quem vai controlar a economia verde? - centro ecológico · 2017-08-31 · quem vai controlar a...

68
Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na Rio+20, o Grupo ETC apresenta uma atualização sobre o poder das corporações e alerta de que a busca pelo controle da biomassa irá perpetuar, mais do que uma economia verde, a economia da ganância. www.etcgroup.org

Upload: others

Post on 20-Apr-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?

Enquanto os governos se preparam para aprovaruma economia verde na Rio+20, o Grupo ETCapresenta uma atualização sobre o poder dascorporações e alerta de que a busca pelo controleda biomassa irá perpetuar, mais do que umaeconomia verde, a economia da ganância. www.etcgroup.org

Page 2: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

“Os homens de ciência nos dizem que toda a aventura dos navegadores no mar, todas as invasões bárbaras que confundem a história antiga com sua poeira e rumores,

surgiram de nada mais obscuro do que as leis da oferta e da procura, e um certo instinto natural

por comida mais barata. Para qualquer um que pense mais profundamente, essa parecerá uma explicação

entediante e lamentável.”

Robert Louis Stevenson, Will o’ the Mill, 1901

“Enquanto a maximização dos lucros permanecer como o pilar da sociedade consumista e da economia capitalista,

as corporações manterão seu interesse na escassez como uma criadora de valor econômico.”

Erich W. Zimmermann, economista alemão, World resources and industries: a functional appraisal of the availability of agricultural and industrial materials, 1933

Quem vai controlar a economia verde?

Agradecimentos

O Grupo ETC agradece o apoio financeiro da SwedBio(Suécia), HKH Foundation (EUA), CS Fund (EUA),Christensen Fund (EUA), Heinrich Böll Foundation(Alemanha), Lillian Goldman Charitable Trust (EUA),Oxfam Novib (Holanda) e do Norwegian Forum forEnvironment and Development (Noruega). O Grupo ETC é o único responsável pelos pontos de vistaexpressos neste documento.

Todo o trabalho de arte, incluindo a ilustração da capa,“BioMassters: The Board Game,” e o projeto gráfico dorelatório são de Shtig.

“Trickle Down”, por Adam Zyglis, usado com permissão.

Revisão de textos e diagramação da edição em português porAmanda Borghetti.

Quem vai controlar a economia verde? é o Communiquénº 107 do Grupo ETC.

Todas as publicações do Grupo ETC estão disponíveisgratuitamente em www.etcgroup.org

Page 3: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

iwww.etcgroup.org

Quem vai controlar a economia verde?Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na Rio+20, o Grupo ETC apresenta uma atualização sobre o poder das corporações e alerta de que a

busca pelo controle da biomassa irá perpetuar,mais do que uma economia verde,

a economia da ganância.

www.etcgroup.org

Page 4: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?ii

A nova galáxia corporativaAs maiores companhias do mundo estão convergindo em torno dabiomassa em antecipação a um futuro pós-petroquímico. Isso nãosignifica que simplesmente estão se apossando legalmente de terrase de recursos naturais; elas também estão investindo em novasplataformas tecnológicas para transformar açúcares derivados deplantas (de cultivos para alimento e fibra, algas, todos os tipos dematéria vegetal) em produtos industriais. A força gravitacional dabiomassa está criando novas constelações de convergênciacorporativa que atravessam diversos setores industriais.

Aqui estão quatro exemplos:

2. SolazymeA Dow Chemical, a Unilever, a Chevron, aBunge Ltd., a Marinha e o Departamento deDefesa dos Estados Unidos estão todosassociados com a companhia de biologiasintética com sede na Califórnia, a Solazyme,que define suas áreas de mercado comocombustíveis, químicos, nutrição e ciências dasaúde, e é especializada em transformar“açúcares de plantas de baixo custo em óleosrenováveis de alto valor”. A Solazyme tambémestá associada com a japonesa San-Ei Gen(uma das principais fabricantes e distribuidorasde ingredientes para alimentos) paradesenvolver ingredientes para alimentosderivados de algas, e se associou com a francesaRoquette Frères para lançar a Solazyme-Roquette Nutritionals, uma joint venturepara comercializar um conjunto deingredientes para alimentos derivados de algas.

1. DuPontA gigante química DuPont e a gigante do petróleo BP têm uma jointventure, a Butamax, cujo objetivo é comercializar combustíveis derivadosde algas marinhas. No início de 2011, a DuPont comprou a Danisco,fabricante de enzimas e ingredientes especiais para alimentos – as duascompanhias já tinham uma sociedade para produzir etanol celulósico. ADuPont já vende um bioplástico derivado do milho. A DuPont (Pioneer)é a 2ª maior companhia de sementes do mundo e a 6ª maior companhia deagrotóxicos.

Bunge

Marinha dos EUA

Depto. deDefesa dos EUA

Unilever

DowChemical

Chevron

San-Ei Gen

RoquetteFrères

Tate & Lyle

Bio Architecture Lab

GeneralMills

DuPont

BP

Solazyme

Butamax

Page 5: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

iiiwww.etcgroup.org

3. Evolva SAA gigante química BASFe a gigante farmacêutica Roche têmassociações com a companhia de biotecnologia/biologia sintética EvolvaSA (Suíça), a qual conecta suas “tecnologias e produtos em fase final dedesenvolvimento com companhias que têm os recursos e capacidadespara levar adiante as etapas finais de desenvolvimento e marketing [e] ...participar no valor desses produtos através de um mix de acordos marcos,de royalties e de fornecimento”. A Evolva adquiriu a Abunda Nutrition,sua sócia na busca para produzir baunilha sinteticamente (julho de2011), e tem parceria com a International Flavor & Fragrancesparaproduzir sinteticamente outro “ingrediente flavorizante chave”. A Evolvatambém é associada ao Escritório de Pesquisa do Exército Norte-Americanopara descobrir compostos que inibem o crescimento dabactéria patogênica Burkholderia pseudomallei.

4. AmyrisProcter & Gamble, Chevron, Total, Shell, Mercedes-Benzdo Brasil, Michelin Tire, Gruppo M&G (fabricante deplásticos), Bunge Ltd. e Guarani estão todas associadas com acompanhia de biologia sintética com sede na Califórnia, aAmyris. De acordo com a Biofuels Digest, a Amyris é “melhorentendida como uma rede de associadas, que constitui oelemento estratégico central na sua forma de conduzir-se nomercado a partir de seu baixo investimento patrimonial.”

Controle corporativo transnacionalsuper consolidado

Apenas 147 companhias controlavam cerca de40% do valor monetário de todas ascorporações transnacionais em 2007.1

Essa é a conclusão de um novo estudo publicadoem julho de 2011 por pesquisadores do ETHZürich, da Suíça, com base numa análise de43.060 corporações transnacionais (CTNs)localizadas em 116 países. Apenas 737 empresasdetêm 80% do valor de todas as CTNs.

Procter & Gamble

Bunge

Shell

Mercedes-Benzdo Brasil

Guarani

Gruppo M&GMichelin Tire

Chevron

BASF

AbundaNutrition

InternationalFlavor &Fragrances

Escritório dePesquisa do Exército

Norte-AmericanoRoche

Total

Amyris

Evolva

De acordo com os autores: O que interessa nesse ranking não é o fatodele expor atores poderosos e insuspeitos. Ao invés disso, ele mostra quemuitos dos principais atores pertencem ao núcleo. Isso significa que elesnão conduzem seus negócios de forma isolada, mas, ao contrário, eles estãojuntos numa rede de controle extremamente intrincada. Essa conclusão émuito importante, pois não havia nenhuma teoria econômica anterior ouevidência empírica em relação a se e como os principais atores estãoconectados. Os principais detentores dentro do núcleo podem, portanto, serconsiderados como uma “superentidade” econômica na rede global dascorporações. Um fato adicional relevante neste ponto é que ¾ do núcleo sãointermediários financeiros.2 (Intermediários financeiros incluem, porexemplo, bancos de investimento, corretoras, companhias de seguro,etc.)

Page 6: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?iv

Panorama:

Quem vai controlar a economia verde?

A questãoNos eventos preparatórios para a Cúpula da Terra de junho de2012 (Rio+20), a noção de uma “grande transformaçãotecnológica verde” que torna possível uma “economia verde”está sendo amplamente promovida como a chave para asobrevivência de nosso planeta.3 A grande ideia é substituir aextração de petróleo pela exploração de biomassa (cultivos dealimentos e de fibras, gramíneas, resíduos florestais, plantasoleaginosas, algas, etc.). Os proponentes imaginam um futuropós-petróleo onde a produção industrial (de plásticos,químicos, combustíveis, fármacos, energia, etc.) depende nãode combustíveis fósseis, mas de matéria-prima biológicatransformada através de plataformas de bioengenharia de altatecnologia. Muitas das maiores corporações mundiais e amaioria dos governos poderosos estão promovendo o uso denovas tecnologias – incluindo a genômica, a nanotecnologia ea biologia sintética – para transformar biomassa em produtosde alto valor.

O impactoOs maiores estoques de biomassa terrestre e aquática estãolocalizados por todo o Sul global, e são preservados,principalmente, por camponeses, pastores, pescadores e povosde florestas cujos meios de vida dependem deles. O GrupoETC alerta de que a bioeconomia estimulará umaconvergência ainda maior do poder corporativo e desencadearáo maior apossamento maciço de recursos em mais de 500 anos.Os “senhores da biomassa” corporativos estão prontos paramercantilizar a natureza numa escala sem precedentes, destruira biodiversidade e desalojar as populações marginalizadas.

Os atoresA busca para assegurar a biomassa (e as plataformastecnológica que podem transformá-la) está conduzindo aalianças corporativas e criando novas constelações de podercorporativo. Os principais atores incluem: as grandes empresasde energia (Exxon, BP, Chevron, Shell, Total); as grandesfarmacêuticas (Roche, Merck); as grandes empresasagroindustriais (Unilever, Cargill, DuPont, Monsanto, Bunge,Procter & Gamble); as principais companhias químicas (Dow,DuPont, BASF); bem como o setor militar mais poderoso (odos Estados Unidos).

As políticasDiante do caos climático, dos colapsos financeiro e ecológico, eda fome que se alastra, os governos que se preparam para aRio+20 estarão ávidos para abraçar uma transformaçãotecnológica (de qualquer cor) que prometa um Plano Bpoliticamente adequado para o planeta. Mas se o de semprenão é uma opção, também governança como de costume não éuma opção. Modelos econômicos novos, mais sustentáveissocial e ecologicamente, são necessários para proteger aintegridade dos sistemas planetários para a nossa geração e asfuturas. Mecanismos antitruste oficiais e inovadores (que aindanão existem hoje) devem ser criados para frear o podercorporativo. Os formuladores de políticas internacionaisdevem conectar a atual desconexão entre soberania alimentar,agricultura e política climática – principalmente apoiando asoberania alimentar como a estrutura geral para tratar dessestemas. Todas as negociações devem ser informadas através daforte participação dos movimentos sociais e da sociedade civil.Na ausência de uma ação ousada dos governos e da criação denovas estruturas de governança, a economia verde perpetuará aeconomia da ganância.

Page 7: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

1www.etcgroup.org

O que está neste relatório e por que

Por onde estivemosPor mais de 30 anos, o Grupo ETC (antes como RAFI)monitorou fusões & aquisições (F&As) de corporações nacadeia agroindustrial de alimentos. Durante os anos 1970,testemunhamos companhias petroquímicas e farmacêuticas(por exemplo, Royal Dutch/Shell, Occidental Petroleum,Ciba-Geigy, Union Carbide, Upjohn Pharmaceutical) tiraremde circulação milhares de pequenas companhias familiares desementes. Nos anos 1980, uma “indústria da vida” tinhasurgido – sementes, agroquímicos, produtos farmacêuticos(tanto para animais como para humanos) – as quais seenredaram ainda mais com o desenvolvimento ecomercialização de biotecnologias patenteadas (engenhariagenética). A concentração corporativa no setor decomercialização de sementes significou uma perda dramáticade diversidade genética, uma vez que as companhias ofereciampara venda apenas as linhas de sementes mais lucrativas eabandonavam o restante. Os regimes de propriedadeintelectual (principalmente patentes e Direitos de Melhoristasde Plantas) logo se estenderam a todos os produtos eprocessos biológicos, premiando ainda mais auniformidade. Com a privatização domelhoramento de plantas, os programaspúblicos de melhoramento minguaram,reforçando a consolidação corporativana indústria de sementes e agroquímica.

Durante os anos 1990, a indústria davida foi sacudida por um númeroestonteante de fusões e aquisições e cisõesde empresas. A Monsanto, por exemplo,tradicionalmente conhecida como umacorporação química, juntou-se com acompanhia farmacêutica Pharmacia & Upjohn (aqual, por sua vez, foi produto de uma fusão em 1995).4 AMonsanto, dois anos depois, foi separada como umacompanhia independente com foco em agroquímicos esementes.

No entanto, acompanhar as fusões e aquisições corporativas émais do que um simples exercício intelectual tedioso. Fusões eaquisições significam dinheiro graúdo trocando de mãos –2009 viu 64.981 negócios de fusões e aquisições em todo oglobo, no valor de 3,6 trilhões de dólares5 – mas as implicaçõesda transferência do capital não podem ser entendidasisoladamente. No início dos anos 1980, por exemplo, era bemsabido que a motivação da indústria petroquímica para suaagressiva década de aquisições de companhias de sementes era avenda casada de sementes e agroquímicos.6 Era uma novatecnologia – especificamente, a engenharia genética de plantaspara tolerar agrotóxicos patenteados – que transformou umavisão em realidade.

Onde estamos e para onde estamos indoHoje, podemos estar à beira do mais ousado e mais ambiciosogolpe corporativo/tecnológico de todos os tempos. Napassagem do milênio, a visão de uma economia com base no

biológico começou a tomar forma: a captura dematéria viva (ou recentemente-viva), referidacomo biomassa, e sua transformação emprodutos de alto valor. A nascenteeconomia da biomassa rapidamenteadquiriu um tom de ‘verde’, prometendoresolver o problema do Pico do Petróleo[pico de produção seguido de queda eesgotamento], deter a mudançaclimática e conduzir a uma era dedesenvolvimento sustentável.

Um diversificado grupo de defensores –governos, corporações, capitalistas de risco,

algumas ONGs – está promovendo as tecnologiasque tornam (ou tornarão) possível converter biomassa emprodutos comerciais. Essas tecnologias incluem a engenhariagenética, a biologia sintética e a nanotecnologia.

As companhias nãoestão mais satisfeitas em

controlar o material genéticoencontrado em sementes, plantas,animais, micróbios e humanos (ou

seja, todas as coisas vivas); elasquerem também controlar acapacidade reprodutiva do

planeta.

Page 8: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?2

Os proponentes argumentam que hoje menos de um quarto dosuprimento de biomassa terrestre anual do planeta chega aomercado comercial, deixando para trás três quartos dela –principalmente no Sul – como uma commodity verde, masmadura, pronta para ser colhida. A apropriação de recursosrefletida nas fusões e aquisições atuais – especialmente no Sul– é amplamente dirigida pela busca para alcançar “segurança dematéria-prima”: a aquisição de recursos naturais estratégicos,que inclui terra arável, commodities tradicionais a granel,minerais e metais de mineração, e, agora, material genérico deplantas para matéria-prima de biomassa.

Muitos dos atores que promovem a bioeconomia tambémquerem mecanismos baseados no mercado para permitir aquantificação e, a seguir, a transformação em mercadoria dosprocessos naturais da Terra, renomeados como ‘serviçosambientais’ (os ciclos do carbono, dos nutrientes do solo e daágua, por exemplo).7O que estamos testemunhando é onascimento de uma indústria da vida altamente expandida. Ascompanhias não estão mais satisfeitas em controlar o materialgenético encontrado em sementes, plantas, animais, micróbiose humanos (ou seja, todas as coisas vivas); elas querem tambémcontrolar a capacidade reprodutiva do planeta.

Na ausência de governança e regulamentação governamentalefetiva e socialmente responsiva, a economia global de basebiológica resultará em maior degradação ambiental, em perdasem precedentes de biodiversidade e no desaparecimento dosbens comuns remanescentes. Ela significa um assalto à vida eaos meios de vida de agricultores em pequena escala, pastores,povos que vivem da floresta e pescadores – as comunidades quealimentam a maioria da população mundial e oferecem nossamaior esperança para combater a mudança climática.

Neste relatório sobre poder corporativo, o Grupo ETC ampliaseu foco tradicional nos setores agroindustrial e da indústria davida para abranger as companhias de bioenergia, de culturasaquáticas, de química e biologia sintética que estão abrindo seucaminho para dentro do grupo da indústria da vida. Tambémexaminamos as companhias de bioinformação, as quaispermanecem principalmente nos bastidores, mas que, apesardisso, são indispensáveis para maximizar a biomassa – e oslucros.

Nota: A ordem de classificação das corporações neste relatóriobaseia-se, em sua maioria, nas vendas de 2009. Usamos as cifrasde 2009 a fim de ter maior consistência, levando em contaatrasos nos relatórios corporativos e variações nas datas deencerramento dos exercícios fiscais. (Nosso último relatórioprincipal sobre tendências no poder corporativo, Who OwnsNature? [Quem é Dono da Natureza?] foi baseado nas vendasde 2007.) Os resultados financeiros de 2009 são dignos de notaporque a crise global do capital está claramente refletida nosnúmeros; vários setores tiveram crescimento muito baixo ouaté mesmo nítido declínio nas vendas comparando com 2008.Mas isso não quer dizer que os principais executivos eacionistas sofreram desnecessariamente; ao contrário, os lucrosdas corporações continuaram a crescer. Relembrando 2009,analistas industriais perceberam com admiração quecompanhias em todos os setores de alguma forma conseguiram“fazer mais com menos” (por exemplo, menos trabalhadores,menos benefícios para os trabalhadores).8Não por acaso, abusca para aumentar as vendas corporativas num mercado emdepressão significou ir atrás de novos consumidores. Capturarmercados emergentes no Sul global – também local dosmaiores estoques de biomassa – permaneceu no topo da listado que fazer das companhias.

Page 9: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

3www.etcgroup.org

Controle da água e da terra

As 10 mais perigosas grilagens legais deterras do mundo desde 2007

Terras de quem?

1. Sudão11

2. Zâmbia3. República Democráticado Congo

4. Uganda5. Paquistão6. Tanzânia7. Filipinas 8. Laos9. Indonésia10. Argentina, Paraguai,Uruguai

Quem está grilando? País / Companhia

Arábia Saudita / Foras International InvestmentCompany. Emirados Árabes Unidos, Egito,Coreia do Sul, Estados Unidos / Jarch Capital

ChinaÁfrica do Sul / Agriculture South Africa. China /ZTEEgitoEmirados Árabes Unidos / AbraajSuécia e Arábia SauditaChina / ZTEChina / ZTEArábia Saudita / Bin LadenGuernsey / Global Farming Limited

Quando?

2009

20092010

200720092008200820072008/92008

Quanto? (Hectares)

~30.000.000

2.000.00012.800.000

840.000324.000900.0001.240.000700.0002.100.0001.230.000

Fontes:GRAIN,ODDO Securities,

Grupo ETC

A demanda por alimento, ração e outras formas de biomassaderivada de plantas – bem como por recursosestratégicos tais como minerais e madeira – estáconduzindo a grilagem internacional legal deterras. O controle dos recursos hídricos éoutro principal condutor. Organizações dasociedade civil documentaram de formaeficiente os perigos da maciça (e emandamento) grilagem legal de terras e de águapor todo o globo (por exemplo, a organizaçãointernacional GRAIN e o Polaris Institute, com sedeno Canadá).

Embora os levantamentos não sejam exaustivos, estima-seque 50-80 milhões de hectares de terra em todo o Sul

global foram alvo de investidores internacionais, edois terços dos negócios de terras estãoocorrendo na África Subsaariana.9 Em 2006,14 milhões de hectares – em torno de 1% dototal de terra arável – era utilizada paraprodução de biocombustível. Um estudoestima que, em 2030, 35-54 milhões de hectares

(2,5-3,8% da terra arável) serão usados paraprodução de biocombustíveis.10

Page 10: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?4

De volta para o futuro? No período em que novas plataformasindustriais envolvendopetroquímicas e eletricidadeestavam ganhando terreno nofinal do século dezenove, orecém-formadoDepartamento de Agriculturados Estados Unidos (USDA,por sua sigla em inglês)revelou seu Selo oficialmostrando um arado com feixesde milho representados nasuperfície de um escudo. Abaixo doescudo, num pergaminho desenroladoestá escrita a afirmação: A agricultura é a base da manufatura e do comércio.

No decorrer do século XX, os petroquímicos e suastecnologias associadas substituíram a agricultura como

base da economia, mas o século XXI pode verum retorno da primazia da agricultura.Contudo, a visão é a de uma agriculturatransformada e transformadora, ondetanto os insumos (isto é, a matéria-primae o processamento da matéria-prima)quanto os produtos são feitos sobmedida para usos industriais específicos.Cultivos que são commodities podemnão ser mais identificados da formatradicional; no futuro, eles serão produtosengenheirados e sob regime de propriedade,

desenhados sob medida para atender àsnecessidades dos processadores industriais de

biomassa – seja para alimento, energia, materiais oufármacos.

As 10 maiores companhias de água do mundo

Companhia

(Sede)1. Veolia Environnement (França)

2. Suez Environnement (França)

3. ITT Corporation (EUA)

4. United Utilities (Reino Unido)(exercício encerrado 31/03/2010)

5. Severn Trent (Reino Unido)(exercício encerrado 31/03/2010)

6. Thames Water (Reino Unido)(exercício encerrado 31/03/2010)

7. American Water Works Company(EUA)

8. GE Water (EUA)9. Kurita Water Industries ( Japão)(exercício encerrado 31/03/2010)

10. Nalco Company (EUA)

O que elas fazem

Fornecimento e gestão de água, gestão de resíduos, energia e serviços de transporte

Fornecimento de água, tratamento de água servida, gestão de resíduos

Fornecimento de água, tratamento de água servida,fornecimento de bombas etc. para manejar água tóxica

Fornecimento de água e tratamento de esgoto

Fornecimento de água e esgoto

Fornecimento de água e tratamento de água servida

Fornecimento de água e gestão de água servida

Tratamento de água, tratamento de água servidaTratamento/recuperação de água/água servida, remediação de solos e água subterrânea

Tratamento de água

Faturamento 2009

(Milhões de dólares)49.519

17.623

10.900

3.894

2.547

2.400

2.441

2.5001.926

1.628

Fontes: Polaris Institute,Global Water Intelligence,

Grupo ETC.

(Somente faturamento relacionado com água)

Page 11: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

5www.etcgroup.org

A grande transformação tecnológica verde ou aeconomia da ganância: mais uma vez fracassando?

O alimento seria fabricado por encomenda e no local – comum mínimo de energia, uma vez que somente as partes deuso final da planta seriam produzidas. O entusiasmo erarespaldado por uma “ciência sólida” – isto é, culturas de“células tronco” de plantas (células meristemáticas)mostravam que era possível. Revistas industriais estavaminundadas por fotografias coloridas brilhantes de feijões ebebidas de proveta.

Mas isso não foi adiante. A vida provou ser maiscomplicada. Na época da Cúpula da Terra de 1992, esse tipode biotecnologia estava sendo engavetada, e as companhiasestavam de volta ao campo e ao laboratório fazendo otrabalho comparativamente enfadonho de desenvolvercultivos geneticamente engenheirados, tolerantes aherbicidas, que aumentariam as vendas de seus químicospatenteados.12

Se foi assim com a biofermentação há um quarto de séculoatrás, será também com a biologia sintética amanhã? Assimilaridades são impressionantes. Agora, os biologistassintéticos prometem que logo serão capazes de pegarqualquer tipo de biomassa e transformá-la em qualquerproduto final, simplesmente jogando o carbono vivo numtanque e deixando seus micróbios (patenteados) fazerem otrabalho. Tudo o que os governos e a sociedade têm a fazer éoutorgar as patentes multigenômicas, a terra e a biomassa, ecolocar seu futuro nas mãos da indústria que já fracassouanteriormente. Ou – mais uma vez – a vida irá provar sermais complexa?

Diante das urgentes crises financeira, de alimentos e demudança climática, o fascínio de um remendo tecnológico équase irresistível: Talvez a nanotecnologia possa reduzir ademanda por matéria-prima e os custos de fabricação; abiologia sintética possa substituir combustíveis fósseis e ageoengenharia possa desviar luz solar e sequestrar gases deefeito estufa. O Estudo Econômico e Social Mundial de2011 das Nações Unidas, The Great Green TechnologicalTransformation [A Grande Transformação TecnológicaVerde], reconhece que as mesmas soluções de sempre nãosão uma opção, mas, apesar disso, propõe que os problemasambientais atuais poderiam ser resolvidos com ‘balas deprata’ tecnológicas. A história sugere que soluções rápidasnão funcionam. A seguir, alguns exemplos recentes dasindústrias de energia/química que ressaltam a necessidadede uma ampla avaliação tecnológica pela sociedade:

A falsa promessaNos anos 1970 e 80, o aspecto promovido da biotecnologianão era a engenharia genética de cultivos, mas o potencialpara utilizar cultura de tecidos e tecnologias debiofermentação para “fabricar” – em tanques em escalaindustrial – as partes de plantas com valor comercial (frutas,nozes ou grãos) ou os compostos químicos únicosassociados com elas (sabores, aromas, etc.). As pequenascompanhias start-up [de risco] da biotecnologia estavamentusiasmadas com a perspectiva de eliminar agricultores eterra agrícola e excluir clima e geografia como fatores naprodução. Café, chá, cacau, baunilha, ervas medicinais e,talvez, algum dia, até mesmo grãos e hortaliças, seriamcolhidos em fábricas em Chicago ou Hamburgo.

Page 12: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?6

Alquimia catalíticaCom o desenvolvimento da catálise industrial no início doséculo passado, o uso de carbono fossilizado se expandiupara além de combustível, fornecendo o ingrediente chavede uma miríade de produtos (por exemplo, plásticos,fármacos, tecidos, etc.). O auge da nova tecnologiaindustrial ocorreu nos anos 1950 e 1960, quandocompanhias como Standard Oil e Mobil (agora fundidas naExxonMobil) inventaram processos industriais que criaramo benzeno, que, por sua vez, levou ao poliéster, fibrasacrílicas (1957), polipropileno (1953), aumentou aprodução de um barril de petróleo em 20% (1963) e – omais significativo – criou novos processos de hidrogênio,que expandiram substancialmente a produção de amôniapara fertilizantes (1962) no momento em que a RevoluçãoVerde se pôs a caminho.13 Cientistas e companhias previram,entusiasmados, que a catálise industrial iria transformar omundo e possibilitar a transformação do petróleo empraticamente qualquer coisa. Governos e indústriainvestiram pesadamente em pesquisa sobre catálise, mas,pelos anos 1970, não estavam nem perto de entender comoa catálise ocorre. Frequentemente descrita como alquimia oubruxaria, a tecnologia revolucionária fracassou, e a atençãoda indústria tomou outra direção. Os processos catalíticoscontinuam a ser parte integrante da indústria petroquímica,e algumas pesquisas prosseguem, mas o “milagre” que umavez se pensou ser capaz de transformar todas as matérias-primas desvaneceu-se.

O mistério ao redor do fenômeno da catálise não é diferentedaquele que hoje rodeia a nanotecnologia. Assim comoreações químicas se aceleram na presença de um catalisador,parecendo mágica, as propriedades dos elementos se alteramà medida que eles se aproximam da nanoescala, e continuamse alterando quanto menores são as partículas. Depois deinvestir mais de 50 bilhões de dólares em nanotecnologia,ainda não há uma definição global, nem um claroentendimento de como os nanomateriais irão se comportar,e nem supervisão regulatória abrangente.14 Ananotecnologia – a tecnologia milagrosa da primeira décadade nosso novo século – pode manter seu lugar nos setores daenergia e da manufatura, mas é improvável que tenha oesperado impacto revolucionário na grande transformaçãotecnológica verde de amanhã.

O esmorecimento da energia eólicaA energia eólica é real e seu potencial é imenso. Mas isso nãoé nenhuma novidade. Os chineses, os persas e os árabesutilizaram a energia do vento durante milhares de anos.Avanços importantes foram feitos pela indústria paramelhorar a eficiência de turbinas eólicas durante o séculoXIX, para desaparecer quando o motor de combustãointerna e a energia hidrelétrica colocaram de lado a noção deautossuficiência energética local.

A crise do petróleo dos anos 1970 trouxe de volta uminteresse por energia eólica juntamente com fartos subsídiosgovernamentais. Os Estados Unidos (especialmente o estadoda Califórnia) e a Alemanha despejaram dinheiro emgigantescos e apressados programas de pesquisa eólica dealta tecnologia, controlados de cima para baixo. Aocontrário, a Dinamarca foi devagar, de baixo para cima, eajustou continuamente os projetos para refletirem asexperiências adquiridas. Entre 1975 e 1988, o governo dosEstados Unidos gastou 427,4 milhões de dólares empesquisa e desenvolvimento em energia eólica – 20 vezesmais que o investimento de 19,1 milhões de dólares daDinamarca; a Alemanha investiu 103,3 milhões de dólares(5 vezes o investimento dinamarquês), mas os fabricantesdinamarqueses fizeram turbinas melhores, fornecendo 45%da capacidade total de turbinas eólicas em todo o mundo em1990.15

No final dos anos 1980, a indústria eólica na Alemanha enos Estados Unidos colapsou sob o peso de sua arrogânciatecnológica. Praticamente as únicas turbinas quepermaneciam em operação na Califórnia, na época daCúpula da Terra, eram dinamarquesas.16 Como diz o ditadodos engenheiros, “Se você quiser uma coisa com muitapressa, você terá uma coisa ruim”.17 Para deixar claro, opotencial para usar energia eólica é substancial, mas éimportante avançar devagar, com cautela e localmente.

Page 13: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

7www.etcgroup.org

Especulação atômicaQuase uma década antes de Rachel Carson escrever o livroSilent Spring [Primavera Silenciosa], o presidente dosEstados Unidos, Dwight Eisenhower, subiu ao pódio daAssembleia Geral das Nações Unidas para anunciar seuprograma “Átomos para a Paz”, para desenvolver usinas deenergia nuclear como uma tecnologia segura e limpa que iriaeletrificar nossas vidas e tirar da pobreza os povos doplaneta. A corrida tinha iniciado. Uma parte da corridaestava relacionada com a governança. Agências da ONU –especialmente a UNESCO – apressaram-se a reivindicarautoridade intergovernamental sobre a energia nuclear, mas,na indecorosa disputa que se seguiu, que durou alguns anos,os Estados Unidos, por fim, optaram por criar a AgênciaInternacional de Energia Atômica. A segunda e maiorcorrida foi para projetar e construir usinas de energia. Aglobalização da energia nuclear foi uma parte importantedas relações públicas na Guerra Fria, e os Estados Unidosencorajaram companhias privadas a adotar o mesmo projetoutilizado por seus submarinos nucleares. Teria sido muitodifícil inventar um projeto menos apropriado do que esse.As características dominantes da tecnologia nuclear desubmarino eram portabilidade e autossuficiência por longoprazo. Portabilidade, obviamente, era irrelevante para usinasnucleares comerciais domésticas. Nos anos 1970, o esquemanuclear estava se desmantelando à medida que os custos deprodução disparavam, as preocupações de segurança semultiplicavam e, pelo menos nos Estados Unidos,adequações retroativas desesperadas de regulamentações –pipocando diariamente – confundiam a indústria.18QuandoChernobyl, em 1986, seguiu Three Mile Island, em 1977, aindústria congelou.

O aquecimento global deu à energia nuclear um novo fôlegona virada do século. Em 2010, 65 países faziam fila pelaenergia nuclear, e a indústria estava prevendo um boom.19

Em 11 de março de 2011, Fukushima mudou tudo. Aarrogância da indústria exacerbou a situação. Descobriu-seque a TEPCO, a companhia que construiu a usina nosmeados dos anos 1960, destruiu 25 metros do quebra-marnatural de 35 metros onde os reatores iam ser colocados,para facilitar a movimentação de equipamentos pesados dosnavios para o local da construção.20 Enquanto a companhiadefendia a decisão de reengenheirar a paisagemargumentando que não houvera precedente histórico deestragos por tsunami na área, um sismologista que investigao desastre ressalta, “Claro que não há registro de grandesestragos por tsunami lá porque havia um alto penhascoexatamente no mesmo local.” Quando o público ficousabendo que um total de 88 das 442 usinas de energianuclear do mundo21 estão construídas sobre linhas de falhassísmicas, o jogo estava acabado. Além da devastaçãohumana, o custo financeiro de uma avaliação tecnológicainadequada para a reconstrução do Japão – como estimadodois meses após o desastre – chegará a pelo menos 124bilhões de dólares.22

Page 14: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?8

A nova galáxia corporativa

Panorama: Quem vai controlar a economia verde?

Biologia sintética

Bioinformática e geração de dados genômicos

“A economia azul”: Biomassa marinha e aquática

Sementes e agrotóxicos

Bancos de germoplasma vegetal

Indústrias de fertilizantes e de mineração

ii

iv

10

16

21

25

31

34

Conteúdo

Page 15: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Silvicultura e papel

Processadoras e comercializadoras de oleaginosas,

grãos e açúcar

As produtoras industriais de alimentos para animais

A indústria farmacêutica veterinária

A indústria da genética animal

A indústria varejista de alimentos

Processadoras de alimentos e bebidas

As indústrias farmacêutica e de biotecnologia

Conclusão

9www.etcgroup.org

37

38

39

40

41

43

46

49

52

Page 16: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?10

Biologia sintéticaO termo biomassa, numa acepçãolimitada, refere-se ao peso da matéria viva(plantas, animais, bactérias, fungos, etc.)encontrada numa área determinada, masé mais frequentemente usado parasignificar material biológico nãofossilizado que pode servir como matéria-prima para a fabricação de produtos de basebiológica. O termo implica um modoparticular de pensar a respeito da natureza: comouma commodity – mesmo antes dela entrar nomercado comercial. Em outras palavras, tudo o que vive é umartigo potencial de comércio. Ao redor do mundo, indústria egovernos estão se voltando para a biomassa – propagandeando-a como uma solução para a mudança climática e também comouma forma de aumentar a produção, especialmente a produçãode energia.

Enquanto isso, o campo da biologia sintética rapidamentesuperou os transgênicos – onde genes singulares sãotransferidos de um organismo para outro (como nos cultivosgeneticamente modificados, por exemplo). As companhias debiologia sintética estão engenheirando DNA sintético paraconstruir, sob medida, algas e micróbios que se comportemcomo pequeníssimas “fábricas biológicas”. O objetivo éconverter quase qualquer biomassa em quase qualquer produto.Com bilhões de dólares de investimentopúblico e privado nos últimos poucosanos (incluindo as maiores companhiasmundiais de energia e química), abiologia sintética vê a biodiversidade danatureza como uma matéria-prima paraseus seres patenteados – organismosprojetados que serão utilizados paratransformar celulose de plantas emcombustíveis, químicos, plásticos, fibras,fármacos e, até mesmo, alimentos –dependendo da demanda de mercado nahora da colheita. Os novos Senhores daBiomassa veem a biologia sintética comoo caminho para uma fonte adicional derenda– um complemento “verde” para aprodução baseada no petróleo ou,possivelmente, a sua substituição numfuturo distante.

Seguindo a rota do dinheiroNos últimos cinco anos, a biologiasintética passou de uma ciência“periférica” – um híbrido de engenharia eprogramação de computadores, bastanteafastada da biologia – para uma área deintenso interesse industrial e deinvestimento. A consolidação é visível na

forma de companhias já estabelecidas de energia,química e farmacêutica comprando, fazendo

investimentos estratégicos em (ou se associando com)companhias que atuam exclusivamente com biologia sintética(syn bio), as quais são, geralmente, empresas start-up operandocom ‘extrema discrição’ (poucas são negociadas publicamente).

A biologia sintética não é um setor tecnológico discreto, masum conjunto de ferramentas que está sendo integrado a muitossetores industriais. Não é fácil tomar as rédeas do mercado dabiologia sintética. A BCC Research avaliou o mercado dabiologia sintética em 2008 em meros 233,8 milhões de dólarese prevê uma taxa de crescimento anual de quase 60%, para 2,4bilhões de dólares em 2013.23

Atores-chave na biologia sintética

Síntese de genes e ferramentas

Agilent Technologies (EUA)

Epoch Life Science, Inc. (EUA)

454 Life Sciences / Roche Diagnostics(EUA)

Geneart / Life Technologies (Alemanha)

febit (Alemanha)

DNA 2.0 (EUA, Suíça)

Blue Heron Biotechnology (EUA)

Sangamo BioSciences (EUA)

Gingko Bioworks (EUA)

Intrexon Corporation (EUA)

GEN9, Inc. (EUA)

Aplicações

Amyris Biotechnologies (EUA)

Genencor / Danisco (agora DuPont)

Sapphire Energy (EUA)

Synthetic Genomics, Inc. (EUA)

Solazyme, Inc. (EUA)

Metabolix (EUA)

Chiron Corporation (agora parte daNovartis Diagnostics Global)

Draths Corporation (EUA)

Evolva SA (Suíça)

Chromatin, Inc. (EUA)

LS9 (EUA)

Page 17: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

A área de aplicações da biologia sintética está explodindo. ADuPont e a ADM, que a adotaram mais cedo, já estãovendendo seus bioplásticos derivados de açúcares de milho. AGenencor, que foi comprada pela DuPont por 3,6 bilhões dedólares em janeiro de 2011, e a Metabolix foram os cérebrosda biologia sintética por trás dos plásticos Sorona (DuPont) eMirel (ADM). A Genencor também tem um acordo emandamento com a Goodyear para desenvolver borrachasintética para pneus. Em aplicações farmacêuticas, a Novartistem grandes planos. Sua aquisição de 2006 – a ChironCorporation – não só detém patentes-chave em biologiasintética, mas também tem uma destacada colaboração com aSynthetic Genomics, Inc. para desenvolver vacinas contra gripe.

Avivando o interesse pela biologia sintéticaNo entanto, a maioria das companhias de biologia sintéticaestão focando em energia ou químicos, ou em ambos.Combustíveis e químicos com base na biologia sintéticageraram 80,6 milhões de dólares em 2008; espera-se que essenúmero cresça para 1,6 bilhões de dólares em 2013, de acordocom a BCC Research.25 A Amyris Biotechnologies e aSynthetic Genomics, Inc. reuniram a maior gama deinvestidores, alianças e atenção do mercado.

A Amyris, em particular, exibe uma lista de parcerias que vai daProcter & Gamble à Shell, Total (petróleo e gás), BungeLtd., Cosan S.A. (Brasil), Mercedes e um grande número decompanhias líderes, apesar de pouco conhecidas, dos setores daquímica, cosméticos, plásticos e perfumes. A SyntheticGenomics, Inc. pode não ter vendido nenhum produto atéagora, mas seu anúncio estrondoso da “Synthia” – uma célulabacteriana autorreplicante com um genoma inteiramentesintético – e a contínua atenção da mídia dirigida ao seufundador, Craig Venter, auxiliaram a empresa a fechar acordos(tanto de investimento de capital como de parcerias parapesquisa e desenvolvimento) com a Exxon, BP e oconglomerado malaio de óleo de dendê Genting Group, emmontantes não divulgados. Em março de 2011, a DowChemical anunciou que iria comprar da Solazyme, com sedena Califórnia/EUA, 20 milhões de galões de óleo sintéticopara aplicações em eletricidade. A Solazyme produz o líquido apartir de algas que se alimentam de açúcares.

11www.etcgroup.org

A Global Industry Analysts, Inc. tem expectativa de o mercadoinchar para 4,5 bilhões de dólares em 2015, observando que oque começou como uma indústria norte-americana e europeiaestá ganhando força no Japão, China e em outros paísesasiáticos24.

A indústria de biologia sintética atualmente se divide em doistipos de companhias: companhias que fornecem DNAsintético e ferramentas para laboratório (reagentes,micromatrizes, “chips” de DNA) e aquelas que usam DNAsintético e ferramentas para projetar, criar, testar ecomercializar organismos engenheirados para aplicações eprodutos destinados ao mercado consumidor.

As partes da vidaEnquanto companhias como a Blue Heron, a febit e a DNA2.0 continuam gerando cadeias cada vez mais longas de DNAsintético como uma mercadoria cada vez mais barata, a novapeso pesado da indústria é a Life Technologies Corporation,formada no final de 2008 pela fusão de duas já poderosascompanhias de ferramentas para laboratório, a AppliedBiosystems e a Invitrogen. Com mais de 3,6 bilhões defaturamento em 2010 e 11.000 empregados ao redor domundo, a Life Tech tem se expandido tanto vertical quantohorizontalmente. A companhia adquiriu uma participação decontrole (75%) na maior companhia de síntese de genes, aGeneart, uma participação acionária na Synthetic Genomics,Inc., adquiriu a Bio Trove e a AcroMetrix (companhias deanálise genotípica e diagnóstico molecular, respectivamente) efirmou um acordo exclusivo com a Novici Biotech, umaempresa de ferramentas de biologia sintética que vende um kitde correção de erro para fabricantes de DNA sintético.

O coringa no kit de “ferramentas” é a Intrexon, umacompanhia privada que afirma ter um amplo acervo de partesmodulares de DNA que podem ser unidas, em escalaindustrial, em sua plataforma “Better DNA” [DNA Melhor].Assim como a Life Tech, a Intrexon foi às compras – adquiriucompanhias especializadas em diagnóstico de doenças (AvalonPharmaceuticals, Inc.) e biotecnologia agrícola (Agarigen) ecriou uma parceria estratégica com a Ziopharm, Inc., empresaque desenvolve medicamentos para o câncer. A start-upGEN9,fundada por eminentes pesquisadores de Harvard, Stanford edo MIT, brotou das cinzas da companhia pioneira de biologiasintética, a Codon Devides, que quebrou em 2009.

Page 18: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?12

As 10 maiores companhias de energia do mundoCompanhia

(Sede)1. Royal Dutch Shell (Holanda)2. ExxonMobil Corporation (EUA)3. British Petroleum (Reino Unido)4. China Petroleum & ChemicalCorporation (China)

5. Chevron Corporation (EUA)6. Total SA (França)7. PetroChina Company (China)8. E.ON AG (Alemanha)9. Petrobras (Brasil)10. Gazprom Oao (Rússia)Total do faturamento das 10 maiores

Faturamento 2009

(Milhões de dólares)278.188275.564239.272192.638

159.293157.673149.213115.772100.88098.135

1.766.628

Fontes: Platts,Grupo ETC

As gigantes globais da energia avançam lentamente para a bioeconomia

Estatísticas da indústria sobre consumo mundial de energia colocam a“economia verde” numa perspectiva muito necessária: em 2010, oconsumo mundial de energia cresceu 5,6% -muito mais rápido do que em qualquerano desde 1973.31Os combustíveisfósseis foram responsáveis por 88%da energia primária mundial(petróleo 34%; carvão 30%; gás24%). A energia nuclear e as“renováveis”, incluindo a hidrelétrica,responderam pelos 12% restantes. As“renováveis” não hidrelétricas (eólica,geotérmica, solar, biomassa e de resíduos) –incluindo biocombustíveis – responderam por 1,8% do consumoglobal de energia. A produção mundial de biocombustíveis cresceu cercade 14% em 2010 – mas foi responsável por apenas meio por cento doconsumo global de energia primária.32 As 10 principais companhias deenergia do mundo foram responsáveis por 25% dos estimados 7trilhões de dólares do mercado de energia. Muitos dos maioresempreendimentos mundiais em energia são de notórios investidoresem biologia sintética. Eles não buscam somente uma imagem maislimpa e mais verde; eles acreditam que lucros futuros irão dependerda diversificação e do controle das matérias-primas de base biológicapara a produção de energia.

As mais açucaradas

Principais companhias de químicos e biomateriais renováveisem 2011-12, segundo o Biofuels Digest 26

Principais companhias de bioenergia em 2011-12, segundo o Biofuels Digest 27

1. Genomatica

2. Solazyme

3. Amyris

4. Gevo

5. LS9

6. DuPont

7. Codexis

8. Genencor

9. Novozymes

10. ZeaChem

11. Cargill

16. Dow Chemical

20. DSM

25. DuPont Danisco

1. Amyris

2. Solazyme

3. POET

4. LS9

5. Gevo

6. DuPont Danisco

7. Novozymes

8. Coskata

9. Codexis

10. SapphireEnergy

18. Genencor(DuPont)

30. SyntheticGenomics

35. ExxonMobil

48. Chevron

49. Monsanto

A publicação especializada em rastrear a indústria, o Biofuels Digest, lista asprincipais companhias nos setores de químicos e materiais de base biológicae biocombustíveis, entre as quais inclui não só as start-ups de alta tecnologia,como a Amyris, Solazyme, etc, mas também os maiores atores corporativosdo mundo, como ExxonMobil, Monsanto, Cargill, DuPont e Dow.

Page 19: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

13www.etcgroup.org

As 10 maiores companhias químicas do mundo

Companhia

(Sede)1. BASF (Alemanha)2. Dow Chemical (EUA)3. Sinopec (China)4. Ineos Group (Inglaterra)5. ExxonMobil (EUA)6. DuPont (EUA)7. Formosa Plastics Group (Taiwan)8. Royal Dutch/Shell (Holanda)9. SABIC (Arábia Saudita)10. Total (França)Total das vendas das 10 maiorescompanhias

Vendas globais das 50 maiores em 2009

Venda de químicosem 2009

(Milhões de dólares)54.81744.87531.31228.60026.84725.96025.43724.43723.09620.521305.902

697.000

% sobre asvendastotais

globais

Fonte:Chemical &Engineering

News

Matérias-primas biológicas para aprodução química industrialAs 50 maiores corporações químicas do mundocontrolam um mercado global avaliado em 697bilhões de dólares em 2009. As 10 principaisempresas químicas responderam por cerca de 40%do mercado. “Petroquímicos”, por definição, sãoderivados de petróleo e deoutros combustíveisfósseis. Com custosexorbitantes,fornecimentosimprevisíveis eextrações maisdesafiadoras, aindústria já estáfazendo umatransição depetroquímicos para matérias-primas da biomassa.(Em 2010, as 50 maiores companhias químicas domundo recuperaram-se com vendas combinadas deaproximadamente 850 bilhões de dólares, umaumento de 25,3% em relação a 2009.33)

7,8%6,4%4,4%4,1%3,8%3,7%3,6%3,5%3,3%2,9%

43,5%

A transformação da agricultura comercial?Enquanto a agricultura já é importante no mundo da biologiasintética – como uma consumidora de matéria-primaagrícola – a agricultura em si é também um alvocrescente para aplicações da biologia sintética.Tanto a Solazyme como a SyntheticGenomics estão engenheirando algas paraproduzir um substituto para o óleo dedendê. A pesquisa da Solazyme é emcolaboração com a Unilever, a qualtambém investe na companhia, juntocom a gigante do agronegócio BungeLtd. e a japonesa San-Ei Gen (umafabricante líder de ingredientes paraalimentos). No início de 2011, a companhiasuíça Evolva anunciou uma nova parceria com aBASF para produzir agroquímicos. Semanas depois,a Evolva anunciou que iria comprar a Abunda Nutrition, suacolaboradora em pesquisa e desenvolvimento para produzirsinteticamente ingredientes como a baunilha.

Não foi a primeira vez que pesquisadores tentaram empregarnovas tecnologias para substituir commodities naturaistropicais de alto valor.28 Em março de 2011, a Monsanto

anunciou que iria tanto investir em quanto colaborarcom a Sapphire Energy, empresa com sede nosEUA, uma outra produtora de óleo de algas.A Monsanto está interessada em algasdevido ao seu potencial para aplicações naagricultura, na forma de traçosgenéticos.29O diretor executivo daSapphire, Jason Pyle, explica os atrativosdessa parceria para sua companhia: “Amaior coisa que a Monsanto traz é queela solidifica nossa hipótese de que [pararesolver o problema dos combustíveis

fósseis] é preciso expandir a base de recursos.Não pode ser simplesmente transformar uma

coisa em outra. É preciso criar uma nova agriculturacomercial.”30

Os novosSenhores da Biomassa

veem a biologia sintética comoo caminho para uma fonte

adicional de faturamento – umcomplemento “verde” para a

produção baseada no petróleoou, possivelmente, a suasubstituição num futuro

distante.

Page 20: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?14

Tamanho dos mercados globais por setor, 2009 (em dólares)

Gastos em vendas de alimentos no varejo: 7 trilhões 180 bilhões Energia: 7 trilhões Químicos: 2 trilhões 935 bilhões

Alimentos embalados: 1 trilhão 375 bilhõesFármacos: 837 bilhões

Mineração: 386 bilhões Silvicultura: 318 bilhões

Fertilizantes: 90 bilhõesAgroquímicos: 44 bilhõesSementes: 27 bilhõesFarmacêutica veterinária: 18 bilhões

As Fontes para o tamanho dos mercados estãoindicadas nas análises individuais por setor

deste relatório.

A sabedoria convencional diz que o tamanho do mercadoglobal de energia alcança 7 trilhões de dólares e tornapequeno qualquer outro setor econômico. De acordo comnossa pesquisa, contudo, o mercado global de alimentos novarejo supera o de energia – mesmo levando em contasubsídios pagos pelo governo para produtores de energia eagricultura. De acordo com a Organização para aCooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD, porsua sigla em inglês), os subsídios globais para a produção decombustível fóssil são de cerca de 335 bilhões de dólares

(com os países em desenvolvimento respondendo pela maiorparte); países da OECD, que respondem pela quasetotalidade dos subsídios globais para agricultura, pagaram253 bilhões de dólares em “apoio a produtores” em 2009.Não é de surpreender, então, que os atuais Senhores daBiomassa estejam agora focados em explorar aspossibilidades de lucro oferecidas pelo casamento, naeconomia verde, de agricultura e produção de energia.

Page 21: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

15www.etcgroup.org

Verde jurássico

O retorno dos dinossauros: de novo?Wall Street descreve a indústria de energia como a “mãe detodos os mercados”. Até uns 200 anos atrás, contudo, aindústria de energia e a indústria de biomassa eramessencialmente uma só. Aquecíamos nossas casas com lenha;o combustível de nossos cavalos e bois era pasto; eiluminávamos nossos caminhos com gordurade baleia. A máquina a vapor e, depois, omotor de combustão interna moveramo mercado de energia do carbonovivo para o carbono fossilizado,com o carvão e depois com opetróleo e o gás natural, tomandoo lugar central em nossaeconomia, que é qualquer coisamenos verde. O que quer quenossos campos e florestaspudessem fazer, nós descobrimos,podia ser feito por dinossauros e peloalimento que eles uma vez consumiram(ou seja, carbono antigo).

Mas a indústria de energia (incluindo a indústriapetroquímica) nunca perdeu o interesse no carbono vivo eem fontes “alternativas” de energia. A ExxonMobil (entãoStandard Oil de New Jersey) se posicionou para controlarinsumos agrícolas transformando postos de gasolina emcentros de suprimentos agrícolas incluindo fertilizantes equímicos. Com a crise do petróleo no início dos anos 1970,a Shell Oil, a Occidental Petroleum, a Atlantic Richfield e aUnion Carbide se moveram todas para o mercado desementes. No final dos anos 1970 e início dos anos 1980, aShell comprou mais de 100 companhias de sementes e, porum curto tempo, tornou-se a maior empresa multinacionalde sementes do mundo.34Nos primórdios da biotecnologia,companhias petroquímicas e farmacêuticas buscaram novasformas de monopolizar o carbono vivo, menos através docontrole de cultivos, e mais através de processos debiofermentação, que, elas teorizavam, moveriam a produçãoagrícola dos campos para as fábricas.

Estimulado pelas crises do petróleo e pelas previsões doClube de Roma em Os limites do crescimento [Limits toGrowth], o mercado de energia também se moveu para asenergias eólica e nuclear.

Nos meados dos anos 1980, já tinha definhado a primeiraeconomia verde do setor de energia. Os preços do petróleocaíram; a biofermentação se mostrou prematura ouimpossível; a energia eólica fracassou em ganhar maiorescala, e a energia nuclear encalhou com os acidentes deThree Mile Island e Chernobyl. (Ver quadro A grandetransformação tecnológica verde, página 5) As principaispetroleiras jogaram fora as sementes e foram paraperfurações em mar profundo. Somente companhias

químicas como a Monsanto e a DuPont (e,mais tarde, a Syngenta) ficaram paracolher os lucros monopólicos dautilização de biotecnologia parafundir suas vendas de agrotóxicos esementes.

Mas agora elas estão de volta. Acombinação de fatores como oPico do Petróleo [o esgotamentodas reservas de petróleoexploráveis], o derramamento depetróleo da BP e, especialmente, oalarme sobre os gases de efeito estufa

e a mudança climática tornou alucratividade futura do carbono fóssil

mais desafiadora, e, assim, os dinossauros estãoretornando ao seu habitat histórico. Qualquer coisa

que o carbono fóssil possa fazer, eles nos asseguram, ocarbono vivo pode fazer também. Em vez de biotecnologia ebiofermentação, há agora a biologia sintética prometendoconverter qualquer tipo de biomassa em qualquer tipo deplástico, químico, combustível ou (até mesmo) alimento.Entra em ação a economia verde 2.0... ou a economia daganância multiplicada por dois. Os lucros potenciais defundir carbono fóssil e carbono vivo são enormes. Omercado de energia tem um peso de cerca de 7 trilhões dedólares ao ano, mas a economia da agricultura/biomassaregistra pelo menos 7,5 trilhões de dólares em vendas anuais.Wall Street se enganou: se a energia é a Mãe de todos osmercados, a agricultura (ou biomassa) é seu alimento.

A combinação defatores como o Pico do

Petróleo, o derramamento depetróleo da BP e, especialmente, o

alarme sobre os gases de efeito estufa ea mudança climática tornou a

lucratividade futura do carbono fóssilmais desafiadora, e, assim, osdinossauros estão retornando

ao seu habitat histórico.

Page 22: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?16

Dez anos atrás, o primeiro genoma humano foisequenciado e publicado em forma de rascunho– uma proeza que levou dez anos, milhares depesquisadores e 2,3 bilhões de dólares. Em2008, o genoma de James Watson tornou-se oprimeiro genoma humano a ser sequenciadopor menos de 1 milhão de dólares (e um demuitos “genomas de celebridades” que seseguiram).

No início de 2011, o diretor executivo daComplete Genomics Inc. afirmou que suacompanhia está sequenciando mais de 400genomas por mês, e espera se “aproximar de1.000 genomas por mês” no final de 2011.36 Acompanhia está oferecendo seu serviço desequenciamento de genoma humano por9.500 dólares por genoma (com um pedido

mínimo de oito genomas).

Bioinformática e geração de dados genômicos

Quem ficou com a biomassa? Atualmente, satélites e aeronaves estão sendo utilizados paramapear e monitorar a biomassa tropical de formas antesinimagináveis. Câmeras montadas em aviões podem utilizar“imagem hiperespectral” para analisar comprimentos deondas visíveis e infravermelhas que revelam variaçõesna vegetação.37Medições exatas de luz expõemnutrientes do solo identificando nãosomente o tipo de vegetação na superfície,mas também o que está oculto abaixo. Atecnologia foi originalmentedesenvolvida para achar lugares deenterro de humanos, mas se ramificoupara servir a uma variada gama deinteresses, de arqueólogos à CIA, e agorafacilita a privatização e comercialização debiomassa.

Em setembro de 2010, a Carnegie Institution, daUniversidade de Stanford, anunciou que, em colaboraçãocom o World Wildlife Fund [WWF] e o governo peruano,mapeou mais de 16.600 milhas quadradas da florestaamazônica, equivalentes quase à área da Suíça.38 Enquantosatélites mapeavam a vegetação e registravam perturbações,uma aeronave, dispondo da tecnologia LiDAR [lightdetection and ranging, por sua sigla em inglês - detecção deluz e suas variações] patenteada pela Carnegie, criava mapas3-D (tridimensionais) da estrutura da vegetação da área.Cientistas converteram os dados estruturais em dados sobredensidade de carbono, auxiliados por uma modesta rede deparcelas piloto no solo. O novo sistema da Carnegiecombina os dados geológicos, de uso da terra, e de emissõespara informar ao governo do Peru – e a qualquer outro comacesso aos dados – que o estoque total de carbono florestalda região pesa cerca de 395 milhões de toneladas, comemissões de cerca de 630.000 toneladas por ano.

(A estimativa do Painel Intergovernamental sobre MudançaClimática [IPCC, por sua sigla em inglês] para o estoque decarbono na área mapeada foi de 587 milhões de toneladas.)O sistema é também barato. O mapa do Peru custa 8

centavos de dólar por hectare, e um mapa similar emMadagascar custou somente 6 centavos de dólarpor hectare.39

São enormes as implicações debiopirataria dessas novas tecnologias demapeamento /monitoramento. Aspossibilidades mais imediatas incluemidentificação aérea de cultivos e animaisde criação com traços genéticos únicosou marcadores de DNA específicos e (demaneira importante para comunidades

indígenas e locais) a oportunidade de marcar alocalização de solos, micróbios ou plantas que

ofereçam usos industriais. Ou seja, depois de localizada eembolsada, a biodiversidade e a terra onde ela está podemser usadas para outras finalidades. Pode ser possível para aindústria ou governos escolher a dedo a biodiversidade queno momento consideram como importante, enquantodepreciam e descartam o restante. Além disso, a tecnologiapode permitir o rastreamento das pessoas nas florestas,influenciando negociações de direitos sobre a terra. Ahabilidade para avaliar a totalidade da biomassa colocarácombustível nas tentativas de manejar o ambiente e o climaatravés de planos de “serviços ambientais” baseados nomercado tais como o REDD (Iniciativa de Colaboração dasNações Unidas na Redução de Emissões por Desmatamentoe Degradação de Florestas).

“A vida é sequência.

A vida é digital.”

Dr. Huanming Yang, cofundador daBGI, com sede na China, o maiorcentro de sequenciamento de

genoma do mundo.35

Page 23: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

17www.etcgroup.org

A ‘magia’ bioinformática, apesar de seu ritmo e escala notáveis,não está isenta de complicações. Bruce Korf, o presidente doAmerican College of Medicine observa, “Estamos perto de teruma sequência de genoma por 1.000 dólares, mas isso pode viracompanhado por uma interpretação de 1.000.000 dedólares.”40 Em outras palavras, para que serve uma leitura de seugenoma pessoal se ninguém sabe o que ela significa? Quando ofundador da Helicos Biosciences sequenciou seu própriogenoma, em 2009, o editor da Bio-IT World observou queforam necessários mais de 30 especialistas para comentar einterpretar os resultados. E apesar do sequenciamento de genesestar muitíssimo mais rápido e mais barato, ele está muitolonge de ser perfeito. Um estudo recente revela mais de 1,1milhões de erros de sequência na mesma amostra de DNAhumano utilizando-se duas plataformas diferentes desequenciamento.41

A genômica é apenas uma parte de um setor muito maior deciências da vida – um setor que depende de tecnologias quegeram, armazenam, processam e analisam informações. Querseja usado para a genômica pessoal, para a biologia sintética, abiotecnologia agrícola, a bioenergia ou o desenvolvimento demedicamentos, o denominador comum são volumes imensosde dados biológicos. A bioinformática refere-se aogerenciamento e análise de dados biológicos utilizando técnicasde computação.

Principais atores na geração de dados de DNACompanhia

(Sede)

Danaher (EUA)

Roche Diagnostics /454(Suíça)

Agilent Technologies(EUA)

Vendas em 2009

(Milhões de dólares)

13.200

9.700

4.500

Comentário

Vende “produtos bioanalíticos que detectam biologia, decodificam dados e levama descobertas”. Adquiriu a MDS Analytical Technologies em 2009; adquiriu a Beckman Coulter por 6 bilhões de dólares em 2011.

A Roche adquiriu a 454 Life Sciences em 2007. Em 2010, a Roche e a IBManunciaram uma colaboração para desenvolver a próxima geração de tecnologiade sequenciamento por nanoporos, conhecida como “sequenciamento pormolécula única”.

Fornece ferramentas para medições eletrônicas e bioanalíticas. Em abril de 2011,anunciou uma associação multimilionária (na forma de financiamento,conhecimentos e infraestrutura) com o novo Synthetic Biology Institute (SBI),da Universidade da Califórnia em Berkeley.

Com avanços rápidos em tecnologias de sequenciamento ecomputação mais potente, as linhas entre desenvolvimento demedicamentos, bioinformática, sequenciamento e diagnósticoestão se confundindo. A Roche e a IBM anunciaram, em 2010,uma aliança para desenvolver a próxima geração desequenciamento de DNA baseado em “nanoporos” – ondemoléculas de DNA são alinhadas através de um poro em escalananométrica em um chip de silício para sua decodificação.Nessa aliança, a IBM contribui com conhecimento emtecnologia da informação, microeletrônica e biologiacomputacional, e a Roche contribui com conhecimento emdiagnóstico médico e sequenciamento de genoma.42

Companhias conhecidas principalmente como fabricantes deinstrumentos estão adquirindo empresas que desenvolvemmedicamentos – tal como na aquisição, em 2008, da AppliedBiosystems pela Invitrogen para formar a Life Technologies,Inc. As gigantes farmacêuticas estão se associando comempresas líderes de sequenciamento de DNA, como nacolaboração da Merck com a chinesa BGI – o maior centro degenoma do mundo. Companhias de genômica estão seassociando com laboratórios de biologia sintética. De acordocom o diretor executivo da Agilent, “A biologia sintética,potencialmente, pode ter um impacto tão profundo no séculoXXI quanto o que a tecnologia dos semicondutores teve noséculo XX.”43 A tabela abaixo mostra algumas das empresaslíderes na geração de dados de DNA.

Page 24: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?18

Companhia

(Sede)

Life Technologies (EUA)

PerkinElmer Life andAnalytical Sciences,Inc. Subsidiária daPerkinElmer (EUA)

BGI (antes BeijingGenomics Institute)(China)

Bio-Rad (EUA)

Illumina (EUA)

Affymetrix (EUA)

Caliper Life Sciences(EUA)

Vendas em 2009

(Milhões de dólares)

3.300

1.800(toda a

companhia)

Não disponível

1.800

662

327

130

Comentário

A Invitrogen e a Applied Biosystems fundiram-se em 2008 para formar a LifeTechnologies. Adquiriu a Ion Torrent’s Personal Genome Machine em 2010.

Fornece descoberta de medicamentos, pesquisa genética e instrumentação paraanálises químicas, reagentes e serviços para pesquisa científica e aplicações clínicas.Vende serviços de sequenciamento de genes usando o sistema Illumina’s HiSeq2000. Em maio de 2010, adquiriu a SGL Newco, Inc., a companhia-mãe daSignature Genomic Laboratories, LLC.

Maior centro genômico do mundo, fundado em 1999. De propriedade privada;emprega 3.000 pessoas em seus cinco centros na China continental e três centrosinternacionais. Tem 128 sequenciadores em sua unidade de Hong Kong. A BGItem capacidade de sequenciamento maior do que todas as unidades acadêmicas dosEstados Unidos juntas.44 Vende sequenciamento, bioinformática, serviços dediagnósticos; atua em biocombustíveis e agricultura. Em meados de 2010, a BGI ea Merck anunciaram colaboração entre si.

Seu grupo Life Science Group desenvolve, fabrica e vende instrumentos delaboratório, equipamentos, e produtos utilizados para pesquisa em genômicafuncional, proteômica e segurança de alimentos.

Fornece tecnologias para estudo de variações e funções genéticas; ferramentas para análise de DNA, RNA e proteína para pesquisa de doenças,desenvolvimento de medicamentos e desenvolvimento de testes clínicosmoleculares.

Fornece ferramentas para análises genômicas e reagentes para descoberta, exploração,validação e testes genéticos.

Fornece instrumentos, software e reagentes, ferramentas de automação de laboratórioe serviços analíticos para companhias farmacêuticas e de biotecnologia, paradiagnósticos e descoberta de medicamentos.

Novas empresas start-up desenvolvendo tecnologias de sequenciamento de “terceira geração”Complete Genomics(EUA)

Pacific Biosciences(EUA)

Oxford NanoporeTechnologies (Reino Unido)

Helicos Biosciences(EUA)

0,6

0,1

Não disponível

Não disponível

Iniciou suas operações comerciais em maio de 2010; vende serviços desequenciamento através de um centro genômico em escala comercial.

Está desenvolvendo uma “tecnologia de sequenciamento de terceira geração” que,como anunciado, pode analisar uma única molécula de DNA.

Está desenvolvendo uma plataforma tecnológica patenteada para análise demoléculas unitárias; aplicações potenciais incluem sequenciamento de DNA,análise de proteína para desenvolvimento de medicamentos ou diagnósticos,defesa, monitoramento ambiental, etc.

Abriu o capital em 2007; moveu ação em 2010 contra a Pacific Biosciences porinfringência de patente.

Page 25: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

19www.etcgroup.org

Companhia

(Sede)

GeneArt AG (Alemanha)www.geneart.comwww.lifetechnologies.com

Blue Heron Biotech (EUA) www.blueheronbio.comwww.origene.com

DNA 2.0 (EUA)www.dna20.com

GenScript (EUA)www.genscript.com

Integrated DNA Technologies (EUA) www.idtdna.com

Bio S&T (Canadá) www.biost.com

Epoch Biolabs (EUA) www.epochbiolabs.com

Bio Basic, Inc. (Canadá) www.biobasic.com

BaseClear (Holanda) www.baseclear.com

Comentários

Desde abril de 2010 a Life Technologies Corp., com sede nos EUA, é a acionista majoritária daGeneArt AG.

Fundada em 1999; em agosto de 2010, a Blue Heron tornou-se uma subsidiária integral da OriGeneTechnologies, Inc. – “uma companhia genocêntrica de ciências da vida”.

Fundada em 2003; empresa privada.

Empresa privada; vende serviços que incluem biorreagentes, biotestes, processos de otimização edesenvolvimento de drogas de anticorpos.

Fundada em 1987; fabrica e desenvolve produtos para pesquisa e diagnóstico no mercado dasciências da vida.

Empresa privada; vende produtos e serviços em pesquisa genômica.

Desenvolve e vende reagentes para isolamento, expressão, análise e purificação de genes e seusprodutos de proteínas.

Fundada em 1990; empresa privada. Produtos/serviços que incluem oligoelementos sob medida;síntese de genes; síntese de peptídeos; sequenciamento de DNA; purificação/expressão deproteínas.

Pesquisa genômica; processa amostras usando o NimbleGen SeqCap EZ, da Roche, e o HiSeq2000,da Illumina, (as duas principais plataformas de sequenciamento).

Companhias de comercialização de síntese de genesHá centenas de companhias que se especializaram na comercialização de síntese de DNA.Em 2008, o Grupo ETC compilou uma lista das companhias líderes (ver abaixo). Duasdas companhias (GeneArt AG e Blue Heron Biotech) foram recentemente adquiridas porcompanhias maiores do setor de ciências da vida.

O grande dilúvio de dados

O grande acúmulo de dados [Big Data é aexpressão em inglês] não é apenas umjargão de uso comum no Vale do Silício;é um desafio colossal para ascompanhias de ciências da vida (emuitos outros setores industriais). Odesafio é armazenar, gerenciar e analisarvolumes maciços de dados desequenciamento de DNA que jorram desequenciadores e ferramentas genômicascada vez mais rápidos e mais baratos– egarimpar essa informação para encontrar valorcomercial (seja para fármacos, agricultura, energia, etc.).

O genoma humano contém cerca de 3 bilhões de letras deDNA – aproximadamente igual ao tamanho da

versão em língua inglesa da Wikipedia.46Umcomputador sozinho pode processar um sógenoma (são necessários uns 3 gigabytes deespaço de armazenamento de dados nocomputador – 1 gigabyte é igual a1.000.000.000 de bytes). Mas nãodemorará até que uma só máquina desequenciamento gere 100 gigabytes dedados em poucas horas.47Os chamadossequenciadores de DNA da próximageração podem despejar entre 90 e 95bilhões de bases numa só operação.48 Para

analisar um genoma, contudo, é necessáriolocalizar variações genéticas e comparar os resultados

com outros genomas.

“Os dados seacumulam tão rápido que

os biólogos não têm ideia decomo gerenciar esses dados.”

- Guoquing Li, diretor associado,Departamento de Bio-

Computação em Nuvem dachinesa BGI – o maior centro

de genômica domundo.45

Page 26: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Entretanto, em função da preocupação da indústria com asegurança de dados e com a propriedade intelectual, as maiorescompanhias estão optando por estabelecer suas nuvensprivadas com sistema de proteção firewall [servidor desegurança] e contratam aplicações e serviços baseados emnuvem conhecido com SaaS, em inglês “software-as-a-service”[software como um serviço]. De acordo com um analista daindústria, o mercado mundial para serviços em nuvem(incluindo infraestrutura, plataforma e software) explodirá de58 bilhões de dólares em 2009 para 149 bilhões de dólares em

2014.50

A computação em nuvem começou a seexpandir quando o Google desenvolveu oMapReduce, um programa de softwarepatenteado que fragmenta grandesconjuntos de dados em segmentosmenores e oferece suporte para análise degrandes conjuntos de dados através degrupos de computadores em rede. Deacordo com alguns analistas, umatecnologia de fonte aberta chamadaHadoop (desenvolvida pelo Yahoo) é “aprincipal tecnologia para armazenamentoe processamento de grandes quantidadesde dados não estruturados”53 e foi umelemento-chave em habilitar/possibilitara computação em nuvem para as ciênciasda vida (obviamente empregandoprogramas e serviços patenteados parauso na plataforma Hadoop).

A empresa líder em computação em nuvem é a Amazon WebServices; outros grandes atores no gerenciamento de“ecossistemas” de informação incluem o Google, Microsoft,IBM e Hewlett Packard. Atores menores incluem empresasnovatas como a Bio Team, Cloudera, Cycle Computing e GenoLogics.

Quem vai controlar a economia verde?20

A avalanche de informação biológica está criando uma grandedor de cabeça para as companhias que não têm a capacidadecomputacional para dar sentido aos dados. Antes, um terabyteera considerado uma quantidade gigantesca de dados, masagora as companhias estão manejando dados em magnitude demultiterabytes e multipetabytes, que requerem umgerenciamento mais sofisticado. (1 terabyte é 1 trilhão de bytesde dados; 1 petabyte é 1 mil terabytes – o nº 1 seguido de 15zeros.) Como colocado pela IBM, “não existe essa coisa decapacidade infinita, mesmo com avanços dos meios dearmazenagem e de gerenciamento”.49 Essaé a razão pela qual estamos vendo osurgimento de empresas dedicadas afornecer “tecnologias de infraestrutura deinformação”.

Até recentemente, séries maciças dedados eram gerenciados porsupercomputadores e conjuntos decomputadores (envolvendo grupos decomputadores conectados em rede).Hoje, variadas formas de computação em“nuvem”, apoiadas por sofisticadosserviços de software, estão se tornando onovo modelo de negócio para gerenciarem alta velocidade os grandes volumes dedados.

Com a computação em nuvem, qualquercomputador conectado à internet podeacessar o mesmo conjunto de capacidadede computação, aplicativos e arquivos. Acomputação em nuvem descentraliza a capacidade decomputação porque qualquer um com um cartão de créditopode solicitar o hardware e o software necessários paraprocessar ou armazenar seus dados, e mandá-los de volta para anuvem quando o trabalho estiver concluído. Ao invés deconstruir uma infraestrutura de computação própria, umcrescente número de companhias de ciências da vida e debiotecnologia e institutos acadêmicos e científicos estãoterceirizando suas necessidades de processamento earmazenamento de dados para companhias de serviços emnuvem (conhecidas como IaaS, em inglês “infrastructure-as-a-service” [infraestrutura como um serviço]).

Quão grande? A empresa start-up Cycle Computingrecentemente forneceu serviçoscomputacionais para aGenentech/Roche para oprocessamento de dados sobre análisesde proteínas. Para realizar a tarefa, aCycle Computing estabeleceu umanuvem com capacidade de computaçãosuperior à do computador classificadono 115º lugar da lista dos 500 maioressupercomputadores do mundo.51 Aoperação de processamento durou oitohoras, utilizou 10.000 redes centrais decômputo, 1.250 servidores, eaproximadamente 8,75 Terabytes dememória RAM agregada entre todas asmáquinas.52

Page 27: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

21www.etcgroup.org

“A economia azul”: Biomassa marinha e aquática

Ecossistemas aquáticos e a bioeconomia A biomassa que se encontra nos oceanos e ecossistemasaquáticos representa 71% da área da superfície do planeta.Essa é a razão pela qual os Senhores da Biomassaestão de olho na fronteira selvagem e úmidapara encontrar novos açúcares e óleos paraabastecer a economia de base biológica.De fato, os países marítimos já estãopromovendo a equivalente aquáticada economia verde: a chamadaeconomia azul, na qual produtosnaturais provenientes do oceano são“sustentavelmente” explorados parapromover o crescimento econômico.Pequenos países insulares podem não termuita terra, mas alguns veem suas extensascostas e mar territorial (zona econômicaexclusiva) como riqueza potencial para a produção debiomassa. Como o representante de Fiji recentementelembrou aos delegados no encontro preparatório para aRio+20, “não somos nações de ‘pequena ilha’, mas naçõesde ‘enorme oceano’”.54

Atualmente, não há uma indústria consolidada de “biomassaaquática”. Entretanto, três setores industriais estão bemposicionados para ingressar nesse campo: 1) o de algas(principalmente algas marinhas); 2) o da aquicultura; e 3) o da

pesca comercial.

O setor de algas e algas marinhasCompanhias que cultivam algas marinhas ealgas são os desenvolvedores mais ativosde biomassa aquática. A produçãocomercial global de todas as algas foi dequase 16 milhões de toneladas em 2008,num mercado que vale 7,4 bilhões dedólares e que cresce perto de 8% ao ano– quase todo ele (99,6% em quantidade)corresponde a algas marinhas.55 Enquanto

as algas marinhas, atualmente, são colhidasprincipalmente como fonte de alimento (por

exemplo, nori e wakame) ou para extratos industriaisconhecidos como hidrocoloides (agentes espessantes como,por exemplo, carraginatos, goma xantana e alginatos), asmicroalgas são ainda um mercado muito pequeno – a maiorparte é destinada para ingredientes de alimentos e raçãoanimal.

As algas são atrativas como fonte de biomassa industrial porvárias razões:

• Algas crescem extremamente rápido. Alguns tipos de algaskelp chegam a crescer 60 centímetros por dia; microalgaspodem dobrar de peso diariamente.

• Algas são uma fonte de carboidratos (açúcares), mas nãocontêm substâncias difíceis de romper quimicamente como alignina.

• Algas têm alta produtividade em espaços reduzidos.Variedades selvagens de alga marinha marrom podemproduzir entre 16-65 kg de biomassa por metro quadrado porano. Em contraste, os cultivos terrestres mais produtivos,como a cana-de-açúcar, produzem somente 6-18 kg debiomassa por metro quadrado por ano.56

• Microalgas produzem óleos valiosos que compõem cerca deum terço de sua massa.

A economia azulA biomassa marinha e aquática recuperável (incluindo abiomassa em lagos, rios e estuários costeiros) para usoindustrial inclui tanto animais como plantas. Os animais são,principalmente, peixes, incluindo cetáceos (mamíferosadaptados à vida marinha – em torno de 0,8-2 bilhões detoneladas globalmente, por ano) bem como crustáceos comocamarões e krill. As plantas marinhas são, na maior parte, algas,incluindo algas marinhas (macroalgas) e plâncton verdeazulado (microalgas). O termo microalgas geralmente se referea algas não visíveis a olho nu. Outra fonte de biomassa vegetalmarinha são as “halófitas” – isto é, plantas tolerantes ao sal taiscomo o mangue ou a erva salicórnia, pela qual há um crescenteinteresse industrial.

Page 28: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?22

Das algas marinhas aos biocombustíveisA ideia de transformar algas marinhas em biocombustíveis temuma longa história, mas pouco sucesso comercial. Maisrecentemente, numerosas empresas start-up e novas iniciativastêm por objetivo colher algas marinhas para transformar emcombustível. Por exemplo:

• Em 2007, a Mitsubishi Heavy Industries propôs um projetoem larga escala (10.000 quilômetros quadrados) na costa doJapão para colher sargaços em redes e produzir etanol.Segundo informes, a iniciativa é apoiada por outras empresasindustriais, incluindo NEC Toshiba Space Systems,Mitsubishi Electric, IHI, Sumitomo Electric Industries,Shimizu Corporation, Toa Corporation e Kanto Natural GasDevelopment Co., Ltd.59

• A Bio Architecture Lab (BAL), companhia de biologiasintética com sede nos Estados Unidos, está desenvolvendofazendas de algas marinhas para etanol no Chile, emcolaboração com a companhia chilena de petróleo, ENAP,enquanto também faz acordos com a gigante petrolíferaStatoil para desenvolver uma segunda fazenda de algasmarinhas para etanol na Noruega.60

• A BAL também está associada com a gigante químicaDuPont para transformar algas marinhas em isobutanol (umcombustível mais rico em energia do que o etanol).61

• Uma sociedade entre a DuPont e a BP (chamada Butamax)pretende colocar no mercado combustíveis de algasmarinhas.62

• Em março de 2011, a gigante da navegação Solt Nielsenadquiriu uma participação acionária não divulgada nanorueguesa Seaweed Energy Solutions.63

Companhias líderes na indústria de algas marinhas e hidrocoloidesFMC Biopolymer (subsidiária da FMC Corporation,EUA)

Shemberg Corporation (Filipinas)CP Kelco (subsidiária da J.M. Huber Corporation, EUA)Cargill (EUA)Danisco (de propriedade da DuPont, EUA)Qingdao Gather Great Ocean Seaweed Industry (China)Qingdao Bright Moon Seaweed Industry (China)Compañía Española de Algas Marinas (Espanha)Kimica Corporation ( Japão)

Fonte: Grupo ETC

Investidores coorporativos: algas marinhas para biocombustíveisMitsubishi Heavy Industries ( Japão)DuPont (EUA)BP (Reino Unido)Bio Architecture Lab (EUA)ENAP (Chile)Statoil (Noruega)Oil Fox (Argentina)Seaweed Energy Solutions (Noruega)Stolt Nielsen (Noruega)

Fonte: Grupo ETC

Quase 90% das algas marinhas são cultivadas ao invés decolhidas no habitat natural. Em 2008, seis países do SudesteAsiático foram responsáveis por 97% de toda a produção dealgas marinhas.57 A China é o maior produtor de algasmarinhas cultivadas (63% da produção global), onde apenasuma fazenda gigante de cultivo de algas marinhas (localizadaem Jiazhou Bay, Quingdao) afirma ser responsável por quase ametade da produção global e pode ser vista do espaço. Depoisda China, a Indonésia (14%) e as Filipinas (10%) têmdisputado o segundo lugar. Outros principais produtoresincluem a República da Coreia, o Japão e a RepúblicaDemocrática Popular da Coreia. Fora da Ásia, o Chile é oprodutor mais importante de algas marinhas, seguido pelaTanzânia, Moçambique e Madagascar.

Tradicionalmente, os produtores de algas marinhas se fixam/seestabelecem perto da costa, semeando extensas cordassubmersas com as espécies de algas marinhas desejadas e depoiscolhendo as folhas/os ramos para secar e processar em terra.Desde os anos 1970, o Programa de Biomassa da Marinha dosEstados Unidos propôs a coleta em grande escala, em maraberto, de sargaços [algas marinhas flutuantes] (para aproveitá-las na produção de combustíveis). Uma nova estratégia deinvestimento propõe desenvolver cultivos de algas marinhas emmar aberto utilizando redes ancoradas, cercados feitos de tela eestruturas tipo gaiolas. Os defensores da atual “economia azul”propõem conjugar a aquicultura de algas marinhas comparques eólicos em mar aberto – utilizando as estruturas dasturbinas como âncoras para as balsas flutuantes de algasmarinhas.58

Page 29: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

23www.etcgroup.org

Microalgas e biocombustíveisEm contraste com a relativamente estabelecida indústria dealgas marinhas e hidrocoloides, a indústria que existe paramicroalgas é... bem... tamanho micro. Os mercados maisestabelecidos de microalgas vendem suplementos paraalimentos e rações. Entretanto, a indústria de microalgas estáatualmente passando por um processo maciço de expansãodevido à possibilidade de obter biocombustíveis a partir deespécies de microalgas. Companhias gigantes de combustíveis equímica como ExxonMobil, BP, Chevron e Dow Chemicalestão se associando com empresas start-up de algas para extrairo óleo de hidrocarbono natural produzido por algumasespécies de algas. Novos atores em biologia sintética comoSolazyme, Synthetic Genomics, Inc. e Joule Unlimited estãoapostando todos os seus planos de negócios em algas porquesão de rápido crescimento e relativamente fáceis deengenheirar. Até mesmo companhias de agrobiotecnologiaestão acompanhando a explosão das microalgas.

Em março de 2011, a Monsanto investiu um montante nãodivulgado de capital na Sapphire Energy, empresa líder embiocombustíveis derivados de algas.64 A Dow Chemical, que jáestá colaborando com a produtora de algas Algenol, firmou umacordo importante com a Solazyme para fornecer 60 milhõesde galões de óleo de algas como um isolante químico paratransformadores elétricos.65

A Solazyme tem acordos em andamento com a Chevron e aUnilever para fornecer combustíveis e ingredientes paraalimentos, e com a Marinha dos Estados Unidos, para fornecerbiocombustíveis. A Synthetic Genomics, Inc. conseguiu umdestacado acordo de 600 milhões de dólares com aExxonMobil para desenvolver combustíveis de microalgas.66

Como um sinal dos tempos, o único grande empreendimentoem algas com foco em linhagens naturais de algas, a Cellana –uma sociedade entre a HR Biopetroleum e a gigante petrolíferaholandesa Shell – foi encerrado recentemente pela Shell.67Oque quer dizer que grande parte da atividade embiocombustíveis de algas está relacionada com a biologiasintética. O interesse na produção de microalgas também estávindo das companhias de tratamento de águas servidas eoperações industriais de criação de animais, que veem as algascomo um meio para limpar seus efluentes contaminados e, aomesmo tempo, agregar valor na forma de biocombustíveis.68

Companhias de biocombustíveis derivados de microalgas

Companhia

(Sede)

Algenol (EUA)

Aurora Algae (EUA/Austrália)

Bio Fuel Systems (Espanha)

Cellana, Inc (EUA, antes HRBiopetroleum)

Joule Unlimited (EUA)

Martek (EUA)

OriginOil (EUA)

PetroAlgae

Phycal (EUA)

Photon8 (EUA)

Sapphire Energy (EUA)

Solazyme (EUA)

Synthetic Genomics (EUA)

TransAlgae Ltd. (Israel)

Sócios corporativos / governamentais

Dow Chemical, Linde Group

Governo australiano

Hawaiian Electric Co., Maui Electric Co., o consórcio National Alliance for AdvancedBiofuels and Bioproducts e o Departamento de Energia dos Estados Unidos

Adquirida pela DSM (Holanda) em 2011

Ennesys (sócia em empreendimento conjunto, França), MBD Energy (Austrália), governo mexicano

Sky Airline (Chile), Haldor Topsoe (Dinamarca)

SSOE Group, empresa de engenharia

Universidade do Texas em Brownsville e Texas Southmost College

Monsanto (investidor de capital), Linde Group

Chevron, Unilever, Qantas, Bunge, Dow, Marinha dos EUA

ExxonMobil (empreendimento conjunto)

Memorando de acordo (MOU) com Endicott Biofuels (EUA)

Fonte: Grupo ETC

Page 30: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?24

As 10 maiorescompanhias de pesca eaquicultura do mundoCompanhia

(Sede)1. Maruha Group ( Japão)2. Nippon Suisan Kaisha ( Japão)3. Icelandic Group (Islândia)4. Nchiro Corporation ( Japão)5. Chuo Gyorui Co. ( Japão)6. Austevoll Seafood (Noruega)7. Kyokuyo ( Japão)8. Marine Harvest (Noruega)9. Connor Bros. Income Fund (Canadá)10. Cermaq ASA (Noruega)

Volume denegócios em 2007

(Milhões de dólares)6.0604.5931.5201.3711.3151.3051.288840809791

Fonte:OCDE 76

O setor de pesca e aquiculturaDe longe a maior colheita de biomassa marinha e aquática éobtida pela indústria da pesca e da aquicultura, e é basicamentedestinada para consumo humano. Em 2009, 145 milhões detoneladas de peixes e animais marinhos foram apanhados oucultivados;69 mais de 80% dessa biomassa (117,8 milhões detoneladas) foi destinada ao consumo humano. A pescarealizada no habitat natural ainda representa a fatia maior (90milhões de toneladas), mas a indústria da aquicultura(especialmente de camarão, salmão, bagre e tilápia) explodiunos últimos 40 anos, crescendo a uma taxa de 8,3% ao ano emtodo o mundo (baixando recentemente para um crescimentode 5,3%).70Os entusiastas da economia azul sugerem que apróxima fronteira levará as fazendas aquáticas das costas eáguas internas para o alto mar. Com essa finalidade, muitascompanhias estão desenvolvendo e testando enormes gaiolaspara peixes para alto mar, que ou são fixadas ao fundo do marou viajam com as correntes enquanto os peixes crescem dealevinos até o tamanho final.71

Outras propõem combinar a aquicultura em alto mar comoutras atividades, como, por exemplo, o estabelecimento defazendas marinhas ao redor de plataformas eólicasestabelecidas no mar, onde os peixes engaiolados e as algasmarinhas possam ser colhidos junto com o vento. Investidorescom mentalidade libertária consideram esses “terminaismarinhos” de múltiplo propósito como fronteiras para novassociedades capitalistas que oferecerão, em alto mar, serviçosbancários, cassinos, armazenamento de dados ou turismomédico.72

Frutos do mar como biomassaAssim como a colheita de biomassa terrestre destinada parabiocombustíveis ou bioenergia compete com alimento para aspessoas, também o faz a exploração de biomassa aquática paracombustível ou energia. A maior parte do interesse nabiomassa aquática para combustíveis e químicos está focado emplantas, mas há precedente histórico de se usarem peixe eoutras criaturas marinhas como fonte de biomassa industrial.Antes do advento do petróleo e do querosene, os óleos debaleia e de peixe eram a principal fonte de combustível líquidopara iluminação e aquecimento.

Mais recentemente, a farinha de peixe tem sido comercializadapara uma gama de usos, de ração a fertilizante. (como o óleo éum subproduto da farinha de peixe, ele é usado comocombustível para secar a farinha durante o processamento). Deacordo com um especialista em biomassa aquática, cadaquilograma de resíduo de peixe pode ser convertido em umlitro de biodiesel.73 Vários empreendimentos aquáticos estãobuscando formas de transformar os resíduos de peixe emcombustível. A produtora de bagre vietnamita Agfishanunciou, em 2006, planos de construir uma fábrica comcapacidade de 10.000 toneladas por ano (3 milhões de galões)para converter bagre em biodiesel.74 A LiveFuels, uma empresastart-up de combustíveis do Vale do Silício, quer coletar peixesde zonas oceânicas mortas, como o Golfo do México.75 A metaé construir gaiolas em zonas de alta contaminação e grandecrescimento de algas (devido ao escorrimento superficial defertilizantes e outras fontes de poluição) e encher as gaiolascom carpas, tilápias ou sardinhas. Os peixes engaiolados irão sealimentar do excesso de algas, e o esquema irá, teoricamente,colher, por hectare, 28 toneladas de peixe que poderá serconvertido em farinha ou combustível (um dúbio, masengenhoso, esquema para capitalizar em cima da poluiçãoquímica).

Page 31: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

25www.etcgroup.org

Sementes e agrotóxicosSementes, agrotóxicos e a bioeconomiaAs sementes comerciais, o primeiro elo na cadeiaagroindustrial de alimentos, são o ponto de partida paramatérias-primas agrícolas que serão usadas paraproduzir não somente alimento, ração e fibratêxtil, mas também energia, químicos dealto valor e produtos para consumo(por exemplo, plásticos e fármacos).As maiores empresas de sementes eagrotóxicos já estão entrando naonda da bioeconomia. Monsanto,Dow e DuPont estão entre as queestão se associando com companhiaspara desenvolver novas plataformastecnológicas para fabricar produtosagroindustriais de base biológica.

Fatos chave:• O mercado global de sementes comerciais em 2009 éestimado em 27,4 bilhões de dólares.

• As 10 maiores companhias respondem por 73% domercado global (acima dos 67% de 2007).

• Apenas 3 companhias controlam mais dametade (53%) do mercado comercialglobal de sementes.• A Monsanto, maior companhia desementes do mundo e quarta maiorcompanhia de agrotóxicos, agoracontrola mais de um quarto (27%) domercado de sementes comerciais.• A Dow Agrosciences – a quinta maiorcompanhia de agrotóxicos do mundo – fez

um dramático retorno à lista das 10 maiorescompanhias de sementes em 2009 devido à

aquisição de companhias de sementes que incluíram,entre outras, a Hyland Seeds (Canadá), MTI (Áustria),Pfister Seeds (EUA) e Triumph Seed (EUA).

O setor de sementes comerciais está intimamente ligado aomercado de agroquímicos. Cinco das seis maiores companhiasde agroquímicos também aparecem na lista das maiorescompanhias de sementes do mundo, e a única que não aparece– a BASF – tem importantes associações com as maioresempresas de sementes. Os acordos de colaboração de longoprazo da BASF envolvem todos os principais cultivos,incluindo um projeto com a Bayer CropScience paradesenvolver variedades híbridas de arroz de alta produtividadee um acordo de pesquisa e desenvolvimento de 2,5 bilhões dedólares com a Monsanto sobre tolerância a estresse eprodutividade de milho, algodão, canola, soja e trigo.

Fornecedores de tecnologiaA Context Network, analista da indústria, descreve o setor desementes comerciais como tendo evoluído “de um mercadocom um nicho produtivo para um mercado de distribuição detecnologia”.77 Em outras palavras, agora as sementes são comonossos celulares e notebooks – pacotes que fornecemtecnologias patenteadas.

As 10 maiores companhiasde sementes do mundo

Companhia

(Sede)1. Monsanto (EUA)2. DuPont (Pioneer) (EUA)3. Syngenta (Suíça)4. Groupe Limagrain (França)5. Land O’ Lakes / Winfield Solutions (EUA)

6. KWS AG (Alemanha)7. Bayer CropScience (Alemanha)8. Dow AgroSciences (EUA)9. Sakata ( Japão)10. DLF-Trifolium A/S (Dinamarca)Total das 10 maiores

Vendas desementes

2009

(Milhões dedólares)7.2974.6412.5641.2521.100

997700635491385

20.062

27%17%9%5%4%

4%3%2%2%1%

73%

Fonte:Grupo ETC (valoresmonetários convertidos paradólares dos EUA utilizandotaxas de câmbio históricas)

Fatia do mercado

Page 32: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?26

Até agora, essas tecnologias têm sido variações de apenas doistipos de características ou traços geneticamenteengenheirados: um que tolera a aplicação de umherbicida (para controle de ervasindesejadas), e uma outra característica queresiste ao ataque de determinadas pragas.

Para as gigantes dos genes, a mudançaclimática e a pressão para desenvolvercultivos ou matérias-primas energéticaspara abastecer a bioeconomia oferecemoportunidades irresistíveis de mercado. Amais nova geração biotecnológica decaracterísticas patenteadas de sementes estácentrada nos chamados genes climáticos [prontospara o clima] e em características geneticamentemodificadas que buscam maximizar a biomassa da planta.

Mudança (climática) nos planos de negóciosEm 2008, o Grupo ETC publicou seu primeiro relatório sobreos esforços das grandes da agricultura para monopolizarcaracterísticas geneticamente engenheiradas de adaptaçãoclimática dos cultivos para resistir a estresses ambientais(abióticos) associados com a mudança climática, tais comoseca, calor, frio, enchentes, salinidade dos solos, etc. Entrejunho de 2008 e junho de 2010, as gigantes dos genes e seussócios biotecnológicos submeteram pelo menos 261“invenções” relacionadas com cultivos climáticos a escritóriosde patentes ao redor do mundo,buscando proteção a seumonopólio.78 Apenas seiscorporações (DuPont, BASF,Monsanto, Syngenta, Bayer eDow) e seus sóciosbiotecnológicos controlam 77%das 261 famílias de patentes(patentes outorgadas e solicitaçõesde patentes).

Em janeiro de 2011, a Agrow World Crop Protection Newspublicou uma reportagem sobre as atividades

recentes de patenteamento no US Patent &Trademark Office (USPTO) relacionadascom biotecnologia de plantas durante operíodo de março a dezembro de 2010.79

Seus resultados corroboram asconclusões do Grupo ETC:características de tolerância a estresseambiental e matéria-prima parabioenergia são o foco prioritário para apesquisa e desenvolvimento biotecnológico

(ver quadro abaixo).

A área mais ativa de solicitação de patentes é, delonge, a tolerância a estresse abiótico. Somente 15

pedidos relacionados com tolerância a herbicida foramsubmetidos, por exemplo, em comparação com 132 pedidosrelacionados com tolerância a estresse abiótico nas plantas.Apenas 4 das gigantes dos genes e seus sócios biotecnológicosconcentraram, pelo menos, dois terços (66%) das solicitaçõesde patentes relacionadas com os cultivos climáticos.Características de cultivos para energia ou parabiomassa/matéria-prima (isto é, conteúdo alterado de ligninaou conteúdo alterado de óleos ou ácidos graxos) vieram emsegundo, com 68 solicitações de patentes.

O setor desementes comerciais

está intimamente ligado aomercado de agroquímicos.

Cinco das seis maiorescompanhias de agroquímicostambém aparecem na lista das

maiores companhias desementes do mundo.

Solicitações de patentes de plantasbiotecnológicas no escritório depatentes e marcas dos EUA - USPTO(março-dezembro de 2010)Tolerância a estresse abiótico: 132

Resistência a praga ou patógeno: 80

Fenótipo alterado: 51

Conteúdo alterado de lignina: 35

Conteúdo alterado de óleo ou ácido graxo: 33

Conteúdo alterado de nutrientes: 28

Tolerância a herbicida: 15

Outros: 23Fonte: Agrow World Crop

Protection News

Page 33: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

27www.etcgroup.org

Consolidação e mercados emergentesA tendência de consolidação da indústria de sementes continua,com os mercados emergentes – especialmente a África – comoo alvo mais recente. Em 2010, a Pioneer (DuPont) anunciouque tinha intenção de efetuar sua maior aquisição de todos ostempos comprando a maior companhia de sementes da Áfricado Sul, a Pannar Seed. A compra pretendida pela Pioneer teriaduplicado suas vendas de sementes na África, dando a ela acessoa germoplasma local, bem como uma base em 18 outros paísesdo continente onde a Pannar faz negócios.80 Sob pressão deativistas – liderados pelo African Centre for Biosafety andBiowatch [Centro Africano por Biossegurança e VigilânciaBiológica] – o Tribunal de Concorrência da África do Sul vetouo acordo em dezembro de 2010. A Pioneer está apelando,alegando que a decisão do Tribunal está baseada empreconceitos infundados contra os transgênicos e asmultinacionais.81O Tribunal apreciará o recurso da Pioneer emsetembro/outubro de 2011. O African Centre for Biosafety andBiowatch se comprometeu a continuar combatendo o acordo einiciou uma investigação sobre todas as propriedades desementes, e acordos de licença e licença-cruzada na África doSul da maior rival da DuPont, a Monsanto. (A Monsanto é osegundo maior ator corporativo de sementes na África do Sul82

e suas características genéticas engenheiradas estão presentes emestimados 75% de todo o milho transgênico plantado na Áfricado Sul.)83

Enquanto este documento estava sendo impresso, o Tribunal deConcorrência da África do Sul anunciou sua decisão de mantera proibição sobre a aquisição da Pannar Seed pela Pioneer.

A batalha dos valentõesEnquanto isso, nos Estados Unidos, a Monsanto e a DuPontestão se enfrentando nos tribunais. A Monsanto ingressoucom uma ação judicial contra a DuPont, em maio de 2009,alegando quebra de patente, por testar a campo milho e sojascom características “piramidadas” (duas ou maiscaracterísticas engenheiradas em cada cultivo) envolvendo acaracterística tolerante a herbicida da Monsanto (que aDuPont usava com licença da Monsanto desde 2002)combinada com sua própria característica de tolerância aherbicida. Um mês depois, a DuPont revidou processando aMonsanto por violação de leis antitruste. A batalha continuaem meio a uma investigação do Departamento de Justiça dosEstados Unidos (DOJ) sobre práticas anticompetitivas naagricultura. Resta ver se a investigação do DOJ resultará emalguma ação legal para frear o oligopólio das gigantes dosgenes. A julgar pelo alto escalão de promotores dabiotecnologia na administração OBAMA (ver quadro), nãohá muita esperança no fronte antitruste.

Nome

Roger N. Beachy

Rajiv Shah

Islam A. Siddiqui

Ramona Romero

Emprego atual no Governo dos EUA

Ex-diretor (a partir de maio de 2011) do Instituto Nacionalde Alimentação e Agricultura, o maior financiador públicode prêmios de pesquisa em agricultura. Recebeu dotaçõesde 1,2 bilhões de dólares em 2009.

Diretor da Agência Internacional de Desenvolvimento dosEstados Unidos

Negociador Chefe em Agricultura, do Escritório deRepresentação Comercial dos Estados Unidos

Advogada Geral do Departamento de Agricultura dosEstados Unidos (USDA)

Emprego anterior

Ex-presidente do Danforth Plant ScienceCenter, entidade sem fins lucrativosfundada com 50 milhões de dólares doadospela Monsanto

Ex-diretor de programas agrícolas daFundação Bill & Melinda Gates; membrodo conselho diretor da Aliança para aRevolução Verde na África (AGRA)

Ex-vice-presidente do CropLife America,grupo lobista de agrotóxicos ebiotecnologia

Advogada Corporativa na DuPont

Pastagens transgênicas mais verdes? O governo dos Estados Unidos e a porta giratória da biotecnologia

Page 34: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?28

Os cientistas da Monsanto colaboram com osadvogados de patentes da companhia para ambosatuarem em perfeita sincronia?

A patente da Monsanto sobre o herbicida glifosato (Roundup)expirou em 2000, o mesmo ano em que apareceu a primeira ervaespontânea resistente a esse herbicida – uma espécie de buva crescendoem uma lavoura de soja “Roundup Ready” em Delaware, EUA.86Umadécada depois, mais de 130 tipos de ervas “tolerantes ao herbicida”estão crescendo em estimados 4,45 mihões de hectares nos EstadosUnidos – a terra mãe da soja Roundup Ready. As ervas espontâneasresistentes a herbicidas estão aparecendo por todo o mundo87 , mas, deacordo com Dave Mortensen, professor de ervas espontâneas eecologia vegetal aplicada da Penn State University, “a maioria dopúblico não sabe disso, porque a indústria está controlando a formacomo essa informação é difundida.”88

Há muitas interpretações a respeito da “concessão” recente daMonsanto – em meio a uma investigação do Departamento de Justiçados Estados Unidos sobre práticas anticompetitivas na agricultura – depermitir que os agricultores passem a guardar soja Roundup Readyque colherem uma vez que a patente da característica engenheiradaexpire, em 2014.89 A magnanimidade da Monsanto é falsa, pois acompanhia já não terá mais o direito legal de fazer cumprir a patente.Além disso, Roundup Ready já não é mais aquilo que costumava ser.

A Monsanto, é claro, culpa os agricultores pelo aparecimento dassuperervas espontâneas – por não fazerem rotação de cultivos e poraplicarem exclusivamente Roundup. Segundo o chefe encarregadoglobalmente do manejo de resistência de ervas espontâneas dacompanhia, “Tudo se reduz ao manejo agrícola básico”.90 A Monsantoe as outras gigantes dos genes estão se esforçando para desenvolver asegunda geração de cultivos transgênicos que sejam tolerantes a doisou mais herbicidas – incluindo alguns mais tóxicos e prejudiciais aoambiente – como o 2,4-D, um componente do desfolhante AgenteLaranja, usado na guerra do Vietnã, e o dicamba, que é quimicamenterelacionado ao 2,4-D.91

A Monsanto planeja “piramidar” seu gene tolerante ao glifosato comum gene tolerante ao dicamba, em sojas, e, em 2010, iniciou oprocesso de aprovação regulamentar nos EUA. Assim, justo quando oherbicida Roundup da Monsanto se torna completamente inútil parao controle de ervas espontâneas resistentes, e ao mesmo tempo em quevence a patente da característica transgênica Roundup Ready, aMonsanto planeja “ter na manga” seu próximo “remendo tecnológico”patenteado para controle de ervas indesejadas.

Submetida a fortes questionamentos em casa efora dela, a Monsanto está tentando minimizar apercepção de seu domínio no mercado mundial desementes. Brad Mitchell, Diretor de AssuntosPúblicos da Monsanto, disse à revista OrganicLifestyle, no final de 2009, que “a participação daMonsanto no mercado total mundial de sementesé muito pequena”. Estima-se que mais de 80% domercado global de sementes são sementes “defonte aberta” conservadas pelos agricultores.

Assim, o mercado das sementes comerciais émenor do que 20% do total, e a Monsanto tem sóuma fração desses 20%.”84Não importa que aMonsanto e suas principais rivais tenham sededicado, nos últimos 15 anos, a tentar eliminar acompetição que representam os agricultores queguardam sementes – através de processos judiciais,patentes monopólicas e do desenvolvimento detecnologias de esterilização genética de sementes(conhecidas como Terminator). Para a Monsantoe as outras gigantes da indústria de sementes, osmercados-alvo são precisamente aquelas regiões doSul global onde comunidades agrícolas sãoautossuficientes no abastecimento de sementes eonde se encontram os maiores estoquesremanescentes de biomassa.

Enquanto isso, a DuPont – a segunda maiorempresa de sementes do mundo – faz um retratobem diferente da dominação do mercado desementes pela Monsanto. Em comentáriossubmetidos aos investigadores antitruste dosEstados Unidos, a DuPont aponta para omonopólio da Monsanto nos mercados decaracterísticas transgênicas tolerantes a herbicidaem soja (98%) e em milho (79%). A DuPonttambém relata que a Monsanto, como “umguardião único”, tem o poder de elevar os preçosdas sementes e excluir a concorrência.85 A DuPontvê uma clara necessidade de pelo menos mais umguardião corporativo!

Page 35: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

29www.etcgroup.org

As 10 maiorescompanhias deagroquímicosdo mundo

Posição / Companhia

(Sede)1. Syngenta (Suíça)2. Bayer CropScience(Alemanha)

3. BASF (Alemanha) 4. Monsanto (EUA)5. Dow AgroSciences(EUA)

6. DuPont (EUA)7. Sumitomo Chemical( Japão)

8. Nufarm (Austrália)9. Makhteshim-AganIndustries (Israel)

10. Arysta LifeScience( Japão)

Total das 10 maiores

Vendas deagroquímicos

2009

(Milhões de dólares)8.4917.544

5.0074.4273.902

2.4032.374

2.0822.042

1.196

39.468

19%17%

11%10%9%

5%5%

5%5%

3%

89%

Fonte: Grupo ETC (valoresmonetários convertidos emdólares pelas taxas decâmbio históricas)

Fatia de mercado

O mercado mundial de químicos para a agricultura, em 2009, éestimado em 44 bilhões de dólares.

• Em 2009, a participação no mercado das 10 maiorescompanhias de agrotóxicos chegou, pela primeira vez, a 90%.

• As 6 maiores companhias, todas elas vendedoras deagrotóxicos patenteados, são responsáveis por mais de 72%do mercado de agroquímicos. Essas mesmas companhiastambém desempenham papéis principais entre as 10 maiorescompanhias de sementes do mundo.

• As companhias de agrotóxicos não patenteados (nas posiçõesde 7 a 10) estão dando uma balançada na metade de baixo databela. A Nufarm rebaixou a Makhteshim-Agan em 2009;entretanto, em junho de 2010, a Makhteshim-Agan anunciouque iria adquirir a Albaugh, a maior empresa de agrotóxicosnão patenteados do continente americano (com vendas decerca de um bilhão de dólares em 2009).

Quimicamente desfavorecidosQuando apareceram os números das vendas de 2008, osexecutivos das empresas fabricantes de agrotóxicos estouraramchampanhe. A conta do ano seguinte fez eles estouraremmelhoradores de humor: as vendas globais de agrotóxicoscaíram cerca de 6,5% de 2008 para 2009. Embora a queda dosetor pareça estar estancada por enquanto, as vendas em 2010ainda estavam abaixo dos níveis de 2008.92 Analistas daindústria apontam os preços artificialmente elevados dosherbicidas em 2008 e a produção acima da capacidade deglifosato (Roundup genérico) como os principais culpadospelo repentino declínio do setor em 2009. A desvalorização demoedas não ajudou. E, finalmente, sugerem os analistas, acrescente adoção de cultivos transgênicos tolerantes aherbicidas contribuiu para reduzir o uso de agrotóxicos.Entretanto, estudos recentes93mostram que, na realidade,ocorre o oposto: o plantio de cultivos transgênicos tolerantes aherbicidas aumenta o uso do veneno, devido ao aparecimentode plantas espontâneas resistentes que exigem aplicações maisfrequentes, doses mais altas e/ou uso de ingredientes ativosadicionais.

Enquanto as vendas globais de agrotóxicos estiveram baixas em2009 e 2010, a boa notícia (para as companhias) - e má notíciapara o ambiente e a saúde humana - é que o uso de agrotóxicosno mundo em desenvolvimento está crescendodramaticamente. Bangladesh, por exemplo, aumentou seu usode agrotóxicos em surpreendentes 328% nos últimos 10 anos.94

Entre 2004 e 2009, a África e o Oriente Médio, como região,apresentaram o maior aumento no uso de agrotóxicos. Éesperado que a América Central e a do Sul tenham o maioraumento no uso de agrotóxicos até 2014, quando o mercadomundial de agrotóxicos pode atingir 52 bilhões de dólares, deacordo com The Freedonia Group.95 A produção deagroquímicos na China – principalmente produção daquelasfórmulas cujas patentes já venceram – atingiu mais de 2milhões de toneladas no final de novembro de 2009, mais doque o dobro da produção de 2005.96

Page 36: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?30

A maquiagem verde dos herbicidas

A Monsanto por muito tempo anunciou os benefícios deseus cultivos transgênicos tolerantes a herbicida, não só pelocontrole das ervas indesejadas, mas também como umatecnologia “amigável” ao clima, que reduz as emissões degases de efeito estufa.97Os cultivos Roundup Readypromovem um controle químico intensivo de ervasindesejadas e, com isso, uma movimentação mínima do solo– uma prática conhecida como plantio direto. De acordocom a Monsanto, “práticas de plantio direto, em 2005,reduziram emissões de dióxido de carbono da agricultura emquantidade igual às emissões de cerca de quatro milhões deautomóveis”.98Nos Estados Unidos, agricultores quepraticam esse manejo foram brevemente beneficiados poresquemas de venda de créditos de carbono através daChicago Climate Exchange – uma plataforma comercialvoluntária de redução e compensação de carbono. (AExchange foi fechada em novembro de 2010 devido à faltade apoio político para o comércio/o negócio de carbono nosEUA). Se a Monsanto e outras gigantes dos genesconseguirem seu objetivo, práticas agrícolas de plantiodireto se tornarão elegíveis para compensações de carbonosob o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, no Protocolode Kyoto da ONU – um jeito bem conveniente de levantaro faturamento da companhia.99

Mas estudos científicos recentes rejeitam a noção de que oplantio direto resulta em acumulações significativas decarbono no solo.100Uma revisão abrangente da literatura,realizada pelo USDA e por cientistas de solo de Minnesotaem 2006, concluiu que as evidências da promoção desequestro de carbono pelo plantio direto “não sãoconvincentes”.101 Estudos mais recentes confirmam quepráticas de plantio direto não sequestram mais carbono doque solos arados.102

Não há dúvidas de que os agricultores têm enormecapacidade para sequestrar carbono através do manejo eacumulação de conteúdo de matéria orgânica no soloutilizando práticas biológicas em sistemas agrícolasintegrados. Mas o plantio direto é uma falsa solução para amudança climática. A promoção agressiva do plantio diretofeita pela Monsanto pega carona no sucesso das práticasconservacionistas tradicionais de aração das comunidadesagrárias e se apropria do conceito desenvolvido por elas emtodo o mundo.

Page 37: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

31www.etcgroup.org

A bioeconomia e ogermoplasma vegetal ex situA bioeconomia está gerando um maiorinteresse no germoplasma vegetalcomo a fonte de genes e característicasque podem ser explorados paraproduzir matérias-primas de altorendimento destinadas à produção dealimentos, combustíveis, energia,substâncias químicas, fármacos, etc.

Nas próximas décadas, milhões de pessoas cujasegurança alimentar e modos de vidadependem da agricultura, pesca, florestas ecriação de animais em pequena escalaenfrentarão condições climáticas semprecedentes na história da agricultura.

A velocidade da mudança climáticaprovavelmente excederá a capacidade deadaptação de muitas plantas, animais,peixes e microrganismos. A diversidade

genética de plantas e animais e a diversidadede conhecimentos e práticas de comunidades

camponesas são as duas mais importantes fontes paraa adaptação da agricultura às condições ambientais locais. Oacesso dos agricultores ao germoplasma e sua possibilidade detrocá-lo livremente, tanto in situ como ex situ, é de primordialimportância.

Entretanto, muito da diversidade de que necessitamos para nospreparar para o amanhã não está, hoje, estocada em bancos degenes ou sementes – especialmente se falamos dos parentessilvestres de cultivos e das espécies subutilizadas de cultivos,incluindo milhares de cultivos e espécies que são consumidos ecomercializados localmente, mas que não entram no sistema decomércio mundial. Segundo uma estimativa, acima de 90% davariabilidade genética útil existente no mundo ainda pode serencontrada em sua forma silvestre.103

As maiores coleções mundiais de germoplasma de cultivos exsitu estão nas mãos de bancos genéticos internacionais egovernos nacionais. Principalmente devido a campanhas dasociedade civil, de agricultores e de movimentos sociais, queduraram décadas, o germoplasma de cultivos mantido nascoleções internacionais de bancos de genes está, em grandeparte, fora do alcance de reivindicações de qualquerpropriedade intelectual. Para garantir o acesso de agricultoresao germoplasma, devem ser eliminadas todas as políticasrestritivas que criam barreiras ao melhoramento de plantasfeito pelos agricultores em campo, à guarda e à livre troca desementes. Isto é, devem ser eliminadas leis de sementes, regimesde propriedade intelectual, contratos e acordos comercias.

Bancos de germoplasma vegetal

Esta seção analisa o controle de depósitos globais degermoplasma de plantas ex situ – principalmente na forma desementes – encontrados nos bancos genéticos do mundo. Aevolução da biologia sintética, da genômica e da síntesequímica de DNA sob medida poderia alterar profundamenteas práticas vigentes relacionadas a conservação dabiodiversidade e acesso a germoplasmas. Ao invés de obtergenes da natureza ou de amostras armazenadas nos bancos desementes, os cientistas serão capazes de baixar sequênciasdigitais de DNA ou mapas genômicos que, por sua vez, podemser rapidamente construídos por “fundições” comerciais deDNA.

A encomenda de genes e sequências de genes pelo correio já écomuns. Dentro de uma década, pode se tornar rotinaespecificar o genoma de um organismo complexo numformulário de pedido online e receber a encomenda pelocorreio alguns dias depois – permitindo aos pesquisadorescontornar acordos de acesso e repartição de benefícios bemcomo proibições de biopirataria.

O DNA digital torna possível baixar genomas pela internetpara notebooks, permitindo aos cientistas criar e redesenharorganismos vivos com DNA sintético.

Page 38: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?32

Privatizando o germoplasma do pinhão mansoO pinhão manso (Jatropha curcas) é uma árvore de porte baixo,nativa da América Central e do Sul, que cresce em toda aÁfrica, Ásia e América Central. Frequentemente é chamado deo cultivo “cinderela” do hemisfério Sul para bioenergia, porqueé tolerante a seca e a pragas, cresce bem nas chamadas “terrasmarginais”, e suas sementes produzem 30-35% de óleo que ascompanhias de bioenergia estão transformando em alternativaspara as indústrias de diesel, petroquímicas e de combustívelpara aviação.

As companhias de agrobiotecnologia e de biologia sintéticaestão avidamente colecionando (e privatizando) ogermoplasma do pinhão manso com o objetivo de desenvolvervariedades híbridas de alto rendimento para produçãocomercial em larga escala. Por exemplo, a SG Biofuels, Inc.,com sede na Califórnia, gaba-se de ter “desenvolvido eorganizado a maior e mais diversificada coleção degermoplasma de pinhão manso do mundo, incluindo mais de7.000 amostras coletadas no centro de origem da espécie, aAmérica Central”.104

A biblioteca de germoplasma dessa companhia contém mais de12 mil genótipos únicos, e estima-se que também contenha“cinco vezes a diversidade genética observada em uma coleçãode pinhão manso da Índia, África e Ásia”.105 Em 2010, acompanhia de biologia sintética Life Technologies, tambémcom sede na Califórnia, e a SG Biofuels anunciaram que jáhaviam completado o sequenciamento do genoma do Jatrophacurcas.106 Em meados de 2011, a SG Biofuels informou quealém dos contratos já assinados para o cultivo dos híbridos depinhão manso da companhia em 250 mil acres (101 milhectares), a companhia tem planos para mais de 1 milhão deacres (cerca de 405 mil hectares) de projetos de pinhão mansopelo mundo afora.107 A SG Biofuels já encaminhou solicitaçãode nove patentes provisórias para características que acompanhia afirma que terão um impacto direto naprodutividade e lucratividade do pinhão manso.

Os maiores bancos degenes do mundo (nacionais e internacionais)Os 20 maiores classificados pelo númerode acessos, 2008

Categoria

Nac.Nac.Nac.Nac.Nac.Int.Nac.Int.Int.Int.Nac.Nac.Nac.Int.Int.Nac.Int.Int.Int.Int.Total

País /Nome

EUAChinaÍndiaRússiaJapãoCIMMYTAlemanhaICARDAICRISATIRRIBrasilCanadáEtiópiaCIATAVRDCTurquiaIITAWARDAILRICIP

Número deacessos

508.994391.919366.333322.238243.463173.571148.128132.793118.882109.161107.246106.28067.55464.44656.52254.52327.59621.52718.76315.043

3.054.982

% dototal

mundial

6,95,35,04,43,32,32,01,81,61,51,41,40,90,90,80,70,40,30,30,2

41,3

Fonte: FAO, The Second Report on the State of theWorld’s Plant Genetic Resources for Food and

Agriculture, 2010 108

Page 39: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

33www.etcgroup.org

De acordo com o Second Report on the State of the World’sPlant Genetic Resources for Food and Agriculture [Relatóriosobre o Estado dos Recursos Genéticos de Plantas do Mundo],da FAO:

• O número total de acessos de germoplasma de plantasmantidas ex situ em todo o mundo aumentouaproximadamente 20% (1,4 milhões) desde 1996, atingindo7,4 milhões.

• A FAO aponta que o número de acessos não significanecessariamente mais diversidade. Do total de 7,4 milhões deacessos, acredita-se que menos de 30% sejam amostrasdistintas (1,9-2,2 milhões).

• Os bancos nacionais de genes, administrados pelos governos,conservam cerca de 6,6 milhões de acessos, 45% dos quais sãomantidos em somente sete países, cinco países a menos doque eram em 1996. Os bancos internacionais degermoplasma referem-se a coleções administradas por onzecentros do Grupo Consultivo de Pesquisa AgrícolaInternacional (CGIAR) em representação da comunidadeinternacional.109

• Embora os bancos internacionais de genes conservemsomente 24% do total de acessos ex situ, suas coleções sãomais bem caracterizadas e avaliadas, e acredita-se quecontenham um número maior de acessos distintos. Entre1996 e 2007, os bancos de genes administrados pelo CGIARdistribuíram mais de 1,1 milhões de amostras. Quase ametade do germoplasma foi distribuído dentro dos centrosdo CGIAR ou entre eles, e 30% foram para pesquisadoresagrícolas nacionais nos países do Sul global. Pesquisadoresagrícolas de países da OECD receberam 15%, e o setorprivado, 3%.

• A natureza dos acessos (por exemplo, se elascompreendem/englobam cultivares avançados, linhas puras,variedades de agricultores ou variedades crioulas, parentessilvestres, etc.) é conhecida para cerca da metade do materialconservado ex situ. Desta, cerca de 17% são categorizadoscomo cultivares avançados, 22% como linhas puras, 44%variedades crioulas e 17% espécies silvestres ou ervasespontâneas.

• As espécies de cultivos negligenciadas ou subutilizadas e osparentes silvestres de cultivos estão geralmente sub-representados em coleções ex situ. Um estudo calcula que 16-22% dos parentes silvestres de espécies com valor direto paraa agricultura podem estar em perigo de extinção devido àmudança climática.110Os parentes silvestres dos cultivoscontribuíram com milhões de dólares para a agricultura. Porexemplo, o cultivo comercial em grande escala de cana-de-açúcar, tomates e fumo não seria possível sem os genesresistentes a doenças fornecidos por parentes silvestres dessescultivos.111Características de girassóis silvestres valemestimados 267-384 milhões de dólares, anualmente, para aindústria de girassol nos Estados Unidos; três amendoinssilvestres forneceram resistência ao nematoide de galha, umapraga que custa aos plantadores de amendoim em todo omundo 100 milhões de dólares por ano.112

Page 40: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?34

As 10 maiorescompanhias defertilizantes do mundoPosição / Companhia

(Sede)1. Yara International (Noruega)2. The Mosaic Company (EUA)3. Agrium Inc. (Canadá)4. K+S Group (Alemanha)5. Israel Chemicals Ltd. (Israel)6. CF Industries, Inc. (EUA) pro forma (+ Terra, EUA)

7. PotashCorp (Canadá)8. JSC Uralkali (Rússia)9. Arab Potash Company Ltd.( Jordânia)

10. Sociedad Quimica y Minerade Chile S.A.

Vendas 2009

Milhões de dólares10.84310.2989.1004.9254.5544.189

(TBC) 4.1891.178552

338

Os fertilizantes extraídos pormineração e a bioeconomiaOs fertilizantes extraídos pormineração são um recurso geopolíticoestratégico – e controverso. Eles têmum papel chave na agricultura e nasegurança alimentar global. Dada suaaltíssima demanda para o altorendimento na produção de biomassavegetal, o potássio, o fósforo e onitrogênio – os três macronutrientespresentes nos fertilizantes químicos – sãocommodities muito em voga. De acordo comestatísticas da indústria, quase metade da populaçãomundial sobrevive a partir de alimentos produzidos comfertilizantes nitrogenados.113

As 10 maiores corporações de mineraçãoconcentram cerca de 32% do mercado

mundial de mineração, de acordo com oRaw Materials Group.

Escavando em busca delucrosDe acordo com a consultoriaDatamonitor, o mercado global defertilizantes encolheu surpreendentes37% em 2009 para alcançar um valor de

90.183 milhões de dólares. “Acreditamos que2009 foi uma aberração na história dos

fertilizantes”, diz o relatório anual de 2009 daPotashCorp, num esforço para explicar o declínio nas vendasglobais de todos os fertilizantes em comparação com o anopico em 2007. O setor está em recuperação, e o Datamonitorprevê que o mercado de fertilizantes chegará a um valorestimado de 142.869 milhões de dólares em 2014 (umaumento de 65% em relação a 2009).

À medida que se intensifica a apropriação global das fontes dematéria-prima, a indústria de fertilizantes atravessa umprocesso de rápida consolidação. Nos últimos anos, o principalcatalisador dessa consolidação provém das principaiscompanhias de mineração do mundo. Faz sentido que ascompanhias de mineração – as quais já têm as ferramentas e atecnologia para extrair recursos do subsolo – estejam em buscade ativos em fertilizantes.

Como colocado pelo The Economist, “alimentar o mundotornou-se uma oportunidade de dar água na boca” para osinteresses das companhias mineradoras.114 Em um contexto depreços crescentes dos alimentos, as companhias estãocompetindo para ter posições vantajosas para escavar a jazidacerta, na hora certa, para obter o maior lucro possível.

Indústrias de fertilizantes e de mineração

Fonte:PotashCorp2009 Annual

Report

Page 41: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

• Em fevereiro de 2011, os acionistas dasempresas russas de fertilizantes Uralkali eSilvinit aprovaram uma fusão no valor de 1,4bilhões de dólares, a qual criaria a terceira maiorcompanhia de potássio do mundo. A empresarival de fertilizantes, a Akron, que detém 8% dasações com direito a voto da Silvinit, ingressoucom uma ação judicial para terminar com oacordo.• Em maio de 2010, a brasileira Vale SA, amaior mineradora de minério de ferro domundo, comprou os ativos de fertilizantes daBunge Ltd. no Brasil por 8 bilhões de dólares(incluindo uma participação acionária de 42,3%na Fertilizantes Fosfatados, a maior fornecedorade ingredientes para fertilizantes do Brasil, etambém incluindo minas de fosfato e instalaçõesde produção da Bunge no país). Em março de2011, a Vale anunciou que, até o final desse ano,iria vender até 49% de sua unidade defertilizantes (mantendo uma participação decontrole) em uma oferta pública inicial.• Em abril de 2010, a CF Industries (EUA) seapropriou da Terra Industries por 4,6 bilhões dedólares, enquanto resistia a uma oferta hostil daAgrium.• A Rio Tinto, terceira maior companhia demineração do mundo, vendeu seus ativos de

potássio para a Vale por rápida liquidez em 2009, mas oprincipal executivo, Tom Albanese, relata: “Eu disse aosnossos geólogos, ‘eu ainda gosto de potássio, encontrem maisalgum para mim’.”116

• Em 2010, devido ao crescimento explosivo da demandainterna por matéria-prima, o governo chinês gastou 8 bilhõesde dólares adquirindo participações em empresas domésticasmineradoras de metais e não metais. O governo chinêsobjetiva construir um conglomerado de mineração que teráum “impacto global insuperado por qualquer outro setor dosempreendimentos pertencentes ao Estado” de acordo comanalistas da indústria.117

35www.etcgroup.org

A indústria global de fertilizantes mostra uma atividade febrilde fusões e aquisições. Nas palavras do principal executivo daYara, Joergen Ole Haslestad, “A consolidação da indústriaglobal de fertilizantes está longe de ter acabado”.115 Acordosrecentes incluem:

• Em janeiro de 2011, a Cargill anunciou um acordo de 24,3bilhões de dólares para desmembrar sua participação de 64%na Mosaic Company – uma das maiores vendedorasmundiais de fosfato e potássio.

• Em 2010, a segunda maior companhia de mineração domundo, a australiana BHP Billiton Ltd., surpreendeu com aoferta hostil de 39 bilhões de dólares para adquirir a maiorfabricante de fertilizantes do mundo, a canadense PotashCorporation. O governo canadense acabou vetando onegócio porque as eleições federais estavam próximas e osvotos de Saskatchewan (a província onde a Potash tem sede)eram críticos para o partido minoritário governante.

• A BHP Billiton Ltd. adquiriu a canadense Athabasca PotashInc. em 2010 por 331 milhões de dólares.

As 10 maiorescompanhias de mineraçãodo mundoPosição / Companhia

(Sede)1. Vale SA (Brasil)2. BHP Billiton Group (Austrália)3. Rio Tinto (Reino Unido)

4. Anglo American (Reino Unido)5. Freeport-McMoran Copper &Gold Corp. (EUA)

6. Barrick Gold Corp. (Canadá)7. Corporación Nacional del Cobre(Chile)

8. Xstrata plc (Suíça)9. Norilsk Nickel Mining &Metallurgical Company (Rússia)

10. Newmont Mining Corp. (EUA)

Fatia de mercadoem todos os

minerais (%) 2009

5,5%5,0%4,9%

3,0%2,9%

2,4%2,4%

2,1%1,9%

1,8%

Ativos em

fertilizantes?

SimSim

Vendidos –procurandonovos ativos

SimVendidos

NãoNão

NãoNão

Não

Fonte: RawMaterials Group,Estocolmo, 2010

Page 42: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?36

Pico do fósforo… ou não?Como um recurso não renovável crítico para o crescimentodas plantas, o fósforo – e quanto dele ainda resta na terra – éum assunto crucial. Em nosso relatório de 2008, o GrupoETC citou a estimativa da Iniciativa Global de PesquisaSobre o Fósforo (GPRI, por sua sigla em inglês) de que asreservas de fosfato provavelmente estarão reduzidas/escassasdentro dos próximos 50-100 anos. As reservas globais defósforo, concentradas em poucos países (Marrocos, SaaraOcidental e China), representam cerca de 60% das reservasmundiais, com depósitos menores nos Estados Unidos,África do Sul e Jordânia; o comércio é dominado por apenas3 empresas: Mosaic, Potash Corp. e OCP118 (monopóliocontrolado pelo estado do Marrocos).119

Em setembro de 2010, os prognósticos sobre suprimentosglobais de fósforo viraram de cabeça para baixo quando umnovo relatório da International Fertilizer DevelopmentCenter (IFCD), World Phosphate Rock Reserves andResources, concluiu que “as reservas de rochas comconcentração de fosfato para produzir fertilizantes serãosuficientes para os próximos 300-400 anos”.120

Em janeiro de 2011, o US Geological Survey seguiu essatendência, quadruplicando sua estimativa prévia de reservasglobais de fósforo.121

Em sua resposta ao relatório do IFCD, os pesquisadores daGlobal Phosphorus Research Initiative (GPRI) escrevemque o “relatório do IFCD deve ser interpretado com grandecautela” ... e que as “estimativas do IFCD de reservas derochas de fosfato ainda são estimativas baseadas em fontessecundárias e envoltas em muita incerteza.”122 Por último, aGPRI ressalta que o cientista líder do relatório, Steven VanKauwenbergh, não forneceu um cálculo do qual derivou aestimativa que as reservas estarão disponíveis para ospróximos 300-400 anos. As perguntas não respondidas arespeito do tamanho estimado e localização das reservasfinitas de fósforo do planeta são assuntos críticos para asegurança alimentar global.

Page 43: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

37www.etcgroup.org

As 10 maiores companhiasflorestais do mundo

Companhia

(Sede)1. International Paper (EUA)2. Kimberly-Clark (EUA)3. Svenska Cellulosa (Suécia)4. Oji Paper ( Japão)5. Nippon Paper Group ( Japão)

6. Stora Enso (Finlândia)7. UPM-Kymmene (Finlândia)8. Smurfit Kappa (Irlanda)9. Mondi Group (Reino Unido/ África do Sul)

10. Metsäliitto (Finlândia)Total de faturamento das

10 maiores companhiasTotal de faturamento em 2009

Vendas 2009

(Milhões dedólares)23.36619.11514.63313.53512.692

12.47810.7688.4507.334

6.748129.119

317.770

7,3%6,0%4,6%4,2%3,9%

3,9%3,3%2,6%2,3%

2,1%

40,2%

Fonte: PricewaterhouseCoopers

As florestas e a bioeconomiaA biomassa florestal cobre 9% da áreada superfície da Terra. Em termosglobais, as florestas contêm maisde 600 bilhões de toneladas debiomassa.123O Sul globaldetém 68% da biomassaflorestal mundial (AméricaCentral e do Sul, 36%; África,20%; Ásia, 12%).124De acordocom a FAO, aproximadamente80% das florestas do mundo sãode propriedade e administraçãopúblicas, mas o controle do setorprivado está aumentando.125

As 10 maiores companhias florestais/de papel concentram 40% dos318 bilhões de dólares do mercado industrial/comercial

florestal.

As maiores companhias florestais e de papel domundo representam a velha guarda dos senhoresda biomassa, na medida em que 7 das 10 maioresempresas têm raízes corporativas que podem serrastreadas pelo menos até o século XIX(Metsäliitto, Mondi Group e Nippon PaperGroup são as que chegaram mais recentemente,no século XX). Mas isso não significa que asgigantes da silvicultura não estejam buscandonovas formas de aumentar seus lucros,

especialmente na esteira de uma recessão global queviu despencar a demanda por materiais de construção.

Entretanto, num movimento de-volta-para-o-futuro, ascompanhias florestais agora estão vendendo madeira e produtosderivados de madeira para ajudar a alcançar “as metas de energiarenovável” na União Europeia. Por exemplo, pellets de madeira(principalmente de serragem de madeira), os quais têm menos de 10mm de diâmetro, são queimados em lareiras residenciais, usinas degeração de energia elétrica à base de biomassa e queimadosjuntamente com carvão. De acordo com uma companhia finlandesade engenharia e consultoria em administração de empresas, a Pöyry,870 usinas de produção em todo o mundo satisfazem a atual demandade 16 milhões de toneladas.126 A Europa responde por mais da metadedessa demanda, mas mercados na Ásia – particularmente na Coreia –estão crescendo. O Canadá exportou pellets de madeira para a Europanos últimos dez anos; os Estados Unidos começaram a exportar pelletspara a Europa em 2008. Em conjunto, os dois países norte-americanosdobraram suas exportações para a Europa em dois anos (2009-2010).127

Com o crescimento da demanda, 2012 poderia ver pellets de madeirase tornarem uma commodity comercializada na bolsa de valores,como a soja e o ouro. A APXEndex, bolsa de energia com sede naHolanda (cujos portos recebem a maioria das importações de pelletsde madeira da Europa), planeja iniciar um grupo comercial contandocom 8 a 10 membros.128Um grupo de trabalho da indústria,pertencente ao grupo comercial de Compradores Industriais de Pelletsde Madeira da União Europeia (isto é, companhias de energia), estádesenvolvendo “critérios de sustentabilidade”. Uma passada de olhosnos membros afiliados deixa claro quem tem a maior fatia no mercadode pellets de madeira: RWE (Alemanha), Drax Power (Reino Unido),DONG Energy (Dinamarca), GDF Suez (França) e Electrabel(Holanda).

Silvicultura e papel

Participação nasvendas globais

Page 44: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?38

As 11 maiores empresasprocessadoras e comercializadorasde oleaginosas, grãos e açúcar do mundoCompanhia

(Sede)1. Cargill (EUA)2. ADM (EUA)3. Bunge Ltd. (EUA)4. Marubeni ( Japão)5. Itochu Intl. ( Japão)6. Louis Dreyfus Commodities (França) (IncluiSantelisa Vale)

7. The Noble Group (China)8. China National Cereals, Oils, & Foodstuffs(China)

9. Wilmar International Ltd (Singapura) (IncluiSucrogen Limited)

10. British Foods (Reino Unido) (Inclui Azucarera Ebro)11. ConAgra Foods (EUA)Total das vendas das 11 maiores companhias

Vendas 2009

(Milhões de dólares)116.60069.20741.92639.83934.19134.000

31.18326.445

23.885

15.35413.808

446.438

Fonte: Grupo ETC

Processadoras e comercializadoras deoleaginosas, grãos e açúcar

Os comerciantes de grãos e a bioeconomiaAs 11 maiores processadoras de oleaginosas, grãos e açúcar do mundosão titãs na cadeia agroalimentar industrial, e não são recém-chegadas nojogo da bioeconomia. Muitas dessas companhias estiveram comprando,processando e vendendo biomassa por décadas (no caso da Dreyfus,Cargill e ADM, por mais de um século). Apenas três dessas empresasgigantescas, Cargill, ADM e Bunge, comerciantes e processadoras degrãos com sede nos EUA, controlam a maioria dos grãos que sãomovimentados entre distintas nações.129

Page 45: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

39www.etcgroup.org

As 10 maiores produtorasindustriais de alimentospara animaisClassificadas por volume de produção, 2009

Companhia

(Sede)1. Charoen Pokphand Foods PCL (Tailândia)2. Cargill (EUA)3. New Hope Group (China)4. Land O’ Lakes Purina (EUA)5. Tyson Foods (EUA)6. Brasil Foods (Brasil)7. Nutreco (Holanda)8. Zen-noh Cooperative ( Japão)9. East Hope Group (China)10. Hunan Tangrenshan Group (China)

Volume 2009

(Milhões de toneladas)23,215,913,010,110,09,98,77,56,54,9

Fonte: FeedInternational, 2010

A criação industrial de animais e a bioeconomiaO papel da criação industrial de animais – o que esses animaisconsomem, quem os controla e os insumos usados paraproduzi-los (alimentos, medicamentos, genética deanimais de criação) – afeta a segurança alimentar,a mudança climática, a saúde humana e abioeconomia numa escala maciça. Segundouma estimativa, a criação industrial de animaise seus subprodutos geram o volumeexorbitante de 32,6 bilhões de toneladas dedióxido de carbono por ano, ou seja, 51% dasemissões mundiais anuais de gases de efeitoestufa.130 Pelo menos um terço das terrascultiváveis do planeta produzem alimentos para acriação industrial de animais. Se esses grãos fossemdestinados à alimentação humana em vez de animal, iriamsuprir as necessidades calóricas anuais de mais de 3,5 bilhões depessoas.131 São necessários 2.500 litros de água para produzir umhamburger de carne de animais criados de forma industrial.132

As 10 maiores companhias que processam ecomercializam compostos para alimentação deanimais (isto é, rações comerciais contendo uma

mistura de grãos tais como farelo de soja,milho, sorgo, aveia, cevada e aditivos

como vitaminas, minerais,antibióticos, etc.) concentramaproximadamente 52% dovolume do mercado global dealimentação animal.

A Feed Internationalmonitoraas 56 maiores fabricantesmundiais de alimentos paraanimais – isto é, aquelas

companhias que, em 2009,produziram mais de 1 milhão de

toneladas de alimentos compostos paraanimais.133 Com base nas estimativas da FeedInternational, as 10 maiores companhias de raçãoanimal industrial respondem por cerca de 52% domercado global de ração animal, em volume. As 3maiores empresas respondem por um quarto (24,6%)do mercado. Em agosto de 2011, a segunda maiorgigante dos alimentos para animais, a Cargill,anunciou que irá adquirir a Provini, companhiaholandesa de nutrição animal, por 2,1 bilhões dedólares.

As companhias que vendem e compram alimentospara animais talvez sejam o mais globalizado de todosos setores da bioeconomia. O movimento de suasvendas reflete as mudanças demográficas radicais naprodução animal, a demanda crescente por carne epeixe cultivado, e o colossal poder de mercado dospaíses emergentes. O maior conglomerado mundial deprodução de alimentos para animais é o CPF, daTailândia, o qual está se expandindo para a Rússia,partes da África e Índia. Três das 10 maiorescompanhias desse ramo têm sede na China, e, noBrasil, está a sexta maior.

As produtoras industriais de alimentos para animais

Page 46: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?40

A indústria farmacêutica veterinária

Em 2009, as 10 maiorescompanhias controlavam 76%das vendas globais daindústria farmacêuticaveterinária (14.021milhões de dólares [14 bilhões de dólares]).

Em 2009, a indústria mundialde farmacêutica veterináriavendeu 18,5 bilhões de dólares(excluindo aditivosnutricionais para animais). Em2008, 4 espécies de animais de criação (bovinos,suínos, frangos e ovelhas) concentraram 57% domercado de saúde animal por espécies; os animais deestimação (pets) concentraram os outros 43%.134

Em 2009, as 10 maiores companhias desse ramocontrolavam 76% das vendas globais da indústriafarmacêutica veterinária (14 bilhões e 21 milhões dedólares). As 3 maiores companhias da listaresponderam por 43%, mas as cifras de 2009 nãorefletem as tendências mais recentes de concentraçãodos capitais.

Em março de 2010, a Sanofi-Aventis (dona daMerial) e a Merck & Co., Inc. (dona daIntervet/Schering-Plough) anunciaram que iriam

juntar forças para criar a maior vendedora demedicamentos e vacinas veterinárias do mundo –

ultrapassando a número 1 do ranking, a Pfizer.135 A novasociedade tem participação igualitária da Merck e da Sanofi-Aventis.

Tecnologia genômica animalA Igenity, a divisão de testes de DNA da Merial, está usando informaçãogenômica para desenvolver plantéis de vacas para carne e leite. Acompanhia afirma que seu perfil IGENITY identifica um genótipoanimal pela forma com que se relaciona com genes específicos. Osgenótipos detectam polimorfismos de nucleotídeos simples (SNPs, porsua sigla em inglês) que estão relacionados com variações no desempenhoanimal. De acordo com a companhia: “A ciência por trás do IGENITYdá aos produtores de laticínios e carne de gado a capacidade de conheceragora – com alto grau de precisão – uma nova dimensão do potencialgenético de um animal para produção, bem como qualidade, de leite ecarne.”136

Genética animal da Pfizer… é a unidade global de negócios de genômica de animais de criação daPfizer Animal Health, uma divisão da Pfizer Inc. De acordo com a Pfizer,as tecnologias de marcadores de DNA patenteadas da companhia podemauxiliar a identificar animais geneticamente superiores. Em janeiro de2010, a companhia anunciou que havia obtido um “marco significativona história da genética de carne de gado” com o primeiro teste deprevisão disponível comercialmente para a indústria de carne de gado quetem como base um painel de alta densidade com mais de 50.000marcadores de DNA para Angus preto. A Pfizer afirma que “o DNAcontém informações valiosas com importantes implicaçõeseconômicas”.137 Em 2010, a Pfizer Animal Health relatou faturamento deaproximadamente 3,6 bilhões de dólares. Mas, em julho de 2011, acompanhia-mãe anunciou que está “explorando alternativas estratégicaspara seus negócios de saúde e nutrição animal, a partir da sua recenterevisão do portfólio de negócios...”

As 10 maiorescompanhias defarmacêuticaveterináriaCompanhia

1. Pfizer, Inc.2. Intervet/Schering-Plough3. Merial4. Bayer5. Elanco6. Novartis7. Boehringer Ingelheim Vetmedica (estimativa)

8. Virbac 9. CEVA (estimativa)10. Vetoquinol

Vendas 2009

(Milhões de dólares)2.7642.7162.5541.4001.2071.100780

670470360

Fonte: BraakeConsulting,Inc., marçode 2010

Page 47: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Em 1989, restavam apenas onze companhiascriadoras de frangos; em 2006, havia apenasquatro: EW Group (Alemanha), HendrixGenetics (Holanda), Groupe Grimaud(França) e Tyson (EUA).

Apenas três companhias (EW Group,Hendrix Genetics e Groupe Grimaud)controlam o mercado global de genéticade galinhas poedeiras. A genética de perusé controlada pelo EW Group e pela

Hendrix, junto com a Wilmar PoultryCompany, com sede nos EUA.

Em 2007, a principal companhia de genética de aves domundo, o EW Group, adquiriu a norueguesa Aqua Gen parase tornar a principal companhia mundial em criação de salmãoe truta.

A Genus plc (do Reino Unido) criou a maior companhia degenética animal do mundo, com a aquisição da principalcompanhia de genética de bovinos, a ABS Global, em 1999; damaior empresa de genética suína, a Pig Improvement Company(PIC), em 2006; e da Sygen International, uma companhia quecria camarões de água quente. Com vendas de 430 milhões dedólares em 2010, a Genus opera em trinta países, nos seiscontinentes.

41www.etcgroup.org

A “indústria da genética de animais de criação”– as companhias que controlam matrizespara produção comercial de frangos, suínose bovinos – está extremamenteconcentrada nas mãos de poucos atorescorporativos globais. Não há sequer umalista das 10 maiores companhias paraesse setor industrial, porque apenas trêsou quatro dominam o mercado dagenética de animais para cada uma dasespécies principais de criação industrial.

As origens do melhoramento comercial deplantas e de animais de criação estão intimamenterelacionadas. Henry A. Wallace (vice-presidente dos EstadosUnidos de 1941-45) – mais conhecido por ter desenvolvido omilho híbrido – aplicou os mesmos métodos de melhoramentoem aves: quando duas linhas diferentes são cruzadas, aprodutividade da descendência pode aumentar, um fenômenoconhecido com “vigor híbrido”. Entretanto, esse efeito éperdido na segundo geração, forçando os produtores que criamessas raças a comprar, ano após ano, novos animais melhorados.

Levou somente 10 anos para todos os criadores comerciais deaves mudarem para aves híbridas.

A indústria da genética animal

Frangos de corteErich WesjohannGroup (Alemanha)

Groupe Grimaud(França)

Hendrix Genetics(Holanda)

Tyson (EUA)

Genética comercial de animais. Maiores companhias por espécies principais

Galinhas poedeirasErich Wesjohann Group(Alemanha)

Hendrix Genetics-(propriedade da BovansBeheer, Holanda)

Groupe Grimaud(França)

Perus Erich WesjohannGroup (Alemanha)

Hendrix Genetics(Holanda)

Wilmar PoultryCompany (EUA)

SuínosGenus plc (ReinoUnido)

Hendrix Genetics(Holanda)

Pigture Group(Holanda)

BovinosGenus plc (ReinoUnido)

Koepon Holding(Holanda)

Semex Alliance(Canadá)

Viking Genetics(Dinamarca) Fonte: Susanne Gura

Page 48: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?42

Com vendas de 28,4 bilhões de dólares em 2010, a TysonFoods, Inc. converteu-se na maior empresa processadora e decomercialização de carne de frango, bovina e suína. Acompanhia opera em 90 países e tem contratos com 5.835produtores para criar seus animais. A Tyson também éproprietária da Cobb-Vantress, tornando-se uma das quatrocompanhias que controlam o mercado mundial de genética defrangos de corte. Em 2010, a companhia abateu 42,3 milhõesde frangos, 143.600 cabeças de gado e 389.800 suínos porsemana.

Com o controle da genética de animais de criação tãosolidamente concentrado nas mãos de poucasempresas, o número de linhas comerciaisdisponíveis diminuiu drasticamente. Osanimais para criação industrial estãobaseados em genética patenteada. Ainformação genética das pouco mais deduas dúzias de linhas de frangos usadaspor criadores industriais em todo omundo é vista como um segredocomercial.

Em um grau verdadeiramentesurpreendente, a uniformidade genética é oemblema da criação industrial de animais: umgalo reprodutor pode ter até 28 milhões de crias, e umtouro, um milhão. A Genus plc vangloria-se de ter tido 10touros que chegaram ao status de “milionários” (isto é, sêmende um único touro responsável por mais de 1 milhão de crias).Em bovinos e suínos, os genes de milhões de animaiscorrespondem a menos de 100 animais reprodutores(“tamanho efetivo da população”). Uma só raça bovina – aHolstein [raça Holandesa]– responde por mais de 90% dorebanho leiteiro dos Estados Unidos. Graças à inseminaçãoartificial, toda a população Holstein deriva de não mais do que20 animais.

Em nítido contraste com o controle centralizado da genéticaindustrial de animais de criação, estima-se que 640 milhões deagricultores em pequena escala e 190 milhões de pastores criamanimais. Durante séculos, as comunidades pastorisdesenvolveram milhares de raças animais geneticamentediversificadas, a fonte de características tais como resistência adoenças, alta fertilidade e a habilidade de desenvolver-se sobcondições rigorosas – recursos essenciais para a adaptação àmudança climática. A FAO estima que há 7.616 diferentesraças de animais de criação, mas que 20% estão em risco deextinção, principalmente devido ao aumento da produçãoindustrial de animais.138 Estamos perdendo uma raça animalpor mês.

Devido à produção intensiva, superlotação e uniformidadegenética, operações industriais de criação de animais sãoincubadoras de doenças infecciosas virulentas. Os riscos àsaúde humana e de perdas econômicas associados com doençasoriundas da criação intensiva de animais são impressionantes.De acordo com o Banco Mundial:

“Nos últimos 15 anos, 75% das doenças humanas que surgiramcomo epidemias originaram-se de animais, e, no total, 60% dospatógenos humanos são considerados de origem zoonótica[isto é, doenças de animais transmissíveis para humanos]. Um

número crescente desses patógenos está desenvolvendoresistência aos antibióticos, e muitos dessesmesmos patógenos animais têm potencial deuso como armas bioterroristas e carregam orisco de introdução intencional empopulações humanas.”139

A FAO estima que os impactos dedoenças animais podem afetar em 17%o faturamento das indústria deprodução animal em paísesindustrializados, e entre 35-40% dofaturamento dessa mesma indústria empaíses em desenvolvimento.140Um surto de

aftosa, em 2001, custou ao governo do ReinoUnido e ao setor privado em torno de 25 a 30 bilhões

de dólares; em 2002-2003, o surto da Síndrome RespiratóriaAguda Grave (SARS, por sua sigla em inglês) custou à China(incluindo Hong Kong), Singapura e Canadá entre 30 e 50bilhões de dólares.141

De acordo com a Union of Concerned Scientists [União dosCientistas Preocupados] (UCS), 70% de todas as drogasantimicrobianas utilizadas nos Estados Unidos são para usonão terapêutico em animais de criação. Por exemplo,antibióticos são utilizados para acelerar o ganho de peso dosanimais, e não para tratar doenças. Essa prática generalizadacontribui para a evolução da resistência das bactérias aosantibióticos, incluindo aquelas que infectam humanos. A UCSestima que o volume de drogas antimicrobianas utilizado nacriação de animais nos Estados Unidos é cerca de oito vezesmaior do que o prescrito com propósito de medicaçãohumana.142O problema de resistência aos antibióticos emhumanos custa ao sistema de saúde dos Estados Unidos cercade 26 bilhões de dólares por ano.143

A FAO estimaque há 7.616 diferentes

raças de animais de criação,mas que 20% estão em perigo deextinção, principalmente devido

ao aumento da produçãoindustrial de animais. Estamos

perdendo uma raça animalpor mês.

Page 49: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Fatos chave: • Os 10 maiores megassupermercadostiveram vendas combinadas de 753bilhões de dólares em 2009. De acordocom a Planet Retail, o mercado total degastos com a aquisição de alimentos nomundo todo ultrapassou 7,18 trilhõesem 2009. (A Planet Retail afirma quemonitora mais de 90% da “distribuiçãomoderna de gêneros alimentícios”, em maisde 200 países.144)

• Com vendas combinadas alcançando 753 bilhõesde dólares, as 10 maiores empresas de vendas de alimentos

a varejo são responsáveis por cerca de 10,5 centavos de cadadólar gasto com gêneros alimentícios em todo mundo em

2009. (Isso é uma gigantesca fatia do mercadoglobal, considerando-se que as 10 maioresempresas operavam em apenas 65 países em2009.)• As 3 maiores redes de supermercados(Walmart, Carrefour e Schwarz Group) sãoresponsáveis por 48% do faturamento das 10maiores companhias, o que está abaixo dafatia de mercado de 50% alcançada em 2007.• As vendas do Walmart respondem por 25%do faturamento das 10 maiores varejistas dealimentos em todo o mundo. Em 2009, pelaprimeira vez, as vendas de gênerosalimentícios do Walmart representaram maisda metade (51%) das vendas totais dacompanhia.145

• As 100 maiores varejistas globais de gênerosalimentícios monitoradas pela Planet Retailtiveram vendas combinadas de alimentos de1,84 trilhões de dólares em 2009. As 10primeiras responderam por 41% das vendasobtidas, e uma única companhia, o Walmart,concentrou 10,4% das vendas de gênerosalimentícios obtidas pelas 100 maiores.

43www.etcgroup.org

As 10 maioresvarejistas de gênerosalimentícios domundo

Companhia

(Sede)1. Walmart (EUA)2. Carrefour (França)3. Schwarz Group (Alemanha)4. Tesco (Reino Unido)5. Aldi (Alemanha)6. Kroger (EUA)7. AEON (Japão)8. Edeka (Alemanha)9. Rewe Group (Alemanha)10. Ahold (Reino Unido)Total das 10 maiores

Vendas degêneros

alimentícios2009

(Milhões dedólares)191.711104.29065.01263.28862.26861.77252.87451.62551.43548.553

752.829

Fatia demercado

(como % das 10

maiores)25,5%13,9%8,6%8,4%8,3%8,2%7,0%6,9%6,8%6,4%100%

Númerode

paísesem queopera15 34 23 14 15 1 9 2 14 10

Fonte: Dados de vendas desupermercados fornecidos pela

Planet Retail, www.planetretail.net

As grandes empresas de alimentos e abioeconomiaAs maiores empresas mundiaiscompradoras, vendedoras eprocessadoras de produtos de basebiológica são as fabricantes e varejistasda cadeia alimentar agroindustrial. Quãograndes são elas? Em termos globais, omercado comercial de gêneros alimentíciosultrapassou 7 trilhões de dólares em 2009,superando o ultragrande mercado de energia (verpágina 12).

A indústria varejista de alimentos

Page 50: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?44

Supermercados em busca de outroscorredores A maior tendência no varejo de alimentos não é surpresa:rápido crescimento nos mercados emergentes, ultrapassando asvendas decrescentes no Norte. Analistas da indústria preveemque a China irá ultrapassar o consumo dos Estados Unidos em2012, para se transformar no maior mercado de vendas dealimentos a varejo do mundo.146

O Brasil recentemente ultrapassou a França,tornando-se o quinto maior mercado degêneros alimentícios no varejo. Em 2015,Brasil, Rússia, Índia, China e EstadosUnidos terão os 5 maiores mercadosmundiais de varejo de gênerosalimentícios. Os mercados conjuntos doBrasil, Rússia, Índia e China valerãoestimados 2.194 bilhões de euros (cercade 3 trilhões de dólares) em apenas 4anos.147 Essa é a razão pela qual os titãs estãoacelerando seus esforços para penetrar emmercados em rápido crescimento no Sul. (Nota: osanalistas da indústria não consideram a União Europeia comoum mercado unificado. A fatia de mercado do conjunto depaíses da União Europeia teria uma posição muito mais alta noranking global.)

Seu objetivo é assegurar uma participação dominante nomercado: “De maneira crescente, os supermercados estãofocando na participação no mercado. Se não conseguem setornar o nº 1 ou nº 2 em um mercado, procuram uma forma desair dele”, explica um analista.148 Por exemplo, a Tesco opera em14 países, e 90% dos lucros da companhia vêm de mercadosonde é a maior ou segunda maior cadeia de supermercados.149

Para facilitar o domínio do mercado, as 10 maiorescompanhias às vezes colaboram – ao invés de competir –trocando ativos. Por exemplo, em 2005, a Tesco trocou lojas naTailândia por algumas lojas do Carrefour na Europa Central.150

Indo para a ÁfricaEm maio de 2011, o Walmart obteve luz verde das autoridadessul-africanas para adquirir, por 2,3 bilhões de dólares, umaparticipação de controle acionário na Massmart Holdings Ltd.,com sede na África do Sul. A cadeia é a terceira maior varejistada África e opera em 14 países subsaarianos. A Massmart é aprimeira grande aquisição realizada na África Subsaariana por

uma das 10 maiores varejistas do mundo. Os sindicatos decomércio sul-africanos se opuseram vigorosamenteao acordo, referindo-se ao Walmart como“notoriamente antissindical”.151MichaelBride, o subdiretor de organização dosindicato norte-americano TrabalhadoresUnidos da Alimentação e do Comércio,explica o que está em jogo para ostrabalhadores africanos: “o Walmartexerce uma pressão interminável sobreseus fornecedores para que estes oabasteçam com preços cada vez mais baixos,

que simplesmente são insustentáveis...Resumindo, as más práticas comerciais do

Walmart não afetam só os trabalhadores em suas lojasvarejistas, mas [também] trabalhadores em toda a cadeia defornecimento”.152

Tão grande quanto a muralha da China?Atualmente o Walmart opera 338 lojas em 124 cidadeschinesas, com 90.000 empregados e vendas anuais deaproximadamente 7 bilhões de dólares. Soa impressionante,mas representa menos de 3% das vendas da companhia nosEstados Unidos. O relatório anual de 2009 da companhiaprevê que suas lojas comprarão de mais de um milhão deagricultores chineses em 2011. “A Walmart chinesa acreditafirmemente no abastecimento local. Estabelecemos parceriascom cerca de 20.000 fornecedores na China”, de acordo comum boletim da Walmart chinesa, com mais de 95% dasmercadorias disponíveis em suas lojas na China sendo obtidas“localmente”.153 (É claro, algo similar poderia ser dito dasmercadorias em suas lojas nos Estados Unidos – vindas daChina, por certo). O Walmart é o sexto maior mercado deexportação da China: mais de 12% das exportações chinesaspara os Estados Unidos acabam nas prateleiras de umWalmart.154)

O Walmart é osexto maior mercado

de exportação da China:mais de 12% das exportações

chinesas para os EstadosUnidos acabam nasprateleiras de um

Walmart.

Page 51: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

45www.etcgroup.org

Até junho de 2011, o Carrefour operava um total de 184hipermercados na China (como comparação, o Carrefour tinha232 hipermercados na França em abril de 2011). Tanto oCarrefour como o Walmart recentemente foram manchetes denotícias na China depois que autoridades do país multaram ascompanhias por cobrar sobrepreços ou fraudar consumidoresem várias lojas.155

Roleta russa no varejoAnalistas preveem que o mercado de vendas a varejo de gênerosalimentícios na Rússia dobrará em valor nos próximos quatroanos – levando-o do sétimo para o quarto lugar do mundo.Hoje, as cadeias de supermercados da Rússia respondem porsomente 40% das vendas de alimentos em todo o país. Asegunda cadeia mundial de supermercados, o Carrefour, abriuseu primeiro hipermercado na Rússia, uma loja de 8.000metros quadrados, em junho de 2009. Apenas quatro mesesdepois, apesar de ter planos de abrir uma cadeia de lojasgigantes, o Carrefour decidiu, repentinamente, fechar suasportas e abandonar o país. A razão? A estratégia da companhiaera de investir somente em países onde ela pudesse ser umalíder no mercado – e as perspectivas na Rússia não erampromissoras.156

De olho na ÍndiaA Índia está sob intensa pressão política para abolir sua leinacional que proíbe empresas estrangeiras de ter cadeiasvarejistas multimarcas. Enquanto isso, Carrefour, Walmart eTesco estão competindo pela liderança no gigantesco mercadoconsumidor da Índia – menor somente que o da China –mediante o estabelecimento de operações atacadistas emsociedade com parceiros locais. A Tesco está se associando coma Tata, um conglomerado nacional; e o Walmart, com a BhartiEnterprises. Em novembro de 2010, o presidente dos EstadosUnidos, Barak Obama, viajou para a Índia com uma comitivade diretores executivos da indústria, incluindo Michael Duke,do Walmart, para fazer lobby junto ao governo indiano paraderrubar barreiras sobre investimento estrangeiro direto.157Oque a Índia tem a perder? Depois da agricultura, o varejo é osegundo maior empregador na Índia.158 Com uma estimativa de12 milhões de pequenas lojas, a maioria lojas familiares(kirana) que empregam cerca de 33 milhões de pessoas, a Índiatem a maior densidade de vendas a varejo do mundo.159

Page 52: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?46

As 10 maiores empresas processadorasde alimentos e bebidas sãoresponsáveis por 37% das vendasobtidas pelas 100 maiorescompanhias do setor.

Com vendas combinadas de 387.551 milhõesde dólares, as 10 maiores empresas dealimentos e bebidas controlam cerca de28% do mercado global de produtosalimentícios embalados.

Com vendas de alimentos combinadasde 1.061.405 milhões de dólares (1,06trilhões de dólares) em 2009,161 as 100maiores empresas de alimentos e bebidasforam responsáveis por cerca de 77% de

todos os produtos alimentícios embaladosvendidos no mundo todo em 2009.162

Menos é maisApesar da estagnação da demanda consumidora no Norteglobal, da volatilidade dos mercados e da ocorrência de eventosclimáticos extremos, menos acaba significando mais para as

companhias gigantes de alimentos ebebidas durante a prolongada retraçãoeconômica. Em 2009, 15 das 25maiores gigantes de alimentos ebebidas com sede nos Estados Unidosrelataram vendas decrescentes, mas 18das 25 tiveram lucros maiores.163

Processadoras de alimentos ebebidas

As 10 maiores processadorasde alimentos do mundo

Companhia

(Sede)1. Nestlé (Suíça)2. PepsiCo (EUA)3. Kraft (EUA)4. ABInBev (Bélgica)5. ADM (EUA)6. Coca-Cola (EUA)7. Mars Inc. (EUA)8. Unilever (Holanda)9. Tyson Foods (EUA)10. Cargill (EUA)Total das 10 maiores

Vendas dealimentos e

bebidas, 2009

(Milhões de dólares)91.56043.23240.38636.75832.24130.99030.00029.18026.70426.500

387.551

Vendastotais

(Milhões dedólares)98.73543.23240.38636.75869.20730.99030.00055.31026.704116.579547.901

Fatia demercado

(como % das10 maiores)

11,2%10,4%9,5%8,3%8,0%7,7%7,5%6,9%6,8%100%

Fonte: LeatherheadFood Research

As 3 maiores companhias, Nestlé,PepsiCo e Kraft, controlam juntas umafatia de 45% do faturamento das 10maiores empresas mundiais do setor;essas três gigantes controlam uma fatia de17% das vendas geradas pelas 100 maiores empresas.160

Em 2009, o mercado global de alimentos embalados tinha umvalor aproximado de 1.375.000 milhões de dólares (1,375trilhões de dólares).

Page 53: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

47www.etcgroup.org

Mudanças no panorama de investimentos

Diminui o apetite por fusões e aquisiçõesEm 2009, o setor de alimentos e bebidas registrou 1.005transações de fusões e aquisições, avaliadas em 43 bilhões dedólares. Em relação ao ano anterior, o valor das transaçõesreduziu-se em 73%, e o número de transações caiu 37%.167

Entre os acordos mais relevantes no setor de alimentos ebebidas nos anos recentes, estão:

• Em 2008, a maior transação de fusões e aquisições foi acolossal aquisição da Anheuser-Busch pela cervejaria belga-brasileira InBev, por 61 bilhões de dólares. A companhia(Anheuser-Busch InBev) está classificada como a quartamaior companhia de alimentos e bebidas do mundo (e amaior cervejaria do planeta). Em 2010, a companhia geroufaturamento de 36 bilhões de dólares.

• Em 2009, duas das 5 maiores transações envolveram gigantesde carne e frango com sede no Brasil. A processadora defrango Perdigão S.A. adquiriu sua concorrente Sadia por 5,6bilhões de dólares, formando uma nova companhiaconhecida como Brasil Foods S.A.

• Em 2010, a Kraft Foods comprou a fabricante britânica dedoces Cadbury por 19,6 bilhões de dólares. A Nestlé assumiuo negócio de pizzas congeladas da Kraft na América do Nortepor 3,7 bilhões de dólares.

• A PepsiCo tornou-se a maior empresa de alimentos e bebidasda Rússia quando comprou a companhia russa de sucos elaticínios Wimm-Bill-Dann por 3,8 bilhões de dólares em2010.

• No início de 2011, a DuPont adquiriu a Danisco, umacompanhia global de enzimas e ingredientes alimentíciosespecializados, por 6,3 bilhões de dólares. (A DuPont e aDanisco [Genencor] tinham, anteriormente, uma sociedade50%/50% para produzir etanol celulósico.)

As transnacionais do Sul vão para o NorteA atividade de IED no setor de alimentos e bebidas tambémestá fluindo para o Norte. Por exemplo:

• Em 2008, a maior panificadora do mundo, o Grupo Bimbo,do México, adquiriu a norte-americana Weston Food por 2,8bilhões de dólares. Em 2009, a maior empresa de laticínios doMéxico, Grupo Lala, adquiriu a National Dairy Holdings, daDairy Farmers of America, Inc., por aproximadamente 440milhões de dólares.

• Em 2008, a gigante brasileira de processamento de carne degado JBS comprou a embaladora de carnes Swift & Co., dosEstados Unidos, por 1,4 bilhões de dólares; em 2009, a JBSengoliu a terceira maior companhia de carne de gado doBrasil, a Bertin S.A., e adquiriu uma participação majoritáriana companhia texana de frango Pilgrim’s Pride, por 800milhões de dólares. Depois de aquisições nos Estados Unidos,Austrália, Europa e Brasil, a JBS é a maior companhia decarne de gado e frango do mundo. A companhia tem acapacidade de abater 90.000 bois por dia, com vendas anuaisde 29 bilhões de dólares.168

O investimento estrangeiro direto (IED) - isto é, oinvestimento de uma empresa em uma companhia ou empresafora do país sede da empresa investidora, por exemplo,mediante uma fusão ou aquisição - em todos os setores daeconomia global caiu de uma alta histórica de 1,9 trilhões dedólares em 2007 para 1,69 trilhões de dólares em 2008 (umaqueda de 14%).164De acordo com a Conferência das NaçõesUnidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), acrise financeira transformou o panorama global deinvestimentos. A participação do Sul global e das economiasemergentes no recebimento de fluxos de IED no mundo todoaumentou repentinamente para 43% em 2008.165

O fluxo de investimentos no exterior feitos a partir do Sulglobal e de economias emergentes respondeu por 19% doIED mundial – uma tendência que se reflete na indústria dealimentos e bebidas (ver exemplos de fusões e aquisiçõescitados abaixo). Em 2009, o IED caiu em todos os setores eregiões geográficas. De acordo com estimativas daUNCTAD, o IED se recuperou levemente em 2010,alcançando mais de 1,2 trilhões de dólares. As economias emdesenvolvimento e em transição atraíram a metade dosafluxos globais de IED e investiram um quarto dos fluxos deIED no exterior.166

Page 54: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?48

A água e o sistema alimentaragroindustrialSão necessárias enormes quantidades de água paracultivar os alimentos do mundo. A agricultura respondepor cerca de 70% do consumo mundial de água por ano.Mas o mais surpreendente é que apenas 5 das maioresprocessadoras de alimentos e bebidas do mundoconsomem cerca de 575 bilhões de litros de água por ano,“o suficiente para suprir as necessidades diárias de água decada pessoa na Terra”.170O termo “água virtual” refere-se atoda a água efetivamente necessária para produzir umdeterminado produto, ingrediente ou material –incluindo a água usada pelos cultivos durante o ciclo e naalimentação dos animais. Por exemplo, são necessários2.500 litros de água para produzir um único hambúrgerde 150 gramas vendido em lojas de fast-food.171 Aprodução e o processamento de meio quilo de chocolateutilizam 12 mil litros de água.172

Biomassa desperdiçadaA cada ano, cerca de um terço dos alimentos produzidospara consumo humano – em torno de 1,3 bilhões detoneladas – é perdido ou jogado fora.173De acordo com aFAO, em países industrializados, o desperdício dealimentos é causado, basicamente, por varejistas econsumidores que jogam produtos alimentícios emcondições de serem comidos no lixo. Os consumidoresnos países ricos desperdiçam uma quantidade dealimentos (222 milhões de toneladas) que é quaseequivalente a toda a produção líquida de alimentos daÁfrica Subsaariana (230 milhões de toneladas). Aquantidade de alimentos perdida ou desperdiçada a cadaano é equivalente a mais da metade da produção mundialanual de cereais (2,3 bilhões de toneladas em2009/2010).

As economias emergentes tomam a dianteiraEntre os países individuais, os Estados Unidos foramresponsáveis pelo valor em transações empresariais mais alto de2009 (174 acordos de fusões e aquisições, avaliados em 7,5bilhões de dólares). O Brasil veio em segundo lugar, com valorbem próximo, somando 15 transações, avaliadas em 7,1 bilhõesde dólares. Entretanto, se a classificação for pelo valor dastransações regionais, os mercados emergentes levaram aliderança. A Ásia liderou com acordos de fusões e aquisiçõesavaliados em 11,1 bilhões de dólares, seguida pela Europa, com9,2 bilhões de dólares, e a América do Norte, com 8 bilhões dedólares.169

Page 55: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

49www.etcgroup.org

As grandes farmacêuticas, abiotecnologia e a bioeconomiaA grande indústria farmacêutica e suairmã pequena, a indústria debiotecnologia, são fornecedoras deprodutos patenteados que sempredependeram da biodiversidade e dossaberes indígenas. Numa estimativaconservadora, pelo menos 50% doscompostos farmacêuticos vendidos nosEstados Unidos são derivados de plantas,animais e microrganismos.

Como mencionamos anteriormente, a fronteira entreo desenvolvimento de medicamentos, abioinformática, o sequenciamento de genes eos diagnósticos de doenças está cada vezmais indefinida (ver Bioinformática egeração de dados genômicos, página 16),mas a indústria farmacêutica ainda équem dá as ordens. Atualmente, asgrandes da farmacêutica empregam abiotecnologia, a genômica, ananotecnologia e a biologia sintética embusca de sua tão prometida e tão

promovida “genômica pessoal” – ondeterapias com medicamentos procuram atacar

uma proteína específica, que sofreu mutação genética epode ser a causa de doenças específicas.

O diretor executivo da Roche dá suainterpretação sobre a promessatecnológica distante de descoberta demedicamentos com base em genes: “... osmedicamentos que existem hoje tratamde apenas cerca de 150 alvos, enquantoexistem mais de 2 milhões de proteínasno corpo humano, das quais muitaspossivelmente podem causar doenças.Estamos apenas arranhando asuperfície”.174

Nota: Em nosso documento ¿De quién esla naturaleza?, de 2008, as vendas das dezmaiores companhias farmacêuticasconcentravam 54,8% das vendasacumuladas das 100 maiores companhiasem 2006. Com base nas vendas de 2009das 100 maiores companhias, a fatia das10 maiores caiu levemente (52,3%). Em2009, as 10 maiores companhias foramresponsáveis por 37,3% do total dasvendas de fármacos em todo o mundo,avaliadas em 837 bilhões de dólares.

As indústrias farmacêutica e de biotecnologia

As 10 maiores companhiasfarmacêuticas do mundoCompanhia

(Sede)1. Pfizer (EUA) – adquiriu a Wyeth por 68 bilhões de dólares em 2009

2. Sanofi-Aventis (França) – completou a aquisição de 20 bilhões de dólares da Genzyme em 2011

3. GlaxoSmithKline (Reino Unido)4. Novartis (Suíça)5. Roche (Suíça) – adquiriu a Genentech por 47 bilhões de dólares em 2009

6. AstraZeneca (Reino Unido)7. Merck & Co. (EUA) – adquiriu a Schering-Plough por 41 bilhões de dólares em 2009

8. Johnson & Johnson (EUA)9. Eli Lilly (EUA)10. Boehringer Ingelheim (Alemanha)Total das vendas das 10 maiores companhiasTotal das vendas globais em 2009

Vendas 2009

(Milhões de dólares)45.448

40.871

37.13436.03136.017

32.80425.237

22.52019.96416.890

312.916837.000

Fatia dasvendasglobais,2009

(%)5,4%

4,9%

4,4%4,3%4,3%

3,9%3,0%

2,7%2,4%2,0%

37,3%

Fontes: ScripMarket Data,IMS Health

Page 56: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?50

As características do setor farmacêutico que identificamos láem 2008 – a grande aposta das grandes farmacêuticas nabiotecnologia, medicamentos que são sucesso de vendas compatentes vencendo, gargalos no desenvolvimento de novosmedicamentos, um novo foco em mercados emergentes e emmedicamentos personalizados – ainda estão todas vigentes, etodas elas são fatores influenciando na perda de participaçãono mercado das 10 gigantes farmacêuticas:

• A aquisição da Genentech – a primeira grande companhia debiotecnologia do mundo, fundada 35 anos atrás – pelaRoche, em 2009, simbolizou e concretizou o matrimônioentre as grandes farmacêuticas e a biotecnologia. (A Roche, aquinta maior companhia farmacêutica do mundo, prefere serconhecida como “a maior companhia de biotecnologia domundo”).

• Entre 2010 e 2014, as grandes farmacêuticas vão perder aproteção de patentes em medicamentos que contribuem commais de 100 bilhões de dólares para suas receitas – umaquantia equivalente a 32% do faturamento conjunto das 10maiores companhias.175O medicamento Lipitor, utilizadopara reduzir os níveis de colesterol, por exemplo, perde suaproteção de patente em 2012, depois de ter gerado 11,4bilhões de dólares para a Pfizer em 2009 – isso é mais do queum quarto do total de vendas de medicamentos da empresanesse mesmo ano.

iFarma?

• Todavia, a expiração das patentes não significa morte certapara as grandes farmacêuticas. Modificar levemente asformulações dos medicamentos e solicitar patente do “novo”medicamento pode ganhar tempo; processar companhias demedicamentos genéricos também é uma opção, bem como o évender genéricos “autorizados” (isto é, colocar seu nome elogomarca em formulações genéricas, que alcançam um preçomaior do que genéricos sem marca). Mas, geralmente, asgrandes farmacêuticas optam por “pagar-para-atrasar” – istoé, elas fazem pagamentos em dinheiro aos fabricantes demedicamentos genéricos para que estes não lancem nomercado versões mais baratas. Em março de 2011, a SupremaCorte dos Estados Unidos decidiu a favor de um pacto pagar-para-atrasar de uma companhia farmacêutica/genérica, muitoembora 32 estados da União e a Comissão Federal deComércio tivessem entregado pareceres, na qualidade deamigos da corte, opondo-se ao acordo.176

• Não há nenhuma estrela em ascensão esperando nosbastidores do desenvolvimento de medicamentos. Em 2009,as vendas de novos medicamentos (medicamentos queentraram no mercado nos últimos cinco anos) somarammenos de 7% do total das vendas de medicamentos.177

De acordo com os analistas de mercado da empresa Ernst &Young, a indústria farmacêutica aceitou que tem que evoluir.182

Não mais dependendo apenas de medicamentos patenteados eque são sucessos de vendas para garantir seu faturamento (o quea Ernst & Young descreve como Pharma 1.0 [Pharma, defarmacêutica, em inglês]), a indústria já se atualizou para“Pharma 2.0”, o que se evidencia em seus portfóliosdiversificados que incluem medicamentos de basebiotecnológica e genéricos de marca. Mas a Pharma 3.0 estálogo ali na frente, onde “uma nova geração de‘superconsumidores’ emerge empoderada pela internet edispositivos móveis de comunicação”. A visão consiste nacriação de aplicativos que convertam os telefones celulares emdispositivos médicos (os diabéticos já conseguem interligar seusmedidores de glicose e telefones celulares para enviar dados donível de glicose para seus respectivos médicos) e em que mídiassociais especializadas em cuidados com a saúde gerem dadosque possam ser extraídos por pacientes, médicos e companhiasfarmacêuticas. Na visão da Ernst & Young, na “Pharma 3.0, ascompanhias não estarão apenas vendendo pílulas, masadministrando experiências completas dos pacientes”.

Isso é o que a Voxiva, de capital privado, com sede emWashington, D.C., e escritórios na Índia, México, Nigéria eRuanda, está tentando fazer com sua plataformaHealthConnect. A Voxina se associa com companhias ougovernos para se conectar com “usuários finais” via SMS, e-mail, internet ou celular para um compartilhamento em mãodupla de informações de saúde.

Uma outra companhia, a Proteus Biomedical, com sede naCalifórnia, está testando sua tecnologia de “chip numapílula” (denominada “Raisin”), a qual incorpora “ummarcador de eventos ingerível” dentro de uma pílula queenvia uma carga elétrica quando entra em contato com ácidoestomacal. Um pequeno emplastro sensível sobre a pele dopaciente recebe a carga e registra a hora e data em que apílula foi digerida, juntamente com batimentos cardíacos eoutros sinais vitais. A informação é enviada para um celular eentão para a internet. Garantir o cumprimento dotratamento pelo paciente é a primeira aplicação pretendidapara essa tecnologia.

Page 57: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

51www.etcgroup.org

Um estudo apurou que menos de um emcada 10 medicamentos que hojealcançam os primeiros estágios de testesclínicos conseguem, finalmente, chegarao mercado.178 Em dezembro de 2010, oprincipal órgão regulador demedicamentos da Europa citou o baixonível de inovação de medicamentos bemsucedida da indústria farmacêutica comouma grande preocupação de saúdepública e um enorme desperdício dedinheiro.179

• Mercados emergentes ainda são a grandeesperança das grandes farmacêuticas.Historicamente, “o mercadofarmacêutico global” se referia amercados nos Estados Unidos, Europa eJapão; até 2025, esses mercadosresponderão por menos da metade domercado global.180Até 2015, é esperadoque o mercado de medicamentos daChina ultrapasse o do Japão para setornar o segundo maior mercado.181

Crise de identidadeCom o processo de absorção contínua dascompanhias de biotecnologia pelas grandesfarmacêuticas, a indústria de biotecnologiacomo um setor à parte está sumindo rapidamente. A NatureBiotechnology aponta que “boa parte, senão a maioria, dosprodutos biológicos e técnicas biológicas agora está fora dogrupo de companhias independentes de capital aberto”conhecidas como o setor de biotecnologia.183 As grandesfarmacêuticas gastam estimados 65-85 bilhões de dólares porano em pesquisa e desenvolvimento, e 25-40% disso édestinado à biotecnologia.184Na primeira metade de 2011, asgrandes farmacêuticas adquiriram mais duas das 10 maiores debiotecnologia: a Sanofi-Aventis adquiriu a Genzyme por maisde 20 bilhões de dólares; e a Teva Pharmaceutical compraria aCephalon por 6,8 bilhões de dólares.

• O levantamento de 2009 da Ernst & Young sobrecompanhias de biotecnologia de capital aberto identificou461 companhias desse tipo em todo o mundo.185As 10maiores companhias responderam por 62% dos 91,7 bilhõesde dólares de faturamento do setor.

As 10 maiorescompanhias de capitalaberto de biotecnologiado mundoCompanhia

(Sede)1. Amgen (EUA)2. Monsanto (EUA)3. Gilead Sciences (EUA)4. Genzyme (EUA) - Adquirida pela Sanofi-Aventis em 2011

5. Biogen Idec (EUA)6. CSL (Austrália)7. Life Technologies (EUA) - Formada pela fusão da Applied Biosystems com a Invitrogen em 2008

8. Shire (Reino Unido)9. Celgene (EUA)10. Cephalon (EUA) - Adquirida pela Teva Pharmaceutical Industries em 2011

Faturamento em 2009

(Milhões de dólares)14.64211.7247.0114.516

4.3773.7583.280

3.1072.6902.192

Variaçãodas vendasem relação a

2008

(%)-2%3%31%-2%

7%30%102%

5%19%11%

Fontes: Ernst &Young, NatureBiotechnology

• Pelo terceiro ano, em seus 35 anos de história, o setor debiotecnologia como um todo informou lucros – que somam8 bilhões de dólares em 2009. Mas as 13 maiores companhiasde biotecnologia (faturamento de 5 bilhões de dólares) foramresponsáveis por 89% dos lucros líquidos do setor.186 Houvemuitas baixas: 34 companhias desapareceram da lista decompanhias de biotecnologia, 20 das quais por falência.

• Em 2008, as companhias de biotecnologia de capital aberto,em conjunto, gastaram 25,5 bilhões de dólares em pesquisa edesenvolvimento.

• 49% das 461 companhias de biotecnologia que apareceramna lista de 2009 têm sede fora dos Estados Unidos.Comparando, apenas 17% das companhias de biotecnologiade capital aberto tinham sede fora dos Estados Unidos em1998; 30%, em 2003; e 36%, em 2008.

Page 58: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?52

Conclusão

Diante do caos climático, do colapso financeiro e ecológico, eda fome onipresente, os governos a caminho da Rio+20(Cúpula da Terra 2012) estão desesperados por abraçar umatransformação tecnológica (de qualquer cor) que prometa umPlano B politicamente oportuno para o planeta. Da formacomo é imaginado atualmente, o ‘conserto’ tecnológico verde ésedutor, mas perigoso, porque estimulará uma convergênciaainda maior do poder corporativo e desencadeará um conjuntode tecnologias patenteadas não testadas nos territórios decomunidades que não foram consultadas a respeito deseus impactos nem estão preparadas paraenfrentá-los. Consertos tecnológicos não sãocapazes de resolver os problemassistêmicos das crises de pobreza, defome e ambiental. Na ausência dedebate intergovernamental e de umamplo envolvimento de organizaçõespopulares e da sociedade civil, aCúpula da Terra se transformará noApossamento da Terra.

O objetivo não é rejeitar a EconomiaVerde, mas realmente construireconomias sustentáveis baseadas no usoapropriado da biodiversidade para atendernecessidades humanas e salvaguardar os sistemas doplaneta. O axioma, agora familiar, que diz “o de sempre não éuma opção”, deve ser reforçado por outro axioma de igualimportância: a governança como de costume não é uma opção.

As atuais estruturas de governança tanto para o ambientequanto para a agricultura no sistema das Nações Unidas sofremde uma falta de coordenação entre instituições; de uma falta derepresentação efetiva para a maioria dos governos; e de umaausência de oportunidades significativas de participação para asorganizações da sociedade civil e movimentos sociais. Emprimeiro lugar, a Rio+20 não terá sucesso a menos que setomem medidas para fortalecer a democracia e a participaçãopopular dentro do sistema das Nações Unidas. Os governosdevem assegurar a plena participação dos movimentos sociais –especialmente indígenas, camponeses e de comunidades locais– e das organizações da sociedade civil.

Os esforços para contrapor a hegemonia corporativa econstruir economias genuinamente sustentáveis devem incluir,entre outros:

Regimes antimonopólicosAs estruturas antitruste existentes hoje são impotentes frenteao processo crescente e contínuo de consolidação eglobalização corporativas. Um estudo publicado em 2011 porpesquisadores suíços revela que 147 companhias – que

coletivamente formam uma “superentidade”econômica – controlavam quase 40% do valormonetário de todas as corporaçõestransnacionais em 2007.187

Um relatório de 2010 do RelatorEspecial das Nações Unidas sobre oDireito à Alimentação recomendaque regimes jurídicos de leis deconcorrência / leis antimonopóliosejam expandidos para facilitar oefetivo exercício dos direitoshumanos, incluindo, entre outros, odireito à alimentação, o direito ao

trabalho e o direito ao desenvolvimento. ALei Modelo de [Defesa da] Concorrência, da

Conferência das Nações Unidas sobre Comércio eDesenvolvimento (UNCTAD) – embora ainda um trabalhoem andamento e não uma autoridade antimonopóliosupranacional – é uma tentativa de fortalecer a cooperaçãomultilateral na área de regimes de concorrência (por exemplo,em matéria da aplicação coordenada de políticas deconcorrência). Os governos devem/têm que explorar modelosnovos e inovadores.

O papel central da agricultura e a soberania alimentarNo processo de negociação que precede a Rio+20, há umapreocupante tendência de incluir os alimentos e a agriculturadentro de uma agenda “ambiental” mais ampla que ignora ascrises alimentares globais recorrentes e as conexões entre aagricultura industrial e a crise climática. A importância daagricultura, e especialmente o papel dos produtores empequena escala, deve estar no centro de qualquer discussão arespeito de uma economia verde.

“A globalização dascadeias de abastecimento de

alimentos exige que regimes jurídicos deconcorrência tenham alcance

extraterritorial, equivalente ao poder que osatores de mercado envolvidos conseguiram.”

Olivier de Schutter, Relator Especial dasNações Unidas sobre o Direito àAlimentação, Addressing

Concentration in Food SupplyChains, dezembro

de 2010.

Page 59: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

53www.etcgroup.org

Os agricultores em pequena escala não apenas respondem porpelo menos 70% da produção agrícola global, mas suas açõescoletivas representam nossa melhor esperança de adaptar-nos ae mitigar a crise climática. Os formuladores de políticasinternacionais devem trabalhar para eliminar a atualdesconexão entre a segurança alimentar, a agricultura e apolítica climática, especialmente através do apoio à SoberaniaAlimentar como estrutura/âmbito geral para tratar dessesassuntos. Em contraste com o atual sistema agroindustrial, oqual permite que regimes de comércio internacionais e forçasde mercado ditem as políticas alimentares e agrícolas, asoberania alimentar pressupõe os direitos das nações e povosde, democraticamente, determinar suas próprias políticasalimentares e agrícolas.

Um mecanismo internacional de avaliação einformação sobre as tecnologiasOs governos reunidos no Rio devem adotar um processo paranegociar/desenvolver um mecanismo internacional deavaliação e informação sobre as tecnologias – com base noprincípio da precaução – que fortaleça a soberania nacional econstrua capacidades, especialmente nos países do Sul global,para avaliar os impactos sobre a saúde, ambientais, econômicose sociais das tecnologias novas e emergentes, como abiotecnologia, a nanotecnologia e a biologia sintética.188Umatecnologia emergente como a geoengenharia, a qual pode serimplementada unilateralmente e tem o propósito de afetar umsistema global (isto é, o clima), não deve ser autorizada aprosseguir na ausência de um mecanismo desse tipo.

As corporações multimilionárias nunca poderão beneficiar “gradualmente” os mais pobres à custa de se tornar mais ricas,

como apregoam certas teorias econômicas.

Page 60: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?54

Notas 1 Stefania Vitali, James B. Glattfelder, e Stefano Battiston, “Thenetwork of global corporate control”, arXiv:1107.5728v1,arXiv.org, 28 de julho de 2011.

2 Ibid.3 Nações Unidas, World Economic and Social Survey 2011: The GreatGreen Technological Transformation, Department of Economic andSocial Affairs, Nova Iorque, 2011. Enquanto a noção de uma“economia verde” recebeu muita atenção nos círculos de políticos (ede investimentos) – ganhando grande impulso com a divulgação,em fevereiro de 2011, do relatório do Programa das Nações Unidaspara o Meio Ambiente (PNUMA) intitulado Rumo a umaEconomia Verde: Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável ea Erradicação da Pobreza – o conceito gerou crescente controvérsianos últimos meses. O Grupo dos 77, em particular, questionou apertinência do termo, apontando que a “economia verde” nãodeveria substituir ou redefinir a de “desenvolvimento sustentável”, etambém salientou a necessidade de uma melhor compreensão docampo de ação, benefícios, riscos e custos da economia verde.

4 A empresa Monsanto original transferiu sua divisão de substânciasquímicas industriais em 1997 para a Solutia, Inc.. Na mesma época(1996-1998), gastou 8 bilhões de dólares adquirindo companhiasde biotecnologia vegetal (por exemplo, Calgene, Agracetus) ecompanhias de sementes convencionais e híbridas (por exemplo,DeKalb Genetics, Holden Foundation Seeds). Ela então fundiucom a Pharmacia & Upjohn em 2000, e a nova companhia criouuma subsidiária com foco em agricultura, também denominadaMonsanto, que começou a operar em 2002.

5 Zephyr Annual M&A Report 2009 publicado pela BvD. O valorglobal de fusões e aquisições caiu 15% de 2008 para 2009.

6 Thomas Urban, então diretor executivo da Pioneer Hi-bred,explicou a motivação por trás das compras de companhias desementes pelas companhias de petróleo e químicas: “A suposiçãopor trás da tendência é que as novas proprietárias podem melhorara resistência das plantas aos herbicidas e agrotóxicos vendidos pelacompanhia matriz.” Citado em Ann Crittenden, “Talking Businesswith Thomas N. Urban of Pioneer Hi-Bred: Gene-Splicing AndAgriculture”, The New York Times, 5 de maio de 1981.

7 Para uma explicação promocional, não crítica mas descritiva deserviços de ecossistemas, ver o website do australiano EcosystemServices Market Project:http://www.ecosystemservicesproject.org/html/markets/overview/markets.html.

8 Uma formulação típica pode ser vista na retrospectiva de final deano da publicação Chemical & Engineering News: “A contradiçãopara a indústria química foi a geração de lucros sólidos em meio auma grande queda das vendas… Em conjunto, os faturamentos das50 maiores empresas da indústria química caíram 21% emcomparação com 2008, para 697 bilhões de dólares… De formainteressante, os lucros se mantiveram melhor do que as vendas”.Alexander H. Tullo, “Global Top 50”, Chemical & EngineeringNews, Vol. 88, No. 30, 26 de julho de 2010:http://pubs.acs.org/cen/coverstory/88/8830cover.html.

9 Committee on World Food Security, High Level Panel of Expertson Food Security and Nutrition, Land tenure and internationalinvestments in agriculture, FAO, Roma: julho de 2011, p. 9.

10 Estas cifras vêm da International Energy Agency, citadas emLorenzo Cotula, Nat Dyer e Sonja Vermeulen, Fuelling exclusion?The biofuels boom and poor people‘s access to land, FAO e IIED,2008, p. 19: http://pubs.iied.org/pdfs/12551IIED.pdf.

11 Predominantemente no Sudão do Sul.

12 Relatório do Grupo ETC (então RAFI) sobre tecnologias debioprocessamento iniciando em meados dos anos 1980. Ver osarquivos do Grupo ETC para relatórios (RAFI Communiqué) sobrea tecnologia e as companhias:http://www.etcgroup.org/en/archives.

13 John K. Smith, “The Catalyst Club – Contentious Chemistry andConfounding Innovation”, Technology and Culture, Vol. 52, No. 2de abril de 2011, pp. 310-334.

14 Grupo ETC, The Big Downturn?, dezembro de 2011:http://www.etcgroup.org/en/node/5245.

15 Matthias Heymann, “Signs of Hubris: The Shaping of WindTechnology Styles in Germany, Denmark, and the United States,1940-1990”, Technology and Culture, Vol. 39, No. 4, 1998, pp. 641-670.

16 Ibid.17 Philip Scranton, “The Challenge of Technological Uncertainty”,Technology and Culture, Vol. 50, No. 2, abril de 2009, pp. 513-518.

18 Nações Unidas, World Economic and Social Survey 2011: TheGreat Green Technological Transformation, Department ofEconomic and Social Affairs, Nova Iorque, 2011.

19 Robert J. Goldston e Alexander Glaser, “Inertial confinementfusion energy R&D and nuclear proliferation: The need for directand transparent review”, Bulletin of the Atomic Scientists, Vol. 67,No.3, maio/junho de 2011, pp. 1-7.

20 Chester Dawson e Yuka Hayashi, “Fateful Move Exposed JapanPlant”, Wall Street Journal, 12 de julho 2011.

21 Paul Marks, “Fukushima throws spotlight on quake zone nuclearpower”, New Scientist, 19 de março de 2011.

22 Andrew Monahan e George Nishiyama, “Japan to Spend $124Billion on Recovery”, Wall Street Journal, 13 de maio de 2011.

Page 61: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

55www.etcgroup.org

23 BCC Research, resumo de “Synthetic Biology: Emerging GlobalMarkets”, junho de 2009:http://www.bccresearch.com/report/BIO066A.html

24 Global Industry Analysts, resumo de “Synthetic Biology: A GlobalMarket Report”, 13 de julho de 2010:http://www.prweb.com/releases/synthetic_biology/genetic_engineering/prweb4247114.htm.

25 BCC Research, resumo de “Synthetic Biology: Emerging GlobalMarkets”, junho de 2009:http://www.bccresearch.com/report/BIO066A.html.

26 Jim Lane, “30 Hottest Companies in Renewable Chemicals andMaterials”, Biofuels Digest, 27 de julho de 2011:http://www.renewableenergyworld.com/rea/news/article/2011/07/30-hottest-companies-in-renewable-chemicals-and-materials.

27 Jim Lane, “50 Hottest Companies in Bioenergy for 2010-11”,Biofuels Digest, 7 de dezembro de 2010:http://biofuelsdigest.com/bdigest/2010/12/07/the-50-hottest-companies-in-bioenergy-for-2010-11/.

28 Grupo ETC (RAFI), Vanilla and Biotechnology, 1987:http://www.etcgroup.org/en/node/541.

29 Comunicado à imprensa da Monsanto, “Monsanto Company andSapphire Energy Enter Collaboration to Advance Yield and StressResearch”, 8 de março de 2011:http://monsanto.mediaroom.com/index.php?s=43&item=934.

30 Jim Lane, “Monsanto invests in Sapphire: goes hunting for yieldtraits in the wild, wild wet”, Biofuels Digest, 9 de março de 2011:http://biofuelsdigest.com/bdigest/2011/03/09/monsanto-invests-in-sapphire-goes-hunting-for-yield-traits-in-the-wild-wild-wet/.

31 BP, BP Statistical Review of World Energy, junho de 2011, p. 2.32 Ibid., p. 39.33 Alexander H. Tullo, “Global Top 50”, Chemical & EngineeringNews, 26 de julho de 2010:http://pubs.acs.org/cen/coverstory/89/8930cover.html.

34 Pat Roy Mooney,” The Law of the Seed”, Development Dialogue,1983:1-2, Tabela 23, p. 96.

35 Citado em Marisha Wojciechowska-Shibuya, “BGI: A scientificrevolution exploding in China”, MaximsNews Network, 10 de abrilde 2011:http://www.maximsnews.com/news20110410BGIconference11104100801.htm.

36 Kevin Davies, “The $10,000 Genome and Counting: TheComplete Picture for 2011”, Bio-IT World, 7 de fevereiro de 2011.http://www.bio-itworld.com/news/02/07/11/10000-dollar-genome-Complete-picture-2011.html.

37 Linda Geddes, “Air detectives know where the bodies are buried”,New Scientist, 12 de abril de 2010. Mais informações, ver PatMooney, “Of InfraREDD and InfoREDD”, Pambazuka News, Issue# 499, 7 de outubro de 2010:http://www.pambazuka.org/en/category/features/67536.

38 Anônimo, “Carbon Mapping Breakthrough”, Carnegie Institutionfor Science, 7 de setembro de 2010:http://carnegiescience.edu/news/carbon_mapping_breakthrough.

39 Rhett A. Butler, “Peru’s rainforest highway triggers surge indeforestation, according to new 3D forest mapping”,mongabay.com, 6 de setembro de 2010.

40 Kevin Davies, Mark Gabrenya e Allison Proffitt, “The Road to the$1,000 Genome”, Bio-IT World, 28 de setembro de 2010:http://www.bio-itworld.com/2010/09/28/1Kgenome.html.

41 Barry Moore et al., “Global analysis of disease-related DNAsequence variation in 10 healthy individuals: Implications forwhole genome-based clinical diagnostics”, Genetics in Medicine,março de 2011, Vol. 13, Nº 3, pp. 210-217. Ver também, KevinDavies, “New Study Reveals 1 Million Human Genome SequenceErrors Across Two NGS Platforms”, Bio-IT World, 1 de abril de2011.

42 Comunicado à imprensa da IBM, “Roche and IBM Collaborate toDevelop Nanopore-Based DNA Sequencing Technology”, 1 dejulho de 2010: http://www-03.ibm.com/press/us/en/pressrelease/32037.wss.

43 Comunicado à imprensa da Agilent Technologies, “UC BerkeleyLaunches Synthetic Biology Institute to Advance Research inBiological Engineering”, 19 de abril de 2011.

44 Lone Frank, “High-Quality DNA”, Newsweek, 24 de abril de 2011.http://www.newsweek.com/2011/04/24/high-quality-dna.print.html.

45 Kevin Davies, “BGI Cloud on the Horizon”, Bio-IT World, 2 defevereiro de 2011: http://www.bio-world.com/2011/02/02/BGI-cloud.html.

46 Michael Schatz, “Analyzing Human Genomes with Hadoop”,Cloudera blog, 15 de outubro de 2009:http://www.cloudera.com/blog/2009/10/analyzing-human-genomes-with-hadoop/.

47 Ibid.48 Ken Rubenstein, Cloud Computing in Life Sciences R&D,Cambridge Healthtech Institute, Insight Pharma Reports, abril de2010, p. ix.

49 Lisa Stapleton, “Taming big data”, IBM Data ManagementMagazine, 2 de maio de 2011:http://www.ibm.com/developerworks/data/library/dmmag/DMMag_2011_Issue2/BigData/index.html.

50 Comunicado à imprensa da Gartner, Inc., “Gartner SaysWorldwide Cloud Services Market to Surpass $68 Billion in 2010”,22 de junho de 2010:http://www.gartner.com/it/page.jsp?id=1389313.

51 Kevin Davies, “Meet Tanuki, a 10,000-core Supercomputer in theCloud”, Bio-IT World, 25 de abril de 2011. Para uma listagemsemestral dos 500 supercomputadores mais poderosos (maisrápidos) do mundo: http://www.top500.org/.

Page 62: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?56

52 Kevin Davies, “Meet Tanuki, a 10,000-core Supercomputer in theCloud”, Bio-IT World, 25 de abril de 2011.

53 Derrick Harris, “As Big Data Takes Off, the Hadoop Wars Begin”,GigaOM, 25 de março de 2011: http://gigaom.com/cloud/as-big-data-takes-off-the-hadoop-wars-begin/.

54 Declaração de Sua Eminência Sr. Peter Thomson, RepresentantePermanente das Ilhas Fiji nas Nações Unidas, em nome da Aliançados Pequenos Estados Insulares, Segunda Reunião do ComitêPreparatório da Rio+20, Nova Iorque, 7 de março de 2011.

55 FAO, The State of World’s Fisheries and Aquaculture – 2010(SOFIA), Roma, 2010, p. 19:http://www.fao.org/docrep/013/i1820e/i1820e00.htm.

56 Averil Wilson e Michele Stanley, “Seaweed for Fuel and Fish”,Scottish Association for Marine Science (SAMS):http://www.ssacn.org/2011-think-again/seaweed-for-fuel-and-fish.

57 FAO, The State of World’s Fisheries and Aquaculture – 2010(SOFIA), Roma, 2010:http://www.fao.org/docrep/013/i1820e/i1820e00.htm.

58 Guri Roesijadi et al., “Techno-Economic Feasibility Analysis ofOffshore Seaweed Farming for Bioenergy and Biobased Products”,IRD Report PNWD-3931, Battelle Pacific Northwest Division, 31de março de 2008.

59 Anônimo, “Seaweed as Biofuel”, 23 de março de 2007.http://pinktentacle.com/2007/03/seaweed-as-biofuel/.

60 Jim Lane, “Statoil invests, partners with BAL in macroalgae: Howbig will big algae be?”, Biofuels Digest, 16 de setembro de 2010:http://biofuelsdigest.com/bdigest/2010/09/16/statoil-invests-partners-with-bal-in-macroalgae-how-big-will-big-algae-be/.

61 Jim Lane, “ARPA-E funds Dupont, BAL project to convertmacroalgae into isobutanol”, Biofuels Digest, 5 de março de 2010:http://biofuelsdigest.com/bdigest/2010/03/05/arpa-e-funds-dupont-bal-project-to-convert-macroalgae-into-isobutanol/.

62 Ibid.63 Anônimo, “Stolt Nielsen buys stake in biofuel firm”, WorldBunkering, 9 de março 2011:http://www.worldbunkering.com/news/industry-news/0578-stolt-nielsen-buys-stake-in-biofuel-firm.html.

64 Comunicado à imprensa da Monsanto, “Monsanto Company andSapphire Energy Enter Collaboration to Advance Yield and StressResearch”, 8 de março de 2011:http://monsanto.mediaroom.com/index.php?s=43&item=934.

65 Comunicado à imprensa da Solazyme, “Solazyme and Dow forman Alliance for the Development of Micro Algae-Derived Oils foruse in Bio-based Dielectric Insulating Fluids”, 9 de março de 2011:http://www.solazyme.com/media/2011-03-09.

66 Katie Howell, “Exxon Sinks $600M into Algae-Based Biofuels inMajor Strategy Shift”, The New York Times, 14 de julho de 2009.

67 Jim Lane, “Shell Exits Algae as it begins ‘Year of Choices’”, BiofuelsDigest, 31 de janeiro de 2011.

68 Ver, por exemplo, Luke Geiver, “Feed operations could helpcommercialize algae”, Biorefining Magazine, 28 de dezembro de2010: http://biorefiningmagazine.com/articles/5206/feed-operations-could-help-commercialize-algae. Ver também, ThomasSaidak, “Wastewater and algal biofuels”, Biofuels Digest, 18 defevereiro de 2011:http://biofuelsdigest.com/bdigest/2011/02/18/wastewater-and-algal-biofuels/.

69 FAO, The State of World’s Fisheries and Aquaculture – 2010(SOFIA), Roma, 2010:http://www.fao.org/docrep/013/i1820e/i1820e00.htm.

70 Ibid.71 Apresentação de Clifford A. Goudey, “Innovation in High SeasAquaculture using Mobile Cages”, Accenture Innovation Forum2009, Frankfurt, Alemanha, 24 de janeiro de 2009.

72 Ver, por exemplo, propostas do The Seasteading Institute:http://www.seasteading.org.

73 Apresentação de Tony Piccolo, Aquatic Biofuels: New Options forBioenergy: http:// aquaticbiofuel.com/media.

74 Anônimo, “Vietnamese Firm to Make Biodiesel from Catfish Fat”,Reuters, 3 de julho de 2006.

75 Russell Gold, “Biofuel Bet Aims to Harvest Fish That Feed onAlgae”, Wall Street Journal, 18 de agosto de 2009.

76 OECD, Globalisation in Fisheries and Aquaculture: Opportunitiesand Challenges, Paris, 2010, pp. 151-152:http://www.oecd.org/document/35/0,3746,en_2649_33901_45114915_1_1_1_37401,00.html.

77 Comunicado à imprensa da Context Network, “ConsolidationDirection – Where and Why the Seed Industry is Headed”, abril de2008: www.contextnet.com.

78 Ver Grupo ETC, “Gene Giants Stockpile Patents on ‘Climate-Ready’ Crops in Bid to Become Biomassters”, Communiqué no.106,outubro de 2010: http://www.etcgroup.org/en/node/5221.

79 Anônimo, “Plant Biotechnology Patent Watch Review”, AgrowWorld Crop Protection News, no. 608, 28 de janeiro de 2011, pp.xxv-xxvi.

80 Carey Gillam, “RPT-Analysis-Seed leaders Pioneer, Monsanto seeSAfrica Backlash”, Reuters, 11 de dezembro de 2010:http://in.reuters.com/article/2010/12/10/idINN1025436720101210. Para presença da Pannar na África, ver:http://pannar.com/news.php?id=102&country_id=1.

81 Anônimo, “SA Biotech company wants to overturn Commissionruling”, Business Day, 23 de fevereiro de 2011:http://www.businessday.co.za/articles/Content.aspx?id=135158.

Page 63: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

57www.etcgroup.org

82 Ver African Centre for Biosafety, “Biotechnology, Seed andAgrochemicals: Global and South African Industry Structure andTrends”, 2009, disponível no website da Oakland Institute’s Voicesfrom Africa:http://www.oaklandinstitute.org/voicesfromafrica/node/44.

83 Carey Gillam, “RPT-Analysis-Seed leaders Pioneer, Monsanto seeSAfrica Backlash”, Reuters, 11 de dezembro de 2010:http://in.reuters.com/article/2010/12/10/idINN1025436720101210.

84 Anônimo, “Monsanto Company Profile part III - Second Wave ofthe Green Revolution”, Organic Lifestyle Magazine, outubro /novembro de 2009:http://www.organiclifestylemagazine.com/issue-10/monsanto.php.

85 Comentários suplementares da DuPont/Pioneer Hi-BredInternational a respeito do estado real da concorrência na indústrianorteamericana de sementes (n.d.):http://www.pioneer.com/CMRoot/Pioneer/media_room/DuPont_DOJ_USDA_Comments.pdf.

86 Mark J. VanGessel, “Glyphosate-Resistant Horseweed fromDelaware”, Weed Science, Vol. 49, No. 6 (nov.-dez. 2001), pp. 703-705.

87 Carey Gillam, “Roundup relied on ‘too long by itself ’: Monsanto”,Reuters, 14 de março 2011; ver também Emily Waltz, “Glyphosateresistance threatens Roundup hegemony”, Nature Biotechnology,Vol. 28, No. 6, junho de 2010, pp. 537-538.

88 Citado em Carey Gillam, “Super Weeds Pose Growing Threat toU.S. Crops”, Reuters, 20 de setembro de 2011.

89 Andrew Pollack, “As Patent Ends, a Seed’s Use Will Survive”, TheNew York Times, 18 de dezembro de 2009.

90 Emily Waltz, “Glyphosate resistance threatens Rounduphegemony”, Nature Biotechnology, Vol. 28, No. 6, junho de 2010,pp. 537-538.

91 Centro para a Segurança Alimentar (Center for Food Safety),comentários científicos apresentados ao serviço de inspeção desanidade animal e vegetal (USDA-APHIS) em relação à avaliaçãoambiental preliminar da solicitação adicional para adesregulamentação parcial da beterraba açucareira geneticamenteengenheirada para ser tolerante ao herbicida glifosato (DraftEnvironmental Assessment of the Supplemental Request for PartialDeregulation of Sugar Beets Genetically Engineered to be Tolerantto the Herbicide Glyphosate), 6 de dezembro de 2010:http://www.centerforfoodsafety.org/wp-content/uploads/2010/12/RRSB-Partial-Dereg-EA-Science-Comments-BF.pdf

92 De acordo com a empresa de consultoria Phillips McDougallcomo citado em David Frabotta, “Biotech Takes Its Toll onPesticides”, Farm Chemicals International, julho de 2010.

93 Por exemplo, Charles Benbrook, Impacts of Genetically EngineeredCrops on Pesticide Use: The First Thirteen Years, novembro de 2009,p. 4. O estudo enfoca os Estados Unidos e conta com dados doUSDA

94 Anônimo, “Pesticide use in Bangladesh tripled in 10 years”,AgroNews, 22 de setembro de 2010:http://news.agropages.com/News/NewsDetail---3862.htm.

95 De acordo com um folheto publicitário no relatório do TheFreedonia Group, World Pesticides:http://www.freedoniagroup.com/brochure/26xx/2664smwe.pdf.

96 Anônimo, “China’s agrochemical production rising at an alarmingrate”, AgroNews, 21 de abril de 2010:http://news.agropages.com/News/NewsDetail---3860.htm.

97 Comunicado à imprensa da Monsanto, “Monsanto AnnouncesCommitment to Reduce Carbon Dioxide Emissions, Joins ChicagoClimate Exchange”, 4 de dezembro de 2007.

98 Ibid.99 Monsanto e a Mesa Redonda da Soja Responsável (RTRS, por suasigla em inglês): http://www.angrymermaid.org/monsanto.

100 Boletim da Union of Concerned Scientists (“União dosCientistas Preocupados”), “Agricultural Practices and CarbonSequestration”, 1 de outubro de 2009.

101 John M. Baker et al., “Tillage and soil carbon sequestration –what do we really know?”, Agriculture, Ecosystems andEnvironment, 118, 2006, p.1:http://ddr.nal.usda.gov/bitstream/10113/10042/1/IND43876134.pdf.

102 Boletim da Union of Concerned Scientists (“União dosCientistas Preocupados”), “Agricultural Practices and CarbonSequestration”, 1 de outubro de 2009.

103 Peter Jones, Andy Jarvis, Glenn Hyman, Steve Beebe, e DouglasPachico, “Climate Proofing Agricultural Research Investments”,Vol. 4, Nº 1 (Memória do Simpósio sobre Mudança Climática eAgricultura, realizado no Centro Internacional para a Pesquisa dosTrópicos Semiáridos [ICRISAT], Andra Pradesh, Índia, novembrode 2007): http://www.icrisat.org/Journal/symposiumv4i1.htm.

104 Ver website da SG Biofuels: http://www.sgfuel.com/pages/sgb-advantage/ germplasm-diversity.php.

105 Ibid.106 Comunicado à imprensa da Life Technologies Corporation, “LifeTechnologies and SG Biofuels Complete Sequence of JatrophaGenome”, 24 de agosto de 2010: http://www.lifetechnologies.com.

107 Comunicado à imprensa da SG Biofuels, “SG Biofuels SignsCustomers for 250,000 Acres of Hybrid Jatropha Seed”, 16 de maiode 2011: http://www.sgbiofuels.com.

108 FAO, Second Report on the State of the World’s Plant GeneticResources for Food and Agriculture, 2010:http://www.fao.org/docrep/013/i1500e/i1500e03.pdf.

Page 64: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?58

109 Estes incluem: Bioversity International, CIAT, CIMMYT, CIP,ICARDA, e World Agroforestry Center [antes ICRAF],ICRISAT, IITA, ILRI, INIBAP, IRRI e AfricaRice [antesWARDA]. Os centros mantêm, em conjunto, um total de cerca de741.319 acessos, de 3.446 espécies de 612 diferentes gêneros.

110 Andy Jarvis et al., Climate Change and its Effect on Conservationand Use of Plant Genetic Resources for Food and Agriculture andAssociated Biodiversity for Food Security, Grupo de Estudo Temáticoda FAO, sem data.

111 Ibid.112 Exemplos tirados do website da Bioversity International :http://www.cropwildrelatives.org/cwr/importance.html.

113 Yara International ASA: http://www.yara.com/doc/28899Yara_Financial_Report_2009.pdf.

114 Anônimo, “Mergers in the fertiliser industry: A growth business”,The Economist, 18 de fevereiro de 2010.

115 Anônimo, “Agrium, rivals seen focusing on smaller deals”,Reuters, 12 de março de 2010.

116 Brenda Bouw, “Rio Tinto chief aims to return to fertilizer field”,The Globe and Mail, 10 de fevereiro de 2011.

117 Zhang Qi, “Chinese M&A to focus on domestic consolidation”,China Daily, 20 de março de 2011.

118 OCP é o Office Cherifien des Phosphates (EscritórioMarroquino de Fosfatos)

119 C. Robert Taylor, “Forget Oil, Worry About Phosphorus”, SavvyInvestor, 13 de setembro de 2010:http://www.savvyinvestor.com/forget-oil-worry-about-phosphorus/.

120 IFDC, World Phosphate Rock Reserves and Resources, setembro de2010, p. vii.

121 Stephen M. Jasinski, “Phosphate Rock”, U.S. Geological Survey,Mineral Commodity Summaries, janeiro de 2011, pp. 118-119.

122 GPRI Statement on Global Phosphorus Scarcity, 26 de setembrode 2010:http://phosphorusfutures.net/news#Events___Initiatives.

123 FAO, Global Forest Resource Assessment, 2010:http://www.fao.org/docrep/013/i1757e/i1757e.pdf.

124 Ibid.125 Ibid.126 Como citado por Harold Arnold, presidente da Fram RenewableFuels, falando na conferência anual do Pellet Fuels Institute, naFlórida, EUA, julho de 2011: http://pelletheat.org/events/pfi-annual-conference/.

127 Hakan Ekstrom, “Wood pellet exports to Europe from Canada,U.S. double”, Troy Media, 12 de março de 2011:http://www.troymedia.com/2011/03/12/wood-pellet-exports-to-europe-from-canada-u-s-double/.

128 Anônimo, “Wood Pellets to Trade on Public Markets like Oil,Wheat”, Sustainable Business.com, 17 de maio de 2011:http://www.reuters.com/article/2011/05/18/idUS374856794120110518.

129 Mary Hendrickson, John Wilkinson, William Heffernan eRobert Gronski, The Global Food System and Nodes of Power,agosto de 2008; análise preparada para Oxfam America.

130 Robert Goodland e Jeff Anhang, “Livestock and ClimateChange”, World Watch, novembro/dezembro de 2009.

131 Christian Nellemann, Monika MacDevette, Ton Manders, BasEickhout, Birger Svihus, Anne Gerdien Prins, Bjørn P. Kaltenborn(eds.), The environmental food crisis – The environment’s role inaverting future food crises, A UNEP rapid response assessment,United Nations Environment Programme/GRID-Arendal,fevereiro de 2009.

132 Arjen Y. Hoekstra, “Understanding the water footprint offactory farming”, Farm Animal Voice, 180, 2011, pp. 14-15.

133 Peter Best, “Top feed companies report positive signals”, FeedInternational, setembro/outubro de 2010. As 56 maiorescompanhias juntas responderam por 211,3 milhões de toneladasem 2009.

134 Informação fornecida por Braake Consulting, Inc.,http://www.brakkeconsulting.com.

135 Comunicado à imprensa da Intervet, “Sanofi-aventis and Merckto create a Global Leader in Animal Health”, 9 de março de 2010,http://www.intervet.com/

136 http://www.igenity.com/resources/FunctionalOverview.aspx.

137 http://www.pfizeranimalgenetics.co.uk/default.aspx.

138 FAO, The State of the World’s Animal Genetic Resources for Foodand Agriculture, Roma, 2007:http://www.fao.org/docrep/010/a1250e/a1250e00.htm.

139 Banco Mundial, Minding the Stock: Bringing Public Policy to Bearon Livestock Sector Development, Banco Mundial, 2009.

140 Stephen Bishop, Mart De Jong, Douglas Gray, “OpportunitiesFor Incorporating Genetic Elements Into The Management OfFarm Animal Diseases: Policy Issues”,http://www.fao.org/ag/magazine/bsp18-e.pdf

141 Comunicado à imprensa da FAO, “Improved disease preventionin animal health could save billions of dollars”, 27 de julho de 2010.http://www.fao.org/news/story/pt/item/44327/icode/en/.

142 UCS, Hogging It!: Estimates of Antimicrobial Abuse in Livestock,2001:http://www.ucsusa.org/food_and_agriculture/science_and_impacts/impacts_industrial_agriculture/hogging-it-estimates-of.html.

143 Donald Kennedy, “Cows on Drugs”, The New York Times, 17 deabril de 2010.

144 http://www1.planetretail.net/why-planet-retail/our-universe.

Page 65: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

59www.etcgroup.org

145 Anônimo, “Wal-Mart’s grocery sales hit 51 percent”, SupermarketNews, 7 de abril de 2010.

146 Comunicado à imprensa da IGD, “Walmart set to reach$0.5trillion by 2014 – Tesco’s global growth to outpace rivals”, 17de fevereiro de 2011: www.igd.com.

147 Ibid.148 Marcus Leroux, “Grocery giants wrestle over territory in globalmarket”, The Times, 4 de janeiro de 2010.

149 Ibid.150 Ibid.151 http://www.timeslive.co.za/business/article679659.ece/Cosatu-Western-Cape-opposes-Walmart.

152 Lynley Donnelly, “Apples of Walmart’s Eye”, Mail & GuardianOnline, http://www.mg.co.za/article/2011-02-07-apples-of-walmarts-eye/.

153 http://www.wal-martchina.com/english/walmart/index.htm.

154 Dorinda Elliott, “Wal-Mart Nation”, Time, 19 de junho de 2005,e Ted Fishman, “The Chinese Century”, The New York Times, 4 dejulho de 2004.

155 Anônimo, “Carrefour fined for overcharging customers inChina”, Economic Times (Índia), 30 de janeiro de 2011.

156 Matthew Saltmarsh e Andrew E. Kramer, “French Retailer toClose Its Russia Stores”, The New York Times, 16 de outubro de2009.

157 Maulik Vyas, “Obama pitches for opening up India’s retailsector”, Economic Times, 7 de novembro de 2010.

158 Ben Arnoldy, “Obama aims to deepen US economic ties withIndia. But what about Wal-Mart?”, Christian Science Monitor, 5 denovembro de 2010: http://www.csmonitor.com.

159 Amrita Nair-Ghaswalla, “Plan panel allows FDI in retail beforeObama’s visit”, Tehelka, 27 de outubro de 2010:http://www.tehelka.com/story_main47.asp?filename=Ws271010Plan_panel.asp.

160 De acordo com a Leatherhead Food, as 100 maiores empresas dealimentos e bebidas tiveram, em conjunto, vendas de alimentos de1.064.405 milhões de dólares (1,06 trilhões de dólares) em 2009.Em 2009, o mercado global de alimentos embalados atingiu cercade 1.375.000 milhões de dólares (1,37 trilhões de dólares).

161 Comunicação pessoal da Leatherhead Food.

162 Ibid.163 Dave Fusaro, editor-chefe da FoodProcessing.com, informa que15 das 25 maiores empresas de alimentos e bebidas de sua listaregistraram vendas menores em 2009 do que no ano anterior, mas18 das 25 tiveram lucros líquidos mais elevados. Dave Fusaro,“After preparing for the worst, most food & beverage companiessaw decreases in sales and increases in profits in 2009”,FoodProcessing.com, 10 de agosto de 2010.

164 UNCTAD, World Investment Report, Nova Iorque e Genebra,2009.

165 Ibid.166http://www.unctad.org/Templates/WebFlyer.asp?intItemID=5539&lang=1.

167 IMAP, “Food & Beverage Industry Global Report 2010”, p. 5.http://www.imap.com/imap/media/resources/IMAP_Food__Beverage_Report_WEB_AD6498A02CAF4.pdf.

168 Steve Kay, “Acquisition Goals”, MeatPoultry.com, 1 de novembrode 2009: http://www.meatpoultry.com.

169 IMAP, “Food & Beverage Industry Global Report 2010”, p. 5:http://www.imap.com/imap/media/resources/IMAP_Food__Beverage_Report_WEB_AD6498A02CAF4.pdf.

170 Anônimo, “Business and Water”, The Economist, 21 de agosto de2008. As cifras citadas vêm de analistas do JP Morgan Bank.

171 Anônimo, “The Hidden Water We Use”, National Geographic,abril de 2010:http://environment.nationalgeographic.com/environment/freshwater/embedded-water/. Ver também: Richard Hall, presidente daZenith International, http://bevblog.net/.

172 Ibid.173 Jenny Gustavsson et al., Global Food Losses and Food Waste,Swedish Institute for Food and Biotechnology and FAO, Roma,2011: http://www.fao.org/ag/ags/ags-division/publications/publication/en/?dyna_fef%5Buid%5D=74045.

174 Severin Schwan, CEO, Roche Holding AG, citado em artigo deGoran Mijuk, “A Healthy Forecast for Pharma - Roche CEOExpects Progress in Genetics and Molecular Biology to ProvidePromising New Disease Treatments”, Wall Street Journal, 22 deagosto de 2011.

175 Burrill & Company, Biotech 2011 Life Sciences: Looking Back toSee Ahead, San Francisco, CA: Burrill & Company LLC, 2011, p.20.

176 Ron Leuty, “Supreme Court rejects challenge to pay-to-delaygeneric drug settlements”, San Francisco Business Times, 7 de marçode 2011. Para o informe apresentado pela Federal TradeCommission (Comissão Federal de Comércio) ver:http://www.ftc.gov/bc/tech/property/advocacy.htm. Quatrovarejistas de medicamentos impugnaram o acordo pagar-para-atrasar envolvendo o antibiótico Cipro, fabricado pela Bayer. ABayer pagou à fabricante de genéricos Watson Pharmaceuticals Inc.quase 400 milhões de dólares para não lançar no mercado umaversão genérica.

177 Burrill & Company, Biotech 2011 Life Sciences: Looking Back toSee Ahead, San Francisco, CA: Burrill & Company LLC, 2011, p.28.

Page 66: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?60

178 Ibid.179 Sten Stovall, “Europe’s Drug Regulator Says Innovation MustPick Up”, Wall Street Journal, 15 de dezembro de 2010.

180 Burrill & Company, Biotech 2011 Life Sciences: Looking Back toSee Ahead, San Francisco, CA: Burrill & Company LLC, 2011, p.19.

181 Ben Hirschler, “China seen as No. 2 drugs market by 2015”,Reuters UK, 8 de novembro de 2010:http://uk.reuters.com/article/2010/11/08/us-summit-china-drugs-idUKTRE6A73SL20101108. As previsões são da IMSHealth.

182 Ernst & Young, Progressions: Pharma 3.0, 2010, pp. 1-18.183 Anônimo, “Wrong Numbers?”, Nature Biotechnology, Vol. 28,No. 8, agosto de 2010, p. 761.

184 Ibid.185 A definição da Nature Biotechnology sobre o que constitui umacompanhia de biotecnologia de capital aberto mudou através dosanos. Geralmente, refere-se a companhias que emitem ações nabolsa de valores e que “operam sobre organismos, sistemas ouprocessos biológicos, ou no provimento de serviços especializadospara facilitar o entendimento disso”. Empresas de equipamentosmédicos, organizações de pesquisa científica sob encomenda porcontrato e, de maneira mais significativa, companhias farmacêuticasestão excluídas da lista.

186 Brady Huggett, John Hodgson, Riku Lähteenmäki, “PublicBiotech 2009 – the numbers”, Nature Biotechnology, Vol. 28, No. 8,agosto de 2010, pp. 793-799.

187 Stefania Vitali, James B. Glattfelder, e Stefano Battiston, “Thenetwork of global corporate control”, arXiv:1107.5728v1,arXiv.org, 28 de julho de 2011.

188 O Grupo ETC propôs que seja criada uma ConvençãoInternacional para Avaliação de Novas Tecnologias – maisrecentemente em um informe para delegados para a Rio+20. VerGrupo ETC, Rio: From Earth Summit to Earth Grab? Informe paraos Delegados, Segunda Reunião Preparatória, Conferência dasNações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (UNCSD),Rio+20, março de 2011: http://www.etcgroup.org/en/rio.

Page 67: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

www.etcgroup.org

O Grupo ETC é uma organização internacional da sociedade civil. Trabalhamosinvestigando os impactos ambientais, sociais e econômicos relativos a novastecnologias, em nível global e, particularmente, sobre povos indígenas, comunidadesrurais e a biodiversidade. Investigamos a erosão ecológica (incluindo a erosão culturale de direitos humanos), o desenvolvimento de novas tecnologias e monitoramosquestões de governança global incluindo a concentração corporativa e o comércio emtecnologias.

Operamos em nível político global e temos status consultivo junto a várias agências etratados da ONU. Trabalhamos com outras organizações da sociedade civil emovimentos sociais, especialmente na África, Ásia e América Latina. Temosescritórios no Canadá, Estados Unidos, México e Filipinas.

Grupo ETCGrupo de Ação sobre Erosão, Tecnologia e Concentração

Grupo ETC

Escritório central:206-180 Metcalfe StreetOttawa, OntarioCanadáK2P 1P5

Tel: + 1 (613) 241 2267(Eastern Time)

[email protected]

Page 68: Quem vai controlar a economia verde? - Centro Ecológico · 2017-08-31 · Quem vai controlar a economia verde? Enquanto os governos se preparam para aprovar uma economia verde na

Quem vai controlar a economia verde?A noção de uma “grandetransformação tecnológica verde”que torna possível uma “economiaverde” está sendo amplamentepromovida como a chave para asobrevivência do nosso planeta. Aideia é substituir a extração depetróleo pela exploração debiomassa (cultivos de alimentos ede fibras, gramíneas, resíduosflorestais, plantas oleaginosas,algas, etc.). Neste documento sobre o poderdas corporações, o Grupo ETCargumenta que, na ausência degovernança social eregulamentação governamentalefetivas e socialmenteresponsáveis, a economia de basebiológica global resultará em maisdegradação ambiental, na perdasem precedentes de biodiversidadee no desaparecimento dos benscomuns restantes.

www.etcgroup.org