quatro aforismos fundamentais do yoga sutra

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Quatro aforismos fundamentais do Yoga Sutra Swami Jñaneshvara Bharati - 05 de Novembro de 2009 - 1 Comentário Esteja preparado para começar: Começar a buscar sinceramente a Auto-realização é o passo mais importante na vida, quando o objetivo mais elevado da existência passa a ser o número um na lista de coisas para se fazer. A primeira palavra do Yoga Sutras é atha (1.1), que significa “agora”. Esta palavra em particular, que significa “neste momento”, implica em uma prontidão para alcançar o estado auspicioso de desejo e compromisso com a Auto-realização, o objetivo mais elevado do Yoga. Definição do Yoga: Os primeiros quatro sutras definem o Yoga, sendo esta definição expandida nos demais sutras. Em um processo sistemático de meditação, gradualmente movemos a atenção para dentro, através de todos os níveis de nosso ser, obtendo maestria ao longo do caminho (1.2). Eventualmente, descansamos em nossa verdadeira natureza, que está além de todos estes níveis (1.3). Esta ação e a realização deste centro de consciência é o significado do Yoga. Yogash chitta vritti nirodhah. Tada drashtuh svarupe avasthanam. Yoga é o domínio das atividades no campo da mente. Então, aquele que vê descansa em sua verdadeira natureza. Conhecendo o que sobra após a remoção dos obstáculos: Existe uma simplicidade fundamental no processo do Yoga que é esboçada no Yoga Sutras. Embora o processo possa parecer muito complexo quando se lê o Yoga Sutras e seus comentários, o tema central é a remoção e a transcendência dos obstáculos, véus ou falsas identidades. As várias sugestões no Yoga Sutras são o detalhamento ou o refinamento de como fazer esta remoção ou transcendência. Estar sempre atento a esta simplicidade central, torna mais fácil progredir sistematicamente no caminho do Yoga. O verdadeiro Eu brilha: Uma vez que os obstáculos e as falsas identidades sejam temporariamente postos de lado, o verdadeiro Eu, que sempre esteve presente, vem a brilhar naturalmente (1.3). No restante do tempo, estamos tão envolvidos com nossas falsas identidades que, literalmente, não vemos que um erro de identificação aconteceu (1.4). Esta é a razão pela qual as vezes é dito que estamos dormindo e que precisamos acordar. Este despertar para o Eu é o significado do Yoga.

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  • Quatro aforismos fundamentais do Yoga Sutra

    Swami Janeshvara Bharati - 05 de Novembro de 2009 - 1 Comentrio

    Esteja preparado para comear: Comear a buscar sinceramente a Auto-realizao

    o passo mais importante na vida, quando o objetivo mais elevado da existncia passa a

    ser o nmero um na lista de coisas para se fazer. A primeira palavra do Yoga Sutras

    atha (1.1), que significa agora. Esta palavra em particular, que significa neste momento, implica em uma prontido para alcanar o estado auspicioso de desejo e compromisso com a Auto-realizao, o objetivo mais elevado do Yoga.

    Definio do Yoga: Os primeiros quatro sutras definem o Yoga, sendo esta definio

    expandida nos demais sutras. Em um processo sistemtico de meditao, gradualmente

    movemos a ateno para dentro, atravs de todos os nveis de nosso ser, obtendo

    maestria ao longo do caminho (1.2). Eventualmente, descansamos em nossa verdadeira

    natureza, que est alm de todos estes nveis (1.3). Esta ao e a realizao deste centro

    de conscincia o significado do Yoga.

    Yogash chitta vritti nirodhah.

    Tada drashtuh svarupe avasthanam.

    Yoga o domnio das atividades no campo da mente.

    Ento, aquele que v descansa em sua verdadeira natureza.

    Conhecendo o que sobra aps a remoo dos obstculos:

    Existe uma simplicidade fundamental no processo do Yoga que esboada no Yoga

    Sutras. Embora o processo possa parecer muito complexo quando se l o Yoga Sutras e

    seus comentrios, o tema central a remoo e a transcendncia dos obstculos, vus ou

    falsas identidades. As vrias sugestes no Yoga Sutras so o detalhamento ou o

    refinamento de como fazer esta remoo ou transcendncia. Estar sempre atento a esta

    simplicidade central, torna mais fcil progredir sistematicamente no caminho do Yoga.

    O verdadeiro Eu brilha: Uma vez que os obstculos e as falsas identidades sejam

    temporariamente postos de lado, o verdadeiro Eu, que sempre esteve presente, vem a

    brilhar naturalmente (1.3). No restante do tempo, estamos to envolvidos com nossas

    falsas identidades que, literalmente, no vemos que um erro de identificao aconteceu

    (1.4). Esta a razo pela qual as vezes dito que estamos dormindo e que precisamos

    acordar. Este despertar para o Eu o significado do Yoga.

  • Como um espelho: A conscincia olha para fora, atravs do intelecto, atravs da mente,

    e depois atravs dos sentidos e do corpo. A conscincia v um reflexo, como um

    espelho, que parece real, um mundo ou uma auto-identidade, que ela acha

    enganosamente como sendo eu ou meu.

    Atravs do poder do esquecimento de avidya, ou ignorncia (2.5), a conscincia pura

    diz: Eu sou isto ou aquilo. Esta situao no m de todo, j que cria a oportunidade para a alegria do despertar, atravs de uma jornada chamada Yoga, retornando para a

    totalidade que, de fato, nunca foi dividida.

    A Filosofia do Yoga e do Sankhya: O processo de realizao atravs do Yoga se

    baseia no reconhecimento de que a conscincia pura (purusha) esta separada de todas as

    muitas falsas identidades, as quais so consideradas como sendo uma evoluo da

    matria primordial (prakriti). Os princpios purusha e prakriti fazem parte do sistema

    filosfico conhecido como Sankhya. O Yoga e o Sankhya so dois dos seis sistemas de

    filosofia da ndia.

    ______________________

    Leia tambm os artigos

    Six Schools of Indian Philosophy ;

    Sankhya Yoga, Prakriti and Its Evolutes: Returning to Self-Realization;

    Yoga Darshana and the Goal of Seeing Reality

    (Swami Rama discusses the foundations of Sankhya and the Yoga Sutras).

  • O Yoga samadhi:

    Tanto sbios antigos quanto modernos, incluindo Vyasa, o mais notvel comentarista do

    Yoga Sutras, declararam de maneira direta que o Yoga samadhi, o elevado estado de

    concentrao perfeita, ou completa absoro da ateno (3.3). Yoga significa unio,

    literalmente, jungir, da raiz yuj, que quer dizer juntar ou integrar. Significa induzir a

    unio dos aspectos de ns mesmos que, primeiramente, nunca foram de fato divididos.

    Significa alcanar a experincia direta do centro do ser holstico preexistente que

    quem nos realmente somos no nvel mais profundo, algo realizado atravs do samadhi.

    ______________________

    Leia tambm o artigo:

    Bindu: Pinnacle of Yoga, Vedanta and Tantra.

    O objetivo do Yoga o Yoga. Ponto.

    No Yoga: O Yoga no somente preparao fsica, gerenciamento de stress,

    tratamento mdico, ou um meio de ganhar dinheiro, embora o Yoga autntico seja

    definitivamente benfico para muitos aspectos da vida. O objetivo do Yoga o Yoga,

    ponto.

    _____________________

    Leia tambm o artigo Modern Yoga versus Traditional Yoga.

    (Nota do tradutor: artigo j traduzido e disponvel neste site www.yoga.pro.br, sob o

    ttulo O Yoga Moderno Versus o Yoga Tradicional).

  • A Auto-Realizao e o Microchip

    Existem trs partes bsicas em um microchip:

    1- O material do qual o microchip feito.

    2- O programa e a memria que operam no microchip.

    3- A eletricidade que permite que o microchip funcione.

    Tambm existem trs partes bsicas em um ser humano:

    1 O material: o material bsico (prakriti) a partir do qual todos os nveis de nosso ser so construdos ou se manifestam.

    2 A manifestao: as manifestaes externas do material bsico, como o programa e a memria no microchip, incluindo individualidade, inteligncia, mente, sentidos, e os

    blocos de construo terra, gua, fogo, ar, espao, e suas incontveis combinaes e

    permutaes.

    3 Conscincia: a conscincia pura (purusha), incorrupta e eterna, que flui atravs de toda a matriz das atividades da ao, fala e pensamentos, semelhante a eletricidade no

    adulterada que flui pelo microchip.

    Experimentando o Eu: A Auto-realizao o estado de perceber a ns mesmos como

    eletricidade, a conscincia pura que possibilita que todos os planos de nosso ser funcionem. No existe um eu, resultante da personalidade, programa e memria, que est conquistando algo novo. O que acontece a Realizao deste Eu central, que est

    alm das incontveis falsas identidades, to belo e nico quanto pode ser.

    1.1 Agora, aps ter feito preparao prvia durante a vida e outras prticas, o estudo e a

    prtica de Yoga tem inicio.

    Atha yoga anushasanam.

    Atha = agora, neste momento auspicioso; implica na transio para esta prtica e

    busca, aps uma preparao prvia; implica em uma beno neste momento de

    transio.

    Yoga = do yoga, unio; literalmente, jungir, da raiz yuj, que significa juntar ou

    integrar; o mesmo que a absoro no samadhi.

    Anu = desde, ou seguir a tradio; implica em ser subsequente a alguma coisa, neste

    caso a uma preparao prvia.

    Shasanam = instruo, disciplina, treino, ensino, exposio, explanao; Shas implica

    na transmisso do ensinamento que acontece junto com a disciplina.

    ______________________

    Leia tambm o artigo Now, Then, and Therefore Yoga Discipline is Being Explained,

    (Swami Rama on Yoga Sutra 1.1).

  • O Yoga vem aps a preparao: Este sutra introdutrio sugere que aps muitas aes na

    vida e demais prticas preparatrias executadas, agora, finalmente, estamos prontos para

    prosseguir nas profundezas da auto-explorao, a jornada direta para o centro da

    conscincia, Atman, ou Eu, nossa identidade eterna e Verdadeira.

    Disciplina e aprendizado: Para praticar Yoga preciso desenvolver a disciplina e

    seguir um mtodo sistemtico de aprendizado (anushasanam). Est mais relacionado

    com a qualidade ou com a convico na prtica pessoal do que com a quantidade da

    prtica pessoal. Isto descrito em detalhes nos sutras 1.21 e 1.22.

    Cinco estados da mente: Ao descrever este sutra, o sbio Vyasa nomeia cinco estados

    da mente, dos quais o estado da mente direcionado (ekagra) (1.32) o estado desejado

    para a prtica do Yoga. Estes cinco estados da mente vo desde uma mente severamente

    perturbada at uma mente completamente controlada. Os cinco estados da mente so:

    Kshipta/perturbado

    Mudha/letrgico

    Vikshipta/distrado

    Ekagra/direcionado

    Nirodhah/conduzido com maestria

    Posicionar os cinco estados da mente nos dedos das mos pode ajudar a lembrar.

    Sabendo onde estamos: muito til estar atento aos estados da mente, seja no momento

    presente, ou nas situaes normais nas quais funcionamos diariamente. Isto revela a

    profundidade da prtica que estamos aptos a praticar naquele determinado momento.

    Alguns aspectos da meditao do yoga se aplicam a todos os seres humanos, embora

    precisemos estar atentos para aquilo que seja mais adequado e efetivo, em funo do

    estado da mente de cada um.

    Dois destes estados so desejveis: Dos cinco estados da mente (descritos abaixo com

    mais detalhes), os dois ltimos (direcionado e regido com maestria) so os mais

    desejveis para as prticas profundas de meditao do yoga. Normalmente, para a

    maioria das pessoas, a mente est em um dos trs primeiros estados (perturbado,

    letrgico, distrado). Ao lidar com uma mente problemtica ou letrgica, devemos

    progredir para uma mente somente distrada, de onde podemos mais facilmente treinar a

    mente para ser direcionada.

    Estabilize a mente no estado direcionado: Sabendo disto, podemos conduzir nossa

    mente de tal forma que ela seja gradualmente estabilizada no quarto estado, o estado de

    mente direcionado. (Atente que o uso da frase quarto estado diferente daquele usado em relao ao quarto estado de conscincia turiya). este estado de mente direcionado

    que nos prepara para o quinto estado, no qual existe a conduo perfeita da mente. J os

  • dois primeiros estados da mente podem ser to intensos que se manifestam como aquilo

    que os psiclogos chamam de doenas mentais.

    Saber onde sua mente est agora lhe diz sobre

    como se chega ao local para onde voc est indo.

    1. Kshipta/perturbado: A mente kshipta est perturbada, impaciente, preocupada,

    distrada. Este o menos desejvel dentre os estados da mente, no qual a mente est

    perturbada. A mente pode estar severamente perturbada, moderadamente perturbada, ou

    levemente perturbada. Pode estar atormentada, preocupada ou catica. No somente

    uma mente distrada (Vikshipta), pois possui a caracterstica adicional de uma

    complicao emocional negativa mais intensa.

    2. Mudha/letrgico: A mente mudha est estupefata, entorpecida, pesada, esquecida.

    Neste estado de mente existe menos velocidade na mudana do processo mental. um

    estado entorpecido ou sonolento, algo como estar deprimido, embora aqui no seja

    somente o significado clnico da depresso. uma disposio pesada no qual podemos

    entrar, quando queremos ficar sem fazer nada, ser letrgico ou ficar viciado em

    televiso.

    A mente Mudha s um pouco melhor do que a mente perturbada Kshipta, diferindo

    que as atividades perturbadoras diminuram de ritmo e a mente pode ser mais facilmente

    treinada. A mente pode ser gradativamente ensinada a ser um pouco mais estvel em um

    sentido positivo, distraindo-se s ocasionalmente, o que o estado Vikshipta. Da, a

    mente pode progredir em seu treino para os estados Ekagra e Nirodhah.

    3. Vikshipta/distrado: A mente Vikshipta distrada, se estabilizando ou concentrando

    ocasionalmente. Este o estado de mente relatado com freqncia por estudantes de

    meditao quando esto totalmente despertos e alertas, e no perturbados, sonolentos ou

    letrgicos de forma perceptvel. Neste estado de mente, a ateno facilmente atrada

    ao acaso. Este a mente macaco ou barulhenta, sendo comum o relato que ela atrapalha

    a meditao. A mente pode se concentrar por curtos perodos de tempo, depois sendo

    distrada por alguma averso ou atrao. Da, a mente trazida de volta, s para se

    distrair novamente.

    No dia-a-dia a mente Vikshipta pode se concentrar em um ou outro projeto, embora

    possa vaguear ou sair do curso por causa de uma pessoa ou outra influncia externa, ou

    por uma memria que tenha emergido. A mente Vikshipta onde queremos chegar

    atravs das prticas do yoga, para da prosseguir para a mente corretamente direcionada

    de Ekagra e para a conduo perfeita que vem com o estado de Nirodhah.

    4. Ekagra/direcionado: A mente Ekagra direcionada, focada, concentrada (Yoga

    Sutra, 1.32). Quando a mente adquire a habilidade de ser direcionada, a prtica real de

    meditao do Yoga tem incio. Significa que podemos focar em tarefas manuais da vida

    diria, praticando karma yoga, o yoga da ao, ao sermos diligentes com o processo

    mental e conscientemente servirmos aos outros. Quando a mente est direcionada, as

    atividades internas ou externas simplesmente no so uma distrao.

  • A habilidade de focar a ateno uma destreza primria para a meditao e o

    samadhi.

    A pessoa com uma mente corretamente direcionada apenas continua com os assuntos do

    momento, no sendo perturbada, no sendo afetada e no se envolvendo com os outros

    estmulos. importante perceber que isto dito em um sentido positivo, e no no

    sentido negativo de no se preocupar com as pessoas e demais prioridade internas. A

    mente direcionada est totalmente presente no momento e est apta a ocupar-se com

    pessoas, pensamentos e emoes de acordo com a sua vontade prpria.

    A mente direcionada est apta a fazer prticas de concentrao e meditao,

    conduzindo-nos progressivamente para o samadhi. A habilidade de focar a ateno um

    dom primrio que o estudante precisa desenvolver para a meditao e o samadhi.

    5. Nirodhah/regido com maestria: A mente Nirodhah altamente regida, controlada,

    regulada, contida (Yoga Sutra 1.2). muito difcil para algum capturar ao significado

    do estado de mente Nirodhah somente lendo sua descrio. O entendimento real deste

    estado da mente vem somente pela prtica da meditao e contemplao. Quando a

    palavra Nirodhah traduzida como controlada, regulada ou contida, podemos

    facilmente compreender mal seu significado como sendo supresso de pensamentos e

    emoes.

    A supresso de pensamentos e emoes no saudvel e no o que se quer dizer aqui.

    Ao contrrio, tem a ver com o processo natural quando a mente est corretamente

    direcionada e se torna progressivamente mais estvel enquanto a meditao se

    aprofunda. No que os padres de pensamento no estejam l ou estejam suprimidos,

    mas a ateno se moveu para dentro ou para alm do fluxo de impresses internas.

    Nesta imobilidade profunda, h uma maestria sobre o processo da mente. esta

    maestria que quer dizer Nirodhah.

    No segundo sutra do Yoga Sutra (o sutra abaixo), o Yoga definido com Yoga Chitta Vritti Nirodhah, que a grosso modo traduzido como O Yoga o controle [nirodhah] dos padres de pensamentos no campo da mente. Assim, o estado de mente Nirodhah o objetivo e definio do Yoga. a entrada pela qual vamos alm da identificao com

    a mente.

  • 1.2 O Yoga o controle (nirodhah, regular, canalizar, reger, integrar, coordenar,

    estabilizar, aquietar, apartar) das modificaes (padres de pensamentos densos e

    sutis) do campo da mente.

    Yogash chitta vritti nirodhah.

    Yoga = do yoga, unio; literalmente, jungir, da raiz yuk, que significa juntar, o mesmo

    que a absoro em samadhi.

    Chitta = da conscincia no campo da mente.

    Vritti = operaes, atividades, flutuaes, modificaes, mudanas, ou vrias formas

    do campo da mente.

    Nirodhah = controlar, regular, canalizar, reger, integrar, coordenar, entender,

    estabilizar, aquietar, apartar.

    Nirodhah sugere auto-treinamento: Esta sentena simples a definio mais sucinta da

    cincia da Auto-realizao, ou Yoga. A chave para entender a palavra nirodhah, que

    desafia tradues ou descries. Quando pobremente traduzida ou mal compreendida,

  • pode soar como a supresso ou represso de pensamentos e emoes, e definitivamente

    no isto que o Yoga fala.

    Ao contrrio, sobre um processo mais como coordenar e apartar o que no

    significativo ou no-eu (2.5). Significa procurar a jia da Verdade que est abaixo ou

    alm de todas as demais atividades no campo da mente. Isto acontece atravs de um

    programa de auto-treinamento, trabalhando com as relaes, sentidos, corpo, respirao

    e mente. No fim das contas, o significado de nirodhah e, assim, o do Yoga, comea a

    emergir experimentalmente pela execuo das prticas do Yoga

    Nirodhah o mais desejvel dentre os cinco estados da mente: O sbio Vyasa nomeia

    cinco estados da mente, dos quais o estado de mente nirodhah o estado desejvel para

    a realizao do verdadeiro Eu. Estes cinco estados da mente so descritos acima na

    apresentao do sutra 1.1. extremamente til estar atento aos cinco estados da mente,

    de forma a melhor entender sua relao com o mais desejvel dos estado da mente,

    nirodhah.

    Descolorindo seus pensamentos: Encontrar a jia do Eu requer deixar para trs as

    cores dos padres de pensamento (1.5), como apego, averso e medo (2.3), o que

    envolve testemunhar nosso prprio processo interior.

    _____________________________

    Leia tambm o artigo Witnessing Your Thoughts in Yoga Practice. (Nota do tradutor:

    artigo j traduzido e disponvel neste site www.yoga.pro.br, sob o ttulo

    Testemunhando seus Pensamentos em Prticas de Yoga).

    Prtica e no-apego: Estes dois princpios esto no cerne deste programa de auto-

    treinamento: 1) A prtica leva estabilidade e tranquilidade e 2) no-apego (1.12-1.16).

    Atitude, empenho e compromisso: So cinco as atitudes, empenho e compromissos

    para serem cultivados f na direo, energia para chegar l, ateno e memria para ficar l, e o compromisso progressivo para buscar os elevados estados de concentrao e

    sabedoria (1.20).

    Estabilizando e clareando a mente: Prticas preparatrias, como meditao sobre

    atitudes para com as pessoas e caminhos para focar a ateno, so executadas para

    treinar a mente para que as meditaes sutis possam ento ser praticadas (1.33-1.39).

    Reduzindo a espessura das cores na mente: A maior parte da espessura das cores na

  • mente, relacionado principalmente com atraes, averses e medos, reduzida por um

    processo de treino do sentidos, estudo interior e entrega (2.1-2.9).

    Discriminao atravs dos oito braos do Yoga: Cultivar a discriminao interior

    atravs dos oito braos do yoga (2.26 2.29), para assim sistematicamente descobrir a jia do Eu (1.3).

    A Mente se Torna Como um Cristal Transparente

    Quando a mente est nublada no pode ver com clareza os objetos no campo da mente

    ou os objetos do mundo exterior. como um cristal fosco ou uma pedra de cor slida.

    Quando a mente vai se tornando cada vez mais clara atravs da prtica de meditao do

    yoga, ela fica parecida com um cristal transparente.

    Um cristal transparente ir assumir a cor de qualquer objeto que dela fique prximo

    (leia os sutras 1.41-1.43). Quanto tal tipo de mente clara foca em um objeto no campo

    da mente, fica totalmente absorvida naquele objeto, permitindo que seja visto a natureza

    do objeto com muita clareza.

    Sistematicamente, exploramos, encontramos, examinamos e, gradualmente, atravs do

    desapego, deixamos de lado as muitas falsas identidades, atraes, averses e medos.

    Esta introspeco feita nos aspectos mais densos da mente, e tambm nos mais sutis,

    onde est o depsito de impresses profundas, que so a fora motriz por trs do karma

    (leia os sutras 1.2-1.4 e 2.1-2.25).

    Esta mente com transparncia cristalina pode eventualmente transcender a absoro de

    todos os objetos da mente, deixando para trs at mesmo os nveis de samadhi sobre

    objetos. A mente se volta para dentro e se entrega na experincia direta daquilo que est

    alm da mente.

    1.3 Ento, o Observador reside em si mesmo, descansando em sua Verdadeira Natureza,

    o que chamado de Auto-realizao.

    Tada drashtuh svarupe avasthanam.

    Tada = ento, ao mesmo tempo; no momento da concentrao e da meditao.

    Drashtuh = o observador, a alma, a testemunha, Atman, Eu; da raiz drsh, que significa

    ver ( significativo notar que Patanjali no est tentando definir quem o observador,

    ou a natureza daquele que observa. Isto deixado para ser respondido ou resolvido na

    experincia direta).

    Svarupe = em sua prpria natureza, forma prpria ou essncia; (sva = prprio; rupa =

    forma).

  • Avasthanam = estabilidade, fixao, permanecer, estar em um estado, descansar,

    repousar, fixar; a raiz stha significa permanecer.

    Ento o Eu permanece s: Como resultado da realizao do processo de nirodhah,

    descrito no sutra anterior, o verdadeiro Eu permanece s, sem estar sobrecarregado por

    vrias falsas identidades (descritas no prximo sutra). Este processo de permanecer s

    o motivo pelo qual a frase Auto-realizao usa a palavra realizao, ao invs de usar

    uma palavra como conquistar ou alcanar. O processo no conquistar alguma coisa

    que no temos, mas sim remover as nuvens para vermos a luz que j est l.

    A onda esquece a verdade que ela o oceano, pensando que ela a grande forma

    que adotou temporariamente. Por um momento, ela adota a rupa (forma) de onda.

    Finalmente, ela lembra sua rupa (forma) verdadeira como sendo o oceano. As duas

    formas coexistem, apesar de uma ser verdadeira e a outra, apesar de bonita, ser

    somente relativamente verdadeira. Assim, ns humanos, tambm esquecemos

    nossa verdadeira natureza, mas, atravs do yoga, podemos recordar.

    A conscincia permanece a mesma: Na meditao profunda, percebemos que

    enquanto os padres de pensamentos mudam, sempre alterando sua forma, da mesma

    forma que as ondas do oceano mudam constantemente, a conscincia nunca muda.

    Existe uma conscincia constante, sempre fluida, sempre existente que simplesmente ,

    que observa ou testemunha.

    Na meditao esta verdade percebida sucessivamente, enquanto camada aps camada

    e nvel aps nvel do processo mental so revelados e percebidos como sendo

    semelhantes ao deslocamento profundo das ondas do oceano. A conscincia em si

    permanece a mesma e se torna cada vez mais clara, enquanto o centro da conscincia

    permanece s, apesar de todos os nveis ela que permeia.

    O observador: A palavra drastuh significa observador ou testemunha. A palavra

    observador no uma descrio ou definio teolgica ou metafsica de quem nos

    somos. Esta uma das belas qualidades do Yoga e do Yoga Sutras. No h nada na

    palavra observador para acreditar ou no acreditar. Ao ouvir que o observador descansa

    em sua verdadeira natureza aps transcender as vrias formas de padres de

    pensamentos no campo da mente (1.3), podemos simplesmente fazer as prticas

    purificadoras e pessoalmente experimentar os resultados.

    A palavra drashtuh traduzida com freqncia como Eu, Alma ou Atman, o que gera

    alguma clareza ou investigao terica sobre a natureza deste observador, mas til

    lembrar que Patanjali na verdade no est nos dizendo qual a natureza de nosso

    verdadeiro Eu. Ele est dizendo que o observador ter a experincia de si mesmo, ter a

    experincia de sua verdadeira natureza, no importando a maneira como esta

    experincia seja descrita por cada um.

    Vivendo a experincia do observador em sua prpria natureza: De modo similar, a

    palavra svarupe significa em sua prpria natureza. Aqui Patanjali tambm no est

    dando uma definio da verdadeira natureza do observador. Mais uma vez, no existe

    algo para acreditar ou no acreditar. Atravs da prtica e do no-apego (1.12-1.16) e

    transcendendo os muitos erros de identidade (1.4, 2.5), podemos ter a experincia direta

    de nossa prpria natureza.

  • A maior parte das pessoas curiosa e quer ouvir ou ler descries desta verdadeira

    natureza, nos fazendo escrever e falar sobre o Eu, Alma, Atman, etc. Enquanto usamos,

    descrevemos e discutimos estes termos , mais uma vez, muito til manter em mente

    que o Yoga, na verdade, se refere simplesmente ao observador, o qual est descansando

    em sua prpria natureza, possibilitando a experincia direta para assim revelar o que ele

    .

    ___________________

    Leia o artigo muito importante Pinnacle of Yoga, Vedanta and Tantra.

    A Conscincia se Retira de uma Srie de Instrumentos

    Quando falamos dos estgios da meditao, pode parecer que eu sou um viajante distinto, e que eu estou viajando de um local para o prximo, como passar de uma pedra para outra quando ando por um caminho. No assim que a meditao funciona.

    A conscincia se move progressivamente para fora atravs de uma srie de

    instrumentos, como telescpios, para experimentar o mundo exterior. A jornada da

    meditao reverte este processo ao recolher sistematicamente a ateno destes

    instrumentos parecidos com telescpios, permitindo que a ateno descanse em sua

    forma pura e sem forma, sua Verdadeira Natureza.

    Os sentidos so instrumentos que trazem a experincia do mundo exterior para dentro,

    at a mente.

    A mente um instrumento que traz esta experincia mais para dentro, at a inteligncia.

    A inteligncia um instrumento que traz esta experincia mais para dentro, at o

    Indivduo.

    A Individualidade permite que a Conscincia experimente a si mesma como um

    experimentador.

    O observador est ligado ao mundo exterior atravs dos instrumentos.

    Os sentidos so ento recolhidos dos objetos.

    A mente ento recolhida dos sentidos.

    A inteligncia ento recolhida da mente.

    A Individualidade recolhida da inteligncia, permanecendo s.

    A Individualidade se entrega na Conscincia, enquanto o Observador conhece sua

    Verdadeira Natureza.

  • Purusha e Prakriti: O processo de realizao atravs do Yoga se baseia em descobrir a

    conscincia pura (Purusha) como separada das vrias falsas identidades, as quais so

    consideradas como sendo evolues ou derivaes da matria primordial (prakriti). Os

    princpios purusha e prakriti so parte do sistema filosfico conhecido como Sankhya.

    O Yoga e o Sankhya so dois dos seis sistemas de filosofia da ndia.

    ______________________________

    Leia tambm os artigos: Six Schools of Indian Philosophy e Prakriti and Its Evolutes:

    Returning to Sefl-Realization.

    Diferenciando entre Purusha e Prakriti: O processo inteiro do Yoga se baseia na

    diferenciao entre Purusha e as falsas identidades de Prakriti. Enquanto este processo

    de discriminao permeia todo o Yoga Sutras, os trs grupos de sutras abaixo iro

    clarear a forma com que a diferenciao se relaciona com as prticas e a realizao:

    Os 8 membros e a diferenciao (2.26-2.29)

    Diferenciao elevada (3.53-2.56)

    Buddhi e libertao (4.22-4.26)

    1.4 Em outros momentos, quando no est em Auto-realizao, parece que o

    Observador adotou a forma das modificaes do campo da mente, tomando para si a

    identidade destes padres de pensamentos.

    Vritti sarupyam itaratrah.

    Vritti = operaes, atividades, flutuaes, modificaes, mudanas, ou formas

    variadas (do campo da mente).

    Sarupyam = semelhana, assemelhar, aparncia de, identificao de forma ou

    natureza, conformidade com a forma de; a raiz sa significa com e rupa significa forma.

    Itaratra = em outro lugar, em outros tempos, quando no neste estado de

    realizao descrito acima.

    Quando no estamos conscientes de nossa verdadeira natureza: Quando a atividade

    de todos os nveis da mente foi transcendida (1.2), experimentamos a conscincia pura

    (1.3). Entretanto, no restante do tempo, a mente flutua entre as vrias experincias

    senhoriais que temos e entre os fluxos de memrias e fantasias. A existncia do mundo

    externo e das memrias no so o problema. O problema que a conscincia pura

    enganosamente assume a identidade destes padres de pensamentos.

    Desta forma, incorretamente passamos a achar que quem ns somos uno e o mesmo

    que estes pensamentos. A soluo separar o observador daquilo que visto (2.17),

    separar aquele que observa do objeto experimentado. Este o tema e a prtica do Yoga.

  • Barra de Chocolates e Yoga Sutra 1.2 1.4

    O Yoga o controle (nirodhah, regulao, canalizao, regncia, integrao,

    coordenao, estabilizao, aquietao, dotao) das modificaes (padres de

    pensamentos densos e sutis) no campo da mente (1.2). Ento, o Observador permanece

    em si mesmo, descansando em sua prpria Natureza Verdadeira, o que chamado de

    Auto-realizao (1.3). Em outros momentos, quando no est em Auto-realizao, o

    Observador parece que adquire a forma das modificaes do campo da mente, tomando

    para si a identidade dos padres de pensamento (1.4).

    Inicialmente, este processo de ver com clareza pode acontecer com objetos densos,

    como por exemplo o que convencionalmente chamamos de memria. Entretanto,

    gradualmente, percebemos que tambm nos tornamos erradamente identificados com os

    instrumentos sutis, os quais permitem que tenhamos sensaes, como os instrumentos

    da cognio (os sentidos), ou os blocos sutis da construo da auto-identidade, como

    terra, gua, fogo, ar e espao, assim com a energia sutil que flui.

  • A conscincia envolve os objetos mentais: Quando um escultor em metal quer fazer

    um molde, ele primeiro faz uma esttua de gesso, ento forma um molde de argila ao

    redor da esttua. Depois, a argila se torna o molde para derramar o metal lquido dentro.

    O processo da argila assumir a forma do modelo original de gesso o que significa o

    observador, ou Eu, aparentemente assumir a forma dos padres de pensamentos

    armazenados no campo da mente. Quando a conscincia pura se envolve ao redor do

    objeto mental que encontra, apenas parece que ela assumiu a identidade daquele objeto,

    o que resulta em um tipo de engano de identidade.

    Ouro e argila: O ouro derretido, reformado e moldado em muitos ornamentos

    diferentes. Ainda assim continua a ser ouro. A argila esticada, amassada, torcida e

    modelada em muitos diferentes tipos de tigelas e outros objetos. Ainda assim continua a

    ser argila. Embora a conscincia molde a si mesma na forma dos muitos objetos

    armazenados na campo da mente, esta conscincia permanece pura se ficar sozinha. A

    conscincia desprovida de qualquer forma descrita como sendo a natureza da

    existncia, conscincia e felicidade.

    sempre um objeto mental: O objeto ao redor do qual a conscincia se envolve

    sempre um objeto interior mental, embora possa haver um objeto externo sendo

    percebido pelos sentidos (indriya). Se vemos e cheiramos nossa comida favorita, ou

    algo repulsivo, a memria daquela experincia, o objeto mental, que est sendo

    colocado em funcionamento e trazido para a superfcie.

    Mesmo que no tenhamos experimentado algum objeto em particular anteriormente,

    este apresentado atravs dos olhos e ouvidos e demais sentidos, no campo da mente,

    como se fosse uma tela de cinema, onde o observador pode ento observar. A

    experincia em si acontece entre a testemunha interior e o objeto apresentado, e o objeto

    apresentado pode vir tanto atravs dos sentidos quanto da memria (mundo sutil,

    conscincia interna).

  • A importncia disto que precisamos trabalhar com nossa conscincia interior com

    relao aos nosso objetos mentais. Em outras palavras, precisamos treinar nossa prpria

    mente e sentidos.

    Cinco formas de objetos mentais: Os cinco tipos de padres de pensamentos que

    resultam desta falsa identidade (o Observador assumir falsas identidades), so descritos

    nos sutras 1.5-1.11. O como libertar a conscincia destas poucas categorias de erro de

    identidade o processo de iluminao, e o assunto do Yoga Sutra.

    Mude o dilogo interno de eu quero para isto quer.

    Quando apegos e averses emergem no lago da mente, podemos dizer ou pensar algo

    como eu quero isto ou aquilo ou eu no gosto disto ou daquilo. Entretanto,

    no o Eu que quer isto ou aquilo.

    isto que quer isto ou aquilo.

    o padro de pensamento individual, a impresso profunda ou padro de hbito no

    campo da mente, que deseja executar suas atraes ou averses.

    O Yoga explica que o motivo pelo qual no experimentamos o estado de Auto-

    realizao que a conscincia pura se identifica com os padres de pensamentos

    profundos (Vrittis) do campo da mente (Chitta; Yoga Sutra, 1.2-1.4).

    O problema que o Eu se identifica com todos os Vrittis (padres de pensamentos), e cada um destes padres de pensamento so um isto, que no o Eu, aquele sou na

    verdade.

    Perceber que o Vrittis (no Eu) que colorido com atrao, averso e medo um passo crucial no caminho da Auto-Realizao. Uma forma fcil e direta para comear a

    corrigir este equivoco :

    Pare de dizer - eu quero.

    Passe a dizer - isto quer.

  • Somos definitivamente responsveis pelos pensamentos individuais e pelas palavras e

    aes que deles resultam, mas estes pensamentos no so quem eu sou. Enquanto a meditao progride, as cores das atraes e averses enfraquecem gradualmente,

    enquanto Eu, o Verdadeiro Eu, brilha com mais intensidade.

    Mudando eu quero para isto quer, ajuda a clarear uma mente nublada, de forma a permitir a discriminao entre o Eu e os objetos no campo da mente.

    Prximo sutra: 1.5

    ______________

    Traduzido do original Yoga Sutras 1.1-1.4: What is Yoga?, de autoria de Swami Jnaneshvara Bharati, disponvel em SwamiJ.com.