quarentena amorosa trecho

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quarentena amorosa primeiro capitulo portugues do brasil, editora sextante

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  • No ensaies demais as tuas vtimas, amor, deixa em paz os namorados. Eles guardam em si, coral sem ritmo,

    os infernos futuros e passados.Trecho do poema Vspera,

    de Carlos Drummond de Andrade

  • Cris, minha irm e cmplice de aventuras e reflexes,por pouco uma coautora deste livro.

    s amigas e aos amigos queforam e sempre sero fonte de inspirao.Obrigada, de corao, por dividirem suas histrias comigo.

    minha famlia e, em especial, minha me,de quem herdei a liberdade teimosa,o riso frouxo e o amor por letras e artes.

    Ao Jaime, o final feliz que chegoureinaugurando sonhos e sentidos.

    Agradecimentos

  • Uma introduo O princpio dos princpios 12

    Princpio no 1 O tempo de cada um 18

    Princpio no 2 A travessia 30

    Princpio no 3 Um rito para chamar de seu 40

    Princpio no 4 A viglia esttica 52

    Princpio no 5 O corpo como instrumento 66

    Princpio no 6 Decises em banho-maria 82

    Princpio no 7 Nos pequenos frascos 94

    Princpio no 8 Guarde-se 108

    Princpio no 9 hora de faxina 122

    Princpio no 10 O jogo do bem me quero 134

    Princpio no 11 Viva a gentileza 144

    Princpio no 12 Da tragdia comdia 158

    Concluses e recomeos Quando o fim chega ao fim 172

    Nota da autora 184

    Sumrio

  • gua mole, pedra dura Tanto bate que no restar nem pensamento. Tempo Rei, Tempo Rei, Tempo Rei, Transformai as velhas formas do viver

    Ensinai-me, Pai, o que eu ainda no sei Me Senhora do Perptuo, socorrei!Trecho da cano Tempo Rei,

    de Gilberto Gil

  • 12

    Mesmo entre as mais importantes leis da cincia, muitas desco-bertas foram feitas por acaso. Pelo menos, assim que reza a len-da. Dizem que Newton cochilava sob uma rvore quando a lei da gravidade literalmente caiu sobre sua cabea, em forma de ma. Dizem que foi tomando banho que Arquimedes enfim entendeu a hidrosttica, desenvolvendo o princpio da fsica que passou a levar seu nome. Dizem at que, em tamanho xtase pela desco-berta, o matemtico grego esqueceu-se da roupa e saiu nu pelas ruas de Siracusa gritando Eureca! que, em grego, significa algo parecido com encontrei.

    Pois bem, com a lei aqui apresentada no foi diferente. Pode-se dizer que ela surgiu numa mesa de bar, nos tempos de faculdade, sob o calor daquela fase da vida em que somos puro potencial, guardies de um tipo de otimismo em estado bruto que, anos mais tarde, chamaremos saudosamente de ingenuidade.

    Talvez por isso por ser filha da casualidade e das conversas entre amigas com tanto em comum seja difcil determinar ao certo quem falou em quarentena amorosa pela primeira vez. A verdade que, naquele momento, nenhuma de ns pensava no assunto como algo a ser levado a srio. Era nossa piada de turma, nossa memria gostosa dos veres ensolarados, nossa cumplici-

    Uma introduo

    O princpio dos princpios

  • 13

    dade no fim das paqueras. Naquele tempo, a quarentena amorosa no era muito mais do que um conceito vago de que deveramos andar mais arrumadas depois de um fora dado ou recebido , porque assim seria mais fcil esbarrar no sujeito depois das aulas ou simplesmente encontrar um substituto para sua vaga.

    Mas chega uma hora na vida em que as relaes afetivas co-meam a importar de verdade e, no raro, a machucar tambm para valer. Aconteceu comigo, aconteceu com algumas dessas amigas e com outros que o tempo e a profisso foram me tra-zendo de presente. Foi ento que aquela descoberta comeou a se consolidar dentro de mim, a receber novas nuances, a ganhar corpo e princpios claros. Aos poucos, todos eles foram testados, em diferentes ocasies. Por mim, por outras mulheres, por al-guns homens.

    Hoje, quase duas dcadas depois, aquela brincadeira virou este pequeno guia, que eu decidi colocar em livro por uma nica ra-zo: d certo. Ainda me surpreendo pensando nisto, mas, todas as vezes em que foi realmente colocada em prtica, a quarentena amorosa pareceu funcionar a contento.

    Ela formada por um conjunto de princpios, com aes relati-vamente simples, que no requerem grandes investimentos finan-ceiros nem aptides e que, portanto, esto acessveis a qualquer pessoa, de qualquer idade ou religio, em qualquer estrato social ou forma fsica. Procurei dividir as aes por captulos, explicar o princpio que originou cada uma delas e ilustrar com histrias verdadeiras de mulheres e homens que foram, sem que eu mesma soubesse, minhas cobaias nessa teoria. Para proteg-los de incon-venientes, seus nomes foram substitudos e suas histrias, mistu-radas umas com as outras.

    Alis, organizar o livro a partir desses causos no mera eventualidade, mas fruto de uma convico. Quando se trata de sugerir caminhos para enfrentar uma dor emocional, basear-se

  • 14

    em histrias parece ser o nico mtodo realmente eficiente e profundo (e talvez explique a preferncia dos grandes mestres pelas parbolas). que, alm de ilustrar as dicas objetivas, as histrias apresentam um mundo de nuances e aprendizados pa-ralelos. Elas permitem o dilogo ntimo, de cada um de ns, com os personagens ali apresentados, seus conflitos e acertos. Ou seja, funcionam como um espelho, transformando nossas emo-es em protagonistas. Por isso, o potencial de ensinamentos de uma boa histria to infinito quanto so infinitas as possibili-dades humanas.

    A ordem dos princpios tambm no aleatria. O roteiro de aes est traado para ser o mais simples e natural possvel, por-que se assemelha ao ciclo tpico das separaes. Um ciclo que co-mea de fora para dentro da relao com a outra pessoa para a relao com a gente mesma, da redescoberta do corpo para as re-descobertas ntimas para, em seguida, fazer o caminho de volta. Nesse percurso, todas as aes propostas pela quarentena tm ao menos um objetivo em comum: trazer voc para o seu centro de equilbrio. Como j sabem as bailarinas e os lutadores, o afasta-mento desse centro que faz a gente cair. Ento, alguns princpios buscam restabelecer o equilbrio a partir de estmulos corporais (com atividades fsicas, por exemplo) e outros, a partir de ativi-dades prazerosas para a cabea e o corao (como criar novos h-bitos e fazer uma faxina emocional). Alm disso, h tambm princpios de proteo, alertando para o risco desastroso de certas condutas numa fase de fragilidade.

    Mas aqui vai um aviso: o fato de serem dicas simples no sig-nifica que sejam aes fceis. Vamos falar a verdade, superar uma dor nunca fcil. E tem uma coisa que livro nenhum far por voc: romper a inrcia. J que abri esta obra citando alguns con-ceitos da fsica, eis aqui mais um: o princpio da inrcia. Em bom portugus, e para quem j no tem frescas na cabea as aulas do

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    colgio, a fsica quem diz que preciso sempre uma nova fora para mover o que estava parado. Ou para parar o que estava em movimento. Um corpo sempre tende a manter seu estado de mo-bilidade (e esta a razo pela qual, por exemplo, precisamos do cinto de segurana para no sermos arremessados para fora do carro em uma freada brusca).

    Ento, pronto. Para comeo de conversa, vamos dar nome aos bois. Saiba que aquela preguia de comear, aquela vontade de no se mexer (e que parece ainda maior quando a gente est so-frendo) , na verdade, uma propriedade fsica da matria. A van-tagem dessa nova lgica a seguinte: depois que tomou um novo rumo, a prpria lei da natureza que vai fazer voc continuar. preciso apenas encontrar aquele restinho de fora de vontade para impulsionar a primeira mudana.

    E nesse sentido que o livro procura ajudar. J que o fim de um relacionamento parece sempre drenar quase toda a nossa energia, precisamos usar esse restinho de fora de forma inteligente, em aes que realmente nos auxiliem a encontrar um caminho me-lhor. Caso contrrio, a frustrao aumenta.

    Dando os passos certos, o resto com o tempo. Agora, para quem ainda no se sente pronto sequer para comear, arrisco deixar uma sugesto adicional bastante singela: volte a pensar nisso depois de um longo banho, relaxante e cheiroso, e de uma boa noite de sono. Aproveite a desculpa do sabonete ou do leo para fazer carinhos demorados na pele molhada. Sinta a gua morna na nuca, alongue o pescoo e as costas, d um tempo. Ao sair, enxugue-se lentamente, deixe-se abraar pela toalha. Depois, troque os lenis para se deitar numa cama de aromas renovados. Se achar que precisa, tome um ch calmante, use um exerccio de respirao ou qualquer outra frmula que conhea para ajudar a dormir. No dia seguinte, procure mais uma vez a tal fora para comear.

  • 16

    Se ainda duvida do poder dessas pequenas armas do cotidia-no, pense no que banho e sono j fizeram pela cincia! E tomara que, ao acordar, voc possa sentir o entusiasmo de Arquimedes para dizer Eureca! e, literalmente, passar para o prximo captulo.

  • Um monge descabelado me disse no caminho: Eu queria construir uma runa. Embora eu saiba que runa uma desconstruo. Minha ideia era de fazer alguma coisa ao jeito de tapera. Alguma coisa que servisse para

    abrigar o abandono, como as taperas abrigam. Trecho do poema Runa, de Manoel de Barros

  • 18

    Separar-se de algum um processo. E existem duas formas de viv-lo: tem gente que vai se separando at o dia em que se separa; e gente que se separa e, com o tempo, vai se separando. Procure entender o que est acontecendo com voc.

    O poema de Manoel de Barros (parcialmente transcrito em forma de epgrafe deste captulo, como um convite a conhec-lo por inteiro) me foi mostrado por Anita faz algum tempo, quan-do falvamos das dores de amor. uma poesia que tem a mesma essncia viscosa das separaes.

    Foi a prpria Anita quem me disse isto, ainda que no com estas palavras, mas j com o seu jeito lrico de perceber o mun-do. Minha amiga diz sempre que, com base na sua experincia, o difcil dessa fase de ruptura que voc se v obrigado a construir uma runa. Mesmo sabendo que a runa uma desconstruo e que tudo sua volta filmes, livros, programas de TV, anncios de jornal, contos infantis e conselhos religiosos parece afirmar que isto a contramo da vida, que o natural de todo esforo humano erguer tijolos. Sobretudo no campo afetivo.

    No por acaso o monge de Manoel de Barros est descabe-lado. L pelas tantas, o homem explica que sua desconstruo

    Princpio no 1

    O tempo de cada um

  • 19

    servir para abrigar o abandono. E conclui, ento, que gostaria de construir uma runa para a palavra amor segundo ele, uma palavra quase vazia , para que talvez assim ela pudesse renascer como um lrio.

    esta a tarefa que espera algum que acaba de se separar. Mas desconstruir o lugar para o amor, agora quase vazio, um trabalho exaustivo. Ainda que se tenha a sensao de no estar fazendo nada. Runa, afinal, fazer mesmo o desfazer.

    Laura, uma das minhas colegas de trabalho, j estava separada havia trs meses, mas falava, sempre que perguntavam como se sentia, que ainda no tinha encontrado as chaves para se libertar das bolas de ferro que trazia acorrentadas s pernas. Certa vez, ao observ-la a distncia dirigindo-se ao carro, pude enxergar o que dizia. Aos 30 e poucos anos, Laura caminhava lentamente, com os ombros cados, arrastando os ps em um cansao visvel que parecia roubar-lhe a alegria.

    S vim a compreender aqueles passos alguns anos mais tar-de, quando Beto e eu decidimos dar um tempo. Depois de seis anos relativamente felizes, vnhamos de meses ruins, de gran-des discusses motivadas por tolices, de mau humor recproco e prolongados silncios a dois. Num sbado qualquer, em que finalmente parecamos ser os amigos que j tnhamos sido um do outro, toquei no assunto.

    A gente tem obrigao de ser feliz, Beto. Se h outras vi-das, eu no sei. Mas nessa, viemos com tudo: sade, bom em-prego, acesso a cultura, amigos. J pensou, depois que morrer, no que vai dizer a Deus quando ele lhe perguntar por que no foi feliz?

    Beto me olhou demoradamente antes de responder. Por quase duas horas, seguimos numa conversa serena e triste que resultou na separao. Sem acusaes ou justificativas, Beto dizia-se confuso e encurralado. Queria um tempo e no sabia por qu. Procurava

  • 20

    dentro de si o sentimento que um dia nos uniu e no encontra-va. Procurava, entre palavras e atos, a justificativa para aquele fim e tambm no via nada que lhe parecesse definitivo. E mostrou-se honestamente grato por eu ter aberto a porta para aquele dilogo.

    Uma semana depois, suas coisas j no estavam mais no nosso apartamento. Ele tinha alugado um lugar e pedido em-pregada que o ajudasse a arrumar suas coisas. Num daqueles dias, ao chegar em casa, encontrei vazia a sua parte do arm-rio. A viso me doeu como um soco. E me acordou para o que estava acontecendo: meu marido partira, levando consigo uma etapa da minha vida que havamos construdo juntos, tijolo a tijolo. Meu Deus, como suportar a dor de fazer daquilo tudo uma runa? Onde abrigar tamanho abandono? Fiquei tonta, enjoada. E chorei, pela primeira vez, um tipo de choro que no imaginei que fosse capaz de chorar: com urros que me saam do estmago e soluos que me doam as costas. S o cansao fsico me fez dormir naquela noite.

    Foram semanas inteiras em uma verdadeira montanha-russa de sensaes. s vezes, sentia um profundo alvio e respirava ares de promessa, planejava redecorar a casa, queria viajar e rever antigos amigos. Noutras horas, sentia raiva e mgoa, imaginava os mil desaforos que deveria ter dito a ele e no disse, rumina-va arrependimentos sobre o tempo perdido. De vez em quando, sentia apenas saudade. Uma saudade que vestia de amor todas as minhas memrias, saudade que no era s daquele homem, mas tambm de quem eu era quando o conheci, saudade dos planos que cheguei a ter, saudade das certezas que costumavam tornar minha vida mais fcil. Aos poucos, essa saudade virava de novo rancor, que mais tarde era outra vez alvio e seria depois tristeza repetindo seguidamente as sensaes daquela trilha dramtica, subindo e descendo com frios na barriga como num brinquedo macabro de um parque dehorrores.

  • 21

    Pouco mais de um ms depois, o Beto me procurou. Queria tentar mais uma vez. E foi a apenas a que eu pude perceber o que estava realmente acontecendo comigo: eu estava atraves-sando um deserto.

    Eu olhava para trs e via quanto j tinha caminhado. No chorava mais como no princpio, os dias esperanosos come-avam a se sobrepor aos tristes, e tinha dado incio ao peque-no experimento que originou este livro. Sentia medo e pregui-a de voltar. Mas olhava para o horizonte e tambm no via nada de novo, nenhuma vontade nova, nenhuma felicidade concreta no caminho que eu seguia quase por instinto. Em nome do passado, aceitei.

    A histria resumida que ns voltamos, tentamos, mas no funcionou. Tentamos, ainda assim, outras vezes mais. E, nesse percurso de idas e vindas, as despedidas foram nos deixan-do cada vez mais calejados, as reconciliaes cada vez menos emocionantes. De ruptura em ruptura, amos ficando prontos para o desfecho de uma relao que j tinha morrido havia al-gum tempo. Uma espcie de velrio, um rito de corpo presen-te, para nos desvencilharmos do que tinha sido aquela histria de amor.

    Durante essa etapa, estive frequentemente numa espcie de crise de conscincia. Tentando ajudar, muita gente em volta me dizia que eu deveria ser firme nas minhas decises, como se cada tentativa de recomeo a dois fosse um desrespeito comigo mes-ma. Uma mulher tem que se dar valor, minha filha, chegou a me dizer a me de uma amiga, intrometendo-se na conversa en-quanto tomvamos um caf na sua cozinha; afinal, se o homem que te abandonou encontrar a porta aberta quando voltar, vai querer sair de novo.

    O pior que conselhos como os de dona Rita me ferroavam, mas no mudavam nada: a porta j estava mais que escancara-

  • 22

    da, e no era s o Beto que transitava por ela. Eu tambm por mais que a culpa e a angstia fermentassem minhas inseguran-as entrava e saa emocionalmente daquela relao sem jamais conseguir ter o controle sobre as decises. Mesmo que a cabea me exigisse velocidade, o corao no sabia fazer de outro jeito.

    O impacto da separao sobre amigos e parentes

    Amigos e parentes tambm sofrem com a separao (sem fa-

    lar nos filhos, que, obviamente, merecem um cuidado ainda

    maior). Mesmo que no verbalizem, normal que eles se sin-

    tam desconfortveis com a notcia. Ento:

    Aos amigos em comum, evite fazer perguntas relativas ao()

    ex ou pedir-lhes que enviem recados. No exija posiciona-

    mento da parte deles. Procure deix-los vontade para que,

    caso queiram, se mantenham neutros. No uma traio

    (muito menos uma rejeio) se eles precisarem de um tem-

    po para redimensionar suas relaes com duas pessoas que,

    antes, eram um casal.

    Aos seus amigos e parentes, pea mais colo que conse-

    lhos. Se perceber que a pessoa est destilando todas as

    suas mgoas contra o(a) seu(sua) ex o que normal, afi-

    nal, ela est vendo voc sofrer! , no estique a conversa.

    Frases como Fulano(a), seu abrao e sua companhia me

    ajudam mais do que esse comentrio e Quando for me-

    nos dolorido, voltaremos a falar a respeito, ok? costumam

    ser excelentes sadas.

    Em relao aos amigos e parentes do(a) outro(a), seja pru-

    dente. natural que os amigos dele(a) o(a) apoiem e tentem

    anim-lo(a). Mas isso no nada necessariamente contra

    voc. Cuidado com a tentao de projetar sobre eles a

    culpa por comportamentos do(a) seu(sua) ex.

  • 23

    Hoje, vejo quanto aquela fase da minha vida foi importante. Graas a ela, aprendi na prtica aquele que o conceito nme-ro um deste livro: separar-se um processo. S quem no se separou pode duvidar. Uma relao a dois como uma trama, um tecido com muitos fios entrelaados que incluem pessoas, memrias, planos, neuroses. No se corta facilmente, como uma faixa de inaugurao de um shopping, com apenas uma tesourada. Para se romper essa trama, preciso cort-la em vrios sentidos, esgar-la com foras opostas, descostur-la. E isto no se faz do dia para a noite. Ainda mais quando essa trama tambm foi sendo tecida ao longo de um tempo razovel de relacionamento.

    Por isso mesmo, cheguei concluso de que s h dois tipos de processo de separao: de gente que vai se separando at o dia em que se separa; e de gente que se separa e, com o tempo, vai se separando.

    Meu amigo Joo foi desse primeiro time. Ele passou anos ao lado da Tatiana, mesmo depois de saber que no queria estar com ela. No ntimo, dizia para si mesmo que as filhas eram o estmulo para que permanecesse casado. Ia empurrando os dias com a barriga, chegando cada vez mais tarde do trabalho, procurando no pensar no assunto. Quando a mulher viajava para visitar a me, Joo fantasiava que tinha ficado vivo e chegava a se imaginar consolado pelos amigos, fazendo planos para a nova vida (um pensamento que ele s teve coragem de me confessar muitos anos depois, j casado novamente).

    Se o seu sentimento por alguns amigos tambm mudar, se

    respeite. Mais adiante, neste livro, h um captulo sobre a

    faxina emocional que, s vezes, necessria nas nossas

    relaes quando estamos em quarentena.

  • 24

    Enquanto vivia em sua pequena priso com Tatiana, j no gostava sequer da vida social a dois. Tinha inveja dos outros casais, e vergonha da risada escandalosa da esposa. Nas reu-nies da antiga turma, Joo chegava a ter raiva de Carlos e Lili, de quanto curtiam um ao outro. Passou a desejar secretamente a mulher do colega. Vira e mexe, saa sozinho para paquerar nos bares. Inventava alguma desculpa, em que Tatiana fingia acreditar, e partia em busca de uma aventura extraconjugal. Teve vrias ao longo dos anos, mas nenhuma que o tirasse de sua sensao de masmorra.

    Aos poucos, tornou-se um marido ausente, a quem pouco importava se a mulher estava magra ou gorda, feliz ou doente. Deixaram at de discutir. As meninas cresciam e Joo nem no-tava cada vez mais distante de casa. No seu silncio, Tatiana tambm foi se acostumando a ter no marido s um parcei-ro financeiro. Por fim, a dermatologista se apaixonou por um cliente do consultrio. E foi por iniciativa dela que o casamen-to acabou.

    Para surpresa de todos, no dia em que finalmente saiu de casa, Joo estava leve. Carregou consigo apenas os discos anti-gos, algumas roupas. Com o que tinha na poupana, deu entrada no financiamento de um carro popular e comprou uma televi-so para colocar no apartamento mobiliado que alugou. Deixou imvel, carro e todo o resto para Tatiana e dizia no ter qual-quer mgoa da traio. Passou a rir mais, a ler mais, a viajar mais. Passou a prestar ateno nas filhas, quando ficava com elas no fim de semana. Namorou uma dezena de moas jovens e lin-das, mas no levou a srio nenhuma. At encontrar a Marta e, com ela, a paz que sempre buscou, mesmo sem saber.

    Quando me viu sofrer com a separao, desenvolveu a teo-ria de que as mulheres so mesmo confusas e de corao mole. Para tentar me consolar, dizia que uma separao no preci-

  • 25

    sava ser to dolorida. E que ele era a prova disso. S mudou de discurso no dia em que eu lhe perguntei quanto tempo ele havia sofrido at se separar.

    Cinco anos disse ele. Ento, voc sofreu bem mais que eu, Joo. A diferena

    que voc sofreu a separao enquanto estava casado. Quando se separou de verdade, j estava separado fazia tempo.

    Em geral, os que se separam num processo parecido com o do Joo no precisam de quarentena amorosa quando saem do relacionamento. A quarentena deles aconteceu antes e, no raro, durou muito mais tempo do que imaginamos sofrer de-pois de sairmos, de fato, de uma relao. So pessoas que se separaram escavando a relao, em silncio torturado, durante meses e anos a fio, como presidirios que constroem sua rota de fuga abrindo tneis com colheres. Sem que seus parceiros suspeitassem ou quando apenas intuam esses homens e mulheres tambm tiveram seus altos e baixos, suas dvidas, suas culpas e suas recadas ao longo do percurso. Para essa tur-ma, que comemora a separao de fato como quem v a luz no fim do tnel, o livro praticamente termina aqui. H toda uma vida esperando fora destas pginas, afinal.

    Quem precisa de quarentena so os que tiveram a coragem, o susto ou at a sorte, em alguns casos , de enfrentar o fim de uma relao quando a trama emocional ainda estava entre-laada. Mesmo que estejam convictos da deciso tomada, eles ainda precisaro de um tempo para descosturar seus enlaces. E de pacincia, sobretudo consigo mesmos, para dar incio desconstruo. Afinal, leva-se tempo para construir a runa capaz de abrigar um amor esvaziado.

    Para estes, como costuma dizer a minha irm, a regra pri-mordial pode ser resumida pela campanha publicitria de uma marca de usque: Keep walking.

  • 26

    3

    Trocando em midos

    Separar-se de algum um processo. Leva tempo.

    como desfazer uma manta que voc teceu: quanto maior o teci-do, mais trabalho d. No se cobre por no ter todas as respostas nem tente se livrar dos seus sentimentos do dia para a noite.

    O mais provvel que esse processo no tenha comeadoontem.

    Geralmente, a separao comea muito antes do anncio do fim. Na fase preliminar ao rompimento, ela est associada a prolonga-dos sentimentos de angstia, instabilidade afetiva, solido a dois e/ou desinteresse pelo parceiro. Pergunte-se h quanto tempo voc ou a outra pessoa d sinais de que est se separando. Assim, vai ficar mais fcil entender o que est acontecendo. Nem toda crise conjugal uma separao definitiva, mas ela sempre um convite reflexo e mudana.

    importante saber que cada um tem seu jeito (eseutempo)delidar com a dor de um rompimento amoroso. Eviteatitudes desrespeitosas e verdades que s servem paramachucar.

    Mesmo que no demonstre ou at diga o contrrio, o mais pro-vvel que a outra pessoa tambm esteja sofrendo ou tenha sofrido , assombrada por culpas, remorsos, rancores e incer-tezas. As agresses podem gerar um desnecessrio (e perigoso) crculo vicioso. Mesmo que as aes do outro estejam cheias de agressividade, o melhor no entrar nesse jogo. Acredite: voc nunca vai se arrepender de ter sido uma pessoa honesta, razo-vel e minimamente elegante.

  • 27

    Procure no se comparar a outras pessoas, em outras relaes.

    Alm de intil (e dolorosa), a comparao quase sempre uma tremenda iluso. Ningum sabe o que estar na pele do outro. Como comparar pelo lado de fora?

    3

  • Penso que cumprir a vida seja simplesmente compreender a marcha, ir tocando em frente. Como um velho boiadeiro levando a boiada, vou tocando os dias pela longa estrada, eu vou.

    Estrada eu sou.Trecho da cano Tocando em frente,

    de Almir Sater e Renato Teixeira

  • 30

    S h uma maneira de atravessar um deserto: caminhando. No tente correr, no ouse parar.

    H um perodo, depois do desfecho de uma relao amoro-sa, em que a solido varre tudo em volta. Ainda que os amigos sejam fundamentais para que a vida fique suportvel, esse um tipo de solido diferente. Como j disse antes, no consigo pen-sar em nada mais parecido com essa sensao do que uma tra-vessia no deserto.

    Por vrios motivos. Primeiro, porque ningum, alm de vo-cs dois, capaz de realmente ajudar a esclarecer aquele fim. Acontece que ele (ou ela) j no est mais ali para dialogar so-bre o assunto, e, quase sempre, as tentativas de conversa nesse sentido viram um crculo vicioso de interminvel lavagem de roupa-suja, que acaba confundindo mais que esclarecendo. Ou seja, sobrou para voc resolver aquela emoo. Por mais que tentem, amigos e parentes jamais vo entender as nuances de seu sofrimento, porque elas dizem respeito a uma relao da qual no participaram diretamente. Como conhecem a reali-dade apenas pelos seus olhos, tendem a estereotipar a situao. Seu antigo parceiro (ou parceira) vira o Mdico (Ele um cara

    Princpio no 2

    A travessia

  • 31

    legal, Todo mundo tem defeitos, Ningum se separa por bo-bagens assim, Voc nunca vai achar algum como ele) ou o Monstro (Fulano nunca mereceu voc, Beltrano me decep-cionou, Ele est fazendo isso porque j tem outra, etc.). O re-sultado das conversas que voc se sente e de fato est numa maratona individual.

    Segundo porque, como num deserto, a gente costuma se sen-tir bastante perdida nessa fase. Os projetos que voc tinha mor-reram porque incluam aquela outra pessoa, ou eram resultado das aspiraes de ambos como casal , mas ainda no deu tempo de criar outros interesses, descobrir novos caminhos, traar no-vos mapas. No h pegadas no cho, no h placas de sinaliza-o. So dunas e dunas por todos os lados.

    A outra similaridade com o deserto a aridez. Verdade seja dita, quando se termina uma relao, a vida se transforma num terreno rido por algum tempo. Voc sai com amigos, frequenta festas, bate papo na internet. Mas a madrugada chega e encontra voc ainda com um tipo de sede que difcil de matar quando j conheceu uma vida a dois.

    Assim, para atravessar essa fase, a melhor alternativa pensar como um beduno. preciso caminhar um pouco todo dia. Eco-nomizar foras e mantimentos, tendo como meta dar um passo aps o outro e s. Quem tenta correr arrisca se cansar demais antes de enxergar mudanas no horizonte. A consequncia po-der ser a desesperana. Ou o sofrimento desnecessrio. Por ou-tro lado, quem tem a iluso de que basta esperar que passe dificilmente conseguir sair do lugar, no verdade? E bem provvel que, quando a sede aumentar, essa pessoa comece a en-xergar miragens no deserto. Comece a ver gua onde s h areia. E, antes que se d conta, estar com os lbios feridos pela tenta-tiva frustrada de matar a sede.

    Quando ainda no sabia que estava no deserto, eu decidi es-

  • 32

    perar. Pensava que, em algum momento, as coisas voltariam a ficar claras para mim. Gostava de dizer que, assim como a chuva passa, isso tambm iria passar. Graas a Deus, tenho uma irm sensata que me ligou da Califrnia para ter notcias e tentar me chacoalhar.

    O que voc fez hoje? Nada. Por que eu precisaria fazer alguma coisa hoje? Nada? E voc espera se sentir melhor por fora e graa de

    um milagre? Quais so seus planos para amanh? No tenho planos. Estou vivendo um dia de cada vez. Olha, minha irm, viver um dia de cada vez legal. Mas voc

    no est vivendo. Est sentada esperando a vida chegar. Viver caminhar, sair do lugar. Voc sabe por quantas dificuldades j passei. E legal a gente poder pensar que essa situao ruim passageira. Mas, para ajudar a passar, voc tem que cuidar de si, entendeu? Lembra da lei da quarentena? Pois .

    Talvez voc tenha razo. Ento, mexa-se. Como diz a propaganda: keep walking,

    baby. Amanh, eu te ligo de novo.Foi com puxes de orelha que minha irm conseguiu fazer

    com que eu sasse da inrcia. Depois, o ritmo da vida assumiu sua tarefa.

    Com Luana, foi o contrrio. A pressa foi sua armadilha. Lua-na se separou de Andr aos 28 anos, quando Renata ainda no completara 2 anos. A advogada lutava para recuperar a forma fsica de antes da gravidez, mas a natureza parecia se contrapor a suas intenes. Por outro lado, Andr tinha sido promovido, conseguindo que a empresa lhe pagasse uma ps-graduao, e havia emagrecido com o novo ritmo de trabalho. Luana se acha-va cada dia mais feia e desinteressante, e se sentia intimamente ameaada pelas conquistas profissionais de Andr. Ainda que procurasse esconder, ele tambm andava desencantado. De fato,

  • 33

    Andr comeara a olhar com mais ateno para uma das amigas do curso. Quando se sentia culpado por alimentar aquele flerte, responsabilizava a me de sua filha: Luana agora s tinha olhos para a menina, estava chata e impaciente com ele e, para pio-rar, estava gorda. Numa briga sem importncia sobre a hora de chegar em casa, Andr explodiu. Disse tudo o que pensava in-clusive sobre a interessante companheira de classe e saiu para tentar se acalmar. Quando voltou, algumas horas depois, Luana tinha as malas prontas.

    Linda, acostumada a ter sempre namorados no seu encalo e a depositar neles o crdito por sua autoestima , Luana apos-tava em si mesma. Em menos de um ms, montou um pequeno apartamento e deu entrada na justia com o pedido de penso alimentcia, ajudada por um colega do escritrio. Decidiu que s falaria com Andr por mensagens escritas, para tornar mais fcil para os dois a superao da crise e para no precisarem, assim, prejudicar a relao de Andr com a filha. Como soluo definitiva, deu incio a uma dieta radical, e marcou cirurgia para colocar implante de silicone nos seios. Estava segura de que um novo amor logo chegaria. E esse amor seria o atalho para aban-donar rapidamente aquele tempo de tristeza.

    Na pressa para superar a separao, Luana no percebia quan-to ainda amava Andr. E quanto ainda era amada por ele. Com a falta de dilogo, ambos transformaram aquele afeto em rancor um ressentimento que envenenava os amigos e privava a filha de um ambiente saudvel.

    Sufocado de raiva, despeito e cime, Andr aceitou a transfe-rncia para outra cidade e, como consequncia, via Renata ape-nas esporadicamente. Luana, depois de alguns meses, j come-ava a se perguntar onde estava aquele novo companheiro que deveria ter surgido para ela. Saa noite para os bares da moda, aceitava convites de novos amigos virtuais, dava incio a roman-

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    ces que no duravam mais do que semanas. Quando termina-vam, deixavam um rastro de dor e feridas ainda maior. Sentia-se carente, confusa, desgraada.

    A empatia a chave para perdoar(-se)

    Quanto mais vocs conseguirem se colocar no lugar um do ou-

    tro, mais fcil ser a travessia nesse perodo. E mais rpida a

    volta por cima. Por mais que se negue, comum a gente guar-

    dar, l no fundo do peito, uma enorme sensao de fracasso

    e se penitenciar por ela. Para voltar a se sentir de bem com

    a vida, preciso, na medida do possvel, perdoar (o outro e a

    si mesmo). Em teoria, parece fcil. Porm como todo mundo

    que se separou j sabe perdoar no fcil, porque exige que

    nos coloquemos no lugar do outro. Mas h pelo menos duas

    afirmaes internas que costumam ajudar a recobrar a empatia

    dentro de voc. Quer tentar?

    Por um tempo, essa relao deu certo. E me fez bem. Se ela

    est chegando ao fim, porque j no pode me dar o que eu

    preciso para ser feliz a partir de agora.

    Eu escolhi estar ao lado dele (ou dela) porque, apesar de

    tudo, uma pessoa com qualidades. Infelizmente, essas quali-

    dades no so suficientes para que possamos seguir juntos. S

    hoje eu sei disso. E s pude saber disso porque ns nos demos

    essa chance.

    Luana comeou a acreditar que j no era atraente como an-tes. E que estava ficando velha. No percebia que uma relao de verdade s pode comear quando a outra termina. E a dela no tinha terminado ainda. Como j anunciava o Velho Testa-mento, h um tempo para cada coisa. Tempo para nascer, tem-po para morrer. Tempo para plantar, tempo para colher. Tempo

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    parachorar, tempo para rir. Ao tentar atropelar esse tempo, Lua-na foi atropelada por ele.

    Foram trs anos de tristeza. Olhava em volta, via as amigas casadas com homens que, na sua opinio, pareciam bem pio-res que Andr. Homens que caoavam da forma fsica da espo-sa,que jamais ajudavam em casa, que tinham cime de seus em-pregos, que no gostavam dos parentes da companheira. E todas elas pareciam felizes ou, pelo menos, sem qualquer inteno de ficarem ss. Concluiu que todo casamento tem um preo. E o seu nem era to alto assim.

    As coisas estancaram nesse ponto at o dia em que Andr foi transferido de volta. Antes de se mudar definitivamente, veio em uma visita mais longa. E ligou para Luana a fim de marcarem uma conversa. S os dois. Dessa vez, Luana decidiu no dividir o as-sunto com os amigos nem com a famlia. Em segredo, fez o que deveria ter feito trs anos antes: dar um desfecho quela histria.

    Pouco mais de um ms depois, ela estava sentada na minha cozinha enquanto eu passava um caf para ns duas.

    Tenho uma novidade: vou me casar. O qu? Com quem? Adivinha.Que eu soubesse, minha amiga estava sem novas histrias

    amorosas havia pelo menos um par de meses. Repassei na ca-bea seus ltimos relacionamentos e... No. No havia futuro ali. Olhei para ela e reconheci o brilho nos olhos dos tempos da universidade.

    No acredito: Andr! Foi a primeira pessoa que acertou disse ela sorridente. Como foi que aconteceu?Ao dar desfecho quela histria, outra pde comear. Por

    coincidncia, com a mesma pessoa. Depois dos pedidos de des-culpa, e aps admitirem os erros de um e de outro, o amor que

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    andava misturado quela lama apareceu. E, junto com ele, veio um novo romance. De incio, cuidaram para que fosse tudo mui-to discreto para no criarem iluses na filha nem serem sub-metidos prematuramente ao crivo dos amigos.

    O segredo apimentava ainda mais aquele amor urgente. Ti-nham perdido trs anos com seu afastamento, e corriam atrsde cada sorriso deixado no caminho, cada viagem, cada pedao derotina a dois. Quando anunciaram filha que estavam juntos, os trs choraram abraados.

    Voltaram a conviver em famlia. Casaram-se em poucos me-ses, dessa vez com cerimnia, vu e grinalda porque, na ocasio do primeiro enlace, consideravam esses ritos uma bobagem. Mas agora tinha sido um pedido de Renata. A menina achava lindo ser dama de honra, porque a roupa era igualzinha de uma princesa de verdade. Ainda hoje, os porta-retratos na sala mostram que a menina no era a nica a viver um sonho naquele dia.

    A mensagem aqui parecida com aquela frase do Chacrinha: tem coisa que s acaba quando termina. Respeite isso dentro de voc. Costumo dizer que s sai inteiro de uma relao quem entrou inteiro nela. E entrar inteiro significa fazer realmente tudo o que voc sabe por aquele amor, usar at a ltima gota que h dentro de si. Por tudo o que j ouvi ou presenciei, posso garantir que existem poucas torturas emocionais maiores do que uma frase reticente que comece com mas e se eu tivesse.... Uma dvida assim feito um vrus, um tipo de herpes fica incubada dentro de voc esperando um momento de fraqueza e, quando ele acontece, tibum! Eis uma recada. Se bobear, pe voc de cama. E pode at matar.

    Assim, se ainda no tem certeza de que acabou, tente recon-siderar mesmo que as pessoas em volta lhe cobrem posturas definitivas , porque este um compromisso seu com voc. Faz parte da caminhada no deserto. Saiba que voc vai precisar de certezas no seu cantil quando estiver subindo dunas. Se ainda

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    sente falta de mais tempo de conversa, no se envergonhe. Se ainda no consegue deixar de ligar ou de atender chamada do antigo amor, seja paciente com suas emoes. Vai chegar a hora em que a ficha cair, acredite. aquele momento em que, mesmo com a vida doendo bea, voc no tem mais dvida alguma.

    E s nesse dia que comea a sua quarentena propriamente dita.

    3

    Trocando em midos

    A separao amorosa comparvel a uma travessia do deserto.

    Esse mesmo um perodo rido, cansativo e solitrio, em que o normal no saber aonde ir. Por isso, importante no ficar parado. Se tiver vontade de ligar, ligue. Se achar que ainda tem jeito, lute. Se tiver vontade de chorar, chore. Faz parte do proces-so. Mas procure fugir das ideias fixas que jogam voc para baixo: quando vir chegar esse fantasma, mexa-se. Obrigue-se a espai-recer. Nessas horas, livros, msicas, filmes, pessoas, trabalhos e lugares inspiradores podem ajudar muito.

    Muitas vezes, com idas e vindas que se costura um desfechoamoroso.

    Mesmo quando a separao parece ser irreversvel, recadas so para l de normais. Elas costumam fazer parte do fechamento de um ciclo. medida que esse ciclo se encerra, elas naturalmente deixam de acontecer. Seja paciente com as suas emoes.

    Nem vtima, nem algoz: no ajuda nada jogar toda a culpa sobre uma pessoa s.

    Salvo em situaes muito extremas (de gente que se casou e

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    viveu sob a presso severa da violncia), um rompimento amo-roso tem a ver com responsabilidades compartidas. Assim, tente usar o que aconteceu para aprender mais sobre si: a sua atitude que importa para que voc seja mais feliz no futuro. Em vez de se culpar em excesso, pergunte-se que sentimento pode ter pro-vocado suas aes. Se, ao contrrio, voc se sente uma vtima, mude o foco: pense em voc como protagonista de uma histria que ainda no terminou. Questione-se sobre o que voc preci-sa (e pode) mudar na forma como se relaciona. Se encontrar a resposta, a fase de dor ter sido, em alguma medida, valiosa. No mais, no se preocupe tanto com os erros da outra pessoa (afinal, sejamos pragmticos: se ela resolver passar a vida inteira fazendo bobagens, j no ser problema seu, certo?).

    Feche os ouvidos a opinies, conselhos e fofocas que fazem voc se sentir pior do que j est.

    Mesmo sem querer, os comentrios dos outros podem ferir. Na medida do possvel, proteja-se deles.

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