revolução da palha em iraquara

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A REVOLUÇÃO DA PALHA EM IRAQUARA! Ninguém junta mais estrumo pra aduba plantação o plástico acabou com a palha o artesão passa fome Que na sua propriedade Não haja desmatação Não faça queimada na roça Pois não é a solução Junte a palha E cubra a terra Acredite e verá! Assim diz, um cancioneiro popular

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Zine registro da Residência Artística com Bruna Maresch, Nara Milioli, Anne Solimar e os amigos da Casa de Tupã, espaço cultural localizado em Iraquara/BA.

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Page 1: Revolução da palha em Iraquara

A REVOLUÇÃO DA PALHA EM IRAQUARA!

Ninguém junta mais estrumopra aduba plantaçãoo plástico acabou com a palhao artesão passa fomeQue na sua propriedadeNão haja desmatação

Não faça queimada na roçaPois não é a soluçãoJunte a palhaE cubra a terraAcredite e verá!Assim diz, um cancioneiro popular

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Vista de Iraquara

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A Revolução de uma palha!

“Uma Revolução pode começar a partir de uma única palha!”Masanobu Fukuoka

Masanobu Fukuoka foi quem introduziu a revolução da palha entre nós. Apenas observando os campos de arroz japoneses, lançou os princípios da agricultura sel-vagem que consistem em: não cultivar, não utilizar fertilizantes químicos, não mon-dar nem mecânica, nem quimicamente e não depender de produtos químicos. Tudo que fez, na verdade, foi retomar a herança do trabalho simples e próximo à terra de seus antepassados, recusando-se a adotar os procedimentos do modelo de agricul-tura intensiva associado à monocultura e à dependência do agricultor aos insumos do mercado. De acordo com Fukuoka, a razão pela qual as técnicas aperfeiçoadas parecem necessárias é porque o equilíbrio foi de tal modo rompido por estas mesmas técni-cas que a terra se tornou dependente delas. Pelo contrário, ele recomenda recobrir o solo com palha, para interromper por um momento a germinação de plantas es-pontâneas, e semear através de bombinhas de sementes: “Não há método mais fácil nem simples para fazer crescer as sementes. Este método pouco mais requer que semear à mão e espalhar palha, mas precisei de mais de trinta anos para atingir essa simplicidade” (2008, p. 43) Espalhar palha relaciona-se com tudo: com a fertilidade da terra, a germinação das sementes e ervas espontâneas, a proteção contra os animais, a irrigação das cul-turas. A palha alimenta, protege e umedece a terra. Ao suprimir as práticas agrícolas inúteis, o trabalho do agricultor se transfor-ma, contemplador, o agricultor precisa observar as relações naturais do lugar, estar atento ao ciclo das estações e das luas, para saber qual o momento certo de cultivar:

Podemos cultivar legumes em qualquer lugar onde o crescimento das ervas daninhas for variado e forte. A familiarização com o ciclo anual e com o esquema de crescimento das ervas daninhas e das gramíneas é muito importante. Observando a variedade e o taman-ho das ervas daninhas num determinado espaço, podemos avaliar de que tipo de solo se trata e quais são as suas deficiências. (2008, p. 70)

O mais importante não é a técnica de cultivo, mas o estado de espírito do agricultor!

(FUKUOKA, Masanobu. A revolução de uma palha. 2 ed. Via Optima Editorial: Porto, 2008.)

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Pegamos um avião para Salvador com destino a Iraquara, uma ci-dade que se localiza no coração da Bahia, com a intenção de levar se-mentes de Santa Catarina e fazer a Revolução da Palha em Iraquara. A cidade é rural e vive do culti-vo de palma e feijão gandú. Clima quente e seco, o vermelho da terra salta na vista.

Fomos recebidas pela Sol na Casa de Tupã, um espaço cultural que realiza ações com crianças da região. A Sol preparou uma pro-gramação para nos receber e pas-samos duas semanas envolvidas com o lugar e com as pessoas in-críveis que encontramos por lá.

Esta é a Casa de Tupã!

Vamo catá palha!?

Antes ouve como tudo começou.

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Começamos tirando da mala as sementes que trouxemos de Santa Catarina pra trocar em Iraquara. Espécies variadas de espontâneas dis-seminadas na ilha e que imaginamos que poderiam se dar bem no clima seco do sertão, como aroei-ra, crotalária, capins diversos, picão...

O quintal da Casa de Tupã se tornou nosso laboratório, inici-amos uma compostagem e cuidamos dos canteiros que já es-tavam por lá, identificando as plantas que ninguém conhecia.

Óia a Erva de Touro!!

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Cuidado com os Bonitinhos!!!

Conhece a ex-pressão: lata d’água

na cabeça?

Pois é, em Iraquara antes de ter água

canalizada, todo mundo ia buscar água neste poço. As tias e avós levavam água pra casa com uma

lata na cabeça.

Hoje não precisa mais, pois tem a bomba d’água.

Sol nos levou até o Poço de Manoel Félix, onde foi a fundação da ci-dade, lá que ou-vimos a história do lugar.

Ali se fundou esta cidade, formada de um solo poroso suspenso sobre grutas e

lagos subterrâneos. Por isso, aqui nos sentimos leves e o tempo pas-sa diferente. Pensando bem, Ira-quara também é uma ilha, mas uma

ilha no meio do sertão.

O poroso causa vertigens!

Presta atenção! Conta-se queManoel Félix, médium e fundador do povoado, indo em di-reção à Paraíba, encontrou um poço de águas salobras no

meio do sertão.

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Pelas ruas de Iraquara

O povo por aqui tem costume de arrancar o pouco mato que cresce e queimar na frente de casa. Começamos a catar palha pela cidade e levar para uma praça de chão batido, utilizada para amar-rar os cavalos no dia da feira.Teve gente que estranhou e gen-te que achou normal, vinham con-versar, falar sobre plantas que conheciam e suas propriedades.

Tá vendo esta trepadeira, a

frutinha dela é doce e serve pra cura um monte de mal, vou levar pra minha

fia!

To pegando remédio pra próstata.

Seu Zu, que você tá fazendo?

Ólha isso Sol, é uma plantinha que cresce na beira

da rua!!!!

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Quem disse que ninguém junta palha em Iraquara?

SIM!

VAI UMA PALHA AÍ?

OBRIGADA!

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Olha a palha!

Que será que elas vão fazer com

essa palha?

Que doidas!!!

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Produção de cartazes, lambe-lambes e é claro, o Manifesto da Palha, para distribuir e colar na cidade.

JÁ FAZEM TRÊS DIAS QUE CHEGAMOS NA PRAÇA DE MANHÃ E ALGUÉM BOTOU FOGO NA PALHA QUE JUNTAMOS! PRECISAMOS TOMAR UMA PROVIDÊNCIA!!!!!

Mãos à obra!!

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No outro dia, os cartazes surtiram efeito, ninguém mais queimou palha na praça!

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E TEM MAIS PALHA A CAMINHO! Pica palha aí pra gente joga no nosso cantei-

rinho!

HEHEHE! PICA PALHA!!

Missão Cumprida!Quanta palha,

quanto bichinho!!!!

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Agora a praça tá cheia de guardião!

Pode deixar que eu molho as plan-

tas pra você!!!

Page 17: Revolução da palha em Iraquara

Pode entrá!

Mas antes de ir embora, um encontro mais que especial...

O meninas, vocês não podem ir embora sem conhecer o meu jardim!

ISSO QUE É REVOLUÇÃO DA PALHA!!!!!

Page 18: Revolução da palha em Iraquara

No jardim do Vadinho dá pra se perder. Tem muita vida! Muita palha, passarinho, gatinho e planta milagrosa, ele nos deu várias sementes pra levar de volta pra Santa Catarina e disseminar nos nossos jardins.

Viva a palha!!!!

A palha é riqueza no sertão!

Page 19: Revolução da palha em Iraquara

Antes de sairmos de Iraquara preparamos uma ação especial, que só podia ser um grande bombardeio de sementes no quintal da Casa de Tupã. Adivinha quem gostou da ideia?

FIM!

Page 20: Revolução da palha em Iraquara

A Revolução da Palha em Iraquara foi um trabalho desenvolvido durante o período de Residência Artística em agosto de 2014 em Iraquara- BA, na Casa de Tupã.

Com a participação de Bruna Maresch, Anne Solimar Sol e Nara Milioli.