poemas inéditos de - academia.org.br 57-poesia estrangeira.pdf · poemas inéditos de rodolfo...

32

Upload: dangdan

Post on 20-Jan-2019

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta
Page 2: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

Poemas inéditos deRodolfo Alonso

Tradução deAnderson Braga Horta

Rodolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta argentino, nasceuem Buenos Aires em fins de 1934. É uma das vozes mais re-

conhecidas da poesia latino-americana contemporânea. Foi o mem-bro mais jovem do grupo formado em torno da lendária revista ar-gentina de vanguardia Poesía Buenos Aires. Publicou mais de 20 livros,incluindo também ensaio e narrativa. Primeiro tradutor de Fernan-do Pessoa na América Latina (1961). É o mais ativo tradutor de po-etas brasileiros ao castelhano, tais como: Carlos Drummond deAndrade, Murilo Mendes, Manuel Bandeira, Olavo Bilac, CecíliaMeireles, Dante Milano, Augusto Frederico Schmidt, Vinicius deMoraes, João Cabral de Melo Neto e Lêdo Ivo, além de Clarice Lis-pector. Traduziu também autores de outros idiomas: GiuseppeUngaretti, Cesare Pavese, Marguerite Duras, Paul Éluard, EugenioMontale, Jacques Prévert, Umberto Saba, Guillaume Apollinaire,Pier Paolo Pasolini, Rosalía de Castro, Charles Baudelaire, Paul Va-léry, Stéphane Mallarmé.

289

Poeta, contista ecrítico literário.Publicou osseguintes livrosde poesia: Altiplanoe Outros Poemas,Antologia Pessoal,e ainda A AventuraEspiritual de Álvaresde Azevedo: Estudo eAntologia, entreoutros.

Poes ia Estrange ira

Page 3: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

Auschwitz, ainda

não se deve dizerdeve-se

não se pode dizerdeve-se

o que não se pode dizerdeve-se

ora euuivo

au au auaus ausch auszaux aux aux

ainda nãonãonãonãonãonão quenãoquenãonocauteou

austchwitzainda

ainda(que) auschwitz

290

Tradução de Anderson Braga Horta

Page 4: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

291

Poemas inéditos de Rodolfo Alonso

Auschwitz, aún

no se debe decirse debe

no se puede decirse debe

lo que no se puede decirse debe

aun yoaúllo

au au auaus ausch auszaux aux aux

aún nononononóno quenoquenónoqueó

austchwitzaún

aun(que) auschwitz

Page 5: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

Carne do sol

Não vi bem a Bahiavi chuva na Bahia

É muito mais difícil

Vi a beleza negrana sua beleza erguida

Vi a cor da misériaa miséria do mar

Vi o reino do mare da melancolia

Mais a terna bravezade não ser mais que um

e todos os que em um

Vi o sagüi o cocoigrejas sem Igreja

Vi deuses que falavamnos escuros silêncios

Foi/não foi a BahiaFui/não fui à Bahia

292

Tradução de Anderson Braga Horta

Page 6: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

293

Poemas inéditos de Rodolfo Alonso

Carne do sol

Eu non vin ben BahíaVin choiva na Bahía

É moito mais difícil

Vin a beleza negrana sua beleza erguida

Vin a cor da miseriaa miseria do mar

Vin o reino do mare da melancolía

Mais a tenra bravezade non ser mais que un

e todos cuantos un

Vin o sagüí o cocoigrejas sen Igreja

Vin deuses que falabannos escuros silencios

Foi e non foi Bahíafui e non fui Bahía

Page 7: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

Foi a escura esperançafoi a esperança escura

E chovia e choviammelodias na névoa

E o sol estava ausenteem todo o esplendor seu

E o mar era um impérioque nos lavava livres

Uróboro

Para lá vamos todos:gases e pó. Contudoas estrelas não surgemcomo o homem culmina?

294

Tradução de Anderson Braga Horta

Page 8: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

295

Poemas inéditos de Rodolfo Alonso

Foi a escura esperanzaFoi a esperanza escura

E chovía e chovíanmelodías na néboa

E o sol estaba ausenteen todo esplendor seu

E o mar era un imperioque nos lavaba libres

Ouroboros

Hacia allí vamos todos:gases y polvo. ¿Perolas estrellas no empiezancomo el hombre culmina?

Page 9: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

À luz do Limai

Quando nada nos restaquando tanto nos falha

Relumbra na memóriapura o Rio Limai

Aparece de prontoa serpente turquesa

E na luz do Limailavam-se então os olhos

No sol da Patagôniaque acaso não podemos

Nem tudo está perdidoluz um lume o Limai

Em meio às pardas costasverte seu esplendor

Sereno indiferentese nos torna o Limai

Com sua arisca belezapodem contar com ele

Distante na aparêncianão se esquece o Limai

296

Tradução de Anderson Braga Horta

Page 10: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

297

Poemas inéditos de Rodolfo Alonso

A la luz del Limay

Cuando nada nos quedacuando tanto nos falla

En la pura memoriarelumbra el Río Limay

Se aparece de prontola serpiente turquesa

Y los ojos se lavanen la luz del Limay

Sol de la Patagoniaque acaso no podemos

No todo está perdidoluce lumbre el Limay

Entre las pardas cuestasderrama su esplendor

Sereno indiferentese nos vuelve el Limay

Con su belleza ariscapueden contar con él

Distante en apariencianadie olvida al Limay

Page 11: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

Lima lento e aliviaos vislumbres que alumbra

Tudo toma a seu cargolivre e longo o Limai

Como a áspera terrae o céu ilimitado

Entrega-se o Limaisem pensar duas vezes

Não que não nos pertençafaz-se amigo se quer

Livre a luz do Limailima os nossos limites

Ele guapeia e crescesolto em nossa memória

Não é pra dissolver-nosque nos chama o Limai

Que a nada se reduzobriga a ser nobreza

Lambe lombas sem contoa lua no Limai

298

Tradução de Anderson Braga Horta

Page 12: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

299

Poemas inéditos de Rodolfo Alonso

Lima lento y alivialos vislumbres que alumbra

De todo se hace cargolibre y largo el Limay

Como la áspera tierray el cielo ilimitado

El Limay se regalasin pensarlo dos veces

No es que nos pertenezcase hace amigo si quiere

Libre luz del Limaylimando nuestros límites

Él guapea creciendosuelto en nuestro recuerdo

No es para deshacernosque nos llama el Limay

Porque a nada se achicaobliga a ser nobleza

Lame lomas sin límitela luna en el Limay

Page 13: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

Não é prenda comércioou vil quinquilharia

Amizade de orgulhooferece o Limai

Uma coisa de homensuma coisa de deuses

Quando tudo se esqueçaque não cesse o Limai

Monumento a Maria Bethânia

“Música é perfume”.M.B.

Nos ares ou nos mares,na nitidez do diaou na precisa noite,sem crepúsculo nunca,no Brasil que é um mundo,no mundo, neste mundocrepitante e velozhá lugar para um mundo:a voz que usa teu corpo.

Há tom, há densidade,há gravidade, há timbre,há palavra que cantae há música que expressaa pulsação que sentes.

300

Tradução de Anderson Braga Horta

Page 14: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

301

Poemas inéditos de Rodolfo Alonso

No es prenda ni es comercioni vil chafalonía

Es amistad de orgullola que ofrece el Limay

Una cosa de hombresuna cosa de dioses

Cuando todo se olvideque no cese el Limay

Monumento a Maria Bethânia

“Música é perfume”.M. B.

En el aire, en el mar,en lo neto del díao la precisa noche,sin crepúsculo nunca,en Brasil que es un mundo,en el mundo, en el mundocrepitante y velozhay lugar para un mundo:la voz que usa tu cuerpo.

Hay tono, hay densidad,hay gravedad, hay timbre,hay palabra que cantay hay música que expresael latido que sientes.

Page 15: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

Rege, Bethânia, ordenaa poesia do mundo,torna o caos em sentido,a altura em canto fundo,e faz do intenso, alento.Ruge, Bethânia, ruge,feroz delicadeza,não há poesia nos livros,a leitura não basta,ouvir é insuficiente,e nada é suficiente,nada, nem mesmo a música.Porque do povo emana,vem do húmus do humano,da língua feita cantoa luz que te escurece,o resplendor orgânico:a luz que usa teu corpo.

Ode à resiliência

Nas asas do salmãoa vida volta

O amor do salmãoele o leva? ou se leva?

Nas asas do salmãoa vida voa

As fontes se conquistam

302

Tradução de Anderson Braga Horta

Page 16: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

303

Poemas inéditos de Rodolfo Alonso

Rige, Bethânia, ordenael caos en sentido,la altura en cante hondo,la intensidá en aliento.Ruge, Bethânia, ruge,feroz delicadeza,no hay poesía en los libros,no alcanza la lectura,oír no es suficiente,y nada es suficienteni siquiera la música.Porque del pueblo viene,del humus de lo humano,de la lengua hecha cantola luz que te oscurece,el resplandor orgánico:la luz que usa tu cuerpo.

Oda a la resiliencia

En alas del salmónvuelve la vida

El amor del salmón¿él lo lleva? ¿o se lleva?

En alas del salmónla vida vuela

Las fuentes se conquistan

Page 17: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

Por assim dizer

Arar o marpor não amaro arado

Dente por dente

mortinhamortemorreráscomigo

Mor-tinha mor-

te, mor-rerás co-

migo.

Perto do Mar do Norte

Dans mon pays, on remercie.René Char

Como um sol cotidianoos sorrisos amáveisamornam a luz grisda melhor Antuérpia

*

304

Tradução de Anderson Braga Horta

Page 18: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

305

Poemas inéditos de Rodolfo Alonso

Es un decir

Arar el marpor no amarel arado

Diente por diente

muertitamuértemórirásconmigo

Muer-tita muer-

te, mo-rirás con-

migo.

Cerca del Mar del Norte

“Dans mon pays, on remercie.”Rene Char

Como un sol cotidianolas sonrisas amablesentibian la luz grisde la mejor Amberes

*

Page 19: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

Anversveredes

*

Embora o abrace Antuérpianão terá frio SimoneMartini no museu?

*

Por uma vez o solacabou triunfando

E as folhas titilamna luz assombrada

*

Sem ter idode Mechelen se voltaantes de ir

*

Gante adora o Cordeirochova ou troveje

Gante adora o Cordeiroque a adora

*

Bruges a todo o soldrogada de calor

306

Tradução de Anderson Braga Horta

Page 20: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

307

Poemas inéditos de Rodolfo Alonso

Amberesveredes

*

Aunque Amberes lo abrace¿no tendrá frío SimoneMartini en el museo?

*

Por una vez el solha acabado triunfando

Y las hojas titilanen la luz asombrada

*

Sin haber idode Mechelen se vuelveantes de ir

*

Gante adora al Corderollueva o truene

Gante adora al Corderoque la adora

*

Brujas a todo soldrogada de calor

Page 21: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

Memling quase sorriabrindo bem os olhos

*

Voltar a ver

Voltar a Amsterdã

Que mais pedir?

*

Bruxelas verde-escuraem parques garoados

Pedra de luz que cantanos ombros de Magritte

Limpas as ruas brilhaBruxelas como um bairro

A tumba de Lumumbadeságua na Grã Praça

*

Da Bretanha à Galizahá tantos finisterras

Nada nada terminaentre as célticas brumas

*

Choveu choveu choveuna fria nua luz

308

Tradução de Anderson Braga Horta

Page 22: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

309

Poemas inéditos de Rodolfo Alonso

Memling casi sonríeabriendo bien los ojos

*

Volver a ver

Volver a Amsterdam

¿Qué más pedir?

*

Bruselas verde oscuraen parques garuados

Piedra de luz que cantaa hombros de Magritte

Limpias las calles brillaBruselas como un barrio

La tumba de Lumumbadesagua en la Gran Plaza

*

De Bretaña a Galiciahay tantos finisterres

Nada nada terminaentre las brumas celtas

*

Choveu choveu choveuna fría lus na núa lus

Page 23: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

O sol olha por cima

*

Por que não? Também cá,junto do Mar do Norte,todas as folhas cantamquando faz sol, no vento.

*

James Ensor: tu, sim,tens razão, James Ensor.

*

Sob esse inusitadosol sem nuvens Antuérpiaquase parece Itália

E é Antuérpia com sol

*

Uma abelha em Antuérpia:agulha no palheiro?

*

O museu está em frentesombria sabedoria

E eu boa felizfaz uma hora ao sol

Bem que previsto a ruanenhum dos dois a cruza

310

Tradução de Anderson Braga Horta

Page 24: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

311

Poemas inéditos de Rodolfo Alonso

O sol olla por cima

*

¿Por qué no? Aquí también,cerca del Mar del Norte,todas las hojas cantancuando hay sol, en el viento.

*

James Ensor: tú sí quetienes razón, James Ensor.

*

Bajo ese inusitadosol sin nubes Amberescasi parece Italia.

Y es Amberes con sol.

*

Una abeja en Amberes:¿aguja en el pajar?

*

El museo está enfrentesombría sabiduría

Y yo boa felizhace una hora al sol

Aunque estaba previstoninguno de ambos cruza

Page 25: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

*

Se uma nuvem o cobreo frio anula o sol

Ele insiste por sortee volta a acobertar-nos

Com a luz de estar vivo

*

Decido-me por fime entro no museu

Cranach depois de tudotambém é sol e esfria

*

As nuvens retrocedemde negro sobre grisna baforada atrozque provoca o inferno

Breendonk céu de luto

Breendonk de mudos corvos

Breendonk Breendonk Breendonk

*

Rik Wouters: sol de noite.

312

Tradução de Anderson Braga Horta

Page 26: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

313

Poemas inéditos de Rodolfo Alonso

*

Si una nube lo tapael frío anula al sol

Él insiste por suertey vuelve a cobijarnos

En la luz de estar vivo

*

Me decido por finy entro en el museo

Cranach después de todotambién es sol y entibia

*

Las nubes retrocedende negro sobre grisen la atroz bocanadaque provoca el infierno

Breendonk cielo de duelo

Breendonk de mudos cuervos

Breendonk Breendonk Breendonk

*

Rik Wouters: sol de noche.

Page 27: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

Mais que tudo

Quisera ter escritomais do que nada a cartaque uma mulher azulde Vermeer lê e lê

Salgueiro em cena

Atrás de Notre Damesem ser de Serodinoo salgueiro de Saersabe sumir no Sena

Sem fazê-lo em consciênciacomo quem não se fixanão chora antes caisobre águas que fascinam

Fascinado tambémeu o imagino vendo-oSanta Fé no Quartiergrandes águas morenas

314

Tradução de Anderson Braga Horta

Page 28: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

315

Poemas inéditos de Rodolfo Alonso

Más que todo

Quisiera haber escritomás que nada la cartaque una mujer azulde Vermeer lee lee

Sauce en escena

Detrás de Notre Damesin ser de Serodinoel sauce de Saer sabesumirse sobre el Sena

Sin hacerlo a sabiendascomo quien no se fijano llora sino caesobre aguas que fascinan

Fascinado tambiénme lo imagino viéndoloSanta Fe en el Quartiergrandes aguas morenas

Page 29: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

Juan Grela

Salvo Ángel Costas,por exemplo(e não é casual que seja meu tio carpinteiro),ou sua mulher, Rosa García(a única irmã de minha mãe aqui),ambos de índolenatural, inocente,quase animalmente generosa,quem senão Juan Grelaconhecicapaz de se mostrarà alturado que se viu dizendoGuilllaume Apollinaire:“Nous voulons explorer la bontécontrée énorme où tout se tait”?

Este é então o gloriosofracasso de um poema,poiscomo encararum poema sobre alguémque já era um poema, comotentar um poemacom sua ausência?

316

Tradução de Anderson Braga Horta

Page 30: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

317

Poemas inéditos de Rodolfo Alonso

Juan Grela

Salvo Ángel Costas,por ejemplo(y no es casual que sea mi tío carpintero),o su mujer Rosa García(la única hermana de mi madre aquí),ambos de índolenatural, inocente,casi animalmente generosa,¿quién otro que Juan Grelaconocícapaz de demostrarsea la alturade lo que vio diciéndoseGuillaume Apollinaire:“Nous voulons explorer la bontécontrée énorme où tout se tait”?

Este es entonces el gloriosofracaso de un poema,puesto que¿cómo encararun poema sobre alguienque ya era un poema, cómointentar un poemacon su ausencia?

Page 31: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

So much dependsUma manhã, ainda.E o meio-dialuminoso e disposto.A vida é um convite:deixa-se a contragosto.

Vallejo, CésarNinguém andou mais fundonem mais perto.Ninguém chegou tão longemais depressa.Ninguém foi mais nenhumnem foi menos Ninguém.

Índice cronológico“Auschwitz, ainda” (Santa Clara del Mar, 16-2-2000)“Carne do sol” (Salvador da Bahia, 16-10-2001)“Uróboros” (Mar de las Pampas, 5-1-2003)“À luz do Limay” (Neuquén, 27-3-2007)“Monumento a Maria Bethânia” (26-5-2007)“Ode à resiliência” (18-6-2007)“Por assim dizer” (17-8-2007)“Dente por dente” (28-8-2007)“Perto do Mar do Norte” (Antuérpia, 19-9-2007)“Mais que tudo” (Amsterdã, 23-9-2007)“Salgueiro em cena” (Paris, 1-10-2007)“Juan Grela” (24-12-2007)“So much depends” (20-3-2008)“Vallejo, César” (2-4-2008)

318

Tradução de Anderson Braga Horta

Page 32: Poemas inéditos de - academia.org.br 57-POESIA ESTRANGEIRA.pdf · Poemas inéditos de Rodolfo Alonso Tradução de Anderson Braga Horta R odolfo Alonso, poeta, tradutor e ensaísta

319

Poemas inéditos de Rodolfo Alonso

So much dependsUna mañana, aún.Y el mediodíaluminoso y dispuesto.La vida es un conviteque se deja a disgusto.

Vallejo, CésarNadie estuvo más hondoni más cerca.Nadie llegó tan lejosmás temprano.Nadie fue más ningunoy menos Nadie.