior parte de raparigas pardas e pretas, que, durante a noite, em completa bacanlia, no saem dos infernais batuques com que divertem e limpam as algibeiras dos desgraados a quem pescam.Saint-Hilaire tambm no viu com bons olhos os costumes em Barbacena: Barbacena e clebre, entre os tropeiros, pela grande quantidade de mulatas prostitudas que a habitam, e entre cujas mos esses homens deixam o fruto do trabalho. Sem a menor cerimnia vem oferecer-se essas mulheres pelos albergues; muitas vezes os viajantes as convidam para jantar e com elas danam batuques, essas danas lbricas que, no o podemos dizer sem pejo, se tornaram nacionais na Provncia das Minas.Mesmo que o trajeto e a construo do relato sejam marcados projeto da viagem, o olhar dos viajantes, embora etnocntrico, nos d a conhecer sobre o Caminho Novo, sobre o itinerrio, a toponmia, as atividades comerciais e os negcios, sobre o cotidiano dos viajantes e da populao, contemplando seus hbitos e costumes. Enfim, o relato nos d uma representao da sociedade visitada.Ao seguirmos os viajantes, em suas andanas pelo Caminho Novo, e travarmos contato com as pessoas notcias e mercadorias que por ele circulavam, percebemos a importncia estratgica e estrutural do Caminho Novo, verdadeira espinha dorsal das Minas Gerais, sustentculo de uma rede que interliga e constri o territrio.Finalizando sua comunicao a professora Edna Resende apresentou a bibliografia:BELUZZO, Ana M. de M. O Brasil dos viajantes. 3. ed. So Paulo: Objetiva, 2000.BUNBURY, Charles James Fox. Viagem de um naturalista ingls ao Rio de Janeiro e Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia; Sao Paulo: Ed. da Universidade de Sao Paulo, 1981.BURTON, Richard. Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho. Belo Horizonte: Itatiaia; So Paulo: Ed. da Universidade de Sao Paulo, 1976.COSTA, Antnio G. (Org.). Cartografia da Conquista do Territrio das Minas. Belo Horizonte: UFMG, 2004.LEITE, Ilka B. Antropologia de viagem. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1996.LEITE, Miriam M. Livros de viagem. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1997.LUCCOCK, John. Notas sobre o Rio de Janeiro e partes meridionais do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; So Paulo, Ed. da Universidade de So Paulo, 1975. MATOS, Raimundo Jos da Cunha. Itinerrio do Rio de Janeiro ao Par e Maranho, pelas provncias de Minas Gerais e Gois, (...) Belo Horizonte: ICAM, 2004POHL. Johann E. Viagem no interior do Brasil (1817-1821). Belo Horizonte: Itatiaia, 1976.RUGENDAS, Johann M. Viagem pitoresca atravs do Brasil. 8. ed. Belo Horizonte: Itatiaia; So Paulo: Ed. USP, 1979.SAINT-HILAIRE, August de. Viagem pelas provncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia; So Paulo: Ed. da Universidade de So Paulo, 1975.SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem pelo distrito dos diamantes e litoral do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; So Paulo: Ed. da Universidade de So Paulo, 1974.SSSEKIND, Flora. O Brasil no longe daqui. So Paulo: Companhia das Letras, 1990

O Caminho Novo em mapas: a Capitania de Minas GeraisProfessora Mrcia Maria Duarte dos Santos, doutora em Geografia, coordenadora das aes educativas do Centro de Referncia em Cartografia Histrica da UFMG.

De volta ao convvio dos Pesquisadores do Caminho Novo, a professora Mrcia iniciou sua comunicao esclarecendo que este ano no traria um resultado de pesquisa, mas referncias para os estudiosos com os registros do Caminho Novo em mapas de Minas Gerais. Isto porque sua experincia no Centro de Referncia em Cartografia Histrica da UFMG demonstra que muitos estudiosos no sabem onde encontrar as informaes. Sendo assim, preparou um roteiro especialmente direcionado a quem no tenha muita familiaridade com as fontes cartogrficas disponveis.Em seguida, a platia foi alertada para dois aspectos que devem ser observados quando se trabalha com uma fonte cartogrfica: qual a escala geogrfica e qual a poca de produo da fonte. Para auxiliar a construir o conhecimento sobre o tema, a professora Mrcia informou que as referncias sobre o Territrio das Minas se iniciam no final dos Seiscentos, depois de confirmada a abundncia dos achados aurferos e de um fenmeno que se segue, qual seja um rpido e desordenado povoamento da rea mineradora, com deslocamento de grandes contingentes de reinis e paulistas. As Minas entram para a nomenclatura da administrao portuguesa, em 1693, com a criao da Capitania do Rio de Janeiro, So Paulo e Minas de Ouro, que compreendia tambm terras de Mato Grosso e Gois, onde tambm existiam minas. Em 1709, Minas de Ouro aparece nomeando uma circunscrio geogrfica menor, que representava mais uma tentativa da Coroa Portuguesa de se fazer presente numa rea importante do projeto colonizador e dos interesses econmicos da metrpole. Finalmente, consolida-se como topnimo com a instituio da Capitania de Minas Gerais em 1720.Assim, num curto perodo, consolida-se a Capitania que, ao ser constituda, estava dividida em quatro Comarcas: Ouro Preto, Rio das Velhas (Sabar) e do Rio das Mortes, criadas anteriormente (em 1709, Comarcas; e, em 1711, Vilas sedes de Comarcas), que faziam parte da circunscrio da Capitania de So Paulo e Minas de Ouro; e Serro Frio, criada concomitantemente Capitania.E, como dado de grande importncia, a professora destaca que a unidade geogrfica nasceu com uma populao muito numerosa: cerca de 250.000 pessoas viviam nesta rea que se chamou Minas Gerais.Prosseguindo, pontuou que, com estas referncias, a regio deveria, naturalmente, ser muito documentada, dada a importncia de sua representatividade no perodo. Assim, Minas Gerais um dos territrios mais cartografados da Amrica Portuguesa.Em assim sendo, foram produzidos documentos que permitem aos interessados recuperar informaes sobre a localizao dos recursos minerais e a organizao scio-espacial. To vasta documentao trazida pela famlia Real e fica no Rio de Janeiro, sendo possvel consult-la em instituies como o Arquivo Nacional, a Biblioteca Nacional e o Arquivo Histrico do Exrcito.A seguir, Mrcia Duarte apresentou alguns exemplos de cartografia disponvel para pesquisa, como os que compem a Coleo Mapas Sertanistas da Biblioteca Nacional. O primeiro deles, produzido por volta de 1717, apresenta nomes das vilas mineiras de ento. Foi esclarecido que um dos elementos para indicar tal data, que no consta do documento, a ausncia da Vila de So Jos, criada em 1718 e a presena de Pitangui, que de 1715.Para ilustrao deste relato, utilizamos a verso abaixo, disponvel em , site da Biblioteca Nacional:

A professora chamou a ateno para alguns aspectos que podem dificultar o uso de mapas como este, como a escala diminuta. As propriedades do documento foram assim descritas: realizado em escala cerca de 1: 2 900 00, latitudes 16 a 28 e longitudes 334 a 344; destacando como regio de interesse o norte e o nordeste do territrio da futura Capitania de So Paulo, bem como o centro sul e parte da banda oriental da tambm futura Capitania de Minas Gerais, no centro da representao. O mapa apresenta distores considerveis, em relao localizao e orientao dos elementos geogrficos representados.Apresenta, com destaque, caminhos, povoaes do territrio, serras e rios, sendo observado que alguns dados no correspondem ao conhecimento que se tem, atualmente, sobre as bacias de alguns rios, como, por exemplo, a insero de afluentes do rio Doce na bacia do So Francisco. Da mesma forma, as serras da Mantiqueira e do Mar so apresentadas paralelas. Tais fatores, entretanto, no invalidam o uso do mapa, pois nele se encontram registros toponmicos de valor e avanos do povoamento da regio.A professora lembrou que devemos realizar o exerccio de discutir a fonte a partir de suas propriedades. E, apesar do mapa apresentado no registrar o Caminho Novo, nele esto inseridos os elementos estruturais da regio. Em seguida, abordou as seguintes representaes do Territrio das Minas : Mapas Sertanistas elaborados por bandeirantes, sertanistas e engenheiros militares: em folhas de papel de grosseiro fabrico, a lpis ou a pena; no apresentam escala e referncias s coordenadas geogrficas; representam reas pequenas do territrio; representam reas valorizadas e descobertas nos primrdios da ocupao da regio das minas (MG e GO); reas nem sempre conectadas geograficamente ou no espao de representao. A Coleo BN, RJ - contm 32 mapas dos quais 4 so de especial interesse: Mapas da regio de encontro entre os atuais estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e So Paulo, e do curso do Rio So Francisco; Regio das Minas Gerais com uma parte dos caminhos de So Paulo e do Rio de Janeiro para as minas e dos alfuentes terminais do So Francisco; Topographia do caminho novo do Rio de Janeiro athe as minas de ouro; e, N. 30 02 25 Cartas da Capitania de Minas Gerais Mapa de parte de Minas Gerais.Da Coleo do Arquivo Histrico do Exrcito, foi exibida a Carta Geographica da Capitania de Minas Geraes e Partes Confinantes, de 1767, de autoria desconhecida, sem legenda e com Identificao do Meridiano de Origem das longitudes, bem como o Mapa da Capitania de Minas Geraes com a deviza e suas Comarcas, de Jos Joaquim da Rocha, que foi reproduzido na Coleo Mineiriana da Fundao Joo Pinheiro. Este documento foi trabalhado pela oradora para destacar as cidades, as cabeas de comarca e os caminhos, com destaque para o Caminho Novo.Para finalizar, a professora Mrcia Duarte reiterou a necessidade de se discutir a informao, demonstrando os questionamentos que podem ser levantados atravs do Mapa da Comarca do Rio das Mortes, de Jos Joaquim da Rocha, de 1777, em que o Caminho Novo no consta na Comarca do Rio das Mortes. Portanto, as fontes cartogrficas so de valor inestimvel, podendo despertar olhares no perceptveis em outros documentos.

O Universo Urbano e as Estradas Reais e FerroviriasProfessora Helena Guimares Campos, especialista em Histria da Amrica Latina e em Educao Ambiental e mestre em Cincias Sociais. Foi coordenadora do Ncleo Ferrovirio da ONGTrem Transporte e Ecologia em Movimento e atualmente coordena o Ncleo de Educao, Cultura e Cidadania desta organizao, alm de trabalhar como Tcnica de Nvel Superior na rea de Patrimnio Cultural no Arquivo Pblico da Cidade de Belo Horizonte (APCBH).

A professora Helena iniciou sua apresentao lembrando que se utiliza da imagem ao lado pela sua representatividade, uma vez que nela esto contidos elementos que norteiam o seu trabalho, ou seja, o marco da Estrada Real e uma ponte ferroviria. Ressaltou, tambm, que assim como sua comunicao de 2012, parte do que seria apresentado advm de um longo estudo que resultou na obra Caminhos da Histria Comparada - Estradas Reais e Ferrovias.A capa deste livro uma feliz interpretao do artista Walter Lara, reunindo o tropeiro e a estao ferroviria. Destacou que a ferrovia precisa ser alimentada e o tropeiro exerceu este papel, lembrando que mais de 60% dos municpios que integram o Projeto Estrada Real (172 em Minas Gerai, 8 no Rio de janeiro e 7 em So Paulo) foi servido por ferrovias.A seguir explicou que seu objetivo seria abordar a insero do patrimnio ferrovirio no patrimnio cultural dos municpios integrantes da Estrada Real, demonstrando a aproximao dos papis e funes dos caminhos reais e ferrovirios ao longo do tempo. Segundo ela, do ponto de vista da histria e do patrimnio no possvel olhar para um pequeno espao de tempo. Pelo contrrio, necessrio abrir-se para um tempo mais longo e dinmico que demonstra o uso e a reapropriao dos espaos pela populao. No caso do patrimnio ferrovirio, os municpios que se engajaram no projeto de preservao atenderam ao acordo estabelecido entre as partes, transformando-os em equipamentos culturais que atualmente representam atrativos tursticos. Entretanto, ressaltou, isto no impede que um dia volter a ser utilizados para o transporte de passageiros.A apresentao da professora Helena foi rica em imagens bastante significativas, definidas por ela como elementos que indicam os liames entre as ferrovias e as estradas reais, as quais so compreendidas como um universo um pouco mais amplo do que o Caminho Novo. So considerados, tambm, o Caminho Velho, o Caminho Regional dos Diamantes e o Caminho da Bahia, tambm conhecido como caminho da pobreza e que no tem atrativos tursticos. O Caminho Novo e o Caminho da Bahia so os que mais se aproximam do traado das ferrovias. Isto porque a ferrovia precisa de cargas e passageiros que se localizavam nas margens das estradas mencionadas, na maioria das vezes desenhadas pela prpria natureza.

Imagem da Linha do Paraopeba.

A imagem acima representa um ponto importante pois, diferentemente das estradas reais cuja abertura foi baseada na mo de obra escrava, era proibida aos construtores de ferrovias a utilizao de cativos. Entretanto, sabe-se que eles terceirizavam o servio a fazendeiros que, naturalmente, encarregavam seus escravos do servio.

Esta fotografia, tomada em Raposos em 1999, indica que ainda no eram utilizados equipamentos para a troca dos trilhos, mantendo-se prticas do tempo de implantao das ferrovias, um sculo e meio antes.

Casa do Agente da Estao de General Carneiro (antiga Cidade de Minas)A professora explicou que os trabalhadores eram localizados nas proximidades, ficando encarregados da manuteno de trechos de cerca de 6 km.

Permanncia: trao animal

Vista da cidade de Sabar, de Georg Grimm (1886)

Sabar no final do sculo XIX

Construo de pontilho ferrovirio Sabar

O mesmo pontilho, j em operao.

Obras de arte sobre o Rio das VelhasCom a imagem acima a professora Helena iniciou a demonstrao daquilo que denominou a nova dinmica urbana em que a ferrovia, que na imagem est representada pelo pontilho direita, nos limites da fotografia, e a ponte rodoviria, em destaque na fotografia. A antiga cidade colonial, no alto, com suas igrejas, seu comrcio e moradias tradicionais recebem o acesso rodovirio enquanto a ferrovia est um pouco distante em funo das caractersticas do terreno, j que dificilmente a ferrovia sobre morros. Esta situao se repete em inmeras cidades mineiras mencionadas pela palestrante.

Barbacena (1938)

Diamantina (1914)

Sabar Bairro Siderrgica (1930)

Sabar Bairro SiderrgicaHelena Campos chamou a ateno para o perodo em que as ferrovias, que dinamizaram tantas cidades, passaram a se tornar indesejadas. Na sequncia de imagens, a seguir, de Belo Horizonte, demonstra-se o processo que culminou com a implantao do metr de superfcie ao lado da antiga ferrovia, utilizando-se de uma de suas vias.

Passagem de nvel em Belo Horizonte (incio da dcada de 1960)

Herana para a mobilidadeRetomando sua obra Caminhos da Histria, Helena de Campos mencionou o problema da insegurana dos antigos caminhos atravs do conhecido caso do Vira-Saia, apelido pelo qual ficou conhecido o rico comerciante de Vila Rica, Antnio Francisco Alves, que organizou um sistema de espionagem para fornecer aos salteadores informaes sobre o transporte do ouro da Coroa por tropas que partiam da capital. Usando a ponta da saia de uma imagem de Nossa Senhora das Almas que ficava num oratrio de rua, ele indicava aos comparsas a direo do comboio que transportava o ouro. Assim, apesar das estratgias e cuidados das autoridades metropolitanas, que despachavam simultaneamente vrias tropas por caminhos diferentes, aquela que levava o ouro era sempre assaltada.Prosseguindo, foram mencionados os bandidos que roubavam de bandidos, como o grupo formado por ciganos e mestios, chefiados por um branco apelidado de Montanha. Conhecido como Quadrilha da Mantiqueira, por agir na estrada para o Rio de Janeiro, esse grupo atacava contrabandistas de ouro e de diamantes que viajavam disfarados de mascates e caixeiros-viajantes. Quando essa quadrilha passou a assaltar e matar tambm indivduos reconhecidamente de bem, com profisso, domiclio e prestgio nas Minas, organizou-se a represso. Descoberta em 1783, a quadrilha foi perseguida por uma fora militar que incluiu o alferes Joaquim Jos da Silva Xavier, o Tiradentes.Episdios como este fizeram surgir uma grande relao com as foras militares, representada pela imagem abaixo.

Embarque de Tropas em 1914Outro aspecto destacado foi a credibilidade do telgrafo ferrovirio que deu surgimento ao cartaz ao lado, estimulando a populao a utilizar-se do servio pblico. Ocorre que o equipamento na ferrovia era um instrumento de segurana, evitando, por exemplo, que duas composies utilizassem simultaneamente a mesma linha. J o servio pblico da mesma natureza no inspirava muita confiana. No mesmo sentido, os estafetas dos Correios poderiam at ser rpidos, mas circulavam apenas nas vias oficiais, no abrangendo uma rea de influncia to grande como os tropeiros, os quais eram preferidos pela populao para levar e trazer notcias ou encomendas.A seguir foram apresentadas imagens sobre a relao entre a ferrovia e as prticas culturais, como o transporte de bandas de musica, artistas e grupos de esportistas.A professora Helena Campos encerrou sua apresentao com imagens das capas de obras por ela publicadas at o momento e o convite para o lanamento do ltimo livro dia 21 de junho.

Vrtebras do Caminho Novo pelos Sertes do LesteJoana Capella, licenciada em Estudos Sociais; Pesquisadora da Histria de Cataguases Nilza Cantoni, pedagoga, especialista em Histria Cultural, pesquisadora da Histria de Leopoldina, membro da Academia Leopoldinense de Letras e Artes.

O povoamento dos Sertes do Leste sempre despertou o interesse das autoras deste trabalho que desejavam compreender, especialmente, como se deu o surgimento dos atuais municpios de Cataguases e Leopoldina. Cedo, porm, perceberam que a literatura publicada a respeito poderia estar distanciada do real. Questes foram surgindo sem que encontrassem explicaes para afirmativas como a de que os povoadores de Leopoldina seriam deserdados do ouro ou de que Cataguases no teve grande produo cafeeira nem, consequentemente, escravido relevante.A procura por esclarecimentos encaminhou-as para a leitura de monografias, dissertaes e teses no publicadas. Neste mister, alm de observarem a escassez de estudos sobre o tema, encontraram no poucos trabalhos acadmicos que repetem frgeis afirmativas de alguns livros. Com um pouco mais de estudo e contato com autores de alguns trabalhos, observaram um certo desconhecimento de fontes que lhes pareciam fundamentais para tratar do assunto, quais sejam as listas nominativas de habitantes, os registros de compra e venda de bens imveis e semoventes, os assentos paroquiais e as concesses de sesmarias.No decorrer do tempo, duas figuras despontaram das leituras. Para a pesquisadora Joana Capella, natural de Cataguases, o nome de Guido Thomaz Marlire pareceu ter sido envolvido em penumbra no que se refere a alguns aspectos da histria de sua terra natal. J para a pesquisadora Nilza Cantoni, natural de Leopoldina, foi Pedro Afonso Galvo de So Martinho o nome a surgir das cartas, relatrios e livros de registro que tratam da abertura das at ento consideradas reas proibidas.Os dois personagens, que estiveram na regio em pocas distanciadas em cerca de 30 anos, apresentam um ponto em comum: as vias de ligao. As duas pesquisadoras formularam, ento, suas hipteses de pesquisa. Uma delas, relacionada a Cataguases, a de que, para alm do trabalho com os indgenas exaltado por Oiliam Jos, Marlire teria sido o incentivador da chegada dos povoadores atravs da reforma de uma estrada que permitiria o escoamento da produo por Campos dos Goitacazes. A outra hiptese, ligada histria de Leopoldina, de que Galvo de So Martinho, cuja misso oficial era o desbaratamento de uma quadrilha de traficantes de ouro, alocada em territrio fluminense, teria promovido a abertura de uma estrada que ligava o Caminho Novo, na altura de Barbacena, a Cantagalo.Trabalhando em torno das duas hipteses, as pesquisadoras verificaram o acerto da opinio de Helena Guimares Campos sobre estudar os caminhos para compreender os processos de explorao, ocupao e povoamento de um territrio, alm de identificar os rumos e possibilidades de articulao entre os grupos sociais.Comeando pelo Caminho do Cantagalo, as primeiras referncias vieram de estudos genealgicos sobre Pedro Afonso Galvo de So Martinho e Joaquim Jos da Silva Xavier. O segundo bastante conhecido na histria de Minas Gerais e sua relao com Leopoldina advm do fato de que dois de seus sobrinhos e respectivas esposas obtiveram sesmarias em territrio que j pertenceu ao municpio. Quanto ao sargento mor Galvo de So Martinho, entre seus descendentes esto os Monteiro de Barros que obtiveram expressivo nmero de sesmarias em terras onde se formou o Curato do Feijo Cru.Tiradentes e So Martinho vinculam-se a outro personagem conhecido da histria regional: o Mo de Luva, chefe de um grupo de mineradores que escapava da pesada tributao extraviando ouro por trilhas no fiscalizadas. Para compreender o vnculo deste terceiro personagem foi necessrio aproximar-se da histria do municpio fluminense de Cantagalo, tarefa bastante facilitada pelas obras de Lamego e Erthal.Do lado mineiro, foi realizada uma anlise das Cartas de Sesmarias concedidas a partir da primeira diligncia de Pedro Afonso Galvo de So Martinho pelos Sertes do Leste, em 1784. Inicialmente foram selecionadas, dos acervos do Arquivo Pblico Mineiro, do Arquivo Histrico Municipal Professor Altair Jos Savassi, de Barbacena, e do Arquivo Histrico do Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional em So Joo del Rei, quinhentas e quinze concesses efetuadas entre 1790 e 1821, das quais cento e quatro fazem referncia ao Caminho do Cantagalo ou Estrada para os Campos dos Goitacazes. Considerando, porm, o alerta de Falabella sobre o desconhecimento e a confuso entre os Campos dos Goitacazes e a regio montanhosa do Vale do Paraba, fronteiria a Cantagalo, optou-se por filtrar as sesmarias com base nas referncias aos acidentes geogrficos mencionados na correspondncia de Galvo de So Martinho. Foram identificados os seguintes pontos limtrofes da regio fiscalizada por ordem de Cunha Menezes, entre 1784 e 1786: comeando pelo Caminho Novo nas proximidades das nascentes do Rio Novo, por sua margem direita indo at a foz no Rio Pomba, da seguindo tambm pela margem direita at encontrar o Paraba do Sul, que, alm de ter sido atravessado pelas tropas que se dirigiram ao Descoberto do Cantagalo, teve tambm fiscalizada a sua margem esquerda, subindo ao encontro do ponto onde recebe o Rio Paraibuna. Pelas referncias aos acidentes geogrficos deste territrio foram inicialmente identificadas trinta e oito sesmarias no trajeto do Caminho do Cantagalo, sendo importante esclarecer que muitos requerimentos deixam claro que o pretendente j ocupava o local h algum tempo, indicando que a ocupao ocorreu a partir da dcada de 1790. Contudo, a tabulao dos dados de vizinhana ampliou a rea de interferncia deste Caminho e atingiu duzentas e vinte e cinco sesmarias.Considerando que as nascentes do Rio Novo se encontram na Represa do Pinho, atualmente territrio do municpio de Santos Dumont, e que a rea identificada vai terminar na foz do Rio Paraibuna, temos a dois pontos de ligao com o Caminho Novo conforme pode ser observado na figura 1 a seguir.

Figura 1: Adaptao do Mapa Poltico de Minas Gerais, 2009, IBGE, destacando esquerda o trajeto do Caminho Novo e em cores o territrio onde se encontram acidentes geogrficos mencionados na correspondncia de Pedro Afonso Galvo de So Martinho e nos requerimentos das sesmarias.No foi possvel estabelecer rigidamente o percurso do Caminho do Cantagalo. Seu provvel incio estaria em Barbacena, tendo sido mencionado no Dirio de Langsdorff, organizado por Silva, trajeto indicado na figura 2 abaixo.

Figura 2: Adaptao do mapa Politico de Minas Gerais, 2009, IGBE, destacando: esquerda o Caminho Novo; o trajeto de Langsdorff em 1824, partindo de Barbacena; a provvel primeira parte do trajeto de So Martinho em 1784, partindo de Santos Dumont e o Caminho do Cantagalo em 1786, no centro da figura.Destaque-se que Langsdorff, segundo Silva, declarou queH aproximadamente dez anos, essas terras eram quase desabitadas. Hoje, nestas terras, a maioria dos colonos antigos vende suas fazendas prontas, como, por exemplo, a Sr D. Domingas e a Sr D. Ana, e se mudam para a margem esquerda do rio Paraba, que, h dez anos, era habitada por ndios.O viajante russo referia-se a Domingas Eufrsia de Santa Esmria e sua filha Ana Leopoldina da Costa, esta ltima tendo sido me de Joaquim Barbosa de Castro Filho, o Baro de Alm Paraba. Em 1831, Dona Domingas e seu marido Antnio Joaquim da Costa, assim como as famlias constitudas por seus filhos, j haviam transferido residncia para territrio do atual municpio de Chiador, conforme se conclui pela anlise da Lista de Habitantes de Mercs do Kgado. A localidade de residncia foi extrada do registro das terras realizado em 1856. O casal Domingas - Antnio, assim como a filha Ana Paula e seu marido Joaquim Barbosa de Castro, o velho, foram mencionados por Falabella, cujas referncias permitiram localizar as concesses de sesmarias aos membros da famlia em 1817, sete anos antes da visita de Langsdorff propriedade que ainda lhes pertencia nas proximidades das nascentes do Rio Novo. O relato do viajante demonstra que esta e outras famlias que ele visitou, e que se transferiram para a regio do Caminho do Cantagalo, ocupavam-se da agricultura e da criao de sunos e no da minerao como querem alguns.O trnsito pela regio onde estiveram as tropas comandadas por So Martinho foi tambm mencionado por Erthal: Depois que So Martinho abriu o caminho da Mata nos sertes de Leste, o trfico ilegal por ali se intensificou bastante, dele participando ostensivamente at militares e civis ligados ao governo de Minas. O Cabo Jos de Deus Lopes e o anspeada Bernardo dos Reis, das Guardas do Cunha e do Lourial, por exemplo, mantiveram com os invasores estreitas relaes, recebendo e enviando mensageiros ao local por eles ocupado e favorecendo a passagem do ouro.Acrescente-se que a trajetria de familiares de Tiradentes e Galvo de So Martinho indica que eles requereram sesmarias em locais conhecidos pelas tropas e, provavelmente, onde havia se instalado algum tipo de comrcio de suprimentos para atender aos que por ali passavam. o que se depreende, por exemplo, das observaes de Erthal sobre o transporte de mercadorias que, vindo de Minas, atravessava Cantagalo em direo ao Porto das Caixas, na antiga Vila de Santo Antnio de S. Desta forma, podemos considerar que tomando o Caminho Novo como vertebrador, como nos ensinou o Professor Carrara no Encontro do ano passado, ao longo de pouco mais de um sculo os Sertes do Leste foram cruzados por inmeras rotas que permitiram a expanso da economia agrcola, e, consequentemente, a ocupao do territrio que estudamos. Uma destas rotas a Estrada Presdio-Campos.

A ligao terrestre entre Minas e Campos dos Goitacazes foi concluda entre 1811 e 1812, com a abertura do trecho de Presdio de So Joo Batista (hoje, Visconde do Rio Branco) a Campos, pela margem esquerda do rio Pomba. A consulta a documentos diversos, particularmente aos relatrios dos viajantes que trazem a descrio dos caminhos percorridos, permitiu entrever o seu percurso original, hoje parcialmente absorvido pelas rodovias e pelos espaos urbano e rural. Tal identificao possibilitou, ainda, localizar antigos povoados, fazendas, capelas, ranchos de tropas, aldeias e aldeamentos indgenas, quartis e registros, embries do povoamento dos Sertes do Leste.Segundo Eschwege, o padre Manoel de Jesus Maria relatou que, a partir de 1763, se deu a aproximao amistosa entre portugueses e os ndios coroados e corops que viviam no serto do Rio Pomba. Por esta poca, um certo capito Jos Leme teria chegado s nascentes do rio Xopot dos Coroados e estabelecido um acordo de paz com a intermediao do Padre ngelo, oriundo de Campos dos Goitacazes. Para Sinval Santiago, o desbravamento da Mata se deu a partir da Carta Rgia de 28 de Junho de 1765, na qual se baseou o Governador Luiz Diogo Lobo da Silva para fundar a Freguesia do Mrtir So Manoel do Rio da Pomba e do Peixe dos ndios Coroatos e Corops. Apesar de vigorarem, na poca, medidas restritivas da Coroa Portuguesa abertura de caminhos, surgiram picadas e trilhas por obra de ndios e do homem branco na regio que aqui vamos denominar como Baixo Pomba e que compreende o territrio banhado pelo Rio Pomba a partir do ponto em que ele recebe as guas do rio Xopot da Mata, ou seja, entre o territrio do atual municpio de Astolfo Dutra e a foz no Paraba do Sul.A mais antiga referncia encontrada a respeito da comunicao entre o Baixo Pomba e Campos est inserida na carta de Jos de Deus Lopes, provavelmente o mesmo militar que tinha sido Guarda do Registro do Cunha, no atual municpio de Alm Paraba. Na correspondncia Lopes informa sobre a sua expedio at as barras dos rios Pomba e Muria e que, tendo partido do Presdio de So Joo Batista em 23.07.1797, com 40 homens, rumou por terra at Porto das Canoas, no rio Pomba. Dali, parte do grupo seguiu de canoa at a barra deste rio, num percurso aproximado de 12 lguas. Pela atual organizao do territrio possvel que tal Porto se localizasse no municpio de Santo Antnio de Pdua, RJ.Lopes mencionou, tambm, o contato com religiosos de So Fidlis em busca de informaes a respeito dos ndios e dos limites da Capitania de Minas, assim como o encontro com Manoel Leme da Silva, que ali tinha entrado anteriormente com sua bandeira. Relatou, ainda, que cinco lguas acima da barra do rio Pomba, o territrio j se achava povoado com sesmarias medidas e pedidas. Outra meno do mesmo ano o parecer da Cmara de Mariana ao requerimento de sesmaria de Joaquim Rodrigues dos Santos, no ribeiro Ub, nas proximidades da Serra da Ona, distante de Campos dos Itacazes 3 ou 4 dias de viagem pela picada dos ndios coroatos.A prxima referncia o relatrio de Luiz Jos de Brito encaminhado ao Governador Bernardo Jos de Lorena em que o remetente declara: se houver uma Estrada mais curta, e menos laboriosa, ser de mayor utilidade p o Comercio, e podero as fazendas suportar hum seguinte Caminho. De Villa Rica ao Xapet, conto se treze legoas, do Xapet aos Campos de Oitacazes p.la Vereda do Gentio do Rio Pomba, dizem que distar outras treze legoas, e dos Campos dos Oitacazes ao Porto em que se embarca para o Rio de Janeiro, dizem que ser hu dia de viagem, sendo este caminho pela mayor p.te livre de subidas, e descidas de montes, q. na outra Estrada do Garcia Rodrigues o mayor trabalho da jornada.Informava, ainda, que a ideia de abrir uma estrada de comunicao com Campos dos Goitacazes no era nova. Citava a carta de Silvrio Teixeira, de Vila Rica, com data de 19.03.1785, constando que as terras por onde se abriria a comunicao com Campos eram frteis e encerravam minas de ouro nas divisas do Xopot. Afirmava serem intrigas dos fazendeiros do caminho de Garcia Rodrigues (Caminho Novo) o dizerem que seria duplicada a possibilidade de desvio do ouro.Em fevereiro de 1800, o Padre Francisco da Silva Campos, nomeado para a Capela de So Joo Batista em 1791, encaminhou um requerimento a D. Joo VI propondo-se a criar uma Companhia para a catequese e civilizao dos ndios, de cujo projeto constava a abertura de uma estrada do Porto das Canoas at a vila de So Salvador dos Campos de Goitacazes. Nesta correspondncia informado que j existiam estradas do Presdio para Barbacena e para o Rio de Janeiro, podendo, inclusive, serem abertas outras vias de comunicao com as novas povoaes que vinham surgindo s margens dos rios Novo e Formoso, ambos afluentes do rio Pomba. O requerimento no parece ter sido atendido pois, em 1803, a Cmara de Mariana deu parecer contrrio a outro requerimento, no caso de Antnio Coelho de Souza, para extrair ouro na Freguesia da Pomba. O argumento contrrio foi de que a pequena distncia at os Campos dos Goitacazes facilitaria a abertura de caminhos para o extravio. Segundo o Relatrio Silva Pontes, publicado por Engracia, novo pedido de abertura da estrada Presdio-Campos foi feito pelo Coronel Gonalo e outros moradores do Presdio, em 1810.Tal obra j havia sido iniciada em 22.05.1810, quando o Capito Manoel Lemes da Silva, morador no Presdio de So Joo Batista, enviou um requerimento ao Governo da Capitania, declarando se achar arranchado com sua famlia na estrada nova para os Campos dos Itacazes, da qual era Diretor, a fim de abrir a dita estrada.Finalmente, segundo Silva, em junho de 1811 as obras de abertura da estrada atingiram seu ponto final, Campos dos Goitacazes, tendo 40 palmos de largura e seu trecho final realizado por uma equipe de 80 homens comandados por um furriel.

Figura 3: Adaptao do Mapa Poltico de Minas Gerais, IBGE, 2009.A estrada Presdio-Campos foi a principal referncia no requerimento de oitenta e trs sesmarias concedidas entre 1811 e 1821, sendo que as primeiras situavam-se no sentido da barra do Rio Pomba para cima, nos ento limites com os Campos dos Goitacazes. Algumas teriam sido concedidas como forma de compensao pelos trabalhos de abertura da estrada, como foi o caso de Manoel Lemes.Houve, entretanto, uma interrupo no processo de concesso de sesmarias. Segundo Marlire, por conta do novo descoberto de ouro na vizinhana do Presdio de So Joo Batista, Dom Manoel de Portugal e Castro, Governador da Capitania de Minas Gerais e Presidente da Junta Militar, ordenou em 27.08.1814 a imediata suspenso da repartio de terras na localidade. Por conta disso, s a partir de 1816 foram distribudas as terras localizadas s margens do Pomba, rio acima at a foz do Xopot. Alguns deste sesmeiros esto entre os povoadores de Meia Pataca, cuja origem, de acordo com as Listas Nominativas de Habitantes de 1831 e 1838, a seguinte: 40% do Presdio; 30% de Piranga, Barbacena e Itaverava; e 10% do Pomba.s margens da estrada surgiram povoaes, algumas hoje municpios, como o de Astolfo Dutra, de onde, em 1814, Antnio Marques da Costa enviou o pedido de criao do distrito na Capela de Santo Antnio do Porto Alegre de Ub, anexa estrada que se abriu para os Campos dos Goitacazes. Tal documento est anexado carta com o parecer da Cmara de Barbacena. Outro exemplo Cataguases, que sediava o Quartel de Porto dos Diamantes, existente em 1821 segundo Eschwege citado por Costa. Neste local, no ano seguinte foi fundado o Aldeamento de Meia Pataca, conforme declara Marlire. do mesmo autor a informao de que em 26.05.1828 foi constitudo o patrimnio da capela de Santa Rita do Porto dos Diamantes, por onde atravessava a Estrada Nova, cuja obra de reforma era ento por ele inspecionada.Dentre os viajantes que percorreram a estrada Presdio-Campos, ou parte dela, Wilhelm Ludwig von Eschwege descreveu mais detalhadamente o trecho de Ouro Preto a Presdio, quando visitou o Quartel da Serra da Ona, a tribo dos ndios Coroado e a fazenda de Guido Marlire no atual municpio de Guidoval. Alm de uma cartografia esta viagem, iniciada em dezembro de 1814, resultou, tambm, na produo de um relatrio que permitiu delimitar o trecho Ouro Preto-Presdio, mediante a descrio do seguinte trajeto:Partida de Ouro Preto a Mariana, atravessando os vilarejos de Taquaral e Passagem, seguindo em direo ao rio Mainart, ao ribeiro Bacalhau, este rico em ouro, ora pela margem direita ora pela esquerda, at alcanar o rio Piranga. Descendo at Santana dos Ferros (hoje Guaraciaba), o caminho seguiu pelo rio Turvo, ali chamado de Turvo Sujo, travessia da Mata dos Puris, at Santa Rita (Viosa). Na taberna do padre Igncio, ao lado da capela, o viajante no obteve pouso, hospedando-se numa fazenda depois de Santa Rita, onde assistiu ao batuque, dana dos negros ao som de palmas, tambores e chocalhos, dana esta adotada pelos brasileiros e sofisticada pelo violo. No quinto dia, a viagem seguiu at o alto da Serra de So Geraldo que, ao sul, passa a chamar-se Serra de So Jos. Chegando ao Presdio de So Joo Batista, onde era esperado por Guido Marlire, seguiram at a fazenda Guidoval, margens do rio Xopot. Eschwege informa que este rio formado pelos ribeires So Jos, Piedade e Bagres. Ao receber este ltimo ribeiro toma o nome de Xopot, recebendo depois o ribeiro Ub. O relato do capito Manoel Jos Pires da Silva Pontes, publicado por Engracia, permitiu conhecer mais detalhadamente a Estrada Presdio Campos, cuja obra de reforma havia sido concluda em 1828 por Marlire que comunicava ao Governador que, pela primeira vez, os carros de comrcio poderiam transitar de Minas Beira Mar evitando despesas com animais, transportando com maior proteo os objetos de importao em maior quantidade e por menor preo. Em janeiro de 1833, Pontes saiu de Ouro Preto em misso especial capitania do Esprito Santo, onde j estivera, em 1802. Dado o abandono das estradas pelo rio Muria e pelo rio Itapemirim, seguiu pela nica via transitvel: a passagem por Meia Pataca, adotada pelos tropeiros que faziam a viagem do Furquim (distrito de Mariana) a So Salvador, tendo chegado em maro no Presdio de So Joo Batista. Ali recebeu a visita do vigrio Marcelino Roiz Ferreira, do Juiz de Paz, Geraldo Roiz de Aguiar, do capito Jos Garcia de Melo e do padre Antnio de Freitas, capelo de Porto de Santo Antnio, que indicaram o roteiro abaixo:- Rancho do Sap (hoje cidade de Guidoval);- do Guarda-mor Boaventura Bitencourt Godinho (fazenda Serra da Ona);- Rancho do Fialho (na foz do ribeiro Passa Cinco, no rio Pomba);- Rancho do Manoel Carlos (de Almeida, o filho, depois do arraial de Meia Pataca);- de So Joo;- da Volta do Rio (entre Laranjal e Palma);- da Capivara, do Cel. Salvador;- ao ribeiro Santo Antnio, Pires, Frecheiras, Pai Peque, Porto do Picado;- fazenda de Joo de Almeida (ao lado dos armazns de sal, na margem esquerda do rio Paraba, em frente a So Fidlis). Com base neste roteiro e nas indicaes dadas por Marlire acerca de stios e moradores que foram localizados na cartografia produzida por Joo Jos da Silva Teodoro, foi possvel a reconstituio aproximada do traado da estrada Presdio-Campos, que, segundo o relato de Pontes, seguia pela margem esquerda dos rios Pomba e Paraba at a barra do rio Muria onde se fazia a travessia.

Pela atual organizao dos territrios mineiro e fluminense, a estrada, partindo de Visconde do Rio Branco, tinha o provvel percurso, como se pode verificar do mapa: Guiricema, Guidoval, Dona Euzbia, Cataguases, Laranjal e Palma, seguindo para Miracema, Santo Antnio de Pdua, Cambuci, So Fidlis, Cardoso Moreira e Campos. No porto do rio Muria se dava a travessia do rio Paraba para a chegada cidade de Campos dos Goitacazes, de cujo porto martimo as mercadorias seguiam para a cidade do Rio de Janeiro.O comrcio que se estabeleceu entre Minas e Campos foi, segundo Carneiro Silva, facilitado pelo caminho novo que ento se abriu, reduzindo dificuldades de se trazer o gado que at ento vinha pelo Rio de Janeiro com muito trabalho. O crescimento da populao e dos engenhos de acar consumia muito gado para a fbrica e para os aougues. De Minas eram importadas bestas muares, procuradas para os engenhos e conduo; muita carne de porco, toucinho e queijos de gosto superior aos produzidos em Campos; couros para solas, curtidos e crus. Para este autor, o comrcio com Minas, principiara-se com a abertura da nova via de comunicao e seria muito ativo no futuro, com mais comodidade do que se fazia at agora pelo Rio de Janeiro.O trnsito de mercadorias de Minas para Campos, e vice versa, era controlado pelo Registro do Pomba, posto fiscal instalado na foz do rio Pomba no rio Paraba, cuja finalidade era o recolhimento dos impostos devidos ao Estado, conforme quadro a seguir.PRODUTO/ANO18241825182618271828182918301832

Toucinho arroba1340138915532258174120412051566

Marmelada arroba5043-15380680-

Queijo unidade700295081060019301020800300

Gado vacum cabeas (*bois carreiros)40815481633152721381284147005*1089

Algodo (varas)3001036299542486413160050002500

Poaia (arrobas)0006388071506,5

Fumo (*arrobas ** rolos)-116,5*63**119,5*29**282*159*24*04*24**-

Mantas (unidade)56

Colchas (unidade)69

Capados em p02177

Galinhas6728050

Sabo em barra (arrobas)02

Azeite de mamona(barris)1002

Cavalos (unidades)160946

Chicotes4801800

Freios30

Meias25

Cobertores50

Caf (arrobas)16

Tabela 14: Quadro demonstrativo de todos os produtos exportados ao longo do perodo compreendido entre 1824 e 1832. (CORRA, 2012, p. 89) Corra esclarece que nos registros no h uniformidade nas unidades de quantificao do fumo, que tanto so informados em arrobas quanto em rolos. O autor observa, ainda, que os produtos tinham como principal destino a Vila de So Salvador (Campos), seguindo pequena parte para Aldeia da Pedra (Itaocara), Cantagalo e cidade do Rio de Janeiro. Tais mercadorias tinham origem predominantemente nas Freguesias de Pomba e Presdio de So Joo Batista, registrando tambm produtos das localidades de Barbacena, So Jos do Barroso (Paula Cndido), Piranga, Prata, Barra do Bacalhau (Guaraciaba), Ponte Nova, Ub, So Caetano (Cipotnea), Tapera (Porto Firme) Calambau (Presidente Bernardes) Santa Rita do Turvo (Viosa), Sumidouro (distrito de Padre Viegas, Mariana), Matias Barbosa, Ouro Preto, Vila de So Jos, Lagoa Dourada, Freguesia de So Miguel e Guarapiranga (Piranga). A nica carga de caf exportada pertencia a Caetano Jos de Azevedo, do arraial da Prata, Freguesia de So Miguel, possivelmente o atual municpio de Araponga. Este estudo preliminar indicou a possibilidade de a estrada Presdio Campos dos Goitacazes ser o Caminho do Pomba mencionado por Costa. Esta ltima denominao remete, de pronto, Freguesia do Pomba. Contudo, parece mais provvel ser uma referncia ao rio Pomba, cujo leito deu direo estrada, j que a abertura de uma via de ligao da Freguesia com a Estrada Presdio-Campos foi autorizada pelo Prncipe D. Joo VI, em abril de 1814, obra que seria empreendida por Guido Marlire.Trazer este assunto ao Encontro de Pesquisadores do Caminho Novo tem como objetivo despertar o interesse daqueles que possam, ouvindo o tropel dos cascos e sentindo o cheiro dos queijos, se debruarem sobre o tema contribuindo assim para revelar e resgatar esta parte da nossa histria.Para este trabalho foram consultadas as seguintes obras e documentos:CAMPOS, Helena Guimares. Caminhos da histria: estradas reais e ferrovias. Belo Horizonte: Fino Trao, 2012.CAMPOS, Pe Francisco Jos da Silva Campos. Catechese e Civilisao dos indgenas de Minas Geraes documentos officiaes. Revista do Arquivo Pblico Mineiro, v. 2, 1904. p.685 -696.CASTRO, Celso Falabella de Figueiredo. Os Sertes de Leste: Achegas para a histria da Zona da Mata. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1987.CORRA, Mrcio Xavier. Memria sobre a economia extrativa da poaia. Juiz de Fora, 2012, 165 f. Dissertao (Mestrado em Histria) - Universidade Federal de Juiz de Fora.COSTA, Antnio Gilberto (Org.). Os Caminhos do Ouro e a Estrada Real. Belo Horizonte: Editora UFMG, Lisboa: Kapa Editorial, 2005.ENGRACIA, Pe. Julio. Addendo s Ephemrides Mineiras. Revista do Arquivo Pblico Mineiro. Belo Horizonte. v. 9. t. I e II. jan-jun 1904. p. 1-924ERTHAL, Cllio. Cantagalo: da miragem do ouro ao esplendor do caf. Niteri: do autor, 2008.ESCHWEGE, Wilhelm Ludwig von. Jornal do Brasil, 1811-1817. Belo Horizonte: Fundao Joo Pinheiro, 2002.LAMEGO, Alberto Ribeiro. O Homem e a Serra. Edio fac-similar. Rio de Janeiro: IBGE, 2007.MAPA POLTICO DE MINAS GERAIS. IBGE. 2009MARLIRE, Guido Thomaz. Correspondncia. Revista do Arquivo Pblico Mineiro. v. 10, t. I e II. jan-jun 1905. p. 1-382.MARLIRE, Guido Thomaz. Correspondncia. Revista do Arquivo Pblico Mineiro. v. 10, t. III e IV. Jul-dez 1905. p. 383-980.SANTIAGO Sinval. Municpio de Rio Pomba. Rio Pomba: Imprensa Oficial, 1991.SILVA, Danzio Gil Bernardino da (org.). Os Dirios de Langsdorff. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1997. v.1SILVA, Jos Carneiro da. Memria Topogrphica e Histrica sobre Campos dos Goytacazes. 3. ed. Campos dos Goitacazes, RJ: Fundao Cultural Jornalista Oswaldo Lima, 2010.TEODORO, Joo Jos da Silva. Levantamento Cartogrfico dos Termos de So Joo Batista do Presdio, So Manoel do Pomba e So Joo Nepomuceno. 1847. Acervo da Biblioteca Nacional.Documentos do Arquivo Pblico Mineiro:s/d. s/l. Requerimento do Capito Manuel Leme da Silva sobre a concesso de sesmaria no Ribeiro Santo Antnio e querelas com Antnio Gomes Candido. Arquivo Pblico Mineiro.Notao CC-Cx.92-20323.12/05/1784. So Manuel do Pomba. Carta do sargento-mor Pedro Afonso Galvo de [So] Martinho ao governador Luiz da Cunha Meneses sobre a abertura de picadas at o descoberto da Paraiba na capitania do Rio de Janeiro. Notao Arquivo Pblico Mineiro. CC - Cx. 13 1026312/05/1784. So Manuel do Pomba. Carta do sargento-mor Pedro Afonso Galvo de [So] Martinho ao governador Luiz da Cunha Meneses sobre o envio de mantimentos ao descoberto do Rio do Veado. Arquivo Pblico Mineiro. Notao CC - Cx. 13 - 1026622/05/1784. Rio Paraba. Carta de Pedro Afonso Galvo de So Martinho ao governador Luiz da Cunha Menezes sobre a diligncia e inspeo do rio Paraba e envio de mantimentos. Arquivo Pblico Mineiro. Notao CC - Cx. 3 - 1007105/06/1784. So Manuel do Pomba. Carta de Pedro Afonso Galvo de So Martinho a Luis da Cunha Menezes sobre a visita aos arredores do rio Paraba. Arquivo Pblico Mineiro. Notao CC - Cx. 3 - 1006018/06/1784. Porto Novo do Cunha. Carta do sargento-mor Pedro Afonso Galvo de So Martinho a Luiz da Cunha Menezes sobre o pedido de mantimentos, cavalos e pedestres. Arquivo Pblico Mineiro. Notao CC - Cx. 3 1006024/06/1784. Serto do Rio Novo. Carta do sargento-mor Pedro de Afonso Galvo de So Martinho a Luiz da Cunha Menezes sobre a diligncia feita no Rio Paraba, a pedido de soldados e mantimentos. Arquivo Pblico Mineiro. Notao CC - Cx. 3 1006110/07/1784. Margem do Paraba. Carta do sargento-mor, Pedro Afonso Galvo de So Martinho ao [governador] Luiz da Cunha Menezes sobre ter encontrado a roa dos salteadores e outra roa com plantaes de milho, feijo, banana, ervilhas, couve, alhos e cebolas. Arquivo Pblico Mineiro. Notao CC - Cx. 3 1007207/08/1784. So Manuel do Pomba. Carta de Pedro Afonso Galvo de So Martinho ao governador Luiz da Cunha Menezes sobre a diligncia e fiscalizao de transporte irregular para o [Rio] e problemas com trabalhadores na abertura da picada. Arquivo Pblico Mineiro. Notao CC - Cx. 3 1007124/12/1785. Rio de Janeiro. Parecer de Luiz de Vasconcelos e Sousa ao Governador sobre as entradas e comunicaes clandestinas praticadas nos matos e sertes, que abrem passagem para a Serra dos rgos e Destrito de Macacu, por homens facinorosos j pronunciados em devassas. Arquivo Pblico Mineiro. Notao SG-Cx.15-Doc.631797. Relatrio de Jos de Deus Lopes sobre exploraes feitas no rio Pomba e rio [Burusse]. 1804. Arquivo Pblico Mineiro. Notao CC-Cx.17-10349. 1797. Requerimento de sesmaria de Joaquim dos Santos, relativo a terras no Ribeiro Ub, Freguesia de So Manoel do Pomba. Arquivo Pblico Mineiro. Notao CC-Cx.87-20253.30/10/1797. Relatrio de Luiz Jos de Brito sobre as condies da estrada do Porto da Estrela. Arquivo Pblico Mineiro. Notao SG CX. 45-Doc. 5112/11/1803. Mariana. Carta dos oficiais da Cmara de Mariana que informa sobre a extrao de ouro e descobrimento de novos lugares na freguesia da aos Campos dos Goitacazes. Arquivo Pblico Mineiro. Notao CC-CX. 77-2002422/05/1810. Vila Rica. Requerimento de Manuel Lemes da Silva a Joo dos Santos Sanches a respeito de prticas vexatrias que vinha sofrendo em seu trabalho de abertura da estrada para Campos dos Goitacazes. Arquivo Pblico Mineiro. Notao SG-Cx.123, Doc. 3307/06/1814. Barbacena. Carta de Francisco Jos Alves, Joo Antonio da Cruz, Manuel Francisco de Lima e Jos Simpliciano de Souza Barreto sobre a criao do distrito de Porto Alegre do Ub. Arquivo Pblico Mineiro. Notao CC-Cx.31-10624. 1831. Relao nominal dos habitantes de Santa Rita do Meia Pataca. Arquivo Pblico Mineiro. Notao MP-CX.02-DOC.14.1831. Relao nominal dos habitantes de N. S. Mercs do Kgado. Arquivo Pblico Mineiro. CX 07-Doc.02.1838. Relao nominal dos habitantes de Santa Rita da Meia Pataca. Arquivo Pblico Mineiro. Notao MP-CX.03-DOC.18.1856. Registro de Terras da Freguesia de Nossa Senhora das Mercs da Vila do Mar de Espanha. Arquivo Pblico Mineiro. Notao atual TP-1-116, antiga RP-116.

Peregrinos e a Estrada Real: os diversos caminhos dos devotos do Bom JesusProfessor Herinaldo Alves, bacharel em Histria, especialista em Cultura e Arte Barroca e mestrando em Histria.O professor Herinaldo iniciou a apresentao declarando que sua dissertao de mestrado est sendo desenvolvida em torno da Congonhas do sculo XVIII, razo pela qual, depois de alguma hesitao, resolveu trazer para o Encontro uma viso panormica sobre Jubileu do Senhor Bom Jesus e os devotos que, naquele sculo, se dirigiam a Congonhas em peregrinao, passando pelo Caminho Novo.Entretanto, neste momento s possvel apresentar a primeira parte da pesquisa porque a segunda, que trata dos lugares por onde passaram, representa um outro trabalho de envergadura.Herinaldo Alves optou por comear nomeando as principais fontes que se encontram no Arquivo Eclesistico da Arquidiocese de Mariana. Segundo ele, o recolhimento do acervo para uma localidade distinta daquela na qual foram produzidos os documentos teria sido acertado, j que em Mariana foi possvel restaurar, catalogar e colocar o material disposio dos pesquisadores.L se encontra, portanto, o Livro de Doaes que a principal fonte para identificar os Romeiros, pensar quem foram estes peregrinos, de onde partiram e quais foram os caminhos por eles trihados. A segunda fonte o 1 Livro Caixa do Santurio, alm de outras fontes impressas listadas ao final deste relato.O pesquisador definiu o corte cronolgico entre 1780 e 1800, abordando desde a fundao do Jubileu do Senhor Bom Jesus, e no do Santurio propriamente dito, at o final daquele sculo.O pblico presente teve oportunidade de ver duas belas fotografias do Santurio que foram projetadas por Herinaldo Alves.

Santurio de Bom Jesus dos Matosinhos atualmente.

Imagem antiga do Santurio.Para explicar como surgiu o Jubileu foi apresentado o fragmento a seguir.

Em 1779, o Papa Pio VI concede os Breves que criaram os JubileusBreves so documentos pontificais, de ordem pastoral, contendo alguma outorga de favor ou privilgio beneficiando um particular ou agremiao, informou Herinaldo Alves. Como exemplo de Breves foram citados os documentos chamados De Genere, autorizaes papais concedidas aos jovens menores de 21 anos que desejassem tomar ordens religiosas.Assim, em 1779 a Capela do Senhor Bom Jesus do Matosinhos recebeu oito Breves para seus devotos. Para o recebimento de tais privilgios era necessrio dirigir-se ao Santurio de Congonhas, confessar, comungar, rezar pela concrdia dos prncipes cristos e pela extirpao das heresias. Segundo Herinaldo, a fundao do Jubileu ocorreu em 1779 mas os breves concedidos pelo Papa s chegaram no final daquele ano e, assim, a proclamao e o primeiro Jubileu s ocorreram em 1780. E uma diferena importante entre o Jubileu de Congonhas e os demais que foram autorizados em Minas Gerais o fato de no serem eles abertos ao pblico em geral, mas destinados aos membros das respectivas confrarias. J em Congonhas, todos que viessem ao Santurio poderiam receber as bnos indulgenciais que caracterizam o Jubileu.Sobre o Papa Pio VI que concedeu os Breves a Congonhas, o professor Herinaldo informou que seu nome era Giovanni ngelo Braschi, nascido em Cesena, na Itlia, aos 25 de dezembro de 1717, tendo sido eleito Papa no dia 15 de fevereiro de 1775. Seu pontificado foi um dos mais longos da histria, durando pouco mais de 24 anos. O final de sua vida foi um perodo difcil, marcado pelos acontecimentos da Revoluo Francesa. Faleceu em Valence, Frana, no ano de 1799.

Imagem do Papa Pio VI existente na Sacristia da Baslia da S marianense.Consultando a documentao, Herinaldo Alves listou as localidades de onde vinham os Romeiros e anotou algumas curiosidades sobre a forma de registro, como a no identificao dos doadores de pequenas quantias. De sua pesquisa foi extrada a seguinte listagem de doadores: Capito Antonio de Freita (sic) morador de Caldas de Santa Luzia; Antonio Pereira Lima morador de Ouro Branco; Joo de Moura morador de Pitangui; Manoel Ferreira morador de Pitangui; Capito Antonio Luis Brando morador na Passagem de Mariana; Domingos Bastos morador das Carreiras de Ouro Branco; Joo Ribeiro Moreira morador em Vila Rica.Foi observado que se o doador no comparecesse pessoalmente ao Santurio o registro informava que fora esmola dada ao ermito. Outra forma de doao era a folha de crdito, uma espcie de Nota Promissria da poca, que representa uma forma de organizao econmica do sculo XVIII.Citando Burton, Herinaldo informou que Congonhas tinha 600 almas e durante o Jubileu atingia a expressiva quantidade de 7000 pessoas, razo pela qual possvel afirmar que o Santurio foi um grande centro de peregrinao. As principais localidades de origem eram Pitangui; Piranga; Mariana; Antonio Pereira; Vila Rica; Vila de So Joo; Vila de So Jos (atual Tiradentes); Serro; Tamandu; Matheus Lemes; Catas Altas; Paraopeba; Carijs; Curvelo; Sabar; Formiga; Morro; Grande; Pouso Real.Alm disso, o palestrante informou que Tomaz Antonio Gonzaga aparece entre os doadores em 1785 e que nas Poesias e Cartas Chilenas, versos 263 a 270, ele declara:Distante nove lguas desta terrah uma grande ermida, que se chamaSenhor de Matosinhos; este temploos devotos fiis a si convocapor sua arquitetura, pelo stioe, ainda muito mais, pelos prodgioscom que Deus enobreceu a Santa imagem.No seguimento o poeta declarou que o governador cobrava impostos at do carro de bois que servia ao Santurio.Entre os doadores que moravam em localidades mais distantes foram mencionados:

P. esmolasq deo M.el Frra Alz m.or no R.o de Janr.oPor esmolas que deu Manoel Ferreira Alvares morador no Rio de JaneiroP. esmola q deo An.to Ribr.o m.or no R.o de Janr.o

P. esmolasq deo J.e Novaes Dias m.or emS. Paulo.Para identificar os locais de origem dos peregrinos o professor Herinaldo consultou antigos mapas da capitania, bem como fontes iconogrficas como as seguintes.

Viagem ao Santurio

Fotografia de peregrinos chegando ao Santurio, em Congonhas, incluindo uma mulher. s.d.Ao final da apresentao foram exibidas outras imagens antigas de Congonhas.

A antiga Romaria

Fontes Impressas:BURTON, Richard. Viagem do Rio de Janeiro Morro Velho. Editora do Senado: Braslia,2001.____. Viagem de Canoa de Sabar ao Oceano Atlntico. Belo Horizonte: Itatiaia, 1977ENGRACIO, Mons. Julio. Relao chronologica do Sanctuario e irmandade do Senhor Bom Jesus de Congonhas do Campo no Estado de Minas Geraes. In.: Revista do Archivo publico Mineiro. Imprensa Official de Minas Geraes: Belo Horizonte, 1903.FALCO, Edgar Cerqueira. Baslica do Senhor Bom Jesus de Congonhas do Campo. So Paulo: Revista dos Tribunais, 1962. (Brasiliensia Documenta, 3).GONZAGA, Toms Antnio. Poesias e Cartas Chilenas. Rio de Janeiro: Revista dos Tribunais, 1957.RANKE, Leopoldo Von. Historia de los Papas. 11 ed. Trad. Eugenio Imaz. Mxico: Fondo de Cultura Econmica, 2004.RODRIGUES, Mons. Flvio Carneiro. Cadernos histricos do Arquivo Eclesistico da Arquidiocese de Mariana. os dois relatrios Decenais. Visitas ad Limina de Dom Antonio Ferreira Vioso. 1853 1866. Mariana: Ed. Dom Vioso, 2005WELLS, James. Trs mil milhas atravs do Brasil: Do rio de Janeiro ao Maranho. Belo Horizonte: fundao Joo Pinheiro, Centro de Estudos Histricos e Culturais, 1995.

Monumentos barrocos desconhecidos ao longo das Estradas ReaisAlex Bohrer, professor de Histria, Histria da Arte e Iconografia. Diversos textos publicados sobre o Barroco Mineiro e Histria de Ouro Preto e Cachoeira do Campo.

Em sua saudao inicial, o professor Alex Bohrer declarou conhecer artistas de vrias partes do mundo e que Luciomar de Jesus se inscreve entre os maiores. Em seguida informou que, em viagem realizada na semana anterior ao Maranho, a observao dos monumentos de Alcntara o inspirou a alterar o tema da palestra em virtude de uma questo ento surgida: por que os nossos monumentos clssicos do barroco mineiro so to diferentes do resto do Brasil e de Portugal?Fazendo um paralelo com So Luiz do Maranho, mencionou as grandes diferenas existentes entre os ambientes artsticos e arquitetnicos em relao a Minas Gerais. Por esta razo, decidiu apresentar vrios monumentos artsticos ao longo das estradas reais mineiras e abordar a criatividade, adaptao e releituras da arte colonial mineira. Como Aleijadinho ou Atade criavam suas obras? Onde buscavam ideias? Como era o processo de aprendizagem, se no tinha escola onde pudessem aprender e desenvolver sua arte?Iniciou apresentando o objeto ao lado, localizado h mais de 10 anos na Matriz de Cachoeira do Campo. Aps algumas dificuldades para abri-lo, verificou tratar-se de uma bssola com rlogio de sol, do sculo XVII.

A seguir foram exibidas imagens de capelas mineiras, sobre as quais o palestrante comentou as caractersticas e a poca em que foram construdas. A primeira delas, a Capela de Botafogo, em Ouro Preto, representa um tipo de construo erigida pelos paulistas no sculo XVII.

Ainda no mesmo estilo, foram apresentadas outras imagens de antigas capelas.

A respeito de algumas construes que apresentam duas torres o professor Bohrer chamou a ateno para o fato da estrutura central ser a mesma das anteriores.

Muitos detalhes das construes foram mencionados, demonstrando a criatividade, adaptao e releituras da arte colonial mineira que o palestrante definiu como foco de sua apresentao. As portadas em pedra sabo ou madeira e a cantaria aparece