psm - quatro
Post on 26-Mar-2016
224 views
Embed Size (px)
DESCRIPTION
versos de carlos peres feio já publicados - entre 2003 e 2008 -TRANSCRIPT
1
2
Ttulo: PSM QUATRO
Autor : carlos peres feio
Capa: Chinesa do Norte Produes sobre desenho de carlos peres feio
carlos peres feio e chinesa do norte produes , Janeiro 2009
Composio, paginao, impresso: chinesa do norte produes, lda Depsito n : 0102806/09
3
simples e reconfortante
sentir que a luz do passado
ilumina este meu anoitecer
carlos peres feio
4
anjos na praia
anjos na praia
do coral submerso
espera sem ponteiros
tdio no verso
asas sem voo
ouo e converso
rasto dos tempos
eco de lamentos
inesperada espera
fogo na noite
na mar cheia
sinais nas algas
sons nos rochedos
afastem os medos
anjos na praia 1998
5
chita
como todos os gatos
o encanto tem dois plos
um olhar nico o movimento do corpo
quando marcha
como todas as crias
trazem o encanto da vida
desordem nos movimentos
quando trepam pela Me
como todos os seres
precisam de ter sorte
que no viver natural
nunca se cruzem com o Homem
na savana desta vida 2008
6
Raiz do Tempo
o que procuro
esconde-se
levo j de vida o tempo suficiente
para ter vivido a realidade
e poder agora
procurar o que falta
ser microchip em viagem
pelo meu crebro
ou turista pasmado
nas grutas do Drago
nas entranhas da montanha
em busca de cristais
nesta viagem
pode-se estar no centro da Terra
e continuar a ouvir
um piano preto
nas harmonias sugeridas por um afinador
nas madeiras da estrutura
e no metal das cordas
a busca em liberdade
tem sempre o limite da mente
as grades da idade
a fragilidade dos tecidos
procuro hoje
um sinal de fim
os medos pressentidos
de tudo ou nada encontrar
quando me aproximo
deste sol interior
no h nuvens nem ventos
a paz total
e sei que cheguei
Raiz do Tempo 2008
7
as coisas boas da vida
na cabea que tudo se passa
logo acima dos olhos
no crtex cerebral
o aroma que fica no ar
o teu perfume de sempre
as sombras do teu corpo
sonhar contigo ausente
a minha vida meu fado
e fcil entender
que janela do mundo
com o desgosto l fora
a gua do duche ser tpida
j uma coisa boa
respirar sem esforo
comer na hora certa
saber que os que partem
vo por ordem natural
conhecer gente de esperana
quando em ns no mora
perceber que entre os outros
h pessoas de bem
sentir a lngua quente
da cadela que lambe a mo
olhar no boletim
o sol que nos vai aquecer
h ainda a felicidade
do bico deste lpis
resistir s minhas frias 2008
8
pintura
reinventar o mundo
nas cores que tem
nos contrastes apresentados
mas filtrados pelo nosso ser
condimentado pela filosofia
que fomos construindo
enquanto ele mundo
se transformava
e durante a nossa vida
a isso assistamos
reinventar o mundo
a minha pintura
2008
9
A rapariga do pescoo doce
isso, escrevo muito porque sou uma
solitria!
Escrever faz-me bem.
Dizia isto a moa de uma
escola nocturna qualquer,
sentindo a verdadeira dimenso
de parecer rapariga
e ser mulher.
1990
10
a origem
o belo pode estar escondido
no amarelo-ndia
pigmento feito
com mijo de vaca sagrada
alimentada em exclusivo
com mangas
o mundo l fora
mostra o horror violento
no fundo
os nossos resduos
felizmente
tambm eles escondem alguma beleza
a que resta
2008
11
sinais do tempo - sinais do corpo
a tentativa humana de originalidade
falha
o esboo de um estilo prprio
est condenado
levantar o canto esquerdo da boca
ao rir
retorcer as duas mos face ao incmodo
daquela maneira
a memria de uma era antes de ns
so os avs a falar dentro do tempo
e nada mais a fazer
do que cumprir
2001
12
urso na jaula
quando era menino
em visita ao zoolgico
intrigava-me ver
as jaulas vazias
num segundo olhar
via o animal
a um canto
onde se enroscava
quando entram em minha casa
ouo vozes perguntarem
por mim
muitas vezes
no meu canto
escondido
2008
13
viso de amor
sou capaz de te descrever
todas as vises que tenho
e penso serem de amor
(se no forem
pacincia)
metralha-me com estrelas
para que sinta teus
abismos
e no vislumbrar
de teu rosto
minha alma vibre
em sismo profundo
donde sai canto de Verdi
em si libertador
e a quimera do princpio
seja mesmo Amor 1991
14
D. COXA
mulher a quem no davam crdito
dizia que o mar podia ser
metlico e ondulado
as ondas junto praia, flocos de neve
reconheciam nela no entanto um dom
era nica a entender
o canto das gaivotas 2008
15
quando
quando s levado a definir
felicidade
ficas sem saber se
pergunta sem resposta
ou auto de f
qual a maior importncia?
versos de Mallarm
ou filme a preto e branco
na cor da tua
imaginao?
perplexo
imploras auxlio
aos sbios de antigamente
mas talvez
apenas te responda
um pc
que fala contigo
mesmo quando ests s. 1998
16
VISITA
em sonhos recebi
a visita de mim prprio
vinha de um passado distante
onde o sofrimento me rodeava
sabia dele
no o conhecia
falo do meu pas
portugus suave
amassado por indiferenas
por violncias de violentos
escrevo sobre o sistema
brandos costumes
aparentes
a paz impossvel
o inferno dos torturadores
o tormento da conscincia
o ter de actuar
lembro-me que era
incmoda a minha apatia
decidi abandonar tudo
Ptria Famlia
quando a presso apertou
e foi necessrio assim fazer
dizem que tenho sorte
(assim foi toda a vida)
fui salvo de ser heri
por um Abril luminoso 2008
17
ano lectivo
s agora comeou
quando da vida prtica
nos desligmos
durmos at que um dia
parmos de o fazer
para aprender a viver
foram muitas as tarefas
cumpridas falhadas
e hoje somos
libertos de quase tudo
sem qualquer aspirao
a paz total
s agora comeou
o nosso ano lectivo 2008
18
Filha de Ryan
preciso ver mais uma vez
a filha de Ryan
para sentir a doce agonia
do amor que assalta
toma
rasga-nos a alma
e mostra a seta
no teu sentido
2001
19
magia
enorme ironia reconhecer
que a magia
no mora sempre ao lado
pode estar na casa
onde crescemos
onde vemos crescer
algum
cuidado
no percas o endereo da magia
por teres mudado para outro espao
cr
pode escapar-te
a menos
que dela tenhas levado
a semente
que baixinho
nas noites de agonia
te diz
no te abandono
serena
continuo aqui 2008
20
crime
no comeo roubamos
enciclopdias
mais frente
dinheiro
a ordem dita natural
das coisas
e das loisas
e das tragicomdias 1988
21
escolher o mar
vem, desejo de navegar
da raiz do pensamento
provoca a reunio de tudo o que
recebi na arca dos avs
levo o gato de menino
representante dos bons olhos
que tinha
a perene vontade
do regao de minha me
para minha desorientao
a bssola cor de ouro
comprada na rua do arsenal
e para sem vergonha
mostrar minha origem
meu lastro de cultura
a espada de cana
que no fere no fende
no mata
vou para o mar
gua e cu
com tubos de guache
pastilhas de aguarela
escolhidas as cores
azul verde branco
e na arca nada mais
na cabea a liberdade
o cheiro dos teus cabelos
a falta da tua mo 2008
22
mundo perfeito
o da dominao dos demnios
que convivem no nosso interior
com o leite que bebemos
o queijo de cabra comido
e as vibraes dos nossos tmpanos
quando Schubert nos entra na cabea
ainda fica a dvida
sobre a questo:
dominados
ou adormecidos? 2002
23
oferta de caf
na vitrina o acar condenado
prateleiras com guloseimas
chocolate mal parado
em suportes garrafas fortes
de lquidos ainda
mais fortes