patativa revista enredo

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CINEMA Firmino Holanda escreve sobre o primeiro filme cearense GAMES De brincadeira a objeto de pesquisa na academia GASTRONOMIA Os intelectuais vão à mesa fevereiro 2009 N° 2 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PATATIVA Tadeu Feitosa, Dimas Macedo, Tiago Santana e o centenário do maior poeta popular do País

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Patativa do Assaré em entrevista a Revista Enredo

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Page 1: Patativa Revista Enredo

CINEMAFirmino Holanda escreve

sobre o primeiro filme cearense

GAMESDe brincadeira a objeto de

pesquisa na academia

GASTRONOMIAOs intelectuais vão à mesa

fevereiro 2009 N° 2 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

PATATIVATadeu Feitosa, Dimas Macedo, Tiago Santana e o centenário do maior poeta popular do País

Page 2: Patativa Revista Enredo

Esp

ecial O sertão

No centenário de nascimento de Patativa

do Assaré, o professor Luiz Tadeu Feitosa

escreve sobre como o poeta sertanejo se

consagrou como um símbolo da poesia

popular nordestina e como porta-voz das

lutas contra as adversidades da vida

Luiz Tadeu Feitosa

e Patativa

“Da baxa inté na chapada / tudo é paz, tudo é

beleza”. O Sertão é belo.“Gozando a musga animada / da festa da na-

tureza”. O Sertão é festa.“Por toda parte se sente / um cheiro de coisa

boa”. O Sertão tem cheiro.

Esse sertão que se move, que tem cores e luzes como “nas lindas lanternas de mil vaga-lumes” é o sertão representado e mediatizado pelas antenas sensoriais de um poeta privilegiado. Para um poeta cuja obra possibilita as mais diversas “angulações” nada melhor do que um sertão de múltiplos tons:

“Porém quando chove tudo é riso e festa / o

campo e loresta prometem fartura / escuta-se

as notas agudas e graves / dos cantos das aves

louvando a natura.”

O poeta e o sertão, o criador e a criatura se misturam. Homem e poesia, natureza e cultura dialogam e dessa interlocução surge, em pro-cesso, uma semiose ilimitada. Dessa interação nasce o entendimento das mensagens e dos fenômenos que envolvem homem e o seu ha-bitat. O Sertão que canta e encanta o homem é um sertão performático. Ele fala e diz. É ou-vido e dito.

O chão do sertão é um celeiro de vidas. As se-mentes de grãos e de esperanças que o serta-nejo ali deposita brotam como sonhos e me-mórias de suas vidas passadas e futuras. Dele

também brotam sons e movimentos. Do som dos instrumentos revolvendo a terra em bus-ca de vida saem cânticos míticos da criação. Dali tanto brotará o alimento do corpo como o alimento da alma. Da terra brotam a arte e as inspirações artísticas.

No Nordeste do Brasil, a natureza é fonte de alimento e inspiração. Junto aos movimentos coreografados da enxada, saltam do chão os elementos da criação poética. Homem, natu-reza e arte interagem nesse balé criador. O pó que sobe desse ato performático da criação é um signo índice da criação artística em movi-mento. Seria esse pó suspiro dos deuses? Seria esse chão o coração do mito criador? Seria esse mito o homem reatualizado em cada broto de rama e de poesia?

Para Patativa do Assaré, o labor diário e não re-munerado do cultivo da terra o premia com o lazer e a arte que dali tiram. O arar é um ato sin-cronizado e performático de uma poética bro-tando da terra. A natureza é a língua e a roça é a fala. Uma e outra formam a vida e o habitat do sertanejo criador.

O poeta do qual estamos falando é uma espécie de mediação entre natureza e cultura, que se complementam. A cultura do sertanejo criador é composta de grãos e versos. Ambos atuam numa simbiose criadora sem relações lógicas, podendo do grão lançado à terra ignota brotar apenas poesia e esta ser o elemento fértil para a esperança do grão lançado. Ler Patativa do Assaré é, antes de tudo, ouvir o tom performá-

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ação

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tico da oralidade. Uma oralidade que se faz di-zendo. Seus poemas, ainda que assentados na forma escrita, são para ser falados. Como num texto teatral, ler signiica viver a coisa, agir e ser transportado momentaneamente para a ação dita. Mas, o que diz a obra de Patativa? Uma obra que fala de sina: destino, fardo, sorte. Mar-cas de um viver. O nascer, o viver e o sonhar no âmbito da natureza humana são marcados pela sina. Sob o efeito dessa herança humana, o sertanejo e poeta Patativa do Assaré se con-sagrou como um símbolo da poesia popular nordestina e como porta-voz das lutas contra as adversidades da vida.

Resultado da cumplicidade entre natureza e cultura, Patativa funciona ora como uma ma-triz humana adaptável a todas as situações, ora como mediação cultural entre as adversidades e as utopias, entre as intempéries e os sonhos. Na trajetória desse viver, sina é tanto sinal de pe-sar como impulsão para a ação. Dessa forma, peso e impulsão para agir se misturam, mos-trando-se como meios através dos quais as ex-periências são vividas.

E essas experiências vivi-das e partilhadas, retidas

na memória e transmitidas em forma de tra-dição são o que movem e dão sentido à vida. Patativa se insere nesse contexto como um interlocutor do mundo. Contraditório como a própria vida, esse poeta de olhos e ouvidos abertos para o mundo, reclama um mundo justo e civilizado, como o fez no poema sobre Assaré, quando diz: “A Nossa Senhora peço / pruque a luz do progresso / tu não tem na tua vida”, ao mesmo tempo em que denuncia as ordenações do processo civilizador, como no poema Puxadô de Roda: “... esta horrive novida-de / fazendo um doido baruio / cheio de impé-rio e orguio / fedendo a civilidade”.

Como homem do campo, o poeta de Assaré agiu como um interlocutor atento. Sua poética funciona como um canal através do qual seus irmãos podem entender seus contextos sócio-históricos. Misto de profeta e sábio, Patativa foi a

atualização dos oráculos e a personiicação mo-derna de uma mídia.

Patativa não abando-nou nosso primeiro modo de comunicação: a fala. É pelo oral que ele nos empresta seus sentidos. Patativa é, na oralidade, a personii-cação de uma grande

mídia. Mistura de receptáculo e mediação, o poeta midiático ou multimídia foi um misto de sabedoria e de mediunidade, de inocência e sagacidade. Vários códigos compunham o seu sistema perceptivo. Ele foi mais do que mídia. Foi uma complexa comunicação em ininterrupto processo.

É o próprio Patativa quem fala sobre essa sin-gularidade comunicativa: “ao cuidar da minha lida na roça eu nunca estava só. Era fazendo a limpa e fazendo versos. Tudo coisa que eu ia criando, tudo coisa da minha imaginação, que ia chegando ou sobre a vida do sertanejo, ou sobre a própria lida, coisas que iam chegando na minha mente e eu ia transformando em versos. Mas veja bem: tudo coisa criada, mas tudo ligada à verdade, às coisas da vida.”

Como se percebe, esse poeta de Assaré foi o primeiro modelo de antena parabólica do ser-tão. Só que com uma diferença: uma antena que capta o que essas que estão sobre nossas casas não con-seguem cap-tar. Sua antena sempre esteve ligada aos deu-ses da poesia.

Uma antena que capta sensações deste e de outros mundos; uma antena que é regida pe-las sensações; pelo olhar crítico e atento; uma antena que sabe captar as dores e os prazeres dos seus irmãos. Um poeta do mundo e para o mundo. Um poeta que está sintonizado com as coisas do nosso cotidiano.

Um homem da terra e um poeta do mundo. Patativa nasceu da mesma terra de onde bro-tam seus poemas. Seu local de nascimento funciona como uma matriz memorial, onde ele se ressigniica a cada colheita, de onde bro-ta sua cultura poética e de onde se alimenta sua tradição oral.

O campo é para Patativa o espaço da experi-ência, do conhecimento e da sobrevivência do homem e do mito. Nesse sentido, campo é muito mais do que um simples signiicado. É o espaço e o tempo onde se constroem os sen-tidos. No campo ele nasceu, brincou imitando a vida e cresceu. O campo para Patativa era sua própria identidade. Assim, conhecer Patativa e sua obra implica o conhecimento dos sentidos que emanam da terra.

O homem através do qual se podia ver Pata-tiva funcionava como um código que em-presta aos nossos sentidos marcas de muitas representações. Por ele se podia ver o campo

Esp

ecial

O sertão: para o poeta, o campo era o espaço da experiência, do conhecimento e

da sobrevivência do homem e do mito

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e suas relações; por ele se podia deduzir o su-jeito sertanejo. É por meio desse código que as tradições são atualizadas. É como se ele fun-cionasse como uma matriz ancestral que nos desse conta das nossas origens. Um resgate de uma ancestralidade que está em nós, ainda que ofuscada por uma perda momentânea da nossa identidade.

A Serra de Santana foi seu marco. Ao idealizá-la, Patativa recriava seu paraíso e lançava mão dos recursos criativo-imaginativos da cultura para resolver simbolicamente as adversidades do homem na terra ignota.

Assim, para a compreensão desse processo semiótico de leitura do mundo em Patativa, é

que se homogeneízam e se cumpliciam num eterno devir, gerando novos sentidos, numa semiose ilimitada. Logo, não podemos aceitar as coisas como sendo certas e imutáveis. Tam-pouco podemos aceitá-las como verdadeiras e últimas. Assim desejava Patativa e seus versos são a síntese dessas preocupações.

Ao cantar o sertão, seus problemas e seus pra-zeres, Patativa canta o homem e o mundo. A poesia refere-se ao universal. Portanto, Patati-va é universal. Ele reata o particular – sertão e sertanejo – ao universal - homem e mundo. E canta um mundo e um sertão dinâmicos, que mudam e que precisam mudar. Ao apresentar os problemas o que ele quer não é mostrar-se sofredor para ganhar a piedade dos outros, mas denunciar os descalabros e chamar a to-dos para a luta pela vida digna. O que sempre fez foi dizer a verdade. Diz a Natureza bela, mostrada pelo sertão verdejante. Diz a Nature-za impiedosa, mostrando a sequidão da terra. Diz o sertanejo puro e trabalhador, o sertanejo sofrido e fugitivo em busca de outras terras. Mas diz também a incompetência dos ho-mens do poder. “Eu digo em versos a verdade”, assevera o poeta.

Para dizer a Natureza, e por extensão dizer o mundo; para dizer o sertão e, por extensão, o sertanejo; para dizer o Nordeste, e por ex-tensão, as adversidades sociais, Patativa se apropria da Natureza, aquela que lhe criou e de onde ele provém, e à sua própria natureza, a natureza da sua alma de ser pensante, ser sábio, ser mítico. Nesse tocante, Patativa se situa além das fronteiras que separam arte e engenho natural. É uma simbiose misteriosa como a própria Natureza que ele toma para representação do mundo.

Patativa foi Natureza porque sentia natural-mente suas impressões para poder traduzi-las a nós. Ele foi o meio que nos ligava a uma na-

preciso situá-lo no seu campo natural: o ser-tão, que lhe inspira e lhe insere uma identida-de, ora criada por ele e disseminada em seus cantos, ora lhe imputada pelos sistemas orde-nadores da cultura e recusada por sua experi-ência. Qualquer um de seus livros e poemas, mais especialmente o livro “Cante lá que eu canto cá” funcionam como um código que impõe respeito às identidades próprias de sua gente, ainda que o termo identidade apresente enormes problemas na sua aferi-ção pelas ciências sociais e cujas implicações não trataremos aqui.

Para o poeta, o sertão é a sua fonte inspirado-ra. Não existiria o sertão cantado por Patativa se não existisse o cimento que o ergue e que nada mais é do que a memória desse poeta magistral, onde as coisas, segundo ele, perma-neciam “petriicadas”. O Sertão é uma mistura de tensão romântica entre talento e maldição (fome, desesperança, falta de auxílio). Sua lira canta essas tensões para denunciá-las, para desmitiicá-las, para respondê-las com a fé e a vontade de lutar. É uma lira fundada primor-dialmente sob a matriz da emoção. Emoção que faz o canto desse poeta tocar nossos sen-tidos. É através dela que o poeta nos faz ver o que sempre querem que esqueçamos. O terror e a piedade cantado pelo Patativa são matrizes, alicerces usados para atrair a atenção de sua gente. Ao cantar essa piedade, esse sofrimen-to e essa dor, ele queria nos chamar atenção para não icarmos quietos. O canto da sua dor clama por ação. “O pinto dentro do ovo/ aspi-rando um mundo novo/ não deixa de beliscar/bate o bico, bate o pico/bate o bico, tico tico/prá poder se libertar.”

A imagem do sertão em Patativa transcende as formas conceituais que o descrevem. Seu sertão é imagético, real, utópico, mas demonstrável. Ele o demonstra por múltiplas representações para só depois aferir-lhe sentidos. São sentidos

tureza que só ele percebia. E, ao representá-la, seus segredos permaneceram guardados no poeta, para serem revelados noutros mo-mentos, ao sabor de um entendimento mais ilosóico de sua obra que ainda está por vir. Como na linguagem bíblica, os elementos representantes dessa verdade e dessa natu-reza estão pulverizados ao longo de sua lira. E, quando essa mesma Natureza lhe pregava uma peripécia, escondendo alguma coisa que precisava ser dita, paciente e respeitoso, ele se punha a observá-la para entendê-la, para justi-icar seus enigmas, seus mistérios, para carac-terizá-la conforme suas necessidades. “O que chamamos Natureza é um poema fechado em características misteriosas e admiráveis”, diz o ilósofo Schelling.

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Acima e na página ao lado, gravuras com imagens estilizadas do cantador sertanejo: o sertão, para Patativa, é uma mistura de tensão romântica entre talento e maldição

Page 5: Patativa Revista Enredo

Patativa tinha um modo próprio de ver o mundo e de representá-lo. Ele brincava com os modos de ver, usando percepções diferenciadas para situações idênticas, como que a desdenhar, como que a fazer pouco das matrizes referen-ciais dadas pelo senso comum ou pelas ordena-ções hegemônicas. Nem sempre sua obra lança mão dos referenciais existentes, mas cria seus próprios meios. A Natureza que lhe inspirava e que recheia sua obra, tanto servia como mode-lo para ele, como ele emprestava a ela os mode-los que melhor dizem seu espírito de poeta e de homem do campo e do mundo. Ler um mes-mo quadro do cotidiano com olhares diferen-tes não implica contradição, mas esperteza perceptiva. Esperteza de um olhar sábio. Diria melhor: tra-ta-se de perspicácia perceptiva. Seu olhar diferenciado para coisas iguais é prese-peiro. Ao longo do seu exercício “visionário”, novas peripécias vão se forman-do, daí a diiculdade que os analistas têm em dar como certos os crité-rios analíticos usados para a análise de sua obra.

Conhecer sua obra implica conhecê-lo e à sua trajetória, coisa nem sempre fácil. Às vezes Patativa se fechava às nossas indagações. Do menino que correu e brincou pela Serra de Santana, Patativa fala pouco. Apenas diz que dividia seu trabalho com brincadeiras nos ga-lhos de árvores e ouvindo histórias dos mais velhos. O que pensava aquele menino, não se sabe, e quando instado a responder, desviava a nossa atenção para coisas, segundo ele, mais importantes.

Aquele menino que crescia tornar-se-ia um jovem afeito ao trabalho. Mas, como era real-mente o menino ouvinte dos adultos? Disso

Patativa falava pouco. Como na biograia de Cristo, também na do poeta de Assaré ele salta de poucas imagens de menino para homem refeito. Esse pulo na “atividade de reconstrução histórica” de Patativa por ele mesmo revela o que Paul Connerton chama de “produção de histórias narrativas, conta-das mais ou menos informalmente e que se revela como uma atividade básica para a ca-racterização das ações humanas.”

Assim, a vida na sua aldeia lhe conferia uma verdade histórica, ainda que pelo recurso

da narrativa, que não precisa bus-car uma verdade. (...) Ao escon-

der relatos da sua infância, Patativa parecia estar certo de que – como nos diz Paul Connerton em “Como as Sociedades Recordam” – a história de sua infância só pertence a si e ao grupo

social que com ele partilhou aquela fase da sua vida.

“Uma aldeia constrói – pelos relatos diários sobre o seu cotidiano – uma história comunal contínua de si própria: uma história em que todos retratam, em que todos são retratados, e na qual o ato de retratar nunca tem im. Isto deixa pouco ou nenhum espaço para a repre-sentação do eu na vida cotidiana, porque em grande medida os indivíduos recordam em co-mum” (Connerton, 1993, p. 21).

E ele parecia que-rer deixar para seus pares de aldeia e de infância sua trajetó-ria de menino a ho-mem. Parecia que-rer nos confundir, se escondendo e se metamorfosean-do como a própria natureza. Como poeta da natureza – e ele próprio – de natureza múltipla, diferencial, não limi-tava seus sentidos às funções naturais. Ele não via com os olhos, mas com to-dos os sentidos. Sua pele enxergava e sentia o cheiro da terra, o aro-ma do campo, o arrepio provocado pelo canto dos pássaros. Ao cantar o cheiro da terra, mos-trava um olfato que escutava para dizer. Sua fala tocava e acariciava. Pelos seus sentidos, o cheiro de mato dizia a terra querida e massageava a percepção, fazendo com que ela se abrisse para interpretações profundas. Na obra de Patativa não há uma lógica sensitiva nem sinestésica mais complexa e subjetiva que as percepções em suas funções normais.

O homem que Patativa do Assaré canta é bem deinido sem ser identiicado em sua comple-tude. É um homem que se faz ao sabor do tem-po e do lugar. Um homem que ele vai revelan-do de acordo com suas sensações, de acordo com o modo como este se relaciona com as coisas do dia-a-dia. Aliás, tempo e lugar são as matrizes das ações humanas na obra de Patati-

va. Sua obra e sua vida estão circunscritas a tempos e lugares. Seu viver de homem do campo pode ser visto nas relações humanas presentes na sua obra. Esta diz o seu tempo. Diz como esse Nor-deste se constitui em suas dicções serta-nejas. Sua obra serve como um documento vivo sobre Assaré, o Nordeste e por exten-são o Brasil.

Conhecer Patativa sem conhecer sua obra não é menos pe-noso do que separar seus poemas dos con-textos nos quais estão

inseridos no ato do dizer e do fazer. Ler e ouvir Patativa é adquirir a senha que nos leva a nós mesmos. Daí não ser exagero dizer que Patati-va é mediação e completude, na medida em que sua obra nos devolve às matrizes de onde partimos e para onde iríamos sem saber.

Luiz Tadeu Feitosa é professor do Departamento de Ciências da Informação da Universidade

Federal do Ceará (UFC).

Como poeta da

natureza – e ele próprio

– de natureza múltipla,

diferencial, não limitava

seus sentidos às funções

naturais. Ele não via com

os olhos, mas com todos

os sentidos

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Escultura de Patativa: antena parabólica do sertão.

Page 6: Patativa Revista Enredo

Nasci em 1956, na região Centro-Sul do Ceará, quase em coluência com o Cariri cearense e a relativa distância da cidade

de Assaré, terra natal de Patativa. Sou produto, portanto, do grande sertão e acho, sinceramen-te, que fui ungido pelo signo que marcou a es-tréia de dois gigantes da literatura brasileira do século precedente.

1956, não podemos esquecer, é o ano da pu-blicação de “Grande Sertão: Veredas”, de Guima-rães Rosa, e de “Inspiração Nordestina”, de Pata-tiva do Assaré. O que une estes dois escritores e o que os consagra é a originalidade com que recriaram, com linguagem nova, a ciranda das palavras, a partir da memória e da oralidade, va-lores com os quais o sertão sempre se reveste.

Se Riobaldo constitui o idioma poemático de Rosa e o engenho da sua versão encantatória do mundo, Patativa do Assaré é, ele próprio, um conjunto de engenhos e personas e de repre-sentações pragmáticas que empresta voz aos excluídos: um Riobaldo castigado pela incle-mência das secas, a lapidar o ouro das palavras e a reconstruir o chão da esperança.

Assim como o autor de “Sagarana”, Patativa do As-saré inventou uma linguagem e um estilo literário próprios além de criar um dialeto linguístico de ra-ízes predominantemente sertanejas, ligadas à ora-lidade e ao cancioneiro, lembrando, neste ponto, a constituição da língua brasileira, fundada por José de Alencar. E nisto, com certeza, reside a genialida-de múltipla e singular da sua produção artesanal.

Patativa é, a seu turno, a encarnação viva do sertão, a palavra enquanto instrumento de de-núncia, a signiicação sinfônica do silêncio, a oralidade que mapeia e ordena a literatura e a gramática que se fazem, por im, transmutadas ao campo da escrita.

Conta, o poeta Patativa, que aos oito anos, ou-vindo a melodia e o gorjeio dos pássaros, des-pertou deinitivamente para os grandes sentidos da palavra e da sua existência no mundo, pois a natureza possui uma lei eterna e infalível e que aos deuses e poetas é facultada a criação en-quanto princípio de interpretação de todas as coisas existentes.

O homem, com certeza, não é grande pela sua erudição, pela sua razão ou pela capacidade de domínio com que enfrenta as convenções e se adapta à liturgia do poder. Ele é eterno, ao con-trário, pela fundação da sua verdade pessoal e pela formação do seu mito face aos desaios da realidade que lhe é circundante.

Riobaldo do Assaré

Inventor de uma linguagem própria, Patativa do Assaré personiicou um conjunto de representações que empresta voz aos excluídos

Dimas Macedo

Se Rosa deu voz a Riobaldo, e Riobaldo deu voz ao sertão dos tangedores de gado e bandolei-ros do Meridional, Patativa do Assaré falou, com destemor e bravura, de homens e mulheres imantados ao chão do latifúndio e excluídos do processo político e social.

Não foi, como pensam certos setores da cultu-ra livresca e acadêmica, um poeta ingênuo e apartado dos valores da língua e da gramática. Estudou manuais de versiicação, soube aceitar a cegueira completa de um olho, aos cinco anos de idade, como sinal do destino ou da predes-tinação que faria dele uma espécie de Camões sertanejo ou, melhor dizendo, um Homero do semi-árido nordestino.

Em Castro Alves viu a expressão maior da poesia do Brasil. Apaixonou-se, desde cedo, pelo social. Tornou-se, com o tempo, um homem deste-mido e exasperadamente verdadeiro e sincero. Proclamou a verdade e a justiça como paradig-mas. Foi atingido pela repressão e a censura. Foi detido por questionar, em versos de bom feitio literário, a legitimidade de certo gestor da sua terra. E foi um defensor exaltado da poesia como valor maior da sua passagem entre nós. Fez da denúncia o seu apostolado, e dos seus recursos vocais e estilísticos a expressão maior do seu alto poder de criação.

Foi um prodigioso memorialista e um político sutil e maneiroso das reinvidicações da cea-rensidade e da nordestinidade sertaneja. Lutou

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pela Anistia e as Diretas, opôs-se ao poder oicial, e apoiou, no Ceará, a luta pela modernidade da política e do governo, fazendo, por im, de As-saré, o maior e o mais as-tucioso atalho do sertão.

Memorizou e fez a me-lodia de quase uma de-zena de poemas que fo-ram musicados e que se tornaram bastante co-nhecidos no Brasil. Gra-vou, com a sua voz de passarinho, uma meia dúzia de discos e CDs. E se fez partícipe, como arranjador ou letrista, de outros cinquenta discos e compactos. Foi ator de novela e de cinema, declamador da radiofo-nia, cantador de viola, cordelista, sonetista e improvisador de apura-da técnica literária.

Sobre ele foram escritos diversos livros e opúscu-los e, bem assim, teve a sua obra estudada em variadas teses e ensaios. Mas Patativa, é certo, apesar de conhecer diver-sos estados do Brasil, sempre viveu em Assaré, onde nasceu aos 5 de março de 1909 e onde fa-leceu aos 8 de julho de 2002.

Teve não mais que quatro meses de escolarida-de. Sobreviveu do plantio de grãos e da lavoura da terra. Sempre botou roças no inverno e, nos anos de seca, passou necessidades, agruras e mi-litou, durante toda a vida, em soberano estado de pobreza. Quando largou a viola, em 1962, os

emblemas da voz e da palavra ritmada passa-ram a ser o ganha-pão.

Não cantou os seus males pessoais, nem as suas desditas, nem o seu penar. E não van-gloriou a sua condição de mito ou poeta de projeção nacional.

Rejeitado pela cultura letrada da Academia, tornou-se, em Fortale-za, nome de um Cen-tro Acadêmico de uma Faculdade de Letras, no contexto da UFC. O seu nome não consta nos compêndios oiciais da literatura cearense, mas o seu cânon é um dos mais apreciados do Brasil. É um dos poetas que mais vendem li-vros entre nós, ao lado, talvez, de Castro Alvos e de Drummond. A Edi-tora Hedra, de São Pau-lo, já republicou quase todos os seus livros. E a Editora Vozes, de Petró-polis, já reeditou uma

quinzena de vezes o seu Cante Lá Que Eu Canto Cá, com milhares de exemplares vendidos em todos os recantos do Brasil.

A Academia Cearense de Letras não o elegeu para os seus quadros e o teve sempre na linha da poesia popular, julgada, pelos homens do fardão acadêmico, de extração inferior. As universida-des cearenses, inicialmente e durante toda a sua vida, se mantiveram longe do seu nome; mas, quando ele passou a ser traduzido e estudado

Antônio Gonçalves da Silva é o seu nome. O lugar em que nasceu chama-se Serra de Santana, a dezoito quilometros do centro

de Assaré. Seus pais eram agricultores. Viviam do plantio e da lavoura da terra. E assim também seus irmãos e seus familiares. Casou-se com uma parenta, dona Belarmina Paes Cidrão, e tiveram, em comum, uma boa ninhada de ilhos.

Aos vinte anos, levado por um primo, fez uma viagem ao Estado do Pará, onde viveu de canto-rias e arribações, sendo, pelo folclorista cearen-se José Carvalho de Brito, ali residente, cogno-minado de Patativa. Brito o devolveu ao Ceará, com carta de apresentação a Juvenal Galeno. Foi aplaudido em Fortaleza, mas o destino o levou de volta ao sertão do Ceará.

Recolheu-se na Serra de Santana e em Assaré entre 1930 e 1945, aproximadamente. Seu nome se espalhou pela serra e pelo vale, ganhou o sertão dos Inhamuns e desceu soberano pelas águas mansas do rio Jaguaribe. Cantou, de viola em punho, em cidades vizinhas e adotou, como pseudônimo, aquele pelo qual se tornou uni-versalmente conhecido – Patativa do Assaré, ta-manha a revoada de Patativas, nessa época, por todo o Ceará.

Em 1955, foi ouvido por um velho e bom inte-lectual do Ceará, radicado no Rio, José Arraes de Alencar, quando declamava, na Rádio Araripe

do Crato, os seus poemas de expressivo gosto musical. Nasceu, a partir deste fato, o poeta com direito a livro publicado. “Inspiração Nordestina”, de 1956, é, portanto, o seu primeiro livro de po-emas.

O segundo viria em 1970. Não um livro autoral do próprio Patativa, mas um conjunto de poe-mas organizado pelo folclorista J. de Figueiredo Filho – Patativa do Assaré: Novos Poemas Co-mentados.

Em 1978, vem a lume o seu livro mais conheci-do – “Cante Lá Que Eu Canto Cá”, publicado pela Editora Vozes, de Petrópolis, em convênio com a Fundação Padre Ibiapina, do Crato, com apre-sentações de Plácido Cidade Nuvens e do Padre Francisco Salatiel de Alencar.

“Ispinho e Fulô” seria a sua próxima coletânea de poemas, organizada por Rosemberg Cariri e publicada em 1988, com apresentação e estudo-reportagem do próprio Rosemberg, que produ-ziu, sobre o poeta, documentários importantes no campo das artes visuais.

O que veio em seguida, em matéria de livros, está condensado nos seguintes títulos: “Aqui Tem Coisa”, publicado em 1994, pela Secretaria de Cultura do Estado, e “Cordéis“ (Fortaleza, Edi-tora da UFC, 1999), reunião, em único volume, do básico que foi produzido nessa área pelo grande

em universidades francesas e inglesas, resolveram lhe conferir honras acadêmicas. Tornou-se Doutor Honoris Causa em quatro dessas instituições. Na ordem, necessariamente: primeiro os leitores, em seguida a mídia, depois as medalhas, o coroamen-to oicial e, por último, a distribuição das láureas acadêmicas. Patativa, no entanto, é muito maior do que isso. É um gigante das letras e um grande poeta da tradição popular ocidental. A sua poe-

sia se impõe. A sua expressão cultural sempre se levanta. E a sua melodia é a costura precisa com que ele se anuncia músico. E expõe a sua condi-ção de oráculo. É o arauto maior do nosso povo e a síntese de tudo o que veio antes dele, em ter-mos de cultura sertaneja e de representação dos excluídos que nunca puderam falar.

Dimas Macedo é poeta e crítico literário

Encontro entre língua e cultura

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Festa no centenário

A Secretaria da Cultura irá realizar uma ativida-de permanente durante todo o ano do cen-tenário do poeta de Assaré. A programação “Patativa Encanta em todo Canto” atravessa os 184 municípios cearenses com uma expo-sição itinerante que reúne fotograias, publi-cações, ilmes, palestras e oicinas de leitura. Para o coordenador de ação cultural da Se-cult, professor Cândido B. C. Neto, as escolas, municípios, universidades e sociedade civil serão sensibilizadas e envolvidas. “Patativa é um desaio, atravessando as gerações, sem os hábitos estéticos da civilização urbana. Permanece com uma produção rural, univer-salizada, na escola itinerante da vida onde é essa paixão capaz de traçar longos destinos nos sonhos humildes cantados entre veredas, pradarias, rios tabuleiros do sertão ou mesmo amontoado nas metrópoles do País”.

Para abrir os festejos, de 01 a 05 de março, As-saré entra em festa com grupos populares e programação para três mil pessoas na Praça Patativa do Assaré. Entre as atrações, Orques-tra Eleazar de Carvalho, Encontros de Sanfo-neiros Populares, Gildário do Assaré, Fagner, Ítalo e Reno, Waldonys e Dominguinhos ren-dem suas homenagens ao poeta. Na capital da poesia popular do sertão cearense, o Me-morial Patativa do Assaré e a Casa de Patati-va passam por reformas e ampliações com intuito de preservar a memória e a identidade cultural do cearense.

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poeta cearense. Devemos a Gilmar de Carvalho, o maior estudioso da sua vida e da sua produção, a organização desse livro-monumento, que foi ado-tado, como livro-texto, em vestibulares da UFC.

A fortuna crítica de Patativa do Assaré é imensa e diversiicada. Existem altos e baixos nessa produ-ção. Aponto o volume de Plácido Cidade Nuvens – “Patativa do Assaré e o Universo Fascinante do Sertão” (1995) como ponto de partida, pois é um livro de comentários fabulosos e impressionistas, em que se ouve a voz do coração. O livro segue a

tradição dos estudos caririenses sobre o poeta, a começar por J. de Figueiredo Filho (1970) e que tem prosseguimento com Francisco de Assis Bri-to, com seu conjunto de ensaios – “O Metapoe-ma em Patativa do Assaré: Uma Introdução ao Pensamento Literário do Poeta” (1984).

Outro roteiro interessante sobre Patativa é o que se acha condensado em “O Poeta do Povo: Vida e Obra de Patativa do Assaré”, de autoria de Assis Ângelo, acompanhado de um CD com poemas declamados pelo poeta (São Paulo, CPC-Umes, 1999). Este livro, de formato gráico belíssimo, pode e deve ser lido paralelamente ao suporte da antologia de Sylvie Debs – “Pata-tiva do Assaré: Uma Voz do Nordeste” (São Pau-lo, Editora Hedra, 2000), no âmbito da coleção Biblioteca de Cordel e cujo estudo que a ante-cede eu igualmente recomendo.

Gilmar de Carvalho publicou a melhor e a mais extensa entrevista concedida pelo poeta – “Pa-tativa Poeta Pássaro do Assaré” (2000) e é autor do eruditíssimo e bem concatenado livro de ensaios e estudos – Patativa do Assaré: Pássaro Liberto, editado pelo Museu do Ceará, em 2002. Organizou também a melhor e a mais criteriosa antologia poética do autor, publicada em Forta-leza, em 2001, pelas Edições Demócrito Rocha. Em 2000, deu à lume um precioso livro de bolso, contendo uma síntese didática e pedagógica em torno da vida e da obra do poeta.

Tadeu Feitosa, professor da UFC e jornalista, é o organizador do bonito álbum de textos e fo-tograias do poeta e do seu entorno sertanejo, publicado pela Editora Escrituras de São Paulo, em 2001. E é autor, por igual, do ensaio crítico-interpretativo do poeta, intitulado Patativa do Assaré: A Trajetória de um Canto, também da Editora Escrituras (2005), que é, no caso, a sua tese de Doutorado em Sociologia.

O livro de Cláudio Henrique Sales Andrade, As Razões da Emoção: Capítulos de uma Poética Sertaneja (Fortaleza, Editora da UFC, 2004), é o resultado de uma Dissertação de Mestrado apre-sentada à Faculdade de Filosoia, Ciências e Le-tras da USP. Trata-se de um ensaio instigante e muito bem fundamentado em torno da poética de Patativa e da sua grande autenticidade. Uma leitura crítica, por assim dizer, tecida com as luzes da razão e da sensibilidade, acompanhada de uma pesquisa de campo que nos encanta com a sua riqueza. Um livro para ser lido e intuído, pen-sado e degustado como todas as boas iguarias que somente o sertão sabe oferecer.

A despeito das reclamações de Gilmar de Car-valho, de que o poeta foi esquecido pelos re-elaboradores da nossa historiograia literária, alguns passos, pelo menos, foram dados neste campo: Oswald Barroso e Alexandre Barbalho incluíram Patativa na antologia – “Letras ao Sol“ (Fortaleza, Edições Demócrito Rocha, 1998), o que já é um avanço.

Em 2001, Patativa viria a igurar na coletânea – “Os Cem Melhores Poetas Brasileiros do Século”, organizada por José Nêumane Pinto e publicada pela Geração Editorial, de São Paulo. E em 2006, passou a fazer parte da Coleção “Os Melhores Po-emas”, da Editora Global, também de São Paulo, o que já é uma consagração. A antologia, orga-nizada por Cláudio Portela, é uma das mais vo-lumosas dessa coleção, e é antecedida de uma introdução bastante apressada e resumida, mas o roteiro de fontes, no inal do volume, é razoa-velmente bem pesquisado, apesar da confusão metodológica em que se enreda o organizador, que foi prejudicado, acredito, pelo suporte técni-co e revisional da Editora.

Antes, em 1989, no meu livro “A Metáfora do Sol,” no âmbito do ensaio - “Sobre a Formação das Letras Cearenses” - , eu já havia, pioneiramente, arrolado o poeta Patativa qual um nome emble-mático da literatura que se produziu no Ceará, isto é, da literatura cearense tomada a partir da sua evolução e abrangência histórica. Ali divisei em Patativa a grande voz social da poesia cea-rense e também me referi à ressonância nacional da sua poesia. E registrei, ademais, que os seus livros “são atestados inequívocos da airmação de um poeta de quem todo o Ceará se orgulha e em cuja obra o Ceará se vê também retratado”.

Por im, gostaria de fazer minhas as palavras de Gilmar de Carvalho, o maior estudioso da vida de Patativa do Assaré e da sua obra litearária, no sentido de que “Patativa é a grande voz da po-esia do Brasil”, não sei se “de todos os tempos”, mas, com certeza, a voz mais legítima, a mais expressiva e aquela em que a verdade e a jus-tiça, a língua e a cultura melhor se encontram, em busca de um sentido novo para a identida-de mais profunda do Brasil. Reiro-me ao Brasil que as elites tentaram dizimar mas nunca con-seguiram, porque não somos, em essência, um Estado sem nação, e porque a nação é o plu-ralismo de suas etnias e o somatório das suas diferenças. (Dimas Macedo)

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Esp

ecial

O poeta em foto de Tiago Santana: rejeitado pela cultura letrada da

Academia, Patativa tornou-se nome de centro acadêmico de faculdade de Letras

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Poesia feita de luz

Fotografia

O poeta pela lente de Tiago Santana, fotógrafo que

conviveu com Patativa em Assaré. As fotos que compõem

o ensaio integram livro sobre Patativa que Tiago vai

lançar até o meio do ano. O livro conta com textos de

Gilmar de Carvalho e vai se desdobrar em uma exposição

a ser montada no Centro Cultural Dragão do Mar.

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Patrim

ônio

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