os diálogos com a natureza -‐‑ ecolinguística e ecologia humana

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Revista VITAS – Visões Transdisciplinares sobre Ambiente e Sociedade – www.uff.br/revistavitas ISSN 22381627, Ano V, Nº 10, junho de 2015 OS DIÁLOGOS COM A NATUREZA ECOLINGUÍSTICA E ECOLOGIA HUMANA EM SÍNTESE Wellington Amâncio da Silva 1 [email protected] RESUMO: desejamos com este artigo correlacionar conceitos ecolinguísticos (Couto, 2007, 2009) a conceitos de Ecologia Humana (Marques, 2013, 2014a, 2014b, 2014c; Alvim, 2012; Pires e Craveiro, 2012; Silva, 2014a, 2014b, 2014c; Machado, 1981; Moran, 1999, 2008, 2009, 2010, 2011). Como a ecolinguística se interessa pelas linguagens representacionais do meio ambiente no seio de uma comunidade, ou da influência do ecossistema sobre a linguagem, e a Ecologia Humana é um enfoque que visa suscitar inteligibilidade às interações humanoambientais, propomos pensálas como fenômenos inseparáveis. Investigamos aqui as possibilidades de um diálogo entre ambas as disciplinas em vistas de um “objeto” de pesquisa específico, talvez comum a ambas: dos fenômenos linguísticos em suas representações da natureza. Palavraschave: Ecologia Humana, Ecolinguística, Etnometodologia. DIALOGUES OF NATURE ECOLINGUISTIC AND HUMAN ECOLOGY IN A SYNTHESIS Abstract: this article aims to correlate ecolinguistic concepts (Couto, 2007, 2009) to the concepts of Human Ecology (Marques, 2013 2014th, 2014b, 2014c; Alvim, 2012; Pires and Craveiro, 2012; Silva, 2014th, 2014b, 2014c; Machado, 1981; Moran, 1999, 2008, 2009, 2010, 2011). As ecolinguistic deals with the representational languages of the environment within a community, or the influence of the ecosystem on the language, while the Human Ecology is a language that aims to raise intelligibility of the human environment interactions, we propose to study both as inseparable phenomena. We investigate here the possibilities of a dialogue between the two disciplines in view of an object of specific research, perhaps common to both: the linguistic phenomena in their representations of nature. 1 Mestrado em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental – Universidade do Estado da Bahia/PPGEcoH. É vinculado Mestrando em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental – UNEB/PPGEcoH. Especialista em Ensino de Filosofia. É vinculado ao Grupo de Pesquisa Ecologia Humana (CNPq) e ao Núcleo de Estudos em Comunidades e Povos Tradicionais e Ações Socioambientais (Nectas) UNEB/CNPq e ao Grupo de Pesquisa em Socioeconomia do Desenvolvimento Sustentável UNEB/CNPq. Orientador: Feliciano José Borralho de Mira.

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    ISSN 2238-1627, Ano V, N 10, junho de 2015

    OS DILOGOS COM A NATUREZA - ECOLINGUSTICA E ECOLOGIA

    HUMANA EM SNTESE

    Wellington Amncio da Silva1 [email protected]

    RESUMO: desejamos com este artigo correlacionar conceitos ecolingusticos (Couto, 2007, 2009) a conceitos de Ecologia Humana (Marques, 2013, 2014a, 2014b, 2014c; Alvim, 2012; Pires e Craveiro, 2012; Silva, 2014a, 2014b, 2014c; Machado, 1981; Moran, 1999, 2008, 2009, 2010, 2011). Como a ecolingustica se interessa pelas linguagens representacionais do meio ambiente no seio de uma comunidade, ou da influncia do ecossistema sobre a linguagem, e a Ecologia Humana um enfoque que visa suscitar inteligibilidade s interaes humano-ambientais, propomos pens-las como fenmenos inseparveis. Investigamos aqui as possibilidades de um dilogo entre ambas as disciplinas em vistas de um objeto de pesquisa especfico, talvez comum a ambas: dos fenmenos lingusticos em suas representaes da natureza. Palavras-chave: Ecologia Humana, Ecolingustica, Etnometodologia. DIALOGUES OF NATURE - ECOLINGUISTIC AND HUMAN ECOLOGY IN A

    SYNTHESIS Abstract: this article aims to correlate ecolinguistic concepts (Couto, 2007, 2009) to the concepts of Human Ecology (Marques, 2013 2014th, 2014b, 2014c; Alvim, 2012; Pires and Craveiro, 2012; Silva, 2014th, 2014b, 2014c; Machado, 1981; Moran, 1999, 2008, 2009, 2010, 2011). As ecolinguistic deals with the representational languages of the environment within a community, or the influence of the ecosystem on the language, while the Human Ecology is a language that aims to raise intelligibility of the human-environment interactions, we propose to study both as inseparable phenomena. We investigate here the possibilities of a dialogue between the two disciplines in view of an "object" of specific research, perhaps common to both: the linguistic phenomena in their representations of nature.

    1 Mestrado em Ecologia Humana e Gesto Socioambiental Universidade do Estado da Bahia/PPGEcoH. vinculado Mestrando em Ecologia Humana e Gesto Socioambiental UNEB/PPGEcoH. Especialista em Ensino de Filosofia. vinculado ao Grupo de Pesquisa Ecologia Humana (CNPq) e ao Ncleo de Estudos em Comunidades e Povos Tradicionais e Aes Socioambientais (Nectas) UNEB/CNPq e ao Grupo de Pesquisa em Socioeconomia do Desenvolvimento Sustentvel - UNEB/CNPq. Orientador: Feliciano Jos Borralho de Mira.

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    Keywords: Human Ecology, Ecolinguistic, Ethnomethodology.

    Introduo2

    O mundo deles quadrado, eles moram em casas que parecem caixas, trabalham dentro de outras caixas, e para irem de uma caixa outra, entram em caixas que andam. Eles vem tudo separado, porque so o Povo das Caixas.

    Paj Kaingang

    Segundo o professor Juracy Marques, a Ecologia Humana , por assim dizer,

    uma interpretao dos sistemas humanos, culturais e naturais, nascente nos anos de

    1910 na Escola de Chicago, no campo das cincias humanas. Desde ento, suas

    discusses revelaram importantes aspectos dos complexos sistemas ecolgicos da

    experincia humana sobre a Terra. Suas anlises buscam relacionar conceitos da

    ecologia com outras reas do conhecimento humano como a filosofia, a sociologia, a

    antropologia, a arqueologia, a geografia, a histria, a literatura, a lingustica, entre

    outras. Mas, segundo Begossi, (1993), Ecologia Humana no necessariamente vista

    como uma das ramificaes da ecologia, ela transcende a ecologia. Alguns autores

    afirmam que a Ecologia Humana tem objetivos e metodologias mais especficos e que

    incluem entender o comportamento humano sob variveis ambientais. Cesrio (2004)

    definiu a Ecologia Humana como uma disciplina aplicada, procura identificar as

    foras que melhoram o desenvolvimento humano, realizam o potencial humano,

    aperfeioam o funcionamento humano e melhoram a qualidade de vida das pessoas

    (p. 42). Desta interao do sociocultural com o ambiente, pode-se resumir, segundo

    Olivier, que a Ecologia Humana se envolve com o estudo, quer da ao do homem

    2 Este artigo de reviso resultado preliminar de pesquisas tericas no mbito do Programa Ps-Graduao de mestrado em Ecologia Humana e Gesto Socioambiental, visando apresentar contribuies construo de metodologias prprias, iniciada pelo grupo de Pesquisa Ecologia Humana - CNPq/UNEB/FAMESP.

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    sobre a natureza, quer da ao da natureza sobre o homem (1979, p. 10). Segundo

    Dyball, seria como uma forma de construo do conhecimento sobre as inter-relaes

    entre os seres humanos, suas culturas e seus ecossistemas (2010, p.275). Isso corrobora

    a definio adisciplinar de Machado (1981) que compreende a ecologia humana no

    como uma disciplina, ou uma cincia, mas como um nvel de pensamento (p. 21)3.

    Machado ainda afirma que, em seu carter interdisciplinar, no pode ser praticada sem

    a integrao das diversas cincias, visto que a complexidade das interaes

    humano/ambientes requer o dilogo entre um conjunto de saberes para a sua maior

    compreenso. Steiner & Nauser (1993) define Ecologia Humana como trans-cientfica

    (p.24). H de se dizer que em algumas linhas de pensamento a definio de Ecologia

    Humana pode ter um carter multidisciplinar, transdisciplinar, interdisciplinar

    (Machado, 1981, p. 23) ou mesmo adisciplinar, (Dyball et al, 2009; Lawrence, 2001).

    Segundo Couto (2007, 2009), Ecolingustica o estudo das relaes entre

    lngua e meio ambiente. Alguns podem entender que Couto v com certo

    determinismo a influncia primria do meio ambiente sobre a lngua dos sujeitos, ao

    afirmar que ns temos contato direto com a natureza, independentemente de nossa

    cultura e de nossa lngua e no simplificada pela hiptese Sapir-Whorf de que nossa

    maneira de ver o mundo determinada por nossa lngua e nossa cultura (2013, p. 279).

    O contato direto com a natureza se daria atravs da lida, compreendida antes em

    uma linguagem interior, como um exerccio recapitulado, aperfeioado e adotado como

    prtica exitosa de convvio com o meio ambiente para em seguida tais experincias

    serem comunicadas pela lngua, constituindo assim uma cultura com o outro.

    3 O professor no deixa claro esse tipo de pensamento, mas podemos aferir que diferente do cogito cartesiano condicionado subjetividade, o nvel do pensar Humano ecolgico envolve a condio incontornvel do humano em face do seu entorno. No apenas como o pensar teleolgico da Dialtica ou o pensar lgico-pragmtico positivista. Talvez um pensamento inspirado na fenomenologia na medida em que expande esse conceito e reconhece o ser humano como prpria a natureza.

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    Conquanto a lngua surge na prxis diria de seus usurios para se entenderem no

    meio em que vivem, a fim de falarem dele entre si (idem, p. 279), pensamos na

    causalidade do fenmeno, isto , que o primeiro contato do ser4 com o meio ambiente

    ocorre, por assim dizer, num trabalho prtico de subsistncia sempre pautado no

    significado, mas, antes do dilogo com o outro, numa lngua interior ou interiorizada

    pelas interaes homem/meio ambiente, num dilogo com a terra.

    Os dilogos da natureza

    Assim, antes de perguntamo-nos sobre a importncia da linguagem para a

    Ecologia Humana e como ela se relaciona com o meio ambiente, uma primeira

    observao poderia ser dada a partir da prpria Ecologia. Segundo Couto (2009), para

    esta, o que interessa no so os organismos em si nem o seu meio ambiente em si, mas

    as interrelaes que se do entre eles (p.12). Disto, temos um conceito geral, e porque

    no, ontolgico, de comunicao5 (Schaff, 1968; Teles, 1973).

    Num sentido amplo, Teles (1973) flexiona o conceito de comunicao como

    sentido de interao fsico-qumica, ao afirmar que uma rocha se comunica, medida

    que suas partculas nucleares se atraem ou se repelem na intimidade de sua estrutura

    atmica. Como se v, comunicao implica movimento. (p.19). O autor justifica que

    por conveno, chamou-se vida ao automovimento imanente. Sua extenso foi restrita

    ao campo biolgico, plantas e animais, em funo da imanncia. (Teles, 1973, p. 19).

    4 Tal afirmao coloca-se a uma etapa antes de Aristteles ao dizer este que o homem um animal dotado de linguagem ( , dentre todos os seres vivos, apenas o homem possui palavra) nesse sentido, ao se referir aos seus aspectos polticos, isto , linguagem como processo de comunicao entre iguais. ARISTTELES. Poltica. Traduo de Antonio Campelo Amaral e Carlos de Carvalho Gomes. Lisboa: Editora Vega, 1998/1253 a 2.3/I. 2, P. 55 5 Do latim, communicatio: tornar comum, troca de palavras, ato de fazer parte. E ainda, passagem, caminho, ligao.

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    possvel assim ter uma ideia geral dos sentidos da comunicao nos debates

    at o tempo presente, ao se referir ao movimento de encontro (desde encontro entre

    placas tectnicas at o encontro dialgico entre sujeitos nos limites da profundidade da

    linguagem terica e conceitual). Numa perspectiva humana recorremos nossa

    capacidade de sociabilidade e de comunicao para sobrepujar nossas limitaes

    fsicas. (Richerson, 1977, apud Moran, 2011, p. 22) e a partir dessa interao que se

    constitui uma linguagem advinda das relaes da lngua com o ambiente.

    Em ecolingustica os conceitos de comunicao tm importncia fundante. Esta

    pode ser definida, em sentindo amplo, como um conjunto de interaes simblicas,

    biolgicas, fsicas, ecolgicas, etc. com o outro e com o meio ambiente, portanto, uma

    Ecologia das interaes comunicativas (Couto, 2009, p.23). Parafraseando o autor, o mais

    importante nos ecossistemas so as interaes entre organismos e seu meio ambiente,

    portanto o que disso se constitui em habitat6 e populao o meio ambiente da lngua.

    Deste conceito, misto de ecologia e de lingustica, como se aplicaria essa ecolingustica

    perspectiva das interaes humanas de dimenso tnica com meio ambiente,

    determinando assim, nestas interaes uma ecologia humana7? Por outro lado,

    sabemos do uso da Anlise do Discurso (AD) como ferramenta de anlise do que

    chamamos etnodiscursos das comunidades tradicionais. No entanto, a AD uma

    Sociologia da Linguagem de aspecto mais citadino ou urbano, enquanto a

    Ecolingustica considera as interaes lingusticas de um mbito socioecolgico no

    necessariamente condicionado ao campo. No queremos aqui separar o urbano do

    6 O habitat sempre um lugar constitudo, isto , modificado em maior ou menor profundidade, segundo as condies e possibilidades de adaptabilidade humana; o habitat , num sentido amplo, um lugar constitudo de sentidos, sem necessariamente esvaziar-se dos seus aspectos de Natureza. 7 Aqui compreendemos a dimenso tnica da ecologia humana ao estudar o humano em face da ecologia como parte implicada da natureza.

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    ecolgico8 (que, grosso modo, relacionado genericamente ao campo e menos

    cidade), mas pretendemos defender que o estudo dos discursos em Ecologia Humana

    pode ser executado, em determinados casos, a partir de paradigmas da sociologia

    (Anlise do Discurso) no mbito das comunidades tradicionais9 do alto-serto

    nordestino, apesar de tais comunidades no serem puramente rurais ou

    camponesas, geralmente hbridas. Sustentamos, no entanto, que o estudo da relao

    lngua/meio ambiente das comunidades tradicionais, a partir de um paradigma

    ecolgico e objetivando ainda suscitar discursos e/ou prticas sustentveis fenmenos

    relativos convivncia com o meio ambiente, encontrar novos subsdios na

    Ecolingustica um instrumental capaz no apenas de demonstrar aspectos das

    relaes concretas com o meio ambiente, mas que ainda considera os aspectos

    imagticos, mnemnicos, intersubjetivos, etc., destas relaes.

    Em Ecolingustica, o locus de pesquisa considerado como Ecossistema

    Fundamental da Lngua (EFL). Por exemplo, se for uma comunidade quilombola, o

    levantamento dos seus aspectos etnolingusticos pode confirmar um EFL quilombola

    especfico. Sua Ecologia das Interaes Comunicativas (EIC) se efetivaria a partida da

    convivncia com o semirido, caracterizada pelo bioma caatinga em face das

    representaes peculiares da sua localizao, junto ao rio So Francisco.

    Desse meio ambiente incomum pelos servios da natureza (Daily, 1997) que

    oferece, efetivados em gua potvel (fenmeno quase incomum ao contexto da

    8 Nas pginas iniciais do livro O Campo e a Cidade, Raymond Williams, faz algumas consideraes sobre suas representaes na histria e na literatura de modo a clarificar esses conceitos muito polissmicos. O autor ainda afirma, no contexto da Inglaterra obviamente, ter havido uma mudana paradigmtica profunda em face do campo e da cidade com a Revoluo Industrial fenmeno que ampliou os contrastes entre as representaes do campo e da cidade. 9 No somos mais inocentes quanto ao discurso romntico das comunidades rurais conservarem, em alguma medida, uma tradio buclica, dionisaca, ou mesmo puramente camponesa. Sabemos que a globalizao determinou mudanas estruturais em seus modo de vida, cultura, modos de produo e interao com o outro e com o meio ambiente, isso tardiamente, a parir da dcada de noventa.

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    caatinga), apresenta-se a uma complexidade de sentidos ecolingusticos a partir dessas

    interaes comunicativas, isto , dessa ecologia humana da linguagem.

    Da Ecologia a Ecologia Humana

    A Ecologia, sendo uma linguagem humana que visa representar10 a vida (eco)

    de um modo especfico (logia), um corpus epistemolgico resultante das percepes

    humanas do entorno11 onde as cincias humanas no se incluiriam diferentemente da

    Ecologia Humana. Segundo Marques (2014), essa forma de interpretao dos sistemas

    humanos, culturais e naturais, nascente nos anos de 1910 na Escola de Chicago, EUA,

    no campo das cincias humanas, no Departamento das Cincias Sociais, inclui em suas

    anlises o homem como natureza, situado ao seu entorno. Nesse aspecto, para Couto a

    Ecolingustica, o estudo das relaes entre lngua e meio ambiente [...], visto que,

    para o autor, a interao a base da dinmica das lnguas (2012, p. 11-12). E, por sua

    vez, a linguagem, do ponto de vista das comunidades tradicionais, abrange as inter-

    relaes homem/ambiente. Veja imagem 1.

    Imagem 1 - Modelo das inter-relaes homem/ambiente

    Fonte: MORAN, 1999, p. 82

    10 Representar (), no sentido de falar: ; no sentido de palavras: . 11 Em ecologia, o entorno , por assim dizer, a casa: .

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    cata de brevssima contextualizao histrica, a Ecologia Humana visa

    estudar as interaes homem/ambiente (Moran, 1999, 2008, 2009, 2010, 2011; Leff, 2001,

    2002, 2009, 2010, 2012), e coloca em pauta os sujeitos nesta interao com outros

    sujeitos, com outros organismos e com o meio ambiente nessa perspectiva que

    agrega, no mnimo, estudos de sociologia (sujeitos/sujeitos); estudos ecolgicos

    (organismo/meio ambiente) e estudos da Filosofia da Linguagem

    (sujeito/linguagem/conhecimento objetivo12).

    Parte-se de uma anlise filosfica da Ecologia Humana, isto , como linguagem

    representacional da Natureza enquanto Casa (), apenas nos limites das

    representaes da linguagem humana (Da Silva, 2014a, p. 34); se fossemos tomar

    como modelo a expresso de Aristteles13 sobre a linguagem como faculdade

    humana essa ecologia lingstica inerente ao prprio 14, constitui possibilidades

    de interao com o meio ambiente, enquanto o 15 da linguagem, constitui-se

    cultura. Portanto, a linguagem aquele vnculo entre o animal e a natureza que somos

    e o humano constitudo culturalmente. Disto, a Ecologia Humana nos oferece uma

    compreenso ecolingustica, isto , do ser humano implicado ao meio ambiente: a)

    como, por exemplo, os membros da comunidade conservam algumas expresses

    lingusticas mais localizadas no EFL; b) como entendemos essas interaes no mbito

    da pesquisa.

    12 Nessa perspectiva, podem-se analisar os limites da linguagem em face do conhecimento a partir clssicas relaes (em ecolingustica, interaes e/ ou inter-relaes) entre sujeito e objeto o que em Ecologia Humana, poderia ser interpretadas como sujeito/meio ambiente; sujeito/fenmenos; sujeito/ecossistema, et cetera. 13 ARISTTELES - (O homem um animal dotado de palavra). 14 O (zoon) de Aristteles, significa animal, anima, vivo, bitico, natureza, que ele , porm, capacitado da palavra, linguagem, discurso ( ), e com isso, animal natural () e homem cultural () indissocivel pela linguagem (). 15 O (anthopos) significa homem.

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    A prpria linguagem, como processo de conhecimento, instituidora de

    sentidos ecolgicos como uma abordagem distintiva de representaes do meio

    ambiente. Quando pensamos apenas que o entorno influencia na linguagem, assim,

    no pensamos em termos de autonomia (Sapir, 1973; Whorf, 1956), ou determinismos

    (Kormondy e Brown, 2002, p. 42), mas de interdependncias, sobretudo, quando o

    humano se posiciona ontologicamente em face do mundo, do meio ambiente, dando

    novo significado linguagem.

    Por causa desses questionamentos, em face de resultados parciais de pesquisa

    efetivada na comunidade quilombola do Povoado Cruz, a pesquisa levou em

    considerao os etnodiscursos como representaes da lida da comunidade, seu modo

    de produo e subsistncia como processos de interao homem/ambiente (Moran,

    1999, 2008, 2009, 2010, 2011; Leff, 2001, 2002, 2009, 2010, 2012), observando a linguagem

    da comunidade em interao com o meio ambiente da comunidade.

    Ecolingustica: Lngua, linguagem e meio ambiente

    preciso diferenciar ao menos de modo geral o conceito de lngua e

    linguagem. H uma aproximao clara da lngua com o meio ambiente, est a

    resultante ecolgica, geogrfica e etnossocial das interaes com o outro e com entorno,

    atravs dos anos. Portanto, histrica e, sua organizao e funcionalidade

    caractersticas esto relacionadas ao histrico das formas de interaes de um povo

    ou cultura com seu meio ambiente o ecossistema da linguagem.

    Assim, a lngua prpria da natureza humana. uma das naturezas

    humanas. H deste modo, a expresso lngua natural. Segundo Greimas e Courts

    (2011), - quando qualificada de natural, presume-se que se ope s linguagens

    artificiais, na medida em que caracteriza a natureza humana (p. 288). As

    linguagens so formas de interaes identificadas como modo de lidar com o outro e

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    com o meio ambiente, como modo de produzir e produzir-se16, de significar e

    representar. Num sentido biolgico:

    Poder-se-ia distinguir duas perspectivas na anlise da linguagem. Por uma afirmar-se-ia que todas as formas vivas tm uma certa forma de linguagem, todos os organismos se constituem em sistemas de comunicao e reagem de algum modo aos estmulos (fonte) exteriores [...] j numa outra perspectiva ver-se-ia que a questo pode ser bipartida. De um lado o problema das relaes entre as linguagens animais e humanas. (Katz, Doria e Lima, 1971, p. 191-192).

    Em sntese, a lngua o tipo de cdigo formado por palavras e leis

    combinatrias por meio do qual as pessoas se comunicam e interagem entre si. Sendo

    entendida como um sistema, se forma por um conjunto de sinais e de regras expresso

    em combinaes que propiciam entendimentos, isto , comunicao entre os sujeitos de

    uma lngua comum. Mas, a lngua no se resume as interaes entre os sujeitos:

    Segundo Couto (2011), o surgimento de novas palavras em determinada lngua

    sempre tem por objetivo adequ-la a novas condies socioambientais, ou seja, atender

    a novas necessidades comunicativas e expressivas (p. 18). Defendemos que estas

    necessidades surgem das demandas de interao dos sujeitos da linguagem com seu

    entorno caracterstico.

    Por sua vez, a linguagem efetivada como manifestao da lngua para alm

    do Verbal, nela a cultura imprescindvel para que haja entendimentos, isto ,

    comunicao. Linguagem a representao do pensamento cuja finalidade17 permite a

    16 Para Marx, o modo de produo tem influncia em grande medida na caracterstica de Conscincia histrica e cultural de um povo (Marx, p.); est Conscincia se deixa conhecer na e pela linguagem. 17 Para alguns estudiosos, a linguagem visa uma finalidade; a lngua um meio de alcanar tal finalidade.

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    comunicao e a interao entre as pessoas a partir da comunidade, meio ambiente,

    ecossistema18.

    Na perspectiva da Ecologia Humana, a lngua como condio humana

    expressiva pode ser compreendida como um conjunto de signos elaborados a partir da

    sua estreita interao com o meio ambiente como vontade de signific-lo e apreender

    dele significados, isso no s comprova o aspecto pragmtico da lngua como seus

    diversos modos de aproximao com o entorno, em busca de uma cultura da presena

    da natureza (Gumbrecht, 2004, 2010, 2012) na linguagem cotidiana.

    A ecologia dos etnodiscursos e dos etnomtodos

    Foi feita uma anlise dos etnodiscursos, isto , da linguagem prpria a partir

    de qual eles explicam as prticas cotidianas da comunidade - tais prticas so

    etnomtodos, sito , modos prprios de lidar com seu entorno e com o outro em seus

    diversos significados etnodiscursivos, sejam eles, lingusticos, imagticos, mnemnicos,

    mticos, simblicos, ritualizados, intuitivos, etc.

    Antes, por etnodiscurso, se entende o modo particular de expresso lingstica

    de uma comunidade em seu ethos. Os etnodiscursos so as explicaes no nvel do

    senso comum em que da sua comunidade afirma-se o conjunto da sua cultura. Os

    etnodiscursos so o aporte cultural caracterstico e o conjunto de expresses das

    linguagens vivenciais que explicam os etnomtodos (Garfinkel, 1968). Por sua vez,

    etnomtodo, so as prticas cotidianas aperfeioada paulatinamente, atravs dos anos

    nas interaes comunidade/meio ambiente caracterstico.

    A ecologia dos etnodiscursos se refere s interaes discursivas com o meio

    ambiente pelos membros da comunidade em seus modos de denominar a partir do lidar

    18 Dentro de um ecossistema coexistem a comunidade humana e bitica (organismos) e seu meio ambiente.

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    com o entorno em suas instncias biticas, abitica e antrpicas. Essa ecologia prpria e

    sustentvel , sobretudo, prtica em sua forma sociocultural de gerir o ambiente, no

    que denominamos como etnomtodos, que por sua vez influem sobre os etnodiscursos.

    Acerca dos etnomtodos, Sturtevant postulou-os na dimenso de um etnossaber

    caracterstico que denominou de etnocincia, isto , de sistema de conhecimento e de

    cognio caracterstico de uma determinada cultura em seu modo particular de

    classificar seu universo material e social. (1964, p. 100). Nesta via de significar por meio

    dos instrumentos da sua racionalidade, seu lugar de habitar compartilhado em

    representaes e compreendido nos etnodiscursos.

    Atos de Interao Comunicativa O problema entorno e comunidade como discurso

    Na concepo de Luhmann (1998), sociedade (comunidade) e entorno so

    coisas aparentemente distintas, quando postas lado a lado. Segundo o autor, para

    trazer uma distino se lanceta o mundo dividindo-o entre um sistema e seu

    entorno, visto que a distino tambm uma indicao: a partir de um dos lados s se

    v o outro, nenhuma distino do prprio lado (Luhmann, 1998, p. 11), eis aqui o

    problema da separao analtica de um fenmeno complexo como a interao

    lugar/meio ambiente. Em sntese, sempre preciso a outra parte para referenciar esta

    parte. A partir daqui destaca-se a artificialidade e simulacro das dicotomias em face da

    anlise da Natureza. Nesta diviso aparente de ambas, a comunidade representa para

    ns um topos satisfatrio de controle racional das contingencialidades da natureza,

    isto , como manuteno de um padro ideal de existncia dos membros da

    comunidade. Comunidade e entorno se inter-relacionam de modo que representaes

    binrias j no corresponderiam s aproximaes de sentidos para essa complexidade

    de inter-relaes.

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    Da viso da sociedade como um sistema autopoitico, isto , como um sistema

    vivo cujas unidades interagem como proposto por Maturana, (1991), Luhmann

    afirmava que:

    As clulas de um organismo ou as comunicaes sistema de sociais, em contraste, so produzidas no mesmo sistema do qual so uma parte. Uma vez que os sistemas autopoiticos operam enclausuradamente, a auto-referncia uma condio necessria, tanto para sua reproduo constante como para que possam diferenciar e estabelecer vnculos com seu ambiente. Sistemas sociais necessidade desenvolver uma descrio de si mesmos. (Luhmann, 1998, p. 9).

    O sentido o correlato necessrio do encerramento operacional dos sistemas

    cognitivos e um produto das operaes que utilizam. Os sistemas sociais so sistemas

    constituintes de constitudos por - sentido. Isto significa que o sentido no preexiste

    operao autopoitica do sistema, seno que se reproduza por esta operao e esteja

    fazendo o possvel para delimitar o que no lhe pertence. Os limites do sentido

    estabelecem uma gradiente de complexidade entre o sistema e seu ambiente.

    (Luhmann, 1998, p. 11).

    Essa complexidade de sentidos ecolingusticos a partir dessas interaes

    comunicativas com o meio, isto , dessa ecologia humana da linguagem , segundo,

    Luhmann, uma busca de conexes (Anschlusuche). Como trazer tais questes ao

    contexto do semirido19 brasileiro, sobretudo no mbito do bioma caatinga?

    19 O semirido brasileiro, de acordo os dados oficiais do Ministrio da Integrao, compreende uma rea de 969.589,4 km e inclui 1.133 municpios de nove estados do Brasil: Alagoas, Bahia, Cear, Minas Gerais, Paraba, Pernambuco, Piau, Rio Grande do Norte e Sergipe. Segundo dados Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE (2000) vivem 22 milhes de pessoas, que representam 11,8% da populao brasileira. Localizado em sua maior parcela nos estados nordestinos (84,48%), at norte do estado de Minas Gerais (11,01%) e norte do Esprito Santo (2,51%), exceto o estado do Maranho. Nessa regio, vivem 22 milhes de pessoas, que representam 11,8% da populao brasileira, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), e o Semirido mais populoso do planeta, segundo dados da Articulao do Semi-rido (ASA, 2004).

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    Este complexo bioma, segundo o Ministrio do Meio Ambiente, ocupa uma

    rea de cerca de 844.453 quilmetros quadrados, o equivalente a 11% do territrio

    nacional. Engloba os estados Alagoas, Bahia, Cear, Maranho, Pernambuco, Paraba,

    Rio Grande do Norte, Piau, Sergipe e o norte de Minas Gerais (Tabela 01).

    Tabela 01 Aspectos geogrficos, polticos e populacionais do Bioma Caatinga

    Bioma Caatinga (2013)

    Total

    % do Brasil

    Populao estimada (habitantes) (2009) 23.734.361 12,9

    rea do bioma (habitantes) 84.445.300 9,9

    Cobertura florestal estimada (habitantes) 40.941.920 48,5*

    rea protegida em Unidades de Conservao

    Federal e Estadual (em habitantes)

    6.357.900

    7,5*

    Fonte: Brasil. MMA (2009). * Em relao rea do bioma

    Dos elementos de presso especficos do bioma caatinga como influenciadores

    das respostas humanas (Moran, 1999, p. 81) temos como resultados os modos de

    convivncia e a forma como eles so compartilhados linguisticamente (Ecolingustica).

    Eis alguns dos EPEs (Elementos de presso especficos) do bioma caatinga em fce das

    respostas da comunidade. (Tabela 02).

    Tabela 02 - EPEs do bioma caatinga e seus efeitos no discurso das comunidades tradicionais

    Elementos de presso Modos de Convivncia

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    Dinmica do clima Periodicidade de chuvas Diversidade da flora e da fauna Nveis de insolao Produtividade biolgica Taxas de evaporao Fontes hdricas perenes Fontes hdricas temporrias

    Agricultura familiar Pecuria de caprinos Conhecimentos fitolgicos Indumentria caracterstica Caa de animais nativos e pesca artesanal Manifestaes culturais situadas colheita Uso social ou etnossocial da gua Cisternas e outros instrumentos de

    captao

    Tabela 1 - Fonte: Dados dos autores

    As populaes humanas do bioma caatinga desenvolveram processos de

    convivncia e de sustentabilidade relativamente eficientes na tentativa, muitas vezes

    bem sucedida, de interagirem de modo satisfatrio com o bioma em face da

    complexidade deste. Logo, a Ecolingustica pode contribuir para a compreenso dessas

    interaes ecolgicas no mbito da lingustica.

    Consideraes finais neste percurso em aberto

    Assim, a Ecolingustica aplicada ao Campo da Ecologia Humana visaria

    analisar as resultantes das interaes, das modificaes do entorno pelos sujeitos, como

    um repertrio de prticas implicadas ao meio ambiente de convivncia, sendo,

    portanto, prticas etnoecolgicas aperfeioadas na lida cotidiana e que refletem em

    historicidade; uma linguagem que explica essas prticas, mesmo que elas demonstrem

    aspectos urbanos e/ou hbridos.

    Em Ecologia Humana, o Ecossistema Fundamental da Lngua (EFL) o que

    denominamos de comunidades tradicionais: povos indgenas, quilombolas,

    comunidades de terreiros, comunidades pescadoras, etc. No exemplo, numa

    comunidade quilombola, a classificao dos seus aspectos etnolingusticos, caso haja,

    pode confirmar um EFL quilombola especfico. Sua Ecologia das Interaes

    Comunicativas (EIC), caso haja, o conjunto de modos prprios, isto , tnicos de

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    interaes humano/meio ambiente o que no ideal em Anlise do Discurso (AD),

    por exemplo. No entanto, em Ecolingustica, pensamos, pode-se, de incio, postular

    uma anlise do etnodiscurso, por assim dizer.

    Poderamos pensar que a ecolingustica se interessa pelas linguagens

    representacionais do meio ambiente no cerne de uma comunidade, ou da influncia do

    seu ecossistema sobre a lngua, ao passo que a Ecologia Humana uma linguagem, por

    vezes acadmica, que visa suscitar inteligibilidades s interaes humano-ambientais

    como fenmenos inseparveis isso se faz por meios analtico-narrativos. Outro fato

    interessante em Ecologia Humana a utilizao cientfica dos etnodiscursos, isto , da

    adoo ipsis litteris das narrativas de comunidades tradicionais dentro dos discursos

    acadmicos. Disso, defendemos as contribuies da Ecolingustica como amplo

    instrumental tcnico para anlise especfica dos discursos tnicos (etnodiscursos). Em

    outras palavras, em Ecologia Humana, encontraramos na Ecolingustica um caminho

    preciso para anlise direta desses dados de pesquisa no mbito dos discursos o que

    no possvel por meio da Anlise dos Discursos (AD)20 das escolas de Greimas,

    Foucault ou Pcheux, visto que estas tm como base paradigmas ora ps-estruturalista

    ora marxistas ou ps-marxistas21; a Ecolingustica demonstra um engajamento de

    pesquisa mais afinado ideologicamente no trato dos etnodiscursos, ao considerar

    paradigmas ecolgicos, antropolgicos e lingusticos. Defendemos a Ecolingustica 20 preciso reconhecer que a Anlise do Discurso (AD) como uma disciplina, ou menos, se for possvel, como um instrumento de pesquisa, do mbito da Sociologia da Linguagem e que grande parcela das suas investigaes se do na dimenso do urbano. Segundo Couto (2009), a Ecolingustica tem afinidade com a Anlise do Discurso (AD), bem como tem com a lingustica saussuriana, por exemplo. Esta afinidade mais patente quando a primeira visa estudar os resultados das relaes dos sujeitos com o meio ambiente tendo a lngua como instrumento de comunicao com o outro destas relaes com o meio. 21 No queremos dizer aqui que no haja relaes sociais tpicas de anlise destes dois paradigmas de pesquisa, mas que isso j tem sido feito. Acreditamos que uma abordagem ps-estruturalista, ou marxista, por exemplo, influir no apenas nos resultados de pesquisa ou interpretaes dos dados, mas no mago dos dados em si mesmo. Talvez uma abordagem antropolgica e ecolgica da lngua e da linguagem e no sociolgica sejam mais pertinentes proposta humano ecolgica de deixar falar as fontes em sua prpria voz.

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    como mais pertinente s propostas da Ecologia Humana como trabalhadas no mbito

    do curso de ps-graduao em Ecologia Humana e Gesto Socioambiental na

    Universidade do Estado da Bahia, em Paulo Afonso, ao menos desde 2012 at o

    presente momento. Assim, desejamos que este trabalho venha a contribuir s prticas

    sociais, lingustica e ecolgicas transformadoras.

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