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Álvaro Luchiezi Júnior PECUÁRIA E DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA O Custo de Oportunidade Ambiental da Pecuária no Sudeste Paraense: Estimativas em Nível de Propriedade Rural Brasília – DF 2006

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Álvaro Luchiezi Júnior

PECUÁRIA E DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA

O Custo de Oportunidade Ambiental da Pecuária no Sudeste Paraense: Estimativas em Nível de Propriedade

Rural

Brasília – DF

2006

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Álvaro Luchiezi Júnior

PECUÁRIA E DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA

O Custo de Oportunidade Ambiental da Pecuária no Sudeste Paraense: Estimativas em Nível de Propriedade

Rural

Autor: Álvaro Luchiezi Júnior

Dissertação de Mestrado Apresentada como requisito para a obtenção do título de Mestre em Economia

Departamento de Economia Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da

Informação e Documentação Universidade de Brasília

Orientador: Dr. Jorge Madeira Nogueira

Brasília – DF 2006

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_______________________________________________________________

Luchiezi Júnior, Álvaro

Pecuária e Desmatamento na Amazônia –o custo de oportunidade ambiental da pecuária no Sudeste Paraense: estimativas em nível de propriedade rural / Álvaro Luchiezi Júnior – Brasília, Universidade de Brasília, Departamento de Economia, Dissertação de Mestrado, 2006, 104 p. Inclui Bibliografia e Anexos 1. Amazônia – Desmatamento – Pecuária; 2. Impactos Ambientais – Funções Ambientais – Serviços Ambientais. 3. Valoração Econômica – Custo de Oportunidade

_______________________________________________________________

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FOLHA DE APROVAÇÃO Autor: Álvaro Luchiezi Júnior – Economista Título: Pecuária e Desmatamento na Amazônia – O Custo de Oportunidade

Ambiental da Pecuária no Sudeste Paraense: Estimativas em Nível de Propriedade

Rural

Dissertação submetida ao Departamento de Economia da Universidade de Brasília

como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Economia

Brasília, 13 de Junho de 2006. Aprovada por:

____________________________________________ Dr. Jorge Madeira Nogueira

Departamento de Economia – Universidade de Brasília

____________________________________________ Dr. Carlos Alberto Ramos

Departamento de Economia – Universidade de Brasília

__________________________________________________________ Dr. Pedro Henrique Zuchi da Conceição

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior/MEC

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao companheirismo daqueles que me acompanharam nesta empreitada.

Aos mestres que, em sala de aula ou fora dela, dedicam-se ao labor maior que é a

transmissão do conhecimento. Particularmente, agradeço à cordial acolhida que

recebi de meu orientador, professor Jorge Madeira Nogueira, e ao meu amigo,

professor Carlos Alberto Ramos, cuja opinião valiosa permitiu-me dar contornos

finais à minha pesquisa.

À minha esposa, Alzira, que, compreensivamente, viu-me sacrificar outros projetos

pessoais e comuns em prol da realização deste trabalho.

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RESUMO

Esta dissertação estima, com o auxílio da técnica no valor presente líquido, o custo de oportunidade ambiental do desenvolvimento da pecuária em uma localidade específica do Estado do Pará, na Amazônia. Ao longo do trabalho são investigadas e classificadas as causas do desmatamento e apresentada uma evolução do desmatamento e da pecuária na Amazônia. A pecuária é uma das principais causas da perda de cobertura florestal na Amazônia e dela decorrem impactos ambientais que afetam negativamente diferentes funções e serviços ambientais. Baseado na literatura, o trabalho apresenta uma descrição dos principais impactos e respectivas funções e serviços ambientais afetados pela pecuária. Os impactos ambientais e a redução de serviços e funções ambientais resultam de ações humanas que, por intermédio da produção de bens econômicos, buscam da maximização do bem-estar. A valoração das perdas ambientais é discutida, assim, com um enfoque antropocêntrico. O custo de oportunidade surge no contexto das escolhas que homem deve fazer entre a preservação do meio ambiente natural ou a sua utilização como insumo produtivo. As políticas públicas devem assegurar a correta remuneração dos custos da preservação ambiental, inclusive os custos de oportunidade, a fim de viabilizarem a preservação de áreas sujeitas à ocupação produtiva. Palavras-chave – Amazônia; desmatamento; pecuária; funções ambientais; serviços ambientais; custo de oportunidade.

ABSTRACT This dissertation estimates the environmental opportunity cost of cattle raising in a specific municipality in the State of Pará in the Brazilian Amazon Region using the net present value technique. In order to reach this purpose, we investigate and classify the causes for deforestation showing both evolution in the Amazon Region as well as for the cattle raising activity. Cattle raising is one of the main causes for forest coverage loss in the Amazon. The environmental impacts derived from this activity affect negatively many environmental functions and services. Based on the literature, this work describes the main impacts and environmental functions and services affected by cattle raising. The impacts to the environment and the reduction of environmental services and functions are a consequence of human actions in the search for welfare maximization by means of the production of economic goods. The valuation of environmental loss is thus discussed with an anthropocentric approach. The opportunity cost appears in the context of the choices between environmental preservation and/or the use of environment as a production input. The public policies must assure the correct payment of the costs of environmental preservation, with opportunity costs included, in order to make the preservation of some areas feasible, subject to production occupation.

Key words – Amazon; deforestation; cattle raising; environmental functions; environmental services; opportunity costs.

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S U M Á R I O Pag.

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO 1 - CAUSAS DO DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA E EVOLUÇÃO DA PECUÁRIA NO ESTADO DO PARÁ 13

1.1 Evolução Recente do Desmatamento na Amazônia 13

1.2 Causas do Desmatamento 15

1.3 Agentes do Desmatamento na Amazônia 17

1.4 Fontes do Desmatamento na Amazônia 20

1.4.1 A Exploração Madeireira e Mineral 20

1.4.2 Os Empreendimentos Agropecuários 21

1.5 Causas Imediatas do Desmatamento na Amazônia 24

1.6.1 Preços 24

1.6.2 Estradas, Custos de Transporte e Acessibilidade 25

1.6.3 Crédito, Financiamento e Tecnologias de Produção 28

1.6.4 Características Ambientais 30

1.6 Causas Subjacentes do Desmatamento na Amazônia 31

1.6.1 Crescimento Demográfico 31

1.6.2 Crescimento Econômico 32

1.6.3 Regime de Propriedade 34

1.7 Desmatamento e Desenvolvimento da Pecuária na Amazônia: o

Estado do Pará 34

CAPÍTULO 2 - FUNÇÕES E SERVIÇOS AMBIENTAIS - Os Impactos

Ambientais da Pecuária 40 2.1 - Biodiversidade e Sustentabilidade Ambiental 40

2.2 - Funções e Bens e Serviços Ambientais 41

2.2.1 Classificação das Funções e dos Bens e Serviços Ambientais 43

2.3 - Impactos, Externalidades e Bens Públicos 47

2.4 - Impactos Ambientais Associados à Pecuária 49

2.4.1 - Impactos sobre o solo 50

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Pag.

2.4.2 - Impactos sobre a flora e a fauna. 51

2.4.3 - Impactos no Clima e na Atmosfera 52

2.4.4 - Impactos sobre o Recursos Hídricos 52

2.4.5 - Impactos sobre Atividades Humanas 53

CAPÍTULO 3 - MEIO AMBIENTE E VALOR ECONÔMICO 56 3.1 - Valoração Ambiental e Ações Humanas 56

3.2 - Classificação dos Valores dos Bens e Serviços Ambientais 58

3.3 - Mercados e Valoração Ambiental 61

3.4 - A abordagem do Custo de Oportunidade 63

3.5 - O Critério do Valor Presente Líquido 68

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 72 4.1 - A Localidade do Estudo 72

4.2 - Materiais e Métodos 75

4.3 - Os Custos de Reforma da Pastagem 76

4.4 - Método de Mensuração do Custo de Oportunidade Ambiental 76

4.5 - Discussão dos Resultados 80

4.5.1 - Fluxo de Caixa 80

4.6 - O Valor Presente Líquido do Rendimento da Propriedade

Representativa de Paragominas 83

4.7 - Custo de Oportunidade Ambiental da Produção Pecuária 84

4.8 - Beneficiários, Benefícios e Compensações por Ações de Preservação

Ambiental 86

CONCLUSÃO 90 REFERÊNCIAS 93

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Pag. ANEXO A - Custos de Formação/Reforma de Pastagens - Ano: 2002 101 ANEXO B – Receitas e Custos das Atividades Agropecuárias na Propriedade Representativa de Paragominas - 2002 102 APÊNDICE A – Fluxo de Caixa e Custo de Oportunidade com Valores do Ano de 2004 104

LISTA DE ILUSTRAÇÕES TABELAS Tabela 1.1 – Amazônia Legal: Desmatamento Anual por Instituição 1996-2001 13

Tabela 1.2 - Rebanho Bovino na Região Norte 1999-2003 35

Tabela 1.3 – Rebanho Bovino na Amazônia Legal e Pará 1991-2003 36

Tabela 1.4 – Desflorestamento na Amazônia Legal e no Pará 1991- 2003 36

Tabela 1.5 – Rebanho Bovino nas Mesorregiões do Estado do Pará 1999-2003 37

Tabela 4.1 – Rebanho Bovino no Sudeste do Pará e Municípios Selecionados

1997-2003 73

Tabela 4.2 – Sudeste do Pará: Desmatamento até 2004 73

Tabela 4.3 – Fluxo de Caixa do Rendimento Líquido da Produção: Gado,

Milho, Soja e Arroz. 81

Tabela 4.4 – Fluxo de Caixa do Rendimento Líquido da Produção: Gado,

Milho, Soja e Arroz. Cenário 1 – Produção Pecuária em 2924 ha. 82

Tabela 4.5 - Fluxo de Caixa do Rendimento Líquido da Produção: Gado, Milho,

Soja e Arroz. Cenário 1 – Produção Pecuária em 2189 ha. 82

Tabela 4.6 – Valor Presente Líquido – Valores Unitários 83

Tabela 4.7 – Valor Presente Líquido – Cenário 1: Gado em 4924 ha. 84

Tabela 4.8 - Valor Presente Líquido – Cenário 1: Gado em 2189 ha. 84

Tabela 4. 9 – Custo de Oportunidade: Valor Total e Valor Unitário 85

GRÁFICOS Gráfico 1.1 - Amazônia Legal - Desflorestamento Bruto Anual 1990-2004 14

Gráfico 1.2 – Arco do Desmatamento: Desmatamento 1996-2001 15

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Pag.

Gráfico 1.3 – Relação ente tamanho do rebanho bovino e área desmatada

na Amazônia – 1990-2001 35

QUADROS Quadro 2.1 – Funções Ambientais, Processos e Componentes e Bens e

Serviços dos Ecossistemas Naturais e Semi-Naturais 46

Quadro 2.2 – Principais Impactos Associados à Pecuária e Funções e

Serviços Ambientais Afetados 54

FIGURAS Figura 3.1 – Disposição a Pagar e Excedente do Consumidor 63

Figura 3.2 – Mudanças nos Valores Relativos dos Bens Econômicos e

Serviços Ambientais ao Longo do Tempo 67

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AML – Amazônia Legal

BASA – Banco da Amazônia.

BLF - Benefício Líquido Futuro

BLP - Benefício Líquido Presente

CAT - Centro Agro-Ambiental do Tocantins

FINAM - Fundo de Investimentos da Amazônia

FNO/BASA - Fundo Constitucional de Financiamento do Norte/ Banco da Amazônia

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

PIB – Produto Interno Bruto

PNB - Produto Nacional Bruto

PROCERA – Programa de Crédito Especial para a Reforma Agrária.

PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

SELIC – Sistema Especial de Liquidação e de Custódia

SUDAM – Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia.

TIR – Taxa Interna de Retorno

TJLP – Taxa de Juros de Longo Prazo

UA – Unidade Animal.

VE – valor de existência

VET – Valor Econômico Total

VNU – Valor de Não Uso

VPL – Valor Presente Líquido

VUD – Valor de Uso Direto

VUI – Valor de Uso Indireto

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INTRODUÇÃO

Os processos naturais geram bens e serviços ambientais que são utilizados

na produção econômica. O uso insustentável dos recursos naturais restringe e

ameaça a capacidade produtiva dos processos naturais. A conservação da

biodiversidade implica limitar do uso econômico de terras em áreas de interesse

ecológico onde se desenvolvem os processos biológicos e naturais ameaçados pela

ação antrópica. A restrição do uso econômico da terra impõe perdas ao processo

produtivo. Do lado da produção, os proprietários da terra sofrem restrições em seu

rendimento. Do lado do consumo, menor quantidade de bens é colocada em

circulação.

As trocas em mercados definem preços e atribuem valor aos bens

econômicos. Este é um processo essencialmente humano, pois reflete a escassez

de bens e serviços para satisfazer necessidades. No entanto, os mercados podem

ou não exprimir, por intermédio dos bens econômicos, o valor de bens e serviços

ambientais. Quando os mercados não refletem este valor, técnicas de valoração

ambiental, ao expressarem monetariamente o valor associado à conservação

ambiental em determinada área, permitem entender o quanto da biodiversidade é

comprometido com esses usos do solo.

Uma etapa anterior à definição do valor é a identificação dos conflitos no uso

do solo (MOTTA, 2002). Em se tratando de atividades rurais, é preciso entender

quais delas promovem a conversão da cobertura vegetal. Pearce (2001) salienta que

conversão de áreas florestais não é um valor, mas o uso da conversão constitui um

valor da área florestal e que alguns usos notórios de áreas convertidas são a

pecuária e a agricultura permanente e a de queima e corte. Diversos fatores são

apontados como causas do desmatamento em áreas de floresta. Alguns dos mais

relevantes são: a extração madeireira; a exploração não-madeireira e os projetos de

desenvolvimento regional. (SKOLE et al., 1994; ANGELSEN e KAIMOWITZ, 1999;

LAWRENCE et al., 2001). No caso da Floresta Amazônica, os mais importantes são

a extração madeireira e, dentre as atividades não madeireiras, a pecuária (VOSTI et

al., 2003; MARGULIS, 2003). Além da conversão florestal direta, a pecuária traz

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consigo outras práticas ambientalmente degradantes e que aceleram o

desmatamento e a perda de biodiversidade: queimadas, uso de pesticidas,

compactação e erosão de solos, etc.

O problema que esta dissertação se propõe investigar resume-se na seguinte

pergunta: qual é o montante monetário da produção pecuária que deve ser

sacrificada para a preservação dos recursos ambientais relacionados à Floresta

Amazônica? Prévia e subsidiariamente, outras questões se colocam:

• Quais são as causas do desmatamento na Amazônia?

• Quais impactos são gerados e quais serviços ambientais são afetados?

A hipótese de trabalho que fundamenta esta investigação toma por base um

dos pressupostos da economia do bem-estar. Os preços dos bens econômicos,

dados por variações marginais na utilidade do consumidor, exprimem o valor de um

bem e possibilitam o cálculo da produção sacrificada.

Na busca da maximização do bem-estar, e diante da escassez de recursos

produtivos, os agentes econômicos – produtores e consumidores – fazem escolhas

entre benefícios econômicos ou ambientais. O maior benefício ambiental não ocorre

sem o sacrifício de algum benefício econômico mensurado por preços obtidos em

mercado.

O objetivo principal desta dissertação é mensurar monetariamente, por meio

de um estudo de caso na Amazônia, a produção pecuária que deve ser sacrificada

em favor da preservação ambiental. O valor obtido representa o custo indireto ou

custo de oportunidade ambiental da conservação da biodiversidade. Para atingir seu

objetivo principal este trabalho se propõe a investigar as principais causas do

desmatamento na Amazônia. Os indicadores de desmatamento disponíveis serão

apresentados e analisados, em nível regional e estadual, e constituirão a base para

uma discussão exaustiva das principais causas do desmatamento.

As categorias de valores econômicos dos bens e serviços ambientais

receberão atenção específica. A opção por maiores benefícios econômicos, em

detrimento dos ambientais, implica em maior uso dos recursos naturais como

insumos produtivos. Contrariamente, maiores benefícios ambientais requerem o não

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uso de recursos naturais. Diversas técnicas de cálculo são utilizadas para a

mensuração do custo de oportunidade. Este trabalho utilizará a técnica do Valor

Presente Líquido, fundamentando-a teoricamente.

Esta dissertação está dividida em quatro capítulos, além desta introdução e

da conclusão.

O Capítulo 1 inicia-se com uma breve apresentação de dados recentes sobre

o desmatamento na Região Amazônica, seguida de uma classificação e discussão

das causas do desmatamento na Amazônia associadas à pecuária. Conclui-se com

breve relato histórico da pecuária no Pará, o estado da Região Norte onde a

pecuária melhor se adaptou, ilustrando com dados recentes o atual panorama da

pecuária no Estado.

O Capítulo 2 classifica as funções e respectivos bens e serviços ambientais e

identifica os impactos ambientais causados pela atividade pecuária, enfocando

especialmente aqueles associados às pastagens. Já o Capítulo 3 relaciona a

valoração econômica do meio ambiente com as ações humanas para, em seguida,

apresentar as classificações dos valores econômicos do meio ambiente, tal como

apresenta a literatura, discutindo algumas diferenças entre elas. Conclui-se

apresentado o conceito e abordagem do custo de oportunidade, juntamente com a

técnica do valor presente líquido. Esta última será utilizada para mensurar o custo de

oportunidade ambiental da produção pecuária.

O Capítulo 4 desenvolve o estudo de caso, apresentando a metodologia de

cálculo, os dados e os resultados obtidos. Discute também os benefícios,

beneficiários e compensações pelas perdas com ações de preservação. Por fim, a

conclusão discute questões éticas relacionadas aos benefícios econômicos e

ambientais e apresenta instrumentos que viabilizam a compensação financeira do

sacrifício econômico necessário à preservação ambiental.

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CAPÍTULO 1

CAUSAS DO DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA E EVOLUÇÃO DA PECUÁRIA NO ESTADO DO PARÁ

1.1 Evolução Recente do Desmatamento na Amazônia

As últimas três décadas do Século XX testemunharam um crescimento

considerável do desmatamento na Amazônia Legal1. Desde a colonização até 1978,

a área total desmatada foi calculada em 15,3 milhões de hectares. Este número

sobe para 37,8 milhões entre 1978 e 1988 (CASTRO et al., 2002) e para 42,8

milhões entre 1988 e 1991 (MOTTA, 1996).

As estimativas do INPE indicavam um total de 51,7 milhões de hectares de desflorestamento até o ano 2000 (INPE, 2002). O IBGE, por meio de dados censitários de 1996, calculou um total de 29,7 milhões de hectares desmatados até este ano (PACHECO, 2002). O IBAMA calcula em cerca de 5,65 milhões de hectares a área desmatada entre 1996 e 2001 (IBAMA, 2005b). O desflorestamento intensificou-se a partir da segunda metade dos anos 1990. No período 1997/2003 foram desflorestados, em média, 1,97 milhões de hectares por ano, contra 1,67 milhões no período 1990/1996, conforme indicam os dados de áreas desflorestadas da Tabela 1.1, calculadas pelo INPE.

Instituição 1996/97 1997/98 1998/99 1999/00 2000/2001 2001/2003 2002/2003

INPE 1.322,7 1.638,3 1.725,9 1.822,6 1.816,5 2.326,6 2.375,0

IBAMA 762, 1.010,8 1.202,1 1.725,7 947,0. n.d n.d

Tabela 1.1 – Amazônia Legal: Desmatamento Anual por Instituição 1996-2003 FONTE: INPE (2005) e IBAMA (2005b) (Em mil ha.)

1 A Amazônia Legal é uma região de planejamento político e econômico criada para administrar incentivos econômicos para o desenvolvimento da área abrangida pela Floresta Amazônica e compreende, inteiramente, os Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima e parte dos estados do Tocantins, Mato Grosso e Maranhão. Sua área é de 5.217.423 km2 dos quais 4,2 milhões km2 eram originalmente abrangidos pela floresta tropical (FAMINOW e VOSTI, 1998).

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Os dados divergem entre si por se basearem em diferentes: a) bases

territoriais de cálculo; b) metodologias de cálculo; c) definições de desmatamento2.

Para uma área total de cobertura florestal da região calculada entre 379 e 419

milhões de hectares (FAMINOW, 1988 e IBGE, 1998, apud PACHECO, 2002, p. 3),

a taxa de desmatamento máxima foi de 13,6% em 2000, tomando-se como

referência os dados do INPE. Quando desagregados por estado, tanto os dados do

INPE quanto os do IBAMA mostram que os dois estados com maior índice de

desmatamento são o Mato Grosso e o Pará, conforme ilustram os Gráficos 1.1 e 1.2

abaixo. O Estado do Pará é o estado da Região Norte com maior taxa de

desmatamento.

Gráfico 1.1 Amazônia Legal - Desflorestamento Bruto Anual 1990-2004

-

200

400

600

800

1.000

1.200

1.400

90/91 91/92 92/94 94/95 95/96 96/97 97/98 98/99 99/00 00/01 01/02 02/03 03/04

F ON T E: IN P E (2005)

Em M

il H

ecta

res

Acre

Amapa

Amazonas

Maranhao

Mato Grosso

Para

Rondonia

Roraima

Tocantins

2 O IBGE baseia-se nos dados do Censo Agropecuário, que abrange municípios numa área total de 120 milhões de hectares.Considera as áreas dentro de estabelecimentos rurais com produção animal ou vegetal e como desmatadas “as áreas de culturas anuais e perenes, pastagens e florestas plantadas, áreas em descanso e terras produtivas inutilizadas” (MARGULIS, 2003, p. 7), inclusive nas áreas de floresta da Amazônia, do Cerrado e nas de transição entre o Cerrado e a Amazônia. O INPE faz suas estimativas para toda área da Amazônica Legal, produzindo-as por meio de imagens de satélites integradas em sistema SIG e considera como desmatamento as áreas de floresta primária (não tocada pela ação humana) para uso agrícola ou pecuário, inclusive áreas recuperadas, abrangendo diferentes tipos de cobertura florestal. O IBAMA trabalha com levantamentos em 197 municípios dentro do chamado “arco do desmatamento”, não inclui os Estados do Amapá e Roraima, faz interpretações visuais de imagens de satélite digitalizadas e considera desmatamento a supressão total da vegetação original ou regenerada, caracterizada por qualquer tipo de cobertura vegetal com a finalidade de promover usos alternativos do solo (PACHECO, 2002; IBAMA, 2005a).

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Gráfico 1.2 - Arco do Desmatamento: Desmatamento 1996-2001

-

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1.000

96/97 97/98 98/99 99/00 00/01

F ON T E: IB A M A (2005b )

Em M

il H

ecta

res

Acre

Amazonas

Maranhao

Mato Grosso

Para

Rondonia

Tocantins

1.2 Causas do Desmatamento

A formação histórica, determinante do processo de ocupação do espaço, e o

uso e a posse da terra, influenciados por razões geofísicas e de políticas públicas,

são fatores explicativos da perda de cobertura vegetal. Esses fatores diferem em

cada localidade do espaço regional, determinando diferentes padrões e velocidades

de desmatamento dentro de uma mesma região.

As causas da perda da biodiversidade são tradicionalmente subdivididas na

literatura em causas próximas e causas fundamentais ou forças indutoras. As

primeiras constituem-se de alterações na vegetação provocadas pela intervenção

humana direta. As segundas são originadas por fatores econômicos, sociais e

institucionais e constituem a motivação das causas próximas (PEARCE e MORAN,

1994; TURNER et. al., 1994, apud WALKER e HOMMA, 1996). A principal causa da

perda de biodiversidade é a conversão da terra, isto é, a conversão de um

determinado uso da terra em outro promovido intencionalmente por agentes

econômicos (PEARCE e MORAN, 1994; CATTANEO, 2001). Ocorre desmatamento

quando o solo florestal é explorado por meio da retirada da vegetação nativa e

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16

usado para outros fins (MOTTA, 1996). O uso da terra para fins agrícolas é uma das

causas mais comuns de perda de biodiversidade em áreas de florestas.

As decisões sobre a oportunidade e o volume do desmatamento são tomadas

tanto em nível micro, isto é, em nível dos sistemas produtivos, como em níveis nível

macro, por meio de instrumentos e políticas públicas que influenciam as decisões

nos níveis inferiores (FAMINOW e VOSTI, 1998).

Angelsen e Kaimowitz (1999) identificam cinco variáveis motivadoras do

desmatamento: a magnitude e a localização do desmatamento; os agentes

(unidades familiares de produção agropecuária; fazendeiros, cortadores de madeira,

empresas agropecuárias); as variáveis de escolha; os parâmetros de decisão; e as

variáveis macroeconômicas e seus instrumentos de política. Os autores classificam

a magnitude e a localização do desmatamento como as principais variáveis

dependentes e sugerem a identificação dos agentes e suas características como

ponto de partida para identificar as razões da conversão da terra. Eles organizam as

variáveis de escolha, os parâmetros de decisão e as variáveis macroeconômicas em

três distintos níveis de influência.

Em nível da unidade de produção, as ações dos agentes são responsáveis

diretas pelo desmatamento. Elas são orientadas por variáveis de escolha e são

chamadas de fontes do desmatamento. Na classificação tradicional, as fontes do

desmatamento correspondem às causas próximas da perda de biodiversidade. O

uso da terra, a alocação de fatores de produção e as decisões gerenciais e

tecnológicas tomadas em nível da unidade produtiva são os exemplos mais comuns

de variáveis de escolha (MARGULIS, 2001).

Externamente à unidade produtiva encontram-se as variáveis que compõem

as causas imediatas e aquelas que compõem as causas subjacentes. As primeiras

são determinadas: a) por algumas características que compõem as decisões dos

agentes, como seu histórico, preferências e disponibilidade de recursos; e b) pelos

parâmetros de decisão formados externamente ao âmbito de ação dos agentes e

cujos exemplos mais comuns são os preços de produtos, insumos e fatores de

produção; a disponibilidade de crédito; salários e empregos urbanos; as condições

de acesso a serviços e à infra-estrutura, denominados de acessibilidade por

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reduzirem os custos de transporte; as tecnologias de produção disponíveis em nível

da unidade produtiva; os regimes e os direitos de propriedade; e as características

ambientais. As últimas são formadas por variáveis macroeconômicas e instrumentos

de política e que influenciam os parâmetros de decisão e as características dos

agentes (causas imediatas) por diversos canais tais como: o mercado (preços,

salários e empregos); o desenvolvimento de infra-estrutura (estradas e acesso às

áreas de floresta); instituições (regime de propriedade) e o progresso tecnológico

(tecnologia disponível nas unidades produtivas). A política econômica (crescimento

do produto e renda); a política comercial (liberalização comercial e a desvalorização

cambial); a política demográfica; a política econômica externa (ajustes estruturais e

a dívida externa) e os efeitos macroeconômicos e indiretos do progresso tecnológico

são os exemplos mais comuns das causas subjacentes.

A classificação de Angelsen e Kaimowitz demonstra-se mais apropriada para

analisar as causas do desmatamento pois estabelece relações de causa e efeito

entre as variáveis que o determinam. Além disso, identifica em que nível elas são

formadas e o grau de influência que exercem – se direto ou indireto. Assim, a

análise das causas do desmatamento na Amazônia apresentada a seguir será

organizada segundo esta classificação. Inicialmente serão discutidos os principais

agentes do desmatamento, a seguir suas causas, concluindo-se o capítulo como o

seu desenvolvimento na Amazônia e no Estado do Pará, melhor precisando, desta

forma, sua magnitude e localização.

1.3 Agentes do Desmatamento na Amazônia Alguns agentes são apontados pela literatura como os principais promotores

do desmatamento na Amazônia: mineradores; madeireiros; pequenos colonos;

imigrantes; grandes e médios fazendeiros, especialmente pecuaristas; pequenos

produtores familiares, que associam agricultura com pecuária; e um grupo de

pequenos agentes formado por agricultores que perderam a posse da terra e por

trabalhadores rurais itinerantes (FAMINOW e VOSTI, 1998; FEARNSIDE, 2001;

CASTRO et al., 2002; MERTENS et al., 2002; MARGULIS, 2003).

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Não existe um padrão lógico de comportamento dos agentes na promoção do

desmatamento. Embora na maioria dos casos haja uma interação entre dois ou mais

agentes, há também aqueles que agem sem contar com a participação de outros. As

táticas e o comportamento diferem conforme o tamanho do agente e a localização

do desmatamento.

Mattos e Uhl e Uhl et. al. (1994 e 1997, apud ALENCAR et al., 2004)

descrevem a interação entre o madeireiro, os pecuaristas e o pequeno produtor

rural.

Dado o caráter exploratório de sua atividade, os madeireiros, em geral,

antecedem os pecuaristas e os produtores rurais na ocupação do solo. Pecuaristas

e produtores rurais ocupam o território na seqüência, encontrando na atividade

madeireira e, portanto, no desmatamento, parte significativa do capital que financiará

sua atividade. Motta (1996, p. 59, grifo nosso) é incisivo ao estabelecer esta relação:

“A importância da expansão da produção madeireira no processo de desmatamento se realiza na forma de agente de financiamento do desmate na expansão da fronteira agropecuária. Este tem sido o processo histórico de aberturas de fronteira no Brasil”. (...) a produção madeireira torna-se coadjuvante das atividades agropecuárias no processo de desmatamento. O desmate agropecuário é financiado em troca da produção madeireira resultante ou, pior, o desmate agropecuário é uma forma legalizada de expandir a extração madeireira sob formas de manejo não-sustentáveis”.

Dependendo da sua localização, o desmatamento tem dinâmicas, proporções

e agentes com diferentes potenciais e comportamento. Margulis (2003) define dois

esquemas gerais de desmatamento: aqueles ocorridos nas áreas de expansão de

fronteira e aqueles das áreas de ocupação consolidada.

As áreas de expansão de fronteira são remotas e atraem agentes pioneiros,

descapitalizados, que operam com baixos custos de oportunidade. Dedicam-se à

extração mineral, exploração madeireira e agricultura e pecuária de pequenas

escalas, e buscam aumentar seus custos de oportunidade a partir da produção

agrícola de subsistência ou da venda de sua mão-de-obra.

Os agentes mais presentes nessas áreas são os pequenos agricultores,

pecuaristas e madeireiros e os pequenos colonos, imigrantes e trabalhadores rurais.

As áreas de ocupação consolidada são de fácil acesso. Nelas localizam-se a

maior parte dos desmatamentos. Ali atuam os produtores agrícolas e pecuários e

comerciantes agropecuários de grande porte, capitalizados, beneficiados pela alta

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produtividade dos seus negócios e por subsídios governamentais e incentivos

fiscais. Estes agentes adotam uma estratégia empresarial voltada para a expansão

dos negócios.

Fica claro, então, que em áreas de fronteira, os agentes atuam

diferentemente e de acordo com seu tamanho. Contudo, tanto os pequenos quanto

os grandes agentes desempenharam, historicamente, papel relevante na expansão

da fronteira e, portanto, no desmatamento.

Os pequenos agentes, com pouco capital, deslocaram-se do sul do país em

busca de terras mais baratas e, isoladamente ou por meio de projetos de

colonização ou assentamento, iniciaram um processo paulatino de ocupação da

terra, fixando-se em regiões de fronteira e apropriando-se dos recursos naturais. Ao

longo do tempo abriram espaço para a exploração em larga escala, vendendo suas

propriedades aos agentes maiores, mais capitalizados (MOTTA, 1996; CASTRO et

al., 2002; MARGULIS, 2003).

Os grandes agentes, capitalizados, promovem a maior parte do

desmatamento e contam com a participação de trabalhadores rurais e pequenos

produtores.

Os madeireiros utilizam-se de sua mão-de-obra, atraída pela promessa de

assentamentos. Pequenos produtores e colonos penetram na mata, por vezes

incentivados por madeireiros, e fazem o corte de árvores para financiar suas

plantações, suprindo assim os madeireiros. Em localidades de fronteira consolidada,

os pecuaristas substituem os madeireiros e o processo se repete. Em áreas de

expansão de fronteira também há a participação dos pecuaristas, que seguem os

pequenos produtores e colonos (MARGULIS, 2003). Estes promovem o corte e

queima da floresta e, após abandonarem a terra, abrem espaço para que os

pecuaristas façam a limpeza e o plantio de pastos (MARGULIS, 2001). A pastagem

é o uso do solo que caracteriza definitivamente o predomínio da pecuária.

Dentre todos os agentes considerados isoladamente, o pecuarista, é “visto

como o maior produtor de desmatamentos, [pois...] é ele quem derruba de forma

definitiva a mata para formar pastos (CASTRO et al., 2002, p. 27)”. A respeito da

relevância dos agentes para o desmatamento, Margulis (2003, p. 26) complementa:

“(...) uma atenção desproporcional vem sendo dada aos madeireiros em relação aos

pecuaristas: ainda que suas atividades devam ser fiscalizadas por serem não

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sustentáveis e em grande medida ilegais, eles não são tão importantes agentes dos

desmatamentos como os pecuaristas (...)”.

1.4 Fontes do Desmatamento na Amazônia

Os sistemas de uso da terra são uma das principais fontes do desmatamento

na Amazônia. Três sistemas são identificados como os maiores responsáveis pela

conversão da terra: a exploração de madeira; a mineração e os empreendimentos

agropecuários. Nestes últimos, as três principais formas de conversão da floresta

são o corte e queima pela agricultura familiar, as pastagens para pecuária extensiva

e o plantio de grãos pela agroindústria (WALKER e HOMMA, 1996; WALKER,

MORAN e ANSELIN, 2000; LAURANCE et al, 2001; ALENCAR et al. 2004). A

intensificação destes sistemas nas partes sul e oriental da Amazônia e no chamado

“arco do desmatamento”3 acelerou a perda de cobertura vegetal nestas regiões

(LAURANCE et al, 2001).

1.4.1 A Exploração Madeireira e Mineral

A Amazônia é fonte de madeiras de grande apreciação como o mogno, e de

riquezas minerais como o petróleo, o gás natural, o minério de ferro, a bauxita, etc.

Além dos danos à floresta, ao solo e ecossistemas aquáticos, a exploração

madeireira e mineral promove a abertura de estradas, facilitando o acesso à floresta

de agentes diversos que se utilizam da técnica de corta e queima para consolidarem

a ocupação do espaço. O corte intensivo e indiscriminado torna a floresta mais

suscetível às queimadas, que se transformam frequentemente em incêndios

florestais sem controle (LAURANCE et al, 2001; ALENCAR et al. 2004).

3 O “arco do desmatamento” é constituído por 249 municípios que abrangem uma área de cerca de 170 a 190 milhões de hectares da Amazônia Legal, e seus limites estendem-se do sudeste do Estado do Maranhão, norte do Tocantins, sul do Pará, norte de Mato Grosso, Rondônia, sul do Amazonas e sudeste do Estado do Acre. Esta área concentra as mais altas pressões por mudanças no uso da terra (PACHECO, 2002; VIEIRA, FERREIRA e HOMMA, 2006).

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1.4.2 Os Empreendimentos Agropecuários

Os agricultores familiares correspondem a cerca de 70% da população rural

da Amazônia (IBGE, 1996, apud ALENCAR et al., 2004) e são responsáveis por

cerca de 30% do desmatamento (FEARNSIDE, 1997 e NEPSTAD et al., 1999, apud

ALENCAR et al., 2004). Eles se concentram especialmente no Estado do Pará. O

desmatamento médio anual causado pela unidade produtiva familiar é estimado em

dois a três hectares (WALKER e HOMMA, 1996) e tem potencial para crescer devido

à maior participação da pecuária na produção familiar. O gado é fonte de alimento e

de renda para o agricultor familiar. Ele representa uma forma segura de

investimento, fornece leite para consumo e venda e bezerros para a venda

(MERTENS et al., 2002; ALENCAR et al., 2004).

Walker e Homma (1996), a partir de observações realizadas no Estado do

Pará4, descrevem como a pequena propriedade promove o desmatamento,

evoluindo da agricultura de subsistência para a pecuária. A unidade de produção

agrícola familiar inicia sua produção com escassos recursos financeiros, quase

todos eles aplicados na aquisição de pequena parcela de terra, normalmente com

vegetação primária. Esta é transformada em floresta secundária, com formação de

arbustos, por meio da técnica de corta e queima, e cultivada em sistemas de rotação

com culturas comumente desenvolvidas na região (arroz, mandioca, etc). A

continuidade do empreendimento e a promoção dos membros mais novos da família

à idade produtiva permitem o acúmulo de alguma renda. Desta maneira, a produção

expande-se por meio da incorporação de novas terras e do desenvolvimento da

pecuária e de pastos. A família acumula riqueza e sua terra se valoriza. Este ciclo

virtuoso desenvolve-se por meio de uma dinâmica que associa o uso da terra aos

impactos ambientais desde os primeiros estágios. Assim, a consolidação e a

ampliação da produção guardam uma correlação direta com o desmatamento.

A criação de pastagens, resultante deste processo de ocupação e uso da

terra, não se constitui numa regra para todo o Estado. Ocorrem muitos casos de

abandono de terras ou de permanência em culturas de subsistência. Os autores

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afirmam, contudo, que ele é consistente com mudanças de longo prazo em algumas

regiões e pode ser interpretado como uma evolução de sistemas de produção de

culturas anuais para investimentos perenes como a pecuária.

A expansão de pastagens, induzida pela pecuária em larga escala, é

frequentemente apontada como a mais importante fonte das causas próximas do

desmatamento na Amazônia (HECHT, 1993, apud PACHECO, 2002; SKOLE et. al.,

1994; WALKER, MORAN e ANSELIN, 2000; MERTENS, 2002; BARROS et. al.,

2002; CASTRO et al., 2002; MŰELLER et. al., 2004). Cerca de 70% da área total

desmatada em 1995, (FEARNSIDE, 1993, apud ALENCAR et al., 2004) e de 80%

em 1998, segundo dados do INPE (FEARNSIDE, 2001), estão sob a forma de

pastagem para a pecuária ou de florestas secundárias surgidas de pastagens

degradadas e abandonadas.

Mertens et al. (2002) apontam três causas que justificam o desenvolvimento

de pastagens:

• são fonte de alimento para o gado. As condições apropriadas de

temperatura, fertilidade do solo e umidade facilitam o seu desenvolvimento;

• facilitam a posse da terra. É a forma de uso da terra mais comum e constitui-

se num primeiro passo legal para a propriedade definitiva;

• aumentam em até 10 vezes o valor da terra comparativamente à terra coberta

por floresta. O custo de formação da pastagem é baixo e a criação extensiva de

gado é a atividade mais apropriada para cobrir as vastas áreas de floresta

derrubada.

Tanto a pecuária extensiva quanto a intensiva são desenvolvidas na

Amazônia, particularmente no Estado do Pará. O esquema extensivo decorre de

uma opção do agricultor para tirar proveito da alta produtividade dos pastos nos

primeiros quatro anos de exploração.

Após este período, o pasto é abandonado e nova área de floresta é

desmatada. O esquema intensivo envolve tecnologias de produção como o manejo

de pastos, melhoria de variedades de gramíneas, controle sanitário e adoção de

recuperação mecanizada de pastagens degradadas. A proximidade de uma rede de

transportes que reduz o custo de produção e permite ganhos de escala também é

4 A forma de produção agrícola-doméstica descrita a seguir resultou de pesquisa realizada no Estado do Pará, em 1992, pelo CAT.

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uma característica deste sistema (MERTENS et al., 2002). As decisões gerenciais

quanto ao uso da terra e da tecnologia de produção estão associadas ao tamanho

do produtor. Os grandes produtores dedicam-se aos sistemas intensivos e os

pequenos, aos extensivos.

A produção de grãos na região da Amazônia Legal, especialmente soja,

ocorre principalmente em áreas de pastagem e por esta razão repercute

indiretamente sobre o desmatamento. Fortemente orientada para o mercado

externo, há possibilidades de a produção de soja promover a conversão direta de

áreas de floresta além do norte do Estado do Mato Grosso. O preço do hectare de

floresta, inferior ao do pasto, é um fator que pode influenciar decisivamente neste

sentido (ALENCAR et al., 2004).

Os sistemas de uso da terra, tal como descrito acima, não abrangem todas as

variáveis explicativas da conversão florestal, muitas delas formadas externamente à

unidade de produção. As decisões de investimento do agente produtor são

baseadas exclusivamente no seu sucesso em acumular renda o qual depende de

variáveis exógenas como os preços e a disponibilidade de crédito, dentre outras.

A evolução positiva dos preços de produtos agrícolas e pecuários, a maior

disponibilidade de tecnologia e de infra-estrutura produtiva e social, a maior

abundância de recursos naturais e as condições ambientais favoráveis são, de fato,

incorporados às decisões que levam a passagem de uma agricultura de quase

subsistência para um empreendimento rural de maior porte. Por conseguinte, estes

fatores exercem influência direta sobre o tamanho do desmatamento, cujo

crescimento acompanha o tamanho da unidade produtiva e a maior complexidade

de suas estruturas de produção. Da mesma forma, a disponibilidade de crédito e de

incentivo fiscal à agropecuária, as inovações tecnológicas na agricultura, o acesso a

mercados externos pela melhoria de condições fito-sanitárias, geram um ambiente

favorável para a conversão de uso da terra para fins agropecuários. Estas variáveis

serão discutidas a seguir.

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1.5 Causas Imediatas do Desmatamento na Amazônia

Alguns parâmetros de decisão influenciam diretamente a ação dos agentes na

Amazônia quanto ao uso da terra: os preços de produtos, de insumos e de fatores

de produção; o acesso a mercados através de infra-estrutura viária que reduz o

custo dos transportes; a disponibilidade de crédito e financiamento que permitem o

acesso a tecnologias mais rentáveis e as características ambientais que viabilizam o

uso agropecuário da terra.

1.5.1 Preços

A quantidade ofertada de um produto depende de três preços básicos: do

preço que ele alcança no mercado, do preço dos fatores de produção, insumos e

matérias-primas e dos preços dos demais bens, substitutos ou complementares.

Preços agrícolas em alta implicam em produção crescente e maior

incorporação de fatores de produção (terra e mão-de-obra) e insumos à produção. A

quantidade de fatores e insumos a serem incorporados à produção dependerá da

sua disponibilidade e do seu preço.

Preços crescentes de insumos implicam em maiores custos de produção. O

impacto sobre as áreas de floresta dependerá de quão lucrativa é a agropecuária.

Admitindo que o produtor agropecuário seja tomador de preços, ele somente evitará

uma redução do seu lucro se for bem sucedido em reduzir seus custos fixos e

racionalizar outros custos variáveis. Angelsen e Kaimowitz (1999) concluem que o

efeito destes preços sobre o desmatamento é indeterminado, mas que uma

estratégia de redução de custos pode levar o produtor a adotar sistemas mais

extensivos. Nesta hipótese, haverá maior desmatamento (MARGULIS, 2001).

O preço da terra é um componente do custo total numa função de produção

agropecuária e a própria terra deve ser tratada como fator de produção. Isto é válido,

inclusive, nos casos em que ela é explorada com fins especulativos, ou seja, quando

é tratada por quem dela se apropria como reserva de valor. Para atender a esta

função, a especulação com terra na Amazônia visa inseri-la, em algum momento, na

produção. A existência de grandes extensões de terras desocupadas na Amazônia,

em geral públicas, estimula a ocupação ilegal. Estas terras, em regime de livre

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acesso, têm custo zero ou próximo de zero e o desmatamento é a forma de mais

comum de assegurar direitos de propriedade.

No início do processo de ocupação, o ocupante tem um lucro elevado mesmo

diante dos custos do desmatamento e de legalização da posse, pois seu preço de

revenda é alto se comparado com os preços de compra ou com os custos de

ocupação. O preço se eleva na medida em que a terra é sucessivamente convertida

e vendida. O ocupante que a adquire mais ao final do processo de ocupação,

desmatamento e legalização pagará um preço maior. Este ocupante é um produtor

agropecuário capitalizado e tem porte médio ou grande. Na medida em que a terra é

convertida à atividade produtiva, seu preço cresce. O processo de conversão avança

se os custos de ocupação e legalização da terra não forem superiores ao seu preço.

E o preço da terra é influenciado diretamente pelo resultado de sua produção.

Assim, quanto mais lucrativa for a atividade produtiva, maior será o desmatamento.

Portanto, é a rentabilidade da atividade produtiva da terra, ou seja, do

empreendimento pecuário no caso da Amazônia, que se correlaciona diretamente

com o desmatamento (MARGULIS, 2003). Esta rentabilidade, dada pela TIR dos

empreendimentos pecuários é bastante elevada no caso do Estado do Pará5

(BARROS et al. 2002). O preço da terra apenas reflete a maior lucratividade da

produção.

1.5.2 Estradas, Custos de Transporte e Acessibilidade

Diversos modelos empíricos e analíticos estabelecem forte relação entre

estradas e desmatamentos, especialmente quando analisam a perda de cobertura

florestal nas proximidades das estradas (ANDERSEN, 1997; PFAFF, 1997,

KRUTILLA, HYDE e BARNES, 1996 apud ANGELSEN e KAIMOWITZ, 1999, entre

outros). Nepstad et al. (2001) calculam que a construção, asfaltamento e

recuperação de 6.245 km de estradas na Amazônia podem provocar um

desmatamento adicional de 12.000 a 24.000 km2.

5 Barros et al.(2002) calcularam taxas internas de retorno para alguns sistemas de produção no Sudeste Paraense. Para dados de 2002, estas taxas variam de 9,07% para o sistema de cria-recria e engorda em Redenção, a 14,7% para o sistema de recria e engorda em Santana do Araguaia. São estes dados que levam os autores e Margulis (2003), a concluírem pela viabilidade e segurança da pecuária amazônica.

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Mais de dois terços da área desmatada na Amazônia ocorre num raio de 50

km das principais estradas asfaltadas (ALVES, 1999 e NEPSTAD et al., 2001, apud

MERTENS et al, 2002). Laurance et al. (2001) calcularam que rodovias asfaltadas

causam mais desmatamento do que as estradas. Baseados na rede viária existente

em 1995, os autores retroagiram de quinze a vinte e cinco anos para avaliar os

efeitos das rodovias e estradas sobre a cobertura de vegetação primária.

Concluíram que a perda média da cobertura florestal nos dez primeiros quilômetros

de distância tanto das rodovias quanto das estradas é de 30%. Contudo, na medida

em que a distância entre estradas e rodovias aumenta, este percentual é menor para

as estradas do que para as rodovias. Acima de 25 km de distância, o percentual de

desmatamento é superior a 15% no caso das rodovias asfaltadas, mas inferior a

15% no caso das estradas. O desmatamento total atribuído diretamente à abertura

de estradas, no período 1970-1985 foi calculado em 72% por Andersen e Reis

(1997).

Embora a correlação entre estradas e desmatamento seja clara, dois pontos

não estão esclarecidos suficientemente pela literatura: a) a relação de causa e efeito

entre ambas; b) o efeito das estradas sobre o uso do solo – se de desmatamento ou

de intensificação do uso produtivo.

Se o desenvolvimento de uma infra-estrutura viária ocorre em áreas de

floresta virgem, de expansão de fronteira, as estradas facilitam a penetração,

especialmente quando acompanhadas de eletricidade rural, por exemplo, tornando-

as mais suscetíveis à conversão (MERTENS et al., 2002; MARGULIS, 2003). Em

casos como este, estradas potencializam o desmatamento.

Angelsen e Kaimowitz (1999, p. 85) argumentam que a relação de

causalidade é maior entre desmatamento e estradas do que entre estradas e

desmatamento:

“A simples correlação entre distância das estradas e desmatamento, encontrada em alguns modelos econométricos, tende a sobreestimar a causalidade, uma vez que é mais freqüente que algumas estradas sejam construídas exatamente porque uma área foi desmatada e assentada, do que o contrário. E ambos, terra e estradas, podem ser simultaneamente influenciados por uma terceira lista de fatores como a qualidade do solo e a densidade populacional”.

O potencial das áreas desmatadas atraírem estradas é maior do que o de

estradas provocarem o desmatamento. Ambas as relações existem, embora na

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perspectiva da ocupação da terra e da formação de mercados, o desmatamento

tenha maior potencial de atrair estradas do que as estradas de provocarem

desmatamento. No início do processo de ocupação de uma região de floresta, os

primeiros fluxos migratórios iniciam a conversão, atraídos pelo fator qualidade do

solo ou dos recursos naturais, mesmo diante de um sistema viário inexistente ou

muito precário. Quando a ocupação se consolida, a infra-estrutura viária surge para

viabilizar o acesso a uma região já convertida, demograficamente adensada e com

mercados em expansão.

O crescimento populacional resultante do processo de colonização da

Amazônia determinou a criação de mercados que estavam precariamente integrados

à economia nacional por um sistema viário obsoleto, insuficiente e de alto custo

(FAMINOW e VOSTI, 1998). A partir dos anos 1970, a abertura de estradas de

integração nacional e a implantação de projetos de desenvolvimento na Amazônia

facilitaram a penetração (MOTTA, 1996, p. 52). Quando estradas são construídas

para atenderem regiões onde ocorre adensamento demográfico, então a atração

ocorre no sentido do desmatamento para as estradas.

Em regiões de desenvolvimento agropecuário, Margulis (2003, p. 80)

estabelece definitivamente um vínculo entre o desmatamento e a atração de

estradas afirmando que condições “geo-ecológicas favoráveis” somadas à

“rentabilidade privada da pecuária com custos de transporte viáveis, isto é a

existência de estradas é que levam aos desmatamentos”. Isoladamente, conclui o

autor, “as estradas não teriam conduzido a tantos desmatamentos e conversão de

florestas”.

O surgimento de uma rede viária integrou partes da Região Amazônica,

especialmente o sul do Pará, ao restante do país. Estas regiões, com terras

disponíveis e condições ecológicas atrativas, beneficiaram-se da redução do custo

de transportes. Nelas instalaram-se fazendas dedicadas à pecuária (MERTENS et.

al., 2002).

Custos de transporte são um dos maiores componentes dos custos de

produção agrícola (CATTANEO, 2001). Menores custos de transporte elevam a

rentabilidade. O pecuarista adota uma estratégia de maximização de lucros baseada

na intensificação do uso dos fatores de produção, especialmente da terra e dos

recursos tecnológicos, visando obter ganhos de produtividade. Recursos

tecnológicos referem-se a sistemas de produção que elevam a quantidade produzida

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por hectare como, por exemplo, práticas de manejo de pastos e rebanhos, maior uso

de insumos adquiridos em mercado, isto é, não produzidos na unidade de produção,

ou melhores técnicas de procriação (VOSTI et. al., 2001) e a prática da pecuária

intensiva em substituição à extensiva (MERTENS et al, 2002).

Embora os vínculos entre redução do custo de transportes e acesso a

mercados para produtos pecuários e desmatamento estejam bem estabelecidos

para a Amazônia, a única evidência empírica sobre a elasticidade dos produtos

pecuários indica que demanda por carne no Estado do Pará é inelástica a preços

(SANTANA, 2000, apud MARGULIS, 2003).

Isto leva à conclusão de que uma redução nos custos de transporte resultaria

em menor desmatamento. Em outras palavras, em caso de queda nos preços da

carne, uma redução nos custos de transporte não compensaria, em termos de

lucratividade, a redução na receita total. O pecuarista tomador de preços, a fim de

manter seus lucros, ver-se-ia obrigado a reduzir sua produção – e, portanto, seus

custos – diminuindo assim a pressão sobre as florestas.

Margulis (2003) argumenta que este resultado pode ser explicado pela

incidência de febre aftosa na região. Esta hipótese é plausível. Diante das baixas

condições sanitárias, a demanda por carne não aumentaria mais que

proporcionalmente a uma queda nos preços. Contudo, o Estado do Pará está

erradicando progressivamente a febre aftosa. Em 2000 todo o estado era

considerado área infectada. Em 2002, a parte meridional foi considerada “zona

tampão” e em 2004 esta mesma região foi classificada como “zona livre com

vacinação” (MAPA, 2005). Esta última classificação fez com que os mercados do

centro-sul do país se abrissem para o consumo de carne do Pará a partir do final de

2003 (ALENCAR et al., 2004). O mercado ampliado para a carne possibilitaria

flutuações na demanda compatíveis com as de produtos elásticos a preços.

1.5.3 Crédito, Financiamento e Tecnologias de Produção

A introdução de novas tecnologias na produção pecuária requer capital para

adquirir matrizes, bezerros, equipamentos, insumos diversos e pagar salários. A falta

de capital ou de crédito pode ser um obstáculo ao desenvolvimento do setor

(ANGELSEN e KAIMOWITZ, 2001).

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29

Nas décadas de 1970 e 1980 os incentivos fiscais, subsídios e créditos

públicos viabilizaram a pecuária em larga escala na Amazônia. A pecuária

assegurava, ao mesmo tempo, a posse da terra e o acesso a créditos e subsídios

governamentais, viabilizando ganhos especulativos (HECHT, 1993, apud

MARGULIS, 2003) com a negociação da terra e de sua produção. Entre 1971 e

1987, o setor primário recebeu, em média, US$ 300 milhões de incentivos fiscais por

ano, e em 1989 a maioria dos financiamentos aprovados pela SUDAM eram projetos

agropecuários e, dentre eles, os pecuários predominavam nos Estados do Mato

Grosso e do Pará (SCHNEIDER, 1995 e YOKOMIZO, 1989, apud MARGULIS,

2003). Andersen e Reis (1997) estimaram que 28% do desmatamento na Amazônia

no período de 1970 a 1985 são explicados pelo crédito subsidiado. Os mesmos

autores concluem que o crédito subsidiado dá altos retornos sob a forma do produto

rural e urbano, e se torna o instrumento mais eficiente na promoção de trade-offs

entre desmatamento e o PNB, calculando em US$ 1.336 o crescimento anual do

PNB da região por hectare desmatado.

Nos anos 1990, o crédito subsidiado foi eliminado e os incentivos fiscais e de

crédito da SUDAM, reduzidos, de tal sorte que a agricultura recebeu pouco mais de

16% dos incentivos fiscais do FINAM entre 1991 e 1999 (MARGULIS, 2003).

Atualmente, continuam existindo fontes de crédito para a agricultura que exercem

impactos diretos sobre as florestas como, por exemplo, o FNO/BASA, que

disponibiliza crédito rural e industrial para a Amazônia a juros de 6% ao ano mais

TJLP; o PRONAF, para produtores com renda menor do que R$ 8.000, com juros de

6,5% e o PROCERA, para projetos de reforma agrária, com juros de 6,5% ao ano

mais 50% da TJLP (LELÉ et al, 2000). Até os anos 1990, os incentivos fiscais e de

crédito tiveram papel importante no financiamento da agricultura e da pecuária da

Amazônia e, portanto, no desmatamento resultante destas atividades. Contudo, sua

importância atual é bem menos relevante do que nos anos 1970 e 1980.

Com a estabilidade de preços introduzida a partir do Plano Real, os sistemas

extensivos perderam relevância como forma de se realizar poupança por meio da

criação de gado, abrindo espaço para os sistemas intensivos, nos quais a

rentabilidade, e não a sua capacidade de gerar poupança, é que define a sua

viabilidade. É a possibilidade de lucro ou a alta rentabilidade que, ao se combinar

com os menores custos de transportes propiciados por uma rede viária, provoca o

desmatamento (MARGULIS, 2003). Os grandes centros consumidores regionais são

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acessíveis por infra-estrutura viária e asseguram a demanda por produtos pecuários.

Acesso a mercados e retorno financeiro garantido são os dois fatores que mais

influenciam as decisões de investimento em pecuária na Amazônia e

particularmente no sul do Estado do Pará (MERTENS et al., 2002).

As melhorias tecnológicas, em geral de longo prazo, atraem maiores

investimentos, incrementando a demanda por pastagens e, consequentemente,

elevando seu preço no mercado de terras. Mesmo as áreas usadas em culturas

anuais se beneficiam, pois com o passar do tempo estas culturas degradam a terra.

Elas são convertidas em pastagem e vendidas com lucro. Esta conversão ocorre em

duas etapas: de florestas para terras cultiváveis; de terras cultiváveis para pastagens

(CATTANEO, 2001).

Sistemas intensivos de produção pecuária são menos lesivos à cobertura

florestal porque são mais intensivos em capital e mão-de-obra e menos intensivos

em terra. É o caso da produção leiteira que tem uma relação capital/mão-de-obra

maior do que a produção de carne. Neste último segmento, os sistemas que

trabalham com pastagens de tipos de capins mais comuns, ou com manejos com

pouco uso da capina, são pouco intensivos em capital. Já os que operam com

sistemas de capim combinados com leguminosas e usam capina frequentemente

são mais intensivos (VOSTI et al., 2001).

Os sistemas intensivos também produzem menor pressão sobre as florestas

porque estão distantes das regiões de fronteira. Contudo, novas tecnologias podem

deslocar a mão-de-obra não especializada para regiões de fronteira, contribuindo

para o desmatamento nestas áreas, ou gerar recursos para que produtores invistam

em desmatamento nas regiões de fronteira consolidada (ANGELSEN e KAIMOWITZ,

2001; VOSTI et al., 2001).

1.5.4 Características Ambientais

A abundância de terras e as condições climáticas da Amazônia favorecem o

desenvolvimento da pecuária e de pastagens. A não existência de uma variação

bem definida entre inverno e verão, os períodos de seca mais curtos do que no sul

do país, os índices pluviométricos, temperatura e umidade relativa do ar elevados,

assim como a maior luminosidade, propiciam melhor desenvolvimento de pastagens

e maior produtividade, inclusive em meses de seca, reduzindo custos com

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suplementos alimentares para o gado (BARROS et. al., 2002, CASTRO et. al, 2002;

MARGULIS, 2003).

1.6 Causas Subjacentes do Desmatamento na Amazônia

As duas políticas que mais influenciam as decisões de uso da terra na

Amazônia são as políticas demográficas e a política econômica. Esta última

determina, em última instância, o maior ou menor crescimento do produto e da

renda. As políticas comercial e externa não influenciam diretamente no

desmatamento provocado pela pecuária porque a carne bovina da Amazônia e do

Pará, especificamente, não está voltada ao mercado externo.

1.6.1 Crescimento Demográfico

Angelsen e Kaimowitz (1999) indicam algumas razões para que o crescimento

demográfico tenha efeito positivo sobre o desmatamento. Maiores contingentes

populacionais aumentam a necessidade de ocupação de terras assim como a

demanda por alimentos, combustíveis, madeiras e outros produtos florestais. A

migração interna e o crescimento da população amazônica desempenharam papel

importante no desmatamento da região.

A partir dos anos 1960, a migração interna em direção ao Norte e Centro-

Norte do país foi estimulada como forma de promover a ocupação de terras, com a

construção de estradas que ligavam as regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste à

região Norte. Nos anos 1970 e 1980 a ocupação se fez por razões geopolíticas,

buscando a integração da Região Amazônica ao restante do país (ALENCAR et al.,

2004). Andersen e Reis (1997) calcularam a taxa média anual de crescimento

demográfico na Amazônia em 4% durante o período 1970–1991. Estes autores

atribuem o crescimento tanto da população urbana quanto da rural ao crescimento

vegetativo e às pressões migratórias. De fato, 30,7% do crescimento da população

total deve-se à imigração e o restante “pode ser atribuído à alta taxa de fertilidade na

região” (GTA, apud LELÉ et al.,2000) O crescimento da renda per capita, incentivos

fiscais e infra-estrutura urbana determinam o crescimento da população urbana,

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enquanto que o crescimento da população rural é influenciado pelas possibilidades

econômicas da região (ANDERSEN e REIS, 1997).

A existência de crédito subsidiado por meio do FINAM e do FNO facilitou a

instalação de grandes fazendas produtoras na Região Norte (MARGULIS, 2001).

Programas de reforma agrária foram incentivados, propiciando a criação de

assentamentos rurais Lelé et al. (2000) indicam que o governo brasileiro assentou

280.000 famílias na Amazônia entre 1994 e 1998.

O fator populacional é significativo para o desmatamento no ramo de

atividade da agricultura familiar, a qual inclui os pequenos pecuaristas. Segundo

Sawyer (2001) somente os agricultores familiares, cerca de um oitavo da população

rural da Amazônia, são responsáveis por dois milhões de hectares por ano de

desmatamento, em sua maior parte para atividades de sobrevivência.

O crescimento da oferta de produtos agropecuários como resposta ao

crescimento demográfico regional resulta na ampliação das áreas de floresta

convertidas para a pecuária. Dentre todos os estados da Amazônia Legal, o Estado

do Pará foi aquele que apresentou o maior crescimento do consumo e da produção

de carne bovina entre 1980 e 1991, conforme demonstraram Faminow e Vosti (1998,

p. 10) ao calcularem a percentagem de auto-suficiência6 dos estados da Amazônia

Legal no consumo de carne bovina, demonstrando um crescimento de 59% para

112%. Os autores afirmam que “a criação de gado no Pará cresceu dramaticamente,

mas também cresceu o consumo, de forma que o estado tem um pequeno

excedente para exportar para outros estados”.

1.6.2 Crescimento Econômico

Segundo o argumento de Angelsen e Kaimowitz (1999), o crescimento da

renda reduz a pressão pelo desmatamento ao criar melhores oportunidades de

emprego fora do meio rural. Mas o estimula na medida em que eleva a demanda por

produtos agrícolas e florestais, propicia maior acesso a mercados e melhora a infra-

estrutura de acesso a florestas primárias. Logo, o crescimento econômico promove

indiretamente o desmatamento ao estimular o funcionamento do mercado.

6 Relação entre o consumo de carne bovina de cada estado e sua produção.

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Alencar et al. (2004) estabelecem uma relação direta entre as taxas de

crescimento do PIB brasileiro e de desmatamento na Amazônia, argumentando que

quanto maior a renda disponível, maior o investimento na Amazônia e,

consequentemente, maior perda de cobertura vegetal. Nos períodos de estabilidade

econômica e de recuperação da renda real, os autores demonstram que também

houve um crescimento das taxas de desmatamento.

Este argumento também está presente em Motta (1996), que associa o

desmatamento com a concentração da estrutura fundiária, esta resultante da

concentração de renda. No Brasil, o crescimento da renda sempre veio

acompanhado de má distribuição. Nas últimas três décadas do Século XX, a renda

interna bruta real, a preços de 2004, cresceu 296,08%, com um crescimento médio

de 8,79% na década de 1970; de 3,02% na década de 1980 e de 1,8% na década

de 1990 (IPEA, 2005). Contudo, a proporção da renda apropriada pelo 1% mais rico

da população cresceu de 12,5% em 1970 para 17,2% em 2000, enquanto que os

10% mais pobres se apropriavam de 1,2% em 1970 e de 1,07% em 2000

(ROSSETTI, 2002; IBGE, 2003). O crescimento e a má distribuição da renda

também ocorreram em nível regional. Segundo Margulis (2003, p. 61):

“Desde 1970 a renda regional aumentou significativamente. A renda rural per capita, em particular, triplicou (...). Nos estados onde ocorreram as maiores taxas de desmatamento, este crescimento foi ainda maior. Os aumentos da renda rural per capita não necessariamente se traduzem em ganhos de bem estar da população local mais pobre”.

Grande parte da conversão florestal ocorre nas grandes propriedades que

resultaram do fluxo migratório para a Amazônia e dos investimentos ali realizados.

Segundo dados do IBAMA, 18,96% do desmatamento da Amazônia Legal no

período de 1997 a 1999 ocorreram em pequenas propriedades com até 15 hectares,

enquanto que somente as propriedades com mais de 1.000 hectares foram

responsáveis por 15,94% do desmatamento (PACHECO, 2002).

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34

1.6.3 Regime de Propriedade

Quando o desmatamento ocorre em áreas de expansão de fronteira estas

terras são entendidas como de livre acesso. Mesmo na presença de crédito

facilitado o pequeno colono que promove a abertura da floresta nestas áreas

vendem seus lotes pequenos aos grandes agricultores pois estas terras são de difícil

acesso. Os grandes fazendeiros têm mais condições de esperar pelo avanço da

fronteira e a conseqüente valorização de sua terra. Ocorre um processo de

ocupação tipicamente especulativo. A posse e o desmatamento facilitam a garantia

dos direitos de propriedade. O preço da terra pode se multiplicar em até cem vezes

entre a ocupação inicial da terra com cobertura florestal primária e a sua titulação

(MARGULIS, 2001 e 2003).

1.7 Desmatamento e Desenvolvimento da Pecuária na Amazônia: o Estado do Pará

A pecuária desenvolve-se de forma notável na Região Norte. A Tabela 1.2

mostra que o crescimento do rebanho bovino na região chega a ser três vezes

superior à média nacional. Veiga et al. (2004) atribuem este crescimento ao baixo

índice de abate de novilhas, às quais é destinado o papel de reprodutoras, e à

importação de gado de outras regiões do Brasil, destinados ou à engorda ou à

reprodução.

O rebanho paraense é o maior da Região Norte e o oitavo do Brasil. No

período 1999-2003 apresentou o segundo maior crescimento relativo e em alguns

anos registrou taxas de crescimento superiores à média nacional e regional. Em

2003 foi responsável por 6,84% do total nacional e por 39,4% do regional.

A origem deste crescimento remonta à década de 1970 quando a expansão

da fronteira agrícola do Cerrado da Região Centro-Oeste provocou,

simultaneamente, desenvolvimento semelhante na Amazônia (SKOLE et al., 1994)

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Discriminação Número de Cabeças Variação Anual1999 2000 2001 2002 2003 2000/1999 2001/2000 2002/2001 2003/2002

BRASIL 164.621.038 169.875.524 176.388.726 185.348.838 195.551.576 3,19 3,83 5,08 5,50

REGIÃO NORTE 22.430.811 24.517.612 27.284.210 30.428.813 33.929.590 9,30 11,28 11,53 11,50PARÁ 8.862.649 10.271.409 11.046.992 12.190.597 13.376.606 15,90 7,55 10,35 9,73RONDÔNIA 5.441.734 5.664.320 6.605.034 8.039.890 9.392.354 4,09 16,61 21,72 16,82TOCANTINS 5.813.170 6.142.096 6.570.653 6.979.102 7.659.743 5,66 6,98 6,22 9,75ACRE 929.999 1.033.311 1.672.598 1.817.467 1.874.804 11,11 61,87 8,66 3,15AMAZONAS 826.025 843.254 863.736 894.856 1.121.009 2,09 2,43 3,60 25,27RORAIMA 480.500 480.400 438.000 423.000 423.400 -0,02 -8,83 -3,42 0,09AMAPÁ 76.734 82.822 87.197 83.901 81.674 7,93 5,28 -3,78 -2,65Tabela 1.2 - Rebanho Bovino na Região Norte 1999–2003FONTE: IBGE (2004)

O desenvolvimento da pecuária e do desmatamento na Amazônia apresenta,

em muitos períodos, evolução semelhante. A este respeito, Veiga et al., (2004)

apontam duas evidências. Primeiramente, demonstram com o uso de ilustrações,

que as maiores taxas de crescimento do rebanho bovino encontram-se em

municípios do arco do desmatamento, que inclui as regiões Sul e Sudeste do Pará.

Em segundo lugar, afirmam que a abertura de novas áreas em substituição às

pastagens degradadas evidencia uma relação de linearidade entre desmatamento e

pecuária. Confirmando esta relação, Alencar et al. (2004), obtiveram um coeficiente

de correlação de 0,9732 entre a área desmatada e o rebanho bovino na Amazônia,

conforme ilustra a reta de regressão do Gráfico 1.3.

Gráfico 1.3 – Relação ente tamanho do rebanho bovino e área desmatada na Amazônia 1990-2001

FONTE: Alencar et al. (2004, p. 30).

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As Tabelas 1.3 e 1.4 mostram que, a partir do ano 2000, o crescimento do

rebanho bovino foi sempre superior ao crescimento do desmatamento tanto na

Amazônia Legal quanto no Estado do Pará. Neste último, dois fatos chamam a

atenção: o desmatamento cresce a taxas superiores às da Amazônia Legal, exceto

para o ano de 2003 e o crescimento do rebanho bovino é sempre maior que o

crescimento do desmatamento.

Período

Variação Absoluta

Acumulada (Em Cabeças)

Variação Anual ( % )

Variação Absoluta

Acumulada (Em Cabeças)

Variação Anual ( % )

De 1991 a 1996 11.161.802 - 569.390 - 1997 11.440.039 2,49 1.357.064 138,34 1998 13.594.227 18,83 2.155.091 58,81 1999 15.438.230 13,56 2.680.559 24,38 2000 19.160.679 24,11 4.089.319 52,55 2001 22.390.396 16,86 4.864.902 18,97 2002 27.678.315 23,62 6.008.507 23,51 2003 33.851.367 22,30 7.194.516 19,74

Tabela 1.3 - Rebanho Bovino na Amazônia Legal e Pará 1991– 2003FONTE: INPE (2005 a) e IBGE (2004)NOTAS: (1) Para os Estados de Mato Grosso e Maranhão inclui apenas os efetivosdos municípios pertencentes à Amazônia Legal (SUDAM/PNUD, 2000)

P a r áAmazônia Legal

Período

Variação Absoluta

Acumulada (Em ha)

Variação Anual ( % )

Variação Absoluta

Acumulada (Em ha)

Variação Anual ( % )

De 1991 a 1996 8.693.200 2.583.100 0,0096/97 10.015.900 15,22 2.997.000 16,0297/98 11.754.200 17,36 3.579.900 19,4598/99 13.480.100 14,68 4.091.000 14,2899/00 15.302.700 13,52 4.758.100 16,3100/01 17.119.200 11,87 5.281.800 11,01 01/02 19.445.800 13,59 6.151.500 16,47 02/03 21.905.600 12,65 6.839.500 11,18

Tabela 1.4 - Desflorestamento na Amazônia Legal e no Pará 1991– 2003FONTE: INPE (2005 a) e IBGE (2004)

Amazônia Legal P a r á

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No Estado do Pará, três regiões pecuaristas, dentre as seis mesoregiões

definidas pelo IBGE (2005), se destacam: Sudeste, Sudoeste e Nordeste (Tabela

1.5).

Mesoregião Número de Cabeças Variação Anual1999 2000 2001 2002 2003 2000/1999 2001/2000 2002/2001 2003/2002

Pará 8.862.649 10.271.409 11.046.992 12.190.597 13.376.606 15,90 7,55 10,35 9,73

Baixo Amazonas 681.939 749.244 765.545 822.519 923.406 9,87 2,18 7,44 12,27Marajó 384.488 396.300 379.812 370.375 371.464 3,07 -4,16 -2,48 0,29Metropolitana de Belém 73.118 73.869 82.729 91.542 94.879 1,03 11,99 10,65 3,65Nordeste Paraense 774.175 876.922 913.776 997.083 1.140.377 13,27 4,20 9,12 14,37Sudoeste Paraense 1.004.582 1.183.321 1.444.614 1.651.902 1.961.026 17,79 22,08 14,35 18,71Sudeste Paraense 5.944.347 6.991.753 7.460.516 8.257.176 8.885.454 17,62 6,70 10,68 7,61Tabela 1.5 - Rebanho Bovino nas Mesoregiões do Estado do Pará 1999–2003FONTE: IBGE (2004)

O Sudeste, com 39 municípios, tem a maior concentração de cabeças de

gado do estado, respondendo por 66,4% do rebanho total.

O Sudoeste apresentou o maior crescimento relativo de rebanho entre 2000 e

2003 (65,7%), enquanto que no Nordeste o crescimento foi de 30% no mesmo

período. Em ambas as regiões, somente Altamira, no Sudoeste, com 291.061

cabeças em 2003 (12º rebanho do estado), tem rebanho tão representativo quanto

os maiores rebanhos do Sudeste.

Uma abordagem histórica do desenvolvimento econômico do Estado do Pará,

baseada nos ciclos econômicos, tal qual utilizada por Veiga et al. (2004), permite

encontrar as principais origens da instalação e crescimento da pecuária no Estado,

principalmente nas regiões Sul e Sudeste.

O ciclo da borracha, no início do Século XX, atraiu a primeira onda de

colonização para o Pará.

O sul do Estado tornou-se um ponto de apoio para os colonizadores. Os

seringueiros que se estabeleciam na região exploravam o caucho, única fonte de

borracha, cuja exploração, ao contrário do que ocorre com a seringueira, requeria a

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derrubada das árvores (VEIGA et al., 2004). Assim, inicia-se na região a cultura do

desmatamento, que será aprofundada com o desenvolvimento de outros ciclos e

processos de colonização.

Ao final da Segunda Guerra Mundial, o esgotamento do ciclo da borracha

deixa no sul do Pará alguns pequenos centros urbanos baseados na produção

agrícola familiar desenvolvida em pequenas propriedades. Nesta época o gado

desenvolvia-se nas áreas do cerrado, igualmente em pequena escala.

A descoberta de jazidas de ouro no sul do Pará, no final dos anos 50, marca o

segundo ciclo econômico e coincide com a abertura da rodovia Belém-Brasília, que

permitiu maior acesso ao estado. Os pioneiros vindo das Regiões Sul e Sudeste do

país instalavam-se na região, que oferecia terras boas para a agropecuária. Áreas

do território foram tituladas para estes pioneiros, constituindo propriedades de

grande tamanho. A vastidão de território e de terras de livre acesso atenuou o

conflito fundiário latente criado entre indígenas e colonos já estabelecidos e estes

novos pioneiros (VEIGA et al., 2004). Um novo processo de ocupação do território e

de desmatamento iniciava-se.

Ao final dos anos 1960, a política de ocupação territorial do governo militar

com o objetivo de controlar a região amenizando os movimentos sociais e guerrilhas,

distribuiu terras a colonos do Sul e Sudeste do país. Incentivos fiscais e

financiamentos subsidiados pela SUDAM e BASA, além da titulação de terras, foram

os instrumentos mais utilizados para a atração dos colonos nesta época. Muitas

fazendas foram negociadas e nem todos os incentivos foram de fato utilizados.

Inicia-se, nesta época, o desenvolvimento de algumas culturas e de pastagens para

a criação de gado, além da exploração madeireira (VEIGA et al., 2004). São as

características deste processo de ocupação – atração de colonos com subsídios

públicos e titulação de grandes propriedades – que incrementam a já existente

cultura do desmatamento.

A criação de pastagens para o gado, com recursos públicos subsidiados,

implicava na derrubada da floresta, que por sua vez fornecia o mogno, madeira de

grande valor comercial. O ciclo da madeira inicia-se com a conjugação destes dois

fatores no início dos anos 1970. A abertura da estrada PA 150 propiciou acesso

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mais fácil para o sul do país, permitindo o escoamento da produção pecuária e,

principalmente, madeireira, que antes se fazia, com maiores ônus, pela Belém-

Brasília. O ciclo da madeira atrai imigrantes jovens das Regiões Sul, Sudeste e

Centro-Oeste do Brasil, os quais, sendo originários de famílias que se dedicavam à

agropecuária, procuraram recuperar projetos abandonados e também ocuparam

terras tituladas e não-tituladas, com ou sem exploração econômica. Intensifica-se,

assim, a exploração pecuária consorciada com a madeireira e o espaço territorial se

complementa com a atração de agroindústrias ligadas à pecuária. Como

conseqüência, o desmatamento atinge proporções alarmantes, atingindo a segunda

maior taxa da Amazônia Legal.

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CAPÍTULO 2

FUNÇÕES E SERVIÇOS AMBIENTAIS Os Impactos Ambientais da Pecuária

2.1 - Biodiversidade e Sustentabilidade Ambiental

O homem extrapola os limites da sustentabilidade ambiental se o uso que fizer

do meio ambiente natural prejudicar sua integridade física e o funcionamento de

seus processos e componentes naturais. Compromete, assim, uma distribuição

eqüitativa dos recursos naturais entre as gerações presentes e futuras.

(COSTANZA, 1994; DE GROOT et al. 2000 apud de GROOT, WILSON e

BOUMANS, 2002). A definição desses limites não é óbvia. A sustentabilidade

econômica e social estará ameaçada quando a ambiental também estiver, pois a

manutenção do sistema econômico depende da existência de um fluxo de recursos

naturais sob a forma de insumos para a produção econômica.

Quando a pecuária e a formação de pastagens se desenvolvem em áreas de

floresta repercutem negativamente sobre os ecossistemas naturais, ameaçando a

sua biodiversidade e comprometendo a sustentabilidade ambiental, social e

econômica.

Biodiversidade refere-se à variedade biológica e compreende três níveis de

organização biológica: genética (informação genética de plantas, animais e micro-

organismos); das espécies (indivíduos de uma população na qual ocorrem fluxos

genéticos em condições naturais) e dos ecossistemas (variedade de habitats,

comunidades bióticas e processos ecológicos na biosfera e dentro de ecossistemas)

(PEARCE, 1994; TILMAN, 1997, apud FROMM, 2000). Nunes e Van den Bergh

(2001), baseados na classificação de Turner et al. (1999), consideram a diversidade

funcional dos ecossistemas como um quarto nível de organização devido,

principalmente, à sua capacidade de gerar bens e serviços e à sua resiliência, ou

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seja, sua capacidade de absorver choques ou perturbações sem alterar seu regime

de comportamento.

As interações entre o homem e o meio ambiente geram resultados positivos e

negativos para ambos. Os resultados positivos no sentido natureza – homem são os

bens e serviços que a natureza nos provê, e no sentido homem – natureza, o

manejo ambiental. Os resultados negativos no sentido natureza – homem são os

desastres naturais e outros riscos e perigos, como a contaminação por espécies

tóxicas, que ameaçam a organização social e a própria espécie humana. No sentido

homem – natureza, os resultados negativos constituem os danos, choques ou

distúrbios que provocam a degradação do meio ambiente físico e são chamados

simplesmente de impactos (GOUDIE, 1994). Identificar os impactos causados por

uma atividade econômica é um primeiro passo no sentido de determinar o grau de

comprometimento da diversidade genética e da sustentabilidade ambiental.

2.2 - Funções e Bens e Serviços Ambientais

Uma função ambiental7 é “a capacidade dos processos e componentes

naturais gerarem bens e serviços para satisfazerem as necessidades humanas

direta ou indiretamente” (DE GROOT, 1992, p. 7). A principal característica de uma

função ambiental é gerar benefícios para o homem a partir das propriedades e

processos dos ecossistemas (COSTANZA et al, 1998; DE GROOT, 1992).

7 De Groot et al. (2002, p. 394) chama a atenção para as interpretações contraditórias encontradas na literatura para o termo “função ambiental”. Ora ela é utilizada para “descrever o funcionamento interno de um ecossistema (por exemplo: manutenção de fluxos de energia, reciclagem de nutrientes e interações da cadeia alimentar)”, ora é utilizada no sentido de descrever “os benefícios obtidos pelo homem das propriedades e processos dos ecossistemas (por exemplo: produção de alimentos e tratamento de lixo)”. O artigo de COSTANZA et. al. (1998) assume esta segunda interpretação ao afirmar que “funções ambientais referem-se, diferentemente, às propriedades sistêmicas, biológicas e de habitat, ou aos processos dos ecossistemas” (p. 253, grifo nosso). A definição aqui adotada para função ambiental está relacionada com esta segunda interpretação, a qual nos parece a mais apropriada para o emprego deste conceito em valoração econômica do meio ambiente. Ela traz consigo a noção da escassez de recursos para a satisfação das necessidades humanas, tal como discutido a seguir.

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Uma função ambiental não produz nem é produzida no sentido econômico da

palavra, já que não há adição de valor inerente a ela. Entretanto, os homens

satisfazem suas necessidades usando funções ambientais. Quando o uso de uma

função ambiental conflita com o uso dela mesma ou de outras, ocorre perda de

funções e, portanto, elas competem entre si ou consigo mesmas. Nestas

circunstâncias, uma dada função tem que ser sacrificada para que outra seja

utilizada. Desta forma, funções ambientais tornam-se bens ou serviços econômicos

porque atendem à definição de escassez. Os homens devem escolher, entre os

diversos usos das diferentes funções, aqueles que melhor satisfazem suas

necessidades. De bens livres, sem valor econômico, as funções ambientais tornam-

se bens (e serviços) escassos, atendendo a uma demanda crescente, com preços

crescentes, na medida em que sua escassez aumenta (HUETING, 1991; HUETING

et. al., 1998; El SERAFY, 1998). Assim, as funções ambientais “são redefinidas

como bens e serviços ambientais quando estão envolvidos valores humanos (...) e é

a presença de seres humanos como agentes atribuidores de valor que possibilita a

tradução de estruturas e processos ecológicos básicos em entidades valoradas”.

(DE GROOT, WILSON e BOUMANS, 2002, p. 395, grifo nosso).

Serviços ambientais são gerados por funções ambientais. Por definição,

constituem-se de “fluxos de materiais, energia e informações, provenientes do

estoque de capital natural que combinados com o capital físico e humano produzem

o bem-estar humano” (COSTANZA et al., 1997, p. 254). Um serviço ambiental é

gerado pelo capital natural, mas não resulta necessariamente do uso direto do

recurso natural como insumo (MOTTA, 1996). Da mesma forma e pelas mesmas

razões que as funções ambientais, os serviços ambientais também adquirem sentido

econômico.

A intervenção humana transforma bens e serviços ambientais, agrega-lhes e,

portanto, atribui-lhes valor no sentido econômico.

O meio ambiente natural engloba, desta forma, valores naturais, sociais,

culturais e econômicos que influenciam a vida física e psicológica do homem num

dado ponto do tempo e do espaço (DE GROOT, 1992).

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Na medida em que o homem coloca-se como consumidor dos serviços da

natureza utilizando-os em seu próprio benefício, ele está agindo como ser

econômico diante do meio ambiente. Ou seja, o homem, a todo o momento, faz

escolhas e trade-offs com os ecossistemas o que, necessariamente e por definição,

implica em valoração (COSTANZA et al.1998). A valoração que resulta de uma

escolha não se traduz na atribuição de preços, mas tem implícita em si uma escala

de valores não monetários. Valor é conceituado, genericamente, como a

contribuição de uma ação a metas, objetivos ou condições definidas por um usuário

(FARBER, COSTANZA e WILSON, 2002; LIMBURG et al., 2002). O valor de um

serviço ambiental é a contribuição da ação “produção do serviço ambiental” ao

usuário “consumidor” em seu objetivo de “satisfação de necessidades”. Valorar bens

e serviços ambientais, monetariamente, é condizente com este conceito e resulta de

uma escolha pelo uso de uma função ambiental.

2.2 1 - Classificação das Funções e dos Bens e Serviços Ambientais

A magnitude do valor dos bens e serviços ambientais, assim como sua

contribuição para o bem-estar humano, pode ser mais bem avaliada uma vez que os

aspectos funcionais de ambos, funções e serviços, estão identificados.

Nunes e Van den Bergh (2001) estabelecem quatro categorias de valores da

biodiversidade segundo as relações que ela estabelece com o bem-estar humano

por meio dos ecossistemas e das espécies.

A primeira categoria refere-se ao valor dos benefícios gerados pela

biodiversidade ao bem-estar humano por meio dos ecossistemas, propiciando-lhes

suporte à vida e preservação da estrutura ecológica dos seus sistemas naturais. A

biodiversidade também promove o bem-estar humano oferecendo proteção natural

de ecossistemas e espécies por meio da manutenção dos habitats naturais, o que

determina a segunda categoria. A terceira categoria refere-se ao valor da

biodiversidade para o bem estar humano por meio da preservação das espécies.

Finalmente, o uso passivo da biodiversidade também contribui para o bem-estar

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humano sob a forma de conhecimentos transmissíveis a gerações futuras, práticas

religiosas, reflexões filosóficas, contemplação, etc.

Estas quatro categorias de valor da biodiversidade correspondem,

respectivamente, às quatro funções ambientais: regulação; abrigo ou habitat;

produção; informação. Esta é a classificação de funções definida por De Groot

(1992) e que com alguma variação na nomenclatura também é utilizada por outros

autores, dentre os quais De Groot, Wilson e Boumans (2002), Turner et al. (2003) e

Pagiola, von Ritter e Bishop (2004) 8.

A função de regulação é responsável por manter os sistemas de apoio à vida

dos ecossistemas e por regular os processos naturais que os originam. São

exemplos de bens e serviços gerados por ela: água, ar e solo limpos e os serviços

de controle biológico. A função habitat provê refúgio e reprodução aos animais,

contribuindo para a conservação da diversidade genética e dos processos

evolutivos. Os abrigos naturais são os serviços gerados por esta função. A função

de produção converte energia, dióxido de carbono, água e nutrientes em estruturas

de carboidratos para gerar biomassa. Alguns dos bens e serviços gerados por esta

função são os alimentos, os insumos, os recursos energéticos e o material genético.

A função de informação propicia a reflexão, enriquecimento espiritual,

desenvolvimento cognitivo, recreação e experiência estética. Cenários e paisagens

naturais, componentes naturais tidos como sagrados por algumas religiões e

material de pesquisa científica e educacional são exemplos dos bens e serviços

gerados por esta função (DE GROOT, 1992; DE GROOT, BOUMANS e WILSON,

2002).

Estas quatro funções estão subdivididas conforme indicado no Quadro 2.1. A

classificação ali apresentada não é exaustiva e os exemplos são ilustrativos e não

representam todo o conjunto de bens e serviços gerados pelas funções ambientais.

Ademais, neste quadro estão incluídos apenas os bens e serviços utilizados de sorte

8 Turner et al (2003) adotam a mesma classificação que De Groot (1992), aplicando-a às funções de ecossistemas de água doce. Paggiola, von Ritter e Bishop (2004) adotam as seguintes categorias de serviços (ou funções): a) de provisão, sem correspondência com as funções dos demais autores e definida como a função que fornece produtos obtidos diretamente da natureza; b) de regulação; c) culturais; correspondendo à função de informação e d) de apoio, correspondendo à função de produção. A classificação destes autores não inclui explicitamente a função habitat, subtendida como parte da função de apoio.

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a não extrapolarem os limites da sustentabilidade e não estão incluídos os bens e

serviços que não possam ser atribuídos a um ecossistema em particular. Assim, não

estão incluídos nesta relação recursos naturais não renováveis como ouro, aço e

diamantes e serviços como o vento e a energia solar (DE GROOT, BOUMANS e

WILSON, 2002).

A classificação proposta no Quadro 2.1 associa a cada função os processos e

componentes ambientais e os bens e serviços por elas gerados. Num exercício de

valoração, ela adquire relevância na medida em que permite identificar com maior

clareza quais bens e serviços são valorados em decorrência de um impacto que

provoque perda ou redução de função.

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FUNÇÃO PROCESSOS E COMPONENTES AMBIENTAIS EXEMPLOS DE BENS E SERVIÇOSFUNÇÕES DE REGULAÇÃO Manutenção de Processos ecológicos essenciais e serviços de apoio à vida

Regulação de gases Papel dos ecossistemas nos ciclos bio-geoquímicos (ex: equilíbrio CO2/O2, camadade ozônio, etc.)

Proteção contra raios UV por O3 (prevenção de doenças) Manutenção da boa qualidade do ar

Regulação Climática Influência das camadas de terra e biológicas mediando processos climáticos Manutenção de um clima favorável (temperatura, precipitação,etc.) para, por exemplo, habitação humana, saúde, cultivo, etc.

Prevenção de Distúrbios Influência das estruturas dos ecossistemas em proteção contra distúrbios Proteção contra tempestades (p.e., recifes de corais). Prevenção contra inundações (p.e, sistemas de água doce e florestas)

Regulação de Águas Papel da camada de terra na regulação do runoff e fluxos dos rios Drenagem e irrigação natural Oferta de Águas Filtragem, retenção e estocagem de água doce (p.e., em aqüíferos) Meio de transporte. Provisão de água para consumo (beber, irrigação, e uso

industrial) Retenção de Solo Papel das raízes e biota do solo na retenção do solo. Manutenção de terras cultiváveis. Prevenção de danos da erosão e

sedimentação Formação de Solo Acumulação de matéria orgânica e da temperatura das rochas. Manutenção da produtividade de terras aráveis. Manutenção de solos produtivos.

Regulação de Nutrientes Papel da biota na estocagem e reciclagem de nutrientes (p.e., N, P e S) Manutenção de solos saudáveis e ecossistemas produtivos

Tratamento de Lixo Papel da vegetação e da biota na remoção de nutrientes xênicos e componentes Controle da Poluição e desintoxicação. Filtragem de partículas de poeira. Redução da poluição sonora

Polinização Papel da biota no movimento dos gametas florais Polinização de espécies de plantas selvagens. Polinização de lavouras Controle Biológico Controle de populações por meio de relações trófico-dinâmicas Controle de pestes e doenças. Redução dos danos de lagartas e outros

herbívoros (danos à lavoura) Manutenção da diversidade biológica

Acumulo de informação genética das espécies Uso medicinal, melhoria de lavouras, alimentos produtos industriais, fontes de energia, etc.

FUNÇÕES DE HABITAT Gerar habitat (espaço satisfatório para habitação) para plantas selvagens e espécies animais.

Manutenção da diversidade biológica e genética (e assim da base para outras funções)

Função de Refúgio Espaço satisfatório para plantas e animais selvagens Manutenção de espécies extrativas com fins comerciaisFunção de Abrigo Habitat satisfatório para reprodução. Caça, pesca, frutos, etc. Aquacultura e produção agrícola de subsistência

FUNÇÕES DE PRODUÇÃO Provisão de recursos naturais

Alimentos Conversão da energia solar em plantas e animais comestíveis Manufaturas (madeiras, peles, etc.). Combustível e energia (carvão, matéria orgânica)

Matérias-primas Conversão da energia solar em biomassa para processos produtivos e outros usos

Melhoria da resistência das lavouras a patogêneses e pestes Outras aplicações (saúde )

Recursos Genéticos Material genético e evolutivo para plantas e animais selvagens Drogas e produtos farmacêuticos. Modelos químicos e congêneres Testes e pesquisas com organismos

Recursos Medicinais Variedade de substâncias (bio)químicas na biota natural e para outros usos medicinais da biota.

Recursos Ornamentais Variedade da biota em ecossistemas naturais com uso ornamental potencial Recursos para moda, habilidades manuais, jóias, adorações, decoração e recordações (peles, penas, marfim, orquídeas, borboletas, aquário, peixe, conchas, etc.)

FUNÇÕES DE INFORMAÇÃO Provisão de oportunidades para desenvolvimento cognitivoInformação Estética Características atrativas na paisagem Desfrute de paisagens (estradas, abrigos, etc.) Recreação Variedade de paisagens com uso recreativo em potencial Viagens a ecossistemas para eco-turismo, esportes, etc.

Informação Artística e Cultural Variedade de atrativos naturais com valor artístico e cultural Uso da natureza como motivação para livros, filmes, pinturas, folclores, símbolos nacionais, arquitetura, propaganda, etc.

Informação Espiritual e Histórica Variedade de atrativos naturais com valor histórico e espiritual Uso da natureza para fins históricos e religiosos (p.e., valor de legado dos ecossistemas e características naturais)

Educação e Ciência Variedade de atrativos naturais com valor científico e cultural Uso dos sistemas naturais para excursões escolares. Uso da natureza para pesquisa científica.

Quadro 2.1 – Funções Ambientais, Processos e Componentes e Bens e Serviços dos Ecossistemas Naturais e Semi-naturais FONTE: De Groot, Boumans e Wilson (2002, p. 396-7); De Groot,(1992, p. 15)

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2.3 - Impactos, Externalidades e Bens Públicos

Florestas fornecem serviços públicos tais como a manutenção da diversidade

biológica, do ciclo da água e dos estoques de carbono (FEARNSIDE, 1997),

contribuindo para evitar erosões, reciclar nutrientes do solo, promover o seqüestro

de carbono, manter a qualidade do ar; etc.

Serviços ou bens públicos puros são não excludentes e não rivais. Um serviço

é não excludente, tanto tecnológica como economicamente, quando os benefícios

da sua produção podem ser apropriados indistintamente por todos, consumidores ou

produtores. Ou seja, eles não podem ser apropriados por uns enquanto outros são

excluídos. Um serviço é não rival se o consumo ou o desfrute por um indivíduo

também permitir o desfrute ou consumo por todos os demais. (PRAKASH, 2000;

DOREMUS, 2003; FREEMAN III, 2003). Ademais, o custo de oportunidade do

consumo de serviços públicos é zero (GARROD e WILLIS, 1999).

O comprometimento dos serviços prestados pelas florestas por produtores

rurais constitui uma externalidade negativa, já que a ação de um indivíduo afeta o

bem-estar da coletividade sem que os mecanismos de mercado promovam algum

tipo de compensação. Os impactos gerados pela produção sobre o meio ambiente

constituem, assim, uma externalidade negativa. Externalidades negativas

caracterizam-se por implicarem num custo externo para outros produtores ou

consumidores (PEARCE e TURNER, 1990). As externalidades provocadas por um

agente são incorporadas à função de produção de outro agente produtor sem que o

agente gerador a leve em consideração (FREEMAN III, 2003). Em outras palavras,

as decisões de produção de um agente produzem efeitos externos sobre outros

agentes sem que ocorra compensação às partes afetadas (MUELLER, 2001).

Externalidades ocorrem porque os custos de transação para que elas sejam

eliminadas são altos. Se os custos de transação forem iguais ou maiores do que

valor monetário de uma externalidade, então esta continua a existir. Os custos de

transação incluem os recursos monetários para definir e legalizar os direitos de

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propriedade9 (ZERBE Jr., 2001; HUSSEN, 1999). Estes podem ser entendidos como

simplesmente o direito de usar recursos, inclusive recursos naturais, e o direito de

cultivar a terra (PEARCE e TURNER, 1990).

Portanto, a existência e a permanência de externalidades negativas

dependem da clara definição dos direitos de propriedade. Uma vez que estejam

perfeitamente definidos, as partes detentoras poderão barganhá-los, obtendo assim

uma alocação eficiente dos recursos. Os custos de transação, neste caso, são

desprezíveis ou inexistentes. Concluída a barganha, o que importa não é a alocação

final de recursos, isto é, quem se apropriou de quanto, mas sim a divisão dos

ganhos líquidos10 deste processo. Este resultado é eficiente mesmo que ocorram

efeitos externos e independe da distribuição inicial de direitos de propriedade

(PEARMAN et al. 1999; HUSSEN, 1999). Esta é a base da formulação do Teorema

de Coase. Ele alerta para o fato de que num ambiente de livre troca, sem

intervenção governamental, as externalidades que permanecem são aceitas pelas

partes. As trocas são eficientes porque maximizam o bem estar dos agentes, mesmo

diante de externalidades.

A aplicação do Teorema de Coase tem duas importantes restrições. A

primeira diz respeito ao fato de que os direitos de propriedade nem sempre são

claramente definidos e, por conseguinte, determinam custos de transação não

desprezíveis. Logo, externalidades ocorrem além do que seria aceito pelas partes,

não havendo maximização do bem estar nestes casos. A segunda restrição impõe

que o número de agentes envolvidos na barganha seja reduzido, caso contrário os

custos e outras dificuldades para a sua concretização inviabilizam os resultados

(PEARMAN et al., 1999; ZERBE Jr., 2001).

Pearce e Turner (1990) apontam outras restrições. A primeira está associada

ao tipo de recurso envolvido numa barganha e à identificação de suas partes

intervenientes. Quando as trocas envolvem recursos de livre acesso é muito difícil

identificar as partes envolvidas já que sua propriedade não pertence a ninguém, ou

9 Outros custos também entram na composição dos custos de transação. Pearce e Turner (1990) mencionam os custos para juntar as partes detentoras dos direitos de propriedade e aqueles para identificar e organizar os agentes que sofrem externalidades. 10 Por ganho líquido entende-se ao resultado positivo dos benefícios sobre os custos envolvidos na barganha.

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seja, nenhum direito de propriedade está definido. A segunda restrição diz respeito à

dificuldade de identificação dos agentes geradores e receptores de externalidades,

especialmente quando se trata de poluição da água e do ar. As duas restrições

aplicam-se ao uso do solo pela pecuária extensiva na Floresta Amazônica. Médios e

pequenos produtores ocupam livremente áreas de floresta, degradando seus

recursos. Comprometem, assim, os serviços ambientais gerados, os quais

beneficiam um vasto contingente de indivíduos territorialmente dispersos.

A quantidade consumida dos bens públicos é de difícil mensuração. Os

serviços ambientais gerados pelos processos naturais beneficiam sociedades e

indivíduos. Contudo, não é possível identificar nem a quantidade de serviços

consumidos nem a de benefícios gerados. As preferências dos consumidores por

estes serviços não podem ser clara e diretamente expressas. Ora, se nem

quantidades nem preferências podem ser expressos claramente, os preços também

não o serão. Assim sendo, os mecanismos de mercado não fornecem elementos

suficientes para valorar com precisão os benefícios associados aos bens públicos.

Isto ocorre não em função do funcionamento imperfeito dos mercados, mas por

causa da própria natureza dos bens públicos. Eles se constituem, por esta razão,

numa das fontes de externalidades (CONTADOR, 2000).

2.4 - Impactos Ambientais Associados à Pecuária

O desmatamento provoca impactos que vão além da simples perda de

espécies vegetais. Solos, clima, fauna, regimes hidrológicos e processos

geomórficos são afetados, tanto quantitativamente, pela redução de suas espécies e

componentes, como qualitativamente, pela alteração dos processos biofísicos que

dão suporte à vida (GOUDIE, 1994, HUETING et al., 1998).

Pastagens para a alimentação do gado são classificadas como um dos

processos de desmatamento, juntamente com as queimadas e a remoção física das

florestas, e são apontadas como uma das fontes consensuais e diretas do

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desmatamento, especialmente na América Latina (GOUDIE, 1994; ANGELSEN e

KAIMOWITZ, 1999). Na Amazônia, especialmente no Estado do Pará, os

pecuaristas convertem a floresta em pastagens cultivadas (PEDLOWSKI et al, 1997;

FAMINOW e VOSTI, 1998; BARROS et al., 2002, ALENCAR et al., 2004).

O desmatamento para a criação de pastos é o impacto mais direto causado

pela pecuária. Uhl, Buschbacher e Serrão (1988), Goudie (1994), Uhl, Bezerra e

Martini (1997), Walker, Moran e Anselin (2000) e Martins (2002) identificam diversos

impactos decorrentes do uso de pastagens.

Esses impactos estão enumerados a seguir e agrupados da seguinte forma:

impactos sobre o solo; impactos sobre a flora e a fauna; impactos sobre o clima e a

atmosfera; impactos sobre recursos hídricos; impactos sobre atividades humanas.

Os impactos aqui referidos são aqueles negativos, resultantes das interações

homem-natureza.

Esta lista de impactos não é exaustiva. Limita-se àqueles identificados na

literatura relacionados à ação da pecuária, enfocando, sempre que possível, o meio-

ambiente amazônico. Constam desta seleção dois tipos de impactos: diretos e

indiretos. Os impactos diretos ou primários são entendidos como aqueles resultantes

da primeira ação humana, especialmente os ligados à criação de pastagens. Os

indiretos ou secundários são conseqüência dos impactos primários.

2.4.1 - Impactos sobre o solo

♦ Empobrecimento do solo, com perda de nutrientes. Queimadas11

promovem a liberação de fósforo, magnésio, potássio e cálcio em quantidades

maiores do que no processo natural de decomposição das plantas, alterando a

forma e a distribuição destes nutrientes. Queimadas também provocam a perda

direta de nutrientes pela volatilização e transferência das cinzas pelo vento ou

11 Queimadas geram impactos no solo, no ar e na vegetação. São usadas para o controle de plantas tóxicas e ervas daninhas das pastagens, ou para a transformação de campos e áreas de florestas secundárias em pastagens.

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por processos erosivos A perda da cobertura vegetal reduz a quantidade de

matéria orgânica originária das árvores para fertilização natural dos solos.

♦ Alteração da estrutura do solo e de seus componentes. A substituição da

cobertura florestal por pastagem e o pisoteamento do gado tornam o solo mais

compacto. Como conseqüência, reduz-se a capacidade de infiltração de águas

e favorece-se maior escorrimento superficial das águas da chuva, provocando

perda de nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio e magnésio, lixiviados do

ecossistema local para rios e igarapés. O solo torna-se mais seco, favorecendo

a erosão. Estes fatores, somados, inviabilizam a micro-biota (minhocas, fungos,

etc.), a qual recicla nutrientes para as plantas. Isto provoca perda de

produtividade das forrageiras, com prejuízos econômicos para a pecuária.

♦ Remoção da camada superior do solo. As operações de gradagem

(lavragem e preparo da terra com adubagem e plantio) na formação de pastos

removem a camada superior do solo, provocando perda da micro-flora e de

nutrientes.

2.4.2 - Impactos sobre a flora e a fauna.

♦ Redução de espécies vegetais ou do seu quantitativo. Decorre do

desmatamento e das queimadas, com conseqüente empobrecimento dos

ecossistemas pela redução de espécies. As espécies que permanecem

guardam características diferentes das originais, prejudicando o equilíbrio

ecológico local.

♦ Mudança do equilíbrio da flora local, com desenvolvimento de espécies

vegetais diferentes das originais. A formação de pastos atrai espécies

vegetais alienígenas, introduzindo ervas daninhas. As queimadas também

induzem o aumento do pH dos solos, que se tornam mais alcalinos,

possibilitando o surgimento espécies alienígenas.

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♦ Deterioração gradual da vegetação. A vegetação torna-se deficiente em

minerais e proteínas como conseqüência da perda de nutrientes do solo.

♦ Destruição de habitats. Queimadas e desmatamento reduzem ou extinguem

os habitats da fauna local, colocando em risco a existência de espécies

animais.

2.4.3 - Impactos no Clima e na Atmosfera

♦ Redução da pressão do vapor sobre o ecossistema local. O espaço aberto

pelas pastagens provoca maior variação da temperatura do solo e do ar, com

reflexos sobre a pressão de vapor.

♦ Redução de carbono. A transformação de florestas em pastagens libera

carbono na atmosfera, contribuindo para o aumento do aquecimento global.

♦ Redução da precipitação atmosférica e aumento dos períodos de seca. O

tecido radicular das pastagens absorve menos água do solo do que o das

florestas, proporcionando menor transpiração e evaporação. Como

conseqüência, diminui o índice de precipitação pluviométrica.

♦ Redução da qualidade do ar e aumento da temperatura local. As

queimadas geram fumaça e calor. A temperatura local se eleva, com maior

incidência de incêndios florestais. Estes também geram impacto indireto ao

contribuírem para o aquecimento global pela emissão de gases do efeito

estufa.

2.4.4 - Impactos sobre Recursos Hídricos.

♦ Contaminação de corpos hídricos. Nutrientes e produtos químicos

(defensivos agrícolas) utilizados nas pastagens são lixiviados pelas águas da

chuva para rios e igarapés com prejuízo para o desenvolvimento de espécies.

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Há contaminação das águas, prejudicando tanto o consumo humano como o

animal. Ocorre também o crescimento de algas que bloqueiam a luz solar e

impedem o desenvolvimento de formas aquáticas.

♦ Redução do armazenamento de águas. Assoreamento de rios e reservatórios

pelo lixiviamento reduz a disponibilidade de água, podendo provocar a extinção

de alguns corpos d’água.

♦ Aumento de enchentes. O assoreamento e o estreitamento dos cursos

d’água provocam enchentes com maior freqüência com prejuízo para a fauna,

flora e populações ribeirinhas.

2.4.5 - Impactos sobre Atividades Humanas

♦ Impactos recreativos. A maior turbidez dos rios, conseqüência da poluição,

dificulta a pesca recreativa. O assoreamento dificulta passeios a barco e

aumenta os acidentes por encalhamento.

Um impacto compromete a capacidade dos processos ambientais de produzir

bens e serviços ambientais. Portanto, a primeira conseqüência de um impacto é

sobre a função ambiental. (HUETING et al, 1998; LIMBURG et al., 2002; DE

GROOT, WILSON e BOUMANS, 2002; TURNER et al., 2003).

O Quadro 2.2 abaixo relaciona os principais impactos associados à pecuária

às funções ambientais e aos bens e serviços relacionados no Quadro 2.1. A listagem

indica alguns dos principais serviços sacrificados e não é exaustiva. Ela resulta do

cruzamento dos impactos acima identificados com os principais serviços ambientais

identificados no Quadro 2.1.

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54 Função Impactos Associados à Pecuária Bens e Serviços Sacrificados

Funções de Regulação Regulação de gases • Redução da pressão do vapor sobre o ecossistema

local. • Redução de carbono

• Manutenção de um clima favorável (temperatura)

Regulação Climática • Redução da precipitação atmosférica e aumento dos períodos de seca. • Redução da qualidade do ar e aumento da temperatura local

• Manutenção de um clima favorável (pluviosidade e ar puro)

Regulação de Águas • Aumento de enchentes. • Drenagem e irrigação natural Oferta de Águas • Redução do armazenamento de águas • Provisão de água para consumo (beber,

irrigação, e uso industrial) Retenção de Solo • Remoção da camada superior do solo • Manutenção de terras cultiváveis.

• Prevenção de danos da erosão e sedimentação

Formação de Solo • Empobrecimento do solo, com perda de nutrientes • Alteração da estrutura do solo e de seus componentes.

• Manutenção da produtividade de terras cultiváveis • Manutenção de solos produtivos.

Regulação de Nutrientes • Empobrecimento do solo, com perda de nutrientes • Manutenção de solos saudáveis e ecossistemas produtivos

Controle Biológico • Mudança do equilíbrio da flora local, com desenvolvimento de espécies vegetais diferentes das originais.

• Redução de danos à lavoura causados por lagartas, etc., atraídas por espécies alienígenas.

Manutenção da diversidade biológica

• Mudança do equilíbrio da flora local, com desenvolvimento de espécies vegetais diferentes das originais. • Redução de espécies vegetais ou do seu quantitativo • Deterioração gradual da vegetação • Contaminação de corpos hídricos.

• Melhoria de lavouras.

Funções de Habitat Função de Abrigo • Destruição de habitats • Caça, pesca, frutos, etc.

• Aqüicultura e produção agrícola de subsistência.

Funções de Informação Recreação • Impactos recreativos • Esportes e lazer QUADRO 2.2 – Principais Impactos Associados à Pecuária e Funções e Serviços Ambientais Afetados

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Além dos impactos acima, a redução física de espécies vegetais ou da

quantidade de indivíduos dentro de cada espécie também reflete sobre a maioria

das funções ambientais e seus bens e serviços. Assim, os impactos relacionados à

função de regulação “manutenção da diversidade biológica” afetam os serviços

ambientais a seguir mencionados. Eles constituem usos freqüentes da variedade

genética das florestas e a sua redução não é predominante nas localidades onde a

pecuária se desenvolve, embora possam ocorrer eventualmente. Por esta razão

estes serviços ambientais estão citados separadamente do Quadro 2.2.

• Matérias-primas para construções e manufaturas

• Carvão e matéria orgânica para combustíveis e energia

• Adubos e fertilizantes naturais

• Drogas e produtos farmacêuticos

• Material para pesquisas médico-farmacêuticas e científicas

• Recursos da floresta para vestuário, decorações, bijuterias, etc.

• Beleza paisagística

• Recursos artísticos, culturais, educacionais e religiosos

• Alimentos produtos industriais, fontes de energia.

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CAPÍTULO 3

MEIO AMBIENTE E VALOR ECONÔMICO

3.1 - Valoração Ambiental e Ações Humanas

Quando o homem toma decisões econômicas, ele o faz com o objetivo de

maximizar a satisfação ou utilidade proporcionada por um bem ou serviço. A

atribuição de valor é um componente deste processo. O valor de um bem ou serviço,

inclusive os ambientais, adquire, assim, uma noção antropocêntrica, utilitária e

instrumental (FROMM, 2000), e o próprio conceito de valor ganha uma definição

mais restrita, significando então “valor baseado na satisfação do desejo, prazer ou

metas de utilidade” (FARBER, COSTANZA e WILSON, 2002, p. 379).

Valorar um bem ou serviço ambiental faz sentido quando não há um limite

crítico, em termos físicos, para o seu consumo e, portanto, recursos, processos e

funções ambientais não têm sua disponibilidade e funcionamento ameaçados pela

ação humana12. O contexto da valoração é aquele onde a biodiversidade não está

em perigo, ou seja, depende do funcionamento saudável dos ecossistemas. A

valoração baseada na disposição a pagar ou a receber compensação perde o

sentido quando os fluxos de bens e serviços ocorrem abaixo dos limites críticos de

funcionamento dos ecossistemas (READY e BISHOP, 1991, apud TURNER et al.,

2003).

12 A este respeito, Tilman (1997, apud FROMM, 2000, p. 315) esclarece que “é provável que a habilidade de os ecossistemas proverem um fluxo sustentável de bens e serviços ao homem seja altamente dependente da biodiversidade”. Este raciocínio é complementado por Perrings et. al. (apud FROMM, 2000, p. 315). Estes autores afirmam que “há níveis de perda da biodiversidade que não podem ser sustentados sem induzirem a uma alteração catastrófica e reorganização fundamental em todos os ecossistemas". Seguindo estes raciocínios, tal re-arranjo da natureza implicaria em comprometimento do sistema natural de suporte à vida humana, ou seja, provocariam alterações fundamentais nas funções ambientais. Esta conclusão coincide com a observação de Hampicke (1992, apud FROMM, 2000, p. 318) de que a “biodiversidade, como base de apoio à vida humana é, como um todo, indispensável sob condições econômicas e tecnológicas reais, e neste sentido é essencial”.

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Contudo, as alterações ambientais provocadas por impactos da ação humana

são passíveis de identificação e criam o contexto para a valoração monetária,

especialmente quando tais alterações são marginais. Turner et al. (2003) afirmam

que a escala em que ocorrem as alterações ambientais determina o contexto da

valoração econômica. Ela é mais apropriada quando se consideram mudanças

marginais no patrimônio natural em escala local ou regional.

Assim, o “regime marginal” (LIMBURG et al., 2002) apresenta-se como o mais

conveniente para a valoração. Nele, as condições ecológicas são previsíveis e estão

distantes do limite do comprometimento das funções ambientais. As relações entre

os componentes naturais de um ecossistema são compreensíveis. Neste regime, “as

condições econômicas refletem as ecológicas” (LIMBURG et al. 2002, p. 416), pois

tanto no sistema econômico como no sistema ecológico as modificações são

marginais. E, por serem marginais, os trade-offs e escolhas humanas não

comprometem a sobrevivência das espécies. Neste regime, nem a geração dos

bens e serviços ambientais que dão suporte à vida humana está em risco, nem

tampouco as necessidades humanas estão insatisfeitas.

Limburg et. al. (2002) abordam a noção de escala em termos ecológicos e

econômicos.

Em termos ecológicos, os processos naturais operam em diferentes escalas

de tempo e espaço (região geográfica ou dos limites de um ecossistema, por

exemplo), fazendo com que eles variem conforme os ecossistemas e a sua

complexidade. Economicamente, a escala dependerá do enfoque analítico de uma

pesquisa ou estudo como, por exemplo, a extensão de mercados, os quais podem

ser definidos em nível local, regional ou global, ou a partir de interações nos três

níveis.

Os sistemas ecológico e econômico interagem entre si, gerando fluxos em

ambos os sentidos, revelando interdependência. A extensão dos fluxos (dos bens e

serviços em direção ao sistema econômico, e de impactos em direção ao sistema

ecológico) determina os limites em que deve ocorrer o estudo. Estes fluxos

determinam tanto a escala espacial em que devem repercutir as alterações

ambientais, quanto o valor que os mercados atribuem a estas alterações.

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Conforme Limburg et al. (2002, p. 411), “o próprio ecossistema deve ser

definido em termos da escala da questão ou do problema colocado”. Impactos

gerados pelo homem constituem o problema ou questão-objeto de inúmeras

avaliações. Valorações econômicas do meio ambiente são conduzidas com o

objetivo de mensurar a extensão dos impactos, definindo-lhes compensações. Cada

ecossistema recebe de forma diferente um mesmo impacto, dada a sua

complexidade. Impactos estão de tal sorte relacionados a determinados

ecossistemas que, para efeitos de valoração, definem a área de estudos.

3.2 - Classificação dos Valores dos Bens e Serviços Ambientais

Alguns recursos naturais têm certas propriedades físicas e químicas que

determinam seu uso direto na produção ou no consumo, pois se constituem em

fonte de alimento, drogas, materiais de construção e vestuário, etc. Por esta razão

têm valor de uso direto. A maioria dos recursos, contudo, dado o papel que

desempenham nas diversas funções ambientais, são utilizados indiretamente por

produtores e consumidores e, portanto, têm valor de uso indireto. De maneira

indireta, produtores e consumidores tornam-se dependentes destes recursos e, por

conseguinte, das funções ambientais que os geram. Eles têm, assim, valor de uso

indireto e desempenham papéis diferentes, por exemplo, na cadeia alimentar, na

fixação do solo e na regulação dos processos naturais (PERRINGS, 1994).

O valor de uso (VU) é definido como sendo o valor de se utilizar no presente

um recurso ou serviços de um ecossistema, dele obtendo benefícios presentes e

futuros (COSTANZA, 1991; PEARCE, 1994), e se decompõe em valor de uso direto

(VUD) e valor de uso indireto (VUI).

Um bem ou serviço ambiental tem valor de uso direto quando é usado

diretamente para fins de produção, de consumo ou de não consumo (PEARCE et al.,

1994; PAGIOLA, von RITTER e BISHOP, 2004, MATTOS e MATTOS, 2004). No

primeiro caso são exemplos as madeiras e espécies medicinais e cosméticas; no

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segundo, servem de exemplos os alimentos (frutos, raízes, etc.); o uso da natureza

para o lazer ilustra o terceiro caso. Estes bens e serviços têm preços definidos em

mercado pelo seu valor de troca. Os bens livres constituem uma exceção, pois para

eles não há mercado, embora sejam utilizados, em geral, para a satisfação direta de

necessidades humanas.

O valor de uso indireto corresponde ao conceito de funções ambientais,

gerando benefícios externamente ao ecossistema (PEARCE, 1994; MOTTA, 2002;

PAGIOLA, von RITTER e BISHOP, 2004). Em outras palavras, “o valor de uso

indireto inclui os benefícios derivados basicamente dos serviços que o [meio]

ambiente proporciona para suportar o processo de produção e consumo” (MATTOS

e MATTOS, 2004, p. 23). Os benefícios proporcionados pelas funções ambientais

não resultam de extração direta. Quando utilizados no processo produtivo

comparecem como insumos indiretos e terão exclusivamente valor de uso indireto.

Um exemplo deste caso é o benefício gerado pela cobertura vegetal para a

manutenção das propriedades físico-químico-biológicas do solo por meio da

fertilização proporcionada pelas folhas das árvores.

Valores de uso não é a única categoria de valor associada aos bens e

serviços ambientais. Segundo a classificação de Pearce (1994), o homem também

atribui valor aos bens e serviços ambientais pelo seu não–uso, ou seja, à sua

preservação no presente para que, no futuro, ele possa: a) ter valor de uso; b) ser

usufruído por outras gerações; c) propiciar a descoberta de novos conhecimentos.

Esta categoria constitui os chamados valores de não–uso (VNU), também chamado

valor de existência (VE) e que reflete o valor de uso efetivo no presente ou a

possibilidade de uso futuro existente nos recursos ambientais, independentemente

de sua relação com os seres humanos (MARQUES e COMUNE, 1995, apud

NOGUEIRA e MEDEIROS, 1999). Valores de uso e valores de não–uso compõem o

Valor Econômico Total (VET) dos bens e serviços ambientais, subdividido da

seguinte maneira:

VET = [VUD + VUI]+ VE

VET = VU + VE

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Segundo Nogueira e Medeiros (1999) o valor de uso é subdividido em valor

de uso propriamente dito (VU), valor de opção (VO) e valor de quase–opção (VQO).

O valor de opção refere-se à opção de preservar recursos ambientais no presente

para ter a opção de utilizá-los no futuro e o valor de quase–opção designa valor de

postergar as opções de uso do recurso para uso futuro quando será mais bem

aproveitado em decorrência de prováveis desenvolvimentos científicos, tecnológicos

e socioeconômicos. Uma outra definição para valor de quase–opção é aquela

apresentada por Arrow e Fisher (1974, apud PAGIOLA, von RITTER e BISHOP,

2004, p. 13) como “o valor de evitar decisões irreversíveis até que novas

informações revelem se certos serviços ambientais têm valor do quais não temos

consciência no presente”.

Assim, uma composição definitiva para o VET é dada pela seguinte

expressão:

VET = VU + VO + VQO + VE

A determinação dos valores de bens e serviços ambientais depende da

técnica de valoração a ser utilizada. Valores indiretos são inferidos pelo uso de

técnicas de valoração indiretas, as quais valoram bens e serviços ambientais por

meio do preço de bens econômicos negociados em mercados. O valor dos bens e

serviços ambientais é revelado indiretamente quando eles se relacionam, de alguma

forma, com o bem comercializado em mercado (PEARCE et al., 1994). Ao

adquirirem os bens em mercados as pessoas demonstram, monetariamente, suas

preferências por uma mudança na qualidade do bem ou serviço ambiental. Segundo

Pearce et al. (1994) essas técnicas valoram principalmente recursos biológicos ao

invés da biodiversidade como um todo.

As técnicas de valoração indiretas, segundo a classificação proposta por

Pearce (1993), são apropriadas para alterações pontuais identificadas em

ecossistemas ou áreas específicas, onde a mudança na qualidade ambiental de um

recurso biológico provoca alguma alteração no preço de mercado de um bem

econômico.

Dentre as categorias de grupos de técnicas de valoração indireta, destacam-

se aquelas denominadas de mercados substitutos. Hufschmidt et al. (1983)

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classificam-nas no grupo de técnicas orientadas pelo mercado enquanto que Motta

(1998) as classifica no grupo pertencente aos métodos da função de produção.

Os bens e serviços econômicos negociados nos chamados mercados

substitutos têm como substitutos ou complementos os bens e serviços ambientais. A

preferência dos consumidores tanto pelo bem econômico como pelo ambiental é

revelada quando eles adquirem o bem econômico.

3.3 - Mercados e Valoração Ambiental

A inexistência de mercados para os bens e serviços ambientais de uso

indireto transfere a determinação do seu valor para o valor de troca de bens

econômicos, substitutos ou complementares, negociados em mercados. Em outras

palavras, “valores de não mercado são, na verdade, traduzidos por meio de algum

mecanismo de criação de mercado” (PEARCE, 2001, p. 8). Costanza et al (1997, p.

255, grifo nosso) definem a valoração indireta da seguinte maneira:

“Mudanças na qualidade e na quantidade de serviços ambientais têm valor na medida em que eles ou alteram os benefícios associados com as atividades humanas, ou alteram os custos destas atividades. Tais alterações nos benefícios e nos custos têm impacto tanto no bem-estar humano por meio de mercados definidos ou por meio de atividades de não-mercado”.

Mercado e valor de troca são referências quando se deseja determinar o valor

de uso indireto de um bem ou serviço ambiental. Mercado é o lócus ideal onde os

indivíduos expressam suas preferências diante da escassez de recursos e da

utilidade que estes bens lhes proporcionam. A utilidade associada ao consumo de

uma unidade adicional de um bem é decrescente porque o consumidor satura-se na

medida em que seu consumo aumenta.

O preço é a melhor aproximação para o valor marginal de um bem ou serviço.

Se uma unidade de um bem é trocada o seu preço unitário reflete sua utilidade, pois

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esta valoração ocorre na margem. Preço é medida da variação marginal do valor do

bem.

O bem-estar obtido pelo consumidor por sua participação no mercado é dado

pelo excedente do consumidor, ou seja, a diferença monetária entre o valor máximo

que ele está disposto a pagar pelo bem (disposição a pagar) e o valor que ele

efetivamente paga.

Na Figura 3.1 abaixo, D representa a disposição a pagar para cada unidade

do bem ou, simplesmente, sua curva de demanda. A curva de demanda reflete

apropriadamente a disposição a pagar do consumidor. Para um dado preço haverá

uma quantidade correspondente. Uma variação marginal positiva no preço

(acréscimo de uma unidade monetária) implica no abandono do mercado de pelo

menos um consumidor. Da mesma forma, um decréscimo de uma unidade

monetária no preço implica na entrada no mercado de pelo menos mais um

consumidor. O preço reflete o valor marginal do bem ou serviço. E neste caso trata-

se do valor de troca, posto que este bem ou serviço é negociado num mercado real.

O valor de troca total do bem é P x Q. Se não houver um mercado definido para o

bem, então P será atribuído, criando-se para tanto um mercado hipotético ou

substituto, e o valor de troca do bem representará um “valor de pseudo-mercado”

(FARBER, COSTANZA e WILSON 2002, p. 379).

A área abaixo da curva de demanda e acima do preço mede o excedente do

consumidor de todo o mercado. Para um preço P1, haverá uma quantidade

consumida Q1 e a área delimitada pelos pontos P1aQ10 representará o valor de troca

total do bem. O excedente do consumidor inicial será a área acima da linha P1a. Se

o preço cair para P2, o valor de troca total será representado pela área delimitada

pelos pontos P2bQ20 e o excedente do consumidor se amplia no montante dado pela

área P1abP2. A área P1acP2 é o excedente do consumidor ampliado, relativo aos

consumidores que já estavam no mercado, e a área abc, o excedente do

consumidor referente aos novos consumidores.

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P1

P2

a

bc

Q10

D

Figura 3.1 – Disposição a Pagar e Excedente do ConsumidorQuantidadeQ2

A disposição a pagar total pelo bem, a um preço P1, é dada pela área P1aQ10

mais a área acima da linha P1a (FARBER, COSTANZA E WILSON, 2002). Ou seja,

a disposição a pagar total é o valor de troca total mais o excedente do consumidor.

O valor marginal de mudanças no excedente do consumidor dará dimensão

monetária às mudanças marginais no seu bem-estar.

Quando um indivíduo está disposto a pagar uma quantidade monetária por

um bem ou serviço, ele toma uma decisão quanto ao valor. O mercado definirá o

valor de troca efetivo. E, uma vez que o mercado intermedeia trocas, expressando a

utilidade marginal dos bens e serviços por meio do preço, então o valor de troca

também é a referência de mercado para o valor de uso.

3.4 - A Abordagem do Custo de Oportunidade

O custo de oportunidade é medido pela quantidade de bens cuja produção

deve ser sacrificada para se obter uma quantidade adicional de um ou mais bens,

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dada uma situação de pleno emprego de fatores de produção. A nova combinação

de bens que se obtém propicia o maior benefício possível a quem os produz e

representa a melhor alternativa de produção que se pode obter com os fatores

disponíveis num dado momento.

O custo de oportunidade é dito indireto porque não é medido na forma de

custos diretos de produção – fixos e variáveis. Ele representa o que se deixa de

ganhar para se obter um benefício ainda maior. Em projetos econômicos este

benefício é a receita bruta total e deve ser comparado com os custos para fins de

tomada de decisões. Tanto os custos diretos como os indiretos devem ser

considerados.

O custo de oportunidade do capital, por exemplo, é a sua rentabilidade. Se

aplicado produtivamente a sua remuneração é dada pela taxa de lucro, ao passo

que a taxa de juros que o remunera desempenhará este papel se ele for aplicado

financeiramente.

O empresário, ao tomar uma decisão de investimento produtivo, compara o

retorno que espera obter com seu investimento com a taxa de juros paga pela

melhor aplicação financeira. Se a decisão for pelo investimento produtivo, esta será

a melhor alternativa de utilização do fator capital, e seu custo de oportunidade será a

remuneração que ele obteria com a aplicação financeira. Caso ele tenha que optar

por uma entre duas ou mais alternativas de produção, o custo de oportunidade da

opção escolhida será o retorno que ele teria na segunda opção mais rentável.

A produção de bens e serviços privados requer a utilização de recursos

ambientais escassos. O maior benefício social, resultante desta produção, também

implica em maiores custos, refletidos ou não nos preços de mercado. Se esta

produção se realiza é porque esta é a melhor aplicação para os recursos ambientais,

os quais são sacrificados para a obtenção dos bens e serviços privados. Estes

custos são mensurados como um custo de oportunidade, ou seja, ele representa “o

valor econômico do recurso na sua melhor alternativa de uso” (HUFSCHMIDT et al.,

1983, p.29).

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Se, ao invés de utilizar o recurso em sua melhor alternativa, a opção for

preservá-lo, então haverá um sacrifício na produção e no consumo de bens e

serviços privados em prol de um benefício social.

Este último é representado pela manutenção do fluxo de bens e serviços

ambientais associados ao recurso preservado. A preservação implicará num custo

de oportunidade, dado pela quantidade de bens e serviços privados não produzidos

e não consumidos. Uma medida monetária deste custo de oportunidade é a renda

liquida sacrificada com outros usos dos recursos preservados como, por exemplo, os

usos agrícolas (MOTTA, 1998 e HUFSCHMIDT et al., 1983).

A abordagem do custo de oportunidade surge como uma variante dos

métodos de valoração identificados por Hufschmidt et al. (1983), Pearce e Moran

(1994) e Motta (1998) como pertencentes ao grupo de técnicas dos mercados de

bens substitutos.

Ela indica o custo econômico de oportunidade de preservar benefícios

gerados pela manutenção de um fluxo de serviços ambientais para o qual se

sacrifica, com perda de renda, a produção e o consumo de bens e serviços privados.

Neste caso, os benefícios referem-se à preservação ou recuperação de serviços

ambientais que aumentam o bem-estar social (MOTTA, 1998).

Esta abordagem não valora o recurso ambiental em si ou seus benefícios, os

quais são mais propriamente valorados por técnicas que refletem a disposição a

pagar ou a disposição a receber compensação de consumidores e produtores. Por

esta razão, não é uma técnica de valoração. Contudo, constitui-se numa alternativa

quando tais técnicas não podem ser colocadas em prática, ou quando os benefícios

de uma ação de preservação ambiental são difíceis de enumerar (HUFSCHMIDT et

al. 1983; GARROD e WILLIS, 1993; PEARCE e MORAN, 1994; MOTTA, 1998). Ela

mensura os rendimentos sacrificados em favor da preservação de um recurso

ambiental, em uma alternativa de produção na qual o benefício social, em termos

ambientais, é maior do que naquela onde o benefício puramente econômico seria

maximizado.

Projetos de desenvolvimento comprometem e alocam recursos em diferentes

alternativas de produção, realizando investimentos cujo objetivo é a maximização do

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bem-estar social (HUFSCHMIDT et al., 1983). Considerações sobre a maximização

do bem-estar social envolvem decisões quanto ao custo de oportunidade dos

recursos alocados.

Há diferentes técnicas utilizadas sob o título de custo de oportunidade. A mais

comum é calcular o valor presente dos benefícios líquidos gerados por um projeto de

desenvolvimento causador de impactos ambientais. O custo de oportunidade de

implementar o projeto é sacrificar os benefícios (serviço ambientais) que seriam

gerados se o meio ambiente fosse preservado. Alternativamente, o custo de

oportunidade de preservar os recursos naturais será o valor presente da renda

sacrificada deste projeto (HUFSCHMIDT et al. 1983; GARROD e WILLIS, 1993). Os

benefícios da preservação, embora identificáveis, não são nem quantificados, nem

valorados monetariamente. Contudo, a renda líquida sacrificada do projeto de

desenvolvimento define, monetariamente, o custo de oportunidade da preservação.

Esta abordagem também pode ser aplicada para a mensuração da renda

abdicada com a preservação do solo em projetos agropecuários13. O solo é

entendido, neste caso, como recurso ambiental. Assim, o custo de oportunidade da

preservação do solo sob pastagem será o valor presente líquido, cotado a preços de

mercado, do rendimento líquido da produção pecuária sacrificada. Sinden (2004, p.

352) define o custo de oportunidade da preservação da biodiversidade em fazendas

como “a renda sacrificada com o uso agrícola alternativo da terra”. Em projetos

pecuários, o uso do solo para pastagens é o seu melhor uso alternativo. Se o solo

for alocado em outras atividades produtivas, ou simplesmente preservado de

qualquer uso, a renda que seria gerada com a atividade pecuária seria o valor

monetário do seu custo de oportunidade.

A escolha entre os benefícios da preservação, implicando postergação de

consumo e maiores benefícios às gerações futuras, ou os benefícios da produção

econômica, privilegiando gerações presentes, levanta considerações de ordem ética.

Esta questão é ainda mais sensível quando não se conhecem nem o estado de

desenvolvimento tecnológico vigente para as gerações futuras nem tampouco suas

preferências.

13 A este respeito ver Norton-Griffiths e Southey (1995).

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Fisher e Krutilla (1975, apud HUFSCHMIDT et al., 1983, p. 192-93)

abordaram esta questão analisando a quantidade produzida e os preços relativos

dos bens privados e dos serviços ambientais. Bens econômicos são produzidos em

quantidades crescentes, especialmente diante de maior desenvolvimento

tecnológico. A oferta de serviços ambientais, contudo, é fixa. Assim, a relação entre

o valor unitário de um serviço ambiental e os preços de mercado de um bem privado

varia, no tempo, favoravelmente aos serviços ambientais. Na Figura 3.2 abaixo, a

curva Q0Q1 representa a fronteira de produção entre serviços ambientais e bens

econômicos. A curva I1 representa a curva de preferência dos consumidores e o

ponto X1, dado pela tangente de I1 é aquele onde ocorre o consumo ótimo dos dois

bens e determina seus valores relativos. Ao longo do tempo, o desenvolvimento

tecnológico eleva a produção dos bens econômicos, deslocando a curva Q0Q1 para

Q0Q2 e novo ótimo de consumo se estabelece no ponto de tangente X2 da nova

curva de preferência I2. Esta nova tangente é mais inclinada do que a primeira,

indicando que o valor unitário do serviço ambiental é relativamente maior ao do bem

econômico neste ponto X2 do que no ponto X1.

Q0

Q1 Q2

X1

X2

I1

I2

Figura 3.2 Figura 3.2 -- MudanMudançças nos Valores Relativos dos Bens Econômicos eas nos Valores Relativos dos Bens Econômicos eServiServiçços Ambientais ao Longo do Tempoos Ambientais ao Longo do Tempo

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Esta demonstração ressalta os benefícios da preservação vis a vis os do

consumo presente. Contudo, a inexistência de preços definidos em mercados para

serviços ambientais e, em alguns casos, a impossibilidade em valorá-los pode

inviabilizar decisões entre a produção ou a preservação. A abordagem do custo de

oportunidade pode ajudar os tomadores de decisão neste sentido, indicando quando

e se vale a pena preservar recursos ambientais. Contribui decisivamente para formar

um juízo de valor sobre a preservação ou não de recursos ambientais e para indicar

os retornos econômicos ao uso da biodiversidade se o uso econômico da terra é

preferido ao seu uso alternativo (HUFSCHMIDT et al., 1983; MOTTA, 1998). Por

esta razão é que o custo de oportunidade é comumente usado como abordagem

referencial em alguns países desenvolvidos para o pagamento de compensações

quando projetos de preservação da biodiversidade restringem o uso agrícola da terra

(GARROD e WILLIS, 1993).

3.5 - O Critério do Valor Presente Líquido.

Os indivíduos alocam a sua renda no tempo, distribuindo-a entre o consumo

presente e o consumo futuro. O primeiro é preferível ao segundo, ou seja, os

indivíduos descontam o consumo futuro em favor do presente. O contrário, ou seja,

desconto do consumo presente em favor do futuro constitui a poupança de uma

economia.

A decisão entre quanto da renda se deve alocar entre o consumo presente e

o consumo futuro se faz comparando os custos de oportunidade de ambos por meio

de uma taxa de desconto que expressa sua preferência no tempo. Esta taxa de

desconto permite comparar, em unidades de valor presente, valores advindos de

diferentes pontos do tempo (HOWARTH, 1996).

Como a preferência social é a soma das preferências individuais, esta taxa

também é chamada taxa de desconto social ( r ) (HUFSCHMIDT et al., 1983). A taxa

de juros de mercado é usada comumente como referência para a taxa de desconto

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social porque reflete com propriedade a recompensa que as pessoas esperam obter

por diferirem o consumo no tempo (HOWARTH, 1996). O volume de poupança varia

em ordem direta com a taxa de juros. Como o valor de r é muito difícil de determinar

devido à sua grande variação no tempo, às imperfeições do mercado de capitais e

às externalidades, as decisões sobre investimento atribuem-lhe valores variáveis

num determinado intervalo e analisam sua repercussão sobre a rentabilidade do

projeto (MOTTA, 1998; CONTADOR, 2000).

Projetos de desenvolvimento canalizam a poupança para investimentos

produtivos, cuja quantidade e volume de inversão dependem de como este consumo

se distribui no tempo. Assim, dado um nível de utilidade social, num momento

qualquer, a ótima alocação no tempo ocorre quando as taxas de substituição (TS),

de consumo presente em consumo futuro, e as taxas de transformação (TT), de

poupança em produto, forem iguais entre si e proporcionais à taxa de desconto,

conforme indicado a seguir (MOTA, 1998; CONTADOR, 2000).

TS = TT = 1 + r

A escolha de qual taxa de desconto deve ser usada num projeto como

parâmetro para avaliar os seus resultados exerce grande influência sobre as suas

prioridades de investimento. Uma alta taxa de descontos favorece os projetos de

curta maturação e que apresentam benefícios líquidos de curto prazo. Ao contrário,

baixas taxas de descontos são aplicáveis a projetos que apresentam benefícios

líquidos de longo prazo (HUFSCHMIDT et al., 1983). Baixas taxas de desconto são,

por esta última razão, mais compatíveis com projetos de investimento que

consideram componentes de preservação ambiental. Os benefícios da preservação

de recursos naturais se estendem ao longo de diversas gerações. Logo, os

investimentos em preservação, ou o sacrifício da produção de bens privados em

favor da preservação de recursos naturais, não podem sofrer atualização com base

em altas taxas de desconto, sob pena de inviabilizar economicamente a

preservação.

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Um projeto de desenvolvimento tem um período definido de duração, ao longo

do qual apresentará diversos fluxos financeiros (receitas e custos). Representando

receitas por R, custos por C e distribuindo o tempo em períodos que variam do

momento inicial 0 até o último período, t, temos que seus resultados ou benefícios

líquidos (receitas menos custos) são assim representados:

(R – C)0, (R – C)1, ..., (R – C)t

O BLF de um projeto é representado pelo seu BLP acumulado a uma taxa de

juros r ao longo de t períodos de tempo.

BLF = BLP0 ( 1 + r )t

Alternativamente, o Benefício Líquido Presente, representado pelo valor

monetário no momento inicial do fluxo (BLP0), descontado pela taxa de juros de

mercado, será dado por:

BLP0 = BLF . ( 1 + r )t

Para que o projeto seja viável seus benefícios líquidos devem ser positivos.

Como estes fluxos estão diferidos no tempo, torna-se necessário que sejam

atualizados ao longo da duração do projeto a uma taxa de desconto. O VPL é a

soma algébrica dos fluxos do projeto, atualizada por uma taxa de juros de mercado

(CONTADOR, 2000) e reflete, no presente, os benefícios líquidos gerados por um

projeto ao longo de sua existência. De fato, o VPL é o somatório de cada um dos

benefícios líquidos nos diferentes momentos do tempo t, conforme abaixo.

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n VPL = ∑ Rt – Ct .

t= 0 (1 + r)t

A expressão acima não é nada mais do que a atualização dos diversos fluxos

dos BLF e pode ser re-escrita da seguinte maneira:

n VPL = ∑ BLF .

t = 0 (1 + r)t Receitas são usualmente representadas por valores positivos e os custos por

valores negativos. O fluxo de caixa do projeto indica todos estes valores em cada

momento do tempo. Se o projeto é viável, os benefícios líquidos presentes são,

obviamente, valores positivos. O critério do valor presente requer que o valor dos

benefícios líquidos do projeto seja maximizado, permitindo determinar a sua escala

ótima de operação, comparando as diferentes alternativas de alocação de recursos.

Logo, uma expressão alternativa, segundo Hufchsmidt et al., (1983) é a abaixo

indicada.

n Max. VPL = ∑ BLF .

t = 0 (1 + r)t

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CAPÍTULO 4

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Este trabalho tem como objetivo a mensuração do custo de oportunidade

ambiental da produção pecuária definido pelo valor monetário da produção pecuária

sacrificada em favor da manutenção de serviços ambientais em terras ocupadas por

pastagens.

O presente capítulo desenvolve este exercício de mensuração por meio de

um estudo de caso centrado numa propriedade rural representativa do Sudeste

Paraense, localizada na cidade de Paragominas. Esta propriedade foi um dos focos

do estudo de Barros et al. (2002) sobre a rentabilidade de propriedades rurais na

Amazônia e sua relação com o desmatamento na região. Os dados sobre os tipos e

sistemas de produção e as áreas plantadas foram originalmente obtidos deste

estudo.

Após a apresentação da localidade do estudo, o capítulo desenvolve a

metodologia de cálculo e os resultados obtidos e finaliza-se com uma discussão

sobre os benefícios e os beneficiários de ações de preservação ambiental e de

formas de compensação por estas ações.

4.1 - A Localidade do Estudo

A pecuária e o desmatamento desenvolvem-se intensamente em alguns

municípios da Região Sudeste do Estado do Pará, como demonstram as Tabelas

4.1 e 4.2, abaixo. Estes dados indicam que Paragominas é o município melhor

posicionado para desenvolver o estudo de caso porque apresenta o desmatamento

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mais intenso da região e, segundo os dados do IBGE (2004), tem o terceiro maior

rebanho bovino regional e o quarto maior do estado em 2003 com 400.877 cabeças.

Localidade 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003Variação

1997-2003

Região Sudeste 4.891.744 5.678.766 5.944.347 6.991.753 7.460.516 8.257.176 8.885.454 81,64

Água Azul do Norte 197.683 237.220 260.942 342.093 536.803 551.497 563.594 185,10Marabá 183.600 192.000 193.500 195.000 196.500 315.000 375.000 104,25Novo Repartimento 118.500 142.200 120.870 130.540 144.650 148.989 315.604 166,33Paragominas 80.000 450.000 495.000 410.150 381.521 373.199 400.877 401,10São Félix do Xingu 216.699 242.703 291.243 682.407 1.030.019 1.157.707 1.264.991 483,75Xinguara 515.873 539.667 566.650 572.316 380.686 443.608 412.071 -20,12Tabela 4.1 - Rebanho Bovino no Sudeste do Pará e Municípios Selecionados 1997– 2003 FONTE: IBGE (2004)

Localidade Até 2000 2000-2001 2001-2002 2002-2003 2003-2004 2000-2004 Até 2004Variação % 2001-2004

Sudeste Paraense 91.072,10 17.599,30 5.143,40 (4.934,10) 4.368,20 22.176,80 113.248,90 24,35

Cumaru do Norte 4.037,20 682,10 237,60 311,90 431,30 1.662,90 5.700,10 41,19 Marabá 5.666,20 622,80 243,80 220,50 263,70 1.350,80 7.017,00 23,84 Novo Repartimento 3.064,50 1.470,10 120,50 (221,00) 525,50 1.895,10 4.959,60 61,84 Paragominas 3.093,00 5.180,30 352,30 (5.291,40) 4.810,90 5.052,10 8.145,10 163,34 S. Maria das Barreiras 3.882,90 589,80 173,70 211,50 253,90 1.228,90 5.111,80 31,65 São Felix do Xingu 6.761,60 1.965,90 1.223,90 1.302,60 688,60 5.181,00 11.942,60 76,62 Seis Principais Municípios 26.505,40 10.511,00 2.351,80 (3.465,90) 6.973,90 16.370,80 42.876,20 61,76 Demais Municípios 64.566,70 7.088,30 2.791,60 (1.468,20) (2.605,70) 5.806,00 70.372,70 8,99 Tabela 4.2 - Sudeste do Pará : Desmatamento até 2004 Em Km2

FONTE: INPE (2005 b)

Outras razões que justificam a escolha de Paragominas para este estudo de

caso são encontradas em Barros et al. (2002) conforme a seguir.

• as grandes propriedades rurais ali existentes comportam melhor a preservação

de parte da floresta, abrindo margem para que se observe o percentual de

reserva legal determinado pelo Código Florestal.

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• o relevo plano, associado à degradação de pastagens, permitiu o

desenvolvimento de algumas culturas tais como arroz, soja, milho e feijão. De

fato, de acordo com o IBGE (2005), Paragominas tinha, em 2004: a quarta maior

área plantada de arroz do Estado e terceira regional; a segunda maior área

plantada de milho do Estado e maior área regional; a quarta maior área plantada

de milho do Estado e terceira maior área regional. A produção de feijão é pouco

representativa, tanto em nível estadual como regional.

• a existência de pastos abertos há mais de duas décadas, manejados de forma

incorreta, propiciou a degradação do solo, o que evidencia a existência de

impactos ambientais provocados pelas pastagens.

• a região foi aberta há mais de duas décadas, tornando necessária a reforma de

pastagens. O uso de lavouras anuais facilita e torna a reforma menos custosa.

Ao mesmo tempo, há grande empenho dos produtores locais em “desenvolver e

aprimorar as tecnologias referentes ao manejo e recuperação de pastagens”

(BARROS et al. 2002, p.44). Existe, portanto, ambiente favorável à recuperação

de pastagens com custos menores.

• muitas propriedades desenvolvem o sistema completo de criação, ou seja, cria,

recria e engorda, onde o produtor gera os bezerros e tem áreas destinadas ao

crescimento e abate de bovinos. Nestas propriedades ocorre maior eficiência,

pois este sistema trabalha com custos menores. Ademais, são, em geral,

sistemas extensivos que dependem das pastagens como fonte de alimento para

o gado.

Além destas razões, Paragominas é pólo de exploração madeireira e

atualmente contempla os ciclos da madeira e da pecuária, representativo da

formação histórica recente do Sul do Pará (VEIGA et al., 2004).

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4.2 - Materiais e Métodos

Barros et al (2002) obtiveram os dados primários da propriedade rural

representativa da cidade de Paragominas por meio de painéis com agricultores

realizados em março de 2002. Estes painéis forneceram informações sobre os

custos, receitas, índices e sistemas de produção pecuários e sobre as dinâmicas

das atividades da propriedade.

Resumidamente, esta propriedade tem 15 mil hectares de tamanho, sendo

5,4% da área destinada à agricultura, 32,8% à pecuária e 61,8% coberta por

floresta. A distribuição das atividades na área produtiva ocorre da seguinte maneira:

173 ha. de milho; 238 ha. de arroz; 400 ha. de soja; 4.924 ha. de pecuária de corte,

totalizando uma área produtiva de 5.735 ha. Os 9.262 ha. restantes não são

destinados à produção, constituindo-se de áreas de mata14. Esta propriedade é

administrada de forma empresarial, econômica e tecnologicamente eficiente.

Estes resultados foram usados no exercício que se segue e constituem a

primeira alternativa de produção da propriedade. Assume-se, como o fizeram Barros

et al. (2002, p. 68), que nesta propriedade “as atividades agrícolas já estão

implantadas”, ou seja, o empreendimento está operando e dispõe de toda a infra-

estrutura, matéria-prima, insumos e fatores de produção necessários. Logo, todos os

investimentos necessários ao funcionamento da propriedade já foram feitos. Esta

primeira alternativa vislumbra os resultados obtidos pela propriedade a partir deste

momento inicial ao longo de vinte anos.

Uma segunda alternativa, expressando um benefício ambiental maior, foi

construída como hipótese de produção e permitiu a mensuração do custo de

oportunidade. Nesta alternativa, há sacrifício de parte da produção pecuária e o

maior benefício ambiental, mais detalhadamente discutido na seção 4.8, é

representado pela redução dos impactos ambientais.

14 A soma total destas áreas é, de fato, 14977 ha. A diferença para os 15 mil ha. é considerada residual.

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4.3 - Os Custos de Reforma da Pastagem

Conforme a descrição de Barros et al (2002), a formação, manutenção e

recuperação de pastagens podem ser divididas em três etapas. Na primeira etapa,

que corresponde à formação, ocorrem as seguintes operações: broca - construção

de estradas de acesso e derrubada de árvores menores, cipós e folhagens; queima;

semeio e manutenção inicial. Estas operações acontecem no primeiro ano. No

segundo ano há a roçada, concluindo-se a limpeza do terreno.

A segunda etapa ocorre do quinto ao décimo segundo ano e os produtores

incorrem em custos para limpar o pasto, mantendo-o livre de plantas invasoras. O

método usado é a roçagem manual, com aplicação de herbicidas e inseticidas.

Também é comum a limpeza das laterais das cercas de divisas com outras

propriedades para evitar o fogo delas oriundo.

A partir do décimo segundo ano os investimentos visam à recuperação das

pastagens. Esta etapa compreende as operações de gradagem, calagem (aplicação

de calcário para correção da acidez do solo) e semeio. O solo em Paragominas tem

baixa fertilidade e requer a descompactação e a aplicação de fosfato, o que ocorre

nesta fase. A recuperação é responsável pela maior parte dos custos das

pastagens.

4.4 - O Método de Mensuração do Custo de Oportunidade Ambiental

Para o cálculo do custo de oportunidade ambiental do desenvolvimento de

pastagens na propriedade rural representativa de Paragominas foram construídos

dois cenários.

O Cenário 1 corresponde à alocação da terra da propriedade resultante das

observações de campo. Neste cenário, 38,2% da terra está alocada à produção

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(pecuária, arroz, milho e soja) e o restante coberto por floresta. Supõe-se, também,

que os demais fatores de produção estão plenamente empregados entre as

alternativas de produção.

O Cenário 2 descreve a hipótese de produção em que o produtor move-se

para um ponto economicamente menos eficiente do que o anterior, respeitando

integralmente o Código Florestal Brasileiro, definido pela Lei 4.771 (BRASIL, 1965) e

alterado pela Medida Provisória 2.166-67 (BRASIL, 2001). Neste caso, a área

alocada para a pecuária seria reduzida para 2.189 ha., a fim de que 80% da

propriedade sejam disponibilizados para reserva legal, conforme define o artigo 2º15

e determina o artigo 16º, inciso I16 da referida lei. As demais culturas permanecem

sendo cultivadas nas mesmas áreas do Cenário 1.

A área de produção pecuária sacrificada para a preservação ambiental,

correspondendo a 2.735 ha., é colocada em reserva para que recupere

espontaneamente os processos naturais e sua capacidade de gerar bens e serviços

ambientais danificados pela pecuária. O custo de oportunidade aqui apresentado

refere-se exclusivamente à renda sacrificada com a produção. Ele não engloba

outros custos, como os gastos com a recuperação de áreas degradadas ou com a

preservação da natureza, ou ainda a renda abdicada com a perda da produção,

como as receitas fiscais. De acordo com Motta (1998), estes custos devem ser

discriminados, mas não somados, a fim de identificar os gastos incorridos pelos

diversos agentes e priorizar medidas num processo político de preservação

ambiental.

A primeira medida prioritária é identificar a perda incorrida com a produção

sacrificada em nível da unidade produtiva. Esta etapa precede as demais e é um

passo necessário na identificação do custo de oportunidade total da atividade

15O Código Florestal define como Reserva Legal aquela “área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas (BRASIL, 1965, grifo nosso). Supõe-se neste trabalho que as áreas de pastagem sejam colocadas em reserva para efeitos de preservação. Esta área de reserva permitirá que os recursos naturais da propriedade sejam usados, mas de forma sustentável, de maneira a manter os processos ecológicos que asseguram a preservação dos recursos naturais. 16 O inciso I do Artigo 16 estipula que “As florestas (...) ressalvadas as situadas em área de preservação permanente, (...) são suscetíveis de supressão, desde que sejam mantidas, a título de reserva legal, no mínimo oitenta por cento, na propriedade rural situada em área de floresta localizada na Amazônia Legal.” (BRASIL, 2001, grifo nosso). Este é o caso da propriedade rural que serve de referência para este estudo.

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pecuária. Constitui-se no primeiro e mais importante referencial para a adoção de

políticas públicas de preservação ambiental.

Na alternativa de produção descrita pelo Cenário 2 os impactos gerados pela

pecuária continuam a existir, mas em menor quantidade. Da mesma forma,

permanecem os impactos gerados pelas demais culturas. Não obstante, assumindo-

se que o integral respeito ao Código Florestal resulta de um acordo em que os

atores sociais aceitam um determinado nível de poluição, este ponto pode ser

considerado um ótimo social onde as externalidades que permanecem são aceitas

por todos, conforme apregoa o Teorema de Coase.

Cada atividade gera ao produtor rural um rendimento líquido anual por

hectare. O rendimento líquido é definido como a receita total menos o custo total, já

descontados os custos de recuperação de pastagens degradadas. Este rendimento

foi multiplicado pelo total de hectares alocados para cada atividade, gerando assim o

rendimento liquido anual por atividade. O rendimento líquido anual do

empreendimento (RLT) é a soma dos rendimentos líquidos de cada atividade,

conforme segue.

RLT = RLP + RLM + RLS + RLA

onde:

RLP = rendimento líquido anual da pecuária

RLM = rendimento líquido anual do milho

RLS = rendimento líquido anual da soja

RLA = rendimento líquido anual do arroz

Para o rendimento líquido da pecuária foi utilizada a informação do lucro

anual para a região de Paragominas, em sistema de produção extensivo, com 5.000

UA, criando animais da raça Nelore em pastagens do tipo Brachiaria Bizanta (FNP,

2003 b), forrageira geralmente utilizada em maior proporção no semeio e que se

impõe como dominante quando a pastagem se consolida após o primeiro ano,

segundo Barros et al. (2000). Os dados dos custos de reforma de pastagens

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também se referem à forrageira Brachiaria Bizanta, usada em solos de fertilidade

média (FNP, 2003 b) (vide Anexo A).

Para o rendimento líquido do milho, da soja e do arroz foram utilizados os

dados do lucro por hectare destas culturas. Este foi obtido pela diferença entre a

receita por hectare da cidade de Paragominas (IBGE, 2005) e os custos de

produção (FNP, 2003 b). Os custos para cada cultura foram estimados pela média

aritmética simples, segundo produtividades diversas, das informações disponíveis

dos seguintes estados: milho – Goiás, Paraná, Minas Gerais e Bahia; soja – Rio

Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraná, Mato Grosso, Bahia, Maranhão

e Minas Gerais; arroz – Goiás e Mato Grosso. As receitas, os custos e o lucro de

cada atividade estão indicados nas tabelas do Anexo B.

O VPL dos fluxos anuais de rendimentos líquidos foi calculado com o auxílio

do software Excel para taxas de desconto sociais que variam de 1% a 10%17. O uso

do fluxo de caixa, segundo Pearce et al. (1994) é relativamente simples, mas de

grande relevância para entender as inter-relações entre fatores microeconômicos e o

gerenciamento de áreas de reserva.

O custo de oportunidade ambiental foi obtido pela diferença entre o valor

presente líquido do primeiro e o segundo cenários.

O valor monetário do custo de oportunidade refere-se a meados de 2002. Os

dados de receita levantados junto ao IBGE (2005) e do custo total, obtidos junto ao

Instituto FNP (FNP, 2002), que permitiram o cálculo do lucro das três culturas, bem

como os dados de custos de reforma de pastagens (FNP, 2002), referem-se aos

preços médios anuais de 2002. Da mesma maneira, a pesquisa de campo de Barros

et al (2002) reflete os preços vigentes em meados deste ano.

O horizonte temporal de vinte anos respeita a opção do estudo realizado por

Barros et al. (2002) para a construção de fluxos de caixa que determinaram o

rendimento médio de projetos pecuários em diferentes localidades.

17 Kramer et al. (apud PEARCE et al., 1994) também usaram a técnica do valor presente líquido com taxas de desconto de 10% e um horizonte temporal de vinte anos para estimar o custo de oportunidade de preservação do Parque Nacional de Mantadia, em Madagascar. Estes autores também construíram cenários – com e sem o parque – para mensurar os custos de oportunidade.

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4.5 - Discussão dos Resultados

A seguir são apresentados e discutidos os resultados do fluxo de caixa, do

valor presente líquido e do custo de oportunidade ambiental construídos para a

propriedade representativa do município de Paragominas. O fluxo de caixa e o VPL

são apresentados para os dois cenários acima mencionados.

4.5.1 - Fluxo de Caixa

O fluxo de caixa dos rendimentos líquidos da propriedade rural de

Paragominas, num horizonte temporal de vinte anos, está expresso nas tabelas a

seguir. Os valores do rendimento líquido anual são representados por um vetor de

preços de cada atividade com base em 2002.

A Tabela 4.3 representa o fluxo de caixa com valores por hectare. O

rendimento líquido anual por hectare de toda a propriedade, não descontados os

custos de recuperação de pastagens, é de R$ 2.619,09.

Os custos de recuperação da pastagem foram indicados

separadamente neste fluxo pois não estão incluídos nos custos de produção da

pecuária. Os custos referentes à primeira etapa foram considerados inexistentes,

uma vez que propriedade está em operação e o pasto já existe. Os valores lançados

no quinto e no oitavo ano referem-se à segunda etapa da recuperação das

pastagens, acima descrita.

Os custos da terceira etapa estão lançados no décimo–segundo ano e

incluem o valor de recuperação das pastagens e do aluguel de outros pastos para

abrigar o gado durante o período de recuperação. Estes valores são,

respectivamente, R$ 357,99 e R$ 6,00 por hectare. O valor do aluguel de pastagens

foi estimado em 1% do preço médio da terra com pastagem de alto suporte (0,75

UA) em Paragominas (FNP, 2003 a). O tempo médio de recuperação da pastagem

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foi estimado em seis meses e, portanto, o custo do aluguel foi estimado em R$ 36,00

por hectare.

Ano

Custo de Recuperação da Pastagem Lucro Gado Lucro Milho

Lucro Soja Lucro Arroz Lucro Total

1 40,00 795,95 1.198,19 584,95 2.619,09 2 40,00 795,95 1.198,19 584,95 2.619,09 3 40,00 795,95 1.198,19 584,95 2.619,09 4 40,00 795,95 1.198,19 584,95 2.619,09 5 16,04 23,96 795,95 1.198,19 584,95 2.603,05 6 40,00 795,95 1.198,19 584,95 2.619,09 7 40,00 795,95 1.198,19 584,95 2.619,09 8 16,04 23,96 795,95 1.198,19 584,95 2.603,05 9 40,00 795,95 1.198,19 584,95 2.619,09 10 40,00 795,95 1.198,19 584,95 2.619,09 11 40,00 795,95 1.198,19 584,95 2.619,09 12 393,99 -353,99 795,95 1.198,19 584,95 2.225,10 13 40,00 795,95 1.198,19 584,95 2.619,09 14 40,00 795,95 1.198,19 584,95 2.619,09 15 40,00 795,95 1.198,19 584,95 2.619,09 16 40,00 795,95 1.198,19 584,95 2.619,09 17 40,00 795,95 1.198,19 584,95 2.619,09 18 40,00 795,95 1.198,19 584,95 2.619,09 19 40,00 795,95 1.198,19 584,95 2.619,09 20 40,00 795,95 1.198,19 584,95 2.619,09

Tabela 4.3 - Fluxo de Caixa do Rendimento Líquido da Produção - Gado, Milho, Soja, ArrozValores Unitários - R$/ha.

FONTE: FNP (2005) e IBGE (2005)

A Tabela 4.4 representa o fluxo de caixa do Cenário 1 e resulta da

multiplicação da Tabela 4.3 pela quantidade de hectares distribuídos para cada

atividade, conforme os dados da pesquisa de campo. A Tabela 4.5 representa o

fluxo de caixa do Cenário 2. Nela mantêm-se as mesmas áreas do Cenário 1, exceto

para a produção pecuária que foi reduzida, por hipótese, de 4.924 hectares para

2.189 hectares. Em ambas as tabelas a última coluna expressa o rendimento liquido

total da propriedade.

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82

Ano

Custo da Recuperação da

Pastagem (4924ha)

Lucro Gado (4924 ha)

Lucro Milho (173 ha)

Lucro Soja (400 ha)

Lucro Arroz (238 ha)

Lucro Total (R$/ha)

1 196.960,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 953.153,84 2 196.960,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 953.153,84 3 196.960,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 953.153,84 4 196.960,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 953.153,84 5 78.980,96 117.979,04 137.699,78 479.277,14 139.216,91 874.172,88 6 196.960,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 953.153,84 7 196.960,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 953.153,84 8 78.980,96 117.979,04 137.699,78 479.277,14 139.216,91 874.172,88 9 196.960,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 953.153,84 10 196.960,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 953.153,84 11 196.960,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 953.153,84 12 1.940.006,76 (1.743.046,76) 137.699,78 479.277,14 139.216,91 (986.852,92) 13 196.960,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 953.153,84 14 196.960,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 953.153,84 15 196.960,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 953.153,84 16 196.960,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 953.153,84 17 196.960,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 953.153,84 18 196.960,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 953.153,84 19 196.960,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 953.153,84 20 196.960,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 953.153,84

Tabela 4.4 - Fluxo de Caixa do Rendimento Líquido da Produção - Gado, Milho, Soja, ArrozCenário 1 - Produção Pecuária em 4924 ha. Valores Totais FONTE: FNP (2005) e IBGE (2005)

Ano

Custo da Recuperação da Pastagem

(2189 ha)Lucro Gado

(2189 ha) Lucro Milho

(173 ha) Lucro Soja (400 ha)

Lucro Arroz (238 ha)

Lucro Total (R$/ha)

1 87.560,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 843.753,84 2 87.560,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 843.753,84 3 87.560,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 843.753,84 4 87.560,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 843.753,84 5 35.111,56 52.448,44 137.699,78 479.277,14 139.216,91 808.642,28 6 87.560,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 843.753,84 7 87.560,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 843.753,84 8 35.111,56 52.448,44 137.699,78 479.277,14 139.216,91 808.642,28 9 87.560,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 843.753,84 10 87.560,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 843.753,84 11 87.560,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 843.753,84 12 862.444,11 (774.884,11) 137.699,78 479.277,14 139.216,91 (18.690,27) 13 87.560,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 843.753,84 14 87.560,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 843.753,84 15 87.560,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 843.753,84 16 87.560,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 843.753,84 17 87.560,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 843.753,84 18 87.560,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 843.753,84 19 87.560,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 843.753,84 20 87.560,00 137.699,78 479.277,14 139.216,91 843.753,84

Tabela 4.5 - Fluxo de Caixa do Rendimento Líquido da Produção - Gado, Milho, Soja, ArrozCenário 2 - Produção Pecuária em 2189 ha. Valores Totais FONTE: FNP (2005) e IBGE (2005)

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4.6 - O Valor Presente Líquido do Rendimento da Propriedade Representativa de Paragominas

O VPL do rendimento de todo o empreendimento, expresso em reais por

hectare, está indicado na Tabela 4.6 abaixo. Em valores de 2002, o VPL varia de R$

46.909,84 a R$ 22.164,37 por hectare, conforme as taxas de desconto variem de 1%

a 10%. Este empreendimento é considerado “bem comportado” segundo a

expressão de Contador (2000, p. 48) posto que os resultados positivos do VPL

constituem uma função decrescente das taxas de desconto.

Dois referenciais de mercado para as taxas de desconto no Brasil são a taxa

SELIC e o rendimento da caderneta de poupança. A variação nominal acumulada no

ano 2002 de ambos foi de 19,17% e 9,22%. A taxa da caderneta de poupança é

usualmente um referencial mínimo de mercado para aplicações financeiras.

Taxa de Desconto

Resultado Líquido (R$/ha)

1% R$ 46.909,842% R$ 42.510,603% R$ 38.683,604% R$ 35.342,045% R$ 32.413,556% R$ 29.837,827% R$ 27.564,298% R$ 25.550,499% R$ 23.760,60

10% R$ 22.164,37Tabela 4.6 - Valor Presente Líquido Valores Unitários - R$/ha.

O uso de taxas de desconto inferiores a este patamar mínimo se justifica

porque o empreendimento em análise envolve investimentos agropecuários de longo

prazo com componente de preservação ambiental. Quanto maior é o horizonte

temporal do empreendimento, menor deve ser a taxa de desconto dados os riscos

que o fator tempo envolve, especialmente quando se trata de investimentos

agropecuários. A taxa de juros nominal do financiamento da safra agrícola, que em

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2002 foi de 8,75%, constitui-se num referencial de mercado para o limite superior da

taxa de desconto.

As Tabelas 4.7 e 4.8 apresentam o VPL considerando-se os dois cenários

acima descritos.

Os valores positivos do VPL deste empreendimento são óbvios porque os

fluxos de rendimentos líquidos anuais são positivos. Contudo, a diferença entre

ambos os cenários é relativamente pequena. Para as três taxas de desconto do

limite inferior do intervalo acima esta diferença situa-se entre 7,50% (taxa de

desconto de 8%) e 7,86% (taxa de desconto de 10%). O cenário de maior

preservação ambiental não importaria em significativa perda financeira ao capital

aplicado. A magnitude desta perda permite inferir que ela seria compensada, em

parte, pela melhoria da produção e do bem-estar social com os serviços ambientais

não sacrificados.

Taxa de Desconto

Resultado Líquido (R$/ha)

Taxa de Desconto

Resultado Líquido (R$/ha)

1% R$ 15.330.445,26 1% R$ 14.394.796,792% R$ 13.916.804,34 2% R$ 13.054.784,303% R$ 12.689.362,55 3% R$ 11.890.020,604% R$ 11.619.321,98 4% R$ 10.873.695,115% R$ 10.682.794,16 5% R$ 9.983.520,916% R$ 9.859.902,68 6% R$ 9.200.914,897% R$ 9.134.059,14 7% R$ 8.510.335,358% R$ 8.491.377,41 8% R$ 7.898.745,099% R$ 7.920.198,46 9% R$ 7.355.175,1810% R$ 7.410.703,81 10% R$ 6.870.369,45

Tabela 4.7 - Valor Presente Líquido Tabela 4.8 - Valor Presente LíquidoCenário 1 - Gado em 4924 ha. Cenário 2 - Gado em 2189 ha.

4.7 - Custo de Oportunidade Ambiental da Produção Pecuária

A perda acima referida exprime, em termos monetários, o custo de

oportunidade ambiental de se preservar recursos naturais, ampliando a área de

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reserva da propriedade e reduzindo os impactos ambientais gerados diretamente

pelas pastagens. Ou seja, o valor monetário da renda sacrificada refere-se

principalmente aos impactos ambientais gerados pelas pastagens, conforme

discutido no Capítulo 2.

Assumindo que as três últimas taxas de desconto refletem com maior

propriedade o custo de oportunidade para este empreendimento, a renda sacrificada

na propriedade rural de Paragominas em favor da maior preservação de serviços

ambientais situa-se entre R$ 197,56 e R$ 216,68 por hectare, a preços de 2002. Em

termos de valor total para os 2.735 hectares disponibilizados para reserva legal, o

empreendimento de vinte anos sacrificaria entre R$ 540.334,36 e R$ 592.632,32. Os

resultados do custo de oportunidade para todas as taxas de desconto estão

indicados na Tabela 4.9 abaixo.

Taxa de Desconto

Cenário 1 Menos Cenário 2

Valor Total ( 2735 ha.)

Cenário 1 Menos Cenário 2

Valor Unitário (R$/ha.) (*)

1% R$ 935.648,47 R$ 342,102% R$ 862.020,03 R$ 315,183% R$ 799.341,95 R$ 292,264% R$ 745.626,86 R$ 272,625% R$ 699.273,25 R$ 255,686% R$ 658.987,78 R$ 240,957% R$ 623.723,79 R$ 228,058% R$ 592.632,32 R$ 216,689% R$ 565.023,28 R$ 206,5910% R$ 540.334,36 R$ 197,56

Tabela 4.9 - Custo de OportunidadeValor Total e Valor UnitárioOBS (*) Este valor unitário foi calculado dividindo-se o valortotal por 2.735, com arredondamento na segunda casa decimal

Os valores do custo de oportunidade obtidos acima são coerentes com a

realidade econômica da localidade estudada. Uma simulação do fluxo de caixa da

propriedade com valores de 2004, mas dentro das mesmas áreas ocupadas em

2002 (Apêndice A), mostrou que o custo de oportunidade unitário para o mesmo

intervalo acima varia entre R$ 241,65 e R$ 258,83, diferença compatível com o

lapso de tempo e a conseqüente evolução de preços e custos. Uma análise do fluxo

de caixa evidencia que o rendimento líquido das culturas é variável, e nos três casos

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foram menores. O rendimento da pecuária é o único que evolui positivamente. A

pecuária proporciona retornos seguros ao empreendedor rural paraense. Embora o

lucro por hectare da pecuária seja bastante inferior ao das demais culturas, o

produtor opta por desenvolvê-la em consórcio com outras atividades como forma de

se proteger do risco de uma produção baseada, por exemplo, na monocultura de

grãos. É a aversão ao risco que o leva a diversificar a produção e a optar pela

pecuária (BARROS et al. 2002).

Um fator específico que afetou o custo de oportunidade entre estes dois anos

foi a evolução dos custos de recuperação da pastagem em proporção superior ao

crescimento do lucro da pecuária. Somente os custos da primeira e da segunda

etapa cresceram 70,1% entre esses dois anos. Um crescimento proporcional destes

custos ao crescimento do lucro implicaria num custo de oportunidade maior.

Os valores da Tabela 4.9 representam a perda de renda do produtor para que

alguns serviços ambientais sejam poupados do seu uso produtivo. A mensuração do

custo de oportunidade é uma etapa necessária para avaliar a extensão dos gastos

com ações de preservação. Indicar o custo de oportunidade de uma ação de

preservação, ao lado de outros gastos, torna a análise mais realista. Omiti-lo faz

com que a preservação seja, financeiramente, mais atraente do que ela realmente é

(PAGIOLA, VON RITTER e BISHOP, 2004).

4.8 - Beneficiários, Benefícios e Compensações por Ações de Preservação Ambiental

Algumas questões associadas às iniciativas de preservação ambiental com

redução de benefícios econômicos são comumente levantadas na literatura

(NORTON-GRIFFTHS e SOUTHEY, 1995; MOTTA, 1998; PAGIOLA, VON RITTER

e BISHOP, 2004). Quem são os beneficiários? Como devem se repartir os custos

entre os atores sociais? Quais são as fontes de financiamento para investimentos

ambientais ou para compensação por perdas econômicas em favor da preservação?

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Uma leitura do Quadro 2.2 que lista os impactos e serviços afetados pela

pecuária, permite deduzir os beneficiários da preservação de parte da área sob

pastagem em escala regional.

Os proprietários rurais estabelecidos na região de Paragominas são

beneficiários diretos da manutenção de áreas de reserva florestal em suas

propriedades. Dentre os benefícios específicos para o seu empreendimento estão a

manutenção da produtividade de solos cultiváveis, a prevenção dos danos da erosão

e maior reserva de água para o consumo agrícola.

As populações locais também receberiam os efeitos benéficos do integral

respeito do Código Florestal. Haveria melhoria: no clima e na atmosfera local

(temperatura e pluviosidade mais estáveis e redução da poluição do ar por fumaça,

por exemplo); na provisão de água para consumo doméstico e industrial; nas opções

de recreação rural e no extrativismo rural e florestal sustentável.

Os governos locais também seriam beneficiados pois teriam reduzidas suas

despesas com: mitigação dos impactos como, por exemplo, a drenagem de cursos

d’água assoreados; combate e prevenção de incêndios florestais; saúde pública,

para males respiratórios causados por dificuldades respiratórias decorrentes das

fumaças de queimadas, entre outros.

Os benefícios mais evidentes da preservação de áreas sob pastagem são

aqueles que a preservam dos impactos primários. Dentre os principais benefícios

citados no Quadro 2.2 destacam-se a preservação: a) da camada superior do solo e

manutenção de suas propriedades nutricionais; b) da cobertura florestal, com

benefícios conseqüentes sobre a qualidade do ar e da temperatura local; c) da

cobertura vegetal, com maior equilíbrio da flora e da fauna locais; d) de habitats.. A

redução de áreas de pastagens plantadas também melhoraria a qualidade dos

corpos hídricos.

Muitos proprietários rurais argumentam que programas de conservação

reduzem os ganhos econômicos e a produtividade e que a adesão a estes

programas deve ser recompensada financeiramente. Assim, pressionam os

governos a agirem através de medidas de incentivo ao invés de medidas

regulatórias (DOREMUS, 2003). Fearnside (1997, p. 56-57), afirma que a

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biodiversidade tem uma característica única por “não ser substituível nem

comercializável”, devendo assim receber “algum tipo de recompensa pela sua

manutenção no longo prazo”. O volume da compensação dependerá do montante

não percebido pelos produtores como contrapartida da conservação ambiental, esta

entendida como a manutenção da natureza intocada, com investimentos para a

reposição do capital natural degradado ou com o sacrifício da produção em favor da

compensação.

Von Moltke (2002, p. 129) ressalta que existem fatores ambientais passíveis

de serem “taxados pelos mercados”, podendo ser “integrados aos custos de

produção”. O autor afirma, entretanto, que bens públicos como as florestas,

envolvem custos “que apenas circunstancialmente estão ligados a funções

produtivas”. Argumenta, por fim, que fatores de ordem ambiental não têm seus

preços determinados por mecanismos de mercado. Portanto, instrumentos

econômicos como tributos e subsídios não serão capazes de, exclusivamente,

promoverem a correta remuneração aos serviços ambientais prestados para a

produção agrícola. Há que se buscar outros mecanismos que não aqueles

determinados pelo livre jogo das forças de mercado. Estes mecanismos e

instrumentos, quando aceitos voluntariamente por produtores e consumidores,

tendem a ganhar relevância na busca de soluções em vistas do poder de influência

cada vez maior que o consumidor final passa a ter na determinação da produção

agrícola. Assim, quanto mais pró-ativa for a postura do produtor em favor de um

nível de produção ambientalmente sustentável, maior será sua aceitação pelo

consumidor. Esta, por sua vez, é função direta de seu nível de informação e grau de

conscientização.

No caso da produção agrícola brasileira, o autor argumenta que a produção

sustentável de algumas commodities agrícolas deve ser estimulada por um fundo

ambiental provido com recursos advindos de pagamentos diretos dos mercados

importadores. As condições reguladoras seriam definidas por produtores e governos

de países exportadores, assegurando transparência e responsabilidade mútua.

Embora a carne paraense não seja exportada para outros países, a idéia da criação

de fundos ambientais, compostos por recursos públicos e privados, de governos de

estados, de importadores, do Governo Federal e de consumidores finais, é um dos

mecanismos de compensação a ser incorporado por políticas públicas de

conservação ambiental. Os recursos componentes deste fundo seriam destinados,

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sob a forma de subsídio, para investimentos em ações ambientais para aqueles

proprietários que respeitam o Código Florestal.

Os instrumentos e mecanismos voluntários para a promoção da

conscientização são citados com grande ênfase na literatura e são chamados de

“acordos voluntários”. Neste conceito enquadram-se os programas e/ou iniciativas

governamentais que induzem à participação de firmas, em grupos ou

individualmente, sob a coordenação de agências governamentais. Sua atuação,

oferecendo subsídios para atrair a participação de empresas em programas

voluntários, pode ser uma alternativa ao voluntariado unilateral. As agências apenas

desenham o programa, definem critérios, obrigações e recompensas. Neste sistema

as empresas são convidadas a participar mediante sua adesão a metas

estabelecidas. Caso as firmas não adotem as metas ambientais estabelecidas

voluntariamente, a agência reguladora impõe medidas de controle, assegurando

assim a eficácia das ações (SEGERSON e LI, 1999).

Impostos, taxas, subsídios, fundos ambientais e instrumentos voluntários são

opções a serem incorporadas às políticas públicas ambientais. Tornam-se eficazes

porque contribuem, ao mesmo tempo, para a minimização de custos e para a

redução de impactos ambientais. O comportamento pró-ativo de produtores,

consumidores e governos aumenta a efetividade da política ambiental, implicando

em benefícios econômicos e ambientais.

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CONCLUSÃO

O desenvolvimento da pecuária tem sido, ao longo das últimas décadas, uma

das mais importantes causas do desmatamento na Amazônia, particularmente no

Estado do Pará, o estado mais afetado pela perda da cobertura vegetal na Região

Norte. Variáveis organizadas em diferentes níveis hierárquicos influenciam a

rentabilidade do empreendimento agropecuário e explicam o desmatamento. A

pecuária é uma realidade em forma de desafio que se impõe histórica e

economicamente ao equilíbrio ambiental do Sudeste Paraense.

O caso da propriedade da rural de Paragominas ilustra uma situação onde a

proteção de recursos naturais gera benefícios ambientais. A identificação dos

impactos ambientais gerados pela pecuária e os serviços ambientais por ela

sacrificados, ou que seriam poupados na opção de maior preservação, dá uma

dimensão destes benefícios.

Ao enfocar o estudo numa região específica, este trabalho pretendeu ressaltar

a escala ecológica e econômica dos impactos ambientais. Os processos ecológicos

diferem entre ecossistemas e entre regiões dentro de um ecossistema. Valores

definidos em mercados variam segundo a sua extensão e características específicas

afetando, por conseguinte, receitas, custos e a rentabilidade dos empreendimentos.

Este trabalho apresentou um método de mensuração do custo de

oportunidade ambiental da produção pecuária, aplicada a uma região específica,

estimando-o em R$ 197,56 por hectare e R$ 540.334,36, num horizonte temporal de

20 anos, a uma taxa de desconto de 10%. Representou também um esforço no

sentido de integrar as relações ecológicas e econômicas existentes no processo de

produção agropecuário.

A geração de bens econômicos não se faz sem afetar funções ambientais e

sem o sacrifício de serviços ambientais. De forma inversa, a preservação destas

funções e serviços ambientais para a manutenção do bem-estar de gerações

presentes e futuras, não se faz sem o sacrifício de algum rendimento econômico.

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Quando estimativas do custo de oportunidade como estas são

disponibilizadas, os tomadores de decisão têm instrumentos para abordar questões

econômicas e de eqüidade mais prontamente. (SINDEN, 2004)

A questão econômica diz respeito ao benefício econômico da produção para

produtores e consumidores. Aborda também questões fiscais e tributárias, caso

políticas públicas definam esquemas de compensações para a produção sacrificada

em favor da preservação.

A questão da eqüidade ou da justiça entre gerações deve ser discutida de

acordo com valores éticos, distintos do conceito de eficiência econômica. Diante da

escassez de recursos, o processo produtivo requer decisões sobre quais gerações

deverão gozar quanto e de quais recursos. Embora a abordagem do custo de

oportunidade não atribua valor aos serviços ambientais, a decisão entre o sacrifício

da produção econômica ou dos serviços ambientais ressalta esses aspectos e tem

como pano de fundo a discussão de valores ambientais.

A técnica do valor presente líquido, utilizada para mensurar o custo de

oportunidade ambiental, evidencia a alocação de recursos a longo prazo e,

implicitamente, questiona se é possível melhorar o bem–estar de mais de uma

geração. Portanto, o que se deve discutir é o grau de sacrifício requerido da

sociedade presente para preencher seus deveres com a posteridade (HOWARTH,

1996).

A mensuração do custo de oportunidade ambiental do desenvolvimento da

pecuária quantifica financeiramente este ponto e questiona se este sacrifício vale a

pena e quem deve arcar com ele. Embora o objetivo ambiental da proteção da

biodiversidade não deva ser questionado, o custo de alcançá-lo deve ser discutido

(SINDEN, 2004).

O Código Florestal é uma referência legal e por esta razão foi utilizado como

referência para a área colocada sob reserva florestal na propriedade rural de

Paragominas. Muito mais do que um paradigma, a área de oitenta por cento de

reserva em áreas de floresta é uma possibilidade interessante para os objetivos de

proteção da biodiversidade e, por esta razão, foi utilizada como referência neste

trabalho.

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Os instrumentos de regulamentação ambiental, contudo, não discutem o

custo desta proteção nem formas de compensá-los. A não existência de

mecanismos legais que distribuam socialmente os custos da preservação, inclusive

os custos de oportunidade, determina perdas econômicas ao produtor rural. Dito de

outra maneira, o integral respeito ao Código Florestal faz com que o produtor

subsidie com sua produção um estado de maior preservação ambiental.

Mecanismos compensatórios com base em instrumentos de mercado, em

ações voluntárias, em fundos ambientais ou isenções fiscais e tributárias, permitiriam

socializar parte destas perdas, viabilizando um estado de maior conservação

ambiental. As políticas públicas de preservação dos recursos ambientais da

Amazônia devem incorporar estes mecanismos a fim promover maior equilíbrio entre

o desenvolvimento econômico e o ambiental. Ou seja, a promoção da

sustentabilidade econômica e ambiental também depende da inserção, nas políticas

públicas, de mecanismos que assegurem a correta remuneração dos custos da

preservação ambiental, inclusive dos custos de oportunidade. A adoção de medidas

pró-ativas pelo produtor, com o devido suporte das políticas públicas, tende a ser

reconhecida pelo consumidor final, cuja preferência por bens econômicos

produzidos com sustentabilidade ambiental recompensaria, via mecanismos de

mercado, o esforço de conservação dos demais agentes.

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ANEXO A - Custos de Formação/Reforma de Pastagens - Ano: 2002

Forrageira Custos da Custos da Custos da Fertilidade do Solo Fase I Fase II Fase III

1o e 2o 5o ao 12o A partir doDescrição Especificação V.U. Q Rend Valor Anos Ano 12o Ano

Op. Mecanizadas

Conservação do SoloHM Tp 105hp +

terrac 36,91 1 1,00 36,91 36,91

Calagem 22,14 1 0,40 8,86 8,86

Gradagem Interm.HM Tp 75hp +

distrib 30,75 1 1,10 33,83 33,83

AraçãoHM Tp 105hp +

grade 29,82 1 3,10 92,44 46,22 46,22

Gradagem Interm.HM Tp 105hp +

arado 30,75 1 1,45 44,59 44,59

Sulcação e Adub.HM Tp 75hp +

grade

Adubagem CoberturaHM Tp 75hp +

dist. 19,08 1 0,48 9,16 4,58 4,58

Semeadura LançoHM Tp 75hp +

dist. 19,08 1 0,48 9,16 4,58 4,58

Transporte de InsumosHM Tp 75hp +

carreta 17,73 1 0,40 7,09 2,48 2,13 2,48

Subtotal 1 242,04 57,86 2,13 182,05

Op Manuais

Limpeza Terreno HD 16,88 1 0,50 8,44 8,44

Sulcação e Adub. HD 16,88

Transporte Mudas HD 16,88

Plantio HD 16,88

Adubação Cobertura HD 16,88 1 0,06 1,01 0,51 0,51

Semeadura HD 16,88 1 0,06 1,01 0,51 0,51

Calagem HD 16,88 1 0,05 0,84 0,84

Transporte Insumos HD 16,88 1 0,10 1,69 0,59 0,51 0,59

Aplicação Formicida HD 16,88 1 0,10 1,69 1,69Subtotal 2 14,68 1,602 11,65 1,43InsumosSementes (VC 20%) Kg 3,83Sementes (VC 32%) Kg 3,05 1 12,00 36,62 18,31 18,31Sementes (VC 20%) Kg 3,43Mudas ton CIF 410,65Calcário ton CIF 40,00 1 2,00 80 80Super. Simples ton CIF 325,63 1 0,15 48,84 48,84Ferilizantes. 20-05-20 ton CIF 523,63 1 0,15 78,54 39,27 39,27Formicida Kg 6,40 1 1,00 6,4 6,40Subtotal 3 250,4 57,58 18,31 174,51Total (R$/ha.) 507,12 117,04 32,08 357,99FONTE: FNP (2002, p.197)

Brachiaria BrizantaMédia

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ANEXO B – Receitas e Custos das Atividades Agropecuárias na Propriedade Representativa de Paragominas - 2002

6400 Kg/ha. 6500 Kg/ha. 6200 Kg/ha. 6500 Kg/ha. MédiaCusto Total

(R$/ha) 984,14 1.010,98 1.024,13 1.056,94 1.019,05 Custo Total

(R$/saca 60 Kg) 9,20 9,30 9,90 9,80 9,55

Receita (R$/ha) 1.815,00 Preço Médio

(R$/saca 60 Kg) 11,10 12,90 12,20 13,00 12,30

Lucro (R$/ha) 795,95 Região GO PR MG BA

Milho - Receita, Custos e Lucro - 2002 Em R$ FONTE: FNP (2003) e IBGE (2005)

Produtividade

2500 Kg/ha. 2700 Kg/ha. 2900 Kg/ha. 3000 Kg/ha. 3100 Kg/ha. 2700 Kg/ha. 2700 Kg/ha. 2500 Kg/ha. Média

Custo Total (R$/ha) 863,13 823,61 825,81 829,,39 865,98 784,07 803,07 832,68 821,45

Custo Total (R$/saca 60 Kg) 20,7 18,3 17,1 16,6 16,80 17,40 17,80 20,00 18,00

Receita (R$/ha) 2.019,64

Preço Médio (R$/saca 60 Kg) 25,9 23,4 22,9 253 21,70 21,70 23,80 24,00 22,80

Lucro (R$/ha) 1.198,19 Região RS MS GO PR MT BA MA MG

Soja - Receita, Custos e Lucro - 2002 Em R$ FONTE: FNP (2003) e IBGE (2005)

Produtividade

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2000 Kg/ha. 2300 Kg/ha. 2600 Kg/ha. 4200 Kg/ha. MédiaCusto Total

(R$/ha) 731,98 782,70 892,21 1.475,41 970,58 Custo Total

(R$/saca 60 Kg) 21,96 20,42 20,59 21,08 21,01

Receita (R$/ha) 1.555,52 Preço Médio

(R$/saca 60 Kg)

Lucro (R$/ha) 584,95 Região GO GO MT GO

Arroz - Receita, Custos e Lucro - 2002 Em R$ FONTE: FNP (2003) e IBGE (2005)

Produtividade

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APÊNDICE A – FLUXO DE CAIXA E CUSTO DE OPORTUNIDADE COM VALORES DO ANO DE 2004

Ano

Custo de Recuperação da Pastagem Lucro Gado Lucro Milho Lucro Soja Lucro Arroz Lucro Total

1 56,00 225,06 706,04 164,01 1.151,11 2 56,00 225,06 706,04 164,01 1.151,11 3 56,00 225,06 706,04 164,01 1.151,11 4 56,00 225,06 706,04 164,01 1.151,11 5 15,11 40,89 225,06 706,04 164,01 1.136,00 6 56,00 225,06 706,04 164,01 1.151,11 7 56,00 225,06 706,04 164,01 1.151,11 8 15,11 40,89 225,06 706,04 164,01 1.136,00 9 56,00 225,06 706,04 164,01 1.151,11 10 56,00 225,06 706,04 164,01 1.151,11 11 56,00 225,06 706,04 164,01 1.151,11 12 678,75 -622,75 225,06 706,04 164,01 472,36 13 56,00 225,06 706,04 164,01 1.151,11 14 56,00 225,06 706,04 164,01 1.151,11 15 56,00 225,06 706,04 164,01 1.151,11 16 56,00 225,06 706,04 164,01 1.151,11 17 56,00 225,06 706,04 164,01 1.151,11 18 56,00 225,06 706,04 164,01 1.151,11 19 56,00 225,06 706,04 164,01 1.151,11 20 56,00 225,06 706,04 164,01 1.151,11

Fluxo de Caixa do Rendimento Líquido da Produção - Gado, Milho, Soja, Arroz Valores de 2004Valores Unitários - R$/ha.

FONTE: FNP (2005) e IBGE (2005)

Taxa de Desconto

Cenário 1 Menos Cenário 2

Valor Total ( 2735 ha.)

Cenário 1 Menos Cenário 2

Valor Unitário (R$/ha.)

1% R$ 1.020.603,77 R$ 373,162% R$ 951.658,48 R$ 347,963% R$ 893.851,57 R$ 326,824% R$ 844.943,44 R$ 308,945% R$ 803.160,47 R$ 293,666% R$ 767.097,05 R$ 280,477% R$ 735.638,45 R$ 268,978% R$ 707.900,07 R$ 258,839% R$ 683.179,51 R$ 249,7910% R$ 660.918,74 R$ 241,65

Custo de Oportunidade - Valores de 2004Valor Total e Valor Unitário