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Edição 1 - Ano I - 2013

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Revista Lato Sensu História, Sociedade e Cultura da PUC SP 2013

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Page 1: Persona Civita 1

Edição 1 - Ano I - 2013

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EXPEDIENTE

Edição e diagramação: FELIPE SCHADT

Ilustração: MAICON DA SILVA ALVES

Colaboradores CARINA MARTINS DO NASCIMENTODAVID DOS SANTOS OLIVEIRAFELIPE SCHADTGENÉSIO GONÇALVES CHAVESGIAN CARLO ZAPELLONI HELAINE LUCIANE DA SILVA VIEIRAHELENA PEREIRA BURANELLO

JULIANA ALVES BARONIJULIANA PAZ BONFIMKAUE VINICIUS DE A. SILVALUIZ FELIPE PEREIRA DE ALMEIDAMAICON DA SILVA ALVESPATRÍCIA LEARDINIRAFAEL LOCATELIREBECA DA CUNHA FEITOSATHIAGO DA SILVA MACIELVANILDA GONÇALVES DE OLIVEIRA

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PERSONA Civita História Sociedade e Cultura Lato Sensu - PUC SP 2013 3

ÍNDICEO catador trabalhador e as vulnerabilidades urbanas: Consideração de trabalhoJULIANA PAZ BONFIM 4

O Shopping Center: Espaço de segregação e

exclusão social CARINA MARTINS NASCIMENTO6

São Paulo e sua transformação no início do século XXGENÉSIO GONÇALVES CHAVES 8

A educação na cidade de São Paulo: As primeiras

décadas da República REBECA DA CUNHA FEITOSA10

9 de julho e seus lugares de memória: O que vem sendo construído como a memória paulista da revolução de 1932THIAGO SILVA MACIEL 12

A educação libertadora: Paulo Freire com um olhar em Guiné-

Bissau, da teoria à prática VANILDA GONÇALVES DE OLIVEIRA16

Francisco Saturnino Rodrigues de Brito: O Modelador da cidade de SantosLUIZ FELIPE PEREIRA DE ALMEIDA18

Adoniran Barbosa e a urbanização da

cidade de São Paulo HELAINE LUCIANE DA SILVA VIEIRA20

Sexo, Drogas e Funk nas ruas de São PauloDAVID DOS SANTOS OLIVEIRA 22

Renato Kehl e a sociedade eugênica de São Paulo

(1918-1919) HELENA PEREIRA BURANELLO24

Escultura na Cidade: A Arte de Tomie OhtakeMAICON DA SILVA ALVES 26

Cidade e Natureza PATRÍCIA LEARDINI28

A criação dos “Mercados” de São PauloRAFAEL LOCATELI 30

Maurício de Sousa: um observador da cidade

JULIANA ALVES BARONI32A Esfinge e seu duplo: urbanização e o modernismo em São Paulo dos anos 1920KAUE VINICIUS DE A. SILVA 34

Walter Benjamin e o Flâneur FELIPE SCHADT36

Personagens anônimos da cidade tornaram o sonho em realidade: A construção do Estádio do PacaembuGIAN CARLO ZAPELLONI 38

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS41

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Introdução

O presente artigo é resultado de dois projetos realizados com cooperativas de catadores de

materiais recicláveis na cidade São Paulo, em específico da região oeste e extremo sul e tem por objetivo ana-lisar, por meio da vivência com os catadores e dos relatos dos mesmos, a representação destes como perso-nagens que integram cidade como expressão dos conflitos e vulnerabili-dades urbanas, mesmo diante da sua invisibilidade social.Iniciado no ano de 2010, o Projeto Catadores, teve como proponente a Central de Cooperativismo do Brasil – Unisol Brasil – sendo financiado pela Fundação Banco do Brasil; o segundo projeto Inclusão de catadores e estru-turação produtiva de cooperativa de coleta seletiva, iniciou-se ano seguinte, tendo como proponente a Organi-zação da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) Instituto Ecoar para a Cidadania, sendo financiado pela Secretaria do Verde da Prefeitura de São Paulo. Cooperativa de catadores onde os tra-balhos fora realizados: Coopermape (Grajaú), Coopernatuz (Osasco), Coopermundi (Osasco), Avemare (Santana de Parnaíba), Coopernova (Cotia), Cooperativa de Materiais Re-cicláveis de Itapevi (Itapevi).

A catador como sujeito da História.

“Meu nome é Mara Lúcia Sobral Santos, eu sou ex menina de rua, vivi quatro anos ali na Nove de Ju-lho após eu sair de um abrigo para menores que não era funcional, era apenas um abrigo, não era um lar”1

Apesar de existirem registros antigos da existência da prática da catação, no Brasil, de acordo com Burgos (2008) é na década de 1980 e, sobretudo, de 1990 que o trabalho do catador se in-tensificaria nos meios urbanos. A década de 1970, de acordo com Singer (1998) viveu um grande êxodo rural, que aproximou os campone-ses das áreas industrializadas devido aos encantamentos do discurso do chamado “milagre econômico” e do pleno emprego, que também levaria a troca do trabalho da economia fa-miliar para o trabalho assalariado. A década posterior viveria não apenas a estagnação econômica como re-sultado desta política econômica ir- responsável, como também a inserção de novas tecnologias industriais que substituiriam a mão de obra humana e aumentaria a massa de desemprega-dos e desempregadas. Esta massa de desempregados deixou que se abrissem cada vez mais as bre-chas para o surgimentos de novas for-mas de exploração do trabalho e em meio a este contexto de fragilidades trabalhista múltiplas se intensificava a figura urbana do catador. Diante da realidade pós década de 1980 movimentos ligados ao progres-sismo religioso – Teologia da Liber-tação – que já haviam contribuído pedagogicamente e, sobretudo, te-oricamente para a formação de impor-tantes movimentos sociais tanto no campo como na cidade, contribuiriam também para a organização destes catadores e catadoras em associações e cooperativas.

A catador e o trabalho diante das vulnerabilidades urbanas

O trabalho dos catadores e catado-ras é classificados por Burgos (2008) como trabalho sobrante, ou seja, tra-

balhadores pobre urbanos que perde- ram, ou mesmo que nunca ingressam no chamado trabalho formal e que procuram estratégias de sobrevivên-cia e (re) inserção, e é sobrante, na perspectiva de Burgos, porque pode, a qualquer momento, ser novamente excluso dos processos industriais ur-banos. Nas modestas e quase sempre enges-sadas escolhas pelas estratégias de sobrevivências urbanas dos catado-res a organização em associações e cooperativas de reciclagem tem exercido importante papel não apenas no fortalecimento do trabalho, mas, sobretudo, na formação políticas dos invisíveis da cidade de São Paulo.

Cada vitória que a gente tem den-tro de São Paulo com a coleta sele-tiva é um avanço, porque quando a classe pobre consegue avançar em cima do governo, fazer valer o seu direito de cidadão e saber o que é política pública, reivindicar e ser atendido, é uma vitória não só de uma mulher, ou de uma cata-dora, é uma vitória de cada classe pobre que tem sido oprimida por esse Estado e humilhada, e a dita-dura tem vindo com força dentre, principalmente, da periferia. Meu nome é Mara Lúcia Sobral Santos, eu sou catadora de coleta seletiva em São Paulo (...) 2

É possível observar na fala da catadora Mara Sobral a informação, formação e amadurecimento político como pro-cesso de luta pelo e para o trabalho de catador de materiais recicláveis na cidade de São Paulo. Contudo a reali-dade desta catadora não é a realidade de todos os personagens-catadores da cidade de São Paulo. De acordo com pesquisas realiza-das no período da 2000 a 2004 pelo

O catador trabalhador e as vulnerabilidades urbanas: considerações de trabalho

JULIANA PAZ BONFIM

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Instituto Polis (2007), atualmente na cidade de São Paulo cerda de 19.500 homens e mulheres sobrevivem dos materiais recicláveis, estes catadores e catadoras vivem diferentes reali-dades e praticam diferentes formas de catação. O catador avulso encontra-se em con-dições bastante precárias, dados do Polis indica que é possível encontrar famílias inteiras, incluindo crianças, separando materiais recicláveis em-baixo de viadutos. Tal situação agres-siva de sobrevivência é relatada pelo instituto como responsável pelas fra-gilidades , sobretudo, da saúde destes catadores-morador de rua, afirmando que muitos apresentam doenças em estágios avançados. Ao catador-morador de rua paira outra realidade que contribui para a vulnerabilidade do mesmo. Este ma-terial separado, por vezes, por famílias inteiras que ocupam como moradia os viadutos de São Paulo, são vendi-dos por baixos valores para o chama-dos atravessadores. Ou seja, o catador reúne em si conflitos sociais urbanos de diferentes origens e isso é evidente no relato abaixo:

Eu estou fazendo parte de movi-mentos que lutam a favor da nossa sobrevivência na São Paulo, a São Paulo que na verdade não é para nós, é para os ricos. Você cria uma nova consciência, uma nova noção do que é o mundo e do que você pode fazer pelo mundo. A coopera-tiva ela só acrescentou na minha vida, e eu pretento sempre, estan-do na cooperativa ou não estando, ajudar as pessoas que estão en-volvidas nisso, que dependem da cooperativa. 3

A realidade do catador expressa em sua prática de sobrevivência de vida é um verdadeiro mosaico de represen-

tação dos diversos conflitos urbanos e que formam a realidade da cidade de São Paulo. O trabalhado do chamado catador organizado, ou seja, aquele que está mobilizado em cooperativa de trabalho na luta pela geração de trabalho, renda e qualidade de vida, parece não se desprender das amarras de conflitos que são gerados pela ci-dade, os sintomas da cidade fragmen-tada, como defende Ferrara (1900) consegue atribui ao personagem a representação daquilo que não foi ge- rado por ele, mas pelos conflitos so-ciais e econômicos urbanos, gerando uma equivocada leitura parcial da cidade.Tal análise estruturou-se em um tra-balho diagnóstico realidade com as cooperativas da zona oeste de São Paulo, Coopernatuz e Coopermundi de Osasco, CRM em Itapevi, Cooper-nova em Cotia e Avemare em Santana do Parnaíba, e no extremo sul de São Paulo, Coopermape no Grajaú, por meio do qual, em um trabalho inicial, procurou-se detectar as fragilidades dos pequenos empreendimentos au-tônomos, as cooperativas de reci-clagem. Os resultados dos diagnósticos, respectivamente, apontavam que os maiores problemas estavam associa-dos às instalações precários dos ambi-entes de trabalho e a freqüentes despe-jos, sobretudo de cooperativas que encontram em áreas mais nobres de São Paulo, o que se torna perceptível ao observarmos a quantidade de víde-os disponíveis no youtobe referente a manifestações de luta por melhores instalações e contrárias a despejos. Seguindo um escala de peso das fragilidades, de uma forma geral, todas as cooperativas de reciclagem que recebem materiais de caminhões da prefeitura sofrem, absurdamente, com a contaminação dos materiais, conseqüentemente fragilizando a saúde dos cooperados.

Abaixo podemos observar nas ima-gens a presença, em grande quanti-dade, de materiais coletada pelas pre-feituras que chegam contaminados nas cooperativas:

Cooperativa CMR Itapevi – zona Oeste de São Paulo

Cooperativa Sem Fronteiras – zona Norte de São Paulo

Imagens: Juliana da Paz Bonfim

O que queremos evidenciar com tais resultados? Que sobre os catadores, tanto avulsos quanto sobre os organi-zados em cooperativas recaem pesos do processo de formação da cidade que antecede a própria existência da figura do catador. As vulnerabilidades dos catadores avulsos parecem não se depreender por completo deste cata-dor que luta pelo processo geração de trabalho e renda em empreendimen-tos autônomos. A cidade com um emaranhado de conflitos que resultam no urbano é capaz de tornam os sujeitos invisíveis, assim como é capaz de tornam a práti-ca de trabalho do catador vulnerável simplesmente pela invisibilidade so-cial deste.

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1 - Depoimento extraído do vídeo Outro olhar: incendiada a cooperativa da Granja Julieta. https://www.youtube.com/watch?v=hiz9CWTyMX0 consultado no dia 12 de maio de 20132 - Depoimento extraído de vídeo Cooperativa Granja Julieta: resistência e esperança, cedido pela cooperativa Coopermape.3 - Depoimento extraído de vídeo 20 de setembro na Secretaria de Segurança Pública, cedido pela cooperativa Coopermape.

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O fenômeno da urbanização contemporânea brasileira não modificou apenas os es-

paços públicos como também trans-formou a vida nas grandes cidades. Novas sociabilidades são criadas neste processo e neste artigo pretende-se abordar o Shopping Center enquanto importante objeto de reconfiguração da economia local da cidade - afinada à economia global - que se intensifi-ca após a segunda metade do século XX e que influencia novas formas de relações sociais e de consumo no es-paço urbano.Segundo Eric Hobsbawm (1995), des-de a Revolução Industrial, a economia capitalista tem se desenvolvido de for-ma acelerada, no sentido de que, cada vez mais se percebe uma maior divisão do trabalho e de redes e intercâmbios comerciais mais complexos e especia- lizados. Na primeira metade do século XIX surgem as primeiras galerias da cidade de Paris, primórdios das lojas de departamentos, espaços destinados ao consumo e a apreciação da beleza arquitetônica desses locais, já obser-vados por Charles Baudelaire e Walter Benjamin. Para esse último, as galerias concentravam a preferência crescente por ambientes privados e isolados do mundo ao seu redor, que veio se de-senvolvendo ao longo de todo o sécu-lo passado.Paris, como modelo de urbanidade do século XIX, inaugura um novo estilo de comércio varejista, baseado no sis-tema de preços fixos, com intuito de vender um grande volume de merca-doria. As transformações econômicas advindas da produção industrial pos-sibilitou baixar os preços dos produtos

ao mesmo tempo que lançava novas mercadorias à venda. A produção fei-ta em grande quantidade exigia uma massa de consumidores: até os tra-balhadores podiam adquirir produtos que antes não tinham acesso, dando a eles a sensação de pertencimento desse processo de padronização das mercadorias. É no século XIX que uma cultura voltada para o consumo se forma associada às reconfigurações do espaço urbano e ao processo de individualização, ambos gerados pelo capital industrial. Dessa forma, percebe-se a força da simbologia da mercadoria, uma vez que o estímulo ao consumo começa a se associar à mistificação dos objetos reafirmada pelo apelo da propaganda, marca im-portante do capitalismo.

O surgimento e a expansão dos Shop-ping Centers enquanto lugares de comercialização e consumo de mer-cadorias nascem da concentração de capital, primeiro, nos Estados Unidos.Este país experimentou os avanços técnicos e científicos promovidos pela dinâmica do capitalismo industrial, que dispuseram novos modos de tro-

ca na passagem do século XIX para o XX, como observou Arrighi (1996). O surgimento desse tipo de centro co- mercial encontra-se no bojo das ne-cessidades da eliminação da concor-rência desleal, tornando a prática dessa nova forma de organização em-presarial regulada e ampliada frente à reprodução mais adequada do capital. Com a ampliação e intensificação da indús-tria, a produção e o consumo adotam um caráter cosmopolita: a concentração de ativ-idades, serviços e pessoas correspondeu à inserção de novidades relacionadas ao con-sumo de massa, como a mudança da abor- dagem da publicidade e o advento da agência de propaganda, empresas de venda pelo correio, redes de lojas comer-ciais etc. que conferem a complexidade da espacialização do capital.

Considerando que o advento do Shopping Center é produto da nova realidade à estrutura urbana e de uma nova dinâmica da atividade comer-cial, sendo que o crescimento da po- pulação nos subúrbios e o surgimento de novas demandas de bens e serviços especializados, não mais suportados pelas lojas de departamentos e super

Passado e presente: A galeria mais antiga de Paris

Imagem: Dove 2 day∕ The Whining Diner

O Shopping Center: Espaço de Segregação e Exclusão na Cidade

CARINA MARTINS NASCIMENTO

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mercados, forjaram a necessidade de criação de maiores áreas destinadas à aglomeração de lojas comerciais vari-adas para esses novos limites da ci-dade. Deve-se salientar que o advento dos Shopping Centers nos Estados Uni-dos, além dos aspectos econômicos citados, abarcam outras nuances que não dão conta em poucas linhas. Todavia, a proliferação desse tipo de organização empresarial também re-side como um remédio para as aflições urbanas decorridas e preenchimento ao vazio existencial na vida das pes-soas após a Segunda Guerra Mundial (Padilha, 2006).No Brasil, o despontar e a prolife- ração dos Shopping Centers segue o padrão norte-americano e está as-sociado as transformações econômi-cas, em grande parte provocadas pelo crescimento industrial urbano a partir da consolidação de uma dinâmica de acumulação nitidamente capitalista. Apesar do crescimento econômico, o abismo social entre pobres e ricos per-sistiu. Tanto é que o público-alvo dos shoppings aqui criados era para uma minoria da população que pudesse consumir. A partir da década de 1960, esses se concentram na região do Su- deste brasileiro, sendo o primeiro do Brasil o Shopping Iguatemi, localiza-do em bairro nobre da cidade de São Paulo.A chegada de um Shopping a um bair-ro provoca impactos. A região passa a atrair investimentos e consumidores, bem como se valorizam os terrenos e imóveis no entorno do empreendi-mento. De fato, os Shopping Centers são considerados templos de consumo do mundo moderno: atraem pessoas de distâncias variadas para trabalhar e∕ou para consumir; tornaram-se um agente importante de renovação ur-bana, valorizando áreas residenciais e comerciais (GAETA, 1992).Jean Baudrillard (1995), assim como diversos outros estudiosos, como Zyg-munt Bauman (2003) e Gilles Lipovet-

sky (1989) afirmam que a sociedade contemporânea é voltada para o con-sumo. Nesta sociedade, a mercadoria apresenta um significado muito maior do que aparenta. Segundo Baudrillard, os objetos não são mais consumidos e sim seus signos, ou seja, a enorme variedade de associações imaginárias e simbólicas atribuídas a essas coisas. A simbologia é mais importante do que a sua funcionalidade. Deste modo, os shoppings apresen-tam-se no cenário brasileiro como símbolos de poder, nos quais podem-os encontrar desde papelarias, ci- nemas a hipermercados, faculdades, academias de ginástica. Apesar de ser um espaço privado, os shoppings se mostram como espaços públicos: apresentam-se como centros comerci-ais, porém mais limpo, bonito e pre-tensamente mais seguro, atraindo um grande número de consumidores. Para a pesquisadora Silvana Maria Pintaudi, os shoppings são uma es-pécie de “ilha da fantasia”, como um espaço mágico, confortável e pro-tegido, porém que exclui quem não pode consumir ainda mais em nosso país onde a disparidade social afu-genta boa parte da população desses templos de consumo, embora mui-tos “indesejáveis” socialmente nesses lugares, como trombadinhas e men-digos, por vezes, circulem e sejam expurgados desses locais através de um rigoroso sistema de segurança. O Shopping Center, enquanto espaço de vivência dos prazeres do consumo re-flete a nossa sociedade contraditória marcada pela segregação e exclusão sociais no espaço urbano. Importante ressaltar a publicidade en-quanto grande agente para a manutenção dessa lógica capitalista de consumo, pois tem por objetivo criar uma necessidade ou despertar uma necessidade latente, visando persuadir o consumidor a ad-quirir determinado bem ou mudar de comportamento. As estratégias de ma-nipulação das propagandas são minuci-osamente estudadas e visam os diversos

públicos. A televisão ainda é o grande meio de comunicação pelo qual são veiculadas as publicidades, pois atinge um público mais amplo comparada às mídias digitais, impressas e o rádio. Para Pintaudi, “as mercadorias, para serem vendidas, têm de ser expostas, mas a maioria da população não têm condições de comprá-las. O desejo permanece insatisfeito, e a vitrina se torna assim um elemento de sub-versão da própria sociedade” (Pin-taudi, 1992), ou seja, a necessidade forjada em ter a mercadoria é um dos motivos dos assaltos no entorno dos Shopping Centers. Contudo, há de se ressaltar que existe uma tendência na construção de shoppings populares para atender ao público de baixa ren-da que anseia participar dessa socie-dade de consumo (Padilha, 2006). Os Shopping Centers e a publicidade forjam uma “democracia do consumo”. A exemplo do Brasil, cuja sociedade é extremamente excludente e valoriza o ter, no sentido de que a mercadoria adquirida tem menos importância do que a simbologia da sua marca. Dessa maneira, o status da marca é sinônimo de poder e distinção social. A nova fase que o capitalismo da segunda dé-cada do século XXI apresenta quanto à relação entre sociedade e consumo merece maior atenção. Cabe a inves-tigação detida a essas transformações tão latentes na atualidade, uma vez que abarcam todas as dimensões da nossa sociedade, seus diferentes sig-nificados e contradições.

O Shopping Center Iguatemi SP, o primeiro shopping do Brasil, na inauguração em 1966.

Imagem: Reprdução

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Jacques Le Goff, o grande historia-dor francês, costuma dizer que há muitas igualdades entre a cidade

contemporânea e a medieval. Por quê? Porque as funções são assemelhadas e a cidade se estabelece como um centro de poder, não apenas econômico, mas geral. Há uma identidade das pessoas com o núcleo urbanizado, cada uma se insere neste espaço para criar, lutar, trabalhar, festejar, estudar, enriquecer, crescer, rezar, etc. A cidade não é mais propriedade in-dividual, mas sim o conjunto destas individualidades, é o núcleo habitável onde as relações serão cada vez mais globalizadas: em primeiro lugar den-tro da própria cidade e, em segundo, entre as cidades que se reconhecem como tais. É o lugar da sociabilidade e do anonimato, do imaginário e da idealização. Pode até ser motivo de orgulho, de ufanismo... A cidade tem esse poder: o de ser “urbana”. O vocábulo vem do latim e todos os de-mais relacionados à ela tem a ver com civilização, limpeza, elegância e cultu-ra .É interessante notar que as cidades medievais européias se fortaleciam com a instalação do culto religioso, através da construção das Catedrais (em detrimento das Abadias, de forte caráter rural) e da“cultura da cultura”, com o surgimento das Universidades, onde estudantes e professores repre-sentavam um enorme mercado con-sumidor. São Paulo, nossa cidade, também nasceu de um ato educativo e missionário pois em 1553 um grupo de jesuítas chegava ao Planalto de Piratininga, vindo do litoral, e fun-dava, na colina cercada por dois rios Anhangabaú e Tamanduateí o Colégio Real de São Paulo de Piratininga para

cristianizar os “primitivos”habitantes do lugar. À semelhança das cidades medievais este núcleo de povoamento era cer-cado (para proteção dos ataques de índios agressivos) e administrado por um conjunto de cidadãos. Da escola primitiva para um núcleo urbanizado foram necessários alguns séculos. Até o século XIX a expansão urbana ficou limitada à chamada colina histórica, com pequenos avanços para o norte (até o Convento da Luz), sul (Largo da Glória), leste (Largo da Concór-dia) e oeste (Largo do Arouche). Por quê? Para esta pergunta há muitas respostas. Talvez não houvesse gente suficiente par a permitir esta expan-são; talvez os habitantes concentras-sem suas atividades em área admi- nistrada pelo Conselho de Vereadores (desde 1560); talvez porque houvesse constantes ataques de índios e a pro-teção que o cercamento oferecia deter minava seu confinamento ou talvez São Paulo fosse totalmente ignorada no plano de colonização portugue-sa por estar muito distante da área litorânea. Quem sabe? O fato é que os habitantes eram obrigados a produzir praticamente tudo que consumiam. Os dados disponíveis do século XVII dão conta que havia cerca de 3.000 pessoas em São Paulo. As grandes modificações urbanas pas-sam a acontecer no período imperial e com a ascensão de São Paulo à capital da Província. Com a criação da Aca-demia de Direito (1828), que trará à cidade massa estudantil (à semelhan-ça das cidades medievais), haverá um incremento das atividades culturais e de mercado. No século XIX havia al-gumas ruas recentes, como as atuais

Líbero Badaró e Florêncio de Abreu, apesar de serem caminhos tão antigos quanto a cidade. Já são 20.000 os ha- bitantes de São Paulo em 1840. A área central, arruada, e contan-do com os edifícios públicos e priva-dos mais significativos Academia de Direito, Convento de São Francisco, Convento de São Bento, Convento do Carmo e Palácio do Governo ainda estava cercada por chácaras e sítios. Para chegar aos diversos arredores da cidade havia transporte. Mas que transporte! Os primeiros bondes, in-troduzidos em 1872, eram puxados por burros. Até o final do século XIX, com a grande imigração estrangeira, São Paulo não oferecia muitos atra-tivos. Cidade mal iluminada, suja, sem saneamento. As famílias mais abastadas com certeza preferiam per-manecerem suas fazendas a vir para uma cidade insípida, sem conforto... As benfeitorias como esgoto, ener-gia elétrica, água encanada, serviços urbanos variados, teatros, etc. propi-ciaram a residência definitiva dessas famílias. São Paulo adquiria ares eu-ropeus... Do antigo centro da cidade, com a construção do Viaduto do Chá em 1892, pulamos para o outro lado do Vale do Anhangabaú. Aliás, diga-se de passagem, era um imenso im-pedimento geográfico... Esta expansão possibilitou o acesso às atuais ruas Barão de Itapetininga, 24 de Maio, 7 de Abril e à Praça da República.As profundas transformações econômicas e sociais decorrentes do surto econômico do café fizeram crescer a população. Em 1890 eram 70.000. E em 1900, 240.000 almas! Só o fluxo migratório trazia milhares de italianos, espanhóis e portugueses

São Paulo e sua transformação no início do século XX

GENÉSIO GONÇALVES CHAVES

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para a capital fazendo prosperar o pequeno comércio, propiciando me- lhoria da agricultura e dotando São Paulo de um pequeno parque indus-trial. Vários bairros próximos ao cen-tro tornar-se-ão bairros operários por excelência. Mas vamos parar por aqui. Afinal de contas minha exposição procura mostrar o centro da cidade do final do século XIX, em evolução. Lembramos que em 1898 foi criado o Poder Executivo, representado pela figura do Prefeito Municipal, que de-veria comandar a adequação de São Paulo às novas mudanças. Nosso primeiro prefeito foi o Conselheiro Antônio da Silva Prado, pertencente à elite cafeeira e com interesse em bancos e indústrias, que administrou a cidade por 12 anos, de 1899 a 1910. Procedeu a uma série de alargamentos e retificações das ruas principais, ar-borizando ruas e avenidas. É de sua época a abertura da Avenida Angélica, principal via de acesso ao bairro de Higienópolis; a implantação da primeira linha de bondes elétricos ligando o Largo de São Bento à Barra Funda (onde residia o Prefeito!) em 1900 e a construção do mais famoso teatro, o Municipal, na Praça Ramos de Azevedo, inaugurado em 1911. Da cidade da Avenida Paulista, com seus casarões... Chegamos à cidade que se moderniza que procura seus próprios caminhos e que se auto-intitula mo- derna. Expansão da cidade de São Paulo entre os séculos XVI e XIX, segundo. Formado por três ruas São Bento, Direitas e Quinze de Novem-bro o primitivo centro comercial de São Paulo, tradicionalmente chamado Triângulo, só começou a se delinear em meados do século passado. Os primeiros sinais externos da pau- latina especialização funcional da área central da cidade foram, seguramente, a instalação de toldos nas entradas das modestas lojas da Rua Direita e os ar-tigos à venda expostos às por tas das casas de negócio. Adaptadas às estrei-tas portas dos edifícios de taipa sur-giram também as primeiras vitrinas. Entre os mais antigos exemplares se

achavam certamente as instaladas na Confeitaria do Leão, estabelecimento situado na esquina da Rua do Co- mércio (Álvares Penteado) com a Rua da Quitanda e inaugurado em1862. Grandes mudanças econômicas e sociais sucederiam na cidade com o funcionamento da ferrovia Santos - Jundiaí (1867) e com o conseqüente surto econômico do café, ocorrido no último quartel do século XIX. Trans-formações ainda maiores seriam de-sencadeadas durante o febricitante período do Encilhamento(1890), quando o dinheiro “era uma espécie de água”,no dizer de um contemporâ-neo. Indicadores da incipiente verti-calização do Centro, vistosos edifícios de três andares passaram a brotar de uma hora par a outra. Com fachadas muito decoradas, substituíam as gros-seiras e velhas casas de taipa e seus te- lhados de profundos beirais. As construções recentes, executa-das com técnicas construtivas mod-ernas (alvenaria auto, portanto de tijolos, combinada com eventuais elementos metálicos de sustentação) e linguagem arquitetônica atualizada (Ecletismo),iam conferindo à cidade uma roupagem de acentuado gosto europeizado.Mas toda essa renovação edilícia estava fundamentada numa arcaica estrutura urbana, de remota origem colonial.As vias públicas do Centro desse tempo permaneciam estreitas e tortuosas, percorridas por

morosos bondinhos tirados a burros, atrás dos quais se formavam às vezes longas filas de tílburis de aluguel, e nos trechos mais largo viam-se qui-osques-botequins, cujos dias no en-tanto já estavam contados.Esses fatos todos caracterizam os anos de 1890 como uma etapa muito bem definida no progressivo controle do espaço urbano exercido pelas camadas soci-ais hegemônicas de então, preocupa-das com a defesa de seus interesses econômicos. Etapa essa que seria logo superada pelas enérgicas e dinâmicas adminis-trações dos primeiros prefeitos pau-listanos, Antônio Prado e Raimundo Duprat (1899 - 1914). A partir daí passará o Centro a sofrer contínuas remodelações. A partir daí passará o Centro a sofrer contínuas remo- delações. E o objetivo dessas inter-venções será não só a introdução de inovações técnicas (transporte cole-tivo movido à eletricidade e expansão da luz elétrica), mas também a racio- nalização da estrutura urbana existente (alargamentos e retificações viárias e criação de um anel contor-nando o Centro). A valorização fundiária das propriedades locali-zadas na área central advirá, por sua vez, dos ambiciosos projetos de embelezamento urbanos então implementados, tais como, a cri-ação do Parque do Anhangabaú e abertura da Praça da Sé.

Imagem: Reprdução

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“Essa foi a gente que anoiteceu na monarquia e amanheceu na república; gente sem cultura, quer artístico, quer

científico, quer moral”Licínio Cardoso

O fim do Império e término da escravidão gera um período de grandes agitações no âmbi-

to social, cultural, político e econômi-co, agitações que marcam todo o pe-ríodo da Primeira República.Com a proclamação da república, os representantes da oligarquia paulista idealizam signos de modernidade e progresso, legitimando sua hegemo-nia na Federação.

As alterações urbanas concebidas neste ideal de modernidade, sob in-fluências européias, sobretudo Paris, buscou conciliar teorias sanitaristas, de forma não apenas higienizar a ci-dade como também embelezá-la.Desta forma, a educação deixa de ser realizada em casas de professores ou das famílias, como ocorria no Império e, ganha a notoriedade planejada com edifícios monumentais, construídos próximos à zona central, representan-do o progresso e solidez.A proposta educacional do Partido Republicano Paulista é efetivada com a construção da primeira instituição pública, a Escola Normal Caetano de Campos, situada no centro da capital paulista e, anexada a ela o Jardim da

Infância e a Escola Primária, intitu-lada Escola Modelo.A fusão entre escola primária e a formação docente proporcionaria a uniformização do sistema de ensino, permitindo a visualização e “estágio” dos futuros docentes criando moldes modernos de ensino, aliado a refor-mulação do edifício escola e novas práticas.Nesta reformulação da cidade os mar-ginalizados tornam-se cada vez mais um empecilho para o progresso, o aceleramento da economia, da in-dustrialização e urbanização, amplia rapidamente a quantidade de pessoas no espaço urbano, evidenciando a necessidade de homogeneizar regras comportamentais entre as diferentes

A Educação na cidade de São Paulo: As primeiras décadas da República

REBECA DA CUNHA FEITOSA

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culturas que partilhavam o mesmo espaço, mas também conter possíveis insatisfações com a República.No início da década de 20, o sistema modelar de São Paulo entra em cri-se, não devido apenas às novas cor-rentes pedagógicas em voga em ou- tros países, como os Estados Unidos, mas também a necessidade política e econômica.Desta forma, uma escola elitista e ex-cludente torna-se barreira frente ao progresso almejado para a cidade e para o país, evidenciando o dilema da analfabetização como problema na-cional.Visando a ampliação do ensino para a população, a erradicação do analfa-betismo e a nacionalização dos imi-grantes é implantada a Reforma Sam-paio Dória, que incorporava as metas da Liga Nacionalista.Esta reforma reduziu o tempo de es-colaridade obrigatória de quatro para dois anos, propondo a aceleração da alfabetização e proporcionando for-mação básica extensiva a toda a popu-lação.Em conjunto com a redução do tempo escolar, implantou-se o método de in-tuição analítica, propondo desenvol- ver a capacidade de conhecer através da relação do contato do indivíduo

com as “coisas” que deveria conhecer, exercitando no educando o exercício das faculdades perceptivas.A partir desta reforma a escola primária obrigatória deveria ser instrumento de aquisição científica a partir da escrita e leitura, promo- ver a educação inicial da inteligência através do estudo de cálculos e exer-cícios de lógica, reconhecimento das tradições e grandezas do Brasil e edu-cação física inicial.A Reforma Sampaio Dória é emba-sada pela aproximação da pedagogia à ciência experimental como psicologia e ao distanciamento de caráter moral e cívica.Desencadeia-se o debate entre a movimentação da Liga Nacionalista e intelectuais que desiludidos, que entoavam a necessidade de reforma educacional, polarizando a discussão entre escola alfabetizante e escola de educação integral.Cinco anos após a implantação da Reforma Sampaio Dória ela foi revo- gada, tornando o sistema de alfabeti-zação compulsória o símbolo de um mal a ser evitado.A propaganda da educação, chamado “entusiasmo pela educação”, posiciona não apenas o analfabetismo como mazela da sociedade, considerando

o mau preparo não apenas da popu-lação, mas também da elite mais noci-vas à consolidação da república.Segundo Carvalho (2011) a reforma da escola pública para além do investi-mento na alfabetização da população, mas uma aposta política no poder “civilizador” da escola.A reformulação da instituição escolar e das práticas pedagógicas salienta-se a necessidade de se ampliar os cam-pos infantis, associando a reforma da sociedade através da reforma do homem.A partir da importação de idéias inter-nacionais por pesquisadores brasilei-ros como Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo trazem novas concepções de educação à todo território brasilei-ro, dentre as propostas pedagógicas importadas destacam-se nomes im-portantes como Montessori, Decroly e Dewey.O ideal de uma escola ativa e rela-cionada ao ambiente social no qual o educando é inserido nas esco-las com a Reforma Fernando de Azevedo, que mesmo com a Re- volução de 30, a chegada de Var-gas ao poder, subsidiou o Mani-festo dos Pioneiros da Educação Nova, fechando o ciclo de reformas representantes da “velha ordem”.

Imagem: ieccmemorias

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O conceito “lugares de memória” foi mencionado por Pierre Nora em seu

artigo “Entre Memória e História” (NORA, 1993) que faz um pano-rama do que é a Memória, aquela compartilhada através da orali-dade e que esta ligada a lembrança e ao esquecimento, e a História que através de problemas do presente, remonta um passado através de documentação histórica para bus-car uma nova versão de um fato ou evento histórico. A discussão en-tre Memória e Historia, principal-mente dos “lugares de memória” são totalmente aplicáveis a questão da atual Historia do Estado de São Paulo, devido a construção Oficial (Governo), de Memória (Tradições, costumes e relatos) e da Historiografia produzida sobre o tema.Problematizando as questões cria-das quanto ao “Ser Paulista” te-mos algumas discussões públicas sobre o assunto, porém na maio-ria das vezes ele é abordado de forma restrita ou branda demais, o que dificulta que tenhamos al-guma alteração considerável na atual consciência histórica de nossa sociedade, principalmente nesta questão da “Identidade Paulista” ou algo que chegue próximo a maioria da sociedade que vive a séculos em

São Paulo, e não a pequenos grupos hegemônicos. Uma referência clara sobre esta “disputa pela memória” esta na memória da Revolução Constitucionalista de 1932.Vale explicar que a Revolução Constitucionalista de 1932, ou Re- volução Paulista, foi um movimen-to armado organizado pelos paulis-tas contra as imposições do gover-no de Getúlio Vargas. Nos jornais

da época a disputa era colocada como São Paulo contra o restante do Brasil, o que de fato aconteceu, já que Getulio Vargas descolou várias tropas do exercito de vários locais do Brasil para que fosse con-tida a insurgência paulista. O pon-to máximo do movimento foi dia 9 de julho de 1932, quando Pedro de Toledo declarou oficialmente o iní-cio do levante. 23 de maio foi o dia

9 de Julho e seus lugares de memória: O que vem sendo construído como a

memória paulista da revolução de 1932

THIAGO SILVA MACIEL

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em que os estudantes Martins, Mi-ragaia, Dráusio e Camargo foram mortos após o ataque contra uma base da liga revolucionaria, grupo armado getulista. As duas datas são marcos para a memória paulista.Uma das questões que devem ser lembradas é o processo histórico que o Brasil passara entre o final do século XIX até 1930. Vamos apontar a proclamação da repúbli-ca como alteração considerável da forma de estado, modificando algumas relações fundamentais como modo de produção vigente e as relações de trabalho.É necessário lembrar que o negro na sociedade brasileira daquele pe-ríodo, apesar de ser maioria, não era considerado cidadão, e o ra- cismo ainda era presente na socie-dade. Este negro do pós-abolição, sem cidadania, é o começo de nos-so processo de favelização, aonde temos a abolição da escravatura, porém não a inclusão dos negros abolidos na sociedade como ci-dadãos, sem cargos significativos de empregos e sem direito a pro-priedade privada, principalmente de moradia, sendo assim não com-partilhando o mesmo espaço de moradia nos grandes centros das cidades e sim a subida a ocupação as margens das cidades, e que com tempo teremos uma camada não só de negros e sim de despossuídos e periféricos. A abolição apenas trouxe o fim do trabalho forçado e não assalariado, porém não con-cedeu a essas pessoas cidadania. Como se vive dentro de um pro-cesso democrático sem cidadania?Sendo assim temos três cama-das básicas na sociedade paulista durante a década de 1930: 1. Os grandes proprietários, a camada rica da sociedade, minoria da so-ciedade. 2. Uma Classe Média em formação, e a consolidação dos

centros urbanos; alguns comerci-antes e imigrantes começam a ter a oportunidade que os negros não tiveram a cidadania e a proprie-dade privada, naquele momento também ocupavam uma pequena fatia da população. 3. Os Negros que foram libertos pelo processo que desencadeou a Abolição. Com a miscigenação e com o passar dos anos serão os moradores das pe- riferias que já existiam naquele período.A questão de memória em um es-tado urbano de impulso comercial e de opulência como São Paulo tem dois lados para a historia o primeiro são os dos agentes deste processo, que são de extrema im-portância e são nossos principais norteadores de pesquisas e relatos de época, realmente essas pessoas merecem respeito e homenagens pelos feitos de ontem, porém ainda não tem o devido quanto aos seus relatos, principalmente quanto a apropriação de suas memorias e

o uso devido de seus relatos que exigem métodos para ter um sen-tido histórico. O outro lado é a historia redigida pelo governo, que visa a construção de monumentos para legitimar determinada herança e alusão de que os o alto escalão do poder tem como referencia determinado fato ocorrido no passado, normalmente são construídos monumentos para que se perpetue aquele fato e absorvido pelas gerações posteri-ores como fonte de memória, este segundo caso é conhecido como história oficial, e renega, na maio-ria das vezes o relato dos viventes e os métodos históricos, pois visa a perpetuação de uma visão da historia, e não a pluralidade que a História exige, já que temos várias versões de um mesmo fato. Esta discussão se interliga com a interpretação de (LE GOFF, 2003) em que discute a função dos mo numentos. Utilizando este con-ceito e o aplicando ao contexto da

Imagem: Reprodução

Trincheira durante a Guerra Paulista

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revolução paulista, a referencia para analise da função do monu-mento é o Obelisco e as várias alusões que a ligam a Avenida 23 de maio, e as referências à data (9-7-32) que estão distribuídas nas metragens e altura do monumento, além das menções explicitas como as imagens dos combatentes, versos escritos no próprio monumento e também por ser o mausoléu dos combatentes da revolução de 1932.A revolução paulista de 1932, como qualquer outro evento Histórico, tem várias versões. Os relatos orais, literatura e Historiografia paulista consolidou a revolução como he-roica e principal motiva para que Getúlio Vargas tenha promulgado a constituição de 1934. Porém ou- tras regiões do Brasil não viram tal movimentação como heroica ou para o bem comum do País, e sim como uma tentativa de separatis-mo. Esta é outra questão presente nos debates, principalmente quan-do chegamos próximo à data que se comemora a revolução, o nove de julho. As visões que contestam

alguns pontos da revolução não são vistos com bons olhos em São Pau-lo da década de 30 e isso se man-tem até o presente. Podemos citar claramente os Anarco-Sindicalistas que faziam movimentos contra a revolução paulista, mesmo sendo paulistas, foram esquecidos pela nossa historia, mas ainda estão presentes em algumas manchetes de jornais da época, principal-mente as duras penas que sofriam por não militarem pela causa pau-lista. A visão de separatismo, prin-cipalmente veiculada pelo Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, tam-bém é outra visão suprimida pela historia paulista. Nunca tenta-se aproximar as versões ou transfor-ma-las em documentação, sempre são vistas como hostilidades con-tra os paulistas, como uma guerra eterna entre Estados, mas dessa vez sem armas e o que está em jogo é a Memória.Para LE GOFF (2003), o monu-mento tem uma função de conser-var o passado ou de fundar ele se não existia, além de ser uma alusão

oficial do que se deseja cultivar como ponto de partida para aquela sociedade. Os monumentos foram (e em alguns casos ainda são) uti-lizados como documentos históri-cos. O documento pode também ser um veículo de uma visão oficial, mas para o historiador o docu-mento precisa ser organizado e posto em uma lógica de tempo e espaço com outros indícios para que faça sentido, sendo assim o principal objeto para a tentativa de reconstrução de uma nova versão de um fato já consolidado pela própria História. Sendo essa a prin-cipal diferença entre documento e monumento.A memória da revolução constitu-cionalista é principalmente propa-gada de forma oficial pelo governo do estado de São Paulo. Coube a polícia militar do estado de São Paulo organizar os festejos e de cer-to ponto manter a “tradição paulis-ta”. Os veteranos da guerra paulista são aposentados pela policia mili-tar, mas não recebem pensões com valores regulares, inclusive

Imagem: Thiago Silva Maciel

Nove de Julho: Democracia? Festividades dos 77 anos da Revolução de 1932. (São Paulo.2009)

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isso foi manchete de vários jornais a alguns a alguns meses Uma con-tradição, já que os combatentes são parte desta memória.Estivemos presentes nas festivi-dades pelo aniversário de 77 anos da revolução constitucionalista (2009), já tradicional em São Pau-lo e sempre organizado dentro do parque do Ibirapuera, como men-cionamos organizado pela policia militar no local que abriga o mo- numento construído em memória aos soldados constitucionalistas, o obelisco. O cenário que presencia-mos por lá foi um tanto quanto pa-voroso, para não militares. Mesmo tendo estudado os movimentos que estavam presentes na década de 30, como a Ação Integralista Brasilei-ra, não poderiamos imaginar que tal qual? Da revolução constitucio- nalista ou dos integralistas? movi-mento teria local privilegiado nas festividades , como uma oportuni-dade de promover sua ideologia e panfletar demonstrando que atual-mente tentam a representatividade governamental por via democráti-ca, e não mais como Plínio Salgado

pensou um dia, com outra forma de Estado. Outros grupos como os Skinheads da Extrema Direita e os Carecas do Brasil também pan-fletavam suas ideologias Nacio- nalistas, e de apoio aos militares. Ficamos impressionados quando estudantes do curso de Geografia da USP chegaram com uma faixa “9 de Julho: Democracia?” e foram rapidamente impedidos de se ma- nifestarem, quando cerca de 6 poli-ciais militares rasgaram a faixa e “convidaram” os mesmos a se reti-rarem do local. Na revista de História da Biblioteca Nacional, Ano 6, Nº61, de Outubro de 2010, a capa tinha a seguinte chamada “Ameaça fascista? O In-tegralismo ontem e hoje”, um belo artigo sobre o integralismo com uma entrevista com o autor do Livro “Integralismo, o fascismo brasileiro na década de 30”, Hélgio Trindade, em que ele é entrevis-tado e menciona a seguinte frase “Não creio que se possa falar a sé-rio do retorno de um “integralismo organizado” exceto pela partici-pação saudosista de alguns herdei-

ros da AIB.”. A grande questão que encontramos neste ponto de vista é o erro em acreditar que tais movi-mentações de extrema direita não devam ser levadas a sério, princi-palmente pelo seu comprometi-mento com a juventude, que são os responsáveis pela banca integra- lista presente nas comemorações do 9 de julho. Temos como exem-plo claro o próprio governo do es-tado de São Paulo quanto ao seu posicionamento histórico, que não é somente saudosista e sim uma es-colha politica quando transforma uma “saudosista passeata” ou como é anunciado, um “desfile para a família”, em uma parada militar, e compactua, mesmo que velada-mente com grupos de extrema di-reita que frequentam o evento, e permitiram que eles já façam parte do evento em todos os anos. Ou seja, em qualquer 9 de julho no obelisco, no Ibirapuera, você pres-enciará este cenário.A construção do “Ser Pau-lista” precisa ser revisada pelo nosso atual governo, tal posi-cionamento compromete as dis-cussões consideráveis por novas visões sobre certos monumentos construídos por nossa história. A tentativa da construção de uma História Paulista é tão manipu-lada que se torna “desinteres-sante” para grande parte da nossa população, ou além disso, uma cultura do ódio contra os não paulistas e invasores do espaço territorial daqueles que se enqua- dram, ou aqueles que são paulistas mas se negam a aceitar tal história. O “ser paulista” deve englobar toda a nossa pluralidade cultural, étnica e ser cosmopolita, como toda grande metrópole como São Paulo deve ser, e não apenas ser nos discursos públicos, e na prática aprofundar as diferenças.

Imagem: Reprodução

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A independência começa na escola! Esse era o lema que o Partido Africano para Inde-

pendência da Guiné-Bissau e Cabo Verde (PAIGC) deixara em evidência durante o processo de luta armada, contra os portugueses, pela libertação desses países. Para quem depara-se de imediato com tal afirmação surge um questionamento: Qual a real intenção de um partido “clandestino” envolvi-do na guerrilha priorizar a educação? Em alguns países subdesenvolvidos talves a preocupação de imediato não fosse essa, mas no caso da Guiné-Bis-sau havia uma constante inquietação, o que levara o PAIGC a colocar em prática os projetos há muito tempo em discussão em relação as propostas curriculares do país.Durante quatrocentos anos a Guiné-Bissau fora mantida como colônia de Portugal, um país agrícola, com uma diversidade étnica, mantendo as tradições da oralidade, ou seja, não havia registros e documentos tra- nscritos, uma prática comum em mui-tas tribos africanas e seu idioma ma-terno era o Crioulo. Com a presença de Portugal houve uma modificação no contexto social guineense, existia por parte da metrópole a ideia de le-var a civilização, avanço tecnológico e o progresso aos nativos de acordo com a relaidade europeia, inclusive com imposição do português enquanto idioma oficial.Mediante esse choque de cultura a sociedade guineense passou a sof-rer fortes consequências, as peque-nas elites locais da capital, Bissau, apoiaram os lusitanos, me- nosprezando aqueles que mantin-ham as tradições tribais, falar em

Crioulo, por exemplo, era um sinal de atraso. O presente artigo faz parte de um recorte de um projeto mais amplo, porém nosso foco não é de-talhar esse processo de luta pela in-dependência, mas seus reflexos nas propostas educacionais.Segundo o Comissariado da Educação, em 1975 cerca de 90% da população adulta não era alfabetizada, dentro do regime colonial o ensino era um meio de exclusão social, fora pensado apenas para os filhos de europeus que residiam no país, bem como para uma pequena elite guineense que atendia pronta-mente as exigências da metrópole. Na prática o guineense ingressava no en-sino primário, era recepcionado por um professor europeu que lhe entre-gava uma cartilha em português, mas essa criança só tinha contato com o idi-

oma materno (crioulo), logo não con-seguia assimilar a necessidade de estar em um espaço que não tinha relação com seu cotidiano, portanto poucos conseguiam seguir para o secundário e menor ainda era o número daqueles que ingressavam no ensino superior haja visto que não existiam instituições capacitas, eram encaminhadas para a metrópole para realizar o mesmo.

Como resultado dessa atuação na educação, os quadros da Guiné-Bis-sau contava com apenas onze pessoas com ensino superior concluído no até o ano de 1961 (Cá, 2008, p. 98), inquietos com tal situação o PAIGC junto ao Comissariado da Guiné-Bissau convidaram Paulo Freire e sua equipe do Istituto de Ação Partici-pativa (IDAC) para contribuir com as reformulações do curículo edu-cacional do país. No primeiro mo-mento houve um mapeamente das reais necessidades da Guiné, fora de-senvolvido um projeto experimental incluindo as crianças, estas deveriam passar por um processo de consci-entização cujo foco era despertar o orgulho à pátria, trazendo uma nova mentalidade, livre dos preconceitos propagados pelos “tugas”, o currícu-lo educacional passaria a abordar o contexto da Guiné e da África, conse-quentemente as primeiras disciplinas a serem modificadas foram Geogra-fia e História, os educandos teriam pela primeira vez a oportunidade de aprender de uma maneira que real-mente tivesse sentido com seu con-texto social, finalmente deixariam de utilizar um material pedagógico car-regado de ideologia europeia.O PAIGC criara grandes expectati-vas em seus membros, os adultos ti- nham por responsabilidade con-tribuir com o crescimento econômi-co e social, abrangendo cidade e a região do campo, sempre preocupa-dos com a alfabetização desses. Para as crianças o objetivo era proporcio-nar um cenário social livre da cultura imposta pelo colonizador, no entanto a educação assumiu um duplo papel: a redescoberta e elaboração teórica

Imagem: acervo.paulofreire.org

Chegada de Paulo Freire à Guiné-Bissau

A Educação Libertadora: Paulo Freire com um olhar em

Guiné-Bissau, da teoria à práticaVANILDA GONÇALVES DE OLIVEIRA

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das experiências acumuladas pelos combatentes durante a luta arma-da e proporcionar uma preparação política com qualificações técnica, ou seja, os adultos teriam a capacitação necessária para educar as crian-ças, pensando em uma estrutura do povo para o povo, valorizando suas tradições locais.Como não existia, bem como não existe, uma fórmula para transfor-mar um cenário educacional comple-tamente defasado em uma superação imediata, encontramos a resposta para uma de nossas inquietações citadas no início do referido artigo, a opção pelo método de Paulo Freire está relacionada ao posicionamento do mesmo enquanto sujeito históri-co, pois na Guiné atuara enquanto educador e militante, e em sua ideo-logia educacional a liberdade pe- dagógica tornar-se prática quando há uma participação livre e crítica por parte do educando. A escola “autori-tária” por estrutura e tradição cedera lugar aos círculos de cultura, o pro-fessor assumiu uma posição de co-ordenador, ou seja, não impõe e não influencia, apenas direciona o grupo ocasionando mais interação às aulas aconteciam no local e expediente de trabalho. A seleção do conteúdo curricular ocorria de acordo com a realidade social do educando, por ser uma experiência inicial na zona rural da Guiné, Freire selecionava as palavras mais utilizadas entre eles, o que ele nomeia de mapeamento das pala-vras geradoras, para que a aprendi-zagem tivesse um sentido concreto ao mesmo, uma junção de trabalho manual e educação, quando o con-texto envolvia educando das ci-dades, tal como a capital Bissau, era

selecionados conteúdos que fizesse parte do seu dia a dia. Essa opção em tornar o ensino o mais concreto pos-sível não surgira por acaso, tratava-se de reparar um dano deixado pelo colonizador, à educação colonial era completamente excludente, ler e es-crever não faziam o menor sentido para uma criança ou cidadão nativo. Mas, a partir do momento que hou-vesse uma junção entre seu mundo e a educação, tornava-se nítido qual a intenção do PAIGC em adotar um plano de ação curricular para os guineenses.Partindo do princípio de “educação como prática de liberdade” nos re- metemos a uma conclusão de que em algum momento a opressão se fez presente, no caso da Guiné fora evi-dente, afinal por quatrocentos anos de presença dos lusitanos propagando sua superioridade e poder, tanto de domínio territorial como ideológico acarretou um forte dano social.Enxergamos a atuação de Paulo Freire um passo significativo para a história da educação da Guiné-Bissau, pois teriam acesso ao ensino sem a im-posição e sim com diálogo, aproxi-mação, conscientização e valorização social sem medo ou vergonha de per- tencer à África, de ser um guineense, ou seja, o círculo de cultura tornara-se um novo ambiente para uma socie-dade recém liberta.Cabe ressaltar que Paulo Freire olhou para a Guiné nos mínimos de-talhes, desde a escolha das palavras geradoras, métodos de ensino para jovens, adultos e crianças, locais e coordenadores para atuação, ensino totalmente na língua materna, o cri-oulo, mas deparou-se com algumas dificuldades como tudo era oraliza-do não fora possível transcrever em

curto prazo todo material a ser uti-lizado nos círculos de cultura, tanto pela questão econômica- o país es-tava abalado em virtude do processo de descolonização-, mas a educação enquanto ato político não poderia ser postergado. A alternativa para que os projetos saíssem da teoria e fossem colocado em prática fora utilizar o português como língua oficial, mas ressaltando a importância de direcionar o cur-rículo educacional de acordo com as necessidades do país, contemplando desde Bissau, a capital, a zona rural. Essa ação proporcionou resulta-dos significativos. Entre os anos de 1963-73 fora possível visualizar a al-teração no contexto educacional do país: o quadro de formação contava com trinta e seis pessoas com en-sino superior concluído, trinta e um em andamento, cinco pós-universi-tários, quarenta e seis com o ensino médio-técnico concluído e trezen-tos e oitenta e seis em andamento (Cá, 2008, p. 98),o que nos remeta a concluir que sem a intervenção do brasileiro Paulo Freire o PAIGC não conseguiria começar a independên-cia na escola.

Imagem: blogueforanadaevaotres

1 - OLIVEIRA, V, G. O Processo de Independência da Guiné-Bissau: As contribuições da educação libertadora de Paulo Freire. 2010. 67p. Trabalho de Conclusão de Curso- Faculdade de História. São Paulo: Faculdade Santa Izildinha- FIESI, 2010.2 - Fundado por Paulo Freire em 1971, em Genebra o Instituto de Ação Participativa contava com a atuação de Claudius Ceccon, Miguel e Rosiska Darcy de oliveira, todos brasileiros que assim como Freire, estavam exilados. Atuavam em Genebra, Cabo Verde, Angola, São Tomé e Príncipe e na Guiné-Bissau projetando na educação do século XX uma eficácia intelectual.3 - Tuga significa portugueses no idioma materno da Guiné-Bissau, crioulo.4 - Para maiores informações referente a seleção das palavras geradoras há um estude de Freire, 1978.

Primeiro caderno de Educação do PAIGC

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No início do século XX, Santos mal tinha saído da categoria de Vila para ser elevada em

26 de janeiro de 1839 para a condição de cidade, passava por uma situação onde o saneamento básico precário e bem pouco desenvolvido, e trazendo a tona o aspecto colonial de Santos e de muitas cidades do Brasil.Sendo uma cidade litorânea, a proli- feração de diversos tipos de doenças que vinham da crescente quantidade de mosquitos de onde hoje ficam os bairros perto do centro da cidade de Santos. Com essa grande diversidade de doenças e seu avanço pela cidade, o Governo do Estado de São Paulo entra em ação.Em 1903, o governador Bernardino de Campos cria a Comissão de Sanea-mento de Santos para que se possa arrumar a cidade e controlar todas as epidemias encontradas no municí-pio. Mas somente no ano de 1905, nas mãos do Engenheiro Sanitarista Fran-cisco Saturnino Rodrigues de Britto, mais conhecido como Saturnino de Britto, revoluciona e muda a cara da cidade e o que será uma grande vitória e avanço para o saneamento básico do Brasil.Mas quem seria Saturnino de Britto e o onde que ele revoluciona e trans-forma a cidade de Santos e outras como Vitória e Petrópolis? Quando uma pessoa visita a cidade de Santos e pergunta há algum munícipe “onde você mora?”, provavelmente irá ouvir a seguinte resposta: “moro perto do Canal 5, na Rua Liberdade”. A maior contribuição vinda de Saturnino de Britto foi à construção dos Canais em toda a cidade. Ao todo foram nove ca-nais projetados por Sartunino e mais

seis construídos pela Prefeitura fora do projeto original.Não irei colocar a estória dele desde seu nascimento na cidade de Cam-pos (Rio de Janeiro em 14 de julho de 1864) até a o seu falecimento na cidade de Pelotas (Rio Grande do Sul em 10 de março de 1929). E sim ver sua formação acadêmica e o plane-jamento dos canais para a cidade.Considerado pioneiro na área de en-genharia sanitária no Brasil, formado em engenharia civil pela Escola Poli-técnica do Rio de Janeiro em 1886. Mas antes de vermos atuando na área de saúde pública, o vemos traba- lhando como idealizador de ferrovias em cidades do interior do Brasil, como as de Leopoldina (MG), Tamandaré (PE), Baturité (CE) e Piracicaba (SP). Mas podemos pensar em como que um engenheiro ferroviário pode chegar ao ponto de se interessar por

questões da saúde pública das ci-dades do século XIX para o século XX. Ao fazer as modificações para a construção das ferrovias dessas ci-dades, Saturnino foi fazendo levan-tamentos topográficos. Com esta ex-periência foi fundamental para sua decisão de mudar de área na engenha-ria. E isso acontece na cidade de Pi-racicaba, em 1893.Quando foi chamado para projetar as fer-rovias da cidade e já com o sua experiência nos levantamentos de topografias feitas em outras locais, foi incumbido a Saturni-no o projeto da rede de esgoto da cidade de Piracicaba. Depois de uma pequena parada no mesmo em que projetou começou a rede de esgotos e começaria a revolucionar e solucionar muitos proble-mas de saúde na época, ele dá uma parada no mesmo ano para alistar-se junto ao Marechal Floriano Peixoto contra o os re-voltosos da Revolta Armada.

Inundação da então Rua Santo Antonio (atual Rua do Comércio, no bairro do Centro), em 1905.

Imagem: Reprodução: A Campanha Sanitária de Santos - Suas causas e seus efeitos

Francisco Saturnino Rodrigues de Britto: O Modelador da Cidade de Santos

LUIZ FELIPE PEREIRA DE ALMEIDA

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Quando volta a assumir sua profissão em 1894, a partir daí ele irá ajudar a montar diversos planos de saneamen-to em muitas cidades do Brasil, entre elas: Petrópolis (1898), Paraíba do Sul (1899), Itaocara (1900) e Campos (1901) no estado do Rio de Janeiro. Entre 1905 e 1909 na cidade de Santos e em Campinas 1906 no estado de São Paulo. Saneamento da cidade do Rio Grande (RS) em 1909; saneamento de Recife (PE) de 1909 a 1918; esgotos da cidade de Paraíba do Norte (PB) em 1913, parecer sobre as obras de sanea-mento de Belém (PA) em 1914; sanea-mento da cidade de Curitiba em 1920; saneamento da Lagoa Rodrigo de Freitas (RJ) em 1921-1923; regulari-zação do Rio Tietê (SP) em 1923.Mas foi em Santos que irei focar um pouco mais de sua obra de engenha- ria. A política de saneamento da ci-dade de Santos começa a partir de 1897, mais precisamente no dia 24 de maio quando o Governo do Estado outorga para a empresa canadense The City of Santos Improvements Co. Ltd. concessão dos serviços da cidade. Mesmo com essa concessão feita à em-presa do Canadá e como já foi dito no início deste artigo, Saturnino aparece e não planeja somente uma resolução temporária e sim planeja algo para o futuro da cidade santista. Com seu projeto da rede de esgoto, que é en-tregue em 1912 ajuda não somente os moradores, mas também na estrutura do porto que estava sendo construído como é conhecido hoje, mesmo sem a estrutura básica de saneamento.Mas o principal legado dele tanto como funcional e não podemos es-quecer na modificação urbana, foram os canais espalhados pela cidade. Servindo para drenar as águas das chuvas para que não ficassem estagna-das e para acabar com as proliferações de diversas doenças que atacavam a região.O primeiro canal (na região da Baixa-da Santista conhecidos como Canal 1, Canal 2 e assim até o 7) inaugurado em 1907 com um pequeno trecho no

bairro no do Paquetá e sendo comple-tado em 1910 junto com o canal 2. O canal 6 veio em 1919, os 3 e 4 aparecem em 1923 e o 5 em 1927. Ainda há os canais que não acabaram recebendo a “numeração” pelos moradores que são os canais que encontram-se na frente da Santa Casa de Santos (na Av. Fran-cisco Manoel em 1911), outro perto do Orquidário de Santos (Avenida Barão de Penedo em 1912) e outro na Av. Doutor Moura Ribeiro (1912) que foi o último dentro do plano original, montado por Saturnino.Os planejados pela Prefeitura e en-tregues em 1968 foram os da Av. Gen. San Martin (onde a população o cha-ma de Canal 7), no final da Av. Afonso Pena (para ligação com o cais) e um na Av. Jovino de Melo onde são encon-trados os bairros da Zona Noroeste de Santos.Podemos ver que além de mudar a cidade no visual e virar para a popu-lação referência para os bairros, às praias e ruas o cotidiano das famílias residentes em Santos acaba tendo modificações na qualidade da saúde também.Os benefícios sanitários trazidos pela instalação dos canais foram vistos dentro das casas. Além do sumiço e a redução de diversas doenças e mos-quitos na região terem diminuído,

veio vasos sanitários e canalização dos detritos para serem levados para os locais próprios de despejo. E lem-brando que todos esses equipamentos vinham de fora do Brasil e com o pro-jeto de Saturnino concluído era agora de extrema importância a importação e anos mais tarde a fabricação em ter-ritório nacional.No jornal A Tribuna, mostra-se a sa- tisfação da obra de Saturnino de Britto nos cinquenta anos de finalização dos canais de Santos:

Nessa obra não se sabe o que mais admirar: se o patrio-

tismo ou a lição técnica de um pro-jeto perfeito ou ainda a economia do trabalho organizado, a ordem e a segurança observadas no correr da execução desse serviço, que teve como continuadores do magnífico plano de Saturnino de Brito, na direção da Repartição de Sanea-mento de Santos, os abalizados engenheiros Miguel Presgrave, José Luiz Gonçalves de Oliveira, Egí-dio José Ferreira Martins, Plínio Penteado Whitaker e Aristides Bastos Machado, seu atual diretor.( A T R I B U NA , 2 6 d e m a r ç o d e 1 9 4 2 )

Saturnino de Brito

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: reprodução/arquivo do antigo jornal Cidade de Santos

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Adoniran tantas vezes cantado, tantas vezes admirado e tan-tas vezes analisado, é difícil

escrever algo novo sobre Adoniran ou sobre sua relação direta ou indireta com a cidade de São Paulo, a Profes-sora Maria Izilda Santos de Matos o fez muito bem em seu livro e texto publicado nos Anais do XIX Encontro Regional da ANPUH/SP A cidade, a noite e o cronista: São Paulo de Ado- niran Barbosa , neste artigo o objetivo é refletir um pouco mais sobre as mu-danças (e permanências) pelas quais a cidade de São Paulo passou e pela óptica e poética de Adoniran Barbosa.

Talvez a canção mais conhecida de Adoniran Barbosa O Trem das Onze, cantada por seus interpretes mais fa-mosos e longevos Demônios da Ga-roa, é também mais emblemática das mudanças estruturais que ocorrem em São Paulo ao narrar as desventuras de um enamorado para chegar em casa ele mostra uma São Paulo já em pleno processo de urbanização, porém com falhas óbvias neste processo há o trem mas não o tempo todo, ele tem hora para parar de funcionar, o que ironicamente nos quase 50 anos após a composição da música (1964) ainda é verdadeiro para uma megalópole

como São Paulo. A música repleta de cenas cotidianas mostra a São paulo dos anos 60 do século XX:

“(...)Não posso ficarNem mais um minuto com você

Sinto muito amorMas não pode serMoro em Jaçanã

Se eu perder esse tremQue sai agora às onze horasSó amanhã de manhã(...)”

Compositor, rádio ator, locutor, ator cômico, foi na rádio Record que conheceu Oswaldo Moles, redator dos programas de humor com leves críticas e observações da sociedade paulistana que Adoniran Barbosa conheceu a fama, segundo os artigos consultados para a realização deste trabalho que Adoniran possivelmente adquiriu um olhar mais apurado so-bre a cidade de São Paulo influen-ciado pelo trabalho junto com Moles, se nos primeiros anos de sua carreira suas composições e tipos criados para a rádio eram frutos da observação da múltipla ocupaçãomigrante e imigrante de são Paulo, a partir de Moles passam a ser também das dores causadas pelo urbanismo, se o processo de Hausmanização é co- nhecido por ter acontecido no Rio de Janeiro no início do século XX, o mes-mo pode ser estendido para São Paulo em vários períodos, pois segundo pro-fessora Maria Izilda :“A cidade de Adoniran encontra-se atravessada pelos pressupostos da dis-ciplina e da cidadania, passando a ser reconhecida como espaços de tenções.(...) tornando a questão da moradia

Adoniran Barbosa e a urbanização excludente da cidade de São Paulo

HELAINE LUCIANE DA SILVA VIEIRA

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uma tensão do momento.” essa São Paulo é excludente e empurra a popu-lação mais pobre para as periferias e que vive em moradias improvisadas que o poder público derruba afir-mando ser insalubre ou insegura é na realidade considerada barreira para o progresso urbanizador segundo Ma-ria Izilda, Saudosa Maloca (1951) bem anterior à Trem das Onze, é a mais representativa desta observação sobre a moradia popular feita por Adoniran e também cantada pelos Demônios da Garoa:

“Si o senhor não "tá" lembradoDá licença de "contá"

Que aqui onde agora estáEsse "edifício arto"Era uma casa véia

Um palacete assombradadoFoi aqui seu moço

Que eu, Mato Grosso e o JocaConstruímo nossa maloca

Mais, um diaNóis nem pode se alembrá

Veio os homi c'as ferramentasO dono mandô derrubá

Peguemo todas nossas coisasE fumos pro meio da rua

Aprecia a demolição”

Adoniran observou nesta canção o constante “afastamento” forçado da população mais pobre para a peri- feria, essa expansão periférica de São paulo também pode ser vista nas can-ções de Adoniran, a professora Maria Izilda em seu artigo supracitado dest-aca os bairros recém-nascidos como Vila Esperança, VilaMatilde e Moóca são temas e aparecem em várias canções de Adoniran como Samba do Arnesto (1953), Saudosa Maloca, Trem das Onze, Vila Espe- rança (1968) entre outras.A eletricidade outra marca da urbani-zação de São Paulo também é cantada nas suas contradições por Adoniran, se ela existe no centro desde o iní-cio do século XX, nas periferias ela chegou , porém mais tarde e sujeitas a irregularidade de serviço, a letra da

música de 1964, demonstra a dificul-dade na vida das pessoas que habita-vam os bairros mais distantes devido a falta de luz:

“Lá no morro quando a luz da light pífa

A gente apela pra vela, que alumeia também (quando tem)Se não tem não faz mal

A gente samba no escuroQue é muito mais legal (e é natural)

Quando isso aconteceHá um grito de alegria

A torcida é grande pra luz voltarSó no outro dia

Mas o dono da casaEstranhando a demora e achando

impossívelDesconfia logo que alguém passou a

mão no fuzílNo relógio da luz”

Outro marco urbanístico é o carro, que também aparece na canção de Adoniran, em Iracema de 1956, mas não de forma muito positiva, afinal ele ( o carro) matou seu amor:

“Iracema, FALTAVA VINTE DIAS PARA O NOSSO CASAMENTO,

QUE NÓIS IA SE CASAR.VOCÊ ATRAVESSOU A São João,

VEIO UM CARRO, TE PEGA, E TE PINCHA NO CHÃO.

VOCÊ FOI PARA ASSISTÊNCIA Iracema,

O CHOFER NÃO TEVE CULPA IRACEMA,

PACIÊNCIA Iracema, Iracema...

A São Paulo de Adoniran Barbosa mais que urbana é contraditória e ex-cludente, pois se moderniza porém afasta, maltrata e por vezes persegue a população mais pobre, ao mesmo tem-po exibe um progresso em termos de urbanização e mantém um permanên-cia em excluir os mais pobres em nome deste progresso, Adoniran se estivesse vivo hoje teria o curioso sentimento que no fundo algo não mudou, enfim permaneceu, além de suas canções. Imagem: Reprodução

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A Câmara de São Paulo apro-vou projeto de lei, de autoria dos vereadores Tenente Conte

Lopes e Coronel Camilo, que proíbe a realização dos chamados bailes funks nas ruas e espaços privados de trân-sito público (leia-se postos de gasolina e estacionamentos) da cidade. O pro-jeto aguarda posição do prefeito e ali-menta polêmica entre frequentadores e críticos desses eventos.Letras de fácil assimilação e que não exigem um grande conhecimento Aureliano do vocabulário. Essa é a definição clássica do ritmo musical que embala as noites nas ruas de di-versos pontos da periferia paulistana. Mas, a definição social de funk e suas festas públicas é bem mais complexa – e divergente – do que isso. O número de bailes funk na peri- feria paulista não para de crescer. E junto com o número de pontos e de freqüentadores cresce o número de queixas de vizinhos, transeuntes, pais, autoridades policiais e até mesmo de pessoas que só ouviram falar de tais bailes em matérias televisivas ou outras mídias.Os adjetivos que cercam esses eventos são muitos. Porém, a imagem nega-tiva é a que, nos últimos tempos, está desencadeando fortes debates. Os contrários a sua realização fazem um alarido descomunal igualando seus espaços a um abrigo noturno a céu aberto para a diversão de marginais; outros como uma escola para a de-linqüência juvenil; e ainda há os que apresentam esses espaços como nada mais do que “terra da promiscuidade”.Do outro lado estão seus incentiva-dores e defensores, frequentadores ou não. O álibi de que a História não

anda para trás e que a cultura é plural e diversificada é o enredo dos defen-sores de plantão. Na ponta disso está uma juventude cansada de esperar por ter acesso ao lazer de consumo da nova classe média. Não há dinheiro para frequentar as boates ou até mes-mo bailes funks privados – também pouco regulamentados pelo poder público. Essa juventude alega criar muito com a arte do improviso do pouco. Basta um ou dois carros de marca popular com uma adaptação no sistema de som somado a um pen drive com co-letânea dos 12 sucessos do mês – mês que vem serão outros 12 – e pronto. Está bloqueada uma via da periferia paulistana com adolescentes e jovens sem limites legais. De um lado o coro da vizinhança que não aguenta mais

“essa gente falar de putaria e crime” e do outro o frequentador e o seu local de diversão liberada.A Polícia tem desmobilizado esse tipo de evento alegando o uso de “força moderada”. Mas, recente-mente dois jovens morreram em confronto com policiais e diversos equipamentos públicos foram de- predados na zona sul da capital. O 190 da Polícia Militar recebe deze-nas de ligações denunciando os mais diversos crimes – tráfico de drogas, consumo de bebida alcoólica por menores, furtos e até estupros. Sen-do impossível a verificação das ocor-rências – por questão de segurança as viaturas não podem aproximar-se sozinhas – são enviados comboios da Força Tática para dispersar a multidão.

Sexo, Drogas e Funk nas ruas Paulistanas

DAVID DOS SANTOS OLIVEIRA

Imagem: Reprodução

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Em meio a essa confusão a sociedade civil e o poder público permanecem discutindo se a proibição definitiva é ou não uma resposta concreta. Em- bora o baile funk possa ser considera-do um evento cultural, pautado por uma série de situações – causa-conse-quência – ainda não explicadas, seus problemas são notáveis: o petiz de 13, 14 ou 15 anos é exposto a muitas musicas – não todas – que fazem apo-logia ao crime organizado (chamado de funk proibidão) e propagação da ideia do furto ou assalto como meio mais fácil de se conseguir o objeto de consumo tão desejado. Ou mesmo a própria ideia do consumismo em si (este chamado de funk ostentação):

Novinha Chora(MC Lon)

“Quando nóis chega, nóis apavoraDe R6 de Corolla

Pede pro brilho da cordaE nota que a minha Pólo é foda

Meu bolso tá um aquárioÉ disso que elas gosta”

O eco dessas letras é perceptível no comportamento cotidiano dos jovens que bradam a vontade de possuir algo material além das reais possibilidades que lhe são ofertadas. É um furor re- volucionário e instantâneo. Só que re-cheado de egocentrismo – o consumo individual – e de desumanização – a preocupação exacerbada com o mate-rial e não com o bem-estar humano.A resposta para essa realidade está sen-do elaborada por dois polos opostos: uma geração - que está no poder - rega-da a músicas e músicos que alçaram o topo do sucesso com a apologia pública ao uso de substâncias ilícitas e o amor livre – Jim Morrison, Bob Dylan, Jhon Lennon – formando inclusive a tríade: sexo, drogas e Rock’ n Roll. E do ou- tro lado a chamada “bancada da bala” composta por policiais reformados e que enxergam no funk a causa – e não consequência – da degeneração moral da juventude moderna.

Alem disso é bem verdade que a peri feria melhorou em estrutura. Mas, melhorou tarde e ainda não o sufi-ciente. Pessoas que não se consideram parte de um sistema procuram ma-neiras de reinventar esse mesmo sis-tema. É nessa linha que o baile funk se expande por todos os lados. Em uma rápida pesquisa no Google notí-cias localizei: Taubaté, Cachoeira Pau-lista, Guarulhos, e até outros Estados: Belo Horizonte – MG e Brumado – BA com atos de repressão ao funk e denúncias de abuso policial. Seguindo o exemplo de Marcelo Adnet no filme “As Aventuras de Agamenon”

– o ator faz um Funk da FEB (Força Expedicionária Brasileira) – podemos torcer por uma evolução neste gênero – ritmo, estilo ou como queiram clas-sificar –, mesmo e necessariamente acoplada a sua origem periférica, para um patamar mais rebuscado e mais útil ao desenvolvimento do conheci-mento humano. Desta forma, minha vizinha, talvez pare de colocar a culpa do aumento dos assaltos no bairro nestes “jovens perdidos na vida” e a bancada da bala aprenda que o tacape não fará os jovens mudarem sua (tris-te e real) opinião sobre a sociedade contemporânea.

Imagem: Reprodução

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No século XIX, os efeitos sociais causadas pela industrialização “(...) tais como o acúmulo de

gente nas cidades, falta de moradia, desemprego periódico, queda de sa-lários, doenças (...)” (Romero, p.71) atingiram se ápice e começaram a preocupar intelectuais de toda a Eu-ropa, um destes intelectuais é Francis Galton, primo de Charles Darwin, que, inspirado pelas teorias evolu-cionistas, formulou a Teoria da Eu-genia defendendo o aprimoramento da raça humana através da seleção artificial. Segundo Marques (1994), essa nova ciência visava promover o bem do gênero humano por meio das boas predisposições hereditárias e da restrição ou anulação das más, tanto física quanto psíquica. Pode-se, portanto, dividir a Eugenia em eugenia positiva, que se resume no estimulo do casamento entre pessoas bem-nascidas, também chamadas de eugênicas, eram pessoas que pos-suíam as características desejadas para a sociedade da época, levando assim, ao nascimento de indivíduos com ca-pacidades superiores. Por outro lado, temos a eugenia negativa, que visava a eliminação ou controle da população disgênica, ou seja, pessoas que pos-suíam características pouco proveito-sas para a sociedade industrial con-temporânea como deficientes físicos e mentais, pobres, alcoólatras, promís-cuos, etc.No Brasil esta teoria começa a ganhar força no início da República, quando o Brasil buscava um novo modelo de desenvolvimento e organização social. Vários intelectuais brasileiros enxer-gavam no atraso do país um problema social e racial começando, então, a

defender que o desenvolvimento bra-sileiro só ocorreria através de uma hi-gienização da raça.

“A população não seria doente porque era miserável. Pelo con-trário, a miséria do povo é que seria fruto tanto da doença, da escravidão do homem ao verme, quanto da ignorância, plasma dos males que empobreciam a terra e enfraqueciam o povo, fazendo-o mergulhar na incapacidade. Es-tava, portanto, justificada a an-gustiosa dúvida sobre o futuro do Brasil (...)” (Romero, p.72)

A Eugenia vinculava o progresso dos países à capacidade biológica de seu povo. Coisa, que no Brasil causou um grande impacto nos intelectuais preo-cupados com a questão nacional, uma vez que a população brasileira era uma miscelânea de raças. Vários in-telectuais defendiam que o atraso do país era um problema racial e adota-ram as ideias eugênicas como forma de “aprimorar” o país e sua gente.

“No início do século XX, o Brasil era definido por muitos coo um ‘país doente’, ‘um imenso hospi-tal’ como definia Miguel Pereira. Pelo menos para um grupo de intelectuais brasileiros ligados ao pensamento médico-sanitarista, a solução destes problemas de-penderia acima de tudo de amplas reformas sociais, morais e sani-tárias, capazes de restabelecer a saúde e o vigor da nacionalidade. Quando as ideias eugênicas foram apresentadas no Brasil durantes os anos 1910, acreditava-se que suas

propostas regeneradoras poderiam contribuir para melhorar as con-dições físicas, mentais e heredi-tárias da população, higienizando e saneando o país.” (Souza, p.154)

Por outro lado, a Eugenia validava a desigualdade social vigente no país já que, segundo Marques (1994), as teo-rias raciais relativizavam as igualdades políticas e sociais com argumentos ditos científicos, redimensionado a preocupação das elites com as classes mestiças e pobres determinando as desigualdades sociais como “naturais”, além disso, apontava uma saída para o impasse da mestiçagem através do branqueamento de sua população. Substituía-se, assim a cidadania pela etnia. São Paulo, dentro do cenário de mu-danças ocorridas no Brasil era o labo-ratório ideal para a prática da Eugenia uma vez que “o espaço urbano era ocupado por pessoas de todas as raças, nacionalidades, culturas e de diferente poder econômico. Cruzavam nas ‘re-cém-inauguradas avenidas’ burgueses, proletários, mendigos, prostitutas, re-tirantes (...).” (MARQUES, p.18).Um dos eugenistas mais influentes de São Paulo foi o farmacêutico e mé-dico Renato Kehl que promoveu uma grande campanha de divulgação da ciência no meio intelectual brasileiro. “Entre 1917 e 1940 Renato Kehl as-sumiu a propaganda eugênica como missão política e intelectual, o que lhe rendeu o título de ‘pai da euge- nia no Brasil’, como se referia o escri-tor Monteiro Lobato.” (WEGNER, SOUZA, 2013). Renato Kehl realizou várias conferências no Brasil e em vários países defendendo as práticas

Renato Kehl e a sociedade eugênica de São Paulo(1918-1919)

HELENA PEREIRA BURANELLO

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eugênicas. Algumas de suas obras são: Eugenia e Medina Social, A Cura da Fealdade e Lições de Eugenia. Faleceu em 1974.São Paulo, nas primeiras décadas do século XX, já era considerada a segun-da maior cidade do Brasil e a terceira da América Latina e passava por uma série de agitações sociais. Segundo Romero (2002), o aumento da popu-lação sofreu um grande impacto com o crescimento da imigração. Em, 1920, um terço da população havia vindo de fora. Além disso, a cidade atraía tipos ‘pervertido’ que promoviam a dege- neração física e moral da cidade.

“Essa população foi definida pelos médicos como degenerada, suja, doente, vagabunda, revoltosa, que, usufruindo perigosamente do direito de ir e vir, ameaçava todo corpo social, insinuando-se no seio mesmo da elite, pelas doenças que transmitia e pelos imundos cor-tiços que fazia brotar nos bairros residenciais.” (Romero, p.21)

É neste cenário que Renato Kehl funda em 15 de janeiro de 1918 a Sociedade Eugênica de São Paulo que, segundo STEPAN (2005) foi o primeiro passo organizado da eugenia na América Latina. A Sociedade surgiu de uma discussão sobre a revisão do código matrimonial civil da nação, que pre-tendia legalizar casamentos consan-guíneos, coisa a qual a maioria dos médicos se opunha.A Sociedade passou a se reunir pe-riodicamente, organizando também palestras e conferência divulgando a eugenia na cidade e a reação foi fa-vorável “a eugenia doi saudada como uma nova ciência capaz de introduzir uma nova ordem social por intermé-dio do aperfeiçoamento médico da raça humana” (STEPAN, p.57). Segundo DIWAN (2007), Kehl pen-sava a questão nacional sob a pers- pectiva da cura e da regeneração. Para ele três medidas deveriam ser implan-tadas: a separação dos tipos eugênicos, a

eliminação dos fatores disgênicos e o minucioso controle da imigração. A imigração era vista como possibi-lidade de redenção para a nação uma vez que, segundo Romero (2002), no cruzamento com o imigrante eu-ropeu estava a grande esperança para a harmonização do tipo nacional e eliminação do ripo negro. Porém, viam como necessário o controle imi-gratório para evitar uma degeneração ainda maior da população evitando que entrasse a entrada no país de tipos inadequados. Por outro lado, visando fortalecer o branqueamento, houve uma grande tentativa de eliminar o risco da imigração negra e asiática.Segundo Marques (1994), a Sociedade Eugênica de São Paulo tinha como preocupação central a hereditarie-dade e a influência do meio sobre as aptidões físicas, intelectuais e morais da população e pautava suas ativi-dades nos estudos da hereditariedade, educação moral, higiênica e sexual,

regulamentação do casamento e re- gulamentação e sujeição dos indese-jáveis. Tal preocupação ocorria, pois, “Seriam hereditárias, portanto, a in-teligência, as aptidões, as qualidades morais.” (Romero, p.119)Apesar de sua curta existência, a Socie-dade Eugênica de São Paulo, encerrada em 1919, nos revela muito do pen-samento da elite paulistana do período e a inadequação de uma democracia em um território onde a desigualdade foi pautada pela escravidão durante sécu-los. O advento da democracia trouxe consigo um discurso de exclusão pau-tado em teorias científicas que valida-vam a relativização da cidadania de tipos considerados inferiores pelas leis biológicas da seleção. As teorias raciais transformaram as desigualdades soci-ais em desigualdades genética nos in-divíduos excluindo de suas explicações os fatores históricos e naturalizando a dominação de determinadas camadas da população.

Imagem: Reprodução

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“A função da arte é construir imagens da cidade que sejam novas, que pas-

sem a fazer parte da própria pai- sagem urbana. Quando parecíamos

condenados às imagens uniforme-mente aceleradas e sem espessura,

típicas da mídia atual, reinventar a localização e a permanência. Quando

a fragmentação e o caos parecem avassaladores, defrontar-se com o

desmedido das metrópoles como uma nova experiência das escalas, da

distância e do tempo. Através dessas paisagens, redescobrir a cidade”.

A experiência da arte na cidade pode ser bastante variável. A paisagem urbana revela

letreiros, logomarcas, murais, grafites, pichações e esculturas, além das vari-ações que apresentam entre si.Se pensamos a escultura como exemplo, há uma distância (tanto de produção, categoria e interação) entre os bustos esculpidos no século XIX que homenageavam figuras oficiais em da-tas comemorativas em praças públicas a esculturas que compõe a paisagem da cidade a partir da segunda metade do século XX. A distância contém a característica temporal atribuída às es-pecificidades históricas das épocas em que foram produzidas, as particulari-dades artísticas de quem as criou, mas também a finalidade de sua exposição em espaços públicos: martirizar, con-tar uma história, contemplar, provocar, interagir.Muitas esculturas (e outras artes) a partir da década de 1960 foram criadas sob a perspectiva do abstracionismo,

que em contraposição ao figurativo, ou seja, a arte que respondia a não se limi-tar apenas pela “imitação do mundo” ou da forma; e o artista também con-quista a liberdade de atuação. No en-tanto, a expansão acontece na década de 80-90 no Brasil, período após a di-tadura civil-militar, uma brecha mais democratizante e globalizada para a cultura que impulsiona o mercado da arte contemporânea brasileira.

“O abstracionismo informal teve no Brasil um grande número de adeptos de origem nipônica, vários deles mestres na hibridação entre as formas próprias da cultura e arte de seu país de origem ou ascendên-cia e aquelas que se desenvolveram no ocidente pouco antes e ao redor da II Guerra Mundial”.

É nesse contexto que começa a produção da artista Tomie Ohtake. Ela nasceu em 1916 no Japão, mas mudou-se para o Brasil e se naturalizou. Começou a pin-tar somente em 1952 quando utilizava o figurativo para registrar a paisagem ur-bana. Na década de 1960 Tomie deixa o figurativo para criar suas obras abstratas.

É importante visualizar que o abstracio- nismo desse período não é somente o abstracionismo geométrico, como aquele proposto pelas primeiras vanguardas, mas um abstracionismo conhecido como “lírico” ou “informal”, que tem por objetivo a representação poética da vida e da natureza, e permite a multiplici-dade de interpretações. As pinturas de Tomie ficaram conhecidas pelos círculos e cores - cores nítidas que reúnem rigor e leveza em pinceladas de telas grandes, e inicialmente, de fundo branco. A artista também produz gravuras e esculturas, e a exposição em local público é uma ca- racterística marcante nas obras de Ohtake. Foi na década de 1990 que Tomie começou com o trabalho das escul-turas. Hoje elas podem ser encon-tradas em vários pontos da cidade de São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Santos – e também é muito comum que estejam associadas à comemo-ração do centenário da imigração japonesa, como a escultura que se en-contra na Avenida 23 de Maio em São Paulo e a escultura que está no jardim da orla de Santos.

Escultura na Cidade: A Arte de Tomie Ohtake

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A curva é uma dimensão marcante na escultura pública de Ohtake. Em meio às cidades verticalizadas, a obra contesta através de outra possibilidade de ser pensada entre os prédios, ave-nidas e túneis que almejam a simetria quase padrão; e as cores florescem da paisagem acinzentada da cidade do asfalto e concreto.A representação poética de Tomie não recebe títulos: “Acho que cada um tem o seu pensamento, seu sen-timento, não é? Então, quando é colocado nome, aí, pessoa fica preocupada. Quando não tem nome, é muito mais pensamento e sentimento puro”.Em Santos, a escultura que está lo-calizada na plataforma do Emis-sário Submarino, curvas enormes

e vermelhas estão na ponta do mar, no jardim da orla que foi projetado pelo seu filho, Ruy Ohtake. O jardim é um espaço onde você pode encon-trar pessoas caminhando, andando de bicicleta, levando o cachorro para passear, enfim, uma infinidade de in-teração ao ar livre e, inclusive, com a própria escultura onde as pessoas passam minutos contemplando, pen-sando, ou simplesmente fotografan-do-se. Não dá para negar a relação impactante da obra de arte diante da noção do espaço e do uso que a cidade, e portanto, a sociedade, faz dela. O tamanho, a cor, o movimento e a forma tornam-se parte da praça ou da orla, espaços de convívio.A produção de Ohtake é formada pela reflexão desenvolvida ao longo

do século XX conhecida como “cri-se dos paradigmas” que permitiu novas possibilidades interpretati-vas das áreas do conhecimento, mas também nas artes e linguagens. A escultura na cidade modificou-se através da emoção e do sentimento diante da apatia da cidade elevada ao capital e da sobrevivência no tempo espremido e apressado.Contudo, a escultura não se distan-ciou do aspecto comemorativo, en-comendada para o “centenário de imigração” revela que, mesmo nas inovações dos artistas abstracionistas, persiste um atributo de data e home-nagem, porém, não somente para uma história oficial, mas movida pela alter-nativa de interpretações constantes das obras e às histórias da cidade.

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1 - PEIXOTO, Nelson Brissac. Paisagens urbanas. São Paulo: SENAC, 2003.2 - FARIAS, Agnaldo. Arte brasileira hoje. São Paulo: Publifolha, 2009.3 - Disponível em: http://www.macvirtual.usp.br/mac/templates/exposicoes/exposicao_colecao/exposicao_colecao_abstracion-ismo1.asp4 - Disponível em: http://www2.tvcultura.com.br/culturanointervalo/perfil.asp?programaid=6

Imagem: Reprodução

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Sempre morei no interior. A capi-tal, São Paulo, visitada espo-radicamente, sempre me pareceu

distante e cinzenta. Nas cidades onde morei as pessoas cuidam das árvores nas calçadas, e é muito comum cul-tivarem um jardim ou pequena horta no quintal. Quando visito São Paulo procurando o "verde" através do olhar, percebo que a cidade não é tão cinza como aparenta. Uma árvore despon-ta na calçada, uma planta resiste em crescer entre a rachadura; uma praça, como a Luz, ou um parque, como o Ibirapuera. Entretanto, não é possível negar que a urbanização modificou radicalmente o natural, e como exem-plo, modificou o curso dos rios soter-rando e contaminando.Quando converso com os alunos so-bre meio ambiente, e pergunto-lhes o que é natureza, comumente eles dizem ser o "verde", as árvores, os rios, os animais. Aponto para a sala onde es-tamos e começamos a observar que a parede, a mesa, os livros, a janela (to-dos os objetos e o próprio espaço) são constituídos por elementos naturais.O meio ambiente evoca o ambiente humano, enquanto que a natureza traz a sensação de liberdade - de pouca interferência humana - embora essas ideias se modificaram ao longo da história (MENDONÇA, 2012). A definição de natureza é essa criação cambiante, e durante muito tempo as-sociada ao campo, parques naturais e jardins exuberantes. Não podemos nos dar ao luxo de ignorar o natural enquanto a cultura humana como agente sobre o meio, propiciando sig-nificados e usos dos seus elementos.Cronon escreve que o sentimento so-bre a natureza compreendido como

criação humana, e portanto, perten-cente ao momento histórico, torna vivo o desejo pelo wilderness, o sen-timento pelo último lugar que a civi-lização não "infectou", uma ilha num mar de poluição urbana-industrial. Portanto, não é raro ao assistirmos um documentário a constante repetição da palavra "selvagem" diante da na-tureza. Por outro lado, aquilo que convencionamos chamar por natureza existe independentemente de nós, mas apenas conhecemos através de categorias criadas. A experiência de ir à floresta ou ao parque para contemplar é algo bastante recente na história. Segundo o Portal da RMBA (Reserva da Bios-fera da Mata Atlântica):

"No século XIX foram criados vários parques urbanos no Brasil, especialmente os 'Passeios Públi-cos' destinados às elites e cara- cterizados pelos caminhos bucóli-cos, terraços, jardins, estátuas, lagos e chafarizes. A população menos abastada tinha seu lazer concentrado nas várzeas e vazios urbanos".

O pressuposto do século XIX para criação de parques foi usufruir das belezas cênicas. Já no início do século XX nascem teorias sob a concepção preservacionista em que o natural era aquilo que prescindia da presença ou atuação humana (BRITO, 2003). O preservacionismo pretendia a pro-teção contra a atmosfera industrial e urbana, interpretação em que o homem deveria ser o visitante a "ad-mirar", não o "morador a destruir" (DIEGUES, 1996). Por outro lado o

conservacionismo passou a uma con-cepção oposta à paisagística, abrindo o debate ao uso dos recursos naturais (SILVEIRA, 2000).Os parques urbanos também se modi-ficam concomitante ao processo de urbanização das cidades: "A partir dos anos 1950, com a ocupação dos vazios urbanos e o crescimento da classe média, amplia-se a demanda por parques voltados ao lazer das massas, com quadras esportivas, espaços para exposições e espetáculos, quiosques, restaurantes e playgrounds" (RBMA).A maneira como a sociedade significa a natureza, ou os seus espaços destina-dos ao "natural" - já que nem sempre eles se espalham pelo tecido urbano - dá pistas para observarmos os valores que germinam em cada cidade.

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“The Maze”

Cidade e NaturezaPATRÍCIA LEARDINI

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Hoje, na cidade onde moro, Sorocaba, acontece uma campanha esporádica de plantio de árvores, o Mega Plantio, porém concentrada em uma área so-mente, e preocupando-se justamente com dia do evento e sua quantidade exorbitante de mudas: o cuidado posterior ao plantio não é pauta do projeto e, indiretamente, a "natureza" que resolverá. Assim como outras ci-dades, as áreas mais arborizadas da cidade são os canteiros das avenidas e regiões principais (pelo fluxo de carros ou pelo valor econômico). Por outro lado, muito facilmente num terreno baldio em um bairro resi-dencial onde o mercado imobiliário é mais barato, não será raro encontrar uma placa "proibido jogar entulho", enquanto resíduos, móveis gastos e sujeira compõe a paisagem. Ape-sar disso, ainda é considerada uma "cidade verde".E nas metrópoles? Do jardim de pe-dra ainda brota a erva-daninha, e os ambientalismos persistem em alter-nativas, muitas já aplicadas e vividas, como a permacultura urbana e a bio-construção.O artista nova-iorquino Eric Drooker, ilustrador das capas da revista The New Yorker, semeia em suas gravu-ras o debate da cidade e da natureza. Ele também já ilustrou capas de dis-cos, livros, e é muito conhecido pela temática social e de gênero.Com certeza não somos a cidade mis-ta de floresta desenhada por Drooker, e tampouco o monstro de concreto que engole a própria vida. A recente discussão trazida pelos movimen-tos ambientais (há pouco mais de vinte anos) modifica o tecido urbano e a maneira de pensar a natureza, enquanto os problemas que per-manecem, ao exemplo do rio adoeci-do e da rua ocupada pela fumaça da gasolina, são documentos vivos sobre a paisagem urbana e os significados que as pessoas produzem sobre o es-paço, ainda que esta forma esteja bem longe de ser a mais eficiente e, infeliz-mente só foi percebida depois de uma

urbanização desenfreada onde a na-tureza fora considerada subalterna. Na ilustração “The Maze”, observamos a cidade como a ave que a sobrevoa: um labirinto nauseante, cor de areia, quase um deserto interminável - o labirinto-deserto são os edifícios que se esticam para cima, mas também se espalham sufocando a cidade: os seres que ali moram não aparecem, estão engolidos pela própria cidade.

Em “Last Stop” e “Native New York” a paisagem inusitada da flo-resta é ao mesmo tempo e espaço da cidade. Na primeira, a saída do metrô (ou trem), símbolos do transporte público, leva ao centro da mata onde a única referência urbana é a escadaria, e a verticali-dade da cidade é a verticalidade das árvores - é quase como se não houvesse separação entre cidade e natureza, porém o título sugere a floresta como “última parada”, iro-nia se pensarmos as florestas ainda existentes como últimas.Em “Native” há prédios e a estrutu-ra do trem, no entanto, o espaço que seria ocupado pelos carros está colorido pela mata e animais - da água emerge uma silhueta femi-nina tocando um instrumento e, poeticamente, a cidade parece har-monizada como uma melodia. In-clusive, há movimentos pelo mun-do que objetivam utilizar o espaço das ruas para outra razão que não os carros, como a convivência, por exemplo, ou para o transporte não poluente dos ciclistas.

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Imagem: Eric Drooker

“Last Stop”

“Native New York”

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Presentes desde a fundação de São Paulo, os ¨mercados¨(comercio), es-

tiveram presentes na região central de São Paulo, no começo era uma série de pequenas quitandas e mer-cadinhos que vendiam verduras, legumes e frutas, produzidos nas chácaras localizadas na região do vale do Anhangabaú.Inicia-se, a partir do ano de 1904, uma mudança na paisagem central, pois este comércio de verduras e legumes, foi crescendo e dando lugar a um grande centro comercial, sendo assim , a região que até então era de caráter residencial, passa a ser comercial. Além deste lugar, o comércio também se desenvolve em outras regiões cen-trais de são Paulo, no largo são bento e próximo ao pátio do colégio.

Com o desenvolvimento destas regiões para comércios, que até então eram, segundo relatos da época, sujas, sem ordem e em casinhas onde se amontoavam comidas de diversos gêneros, dai surge a preocupação com a cri-ação dos mercados de diversos produtos, não só do gênero ali-mentício.O desenvolvimento do comércio, ocasionou, grandes mudanças na fisionomia do centro da cidade, pois, os gêneros alimentícios, foram cedendo lugar a outros produtos, fazendo daquela área aproximar-se cada vez mais das características de hoje. Lojas das mais diversas mercadorias, ate- liers, pequenas oficinas e escritóri-os passaram a ocupar esta região.

Com a inauguração do marcado municipal, então localizado no fim da atual rua general carneiro (1890) e do mercado são João , na atual praça do correio (1890), as-sim muda novamente o panorama geral do centro e dos comércios, pois estes dois grandes mercados, deram inicio a uma nova maneira de comercio e também mudam a paisagem do centro novamente.Visando esta preocupação é criada em 26 de outubro de 1917 a primei-ra bolsa de valores em são Paulo a Bolsa de Mercadorias de São Paulo (BMSP), esta foi a primeira bolsa de mercadorias do Brasil, e foi al-cançando ao longo dos anos im-portante tradição na negociação de contratos agropecuários, particu-larmente café, algodão e boi gordo.Após a criação da bolsa, em 1918 foi realizada a primeira feira livre oficial de São Paulo, a partir desta ideia a prefeitura estabelece uma norma que cada bairro, tem que ter pelo menos uma feira livre por se-mana, porém só é oficializada esta ideia no ano de 1948. Nesta época é criado tam-bém o centro comercial do Pari, que até hoje é o maior centro de cereais de são paulo Porém é só a partir de 1914, que inicia-se os primeiros estudos para a centralização oficial da comer-cialização destes alimentos em um grande mercado central, construí-do a partir do projeto de Ramos de Azevedo, o mercado central foi

A Criação dos “Mercados” de São Paulo

RAFAEL LOCATELI

Imagem: Reprodução

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inaugurado em 25 de janeiro de 1933.Já no final da primeira metade do século XX, mais precisamente no ano de 1947, teve inicio o funcio- namento da primeira loja com sis-tema de auto serviço, pertencente ao Frigorifico Wilson. Era o inicio de uma verdadeira revolução, na forma de comércio, alguns anos antes da comemoração do IV cen-tenário, são Paulo conhece, pelas empresas eletrolux e avón o sis-tema de vendas porta a porta , em 1953, além de também surgirem os primeiros supermercados em são

Paulo, o Americano e o Sirva-se, e um ano após o primeiro supermer-cado Peg-Pag.Essa época, foi uma época de um processo de transformações na ci-dade e principalmente na região central, que sofreu vários proces-sos de alteração desde sua criação, devido a decorrente mudança comercial.Outra mudança que ocorre devido a este processo é a de urbanização central, pois até então, ainda tinham varias fazendas para abastecer o co-mércio local, com esta mudança na forma de comércio, as fazendas pas-

sam a ocupara áreas mais afastadas da região central e a maioria vão se instalando em regiões interior de são Paulo, isso interfere diretamente no abastecimento de mercadorias , que já se mostra falho desde o inicio. Vale lembrar que apesar de todas estas mudanças que foram ocorren-do, após a inauguração do mercado Central, o mercadão, como é cari- nhosamente chamado nos dias de hoje, ele passou a ser o centro co- mercial com gênero alimentício mais importante da cidade, tendo ainda sua importância nos dias de hoje .

Imagem: Reprodução

Fachada do Mercado Municipal de Sao Paulo

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“Considero a minha obra ide-ológica, sim, afinal, tudo o que ponho no papel está conduzido de forma a não ferir suscetibilidades, a agradar, a propor uma idéia positiva, otimista, a deixar uma marca, uma mensagem... É como estar falando e contando uma história para um filho, e para os filhos temos que contar verdades e passar exemplos. Coisas que há de sobra na nossa obra ficcional. (...) a criança necessita de conhecer realidades diferentes para sua boa formação de caráter. Porque a vida é assim e a criança, pelos ex-emplos, pela observação, pela sua própria experiência, vai escolher o caminho que menos dói e que mais vai contribuir para sua for-mação e crescimento” (SOUSA: 2005 in FERNANDES 2010 p 43).

Maurício de Sousa nasceu em uma pequena cidade do es-tado de São Paulo, Santa Isa-

bel em 1935, seu pai era Barbeiro e poeta, Antônio Mauricio de Sousa e sua mãe também poetisa, Petronilha Araujo, tem duas irmãs Mariza (já fa-lecida) e Maura.Mauricio de Sousa inicia sua ca-reira como desenhista de cartazes e pôsteres para ajudar no orçamento família, faz algumas ilustrações para jornais de Mogi das cruzes, cidade na qual foi morar com seus pais ainda criança. porem o sonho dele era se tornar um desenhista profissional en-tão ele pegar amostras dos seus tra-balhos e vai para são Paulo em busca de trabalho, inicia sua carreira como repórter criminal na jornal Folha da Manha.

Após 5 anos como repórter criminal ele apresenta para o jornal uma series de tirinhas em quadrinhos com um cãozinho e seu dono Bidu e Franjinha em 1959. Este é o inicio de sua carreia de cartunista que após este episódio apenas cresceram suas publicações em vários jornais e em 1970 ela lança sua primeira revista Mônica. Nos dia atuas as historias de Mauricio de Souza estão entre as mais lidas do pais entre crianças, jovem e adultos. os produtos com a marca Turma da Monica estão espalhados por varias lojas de diversos tipo de artigos, ali-mentícios, roupas, brinquedos entre outras. é muito difícil encontra alguém que não conheça um dos personagem criados por Mauricio de Souza.Em seus quadrinhos podemos per-ceber um representação de diversos personagem das cidades do Brasil e também de outras localidades no mundo. todos nos temos um vizinho briguento como a Mônica, um con-hecido com planos infalíveis para al-cançar os seus objetivos, uma amiga

comilona como a Magali, e aquele que adora jogar bola mais odeia tomar um banho como o Cascão. Estes person-agem, estão no cotidiano da cidade o tempo todo em nossas vidas, em vári-os momento delas, nos reconhecemos em cada um deles.Assim podemos ver o Mauricio de Souza como um grande observador da cidade, ele obseva as suas macelas,as suas qualidades, e representa a cidade em suas historias, fazendo criticas a esta cidade e também exaltando os la-dos positivos que ele encontra. Criando personagem em um cenário familiar a todos, levando seu quadrinho a vários tipo de publico não apenas no Brasil.

"Para abalizar a construção da imagem das personagens de Mau-ricio de Souza pelo viés da narrati-va literária, é necessário primeira-mente contextualizar sua obra na importância que hoje ocupa no mercado de quadrinhos nacional e internacional. Podemos arriscar que essa importância se deve não só pelas estratégias empresariais, mas também pelo desenvolvi-mento de um estilo e dinâmicas qrudrinística próprios represen-tados pela leitura, iconográfica, cenários, composição de cores, linguagem verbal e, principal-mente pela representação humana composta em suas revistas." (FER-NANDES 2010 p.42)

Quando cria os vilões que irão in-comodar a sua turminha, ele coloca nestes as coisa que considera ruim na saciedade como o Capitão Feio onde podemos encontra uma critica a so-ciedade que não respeita meio am

Maurício de Sousa: um observador da cidade

JULIANA ALVES BARONI Imagem: Reprodução

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biente, poluindo rios, o ar, em busca de riqueza. e neste momento que ele nos colocar a sua forma de observar a cidade, nos da indicio das coisas que ele vê como erradas e colocar o seus público a pensar sobre o assunto, in-tervindo na forma de agir daquela criança ou adolescente que não gos-tou das atitudes do Capitão Feio, e vibrou com a determinação da durma em impedir a destruição da natureza pressentida pelo o vilão.Desta maneira podemos ver que alem de representar a cidade e os person-agem que nela vivem , ele tem um intuído educativo e suas mensagem onde tentar passar para os seus lei-tores pequenas lições de certo e er-rado, de como conviver nesta cidade turbulenta e com vários problemas.Alem destes aspectos já falado podem-os perceber que com o passar do tem-po ele introduzir novos personagem para retradar aqueles personagem que era "excluídos" da sociedades, pes-soas com dificuldade de locomoção, quando a questão da inclusão social começa a ser debatida a turma ganha um novo amigo cadeirante, crianças com pais divorciados . entre outras questão que no inicio das revista não eram trabalhadas , nos mostra a carac-

terística observadora da cidade suada de Mauricio de Souza, e a sua preo-cupação de representar de trazer os novos elemento para as revistas.Ao acrescentar estes novos elemen-tos não é deixado de lato a critica a cidade, e nem o fator educacional das historias, mesmo com personagem temporários podemos ver que á uma reflexão sobre a temática colocada em foco, com a representações cria-das, podemos perceber que sempre ah uma análise daquela situação, e um posicionamento do autor sobre o tema seja este positivo ou negativo.Desta forma os seus personagem po-dem se confundir entre personagem de ficção e personagem de não ficção, onde suas criação são passados em pessoas que ele conhece, que vivem na cidade que convivem com ele e com outras pessoas, que transformam a ci-dade ele obversa a suas intervenções na cidade e no cotidiano das pessoas e as representa em seus quadrinhos de maneira critica não só a cidade mais também aos personagem que vivem nele a fazem parte da cidade. Estes personagem podem ser famosos como um artista um político, ou per-sonagem conhecido apenas por ele como os seus filhos que ganharam

personagens nos quadrinhos que representam cada um deles com suas características mais marcante, que são encontra em varias personagem diver-sos da cidade e não apenas naqueles que inspiraram a personagem.

"Por mais que a ilustração busque a retratação da realidade, é im-portante ressaltar que ela sempre achará no referente “inspiração”. Não importa, portanto, o quanto ela segue o real, mas no quanto ela o interpreta. Ela será ideológica no sentido de trazer consigo traços e ponderações do artista que a cria. O desenhista no momento da representação entra como um codificador da realidade." (FER-NANDES 2010 p. 43)

Mesmo naqueles personagens que surgem do não ficcional, ao levados para os quadrinhos ele bom neste um pouco de suas visão sobre a cidade, o personagem Pelezinho, não apenas uma, representação do jogador, uma visão de como o autor ver a relação ídolo do futebol e a sociedade, e como esta relação transforma a cidade e in-fluencia a mesmaAssim não podemos considerar Mau-ricio de Souza como um observador pacifico da cidade, ela a observa, ela a analisa e através dos seus quadrinhos denta levar para o seus leitores a sua observação para modificar a cidade mostrando os aspectos dos quais ele considera que devem ser mudados mais também aqueles que ele considera que deve permanecer igual. O bairro do Limoeiro não deixa de ser o bairro de todos, ou a escola, onde as macelas e qualidades da cidades que encontras nos lugares que vivemos também se repedem, e através destas representações podemos nos colocar a observar com ele a cidade e as pessoas ao nosso redor e nos faz pensar se que-remos modificar alguma coisa não, a partir desta representa nos colocamos a pensar no nosso cotidiano, e na nossa relação com o a nossa cidade.

Imagem: Reprodução

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Escrevo sem pensar, tudo o que o meu inconsciente grita. Penso depois:

não só para corrigir, mas para justificar o que escrevi.

Mario de Andrade

Os primeiros decênios do sécu-lo XX deixaram profundas marcas na configuração so-

ciocultural daquela que em tempos de outrora, era apenas uma vila. São Pau-lo de Piratininga era apenas um entre-posto para se chegar à região litorânea do estado. As transformações políti-cas ocorridas no final do século XIX e a instauração de uma República, primeiramente militar (1889-94) e posteriormente oligárquica (1894-1930), fomentaram novos desloca-mentos de ações e posições ideológi-cas. Era a “política dos governantes” ou “dos Estados”, iniciada com Cam-pos Salles, rompendo assim com a própria ideia substancial de “Rés Pública” e tornando da política, uma relação de favores entre a oligarquia rural e urbana e a Federação, uma plu-tocracia, portanto. Deve-se citar que não apenas no campo político as mu-danças se fizeram presentes, o rápido crescimento da economia cafeeira em São Paulo, desde o século XIX, fomen-tou o processo de industrialização ex-pandindo a cidade, com uma vasta rede de ferrovias, para além de seus limites do “velho triangulo”: Pátio do Colégio, Largo da Sé e Carmo. Com este rápido crescimento econômico São Paulo foi palco de um grande fluxo migratório e crescimento popu-lacional. Povos de origens diversas, como italianos, espanhóis e japoneses contribuíram para novas e diferentes relações sociais na “Babel invertida”.

De maneira impressionante, o número de habitantes de São Paulo quadruplicou entre 1890 e 1920, revelando a pujança da eco-nomia paulista, baseada no café e na incipiente industrialização. (MORAES, p.37. 1994)

Este inchaço urbano, que inicia-se com as transformações e investimen-tos diversificados, não apenas traça novos personagens na cidade, mas reconfigura a cena cotidiana. O pro-cesso de urbanização e o alto fluxo migratório, atrelados a uma política excludente fez expandir a cidade para

além dos rios que a cerca. As mazelas sociais se fazem mais visíveis junto à elevação de novos bairros nas regiões periféricas, como, por exemplo, os bairros operários do Belenzinho, Brás e Bexiga. Junto a estas variações espa-ciais, urbanísticas e sociais veem-se ações de políticas publicas médico-higienistas e uma “vasta empresa de moralização” e controle dos modos, costumes e gestos.

Os pontos nefrálgicos destas mutações são, desde a caracterização do cos-mopolitismo da cidade junto às trans-formações nos modos de comporta-mento cotidiano atrelados ao ritmo acelerado dos corpos e mentes, até as novas tendências de arte, cultura, in-formação e ideologias que se faziam presentes nas ruas, nos meios de comu-nicação e na própria maneira de esta-belecer-se na trama social que a cidade vinha a desempenhar.As elites dirigentes tanto em São Paulo quanto na capital federal do Rio de Ja-neiro, buscavam vincular uma harmo-nia entre um Brasil provinciano, cheio de amarras estruturais provindas do período imperial, aos principais países industrializados que traziam capital para aplicações em seus investimen-tos: Inglaterra e Estados Unidos. Com esta estratégia da classe dirigente em promover ações concretas de investi-mento privado e estrangeiro, e as novas linguagens culturais que instalavam no seio da sociedade, o mito do progresso, a ideia de cidade moderna e cosmopo- lita, se fez ver de maneira intensa através da fermentação cultural heteró-clita e heterodoxa, representada por artistas, intelectuais e homens públi-cos de diversas instâncias, dando margem para novos olhares, discursos, inspirações teóricas e artísticas. Nesta época, os circuitos acadêmicos promoveram debates acalorados sobre as tensões e conflitos da estruturação de ordem social no espaço público junto à dicotomia latente do frenesi das cidades movimentadas perante o “pa- cato” e “apático” semblante paulistano de outrora. O papel dos intelectuais – com sensibilidade de flâneur – se faz de maneira substancial para entender o

Estudos preliminares do edifício Martinelli, executado a mão pelo arquiteto William Fillinger

Imagem: Reprodução

A Esfinge e seu duplo: urbanização e o modernismo em São Paulo dos anos 1920

KAUE VINÍCIUS DE A. SILVA

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processo de modernização e suas repre-sentações singulares na “belle époque” paulistana, como escreveu Mário de Andrade, em sua obra de 1943, Aspec-tos da Literatura Brasileira:

Uma cidade grande, mas provin-ciana (...) o Rio era muito mais in-ternacional, como norma de vida exterior. (...) São Paulo era espi- ritualmente muito mais mo- derna, porém, fruto necessário da economia do café e do in-dustrialismo consequente. (ANDRADE. s/d. p. 235).

Este espírito moderno que Mário cita, estava presente tanto nas metamorfo- ses sócio-urbanísticas, quanto nas teo-rias e rupturas da geração Modernista. Escritores, músicos e artistas plásticos expressavam com formas não lineares a busca por valores e culturas nacio- nais, tendo como referência estética os parâmetros internacionais. Portanto, o movimento relacionava-se tanto com o pensar nacionalista, quanto com a busca de aproximar as artes brasileiras ao que estava acontecendo na Europa com suas vanguardas artísticas.Mario de Andrade, ao trazer à tona a efervescência cultural que fervilhava na elite de seu tempo, apresenta, em sua obra Pauliceia Desvairada, de 1922, aspectos singulares da metamorfose paulistana:

São Paulo! Comoção de mi- nha vida... Galicismo a ber-rar nos desertos da América! (ANDRADE. 1966. p. 9-64)

Alturas da Avenida. Bonde 3.Asfaltos. Vastos, altos repu- xos de poeira sob o arlequi-nal do céu oiro-rosa-verde... (ANDRADE. 1966. p. 9-64).

O espaço urbano torna-se palco deste novo esteticismo moderno multifa- cetado, assim como a própria cidade que cresce a cada momento com sua plurali-dade cosmopolita. A representação das imagens da cidade se fazem presentes também em Manuel Bandeira:

O arranha-céu sobe no ar puro le-vado pela chuvaE desce refletido na poça de lama do pátio.Entre a realidade e a imagem, no chão seco que as separa,Quatro pombas passeiam. (BANDEIRA. 2012.p.118).

Estas revelações artísticas que rompem com a linguagem e recortes acadêmicos têm como marco simbólico, o evento ocorrido em fevereiro de 1922: a Sema-na de Arte Moderna. Sucedida em São Paulo, no saguão do Teatro Municipal, as exposições de artes visuais, recitação de poemas e apresentação de músi-cas possuem alto valor de representa-tividade das artes contemporâneas no Brasil e, portanto, a reverberação para além daquilo que propunham os artis-tas e mecenas que bancavam o evento.

[...] comparável, por sua reper-cussão, à chagada da Missão Francesa ao Rio de Janeiro no século passado ou, no século XVIII, à obra de Aleijadinho. Essa mani-festação tem importância dilatada por ser consequência direta do na-cionalismo emergente da Primeira Guerra Mundial e da subsequente e gradativa industrialista do país e de São Paulo em particular. (AMARAL. 1998. p. 13).

Mesmo não podendo ser denominado “vanguarda” no âmbito internacional, as manifestações artísticas de 1922, choca- ram a crítica, romperam com a estética dita “acadêmica” e abalaram o cenário cultural daquela época, onde novos ar-tistas e acadêmicos buscavam autor-reconhecimento nacional e sua posição na modernidade periférica. Desta forma, têm-se como representação de uma época, esses personagens urbanos, agen-tes culturais que movimentaram o palco do absurdo da modernidade que se fez em/de São Paulo, cidade esfinge que consome tanto aqueles que não sabem responder às suas questões, quanto, aqueles que tentam dar sentido a ela.

O Teatro Municipal em 1920, por Guilherme Gaensly

Imagem: Acervo UOL

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1 - Ver SEVCENKO, 1992.2 - Ver RAGO, 1997.3 - Ver PADILHA, 2001.4 - Publicações de várias revistas especializadas ou de assuntos diversos (com novas técnicas tipográficas, colaboradores especializados, chargis-tas, ilustradores, redatores, cronistas), reportagens, poemas, crônicas, contos e romances fizeram-se presentes no cotidiano urbano, tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro, de maneira inusitada para os padrões culturais da época, atingindo uma gama diversa de leitores assíduos. Ver AVILA, 1975 e VELLOSO, 2010 .5- Esta e outras citações de Andrade e de outros pensadores do movimento Modernista estão contidas, organizadas e analisadas por ÁVILA, 1975.

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Berlinense, nascido em 1892 e filho de judeus ricos, que morreu fugindo da

perseguição nazista em 1940, Wal-ter Benjamin, um dos maiores in-telectuais de nosso tempo, viveu e viu as cidades por onde passou as mudanças que fazem eco até os dias atuais. Consagrando o con-ceito de flâneur, foi, segundo Bar-bara Freitag, mais do que um so-ciólogo urbano. “Foi antes de tudo um perambulador, que circulava pelas ruas de Paris”. O conceito de flâneur, conforme o próprio Benjamin, é aquele que peram-bula através da cidade e nos narra aquilo que observa, tendo uma visão diferenciada dos efeitos da urbanização.Mas, antes de navegarmos pelo universo do flâneur como agente da cidade, precisamos falar sobre a história de Benjamin que viveu pouco mais de 50 anos, mas que foram suficientes para cravá-lo na história como um dos maiores pensadores do século XX. Quem foi, de onde veio e o que fez Walter Benjamin?

O perambular de Walter Benjamin

Mesmo sendo natural de Berlim, Benjamin só conheceu o lado ori-ental de sua cidade e os bairros operários de Wedding e de Pankow através da literatura. Isso porque, segundo Freitag, Walter Benja-min teve um infância protegida

pelos pais judeus. Antes de estudar filosofia e teoria literária na Uni-versidade de Berlim, dedicou-se aos estudos de línguas clássicas. Tentou sem sucesso o título de livre-docente em Frankfurt, onde tentou aprovação do seus estudos sobre o barroco alemão. Foi rejei-tado pela academia.Assim que Hitler assumiu o poder, pregando o antissemitismo, Benja-min não viu outra alternativa se não esquecer a ideia de retornar à Ale-manha e resolveu permanecer em Paris, França. Cidade essa que cos-tumava chamar de “capital do século XIX” e que, conforme afirmação de Freitag, era onde ele se sentia em casa, mesmo vivendo de forma precária, graças a bolsas de pesqui-sas conseguidas com ajuda de Ador-no. E as dificuldades continuariam aparecendo na trajetória desse pen-sador até resultar em seu fim trágico.

“No início de 1940, Benjamin foi preso e internado pelos france- ses em um campo de retenção, correndo risco de ser enviado a Auschwitz. A ‘salvação’ veio de Horkheimer, que financiou sua liberação e a passagem de Lis-boa para a América do Norte. A caminho da capital portu-guesa, foi detido na fronteira da Espanha e, em pânico, resolveu suicidar-se, tomando morfina” (FREITAG, 2012, p. 28-29)

As cidades de BenjaminBarbara Freitag acredita que não podemos encarar Walter Benjamin como um “sociólogo da cidade”. Acredito que não podemos limitá-lo a isso. Benjamin contribuiu bri- lhantemente para a filosofia, para os estudos da linguagem, para os estudos da literatura e, claro, para os estudos da cidade. E foi nos

Walter Benjamin e o FlâneurFELIPE SCHADT

Imagem: Reprodução

Walter Benjamin

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estudos da cidade que apresentou o flâneur como agente históri-co, ganhando destaque em Das Passagenwerk (As passagens de Paris. Título em português).O interessante é que Freitag coloca Walter Benjamin como estudioso das cidades devido o profundo conhecimento que ele tinha em duas cidades pelas quais viveu, que foram Paris e Berlim. O que, talvez, o consagrou como teórico das ci-dades, “foi sua visão original da penetração do capitalismo em to-das as esferas da vida”. Seu estudo sobre Paris aborda a fusão do vidro e do metal na construção da expressividade da cidade francesa como uma grande vitrine de si mesma. Na Torre Eiffel, estações de trem e passagens de pedestres, essas vitrines da ci-dade se encontram de uma maneira ideal para expor suas mercadorias que, por sua vez, são os personagens urbanos alegóricos como: a prosti-tuta, o mendigo, o flâneur.

O flâneur

“O flâneur é a personagem que agita a imagem do homem na multidão que difere totalmente d'O homem da multidão, conto de Edgar Poe, traduzido por Baudelaire. O flâneur não é um autômato, mas, ao contrário, é um ocioso paradoxal que trans-forma a ociosidade em valor, porque a realiza produtiva-mente quando transforma as ruas, os pavilhões, os grandes magazines, que atendem à ne-cessidade coletiva da multi-dão, em instrumentos indiciais que referencializam o labirinto emocional despertado pela ci-dade moderna.” (FERRARA, Lucrécia D’Alessandro, As Más-caras da Cidade)

Segundo Walter Benjamin, o flâneur nada mais é do que o viajante da cidade que busca, em cada viagem que faz pelas ruas,

traduzir o que viu em relatos, transformando-se, assim, em um narrador das cidades. Dialogando com Rouanet, Freitag nos per-mite entender o flâneur como um peregrino que capta momentos da modernidade e participando do jogo de exposição da vitrine cívica.

“Sempre ao lado do flâneur, mergulhamos no labirinto das ruas, acompanhamos o jogo na bolsa de Paris, observamos o museu de cera Grévin. Nos bulevares remanejados por Haussmann, o perambulador nos faz refletir sobre o urba- nismo (...) O panorama nos revela as ilusões de ótica dos aparelhos de fantasmagorias.” (FREITAG, 2012, p. 33)

O flâneur é um alguém na multi-dão. Mas é importante observar que mesmo fazendo parte dela, esse personagem joga de uma

1 - FREITAG, 2012, p. 292 - Informações retiradas do livro Teorias da Cidade de Barbara Freitag, editora Papirus, 2012, Campinas-SP3 - FREITAG, 2012, p. 29

Imagem: Reprodução

O flâneur

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maneira diferente. Ele não está somente exposto na vit-rine da cidade como outros agentes urbanos. O flâneur desenvolve uma capacidade de se misturar e ao mesmo tempo se diferenciar da multidão, dando a ele uma perspectiva de olhar interes-sante, pois ele olha a cidade por dentro da cidade. Ele não a observa com distan-ciamento, pelo contrário. Esse personagem participa do jogo e consegue panora-mas que só seriam possíveis se vistos de perto.

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A cidade de São Paulo nas dé-cadas de 20 e 30 contava com personagens anônimos para

o seu desenvolvimento e urbanismo, e entre tantos que fizeram a história da cidade encontravam-se os espor-tistas do futebol. Desde os primór-dios do futebol, vários personagens surgiram nas entrelinhas das crôni-cas esportivas e principalmente dos idealizadores destas. A popularização do futebol não pode ser vista sem as rivalidades postas nas crônicas dos jornais esportivos que criando estes antagonismos só fizeram engrandecer os clubes de futebol. O acirramento das rivalidades provocava uma dis-puta sem tamanho entre os pequenos frente aos grandes clubes, e o esporte contagiava multidões que iam aos do-mingos assistir as pelejas de várzea na região do Carmo e nos campos da Floresta. Foram aparecendo, assim que foram sendo criadas as agremi-ações, alguns espaços para que a as-sistência pudesse apreciar os embates futebolísticos, entre os quais podemos citar o antigo Velódromo. Este já era um espaço criado pela família Prado, tradicional família paulistana, para o lazer, o tradicional passeio das famí- lias de elite que passeavam no espaço para serem vistas, andar de bicicleta e depois finalmente, com o futebol sendo disputado entre as agremiações de elite, passou a apresentar estes em-bates em seu campo.No começo os espaços eram poucos, além do Velódromo tinha os campos da Floresta lá para os lados da Ponte Grande, o Parque Antártica e alguns campos menores que não podiam ser inseridos dentro de um contexto

satisfatório para a assistência. A ne-cessidade de se criar um local para estas práticas esportivas que estavam crescendo juntamente com o desen-volvimento da cidade, e que foram alardeadas pelos cronistas como uma necessidade básica do esporte para a cidade de São Paulo, despertou projetos de políticos e dos próprios cronistas que sugeriam locais adequa-dos para as disputas regionais e es-taduais: os estádios. Em uma região comprada pela CIA CITY, que pro-curou urbanizar a área, chamada na época de região das terras alagadas, iniciou o processo de construção e urbanização de um futuro bairro, ca-nalizando o ribeirão e abrindo a larga Avenida Pacaembu. Na década de 20, construir um grande estádio era o sonho de grandes esportistas, políti-cos e de artistas como Mário de An-drade que viam no local a realização deste sonho e que seria o ideal para receber atividades esportivas, eventos culturais e apresentações musicais de grande porte.Um pouco da História da formação do que seria o bairro do Pacaembu e

da construção de seu estádio aparece em seus registros cartoriais. Para ex-plicar o Pacaembu seria necessário partirmos de uma área maior como é o caso de Higienópolis e Vila Buarque, em 1893 os herdeiros de Antonio Pinto do Rego Freitas negociam área que fora do General Arouche Ron-don para a Empresa de Obras Brasil que então transforma a região na Vila Buarque. A Sesmaria do Pacaembu foi dividida em três partes, surgindo então Pacaembu de cima de que origi-nou o bairro de Higienópolis e que teria sido comprada por suas con-dições climáticas por Martin Buchard e Victor Nothmann, transformando a região no que seria denominado na ocasião de: ‘Boulevard Burchard’. A estrada que passava na região e que chamavam de Pacaembu de cima foi transformada em avenida e teve seu nome alterado para ‘Burchard’, mas as pessoas preferiam chamá-la de Ave-nida Higienópolis, assim como o pró- prio bairro que ficou conhecido até pela própria prefeitura com este nome. A Sesmaria foi doada aos jesuítas por Martin Afonso de Souza no século

Personagens anônimos da cidade tornaram o sonho em realidade: A construção do Estádio do Pacaembu

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XVI, a extensa área foi delimitada por Rua dos Pinheiros, (Consolação), Em-boaçaba, (Avenida Doutor Arnaldo), e pelo córrego Água Branca. A divisão que ficou conhecida como Pacaembu de Cima, do Meio e de Baixo, teve como moradores ilustres os Barões do Café, que se mudaram da região de Campos Elísios ao longo da Ave-nida Higienópolis, e a região por ter sido iniciada nos empreendimentos imobiliários por europeus tinham entre a maioria de seus moradores os Anglo-Saxões. Entre as famílias ilustres que mora- ram na região e que tiveram seus pa- lacetes tombados pelo Conselho Mu-nicipal de Preservação do Patrimônio Histórico Cultural e Ambiental de São Paulo, se encontra o prédio da Se- cretaria de Segurança que pertenceu ao fazendeiro Magalhães e data do ano de 1931. Também o Clube São Paulo, localizado entre as Ruas Mar-tinico Prado e Dona Veridiana ocupa a antiga residência da família Prado, construída em 1884, já foi conhecida como chácara Vila Maria, Mansão de Dona Veridiana Valeria da Silva Pra-do, filha do Barão de Iguape. E era o local preferido dos intelectuais e da elite paulistana para suas reuniões de encontros e discussões e possivel-mente a semana de 22 foi uma delas. Já entre os anos 40 e 50 começa uma vertilicação do bairro inspirada no modernismo e alguns prédios com estes estilos ficaram notórios no bair-ro: o edifício Prudência e Capitali-zação de Rino Levi e dois edifícios de apartamentos da Avenida Angélica, o Bretagne e o Parque das Hortênsias, ambos projetados e construídos pelo escritório de J. Artaxo Jurado. Em 1926, a CIA CITY, doou uma área de 50.000 metros quadrados da região para o Estado que repassou à prefeitu-ra e assim em 1936, o então prefeito na época, Fábio da Silva Prado, dá inicio ao projeto do estádio com a construto-ra Severo e Villares para uma moder-na praça de esportes e local grandioso para as atividades artísticas e musicais que seria conhecida depois como um

dos principais palcos esportivos do Brasil. A área de 50.000 metros foi re- tificada em um site da própria pre-feitura, quando da conclusão da refor-ma e que omite o repasse do estado para a prefeitura e retifica a metragem como sendo de 75.598 metros quadra-dos, em época posterior, já na gestão do então prefeito Mario Covas.A obra levou uns quatro anos para ser concluída e inaugurada, pelo então presidente da república Getúlio Var-gas em 27 de abril de 1940 e que esta-va acompanhado pelo interventor do estado Adhemar de Barros e do pre-feito Prestes Maia, foi inaugurada pre-liminarmente com o nome de ‘Estádio Municipal do Pacaembu’. Mas, durante muitos anos a denominação emprega-da pela Liga Paulista de Futebol e por jornais da época quando se referiam ao estádio era de: ‘Estádio Municipal’. Mais uma vez seria notório citar que os acontecimentos desenrolados até então e que veio a valorizar esta área das terras alagadas e urbanizadas pela CIA CITY, deve seu desenvolvimento aos cronistas que tão sabiamente riva- lizavam os clubes de futebol e com isto o esporte se popularizava enquanto a cidade crescia aos olhos destes anôni-mos benfeitores e que incluía os pró- prios esportistas. Mesmo com a idéia e o projeto de um bairro pré-planejado nos moldes de bairros europeus ao

estilo de casa-jardim, com suas ruas tortuosas e arborizadas, o que preva-leceu para a valorização do bairro foi à propaganda do estádio e do acirra-mento das rivalidades entre os clubes, dos cronistas esportivos de jornais de grande circulação no período. Para ter uma ideia do que isto representava na época, basta à descrição do que era o estádio: campo de futebol, ginásio po-liesportivo, piscina olímpica, ginásio, quadra poliesportiva, quadra externa de tênis, pista de atletismo, salas de ginástica, salão nobre para comemo-rações e cerimonias e o posto médico. Citar os embates esportivos que lota-ram o Pacaembu, onde as agremiações esportivas decidiram seus títulos es-taduais e municipais, seria apenas lau-rear as atividades destes personagens anônimos que tanto como os cronistas e também os esportistas avivaram esta chama do desenvolvimento da cidade.Mas, o Pacaembu não ficou só nos cronistas esportivos do futebol e tam-bém dos esportistas deste esporte para dignificar o estádio, já que pelos seus gramados passaram os maiores ídolos do nosso futebol, do infernal Leônidas ao genial Pelé. Grandes equipes bra-sileiras se apresentaram no seu está-dio, assim como as grandes equipes e seleções internacionais, mas também viveu o Pacaembu uma época de ouro, com lutas de Box de lutadores

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imemoráveis em seu ginásio, como: Antônio Zumbano e Atílio Lofredo e também ali iniciou neste esporte o en-tão mirim Eder Jofre, filho de lutador que também se iniciava no esporte da luta contra filho de outros lutadores. O estádio municipal é o resultado do crescimento populacional entre as dé-cadas de 20 e 30 e a industrialização e a necessidade de se criar um espaço para o lazer da população, e esta ne-cessidade foi criada por estes perso-nagens anônimos que faziam parte desta cidade ao qual diziam em suas crônicas: ‘A Cidade que mais Cresce no Mundo’. Seria desnecessário dizer das atividades que atraíram multidões ao estádio após a década de 40 e que incluía as comemorações da então a jogadora de tênis Maria Ester Bueno entre outros esportistas, e o estádio necessitou de reformas para melhor adequar a assistência. Também não poderíamos deixar de relatar que o desenvolvimento do bairro Pacaembu, só se deu por causa da construção do

estádio e com isto valorizou a área do entorno da região, tendo sido tomba-do pelo patrimônio histórico munici-pal, incluindo a Praça Charles Miller que é a porta de entrada do estádio. Nos anos 50, Eder Jofre abrilhantou suas lutas, verdadeiros espetáculos, no Pacaembu, e já se consagrava como campeão dos pe-sos-mosca no palco destas transfor-mações e desenvolvimento que pas-sava a cidade. As partidas do torneio Rio-São Paulo, as principais do país, foram realizadas nesta época no Pa- caembu, o jornalista Ari Silva co-mentou sua primeira transmissão ao vivo para a televisão, dos gramados do estádio em 1952. E pela pista de Atletismo do Complexo do Pacaembu passou: Emil Zatopeck, ‘a locomotiva humana’, termo que ficou conhecido popularmente por seu desempenho nas olimpíadas de 52, e também no mesmo período Adhemar Ferreira da Silva já treinava lá o seu famoso salto-triplo conquistado nos jogos

olímpicos de 52 em Helsinque. Nos anos 60, o estádio passa por uma reformulação para receber os jogos pan-americanos e até o nome do está-dio: ‘Pacaembu’ é trocado pelo nome do: ‘Paulo Machado de Carvalho’, em homenagem ao ‘Marechal da Vitória’, chefe da delegação canarinho das co-pas de 58 e 62. Em 63 são realizados pela primeira vez no Brasil, os jogos pan-americanos e com isto São Paulo foi escolhida como local das reali-zações, e o Estádio do Pacaembu foi o palco destas realizações. Entre as realizações musicais internacionais de destaque no Estádio podemos ci- tar a cantora Tina Turner em 88, en-tre outros shows, também o Pacaem-bu foi palco de outras modalidades e campeonatos como o Supercross en-tre outros. Podemos observar então o desenvolvimento da cidade e a cola boração destes personagens anôni-mos na conclusão deste ideal maior, que foi o estádio e o bairro do Pacaembu.

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