psm - dois

94

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versos de carlos peres feio já publicados entre 2003 3 2008.

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Page 1: PSM - DOIS
Page 2: PSM - DOIS

2

Título: PSM – DOIS

Autor : carlos peres feio

Capa: Chinesa do Norte – Produções sobre desenho de carlos peres feio

© carlos peres feio e chinesa do norte produções , Maio 2008

Composição, paginação, impressão: chinesa do norte – produções, lda Depósito nº : 0022305/08

Page 3: PSM - DOIS

3

embora irreparável, porque do que se passou

não há registos

faço fora de prazo esta declaração

de uma saudade grande

de um amor maior.

carlos peres feio, in PSM - UM

por fim sou mais

do que as células permitem

e é o mundo que cabe em mim

carlos peres feio, in PSM, 15-2-2008

Page 4: PSM - DOIS

4

A um anjo

quando noto que fugimos na bruma

somos ciganos da longínqua Turquia

com violinos que nos perseguem

em sons doces como tâmaras

procuro sempre sonhar contigo, acordado.

quando tenho tua mão em mim

sonho mais fundo

a tua mão é a entrada para um outro mundo (1996)

Page 5: PSM - DOIS

5

avião de brincar

as mãos que dobram

folhas de papel

e as transformam

em aviões de brincar

feiticeiras com poder

da transformação

de um dever

em prazer imenso

são as mesmas

que curam

pois passando na minha fronte

removem o negro

do tédio

e lançam-me

no espaço do teu céu

onde sou

avião de brincar (2001)

Page 6: PSM - DOIS

6

natureza

a minha verdadeira natureza

não é o que parece

circulo em automático

lubrificado

esquecido de mim

a minha verdadeira natureza

encontro-a de vez em quando

vagueando por Lisboa

ou outro sítio.

que alegria!

então sou eu.

vejo os detalhes, além de os olhar,

reconheço-me,

sou eu e sinto

as raízes debaixo dos pés.

mais fraco que há vinte

anos

fico com força para

percorrer Lisboa

e o planeta

lés-a-lés (2006)

Page 7: PSM - DOIS

7

da passagem

felicidade da passagem

esse fluxo que atravessa as pedras e o tempo

essa vaga que deixa rasto.

nos momentos solares

nas construções de ausência,

felicidade, esse factor elevado e subtil

por vezes máscara de Veneza,

sempre irreconhecível.

quando temos nossa mão

na sua cintura,

felicidade,

sem medida sem forma

poderá finalmente ser,

tudo o que já fomos? (2006)

Page 8: PSM - DOIS

8

testamento

quando me cortaram a carne

tive que me reinventar

então, porquê o mesmo?

volto mas sou outro

deixei pouco para trás

tenho tanto em frente

é desta vez

saberei arrumar gavetas vitais

bom vai ser

começar do fundo

o jogo será

ter esperança sem futuro

arquivar o que foi feito

mostrar a escrita em falta

palavras soltas no vento

testamento sem herdeiros

(2006)

Page 9: PSM - DOIS

9

território da mente

viagem pelo território da mente

meta onde a memória deixa

pousar ainda que brevemente

queixas com razão de queixa

a paisagem deste verde alemão

impregnado de Saxónia

motor da vontade

de viver um pouco mais

não impede o progresso

da dor que vem do fundo

misturada com sons musicais

das canções que agravam

quer o bem

quer o mal

essa dor profunda

que consome

o verde e o sol dos campos

desta terra,

deixa-nos para sempre

no azul de Cascais

a memória de quem

merecia viver mais. (1998)

Page 10: PSM - DOIS

10

pontos brilhantes

deixa-me mostrar como vejo as coisas

temos o que nos rodeia,

algo mais lá em cima

no negro iluminado pelas estrelas,

só elas contam

uns sabem de mar

de grandes espaços

de verde disperso em folhas

outros do pano de fundo sem fim

onde moram os pontos brilhantes

também devemos atender

quem não olha o céu nas noites de lunário

mas traz a lua dentro de si

sem saber

existe a pessoa que ilumina a noite

pela vontade de entrega

do amor intenso

de um coração infeliz

vejo as coisas assim,

e coloco-te na morada que mereces

entre os pontos brilhantes. (2006)

Page 11: PSM - DOIS

11

ondulado dos montes

é preciso ter velocidade

para perceber os montes ondulados

quando parados

são volumes que nos lembram

quem vai

quem fica, quem não existe

à partida

vi-te afastar

sem acreditar.

teu cheiro

deixou-se atrasar.

da balada que entoavas

ficaram notas pousadas

nos parapeitos

pintados de verde

muito escuro

(ou escureceram

quando partiste)

Page 12: PSM - DOIS

12

tentei chorar

percebi

que a comoção seca,

escurece,

torna o complicado

simples

ter-te não era fácil

penso agora

bom seria acompanhar-te

mas no estado de simplicidade

em que fui deixado

agora a sério:

tens meia hora

para voltares!

desconheces que

a contagem decrescente começou

há muito

tinhas um quarto de hora

mas ignoravas.

já não tens tempo algum.

ao dizer-te isto

esgotei-me.

ficas com todo o tempo do mundo,

deste mundo

com montes ondulados.

(1999)

Page 13: PSM - DOIS

13

imaginação em verde

durante uma viagem

concreta com paisagens

perdi a visão das coisas

uma luz fortíssima

tornou tudo branco

preparando o mergulho

no profundo negro

pensei: ora – é só mais uma

inconsciência

o que se desenhou

vindo do negro

nada tinha a ver!

fragmentos de passado

colados

sobe o pano verde

da esperança

formaram

um quadro irreal

Page 14: PSM - DOIS

14

com um pé no chão

outro no sonho

ainda identifiquei

a lua

fiz um grande esforço

para abrir os olhos cansados

e focar o pensamento

era o fim da viagem

sem qualquer gravura

restava o verde. (2004)

Page 15: PSM - DOIS

15

mexe comigo

mexe comigo imaginar-te

e de mexer não paro.

mexe comigo receber teus escritos

imaginando tuas ideias fixas

mexe comigo teu provocar respostas

mexe comigo tua oculta imagem

onde te vejo para lá dos espelhos

também mexe comigo

tua poesia – tua escrita

mexe comigo o desenho dos teus cabelos

nas tuas fotos

mexe comigo o meu desejo de ti

acrescentado ao que de ti emana

conhecer-te foi meu Destino. (2006)

Page 16: PSM - DOIS

16

alimentar o sonho

alimentar o sonho

sem o contaminar

com reflexos que nos ceguem

acreditar ainda ser possível

uma total entrega

às difíceis palavras

fazê-las chegar

ao bom porto

de uma alma nobre

assistir entre a multidão

ao seu voltar da cabeça

ter os olhos nos olhos

a minha missão

impossível (2006)

Page 17: PSM - DOIS

17

informação

a má

influência que temos

sobre nós próprios

pode ser curada

pelo remédio do passado

agora

só devo escrever

o que me passa

pela cabeça

sem qualquer outra

consideração

se uma seta

me atingir em qualquer momento

quero estar bem (1985)

Page 18: PSM - DOIS

18

Cérebro

o cérebro humano

essa máquina mais antiga que o arado

ideia que vem do escuro para a luz

perdida por vezes no percurso

onde tudo se passa

esse responsável por poetas e carrascos

devia ser o único projecto da humanidade

cruzada para o tornar bom

mas ele próprio determinou

o objectivo último de ser medíocre

deixando ao computador

a tarefa possível

de um dia atingir

bondade e perfeição. (2006)

Page 19: PSM - DOIS

19

não existes

(para ouvir com Chopin em fundo ― qualquer peça)

tu não existes

mas Chopin também não

amo os dois de maneira diversa

mas esforçada

respiro o ar da noite

sinto Lisboa ao longe

mas a cidade não existe

tudo aquilo de que gosto

só existe no engarrafamento

dos sentimentos no meu cérebro

azinheira pinheiro e castanheiro

passam a ser locais onde me acolherei

faça sombra ou abrigo

para me sentir protegido

pelas arvores e por quem as inventou

de verão lembrarei sempre a oferta

para meu resguardo

de inverno pedirei que um raio me atinja

para morrer em êxtase

será a única maneira de num segundo

lembrar todos os beijos recebidos

numa fracção sentir como final

um beijo – raio de luar (2006)

Page 20: PSM - DOIS

20

os teus versos

(nota de culpa)

ao lê-los senti que se despistavam

saiam da rota

sem travões

ou inibições

vieram à berma

levantaram poeira adormecida

e derraparam

contigo aos comandos

em alta rotação

sem sinais de travagem

entraram em terreno semeado

de sonho

eu estava sentado

na zona claro-escuro

sem caminho de fuga

fui por eles arrasado

deste incidente marcou-me

o foco do teu olhar

aceso no escuro

apontado ao firmamento

nessa noite com estrelas (2000)

Page 21: PSM - DOIS

21

estragos em trânsito

história aluada

viagem sem rumo por países inventados

sempre achei os diários de viagem

tábuas preciosas

condição de exploradores

afirmo até

sem diário de bordo

não há viagem

dias tantos desta era

registo porque parti

sinal de proibido ficar

missão de um dia volver

partimos incompletos

até descobrirmos partes de nós

que escaparam um dia

para longe

Page 22: PSM - DOIS

22

tarde registaremos

que fizemos aguada no ombro de alguém

que trocámos as nossa bugigangas

por especiarias sob a forma de abrigo

nas fortalezas que atacámos

descobrimos a nossa fraqueza

fizemos diplomacia secreta

para nos escondermos o resto da vida

levámos nossas naus vazias de sentimentos

trouxemos saber sem construir futuro

os que não voltaram

são pouco mais que

estragos em trânsito (2004)

Page 23: PSM - DOIS

23

álcool conta certa

dobro a esquina com a energia da alta tensão

ainda ouço as notas da música que na madrugada anterior

bebi no casino

estivesse numa rua de Chicago ou fosse português de lei

haveria sempre uma hora certa para ajustar contas com o

próprio

quando a noite aquece temos o direito de nos termos

enganado

não foi assim toda a vida?

todos os versos vão para a mulher amada no momento -

há segundos que são anos-luz!

senti a noite quente sonhar com tropicais fantasmas

afirmei: sim, sinto-me bem

tenho direito ao engano

não cobro nada por isso. (2006)

Page 24: PSM - DOIS

24

fast

quando chegou dois mil e quatro

o tempo disparou

até então

a calma mandava

mas depois

a velocidade da luz

somada à do som

sem paragem

na penumbra

tomou conta de mim

terá sido por causa

do meu aniversário? (2004)

Page 25: PSM - DOIS

25

há dias

de sofrimento e angústia

dias de sem resposta

em que se partem bicos de lápis

desenhos ficam aparcados

na mente

as palavras, essas,

conhecem o horror do escuro

receiam qualquer movimento

― de eterno luto carregadas ―

acolhem-se no charco

do nosso íntimo

há dias

de recordação plena

do falar com o olhar

da boca ser transferida para as mãos

dias de sempre

do brilho nos olhos

das curvas do corpo

em fusão

como se fosse

ao vivo

foto de gravura sensual (2006)

Page 26: PSM - DOIS

26

sentada na luz tardia

sentada na luz tardia

a rapariga mexicana

lembrava

los angeles fora de seus avós

agora era estrangeira em casa

como se atreviam?

sentia a injustiça

queimar para além

do razoável

seu amor italiano

branco em má companhia

sofrera igual repudio

chamavam-lhe oleoso

insultos de crianças

treinadas para odiar

o diferente

constantemente

pátria da liberdade?

se voltamos às origens

temos a confirmação

uma vez trotadores do globo

a fuga é para a frente! (2006)

Page 27: PSM - DOIS

27

tenho dez minutos

tenho dez minutos

para dizer que te amo

o tempo de ainda ouvir um piano de antigamente

será minha fuga antes das dez

embalado por um som que só a ti me leva

quero que cada momento seja especial

sei que mais tarde quando me leres

vais saber que esta contagem decrescente te pertence

terás dez razões para te interrogares

porque escrevo em carta aberta

mas terás outras tantas

para te convenceres que

por estares longe mais te amo

quando tu estás por perto

não me concentro em ti

sou desviado pelo teu olhar único

tua anca teus cabelos

tuas dores e sorrisos

tuas rugas teus vestidos

tua tristeza

já não tenho dez minutos

mas dez anos para te amar

dizem as frias estatísticas. (2006)

Page 28: PSM - DOIS

28

tempo de trocas

levamos já tempo de trocas

conhecemos de perto nossos fluidos

sabemos como a mente funciona

mas em parte

o encanto está no parcial

nunca sabemos o todo

somos prisioneiros da atracção

mesmo anulado o dito

fica sempre o amor

esse que não se explica

em versos

mas é sentido

na expressão do olhar

no sorriso face à visão

na dor no peito

que nunca termine

o tempo de trocas. (2006)

Page 29: PSM - DOIS

29

tolerância

há que explicar que tudo tem explicação

podemos ser descendentes de cruzados

sem nunca termos pensado ir fazer mal a Meca

Jerusalém foi uma obsessão

a nós, Ocidentais, já nos passou

falo de gente normal

quero dizer também Islão normal

distinguir de radicais

indispensáveis na química

um ateu como eu

aceita uma nova religião

vamos chamá-la

tolerância (2006)

Page 30: PSM - DOIS

30

feminino de certo modo

é um mundo entre o caseiro e o mágico

onde os olhares não se perdem

é um clima de entendimento

muita palavra pelo meio

tanto fervor nas conversas

é uma carga de trabalhos

para além do razoável

sempre a alma de qualquer casa

é o lar das crias

a cozinha dos afectos

as mulheres entre si

são muralhas sem tempo

quando as brumas se levantam

só esperamos que lá estejam

origem do amor

doce recolhimento (2006)

Page 31: PSM - DOIS

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Douro triste

fui ao Douro em busca do nada

olhar suas águas brilho de ónix

ouvir margens enganadas pelo tempo

num choro que marca a manhã

com incêndios pôr-de-sol

esperanças em nova era

morreram na barca que habito

tornar a voltar ao Douro agora

num naufrágio de águas calmas

nevoeiro cerrado

humidade no ar

em mistura com lágrimas (2006)

Page 32: PSM - DOIS

32

Cesar

ferro comprimido

pelas placas lisas da prensa

comandadas pelo cérebro do artista

mostra o retrato da sociedade actual

em que a força é o metal

expresso o acto final

o que a escultura encerra

na escolha

fica o metal

troca estranha da Terra

consumido esmaga o sentimento

durante o processo

mostra que saímos

da caverna

para mesmo sob

a marca da sucata

estarmos presentes

como nus

― expostos em Veneza (1998)

Page 33: PSM - DOIS

33

por detrás dos sonhos

estou nos teus sonhos

pelo milagre do teu amor.

estás nos meus sonhos quando acordado,

e a dormir,

naquela área por detrás dos sonhos,

onde a vontade é só nossa. (2005)

Page 34: PSM - DOIS

34

mulher ideal

deverá ter nascido quando havia

outra noção de ideal

será encantadora

quanto baste

terá dentro da cabeça

medidas de miss cultura

não perdoará

ser vista à lupa

nem vai permitir

risos nas costas

não será

deste planeta

vai sorrir

antes e depois

de saber que lhe chamo

mulher ideal. (2006)

Page 35: PSM - DOIS

35

passeio

quando passeio

pelas avenidas de Madrid

sozinho

sinto-me equidistante

do passado

do esquecido

do futuro adivinhado

e de ti

tão longe

perto (1996)

Page 36: PSM - DOIS

36

perdido

o céu tem debitado

água de cisterna antiga

nestes dias de folhas mortas

tapete castanho da minha rua

suporta o peso dos que voltam a casa

troncos são decepados com dor

no ritual do Outono

pássaros agora assustados

tentam habituar-se

aos poleiros alterados

novos braços elevados

prece desta cerimónia de água

fogo e tédio

são outras agonias

só eu de longe assisto

vem Inverno

com teu descontentamento. (2006)

Page 37: PSM - DOIS

37

telefonia na cozinha

palavras são ouvidas

na elevação da poesia

as ideias fluem

espira emocional

no entanto

ouvem-se ruídos de tachos e panelas

a realidade continua ligada

refogar

alourar

sonhar (2006)

Page 38: PSM - DOIS

38

quatro da manhã

quatro da manhã

mas mesmo quatro

depois de tudo ser posto a zero

sinto o plano o espelho a lâmina

quarto escuro para onde me empurram

vácuo obtido pelo reverso das coisas

gritar no vazio não adianta

vou em frente sem me mexer

vem a sensação de nada fazer

para que o inevitável aconteça

olhos para trás da esperança

para a frente da saudade

passo o testemunho

em última hora

garanto continuidade

tenho a última vontade

do aperto da tua fina mão

fica um voto

uma canção. (2007)

Page 39: PSM - DOIS

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minha morada

vou descrevê-la como um arbusto

das raízes invisíveis

ao ar que transporta o pólen

que ao longe sopra folhas

sobre o mar

estrutura que não se vê

tem encapsuladas todas as alegrias

e as mortes que nela habitam

porque marcadas em dias aqui inscritos

produzo os passos que me levam para sul

sinto o inevitável das ruas sem saída

sob árvores suplicantes

escolho o sentido que me leva

a colunas de pedra sem idade

padrões de um tempo de domínio

senhoras de terras e solares

e da sobrevivente arraia-miúda

deveria ter escrito nesses tempos

de pele suave e não osso descarnado

no azulejo onde ficou o traço de um pintor

talvez exilado infeliz

em busca de cura

Page 40: PSM - DOIS

40

o destino é uma praia onde as ondas são revoltas

no fim da jornada

prosseguir é tropeçar num outro mundo

com comboio sem silvos

sem fumo e sem paisagem

o que resta de verde

é uma luta em que este vencerá um dia

mas ainda está a passar pela agonia

do combate contra o concreto

neste espaço onde correm cães

sentimos a tristeza da condição destruidora

ao fundo a salvação do reencontro

com o azul e branco que nos acolhe

o mar sem dono nosso alimento

única hipótese dos nossos olhos serem poupados

espaço total água ar sal

as neblinas as rochas

hino que se transforma em dor no peito

de tanto o amarmos

este domínio apropriado

da minha morada em paz (2007)

Page 41: PSM - DOIS

41

onde estão meus erros?

em te evitar

sabendo em verdade

ter no negro galáctico

onde sempre brilharás

minha última estação?

em te procurar

acreditando

no espaço infinito

onde uma luz cintila

mesmo antes da visão? (2007)

Page 42: PSM - DOIS

42

concentração

na água concentra-se

nosso olhar para o mar

no ar sente-se o passar

de uma folha perdida

na galeria de uma mina

escorre a água que um dia

foi do Índico

falta o ar que preferiu ser livre

no sentir do peso

na pressão da matéria

quando olhamos uma parede de granito

então gritamos:

estamos na Terra. (2001)

Page 43: PSM - DOIS

43

faz isso

faz tudo no teu ritmo, rapaz

não te deixes levar

também a tua poesia

tem pouca força política

mas tenta, tenta sempre

não te deixares arrastar

pela política dos nossos dias

que tem pouca força poética

mantém o teu ritmo, rapaz

tem esperança

ainda há quem se emocione

com a voz de Greco

com os versos de Brel (2007)

Page 44: PSM - DOIS

44

Outono Agridoce

ao teres o sabor todo doce

pedes contraponto

quando um Outono desce

por ti

desce como mel

deslizas por estradas

da imaginação

que estão aí

e sem pedires

tens também o amargo

de que nada se repete

e então

estão

reunidas condições:

tens o Outono sonhado

o melhor da tua vida

o Outono

agridoce (2007)

Page 45: PSM - DOIS

45

os nossos olhos

os nossos olhos

não envelhecem

mesmo a visão mais profunda

vê o mundo sempre igual

talvez com filtros de várias cores

mas por detrás dos olhos

temos sempre 17 anos

quando olhamos um espelho

é certo que aparece um desconhecido

mas a imagem que temos de nós

é a da época da esperança

sem plano definido

porém não somos só olhos

e o coração perdeu temperatura

o estômago não aceita fretes

temos ouvidos selectivos

as pernas escolhem as descidas

os ombros já não se encolhem

carregamos os sobrolhos

e o peito aumentou em capacidade

de amar

pela pélvis ainda moram

sensações antigas

e os pés, de chatos que são

contaminam por vezes o todo

no entanto

temos sempre 17 anos (2004)

Page 46: PSM - DOIS

46

talvez

alguém sinta a falta dos versos que não escrevo

Na estrada

há momentos de paragem

Chega a hora de reclamar à vida

o que esta já não nos pode dar

Continuo a ver

a Lua dos outros

o Sol das manhãs

as Ondas, Pedras e Rios

com águas límpidas,

que gostava passassem

sob a nossa ponte

Na neblina dos sentimentos

vejo uma luz.

Acreditas que penso

seres tu? (2007)

Page 47: PSM - DOIS

47

Limite

Aguentei até poder

Ainda controlei a mente

Senti as correntes na cabeça

Vendaval eminente

Tudo em vão

Quis conter-me

Conheci o impossível

Já estava tomado - tarde de mais

Aceitei a desordem

Sei-te

Sozinha sem mim

Conheço as arribas e a espuma

Se me esqueces

Morro sem teu afago

Sei de um destino de lágrimas

Não me negues teu rosto - preenche meu abraço

Cala-me com tua boca

Confirma-me teu corpo

Corrige-me

Faz-me pagar as faltas

Rendo-me a ti

Aguentei até poder (2007)

Page 48: PSM - DOIS

48

dedico-te, Pablo Neruda

a poesia habita em mim

e eu habito este corpo

e este corpo é finito

comunhão negra multifacetada

inquilinos uns dos outros

mas a poesia é infinita

a América do Sul

podia ser aqui

Pablo, estiveste por cá?

quando e porquê?

o último a chegar

é o que melhor vê!

as formas belas e a música completa

são oxigénio

podia viver sem ar

sem música não.

on the road again

going places were I have been again

Pablo, fazes falta

dita, dá ordens, exalta

a batida, as imagens e o verso certeiro

quem recente muito te louvou

em Itália, foi o teu carteiro (1996)

Page 49: PSM - DOIS

49

overdose

quando a vida me dá imagens

sons cores e espaços livres para pensar

sempre que os afectos me rodeiam

envolvem e criam em mim

aquela sensação de carrossel de vertigem

com música de circo em fundo

sinto de outra maneira o que vejo nas fotos desenhos

rios mar velas na espuma galopes no imenso

e a minha alma lisboeta retorna ao Fado

num regresso de ternura

pelas calçadas das décadas em que me perdi

pelas estradas africanas do meu País de então

gravito bem fora de mim

espero a ressaca da overdose (2007)

Page 50: PSM - DOIS

50

retomar

Pensam que a água lhes faz bem

E só pensarem assim

É bom.

Penso que junto ao mar estou bem

E só pensar assim

É bom

Pensamentos em conjunto

E num só tom

Mostrando que perseguir

A felicidade

É bom. (1997)

Page 51: PSM - DOIS

51

do silêncio

só agora me deste o símbolo

só agora o meu silêncio se rompeu

o anel que me foi dado evoca pequenos pedaços de lua

entre elas escolhi a pequena lua gelada

do meu ressentimento

tua indiferença

tua armadura e muralha

continuo a navegar o cosmos

no corpo que habito

nave bem perto do ocaso. (2006)

Page 52: PSM - DOIS

52

sinto o vento

a mente cavalgou na noite

cheia de mistério ritual

saiu em púrpura envolta

majestosa, imponente

ao longe o vulto que persigo

por trilhos desconhecidos

piso firme piso fraco

volto

sem vigor, sem alento

no fundo de mim

me acolho

e sinto o vento (1987)

Page 53: PSM - DOIS

53

sentimento da vida

mesmo a vida

em lágrimas

sentida

do olhar, a beleza

sempre terá (2007)

Page 54: PSM - DOIS

54

ver

ver uma luta interior

do poder sobre nós próprios

tomar nave para longe

ficando no mesmo cais

na ponte de comando

pensamento no porão

perco o sol

vem o olvido

no poder reafirmado

do esgotar de uma carícia (2004)

Page 55: PSM - DOIS

55

mar

mar forte

disseram-me

que és dono do norte

mar azul

constou-me

teres comprado o sul

mar cruel

tratas aço

como se fosse papel

mar frio

mar indiferente

mar simplesmente (1987)

Page 56: PSM - DOIS

56

não

não me vou conter

não é teu mau feitio

não são tuas mentiras legítima defesa

não são teus medos

tuas dores n’alma

teu amor frustrado

que me pregam ao chão

versos que acumulas dentro de ti

sentimentos que não são teu hábito

não me agrilhoam

a possível indiferença

só para me poupar

vou à luta

num dia de Maio

e sou só mais um

a reivindicar

o que lhe é devido

parte de ti

a que estiver disponível

sem contrapartida

que não seja

saber

que se correrem lágrimas

são de alguma alegria (2004)

Page 57: PSM - DOIS

57

esse ninho

solta-me as asas cruzadas

serve-me de farol

garante meu aconchego

nesse ninho que é teu peito (2004)

Page 58: PSM - DOIS

58

andarilho

vou andar pela casa

à noite

luzes apagadas

olhos fechados

ouvindo-o

como se ele aqui morasse

vou encher a boca

com um biscoito

mais pedaços de chocolate

dois gostos

qualquer deles bom

para mim a mistura vale

imagens caseiras

do aconchego

no ar vibrando

mesmo depois

de música calada

felicidade

esse bem que foge,

duende transformado

em chocolate e noite

acordes em Debussy (1998)

Page 59: PSM - DOIS

59

questões

onde estamos quando dormimos?

quem o pode dizer?

o bom diabo? o mau deus?

quem nos atormenta?

quem nos dá prazer?

todo o dia ao telefone

a tentar contactar o eterno

e o belo

e o etéreo

e o irremediável

porque se produziu

na terra

um inferno

tão fiável? (1990)

Page 60: PSM - DOIS

60

o dia verdadeiro

o dia das verdades mentirosas,

como é natural, veio sem se

anunciar,

o que é certo e como

premeditado

veio a calhar.

iremos aproveitá-lo

urgentemente

completamente

sem o desprezar.

é que a validade de

um dia como este

é curta. (1970)

Page 61: PSM - DOIS

61

gorducha

se fosses gorda

tivesses um lacinho

ao pescoço

esfregasses mesas

num bar de auto-estrada

e eu fosse livre

iria tomar um café

curto

como seria o nosso romance (1994)

Page 62: PSM - DOIS

62

crianças que andavam como cavalos

passam com ruídos grotescos

largas, as sapatas herdadas

dos meninos grandes, anónimos

diluídos no sonho

terás melhores dias

mas corre e brinca enquanto é hoje ―

amanhã pode ser nunca (1970)

Page 63: PSM - DOIS

63

melodia

diz-me que a melodia

que oiço em ti

é verdadeira

é enviada

do teu espírito

para mim

ça maladie

ça melodie… (1970)

Page 64: PSM - DOIS

64

promete-me

promete-me que sempre serás

a minha sombra constante

ora perto

ora distante

mas sombra iluminada

pelo sol do teu amor

por mim

e pelo que por ti

tenho (1995)

Page 65: PSM - DOIS

65

sentimento

quando sentir que de mim só dependo eu

embarco em barco que já não há

Pátria, Império, Angola, Moçambique, Príncipe Perfeito

e volto ao sonho

aí ainda há África, e comigo viajam todos os que amo

os que restam, e são muitos

os que partiram, e vivem na minha cabeça (1990)

Page 66: PSM - DOIS

66

pele

à força de me arrancarem a pele

não sangro

não temo

curtido em salmoura azeda

não mexo

não devo

transformo o couro em camurça

e penso

a medo

sou mais suave

algo cedeu

gostam de mim

mas não sou eu (1986)

Page 67: PSM - DOIS

67

exercício de 85, de 86, de sempre

fotografar, escrever

olhar

estando mesmo a ver

sonhar

revelar

rasgar o escrito

ampliar o visto

ficar aflito

ficar nisto

fotografar, escurecer (1986)

Page 68: PSM - DOIS

68

versinhos a você

você diz coisas

loucas

você tem duas

bocas

uma essa

outra outra

uma sábia

outra oca

se você alinhar

a espreitar

no meu prisma

primeiro pensa

depois cisma (1987)

Page 69: PSM - DOIS

69

ponto crítico

ferve a mente em pensar

que

o que era já diferente

agora ainda é mais

o que pensas novidade

é passado do passado

e não volta

mais (1997)

Page 70: PSM - DOIS

70

língua de fogo

é no ar a sua morada

sua luz no voo dos pássaros

pode ser

uma língua de fogo

um doce beijo

um amor tardio

um ritmo a esbater-se

um suave morrer

os teus lábios em mim

o meu entardecer (2007)

Page 71: PSM - DOIS

71

não querer

para mim já é poesia

aquilo que se não diz

porque aquele que na maresia

conta ouvir um mar por trás

é o mesmo que não ouve

tudo aquilo que não quis (1990)

Page 72: PSM - DOIS

72

destino

se fosse músico

de melodias te encheria a vida

se fosse pintor

nos dias cinzentos

só terias olhos para

as telas cheias de sol

que para ti faria

vejo-me a divertir-te

fazendo piruetas

mas não sei dançar

serias a estrela do meu filme

se te realizasse

e o alimento do meu zoom

tivesse uma câmara

pouco resta

amar-te com o coração que tenho

escrever

os versos que sei (2007)

Page 73: PSM - DOIS

73

quero

a vontade de fazer versos

é como outras vontades

caprichosa

admiro-me ao escrever

como ainda há versos disponíveis

incríveis

a poder ler

lembrando outras idades

e pensamentos dispersos (1989)

Page 74: PSM - DOIS

74

sem alma

venho do fundo de mim

do escuro da transformação

mineiro do descontentamento

arauto de difíceis tempos

volto para dentro de mim

coveiro sem alento

no breu da existência

pensamentos exauridos (2004)

Page 75: PSM - DOIS

75

D. Sebastião

quero tornar-me o desejado

nem que o meu Alcácer Quibir

tenha de ser

uma cidade cinzenta

morrer

em cota de malha envolto

nas chamas dum apocalipse

agora

na cinza da cidade

asfixiado

com armas

de glórias, de falhas

sem sentido de viver

para ver pouco há

do interior vou partir

abraçando o destino

enjeitado, querido

todo ele muito meu (1990)

Page 76: PSM - DOIS

76

engano

eu pensava

ter pais vivos toda a vida

que os ídolos não morriam

as cidades não mudavam

os dias eram sempre

longos e agradáveis

cria inesgotável a paixão

sempre pretos meus cabelos

imaginava animais de companhia

eternos

não os que com afecto

vemos partir

conhecia da vida tudo

menos o engano (2005)

Page 77: PSM - DOIS

77

da memória

vem libertação

estado de alma

vazio a embrulhar o presente

― envenenado?

da memória

deste lado da barreira

o futuro é ávido

instalado está o cerco

pequena a hipótese de fuga

fresta iluminada

talvez de mais

fulgor que queima

mas é nesse

verso branco

que tudo reside

a esperança

(2007)

Page 78: PSM - DOIS

78

equívocos

não basta gostar de flores

regá-las com intenções

apanhá-las com carinho

à beira da estrada as deixar

sem um cartão para o destinatário

todos julgarão ser suas (2005)

Page 79: PSM - DOIS

79

sinais de luz

passagem pela vida

olhos ao longe

percepção da noite que vai em ti

do encanto que queres esconder

e o desejo foi

o dos campos secos

pela água

senti o deslizar

de um fluido que em mim

te significava

foi a manhã do acordar

da consciência

de seres minha rede no abismo

vontade de comandar da ponte

meus sentimentos

em ordens e contra ordens

cujo destino era o teu corpo

agora estou atento

aos teus sinais de luz (2005)

Page 80: PSM - DOIS

80

chave

não te deves

aproximar

do teu castelo de sonho

na proximidade

o começo do desmoronar

deixa-o palácio de luz

e penumbra

envolve-o de longe

rodeia-o com o olhar

garante que o sonho

se mantém

quando te sentires triste

usa então a chave

construída com metal dos dias

em noites de luar forjada

serás feliz (2007)

Page 81: PSM - DOIS

81

o porquê

duas mentes

uma da outra ávidas

intermediário é o físico

na plenitude do encontro

será esse o mistério do amor

justificação para a fusão dos corpos? (2007)

Page 82: PSM - DOIS

82

alma limpa

nas calmas águas

que teus temores pairem sobre elas

enquanto o reflexo do que és

mergulha na profundeza do teu ser

sairás deste banho

com a alma limpa (2007)

Page 83: PSM - DOIS

83

Nirvana

acordei com a mente

povoada por imagens

de rara beleza

nuvens pairavam

como novelos

num silêncio absoluto

sentia a impulsão

sob as asas da consciência

sustentar-me na atmosfera

paleta de azuis

Page 84: PSM - DOIS

84

era um flutuar

prefácio do voo

lâmina sem gume

sem massa sem peso

próxima da perfeição

como a verdade que não se alcança

com um olho castanho e outro verde

espreitava o futuro e via a calma

quis lembrar as tormentas do passado

e o impossível aconteceu

do mal nada recordava

o todo das memórias felizes

estava contido num carrossel gigante

que desfilava lentamente

neste solstício de verão

numa viagem de gozo imenso

num tempo de ponteiros parados

fiz uma prece

ao meu deus que é o destino

com a esperança nunca antes conhecida

a luz modelou a intensidade

os olhos fecharam-se

acreditei ter sido atendido

pois os únicos sons sentidos

eram os dos pássaros

desta Primavera. (2007)

Page 85: PSM - DOIS

85

2020

venha dois mil e vinte

idade de passar o testemunho

é que venho de longe

de quarenta e quatro

e alguns sabem como isso é difícil

aparecer

viver

desaparecer

parecem-me boas etapas

do nascer ao crescer

amadurecer

descobrir o prazer

passar pela dor

e fechar a loja

por pudor. (1996)

Page 86: PSM - DOIS

86

tatuagem

marca para toda a vida

registo do corpo de mulher

tatuagem na memória

os cabelos alinhados

com vontade própria

quando os olhamos

não podem de outrem ser

brilho habitante de olhos

marca para toda a vida

rosto vitrina da alma

overdose de amor

sofrimento em reserva

linha do pescoço

que desce ao peito

paragem obrigatória

delícia das mãos

marca para toda a vida

na vertigem da cintura

a curva ondulante

do que vem em seguida

esplendente imagem

do mais generoso conjunto

fenda das delícias

esferas de meu prazer

marca para toda a vida (2007)

Page 87: PSM - DOIS

87

corda de violino

há uma corda de violino

dentro da ideia

vibrante em sintonia

com a linha do horizonte

que

por simpatia

em movimento lento

procura fazer estremecer

o calmo mar

mas mar calmo não muda

antes

paralisa a linha do horizonte

que emite um sinal para terra

e havendo tocado

hoje

dia mundial da música

a mais bela melodia

cala-se o violino (2007)

Page 88: PSM - DOIS

88

podemos ser muitos

o marido rabugento

o pai carinhoso

o amante protector

o namorado ausente

o que persegue o amor

onde ele se esconde

virtual (2004)

Page 89: PSM - DOIS

89

Sintra renovada

para falar de um território

de uma ideia

ou das duas coisas

devemos decidir o dia

de preferência a tarde

escolher confortáveis botas

tomar o manto

de caminho beijar a mão amada

forma de convite para companhia

pegar alforje

é próprio de quem vai partir

com o sentido da descoberta

bem aceso

a passagem do portão da mansão

entrada em verde reino (2004)

Page 90: PSM - DOIS

90

Tábua

Page 91: PSM - DOIS

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4 A um anjo

5 avião de brincar

6 Natureza

7 da passagem

8 Testamento

9 território da mente

10 pontos brilhantes

11 Ondulados nontes

15 imaginação em verde

16 mexe comigo

17 alimentar o sonho

18 informação

19 Cérebro

20 não existes

21 os teus versos

22 estragos em trânsito

23 álcool conta certa

24 Fast

25 há dias

26 sentada na luz tardia

27 tenho dez minutos

28 tempo de trocas

29 Tolerância

30 feminino de certo modo

31 Douro triste

32 Cesar

33 por detrás dos sonhos

34 mulher ideal

35 Passeio

36 Perdido

37 telefonia na cozinha

38 quarto da manhã

39 minha morada

Page 92: PSM - DOIS

92

41 onde estão meus erros?

42 concentração

43 faz isso

44 Outono Agridoce

45 os nossos olhos

46 Talvez

47 Limite

48 dedico-te, Pablo Neruda

49 Overdose

50 Retomar

51 do silêncio

52 sinto o vento

53 sentimento da vida

54 Ver

55 Mar

56 Não

57 esse ninho

58 Andarilho

59 Questões

60 o dia verdadeiro

61 Gorducha

62 crianças que andavam como cavalos

63 Melodia

64 promete-me

65 sentimento

66 Pele

67 exercício de 85, de 86, de sempre

68 versinhos a você

69 ponto crítico

70 língua de fogo

71 não querer

72 Destino

73 Quero

74 sem alma

Page 93: PSM - DOIS

93

75 D. Sebastião

76 Engano

77 da memória

78 Equívocos

79 sinais de luz

80 Chave

81 o porquê

82 alma limpa

83 Nirvana

85 2020

86 Tatuagem

87 corda de violino

88 podemos ser muitos

89 Sintra renovada

Page 94: PSM - DOIS

94

Chinesa do Norte – Produções

Maio de 2008. Lisboa